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GERAÇÃO E DESTINAÇÃO DO LIXO ORGÂNICO FLV EM PONTOS DE VENDAS NA CIDADE DE TERESINA FRENTE PRODUÇÃO MAIS LIMPA LUVANIA DIAS GOMES (FSA) [email protected] Pablo Brian de sousa silva (FSA) [email protected] Leonardo Bezerra Lima (FSA) [email protected] Eldelita Aguida Porfirio Franco (FSA) [email protected] A globalização fez com que a sociedade mudasse seus hábitos de consumo, é cada vez mais crescente o uso de produtos industrializados. O setor de frutas, verduras e legumes também sofre as conseqüências desse avanço com o maior numero de perdas desses produtos, perdas essas causadas pela alta perecibilidade desses produtos, pelo mau armazenamento e pela falta de consciência da sociedade. E o descarte desse lixo orgânico na maioria dos casos ocorre em locais inadequados. As unidades de analise selecionadas para a pesquisa foram os principais pontos de vendas em Teresina- PI, três supermercados e a CEASA-PI. A coleta de dados se deu através de visitas realizadas nos pontos de vendas e entrevistas com os responsáveis pelo setor de FLV (Frutas, Legumes e verduras). O trabalho concluiu que os consumidores não fazem manuseio adequado desses produtos nos pontos de vendas acelerando o processo de danificação. Os entrevistados declaram que fazem doações de parte das perdas para programas sociais e abrigos, porém não mostram preocupação com o alto numero de resíduo gerado, além de não possuírem nenhum programa de redução de perdas. Palavras-chave: Lixo orgânico, produção mais limpa, FLV XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

GERAÇÃO E DESTINAÇÃO DO LIXO ORGÂNICO FLV EM … · Braga Júnior (2010), diz que a LR no setor varejista pode abrir-se como uma nova possibilidade de ganho para as empresas

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GERAÇÃO E DESTINAÇÃO DO LIXO ORGÂNICO

FLV EM PONTOS DE VENDAS NA CIDADE DE

TERESINA FRENTE PRODUÇÃO MAIS LIMPA

LUVANIA DIAS GOMES (FSA)

[email protected]

Pablo Brian de sousa silva (FSA)

[email protected]

Leonardo Bezerra Lima (FSA)

[email protected]

Eldelita Aguida Porfirio Franco (FSA)

[email protected]

A globalização fez com que a sociedade mudasse seus hábitos de consumo, é

cada vez mais crescente o uso de produtos industrializados. O setor de frutas,

verduras e legumes também sofre as conseqüências desse avanço com o

maior numero de perdas desses produtos, perdas essas causadas pela alta

perecibilidade desses produtos, pelo mau armazenamento e pela falta de

consciência da sociedade. E o descarte desse lixo orgânico na maioria dos

casos ocorre em locais inadequados. As unidades de analise selecionadas

para a pesquisa foram os principais pontos de vendas em Teresina- PI, três

supermercados e a CEASA-PI. A coleta de dados se deu através de visitas

realizadas nos pontos de vendas e entrevistas com os responsáveis pelo setor

de FLV (Frutas, Legumes e verduras). O trabalho concluiu que os

consumidores não fazem manuseio adequado desses produtos nos pontos de

vendas acelerando o processo de danificação. Os entrevistados declaram que

fazem doações de parte das perdas para programas sociais e abrigos, porém

não mostram preocupação com o alto numero de resíduo gerado, além de

não possuírem nenhum programa de redução de perdas.

Palavras-chave: Lixo orgânico, produção mais limpa, FLV

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Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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1 Introdução

No início da década de 70, a poluição significava avanço e crescimento para as

indústrias, e o meio ambiente só tinha valia porque era dele que se tiravam as fontes de

matéria-prima para a produção, sendo este meio considerado inesgotável.

Ocorreu que a sociedade evoluiu, com ela os desafios ambientais e a questão da saúde

pública ficaram expostos. Junto com essa evolução veio também a desenfreada produção de

lixo, problema esse que esta cada vez mais exposto nos diversos meios de comunicação, e

acaba por exigir da sociedade a urgente necessidade de atitudes conscientes relativas ao meio

ambiente na tentativa de minimizar os danos causados pelo homem.

A globalização fez com que a sociedade mudasse seus hábitos de consumo, ampliando

o uso de produtos industrializados, gerando cada vez mais um aumento no número de

embalagens descartadas. É nesse descarte que se encontra uma parcela do problema, pois ele

na maioria das vezes são dispostos em locais inadequados.

