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George Leimann A Atuação dos Agentes do Governo do Rio de Janeiro na Formulação das Ações Promocionais de Marketing Turístico Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao programa de Pós- graduação em Administração de Empresas da PUC- Rio como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Orientadora: Prof. Hélène Bertrand Rio de Janeiro Março de 2007

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George Leimann

A Atuação dos Agentes do Governo do Rio de Janeiro na

Formulação das Ações Promocionais de Marketing Turístico

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas.

Orientadora: Prof. Hélène Bertrand

Rio de Janeiro Março de 2007

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George Leimann

A Atuação dos Agentes do Governo do Rio de Janeiro na

Formulação das Ações Promocionais de Marketing Turístico

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Hélène Bertrand Orientadora.

Departamento de Administração - PUC-Rio

Prof. André Lacombe Departamento de Administração - PUC-Rio

Prof. Valdecy Faria Leite Departamento de Administração - UFRJ

Prof. João Pontes Nogueira Vice-decano de Pós-graduação do CCS

Rio de Janeiro, 28 de março de 2007

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CDD: 658

. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização do autor, do orientador e da Universidade.

George Leimann

Graduou-se em Tecnologia de Processamento de Dados na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) em 1977. Pós-graduação IAG Master em Marketing na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) em 2002. No âmbito profissional trabalha há mais de 30 anos na área tecnológica em grandes instituições financeiras.

Ficha Catalográfica

Leimann, George

A Atuação dos Agentes do Governo do Rio de Janeiro na Formulação das Ações Promocionais de Marketing Turístico / George Leimann; orientadora: Hélène Bertrand – 2007.

143 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Administração) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

Inclui referências bibliográficas

1. Administração – Teses. 2. Turismo. 3. Governo. 4. Promoção. 5. Marketing. I. Bertrand, Hélène. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Administração. III. Título.

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Este trabalho é dedicado à:

Minha esposa Sylvia, companheira de todas as jornadas.

Minha filha Flavia, inspiração para todos os dias.

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Agradecimentos

Aos meus amigos de turma com os quais tive a oportunidade de ter excelentes

momentos de convívio e com quem aprendi muito.

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Resumo

Leimann, George; Bertrand, Hélène. A Atuação dos Agentes do Governo do

Rio de Janeiro na Formulação das Ações Promocionais de Marketing

Turístico. Rio de Janeiro, 2007. 143 p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Administração de Empresas, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Cantada em verso e prosa a vocação do Rio de Janeiro para o turismo se

apóia não apenas em suas belezas naturais, seu litoral, no seu acervo histórico e

cultural, ou no clima invejável. Esta aptidão também se manifesta pelas

características de sua gente, alegre, amável e hospitaleira, além da cidade ter se

transformado num eixo forte de prestação de serviços. Apesar de tudo isso, falta

ao Rio de Janeiro, assim como ao Brasil, um grande projeto para o turismo,

através de uma ação coordenada, que junte todas as pontas e os agentes desse

setor tão promissor. Bem planejada, a indústria do turismo pode dar a resposta

mais rápida na retomada do crescimento do Rio de Janeiro e ser uma importante

fonte de empregos, de renda e de geração de divisas. Este assunto está relacionado

a uma cadeia de agentes, que reúne o Governo em seus três níveis - federal,

estadual e municipal -, os empresários, os investidores e também a população.

Não há dúvidas a respeito do papel e da responsabilidade do Governo como

agente integrador e promotor do desenvolvimento do turismo. Esta pesquisa

investigou a atuação dos agentes do Governo estadual e municipal do Rio de

Janeiro no que toca a sua estratégia de marketing com foco na promoção da

cidade. Foi realizado um estudo de caso com o método de pesquisa qualitativa

através da realização de entrevistas não-estruturadas com executivos das duas

empresas estatais de desenvolvimento do turismo no Rio de Janeiro e de

profissionais do trade turístico. Nos resultados verificaram-se carências

intrínsecas a serem removidas, no sentido de dar uma dinâmica adequada ao

desenvolvimento do setor. As mazelas do modelo público brasileiro, aliada à

carência de recursos, o baixo poder de articulação horizontal e vertical com os

demais níveis de administração, e a falta de planejamento favorecem os resultados

pouco significativos do turismo na cidade do Rio de Janeiro.

Palavra-chave

Turismo, Governo, Promoção, Marketing.

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Abstract

Leimann, George; Bertrand, Hélène. The Performance of the Government Agents of Rio de Janeiro Regarding the Marketing Strategy with Focus in the City Promotion. Rio de Janeiro, 2007. 143 p. MSc. Dissertation – Departamento de Administração de Empresas, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Always mentioned in this context, Rio de Janeiro vocation for tourism is

based not only in its natural beauties, its coast, its historical and cultural quantity,

or in the enviable climate. This aptitude is also showed by the characteristics of its

happy, amiable and hospitable people, beyond the fact that the city was

transformed into a strong center for the industry of services. More than this, what

is missing for Rio de Janeiro, as well as for Brazil, is a great tourism project,

through a coordinated action putting together all kinds of agents of this promising

sector. Planned well, the tourism industry can be the faster way for Rio de Janeiro

to recover the growth, as it is an important source of jobs, and income generation.

This subject is related to a chain of agents, gathering the three levels of the

Government - federal, state and municipal -, the entrepreneurs, the investors and

also the population. There is no doubt about the role of responsibility that the

Government has to play as an integrator agent and promoter of the tourism

development. This research presents an investigation of the performance of the

Government agents of Rio de Janeiro, both state and municipal, regarding the

marketing strategy, with focus in the city promotion. A qualitative research

method was used in a case study, through not-structuralized interviews with

executive’s personals of the two state-owned companies of tourism development

of Rio de Janeiro and also with tourist trade professionals. The conclusions

showed many lacks that must be removed, in order to give the adequate dynamics

to the sector’s development. Brazilian problems related to government

management, allied to the lack of resources, the weak horizontal and vertical

power to articulate with other levels of administration, and the absence of a

planning process are the main reasons to the weak results of the tourism industry

in the city of Rio de Janeiro.

Keywords

Tourism, Government, Promotion, Marketing.

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Sumário

1 Introdução – Problema da Pesquisa 14

1.1 Introdução e Formulação da Situação Problema 14

1.2 Objetivos 20

1.3 Relevância 21

1.4 Delimitações do estudo 22

2 Referencial Teórico 24

2.1 Turismo 24

2.1.1 O Pensamento Turístico 25

2.1.2 As Dimensões do Turismo 29

2.1.3 A História do Turismo 32

2.1.3.1 A Era do Artesanato, da Manufatura e das Viagens 32

2.1.3.2 A Era da Produção e o Turismo em Massa 33

2.1.3.3 A Era Sistêmica e do Turismo Pós-moderno 35

2.1.4 Características da Indústria do Turismo 36

2.1.5 A indústria do Turismo no Brasil e suas Tendências 38

2.2 Marketing Turístico 40

2.2.1 Orientações de Marketing Turístico 43

2.2.2 O Setor de Serviços 46

2.2.2.1 O Pacote de Serviços e a Personalização 48

2.2.2.2 Os Processos de Serviços 50

2.2.3 Plano de Marketing Turístico 51

2.2.4 Marketing e a Competitividade no Turismo 53

2.2.5 Segmentação de Mercados 54

2.3 Promoção no Turismo 56

2.3.1 Promoção do Destino Turístico na Mídia 59

2.3.2 Motivação e Desejo de Viajar 60

2.3.3 Comunicação: Processo de Duas Etapas 61

2.3.4 Relações Públicas e o Trato com a Imprensa 61

2.3.5 A Comunicação Integrada 62

2.3.6 Publicidade Negativa 63

2.3.7 Avaliação de Resultados 63

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2.4 Governo 65

2.4.1 Atribuições do Governo 66

2.4.2 A intervenção do Estado 67

3 Metodologia 68

3.1 A Pesquisa Qualitativa 68

3.2 Tipos de Pesquisa 68

3.3 Unidade de Análise e Seleção de Sujeitos 70

3.4 O Método das Entrevistas 71

3.5 Tratamento dos Dados 73

3.6 Limitações do Método 73

4 A Cidade do Rio de Janeiro 75

4.1 Raio X da Cidade 75

4.2 Agências de Desenvolvimento 79

4.3 O Espelho Partido 81

4.4 Planos Públicos de Gestão 82

4.4.1 Rio Sempre Rio 83

4.4.2 Plano Maravilha 83

4.4.3 Cidades da Cidade 87

4.4.4 Nível Estadual 88

4.4.5 A Falta de Integração 89

4.5 Os Jogos Pan-Americanos de 2007 89

5 Resultado da Pesquisa 92

6 Conclusões e Sugestões para Estudos Futuros 120

Adendo 133

7 Bibliografia 135

Anexos 142

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Lista de Quadros

Quadro 1 - Distribuição das Entrevistas Realizadas 71

Quadro 2 - Entrevistas com Profissionais do Trade 71

Quadro 3 - Total de Entrevistas 72

Quadro 4 - Plano Maravilha 1997 85

Quadro 5 – Pontos Positivos, em evolução e justificativos 121

Quadro 6 – Pontos Agravantes 122

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ABAV – Associação Brasileira de Agentes de Viagens

ABIH – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis

ACRJ – Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

AMA - American Marketing Association

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

ASF - Adventure Sports Fair

AVIESTUR – Feira de Turismo da Associação dos Agentes de Viagens

Independentes do Interior do Estado de São Paulo (AVIESP)

AVIRP - Associação dos Agentes de Viagens de Ribeirão Preto

BIT – Borsa Internationale del Turismo - Milão

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BPTur – Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas

BRITE - Brazilian International Tourism Exchange

BTL - Bolsa de Turismo de Lisboa

CET-Rio – Companhia de Engenharia de Trafego do Rio de Janeiro

CIDE – Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro

COB – Comitê Olímpico Brasileiro

COMUDES – Conselho Municipal de Desenvolvimento do Rio de Janeiro

DAC – Departamento de Aviação Civil

EiBTM – The Global Meetings & Incentive Exibition – Genebra

EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo

FECOMERCIO/RJ - Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro

FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

FIT - Feira Internacional de Turismo

FITUR - Feira Internacional do Turismo Salão do Turismo

ICCA - International Congress and Convention Association

IMEX – Meetings & Incentive Travel - Frankfurt

INFRAERO – Órgão do Ministério da Defesa responsável pelos

aeroportos brasileiros

IT&ME - Incentive Travel & Meeting Executives Show – Chicago

ITB – Convention Market & Innovations – Berlim

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OMT - Organização Mundial de Turismo

PIB – Produto Interno Bruto

RIOTUR – Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro

TOPRESA – Travel Market Show - Deauville

TURISRIO – Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

UIOTO - International Union of Official Tourism Organizations

WTM – World travel Market – Londres

WTO - World Tourism Organization

WTTC - World Travel and Tourism Council

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Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala Você era a favorita onde eu era mestre-sala Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua Hoje o samba saiu procurando você Quem te viu, quem te vê Quem não a conhece não pode mais ver pra crer Quem jamais a esquece não pode reconhecer Quando o samba começava, você era a mais brilhante E se a gente se cansava, você só seguia adiante Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado Você só dá chá dançante, onde eu não sou convidado O meu samba se marcava na cadência dos seus passos O meu sono se embalava no carinho dos seus braços Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe De dourado lhe vestia pra que o povo admirasse Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia Quem brincava de princesa acostumou na fantasia Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria Quero que você assista na mais fina companhia Se você sentir saudade, por favor, não dê na vista Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

Chico Buarque, Quem te viu, quem te vê.

(Estes versos são referenciados no Adendo-Capítulo 6 desta Dissertação)

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1 Introdução – Problema da Pesquisa 1.1 Introdução e Formulação da Situação Problema

A figura do viajante existe desde o alvorecer da humanidade. Viagens de

negócios ou de lazer, viagens para travar batalhas ou para celebrar alianças, enfim,

o ser humano sempre se deslocou na superfície do planeta e a prova dessas

andanças encontra-se em uma ampla literatura dedicada aos relatos de viagens.

Ao sumarizar o conceito de turismo, ROSS (2002) apresenta alguns critérios

que permitem diferenciar o turista de outros tipos de viajantes: ao contrário do

andarilho e do nômade, cujas viagens são permanentes e incessantes, a viagem do

turista é temporária; em oposição aos exilados e aos refugiados, que são

compelidos a procurar outras paragens, o turista faz uma viagem voluntária e

impulsionada pelas suas próprias deliberações; em contraponto ao migrante, que

adquiriu exclusivamente o bilhete de ida, o turista chega ao seu destino com a

passagem de volta no bolso; de forma diferente do excursionista, que está sempre

em deslocamento, o turista permanece por algum tempo no seu destino; enfim, em

contraposição ao veranista, a viagem do turista não é recorrente, ele está sempre à

procura de novos espaços de deslocamento e de novas experiências. O autor

acrescenta que se pode dizer que a viagem do turista possui um propósito muito

claro: a busca voluntária de novos padrões de experiência em um local distinto de

onde se desenrola a sua própria vida cotidiana.

O turismo tem uma influência determinante na agenda de transações globais

e se reveste de relevância especial para o Brasil, nas suas características

específicas de destino, cercado de todas as suas peculiaridades atrativas.

O turismo é a atividade econômica de maior faturamento no mundo e a que

mais emprega mão-de-obra, ultrapassando todos os setores. Segundo estimativas

da WTTC (World Travel and Tourism Council, 2006), o setor de turismo em todo

o mundo deverá atingir, no ano de 2007, um resultado bruto de US$ 7,1 trilhões.

Segundo dados do MINISTÉRIO DO TURISMO (2006) o turismo

representa 4,32% da produção total na economia brasileira (77,5 bilhões de reais

em valores de 2002); participa com 5,56% do PIB (Produto Interno Bruto) do país

e é responsável por 5,32% de impostos indiretos. Estes valores são consideráveis,

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apesar de receber apenas 0,17% dos investimentos privados do país. O setor gera

4 milhões de empregos, mais que a siderurgia e a indústria automobilística. Como

setor da economia, caracteriza-se por ser um setor meta, ou seja, que absorve em

suas dinâmicas diversas outras indústrias, além das viagens em si, tais como

entretenimento, gastronomia, cultura e artes, locação de veículos, estadia, dentre

outras. Ao total são 52 setores da economia e, justamente por isso, representa um

pedaço significativo da economia de qualquer país.

Um setor desta importância e com um potencial de expansão tão grande na

agenda futura do desenvolvimento dos negócios, deve ser levado muito a sério

pelos locais de atração. Isto demanda uma série de ações que tem no marketing o

seu denominador comum.

É certo que as orientações de marketing propiciam o direcionamento das

ações afirmativas do negócio via, nesta ótica, o marketing turístico. No escopo da

sua caracterização, segundo KRIPPENDORF (1989), este é a adaptação

sistemática e coordenada da política das empresas de turismo, tanto privadas

como do Estado; no plano local, regional, nacional e internacional, visando à

plena satisfação das necessidades de determinados grupos de consumidores,

obtendo com isso, um lucro apropriado.

Um ponto que se reveste de enorme importância prende-se ao fato de que

quando nos referimos ao marketing turístico devemos diferenciar aquele que é

praticado pelos grupos de maiores dimensões (de que é exemplo, o Estado, um

sub-setor turístico) que se poderá designar como marketing macroeconômico, de

outro que é praticado pelas empresas turísticas individuais (seja um hotel, uma

agência de viagens, uma transportadora) ou marketing microeconômico. Ambos

são complementares e necessários. Assim, no que concerne à política do produto,

por exemplo, de nada servirá oferecer uma prestação de serviço de hotelaria ótima

ou ideal se por seu turno o Estado não desenvolver as medidas indicadas para

impulsionar o desenvolvimento turístico.

Fica evidenciado que cabe às Administrações Públicas desenvolverem um

conjunto de atuações fundamentais que caracterizam o mercado turístico no seu

envolvente. Nesta ótica de complementaridade do produto turístico é importante

salientar que as associações, cooperativas e empresas devem desenvolver ações de

marketing na região, apesar de serem confrontados com diversas dificuldades,

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como a falta de meios técnicos e profissionais ou a escassez de meios econômicos

para iniciar o processo.

As ações de marketing global implicam na existência de meios econômicos

suficientes para a promoção, investigação e comercialização de uma determinada

área; na existência de meios técnicos e científicos dispendiosos (caso de técnicas

publicitárias, aplicações estatísticas); na disponibilidade de informação, quer

primária como secundária, que, em alguns casos, é da responsabilidade exclusiva

dos órgãos estatais; e ainda, no poder político e de intervenção que entidades de

menores dimensões, normalmente não têm.

Dessa forma, é importante que se desenvolva inicialmente um

macromarketing definindo um plano de marketing integral, começando pela

política do produto turístico, já que é este que cria a imagem específica e

representativa da região no âmbito do seu conjunto. No que diz respeito ao

micromarketing, este será desenvolvido pelas empresas em caráter individual, ao

definirem o seu produto, o seu preço, a sua distribuição e conseqüentemente sua

própria promoção, desejavelmente integrada ao âmbito dos objetivos globais antes

definidos, minimizando assim os custos, assim como a existência de conflitos de

difícil solução.

O turismo, como atividade econômica, tem avançado de forma intensa nos

últimos anos, não apenas no volume de fluxos de turistas que tem sido gerado nos

principais mercados emissores, como também no surgimento de novos destinos

turísticos em todo o mundo.

Manifesta-se, cada vez mais, a tendência da globalização dos mercados, o

que faz alertar os governos para a importância deste setor. O turismo passou a

adotar um papel quase universal, tornando-se o centro do interesse tanto dos

governos como das empresas ao possibilitar diversas oportunidades de negócio. A

empresa turística, seja uma grande multinacional ou uma pequena empresa

familiar, deve ser concebida a partir dessa nova realidade que determina que os

consumidores sejam, cada vez mais, multidimensionais; as férias tendem a ser

mais curtas e fragmentadas e os motivos de interesse mais personalizados. Passa a

ser exigido, assim, um novo tratamento na planificação e no marketing turístico de

forma a satisfazer as expectativas desse novo consumidor. Assume-se como o

primeiro passo a compreensão da especificidade dos serviços turísticos, assim

como a necessidade de planejar estrategicamente a atuação das empresas turísticas

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devidamente inseridas num plano global de marketing, protagonizado pelos

organismos envolvidos no setor.

No caso do Brasil pode-se considerar que a Cidade do Rio de Janeiro, a

região Nordeste do país, a Cidade de Foz do Iguaçu, a Amazônia e o Pantanal

Mato-grossense, além de São Paulo (turismo de negócios) se constituem nos mais

importantes pólos turísticos, com diferentes padrões de atratividade, onde cada um

procura se destacar dos demais buscando consolidar-se como um destino turístico

de nível internacional.

No Brasil, via de regra, ainda não se solidificou uma estrutura empresarial

competitiva nesse segmento econômico que, na maioria dos destinos nacionais,

demanda uma ação governamental. Percebe-se que se espera do governo, que atue

na implantação de infra-estrutura, realize eventos e workshops, negocie com

companhias aéreas (rotas), produza e distribua folheteria promocional, dentre

outras ações, permitindo assim a manutenção, não apenas dos pequenos

empreendimentos, mas do próprio negócio turismo.

Segundo o MINISTÉRIO DO TURISMO (2002) o Rio de Janeiro vem

perdendo importância relativa como pólo de atração de turistas estrangeiros no

país ao longo da última década do século passado e início do século 21, embora

permaneça como principal centro turístico do país e, proporcionalmente, como

principal gerador de empregos no setor.

Segundo OSÓRIO (2004) no ano de 1990, de cada cem turistas estrangeiros

que passavam pelo Brasil, 51 visitavam a Cidade do Rio de Janeiro. Em 2003,

essa parcela caiu para 37 turistas. De 1994 a 2003, enquanto o gasto médio diário

por turista estrangeiro no Brasil passou de US$ 60,53 para US$ 87,99, aumento de

45,37%, no Rio, os gastos passaram de US$ 103,77 para US$ 96,98, com queda

de 6,54%. Para o autor o Rio está com um desempenho muito abaixo das suas

potencialidades turísticas. A perda de dinamismo abrange outros ramos da

atividade econômica, como a indústria, e relaciona isso com o processo de

formação político-institucional do Estado e do município. Podemos deduzir que o

Estado do Rio e principalmente a Cidade têm apresentado um potencial abaixo do

que poderia ser a sua realidade e que ambos vêm apresentando nos últimos dez

anos um pífio desempenho no quadro federativo brasileiro, ao menos no que se

refere aos dados relativos ao emprego nas atividades turísticas.

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O problema da segurança vem se tornando nos últimos anos um ponto

crítico para a visibilidade do Rio dentro e fora do país. Cidade com o maior apelo

turístico e caixa de ressonância de tudo que ocorre no país, o Rio vem sendo

estigmatizado pelas sucessivas mensagens que estão sendo passadas para fora

sobre o problema da violência na cidade. Os turistas no Rio de Janeiro são alvos

da bandidagem que os ataca e persegue nos principais pontos de sua concentração,

causando um grande prejuízo, visto que esses casos são frequentemente

divulgados pela imprensa e também os depoimentos daqueles que voltam para

suas origens não encorajam novos visitantes.

Enquanto no Brasil o total de empregos formais na atividade turística

cresceu 98,63%, de 1994 a 2003, no Rio o crescimento foi de apenas 57,19%.

Este foi o segundo pior desempenho entre os Estados, melhor apenas que o do

Paraná, 57,04% (EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo, 2004),

englobando atividades de alojamento, alimentação, agências de viagem, atividades

recreativas, aluguel de automóveis, transporte rodoviário e transporte aéreo.

A mesma fonte revela que em relação às atividades de alojamento (hotéis) e

de agências de viagem, as mais identificadas com o turismo, os números se

mostram desvantajosos para o Rio. No de alojamento, o trabalho revela que o

emprego formal no Rio cresceu 9,78%, de 1994 a 2003, enquanto no Brasil o

aumento foi de 36,68%. Nas agências de viagens o quadro é pior: enquanto o

emprego formal cresceu 33,24% no país, no Rio houve queda de 15,45%, único

resultado negativo entre todos os Estados.

Esse levantamento também revela que, apesar dos revezes, o Rio segue

como o Estado que proporcionalmente mais emprega no setor turístico (em 2003),

com 6,87% do total de empregados formais, ante 4,73% no Brasil. Considerando

emprego formal e informal, o turismo responde, segundo o mesmo estudo, por

cerca de 10% da ocupação no Rio, contra somente 6,6% no Brasil. Em números

absolutos, o Rio tinha 202.462 empregos em turismo, equivalentes a 62% do total

de empregos formais no setor industrial, e perdia no país apenas para São Paulo

(434.792 empregos).

O turismo representa de 3% a 4% do PIB do Rio, contra 7,7% na Argentina

e 3,8% no Chile. Considerando o Rio como principal pólo turístico do país,

constata-se que o número é pequeno (FIRJAN – Federação das Indústrias do

Estado do Rio de Janeiro, 2003).

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Constatado que os números vão muito aquém daqueles que uma cidade da

magnitude dos atrativos que o Rio de Janeiro poderia ostentar, aliado ao fato de

que o patamar de gastos dos turistas que visitam a cidade ainda está aquém do

desejado, fica indicada a necessidade de investimentos públicos e privados na

ampliação e melhoria do conjunto da infra-estrutura e da oferta de atrativos e

serviços.

Outra questão importante refere-se ao modelo de gestão que é adotado no

Rio de Janeiro e a sua interferência no grau de competitividade do produto Rio de

Janeiro nos mercados nacional e internacional. Faz-se necessária uma ação

conjunta do setor público com o setor privado como um passo importante para

atingir esse grau de efetividade. A gestão da marca Rio de Janeiro como ponto de

atratividade turística estaria sendo bem posicionada perante os mercados?

Entendamos como marca Rio de Janeiro o conjunto de atributos conhecidos

nacional e internacionalmente ao longo dos anos, e que associam a Cidade a um

conjunto de características que despertam interesse e motivam os principais

mercados emissores de turismo.

Segundo ASSAEL (1985) a gestão de uma imagem de marca de uma cidade

ou de pólos de atração turísticos é um esforço conjunto entre o Governo,

instituições/sociedade civil e empresas privadas que efetuam a coordenação de

todas as atividades que um país/estado gera nesse sentido.

Para COSTA (2001) a intervenção do Estado na atividade turística tem

como principal objetivo potencializar os benefícios econômicos e sociais

proporcionados pelo turismo. Em resultado da natureza intrínseca do produto

turístico e do elevado grau de fragmentação da indústria, o setor privado não tem

capacidade para desenvolver determinadas ações tornando fundamental o papel

desempenhado pelo Estado. A natureza da intervenção do Estado vem sofrendo

alterações, assumindo-se, cada vez mais, como coordenador.

Sabe-se que as agências de desenvolvimento do turismo, em conjunto com a

iniciativa privada no Rio de Janeiro, estão implementando um novo modelo para a

atividade, consorciando-o com a atividade cultural, buscando a consolidação de

um diferencial competitivo para o produto “Rio de Janeiro”.

Outro importante aspecto a ser considerado é que existe uma vinculação

muito forte com as novas tendências dos turistas, já apontadas pela OMT em

1998, onde a passividade de um espectador em busca de sol e praia está sendo

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substituída por uma interação com a cultura local, na busca de viver novas

experiências em sua viagem.

A criação de um cluster de entretenimento, como pretende o governo e o

trade do Rio de Janeiro, poderá assegurar de alguma forma essa interatividade

dentre os diversos atores que protagonizam a infra-estrutura do turismo na cidade;

porém, como se pode depreender a partir da literatura analisada, essa mudança de

modelo requer um processo de sensibilização que certamente não assegura uma

resposta rápida a essa demanda competitiva que se almeja. Aliado a esse fator, e

criando obstáculos, percebe-se o registro de uma cultura empresarial resistente a

assumir uma ação pró-ativa, receosa de assumir riscos e possíveis prejuízos, quase

sempre esperando que o governo seja o provedor das soluções estratégicas e, por

conseguinte, o principal responsável pelos resultados do negócio.

O foco deste trabalho vai lidar com as ações de marketing das decisões da

esfera pública, no trato das ações promotoras para o desenvolvimento do turismo

na cidade. A questão básica desta pesquisa será:

“Quais os fatores que impactam na formulação e execução das estratégias

de marketing praticadas pelas agências de desenvolvimento que favorecem o

fraco desempenho do setor de turismo na Cidade do Rio de Janeiro?”.

1.2 Objetivos

Parte-se do princípio de avaliar como os agentes promotores públicos do

turismo na Cidade do Rio de Janeiro, diante da sua própria percepção e a do

empresariado local, estão “comercializando a marca” nos mercados nacional e

internacional.

Pretende-se, como projeto de pesquisa, realizar uma análise dos fatores que

influenciam no grau de competitividade da Cidade do Rio de Janeiro como

destino turístico, buscando relacionar esta questão às atuais estratégias de

marketing adotadas pelos órgãos do governo municipal e estadual.

Este estudo tem por objetivo final:

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- Elencar as razões para os baixos resultados obtidos pelo setor de turismo

da Cidade do Rio de Janeiro com base na avaliação das campanhas

promocionais realizadas pelas agências governamentais.

Como objetivos intermediários, que são aqueles que permitem chegar ao

final, tem-se:

- Identificar o discurso de servidores públicos em cargos executivos da área

de turismo, no que tange a abrangência das suas atividades voltadas ao

desenvolvimento turístico da Cidade;

- Relacionar a sua visão de marketing com as ações desencadeadas;

- Perceber quais são os obstáculos internos para o desempenho das suas

atividades;

- Identificar os obstáculos de gestão que impactam sua ação.

Às questões anteriores seguem-se as seguintes:

- Qual a influência das agências de desenvolvimento no grau de

competitividade da cidade do Rio de Janeiro como destino turístico?

- Quais as imagens, ou marcas, que a cidade do Rio de Janeiro possui e

como elas são percebidas pelo consumidor turístico?

1.3 Relevância

Os objetivos a serem alcançados estarão direcionados a fornecer subsídios

para aqueles que se interessam pelo estudo de uma visão consistente do espectro

de atuação institucional associado a promoção de um destino turístico. Deverá ser

ressaltado nesse conjunto o olhar do marketing macroeconômico.

Aos pesquisadores e estudiosos, principalmente do meio acadêmico, será

importante aumentar a familiarização com um fenômeno, que cada vez mais

parecia estar desaparecendo no relacionamento dos negócios, que é a interferência

governamental, mas que continua em determinados segmentos a operar um papel

fundamental no sucesso do setor. A visão pertinente é a dos fatores

macroambientais de marketing, influenciadas pelas contínuas mudanças nos

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ambientes social, tecnológico, cultural, demográfico, político, econômico, legal,

concorrencial, governamental e psicológico.

Para as empresas do trade turístico a importância deste trabalho estará

refletida no efeito da percepção de como um plano de marketing gerido por

agentes públicos devem estar sintonizados com os “players” da atividade.

O usuário de produtos turísticos poderá perceber o turismo como uma

atividade criadora de imagens e representações que impregnam não apenas os

agentes e o mercado, mas também as sociedades receptoras. Esse processo de

criação de imagens irá proporcionar um juízo de valor percebido pelo potencial

turista, que ao formar imagens sem conhecer de fato o destino vai permitir que,

quando a viagem ocorrer, ele viva as experiências no destino que escolheu visitar.

A qualidade dessa vivência é que poderá definir o valor do produto turístico.

Este trabalho busca uma relação entre as questões de competitividade e

marketing, procurando a construção de “pontes” que conectem estes temas na

resposta à questão básica levantada.

1.4 Delimitações do estudo

Observado que o objetivo deste estudo é abordar e investigar a relação dos

agentes públicos promotores do turismo na Cidade do Rio de Janeiro no que tange

as suas ações na área de marketing para a expansão do turismo, podemos perceber

que ocorrem uma série de fatores que interferem nesta relação.

Existem contornos como restrições orçamentárias, indicações partidárias,

grande “turn-over”, pouca dedicação no exercício das atividades, que não serão

focos do presente trabalho.

Nosso intuito é confrontar um dos mais belos destinos turísticos do mundo

com as ações promocionais do setor público.

Este trabalho restringirá sua abordagem das agências de desenvolvimento ao

Município e ao Estado do Rio de Janeiro. Assim vai ser possível contextualizar no

âmbito doméstico as ações em prol do turismo, com uma atuação mais

concentrada, sem os vícios da dispersão e das múltiplas facetas de uma visão

nacional integrada. A RIOTUR (Empresa de Turismo do Município do Rio de

Janeiro) e a TURISRIO (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro)

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serão avaliadas em relação a seus objetivos de marketing e também no que

concerne aos resultados da sua atuação para a Cidade do Rio de Janeiro.

No ideário dessas duas agências encontra-se em primeiro lugar a construção

de ações de marketing dirigidas ao estabelecimento do desenvolvimento dos

produtos turísticos na cidade. Esta pesquisa vai centrar foco nesta atuação.

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2 Referencial Teórico

Neste capítulo são estabelecidas as fundamentações da construção do

referencial teórico que conduziram ao alcance dos objetivos propostos neste

estudo. Inicialmente foram percorridos os caminhos do turismo, essa atividade

multi-setorial, que depende do desempenho de diversas áreas produtivas e setores

públicos e privados para satisfazer com eficiência à demanda dos usuários. A

seguir, foram abordadas as visões consensuais e as controversas do marketing

turístico. Na seqüência foi enfocado o aspecto do papel vital da promoção como

agente capaz de construir a ponte de contato com o consumidor. Dando segmento,

interpretou-se a luz dos nossos dias, o papel da ação do governo nos setores e na

área do turismo, fundamentando a discussão da sua importância e principalmente

da sua pertinência.

2.1 Turismo

Segundo ALVIM (2003) o turismo é a maior indústria mundial na geração

de divisas, empregos e recursos. Representa 13% dos gastos dos consumidores de

todo o mundo e movimenta pessoas pelos mais variados motivos para os mais

variados lugares. Vários países já perceberam o potencial do turismo como

gerador de emprego e renda. Há tendências claras que projetam o turismo como

uma das principais atividades humanas deste século. O aumento do tempo livre, o

barateamento do transporte aéreo, a melhora do mercado turístico focalizada na

preferência das pessoas, a melhora nas tecnologias de comunicação, a conversão

de elementos das localidades para produtos turísticos, a diminuição do número de

pessoas nas famílias, a juvenilização dos mercados e outros tantos fatores

impulsionam essa atividade.

De acordo com NUNES (2001) o mercado turístico no Brasil investe menos

de US$ 100 milhões/ano e tem potencial para arrecadar mais de US$ 5 bilhões em

divisas estrangeiras anuais, sendo assim considerado o maior mercado gerador de

empregos no país. Conforme dados da EMBRATUR (2004), a indústria de

viagens e turismo é hoje considerada como a maior fonte de geração de empregos

no mundo.

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Desde a mão-de-obra mais qualificada, em áreas que se utilizam de alta

tecnologia (como transportes e comunicações) até as de menor qualificação, tanto

no emprego formal quanto no informal, são beneficiadas com o crescimento do

mercado do turismo no Brasil e no mundo.

Nossos produtos turísticos têm enorme diversidade e atendem a vários

ramos de consumo. Além disso, o Brasil dispõe de recursos naturais e culturais

extraordinários, sendo assim um de nossos pontos fortes. Possuímos uma fauna e

flora invejáveis, um povo cordial e não temos as tradicionais catástrofes naturais

como vulcões e terremotos. Também o espírito brasileiro, multicultural,

multirracial, hospitaleiro, ecumênico, tolerante, forma um produto - povo

brasileiro - desejado pelos turistas, conforme atestam as pesquisas do turismo

receptivo (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2002).

A Cidade do Rio de Janeiro é chamada mundialmente como “Cidade

Maravilhosa”. Sua natureza e equipamentos urbanos formam um cenário

esplendoroso. Sua vida cultural, usos e costumes nos remetem a uma

multiplicidade impressionante. É considerada como uma das cidades mais lindas

do mundo (OSÓRIO, 2004). A associação do Rio à vocação e a ênfase turística é

inevitável.

Na verdade, o turismo é uma grande indústria e o quadro não poderia ser

mais animador para o universo brasileiro do turismo. Mas, como veremos a

seguir, este serviço só se sustenta com uma condição básica: a qualidade.

Segundo OSÓRIO (2004) ao observar o mercado turístico nacional

podemos notar um grande avanço e um aumento na indústria turística muito

saudável. A concorrência dos produtos turísticos tem aumentado, o preço tem

diminuído, a qualidade apresenta melhoras gradativas e o cuidado no tratamento

personalizado tem sido aperfeiçoado; mas sofremos ainda de enormes carências.

Possuímos um potencial muito grande a ser explorado de forma a passarmos a ter

destaque no cenário turístico internacional como um país de ponta.

2.1.1 O Pensamento Turístico

Os primeiros estudos sobre o turismo, enquanto matéria de investigação

universitária data do período entre as duas grandes guerras mundiais (1919-1938).

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Dessa atividade inicialmente se destacava a sua vertente econômica. Em 1910 um

economista austríaco, HERMAN VON SCHULLARD, caracterizava o turismo

como o somatório de operações, principalmente de natureza econômica

diretamente relacionada com a entrada, estadia e movimento de estrangeiros

dentro e fora de determinado país, cidade ou região (apud ANDRADE, 1995).

Nas primeiras definições era valorizada, sobretudo, uma visão do turismo de

natureza mais técnica para fins estatísticos, com menor visão de caráter conceitual

e científico.

Nessa linha de pensamento, e com foco em uma medição do turismo face à

sua importância econômica, surgia a primeira tentativa de definição técnica de

“turista” pela Comissão Econômica da Sociedade das Nações no ano de 1937,

como toda pessoa que viaja por uma duração de 24 horas, ou mais, para um país

diferente do da sua residência (apud CUNHA, 1997). O principal objetivo dessa

definição prendia-se à necessidade de determinar critérios precisos para a

elaboração de estatísticas turísticas internacionais.

Em 1963, a Conferência das Nações Unidas sobre o Turismo e as Viagens

Internacionais considerava as recomendações da INTERNATIONAL UNION OF

OFFICIAL TOURISM ORGANIZATIONS (UIOTO), e adotava uma definição

de “visitante” para fins estatísticos como toda a pessoa que se desloca para um

país, diferente daquele onde tem a sua residência habitual, desde que aí não exerça

uma profissão remunerada (apud CUNHA, 1997). Havia a distinção entre

“turista”, como os visitantes que permanecem mais de 24 horas no país de destino;

e “excursionista”, como os visitantes que permanecem menos de 24 horas.

Em 1975 a UIOTO passou a se denominar WORLD TOURISM

ORGANIZATION (WTO) – em português: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE

TURISMO (OMT) – e as definições propostas pretendiam fixar indicadores

econômicos que permitissem uma medição da atividade numa ótica de

comparação entre diferentes regiões, segundo uma relação de custo-benefício. No

entanto, o turismo começava a ser percebido, igualmente, pela sua dimensão

social e humana, permitindo assim compreender a sua verdadeira natureza e

complexidade.

