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Fundação José Silveira2 Revista FJS em Ação 3

José Silveira, honra e glória da Bahia e do Brasil

Geraldo Leite

Quando eu era estudante na Faculdade do Terreiro de Jesus, ve-

tusto berço da medicina brasileira, a tisiologia não fazia parte do

tirocínio médico. O professor José Silveira era docente livre e mi-

nistrava aulas, a convite dos catedráticos, em diversas disciplinas.

Somente em 1952, quando fui eleito presidente da Associação

Bahiana de Medicina, Regional de Feira de Santana, me aproxi-

mei do inesquecível mestre. Durante minha gestão, o professor

José Silveira – sempre acompanhado de D. Ivonne – me presti-

giou visitando Feira de Santana, Santo Amaro, Cachoeira e São

Felix, para proferir conferências e coordenar mesas redondas

em congressos, simpósios e painéis. Nessas oportunidades, es-

pargiu, com natural simplicidade, vasto conhecimento sobre

assuntos da medicina, os mais diversos.

Contato mais íntimo ocorreu quando passei a integrar o corpo

docente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e, logo

depois, quando fui admitido como membro titular da Acade-

mia de Medicina da Bahia.

Esse convívio enriquecedor se tornou ainda mais acentuado

quando fui conduzido, concomitante ou sucessivamente, à

presidência da Fundação Universidade de Feira de Santana, rei-

tor da UEFS, conselheiro da Fundação Bahiana para Desenvol-

vimento das Ciências, do Instituto Brasileiro de Oftalmologia e

Prevenção da Cegueira, e diretor da Escola Bahiana de Medi-

cina e Saúde Pública. Quando atingi esse último posto, atendi

seu chamamento e passei a integrar o Conselho de Curadores

da Fundação José Silveira.

Elevado à categoria de discípulo e amigo, passei a frequentar,

com assiduidade, sua residência e seu gabinete no IBIT, para

buscar conselho e orientação.

Por toda parte onde andei e em todos os cargos que ocupei, o pro-

fessor Silveira esteve a meu lado, como mestre, amigo e conselheiro.

D. Ivonne, de igual modo, sempre me dispensou sempiterno e

respeitoso carinho.

A este casal maravilhoso dediquei o melhor dos meus senti-

mentos: amizade e devoção, as mais sinceras.

Presidente do Conselho de Curadores da

Fundação José Silveira

Fundação José Silveira4 Revista FJS em Ação 5

É, pois, com alegria que, na qualidade de presidente do Conse-

lho de Curadores da Fundação José Silveira, tenho a satisfação

de apresentar esta publicação comemorativa dos 75 anos de

criação do IBIT.

Ao assim proceder, louvo, em meu nome e em nome do Con-

selho de Curadores, o profícuo e valoroso trabalho da superin-

tendente, D. Leila Brito, de seus colaboradores imediatos e de

todos, do mais humilde ao mais graduado, que fazem parte

desta família que tem no professor José Silveira um exemplo de

trabalho, honradez e dignidade.

Os que compulsarem esta revista encontrarão depoimentos de

personalidades representativas do mundo científico e cultural,

todas elas exaltando a pessoa e a obra de um baiano ilustre,

honra e glória da Bahia e do Brasil.

Ao rememorar fatos importantes da minha vida, saúdo o IBIT,

célula mater da Fundação José Silveira, em comemoração aos

75 anos de sua criação.

38 IBR presta assistência completa

9 Exemplo nacional na luta anti-tuberculose

34 Programa Saúde e Cidadania promove o bem-estar integral

ÍNDICE

HISTÓRIA DESUCESSO

REABILITAÇÃO ESPECIALIZADA38

33 IBIT tem os melhores indicadores

15 Instituição perpetuada em bases sólidas

11 Inauguração da sede atual

12 Assistência médico-social 28 Na rota da modernidade

32 Papel de destaque do Conselho de Curadores

NO ALVO DA TUBERCULOSE

GALERIA

ÊXITO EMPRESARIAL

3316

28

44 Ação social firmada na sustentabilidade

40 Compromisso e responsabilidade social

MODELO DEEFICÁCIA44AÇÃO

CIDADÃ40

9

MAIS QUALIDADE DE VIDA 34

Ano 1 I nº 1 I fev/2013

Revista FJS em Ação 7

EDITORIAL

Leila BritoSuperintendente da Fundação José Silveira

O lançamento da revista comemorativa dos 75 anos da Funda-

ção José Silveira tem a finalidade de fazer um balanço da evo-

lução desta extraordinária obra que nasceu a partir da firmeza

de propósitos e de ideais de um homem que honra a Bahia e

os baianos, o professor José Silveira. A este venerado mestre na

arte médica e na vida, comprometido com a causa social em

benefício dos mais necessitados, dedicamos nossa eterna grati-

dão e nossos esforços em prol do desenvolvimento sustentável

do legado da Fundação José Silveira.

A linha editorial desta publicação foi concebida de forma a re-

tratar a trajetória histórica desta instituição, que ultrapassou

sete décadas em plena expansão, a despeito dos intensos de-

safios estruturais nas áreas de saúde e de assistência social. A

Fundação José Silveira vem expandindo sua atuação além das

fronteiras da capital baiana, levando às comunidades interiora-

nas tão carentes de serviços básicos a oferta de atendimento

gratuito, com ênfase na promoção da vida saudável e no exer-

cício da cidadania e da inclusão social.

Com um acervo médico-científico e social reconhecido inter-

nacionalmente, baseado, sobretudo, na obra do seu fundador,

a Fundação José Silveira está em plena maturidade gerencial.

Nos capítulos a seguir, está uma síntese dos passos iniciais até a

concretização dos empreendimentos e das fontes de sustenta-

ção e dos projetos que constituem a razão de ser da nossa insti-

tuição. Vale ressaltar que toda esta construção bem sucedida é

fruto de uma equipe integrada, constituída por colaboradores

qualificados e empenhados em dar o melhor de si, e do cons-

tante apoio do Conselho de Curadores. O perfil de comprome-

timento dos valores humanos da Fundação é algo que muito

nos orgulha como gestores desta obra valorosa.

O rigor com as melhores práticas, veladas pelo Ministério Pú-

blico estadual, e a excelência gerencial, firmada no planejamen-

to estratégico, são aspectos que referendam a Fundação José

Silveira como uma instituição de destaque em seu segmento.

Atualmente, gerenciamos um conjunto de unidades próprias

que apresentam indicadores favoráveis de desempenho e tam-

bém levamos nossa expertise para o desenvolvimento de ações

e programas em parceria com entidades governamentais locais

e de outros estados.

Edificamos, ao longo destes 75 anos, um acervo de unidades e

programas que primam pela qualidade assistencial. Com este

portfólio, a Fundação José Silveira obteve o reconhecimento

junto à opinião pública e vem colaborando com a reestrutura-

ção e a otimização de unidades hospitalares e de serviços assis-

tenciais. Sempre com a disposição de salvaguardar os interesses

da população que depende da assistência gratuita, seja filantró-

pica ou através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por tudo o que construímos ao longo de 75 anos, o mo-

mento é de celebrar e de renovar os compromissos com a

nossa missão humanitária, com foco no bem maior, o valor

da vida humana.

Expediente

AdministraçãoPresidente do Conselho de Curadores Geraldo Leite

Vice-presidente Fernando Pedroza

Superintendente Leila Brito

Assessor Institucional Carlos Alberto Dumet Farias

Gerente da Unidade Assistencial de Saúde Monica Ribeiro Moreira

Gerente da Unidade de Segurança e Meio Ambiente Luiz Roberto Reuter

Gerente Administrativo da Unidade de Saúde Laura Queiróz

Gerente Técnico da Unidade de Saúde Sílvio Vasconcelos

Gerente de Comunicação Robert Batalha

Ficha Técnica Revisão de conteúdo Geraldo Leite Ione Ramos Pinheiro

Edição  Gabriela Rossi (MTB 1417)

Revisão textual Ana Luz

Fotografia Gilberto Melo Ourisval Filho (parede) Rodrigo Carreiro Frederico Nogueira Arquivo FJS

Acervo documental Centro de Pesquisa da FJS

Apoio Maria de Fátima Cardoso Ourisval Filho (parede) Frederico Nogueira Amanda Aragão

Projeto gráfico e diagramação Elton Carlos R. de Almeida

Impressão Luripress (4.000 exemplares)

MEMÓRIA

DEPOIMENTOS

ARTIGOS46

49

7246 Entrevista com Dr. Norberto Odebrecht

49 Saudações pelos 75 anos de sucesso

53 José Silveira em prefácios e preâmbulos

57 Uma pequena história sobre um grande homem

59 Uma boa questão é o melhor começo

60 A concretização de um significativo ideal

72 Participação de JoséSilveira na Academiade Medicina da Bahia

81 O papel daFundação José Silveira

76 A tuberculose

82 Participação do IBIT na pesquisa da tuberculose (I)

64 Um herói na luta contra a tuberculose

67 Exemplo que honra a Bahia

68 Parceiros na filantropia

70 Centenário de nascimento de José Silveira (1904-2004)

Fundação José Silveira8 Revista FJS em Ação 9

Em 1935, a cidade de Salvador ostentava uma das mais eleva-

das taxas de mortalidade por Tuberculose, com uma propor-

ção de 400 mortes por 100.000 habitantes. A situação era con-

siderada calamitosa: a Bahia era um dos estados que lideravam

a incidência da doença.

Movido pelo ardor humanitário de reverter esse quadro e com-

bater a enfermidade, o jovem médico José Silveira fundou, no

dia 21 de fevereiro de 1937, o Instituto Brasileiro para Investi-

gação da Tuberculose – IBIT, obra de referência internacional.

Aos 31 anos de idade, José Silveira partiu em viagem para a Eu-

ropa, a fim de proferir conferências em Universidades da Ale-

manha e da Suíça, ocasião em que encontrou o Professor Lu-

dolf Brauer, uma das maiores expressões da Tisiologia mundial,

vítima da perseguição do nazismo, o qual solicitou ao amigo

Silveira que criasse um Instituto nos moldes do que ele havia

implantado na Alemanha, para agir na luta anti-tuberculose no

Brasil. Tão logo regressou ao Brasil, atendendo ao pedido do

amigo, o professor José Silveira criou o IBIT. Para tanto, contou

com o apoio do mestre alemão.

Exemplo nacional na luta anti-tuberculose

HISTÓRIA DE SUCESSO

Professor Ludolf Brauer, destaque mundial na

Tisiologia, incentivou a criação do IBIT

Ao ser diplomado, Dr. José

Silveira seguiu o caminho da

pesquisa e da medicina em

benefício dos mais necessitados

Com a esposa e companheira de todas as

horas, Dona Ivonne Silveira

Fundação José Silveira10

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 11

HISTÓRIA DE SUCESSO

José Silveira manteve o seu ideal, mesmo enfrentando as mais

inóspitas condições. Durante nove anos, o IBIT permaneceu em

três salas do subsolo do Ambulatório Augusto Viana, no Cane-

la, pertencente à Faculdade de Medicina da Bahia. Desde seus

primórdios, a instituição teve o apoio de uma gestão colegiada,

firmada em um Conselho consultivo integrado por renomados

profissionais da medicina, tendo como presidente o professor

Edgard do Rego Santos (diretor da Faculdade de Medicina da

Bahia) e vice-presidente Dr. César de Araújo (diretor da Inspe-

toria de Tuberculose). Contou também com o entusiasmo e

a dedicação de colegas, como Claudelino Sepúlveda, Vidal da

Cunha, João Rodrigues Dória, José Figueiredo, Heitor Marback,

Codes y Sandoval, Oswaldo Gomes, Hélio Simões, José Coelho

dos Santos, Carlos Passos, Oswaldo Alves, Manços Chastinet e

Jorge Carvalho.

A primeira geração médica do IBIT foi formada no Ambulató-

rio do Canela e, posteriormente, nas enfermarias Santa Rosa e

São Lázaro, do Hospital Santa Izabel, da Santa Casa de Miseri-

córdia da Bahia.

A partir da esquerda, os médicos Luis Seixas, José Stanchi, José Silveira, Itazil Benício dos Santos e Aloysio Durval, os primeiros da equipe do IBIT

A sede própria do IBIT

foi gradativamente am-

pliada para atender à

intensa demanda

Serviço Clínico-colapsoterapia

Inauguração da sede atual

O provedor da Santa Casa, desembar-

gador Genaro Pedreira, oficializou a do-

ação do terreno ao sopé do Cemitério

do Campo Santo, onde foi construída a

sede do Instituto, inaugurada no dia 29

de setembro de 1944. O prédio dispunha

de laboratórios (Bacteriologia, Patologia e

Análises Clínicas), consultórios médicos,

Serviços de Radiologia, Otorrinolaringo-

logia e de Expostos a Contágio, além de

Centro Cirúrgico, Auditório e Biotério.

A implantação da sede própria recebeu

o apoio de importantes personalidades,

entre as quais destacamos Neves da Ro-

cha, Landulfo Alves, Carlos de Aguiar

Costa Pinto, Arlindo de Assis, Walter

Buengeler, Manoel de Abreu, Milton

Fontes Magarão, Gumercindo Sayago,

Raul Vacarezza, Hector Baldó, Fernando

Gomez e Garcia Rosel.

Logo, o IBIT firmou convênio com a

Campanha Nacional contra a Tubercu-

lose e com a Secretaria de Educação e

Saúde da Bahia, na gestão do Dr. Anísio

Teixeira, o que facilitou a contratação de

pesquisadores estrangeiros. O Instituto

contou, a partir de então, com o reforço

de pesquisadores famosos, como Egon

Darzins, ex-diretor do Instituto de Bac-

teriologia de Riga (Letônia).

O aumento da demanda impulsionou a

necessidade de ampliação da Unidade,

obra inaugurada em 27 de janeiro de 1951.

Em conseqüência da grande incidência

de pacientes com afecções pulmona-

Fundação José Silveira12

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 13

HISTÓRIA DE SUCESSO

res e cardíacas, foram implantados

os consultórios de Pneumologia e

Cardiologia e criado o Serviço de

Provas Funcionais Cardiorrespira-

tórias. Ao Serviço de Expostos a

Contágio, acrescentou-se a Vacina-

ção BCG, e ao Serviço de Otorrino-

laringologia, a Broncoscopia.

Passou-se, então, a contar com as vi-

sitas importantes de especialistas do

Brasil e estrangeiros, entre os quais

destacamos Gertrud Meissner, Fran-

çoise Grumbach, Noel Rist, Georges

Cannetti, Elizabeth Gheno, Hubert

Bloch, Abel Centrangolo, Victor Lo-

rian, Karl Bartmann, Richard Urban-

czik, Wolfgang Göesner, Armin Krebs,

Egon Darzins e Arlindo de Assis, esse

último considerado introdutor da va-

cinação BCG no Brasil.