A educação ambiental seria uma solução viável, para que através dela os cidadãos

mudassem e criassem novos hábitos que levassem a ética e respeito ao meio ambiente natural.

No que tange as empresas, observa-se que estas aos poucos adotam práticas ambientais

em seus processos produtivos. O número ainda fica menor quando analisam-se que as mesmas

na maioria das vezes executam alguma pratica sustentável ou ate mesmo fazem as adaptações

somente para atender aos requisitos das leis.

Os pontos de vendas de FLV (Frutas, Verduras e Legumes), que fazem a ponte entre

indústria e cliente, fazem parte do canal de distribuição e acabam também sendo geradores de

resíduos como plástico, papelão, lixos orgânicos, etc. Esses lixos em alguns casos tem destino

inadequado. Com isso surgiu o conceito de logística reversa que segundo Leite (2009, p 17),

conceitua:

Logística reversa, como sendo a área da logística empresarial que planeja, opera e

controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de

pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio

dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas:

econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

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Braga Júnior (2010), diz que a LR no setor varejista pode abrir-se como uma nova

possibilidade de ganho para as empresas do setor, pois passa a criar um fluxo reverso das

sobras de embalagens e produtos que seriam descartados.

Perante o exposto, o trabalho vem para verificar a quantidade de perdas de

FLV gerado nos pontos de vendas na cidade de Teresina e qual a destinação dada aos

mesmos, já que se trata de um lixo não reciclável.

2 Referencial teórico

2.1 Gestão Ambiental Empresarial

Atualmente, as empresas vêm sofrendo pressões de vários setores da sociedade tais

como Organizações Não Governamentais (ONGs) de cunho ambientalista, as novas

legislações ambientais (como a destinação de resíduos sólidos eletroeletrônicos na Europa e a

nova política de resíduos sólidos no Brasil), os tratados internacionais (Protocolo de Quioto,),

além de demandas de mercados consumidores cada vez mais exigentes e preocupados com os

impactos ambientais, sociais e éticos que podem ser gerados pelo seu padrão de consumo

(ADISSI; PINHEIRO e CARDOSO, 2013).

A poluição industrial é fruto da impossibilidade de transformação total dos insumos

em produtos, e essas perdas formam resíduos que agem no ar, na água ou no solo. Quando

uma empresa enfrenta o desafio de reduzir emissões contaminantes, possui, de modo geral,

duas opções: instalar tecnologias no final do processo produtivo para reter essas emissões, ou

realizar atividades de prevenção ao longo do processo produtivo (DIAS, 2011).

Como consequência, as empresas necessitam integrar a sustentabilidade em seus

procedimentos, em todos os níveis de tomada de decisão: o estratégico, o tático e o

operacional. Assim, é imprescindível a busca de novos modelos gerenciais de negócios que

integrem no seu bojo novas formas de estratégia competitiva, o aprimoramento da relação

empresa-mercado consumidor em uma perspectiva sustentável e o desenvolvimento de novos

produtos/serviços que estejam em consonância com essa nova perspectiva mercadologia

(ADISSI; PINHEIRO e CARDOSO, 2013).

Ao se tratar da questão ambiental, do ponto de vista da gestão empresarial, eles

abordam de inicio a questão econômica. A maioria das empresas veem essas atitudes

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ambientalmente corretas como custos adicionais no processo produtivo. Mas é possível lucrar

e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo mesmo que a empresa não participe do tão

falado “mercado verde”. Desde que a empresa ofereça condições internas e criatividade ela

poderá transformar seus pontos fracos e ameaças em oportunidades e forças para o negocio.

2.2 Gestão dos Resíduos Sólidos

Os resíduos são uma expressão visível, talvez a mais palpável, dos impactos

ambientais. Segundo a definição proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um

resíduo é algo que seu proprietário não mais deseja, em um dado momento e em determinado

local, e que não tem um valor de mercado (VALLE, 2002).

Outra definição proposta pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

NBR 10.004/2004 define resíduos sólidos como os resíduos nos estados sólidos ou semi-

sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,

agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de

sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle

de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu

lançamento na rede publica de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções

técnicas e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível.