Neste contexto, surgia em 1942 uma definição de WALTER HUNZIKER e

KURT KRAPF, professores na Universidade de Berna, onde o turismo era

caracterizado como o conjunto das relações e fenômenos originados pela

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permanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais

deslocações e permanências não fossem utilizadas para o exercício de uma

atividade lucrativa principal, permanente ou temporária (apud CUNHA, 1997).

Dessa forma, o turismo denunciava uma complexidade, necessitando de diferentes

abordagens que permitissem conhecê-lo nas suas diferentes óticas.

Assim, paralelamente à relevância da perspectiva econômica do fenômeno,

a definição clássica de HUNZIKER e KRAPF debruçava-se já sobre o aspecto

social e humano do turismo, percebido aqui como um fenômeno plural. Essa

definição denunciava uma relação social e cultural que estudava quem visita

(turista) e quem é visitado (população local).

Deste modo, o turismo surgia assim como um campo da realidade,

constituindo-se como objeto de estudo com possível interesse para outras ciências

sociais como a Sociologia, a Antropologia ou a Geografia.

A partir daí, surgia uma amplitude de entendimentos sobre a abrangência e

complexidade do turismo, construindo um quadro teórico sobre si mesmo. Umas

colocando-o na perspectiva mais como um fenômeno, outras enquanto atividade,

outras mesmo como indústria.

Deste modo, e já numa dimensão mais abrangente do fenômeno, abordando

a questão dos impactos sociais, econômicos e físicos que o turismo provoca,

MATHIESON E WALL (1982) concebem o turismo como um fenômeno

multifacetado, que envolve o deslocamento e a estadia em locais fora da sua

residência habitual. O turismo é assim caracterizado como um fenômeno plural e

complexo onde são estabelecidas inter-relações entre os vários elementos que o

integram.

Nessa linha de pensamento, também MILL e MORRISON (1985) afirmam

que o turismo é um fenômeno de difícil descrição, em grande parte devido à

inexistência de uma definição aceita universalmente. O turismo é caracterizado

pelos autores como uma atividade que ocorre quando um indivíduo atravessa uma

fronteira por motivos de lazer ou negócio, permanecendo mais de 24 horas e

menos de um ano. Cabe ainda realçar que os autores caracterizam o turismo como

o estudo de um fenômeno e seus efeitos, razão que lhes permite classificar o

turismo como uma atividade complexa.

Nessa perspectiva, BULL (1995) identifica o turismo, sobretudo como um

fenômeno, mas particulariza o autor, um fenômeno social. Segundo BULL, o

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turismo é uma atividade humana que envolve, além do comportamento humano,

uma utilização de recursos e uma interação com outros indivíduos, economias e

ambientes. É uma perspectiva sistêmica do turismo, que integra várias dimensões,

estruturas e intervenientes. O turismo apresenta-se assim como um campo de

estudo suscetível de interessar a várias ciências sociais. O autor salienta mesmo

além da importância econômica do turismo a sua relevância do ponto de vista

social, geográfico, cultural e psicológico.

No âmbito de um levantamento sobre os vários entendimentos do turismo,

importa introduzir uma abordagem que o concebe, principalmente, como uma

indústria.

As condições provenientes do período pós segunda Guerra Mundial,

marcado por um rejuvenescimento da economia e, consequentemente, uma maior

propensão para o consumo, fez-se também sentir no lazer que passou a produzir

os anseios de uma sociedade orientada para a produtividade (PAIVA, 1995). É o

fenômeno do consumo atingindo igualmente o turismo e, como tal, a necessidade

de uma organização de todos os setores envolvidos na prestação de serviços

turísticos, contribuindo para uma industrialização da atividade.

Neste âmbito, HOLLOWAY (1994) caracteriza o turismo principalmente

como uma indústria baseada na existência de uma cadeia, constituída por um

conjunto de setores que se interrelacionam e se complementam, e que tornam

possível a geração de produtos e bens turísticos. Um estudo do turismo, para este

mesmo autor, passa pelo seu entendimento como indústria.

Deve-se acrescentar a este debate o interesse do modelo de turismo de

LEIPER, apresentado em 1979 e mais tarde atualizado em 1990. O turismo é um

sistema centrado na concepção da atividade como uma indústria. Para este autor o

sistema turístico integra várias partes que se comunicam: o turista, os elementos

geográficos e a indústria em si.

As vantagens do modelo de LEIPER residem precisamente no fato de

projetar o turismo como um sistema integrado, no qual interagem várias partes

intimamente relacionadas.

Cabe ainda ressaltar a visão de JAFARI e AASER (1988) que, de certo

modo, arremata o debate quanto à classificação do turismo como fenômeno,

indústria ou atividade. Este autor propõe uma visão integradora do turismo,

através de um modelo que considera como alternativo. Para JAFARI o turismo se

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baseia na sua concepção, por um lado enquanto fenômeno sócio-cultural; por

outro lado, o turismo deve ser igualmente visto como uma indústria, composta por

um sistema gerador de turistas e ainda por um sistema receptor de turistas apoiado

numa relação de total interdependência.

Conclui o autor que uma exploração teórica do turismo complementado com

uma visão de aplicação prática permite que a investigação deste fenômeno seja

mais completa e abrangente. JAFARI propõe assim um “tratamento holístico do

turismo”. Assim, o turismo é interação social e cultural, mas envolve igualmente

uma estrutura que necessita de ser compreendida para ser operacionalizada e

otimizada.

2.1.2 As Dimensões do Turismo

Como verificamos o turismo procura integrar as diferentes perspectivas

existentes sobre si. Ou seja, deve-se abordar o turismo a partir do ponto de vista

sociológico, econômico, psicológico, ou geográfico, contribuindo para o produto

científico de cada uma dessas ciências.

Sob este propósito NUNES (1993) questiona o que é que um dado sistema

social de produção de conhecimentos produz, quando acerca do seu produto é

legítimo afirmar que se trata de um produto científico? Por outras palavras o que é

fazer ciência? Nessa linha de pensamento, concluem SILVA e PINTO (1999): que

a ciência é uma representação, intelectualmente construída, da realidade onde

cada disciplina só ascende ao estatuto de ciência quando constrói o seu objeto

próprio. Assim é possível inferir que a idéia de produto científico está

intimamente relacionada com a construção de um objeto de estudo. Este objeto

provem do estudo da realidade a partir de diferentes perspectivas.

É neste contexto que a Economia, a Psicologia, a Sociologia, a Geografia, a

História, entre outras ciências sociais, foram construindo o seu próprio objeto

científico da realidade social estudada. Não significa que a realidade para cada um

delas seja diferente. Cada uma estuda a realidade segundo a sua perspectiva,

conferindo uma abordagem pluridimensional sobre a mesma. É neste âmbito que

o turismo surge como objeto de estudo de várias ciências sociais e humanas.

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Sob este propósito, PRZECLAWSKI (1993) afirma que a Economia,

Sociologia, Psicologia, Geografia tem apenas providenciado um estudo parcial do

turismo, mais do que propriamente uma abordagem integrada e holística sobre o

mesmo. Deste modo, o autor defende que o turismo deverá tomar-se objeto de

uma interdisciplinaridade, onde cada ciência aborda este fenômeno segundo o seu

próprio quadro de leitura. No entanto, cada uma contribui para um entendimento

global do mesmo.

A corroborar essa idéia, KRIPPENDORF (1987) afirma que o objeto do

turismo está se tornando cada vez mais amplo, face à multiplicidade de relações e

conexões que o mesmo envolve no seu interior. Assim o autor afirma que..essas

relações não podem ser identificadas se vistas através de um ângulo

monodisciplinar e estreito.

Nessa ótica o turismo resulta, cada vez mais, da necessidade premente de

estudar este fenômeno sob várias perspectivas. As implicações que o mesmo

exerce sobre várias dimensões da sociedade desencadeia numa investigação

interdisciplinar, onde cada ciência social estuda o campo da realidade sob

perspectivas diferentes. Nenhuma disciplina isoladamente poderá ajustar, estudar

e compreender o turismo (JAFARI, 1989).

Por conseguinte, segundo EADINGTON (1992), o turismo é um fenômeno

econômico, psicológico, antropológico, cultural e social:

É um fenômeno econômico porque, em termos gerais, a economia o estuda:

1- segundo uma perspectiva de micro-análise ao se debruçar sobre os

recursos envolvidos no processo de produção e consumo de atividades turísticas,

bem como no entendimento do que determina o mercado turístico;

2- segundo uma perspectiva de macro-análise ao focalizar a sua atenção na

utilização que faz dos recursos da sociedade, assim como nas trocas e relações

econômicas com vários países.

É um fenômeno psicológico, dado que a Psicologia analisa o processo de

escolha presente no ato de viajar, tendo por base o estudo das diferenças dos

atributos, capacidades e competências de cada indivíduo, bem como a interação

existente entre as variáveis individuais e o contexto social em causa ( PEARCE e

al., 1996).

É um fenômeno antropológico uma vez que, enquanto atividade humana

permite um contato entre diferentes culturas, cada uma expressando uma forma de

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vida característica, suscitando assim o interesse dessa ciência. Como se refere

NASH (1996), aos antropólogos interessa tudo o que é humano,

independentemente do tempo e espaço de ocorrência.

É um fenômeno sociológico porque, como sublinha KRIPPENDORF

(1987), o turismo e o lazer são resultados e ao mesmo tempo partes integrantes

das sociedades industriais e a forma como essas se encontram organizadas. Por

conseguinte, é possível inferir que o estudo do turismo proporciona uma

contribuição na análise e entendimento da evolução da própria sociedade.

Apesar de FORTUNA (1995) revelar o desinteresse que a Sociologia

demonstrava pelas questões do lazer, onde se inclui o turismo enquanto prática

social, COHEN (1996) apresentou as quatro áreas de estudo, no âmbito de uma

Sociologia do Turismo:

1- o turista;

2- a relação entre turistas e a comunidade local;

3- os impactos do turismo;

4- o desenvolvimento e a estrutura do sistema turístico.

Saliente-se a última área de estudo apontada por COHEN que, segundo o

autor, procura estudar como se encontra organizado o sistema turístico, dando um

enfoque particular nos seus intervenientes e relações estabelecidas entre si, bem

como no ambiente político, jurídico, ecológico, econômico e cultural que o rodeia.

A ligação que se pretende estabelecer entre a esfera da produção do produto

turístico e a esfera do seu consumo - a componente da oferta e da procura - é um

dos aspectos-chave no entendimento da estrutura do sistema turístico. A criação e

transmissão de uma dada mensagem sobre um produto/destino turístico, por um

determinado emissor, de acordo com um objetivo estipulado, utilizando o canal

mais adequado e dirigida a um receptor específico é um processo que desencadeia

a conexão entre a oferta (produto/destino) e a procura (atual ou potencial turista).

Isto significa que é com base num entendimento da natureza do processo de

comunicação e conseqüente aplicação correta dos seus elementos que será

possível fazer chegar o turista ao produto turístico, uma vez que essa atividade

econômica é, sobretudo, caracterizada por uma deslocação do mercado em direção

ao produto e não contrário.

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2.1.3 A História do Turismo

Registros sobre o início da atividade de turismo datam do século 15. Vários

foram os motivos que levaram o homem a se deslocar, como religião, caça,

comércio e a educação. Mas, o que permitiu realmente o desenvolvimento do

turismo foi o desenvolvimento industrial e as inovações tecnológicas, marcadas

pelos períodos modernos e pós-modernos. Durante esses períodos, a atividade de

turismo cresceu significativamente, tornando-se um fenômeno industrial

(LICKORISH e JENKINS, 2000; Rodrigues, 2001; CORNER, 2001 e URRY,

1999). Atualmente, o setor rural, timidamente, está iniciando sua participação

nessa indústria.

Nessa abordagem temos como objetivo apresentar uma evolução histórica

da indústria do turismo, focando os reflexos dos paradigmas de gestão industrial e

de algumas inovações tecnológicas sobre a mesma. São apresentadas as suas

características, enfatizando as diferenças em relação às outras indústrias.

A seguir, é analisada a evolução histórica da indústria do turismo sob a ótica

das inovações tecnológicas e paradigmas de gestão industrial.

2.1.3.1 A Era do Artesanato, da Manufatura e das Viagens

Historicamente, o que existe registrado é que o turismo teve início na Roma

Imperial, onde existia um padrão amplo de infra-estrutura de viagens, propiciado

por dois séculos de paz. As viagens iam desde as muralhas de Adriano até o

Eufrates e permitiam aos habitantes das cidades, cansados de uma vida calma e

por estarem sempre à procura de algo que os iludisse, desfrutar de sensações de

prazeres cada vez mais novos. Do século 15 até o XVII, existiam as excursões

organizadas, que iam de Veneza a Terra Santa e que eram consideradas como o

fenômeno das peregrinações. Havia, para tanto, as hospedarias para viagens,

mantidas por religiosos (FEIFER apud URRY, 1999; RODRIGUES, 2001 e

CORNER, 2001). Esse século foi marcado pela era artesanal (HOFFMAN e

KAPLINSKY, 1988).

Segundo URRY (1999), no final do século 17 e seguindo pelo século 18,

além das viagens, iniciou-se o Tour Clássico. Essa evolução da indústria do

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turismo aconteceu com o início do capitalismo e os primeiros sinais de

crescimento industrial e inovações tecnológicas, citadas por AMATO (2000).

Essa evolução acarretou a transição da produção artesanal para a manufatura,

conforme HOFFMAN e KAPLINSKY (1988). Ainda, segundo URRY (1999),

naquela época nasceu a primeira indústria doméstica na Inglaterra, denominada

por HOFFMAN e KAPLINSKY (1988) como produção em rural households.

Posteriormente, em função de seu crescimento e deficiências gerenciais, foram

substituídas pelas primeiras fábricas.

Decorrente do surgimento dessas fábricas houve um aumento de riqueza

que, por sua vez, afetou o modo de vida da população, que passou a ter interesse

por viagens para outros países, principalmente em busca de educação (o ensino

para jovens de boas famílias, filhos da aristocracia e da pequena fidalguia),

comércio e saúde. A busca por serviços de saúde resultou nos serviços oferecidos

pelos balneários e, depois, em áreas litorâneas, pois as águas do mar faziam bem

para a saúde, segundo pesquisas daquela época. No século 18, o turismo também

atendia aos filhos da classe média profissional com interesse em paisagens e

experiências muito mais particulares e apaixonadas pela beleza e pelo sublime. No

final do século 19, em função de novas dificuldades gerenciais, como manter os

lucros por causa da concorrência, limites para intensificar o dia de trabalho para

manter esses lucros e a ameaça de salários reais para mulheres e crianças,

ocorreram mudanças na forma de produção e foram introduzidas as máquinas em

substituição à mão-de-obra, dando início à era da produção em massa

(HOFFMAN e KAPLINSKY, 1988).

2.1.3.2 A Era da Produção e o Turismo em Massa

AMATO (2000) comenta que, no século 19, aconteceu uma revolução

técnico-científica nos campos da eletricidade, do aço, do petróleo e do motor de

explosão, além da expansão econômica e da instalação da primeira ferrovia, que

resultaram em mais empregos e mais renda, especificamente no caso das classes

trabalhadoras da indústria do norte da Inglaterra. Além desses fatores, os meios de

transportes, como trens e navios a vapor, passaram a ser vistos como

oportunidades de viagens, viabilizando deslocamentos em massa.

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Foi o início do turismo de massa, marcado pelos balneários espalhados por

toda Europa. Em função disso, houve uma alavancagem do turismo e,

especificamente em 1841, foi lançado o primeiro pacote turístico constituído pelos

serviços de transporte, acomodação e a satisfação de um novo e desejado destino

– o produto turístico baseado no conceito de padronização, representado pelos

acampamentos onde eram oferecidas recreações educacionais, exercícios físicos,

artesanato, formação musical, e excursões. Os industriais perceberam que férias

oferecidas aos trabalhadores aumentavam a eficiência nas indústrias e adotaram

tal procedimento estrategicamente. Essa novidade levou ao desenvolvimento de

resorts, indústrias de viagens, infra-estrutura de acomodações e uma expansão da

capacidade dos transportes e do movimento de tráfego, mesmo com certo atraso e

incertezas. Esse movimento se estendeu até a América do Norte.

No entanto, já no século 20, entre 1918 e 1939, o crescimento dos serviços

de transporte foi interrompido pela Primeira Guerra Mundial, em 1914. AMATO

(2000) comenta que é justamente nesses momentos de crises e incertezas que se

criam os elementos necessários para acontecer transformações estruturais nos

diversos campos da ciência, da tecnologia, do comportamento e da sociedade. Foi

exatamente o que aconteceu com o turismo que, inesperadamente, teve seus

resultados positivos para a prestação de seus serviços, pois a guerra impulsionou a

expansão de rodovias e os investimentos em aviação e um incremento das

indústrias automobilísticas. Surgiu, então, o turismo social, com novidades como

férias pagas, atividades de lazer, campings, campings com trailers, albergues,

transportes baratos e turismo em ônibus fretados. O exterior foi o principal foco

das viagens.

Novamente, ocorreu uma parada na evolução do turismo, agora marcado

pela depressão de 1930 e, finalmente, pela Segunda Guerra Mundial, de 1939 a

1945. Essa foi a época do ápice dos balneários.

Terminado este período, teve início uma decolagem do turismo em função

da revolução tecnológica e revolução industrial, que propiciaram novamente uma

aceleração na geração de rendas e que, por sua vez, acarretou em mais mudanças

na sociedade. As rendas extras dos países ricos passaram a ser gastas com luxo e

serviços. Os serviços oferecidos eram de hotéis, operadoras de transportes,

agências de viagem e operadoras de turismo.

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Aliados às novidades tecnológicas no transportes, surgiram os meios de

comunicação que, com a divulgação dos atrativos turísticos via televisão, por

exemplo, fizeram com que o turismo se expandisse rapidamente, principalmente

nos países ricos, cujos habitantes se interessaram e começaram a viajar mais e

preferencialmente em aviões. A mídia proporcionou aos turistas imagens que

permitiram a eles selecionar e avaliar os lugares potenciais para visita. As classes

mais baixas da sociedade passaram também a se interessar pelo turismo e

demandaram outras modalidades, como o turismo desportivo e campings.

Instituições especializadas, em resposta a essa demanda, se desenvolveram e

passaram a prestar estes serviços. Em decorrência da percepção da divisão dessas

duas classes, teve início o que se chama, hoje, de segmentação do mercado

turístico.

A partir dos anos 50, iniciou o declínio da era fordista, representado pelas

grandes empresas verticalizadas de produção em massa, por várias razões, como o

trabalho repetitivo, que resultou na insatisfação da força de trabalho; no fato de os

consumidores que passaram a demandar algo mais e não apenas os produtos

padronizados; nas fábricas, que eram enormes para serem gerenciadas, além da

incapacidade de acompanhar as mudanças no ambiente externo, como pode ser

visto em WOMACK (1992) e HOFFMAN e KAPLINSKY (1988).

Nessa mesma década, iniciou-se também a queda dos balneários e do

turismo em massa. A queda dos balneários deveu-se aos custos de

congestionamento, por limites sociais e pela destruição ambiental. Muitas foram

as críticas sobre o turismo em massa e, dentre elas, a de que o turismo em massa é

ilusão que destrói os próprios lugares que são visitados, cuja causa é um mercado

desregulado e turistas medíocres, pouco asseados, com péssimos modos e

grosseiros (URRY, 1999).

2.1.3.3 A Era Sistêmica e do Turismo Pós-moderno

Com o declínio da produção em massa surgiu a mais nova forma de

produção no Japão, denominada de produção enxuta por WOMACK (1992) e de

sistemofatura por HOFFMAN e KAPLINSKY (1988), que acarretou em mais

inovações na indústria eletrônica e automobilística.

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O modelo que veio a ser o centro dessa era foi o just-in-time. Suas

características eram o estoque mínimo, a flexibilidade para o trabalho, a

multifuncionalidade, a inovação, a produção em lotes, o foco na qualidade e um

ambiente de trabalho positivo, alcançado pela cooperação, além do uso da nova

tecnologia, como a automação, que permitiu a inter-relação intra e inter firmas, ou

seja, que deu início à idéia de cooperação interna e externa às organizações,

demandando coordenação e proximidade geográfica (HOFFMAN e

KAPLINSKY, 1988).

Em decorrência desses problemas, mudanças culturais ocorreram,

acarretando na reestruturação do turismo. Os turistas, nesse período, passaram a

demandar não só os atrativos tradicionais do turismo em massa, como o sol e a

areia oferecidos nos balneários, mas também uma paisagem preservada,

valorizando o romântico, o lúdico, a nostalgia pelos períodos fortes do passado

(COLTMAN, 1989). Surgiu, então, o turismo pós-moderno ou romântico.

Aquela fase, denominada pós-moderna ou pós-fordista no turismo ou, ainda,

novo paradigma cultural, envolveu um diferencial estrutural, o desenvolvimento

separado de numerosas esferas institucionais e normativas da economia, das

famílias, do estado, da ciência, da moralidade, dentre outras. Percebeu-se, nessa

fase, que as pessoas têm características e gostos diferentes.

2.1.4 Características da Indústria do Turismo

Atualmente, a indústria do turismo é constituída por organizações dos

setores público, privado e, ainda, da comunidade local, que normalmente estão

agrupadas com o objetivo de oferecer um produto turístico que satisfaça às

necessidades dos turistas, em regiões, locais, denominados pólos, que apresentam

potencial turístico. Ela é caracterizada por não ter uma função da produção formal

e por não ter uma estrutura comum às outras indústrias que a represente,

dificultando a medição de seus resultados (CORNER, 2001 e LICKORISH e

JENKINS, 2000).

Segundo esses mesmos autores, a competitividade de uma região turística é

o resultado de ações integradas do governo, do setor privado e da comunidade. O

governo exerce papel importante nessa atividade, pois têm a responsabilidade por

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boa parte dos serviços, como saúde e segurança; infra-estrutura, como rodovias,

ferrovias e portos; em formular políticas; estabelecer condições fiscais e

financeiras e também pelo planejamento conjunto com o setor privado e a

comunidade. O setor privado tem seu papel também quando fornece instalações,

atrações, outros serviços, ou seja, fornece parte da infra-estrutura e a comunidade

fornece outros atrativos, como os culturais, além da recepção. Para que o

desenvolvimento desses pólos turísticos aconteça, é necessário que os agentes dos

setores público, privado e a própria comunidade trabalhem de forma cooperativa e

coordenada para oferecer o produto turístico de acordo com as necessidades dos

turistas.

O produto turístico também se diferencia dos produtos das outras indústrias

pelo fato de ser intangível. Ele é composto por uma combinação dos bens

turísticos (atrativos naturais, culturais, patrimoniais) mais os serviços turísticos

que, juntos, por relações de interação e interdependência, tornam-se mais

complexos (LICKORISH e JENKINS, 2000).

Os bens turísticos são materiais (mares, praias, a paisagem do meio rural,

dentre outras), imateriais (arte, folclore, prestígio), livres (ar e clima) e

apropriáveis (coleção de arte, campos de esporte, dentre outras) e proporcionam

ao homem a satisfação de exigências fisiológicas, espirituais, culturais e morais.

Os serviços são de transporte, de viagens, de acomodações e alimentação,

atrações turísticas, lojas varejistas, bancos e seguros, entretenimentos e atividades

de lazer, excursões e admissões, serviços pessoais (jornais, lavanderia,

cabeleireiro) e os de suporte, como serviços do setor público, editoras/imprensa,

comida/combustível, fabricantes e atacadistas, indústrias de viagem/infraestrutura

e equipamentos, saúde, segurança, meio ambiente, dentre outras, ou seja, todos

aqueles atos que permitem ao turista usufruir dos bens (LICKORISH e JENKINS,

2000).

A intangibilidade dos serviços gera a dificuldade de padronização, e a

necessidade da presença do cliente durante o processo. Os serviços são produzidos

e consumidos simultaneamente, gerando a impossibilidade de estocagem para

amortecer os impactos das variações da demanda. Não existe a possibilidade de

criar patentes, o que exige estratégias para assegurar o benefício da inovação.

Tanto as características da indústria quanto as do produto turístico fazem a gestão

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ser mais complexa, dificultando a avaliação dos resultados da indústria e o

controle da qualidade dos serviços antes da compra (TÉBOUL, 1999).

BENI (2000) defende a palavra integração para a gestão turística. Todos os

negócios devem estar sincronizados e ajustados para alcançar as metas e diretrizes

na área de atuação de cada um, a um só tempo. Esse autor comenta que, em

decorrência disso, está havendo uma tendência pelo uso do conceito de cluster,

definido como conjunto de atrativos, com destacado diferencial turístico, com

excelência gerencial e concentrado em espaço geográfico delimitado.

2.1.5 A indústria do Turismo no Brasil e suas Tendências

Na década de 1970, o turismo em massa surgiu no Brasil como uma

alternativa viável e importante de desenvolvimento, geração de empregos e

rendas. Naquela época, a indústria do turismo acreditou que o Brasil, por

apresentar um acervo ambiental deslumbrante, bastaria para satisfazer a todas as

exigências do mercado internacional (ZIMMERMANN, 1996). Porém, essa

crença era pura ilusão, pois, mesmo apresentando esse vasto acervo ambiental, de

hábitos, culturas e tradições, os turistas continuam a viajar para outros lugares do

mundo, buscando não apenas um dia ensolarado, mas também serviços

profissionais e a um custo razoável.

Em decorrência dessa visão, o modelo da década de 1970 fracassou no

Brasil devido à falta de profissionalização, às crises econômicas e à falta de

consciência de três fatores para um desenvolvimento harmônico e sustentável do

turismo, que são: a preservação do meio ambiente natural e cultural, como

aconteceu na Europa; a consciência da importância dos programas de qualidade na

prestação de serviços e o reconhecimento da necessidade de formação de mão-de-

obra qualificada em todos os níveis e nos diversos segmentos de lazer e turismo

(REJOWWSKI, 1996).

Na tentativa de superar esses erros, vários atores do setor público, privado e

também a comunidade vêm investindo em profissionalização, preservação

ambiental e cultural, de forma a garantir a satisfação dos turistas, a

sustentabilidade da atividade e a competitividade da indústria do turismo.

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O Brasil tem sido alvo de turistas e também de prestadores de serviços de

turismo, pois suas regiões apresentam grande potencial. BROHMAN (1996)

levanta a questão da alta participação estrangeira principalmente no Brasil. Isso

fica bem claro quando são verificados muitos investimentos realizados no Brasil,

como, por exemplo, no Estado da Bahia, os chamados resorts, como o Sofitel

Costa do Sauipe, o Club Med de Itaparica e Trancoso, o Marriot Resort & Spa de

Costa do Sauipe, o Super ClubsBreezes de Costa do Sauipe, e o Iberostar Golf &

Spa Resort da Praia do Forte. Nesses locais vários são os serviços prestados, como

lojas sofisticadas, casa noturnas, restaurantes de qualidade, bancos, lanchonetes,

teatro, dentre outras atrações, ou seja, procura-se oferecer um pacote com tudo de

que o cliente venha a precisar.

No Estado do Rio de Janeiro existem também os resorts, como o Club Med

no Rio das Pedras, em Mangaratiba e o Blue Tree de Angra dos Reis, e outras

formas, como os chamados paraísos baratos, nos quais os turistas podem até

alugar ilhas com amigos a um custo mais barato do que se hospedar em um hotel.

Nessas ilhas, segundo PAIXÃO (1999), há bangalôs, suítes, piscinas, quadras de

tênis e futebol, sauna e heliporto.

Existe uma nova modalidade de transporte/hospedagem assumindo um

papel significativo no setor de turismo no Brasil atualmente. São os cruzeiros

marítimos. Essa atividade cresce ao redor de 50% ao ano e deve atrair 330 mil

turistas na próxima temporada (EMBRATUR 2006). O segmento de turismo

marítimo tem sido apontado como um dos mais promissores no Brasil. Em cinco

anos, o país não deve se tornar um destino consolidado como o Caribe, mas pode

dobrar o número de clientes desta modalidade de turismo. Na última temporada

(dezembro/2005 a março/2006) no porto da cidade do Rio de Janeiro tivemos o

aporte de nove navios (verdadeiras cidades flutuantes), sendo oito internacionais

que têm a costa brasileira como uma das rotas. Essas embarcações transportaram

230 mil turistas brasileiros - 53% acima da temporada anterior - sendo 14,5 mil

estrangeiros.

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2.2 Marketing Turístico

O turismo é um bem de consumo abstrato e não pode ser avaliado de acordo

com o tamanho, peso, formato ou cor. É apresentado aos consumidores em

potencial por meio de fotos, reportagens e vídeos, induzindo o cliente à compra

através de promessas de satisfação.

Diante da sua importância sócio-econômica, o turismo moderno contribui

para despertar a atenção dos governos e também para um redimensionamento

urbano. No entanto, o setor que merece atenção especial é o da divulgação do

produto, mas, que depende de muitos fatores como o produto em si (qualidade,

preço, distância do pólo emissor, e outros), do mercado (a capacidade de compra,

estrutura, número de turistas reais e potenciais, os concorrentes, e outros), e da

organização do empreendimento receptor na boa escolha dos canais de divulgação

adequados.

Segundo o AMERICAN MARKETING ASSOCIATION (AMA), em sua

definição anterior adotada desde 1985, marketing é “o processo de planejamento e

execução de conceitos, precificação, promoção e distribuição de bens, idéias e

serviços para criar trocas que satisfaçam os objetivos dos indivíduos e das

empresas”. Em 2004, a AMA redefine marketing, mudando a ênfase de orientação

para o foco no cliente: “marketing é uma função organizacional e uma série de

processos para a criação, comunicação e entrega de valor para os clientes, e para o

gerenciamento de relacionamentos com eles de forma que beneficie a organização

e seus stakeholders”. O BRITISH INSTITUTE OF MARKETING define com

foco mais genérico como “a função gerencial que organiza e direciona todas as

atividades mercadológicas envolvidas para avaliar e converter a capacidade de

compra dos consumidores numa demanda efetiva para um produto ou serviço

específico, para levá-los ao consumidor final ou usuário, visando, com isto, um

lucro adequado aos objetivos pela empresa”.

Para que o produto turístico seja comercializado são necessárias técnicas

mercadológicas especificas. Assim, o marketing turístico é amplamente estudado

na Europa e nos Estados Unidos, mas acanhadamente no Brasil. Alguns autores

citam o marketing turístico como KRIPPENDORF (2001) que considera as ações

publicitárias e promocionais como importante instrumento e ressalta a

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necessidade das pesquisas de mercado a fim de se obterem todas as informações

de que se precisa para a tomada de decisões frente a demanda que se pretende

atingir. Este mesmo autor, já em 1980 referenciava um papel de destaque ao

Estado na montagem da infra-estrutura turística.

COBRA e ZWARG (1986) ressaltam a importância da identificação das

necessidades e desejos dos diversos segmentos do mercado, e os meios mais

eficazes de atingi-los. Consideram a venda de serviços turísticos como um desafio

que exige, além de métodos e critérios, alguma cientificidade.

A EMBRATUR (2003) realizou pesquisas sobre o comportamento turístico

das pessoas e os resultados coincidem com os trabalhos de RUSCHMANN

(1997), que classifica os motivos do comportamento turístico em motivos de

eficiência e de excesso que, para sua caracterização, depende de múltiplas

variáveis do contexto da situação psicológica dos indivíduos e dos estímulos

específicos recebidos.

Em seus princípios básicos, o marketing turístico não difere daquele

utilizado para qualquer outra mercadoria. Somente o aspecto humano necessita de

desempenho melhorado porque o profissional estará negociando com pessoas que

muitas vezes planejam viajar a anos. O cuidado que se deve ter ao atender um

cliente desses é primordial porque o assento de um avião ou uma cama de hotel

podem ser produtos individualizados para os produtores, mas para o turista são

elementos que compõem o produto total: o pacote de viagem.

Portanto, o profissional de turismo tem que estar atento com seus

colaboradores que são os hotéis, transportadoras, agentes, guias e outros que dão o

suporte direto ao turista para que tudo o que foi prometido esteja do agrado do

cliente, porque o comércio nesse ramo é de um produto abstrato, pois o cliente só

poderá opinar na volta.

KRIPPENDORF (1989) aponta algumas singularidades do produto turístico:

a) o consumidor não pode ver o produto antes da compra.

b) é impossível fornecer uma amostra ao cliente.

c) o produto não é transportado, quem se desloca é o consumidor.

d) impossibilidade de estocagem e reposição como assentos de avião, salas

de convenções, que se não forem ocupados no dia jamais poderão ser recuperados.

e) concentração em determinadas regiões durante temporadas (sazonalidade)

como estações de esqui e outros.

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f) instabilidade da demanda, ou seja, é difícil prever com exatidão o fluxo

turístico em determinado período do ano.

Pode-se citar que o marketing é compreendido numa dimensão de gestão

empresarial e no caso de marketing turístico seus responsáveis podem ser

empresas individuais envolvidas em atividades como transporte, alojamento,

alimentação, as instituições cooperativas que atuam conjuntamente e o Estado a

quem cabe a implantação de infra-estrutura e legislação para a preservação do

patrimônio natural e cultural de um país.

Como instrumentos de marketing, podemos citar que as decisões

primeiramente devem recair sobre o estudo do mercado como análise da demanda

e análise da concorrência. Depois, através dos instrumentos de marketing se

analisarão as políticas dos produtos, a política dos preços, a política da

distribuição, a política de comunicação que engloba promoção de vendas, relações

públicas e propaganda.

Na política de comunicação no turismo, a OMT sugere três metas e as

respectivas estratégias para alcançá-las:

1) aumentar o fluxo de turistas, persuadindo o turista potencial através de

ações promocionais e publicitárias.

2) obter a fidelidade dos turistas atuais, zelando pela imagem do destino e

convencendo o cliente da boa escolha e condicionando-o para um retorno.

3) aumentar o tempo de permanência do turista, atualizando o turista com as

novas opções do destino afim de que o turista prolongue sua estada.

No que diz respeito às relações públicas, fica claro que é o alicerce para o

desenvolvimento turístico, a começar pelas relações internas no qual o funcionário

tem de informar com a maior franqueza possível, tudo o que diz respeito à

empresa, organização e destino.

Na promoção de vendas é preciso oferecer aos funcionários salários,

benefícios e ambiente compatíveis, porque um funcionário bem treinado e

satisfeito com sua função proporcionará uma imagem confiável ao turista que ao

relatar sua experiência, favorecerá o retomo do mesmo e a vinda de outros

clientes. Porque, na verdade, o turismo é um mercado realizado de boca em boca

que tem influência direta do início (agência) até o destino escolhido.

Mas, há outros suportes incluídos no rol do turismo como cartazes,

folheterias, vídeos, feiras, catálogos, jornais, revistas, mala direta, rádio, televisão

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e outros. A UNESCO (2001) ao estudar a questão das viagens, aponta que cerca

de 70% da escolha, foi resultante da indicação favorável de pessoas que já

estiveram no local.

RUSCHMANN (2000) menciona que apesar dos fluxos turísticos serem

influenciados por inúmeros fatores econômicos, legais, sociais, psicológicos e

políticos, que nem sempre podem ser medidos, o controle da eficácia da

propaganda turística deve ser realizado tanto no nível local como a nível regional

ou nacional e, seus responsáveis devem ser necessariamente especialistas na área,

seja através do controle empreendido por órgãos públicos ou pelas empresas

privadas que investiram na divulgação. Ou seja, o setor turístico antes de

comercializar qualquer serviço, deve ter um respaldo por especialistas na área.

Estudos devem ser elaborados por estes profissionais que direcionarão o pacote

para os clientes certos, através dos meios mais eficazes, além de preparar o

funcionário que manterá o contato com o cliente interessado e fazê-lo acreditar

que ao retornar seu investimento foi compensatório.

2.2.1 Orientações de Marketing Turístico

O termo marketing se relaciona tradicionalmente com a idéia do

intercâmbio entre as partes: a ofertante e a demandante, o que gera um vínculo

que origina o conceito do “marketing de relacionamento”, que consiste em manter

e intensificar as relações com o cliente.

Outros componentes são o marketing estratégico e o marketing operativo.

Segundo ALCAÑIZ (2000), o marketing estratégico orienta as atividades da

organização a manter e aumentar suas vantagens competitivas, através da

formulação de objetivos e estratégias orientadas ao mercado, e o marketing

operativo ou marketing mix está focado no desenho e execução do plano de

marketing, ou seja, centrado na realização da estratégia previamente planejada. O

modelo de marketing mix mais amplo é o dos 4 Ps (product, price, place e

promotion).