O IBIT é a célula mater da Fundação

José Silveira. Nele foram realizados

cursos, conferências, trabalhos ori-

ginais de pesquisa, atividade clínico-

ambulatorial e intensa assistência

médico-social. Os trabalhos de

pesquisa estão publicados nos AR-

QUIVOS BRASILEIROS DE TUBER-

CULOSE (revista oficial do IBIT) e em

outras revistas indexadas no Brasil e

no exterior.

Além da produção científica, tra-

duzida e publicada em importantes

periódicos estrangeiros, o professor

José Silveira notabilizou-se, também,

como conferencista e memorialista.

Assistência médico-social Ao longo de 75 anos de serviços inin-

terruptos, o IBIT vem prestando aten-

dimento gratuito a milhares de pessoas

acometidas pela Tuberculose. A insti-

tuição sempre foi referência no cenário

O trabalho social do IBIT contou, desde o prin-

cípio, com a atuação de Dona Ivonne Silveira

na linha de frente e prossegue, nos dias de

hoje, em benefício das comunidades de baixa

renda da capital e do interior do estado

nacional pelos indicadores de cura, os

quais estão muito além dos índices pre-

conizados pela Organização Mundial

de Saúde (OMS).

A abordagem médico-social é uma das

causas abraçadas pelo IBIT, desde sua

origem, através da liderança notável de

D. Ivonne Silveira, esposa do professor

José Silveira. Ela foi exemplo de incansá-

vel zelo pelo bem das famílias atingidas

pela Tuberculose, liderando a assistência

à essa parcela mais carente da popula-

ção. Sob sua presença inspiradora, con-

solidou-se, ao longo do tempo, o traba-

lho social do IBIT, o qual permanece até

os dias de hoje, tal como foi delineado

pela assistente social Maria Amélia Leite,

em 1952.

De acordo com Maria Amélia Leite, “a

Tuberculose é uma das maneiras dis-

farçadas de se morrer de fome.” (Josué

de Castro, Alimentação e Raça, vol. 5,

Civilização Brasileira, pag. 106- 1936).

Fundação José Silveira14

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 15

HISTÓRIA DE SUCESSO

antigo “Hospital do Tórax” em um hospital geral, com ma-

ternidade e serviços cirúrgicos especializados.

Como parte desta visão estratégica, ganharam impulso o

Laboratório José Silveira, o Centro Médico Álvaro Lemos e a

Unidade de Segurança e Meio Ambiente. O conjunto arquite-

tônico da FJS foi totalmente revitalizado e reformado. Em re-

conhecimento ao relevante papel desempenhado pelo ilustre

empresário, a ele foi conferido pelo Conselho de Curadores

da FJS a Medalha do Mérito, em 1984. Esta fase perdurou até

2008, quando o referido empresário afastou-se do Conselho de

Curadores da Fundação José Silveira.

A cultura organizacional consolidada se caracterizou pelo forta-

lecimento das lideranças, incentivo à geração de resultados favo-

ráveis e cumprimento de metas, além de prioridade para com a

melhoria da qualidade no ambiente de trabalho. Foi nesse terre-

no fértil que a Fundação José Silveira imprimiu um novo ritmo de

crescimento, com olhos voltados para o futuro.

maiores, senão o maior problema da vida

da pessoa com tuberculose, problema que

é também da comunidade, sob cujos om-

bros repousa a onerosa responsabilidade

de solucioná-lo. Foi com esse propósito,

convencida da necessidade que tem a as-

sistente social médica de conhecer a do-

ença de seus clientes, que frequentamos

aulas sobre Tuberculose ministradas no

IBIT e nos procuramos inteirar junto aos

médicos dos aspectos clínicos dos casos”.

O IBIT, desde a sua fundação, vem

cumprindo seu papel, colaborando em

ações diversas junto a entidades como

as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID),

Instituto dos Cegos da Bahia, Serviço

Social do Comércio (SESC), Serviço Na-

cional do Comércio (SENAC), Serviço

Nacional da Indústria (SENAI) e Funda-

ção Santa Terezinha.

Graças a essas diretrizes, foi instituído o

Programa de Controle da Tuberculose o

qual apresentou, em 2011, um índice de

cura da ordem de 90% e um percentual

de abandono em torno de 1,5%.

“Efetivamente, a subnutrição, a habi-

tação precária e anti-higiênica, o ex-

cesso de trabalho ou o seu exercício

em ambientes malsãos são fatores que

diminuem a resistência do organismo

e o tornam campo propício ao bacilo

de Koch. Doença crônica e contagiosa,

a Tuberculose obriga o seu portador a

afastar-se por muito tempo do trabalho,

fazendo-o, assim, perder o seu salário ou

sofrer restrições e limites que ainda difi-

cultam mais os problemas de sua vida e

manutenção. Por tudo isso, a insegurança

e deficiência financeira se tornam um dos

O tripé que norteia a atuação da Fun-

dação José Silveira pode ser resumido na

preservação da Memória, do Ensino e da

Pesquisa. A assistência médico-social é

consequência deste tripé.

Conforme assinala Peter Drucker, mes-

tre da administração moderna, “a me-

lhor maneira de prever o futuro é criá-

lo”. Dessa maneira, foi forjado o destino

da Fundação, mediante o compromisso

e o profissionalismo daqueles que não

mediram esforços em solidificar a obra.

Ao final da década de 70 e início de 80,

período em que o IBT enfrentava séria

crise financeira, o grupo empresarial baiano capitaneado pelo

Dr. Norberto Odebrecht, conceituada liderança do setor priva-

do da Bahia, prestou valiosa ajuda, estabelecendo novas dire-

trizes administrativas. Com um olhar voltado para a susten-

tabilidade, o processo de gestão liderado pelo Dr. Norberto

Odebrecht teve por base a implantação de centros de resul-

tados, ou seja, a otimização do desempenho de cada uni-

dade e serviço. Dentro desta filosofia, uma das iniciativas

de impacto extremamente favorável foi a transformação do

Instituição perpetuada em bases sólidas

Atual equipe de gestores da Fundação José Silveira

Entre as modernas unidades, está o Laboratório José Silveira

Mais de sete décadas de atuação em prol da saúde dos baianos

Revista FJS em Ação 17

HISTÓRIA DE SUCESSOGALERIA

Unidos no amor e na luta médico-social, Dr. José

Silveira e Dona Ivonne Silveira, sempre dedicada

aos cuidados em prol dos mais carentes

Lançamento da pedra fundamental da Clínica das Doenças do Tórax,

com a presença do então governador, Juracy Magalhães

Fundação José Silveira18

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 19

HISTÓRIA DE SUCESSO

Médicos, profissionais de saúde e figuras de projeção na Bahia prestigia-

ram o lançamento da pedra fundamental do Hospital do Tórax

Fundação José Silveira20

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 21

HISTÓRIA DE SUCESSO

Grande benfeitor do IBIT, Dr. Carlos Costa Pinto

foi condecorado pela instituição

O ex-presidente Juscelino Kubitschek presidiu a abertura do XI Congresso

Panamericano de Tuberculose, presidido pelo professor José Silveira

Prefeito Cleriston Andrade, professor José

Silveira e o então governador, Antonio

Carlos Magalhães, na inauguração do Centro

Cirúrgico de Cardiologia do Hospital do Tórax

Dr. Ludolf Brauer em visita à

Faculdade de Medicina da Bahia

Fundação José Silveira22

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 23

HISTÓRIA DE SUCESSO

Professor José Silveira ao lado do professor

Arlindo de Assis e do professor Gumercindo

Sayago, da Argentina, um dos nomes de projeção

internacional presentes nos congressos e eventos

científicos sobre Tuberculose sediados na Bahia

Na mesa oficial do lançamento da Campanha de Combate ao Fumo na Bahia,

as presenças dos professores José Rosemberg (SP), José Silveira (BA) e Cid

Teixeira (BA), Jayme Santos (ES), Newton Bethlen (RJ) e José Feldman (MG)

Dr Paulo Bittencourt, primeiro

diretor do Hospital Santo Amaro,

e o professor José Silveira

Fundação José Silveira24

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 25

HISTÓRIA DE SUCESSO

O ex-prefeito Antonio

Imbassahy inaugurou o busto

do Professor José Silveira, na

praça a ele dedicado, em frente

ao Hospital Santo Amaro

O IBIT tem sido prestigiado por

visitantes ilustres, como o ex-

ministro da saúde, Mário Pinotti

A partir da esquerda, professor Ruy Simões, professora Dra. Maria Theresa

Pacheco e Dr. Álvaro Lemos, na inauguração do memorial do IBIT

Dr. Prado Valadares, mestre

do professor José Silveira,

em sua formação médica

Fundação José Silveira26

HISTÓRIA DE SUCESSO

Revista FJS em Ação 27

HISTÓRIA DE SUCESSO

Por sua qualificação, o IBIT participou do processo de organização do cadastro abreugráfi-

co nacional, realização do Ministério da Saúde sob a coordenação do professor Noel Nutels

Fundação José Silveira28 Revista FJS em Ação 29

ÊXITO EMPRESARIAL

Investir na qualidade das instalações é prioridade

O acerto das atividades administrativas de Leila Brito

merece o louvor do Conselho de Curadores

O trabalho desenvolvido na Superinten-

dência projetou Antonio Brito nos cená-

rios nacional e internacional: presidente

do Conselho Nacional de Assistência So-

cial, Conselho Municipal de Assistência

Social de Salvador, Sindicato dos Hos-

pitais Filantrópicos da Bahia, Federação

das Santas Casas, Hospitais e Entidades

Filantrópicas da Bahia, Confederação

das Santas Casas do Brasil e Confede-

ração Mundial das Santas Casas. Depu-

tado Federal, fundou e presidiu a Frente

Parlamentar de Apoio às Santas Casas e

Hospitais Filantrópicos e a Frente Parla-

mentar de Combate à Tuberculose.

Mesmo licenciado do Conselho de Cura-

dores, Antonio Brito continuou apoian-

do os projetos e programas da FJS. Como

secretário municipal do Trabalho e Ação

Social, promoveu parceria com o Ministé-

rio Público Estadual, colocando em prá-

tica o Programa Salvador Cidadania, que

realizou milhares de atendimentos na ca-

pital e interior. Eleito deputado federal, foi

sucedido na Superintendência da FJS por

Leila Brito. A nova superintendente foi

eleita em 2009 pelo Conselho de Cura-

dores, presidido pela Profª. Maria Theresa

de Medeiros Pacheco. Pós-graduada em

Administração Hospitalar pela Univer-

sidade Federal da Bahia, ingressou na

FJS em 1992 como estagiária do Projeto

Calabar. Por seu desempenho, assumiu a

Na rota da modernidade

ÊXITO EMPRESARIAL

Coordenação de Assistência Social. No

projeto Saúde e Cidadania, iniciou um

movimento itinerante utilizando Unida-

As feiras de saúde e o trabalho itinerante das Unidades Móveis têm levado serviços

e atendimentos gratuitos para diversos municípios baianos

bens. Além de manter as ações anterior-

mente executadas, implementou a atu-

ação nas áreas de Consultoria Ambien-

tal e Gestão Terceirizada de Unidades e

Serviços de Saúde. Ampliou o Programa

Bem Nutrir, distribuindo pão e leite

de soja a outras instituições sociais,

aumentou a adesão ao tratamento da

Tuberculose, beneficiando milhares de

pessoas. Estendeu as ações preventivas

de Educação e Saúde às comunidades

com maior incidência da doença, na

capital e no interior. Sua principal atua-

ção foi na área social, ampliada e estru-

turada em sua gestão.

O falecimento do professor José Silveira,

ocorrido em 3 de abril de 2001, foi um

desafio para manter a FJS na rota da mo-

dernidade. Ao assumir, naquela época, o

comando da Instituição, tão bem ampa-

rada pelo seu Conselho de Curadores,

Antonio Brito se deparou com um ce-

nário desafiante, marcado pela escassez

de recursos, problema enfrentado pelo

setor filantrópico em geral. Seguindo o

exemplo do professor José Silveira, Ma-

noel Ezequiel da Costa e Álvaro Pinhei-

ro Lemos, colocou também seu nome

a serviço do saneamento financeiro da

Fundação, hipotecando seus próprios

Coube a Antonio Brito, liderança nacional

do setor filantrópico, assegurar a continui-

dade e a expansão da obra do professor

José Silveira, após o seu falecimento

Fundação José Silveira30 Revista FJS em Ação 31

A estrutura e o porte da Fundação José Silveira vêm crescendo bastante ao longo de mais de

sete décadas, a exemplo do que acontece com o Hospital Santo Amaro

Fundação José Silveira32

ÊXITO EMPRESARIAL

Revista FJS em Ação 33

se (PCT) desenvolvido pelo IBIT dispo-

nibiliza assistência médica nas áreas de

Clínica Médica, Pediatria, Tisiopediatria,

Pneumologia e Tisiologia, além do aten-

dimento de Enfermagem e Serviço So-

cial. É exemplo para

o estado da Bahia em

função de seu mode-

lo de suporte integral

ao paciente. Além do

tratamento médico,

realização de exames

radiológicos e labo-

ratoriais, distribuição

de medicamentos aos

portadores da doença,

são concedidos benefí-

cios ao paciente duran-

te o tratamento, tais

como complemento

alimentar (pão e leite

de soja) e cestas básicas. Este apoio contri-

bui para a adesão ao tratamento e impacta

de forma significativa no índice de cura.

des Móveis equipadas com consultó-

rios a fim de prestar assistência médica

nos mutirões e feiras de saúde realiza-

dos em diversos bairros de Salvador e

cidades do interior. O Projeto Saúde e

Cidadania oferece também educação

preventiva e amparo social, contabili-

zando cerca de um milhão de pessoas

atendidas no estado da Bahia.

Sob a gestão de Leila IBrito, a Fundação

José Silveira vivencia a plenitude de sua

maturidade e a experiência de 75 anos

de existência. O acerto de suas ativida-

des administrativas, a transparência, a

seriedade de suas práticas gerenciais, o

entrosamento das lideranças sob seu

comando, o clima de integração e o

sadio companheirismo que reina em to-

dos os setores da Fundação merecem o

louvor do Conselho de Curadores, a ad-

miração da comunidade e o respeito de

seus colaboradores.

O Conselho de Curadores da Fundação

José Silveira – presidido por Dr. Geral-

do Leite e composto pelos Conselhei-

ros Fernando de Souza Pedrosa, Júlio

Mesquita de Oliva, Gecilda Coutinho

Fernandes Serafim, Claudelino Miran-

da, Jairo Macedo Maia, José Antônio de

Almeida Souza, Marcelo Roberto Mo-

nello e Thais Dumet Faria – continua a

tradição de Conselhos anteriores, e vem

acompanhando o desenvolvimento da

Instituição, dando o necessário apoio às

decisões da Superintendência.