Os resíduos sólidos são classificados. Pela NBR 10.004/2004, quanto à sua

periculosidade, em:

a) Resíduos classe I - Perigosos: característica apresentada por um resíduo que, em

função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, pode

apresentar: a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de

doenças ou acentuando seus índices; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo

for gerenciado de forma inadequada.

b) Resíduos classe II - Não perigosos:

Resíduos classe II A - Não inertes, Aqueles que não se enquadram nas

classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B -

Inertes, nos termos desta Norma. Os resíduos classe II A - Não inertes podem

ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou

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solubilidade em água.

Resíduos classe II B - Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma

forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007, e submetidos a um

contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura

ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não tiverem nenhum de seus

constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de

potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

c) Resíduos classe III (Inertes): Não têm constituinte algum solubilizado em

concentração superior ao padrão de potabilidade de águas. Ex: rochas, tijolos,

vidros, certos plásticos e borrachas que não são decompostos prontamente.

Além dos resíduos se dividirem por várias características e graus de periculosidade há

ainda processos diferentes de tratamento e disposição final para o resíduo urbano e os

resíduos sólidos industriais. No caso do primeiro, as técnicas mais apresentadas como

soluções são (ANDRADE, 2000):

a) Aterro sanitário: compactação e aterramento do lixo com tratamento dos afluentes

líquidos e gasosos decorrentes;

b) Compostagem: Nas diversas formas possíveis, que se constitui na decomposição

aeróbica do lixo orgânico – separado em casa ou em usina – para servir de adubo

na agricultura;

c) Reciclagem: reaproveitamento do material orgânico do lixo destinado à venda

para setores da indústria;

d) Incineração: queima do lixo em alta temperatura, indicado principalmente para o

lixo hospitalar;

e) Coleta seletiva: triagem domiciliar do lixo destinado à reciclagem e

compostagem.

Esta problemática em relação a geração dos resíduos sólidos vem se agravando na

maioria dos países devido ao aumento populacional e ao acentuado crescimento urbano que,

associado à evolução dos costumes, criação ou mudanças de hábitos, melhoria do nível de

vida, desenvolvimento industrial, novos métodos de embalagens dos produtos consumidos e o

crescente acesso a produtos industrializados, trazem como consequência, o aumento da

geração de resíduos sólidos no campo e nas cidades (ADISSI; PINHEIRO; CARDOSO,

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2013).

Os resíduos sólidos industriais, por serem muito variados, e se originarem de diversos

ramos da indústria – metalurgia, química, petroquímica, alimentícia, etc., a responsabilidade

da disposição final dos mesmos é do gerador do resíduo, pois a grande maioria deles se

classifica como resíduos classe I – perigosos. Entre estes resíduos podem estar cinza, lodos,

óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papéis, madeiras, fibras, metais, borrachas,

vidros, etc. (LORA, 2000, p. 422-424). O mesmo autor relata que:

Por volta de 20 anos atrás o problema dos resíduos e sua disposição segura não

recebia muita atenção. A disposição inadequada de resíduos levou à poluição de

águas e à contaminação dos solos, afetando diretamente a saúde humana e o meio

ambiente. Em muitos países, como os Estados Unidos e a Alemanha, as áreas com

resíduos industriais abandonados são ainda hoje fontes de grandes problemas

ambientais.

A melhor maneira para a redução desses impactos é fazer a reutilização de materiais

descartados, utilizando o como matéria prima para novos produtos. Esta é uma abordagem

corretiva, direcionada para trazer de volta ao ciclo produtivo matérias-primas, substancias e

produtos extraídos dos resíduos depois que eles já foram gerados. Daí se faz mais importante

à necessidade de verificar o destino dado a esses resíduos, e a sociedade é essencial no que

tange a garantia de um desenvolvimento sustentável no sistema.

Figura 1: Legumes classificados como perdas a serem destinados ao lixo

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Fonte: Elaboração própria (2014)

2.3 Produção Mais Limpa

Diante de fortes preocupações em relação às questões ambientais, a população e

também as empresas passaram a agir sobre essa preocupação de forma pró-ativa. A cada dia

surgem mais metodologias na intenção de sensibilizar os executivos de empresas, a fim de

mostrar que há sim formas de se lucrar com o meio ambiente de uma forma sustentável e

correta, umas dessas ferramentas é a Produção Mais Limpa, conhecida como P+L.

Verifica-se que as tecnologias de fim de tubo não mais respondem aos anseios da

sociedade na busca pelo desenvolvimento sustentável. Estratégias ambientais convencionadas

que buscam atender às exigências legais deixam de serem vistas como únicas alternativas para

melhorar o desempenho ambiental alem de serem extremamente onerosas para as empresas do

ponto de vista econômico-financeiro (ARAUJO, 2002).