Além dessas dimensões do marketing (estratégico e operativo) que integram

a gestão do marketing, o conceito de marketing faz referência a uma cultura ou

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filosofia da organização que se orienta a proporcionar valor e satisfação ao

consumidor.

As orientações identificadas por KOTLER (2000) e outros diversos autores

têm sido as seguintes:

1- Orientação à produção - maximiza a oferta reduzindo custos de forma de

forma que, quanto maior o número de turistas no destino, maiores os lucros. No

médio prazo essa orientação leva a uma deterioração física e cultural do destino e,

progressivamente, a um excesso de oferta sobre a demanda.

2- Orientação à venda - quando surgem os problemas levantados na etapa

anterior, as organizações adotam como solução o incremento de suas ações

promocionais. Nessa orientação, o papel do marketing é o de pressionar

informativa ou persuasivamente o turista, buscando que visite ou volte ao destino

turístico.

(Note-se que as duas situações anteriores partem de um projeto interno da

organização e não de uma orientação ao mercado).

3- Orientação ao cliente - sob este enfoque, o marketing adquire um papel

preponderante com o enfoque de toda a organização. Nessa situação o turista se

transforma no centro de interesse onde se busca identificar as suas necessidades e

desejos com o objetivo de satisfazê-lo através do marketing mix. Nessa etapa a

investigação do mercado e o marketing mix adquirem um papel fundamental. A

investigação é a base de informação para a tomada de decisões, enquanto o

marketing mix se concentra em fortalecer as diferenças com os destinos

concorrentes.

4- Orientação de Marketing Social - é um passo a mais, se comparada à

orientação anterior; situa a ênfase não apenas no turista individual, mas, também,

no bem estar e interesse em longo prazo dos turistas e da comunidade local,

melhorando sua qualidade de vida.

ALCAÑIZ (2000) identifica ainda as funções do marketing estratégico que

incluem a consideração dos seguintes elementos:

1. Análise do entorno sob o ponto de vista econômico, social, tecnológico e

político.

2. Definição dos mercados de referência.

3. Segmentação do mercado. Exemplo: 3ª idade, famílias, grupos escolares,

e outros.

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4. Análise de competitividade: Quem são meus concorrentes?

5. Megamarketing: utilização de novas variáveis: poder e relações públicas.

A primeira, para identificar os grupos de pressão que têm poder para facilitar o

acesso a um mercado. A segunda orienta os esforços de relações sociais

necessárias para se conquistar a opinião pública.

6. Alianças estratégicas com provedores (como linhas aéreas e operadores

turísticos) e concorrentes.

7. Aproveitar as vantagens da tecnologia da informação.

ALCAÑIZ (2000) continua utilizando os 4 P's para associar os conceitos do

marketing à atividade turística. O autor buscou dar destaque para produto e preço,

pela simples razão de não estender em demasia essa parte conceitual, sobretudo

pela importância especial que esses dois componentes adquirem na questão do

turismo:

1. Formulação do produto.

O padrão “sol e praia” domina a promoção dos destinos, ainda que, naqueles

de longa distância; as paisagens exóticas ganhem ênfase evidenciando que os

novos e sofisticados consumidores buscam autenticidade e experiência únicas.

Inclusive, estão dispostos a pagar um preço maior, se o produto é

significativamente melhor que o dos concorrentes.

O mundo está cheio de exemplos de autenticidade e experiências únicas:

- Grécia - patrimônio e história com experiências na mitologia;

- Itália e França- temas culturais, arte, design, moda e gastronomia;

- Bali - os rituais religiosos e as tradições culturais hinduístas.

Eventos são também parte do produto; podemos citar o Festival de Cannes,

Carnaval no Rio de Janeiro e em Veneza e o Mardi Gras em New Orleans (antes

da enchente de 2005).

O objetivo no “manejo” do produto é o de manter o destino nas etapas de

maturidade e consolidação e evitar as de saturação e declive.

2. Fixação do preço.

Ainda baseado em ALCAÑIZ, na sua visão, o turismo é um processo em

que intervém tanto o setor público quanto o privado. As políticas econômicas que

geram inflação da moeda local e as quedas no câmbio são exemplos. No setor

privado, grandes operadoras exercem o poder de negociação devido ao grande

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número de turistas que representam, o que lhes permite oferecer preços

competitivos.

2.2.2 O Setor de Serviços

O serviço pode ser considerado um ato ou desempenho oferecido por uma

parte à outra (LOVELOCK e WRIGHT, 2001). O serviço é o resultado de um

processo que leva um produto ao cliente, composto de uma gama expressiva de

intangibilidade.

FITZSIMMONS e FITZSIMMONS (2000) entendem por serviço um pacote

de benefícios implícitos e explícitos que são executados em uma instalação de

suporte e que utilizam bens facilitadores. Dessa forma, o serviço é visto

atualmente como um composto de elementos tangíveis e intangíveis.

Os serviços adquirem, pela sua natureza, um alto grau de variabilidade,

gerados pelas pessoas, tempo e a própria prestação do serviço. A alta variabilidade

concorre diretamente com a padronização dos resultados, que pode ser encarado

como uma vantagem ou como um problema. O problema está situado na visão de

produção de bens, que durante todo o século passado investiu na padronização dos

seus produtos. Por outro lado, a variabilidade pode ser encarada como uma

vantagem frente às exigências de flexibilização, permitindo adequar o resultado da

produção do serviço às necessidades de cada cliente atendido. As posturas de cada

empresa estão ligadas diretamente às suas estratégias de operações.

Outra característica peculiar está na impossibilidade de estocar o produto,

fazendo com que as empresas prestadoras de serviços busquem gerenciar suas

estratégias ligadas ao equilíbrio entre capacidade produtiva e demanda. A

incongruência entre oferta e demanda pode gerar uma capacidade produtiva acima

da necessidade, gerando excedentes de recursos e equipamentos ou, no outro

extremo, uma capacidade muito aquém da demanda que precisa e pode ser

atendida.

Os serviços são normalmente ofertados através de pacotes, formado pelo

serviço núcleo e serviços periféricos. Os serviços periféricos, também

denominados de auxiliares, complementam a oferta e buscam influenciar

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positivamente nas expectativas dos consumidores, agregando valor ao serviço

principal. O pacote de serviços pode ser dividido em:

1- instalações de apoio (local e equipamentos usados para prestar o serviço);

2- bens facilitadores (elementos que fornecem elementos tangíveis ao

serviço);

3- serviços explícitos (oferta principal da empresa e fator motivador para o

cliente);

4- serviços implícitos (serviços auxiliares).

GIANESI e CORREA (1994), GRONROOS (1990) e outros autores

concordam com a idéia de que o pacote de serviço é uma combinação de bens

físicos e serviços. Este entendimento possibilita que possamos desenvolver

propostas de melhoria da qualidade, por exemplo, com estratégias para os

elementos físicos do processo de serviço, como também estratégias específicas

para os elementos intangíveis.

O adequado desenvolvimento do pacote de serviço não assegura sozinho a

qualidade do serviço prestado, mesmo que se constitua numa dimensão

importante, normalmente se apresentando como elemento de diferenciação.

GRONROOS (1990) indica que o cliente pode estar interessado não apenas no

desempenho do pacote (produto final do serviço), mas também no processo de

prestação. Foi desenvolvido a partir de então o conceito de oferta ampliada,

agregando aos componentes básicos do pacote, ponderações relacionadas

diretamente ao processo de fornecimento.

O conceito de oferta ampliada abrange questões inerentes ao próprio

conceito do serviço, à sua acessibilidade, às interações com a organização

prestadora e à participação dos clientes. Para garantir a qualidade do serviço, a

empresa prestadora deve atender às necessidades dos clientes não só por meio dos

atributos do conceito de serviço, mas também quanto às necessidades e

expectativas em relação ao processo de prestação do serviço, ou seja, pontos

relativos à disponibilidade do serviço, a cordialidade dos funcionários no

atendimento aos clientes, informações sobre como o cliente deve proceder em

determinadas situações além de outros aspectos (MENDES e TOLEDO, 2001).

Dessa forma, a gestão do sistema de produção inclui tanto os elementos

intrínsecos quanto o processo de produção. Como o cliente participa do processo

de produção, o próprio processo é uma variável avaliada pelo cliente. Há a

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tendência de quanto maior a participação do cliente no processo, maior

preocupação deve-se ter com o próprio. A qualidade da interação entre o cliente e

os diversos componentes do processo de produção do serviço, como funcionários,

outros clientes e equipamentos, é primordial na composição da avaliação da

qualidade do processo pelo cliente.

Além do chamado front-office, a parte visível e interativa, o sistema de

serviço é composto também por uma área de suporte, onde o cliente não participa

do processo, chamada de back-room. Enquanto no front-office a incerteza, a

variabilidade e a dificuldade de controle são as principais características, no back-

room as atividades podem ser realizadas de forma mais padronizadas e

previsíveis. A avaliação do back-room não sofre julgamento direto pelo cliente,

porém constitui etapa importante para a construção final do conceito de qualidade

do serviço.

Buscando uma melhor compreensão dos serviços, há várias propostas de

classificação. A partir da visão dos pacotes, LOVELOCK (1992) e

FITZSIMMONS e FITZSIMMONS (2000) distinguem nos serviços: um serviço-

núcleo e outros serviços periféricos ou secundários. SILVESTRO (1999) propõe

uma visão do processo de prestação de serviço distinguindo três tipos: serviço

profissional, loja de serviço e serviço de massa. Também a partir da visão dos

processos, SCHMENNER (1999) classifica os serviços em quatro tipos: fábrica

de serviços, loja de serviços, serviços de massa e serviços profissionais.

2.2.2.1 O Pacote de Serviços e a Personalização

Os consumidores vêm mudando muito rapidamente; com isso os ciclos de

produção dos serviços vêm sendo pressionados a mudar na mesma velocidade. A

diferenciação do produto está sendo usada pelo mercado tanto para satisfazer o

cliente quanto para fazer crescer o lucro da empresa (HAMEL. 2002). Nos

serviços, onde as questões ligadas aos clientes são tão fortes, a busca pela

diferenciação vem sendo feita de forma bastante contundente. BOVET e

THIAGARAJAN (2000) vêm defendendo que há um aumento substancial de

canais para atender o cliente que estão levando a um aumento da complexidade e

do custo da cadeia de suprimentos. Isso torna um desafio ainda maior à atribuição

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do valor correto ao cliente certo pelo preço adequado. A complexidade resultante

é um grande desafio aos gestores de serviços na cadeia de suprimentos para o

atendimento das inúmeras necessidades dos clientes.

Transposto o desafio, a logística orientada ao cliente permite que a empresa

conquiste uma vantagem competitiva. A concentração do foco na proposta de

valor e na manutenção de relacionamentos lucrativos com o cliente leva o uso da

logística para ir além da diferenciação de produtos, chegando à diferenciação de

serviços (BOVET e THIAGARAJAN, 2000). Dessa forma, à medida que há

compreensão das necessidades dos clientes e seu potencial de lucro, pode-se

determinar com mais facilidade o pacote e o nível dos serviços para cada tipo de

cliente que se pretende atender. Assim, o aspecto central de um pacote

personalizado pode ser a satisfação de clientes de alto valor, enquanto outros

pacotes de serviços podem oferecer serviços mais básicos dirigidos a uma gama

maior de clientes, e outros ainda, podem oferecer determinados serviços muito

específicos para um número menor de clientes, mas que ofereçam maior

fidelidade.

Complementando, BOVET e THIAGARAJAN (2000) afirmam que ao

projetar o modelo da cadeia de suprimentos, é preciso pensar não só na infra-

estrutura e nos recursos físicos, mas também nos recursos humanos, nas medidas

de desempenho e nos sistemas de informação.

O modelo de cadeia de suprimento adotado pela organização precisa

valorizar a proximidade com o cliente, a fim de identificar as necessidades de

cada tipo de cliente e desenvolver novos produtos. A relação entre cliente e

prestador de serviços é constantemente aprimorada com o aprendizado contínuo e

a maior personalização.

Com o investimento no aprendizado e na personalização contínua, a sua

vantagem sobre uma empresa concorrente é muito expressiva, pois mesmo que se

ofereça serviço personalizado similar, normalmente o cliente achará mais

conveniente ficar com a mesma empresa, não tendo que despender tempo para que

suas necessidades sejam captadas por uma nova empresa.

Enfim, as organizações precisam manter uma política de inovação contínua.

O fluxo contínuo de criação de novos serviços possibilita manter a empresa frente

aos concorrentes. Além de se constituir uma vantagem competitiva para a

organização, se apresenta como uma questão de sobrevivência no cenário de

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competição globalizada (PORTER e STERN, 2002). Essas organizações estão

sendo chamadas de empresas reinventoras. Essas empresas, segundo

SLYWOTZKY (1999) partem do princípio de que deverão continuar mudando

seu modelo, para ficar um passo a frente dos concorrentes e de seu setor; descobrir

primeiramente, quais são as prioridades máximas do cliente e como estas estão

mudando. Essa situação normalmente conduz essas empresas a se tornarem

bastante lucrativas, com a vantagem de estar sempre na frente das concorrentes e

do setor.

2.2.2.2 Os Processos de Serviços

DAVENPORT (2002) entende por processo uma ordenação específica de

atividades de trabalho no âmbito de tempo e lugar, com um começo, um fim e

inputs e outputs claramente definidos: uma estrutura para a ação.

As organizações de acordo com GRÖNROOS (1998) podem orientar as

expectativas de seus clientes com relação ao serviço. Para tanto, é de fundamental

importância o gerenciamento do processo de prestação do serviço e dos recursos

envolvidos na sua execução.

O modelo do processo do serviço é um sistema que possui uma área

invisível (atividades de suporte à prestação de serviço - tecnologia, gestão e

pessoas e função) e outra visível ao cliente onde este experimenta o

funcionamento do processo, interagindo com os recursos de apoio da organização.

Nos serviços é necessário que se entenda cada parte que constitua o sistema

de produção, para que se mapeiem detalhadamente os processos. Mapear é

entendido como um detalhamento do processo de negócios, que visa salientar os

elementos mais significativos que configuram uma determinada situação.

Dessa forma, este procedimento pode se configurar como uma importante

ferramenta gerencial, que busca aperfeiçoar os processos existentes e ao mesmo

tempo implantar novos procedimentos. Possibilita a redução de custos no

desenvolvimento de novos produtos e serviços e das falhas de integração entre

sistemas. Em suma, pode melhorar o desempenho de toda a organização, e

implantar uma postura de mudança contínua, na medida em que apresenta os

processos de uma maneira mais clara e precisa.

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A importância do mapeamento de processos está ligada diretamente ao

conceito de processo de serviço, pois neste tipo de organização, o processo de

produção nem sempre é explícito não apenas para os funcionários, mas também

para os clientes que participam do processo de produção. O processo é visto com

uma seqüência de atividades necessárias à prestação do serviço.

A visão por processos tem o objetivo de reunir as tarefas, até então vista de

forma isolada. Uma organização orientada por processos exige uma mudança na

forma de se encarar o sistema de produção, onde o trabalho individual é

substituído pelo trabalho em equipe, de onde emergem a cooperação, a

responsabilidade individual e a vontade de fazer um trabalho melhor (HAMMER,

1998). O projeto, nessa visão de uma forma bastante detalhada, possibilita aos

funcionários que entendam o sistema de produção, criando condições para o

desenvolvimento de melhor senso de responsabilidade e o sentimento de comando

do processo. Cada funcionário faz a sua parte na cadeia de produção, mas têm

completa visão de todos os processos.

Segundo GONÇALVES (2000) a essência da gestão por processos é a

coordenação das atividades realizadas na empresa, em particular aquelas

executadas por diversas equipes de diversas áreas. Nas organizações que estão se

voltando para processos, às ordens dão lugar ao espírito de equipe.

As pessoas têm de aprender a assumir responsabilidades e a trabalhar em

equipe, e só será alcançado quando todos compreenderem todo o negócio, e não

somente sua função específica. HAMMER (1998) pontua que numa organização

de processos existe menos chefia e muito mais responsabilidade da linha de

frente. Por sua vez, os objetivos são traçados com propósito de alcançar

resultados e objetivos determinados pelos clientes. Os clientes são colocados no

centro do novo processo. Este processo visa oferecer mais valor ao cliente, de

uma forma mais rápida e a um custo mais baixo.

2.2.3 Plano de Marketing Turístico

A partir da prospecção deste referencial teórico, onde se busca associar as

regras dos planos de marketing ao mercado turístico, podemos melhor perceber as

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diferentes nuances que ocorrem no segmento turístico, onde parece sempre estar

presente a dualidade Setor Público vs. Setor Privado.

Segundo KOTLER e ARMSTRONG (1993) a chave do sucesso para um

vigoroso desenvolvimento econômico é o marketing estratégico de lugares,

através da: melhoria de sua infra-estrutura, criação de uma força de trabalho

capacitada, estímulo à expansão do empreendedorismo local, desenvolvimento de

fortes parcerias do setor público com o empresariado, identificação e atração de

empreendimentos compatíveis com o lugar, criação de atrações específicas e

únicas do local, construção de uma cultura local de hospitalidade e promoção

dessas vantagens de forma efetiva.

Como afirma PINE (1999), as experiências podem ter o caráter de

entretenimento, educação, escapismo e estética. Diante desse cenário, o autor

acredita que o melhor que as empresas podem fazer é apagar ou diluir os limites

entre estes diferentes campos, ou seja, as experiências mais ricas são as que têm

um pouco de cada. Somente quando os quatro confluem é que o lugar começa a se

diferenciar e as pessoas pensam em passar mais tempo desfrutando a experiência.

Na mesma linha de raciocínio SCHIMITT e SIMONSON (2000), criadores

do conceito do marketing da experiência, confirmam que há uma nova e

revolucionária abordagem de marketing que se focaliza na experiência do cliente.

Ela inclui vários conceitos e ferramentas-chaves, como uma compreensão mais

ampla do consumo e os diferentes tipos de experiências que se podem criar para o

cliente poder detectar, sentir, pensar, agir e se relacionar. Segundo estes autores a

visão tem de mudar; agora se deve enxergar publicidade, sites, embalagens e

espaços de varejo, por exemplo, como fornecedores de experiências.

O marketing e o desenvolvimento de produto são espelhos um do outro: um

tem que combinar necessariamente com o outro. Acredita a OMT que, neste inicio

de século, o desenvolvimento e o marketing irão se basear e enfocar temas que

envolvam uma ou várias combinações de atividades, todas elas começando em

inglês pela letra E: Enterteinment, Education e Emotion. A esta tríade, alguns

ainda acrescentam o meio ambiente (Environment). Estas atividades estariam

substituindo os três “S”: Sun, Sea e Sex predominantes no componente turístico a

partir do pós-guerra.

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Acentuando esse novo olhar, um novo tipo de turista começou a surgir a

partir da segunda metade da década passada, deixando de ser mero espectador da

paisagem para buscar viverem novas experiências.

O turista do futuro será atraído por diferentes interesses, segundo

FOROOHAR (2005), em artigo na revista Newsweek, onde afirma que o turismo

de sol e praia ainda vai dominar, sobrecarregando e pressionando para que o

modelo de duas semanas de férias se torne menos popular. O europeu e o norte-

americano estarão saindo de férias em períodos menores e em mais vezes, na

busca de mais aventuras, ecoturismo, tours culturais, spas, cruzeiros, e em novos

destinos, como Indonésia, China, Maldivas, na busca de locais mais exóticos e de

experiências pessoais.

2.2.4 Marketing e a Competitividade no Turismo

Segundo KOTLER e ARMSTRONG (2002) o autêntico marketing não é a

arte de vender o que você produz, mas saber o que fazer. É a arte de identificar e

entender as necessidades do cliente e criar soluções para lhe entregar satisfação.

Este imperativo de entender as necessidades do cliente requer também o

exercício, nas organizações, de saber aprender e saber disseminar o conhecimento.

Os gostos e necessidades dos clientes não são elementos estáticos, são

diversificados em razão da cultura, níveis sociais, predisposição ao consumo, e

uma série de outros fatores que precisam ser entendidos e transferidos às

organizações.

As pesquisas realizadas por algumas organizações, como o Instituto de

Pesquisa Stanford e o Angus Reid em 1999, mostraram, de forma consistente, que

um percentual de 10 a 15% dos viajantes com poder de decisão, deseja uma

experiência turística alternativa e incomum. Esses turistas, que, de modo geral,

possuem educação de alto nível, são experientes, ricos, muito viajados,

ambientalmente conscientes e sensíveis às tradições culturais, aos sistemas e

costumes dos destinos que visitam, e estão respondendo a solicitações de grupos

locais que querem ser reconhecidos e valorizados.

Entretanto, o que se percebe, é que a divisão do mercado não é tão simples

assim. As corporações multinacionais e transnacionais não abastecem o mercado

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de turismo de massa dos resorts de praia com operadores do mercado-nicho

focados nos viajantes educados. Atualmente, uma parte da demanda do turismo

parece se caracterizar pela personalização baseada apenas no uso da tecnologia

eletrônica para realizar uma decisão de compra.

KOTLER (2000) considera ainda que a capacidade de aprender a mudar

com rapidez será a principal vantagem sustentável neste século.

Segundo SENGE (2000), a capacidade de mudança requer outra que é a de

aprender; a inserção no modelo das “organizações que aprendem” passa a ser uma

norma nesse novo padrão competitivo. As estruturas organizacionais, segundo o

autor, precisam incorporar a tarefa de projetar sistemas de administração do

conhecimento para permitir o aprendizado rápido das tendências e avanços que

afetam os consumidores, a concorrência, os distribuidores e os fornecedores, ou,

em terminologia turística, os turistas, os destinos, os operadores de turismo e o

trade local.

O desafio que se impõe é como realizar essa tarefa de se criar um modelo

competitivo que seja ágil em ofertar aquilo que o mercado busca e ao mesmo

tempo eficiente na qualificação da uma rede de fornecedores tão ampla.

A resposta a essa questão parece indicar um elo na busca de um modelo de

gestão do conhecimento (aí incluída a forma de propiciar a sua disseminação na

estrutura que opera o turismo) ao processo de fomento à criação de alianças

estratégicas nessa estrutura de distribuidores e fornecedores, fortalecidos com o

apoio institucional dos gestores públicos envolvidos no processo socioeconômico

do desenvolvimento turístico. Esta sinergia poderá propiciar uma nova atitude

com relação ao marketing, que assume o papel de promover os instrumentos

necessários para requalificar a demanda a partir da existência de uma oferta

melhor qualificada.

2.2.5 Segmentação de Mercados

Na definição da segmentação de mercado em turismo há que se ficar atento

à diversidade de critérios. Vários autores têm usado diferentes bases para analisar

e segmentar mercado turístico, a exemplo de escolha do destino (SCHEWE,

1982); métodos de viagem (URRY, 1999); características demográficas

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(GRAHAM, 1996); motivo de viagem (BATENSON e HOFFMAN, 2001) e

“vantagem pessoal” (WOODSIDE e PITTS, 1983).

A seguir vamos abordar essas bases na visão de ASSAEL (1992) que define

como “categorias gerais” como:

1- variáveis geográficas - considera que as preferências dos turistas estão

relacionadas ao seu local de residência;

2- variáveis socioeconômicas e demográficas - é a mais utilizada; ela

classifica os turistas por sexo, tamanho da família, educação, raça, idade, renda,

religião e nacionalidade;

3- variáveis psicográficas - classificam os turistas por classe social,

personalidade e estilo de vida;

4- variáveis comportamentais - a vivência de experiências seria a

característica principal desta forma de segmentação.

Atualmente, diante do que se pôde observar na literatura, essa última

característica é a mais considerada nas avaliações de um destino turístico e, por

conseguinte, nas segmentações de mercado para ação promocional e

mercadológica. Os órgãos oficiais de turismo dos Estados Unidos e do Canadá,

desde 1985, consideram que os turistas procuram mais que tudo, uma experiência,

que pode ser uma aventura, um “sabor” de história ou tradição, viver com estilo

por um período, ou simplesmente uma escapada total do seu modo de vida para

uma mudança do seu entorno e atividade.

Pode-se depreender dessa categorização que uma combinação da

segmentação com as categorias acima permitiria a um destino, ou a qualquer

produto turístico, as condições de atuar de forma mais focada naqueles nichos que

produzirão os efeitos desejados na sua comercialização.

Por sua vez, a cadeia de comercialização do produto turístico, sob o ponto

de vista do turista, é um modelo conceitual que reúne atributos inter-relacionados

entre: valor percebido, qualidade, satisfação, fidelização e custo benefício.

O conceito principal dessa cadeia de valor está na avaliação inicial que o

turista realiza no seu processo de decisão de viagem a um determinado destino

turístico; aí estaria o conceito do valor percebido. Segundo ALCAÑIZ (2000) esse

valor percebido é composto por valores tangíveis e intangíveis, com destaques ao

preço, tempo, conforto e ao risco percebido.

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Dentre os valores tangíveis, podemos enumerar os recursos paisagísticos de

um destino, seus meios de hospedagem, restaurantes e outros. Porém, apesar de

importantes componentes do valor percebido, eles não se garantem ao longo do

tempo.

Por outro lado, as características intangíveis parecem ser as mais

importantes, e giram em torno do serviço, tratamento, emoções, marca, imagem,

interação com outros turistas e com a comunidade receptora.

É importante repensar nessa busca de imagem e de mercado que a

sustentabilidade da atividade turística parece não se resumir apenas à preservação

de tartarugas ou ao número de lavagens dos lençóis de um hotel, mas, sobretudo, à

participação efetiva das populações locais no processo de desenvolvimento. Uma

pesquisa das NAÇÕES UNIDAS (2004) estima que mais de 55% dos gastos com

o turismo não ficam nos destinos, o que significa que as populações dessas

localidades não recebem a principal “fatia” financeira da atividade turística.

2.3 Promoção no Turismo

O entendimento clássico de promoção se prende ao que se relaciona aos

estímulos ao marketing utilizados para gerar demanda pelo produto ou serviço. O

propósito da promoção é poder dizer ao público que você tem aquele produto ou

serviço que satisfaz a demanda do consumidor. Os objetivos da promoção são:

informar, persuadir e lembrar.

Essa visão propaga que alguns resultados que podem ser obtidos da

promoção incluem: aumento nas vendas, aumento na participação de mercado,

melhora da imagem da marca, aumento do conhecimento do seu negócio

Identificação de vantagens competitivas e preparação do terreno para vendas

futuras.

Essa abordagem caracteriza a promoção de vendas como a técnica de

vendas que inclui outros tipos de promoção como apresentação de imagens

(através de vários dispositivos), demonstrações, brindes e outros. O sucesso não

depende somente da maneira como se promove o negócio, também da mensagem

promocional.

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A mesma linha evoca que publicidade é a informação sobre seu produto, a

empresa ou serviço. Não necessariamente corresponde a uma mensagem direta

para o consumidor potencial. Geralmente a publicidade não é um serviço pago

diretamente pela aparição indireta de diferentes meios publicitários ou eventos a

um público que não necessariamente faz parte do mercado-alvo, mas pode de

alguma maneira ficar informado sobre a existência dos seus produtos.

Amparado por essa análise a abordagem deste trabalho foca a visão crucial

de que a promoção do turismo consiste em ofertar as condições propicias para o

desenvolvimento do setor em uma região. Está inserido numa política mais ampla,

envolvendo uma série de atividades necessárias para o funcionamento do

equipamento turístico.

Assim, o turismo deve ser considerado como mais uma, dentre outras,

estratégias de desenvolvimento econômico, social e cultural, e o Estado deve

incentivar a participação de todos no desenvolvimento da região.

A atividade turística precisa ser analisada na sua complexidade, e na sua

potencialidade de sustentabilidade. A sustentabilidade turística precisa ser

construída socialmente e promovida de uma maneira contínua e consistente.

Existem alguns fatores que podem nos servir de guias quando falamos sobre

promoção em turismo com foco no olhar sobre a atuação governamental no setor.

É interessante destacar que pontos são esses e que tipos de ações seriam

demandadas para as usarmos como referências no tratamento deste assunto nessa

ótica, como veremos a seguir, segundo dados da EMBRATUR (2002),

MINISTÉRIO DO TURISMO (2004), RIOTUR (2001), ANDRADE (1995).

Sobre a ação de promoção na cooperação internacional no turismo:

1- Promover, numa base igualitária e de benefícios recíprocos, a cooperação

no domínio do turismo.

2- Em consonância com suas respectivas legislações, estimular a cooperação

entre seus órgãos competentes de turismo e outras organizações correlatas, com

outros países.

3- A cooperação poderá incluir o intercâmbio de serviços de consultoria, a

transferência de tecnologia no campo da indústria turística, a promoção de

atividades promocionais conjuntas e o intercâmbio de peritos na área de turismo.

4- O encorajamento e a cooperação entre entidades do setor privado dos

países, estimulando o desenvolvimento da infra-estrutura turística e de viagens.

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5- O estudo das possibilidades de melhorar e intensificar os meios de

transporte e de comunicações entre os países, estimulando o fluxo turístico em

ambas as direções.

Sobre as ações internas:

1- Promover e divulgar o turismo local através de eventos, congressos e

feiras nacionais e internacionais do setor;

2- Prover serviços de saúde, garantir segurança; promover e facilitar as

condições de infra-estrutura como rodovias, ferrovias e portos; formular políticas;

estabelecer condições fiscais e financeiras e adequar o planejamento conjunto com

o setor privado e a comunidade.

Quanto à qualificação da infra-estrutura turística poderíamos destacar as

ações de:

1- Desenvolver o turismo na região segundo parâmetros técnicos e

científicos e de uma ação estruturada;

2- Interagir com a cadeia produtiva do turismo da região;

3- Prestigiar os Conselhos de Turismo;

4- Captar parcerias entre instituições públicas, privadas, faculdades e

empresas do setor do turismo, com a finalidade de promover o desenvolvimento

do turismo;

5- Promover a qualificação e certificação através de cursos, palestras e

eventos nos pontos turísticos, para a população local e os demais interessados,

sensibilizando-os sobre o potencial do turismo;

6- Integrar os arranjos produtivos locais na gestão do turismo;

7- Definir áreas para sinalização turística e monitorar sua execução e

manutenção;

8- Desenvolver um plano estratégico para o turismo;

9-Viabilizar a concretização de projetos/empreendimentos de natureza

estruturantes através da criação de parcerias público-privadas;

10- Elaborar diagnóstico das necessidades da região, gerando portifólio a ser

apresentado para as entidades público/privadas envolvidas;

11- Propor, orientar e apoiar novos empreendimentos turísticos através de

cursos e palestras;

12- Preservar a cultura genuína como fator de identidade cultural, através de

oficinas voltadas para incentivo à continuidade de festas tradicionais;

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13- Desenvolver roteiros que atentem para as características e atrativos da

região elaborando visitas técnicas para a realização/criação desses roteiros,

envolvendo segmentos do trade turístico;

14- Viabilizar a implantação de infra-estrutura necessária para o turismo de

negócios (centro de eventos, transporte, restaurantes);15- Interagir fortemente

com a rede hoteleira;

16- Prospectar e atrair novos segmentos de turismo;

17- Incentivar programas de treinamento de mão-de-obra operacional e de

guias de turismo, técnicos e profissionais de nível superior, disseminação de

técnicas gerenciais para médios e pequenos empresários, desenvolvimento

cultural (palestras, debates, cursos, congressos);

18- Sensibilizar a comunidade turística e o empresariado para a importância

da recepção com qualidade;

19- Promover cursos para a qualificação dos serviços prestados na área do

turismo;

20- Dominar a numerologia do negócio como um todo, através de dados de

movimento para instrumentalizar as ações derivadas dessas informações;

21- Produzir eventos que atraiam público consumidor;

22- Divulgar o turismo da região promovendo cursos, palestras e eventos

nos pontos turísticos, para a população local e os demais interessados.

2.3.1 Promoção do Destino Turístico na Mídia

O relacionamento da mídia impressa e o turismo, em um contexto de

globalização da informação, têm como base demonstrar a necessidade do setor em

se aliar aos meios de comunicação para minimização de custos publicitários e

maximização da imagem do produto turístico. A análise do desenvolvimento e dos

meios de comunicação aponta para os aspectos específicos da mídia na formação

de uma imagem positiva para o turismo brasileiro através do uso correto das

técnicas de comunicação e consagrando a mídia Impressa como um veículo de

vital importância para a promoção do turismo brasileiro.

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2.3.2 Motivação e Desejo de Viajar

COOPER et al. (1998) afirma que a imagem do destino, criado através de

vários canais de comunicação, influencia a motivação e, num segundo momento,

pode também afetar o tipo de viagem escolhida. Os autores também sustentam

que o conceito de motivação inclui outras duas dimensões: a idéia de que o desejo

da viagem está relacionado às necessidades do indivíduo (remetendo aos modelos

de hierarquia de necessidades estabelecidos por diversos autores, incluindo

MASLOW); e que a motivação segue um padrão comportamental adquirido

(normas psicológicas ou sociológicas e atitudes) que levaria ao desejo

individualizado. No entanto, os autores observam que, mesmo que a motivação

possa ser estimulada, reconhecem que as necessidades atribuídas ao desejo de

viajar, por sua vez, não podem ser criadas.

Através da promoção, segundo os mesmos autores, as organizações

turísticas influenciam seus públicos relevantes, incluindo-se, além dos

consumidores, fornecedores, contatos comerciais, agentes varejistas, jornalistas e

formadores de opinião.

MORIN (1984) associa o espectador (incluindo o leitor de jornal e revista)

de hoje ao voyeurismo, que é amplificado pela cultura de massa: ao mesmo tempo

em que se mantém distante, o leitor/espectador/consumidor participa do

acontecimento através do jornalista, do apresentador, do fotógrafo, ou do

cameraman. Mas, ao assumir a condição de turista, o espectador passa a participar

do espetáculo. E transforma seu roteiro numa “viagem-espetáculo” ao interior de

um universo de paisagens, monumentos, museus.

MORIN, porém, ressalta que a grande diferença entre o turismo e o cinema

se mantém essencial, caso contrário bastaria contemplar numa tela de cinema

imagens como a do Coliseu, do Alcazar, de uma paisagem pantaneira, de uma

praia paradisíaca, da Cidade do Rio de Janeiro vista do Corcovado, para que o ser

humano se satisfizesse, tornando-se desnecessária a viagem.

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2.3.3 Comunicação: Processo de Duas Etapas

Ao analisar os canais de comunicação não-pessoais, KOTLER (2000)

afirma que a comunicação de massa age sobre o público receptor num processo de

duas etapas onde as idéias geralmente fluem do rádio, da televisão e da imprensa

escrita para os líderes de opinião e destes para os grupos da população menos

envolvidos com a mídia.

Em seguida, o autor observa que o poder de influência dos meios de

comunicação sobre a opinião pública é mediado pelos líderes de opinião quando

as pessoas interagem primeiramente dentro de seu próprio grupo social e adotam

idéias dos líderes de opinião de seu grupo.

Por isso, Kotler sugere que ao se traçar uma estratégia de comunicação, esta

esteja direcionada aos formadores de opinião, para que estes então se encarreguem

de difundi-la - como exemplo, as empresas farmacêuticas tratam de promover a

divulgação de seus produtos junto aos médicos mais influentes.

2.3.4 Relações Públicas e o Trato com a Imprensa

Considerando o modelo de ciclo de vida de um produto, KOTLER identifica

o estágio introdutório como a fase mais positiva para a relação custo/benefício nas

atividades de relações públicas, já que neste ponto, é preciso motivar a

experimentação do produto. Nos estágios seguintes, o boca-a-boca, a propaganda

e as vendas pessoais passam a ser as mais priorizadas.

Kotler valoriza o trabalho de assessoria de imprensa dentro de uma

estratégia de comunicação bem balanceada apoiando-se na credibilidade imputada

aos artigos publicados na imprensa. O autor sustenta que o material editorial

publicado em jornais e revistas é mais autêntico e confiável para os leitores do que

os anúncios.

COBRA (2001) destaca a importância do trabalho da assessoria de imprensa

dentro do trabalho de relações públicas, citando outros autores (O’GUINN,

ALLEN e SEMENIK) que consideram a publicidade gerada pela imprensa

especializada em turismo e pela imprensa em geral a melhor e mais crível

publicidade para a empresa. As notícias veiculadas pela imprensa acerca de novos

produtos, novas aeronaves, inaugurações de hotéis, novas rotas aéreas, novos

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funcionários, novas unidades, encontros e eventos entre outros fatos relevantes,

são importantes para manter a boa vontade da imprensa.