Vários presidentes-médicos têm contri-

buído de modo significativo, com seu

prestígio profissional e intelectual, para

a grandeza da obra criada pelo professor

José Silveira, a começar pelo primeiro de-

les, professor Fernando São Paulo.

O atual Conselho vem dando apoio à

Superintendência no cumprimento das

Papel de destaque do Conselho de Curadores

metas a serem alcançadas, especialmen-

te no que se refere ao resgate da atuação

do IBIT nas áreas de pesquisa e ensino. O

Centro de Pesquisas foi reativado e di-

versos projetos estão em andamento. A

mais recente realização foi o III Encontro

Internacional sobre Pesquisa em Tuber-

culose, que contou com a participação

NO ALVO DA TUBERCULOSE

IBIT tem osmelhores indicadoresAtualmente, o IBIT atende de 11% a

13% dos casos de Tuberculose notifica-

dos em Salvador, terceira maior cidade

do país. O índice de cura alcançado

pelo Programa de Controle da Tu-

berculose é de 90%,

o de abandono do

tratamento é de 1,5%.

Os percentuais preco-

nizados pelo Ministé-

rio da Saúde são 85%

para o índice de cura e

até 5% para o de aban-

dono de tratamento.

Em consequência dos

resultados obtidos pelo

IBIT, a Prefeitura Muni-

cipal da Cidade de São

Paulo firmou, em 2012,

convênio de coopera-

ção técnica com a Fundação José Silveira.

Segundo estatísticas da Organização

Mundial de Saúde (OMS), o Brasil encon-

tra-se entre os 22 países que concentram

80% do total de casos de Tuberculose.

Levantamento do Ministério da Saúde

coloca a Bahia no 9º lugar em número

de casos no Brasil, enquanto Salvador

está na 5ª colocação entre as capitais bra-

sileiras. Doença curável, a Tuberculose é

ainda responsável pela morte de 4.600

brasileiros, em média, a cada ano.

O Programa de Controle da Tuberculo-

O IBIT é referência internacional no combate à Tuberculose

de pesquisadores, especialistas e repre-

sentantes das três esferas do governo,

reunidos para fomentar, divulgar e esti-

mular a pesquisa científica.

Dr. Geraldo Leite, presidente atual Professor Fernando São Paulo,

primeiro presidente

Fundação José Silveira34 Revista FJS em Ação 35

MAIS QUALIDADE DE VIDAMAIS QUALIDADE DE VIDA

Programa Saúde e Cidadania promove o bem-estar integral

É dever do Estado garantir a saúde de todos, porém são fun-

damentais o apoio e a participação do chamado Terceiro Se-

tor que, por suas características e ações de servir à socieda-

de e contribuir para a garantia de direitos do acesso à saúde,

atende às demandas reprimidas da sociedade. O programa

Saúde e Cidadania: Estratégias de Ação Integrada para o Ter-

ritório Bahiano (PSC) surgiu no ano de 2011, com a unificação

dos programas Bem Nutrir, Salvador Cidadania e Bahia, Saúde

e Cidadania. O intuito desta fusão é otimizar os resultados e

potencializar os atendimentos, integrando as áreas de Saúde,

Fundação José Silveira36

MAIS QUALIDADE DE VIDA

Revista FJS em Ação 37

MAIS QUALIDADE DE VIDA

A Fundação mantém uma unidade de produção de leite e pão de soja, em benefício de milhares de pessoas

Programa Saúde e Cidadania disponibiliza à população

serviços e orientações para a saúde bucal

Cidadãos de baixa renda recebem gratuitamente pão e leite de soja como complemento alimentar

Segurança Alimentar e Nutricional e De-

senvolvimento Social.

No eixo Segurança Alimentar e Nutri-

cional, o Programa conta com suporte

da Unidade Produtora de Leite de Soja

Fernando d Almeida, que produz, apro-

ximadamente, 1.500 litros de leite de

soja/dia, e a Padaria José Roberto Vaz Fa-

gundes, que produz 5.000 pães de soja/

dia, em média. Toda a produção é dire-

cionada a suprir comunidades carentes.

Para se ter uma ideia do alcance do Pro-

grama, foram realizados nada menos

que 594.846 procedimentos durante o

ano de 2011. As atividades são efetua-

das em áreas de vulnerabilidade social

da capital baiana. Além de Salvador, o

Programa possui núcleos de atendimen-

tos nos municípios de Camaçari, Simões

Filho, Muritiba e Jequié, e realiza ações

de saúde em diversos outros municípios

do estado. Também promove feiras e

mutirões que propiciam maior acesso

da população aos serviços de saúde. Os

critérios considerados para definição

dos municípios contemplados são: Índi-

ce de Desenvolvimento Humano (IDH),

vulnerabilidade social de determinados

territórios, ausência de gestão plena

de saúde, entre outros. Durante essas

ações, busca-se adequar as especialida-

des às demandas. Além das especialida-

des oferecidas nas Unidades Móveis de

Saúde em Salvador, foram agregadas ou-

tras, tais como: Cardiologia (com exame

de ECG), Oftalmologia, Ortopedia, Der-

matologia e Mamografia. Para prestar

atendimento ao maior número possível

de cidadãos residentes nos municípios,

são acionadas três Unidades Móveis de

Saúde, que, juntas, somam seis consultó-

rios itinerantes. O Programa atuou em

188 organizações sociais de Salvador e

nos núcleos de atendimentos em Muriti-

ba, Camaçari, Jequié e Simões Filho, além

de outros 28 municípios onde foram re-

alizados mutirões e feiras de saúde. Mar-

cou presença em diversos eventos em

sua área de atuação, entre os quais: Pro-

jeto Rádio Sociedade nos Bairros; Dia Na-

cional da Ação Voluntária/Fundação Bra-

desco; Dia da Valorização do Trabalhador

Doméstico, promovido pela Secretaria

do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte

da Bahia (SETER); Ação Global, promovi-

do pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e

outra ação promovida pelo SESI, direcio-

nada ao trabalhador da Construção Civil,

em parceria com o Sindicato da Indústria

da Construção Civil (SINDUSCON). Com

o objetivo de formar multiplicadores de

saúde para atuar nas comunidades em

Salvador, foram realizadas pela equipe de

enfermagem oficinas educativas em 32

creches comunitárias.

O Serviço de Odontologia disponibili-

zou, gratuitamente, diversos procedi-

mentos, incluindo: adequação ao meio

bucal, aplicação de selante, aplicação tó-

pica de flúor, capeamento pulpar, con-

sulta odontológica, exodontia, orien-

tação em higiene bucal, pulpotomia,

radiologia interproximal e periapical, ras-

pagem supra e subgengival, restauração

de resina fotopolimerizável, restauração

de ionômero de vidro, restauração tem-

porária, remoção de sutura e urgência

endodôntica. Ao longo do ano de 2011,

foram gerados 12.450 procedimentos

com cerca de 1.815 crianças e adoles-

centes beneficiados pelo Programa.

Fundação José Silveira38 Revista FJS em Ação 39

REABILITAÇÃO ESPECIALIZADAREABILITAÇÃO ESPECIALIZADA

A Fundação José Silveira assumiu um

dos mais instigantes e recompensado-

res desafios de sua história: a gestão do

Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR),

idealizado em 1956 pelo professor Fer-

nando Nova, com a finalidade de atender

a pessoas com disfunção motora. A FJS

foi contratada pelo governo estadual, em

2003, para cuidar da gestão e garantir a

sobrevivência do Instituto Bahiano de

Reabilitação (IBR). Em 2005, a fim de evi-

tar o encerramento de suas atividades, a

Fundação decidiu assumir a Instituição e

incorporá-la ao seu patrimônio.

Completamente modernizado e refor-

mado, o IBR foi contemplado com amplo

Centro Poliesportivo, que abriga piscina,

mini-academia, sala de dança e sala de

Pilates, onde são ministradas as ativida-

des de reabilitação. No complexo polies-

portivo são realizadas atividades diversas,

com destaque para o tênis e basquete

para cadeirantes, aulas de hidroginástica,

natação, pilates, circuito da terceira idade,

cinesioterapia e outras atividades, benefi-

ciando aproximadamente 530 pacientes.

Em 2011, a Unidade atendeu cerca de

4.700 pacientes, adultos e crianças, em

mais de 25 especialidades, através do Sis-

tema Único de Saúde (SUS), totalizando

216.297 procedimentos/ano.

IBR presta assistência completa

Desde 2007, a FJS mantém parceria para

intercâmbio técnico-profissional com a

Associação de Assistência à Criança com

Deficiência de São Paulo (AACD/SP), re-

ferência em programas para o bem-estar

de pessoas com deficiência física.

O IBR engloba, na sua rotina, o atendi-

mento às mais diversas patologias neu-

romotoras, inclusive mielomeningocele,

lesões encefálicas adquiridas e vítimas

de amputações, dando o necessário su-

porte aos familiares. Em sua Clínica de

Pós-operatório, atende a crianças com

paralisia cerebral submetidas à cirurgia.

Dispõe também de um Laboratório de

Integração Sensorial com elementos lú-

dicos. A Oficina Ortopédica oferece à

comunidade oportunidade para adqui-

rir órteses, próteses, calçados especiais e

adaptações, sob medida, a preços aces-

síveis, confeccionados por terapeutas

ocupacionais especializados. A produ-

ção da oficina cresceu 124% nos últimos

quatro anos.

Fundação José Silveira40 Revista FJS em Ação 41

AÇÃO CIDADÃAÇÃO CIDADÃ

Compromisso e Responsabilidade SocialCentro Pestalozzi de Reabilitação

Ao longo da última década, desde o fa-

lecimento do seu dirigente maior, a ação

social da FJS ampliou-se acentuadamente.

A iniciativa partiu de um entendimento

dos antigos dirigentes da Fundação Pes-

talozzi e de representantes do Conselho

de Curadores da FJS, com a chancela do

Ministério Público da Bahia.

Inspirada no modelo de gestão do Insti-

tuto Bahiano de Reabilitação, a Funda-

ção passou a gerenciar, desde outubro

de 2011, o Centro Pestalozzi de Reabi-

litação, localizado no bairro da Ribeira,

em Salvador.

Na solenidade de reinauguração, a FJS

apresentou à sociedade uma Institui-

ção totalmente revitalizada, inclusive

com a ampliação dos atendimentos

para a área de saúde, antes apenas vol-

tados para a educação.

Estruturada para realizar 5.500 proce-

dimentos/mês, o Centro Pestalozzi de

Reabilitação oferece atendimentos nas

especialidades de Neuropediatria, Físio-

terapia, Terapia Ocupacional, Psicologia,

Pedagogia, Dançaterapia e Serviço So-

cial. Oferece também Oficinas de Arte-

sanato e Artes.

Para oferecer uma assistência digna e de

qualidade, a partir de setembro de 2011,

a Fundação incorporou ao seu quadro de

colaboradores os funcionários que ainda

trabalhavam na Instituição. Visando à

ampliação do atendimento multidiscipli-

nar, foram admitidos novos funcionários.

Santa Casa Hospital São Judas Tadeu

A FJS, com responsabilidade social, vem

assumindo novos empreendimentos em

regiões interioranas. Em junho de 2012,

atendendo a solicitação do Governo do

Estado da Bahia, a Fundação inaugurou

a Santa Casa Hospital São Judas Tadeu,

totalmente construída com recursos

próprios, em benefício da população de

Jequié e região. O hospital conta com 30

leitos para internação de pacientes clíni-

cos e cirúrgicos e 10 leitos para pacientes

de partos normais. Foi estruturado de

modo a reforçar o atendimento aos pa-

cientes do Sistema Único de Saúde (SUS),

no município de Jequié e microrregião.

Um dos destaques do hospital é o aten-

dimento obstétrico, capaz de atender a

mais de 200 partos/mês em leitos com

acompanhamento integral às parturien-

Atividades no Centro Pestalozzi de Reabilitação promovem as condições para a saúde e o exercício da cidadania

Fundação José Silveira42

AÇÃO CIDADÃ

Revista FJS em Ação 43

AÇÃO CIDADÃ

tes, antes, durante e após a parturição.

Do conjunto de 40 leitos, 28 integram a

enfermaria; 2 leitos individuais são desti-

nados a isolamento. O nosocômio é do-

tado de uma sala cirúrgica para realização

de intervenções de pacientes ambulato-

riais, Serviço Auxiliar de Diagnóstico e Te-

rapia (SADT): Raio X, Ultrassonografia e

exames laboratoriais.

O Ambulatório, inaugurado em junho

de 2011, realizou, em menos de 1 ano,

20.000 atendimentos.

Ação Voluntária da FJS

O Programa Ação Voluntária da FJS,

inaugurado em 2009, tem como objeti-

vo estabelecer parcerias com os diversos

segmentos da sociedade a fim de am-

pliar ações complementares de saúde. O

desenvolvimento do Programa possibili-

ta à comunidade participar ativamente

da ampliação e manutenção de ações

desenvolvidas nas Unidades de FJS. Os

benefícios são dirigidos diretamente a

milhares de pacientes e seus familiares

através do resgate e valorização de aspe-

tos biopsicossociais. O Programa conta

com 23 voluntários que atuam no IBR

nas seguintes áreas: Reabilitação Infantil,

Reabilitação de Adultos, Brinquedote-

ca, Recepção e Central de Marcação de

Consultas. Entre os Projetos desenvolvi-

dos, destaca-se a Campanha Super-no-

ta, que se refere à arrecadação de notas

ou cupons fiscais através da Campanha

Sua Nota é um Show de Solidariedade,

promovida pelo Governo do Estado da

Bahia. Outra vertente de solidariedade é

a corrente em busca de mantenedores,

benfeitores da sociedade baiana dispos-

tos a fazer doações para sustentação e

ampliação da obra social da FJS. Outros

eventos (tal como Bazar Solidário) con-

tabilizam doações de roupas, sapatos

e brinquedos para comercialização em

valores acessíveis. A última edição do

Bazar Solidário contou com o apoio das

lojas Jorge Bischof, Maria Bonita e Maria

Filó, localizadas no Shopping Salvador.

No Shopping Barra, o Stand Rosa pos-

sibilitou a comercialização de peças

produzidas na Oficina Rosa, criadas pela

estilista Irá Sales.