Oliveira Filho (2001) descreve que a solução tecnológica do tipo fim de tubo corre

atrás dos prejuízos ambientais causados por um sistema produtivo, remediando os seus

efeitos, mas sem combater as causas que os produziram. Ao contrário, as tecnologias de P+L

contemplam mudanças nos produtos e processos produtivos a fim de reduzir ou eliminar todo

tipo de rejeitos antes que eles sejam criados.

A principal diferença entre a P+L e o tipo fim de tubo é que a primeira trata não

somente os sintomas do problema, mas desde sua origem. O quadro 1 apresenta as principais

diferenças entre elas.

Quadro 1- Diferenças entre tecnologias de fim de tubo e produção mais limpa.

TECNOLOGIAS FIM DE TUBO PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Como se podem tratar os resíduos e as

emissões existentes?

De onde vêm os resíduos e emissões?

...pretende reação. ...pretende ação.

...geralmente leva a custos adicionais. ...pode ajudar a reduzir custos.

Os resíduos e as emissões são limitados

através de filtros e unidades de tratamento;

Soluções de fim de tubo;

Tecnologia de reparo;

Estocagem de resíduos.

Prevenção de resíduos e emissões na fonte;

evita processos e materiais potencialmente

tóxicos.

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A proteção ambiental entra depois que os

produtos e processos tenham sido

desenvolvidos.

A proteção ambiental entra como uma parte

integral do design do produto e da

engenharia de processo.

Os problemas ambientais são resolvidos a

partir de um ponto de vista tecnológico.

Tenta-se resolver os problemas ambientais

em todos os níveis.

Proteção ambiental é um assunto para

especialistas competentes.

Proteção ambiental é uma tarefa de todos.

...é trazida de fora. ...é uma inovação desenvolvida dentro da

empresa.

Aumenta o consumo de material e energia. Reduz o consumo de material e energia.

Proteção ambiental surge para preenchimento

de prescrições legais.

Riscos reduzidos e transparência aumentada.

...é o resultado de um paradigma de produção

que data de um tempo em que todos os

problemas ambientais não eram conhecidos.

...é uma abordagem que pretende criar

técnicas de produção para um

desenvolvimento sustentável. Fonte: CNTL, 2000h.

Para Nascimento (2000), a P+L é, antes de tudo, uma ação econômica, porque se

baseia no fato de que qualquer resíduo de qualquer sistema produtivo só pode ser proveniente

das matérias-primas ou insumos de produções utilizadas no processo. Todos os resíduos,

ontem, eram matéria-prima e foram comprados e pagos como tal.

Misra (2000) menciona que a P+L requer a aplicação contínua de uma estratégia

ambiental preventiva integrada aos processos e produtos, a fim de reduzir riscos para os seres

humanos e o ambiente.

Reduzir custos com a eliminação de desperdícios, desenvolver tecnologias limpas e

acessíveis do ponto de vista econômico, reciclar insumos são mais do que princípios de gestão

ambiental, representam condição de sobrevivência (KRAUSE, 1996).

3 Metodologia

A pesquisa pode ser definida como qualitativa, classificada como exploratória, que

segundo Miranda (2012) assegura que tal investigação é realizada quando aborda um

problema ainda pouco estudado, com pouca literatura e informação a respeito.

Foi tratada como um estudo de caso, conforme Godoy (1995, p. 25), “o estudo de caso

se caracteriza como um tipo de pesquisa, cujo objeto é uma unidade que se analisa

profundamente.” Para o autor, o propósito fundamental do estudo de caso (como tipo de

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pesquisa) é analisar intensivamente uma dada unidade social, que pode ser, por exemplo, uma

empresa que vem desenvolvendo um sistema de controle de qualidade.

Para Gil (2002), a maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas

exploratórias, tendo como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de

intuições.

O autor ainda cita que é impossível estabelecer um roteiro rígido para o estudo de caso

que permita determinar com precisão como se deve desenvolver a pesquisa. Todavia,

descreve que na maioria dos casos é possível distinguir as seguintes fases: delimitação da

unidade-caso, coleta de dados, análise e interpretação dos dados e redação do relatório.