2.3.5 A Comunicação Integrada

RUSCHMANN (2000) considera que os objetivos da comunicação no

turismo devem ser estabelecidos conforme a natureza do produto. O aumento no

fluxo de turistas é tido como sua principal meta e, para alcançá-la, a autora recorre

às estratégias listadas pela Organização Mundial do Turismo:

1-Ações promocionais e publicitárias como instrumentos para persuasão do

turista em potencial na escolha do destino;

2-Conseguir a fidelidade dos turistas atuais: o turista precisa estar

convencido de que fez uma boa escolha, e isso acontece quando o destino

consegue zelar por sua imagem (conjunto de opiniões e atitudes, com relação a

certa destinação ou empreendimento que, quando favorável, constitui um

condicionador de comportamento dos turistas para o retorno);

3-Aumentar o tempo de permanência do visitante: a diversidade de atrações

de um destino deve ser divulgada para que o turista tenha a opção de prolongar

sua estada.

Outros objetivos mais detalhados:

1- Estimular o direcionamento de demanda para determinados locais;

2- Estimular o fluxo de visitantes por temporadas.

Os esforços de comunicação integrada utilizam técnicas de relações

públicas, promoção de vendas e propaganda e devem ser usados com o objetivo

de motivar o consumidor a escolher o destino turístico. Ao tratar de promoção de

vendas, RUSCHMANN menciona os convites para os fam-tours (familiarization

tours), em que os atores mais influentes do mercado de interesse de um

determinado destino são convidados para conhecê-lo pessoalmente. A autora

considera a ação dispendiosa, devido ao fato de que as despesas da viagem

(transporte, hospedagem, alimentação, passeios, manifestações folclóricas,

brindes) correm por conta dos organizadores (empresários e órgãos de turismo

locais). Mas ela admite que esta seja uma ação cujos resultados são mais

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compensadores e afirma que os jornalistas especializados em turismo também

sejam incluídos entre os selecionados, além dos produtores cinematográficos e

televisivos, que, por sua vez, poderão escolher o destino como eventual cenário

para seus filmes.

2.3.6 Publicidade Negativa

COBRA (2000) sustenta que uma cidade que queira ocupar lugar de

destaque entre as mais visitadas de seu país deve saber se promover, através de

um calendário consistente e de uma assessoria de imprensa atuante, capaz de fazê-

la ocupar lugar de destaque não só na mídia especializada em turismo, mas

também na mídia de circulação geral.

O autor destaca o trabalho do profissional de relações com a imprensa

também como fundamental para evitar que as informações disponíveis no

mercado, muitas vezes sob forma de boato, prejudiquem a imagem da empresa.

Para COBRA, uma das formas de se evitar a publicidade negativa é

informando a imprensa corretamente. Para superar momentos de crise, o autor

aponta conferências com a imprensa e as entrevistas como um recurso eficiente, já

que a empresa tem a chance de transmitir seu esclarecimento oficial, podendo

assim inibir boatos ou informações contraditórias.

2.3.7 Avaliação de Resultados

Avaliar os resultados obtidos num plano que inclua divulgação sob o

aspecto financeiro é uma tarefa difícil, já que não se pode mensurar o efeito

prático que o material publicado possa surtir no público. No entanto, ressalta

KOTLER, uma das formas é através do clipping, ou recortes de jornais coletados

a partir de uma campanha de divulgação quando os publicitários fornecem ao

cliente um livro de recortes de notícias mostrando toda a mídia que divulgou

notícias sobre o produto e um resumo que quantifica, aplicando as tabelas usadas

em propaganda, o valor das notícias geradas, caso fossem publicadas na forma de

anúncio.

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Este tipo de avaliação, no entanto, apesar de ser amplamente utilizado para

verificar os resultados, não seria muito eficaz por tratar apenas de cifras

financeiras, sem abordar o real alcance das mensagens veiculadas, da mesma

forma que também ignora a audiência alcançada. O autor sugere, então, que se use

um método de avaliação em que se possa medir o grau de conscientização,

compreensão ou mudança de atitude em relação ao produto.

MIDDLETON e CLARKE (2002) sustentam que a publicidade e as relações

públicas com a imprensa, especialmente os veículos de comunicação de massa,

são tidos como a parte glamurosa do marketing. Mas pode significar também a

porção mais dispendiosa de uma campanha, ressaltando, então a importância de

uma total integração de tais ferramentas para que se garanta maior efetividade. Os

autores acrescentam que o mix de comunicação deve ser integrado ao mix de

marketing. E definem as funções essenciais de publicidade e RP analisando que

ambos permitem que os negócios atinjam as pessoas em casa ou em outros locais

longe dos locais de produção ou entrega, e comuniquem a elas mensagens que

visam influenciar seu comportamento de compra.

As mensagens, além de serem recebidas, devem ser compreendidas ou

memorizadas para que se tenha atestada a sua efetividade, fazendo com que cada

centavo usado não tenha sido em vão. Apesar de pesquisas utilizadas para se

medir o poder de fogo de campanhas de comunicação, acrescentam os autores,

ainda não se consegue medir eficientemente a influência da publicidade e das

relações públicas sobre o comportamento dos compradores. Muitas campanhas de

comunicação são baseadas na necessidade de mover perspectivas através de

estágios consecutivos de atenção, interesse, desejo de compra e compra real,

enquanto a semiótica oferece uma fonte rica para o pré-teste e melhoramento das

mensagens. Tais pesquisas são importantes, mas as formas exatas como a

publicidade e as relações públicas funcionam nas mentes dos compradores e

influenciam seus comportamentos ainda não são totalmente compreendidas. O

processo de comunicação é altamente complexo e permanece como uma caixa

preta.

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2.4 Governo

De forma geral, no que se refere ao planejamento turístico, pode-se perceber

que os países assumem alguns tipos de comportamento: aqueles que encaram o

incremento do fluxo de visitantes como uma prioridade básica, sem considerar as

implicações que podem advir daí; aqueles onde o planejamento e a promoção

turística são sinônimos e não realizam adequados estudos de demanda; e,

finalmente, aqueles que perceberam a necessidade de um sistema turístico

compatível com a sua estrutura política e administrativa e capaz de ser executada

dentro do seu nível de desenvolvimento e com os recursos disponíveis.

Em função da interface existente entre os setores públicos e privados, o

governo desempenha um papel de destaque nesse processo. Isto não significa que

o governo deva ser o protagonista no desenvolvimento turístico. Porém, qualquer

que seja seu papel, ele será visto como um árbitro entre as questões econômicas,

sociais e ambientais relativas ao turismo.

Convêm termos em mente que uma estratégia para o desenvolvimento do

turismo deve enfocar não apenas as necessidades da demanda turística, mas

também da comunidade anfitriã, sem cuja participação e receptividade o turismo

não pode desabrochar.

Não há dúvida a respeito do papel e da responsabilidade do governo como

agente integrador e promotor do desenvolvimento do turismo. Há evidências de

que o estímulo ao turismo tem sido tratado apenas como discurso e não como uma

ação estratégica dentro de uma política de geração de emprego, de renda e de

desenvolvimento social no Brasil. Reconhecidos especialistas na área de

planejamento turístico, a exemplo de JENKINS (1994), afirmam que, mesmo em

países e regiões mais desenvolvidas, existe a necessidade de uma efetiva

participação do governo no setor. Segundo ele, o governo deve fixar os

parâmetros com relação ao nível do desenvolvimento turístico e deve orientar o

setor privado mediante a clara indicação do tipo, volume e local do turismo que

considera aceitável. O autor focaliza todos os governos, inclusive nos níveis local

e estadual, oferecendo as condições necessárias para estimular o turismo.

Parece evidente que a ausência de investimentos maciços na divulgação do

Estado, na infra-estrutura e o comprometimento dos profissionais responsáveis

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pelo gerenciamento do turismo dentro do poder público vêm trazendo dificuldades

ao crescimento do turismo no Brasil. Tudo isso é, sem dúvida, agravado pela falta

de um planejamento turístico integrado, que conte com a efetiva participação dos

agentes envolvidos ou daqueles que “fazem” o turismo, especificamente os

empresários. Evidências mostram que existe uma significativa parcela de

empresários disposta a colaborar, desde quando exista uma contrapartida por parte

do governo.

2.4.1 Atribuições do Governo

Segundo VAZ (2006) a definição das atribuições do Estado

(Governo/Estado/Município) que coordena as ações de promoção do

desenvolvimento econômico é, na verdade, uma tarefa mais importante que a de

sua natureza jurídica. Há um vasto conjunto de atividades que podem ser por ele

realizadas. A formulação e a coordenação dos trabalhos de implantação de uma

política de intervenção no desenvolvimento turístico econômico é o ponto central.

Ainda que o grau de autonomia que o órgão terá para executar essa atribuição

possa variar, é inevitável que seja ele o responsável por isto.

As atribuições assumidas pela secretaria, departamento ou assessoria de

desenvolvimento econômico podem ser organizadas em três categorias:

a) Articulação: coordenação de fóruns de desenvolvimento, negociações e

discussões com empresários, trabalhadores e sociedade civil; contatos com

agentes financeiros; divulgação do Estado em novos mercados; contatos com

universidades, entidades corporativas e outros potenciais parceiros das empresas

locais no desenvolvimento tecnológico; articulação com Estados vizinhos.

b) Formulação: coordenação da formulação e implantação de política de

desenvolvimento turístico do governo; elaboração de projetos de lei;

acompanhamento de indicadores econômicos; estudos setoriais e outros estudos

econômicos relevantes.

c) Apoio a empresas: divulgação do produto turístico; promoção de

programas de treinamento e assessoria a empresas; construção, gestão e operação

de centros de convenções ou comerciais e incubadoras de empresas; regularização

de empresas; apoio a trabalhadores informais; pesquisa e divulgação de

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oportunidades de negócios para empresas do município; organização de feiras e

exposições.

2.4.2 A intervenção do Estado

Observando o cenário onde o turismo participa de uma cadeia importante de

geração de empregos, o Ministro do Turismo, MARES GUIA (2006) defendeu a

promoção da área a partir de políticas públicas. O ministro afirmou que é

responsabilidade do governo promover o turismo porque ele gera emprego,

distribui renda e arrecada divisas.

É inegável o papel aglutinador, facilitador e promotor do governo no

turismo. Peça chave na nossa economia o turismo representa uma oportunidade

ímpar para o desenvolvimento do Brasil. Mas, este papel tem que ser visto como

uma oportunidade real e trabalhado como tal. O Estado não pode ser um cabide

generoso de empregos para apadrinhados. Tem que existir um foco real nas

administrações. As ações devem ser realizadas em conjunto com todos os

segmentos envolvidos.

Estamos saindo de uma época de grandes incertezas econômicas que

travavam nosso desenvolvimento. Embora algumas delas persistam, é importante

dizer que hoje temos um ambiente melhor para o desenvolvimento econômico. A

intervenção do Estado na economia ainda representa uma ameaça, dado que a

carga tributária é elevadíssima e as oscilações cambiais geram um quadro de

incertezas. Ainda temos um custo do dinheiro elevadíssimo, visto que temos as

taxas de juros mais altas do mundo.

É claro que na competitividade de uma concorrência globalizada estes

fatores não ajudam muito, mas nossos ativos naturais e culturais representam um

acervo que nos dão excelentes perspectivas para o futuro.

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3 Metodologia

Neste capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa propriamente dita,

explicando o tipo de pesquisa realizada, sua conceituação, critérios para a seleção

dos sujeitos pesquisados e os procedimentos adotados para a coleta e tratamento

de dados e as limitações dos métodos utilizados.

3.1 A Pesquisa Qualitativa

CRESWELL (1997) define a pesquisa qualitativa como um processo de

busca do entendimento baseado na tradição metodológica e que explora um

problema social ou humano.

Este autor defende alguns motivos para a escolha da pesquisa qualitativa: o

primeiro ocorre quando a pergunta da pesquisa geralmente começa com “como”

ou “o quê”, na tentativa de descrever uma situação ou acontecimento,

diferentemente da pesquisa quantitativa, que tem como objetivo comparar grupos

e variáveis. O segundo surge quando o tópico precisa ser explorado, pois as

variáveis não são facilmente identificáveis e as teorias disponíveis sobre o assunto

têm que ser desenvolvidas. Finalmente, o terceiro aparece com os indivíduos que

são focos do trabalho e são analisados em seus respectivos ambientes naturais.

Logo, a escolha pela pesquisa qualitativa para o presente estudo deu-se pelo

fato de este tratar de fatores humanos, políticos e sociais, cujo tema é atual e

apresenta necessidade de desenvolvimento. Ratifica-se que o principal objeto de

trabalho é a percepção dos indivíduos diante de determinada situação vivida por

eles cotidianamente, para que, dessas diversas interpretações, sejam extraídas as

variáveis para análise teórica.

3.2 Tipos de Pesquisa

Para classificar a pesquisa, utiliza-se o critério proposto por VERGARA

(2003), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos

meios.

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Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória e descritiva. Exploratória, pois há

pouco conhecimento acumulado e sistematizado sobre este tema e no Brasil não

se verificou a existência de estudos que abordem especificamente as relações entre

as agências de desenvolvimento ligadas ao Estado/Município e o turismo na

Cidade do Rio de Janeiro.

Esta pesquisa também é descritiva, porque busca descrever percepções e

pensamentos, sem que o pesquisador emita um julgamento explícito. O que se

pretende é revelar a visão dos entrevistados diante de um determinado fenômeno e

interpretar o significado das observações realizadas pelas pessoas que compõe a

amostra.

Quanto aos meios, a pesquisa configura-se como bibliográfica e de campo.

Bibliográfica, porque tem como base material acessível ao público. A

pesquisa também pode ser considerada de campo porque levanta dados através de

entrevistas com os indivíduos que vivenciam o fenômeno em estudo.

O estudo de caso como método de pesquisa é caracterizado pelo estudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, a fim de produzir um amplo e

detalhado conhecimento (PINTO, 2000).

Segundo YIN (2001), a pergunta de pesquisa focada em “qual” pode ter

duas possibilidades. A primeira é exploratória, na medida em que tem como

objetivo desenvolver hipóteses e proposições para pesquisas futuras. Na segunda,

o “qual” é usado no sentido de fazer uma enumeração, podendo ser substituído

por “quantos”. A utilização do estudo de caso como estratégia para este último

tipo não se mostra vantajosa.

Baseado nos fundamentos apresentados adotou-se neste estudo o método de

estudo de caso. Observou-se que a pergunta orientadora da pesquisa era do tipo

“qual”, no sentido exploratório. O estudo de caso como método de pesquisa é

caracterizado pelo estudo profundo de um ou de poucos objetos, a fim de produzir

um amplo e detalhado conhecimento (PINTO, 1999). O caso referenciado nesta

pesquisa é o da Cidade do Rio de Janeiro.

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3.3 Unidade de Análise e Seleção de Sujeitos

A seleção de sujeitos levou em conta a dimensão estratégica do problema da

pesquisa. Dessa forma, o objetivo foi o de selecionar os executivos que pudessem

ter um conhecimento global das empresas, das suas diretrizes estratégicas, bem

como dos objetivos e políticas de funcionamento e relacionamentos. O universo

ficou circunscrito às duas empresas de desenvolvimento do turismo da Cidade do

Rio de Janeiro ligadas a Prefeitura da Cidade e ao Governo do Estado.

Atendendo aos desejos manifestados pela maioria destes entrevistados a fim

de preservar suas identidades, não é citado o nome das suas empresas neste

capítulo, assim como no capítulo 5. O nome das empresas, nestes capítulos, foi

codificado através das representações Hera e Atena (assim denominadas segundo

divindades gregas).

Além disto, considerou-se de suma importância ouvir profissionais seniores

do trade de turismo, para capturar deles a visão da performance das políticas e

estratégias das agências de desenvolvimento e aferir o nível de assertivas dessas

plataformas, e também se elas vinham de encontro às demandas e necessidades

dos profissionais atuantes nas áreas e investidores no setor de turismo.

VENKATRAMAN e GRANT (1986) afirmam que os executivos seniores

de uma organização são os seus profissionais mais representativos e que suas

respostas são representações válidas do fenômeno em estudo.

A amostra selecionada, 7 respondentes, foi considerada suficiente para

representar a população total dos sujeitos, por contemplar executivos das duas

empresas pesquisadas, possibilitando uma generalização dos resultados obtidos

com as entrevistas, validando a interpretação do fenômeno em estudo.

Em relação aos profissionais do trade foram entrevistadas 6 pessoas que

atenderam aos requisitos de terem mais de 15 anos de atividades no mercado de

turismo e de nunca terem trabalhado em empresa pública ligada ao turismo.

As entrevistas foram baseadas em roteiro e tiveram como objetivo obter

uma melhor compreensão a respeito das questões relativas à pergunta da

dissertação e das questões intermediárias, bem como buscar obter reflexões e

sugestões a respeito do objeto em estudo.

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3.4 O Método das Entrevistas

O principal meio de coleta de dados foi a entrevista. Este método permite

uma obtenção de dados mais detalhados sobre a complexidade e a abrangência do

objeto estudado. Trata-se de um método de coleta de dados que, entre outros

objetivos, possibilita captar os motivos conscientes para opiniões, sentimentos,

sistemas ou condutas (MARCONI e LAKATOS, 2002).

Como técnica de pesquisa, a entrevista é utilizada para a obtenção de

informações a respeito do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou

desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram e também acerca das suas

explicações ou razões a respeito de coisas anteriores.

Em relação às agências de desenvolvimento foram realizadas 7 entrevistas,

no período de outubro a novembro de 2006, distribuídas conforme o Quadro 1:

Quadro 1 - Distribuição das Entrevistas Realizadas

Empresas Estudadas

Empresa Hera Empresa Atena

Secretario 1

Ex-Secretario 1 Presidente 1 Vice-Presidente 1 Diretor 1 2 Total por Empresa 4 3

No que toca aos profissionais do trade foram realizadas 6 entrevistas, em

novembro e dezembro de 2006, conforme o Quadro 2:

Quadro 2 - Entrevistas com Profissionais do Trade

Segmento Entrevistados

Hotelaria 2 Agência 2 Operadora 1 Organizadora de Eventos 1 Total 6

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Foram, portanto, realizadas 13 entrevistas distribuídas conforme o Quadro

3. Quadro 3 - Total de Entrevistas

Empresas de Desenvolvimento 7

Profissionais do Trade 6

Total 13

Algumas entrevistas não foram gravadas por solicitação dos entrevistados, e

a duração de cada uma variou entre uma hora e uma hora e quarenta minutos. Elas

eram focadas, mas com poucas questões, de modo a deixar os participantes à

vontade para expor suas percepções e opiniões. Antes de cada entrevista, a

pesquisa, seus objetivos e sua relevância eram explicados, assim como era

garantida a confidencialidade de todo o relato feito.

As entrevistas foram realizadas com base em roteiro desenvolvido (Anexo

1) após uma pesquisa bibliográfica sobre as questões predominantes nas

características das ações das empresas de desenvolvimento governamentais na

área do turismo. Em um primeiro nível, as aproximações visaram confirmar

percepções, e aprofundar o entendimento das questões mais complexas e

esclarecer os objetos da pesquisa.

Considerando-se o seu grau de flexibilidade, as entrevistas são classificadas

em estruturadas (ou padronizadas) e não-estruturadas (ou não-padronizadas):

A opção adotada, que melhor servia aos objetivos desta pesquisa, foi a

entrevista não-estruturada, que corresponde ao modelo mais flexível de entrevista,

caracterizando-se pela liberdade que o entrevistador tem para desenvolver cada

situação em qualquer direção que considere adequada.

Geralmente, nesse tipo de entrevista as perguntas são abertas e são

respondidas no âmbito de uma conversação. Segundo GIL (1999) apresenta três

modalidades:

Por Pautas: o entrevistador se guia por uma relação de pontos de interesse

(pauta), que vai explorando no decorrer da entrevista; tem a liberdade explorá-los

fazendo as perguntas que julgar necessárias, na ordem e profundidade que quiser.

É utilizada quando os pesquisados não se sentem à vontade para responder a

perguntas formuladas com maior rigidez.

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Focalizada: há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai

estudar, e o entrevistado fala livremente à medida que se refere a eles. Ao

entrevistador cabe conduzir a entrevista não deixando que o entrevistado se desvie

do assunto.

Não-dirigida: o entrevistado fala livremente a respeito do tema, expressando

suas opiniões e sentimentos; o entrevistador tem a função de incentivar a

entrevista, levando o informante a falar sobre o assunto, sem, entretanto, lhe fazer

perguntas. Esse tipo de entrevista é o menos estruturado possível, sendo utilizado

nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo

pesquisador.

A opção adotada pelo entrevistador foi a modalidade por pautas porque foi

julgada como a mais apropriada para o atingimento dos objetivos de captura das

informações.

3.5 Tratamento dos Dados

Com relação à transcrição de trechos das falas dos entrevistados, foi

mantido o discurso original, sendo fielmente reproduzidas as marcas da oralidade,

com o objetivo de melhor ilustrar suas percepções.

Uma preocupação presente durante toda a análise foi a de que esta não se

limitasse ao que era relatado explicitamente pelos entrevistados. A forma como os

discursos eram construídos e, principalmente, as ilações do que era dito pelos

profissionais tornaram-se elementos essenciais para a análise de suas percepções e

para a elaboração dos resultados da pesquisa, inclusive em seu teor psicológico.

3.6 Limitações do Método

Uma das possíveis limitações do estudo revelou-se durante as entrevistas:

alguns entrevistados mostravam-se, inicialmente, pouco à vontade para expor suas

opiniões sobre um tema que diz respeito às suas atividades profissionais, algumas

entrelaçadas com motivações políticas. É possível que isto tenha influenciado, em

algum grau, a sinceridade plena de suas respostas.

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Percebeu-se, no entanto, que no curso das entrevistas, essa limitação pode

ter sido atenuada pelo esforço do pesquisador em manter um clima de maior

informalidade durante as conversas.

Outra limitação é o fato de as entrevistas serem representativas do discurso

dos indivíduos, o qual não necessariamente reflete o comportamento real de suas

relações com as organizações.

Se, por um lado, o fato de o pesquisador ter um contato com o trade de

turismo ajudou na preparação da pesquisa e na interpretação dos dados, por outro

lado este fato pode ter influenciado inicialmente na abordagem do tema, devido às

suas próprias opiniões acerca do fenômeno. No entanto, o pesquisador, no

decorrer do trabalho, minimizou essa possível limitação ao evitar ater-se a

qualquer tipo de pré-julgamento sobre os resultados encontrados.

Quanto à pesquisa documental, ocorreram algumas limitações quanto à

abrangência e às restrições, por impedimento quanto ao acesso e a divulgação e

informações confidenciais das empresas pesquisadas.

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4 A Cidade do Rio de Janeiro

Neste capitulo a abordagem se dá em cima do estudo de caso através da

correlação da Cidade do Rio de Janeiro com suas características, peculiaridades e

problemas. Em seguida, são caracterizados os organismos públicos de gestão do

turismo na Cidade do Rio de Janeiro como agências de desenvolvimento. Dando

prosseguimento, são abordadas as orientações segundo as poucas tentativas de

estruturação do setor turístico na cidade, via os processos de planejamento que

deveriam buscar a maximização dos benefícios sócio-econômicos e objetivar o

bem estar da comunidade receptora e a rentabilidade dos empreendimentos do

setor. Por ultimo, abordamos os jogos Pan-americanos de 2007 que representa um

marco importante para o acervo esportivo da cidade e um pólo de atração de

turistas.

4.1 Raio X da Cidade

A Cidade do Rio de Janeiro está localizada no coração da Região Sudeste

onde se concentra a maior fatia do PIB brasileiro. Metrópole cosmopolita,

mundialmente conhecida por sua beleza e por seus recursos naturais, a cidade

proporciona aos seus habitantes e visitantes uma harmoniosa e agradável

ambiência para o lazer e o trabalho, que aliada à sua infra-estrutura, faz do Rio um

importante centro de comércio e serviços, contando ainda com uma indústria

diversificada. Ocupando uma área de 1.261 Km2 de extensão, com uma

população de 6.094.183 habitantes (segundo IBGE - Censo 2000), a Cidade do

Rio de Janeiro tem reconhecida, como uma de suas maiores virtudes, o carinho e a

hospitalidade com que seu povo acolhe seus visitantes.

A Cidade do Rio de Janeiro recebe anualmente mais de 2,0 milhões de

turistas estrangeiros, o que a situa como a cidade mais visitada do país, segundo a

EMBRATUR (2006), com uma participação próxima de 33% do total de turistas

estrangeiros. Segundo a RIOTUR (2006) no turismo doméstico recebe mais de 5,0

milhões de visitantes/ano. Esta mesma agência aponta que dotada de uma razoável

infra-estrutura de serviços turísticos, a Cidade do Rio de Janeiro está classificada

dentre os maiores destinos do mundo na recepção de eventos culturais,

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comerciais, técnicos e científicos - feiras, simpósios, congressos e exposições. Sua

natureza exuberante inclui 90 km de praias, o Parque Nacional da Tijuca, onde se

insere a maior floresta urbana do mundo, com 3.200 ha. de mata atlântica, e os

Parques Estaduais da Pedra Branca, do Desengano e da Chacrinha, cobrindo uma

área de 48.500 ha. Além das lagoas Rodrigo de Freitas, de Jacarepaguá, Camorim,

da Tijuca e de Marapendi.

A área da cidade é de 1.261 km² (a do Estado é 43.910 km²), tem população

de 6.094.183 habitantes (14.367.225 no Estado), o PIB do Estado de R$ 252,3

bilhões de reais (R$ 1,9 trilhão do Brasil), o PIB da Cidade de R$ 114,3 bilhões

de reais (FUNDAÇÃO CIDE, 2006).

Segundo o RIO CONVENTION BUREAU (2006), a cidade recebeu cerca

de 350 eventos realizados em 2003. Segundo a INTERNATIONAL CONGRESS

AND CONVENTION ASSOCIATION - ICCA, o Rio de Janeiro está em 27º

lugar no mundo no ranking das cidades sede de eventos internacionais (ICCA-

2004). Possui um efetivo de cerca de 24.000 quartos de hotel que serão

acrescidos, nos próximos anos, de mais 5.000 unidades (RIO CONVENTION

BUREAU). A mesma fonte assinala que o setor hoteleiro tem mantido a média de

taxa de ocupação de 68% nos últimos anos. A hotelaria, concentrada maciçamente

entre a Zona Sul, Oeste e Centro da cidade, tem estabelecimentos para todos os

perfis pessoais e profissionais. Todos de fácil acesso, com infra-estrutura de

padrão internacional. Vários destes hotéis possuem excelentes centros de

convenções com capacidade para sediar eventos de até 1.800 participantes.

A Cidade do Rio de Janeiro abriga o maior centro de convenções da

América Latina - o Riocentro - com cinco grandes pavilhões que somam 100.029

m2 de área disponível para exposições. Versátil e com todas as facilidades

necessárias, o Riocentro está localizado na Barra da Tijuca, um dos bairros mais

modernos e de rápida expansão, que abriga grandes complexos de shoppings,

restaurantes, casas de show e praia. Foi privatizado em 2006.

A cidade também dispõe de diversos outros espaços, auditórios e salas para

realização de eventos, alguns com locações inéditas e criativas. Quanto aos

serviços demandados pela atividade turística, estes números afiançam a plena

capacitação das diversas empresas com sede no Rio, dentre as quais as

organizadoras de congressos, feiras, exposições e eventos sociais - incluindo

criação, montagem, planejamento e produção em todos os itens, as de

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equipamento audiovisuais, tradução, transporte aéreo, terrestre e de carga,

agências de viagens, e outros.

A Cidade do Rio de Janeiro possui dois símbolos que identificam a cidade

através do mundo. São o Pão de Açúcar e o Corcovado, que representam a cidade

visualmente no mundo e são visitados pela imensa maioria dos turistas que

acorrem para esta cidade. O Cristo Redentor é um dos 21 finalistas que concorrem

a um lugar na nova lista das sete maravilhas do mundo.

A estátua e outros 20 monumentos ou lugares foram selecionados por

especialistas entre 200 candidatos indicados pelo público. A votação está sendo

organizada por uma fundação suíça sem fins lucrativos chamada New7Wonders,

especializada em preservação, restauração e promoção de monumentos, e o

resultado será anunciado no dia sete de julho de 2007.

A cidade abriga um litoral de curvas inconfundíveis, a maior floresta urbana

do mundo, uma cobertura vegetal de Mata Atlântica preservada incomparável, um

leque de opções gastronômicas, culturais e de shoppings compatíveis com os

existentes nos grandes centros internacionais e um povo de simpatia inigualável. É

destino desejado nas viagens futuras de 98% dos que a visitam pela primeira vez

(EMBRATUR, 2006).

Todos os anos, na época de carnaval, a Cidade do Rio de Janeiro respira

durante quatro dias um invejável ar de alegria. Os cariocas esquecem problemas e

obrigações e rendem-se ao gigantesco espetáculo de dança e magia. O auge da

festa é o desfile do grupo especial na Marques de Sapucaí, onde diversas Escolas

de Samba disputam entre si o titulo de campeã do carnaval. Samba, cores vivas,

fantasias esplêndidas e mulheres bonitas são os principais ingredientes dessa

disputa grandiosa, para a qual milhares de turistas acorrem para anualmente.

Além disto, o reveillon na praia de Copacabana vem nos últimos tempos

sendo consagrado com um dos maiores eventos do calendário turístico

internacional, com uma fabulosa festa e sensacional queima de fogos de artifício.

A economia brasileira está em processo de recuperação e este ano (2007)

deve crescer mais de 4% segundo previsão do MINISTÉRIO DA FAZENDA. As

estatísticas mostram que, por enquanto, o Estado do Rio de Janeiro vem

apresentando um desempenho abaixo dessa média, embora tenha potencial para

crescer bem acima disso. Nas últimas décadas, em decorrência da transferência da

capital para Brasília e de sucessivas administrações locais equivocadas, o Rio de

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Janeiro lutou contra o esvaziamento econômico. Perdeu para São Paulo a posição

de principal centro financeiro e viu algumas atividades se extinguirem com o

passar dos anos.

Sem grandes extensões territoriais próprias para a cultura de grãos, por

exemplo, o Rio quase não se beneficiou da revolução do agronegócio, hoje um

dos carros-chefes da economia do país. Por outro lado, o Rio tem algumas

empresas importantes nos setores industriais, como a siderurgia e o automotivo,

alem de energia e comunicações.

Segundo dados da FIRJAN (2006) a produção de petróleo criou

oportunidades para diversos segmentos e é a responsável pelo ressurgimento da

construção naval no Estado. Plataformas de petróleo, cujas encomendas são da

ordem de bilhões de dólares, são feitas aqui, assim como barcos de apoio em série

e, em breve, possivelmente navios de grande porte.

Estes dados demonstram que o petróleo e o gás natural são atualmente o

esteio da economia fluminense. O gás permitiu que fossem instaladas várias

usinas termelétricas e viabilizou a implantação de um grande pólo petroquímico

em Duque de Caxias.

Tanto o interior quanto a capital se beneficia da atividade petrolífera, seja

pelo recebimento de royalties e participações governamentais, seja por abrigarem

diversas empresas que direta ou indiretamente estão envolvidas com o setor.

Mas o esvaziamento econômico continua a ser um tema muito presente no

Rio de Janeiro, porque as estatísticas mostram que as áreas em ascensão ainda não

são suficientes para neutralizar o efeito daquelas que entraram em decadência.

IORIO (2004) afirma que o Rio tem sérios problemas estruturais que

precisam ser resolvidos. A carga tributária é excessiva e leva investidores a

optarem por Estados vizinhos. A violência urbana se tornou fora de controle. O

percentual da população que vive em favelas é crescente e, apesar de todo o

investimento social feito nessas comunidades, elas continuam como verdadeiros

guetos, pouco integrados à Cidade e ao Estado.

Mas ainda podemos contar com previsões como a do prefeito da Cidade do

Rio de Janeiro:

.... não há dúvida de que, no Rio, já estamos no início de um novo ciclo ascendente, que ganhará um impulso notável, tornando-se liderança entre as grandes cidades

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brasileiras, tão logo a economia nacional volte a crescer. Se me perguntassem quais entraves o Rio enfrenta, diria sem hesitar que há dois: a violência/criminalidade por um lado e o saneamento por outro, já que ele está nas regiões de expansão da cidade. O primeiro é mais complexo e não terá solução de curto prazo. Mas o segundo depende exclusivamente de vontade política, dado o infinito volume de recursos, nacional e internacionalmente disponível, desde que sob regime de concessão. Se o primeiro nó for equacionado, e o segundo resolvido, com a base de multiplicação existente hoje, o Rio poderá viver, nas próximas décadas, um ciclo longo e sustentado de progresso e recuperação de suas centralidades. (MAIA, 2003, p.3).

4.2 Agências de Desenvolvimento

As agências de desenvolvimento podem ser genericamente definidas como

sendo organismos criados para auxiliar na promoção do desenvolvimento de uma

zona territorial determinada, contando para isso com instrumentos diversos e,

principalmente, com um nível apreciável de autonomia de gestão.

Estão predominantemente vinculadas ao desenvolvimento do potencial

endógeno da zona geográfica de referência, e empregam um conceito amplo de

desenvolvimento, incluindo os aspectos sociais.

Os principais objetivos das agências de desenvolvimento incluem o

favorecimento para atração de investimentos privados para empreendimentos que

apresentem vantagens locacionais relevantes, a orientação de ações públicas e

privadas no processo de privatização de serviços públicos, a indicação da

necessidade de regulamentação destes serviços, a ampliação dos espaços de

parceria entre o setor público e o privado, a atuação como agente catalisador entre

governo e empresariado, a atuação como interlocutor junto aos demais

organismos de fomento regional e a promoção do turismo local.

Idealmente, a agência de desenvolvimento deverá atuar de forma matricial

considerando os vetores espaciais (eixos de desenvolvimento) e econômicos na

definição de prioridades, de forma compatibilizar sua atuação com as metas

estabelecidas nos diversos programas de ação das secretarias.

O planejamento turístico é um processo que analisa a atividade turística de

um determinado espaço geográfico, diagnosticando seu desenvolvimento, fixando

modelo de atuação, mediante estabelecimento de programas, ações e diretrizes

com as quais se pretende impulsionar, coordenar e integrar-se ao conjunto

macroeconômico em que se está inserido. O documento que representa este

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planejamento chama-se Plano de Desenvolvimento Turístico ou Plano Diretor de

Turismo, referenciado a seguir neste capitulo. Este documento procura sintetizar

os esforços, estudos, análises, proposições e ações que orientam gestores públicos

e privados nos seus respectivos interesses e deveres, pautando a população em

suas demandas e interesses. É neste contexto que a agência de desenvolvimento

está abrigada.

Neste cenário, a RIOTUR (Empresa de Turismo do Município do Rio de

Janeiro S.A) se apresenta como uma sociedade de economia mista é o órgão

executivo da Secretaria Especial de Turismo e tem por objeto a implementação da

política de turismo do Município do Rio de Janeiro, formulada pela Secretaria, em

consonância com as diretrizes e os programas ditados pela Administração

Municipal.

Podemos afirmar que o objetivo principal da RIOTUR é a captação de

fluxos turísticos, do mercado nacional e internacional, para a cidade do Rio de

Janeiro, deflagrando a cadeia produtiva do turismo, gerando o ingresso de divisas,

de dinheiro novo, o aumento da oferta de empregos e da arrecadação de impostos,

fortalecendo a economia da Cidade.

Para alcançar esse objetivo, a RIOTUR executa um plano de ação, o qual

inclui as mais variadas ações de marketing que visam promover,

institucionalmente, a venda do destino turístico Rio, no Brasil e no exterior.

Além disso, é da competência da RIOTUR desenvolver, programar e manter

um plano estratégico de turismo, coordenando a realização e a execução de

estudos, pesquisas e programas de interesse para o desenvolvimento da atividade

turística do Município.

Trabalhando em conjunto com o empresariado, a RIOTUR torna-se parceira

de projetos e atividades da iniciativa privada do turismo do Rio, objetivando,

sempre, o desenvolvimento, a estímulo e o fortalecimento do setor.

A TURISRIO, (Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro)

executa projetos para a promoção do turismo no Estado. A TURISRIO, entre

outras obrigações, dá suporte técnico para os municípios do Estado, identificando

o potencial turístico de cada um, elaborando o calendário de eventos do Estado e

ajudando às iniciativas que intensifiquem a atividade turística. Vinculada à

Secretaria Estadual de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo, a

TURISRIO também identifica, seleciona e executa projetos públicos de

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investimento e também registra as empresas ligadas ao setor. A estratégia de

marketing dá ênfase à importante diversidade das atrações turísticas, a mais rica

do país, reunidas num único Estado.

4.3 O Espelho Partido

A criminalidade assustadora, esvaziamento econômico, paralisia política e administrativa, corrupção no setor público. Manias esquerdistas de apontar para a má distribuição de renda como causa primeira e única da violência, de sugar da classe média e dos pequenos empresários o que têm e o que não têm e de julgar que os graves problemas do Estado e da Cidade só podem ser solucionados por um deus político cujo Olimpo fica lá onde o vento faz a curva – em Brasília – e de inchar a máquina administrativa com chuvas torrenciais de funcionários despreparados e desinteressados. Falta total de incentivos à ética do trabalho. (IORIO, 2006, p.1).