A Santa Casa Hospital São Judas Tadeu é a primeira unidade do interior ligada à Rede Cegonha, voltada ao incentivo do parto normal

A Fundação é a instituição madrinha da Campanha Outubro Rosa na Bahia, voltada à prevenção do câncer de mama, desde 2010

Parceria firmada com o Rotary Club da Bahia assegura oferta de serviços assistenciais para a população mais carente

Programa Aliança para a Saúde

Uma das iniciativas de ampla ação social,

lançada em 2012, foi o termo de coope-

ração técnica firmado entre a Fundação

José Silveira e o Rotary Club da Bahia,

Distrito 4550, que instituiu a Aliança

para a Saúde. O objetivo é a realização

de programas e ações conjuntas destina-

das à melhoria da saúde da população.

O lançamento oficial do Programa, em

abril de 2012, foi marcado pela realização

de uma feira de saúde na Escola Rota-

ry, em Itapoã, quando foram oferecidos

gratuitamente aos moradores da região

atendimentos em diversas especialida-

des médicas (Ultrassonografia, Exame

Preventivo, Avaliação Nutricional, Exame

de Glicemia, Aferição de Pressão Arterial

e Orientação de Higiene Bucal e Escova-

ção). A feira também contemplou ativi-

dades de reforço da cidadania, incluindo

oficina de sanduíche saudável para ado-

lescentes, oficina culinária, atendimento

jurídico e escuta social. É na diversidade

de programas e ações de cunho assisten-

cial que a FJS reafirma seu compromisso

de assegurar a atenção necessária a quem

mais precisa, em um estado onde é gran-

de a parcela da população desassistida e

em situação de risco social.

Fundação José Silveira44 Revista FJS em Ação 45

MODELO DE EFICÁCIA

viveu sua infância e adolescência, é a

reprodução fiel de sua residência em

Salvador, de onde foram transportados,

para Santo Amaro, móveis, prataria,

cristais, louças, placas, medalhas, diplo-

mas e objetos pessoais do casal, cui-

dadosamente conservados e expostos

à visitação pública. A Biblioteca Padre

José Gomes Loureiro, com um acervo

de 40.000 volumes, foi criada com a fi-

nalidade específica de servir à juventu-

de santamarense.

MODELO DE EFICÁCIA

Em 2012, a Fundação José Silveira distri-

buiu gratuitamente 1.500.000 pães de soja

e 363.000 litros de leite de soja, benefician-

do 56 Entidades carentes de Salvador e ou-

tros municípios baianos; foram realizados

1.000.000 de procedimentos pelo Sistema

Único de Saúde (SUS). Estes números con-

firmam o compromisso assumido pelo

professor José Silveira com a Bahia.

Atualmente, a FJS é constituída pelas

seguintes unidades mantenedoras:

Hospital Santo Amaro, Laboratório

José Silveira e Unidade de Segurança e

Meio Ambiente. Estas unidades geram

recursos que propiciam a sustentação

das unidades assistenciais, como o IBIT,

o IBR, o Centro Pestalozzi de Reabilita-

ção, a Santa Casa Hospital São Judas

Tadeu e o Núcleo de Incentivo Cultural

de Santo Amaro.

Do conjunto de trabalhos consagra-

dos desenvolvidos pela Fundação, vale

ressaltar a importância da Unidade de

Segurança e Meio Ambiente, que atua,

há mais de vinte anos, na prestação de

serviços e consultorias nas áreas de se-

Ação social firmada na sustentabilidade

gurança do trabalho, higiene e meio

ambiente. A vasta experiência da insti-

tuição na área ambiental referendou a

assinatura de convênio com a Univer-

sidade do Estado da Bahia (UNEB), em

2012, para cessão de uso de um terreno

de 30 hectares de propriedade da Uni-

versidade, situado no campus X , às mar-

gens da BR 101, no município de Teixeira

de Freitas. O referido convênio objetiva

promover a conservação, restauração e

valorização da Mata Atlântica e sua di-

versidade (Projeto Arboretum).

O Núcleo de Incentivo Cultural de

Santo Amaro (NICSA) é um espaço

aberto à comunidade, que abriga, em

sua estrutura, o Memorial José Silveira,

a Biblioteca Padre José Gomes Loureiro

e a Escolinha de Arte Adroaldo Ribeiro

Costa. O Memorial, situado no sobrado

onde o professor José Silveira nasceu e

A FJS firmou convênio com a UNEB para implementação do Projeto Arboretum, destinado a

promover a conservação, restauração e valorização da Mata Atlântica

O público infanto-juvenil encontra no NICSA incentivo para a leitura e a pesquisa

Acervo do memorial

Fundação José Silveira46 Revista FJS em Ação 47

MEMÓRIA

O que o motivou a implementar a Tecnologia Empresarial

Odebrecht na Fundação José Silveira?

A Fundação José Silveira tem como compromisso o atendi-

mento a necessidades humanas, fundamentais ao bem-estar

e à qualidade de vida da comunidade baiana, o que ressalta

e adverte sobre a necessidade de atuar com produtividade,

liquidez e imagem para que possa se desenvolver e crescer

de forma integrada e sustentável.

Só assim será possível que esta Fundação aproprie suas insta-

lações, pesquisas, tecnologia e conhecimento no caminho da

sobrevivência, do crescimento e da perpetuidade corres-

pondente à sustentabilidade.

Como verificou a implantação desta tecnologia dentro da

Fundação no período em que esteve à frente de sua gestão?

À época, a Fundação José Silveira se estruturou em Grandes

e Pequenas Empresas, desenvolvidas a partir da organização

de Centros de Resultados, onde o empresário-parceiro era o

único Responsável por gerar a sobrevivência e o crescimento

do seu negócio, a partir da satisfação dos seus clientes. Creio

que essa cultura foi bem compreendida pelos profissionais de

saúde – médicos, enfermeiros e pesquisadores.

Toda Organização precisa estar

focada na geração de resultados.

Como o senhor vê a gestão da

FJS hoje? Representa o pensa-

mento que o Senhor teve ao

longo dos vários anos em que

acompanhou o Conselho?

As concepções filosóficas,

desdobradas nos princípios

básicos, conceitos essenciais

e critérios gerais e operacio-

nais, foram testadas, adap-

tadas, ajustadas e aplicadas,

na prática, no Ambiente da

Fundação, na sua plenitude

espacial e por todos os Prota-

gonistas envolvidos.

Para que isso acontecesse, foi essencial o espírito de abertura e

esforço de seres humanos. Este é o maior ativo de qualquer

organização. Assim sendo, é importante destacar a contribuição

de todos que passaram pela Fundação e que, de algum modo,

contribuíram para que ela chegasse aos dias atuais.

Aproveito esta oportunidade para agradecer a Lomanto Netto,

Paulo Bittencourt e Antonio Brito. Vale aqui ressaltar que Anto-

nio Brito iniciou suas atividades na Fundação como Almoxari-

fe, chegando a Superintendente.

Também destaco o apoio da então Prefeita Municipal, hoje Se-

nadora Lídice da Matta, que muito contribuiu para a adequação

do estacionamento, das áreas interna e externa, gabinetes e ou-

tros benefícios.

A Fundação é hoje o que o Senhor imaginou quando come-

çou a colaborar com ela?

A Fundação José Silveira me permite ver uma instituição, que

teve uma grande contribuição social para o Brasil no combate

a tuberculose, se desenvolver, tendo enfrentado desafios rele-

vantes no que diz respeito à

sua sustentabilidade, ao tempo

em que buscou reformular sua

missão, preservando sua identi-

dade e história.

Ao longo destes 75 anos, a

Fundação preservou o lega-

do do seu fundador, o ilustre

pesquisador José Silveira, que

muito contribuiu para melho-

rar as condições de Saúde do

nosso Povo. Entendo que ela

encontrou seu Rumo e vem, a

cada ano, crescendo, inovan-

do e servindo à Comunidade.

Dessa forma, constrói, hoje, o

seu amanhã.

Como as Organizações Sociais podem cooperar com o Go-

verno e com a Sociedade?

As Organizações Sociais, a exemplo da Fundação José Silvei-

ra e das Obras Sociais de Irmã Dulce, as quais atuam essen-

cialmente na área de Saúde, na Bahia, já prestam um serviço

complementar ao Estado, que entendo ser de grande relevân-

cia. O Governo reconhece que não pode fazer tudo e estar em

todos os lugares. Além disso, a máquina pública, muitas vezes,

MEMÓRIA

Entrevista com Dr. Norberto Odebrecht

Ações a favor da sustentabilidade passaram a ser um

sonho e um desejo da população

mundial.

Fundação José Silveira48

MEMÓRIA

Revista FJS em Ação 49

enfrenta dificuldades para agir com velocidade, eficácia e eficiên-

cia. Assim, organizações sociais sérias, transparentes, bem admi-

nistradas podem complementar e enriquecer as atribuições do

Governo em diversos setores, fazendo mais, melhor e utilizando

com mais efetividade os recursos.

A Fundação José Silveira precisa ser vista por esse ângulo pela

Prefeitura Municipal de Salvador e pelo Governo do Estado da

Bahia como de grande importância para se consolidar como

modelo da PPP.

A Lei que criou as OSCIPs veio criar condições importan-

tes nesse processo. As Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público puderam se profissionalizar, ser auditadas,

provando o correto uso dos recursos, dando transparência e

credibilidade aos seus atos, com maiores e melhores resul-

tados.

Ações a favor da sustentabilidade passaram a ser um sonho

e um desejo da população mundial. As comunidades, nos seus

múltiplos locais e abrangência, estão sendo convocadas a par-

ticipar conscientemente da sociorresponsabilidade, integran-

do a governança participativa, capaz de acompanhar, julgar

e dinamizar parcerias produtivas. Nessas condições, acredito

muito na evolução da Fundação José Silveira como agente ex-

celente no Serviço de Saúde.

Toda Organização precisa estar focada na geração

de resultados.

DEPOIMENTOS

“Após mais de 50 anos de existência, a

Associação Pestalozzi de Salvador, com

sede própria, necessitando ampliar seu

atendimento, principalmente médico e

ambulatorial, buscou o apoio da Fun-

dação José Silveira, com quem já fazia

um trabalho preventivo da tuberculose,

recebendo, há cerca de sete anos, como

contribuição, leite de soja (vaca mecâni-

ca) e pão de soja para a complementa-

ção da merenda escolar.

A Associação Pestalozzi de Salvador ce-

deria espaço para o atendimento médi-

co e ambulatorial para sua clientela e fa-

miliares, mantendo também a tradição

da Escola Especializada Lise Maria.

A fim de não interromper nossas ativi-

dades, esperamos contar com o apoio

da Fundação José Silveira para dar con-

tinuidade ao trabalho até aqui realizado,

evitando, assim, o fechamento da Asso-

ciação Pestalozzi de Salvador.”

Gecilda Serafim

_______________________

“Nos anos de 1942 e 1943, utilizei o Ser-

viço de Documentação Científica do

IBIT, particularmente para a confecção

de slides, os quais eram considerados os

melhores da Bahia”.

Gilberto Melo

“Foi uma honra muito grande trabalhar

com o professor Silveira, do qual fui alu-

na no 6º ano médico.

Ingressei no IBIT através de anúncio que

li no jornal. Fui entrevistada e aprovada

pelo próprio Professor.

Saudações pelos75 anos de sucesso

Por testemunho da humildade desse

grande homem, transcrevo a seguir um

pequeno trecho de uma correspondên-

cia que ele me enviou: “Se, no calor da

discussão, alguma expressão minha a

magoou, queira sinceramente me perdo-

ar... Os velhos, atordoados por pressões

de todos os lados, estão sujeitos a erros

lamentáveis. Aos verdadeiros amigos

como a Senhora, cabe compreender e to-

lerar. Conto com sua presença na missa

em nosso apartamento. Com o apreço de

sempre, Silveira.”

Dra. Elza Vieira de Andrade

_______________________

“O professor José Silveira, homem de

personalidade forte, um exemplo na

nossa sociedade, como médico e pes-

quisador, o que se refletia na qualidade

dos serviços que o IBIT prestava aos seus

pacientes, associados e colaboradores,

até os dias atuais.

Este meu depoimento é a propósito do

Laboratório de Bacteriologia do IBIT,

onde me iniciei como bacteriologista,

em 1955. O professor Silveira dispensava

atenção especial a esse laboratório, onde

se realizavam pesquisas, principalmente

sobre a importância da cultura do ba-

cilo no diagnóstico da Tuberculose, in-

troduzida no IBIT pelo professor Egon

Darzins, as quais resultaram em méto-

dos que ainda são utilizados na rotina

deste Instituto pois, comprovadamente,

apresentaram excelentes resultados.

O professor Silveira acompanhava com

interesse os trabalhos desenvolvidos

no Laboratório de Bacteriologia, cujos

Fundação José Silveira50 Revista FJS em Ação 51

DEPOIMENTOS

resultados eram de grande significação

para o diagnóstico da Tuberculose, sem-

pre procurando modernizar, estimular

e proporcionar aos técnicos cursos no

Brasil e no exterior. ”

Dr. Júlio Mesquita de Oliva

_______________________

“Acho que não necessito apresentação,

pois sou considerada “mobília” da FJS.

No meu entendimento, a denomina-

ção ‘mobília’ é algo extraordinário, pois

tem um significado que lembra perma-

nência, solidez, estabilidade, coisas que

remetem ao caráter e à personalidade

do queridíssimo Professor Silveira, que,

ao lado de Irmã Dulce e do Monsenhor

Sadoc da Natividade, representam a

Bahia no mais alto grau de inteligência

e religiosidade!

O Professor Silveira, que conheci e com

quem convivi por tantas décadas, traba-

lhando sempre em busca da excelência

do IBIT, depois da FJS, era um perfeito

gentleman, corajoso, gentil, culto, inteli-

gente. Enfim, o meu amigo Professor Sil-

veira foi algo que considero um prêmio

a mim concedido por Deus, o de poder

dizer com muito orgulho: fui secretária

do professor Silveira por 40 anos!

À D. Ivonne Silveira, querida amiga D.

Ivonne, a minha devoção absoluta, a

minha admiração por sua indestrutível

fortaleza diante de tantos percalços que

a vida se lhe apresentou, seu amor por

José Silveira e sua incansável proteção

aos pobres e desvalidos. ”

Ione Ramos Pinheiro

_______________________

“Durante sua vida, o professor Silveira

se considerava simplesmente um mé-

dico. Tenho muita recordação dele e

muita saudade.

No Hospital do Tórax, fui nutricionis-

ta, farmacêutica, fui tudo. Quando fal-

tava o funcionário responsável, diziam:

“Bote D. Lourdes !”

Professor Silveira era boníssimo. Todas

as terças, ele vinha até minha sala con-

versar sobre D. Ivonne e o Serviço Social,

com muita amizade e carinho.

D. Ivonne era também de extrema sim-

plicidade. Não me esqueço de que ela

sempre me convidava para comer “um

repolho cortadinho”. Juntas, almoçáva-

mos aqui no IBIT.”