As unidades de analise selecionadas para a pesquisa foram os principais pontos de

vendas em Teresina- PI, três supermercados e a CEASA-PI. A coleta de dados se deu através

de visitas realizadas nos pontos de vendas e entrevistas com os responsáveis pelo setor de

FLV. O trabalho não irá divulgar os nomes dos supermercados, por isso iremos chamá-los de

Supermercado 1, Supermercado 2 e Supermercado 3. A CEASA-PI será citada normalmente.

No ato da entrevista foi questionada a quantidade de perdas dos últimos três meses,

quais os principais produtos perdidos, causas e a destinação dada a esses resíduos orgânicos

gerados. Foram registrados também frutas, verduras e legumes danificados na área de vendas,

através de imagens.

4 Resultados e discussões

A pesquisa foi realizada em cinco pontos de vendas (identificados como A, B e C e

CEASA), da cidade de Teresina- PI que possui uma população de 840.600 habitantes segundo

dados do IBGE, 2010.

O supermercado A está no mercado varejista há 66 anos, e conta com quatro lojas em

Teresina. A rede de supermercados conta com 156 lojas distribuídas por todo o Brasil, esse é

o único supermercado de Teresina que possui postos de entrega voluntária de materiais

recicláveis nas suas lojas.

O supermercado B está no mercado varejista há 25 anos, e conta com uma única loja

em Teresina, a rede de supermercados conta com 130 hipermercados, 203 supermercados, 67

lojas de proximidade, 73 postos e 147 drogarias distribuída por todo o Brasil.

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O supermercado C está no mercado há 79 anos, e conta com duas lojas na Capital

piauiense. O supermercado pertence há um grupo de marcas, e a marca pesquisada somente é

encontrada na região Nordeste do Brasil com 40 lojas espalhadas.

A CEASA-PI está em funcionamento desde 1976. Fica localizada na Avenida Henry Wall

de Carvalho, no bairro Lourival Parente, zona sul da cidade. A CEASA-PI fica a uma distância

aproximada de 8 quilômetros do centro de Teresina. Possui uma área total de 300.000 m².

Todos os supermercados pesquisados são geradores de lixo, dentre eles o lixo orgânico

originado de frutas, verduras e legumes murchos, apodrecidos, amassados e danificados, que é

o foco da pesquisa.

No que tange às condições de armazenamento, os 3 supermercados participantes

possuem local de armazenagem adequados ao grau de perecibilidade dos produtos. Na

CEASA, os feirantes recebem os produtos na quinta feira e estes são acondicionados ao ar

livre em caixas de papelão, sacas e caixas de madeira para serem vendidos ao longo da

semana. Quanto às condições de transporte, esse fator não foi analisado a fundo.

A seguir apresentamos algumas imagens que mostram produtos FLV classificados

com perdas nos locais pesquisados.

Figura 2: Uvas apodrecidas

Fonte: Elaboração própria (2014)

Os principais produtos perdidos e mais relatados foram tomate, batata inglesa,

pimentão, manga, maçã, banana, maracujá, morango, folhagens, melancia, tangerina, mamão

e laranja.

O supermercado A informou os seguintes dados como percentual de perda para os

últimos três meses. Os dados a seguir são baseados no número de vendas.

Quadro 2: Perdas do supermercado A

PERCENTUAL DE PERDAS DE FLV- SUPERMERCADO A

MÊS PERCENTUAL

Agosto 3,50 %

Setembro 3,42 %

Outubro 3,16 %

Fonte: Elaboração própria (2014)

Quando perguntados sobre a destinação dessas perdas, o mesmo informou que os

produtos classificados como perda passam por uma nova seleção. A seleção classifica-os

como inúteis e reaproveitáveis. Os reaproveitáveis são destinados ao programa Mesa Brasil

SESC, enquanto aqueles inúteis são jogados no lixo. O gerente ainda ressaltou que menos da

metade dessas perdas são reutilizadas.

O supermercado B apresentou os seguintes dados como percentual de perdas. Esse

percentual também é relacionado às vendas.

Quadro 3: Perdas do supermercado B

PERCENTUAL DE PERDAS DE FLV- SUPERMERCADO B

MÊS PERCENTUAL

Agosto 2,93 %

Setembro 4,37 %

Outubro 6,44 %

Fonte: Elaboração própria (2014)

Ao questionarmos sobre a destinação, o supermercado informou que realiza

procedimento semelhante ao relatado pelo supermercado A em relação as suas perdas. A

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destinação das perdas classificadas como reaproveitáveis vão para a entidade Fazenda da Paz,

e o restante vai para o lixo. O gerente ainda solicitou que fosse esclarecido na pesquisa que o

restaurante do supermercado não reaproveita nada das perdas.