Neste relato o autor evoca assuntos críticos para a Cidade do Rio de Janeiro,

como a mudança da capital para Brasília, a centralização do poder no planalto

central, os péssimos governos locais, os velhos álibis para justificar a

incompetência administrativa e o crescimento incontrolável da criminalidade.

Com estes componentes fica desenhado um quadro que evidentemente tem

conseqüências muito sérias no desenvolvimento de uma indústria que trabalha

com a atração de pessoas para um destino turístico.

Do governo vêm iniciativas desenvolvimentistas como os Jogos Pan-

Americanos de 2007, que serão um grande atrativo para visitantes e deixará um

legado físico e social importante para a cidade, mas também um programa fraco

de combate a criminalidade.

A violência repercute em todas as esferas de atividades, com ênfase maior

na saúde e educação. Fragiliza a sociedade como um todo e não existe consenso

sobre quais as ações que devem ser tomadas em relação ao problema,

principalmente no curto prazo.

Até o final do governo de Rosinha Garotinho o governo central não se

relacionava com o estadual e o municipal, e estes dois últimos também não se

relacionavam entre si. Com estes ingredientes temos a receita do fracasso para ser

digerida por uma sociedade que está cansada de perseverar e que vem perdendo

gradativamente sua auto-estima.

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A violência na cidade do Rio de Janeiro tem atingido níveis alarmantes. O

direito de ir e vir dos cidadãos é permanentemente violado, e o medo impera entre

a população. Os crimes acontecem a qualquer hora e em todos os lugares

indistintamente.

HOF (2005) relata que o policiamento da cidade é extremamente deficiente.

A policia está despreparada e desaparelhada para combater o crime. Ela não

desempenha atividades investigativas sobre as autorias das infrações ocorridas e

não existe trabalho de inteligência preventiva.

O autor aponta que a corrupção e a conivência das autoridades policiais

encontram respaldo num sistema jurídico absolutamente imperfeito que protege

menores delinqüentes incentivando-os às práticas criminosas. O tráfico de drogas,

as disputas do poder nas favelas, o jogo ilegal, as milícias se adicionam a este

caldo de ilegalidade que prolifera diante da falta de capacitação e de vontade das

autoridades e de certa acomodação da sociedade como um todo.

A crise social brasileira e o desemprego colocam uma legião enorme de

pessoas à margem das possibilidades de obtenção de trabalho e auto-sustentação.

O crime vem no rastro dessas mazelas e as tendências não são otimistas.

O turismo no Estado é bastante prejudicado por essa situação que vem se

prolongando e tomando dimensões cada vez mais dramáticas. Essa repercussão

negativa atinge tanto o turismo interno como o externo. O assalto a turistas vem se

tornando uma prática cada vez mais utilizada.

O prejuízo para a indústria turística como um todo é muito grande. O Rio de

Janeiro é a porta de entrada do turismo brasileiro e a cidade é a caixa de

ressonância de tudo que acontece no país (SILVA e FERNANDES, 2005). Seria

estratégico trabalhar esta faceta, não só para restaurar a todos, moradores e

visitantes, a segurança constitucional, mas também abrir espaço para o

desenvolvimento de um setor tão estratégico para a economia nacional.

4.4 Planos Públicos de Gestão

Segundo a PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO (2004),

Plano Estratégico de uma cidade é um método ou processo que consiste em

prever, identificar e mobilizar potenciais disponíveis favoráveis, tendo por

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objetivo direcionar ações táticas, definir linhas estratégicas e implementar

programas e projetos, visando a obtenção de resultados desejáveis para o futuro de

uma cidade.

4.4.1 Rio Sempre Rio

Fiel a este princípio e mobilizada no sentido de gerar um plano de

envergadura a Prefeitura da Cidade, no primeiro mandato de César Maia como

prefeito, produziu o primeiro Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro que

foi apresentado no final de 1995 e foi denominado de Rio Sempre Rio.

Resultado de uma parceria do Município com a iniciativa privada, este

plano, além de introduzir na cidade a cultura estratégica, pretendeu ser uma

referência nacional como forma inovadora de planejar, ultrapassando os limites

das intervenções urbanísticas anteriores e indicando novos caminhos, tendências e

aspirações a serem seguidos. Uma avaliação do Banco Mundial em seu relatório

de 1999 caracterizou o plano como um sucesso sem precedentes, enquanto

exercício de construção de consenso e parceria, segundo a PREFEITURA DA

CIDADE DO RIO DE JANEIRO (2004).

4.4.2 Plano Maravilha

Deste plano derivou um desdobramento em 1997, que foi o Plano de

Turismo da Cidade do Rio de Janeiro, denominado Plano Maravilha, capitaneado

pelo então Secretário Especial de Turismo Gerard Bourgeaiseau.

Com o propósito de atrair à Cidade do Rio de Janeiro dois milhões de

turistas estrangeiros e 5 milhões de turistas brasileiros até o ano 2000, o Plano

Maravilha, fruto de uma iniciativa conjunta da Secretaria Especial do Turismo e

da RIOTUR, não foi contemplado inicialmente, na estrutura proposta pelo Plano

Estratégico para o setor de turismo.

Em se tratando do Rio de Janeiro, uma das principais cidades turísticas do

país, o seu Plano Estratégico cometeu um equívoco ao reservar ao turismo, então

denominado de setor de Turismo e Eventos, um espaço secundário, inserindo-o no

contexto da sua estrutura hierárquica complexa formada por várias estratégias,

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objetivos, ações e projetos. O turismo não foi colocado dentre as suas linhas

estratégicas, mas somente no grupo dos objetivos.

Este equívoco foi corrigido pelo Plano Maravilha, que com o aval do então

prefeito Luis Paulo Conde, evidenciou a importância do turismo para a Cidade do

Rio de Janeiro e optou por tratá-lo de forma diferenciada.

A estrutura organizativa do Plano, além do Conselho Mantenedor, contou

também com um Conselho Diretor formado por empresas de distintos setores e

uma Consultoria Externa. Foi contratada a consultoria catalã que participou da

elaboração do Plano Estratégico de Barcelona, sob a responsabilidade de Manuel

de Forn e Manuel Herce.

As informações que se seguem foram compiladas a partir do documento da

Riotur, Relatório Final do Plano de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro – Plano

Maravilha (1997). O grupo designado para a confecção do Plano Maravilha,

composto por cerca de 1.500 pessoas ligadas diretamente ou indiretamente ao

turismo, cadastrou 1.638 recursos turísticos, sendo, dentre estes, 70%

considerados como recursos culturais (museus, igrejas, centros culturais,

restaurantes, entre outros) e 30% naturais (parques, praças, mirantes e praias);

levantou dados econômicos, culturais, geográficos e infra-estruturais da cidade,

aglutinando informações fundamentais à realização do diagnóstico do setor.

O Diagnóstico do Turismo da Cidade do Rio de Janeiro, realizado por este

grupo, apresentou os pontos fortes, pontos fracos e sugestões para o turismo na

Cidade do Rio de Janeiro, que foram agrupados em seis grandes temas ou

estratégias tratados por respectivas Comissões de Diagnóstico.

De acordo com as conclusões gerais do diagnóstico, a cidade do Rio de

Janeiro apresentava grande potencial de recursos turísticos, mas deficiência em

serviços complementares e falhas de estruturação, informação, comercialização e

comunicação.

Com o apoio da iniciativa privada, da EMBRATUR, e com a plena

participação de representantes das variadas áreas de atuação ligadas direta e

indiretamente ao tratamento com o visitante, o Plano Maravilha ganhou forma,

indicando ações efetivas e capazes de contribuir para a transformação da cidade,

tornando-a mais atraente como pólo turístico e melhor para o seu cidadão.

A elaboração do Plano Maravilha estruturou-se em duas etapas sucessivas:

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1ª Fase - Diagnóstico e Estratégia de Desenvolvimento - 1º semestre de

1997;

2ª Fase - Plano Operacional - 2º semestre de 1997.

Após a Fase de Diagnóstico, na Segunda Fase, a de definição do Plano

Operacional, foram elaborados os projetos para melhor viabilizar o turismo na

cidade, com o objetivo de se obter um aumento significativo na demanda turística.

Já, em janeiro de 1998 foi iniciada a fase de implantação do Plano

Maravilha. Segundo o COMUDES (2003) pode-se afirmar que o Plano Maravilha,

ao longo de três anos de atuação, mudou o panorama do turismo carioca,

alcançando ótimos resultados na incrementação do produto turístico Rio, no Brasil

e no exterior, além de apresentar consistentes resultados para o desenvolvimento

sócio-econômico da cidade.

As estratégias definidas e aprovadas na fase de diagnóstico possibilitaram a

construção do Plano Operacional. Este último plano foi composto por projetos

estruturados em ações, programas e cinco macros programas (Quadro 4):

desenvolvimento de novos produtos, melhorias de produtos atuais,

aperfeiçoamento do sistema de informações sobre a cidade, marketing turístico e

novo profissionalismo.

Quadro 4 - Plano Maravilha 1997

MACROPROGRAMA 1 DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Criar novos produtos para melhorar a atratividade do Rio tanto para

o carioca como para o turista. PROGRAMA 1.1 O Turista Carioca no RIO Desenvolver produtos e itinerários para o lazer dos cidadãos do Rio

Rio como base para a melhoria da atratividade da Cidade. PROGRAMA 1.2 Novos Produtos e Pacotes para Turistas Desenvolver produtos turísticos e pacotes estruturados para

aumentar a oferta da Cidade. PROGRAMA 1.3 Rio Capital Histórica e Cultural Desenvolver produtos que reforcem o potencial cultural do Rio e

aumentem a demanda por cultura pelos turistas. PROGRAMA 1.4 Vocação Esportiva da Cidade Aproveitar a existência de infra-estrutura, associações e a tradição

desportiva que existe no Rio para formalizar uma oferta atraente. MACROPROGRAMA 2 MELHORIA DE PRODUTOS ATUAIS Valorizar os produtos atuais diversificando seus serviços e

melhorando sua qualidade para consolidar o destino Rio. PROGRAMA 2.1 Melhoria de Atratividade de Recursos e Produtos Atuais Complementar a oferta turística através da conservação dos

recursos e do incremento dos produtos e serviços oferecidos. PROGRAMA 2.2 Acessibilidade aos Pontos de Interesse da Cidade Melhorar a acessibilidade aos principais pontos de interesse da

Cidade tanto para o carioca como para os turistas.

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Quadro 4 – Plano Maravilha 1997 (aberto em ações) Continuação

PROGRAMA 2.3 Espaços Públicos e Infra-estrutura de Suporte Criar espaços públicos e infra-estrutura de suporte e qualificar os já

existentes para contribuir com o desenvolvimento das atividades turísticas.

PROGRAMA 2.4 Organização Turística Criar uma nova estrutura organizacional entre o setor público e

privado que atue como elemento permanente de dinamização do turismo na cidade.

MACROPROGRAMA 3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO Dispor de forma permanente e atualizada da informação da

atividade turística, útil para sua gestão como atividade econômica e suficiente para os turistas nacionais e estrangeiros.

PROGRAMA 3.1 Observatório Turístico Criar um observatório turístico que supra a necessidade de dados e

viabilize a realização de estimativas para o setor. PROGRAMA 3.2 Difusão da Informação Desenvolver um sistema de disseminação de informações

permanente específico para cada segmento do setor turístico.

MACROPROGRAMA 4 MARKETING TURÍSTICO Melhorar a estrutura da oferta, da comercialização, da

comunicação e da prestação de serviços turísticos da cidade. PROGRAMA 4.1 Marketing nos mercados Ação 4.1.1 Comunicação Ação 4.1.2 Identidade corporativa Ação 4.1.3 Campanha Rio Incomparável Projetos: 4.1.3.01. Publicidade nos meios

impressos especializados do turismo. 4.1.3.02. Publicidade nos meios impressos profissionais. 4.1.3.03. Publicidade nos meios impressos de comunicação de massa. 4.1.3.04. Publicidade na mídia alternativa.

Ação 4.1.4 Rio com a Imprensa Projetos: 4.1.4.01. Relações pessoais com a

imprensa. 4.1.4.02. Organizar viagens completas da imprensa. 4.1.4.03. Dossiê de Informação.

Ação 4.1.5 Alô Rio Projetos: 4.1.5.01. Visitas a Operadores e

Agências de Viagens. 4.1.5.02. Relacionamento com a imprensa e editoras. 4.1.5.03. Apoio à promoção de congressos e eventos. 4.1.5.04. Contatos com formadores de opinião. 4.1.5.05. Fornecer respostas ao turista potencial.

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Quadro 4 – Plano Maravilha 1997 Continuação

Ação 4.1.6 Nova imagem profissional Projetos: 4.1.6.01. Novos Workshops.

4.1.6.02. Participar nos workshops dos operadores. 4.1.6.03. Presença nas feiras. 4.1.6.04. Publicidade nos catálogos dos operadores. 4.1.6.05. Organizar viagens completas de operadores. 4.1.6.05. Merchandising nos pontos de venda.

PROGRAMA 4.2 Marketing no Rio Ação 4.2.1 Cenografia Turística no Rio Projetos: 4.2.1.01. Totens o pontos de informação

nos distritos turísticos. 4.2.2.02. Postos de informação nos aeroportos, porto, estações ferroviárias e rodoviárias.

Ação 4.2.2 Novo Profissionalismo Ação 4.2.3 Informação ativa Ação 4.2.4 Orgulho Carioca Projetos: 4.2.4.01. A cidade e sua.

4.2.4.02. Dia das portas abertas. 4.2.4.03. Conscientização escolar.

MACROPROGRAMA 5 NOVO PROFISSIONALISMO Melhorar a capacitação e competitividade do trade como base para

o desenvolvimento do turismo na cidade. PROGRAMA 5.1 Formação Profissional Melhorar a formação e qualificação profissional dos empregados

envolvidos no setor turístico para responder às necessidades das empresas e dos usuários, turistas e cidadãos.

Fonte – Relatório Final do Plano de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro – Plano Maravilha – 10/12/1997.

4.4.3 Cidades da Cidade

Um novo desdobramento do Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro

ocorreu em 2004 com o projeto “As Cidades da Cidade” ou Plano Estratégico II

da Cidade do Rio. As principais diferenças entre este plano e o anterior foi que,

enquanto o primeiro direcionou-se à cidade como um todo, o segundo, voltou o

seu foco para as regiões da cidade e contemplava o turismo dentro das suas

estratégias desde o principio.

Na formulação do plano “As Cidades da Cidade” foram realizados

simultaneamente 12 planos regionais que requisitaram o desenvolvimento de uma

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metodologia própria que possibilitasse a participação cidadã e a percepção da

cidade como a “soma das partes” e não mais como um todo.

Esse processo resultou no estabelecimento de 12 objetivos centrais, um para

cada região, e na formulação de 68 estratégias, gerando cerca de 96 propostas por

região, homologadas por mais de 4.500 pessoas. Para a implementação do Plano

Estratégico II, foram definidas Comissões Regionais - organizadas pelos

coordenadores e subprefeitos - tendo por finalidade a impulsão das propostas,

atividade que, assim como o acompanhamento dos trabalhos, deveria contar com

o suporte de um banco de dados e de um sistema de monitoramento.

4.4.4 Nível Estadual

O Estado do Rio produziu um Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio

de Janeiro (TURISRIO, 2001), em atenção às deliberações do Artigo 227 da

Constituição Estadual, que dispunha que o Plano Diretor de Turismo era o

instrumento básico de intervenção no setor e deveria estabelecer as ações de

planejamento, promoção e execução da sua política. Além de atender à

Constituição, o Plano tinha mais dois objetivos centrais: consolidar o turismo

como um dos principais segmentos econômicos do Estado, buscando geração de

renda, valorização e elevação da qualidade de vida das populações locais e

incremento da captação de recursos; e resgatar e sistematizar informações e dados

de modo a subsidiar a elaboração da política estadual de turismo e oferecer

alternativas de desenvolvimento para o setor.

O trabalho de elaboração do Plano Diretor de Turismo foi iniciado anos

antes (maio de 1988), com a formação da equipe de trabalho composta por

técnicos da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e

Turismo (SEPDET) e da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

(TURISRIO).

O processo de elaboração do Plano envolveu a realização de diagnósticos

regionais, reuniões com os municípios para identificação de problemas e

potencialidades; levantamento de proposições e entrega dos diagnósticos

regionais; reuniões com representações do mercado turístico para discussão de

problemas, identificação de potencialidades e proposições; elaboração do

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prognóstico, proposições regionais e setoriais; definição de políticas setoriais,

normas e parâmetros; zoneamento e regionalização; seminários e relatório final,

confeccionado em julho de 2001. O Plano foi encaminhado à Assembléia

Legislativa do Estado do Rio de Janeiro em agosto de 2002, um ano após a sua

conclusão, já na gestão estadual de Rosinha Garotinho.

4.4.5 A Falta de Integração

Identicamente ao Plano Maravilha, as proposições do Plano Diretor

Estadual do Rio de Janeiro foram estruturadas em cinco macro programas,

desdobrados em projetos e ações. Observa-se, entretanto, que apesar da

contemporaneidade dos dois planos, de algumas ações previstas em cada um deles

apresentar certa similaridade, ainda que aplicadas a âmbitos diferenciados de

gestão (municipal e estadual), como o banco de dados, informações ao turista,

calendário de eventos, ações promocionais em mercados emissores, e do fato dos

responsáveis pelo Plano Diretor o terem definido, no seu Relatório Executivo,

como um instrumento estratégico orientador das ações no campo da gestão

pública em articulação com a iniciativa privada, não se identificou menção ao

Plano Maravilha no Plano Diretor do Estado do Rio, e vice-versa.

4.5 Os Jogos Pan-Americanos de 2007

De 13 a 29 de julho de 2007 o Rio será a sede dos Jogos Pan-Americanos. A

previsão é que a cidade receba, durante o evento, cerca de 1,4 milhão de

visitantes, o dobro do número normalmente registrado no carnaval (ACRJ, 2006).

A idéia dos organizadores é que, com tamanho assédio e visibilidade

internacional, o Pan seja uma alavanca de desenvolvimento para todo o Estado.

Esta é uma grande oportunidade que o Rio de Janeiro tem para mostrar que pode

sediar competições esportivas internacionais de primeira linha e prover aos seus

visitantes uma experiência extraordinária. Segundo o COB (2006) os jogos

poderão deixar um grande legado para o Rio de Janeiro com a atração de novos

investimentos, que influenciem a balança de negócios, gerando empregos,

aumentando a arrecadação tributária e o turismo.

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Além disso, a idéia é que a realização dos jogos funcione como um

incentivo ao aumento e desenvolvimento das atividades esportivas em todo o

Estado, uma vez que elas serão diretamente beneficiadas com a construção e

reforma das instalações e com a aquisição de equipamentos modernos para a

prática dos esportes.

Os três níveis de governo, federal, estadual e municipal, estão realizando a

construção e reforma das instalações esportivas, além de assumirem outras

responsabilidades. Para receber os turistas e os participantes dos jogos, estão

sendo formados guias cívicos que trabalharão como voluntários. Durante quatro

meses os alunos das comunidades próximas às instalações do Pan receberão

noções de cidadania e ética, turismo e aulas de línguas estrangeiras. Os jovens

selecionados foram indicados pelos líderes de suas comunidades. Até 2007, cerca

de 10.400 jovens passarão pela capacitação, atingindo mais de 100 comunidades.

O governo municipal tem, entre outras atribuições: a construção do Estádio

João Havelange, com capacidade para 45 mil pessoas; a construção do Complexo

Esportivo do Autódromo, que terá um parque aquático, uma arena multiuso e um

velódromo; a reforma e ampliação da Marina da Glória; entre outros. Além disso,

a prefeitura é proprietária do Riocentro, que receberá 11 modalidades esportivas,

em instalações temporárias, além do Centro de Imprensa e do Centro

Internacional de Radiodifusão. A GL Eventos, que detém a concessão de

exploração do Riocentro, o maior centro de convenções da América Latina,

realizará sob supervisão da prefeitura a adequação de seus cinco pavilhões ao Rio

2007.

O governo do Estado do Rio de Janeiro tem entre suas principais

responsabilidades a dragagem da raia de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, a

montagem da infra-estrutura esportiva para a disputa da modalidade e a reforma

do Complexo Esportivo do Maracanã, já tendo entregue o Parque Aquático Júlio

Delamare, que foi modernizado completamente. Após ter seu campo refeito, o

Maracanã já está em uso, mas ainda estão sendo construídos novos setores de

cadeiras, para atender às normas da Federação Internacional de Futebol. O

Ginásio Gilberto Cardoso, o Maracanãzinho, também está sendo reformado de

acordo com os atuais requerimentos para arenas esportivas.

Ao Governo Federal cabem, entre outras responsabilidades, as implantações

do projeto de tecnologia e do plano de segurança para os jogos, além da

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montagem das cerimônias de abertura e encerramento. Além disso, financiou a

construção da Vila Pan-americana e ficou responsável pela montagem de sua

infra-estrutura. No âmbito das instalações esportivas, está erguendo o moderno

Complexo Esportivo de Deodoro, onde serão construídos o Centro Nacional de

Hipismo e o Centro Nacional de Tiro Esportivo, ambos em nível olímpico, um

campo de hóquei na grama e uma piscina para integrar a competição de pentatlo

moderno, e tem a responsabilidade de construir as instalações temporárias a

serem montadas na Praia de Copacabana para a disputa do triatlo, do vôlei de

praia e da maratona aquática.

O MINISTÉRIO DO TURISMO está elaborando diversas ações para

promover a imagem do país no exterior e fomentar o turismo e a economia

nacionais. Entre elas destaca-se o apoio a projetos de inclusão social voltados para

o turismo, com a produção de suvenires, artesanato, prestação de serviços e

apresentações culturais. “Os Jogos Pan-americanos Rio 2007 são uma

oportunidade excelente para divulgar o destino Brasil”, afirma Walfrido dos

Mares Guia, ministro do turismo.

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5 Resultado da Pesquisa

A discussão dos resultados desta pesquisa se dá através da analise da relação

das empresas públicas de desenvolvimento com o turismo, com o mercado

turístico da Cidade do Rio de Janeiro e das observações e comentários dos

profissionais seniores do trade à respeito desta atuação e do contexto turístico.

Como foi visto no Capitulo 3, atendendo aos desejos manifestados pela

maioria dos entrevistados públicos a fim de preservar suas identidades, não é

citado o nome das suas empresas neste capítulo. O nome das empresas foi

codificado através das representações Hera e Atena (assim denominadas segundo

divindades gregas).

O contexto são as situações reais vividas pela alta administração destas

empresas e a ambiência protagonizada pelo órgão público no trato de produtos e

serviços que são compartilhados com a iniciativa privada. A interpretação e

análise de executivos dos setores privados com larga experiência do setor quanto à

efetividade desta atuação, baliza a receptividade e aderência deste mercado às

políticas desenvolvidas.

Os depoimentos começaram apontando que as referências do passado não

servem para confortar os problemas do presente. A promoção continua sendo o

calcanhar de Aquiles para esta indústria que está se aparelhando para atrair

turistas para um dos cenários mais esplendorosos do mundo.

“O Rio esteve no roteiro, num período pequeno de tempo, do Jet Set Internacional. Hoje o Jet Set Internacional não quer e não vem para cá. O turista, o argentino com dinheiro, vai para a Itália, vai para Espanha, vai para Nova Iorque, não vem para o Brasil. O Rio de Janeiro tem hoje bons hotéis, mas é o Copacabana Palace que é o mercado desse pessoal. O Jet Set foi embora, não tem mesmo. Na época, a promoção visava jogar os holofotes para o carnaval, aí as pessoas vinham. Hoje esse pessoal não vem. Vai para a Sardenha, vai para o Sul da França, o cara vai para Dubai. Perdemos a visibilidade de paraíso tropical. Era um turista que vinha e gastava mesmo, que entrava na Amsterdam, na H. Stern na época, e queimava 300 mil dólares em jóias, 500 mil dólares em jóias, esse turista o Brasil não tem mais. E o problema nosso para ter mais turista é: não tem vôo, não tem vôo. Mas não tem vôo por quê? Você não promove. Bota promoção! Ninguém compra o que não conhece. Então, você instiga o cara a comprar. Mas se eu vou e meto um bom dinheiro lá, o cara começa a ir no agente de viagem, o agente de viagem começa a ir na companhia, e não tem, não tem: - Caramba, tem passageiro querendo vir para o Brasil. Como é que estão os aviões aqui e ali; vamos tirar um desse negócio que está com 40% de ocupação e vamos botar para o Brasil. Vamos abrir mais freqüências para o Rio. Aí você vai e bombardeia a Alemanha, com nós fizemos lá.

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No mês durante a Copa 2006, o Rio de Janeiro fez a casa do Rio em Berlim junto com o Pelé. O maior operador da Alemanha veio aqui e tentou fretar um avião lá, para fazer um charter duas ou três semanas, não conseguiu. Veio aqui pegou a BRA, e está fazendo movimento. Já estão vindo outros. Se você provoca o mercado, você tem resposta. O que falta é promoção. Agora que estão acordando um pouco para a promoção, agora.” (Hera, Executivo)

Evidencia-se um ponto de estrangulamento que repercute na falta de

capacidade de atender uma demanda maior, que é o problema aéreo, que passa

pela reduzida oferta de vôos no Rio de Janeiro e do problema recente do trafego

aéreo no Brasil.

“Para o operador só justifica investir numa folheteria para distribuir para uma rede de 1.100 agentes de viagem se você tem escala; hoje não dá para ter escala, porque não tem assento. Quando a VARIG saiu, foram menos 15 mil passageiros por fim de semana aqui que desembarcavam. Quem tem lotou, jogou o preço lá em cima. Então o cara quer uma semana no Rio - 1.300 euros, aéreo, hotel etc. Estava lá, folheteria de todas as agências, venda on line, porque o cara tinha 30 assentos em Lisboa, tinha 40 assentos em Paris, 20 em Madri, 10 em Roma, 10 em Frankfurt. Embarca via Frankfurt. O cara está em Roma, não tem Roma, mas ele vai via Frankfurt. Tudo bem. Hoje o aéreo está 1.300, 1.400, 1.600, 1.700 euros e não tem lugar. O operador, não pode viver assim: – Rio, não tem. Não dá. Ele vai vendendo, esgotou aqui 20, pára. Só podemos atender para depois de amanhã. Não tem assento. O cara vai picando assim, de um em um. E no final, decide: – Aí galera, prateleira – arranca aquilo, e-mail para rede toda dele – Rio sob consulta, não valem aqueles preços, agora é individual, sozinho. Se o passageiro quer, fica sujeito a espaço no avião, sujeito a tarifa de embarque, tem dez tarifas em cada classe econômica, sujeito a confirmação e o preço não é em nada do preço de antes, pode até ser esse preço, mas pode ser 1.500, 1.200, 1.300. O preço é consulta individual, para não deixar de atender o passageiro que quer comprar:. - Quero Rio. Esse quer Rio? Vamos atender o Rio, mas não vale o pacote. Agora se o cara bobear o agente não perde tempo. Tem lá um pacotinho para outro lugar prontinho: San Martin, San Thomas, Cancun, já, já... Derrubar é mole, construir é difícil e leva tempo, mas derrubar leva cerca de dois minutos: - Olha, você viu o que aconteceu semana passada no Rio? Eu sei, tenho parentes lá. Olha pensa direito! Aí o cliente: – O que você tem mais aí pra mim? (Hera, Executivo)

“Nós perdemos muito com a saída da Varig praticamente do mercado. Os operadores de receptivo quando iam lá fora, tinham na Varig um grande parceiro. Isto acabou. A Varig se acoplava, dentro das possibilidades, nas especificidades do produto, numa forte relação ganha-ganha. Isto fora os individuais. A iniciativa privada em suas visitas no exterior tinha o apoio do escritório da Varig local. Agora, olha a escassez de vôos para o Rio; a Air France está lotada para os próximos meses, assim como esteve lotada nos últimos meses.” (Empresário)

A distância também tem que ser considerada. Os argumentos da atratividade

devem ser compensados pelo desgaste da viagem.

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“São cerca de 756 milhões de pessoas que viajam no mundo, e só 25% desse público viaja a longa distância. O que é longa distância? Para qualquer passageiro, mais de 6 horas de vôo. Ele encara 6 horas de vôo com muita naturalidade, passou de 6 horas de vôo, passa a uma reflexão em família. Quando você ouvir, um dois ou três, bastou a mulher virar a cara e você já muda o roteiro para outro lugar. É 25 %, portanto são 140 milhões que estão dispostos a sentar no avião e ficar 11 horas. Nós não temos esse dilema porque as nossas saídas daqui, fora os vizinhos, são sempre para mais de 8 horas de vôo. Mas no mercado mundial funciona assim, só 25% voam mais 6 horas de vôo. E os 25 % são 40, 50, 60 que é turismo, o resto é negócio. O cara a negócio ele voa 24 horas, porque ele tem que ir para Hong Kong, não tem jeito ele tem ir para Bangkok, para o raio que o parta. Eu estou falando de 40 milhões, se nós recebessemos 5%, nosso mercado para pegar são 40 milhões de pessoas. E nós não recebemos 5%, nós recebemos 2, 3. Os 5%, foi uma aritmética política de passar a computar todo mundo que atravessa as fronteiras, Foz do Iguaçu etc, dorme uma noite vira turista. Aí, você fala com o jornalista e jornalista não é burro. E eles questionam, aí eu tenho vontade de ir lá em Brasília, ficar um dia lá no departamento de pesquisa só para eu entender como é que fazem isso; de onde tiram os dois milhões de turistas a mais. Na verdade nós temos 3 milhões de turistas, estrangeiros que vem.” (Hera, Executivo)

“Veja bem, os grandes mercados emissores têm lugares bastante atrativos a 3, 4, 5 horas de viagem. Então, o nosso apelo tem que ser muito forte. E mais, o Rio de Janeiro é o ponto focal do Brasil para o turista externo, mas ele não quer ficar só aqui, ele quer visitar outros lugares. E tem que ser de avião porque aqui não tem trem, as estradas são péssimas, e aí ele esbarra também em todos os problemas da nossa malha aérea. É complicado..” (Empresário)

Negociar é preciso. A competitividade com os outros destinos mundiais é

uma luta que o brasileiro não tem tido muito sucesso. Reservas de mercado,

protecionismo, incentivos locais, boicotes têm sido barreiras que não temos sabido

ultrapassar. Temos os exemplos da laranja, do café e dos sapatos.

“Se você pega uma boa negociação e gera parcerias com as companhias, junta aí a Delta, American, United, Continental: - Olha eu vou entrar com 5 milhões, vocês entram com 3; são 8 milhões no mercado americano. Falta promoção. Com a promoção vai ter mais vôo, com a promoção vai ter mais vôo. Cancun é assim... Estão esgotados, todos os vôos lotados, não tem um assento vazio. Tem que gastar no consumidor, ele não compra o que não conhece. O Rio é exportador para Pantanal, Foz do Iguaçu, Manaus e Salvador; o Rio exporta para estes quatro lugares, fora Búzios e Paraty. Porque Búzios e Paraty figuram entre os 10 e 15 mais visitados por estrangeiros de pontos do Rio. Então nós somos exportadores. Se o Rio vai bem, vai todo mundo bem. Aí vem o “boca a boca”, funciona muito o “boca a boca”, mas tem que provocar o cara, anunciar. A mídia da EMBRATUR foi ruim, gastou mal. Tem que saber como gastar.” (Hera, Executivo)

“A Varig tinha um programa chamado Passaporte Brasil, no qual você fazia o trecho internacional com ela e tinha 3 stops no Brasil, tudo com a Varig. Então o turista podia fazer Paris-Rio, e depois ir Foz do Iguaçu e Manaus, por exemplo, tudo isto num preço fechado. Hoje não tem mais. O dever de casa hoje é o de

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construir novas relações internacionais; antes a grande plataforma era a Varig, que estava posicionada em varias praças” (Empresário) “E veja bem, tem o problema do câmbio. Atualmente ele favorece mais a saída de brasileiros do que a entrada de estrangeiros no Brasil” (Empresário)

Outro ponto se refere à interferência política do governo do Brasil que

instituiu a cobrança de visto de entrada de cidadãos norte-americanos no país, à

titulo de reciprocidade, porque os EUA exigem este procedimento dos brasileiros.

O nosso governo parece não entender que os norte-americanos assim procedem

por conta do problema do terrorismo e dos milhares de brasileiros que tentam

entrar nos EUA de todas as maneiras ilegais possíveis para lá se estabelecerem

permanentemente.

“O mercado americano é o maior para o Rio de Janeiro, mas agora tem o entrave do visto americano que nós temos a “inteligência” brasileira de usar reciprocidade. É o Itamaraty, embaixadas e acordos bilaterais... O americano cobra 100 dólares para o brasileiro ir para lá; como nós somos inteligentes, cobramos 100 dólares para o americano vir para cá. Então o cara com uma família de 4 paga 400 dólares, e ainda tem o problema de tirar o visto. Alem disso, este processo custa tempo e dinheiro; vai por DHL para a embaixada para receber depois, leva uma semana e ainda tem que pagar a taxa. Aí, o cara não vem. Não vem, mesmo, ele vai para outro lugar. É o mesmo que você estar exportando laranja e aí você taxa a laranja aqui, pra exportar. Então você não vai exportar. Aí o México, por pressão americana, voltou a exigir o visto para brasileiros, porque o pessoal daqui usa o México para entrar nos Estados Unidos. Aí o Brasil vai voltar também a exigir visto para o México...” (Hera, Executivo)

“Esta história da reciprocidade é risível. É o orgulho tupiniquim. É claro, que você não gosta de saber que eles nos cobram, mas nós cobrarmos do nosso maior mercado a titulo de revanche é pouco inteligente” (Empresário)

O turismo é chamado de “a indústria sem chaminé” e abrange 52 atividades

inter-relacionadas diretamente. É altamente empregadora e geradora de divisas. A

questão é se a cidade do Rio de Janeiro está se aparelhando para esta realidade:

“O melhor dinheiro do mundo é esse do turismo. A fábrica aqui da Peugeot tem 200 caras... É um dinheiro democrático: o cara da praia que vende ganha, o maleteiro ganha, a camareira ganha, o fabricante de bíblias ganha. Todo hotel tem uma bíblia na gaveta, a gente não sabe. Todo hotel tem uma bíblia e o cara rouba. Está nos 10 mandamentos na bíblia – Não roubarás – mas o cara leva a

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bíblia. E o cara da livraria rezando para o cara roubar a bíblia que aí ele repõe. Quer melhor dinheiro do que esse?” (Hera, Executivo)

“Indiscutivelmente em poucos anos o turismo vai ser consagrado como a maior indústria do mundo. Quem estiver aparelhado para contemplar os desejos dos visitantes vai triunfar.” (Empresário)

“O Rio se relaciona bem, isto quer dizer ainda é visto com muita simpatia e atrativos pelos demais estados e países. Está longe de ações terroristas internacionais. Tem uma cultura própria muito rica, é tema de musicas e berço de movimentos musicais de grande importância, tem uma produção cinematográfica importante, aqui residem expoentes da literatura e do teatro. É a terra do carnaval, do futebol, e das mulheres bonitas. Possui uma excelente infra-estrutura de comunicação, e vem sofrendo melhoras nos seus sistemas de transporte e saneamento. Aqui você tem acesso a todas as tecnologias.” (Atena, Executivo)

“E também tem muita ONG na praça. É grupo de estudo disso e daquilo, é defensor de A, é preservação de B, é amparo a C, e quando você vai ver uma se sobrepõe a outra e fica um negócio confuso. Tem ONG’s sérias é verdade, mas também tem aproveitadores. Quando nós criticamos o poder publico, ou seja as organizações governamentais, isto não que dizer que apoiamos irrestritamente as não-governamentais.” (Empresário)

A apuração de informações estatísticas é usada pelos agentes

governamentais para enfeitar apresentações em congressos e eventos. Muitas

vezes eles não são muito verossímeis e não estão em conformidade com a

realidade.