Lourdes Carvalho

_______________________

“É impossível recordar momentos da

história do IBIT e da FJS sem considerar

que tive a felicidade de conhecer o Pro-

fessor Silveira através do amigo comum,

Dr. Manoel Ezequiel da Costa, desde a

época da minha vivência na Faculdade

de Medicina do Terreiro de Jesus.

Foi uma amizade que se enraizou por

longo tempo, a ponto de nos tornar-

mos compadres. Lembro das conversas

francas que tínhamos, de amigo para

amigo, que extrapolavam até mesmo o

ambiente de trabalho.

Quando fui chamado para fazer parte

do corpo clínico do IBIT, onde fiquei até

8 de março de 2011, compreendi, no dia

do aniversário de 90 anos, que devia dar

chance aos colegas mais jovens, após

vinte e três anos de serviços prestados

à Fundação e ao IBIT. Guardo comigo

lembranças bonitas e inesquecíveis.

O certo é que Silveira e Ivonne estão a

abençoar essa instituição. ”

Dr. Jairo Macedo Maia

_______________________

“Quando em 1951, após concurso

vestibular, ingressei na Faculdade de

Medicina da Universidade da Bahia

(ainda não era Federal), a expectativa

dominante da Faculdade era a posse

do Dr. José Silveira, jovem médico que

ocuparia a recém-criada cátedra de Ti-

siologia. Possuidor de um imenso ca-

bedal de conhecimentos sobre tuber-

culose, inclusive adquiridos no exterior,

José Silveira foi aprovado em brilhante

concurso realizado na velha Escola do

Terreiro de Jesus.

Aproximei-me do ilustre Professor em

1953, durante o Congresso de Tubercu-

lose do Nordeste do Brasil. Ele, como

filatelista, fez realizar, no saguão do Ins-

tituto Geográfico e Histórico da Bahia,

uma exposição de selos temáticos so-

bre tuberculose, organizada pela Socie-

dade Filatélica da Bahia, da qual ele e eu

éramos sócios.

Durante os anos de 1954 a 1956, como

acadêmico estagiário e interno do IBIT

(Instituto Brasileiro para Investigação

da Tuberculose) e da Clínica Tisiológi-

ca da Universidade Federal da Bahia,

ambas entidades sob a direção do

Professor José Silveira, pude conhecer

melhor a dimensão do cientista e da

pessoa humana.

Mesmo depois de formado, tendo saído

daquelas instituições científicas, conti-

nuei gozando da honrosa amizade e dos

sábios ensinamentos do Mestre Silveira

durante a sua profícua e longa existên-

cia. No NICSA – Núcleo de Incentivo

Cultural de Santo Amaro, Casa da Cultu-

ra da sua terra natal, o Professor Silveira

chamou-me para colaborar com a im-

portante instituição da qual, por mais de

duas décadas, fui Tesoureiro por decisão

da Assembleia Deliberativa.

Assim, durante a longa e preciosa

existência de José Silveira, aquele ho-

mem nunca parou de sonhar e realizar,

mesmo travando lutas titânicas. Estas

obras, que hoje dignificam a Bahia,

prestam inestimáveis serviços e com-

põem a Fundação José Silveira, honra e

orgulho para todos que ali trabalham. ”

Dr. Fernando de Souza Pedrosa

_______________________

“Cheguei à Fundação em 1985.

Fui entrevistada pelo Professor José Sil-

veira, que começou indagando sobre os

locais onde eu havia trabalhado. Informei

que trabalhei com o Professor Estácio de

Lima e que procurei o IBIT por indicação

da Profª. Maria Theresa Pacheco. Ele res-

pondeu: Uma pessoa que trabalha com o

Professor Estácio de Lima, meu amigo do

coração, e com Maria Theresa, uma filha,

Fundação José Silveira52

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 53

DEPOIMENTOS

para mim, já está contratada.

O Professor Silveira gostava de conver-

sar. Era uma pessoa que eu respeitava

muito. Graças a Deus, minha convi-

vência com ele foi muito boa.

Durante os anos em que trabalhei

aqui, conquistei amigos, amigos que

conservo até hoje. ”

Enoe Dias Costa

_______________________

“Fui trabalhar com o professor Silveira

no quarto ano de medicina, como in-

terno acadêmico da Clínica Tisiológica

da UFBA.

Em 1960, o professor Silveira me transfe-

riu para o IBIT, onde estou até hoje. Não

sei se por coincidência, ou pelo destino,

nascemos no mesmo dia, 3 de novem-

bro, e sempre festejamos nosso aniversá-

rio juntos, na casa dele.

Viajamos para muitos congressos, tanto

no Brasil como no exterior. Durante o

ano de 1973, visitamos mais ou menos

22 países da Europa. Posteriormente, em

uma viagem para o Japão, ficamos hos-

pedados em um hotel cinco estrelas. O

Professor perguntou onde eu e minha es-

posa estávamos fazendo as refeições e eu

respondi: – No hotel. Ele retrucou: – Mas

aqui no hotel é muito caro. Nós consegui-

mos um restaurante fora do hotel que é

muito mais barato, inclusive o mais barato

é o macarrão... Comemos macarrão du-

rante a semana inteira... Este episódio de-

monstra a simplicidade do casal Silveira.

Para mim, o professor Silveira foi o mar-

co da minha vida. ”

Dr. Renee Alfredo Quiroga Solis

_______________________

“Vim para o IBIT por empréstimo da Clí-

nica Tisiológica da UFBA, onde trabalha-

va, e aqui permaneci até os dias atuais.

Dr. José Silveira era uma pessoa maravi-

lhosa, ao lado de D. Ivonne, uma amiga

muito querida.

Convivi bastante com o casal, principal-

mente com D. Ivonne, representando-a

em atos públicos nos seus impedimentos.

Ele tinha um coração de ouro. Era muito

organizado, disciplinado e exigente, en-

quanto D. Ivone, sentada em sua máquina

de costura, confeccionando roupas para

os pacientes do Serviço Social do IBIT, era

igualmente disciplinada e organizada.

Éramos muito amigos. Muitas vezes

viajamos juntos: meu marido, Alfredo

Quiroga, eu e o casal Silveira, para con-

gressos e viagens de turismo.

Hoje, aposentada, já lá se vão quarenta

anos... Continuo trabalhando no IBIT

com muito amor. ”

Vera Quiroga

_______________________

“A Fundação significa muito em minha

vida. Estou muito satisfeito em ver o cres-

cimento da Fundação, porque, no meu

tempo, só havia o IBIT. Do IBIT é que par-

tiu a Fundação. Eu, que vim do tempo do

Dr. Silveira, e acompanho os trabalhos do

Dr. Antonio Brito e de D. Leila, juntamen-

te com meus colegas e companheiros da

Fundação, sinto-me muito orgulhoso e

feliz em estar ainda trabalhando na Fun-

dação, com o consentimento de Dr. An-

tônio Brito e D. Leila.”

João Silva

_______________________

A Fundação José Silveira (FJS), nos idos

dos anos 80, ciente da necessidade de sua

inserção e contribuição na área materno

infantil, lançou a proposta de implanta-

ção de uma instituição hospitalar voltada

à mulher, o Hospital Santo Amaro (HSA),

nome em homenagem à cidade natal do

Professor José Silveira.

Foi com grande expectativa que a comu-

nidade bahiana e os profissionais de saú-

de receberam o Hospital Santo Amaro,

reinaugurado em 18 de janeiro de 1988. O

impacto da FJS na área perinatal do nosso

estado, através do HSA, é bem expressivo:

foram mais de 70.000 partos e cerca de

10.000 admissões na UTI Neonatal, com

uma moderna e completa estrutura que

permitiu salvar inúmeros neonatos. O

trabalho da instituição sempre associou

recursos humanos capacitados e estimu-

lados ao suporte da tecnologia.

O HSA tem tido participação ativa na ca-

pacitação de profissionais na área mater-

no infantil nestes seus 25 anos. Portanto,

a Fundação José Silveira está de parabéns

pelas suas ações dirigidas à saúde perinatal!

Dra. Licia Moreira

José Silveira em prefácios e preâmbulos

Meu caro José Silveira:

Você é o homem novo do Brasil, o pa-

norama enorme da nossa riqueza e da

nossa miséria palpita no seu coração,

há rios imensos na sua vida, o homem

brasileiro, principalmente o brasileiro

doente que sofre e espera, vive na sua

sensibilidade. Você olha o Brasil, ouve o

Brasil, sente o Brasil. São vozes, são ge-

midos, são clamores que surgem na sua

palavra clara e direta. Você é o homem

novo do Brasil: o seu e o nosso destino

são inseparáveis, a sua alegria e sofri-

mento também nos pertencem, temos

um só pensamento, teremos igualmente

a nossa parte de glória e desespero. Meu

caro amigo, a nossa amizade constitui

agora um sentimento eterno, que paira

acima da nossa vida, da nossa própria

vontade”

Manuel de Abreu – Preâmbulo de

“Imagens da minha devoção”, 1975

_______________________

“Alto, loiro, vibrátil, esgalgado,

Esse que um teuto lembra tanto assim

E o alemão fala desembaraçado,

Não é do Rheno, é do Sergymirim.

Do carrinho de mão ao Zeppelim,

Os transportes diversos há tomado

E não havendo nenhum mais, enfim,

Quase atravessa Paulo Afonso a nado.

Contra a Tuberculose, esse Doutor

É General, e, sua Linha, o IBIT

Em seus domínios, ele é vencedor.

Espírito e talento de eleição

Tão presto em dar o “troco a quem o

irrite”,

Pulsa em Silveira, um nobre coração”.

Eugênio Gomes – Prefácio de “Do

carro de boi ao Zeppelin”, 1976.

_______________________

“A estrela do destino iluminou Silveira,

deu-lhe a chama de um ideal – perpé-

tua inquietação –, deu-lhe um sagrado

motivo – o flagelo da tuberculose na

sua Cidade, no seu Estado, no seu País

–, mostrou-lhe o penoso caminho que

iria percorrer – verdadeira tempestade

de responsabilidade, luta sem tréguas,

desapontamentos, vitórias e derrotas.

Todavia estava armado.

Assim, o inquieto provinciano partiu

para a Europa e deslumbrou-se. O que

viu mudou o que pensava até então.

Sentiu ser possível fazer pesquisa cien-

tífica com estrutura mínima, amparada

na qualidade do investigador. Muito di-

ferente do que sonhara. E lá, teve outro

instante decisivo para a grandeza da sua

idéia: um sábio estendeu-lhe a mão –

Ludolf Brauer.

O mestre alemão, perseguido e ator-

mentado pelo nazismo, indicou-lhe as

linhas mestras, os detalhes, a estrutura

mínima necessária, a simplicidade possí-

vel, as metas que paulatinamente seriam

Fundação José Silveira54

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 55

DEPOIMENTOS

prelúdio de novos agravos, novas lutas e

novas e sucessivas vitórias, porque Silvei-

ra é um semeador de milagres. ”

Jayme dos Santos Neves – Prefácio de

“A palavra do José”, 1978.

_______________________

“Não quero terminar sem fazer refe-

rência ao capítulo que encerra VELA

ACESA, a “Confissão Final”. Páginas can-

dentes, escritas com sangue, páginas de

profunda beleza, onde a chama da pai-

xão e do amor eterno entre o homem

e a mulher, o companheiro e a com-

panheira, o esposo e a esposa, cresce e

brilha. O amor duramente conquistado,

enfrentando as misérias do mundo e a

pequenez de certa gente. Páginas claras,

serenas, magníficas. O inesquecível perfil

de dona Ivonne, a quem tanto devemos,

pois ela foi e é a estrela-guia desse sábio,

a musa do poeta José Silveira – pura po-

esia, a vida que os dois viveram, a luta

que os dois lutaram.”

Jorge Amado, Prefácio de “Vela ace-

sa”, 1980.

_______________________

“Grande espírito, e por isso mesmo grato

aos que o ajudaram a viver, José Silveira

saiu de Santo Amaro da Purificação, no

Recôncavo baiano, para cumprir a vo-

cação que trazia do berço: ser médico.

E o foi ao máximo. Clínico, homem de

laboratório, não se limitou ao exercício

da Medicina prática. No ramo da tuber-

culose em que se especializou, lançou-

se de corpo e alma na pesquisa sobre

a terrível doença, fundando com raro

temperamento criador, o Instituto Bra-

sileiro para Investigação da Tuberculose,

hoje transformado num fabuloso centro

de pesquisas e estudos, que, de Salvador,

irradia saber para o resto do país e o es-

trangeiro”

Afrânio Peixoto – Prefácio de “Péro-

las e diamantes”, 1984.

_______________________

“Com as memórias de José Silveira, o lei-

tor viaja, conduzido pela beleza do es-

tilo e pela correção da linguagem. Uma

viagem que vem da infância e chega aos

momentos decisivos da idade provecta.

E que trata de uma existência toda ela

voltada para o bem, o IBIT, a amizade, a

coragem, a resignação, o alívio do sofri-

mento alheio.”

Mário Cabral – Prefácio de “O Neto

de dona Sinhá”, 1985.

“Em José Silveira – sabem todos os que

o conhecem – há muito que admirar.

Do médico, falam os que dele recebem

os benefícios da melhora ou da cura e

os que sabem das homenagens que lhe

foram prestadas ao longo de sua carrei-

ra. Do escritor, posso dizer, por ter lido

todos os seus livros, que foi dotado

daquela qualidade suprema e rara de

saber dizer as coisas com simplicidade

e clareza. Mais do que isso: com emo-

ção. Esse domínio da arte de narrar, que

está presente em tudo o que escreveu, e

particularmente nos seus livros, veio um

pouco, naturalmente, do conhecimento

dos mestres – a que faz menção neste

livro – aos quais frequentou com assi-

duidade. Mas veio também, e principal-

mente, de seu íntimo, de sua maneira de

ver e sentir. Aquilo adquiriu dos livros, e

foi a forma; mas isto ninguém lhe deu,

foi obra sua, aprimorada ao longo do

tempo. E, ao longo do tempo, intensa-

mente vivida, intensamente sofrida.”

alcançadas para aquilo que se chamaria

Instituto Brasileiro para Investigação da

Tuberculose – sonho de Silveira.

Ainda mais. Prometeu apoio, união de

vistas, intercâmbio com seu Instituto de

Hamburgo e entregou a Silveira a tarefa

de organizar similar no Brasil em bases

puramente científicas. Foi a primeira e

grande alegria de José Silveira.

As notícias repercutiram favoravelmen-

te entre médicos e estudantes baianos,

mas atingiram a vaidade de muita gente.

Inteligente, agressivo e teimoso nos seus

objetivos, insolente e ousado... Mas mui-

to jovem para tal missão, diziam contra-

feitos.