O supermercado C, somente nos informou os dados do mês de Outubro.

Quadro 4: Perdas do supermercado C

PERCENTUAL DE PERDAS DE FLV- SUPERMERCADO C

MÊS PERCENTUAL

Outubro 4,20 %

Fonte: Elaboração própria (2014)

Relatou ainda que não faz nenhum tipo de doação, e que todas as perdas são

direcionadas ao lixo. Ele informou também que o restaurante interno da loja faz o

reaproveitamento dessas perdas.

Os supermercados relataram também que seus clientes têm certa influencia nas perdas,

já que é comum encontrar maçãs mordidas, cascas de banana espalhadas, uvas esmagadas,

melancias quebradas, tangerinas pela metade, dentre outros.

Quando perguntados sobre o método de compostagem de lixo orgânico, a resposta foi

unanime. Todos afirmaram não ter conhecimento do método.

A administração da CEASA- PI não foi localizada para o fornecimento de dados. Daí

os feirantes foram entrevistados diretamente. Os feirantes entrevistados declararam que eles

não possuem um controle de perdas de FLV, ao mesmo tempo em que informaram que existe

um grande numero de perdas de produtos e que estas perdas passam por uma seleção e os que

ainda podem ser reaproveitados são doados para casas de apoio como Lar de Maria, Abrigo

São Lucas e Fazenda da Paz e o programa Mesa Brasil do SESC. Os que não podem mais

serem reaproveitados são doados a criadores de animais.

Os dois maiores grupos de venda e distribuição de FLV afirmaram que possuem um

sistema de controle de perdas. Os grupos informaram que mensalmente, após a separação dos

reaproveitáveis, são jogados de 10% a 15% de laranja e de 5% a 7% de batata inglesa

diretamente no lixo. Esses percentuais representam 15000 quilogramas de laranja e 5000 de

batata de cada grupo. Conforme relatado acima, abaixo seguem figuras que mostram perdas

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causadas pelos clientes.

Figura 3: Tangerina descascada

Fonte: Elaboração própria (2014)

5 Conclusões

A partir da análise dos dados pode-se concluir que os consumidores de FLV não

manuseiam adequadamente os produtos, não se preocupando com a integridade deles. Isso

demonstra sua falta de consciência com o meio ambiente e com o desperdício de alimentos

gerando números significativos de perdas de frutas, verduras e legumes que são expostos nos

pontos de vendas.

Quanto à preocupação, dos entrevistados, em fazer uma destinação adequada dessas

perdas o trabalho nos permite declarar que os mesmos somente fazem as doações para o Mesa

Brasil e para os abrigos porque estes vão até os pontos de vendas solicitarem esses produtos.

Os responsáveis por esses pontos de vendas demonstram falta de conhecimento sobre a

destinação adequada desses resíduos e também sobre o método de compostagem.

Os participantes se mostram preocupados com o número alto desses produtos

perdidos, porém o que nota-se é que não há nenhuma ação voltada para a minimização dessas

perdas ainda na fonte. Os maiores grupos vendedores da CEASA se mostram conformados

com os 15000 quilogramas de produtos jogados no lixo.

O objetivo, de verificar a quantidade de perdas de FLV e a destinação desses resíduos,

foi alcançado, e fica como sugestão um trabalho voltado para a implementação de um

programa de redução dessas perdas ainda na fonte, para que a doação não seja a única

solução.

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REFERÊNCIAS

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ABNT. NBR 10.006: (2004). Procedimentos para a obtenção de Extratos Solubilizados de Resíduos Sólidos. Rio

de Janeiro: ABNT, 3 p.

ABNT. NBR 10.007: (2004). Amostragem de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: ABNT, 25 p.

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Elsevier, 2013. 1 ed.

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Ciências Econômicas)- Centro Sócio-Econômico, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2007.

ARAUJO, A.F. A aplicação da metodologia de produção mais limpa: estudo em uma empresa do setor de

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Catarina, Florianopólis,2002.

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Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais (SIMPOI), São Paulo, SP. Anais

eletrônicos.... São Paulo: FGV-EAESP, 2006. Disponível em:

<http://www.varejosustentavel.com.br/painel/dbarquivos/dbanexos/1_logsticareversacomoalternativadeganhopar

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