“Aí o Ministro fala que a meta para 2007 é 9 milhões. Só quero que você me explique: como é que vêm 9 milhões? Como vem? Têm coisas que não se discute, é matemático e financeiro, dois e dois... Para atingir 9 milhões para trazer tem que ter assento aéreo, e nós não temos para trazer 9 milhões. Acho que, talvez, o número total de passageiros que se pode trazer seja de 5 milhões e pouco em todas as aeronaves que chegam ao Brasil. Se viesse tudo de lá para cá. Agora, com esse dólar cada vez mais baixo, mais brasileiro viajando, e aí o tráfego de retorno é absurdo. Sobra trinta por cento para vender lá. São 632 vôos semanais para o Brasil, sendo que disso aí apenas 60 e poucos para o Rio, o que é um outro problema. O sujeito vai subir na origem e descer em Londres, subir lá e descer em Madri. Quer dizer o cara para chegar aqui é uma maratona, ele já sai do lugar dele para Roma, de Roma para São Paulo, em São Paulo troca de avião vem para o Rio, isso mata. O cara quer é ponto a ponto. Foi para São Paulo porque o mercado é São Paulo... Mentira. Foi para São Paulo porque o Marcelo Alencar na época jogou o ICM do combustível para 25%. O problema é que vem o cara do Sul, de Minas, do Rio vai tudo parar em São Paulo para poder embarcar. Agora que jogou para 4% estão voltando todos para o Rio. A gente tem problema de vôo. São menos 20 vôos por dia da VARIG, que saíram do mercado.” (Hera, Executivo)

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As dúvidas quanto à pertinência dos números estatísticos encontram

respaldo naqueles que conhecem como o processo é desenvolvido.

“A impressão que eu tenho da EMBRATUR é que a EMBRATUR massageia número. Então vêm aquelas estatísticas da EMBRATUR – A Polícia Federal identificou, foram tantas entradas nos aeroportos, tantas nos portos. Uma falácia.” (Empresário)

“Hoje em dia a EMBRATUR paga alguém para pegar alguma coisa daquelas fichas que não são digitadas, aí eles digitam, não sei dizer quantas eles digitam O número da INFRAERO não bate com o DAC (Departamento de Aviação Civil), você não sabe a origem e o destino do turista. Um sueco desembarcou em São Paulo, mas ele mora nos Estados Unidos ou ele veio da Polônia?” (Hera, Executivo)

“Todo centro de atração turística precisa de números. Mas aqui eles não são confiáveis, nem nos aeroportos e muito menos nas fronteiras. Existe uma serie de informações conflitantes. Não é sério.” (Empresário)

Outros estados desenvolveram um trabalho bastante interessante na atração

de novos turistas. A Bahia teve um destaque especial na estruturação de uma

política de Estado para o setor e na atração de investimentos. Do ponto de vista

estrutural a Bahia é considerada por alguns como um benchmark para o setor. O

que fica patenteado é que houve um comprometimento do governo e continuidade

da administração publica.

“A Bahia trabalhou muito bem essa parte institucional de turismo e se transformou numa área em que ocorreram investimentos pesados. O que houve de diferente na Bahia em nível de gestão pública? O Rio de Janeiro, historicamente, já está consolidado como maior destino. Eles tiveram a vantagem de partir de um “zero” e fazer alguma coisa. De positivo a Bahia teve uns 20 anos com a mesma política. O Antonio Carlos mandou 20 anos e saiu agora. Então teve um entendimento claro que a Bahia tem um potencial turístico absurdo. Aqui no Brasil, lá fora não. Para alguns mercados, principalmente o português, não tem força nenhuma. O cara não sabe o que é o carnaval da Bahia e nem nunca ouviu falar que tem. Mas houve continuidade, força política do Antonio Carlos; a Costa do Sauipe com dinheiro do fundo Previ. Tem Costa do Sauipe, Itaparica, Praia do Forte, agora tem um outro empreendimento português gigantesco lá. Aí você tem Porto Seguro como ponto, aí você tem um lado todo de Diamantina, você tem muito ponto turístico lá, é um Estado muito grande com muito ponto turístico com vizinhanças boas. Ele atacou um mercado com 40 milhões de pessoas, que é o mercado de São Paulo. Atacou firme o mercado de Minas e trabalhou muito o mercado nacional. Agora nós no Rio temos muitos mais turistas, mesmo nacionais, do que a Bahia. Mas o trabalho lá foi de continuidade e criação de produtos turísticos.” (Hera, Executivo)

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“Os baianos tiveram a sorte de ter o Antonio Carlos Magalhães que sentiu que o turismo é importante. E o Antonio Carlos Magalhães que é altamente criticado por “n” razões, que não cabe aqui discutir, mas eu posso dizer que ele apoiou para que o turismo se desenvolvesse. É inquestionável. E a grande virtude dele, além disso, é ter mantido a mesma equipe durante dezesseis anos, vinte anos. Mas, por outro lado eu tenho minhas críticas em relação a atuação da Bahia no lado do planejamento. Porque eles não fizeram um plano de marketing com pessoas gabaritadas, com conhecimento e fizeram um plano de marketing que não tinha, a meu ver em todas as suas ações uma sinergia entre os atores. Eles tinham muito dinheiro, eles eram pessoas de palavra. Você chegava para eles e dizia: - Olha, eu quero fazer isso na Inglaterra, eu quero fazer isso na França, eu quero fazer isso em tal. Você mostrava o projeto. Tá OK, vamos junto?. Custa quanto? Custam 25 mil dólares, custam 10 mil dólares, custam mil dólares. Tá OK. Como que nós vamos pagar? Acertavam e o pagamento era feito. Eles eram cumpridores. Estiveram presentes, através da música, através de ações em vários mercados. Mas ninguém no nosso turismo consegue enxergar, a meu ver, essa falta de sinergia. Eram mais de centenas de operações pontuais. Eu não sou contra fazer um show em Paris, ou em Berlim ou em Munique ou na Basiléia, para você marcar presença. Se isto não é acompanhado de uma série de trabalhos em volta. A memória que fica que é que é importante. Tanto que eles ainda estão padecendo com 11%, 12% do mercado. Com tudo que eles fizeram eles deviam estar com muito mais.” (Hera, Executivo)

“A Bahia deu exemplo de como trabalhar sério o turismo na esfera da atuação publica. Foi um trabalho competente. Houve injeção de recursos. Mas veja, o Rio continua líder absoluto. Faltam alguns símbolos para atrair o turismo para a Bahia, o Rio é rico neste ponto.” (Empresário)

O desenvolvimento e fomento do turismo passa pela promoção, divulgação

e comercialização, fortalecimento e estímulo através de parcerias entre o poder

público e a iniciativa privada, e um maior envolvimento de toda a sociedade

demanda uma série de ações voltadas para a obtenção destes objetivos.

“Você não tem ações contínuas nos nossos principais mercados, só ações esporádicas. Hoje em dia, o pessoal da promoção vai para o que? Vai para o BTL em Lisboa, depois o FITUR (Feira Internacional de Turismo), depois o de Milão (BIT), depois o ITB (Berlim), depois tem a IMEX (Frankfurt), depois vem TOPRESA (Deauville) em setembro, IT&ME em Chicago, o World Travel Market, tem a EiBTM (Genebra), tem a FIT em Buenos Aires, tal. O que se faz o resto do ano? Qual é a ação contínua? Porque ela é necessária, tem que ter. Acontecem problemas aqui e você não contrapõe uma ação de promoção. Aí vão te dizer: assaltaram o ônibus. É, isso acontece às vezes. Aí, você tem que ir lá. Por exemplo, tinha uma jornalista americana, normalmente quando você convida um jornalista dos Estados Unidos, dois, três e-mails já está liquidado o assunto, você já combinou. Com ela nós mandamos 57, 58 e-mails para convencê-la e ela não querendo: – Vocês estão me enchendo o saco, isso aí não presta e tudo mais. Aí quando ela decidiu, ela falou: – Eu vou, mas se preparem porque vocês vão ter uma campanha contra visceral. Ela não queria vir, porque dizia que isso aqui é uma droga. E o meu escritório bombardeou, na faixa de 50 e-mails e tal: - Olha, vocês chegaram no meu limite, vocês venceram, mas já sabem a minha opinião, eu vou destruir

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vocês. Mandamos a passagem; está aqui o hotel, tem a liberdade total. Se quiser carro, quiser guia, quiser assistência nossa, nós estamos a sua disposição: – É, me coloca um carro e tudo. Passou aqui 4, 5 dias. Voltou; escreveu durante quase 6 meses só artigos positivos. Para você trazer os jornalistas eu tinha muita cooperação da VARIG, eu tinha cooperação de hotéis, você tem que pagar alimentação, tem que pagar guia, tem que pagar carro. E aí, novamente a máquina do Estado é difícil. Eu tinha programas de atuações nos mercados, tinha programas educativos nos mercados. Você tinha oportunidades de marketing que surgiam e me mandavam para o escritório: – Olha essa oportunidade é recomendável. Como o meu pessoal era altamente profissional eles não pediam coisas todos os dias; já tinha uma programação já preparada durante o ano. E nós conseguíamos. Nossa presença é imprescindível para contrabalançar todas as imagens negativas.” (Hera, Executivo)

“No que toca a promoção e marketing, nestes últimos anos nós desenvolvemos material didático novo de todas as regiões. Reformulamos todo o material de marketing. Fizemos ações promocionais, com DVDs, CDs, Discovery Rio de Janeiro, shellfolders, shelletters; participamos de quase todas as feiras. Fizemos campanha publicitária em São Paulo e em Belo Horizonte, uma campanha de férias. Fizemos campanha em outdoor, rádio, jornal e televisão. Desenvolvemos ações dentro de shopping centers, uma ação dirigida ao público final, distribuindo brindes, sorteando final de semana e fazendo reserva diretamente também, com um link com a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Vamos repetir essa ação. Temos um programa de promoção de marketing que se chama: O Rio é de Vocês. Ele foi fundado em 1990 pelo setor privado. Hoje completa 16 anos. A hotelaria do Rio de Janeiro entendeu que deveria mudar o formato das apresentações dos encontros comerciais. Fizemos, nesses 16 anos, 320 encontros comerciais e contatamos 92 mil agentes de viagens. São, em média, 22 eventos por ano. E outra coisa: esse não é um programa do Governo; é um programa da iniciativa privada. É viabilizado pela iniciativa privada, por um grupo de empresários. E estamos com o calendário de eventos nacionais e internacionais. Ganhamos um prêmio, também, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, como um dos melhores movimentos de divulgação e promoção de um destino.” (Atena, Executivo)

“Obviamente, começamos um trabalho sempre procurando os outros Estados, as nossas cidades vizinhas, pois entendemos, conforme o próprio registro da OMT, que o turismo que mais cresce é o de curta distância. Então, você tem de trabalhar primeiro os seus vizinhos; e não só o mercado nacional, mas também o internacional. Começamos em Buenos Aires, no Chile, Montevidéu e, depois, atingimos também a Europa: Lisboa, Porto, Madri, Barcelona, etc. E estamos com um calendário bem intenso. Vamos participar, agora, um dia antes das feiras internacionais, ou seja, vamos pegar já o empresário a caminho das feiras internacionais e montar o nosso cenário para o agente/operador, vendendo, especificamente, o Rio de Janeiro, com as ações de shopping, que são balcão com uma recepcionista distribuindo brindes e fazendo reservas para os hotéis que participam desse projeto.” (Atena, Executivo)

“Participamos do Espaço Brasil, na França, com todo o nosso material em cinco idiomas. Estivemos, agora, também em Berlim, junto com o Rio Convention & Visitors Bureau e a Prefeitura. Foi montado um espaço do Rio de Janeiro em Berlim, durante todo o mês da Copa do Mundo, com distribuição de folhetaria e de outros materiais: o Pelé Station.” (Atena, Executivo)

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“Hoje, a Secretaria, juntamente com os nossos outros parceiros, além de ter o calendário dos nossos eventos, do O Rio é de Vocês, está participando de todas as feiras do calendário da Embratur: as feiras internacionais e as feiras nacionais. Então, existe essa política, não só da TurisRio, como também da Riotur e do Convention & Visitors Bureau, da ABIH, do Sindicato. Então, formamos um grupo de amigos, apartidários, que entendemos que, para o turismo, é importante estarmos sempre juntos. Com esses esforços, redobramos a promoção. Sendo assim, você aumenta o volume de negócios para nós. Participamos assim: Festival de Turismo de Gramado – Rio Grande do Sul; Feira Internacional de Turismo (FIT) – Argentina; Brazilian International Tourism Exchange (BRITE) – Rio de Janeiro; Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) – Lisboa/Portugal; Feira Internacional do Turismo (FITUR) – Madri/Espanha; Salão do Turismo – São Paulo/SP; Associação dos Agentes de Viagens de Ribeirão Preto (AVIRP) – Ribeirão Preto/SP; Adventure Sports Fair (ASF) – São Paulo/SP; AVIESTUR – Feira de Turismo da Associação dos Agentes de Viagens Independentes do Interior do Estado de São Paulo (AVIESP) – Águas de Lindóia/SP; Fórum Mundial de Turismo. Realizamos articulação com diplomatas, autoridades e profissionais da mídia internacional visando a divulgação do produto turístico do Estado, trazendo-os, periodicamente, para conhecer o Rio de Janeiro.” (Atena, Executivo)

“O Rio é de Vocês é um movimento da iniciativa privada que arca com as despesas e conta com apoio da esfera pública. Essa história de união dos players da atividade de turismo é bastante duvidosa.” (Empresário)

“O mercado português: estamos, agora, olhando com muito bons olhos, porque há um crescimento bem pontual; participamos da feira da BTL e levamos o projeto O Rio é de Vocês a Portugal, para Lisboa e ao Porto. Foi o evento nosso mais expressivo na Europa. Conseguimos, nessas duas cidades, reunir mil agentes de viagens. A presença do mercado português, em 2004, foi de 61.542, com crescimento de 28,3%. E o Estado do Rio de Janeiro, obviamente, apresentou 2,7% de crescimento. Resultado: o Estado do Rio de Janeiro arrecadou cerca de US$ 65 milhões em 2004 com o mercado português (considerando gasto médio de US$ 80 ao dia e permanência média de 13 dias). Estes dados são do Anuário Estatístico da Embratur de 2005. Veja que o mercado português, hoje, já é bastante expressivo.” (Atena, Executivo)

“Há uma coisa interessante: esse crescimento do turismo, essa hotelaria, com ocupação hoje melhor do que a do ano passado, é um trabalho que não é só da nosso agentes públicos; é um trabalho conjunto. Entendemos também que os hotéis, as empresas, participam de todas as feiras e as divulgam. Vemos os grandes hotéis, de cinco estrelas, os seus gerentes, seus diretores viajando pelo Brasil afora, promovendo o Estado, o Município, o Rio Convention & Visitors Bureau. Há o projeto O Rio é de Vocês. E muitas vezes, me perguntam: - Mas, o que representa em nível de retorno esses encontros comerciais? Em nível estatístico o que representa o retorno disso? Eu recebo, obviamente, informações da hotelaria, por meio de seu boletim de ocupação e de registro de hóspedes. E vejo o crescimento, a evolução para o mercado. Aí, pergunto: - Mas então esse crescimento é em função só desse trabalho? Não. São os hotéis, o Rio Convention & Visitors Bureaux, os gestores públicos que fazem o seu trabalho. Acho que é um trabalho conjunto, com a vantagem de que O Rio é de Vocês consegue medir, porque é o único evento no qual você tem oportunidade de comercializar o produto. Além de promover e divulgar, você comercializa. Vejo colegas

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empresários saírem desse dia de trabalho com negócios feitos, realizados. Aí, conseguimos pontuar: - Nesse evento o hotel A, B ou C representou uma venda de X, representando Y em ocupação e Z em receita. De qualquer forma, a promoção do destino Rio de Janeiro é um conjunto de empresas privadas e empresas públicas. Na ampliação do parque hoteleiro: tivemos sete novos empreendimentos, 1.500 unidades, R$ 200 milhões, gerando 1.695 empregos. Estatisticamente, cada quarto gera 1,2 funcionários.” (Atena, Executivo)

“A promoção é feita permanentemente. Em todos os eventos que a gente faz no mundo inteiro, em todos os eventos internacionais a gente passa filmes do Réveillon, a gente fez um DVD, não só do Réveillon como, evidentemente, de tudo que acontece no Rio de Janeiro, vendendo o Rio de Janeiro, isso é passado em todos os congressos internacionais em todos os eventos internacionais, ou por nós ou pelo Rio Conventions, por todas as pessoas que vão... Uma das grandes atrações do Rio de Janeiro é o Réveillon, é o verão de uma forma em geral.” (Hera, Executivo)

O trade de turismo é composto por várias empresas que atuam voltadas para

atender os serviços requisitados para a boa performance do setor. Acreditando ser

a Cidade do Rio de Janeiro vocacionada para o turismo e hoje essencialmente ser

uma cidade de serviços, estas atividades são implementadas através dos esforços

da iniciativa privada.

“Você tem vários de segmentos do turismo, você tem o agente de viagem, o organizador de congressos, os guias, os hoteleiros, etc. e tal. Você tem liderança ali que representa um conglomerado forte, mas que não estão atuando a favor dos seus pares. Estão atuando pela posição na empresa dele, que vai ser beneficiada porque ele se apresenta como líder e os liderados lavam as mãos, todo mundo ocupado com o seu dia a dia.” (Hera, Executivo)

“Os agentes de viagens, por exemplo, a empresa dele é uma empresa mínima, que precisa da presença dele constantemente. Ele não tem tempo para se dedicar à associação. Você pode ver que as agências de viagens em geral, são pequenas agências, onde o fator de sucesso da empresa são os donos. E as agências estão perdendo porque mundialmente as companhias aéreas deram um chega pra lá neles com a redução da comissão, e os hotéis eu acho que vão por esse caminho, um dia. Os agentes receptivos estão perdendo muito dinheiro por causa do dólar, se habituaram ao dólar e não souberam se adaptar.” (Hera, Executivo)

“Veja as agências de viagens. O setor é fragmentado e carente de especialização, mas emprega mais de 100 mil pessoas e cresce a cada dia com um, dois, três empregados, impulsionado principalmente pelo chamado “marketing viral”, que é a propaganda boca-a-boca. São ao todo mais de 20 mil agências, sendo que 80% delas nem são associadas à ABAV. E isto vale para os outros setores, não existe organização, nem sinergia entre os players.” (Empresário)

“O que caberia ao Estado, que seria a promoção da cidade para recolher impostos; colocar o cinturão da infra-estrutura, para facilitar os deslocamentos e

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assim também contribuir com o morador local; e garantir a segurança, premissa básica para qualquer local civilizado, não é realizado. Então a iniciativa privada de tanto cansar de recorrer ao Estado para fazer aquilo que acreditamos que seja da sua competência, um dia desiste. O que hoje ocorre é que diante da iniciativa privada, o poder público é considerado ineficiente e lento. Daí vem esta letargia na relação entre estes agentes” (Empresário)

Cabe aos setores públicos e privados suprirem os turistas de todas as

informações necessárias para a sua circulação nos locais apropriados da cidade.

Nos últimos tempos isto se tornou problemático no Rio de Janeiro.

“O Convention Bureau de Nova Iorque é o centro onde você tem todas as informações que você quiser sobre Nova Iorque. Ou em Paris no Champs-Élysées, nas cidades pequenas francesas, alemãs e nas demais você tem um centro de informações turísticas. O que eles fazem, eles fazem bem feito, eles promovem, estimulam, aí a indústria vai bem. A iniciativa privada faz milhares de folhetos em que você não precisa sair do teu hotel para ir para ao Convention Bureau de Nova Iorque, além de todos os livros que são editados, você tem acesso a milhares de folhetos. Aqui, na nossa gestão todos os livros, Michelin etc, foram todos reeditados, tudo atualizado, editado, a gente incentivou fazer, e foram criados novos... Então, os turistas tinham acesso a informações. A folheteria que tem até hoje é a que nós fizemos que é cara para ser usado pelo jornalismo, para ser usado em eventos, para ser usado nos congressos. Para o Corcovado, Pão de Açúcar, que são ícones, você faria um folheto reciclável, teria uma, duas, três, quatro folhas, onde você colocaria as informações, fotografias, você colocaria um mapa para chegar lá. Você pegaria o Centro Gastronômico em Vargem Grande que tem tudo, você faria um folheto desses. Papel reciclado, poucas cores, mas com alguma cor. Folheto muito mais barato, nós tínhamos bolado os displays, como seriam colocados nos hotéis, de vários tamanhos. Todos os hotéis iam querer se abastecer com isso. E aí uma coisa menor, vamos dizer assim que seja, sei lá, uma coisa menor, vamos pegar o Parque da Catacumba é um parquinho. Então você faria uma lâmina só, como você tem na França, um mapinha. Você poderia fazer o Museu da Arte Naif, os demais museus. O Largo do Boticário, uma lâmina e tal. Tudo nós já estávamos começando a esquematizar. Tudo isso começou a ser preparado por quê? Você tem que inundar o mercado. Você que é da cidade do Rio e tem um amigo que vem, você vai saber onde você vai achar. Perto de você sempre tem um hotel, onde você vai achar tudo isso, você não precisa ficar procurando. Porque que não pode ter num quiosque na Avenida Atlântica? (Hera, Executivo)

A importância de conhecer os mercados com suas especificidades é de

fundamental importância para dar a abordagem correta. Isto vale tanto para o

receptivo nacional como o internacional.

“O mercado americano não vai ao nordeste, quem vai ao nordeste é o mercado europeu, principalmente português e espanhol.” (Hera, Executivo)

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“O americano é urbano; ele gosta de ar condicionado, conforto, bons restaurantes. O nordeste não tem esta infra-estrutura.” (Empresário)

“O 11 de setembro de 2001, acabou favorecendo o turismo local. Muitos preferiram viajar pelo país. Agora, isto esfriou um pouco, uma vez que o terrorismo parece ter dado uma trégua.” (Empresário)

“A consciência da importância do turismo ganhou corpo e as pessoas hoje, realmente, trabalham o turismo como atividade econômica e que movimenta quase 1 bilhão de pessoas no mundo e nós temos uma fatia muito pequena infelizmente, ainda, desse mercado que é impressionantemente grande, e que é o mercado que mais cresce e que mais fatura no mundo, mais do que todos os outros segmentos econômicos.” (Hera, Executivo)

“Você tem que se estruturar para apresentar o seu produto. Não é ôba-ôba de viajar para fora, não é passeio. Você tem que pontuar a sua abordagem, entender o contexto, ver onde você pode ter sinergia com os parceiros e saber medir os resultados. Se é para badalar lá fora, fica em casa que é mais barato” (Empresário)

Se contemplarmos a visão da promoção versus a escassez de recursos nos

deparamos com uma realidade totalmente inconsistente no que toca a captação de

recursos. O pano de fundo para esta discussão é o planejamento.

“Você planeja em conjunto e chega a hora de fazer. Vamos fazer? Nós pegamos e fomos atrás de dinheiro. A iniciativa privada não botou nada. Tem horas que eu vejo que o Governo, tinha que fazer investimento no institucional, e a iniciativa privada fazer a comercialização. Esse é o papel que a França faz. A França tem um sistema que é muito interessante: chegou ao ponto que todas as ações que são feitas no exterior, 50% ela paga, 50% iniciativa privada paga... E tem mais, o governo tem um programa, mas quando sai fora do programa dele e uma região francesa decide fazer alguma coisa, o sujeito chega para o governo, justifica o que quer fazer e o porquê é importante e o cara assina o cheque e põe 50%, o Governo não recusa. Porque ele estima o seguinte, já que ele está fora do meu programa com que a maioria vai, e uma região acha que é uma oportunidade de negócio, eu vou ajudá-lo. Vai quebrar a cara? Tudo bem. Mas não desistiu.” (Hera, Executivo)

“Para construir nosso plano de ação nós escutamos o mercado. Nós entrevistamos mais de duas mil pessoas, fizemos pesquisa no Brasil e no exterior, fizemos entrevistas... Quer dizer todo mundo quando chegou lá – poxa! Isso aqui eu dei sugestão, legal, os caras acataram. Claro, a gente ouviu. Aí ele fica aderente e passível de se associar na captação de recursos para as empreitadas” (Hera, Executivo) “A execução do plano foi um sucesso. A ocupação que era para ser de 58% a 70%, nós tínhamos 800 mil turistas estrangeiros, pulamos para o alvo de dois milhões e atingimos os dois milhões, se você olhar 1.952.000 e tal. Nós envolvemos toda a sociedade e até hoje se fala, a sociedade fala, as pessoas fora do Rio falam, mas na hora que veio o novo governo o projeto foi descontinuado.” (Hera, Executivo)

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“O que deveria ser feito é pegar o “Plano Maravilha”, atualizar, fazer o mesmo percurso. O que estava planejado? Eles tinham uma metodologia espetacular. Agora, muito deve ser atualizado, porque as coisas evoluem. Você tem progresso em várias áreas, outras não progrediram, então você tem que balizar e empreender.” (Empresário)

“Este governo federal quando assumiu, decidiu trabalhar seriamente no turismo. O primeiro pensamento que eles tinham, lá em Brasília, os paulistas que estavam lá do PT, era o seguinte: - Vamos trabalhar o nordeste. E aí um consultor, virou pra ele, um consultor que eles respeitam, ainda bem e que falou: - É impossível desenvolver a curto e médio prazo qualquer plano para o Brasil que marginalize o Rio de Janeiro. É um erro estratégico grosseiro, vocês têm que repensar essa diretriz. Não porque o nordeste é isso e o Rio de Janeiro, aquilo. O Rio de Janeiro pode ser tudo que quiser, mas o Rio de Janeiro é o que existe no exterior. Fora isto não há nada. O resto não existe.” (Hera, Executivo)

“Olha, só agora no governo Lula é que foi criado o Ministério do Turismo. O ministro Mares Guia, que parece que vai sair nesta reforma ministerial deste início de 2007, é um educador e está fazendo um bom trabalho de catequese e difusão da importância do turismo para um país com as características do Brasil. Ele tem boa imagem para o trade, fala bem e tem iniciativa. Ele valoriza o que é bem feito; mas agora vai sair quando ainda há tanto a se fazer. E quem virá depois? Uma pessoa qualificada ou um político de plantão esperando uma vaga? (Empresário)

Os órgãos públicos pontuam certas críticas ao setor privado e vice-versa.

Não faltam argumentos para os dois lados.

“A iniciativa privada aceitou calada que se jogassem fora doze milhões de dólares ou quinze milhões de dólares, que nós tivemos que lutar muito para conseguir estas verbas. As reuniões com os membros da comunidade eram um sucesso, elas eram arrebatadoras. Eu tinha uma equipe espetacular, nada se faz sozinho. Então o que me choca, não porque eu liderei o processo, mas porque foi uma coisa que teve resultado claro, latente e aceito pela iniciativa privada, foi quando o novo governo assumiu e jogou tudo fora, todo mundo ficou calado, ninguém se opôs. E todo mundo ainda bateu palma para eles. Então, isto é um problema muito sério. E a partir daí não se fez mais nada, a iniciativa privada está absolutamente calada. As pessoas têm uma submissão às autoridades.” (Hera, Executivo)

“A gestão publica é oportunista. Ela se locupleta pelas atividades da iniciativa privada. Eles só pensam na manutenção dos seus cargos e privilégios. É um mundo do faz de conta. Apresentam bonitas transparências com o resultado do trabalho alheio. A máquina estatal é lenta e ineficiente. Atrapalha mais do que ajuda. A principal falha é que os órgãos não demandam e exigem ações dos outros órgãos. Isto fica claro na segurança e infra-estrutura.” (Empresário)

“Nós trabalhamos durante vários meses em cima de um planejamento extremamente criterioso. A indústria achava que era mais um plano e eu tinha uma equipe, e uma determinação de que as coisas acontecessem. O que acontece no

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Brasil é que têm muitos planos que são engavetados ou então o governo não consegue, porque a máquina estatal é terrível para você fazer as coisas acontecerem.” (Hera, Executivo)

“Trabalhar na máquina governamental é muito difícil. Você não consegue num estalar de dedos fazer com que as coisas aconteçam, o pessoal é muito lerdo, quando chegou no mês de maio, anterior a eleição de novembro, tem gente que queria parar de trabalhar, porque tinha eleição. Tem gente que dizia – Porque que você está trabalhando tanto? Vai ter eleição, vamos esperar...” (Hera, Executivo)

“As metas das outras esferas de governo, principalmente a federal não são as mesmas que as regionais. A ajuda é muito pouca. A política atrapalha. Não vou nem falar em infra-estrutura.” (Hera, Executivo)

“De qualquer forma, acho que os políticos, hoje, entendem a importância da nossa atividade, a importância dessa geração que consegue diminuir as divergências sociais. Você consegue dar emprego, desenvolver essa atividade da indústria sem chaminé, da indústria do crescimento. Acho que hoje existe uma consciência política, não só nas esferas municipal e estadual, mas também na esfera federal, da importância de incentivar, de valorizar. Entendemos, também, que os recursos conquistados mostram que houve um crescimento nesse investimento, um crescimento da importância dessa política dos recursos descentralizados, que são captados por meio do Fórum do Turismo, dos Conselhos Estaduais de Turismo. Obviamente, esperamos que esses recursos melhorem, mas, de qualquer maneira, não deixa de ser uma contribuição clara que podemos utilizar, obviamente agregando aí os recursos do Estado e do Município.” (Atena, Executivo)

“Você vai minando a tua expectativa e no final você acaba olhando para o seu próprio umbigo. É essa a percepção que eu tenho, você tentou, tentou, tentou e você passa a desacreditar em qualquer ente governamental. O político profissional só está de olho na próxima eleição e o bom técnico se frustra pela incapacidade de realização. Você rema, rema, e não chega a lugar nenhum, aí você pára de remar.” (Empresário)

“Também tem muita gente que é do discurso, são pessoas de relacionamento, são pessoas que já conhecem as pessoas do trade há muito tempo, então vão lá: – Meu amigo, não sei o quê... Tem muito essa postura. Turismo tem algumas características próprias da indústria que se diferenciam das outras, dos outros negócios, por ele ser um negócio tão disperso, tão grande. E tem um problema a mais, não dá voto.” (Empresário)

“O Rio tem muito menos eventos do que poderia ter. Só agora que parecem estar equipando a cidade com espaços para congressos compatível com o apelo que a cidade tem. Alem disso existe pouca interação com as embaixadas do Brasil fora do país. Veja, o Brasil tem poucas marcas globais, e não tenha duvida que isto atrapalha a promoção do turismo. Quem tem ícones é o Rio, como o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, Ipanema e Copacabana.” (Empresário)

“O nosso nível de educação é muito baixo. É aí que reside a origem dos problemas. Aqui as políticas são eminentemente assistencialistas, e não corrigem

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as distorções. E afinal, qual é a nossa vocação no turismo? Qual público que queremos atingir? Qual a categoria em que iremos nos distinguir?” (Empresário)

Muito se fala de briga entre as esferas municipais, estaduais e federais. O

Rio de Janeiro tem apresentado um desempenho político nos últimos anos

absolutamente calcado pelos conflitos entre as três áreas. Mas, no turismo se diz

haver certa sinergia entre as Secretarias.

“O turismo é suprapartidário. Enquanto lá, os caras estão saindo na briga, governo municipal com estadual com o federal, os projetos aqui são conjuntos na grande maioria e cada um tem que fazer um esforço separado para os destinos dele, por que uma é Estado, tendo que promover também Búzios, Paraty, Petrópolis, etc além da cidade e a outra é a Cidade, propriamente dita. Mas isto também se opera porque todos somos amigos.” (Hera, Executivo)

“A unidade na gestão pública de turismo é a melhor possível. Todos temos um relacionamento inquestionável. Sabemos que, muitas vezes, os principais governantes estão em choque, mas no turismo sabemos separar isso. Fazemos o nosso trabalho sempre com o objetivo principal do destino Rio Janeiro. Participamos juntos das feiras, fazemos materiais juntos. Hoje, por meio do Conselho Estadual do Turismo, agregamos todas as entidades de classe e os órgãos públicos. Com isso, estivemos juntos na Alemanha, no Espaço de Promoção e Divulgação Pelé Station. Participamos de todas as feiras. Temos, obviamente, às vezes, momentos em que temos de estar em estandes separados, mas com a filosofia de promover em comum acordo. Quando tem alguma briga, tem alguma briga combinada. Obviamente sempre pode haver uma divergência ou outra, mas o relacionamento é o melhor possível. Agora mesmo estamos fazendo uma campanha juntos no Shopping Ibirapuera e no Minas Shopping. É uma campanha com material dividido, assinado junto. Na Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV), estivemos juntos. Então, o relacionamento é o melhor possível.” (Atena, Executivo)

A busca por recursos é o coração do problema. A máquina pública tem uma

forma centralizada de apropriação de recursos que desvincula o retorno da receita

para as áreas que mais contribuem para a geração de caixa.

“Quem não entrar e não entender que o turismo é suprapartidário deixar rixas políticas de partidos ficarem fora disso está quebrado. Porque nós conseguimos fazer algum movimento quando a gente se une, porque ele tem pouco dinheiro, você tem pouco dinheiro, o Convention Bureau tem pouco dinheiro, então agente junta, mais a verba descentralizada da EMBRATUR e agente consegue fazer algum barulhinho. A Alemanha foi um projeto de 6 milhões. Um mês na Alemanha junto com o Pelé. Nós entramos com RIOTUR, TURISRIO, Convention Bureau e EMBRATUR com 1 milhão e captamos o restante num esforço conjunto na iniciativa privada. Se o cara for nisso isolado se perde porque a concorrência é muito desleal. Nos Estados Unidos a Room Tax que é a contribuição voluntária de alguns hotéis, dando 1 dólar por noite ao Convention Bureau, totaliza 4 milhões de

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receita ano, de reais. Aqui no Rio, a maioria dos hotéis não são mantenedores, têm uns cem que não são, o cara não tem essa consciência. Nós promovemos o Corcovado. Quanto custa o trenzinho? Se repassar um dólar a mais o Pão de Açúcar para ajudar o Convention Bureau, nós vamos poder reinvestir na atração de turistas. Os shoppings por exemplo: se tirarmos 6 milhões de pessoas do Rio de Janeiro por ano, vai ver quanto vai vender teu lojista e teu shopping, cara. Então, você não pode ajudar com 1 real do estacionamento? E pega a rede da economia toda, já que o Governo acha que quem tem que investir é a iniciativa privada, então tem que ter essa mentalidade. Por quê? Só para os hoteleiros entenderem, o que significa um Room Tax de 1 dólar, 1 dólar, veja o Copacabana Palace, 500 dólares de diária, 1 dólar é zero alguma coisa. Lá nos Estados Unidos é carimbado, é imposto, tributo. Não existe Secretarias de Turismo o forte é Convention Bureau que é uma entidade privada, uma fundação privada. Nova Iorque acho que é 13%, Chicago é um absurdo é 17%. Esses 17% no final do mês são repassados para o Convention Bureau. Então Chicago tem 140 milhões de dólares por ano para promover seu destino. Las Vegas tem 270 milhões de dólares por ano. Então eu vou para a feira de Chicago que é uma de negócios, é uma feira pequena, uma feira de compradores e incentivos. Aí eu estou lá, com meu box de 15 metros quadrados e na minha frente a de Las Vegas. Las Vegas tem 2.000 metros de stand, 5 pianos de cauda, champanhe para todo mundo que bota o pé lá. Um sujeito imitando o Elvis Presley, outro imitando John Wayne. O cara passa na minha porta, olha minha banquetinha lá é vai tomar champanhe em Las Vegas. Duzentos e setenta milhões, só Las Vegas, Nova Iorque tem quase 600 milhões, não dá. Vai somar a quantidade de dinheiro promocional que tem nos Estados Unidos, passa de 1 bilhão de dólares, só que muito desse dinheiro, o americano, ele gasta no mercado interno. O que se voa no Thanks Giving Day no EUA, se voa num ano no Brasil. A Gol tem 97 aeronaves, se juntar todas essas daqui dá 180 aviões. Lá tem cerca de 1.100 da United, a American tem 1.000 aviões, a Delta tem 1.000 e cacetada. Entendeu? Eles entram no avião como entram num táxi.” (Hera, Executivo)

“O Convention Bureau recebe cerca de dois dólares, por pessoa/hospedagem no hotel, por dia. Porém, não é uma coisa obrigatória. Se fosse algo obrigatório esse dinheiro entraria no Tesouro e jamais sairia do Tesouro, isso é uma cultura brasileira. Se fosse entregar para a Secretaria de Turismo e dizer o seguinte: - O dinheiro recolhido está aqui, e daquilo que foi recolhido vão retornar dois milhões. Estão aqui os dois milhões para seus planos de marketing. Mas aqui prevalece uma cultura da pior espécie, o dinheiro tem dotação, tem destino e vai para outro escaninho.” (Hera, Executivo)

“Para você ter uma idéia, dentre os hotéis de Copacabana que estão lotados no Reveillon, tem os hotéis que não estão na praia, estão há uma quadra, duas quadras, se recusam a pagar uma contribuição para pagar os fogos, porque eles dizem que não tem nada a ver com isso. Mas ele está lotado por causa da festa que tem na praia. Então você não tem o espírito comunitário. A room tax que é essa taxa, se você for olhar toda a hotelaria do Rio de Janeiro, você tem um bando que não paga e daqueles que pagam tem gente que põe o dinheiro no bolso. Aliás, todos cobram, espera aí desculpe, eu acho que todos cobram, só que alguns entregam, outros não; e quem entrega não entrega a totalidade, guarda um pedaço para ele... Tem uns que atrasam, e aí depois que atrasam durante meses e meses, aí você chega, ele diz que as coisas estão difíceis. Porque todo mundo chora, todos os dias, toda hora, e aí ele diz: - Então eu te pago a metade. Aí o Convention Bureau que não tem poder de polícia, aceita.” (Hera, Executivo)

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“Para obtermos um crescimento representativo no segmento turístico, seria necessário seguir a recomendação da OMT: o destino turístico deverá aplicar em promoção e marketing o correspondente a 2% da receita gerada pela sua atividade turística no Estado. Lembramos que cada dólar investido representa US$ 6 de retorno para o Estado. O que é importante? É exatamente isso: muitas vezes, o destino, Estado ou Município, não observam esses dados pontuais da OMT. Se tivéssemos os 2% dessa receita da nossa atividade aplicada em marketing, com certeza absoluta estaríamos aqui, hoje, falando com outros números sobre o nosso destino.” (Atena, Executivo)

“A equipe de análise de risco do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) decidiu que o programa de Financiamento do Turismo, que existia até 2003 dentro do BNDES e garantia uma cota mínima de recursos para o setor, não seria renovado para 2004. Isso significou que pedidos de financiamento para empreendimentos turísticos teriam que concorrer pelos recursos do banco oficial com os de outros ramos da economia, de igual para igual. Um dos motivos alegados para a mudança foi o mau desempenho de segmentos como hotelaria e parques temáticos. Eles diziam que era preciso que tivessem acesso a balanços confiáveis e números razoáveis para que o banco se sentisse confiante para liberar o crédito. Somos de opinião que a decisão no que concerne a novos empreendimentos hoteleiros foi acertada. Porque haveria de se facilitar credito, com dinheiro público, para uma atividade, hoje, sabidamente em dificuldades devido a super oferta e baixa demanda? O risco, para o banco, é grande e ele deve estar sentindo na pele, daí a decisão. O vermelho no balanço da maioria dos hotéis do Brasil e do Rio de Janeiro é uma realidade fácil de constatar. Ora, o caso, acreditamos, apenas comprova o stress e incertezas que dominam o setor. A super oferta causada por financiamentos equivocadamente concedidos e por recursos captados de pequenos investidores, fizeram com que a taxa de ocupação e a diária média da hotelaria descessem a níveis economicamente desastrosos. A nosso ver, foi acertada a decisão do BNDES, no que diz respeito a financiar novos empreendimentos hoteleiros. Porém, necessário sim, é financiamento para melhorar a qualidade da infra-estrutura que favorece o turismo: segurança, qualidade dos equipamentos públicos (ruas, praças, jardins) serviços de transporte aéreo e terrestre intervenções sociais para tirar das ruas os menores abandonados que tão má impressão causam de nossa sociedade e seus governantes, guias turísticos e taxistas treinados, sinalização nas cidades e estradas, saneamento básico, limpeza urbana e eficiente coleta de lixo, e tudo mais. Da infra-estrutura hoteleira para atender o turista, não precisa se preocupar o poder público. A iniciativa privada se encarrega. Onde houver oportunidade de negócios rentáveis, fatalmente o mercado vai construir novos hotéis.” (Empresário)

A violência e a segurança é o tema mais recorrente na vida de qualquer

cidadão que transita pela Cidade do Rio de Janeiro. A violência que parece estar

fora de controle e cresce todo dia, prejudica qualquer iniciativa de promoção de

um destino e gera um quadro de incerteza para o setor.