Mal conheciam a força, a predestinação,

a genial insolência do jovem José Silveira

– arrombador do futuro. Não poderiam

saber que, mais tarde, Manoel de Abreu

o consagraria com uma frase lapidar:

“você é o homem novo do Brasil”.

Edmundo Blundi – Prefácio de “A

sombra de uma sigla”,1977

_______________________

“Mais que uma casa de pesquisa e de

ciência, o IBIT é um monumento. É um

monumento de amor. Basta ver a sua es-

pantosa e quase incrível transformação,

o seu impulso, antes e depois de Ivonne,

e a sua evolução. O IBIT é mais que qual-

quer outra coisa, a casa de Ivonne e de

José, feita à sua imagem e semelhança.

Nela se cultiva o milagre deste encon-

tro oceânico, que só em terras da Bahia

poderia acontecer. Silveira veio de Santo

Amaro e Ivonne veio do mar.

A sua história é assim, uma sucessão

de milagres. Uma superação constan-

te de impossíveis. Suas vitórias contra

descrença e hostilidade foram apenas

Nelson Werneck Sodré – Prefácio de

“O alemão do Canela”, 1988.

_______________________

“Construções em banal estilo moderno,

feitas de concreto e vidro, sem qualquer

beleza arquitetônica. Em alguns pavi-

lhões, vidraças quebradas. Nas paredes

externas, dizeres em grandes letras pin-

tadas com piche ou tinta vermelha, ber-

rando chavões do esquerdismo inter-

nacional. Em volta de tudo aquilo, um

terreno maltratado, com as pistas de

circulação margeadas pelo mato que se

confundia com o resto da vegetação da

extensa campina.

A impressão que a cena me deu é que

voltara ao Brasil, ou mais precisamente,

à Bahia, pois não é outro senão aquele o

aspecto da maioria de nossos estabele-

cimentos de ensino, notadamente os de

ensino superior, em que os estudantes,

levados por qualquer tipo de inconfor-

mismo, ou apenas por falta de formação

doméstica, costumam depredar as esco-

las em que entram para se educar.

Mas eu não voltara ao meu país. Estava

em Lima, no Peru, e visitava a quadricen-

tenária Universidade de São Marcos.

[...] Como no caso da Universidade de

São Marcos, também a secular Faculda-

de de Medicina foi deslocada de sua ve-

neranda sede, no Terreiro de Jesus, para

ir habitar um desgracioso e inadequado

edifício, num dos vales de Salvador.

Coincidentemente, a mudança ocorreu

quando já se tornava visível a decadên-

cia que ainda mais se acentuou daquela

época para os nossos dias.

[...] Foi José Silveira o pioneiro na luta

pela restauração da Faculdade. Dele a

sugestão a Luiz Fernando Macedo Cos-

Fundação José Silveira56

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 57

DEPOIMENTOS

ta, reitor da Universidade, para a organi-

zação do Memorial da Medicina, que a

seguir se fez uma esplêndida realidade.

Anteriormente, escrevera artigos para a

imprensa, já transmitira a outros médi-

cos, formados, com ele, pela antiga Fa-

culdade, sua inconformidade para com

a degradação material da velha escola.

[...] A justeza da causa defendida convo-

cou figuras de outros setores, como Má-

rio Cabral e Orlando Gonçalves Teixeira.

Todos se expressaram, em pronuncia-

mentos públicos, no sentido de exigir a

reconstrução de um monumento que é,

sem dúvida, uma das coisas mais precio-

sas do patrimônio da Bahia.

Jorge Calmon -- Prefácio de “No ca-

minho da redenção”, 1988.

“Quando se pensava haver encerrado o

laborioso e glorioso périplo, ensarilhan-

do as armas para o merecido repouso

do lutador – e que lutador ! – eis que

Silveira nos revela a mais nova das suas

faces – a face do grande memorialista.

Revelação que me faz lembrar outro

médico ilustre também chegando ao

campo das memórias quando se ima-

ginavam encerradas as atividades de es-

critor. Refiro-me a Pedro Nava, o grande

memorialista que a todos surpreendeu

e encantou com o seu “Baú de Ossos”.

Também Silveira nos surpreendeu e en-

cantou com os baús, memórias fixadas

inicialmente em “Vela Acesa”, depois

com as lembranças de ´”O Neto de D.

Sinhá”, a que seguiria “O Alemão do Ca-

nela”, renovado testemunho das raras

virtudes do memorialista, gênero do

qual é um dos mestres do nosso tempo.”

Luiz Viana Filho – Prefácio de “Para-

digmas”, 1989.

_______________________

“Depois da luta contra a tuberculose,

da campanha em favor da restauração

do nosso Centro Histórico, a capacida-

de de apaixonar-se encontrou em José

Silveira nova motivação no combate

ao tabagismo”.

Wilson Lins – Prefácio de “Colcha de

retalhos”, 1990.

“Se, em realidade, uma nação, em sua

essência, é constituída de homens, com

as suas ambições, renúncias, sacrifícios,

criatividades, defeitos e virtudes, temos

de convir que, no contexto do pro-

cesso social de tantas mãos e tantos

cérebros, transcende e se projeta uma

espécie, ao que se admite do mesmo

gênero, mas desenganadamente em

extinção nestes tempos de tão amargo

realismo pragmático: a dos sonhadores

e idealistas inveterados.

E se me fosse dado oferecer, entre nós,

um dos exemplos mais completos dessa

espécie, não hesitaria em apontar essa

admirável figura de cientista que, pela

fulgurância de suas idéias e pela gran-

deza de sua obra médico-pedagógica,

marcada, toda ela pelo sinete de um sa-

grado compromisso com a ciência pura

e a solidariedade humana mais sensível,

deixou, ainda muito cedo, de pertencer

a si mesmo para tornar-se um inesti-

mável patrimônio da cultura brasileira

e, mais significativamente baiana, com

lampejos pelos centros mais civilizados

dos quatro cantos do mundo: o Profes-

sor Doutor José Silveira!”

(Walfrido Morais – Prefácio de “Obs-

tinação – Aspectos da vida de um

hospital”, 1992.

Uma pequena história sobre um grande homem

Solicitado a dar uma contribuição sobre José Silveira, pensei

muito para não ser repetitivo e tornar o meu depoimento

enfadonho e pouco criativo. Escrever sobre José Silveira parece

não representar algo muito difícil, desde que possamos escolher

os vários aspectos da vida desse homem. Médico tisiologista,

professor universitário, pesquisador, escritor, além de um forte

impulso para empreendimentos vindos de seus sonhos. Todos

eles enriqueceram a vida desse baiano de Santo Amaro. Fui

buscar no tempo uma pequena história ou passagem, com

alguns diálogos que me marcaram sobremaneira.

Vivíamos, então, no final da década de 80, e o IBIT estava com

muitas dificuldades e poucos recursos. Em compensação,

pulsavam o entusiasmo e a perseverança de José Silveira que

contaminava a todos. Eu, como patologista, tendo ingressado

na Instituição em 1976, participava das apresentações de

correlação clinicopatológica nas nossas sessões semanais das

quartas-feiras, como faço até hoje. Sempre tive por hábito

documentar os casos interessantes, dentro da patologia

pulmonar e torácica. Essa prática me permitia contribuir com

algum conhecimento para as sessões científicas e também

documentar os casos para suas apresentações em congressos,

publicações dos mais diversos tipos, em periódicos nacionais

e estrangeiros. Aí entra uma característica importante da

personalidade do Professor Silveira, que era o seu grande

entusiasmo e verdadeira paixão na produção cientifica, com

a divulgação em revistas médicas de tudo aquilo que se fazia

no IBIT. Todos nós, incluindo bacteriologistas, tisiologistas

e também os da patologia, éramos sempre cobrados nesse

sentido. O Professor Silveira cultivava o pensamento científico

de que todo esforço deveria ser feito para publicações em

periódicos dos dados obtidos nas diversas áreas comuns à

tuberculose e doenças pulmonares outras. Sua luta nesse

sentido era constante e obstinada, bem de acordo com sua

visão abrangente e adiantada no tempo. Tudo se baseava,

acredito, na sua própria experiência como professor e

tisiologista, principalmente também pelo fato de ter criado um

Instituto com a finalidade principal de atender, diagnosticar,

tratar e pesquisar sobre a Tuberculose. Este modelo de visão

sobre uma Instituição de saúde persiste como moderno até

os dias de hoje. O professor chegava a ligar diariamente para

saber se o manuscrito tal já estava pronto para ser revisado

e vibrava muito quando a resposta era um sim. Assimilei

essa conduta e, com o seu estímulo, publiquei, em 1990, um

trabalho sobre cavidades pulmonares decorrentes de sequelas

de tuberculose e que tinha como titulo, “Pulmonary cavities

colonized by actinomycetes: report of six cases” (Revista do

Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, volume 32; 63-

6). Era quase totalmente original, já que havia pouquíssimos

relatos similares na literatura sobre o assunto, e tive o prazer

de receber inúmeras solicitações de separatas do trabalho,

por parte de diversos pesquisadores internacionais. Esse

trabalho constou também na bibliografia do texto ATLAS

OF NONTUMOR PATHOLOGY – Non-Neoplastic Disorders

of the Lower Respiratory Tract publicado pela Armed Forces

Institute of Pathology – (AFIP), 2001. Esta abordagem tem

como objetivo demonstrar mais essa característica pessoal de

José Silveira, como a sua tenacidade na busca por objetivos,

João Carlos Coelho FilhoCoordenador Técnico-científico do IBIT e do

Laboratório de Patologia da Fundação José Silveira

Fundação José Silveira58

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 59

DEPOIMENTOS

da tuberculose, participou da investigação da eficácia das drogas

Rifampicina, Isoxyl, Ciclocerina, Etionamida, Pirazinamida, Etam-

butol, três delas ainda hoje de primeira linha no combate à tu-

berculose. Avante em seu tempo, propôs e comprovou a eficácia

da associação de três drogas utilizadas de forma intermitente na

segunda fase do tratamento. Neste sentido, também propôs o iní-

cio da deshospitalização do paciente, tratando-o na segunda fase

de forma ambulatorial, isto em 1940.

No IBIT, frequentaram pesquisadores de grande renome nacional e

mundial, passando estes um período tanto fazendo pesquisa como

ensinando, trazidos tanto pela fama do serviço como de seu presi-

dente. Dentre os nomes, destacamos G. Canetti, J. Grosset, B. Kreis.

N. RIST (França), M. Panzer (Romênia), A. Cetrangolo (Argentina), A.

Bravo (Espanha), H. Reutgen, F. Grumbach, Gössner, G. Hilscher (ale-

manha), V. Lorian, E. Darzins (Estados Unidos), Urbanczyk e do Brasil:

E. Andrade, R. Quiroga, M. Giudice, O. Ferreira, Bacelar, Cavalcante, R.

Cardoso, M. Goes e L.M. Almeida-Filho, dentre tantos outros.

A pesquisa no IBIT o levou, na época de ouro das descobertas

das medicações contra a tuberculose, a ser uma instituição à

frente de seu tempo. Muito se deve pelo fato de ser conduzi-

do pelas mãos fortes de seu mestre, que tinha uma visão ade-

quada sobre pesquisa como necessidade primária de busca por

melhores respostas para o que incomoda, na prática diária da

assistência, melhores respostas para a prática da administração,

inovando, por ser fundamental. Através dela, a instituição torna-

se capaz de gerar riqueza contínua e, assim, manter-se ou tornar-

se competitiva na sua missão.

nunca desistindo de perseguí-los. Ele me dizia: “Os desafios

estão na sua frente para que você os vença. Faça, escreva, você

pode, você está qualificado para fazê-lo, então faça. Para tudo

há um começo e faça sua parte como achar melhor. Não desista!

Nunca desista!”. Creio ter incorporado algumas coisas disto que

descrevi. Procuro recordar desta passagem, lembrando aos

mais jovens como isso pode servir em quaisquer atividades que

possamos desempenhar.

Dentro desse espírito de tenacidade, temos mantido as

nossas sessões cientificas, o nosso Centro de Pesquisas, alguns

trabalhos já publicados, projetos em andamento e muitos

sonhos. Preciso mencionar também que incorporei estas lições

à minha vida como um todo, com a preocupação constante

de repassá-las. Olhando para trás, percebo cada palavra, cada

momento e como isto se tornou definitivamente incorporado

ao meu trabalho em todos esses anos. Finalmente, é possível

que este não seja um fato isolado, e que vários de nós todos,

contemporâneos ou não, tenhamos vivido algo similar. Em

outra oportunidade já ressaltei a grande importância de José

Silveira ter sonhado, construído e mantido o IBIT. Acrescento

ainda que, além disso, o Professor Silveira também ajudou a

formar pessoas e profissionais.

Uma boa questão é o melhor começo

Pesquisa é a arte de estranhar o mundo. Estranhar o mundo não

é criticar, não é achar que o que vemos não conhecemos. Mas, es-

tranhar é achar que há mais a conhecer, é achar que há uma cons-

trução melhor no mundo do que o que vemos e querer descobrir

qual é esta construção. Qual é a verdadeira utilidade do BCG?

Como resolver o problema do cadastro torácico das grandes mul-

tidões? Este tipo de questão que moveu a vida do Dr. José Silveira.

Ele estranhou o mundo vendo inúmeros indivíduos adoecerem

e/ou morrerem pela agressão do bacilo da tuberculose. O que faz

com que as pessoas por causa da tuberculose morram? Posso uti-

lizar a reação de Mantoux para proteger pessoas de adquirirem a

tuberculose? Temos um tratamento, mas as pessoas são magras e

desnutridas, será que fornecendo o alimento correto pode-se atin-

gir níveis de cura mais significantes? Isto é estranhar o mundo, isto

é fazer pesquisa: fazendo a pergunta certa.

A pesquisa é um dos pés do tripé da instituição criada pelo profes-

sor Silveira, o Instituto Brasileiro para a investigação da Tuberculose

– o IBIT – em 1937. Os outros dois são a assistência e o ensino, pés

estes também fundamentais para o crescimento de uma institui-

ção. Durante toda a sua vida, o Professor foi um arguto questiona-

dor das coisas estabelecidas. Tanto que publicou isoladamente, ou

em colaboração com técnicos e pesquisadores do IBIT, além de

profissionais de outras instituições, mais de 200 trabalhos no Brasil

e no exterior durante toda a sua vida. Como reconhecimento por

seu trabalho e dedicação na área da tuberculose, foi indicado ao

Prêmio Nobel da Paz, em 1978, e ganhou o Prêmio Astra.

O IBIT, durante as décadas de ouro da investigação das drogas

Eduardo Martins NettoMédico epidemologista, professor da Pós-graduação em

Medicina e Saúde da UFBa e coordenador do Centro de

Pesquisa da Fundação José Silveira

Fundação José Silveira60

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 61

DEPOIMENTOS

Por que Medicina? Nunca soube explicar. Meu pai engenheiro

agrônomo, meu tio padre, meus tios-avós negociantes e lavradores.

Por que médico? Sei apenas que, desde o momento em que o pro-

blema se me apresentou – afora um rápido e transitório namoro

com as matemáticas –, só uma idéia me acudiu: a de ser médico.

José Silveira

Mais do que um nome marcante e significativo no cenário mé-

dico da Bahia, Dr. José Silveira passou a ser um referencial teóri-

co-prático da tuberculose na Bahia, e seu trabalho ultrapassou

as fronteiras nacionais e chegou ao mundo científico europeu.

Eu o conheci na juventude, ouvindo os jovens estudantes de

medicina pronunciarem o seu nome com admiração e respei-

to, creditando, àquele homem alto, magro e lépido, algo mais

que o título de professor. Naquela época, já era considerado

um cientista, um pesquisador apaixonado, por analisar, expe-

rimentar e descobrir algo raro na sua especialidade, também

raro naqueles idos do século passado.

Contaminado por uma infância tumultuada e sofrida, longe da

presenças paterna e do carinho materno, fortificou-se numa

adolescência vivida, em Santo Amaro e Feira de Santana, com

alegria, entre jovens saudáveis e garotas bonitas, deixando de

ser, como ele mesmo afirma, “cascabulho” para ingressar na

pretensiosa categoria de acadêmico.

Nessa condição, procurou usufruir do melhor que a gloriosa

Faculdade de Medicina da Bahia lhe tinha a oferecer. De acordo

com as chistosas categorias que se atribuíam, era agora “calou-

ro”, passando sequencialmente a “calouro enfeitado”, no segun-

do ano, “calouro de hospital” no terceiro, “doutor do quarto”,

numa alusão ao urinol, “[...] também chamado ‘doutor’ na vida

caseira”, “merda de doutor”, como apelidavam os quintanistas,

e, finalmente, “doutor de merda”, que, no último ano do curso,

já se considerava “[...] um sábio, via doentes, contestava os mes-

tres, operava e receitava, clandestinamente, bem se vê”1.

Mas, desde o início de sua vida acadêmica, absorve, dos gran-

des mestres, seus ensinamentos e seus valores. A análise crítica

que faz de todos eles evidencia o quanto pôde aprender com

aquela plêiade de professores com quem teve a sorte de convi-

ver na condição de “animal cáqui”, como o chamava Dr. Diniz,

por ele estar sempre abusando dessa “indumentária pobre e

única”. Assim ele entendia o porquê da sátira carinhosa.

Circulou José Silveira por entre os meandros das personalidades

de Mário Andréia, Augusto Viana, Couto Maia, Aristides Novis,

Adriano Gordilho, Prado Valladares, Sabino Silva, Jorge Valente,

Diniz Gonçalves, o grande Fernando São Paulo, Adolfo Diniz,

Leôncio Pinto e muitos outros. A respeito desses consagrados

médicos, conta, no seu admirável livro Vela Acesa, episódios

interessantes acontecidos entre eles e os estudantes, revelando

desse modo como era divertida a vida acadêmica, que ele viveu

intensamente, mergulhado na sua determinação de ser médico.

A concretização de um significativo ideal

(1. SILVEIRA, José. Vela acesa: memória. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1980. Os trechos aspeados ao longo do texto per-

tencem a essa obra.

As suas vivências como estudante de medicina representam

um documentário excepcional do curso médico da época,

quando se deparava com os mestres que tinham a volúpia da

reprovação e os que adotavam o regime do “passa tudo”. Des-

creve seus grandes mestres, categorizando-os, tentando sem-

pre compreendê-los, penetrar melhor nas suas características

pessoais, descrevendo muitas vezes suas metodologias, sua

maneira de examinar nas provas orais, de se comportar peran-

te a timidez de certos alunos e a arrogância de outros, inclusive

analisando a sua petulância de quintanista, “doutor de merda”

como se chamava, enfrentando Fernando São Paulo.

Não raro descreve as características físicas de seus mestres e

as alcunhas com que os alunos os identificavam: “Dr. Sopro de

Ponta”, “Professor Sudorese” (suava demais para ouvi-lo, pois

falava baixo e rouco). Com destaque, Dr. Silveira refere-se aos

cirurgiões, ao ensino da cirurgia com Fernando Luz, Caio Mou-

ra e Antônio Borja de quem narra uma artimanha para conten-

tar os pais, as mães principalmente, que aguardavam ansiosos a

definição do sexo do filho a nascer: dizia menino (ou menina) e

anotava, num pequeno caderno, os dados “dos genitores, data

provável do nascimento” e justamente o sexo oposto ao que

expressara verbalmente. Assim, se não coincidia, argumentava

que talvez se tivesse enganado, mas que iria rever ali as anota-

ções feitas por ocasião da consulta. Desse modo, mostrava a

anotação com a “previsão correta”, alertando para a possibilida-

de de o nervosismo e a ansiedade do momento terem levado

a um engano dos interessados.

Também se refere aos temporais violentos de Dr. Fernando Luz

e à grande resposta de Albino Leitão quando lhe aplicaram o

provérbio latino Verba Volant. Responde ele: “As palavras na

verdade voam, menos as minhas, porque a elas empresto o

peso da minha dignidade”.

Teonilo Amorim, Martagão Gesteira, o grande pediatra que

perpetuou seu nome no nosso grande hospital, Sepúlveda e

Valladares ganham um destaque especial na sua narrativa: “Se

Valladares foi o meu mestre, no sentido de abrir para mim

amplos e ambiciosos horizontes, estimular-me na busca de so-

lução e resposta a sérios e intrincados problemas científicos,

conduzir-me pelos caminhos ásperos do magistério científico,

ajudar-me, enfim, na sua clínica privada como na vida públi-

ca, foi Sepúlveda o guia verdadeiro dos meus primeiros pas-

sos, meu timoneiro firme nas procelas que tanto ameaçavam a

vida, meu amigo franco, leal, sincero e sempre fiel, nos momen-

tos graves e mais difíceis da minha existência”.

José Silveira tinha a ânsia do por que das coisas, e esta peculia-

ridade o acompanhou por toda a sua vida. Vivendo solteiro e

livre em plena juventude saudável, morou durante 17 anos (de

1921 a 1937) em pensões familiares e em algumas “repúblicas”.

Considerou essa fase de sua vida como risonha e franca.

Sempre bibliófilo, ligava pouco para a indumentária, embora

não fosse mais “animal de cáqui”. Na pensão de D. Mimi, no To-

roró, viveu anos e encontrou amigos, personagens ricas de sua

vida, como José Fiel que, ao morrer, deixou dividido em partes

iguais seu reduzido patrimônio para ele, Orlando Gomes, Go-

dofredo Filho e Eugênio.

Narrando episódios interessantes que ocorreram nesse perí-

odo de sua vida, consegue retratar uma época de juventude

saudável e bem vivida.

Sobre ele, também exerceu grande influência seu tio padre,

cuja vida tumultuada e cheia de percalços não o impediu de

se sagrar sacerdos in aeternum e conseguiu ser vigário da Purifi-

cação. Tendo vivido em ambiente religioso, vivenciou em tons

fortes a célebre festa de 2 de Fevereiro em Santo Amaro, para

homenagear Nossa Senhora da Purificação. A detalhada des-

crição que faz desses festejos demonstra claramente o quanto

amava a sua família, além da profunda ligação com sua terra.

Sua veia científica o levou à Europa, aproveitando, na Alema-

nha, todas as oportunidades que se apresentaram para se de-

dicar mais à Tisiologia do que à Radiologia, preparar-se para

enfrentar, com eficiência e coragem, a complexa e urgente

proposição de ser verdadeiramente um médico dentro de um

ideal humanístico.

Tímido e inexperiente, mas corajoso nas iniciativas tomadas

para conviver tanto quanto pôde com médicos alemães, fre-

quentou serviços de radiologia e até mesmo assistir cirurgias,

Leda JesuínoPrimeira diretora da Faculdade de Educação da UFBa e

presidente de honra da Academia Baiana de Educação

Fundação José Silveira62

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 63

DEPOIMENTOS

mesmo que às vezes tivesse de sair de Berlim para Berlitz para

ver operar o grande Kremer. Havia incluído um pedido-ordem

de seu mestre Valladares, para se interessar pela cura da tuber-

culose. Seu tempo na Alemanha foi bem cronometrado, pois,

entre a frequência regular e exaustiva aos serviços hospitalares

e conferências científicas e a convivência com as fräuleins loi-

ras e interessantes, os passeios e os contatos agradáveis com

o sexo feminino, chocando-se com os arroubos brejeiros dos

homossexuais, entregando flores à empregada como se fosse à

dona da casa, preparava-se o jovem médico para enfrentar, no

Brasil, um monstro: a tuberculose.

Voltou com um trunfo nas mãos. Havia feito, na Alemanha,

uma palestra, tendo sido aplaudido no mesmo momento em

que seu colega alemão não havia recebido palmas. Aprendeu

duas coisas ao término de sua fala: que os alemães aplaudem

de modo diferente e, o mais importante, que é preciso ter cora-

gem para enfrentar como visitante (als Gast) uma palestra em

alemão no Universität Institut para radiologistas.

Ao retornar, estava seguro da sua vocação científica, dos “ru-

mos do seu futuro”, conforme escreveu no seu livro Vela Acesa,

já citado. Foi livre-docente no Rio de Janeiro e catedrático na

Bahia, através de concurso da nossa Faculdade de Medicina,

em um daqueles concursos que se tornaram famosos pelos

hilariantes e/ou trágicos episódios que marcaram uma épo-

ca. Tive a oportunidade de presenciar alguns deles, quando

se aplaudia realmente os candidatos e era divertido assistir às

famosas arguições. Entrando sozinho para disputar a cátedra,

apresentou a tese Poder protetor do BCG nos alérgicos.

Enveredou o Dr. José Silveira pela tisiologia e, num pedido-

ordem de Dr. Valladares, procurou então se aperfeiçoar no

Rio de Janeiro e no exterior. Em 1934, o 3º Congresso Pan-

americano de Tuberculose, realizado em Montevidéu, reuniu

grandes tisiólogos, e ele percebeu, então, a “extensão epide-

miológica, social e humana da doença”, e, no convívio com

médicos de alto nível, compreendeu a necessidade de ir além

do seu consultório, que começava a ser muito procurado. A

tuberculose assustava as pessoas que temiam o contágio.

Nessa fase de sua vida, aconteceram numerosos episódios

que revelam as dificuldades de um tisiólogo diante de uma

clientela cheia de dúvidas e receios quanto a uma doença

ainda contagiosa e fatal, temida naquela época, obrigando o

paciente ao isolamento.

Mas continuava o anseio de ser professor e de encetar uma

luta aberta para debelar a tuberculose. Era necessário esclare-

cer, divulgar as estatísticas, lutar contra a doença. E, nessa luta,

ele se empenhou tenazmente. E desse élan tão forte quanto

a sua própria vida, nasceu o Instituto Brasileiro para Investi-

gação da Tuberculose (IBIT). A sua amizade com o Dr. Brauer

em 1934, no Uruguai, onde se impressionou com o nível dos

colegas do Prata, foi decisiva para isso, pois ele lhe incentivou a

ideia da fundação, no Brasil, de um Instituto para a investigação

da tuberculose.

Aí é o começo da sua saga, das suas lutas, das suas derrotas,

mas também das suas vitórias. No 1° Congresso Regional de

Medicina, relatou o tema “A Campanha Regional Anti-tuber-

culose na Bahia e deu seu grito de protesto e alarma: ”Na Bahia,

é um flagelo de tão extraordinárias proporções que, se não lhe

opusermos uma barreira forte, em combate enérgico, tenaz e

bem orientado, seremos responsabilizados, nas gerações vin-

douras, pelo crime de lhes havermos legado o maior fator de

degeneração e miséria”.

Começa aí o IBIT, o início de uma jornada laboriosa, necessi-

tando de união, de esforços e de sucessivas ações sinérgicas.

Na época, o secretário de Saúde era o Dr. Barros Barreto, sen-

do governador o General Juracy Magalhães. Surgiram, então,

algumas ações e associações importantes que o animaram a

prosseguir na luta.

Surgiu a Inspetoria de Tuberculose da Bahia, o Ramiro de Aze-

vedo entrou em Reforma para ser o Dispensário Central, deu-se

início à construção do Hospital Santa Terezinha, revitalizou-se

a Liga Baiana da Tuberculose por Alfredo Britto, Alfredo de Ma-

galhães, Gonçalo Muniz, Adeodato de Souza e Pedro Celesti-

no, foram criadas a Fundação Antituberculose Santa Terezinha

e a Sociedade de Tisiologia da Bahia.

Sua aproximação com o Dr. Arlindo de Assis e sua passagem

pelo Departamento de Saúde do Estado foram frutos significa-

tivos e representaram um mergulho numa realidade lamentá-

vel. Alarmado com o que viu, procurou realizar uma adminis-

tração sensível às necessidades imediatas dentro do possível,

no período de 1º de julho a 21 de dezembro de 1947.

Então, procurou oferecer o máximo que lhe foi possível ao Ins-

tituto Osvaldo Cruz, ao Hospital Juliano Moreira, ao Hospital

Couto Maia, aos Centros de Saúde, ao Centro de Tratamento

Rápido das Doenças Venéreas, ao Hospital Santa Terezinha,

sem esquecer o atendimento de saúde no interior do Estado.

Precisava, naquele momento, concentrar todo o seu energético

potencial para, através do IBIT, concretizar o seu ideal: comba-

ter a tuberculose. Os esforços posteriores foram acolhidos. Já

havia demonstrado muito da sua capacidade de articulação e

habilidade administrativa. Precisava agora de muita união, de

concentração de esforços, de demonstração contínua de firme

e inabalável vontade para buscar, com seu entusiasmo e poder

associativo, bagagem de conhecimentos e os caminhos para a

concretização de seu ideal – o IBIT.

Participou de inúmeras sociedades como a prestigiosa Socie-

dade de Medicina da Bahia, a Sociedade Médica dos Hospitais

da Bahia e a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na

Bahia, tendo no Rotary Club da Bahia desencadeado o pro-

cesso para fundar a Sociedade dos Amigos da Cidade. Esteve

sempre cercado de médicos renomados, homens capazes de

entender a sua luta por um ideal comum.

Devo ainda ressaltar o amor que o Dr. José Silveira devotou a

sua querida Ivonne, o qual, como é da essência de um amor

verdadeiro e forte, expandiu-se e envolveu o IBIT e a Bahia.