“O Rio não era para ter mais um turista, do jeito que a mídia dá pancada. A violência é no Brasil inteiro, no Brasil inteiro, em Minas é recorde de “seqüestro relâmpago”. Porto Alegre, Curitiba a gente não sai 9, 10 horas da noite mais. Aqui é a vitrine. Da mídia nacional, nós temos aqui a TV Globo, que é o veículo que tem maior cacife no Brasil, derruba quem quer, faz o que quer. Aí você teve a

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ocorrência dos ingleses aqui, ano passado, quase ao mesmo tempo teve um grupo de alemães saídos de Sauipe para o aeroporto, tem assalto todo dia naquela estrada, todo dia. A nossa virou matéria nacional no Globo Repórter, Fantástico, Jornal Nacional... Todos os jornais do Brasil repercutem o que acontece aqui. E a de Salvador só eu sei, porque sou amigo dos caras lá, e me contaram. Nem no Bahia TV, aquele jornal das 7 não saiu. Na outra semana de Salvador, em Porto de Galinhas, Pernambuco assaltaram um grupo de espanhóis e um outro de franceses, ninguém ficou sabendo. Então eles entendem que ao bater no Rio de Janeiro, que é o centro cultural; nem sei mais se é, é o centro cultural do Brasil, vai chamar a atenção para a calamidade pública, que é a segurança no Brasil inteiro.” (Hera, Executivo)

“Aí você tem outra coisa ruim, aonde é que o correspondente estrangeiro quer morar? Se eu for para a Inglaterra, como correspondente, eu quero morar em Londres. Se eu for para os Estados Unidos, eu gostaria de morar em Nova Iorque. Então o correspondente internacional quer morar aonde? No Rio. Hoje a coisa mais fácil é a obtenção de informações, é na velocidade da Internet, então; o cara acorda, dá uma caminhada na praia, entra na Internet, puxa todos os sites do Brasil, os jornais; aí ele manda as matérias para lá e volta para a praia. Porque ele não vai morar em São Paulo? Porque ele não vai morar em Brasília? Quer morar aqui, então o cara está aqui é daqui que sai toda a “porrada”. Se ele está em São Paulo vai bater o pau em São Paulo para o mundo inteiro. Mas, o cara não vai a São Paulo porque quer. Morar no Rio é bom. Mas eu digo a eles: - Vocês matam o Rio. Nós temos a Globo aqui, dando pancada, e tem coisa que você não tem como esconder - 6 milhões de turistas - vai fechar esse ano; assassinado: um. Um assassinato, fatalidade. Então 6 milhões estão com medo de morrer aqui. A gente comentou esse ano um caso internacional e um nacional que foi aquele paulista que subiu o Corcovado com a família e levou três tiros na frente da família. O Rio, quase dois milhões de turistas internacionais, liderando os oriundos dos Estados Unidos e Argentina e seguido da Europa onde a Alemanha é o primeiro mercado. Aí você recebe 4 milhões de 200 mil turistas nacionais, sendo que disso ai 50% são paulistas. Dois milhões, e um cara morreu. É um desastre. E só reclama de assalto quem é assaltado.” (Hera, Executivo)

“A máxima do turismo é que todo mundo começa palestra: - A cidade é boa para o turista quando é boa para quem vive. Eu acho que o Rio de Janeiro não é uma boa para quem vive. Sou apaixonado, não saio daqui. É duro você chegar ao aeroporto, meia noite, sem saber se vai pela Linha Vermelha ou pela Avenida Brasil. Morrer afogado ou queimado, essa é a decisão que você tem que tomar. O seu direito de ir e vir você não exerce... Tem que pensar em carro blindado tem que blindar tua casa. Não pode usar um relógio. Você está sujeito a qualquer momento, até no Leblon você toma um tiro na cara. Então está de fato complicado. Aí você chega ao aeroporto está lá um cartaz: Cuidado turista, não pegue táxi que não seja credenciado. Cuidado com objetos, não sei o que.... deixe no Hote”. O cara do concierge falando: - Por favor, se for à praia leve só o dinheiro contado, não leve relógio. Chega ao quarto está lá pregado no espelho do hotel: Cuidado com isso, com aquilo... O cara fica até com medo de sair. Ah, mas se você não avisa ainda é pior... Mas assim o cara fica com medo de sair. Mas lá fora, no exterior isso também acontece. Em Miami estavam assaltando carros alugados. Mas na verdade o que o turista reclama é da sujeira. Não reclamam da violência, não. Só reclama quem é assaltado. Se você vem pra cá, cordão pra tudo que é lado, for irresponsável subiu Santa Tereza de noite, foi não sei aonde, e deu bobeira... Tem lugares que não pode ficar dando bobeira. Rodou o Rio de Janeiro, Copacabana, foi à praia, foi no baile e não aconteceu nada, vai reclamar do que?

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A sujeira não também não é a sujeira de rua. É a sujeira visual da mendicância. Isso agride o turista. Ah, isso agride o turista. Na Avenida Atlântica o cara senta e é um gole e dois não, um gole e dois não: - Quer engraxar o sapato? Não. Eu não sei como é que o cara agüenta sentar lá. É disso que eles reclamam, a mendicância. Fizeram um senso, saiu agora, nós temos 1636 moradores de rua no Rio de Janeiro. Parece muito, mas eles estão concentrados. É Presidente Vargas, em Copacabana, maioria em Copacabana. Estão concentrados. Vai lá em Madureira, vê se você encontra um cara dormindo na rua. Vai na Penha, vai em Nova Iguaçu. Não vê. Quatro mil desabrigados, dois mil estão abrigados pela prefeitura. Agora têm 1636 que a gente sabe o nome, quantos filhos têm, onde moram. Oitenta por cento têm casa. Mas a casa é em Seropédica, o barraco é em Seropédica. Eles têm casa, mas eles dormem aqui, porque aqui é o emprego. Você não recolhe, o ser humano porque ele não é lixo, você os acolhe para uma Kombi. Tenta convencer aquela família a entrar na Kombi, não vai. Você não pode levar na marra porque o Poder Público, meu amigo vem em cima de você. Teve uma ação criminal, a ABIH já tentou fazer assim, obrigou. Não pode, o cara tem o direito de ir e vir, ele quer e você não pode proibir ele de dormir ali. Tem um conflito de direitos nesta história.” (Hera, Executivo)

“Todas as estatísticas, todas as pesquisas que são feitas aqui no Rio de Janeiro nos dizem que segurança não é o item mais importante para os turistas, está em 4º ou 5º lugar. O turista chega aqui e é super- amparado pela agência de viagem. Ele pode passear por aqui, tudo, tem uns probleminhas esporádicos que acontecem. Hoje você tem um agravamento, devido ao problema social terrível que nós temos e os caras estão ficando cada vez mais ousados; então você tem os fatos dos ônibus que estão sendo assaltados, etc. Mas a maioria dos turistas passeiam.” (Hera, Executivo)

“O que não é feito é o levantamento, que deveria ser feito se o Brasil tivesse vergonha na cara e fizer pesquisa séria nos nossos principais mercados, nos Estados Unidos em alguns países europeus. Quero dizer o seguinte: tanto para o público quanto para os operadores, o seguinte: você é um operador que vende long-hall, viagem para longe. Pergunta para ele porque que ele não vem no Brasil? Qual é o problema? Porque muita gente não quer se ariscar a mandar gente para o Rio de Janeiro e não mandam para o Brasil por causa do Rio de Janeiro, porque a maioria quer o Rio, mas o cara tem medo. Então você vai descobrir que nós perdemos muitos turistas. Nós poderíamos ter muito mais turistas. E não adianta o Governo Federal dizer: então vamos deixar o Rio de Janeiro de lado. A imagem do Rio dos anos 40, 50, 60 daquele negócio do Frank Sinatra, todos os filmes que foram feitos; toda essa imagem, etc. e tal é uma coisa que você não vai apagar tão cedo. Então as pessoas dizem: quando a situação melhorar eu vou. Então você perde muito. Claro que com esse problema social, e com esses assaltos; está ficando cada vez mais insustentável, cada vez pior e está cada vez mais difícil você vender. Quer dizer: para um congresso o diretor executivo que tem que recomendar pro board se deve mandar 5 mil participantes para cá, aí o cara diz: – Eu não vou ariscar que um dos meus membros seja esfaqueado. Então se tem congresso você perde, por causa disso. Você tem uma perda muito grande.” (Hera, Executivo)

“Caramba, onde está a polícia turística do Estado do Rio de Janeiro? No domingo percorri a orla de cabo a rabo e não vi dois PMs; vi um para não dizer que não vi nenhum. Podia acontecer ali qualquer coisa. Era um dia ensolarado, um dia maravilhoso, e não havia. Cadê o Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas?

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Não tinha BPTur. Essa é uma questão que tem de ser esclarecida definitivamente. Eu me lembro quando foi criado um grupo na Riotur que tinha a responsabilidade de auxiliar o turista. Esse grupo começava às 6h30 e abandonava o serviço às 21 horas. Estavam ali para proteger o turista do pequeno assalto na praia, desse assalto que acaba em morte por facada, por tiro. Essas pessoas, como cidadãos comuns, tinham o direito de prender em flagrante. Então, quando pegavam, prendiam, levavam para a Delegacia, que é a autoridade policial. Então, não adianta dizer que o efetivo é pequeno. Alguém tem de tomar uma providência; e criar um corpo de assistência ao turista, que andarão devidamente uniformizados, discretamente, na praia, com uniforme de praia, mas que não fique a lacuna, que está trazendo prejuízo.Não é que nunca tenha havido insegurança antes, sempre houve. Mas com o turista eu nunca vi tanta ocorrência em tão pouco tempo como agora no Rio de Janeiro.” (Empresário)

“Nós fizemos um fórum agora em outubro na Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (FECOMERCIO/RJ), por meio do Conselho de Segurança e do Conselho Estadual, em que reunimos o Comandante Hudson, o chefe de Polícia e os Comandantes das áreas da Zona Sul. O Comandante depois apresentou o atual cenário. Nós sempre defendemos o Governo, dizendo: - Esse é um fato isolado. Mas a rigor o que acontece? A mídia veicula para o mundo todo; e as explicações podem ser que o efetivo é pequeno; as câmaras estavam desligadas naquele momento; lá estava o policiamento bem próximo. Obviamente, se eu quiser fazer uma defesa, aqui, posso fazer, e até com alguma consistência. Mas a rigor temos de fazer uma revisão disso tudo. É o menor abandonado, é o menino da rua, é o pequeno assaltante. A Prefeitura também tem de tomar a iniciativa de recolher e trabalhar junto com a Polícia Militar. Os maiores assaltos aos turistas são feitos por menores de idade. Agora mesmo no jornal vimos que o policial prendeu duas vezes a mesma pessoa no mesmo dia. Quer dizer, a polícia prendeu, levou, o menor voltou, quatro horas depois. Realmente, temos de ter esse cinturão de segurança para o turismo. É uma ação para que mostre, com eficiência, que se está tratando a questão com prioridade. Há quadrilhas formadas no Aeroporto Internacional. Ao turista individual até você consegue dar mais algumas explicações também. Mas por exemplo, essa quantidade de ônibus, de grupos, então o cara fica ali, está rastreando, está vendo. Chegou um grupo de estrangeiros, há um ônibus, as malas bonitas na esteira, e aí já tem alguém falando com alguém na Linha Vermelha: - O ônibus é assim. E o pessoal assalta. Participei e fui à delegacia com alguns grupos que tiveram esse tipo de ocorrência. É um problema. Obviamente tem aquele tradicional discurso nosso dizendo que violência não é só no Rio de Janeiro, que acontece em todas as cidades. Mas, e daí ? O problema continua.” (Atena, Executivo)

“Os problemas que ocorrem nos pontos de acumulação turística no Rio de Janeiro, não são resolvidos. O turista tem que saber que se ele fizer o trajeto do roteiro básico ele não vai ter problema. E não me venha dizer que é difícil garantir a segurança nestes pontos. É falta de vontade e competência das nossas autoridades públicas. De vontade política. Quando eles vem negar o problema e são rechaçados pelos fatos, eles se colocam no papel de vítimas como todos nós. Dizem que o problema é maior do que a simples ação pontual. O que eles não tem é a competência de se articular dentro das suas próprias estruturas de governo e atacar o problema seriamente. Outras esferas publicas pelo mundo afora, atacaram o problema e obtiveram sucesso. Aqui não, existe esta pasmaceira toda que acarreta, é claro, na redução de visitantes” (Empresário)

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“O cidadão, hoje, está enclausurado, enjaulado, e o criminoso está na rua, quase numa ação livre. A mídia sabe como eles atuam, fotografam a ação. Os assaltos são mostrados na televisão. Ora, se a mídia sabe, ou ela mandou que o crime fosse praticado para ser mostrado no vídeo ou, então, há uma conivência total, porque não é possível que eu possa indicar que na Avenida tal, na esquina tal, um determinado grupo age há meses assaltando e ninguém toma uma providência. Então, existe um conluio que serve a alguns interesses nesse caso. Recordo-me de um dia em que um policial prendeu um batedor de carteira na Central do Brasil e surgiu o policiamento. Ele simplesmente combinou com os policiais e estes perguntaram aos que assistiram: - Quem aqui quer ser testemunha do fato? Ninguém queria; não tinham tempo; os trabalhadores estavam voltando para as suas casas: - Então, vamos levá-lo para o distrito. E aí saíram. Mais adiante, disseram ao ladrão: - Cadê o produto do roubo? Dê a nossa parte e continue trabalhando... Isso acontece. Sei disso porque também era repórter na época e reportei o fato” (Empresário)

“... Então vem às autoridades dizer que a imprensa do Rio de Janeiro é sórdida, a imprensa do Rio é contra a cidade. É cultural, realmente a imprensa em São Paulo.é diferente. Acontece um negócio em São Paulo eles não colocam nada. Mas botar que aconteceu alguma coisa no Rio é certo. A imprensa do Rio não perdoa. Eu como cidadão, eu sou favorável que a imprensa venha a denunciar tudo, porque é democracia, a gente precisa saber o que acontece. Se não tivesse a imprensa agente mal saberia metade da missa. A imprensa potencializa as coisas que acontecem aqui e minimiza as coisas que acontecem fora daqui no resto do Brasil. Mas o que se vai fazer. Sabe qual é a resposta? O trabalho, atuação, realizações. Que... olha, se ponha no lugar, no meu lugar que era encarregado do turismo. Eu vou consertar a imprensa? Eu só posso dar uma resposta à imprensa, atender quando eles querem. Tem que dar todas as entrevistas que eles querem, mas paralelamente mostrando trabalho.” (Hera, Executivo)

O turismo marítimo com a entrada dos grandes navios que chegam ao porto

da cidade do Rio de Janeiro na nossa alta temporada turística tem sofrido aumento

exponencial nestes últimos 3 anos. O ingresso de novas empresas e novas

modalidades em determinada indústria pode causar alguns efeitos bastante

importantes. Este aporte de uma nova modalidade na indústria depende

basicamente do nível das barreiras para entrada ali vigentes, somadas com a

reação dos integrantes já existentes nesta indústria.

“Essa onda de transatlânticos para o turismo do Rio é boa. Quase todos param aqui. Tem muito passageiro vindo do Chile, da América do Sul toda para pegar os cruzeiros daqui. É uma forma dele viajar para cá, onde ele está mais reticente com a segurança, é uma forma de ele viajar “embalado”. Vai parar em Salvador, tranqüilo. Vai descer só onde está o navio, vai e volta, conhece Salvador, conhece Búzios, conhece o Rio. Ele pode chegar uma noite antes para pegar o navio e dormir aqui. Ele deixa dinheiro aqui na cidade, ele deixa dinheiro; ele compra excursão do navio; ele desce; ele compra; ele vai para a praia; ele come; ele almoça no Porcão. A hotelaria não reclama, quem reclama são os resorts. Cento e quarenta e oito mil passageiros param aqui e ficam pelo menos um dia inteiro gastando aqui. E outros ficam uma noite na chegada e outra na saída. Esse ano

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acho que vai dar cento e cinqüenta e seis mil passageiros. O preço do navio fica muito competitivo porque quando eles vem para cá é alta temporada e os resorts salgam os preços e querem que o mercado absorva. O navio pára aqui no padrão internacional. Se o resort coloca o problema dos impostos, dos empregados e não sei o quê, mas também não estão pagando mais encargos sociais para o cara que trabalhou no Révellon e está cobrando esse mais. E o navios jogam pesado junto com as operadoras e agências em propaganda. É uma viagem santa, você não pega táxi, não reserva restaurante, não pega um motorista maluco, você não tem nenhum tipo de stress. Você faz tudo ou não faz nada e com aquele balançar do navio, à noite vai atingir um profundo alfa quando dorme. Os navios são do porte de um Costa Fortuna, quatro mil e poucos passageiros, dois mil e pouco do Harmonia, mais dois navios grandes esse ano de cerca da 46 mil toneladas, a CVC está com 6 navios. E dizem que não tem passageiros para isso tudo. Mas tem lista de espera para as eventuais desistências. E eles também estão começando a usar mão de obra brasileira, compram aqui os alimentos e materiais e é claro o combustível.” (Hera, Executivo

“A hotelaria reclama que eles se juntam para pagar os fogos. A hotelaria junta arrecada 600, 800 mil para ajudar a pagar os fogos. E aí o navio vem aqui, vende o Réveillon no Rio mais caro, porque vai parar em Copacabana. Estão lá, oito navios, todo mundo vendo os fogos, e não pagam um centavo.” (Hera, Executivo)

“Não consigo concluir que os cruzeiros não atrapalhavam. Eles realmente atrapalham e muito. Não só no que toca à cidade do Rio de Janeiro, mas no que tange à Búzios, por exemplo, a reclamação dos hoteleiros é muito grande. E mais: posso garantir que os cruzeiros, da forma desordenada como estão entrando no Brasil, poderão causar danos seríssimos ao pequeno e médio hoteleiro. Não estou nem falando dos resorts; estou falando do pequeno e médio hoteleiro do país inteiro. E esse é um assunto muito sério. Defendo o seguinte: temos a cultura no nosso país de que somos extremamente ávidos no lucro e, conseqüentemente, nossas perdas não conseguem ser de outra forma, a não ser traumáticas. Podem ver que quando o empresário brasileiro quebra, isso se transforma num trauma; não é uma quebra natural. Existe quebra natural? Existe. Você sai do negócio. Aqui, somos enterrados com o negócio, e de uma forma extremamente traumática. É aquele trauma que penaliza os companheiros. Haja vista todas as grandes empresas que conhecemos e médias e pequenas que saíram, repentinamente, do mercado. Isso faz parte da nossa cultura. E se não tomarmos cuidado, a questão dos cruzeiros pode ir pelo mesmo viés, pois a avidez do lucro e da oportunidade do negócio faz com que de repente tudo seja mal interpretado. Ontem, participei de um jantar, em São Paulo, em que o senhor Henri Macksoud fez um brilhante discurso. Ele disse que, efetivamente, temos de tomar muito cuidado. Era um jantar em homenagem à TAM. Ele até brincou, olhando para o Marco Antonio Bolonha, e disse: - Parabenizo-o pelos 30 anos da TAM; mas muito cuidado, porque em cada esquina encontro um sujeito dizendo que o negócio é maravilhoso; que vai abrir uma companhia aérea. Então, muito cuidado, pois vocês podem ir pelo mesmo buraco que os hotéis foram há alguns anos. Isso tem uma relação direta com a questão dos cruzeiros. Temos de ter muita atenção com o Estado do Rio de Janeiro mesmo.” (Empresário)

“O principal empresário de turismo de Angra dos Reis me procurou e disse: - Você tem de fazer alguma coisa em relação a estes cruzeiros. Eu disse: - Não posso fazer coisa alguma. Isso aí é um produto, muito pelo contrário, é um produto que está com preço atrativo; e está com financiamento. No mundo inteiro há

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cruzeiros marítimos, transatlânticos; isso não é novidade. Há uma receita considerável para a Cidade do Rio de Janeiro. É coisa inevitável. Temos de ver uma forma de trabalho para que o empresário dos resorts não perca e para que, obviamente, continuemos a receber os transatlânticos.” (Atena, Executivo)

“Meu caro, o retorno do investimento no turismo no ramo da hotelaria gira em torno de 15 anos. Eu realmente gostaria de amortizar o meu investimento em outros territórios livres ou gerar receita em outras paragens. Eu não quero negar a existência desta modalidade, o que eu quero é balancear o impacto em cima de um parque instalado que tem contribuído para o desenvolvimento, é intensivo em mão de obra, é um grande contribuinte e está totalmente adequado as especificidades legais e ambientais. E não me venha dizer que é rejeição ao novo, porque cruzeiro marítimo não tem nada de novo”. (Empresário) “Nós, da hotelaria, não queremos combater os cruzeiros. Muito pelo contrário. Temos de ter os cruzeiros. Mas, quando se diz que a indústria dos cruzeiros marítimos é importantíssima e ela é fortíssima no mundo, isto ocorre em sociedades equilibradas. Ter cruzeiro na Dinamarca, na Noruega, na Holanda, na França, naquela sociedade que é totalmente equilibrada, onde a lei de oferta e procura é respeitada, naturalmente é uma coisa. Outra coisa é pegar a ociosidade desses cruzeiros e trazê-los para cá. Costumo dizer que o navio é o sonho de todo hoteleiro. Quero poder colocar uma pá embaixo do meu hotel e trazer no final de semana para Buzios e depois levar de volta na segunda-feira para Salvador. Com navio você pode fazer isso. Pode levá-lo a todo lugar. Assim como está é uma concorrência desleal. Eu vi o nível das pessoas que estão nos cruzeiros marítimos. Fui experimentar para ver. São pessoas de classe média para baixo; não é para cima; ou classe média/média. A média/média para baixo é o sonho da primeira viagem. É dividido em 10 ou 20 vezes; compete com os resorts efetivamente, mas, minha preocupação é que está competindo é com o pequeno, com as boas pousadas. Está competindo com o pequeno empresário; já não é só com o grande empresário, e ainda tem o cassino e a compra. Tem dutty-free. Existe aqui uma figura legal da internalização, isto é: não tem cotas, porque dizem que os produtos são internalizados e já estão pagando imposto. Então estão fazendo milagre, porque conseguiram vender perfume, uísque, etc. por um preço baratíssimo. E ainda por cima tem jogo. Então, acho que temos de tomar muito cuidado com isso. Não vamos nos impressionar por ser uma indústria poderosa. Estamos falando de uma indústria poderosíssima; e eles têm o maior interesse. Eles resolveram o problema deles: se está ocioso lá mandam para cá. Pagou, fez o cheque, entregou, é uma maravilha para eles. E para nós, como ficamos? O navio deles volta e nós continuamos aqui. Temos de pagar todos os impostos. Não é que eles não paguem; eles pagam; não vamos desvirtuar a coisa. Eles pagam impostos e todas as taxas, tudo certinho, mas têm um produto extremamente vantajoso e irregular. Você não pode imaginar que num país como o Brasil entrem, num ano, por exemplo, cinco navios; de repente, no outro, já entram 15, e depois 35. Esse é um crescimento desproporcional. O que permite isso? A falta de regulamentação. É necessário que possamos equilibrar a entrada de qualquer tipo de empreendimento. Não podemos deixar entrar tudo, não, senão quebram as empresas daqui. É preciso que seja uma coisa paulatina. Defendo que temos de proteger os nossos empreendimentos, os nossos investimentos. Se quisermos fazer um Brasil grande, temos de ser protecionistas, porque os americanos crescem; eles deixam tudo acontecer no país deles, desde que não pisem no calo deles; pisou no calo deles, acabou. Só entra o que eles querem. E por que o Brasil não é assim? Só deve entrar o que queremos também. Senão, eles que venham para cá, se naturalizem e abram seus empreendimentos aqui.” (Empresário)

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“As vezes eu me surpreendo um pouco em relação à questão da regulamentação, porque até há algum tempo quem falasse em regulamentação era um atrasado, um reacionário, um estatizante, etc. O Poder Público, na nossa área, tem um papel fundamental. O turismo é uma atividade essencialmente privada. O Governo não tem de se meter em hotelaria. Mas o Governo tem de se meter na regulamentação do setor, porque nenhum setor é mais atraente para os que buscam a rapinagem. Ninguém vem aqui para nos dar nada; eles vêm aqui porque aqui paga-se pouco salário, cobra-se muito caro por tudo; basta ver as tarifas telefônicas e elétricas. Vai ver se cobram essas tarifas onde essas empresas têm a sede. Vai ver se pagam lá na sede o que pagam aqui aos nossos empregados. É por isso que o Estado tem de estar presente, regulamentando, claro, a atividade.” (Empresário)

“Esse assunto da hospedagem flutuante e hospedagem fixa é sério. Esse tipo de turismo, o turismo marítimo, que é o mais antigo que conhecemos, causa prejuízos às categorias. A origem do turismo está exatamente nas viagens marítimas. A grande importância de discutir esse assunto é para publicar conclusões. O problema é que discutimos tudo, mas não tiramos nunca conclusões do que discutimos e deixamos para as comissões do Congresso Nacional discutirem. Eles recebem a visita de lobistas que representam interesses econômicos muito sérios; e ninguém tem mais verba para gastar com promoção turística do que as empresas marítimas. Então, eles sempre suplantarão qualquer processo que se crie. Mas temos de discutir, sim, porque há alternativas. Este assunto tem que vir para a discussão e discutirmos quais as alternativas de proteção aos meios de hospedagem terrestres em relação aos cruzeiros, porque não devemos jamais pensar que os navios não possam aportar no litoral brasileiro. Isso é da maior importância; e foi um fracasso ver governos brasileiros acabando com a nossa cabotagem, porque, hoje, não temos estradas de ferro, não temos cabotagem, e já estamos aí em perigo muito sério para a nossa aviação.” (Empresário)

Em qualquer lugar do mundo com pretensões de receber visitantes, a

sinalização é um atributo muito importante. Na cidade do Rio de Janeiro as placas

para orientação para os diversos pontos turísticos ou não existem ou foram

depredadas.

“A sinalização é um desafio. Um desafio que nós estamos vencendo. Já começamos, isso é uma parceria da Secretaria de Turismo com a CET-Rio (Companhia de Engenharia de Trafego do Rio de Janeiro) e com a Secretaria de Transporte, vamos começar uma nova sinalização, quer dizer, com os ícones que são padrões internacionais. Você não pode fazer uma sinalização turística em vários idiomas, mas você pode colocar ícones. Já vamos começar isso e temos um convênio com o Ministério do Turismo e o Ministro já se comprometeu a participar disso e nós vamos fazer uma nova sinalização turística em toda a cidade. Isso é uma coisa muito importante que nós estamos nos preocupando. E vamos preparar a cidade para os Jogos Pan-americanos.” (Hera, Executivo)

“A sinalização da cidade é um problema sério. Ela tem que ser indicativa e explicativa. Não adianta preparar uma nova formatação para o turista internacional se hoje nem o turista brasileiro nem o cidadão comum conseguem se localizar bem. E tem a pichação e a depredação. Mas as autoridades não se tocam

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com isto, assim como não reduzem os problemas de saneamento e não tratam do crescimento desordenado da cidade rumo à zona oeste, com o conseqüente abandono da zona norte e subúrbios. Uma cidade tem que ser tratada como um organismo vivo cujos inter-relacionamentos são responsáveis pela vida da estrutura como um todo. O turismo representa a resposta no nível de aceitação deste bom funcionamento.” (Empresário)

A cordialidade do carioca é indiscutível e rivaliza até com a beleza da

cidade. É um ponto positivo para a atração de turistas.

“Bem, a cordialidade do carioca, esse é o grande ponto, a grande atração pelos depoimentos dos próprios turistas que aqui chegam. O quê que o turista mais fala do Rio de Janeiro? Uma das coisas é isso aí. O Rio de Janeiro foi eleito a cidade mais cordial do mundo. E isto foi numa eleição mundial.” (Pesquisa da California State University recentemente publicada pela prestigiosa revista American Scientist)” (Hera, Executivo)

A qualificação da mão de obra é mandatória para o atingimento das

exigências dos níveis internacionais de qualidade no turismo.

“O Ministério do Turismo tem a intenção de destinar dinheiro para poder investir no treinamento de pessoal. É importante qualificar os setores que vão estar em contato com esse público. Isso é uma parceria entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura do Rio de Janeiro. O Ministério entrando com a maior parte dos recursos e a Prefeitura também participando desse esforço de qualificação de mão de obra. Eu já te falei que a cidade do Rio de Janeiro é cidade mais cordial do mundo. Se nós pudermos treinar as pessoas que trabalham ligadas ao turismo, mais e mais, quer dizer, evidentemente que nós temos muita gente especializada já nisso. Mas se nós pudermos dar noções de espanhol, noções de Inglês, isso vai fazer parte dos cursos que nós vamos ministrar. Noções de espanhol e de inglês, noções da história da cidade, dos pontos turísticos, conhecimento dos pontos turísticos. No primeiro treinamento já treinamos 500 taxistas numa primeira leva. Numa coisa que chama-se “Rio Hospitaleiro”, esse é o nome do projeto maior e que inclui você levar o conhecimento da cidade aos garotos. Levamos 33 mil jovens para conhecer os pontos turísticos do Rio de Janeiro nesses últimos dois ou três anos, é uma coisa muito interessante.” (Hera, Executivo)

O turismo náutico é uma modalidade muito difundida em diversos paises.

Inexplicavelmente a cidade do Rio de Janeiro não explora esta atividade de

maneira consoante com o seu potencial.

“É verdade, nós já fizemos até uma parceria com Niterói, um convênio com Niterói para a gente explorar mais essa parte do turismo náutico. Acho que a Baía de Guanabara, que é belíssima, nunca foi explorada em termos turísticos como deve ser explorada. Essa coisa começou, esse convênio já acontece, quer dizer, as pessoas já podem... Já existem empresas que fazem esse tipo de passeio, que podem visitar alguns pontos de Niterói outros do Rio de Janeiro. Já tem alguns

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novos sistemas de barcos que fazem esse tipo de turismo náutico. Tem que ir à Ilha Fiscal, na Fortaleza de Santa Cruz.” (Hera, Executivo)

Os Jogos Pan-americanos se revestem numa oportunidade singular do Rio

de Janeiro ganhar destaque como um centro polarizador de esportes no continente.

O Rio tem o desafio de se preparar, organizar e conduzir o evento de maneira a

marcar sua capacidade na organização de grandes eventos. Existe uma sinergia

bastante intensa entre o esporte e o turismo, assim como os ganhos da cidade no

que toca a preparação para o evento pode se tornar um legado para a cidade e para

a indústria do turismo.

“Creio que o Rio de Janeiro vai dar um salto de qualidade depois dos jogos Pan-americanos. Eu não tenho dúvida disso. Os jogos não são um evento em si, é um movimento da cidade, movimento da população, da iniciativa privada, dos governos, isso é uma coisa importante. Não é um evento do Rio de Janeiro, mas, evidentemente o Rio de Janeiro vai se beneficiar muito. É um evento do país e isso é da maior importância, as pessoas têm que ter consciência disso. Tanto o Governo Federal quando diz, eventualmente, que vai ajudar os jogos Pan-americanos. Ele não vai ajudar, ele participa, ele tem que participar, enfim, esse evento é do país inteiro, é do Estado, do Município, mais do que tudo, mas também é do país e principalmente do país que está sendo divulgado no mundo inteiro. É um evento esportivo muito importante e não tenho dúvida que vai qualificar o Rio de Janeiro como a grande cidade em termos de esporte do mundo, da América Latina.” (Hera, Executivo)

“Medo à gente sempre tem. Porque sempre falta recurso, mas eu espero que todos façam um esforço muito grande, que todos tenham responsabilidade de realmente fazer os jogos Pan-americanos, eu digo em termos do Governo Federal, que eu mencionei ainda há pouco. É uma obrigação de o Governo Federal participar, não é favor participar dos jogos Pan-americanos. Eu não tenho dúvidas que eles têm essa consciência e vão participar. Estão havendo alguns impasses, isso é lamentável que ocorra. Porque isso não devia ser um favor de um empréstimo, devia ser um investimento do Governo Federal objetivamente, quer dizer não é cuidar da segurança dos jogos Pan-americanos é que vai resolver o problema dos jogos no Rio de Janeiro. É investir e resolver o problema objetivamente, quer dizer precisa investir resolver não só no problema de segurança. O mesmo espírito que a gente tem na área de turismo, que é um espírito de cooperação, de participação, que acontece permanentemente, isso é muito interessante, a bandeira do turismo está acima de qualquer disputa partidária e política “ (Hera, Executivo)

O turismo sexual tem sido uma chaga que atinge aos chamados paraísos

tropicais. Durante algum tempo, a própria propaganda oficial incentivava a se

conectar um assunto com o outro.

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“Evitar a propaganda erótica do Rio que proibiu os cartões postais e propaganda ressaltando estes aspectos é muito importante. A preocupação com o turismo sexual é crescente e é uma preocupação muito legítima. Temos nos preocupado com isto principalmente no Carnaval. Nós trabalhamos isso permanentemente, conscientizando e distribuindo material, junto com os hotéis que tem absoluta consciência desse problema. O trade, de uma forma geral, todas as pessoas que trabalham no segmento turístico, todas as associações têm muita consciência disso. Quer dizer, se trabalha muito isso, se trabalha muito isso, permanentemente. Eu acho que não é um grande problema do Rio de Janeiro, mas temos que estar atentos sempre.” (Hera, Executivo)

“O turismo sexual degrada um destino. O problema moral fica para a sociedade e para o governo. Esta modalidade afugenta o turista que traz divisas e se constitui num atrativo ao consumo de substâncias proibidas.” (Empresário)

As nossas mazelas podem se tornar pontos de atração turísticos. Isto se

reflete na demanda causada pela curiosidade de se conhecer as favelas, que são

conglomerados urbanos com características próprias. E logo o setor turístico se

aparelhou para suprir esta demanda.

“De uns anos para cá as favelas, as comunidades carentes viraram pontos turístico aqui no Rio de Janeiro. A favela é uma realidade e algumas empresas resolveram fazer esse turismo e há procura, as pessoas vão, visitam, gostam, comentam. Isso é uma atividade privada, não é uma coisa da Secretaria. Não é incentivado pela Secretaria, isso é feito por, enfim, por empresas privadas e há procura, há vontade de conhecer e evidentemente não se pode esconder uma realidade. Se isto é bom ou ruim eu não sei. A avaliação que se faz é a seguinte: 97% dos turistas que visitam o Rio de Janeiro pretendem voltar, isso é uma grande avaliação e dentro desses 97% estão aqueles que visitaram as favelas.” (Hera, Executivo)

O Carnaval é emblemático para o Rio de Janeiro. Sempre se falou que os

quatro dias de Carnaval era pouco para expressar toda a cultura que está por trás

deste evento. Agora, com a criação do espaço da Cidade do Samba no Porto é

possível se observar toda a preparação das escolas para o Carnaval.

“A Cidade do Samba, é uma coisa interessantíssima. A Cidade do Samba é você ter o Carnaval o ano inteiro, ter um local que você vai visitar e que você vai ter o Carnaval o ano inteiro, se vai ter samba o ano inteiro. Você pode visitar numa passarela suspensa todas as escolas de samba, como é que elas trabalham, como é que elas fazem suas fantasias, como é que fazem suas alegorias, como é que o pessoal está fazendo, enfim, como é que está sendo trabalhado o desenvolvimento das escolas de samba. E vão acontecendo eventos o tempo todo no meio da Cidade do Samba, que é um projeto muito interessante, muito bonito, eu não tenho dúvidas vai ser um grande pólo de atração turística, e que também começa a arejar aquela área ali do porto. Tem esses desfiles técnicos que estão virando uma atração

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espetacular nos domingos no Rio de Janeiro. É de graça, enchem as arquibancadas, são 50 mil pessoas que têm ido nos domingos e ainda tem pagodão com nomes muito importantes, gente famosa do samba cantando lá e a expectativa é que dessas 50 mil, 12 mil pessoas ficam para o pagodão no Terreirão do Samba.” (Hera, Executivo)

“Veja que coisa mais fantástica o ressurgimento do carnaval de rua no Rio de Janeiro. São movimentos espontâneos da comunidade que a Prefeitura está incentivando e nos remetem a uma adequação do carnaval antigo. Isto sem falar no ressurgimento da Lapa como reduto da noite carioca, valorizando as raízes da nossa cidade, mas com nova roupagem. Tudo isto atrai o turista e ajuda a moldar o mosaico desta cidade multifacetada”. (Empresário)

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6 Conclusões e Sugestões para Estudos Futuros

Esta pesquisa teve como objetivo analisar os fatores que impactam na

formulação e execução das estratégias de marketing praticadas pelas agências

públicas de desenvolvimento – do Estado e da Prefeitura que favorecem os

resultados pouco significativos do turismo na Cidade do Rio de Janeiro.

A pesquisa identificou o cenário brasileiro no turismo como sendo

constituído de particularidades bastante próprias e que, sem dúvida, são muito

melhor entendidas pelo brasileiro do que um cidadão estrangeiro que teria

dificuldade para compreender como certas coisas funcionam no nosso país. Um

olhar sobre as nossas belezas naturais, diversidades, florestas e capacidade

industrial poderia levar um observador menos focado nas nossas realidades a

supor que o turismo seria uma grande locomotiva para a cidade do Rio de Janeiro.

Os destinos turísticos mais atrativos da cidade do Rio de Janeiro são

categorizados nos depoimentos, pela soma de diferentes produtos turísticos,

compostos pela geografia, vizinhança, história, hospitalidade da população, infra-

estrutura e acessos, opções, entretenimento, peculiaridades, comodidade e

segurança. Isso vale tanto para o turismo de entretenimento como para o turismo

de negócios. É intenso o relacionamento da cadeia entre companhias aéreas,

hotéis, agências e operadoras de viagem, comércio, transportes e alimentação. Por

sua vez, a cidade do Rio de Janeiro foi beneficiada por um maior movimento no

setor desde a crise internacional de 2001 (11 de setembro), quando a

movimentação de turistas permaneceu focada dentro do país, incentivando o

turismo nacional. Isto foi muito bom por um lado porque fez com que o giro de

dinheiro ocorresse justamente dentro de casa, além de criar múltiplos postos de

trabalhos e novos negócios. Por outro lado, identificou a falta de profissionalismo

do setor, o que fez com que muitos incentivos surgissem em prol da educação e

treinamento adequado e qualificado.

Ficou demonstrado que o fluxo de capitais da “balança turismo” para o

Estado ainda é bastante abaixo de nossas necessidades, possibilidades e

potencialidades. O Rio de Janeiro, apesar de ter evoluído em infra-estrutura,

tecnologia, opções de lazer, comodidade, serviço e atendimento humano,

inclusive com a entrada de bandeiras internacionais, símbolos da atividade no

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mundo (nos diversos segmentos como hotelaria, moda, alimentação, financeiro,

dentre outros), ainda deixa muito a desejar em diversos quesitos fundamentais

para elevação da cidade como destino à altura dos turistas mais exigentes.

Os recursos advindos do turismo através do recolhimento de impostos pelos

governos não retornam em forma de geração de infra-estrutura que gerem

melhores condições para esta indústria. Foram apresentados argumentos

consistentes sobre como é feita a geração de receitas para o turismo através dos

Conventions Bureaus nos Estados Unidos e na Europa. Estas receitas são fruto da

conscientização dos players da iniciativa privada sobre como a retroalimentação

financeira do sistema pode desencadear benefícios para toda a cadeia. Conforme

foi exposto no Rio de Janeiro esta prática é muito limitada e a geração de recursos

para investimentos de promoção do setor são extremamente baixos.

Esta pesquisa deu oportunidade para que fossem identificadas e divididas a

abordagem sobre o turismo na cidade do Rio de Janeiro em quatro pontos, a saber:

positivos, em evolução, justificativos e agravantes (Quadros 5 e 6).

Quadro 5 – Pontos Positivos, em evolução e justificativos

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Quadro 6 – Pontos Agravantes

Como pontos positivos da cidade do Rio de Janeiro foram mencionados os

atributos que a cidade tem reconhecimento a nível internacional; que representa

uma imagem internacional de símbolo de criatividade, flexibilidade, afetividade e

alegria; que tem relação de boa vizinhança com toda união e demais países; que

está distante de ações terroristas; que possui cultura única e reconhecida em

diversas áreas, como música, cinema e literatura; que é um estandarte de

grandezas como futebol, carnaval, mulheres bonitas e do bem viver; que apresenta

uma boa absorção e tradução criativa da cultura internacional, principalmente a

americana e a européia; que possui acesso e uso das tecnologias mais modernas;

que apresenta um aparelhado sistema financeiro e bancário; e que possui um povo

hospitaleiro, amigo e caloroso.

Verificou-se que a ação dos agentes públicos em relação a promoção destes

pontos positivos é relevante no que diz respeito a organização de eventos

populares, como as festas de reveillon e carnaval, além dos shows que ocorrem

durante o ano todo apresentando atrações nacionais e internacionais e que são

gratuitos.

Como pontos em estado de evolução contínua da cidade do Rio de Janeiro a

se reconhecer, principalmente nos últimos anos, foram realçados os incentivos dos

governos nas três esferas do poder público às atividades turísticas; a

profissionalização do atendimento e da “arte de servir”, ou seja, trazer as melhores

práticas internacionais aos nossos ativos de cordialidade, cortesia, alegria e

simpatia; uma evolução de nossa infra-estrutura de comunicações, telefonia,

transportes, saneamento básico, logística e tecnologia; e ações estruturadas da

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sociedade civil organizada, principalmente ONGs, para combater os problemas de

nosso país que afetam nossa imagem externa, como segurança, educação, saúde,

transportes e corrupção.

Os entrevistados do trade consideraram que no que toca a estes pontos em

evolução tanto a RIOTUR como a TURISRIO tiveram tímidas ações no sentido

de prover treinamento adequado e patrocinar ações positivas de melhoria da infra-

estrutura de serviços e equipamentos para o desenvolvimento do turismo.

Adicionalmente, como pontos capazes de explicar os resultados pouco

significativos da atividade turística da cidade do Rio de Janeiro, foram elencadas

pelos entrevistados a instabilidade macroeconômica percebida, o que interfere na

relação cambial; baixa ação setorial do governo local e das empresas no sentido de

estímulo ao turismo de negócios (Rio de Janeiro sedia poucos eventos, poucos

congressos, apesar de ter quase todas as multinacionais americanas, européias e

asiáticas operando no país); pouca ação coordenada com as embaixadas e câmaras

de comércio de outros países no sentido de vender a cidade aos estrangeiros como

destino interessante, de maneira personalizada para cada povo; baixa articulação

do Governo nas suas três esferas, que não somam esforços vetorialmente nos

mesmos sentidos, o que inclusive gera disparidade de imagem e desperdício de

recursos; ausência de métricas confiáveis para investidores, financiadores,

empreendedores, turistas e para o próprio governo; baixo volume de

investimentos nos serviços aos estrangeiros e ao cidadão brasileiro; sermos um

país de poucas marcas globais, pequeno exportador (em torno de 1% do total

mundial) e, portanto, temos poucos embaixadores de reforço de nossa marca (ao

contrário de países como França, Itália, Japão e, principalmente, EUA); baixo

nível de educação, que se reflete em qualidade de atendimento, em segurança e

imagem institucional; apresentarmos o problema mundialmente reconhecido da

criminalidade e segurança, reflexos de nossa imensa e percebida desigualdade

social; baixa consciência social proativa organizada (a assistencialista é alta e

reconhecida), que se reflete em questões como desmatamento, saneamento

público, débil serviço de limpeza e preservação de patrimônio histórico; posição

geográfica fora das principais rotas internacionais, ou seja, como o Rio de Janeiro

não é escala de quase nada, pouco aparece aos turistas de passagem, o que se

constitui historicamente excelente fonte de propaganda de um destino; idioma

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pouco falado no mundo e baixo número de pessoas bilíngües (inglês e/ou

espanhol, por exemplo); e baixo nível de investimentos em publicidade.

Neste ponto, os depoimentos apontaram que as ações públicas se mostram

bastante debilitadas. No que toca as ações voltadas para incrementar o turismo de

negócios não foi identificada nenhuma ação concreta e consistente no sentido de

incrementar este setor a não ser a privatização do RioCentro e a construção do

centro de convenções da Cidade Nova, ainda sem data para a inauguração. A

marca Rio de Janeiro que pode ser simbolizada, dentre outros, pelos seus

estandartes Pão de Açúcar e o Corcovado são tratados como um ativo estocado na

prateleira. Não foi percebida nenhuma ação no sentido de transformar estas

marcas em produtos consistentes de estímulo a atração de turistas e de divisas

para a cidade do Rio de Janeiro.

Como pontos agravantes apontados para a cidade do Rio de Janeiro, temos

no setor turístico nacional um setor extremamente fragmentado, composto

eminentemente por micro e pequenas empresas, à exceção das grandes cadeias de

hotéis, redes internacionais de fast food e locadoras de automóveis. Isso quer dizer

que temos na gastronomia, em parte da hospedagem, no agenciamento de viagens,

na consultoria turística e também nos transportes a significativa predominância de

micro e pequenas empresas, portanto, sem condições de investimentos em infra-

estrutura, treinamento, tecnologia, internet, propaganda, e promoções. Um bom

exemplo é o do setor mais emblemático desta indústria que é o das agências de

viagens. Fragmentado e carente de especialização, o setor das agências de

turismo, que emprega mais de 100 mil pessoas, cresce a cada dia com um, dois,

três empregados, impulsionado principalmente pelo chamado “marketing viral”, a

propaganda boca-a-boca, conforme constatado nesta pesquisa. São ao todo mais

de 20 mil agências, sendo que 80% delas não são associadas à ABAV.

Neste campo as empresas públicas poderiam significar o denominador

comum para adequar este modelo fragmentado num pólo consistente de

integração voltado para o funcionamento do turismo na cidade do Rio de Janeiro.

Mas isto não acontece pela falta de percepção destes organismos quanto a

materialização de um plano consistente para a indústria do turismo.

Para piorar, nossa aviação civil sangra a olhos nus. A Varig agonizou e

agora vai partir para tentar se reerguer bastante enfraquecida e consideravelmente

diminuída. Deixou uma enorme seqüela no Rio de Janeiro em termos de vôos

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nacionais e internacionais que aportavam em nossos aeroportos. A VASP e a

Transbrasil fecharam as portas nos últimos anos. A Gol está obtendo bons

resultados e a TAM também vem mostrando positivos sinais de recuperação e

crescimento, porém ambas centralizam suas operações em São Paulo.

Nossos dois aeroportos deixam muito a desejar, tanto em infra-estrutura,

como em acesso, logística, segurança e tecnologia, sem contar questões

momentâneas como as greves da Polícia Federal e os problemas de alfândega e

vistos, alem dos recentes e gravíssimos problemas com os controladores de vôo

ocorridos a partir do acidente do avião da Gol em outubro de 2006. Desde então,

nos deparamos com uma nova crise nos aeroportos com atrasos e cancelamentos

de vôos com milhares de usuários sendo prejudicados e ficando a mercê de um

sistema totalmente ineficiente. A ação da Infraero, da ANAC (Agencia Nacional

de Aviação Civil), do Ministério da Defesa e das próprias companhias aéreas

nacionais foi catastrófica. A repercussão deste tipo de evento no turismo foi

sentida rapidamente. No inicio de 2007, os hotéis da cidade do Rio de Janeiro

apresentaram ocupação abaixo da média para o período.

As crises podem se transformar em oportunidades para uma estrutura

publica-privada bem concebida para ter a maleabilidade de se adequar

rapidamente a novas circunstâncias. É bem verdade que esta característica tem

que ser muito mais fortemente percebida pela iniciativa privada. Esta por ser

constituída no turismo, como já vimos, predominantemente por pequenas e

medias empresas tem obtido melhores resultados nesta capacidade de adequação.

Os órgãos públicos analisados demonstraram certa letargia na identificação e na

resposta a estes movimentos.

Quanto a este aspecto a falha das empresas públicas se prende as evidências

que foram detectadas na pesquisa de que estas se consideram tão vitimas da

situação a que o Rio de Janeiro foi relegado quanto as suas indústrias e o seu

comércio. Os dois órgãos públicos, através dos depoimentos dos seus dirigentes,

parecem não perceber que é seu papel interagir com os demais órgãos de sua

estrutura estatal, com os demais níveis de governo, inclusive federal e com as

empresas provedoras de serviços vitais para o funcionamento e operação do

turismo na cidade, no sentido de gerar a infra-estrutura necessária para a obtenção

de resultados consistentes.

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Além disso, ainda se precisa buscar o atributo de “Basic Selling

Proposition” da Cidade, como produto e, portanto, simbolizar nossa marca como

referência de alguma categoria livre no mercado de turismo mundial. Sabermos

em que categoria podemos ser líderes globais em turismo vai depender de um

estudo mercadológico intensivo e vai depender também do nosso processo de

auto-conhecimento. É fundamental sabermos onde estamos e em que somos e

podemos ser bons e aquilo que devemos abandonar, porque não faz parte de nossa

expertise como destino.

Este ponto foi trabalhado pelo Plano Maravilha e depois descontinuado. Não

se pode entender um modelo de desenvolvimento de uma atividade tão importante

e que se reveste de tamanha relevância no contexto econômico internacional, que

não esteja calçada por um planejamento apurado e sólido e que sirva como norte

por parte das agências de desenvolvimento.

Esta pesquisa serviu para mostrar que o Plano Maravilha foi uma

empreitada positiva neste sentido. Pelo seu planejamento e avanço através da sua

continuidade, os alvos poderiam ser atingidos. Mas, a sua interrupção,

provavelmente por caprichos políticos, castrou esta tentativa que se desenhava

como muito bem embasada e fortalecida por princípios de gestão moderna.

Evidenciou-se a necessidade de pensar que tipo de experiência legada ao

cliente, ao turista, irá pautar as estratégias de atuação. O contexto é de um mundo

do intangível, interativo, multimídia, global, acelerado pela Internet e pelas

comunidades on-line de troca de informações e recursos, onde se faz preciso que

se estabeleçam as condições para termos uma indústria forte e que estimule a

recorrência, o retorno. Foi lembrado que não podemos esquecer que entramos a

passos largos em uma era em que o turismo e o entretenimento serão a indústria

de maior movimentação financeira do mundo.

Foi deixado claro que é preciso incentivar realmente os turismos de nicho,

aqueles focados em comunidades de hábitos, gostos e práticas, como o turismo

ecológico, o turismo radical e o turismo gay, dentre outros. O Rio de Janeiro tem

todas as condições de patrocinar estes atrativos.

Um ponto importantíssimo ao qual foi dado destaque foi a diferença de

classes sociais pontuadas na cidade do Rio de Janeiro, fermento da violência e da

instabilidade social, e que marca de fato nosso dia a dia. Como é difícil vender

uma imagem consistente tendo contrates tão gritantes com uma boa parte da

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população que vive abaixo das condições mínimas de sobrevivência, taxas

altíssimas de desemprego, índices macabros de violência urbana, corrupção

incontrolável e salário mínimo com valor infinitamente abaixo das necessidades

básicas de uma família. Percebeu-se que o mundo nota e se assusta com isso.

A violência foi afirmada pelos agentes públicos entrevistados, como um

motivo não muito importante para a fuga de turistas na cidade do Rio de Janeiro.

Mas, por outro lado, o seu próprio discurso, como ficou evidenciado no capitulo

anterior, deixou transparecer que esta mazela tem se tornado um tormento que

afugenta cada vez mais turistas da cidade. Os agentes públicos neste campo, mais

uma vez, não conseguem sensibilizar as demais secretarias, principalmente as

ligadas à segurança no sentido de propiciar os locais de circulação turística de

uma condição segura de livre circulação. Foi apontado repetidamente nas

entrevistas que os grandes pólos aglutinadores de freqüência turística se tornaram

grandes focos de penetração de marginais.

Um ponto onde praticamente todos concordaram foi que vivemos

atualmente um período turbulento no setor turístico. Desde o início do governo

Lula, quando foi prometida a geração de 1,2 milhões de empregos no país,

imaginou-se viver um momento grandioso para a indústria de turismo nacional,

culminando na elaboração do Plano Nacional do Turismo, que soava como uma

política industrial para o turismo. A grande novidade foi a disponibilização da

linha de crédito voltada ao fomento e desenvolvimento do setor. No entanto, o

BNDES não renovou o Programa de Financiamento do Turismo para 2004,

devido ao mal desempenho de segmentos como hotelaria e parques temáticos.

Na verdade, foi apontado que vivemos um ciclo vicioso, onde o setor não

está bem estruturado e, devido a isso, não consegue crédito para crescer. Sem o

crédito, os participantes do setor não conseguem se estruturar da forma que

deveriam. O turismo não é uma indústria que oferece um retorno rápido, até

mesmo porque envolve muitos outros setores que precisam ser igualmente bem

estruturados, para andar e evoluir junto, com o objetivo de fortalecer a marca do

destino.

Foi marcante, diante destas circunstâncias que fidelizar um cliente-turista é

muito difícil, em função do enorme leque de opções existentes ao redor do

planeta. É por isso que é importantíssimo haver investimento no turismo nacional,

seja através de parcerias ou alianças, envolvendo todos os agentes públicos e

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privados para o desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços

turísticos.

Esta pesquisa captou o sentimento que o ceticismo está se disseminando

pelo setor de turismo no Rio de Janeiro. As vendas de pacotes com transporte

aéreo para as férias vêm caindo. Isto acarretou uma queda na freqüência dos

hotéis nesta alta temporada. As pessoas que procuram as agências de viagens para

planejar as férias estão com medo de comprar pacotes ou passagens aéreas.

Muitos turistas internos estão afirmando que podem abrir mão do conforto do

avião para viajar de ônibus. Só aqueles que viajam a negócios continuam usando

os aviões porque têm pouca escolha, já que precisam se deslocar rapidamente.

Mas estes, não afluem em grande número para a cidade do Rio de Janeiro.

Os agentes públicos de desenvolvimento naufragam junto com este cenário.

Seu poder de articulação com o governo central é pequeno e não perceptível para

o trade. Isto sem contar o conflito interno entre Prefeitura e o Estado,

principalmente nos últimos 8 anos, e de ambos o governo central. Seu

relacionamento interno (Estado e Prefeitura) embora dito por seus membros como

apartidário e entrosado, não é assim percebido pela comunidade do turismo. A

incapacidade dos governos municipal e estadual de resolver problemas de infra-

estrutura como a segurança foi citado por todos empresários entrevistados

formalmente e informalmente como inaceitáveis.

Todos os pontos aqui elencados se relacionam com a atuação pública,

embora os seus agentes acabem nos depoimentos se colocando no papel de

vitimas como o trade, a população local e o visitante. As questões de segurança,

infra-estrutura, promoção do Estado, situação dos aeroportos, portos e estações

rodoviárias, manutenção dos espaços públicos, preservação do patrimônio

histórico da cidade, acolhimento de mendigos e menores, limpeza urbana, dizem

respeito às administrações públicas, embora muitos destes espaços acabem sendo

partilhados com a atuação privada.

Em relação à logística do turismo, a sinalização da cidade e o aparelhamento

das estradas de acesso foram considerados como críticos. A isto se soma a

percepção de que problemas como saneamento e crescimento da cidade

concentrado na zona oeste parecem não fazer parte das preocupações dos órgãos

responsáveis pelo turismo. Estes assuntos que repercutem diretamente na

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qualidade de vida da cidade deveriam estar na pauta das agências no que toca a

sensibilização dos setores de governo envolvidos nestes problemas.

Outro aspecto que deve ser ressaltado em relação à atuação dos agentes

públicos é que não foi percebida nenhuma cooperação entre estes órgãos e outras

organizações correlatas em outros países, no que toca a serviços de consultoria e

transferência de tecnologia no campo da indústria turística. Foram fracas as

evoluções de atividades promocionais conjuntas com outros estados e países e

praticamente inexistentes o intercâmbio de peritos na área de turismo.

Outro aspecto débil é o alto grau de desinformação que as estatísticas

apresentadas pelos órgãos de governo apresentam. Muitas delas tinham origem

nas informações advindas do Ministério do Turismo que refletem em seus

registros uma péssima compilação de dados obtidos nos pontos de entrada do país.

O turismo externo é muito mal contemplado com informações, assim como o

interno. A má ou a ausência de informação quanto à natureza da viagem e do

viajante geram distorções que não resistem as mais simplórias análises. A cidade

do Rio de Janeiro em termos de informações é objeto deste processo

desorganizado. Dominar a numerologia do negócio como um todo, seria de suma

importância para instrumentalizar as ações demandadas para o setor.

Na esteira destas desinformações surgiu nesta pesquisa um ponto muito

interessante sobre a promoção do turismo na cidade do Rio de Janeiro. O aumento

exponencial que os cruzeiros marítimos vêm apresentando nos últimos anos não

são resultado de uma política desenvolvida com fins de incrementar este tipo de

negócio no Estado e no país. Ele ocorreu pela oportunidade vista pelas grandes

companhias mundiais de transatlânticos de explorar a costa brasileira na baixa

temporada européia, asiática e norte-americana. Com alta temporada aqui no

nosso verão estas empresas encontraram o ambiente perfeito para engrossarem

seus lucros. A migração do contingente de pessoas que já usava ou iria usar os

equipamentos de hotelaria convencional trouxe prejuízos sensíveis tanto para a

hotelaria de cidade como a de resorts. Foi apontado pelos agentes públicos que a

economia local foi beneficiada pela eventual passagem de uma noite na hotelaria

fixa por parte deste publico e mais os eventuais gastos quando do estacionamento

do navio nesta cidade. Mas os representantes do setor hoteleiro entrevistados

viram nisto migalhas perto do que seria arrecadado com a permanência por mais

dias na cidade. Como não existem barreiras de entrada, este tipo de serviço entrou

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muito rapidamente e cresceu de maneira incrível. A regulamentação do setor foi a

argumentação que representou o denominador comum entre os profissionais do

trade ouvidos nesta pesquisa. Aos agentes públicos coube engordar suas

apresentações em congressos e simpósios com números abastados de aumento de

entrada de turistas no Rio de Janeiro.

O sucesso do modelo de gestão do Estado/Município obtido pelo Estado da

Bahia significou segundo os entrevistados, a quebra do paradigma, que o Estado

brasileiro não estaria capacitado para desenvolver ações positivas e continuadas. É

bem verdade que este modelo prosperou pela continuidade do comando do

governo baiano e pela capacidade de geração de condições para o aporte de capital

privado e da geração de infra-estrutura patrocinada pelo Estado. Este modelo não

teve ainda resultados espetaculares, mas como foi dito pelos próprios

entrevistados os resultados no turismo dependem de certo período de maturação.

Foram identificados três grupos de comportamento dos profissionais do

trade em relação aos agentes públicos de desenvolvimento: o primeiro é o dos

incrédulos, que são aqueles que por já terem acionado os órgãos públicos

buscando soluções ou parcerias encontraram estruturas lentas, letárgicas, sem

poder de operação. Outro grupo é o dos complacentes, que são aqueles que são

condescendentes com a situação, e preferem manter relações cordiais com todos;

o terceiro grupo é o dos isolacionistas, que são aqueles que se desprendem do

contexto e partem para o atingimento de suas metas de maneira isolada ou através

de parcerias próprias. E finalmente o quarto é o dos crédulos, que são aqueles que

sempre acreditam na capacidade do poder publico em empreender e atribuem

papel de destaque às ações estatais.

A ação governamental na cidade do Rio de Janeiro se mostra eficiente nas

ações promocionais para o reveillon, que nos últimos anos se tornou uma festa

dentro calendário mundial de eventos e do carnaval que se constitui também num

marco para a cidade. Outra ação muito positiva foi a recente criação da estrutura

portuária da Cidade do Samba que fez com que os deslocamentos dos

equipamentos utilizados no carnaval não paralisassem a cidade, além de gerar um

espaço único para as agremiações construírem suas alegorias e fantasias,

diminuindo de maneira importante os antigos galpões que eram utilizados para

estas tarefas. Além disto, a Cidade do Samba se tornou um ponto de atração

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turística, indo de encontro a antigos desejos da comunidade carioca que desejava

que a festa de carnaval não se resumisse apenas aos seus quatro dias.

Foi também citada, a evolução dos movimentos populares como os blocos e

o carnaval de rua, num ressurgimento de uma expressão que parecia tender ao

desaparecimento. O reaparelhamento do bairro da Lapa fez emergir o antigo

reduto da “malandragem carioca” agora, vestido de uma maneira que estimulou o

surgimento de uma nova geração de bares e locais de música tão ao gosto do

turista e do morador da cidade. A criação de espaços em ruas e avenidas que são

interditados ao tráfego nos domingos e feriados fizeram com que milhares de

turistas e cariocas pudessem usufruir de espaços adicionais para lazer. Eventos

esportivos como maratonas ou travessias a nado, e de outras naturezas passaram a

fazer parte do calendário da cidade. Os Jogos Pan-Americanos que vão trazer uma

série de benefícios para cidade conta com o apoio forte e participação da iniciativa

publica.

É bem verdade que estes movimentos citados são predominantemente

apoiados pela empresa municipal. A empresa do Estado concentrou seus esforços

na parte de apoio as iniciativas de programas de integração junto ao trade e

demais organizações patronais e sindicais no sentido de orientar ações pontuais de

desenvolvimento do turismo no Estado, tanto em outros estados como nos

principais países geradores de aporte de turistas para o Rio de Janeiro.

Os baixos resultados obtidos pelo setor de turismo no Rio de Janeiro, se

evidenciam diante dos inúmeros problemas expostos neste trabalho. Se

entendermos esta vocação da cidade e seus inúmeros atributos naturais, podemos

aferir que comparando com outros sítios ao redor do planeta com atributos

assemelhados, o numero de visitantes à cidade do Rio de Janeiro é muito abaixo

do que se poderia esperar, em se tratando de uma indústria que é grande geradora

de divisas. O governo federal usa a pasta para aquinhoar o seu loteamento político

de cargos. O governo estadual não tem planejamento e segue instintivamente

ações pontuais. O governo municipal, que tem a maior ingerência sobre a cidade,

pauta suas ações com pálidas intervenções que ficam longe daquilo que se poderia

desejar para um destino de renome.

Coisas básicas como o aporte de vôos aéreos ao Estado e a segurança são

absolutamente negligenciados pelo poder publico. Se junto com a iniciativa

privada o problema aéreo do Brasil, tanto no que toca a sua organização como a

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distribuição de vôos que aquinhoe o Rio de Janeiro com um volume compatível

com a sua demanda, não for atacado com profundidade e profissionalismo, o setor

do turismo será levado a um colapso de grandes proporções. Outro ponto

fundamental é o da segurança. Se naturalmente fossemos induzidos a pensar que o

Brasil pudesse levar vantagem competitiva por estar fora do roteiro do terrorismo

internacional, verificamos que turista algum vai querer passear num palco de

assaltos e balas perdidas.

Entendendo que promoção se prende ao que se relaciona aos estímulos ao

marketing utilizados para gerar demanda pelo produto ou serviço podemos

considerar pífia a ação dos agentes públicos neste quesito. A tênue promoção

através da participação em eventos internacionais e as ações pontuais através de

campanhas internas fazem da promoção do turismo na Cidade do Rio de Janeiro

uma iniciativa muito fraca. As ações em infra-estrutura estão muito abaixo

daquilo que se encontra no padrão médio internacional.

Os obstáculos residem na própria organização do poder público que no

Brasil tem se revestido das mais deformadas visões de comportamento ético e

profissional. O grau de competitividade do Rio de janeiro como destino turístico

sofre um baque enorme ao se deparar com esta triste realidade.

Algumas perspectivas de pesquisas futuras foram identificadas no decorrer

deste estudo. Uma seria o aprofundamento do estudo sobre parcerias público-

privadas no setor de turismo. Outro ponto que seria merecedor de uma

investigação seria o do descalibramento total dos números oferecidos pelos órgãos

públicos do turismo nacional, preponderantemente o Ministério do Turismo, cujas

informações passam longe da realidade e da forte necessidade que o setor turístico

tem de, através de números consistentes, analisar quais as suas potencialidades e

necessidades. Mais um estudo interessante seria o da abordagem especifica do

marketing para destinos turísticos, porque o que se percebe na literatura atual, é

que este ponto é enfocado através de trabalhos com fraca fundamentação.

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Adendo

UM DIA, TE REVER.

A cidade amada é a musa dos nossos devaneios. Ela tomou outros rumos,

enveredou por caminhos tortuosos. Mas, manteve um certo quê, que a distingue e

a enobrece. É a sua beleza marcante, inigualável, absolutamente fantástica.

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala

Você era a favorita onde eu era mestre-sala

Hoje a gente nem se fala mas a festa continua

Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Nem nos delírios mais sombrios, imaginei um dia te ver descolorida,

desencatada, tão displicente. Você cidade amada, se entregou aos mais vis dos

comandantes. Eles não te amavam, só te usaram.

Hoje o samba saiu, procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

Voce seduzia os passantes e os ficantes. Voce era a luz abaixo do Equador.

O sol pedia passagem e a lua fechava o bloco, na mais linda das passarelas.

Quando o samba começava você era a mais brilhante

E se a gente se cansava você só seguia adiante

Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado

Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Cidade sedutora, mulher com nome masculino, voce me desperta todas as

memórias maravilhosas. Eu aí, eu me abstraio da realidade e te imagino

ressurgindo como o condor com sua forma e beleza, resplacendo ao mundo.

O meu samba assim marcava na cadência os seus passos

O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços

Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão

Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

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Mas, tanta vilania te fizeram, que os piratas que se infiltraram no teu espaço

deixaram sequelas tão fortes que farão da retomada uma tarefa arrojada. Não me

conformo em te ver desconstruída.

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe

De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse

Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia

Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Numa estranha simbiose troco de lugar contigo, cidade amada. E vou eu

para a galeria, te ver passar linda, formosa, repaginada, redimida. Vou chorar de

alegria. Aí, vou poder dormir em paz...

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria

Quero que você me assista na mais fina companhia

Se você sentir saudade por favor não dê na vista

Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

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Anexos Anexo 1 - Roteiro de Entrevistas

A Atuação dos Agentes do Governo do Rio de Janeiro na Formulação das Ações Promocionais de Marketing Turístico

Nome do Entrevistado: Empresa: Cargo: Local e Data da Entrevista: 1. Como você e a sua empresa percebem a vocação turística da Cidade do Rio de Janeiro? 2. Que elementos são em sua opinião relevantes para caracterizar a cidade como um destino turístico importante? Por quê? 3. Como você avalia os resultados do afluxo turístico ao Rio com base no potencial da Cidade? 4. Na sua opinião quais são os pontos fortes e fracos da Cidade na sua empreitada de se tornar mais atrativa para o turismo? 5. Dada a situação que se apresenta como desafiadora no que toca o potencial da Cidade versus os resultados pouco significativos em relação ao aumento do fluxo de turistas para a Cidade, quais as oportunidades e ameaças que você vislumbra? 6. Qual o planejamento estabelecido para reverter os pontos fracos e potencializar os pontos fortes afim de trazer ao Rio um fluxo de turistas compatível com os recursos e a vocação da Cidade? 7. Do ponto de vista de promoção do turismo para a Cidade do Rio de Janeiro quais as ações que estão sendo desencadeadas e a que plano elas se referenciam? Por quê? 8. A participação do Rio de Janeiro em eventos promocionais nacionais e internacionais de turismo estão alinhados com alguma estratégia consistente capaz de medir a sua adequabilidade e aferir os seus resultados? 9. Existe integração entre os agentes promotores do turismo no Rio de Janeiro no âmbito municipal e estadual? 10. O aspecto político interfere nesta relação ? Por quê? 11. Os cargos executivos das agências são indicados por ações politico-partidárias, o que pode implicar em descontinuidade das políticas quando da troca de governo ou reformas das Secretarias. Isto realmente acontece? 12. Qual seria o motivo da paralisação de planos anteriores que tentaram esboçar um redesenho da estratégia do turismo, e que acabaram sendo esquecidos? 13. As agências de desenvolvimento têm bom grau de relacionamento com os segmentos da sociedade Como os representantes de classes, os empresários, as empresas de turismo e o trade local? 14. O item Segurança é uma pedra no sapato do Rio de Janeiro. Como as agências estão tratando este assunto? Como é visto este fator na inibição do fluxo do turismo para a Cidade? 15. O governo estadual e municipal tem varias áreas que se relacionam com a estrutura demandada para o turismo. Como está esta relação entre os diversos órgãos da administração pública e os interesses do turismo na Cidade? 16. Existem alguns itens primários na geração da infra-estrutura turística. Porque o esquema de transportes para o turismo e a sinalização da cidade são tão precários e deficientes? 17 . No seu entendimento como vai a política de atração de investimentos para o melhor aparelhamento da infraestrura do turismo na Cidade? 18. Como estão sendo vistas as promoções de eventos esportivos e culturais como fator de atratividade e legado financeiro e patrimonial para a Cidade? 19. Como você enxerga a infra-estatura do Porto, dos Aeroportos e da Rodoviária no Rio de Janeiro ? 20. Quais os esforços para transformar as estradas de acesso ao Rio para boas condições de trafegabilidade? 21. Quais as ações voltadas para a formação de pessoal especializado e implementação da qualidade dos serviços oferecidos? 22. Existem convênios firmados neste sentido com as associações e a iniciativa privada? 23. O número disponível de leitos pela rede hoteleira é suficiente para comportar um incremento

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na taxa de turistas? E a qualidade da rede atende ao perfil dos diversos segmentos de clientes? 24. Qual a perspectiva de incremento e a estratégia de incentivo ao turismo de negócios? Por quê? 25. E aos outros tipos de turismo, hoje demandados por clientes focados, como o cultural, o de aventura, o gastronômico e o gay? Porquê? 26. Como se dá a aproximação com as agências e as promotoras de turismo? 27. E com as empresas de city-tours, aluguel de automóveis e alimentação? 28. O Reveillon e o Carnaval podem ser apontados como cases de sucesso de ação governamental? 29. Alguma outra contribuição à pesquisa?

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