Fundação José Silveira64

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 65

DEPOIMENTOS

Nos primeiros anos do século XX, floresceram, na Faculdade

de Medicina da Bahia, dois grupos de médicos clínicos, orien-

tados, cada um deles, por professor dotado de significativa cul-

tura médica e humanística, capazes de aglutinarem valores: o

professor Prado Valadares e o professor Clementino Fraga.

Entre os médicos que compunham cada um desses grupos,

estavam José Silveira e César de Araújo, que vieram a ser, nos

anos que se seguiram, dedicados e eficientes profissionais na

condução dos problemas referentes à tuberculose.

Na época, a tuberculose na Bahia era um grande problema – “a

grande epidemia”. Matava mais que todas as doenças transmis-

síveis juntas. É bem verdade que, desde o início do século, algu-

mas medidas, na luta contra a tuberculose, no Estado, haviam

sido tomadas, tais como: a Liga Bahiana contra a Tuberculose

(1900), o Dispensário Ramiro de Azevedo (1919), a Fundação

Santa Terezinha (1936), e, sobretudo, o Hospital Sanatório San-

ta Terezinha (1942).

José Silveira diplomou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia,

em 1927. Como estudante, aproximou-se do professor Prado

Valadares, o seu “grande mestre”, e assim se manteve nos anos

que se seguiram à sua formatura. Defendeu a tese de doutora-

mento – “Radiologia da aorta descendente”, o que lhe valeu a

distinção da medalha Alfredo Brito. No início da sua formação,

foi orientado para a especialidade de radiologia.

Viajou para a Alemanha no ano de 1930. Orientado pelo Pro-

fessor Ludolf Brauer observou institutos , sanatórios para tuber-

culose, serviços clínicos e laboratórios especializados. A com-

Um herói na luta contra a tuberculose

paração do que via na Alemanha com o que conhecera, na

Bahia, convenceu-lhe de que muito havia de fazer na sua terra.

Germanizou-se: na disciplina e na assiduidade no trabalho e na

exatidão e fidelidade aos compromissos que assumia.

Ao regressar, participou do 1º Congresso Regional de Medicina

da Bahia (1935). Apresentou, então, um plano de combate à

tuberculose em que conclamava a participação ativa dos ór-

gãos governamentais, considerada de importância precípua.

Não lhe deram ouvidos. Decidiu então, criar, na Bahia, uma

instituição que atendesse ao seu objetivo de fazer pesquisa da

tuberculose, pois, “não se poderia progredir sem que se criasse

uma base científica”.

Neste sentido, em fevereiro de 1937, fez surgir o IBIT (Instituto

Brasileiro para a Investigação da Tuberculose). Na época, Silvei-

ra tinha 33 anos de idade, sem economia própria, sem prestígio

social. Muitos anos depois, refletindo sobre aquele seu gesto

audacioso, comentou ter sido “o desafio de um louco”.

O IBIT foi iniciado no sub-solo do Ambulatório Augusto

Viana e permaneceu no Canela até 1946, em condições mo-

destas. Mesmo assim, Silveira não ficou de braços cruzados.

Lutou. Na Federação, junto ao Cemitério do Campo Santo,

conseguiu um terreno, onde construiu a sede da Instituição,

que lá permanece até hoje.

Novos horizontes se abriram. Pesquisadores de outras nacio-

nalidades estiveram no IBIT, formando pessoal, estabelecendo

laboratórios, implantando setores de pesquisa, realizando cur-

sos e proporcionando intercâmbio de brasileiros e estrangeiros.

Editou uma revista “Arquivos do IBIT”, onde foram publicadas

as pesquisas realizadas e acontecimentos relacionados com

a especialidade. Organizou uma biblioteca especializada de

boa qualidade.

Em 1950, Silveira, após concurso, tornou-se professor catedrá-

tico de Tisiologia da Faculdade de Medicina da Bahia, o que

muito lhe satisfez.

Mas, novos ventos sopraram no tratamento da tuberculose. Os

antibióticos e quimioterápicos mudaram substancialmente a te-

rapêutica da doença e o destino dos doentes. Passou a época do

pneumotorax, pleural e extrapleural; da toracoplastia mutilante,

do pneumoperitônio, das pneumectomias freqüentes, da secção

do frênico – de todas as manobras de colapsoterapia. A época

dos agonizantes com insuficiência respiratória, sem nenhuma

possibilidade de ajuda pela falta de tecido pulmonar, das he-

moptises fulminantes, das hospitalizações sem fim.

O advento da estreptomicina, da rifampicina, da isoniazida, do

etambutol, dos PAS mudou o prognóstico da doença de tal for-

ma que se falava da tuberculose como vencida. A doença per-

deu a sua individualidade e passou a ser considerada como uma

das outras doenças infecciosas. Apagou a figura do tisiologista.

Ledo engano, porém. A tuberculose continua a ser um problema

expressivo. A resistência bacteriana, as micobaterias atípicas, a tu-

berculose nos pacientes aidéticos, os pacientes provenientes de

ambientes empobrecidos e promíscuos e outras situações.

O Hospital do Tórax foi construído em continuidade à sede do

IBIT e representou a concretização de um projeto do Professor

Silveira, de atender a pacientes com doenças do tórax. Posterior-

mente o Hospital do Tórax passou a ser denominado Hospital

Santo Amaro, homenageando o Professor Silveira com o nome

da sua cidade natal, voltado para o atendimento materno-infantil.

Nos anos 80, foi constituída a Fundação José Silveira, composta

pelo Hospital Santo Amaro, pelo Laboratório José Silveira (na

época denominado Laboratório Ludolf Brauer), pelo Núcleo

de Toxicologia Ambiental e pelo Cento de Saúde Ocupacional.

O IBIT continuou o seu papel filantrópico de atender pacientes

com tuberculose. As Unidades Assistenciais de Saúde, da qual

faz parte o IBIT e mais ainda, o Instituto Baiano de Reabilitação,

o Centro Pestalozzi de Reabilitação, a Santa Casa Hospital São

Judas Tadeu (em Jequié), o Hospital N. Sra. da Natividade em

Santo Amaro, além do Programa Saúde e Cidadania.

Ao completar 70 anos, o Professor Silveira voltou sua atenção

para as pegadas que fez no caminho que havia percorrido. Per-

cebeu os primeiros sinais de que o tempo começava a cobrar

os seus direitos. Relembrou o esforço que fez para construir e

organizar o IBIT e o Hospital do Tórax e imaginou que, mais

tarde, o destino iria ampliar os seus compromissos, o que re-

almente aconteceu, com o surgimento de uma Fundação que

recebeu o seu nome.

Refletiu que era chegado o momento de registrar os aconteci-

mentos que tinha vivido.

Entre 1975 e 1994, escreveu os 15 livros, abaixo relacionados:

• Imagens da minha devoção – 1975

• Do carro de boi ao zepelin- 1976

• À sombra de uma sigla – 1977

• A palavra do José - 1978

• Vela acesa – 1980

• Prado Valadares: Idéias, doutrinas e atitudes – 1982

• Pérolas e diamantes – 1984

• O neto de D. Sinhá – 1985

• O alemão do Canela – 1988

• No caminho da redenção – 1988

• Paradígmas: Vidas que ensinam, exemplos que engrande-

cem – 1989

Rodolfo TeixeiraMembro da Academia de Medicina da Bahia e

professor titular de Doenças Infecciosas e

Parasitárias da Faculdade de Medicina da Bahia

Fundação José Silveira66

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 67

DEPOIMENTOS

• Colcha de retalhos: idéias, fatos e sugestões – 1990

• Obstinação: aspectos da vida de um hospital – 1992

• Últimos lampejos: idéias, depoimentos, conceitos e pre-

ceitos – 1993

• Uma doença esquecida: a história da tuberculose na Bahia

– 1994.

Os seus livros são de um memorialista, obcecado por toda a sua

vida, pelo IBIT e por uma doença lendária – a tuberculose. Em mui-

tos momentos, orgulhoso e otimista com o trabalho que realizava

e, em outras ocasiões, se mostrava, injustamente, desencantado.

Os amigos e colaboradores, médicos e empresários e, às vezes,

políticos, aparecem, em muitos momentos, no seu texto, com

os seus agradecimentos.

Porém, a grande razão da sua obsessão foi a sua esposa que-

rida, D. Ivonne Silveira, companheira fiel, sempre presente ao

seu lado. Organizou programas de assistência à família dos do-

entes pobres, manteve a Escola do Menino Jesus, criada pela

comunidade carente do Alto das Pombas. A sua presença foi

uma constante em todas as iniciativas de Silveira e ele, afetuoso

pediu-lhe “compreensão por tê-la queimado na chama ardente

e torturante de um ideal inatingível”.

Exemplo que honra a Bahia

Antonio Carlos Vieira LopesPresidente da Associação Bahiana de Medicina

(ABM) e professor doutor aposentado e emérito da

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Na comemoração dos 75 anos da Fundação José Silveira, cum-

pre-nos exaltar o legado do seu líder maior e fundador, o pro-

fessor José Silveira, eminente cientista e médico dos mais huma-

nitários. A semente lançada por ele em 1937, quando a Bahia

ostentava uma das mais altas taxas de incidência de tuberculose

do país, foi a implantação do atual Instituto Brasileiro para In-

vestigação do Tórax – IBIT. Trata-se de uma obra que se tornou

referência internacional no combate à doença e foi a base para

a criação da Fundação José Silveira, instituição que prima pelo

padrão de excelência em suas atividades, projetos e obras.

O professor José Silveira foi um homem notável, com um con-

junto de atributos que o projetaram como um dos grandes

nomes na medicina bahiana. Foi um especialista de reconheci-

mento internacional, com vários artigos, pesquisas e trabalhos

científicos publicados no Brasil e no exterior. Implementou uma

instituição de referência, embasada em uma ampla cobertura

médico-assistencial aos pacientes portadores de tuberculose,

que inclui não só o acompanhamento terapêutico, mas ações de

amparo social e nutricional. O resultado pode ser constatado até

hoje, quando a instituição ostenta índices elevados de cura e de

adesão ao tratamento, em percentuais acima dos preconizados

pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Para exaltar a herança deste médico e cientista visionário é in-

dispensável contextualizar a sua atuação em várias frentes. Pelo

seu dinamismo, coragem e perfil empreendedor, o professor

José Silveira também projetou-se como uma liderança atuante

da classe médica na Bahia. Foi aclamado pelos colegas como

presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM) em dois

biênios consecutivos (1946 – 1949).

À frente da presidência da ABM, Dr. José Silveira intensificou a

atualização científica, com a realização de conferências e cur-

sos, que mobilizaram públicos bem maiores em relação aos

das gestões que o precederam. Entre outros feitos, ele se nota-

bilizou pelo extraordinário êxito do 3o Congresso Regional de

Medicina. Atividade memorável, inserida nos anais da história

da nossa atuante Associação.

Pela sua trajetória, Dr. José Silveira e sua Fundação, com re-

conhecida atuação nos campos da assistência social, saúde e

meio ambiente, são exemplos que honram a Bahia. Um lega-

do que merece o justo reconhecimento pelo alcance social da

sua obra em benefício de milhares de baianos, sobretudo junto

à população de baixa renda, contemplada pelos programas e

ações assistenciais da Fundação José Silveira.

Fundação José Silveira68

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 69

DEPOIMENTOS

Nessa histórica e marcante ocasião, em que se celebra a lou-

vável e bem sucedida trajetória de 75 anos da Fundação José

Silveira, honradamente, e com grande satisfação, associo-me

a essas comemorações, prestando um simples e breve depoi-

mento da nossa vivência pessoal, registrando os laços e amáveis

coincidências que nos unem, direta ou indiretamente, a essa

grandiosa instituição, que agora se deseja homenagear.

A) Lembro-me de visitar, frequentemente, quando criança,

meu avô materno, saudoso e renomado pediatra, Dr.

Álvaro Pontes Bahia, em seu consultório, localizado no

edifício A Tarde, na Rua Chile. No mesmo prédio, tam-

bém estava instalado o consultório do Dr. José Silveira,

eminente e respeitado cientista, tisiologista. Além de co-

legas de profissão e vizinhos de consultório, os dois eram

amigos e mantinham longas conversas sobre assuntos

médicos e sobre a atuação de cada um. Recordo-me, ain-

da, que uma antiga auxiliar de nossa residência contraiu

a Tuberculose. Minha mãe, preocupada, recorreu a meu

avô que, rapidamente, contatou o Dr. Silveira. Como de

costume e com sua generosidade, imediatamente ele

deu todo o apoio e orientação necessários. Após longo e

eficiente tratamento através do IBIT, deu-se a cura, para

alegria de todos nós.

B) José Silveira e Álvaro Bahia, além de dedicados e com-

petentes médicos em suas respectivas áreas de atuação,

tinham, também, em comum, o vibrante idealismo pro-

fissional, voltado para o social, realizando e idealizando,

cada um no seu mister, reconhecidas entidades de nobre

Parceiros na filantropia

Rosina Bahia Alice Carvalho dos SantosPresidente da Diretoria Executiva da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil

missão, destinadas, especialmente, para as pessoas mais

carentes: 1) Dr. Silveira, criando o IBIT (Instituto Brasileiro

para a Investigação da Tuberculose), em 1937, instituição

de vanguarda e de grande valor, internacionalmente re-

conhecida na pesquisa e no tratamento da Tuberculose,

que era considerada, na época, o mal do século, célula

mãe da Fundação José Silveira, tornando-se referência,

no estado, no combate à Tuberculose. Com a expansão

do IBIT, foram criados outros serviços e unidades, tanto

na área da saúde, quanto na assistência social, destacan-

do-se a criação do Hospital Santo Amaro. 2) Dr. Bahia,

idealizando a então Liga Bahiana Contra a Mortalidade

Infantil, fundada, conjuntamente com o Dr. Joaquim

Martagão Gesteira e Álvaro da Franca Rocha, em 17 de

junho de 1923, denominada, a partir de 1967, Liga Álvaro

Bahia Contra a Mortalidade Infantil, que vem prestando,

ao longo de seus quase 90 anos, inestimáveis serviços

em prol da saúde da criança, particularmente a menos

favorecida. Posteriormente, visando prestar uma atenção

mais efetiva e integral à criança, idealizou e fundou, em

1946, o Hospital Martagão Gesteira, inaugurado em duas

etapas, 1965/66, igualmente referência, em nosso estado,

na área da Pediatria, que foi, indubitavelmente, o grande

sonho e realização da sua vida.

C) O Sr. Carlos de Aguiar Costa Pinto, grande empresário

do açúcar e colecionador de obras de arte, verdadeiro

mecenas, promotor e patrocinador das mais diversas ati-

vidades culturais, educativas, científicas, artísticas, religio-

sas e esportivas da nossa terra, era amigo muito próximo

do Dr. Silveira, tendo sido um dos grandes benfeitores do

IBIT, concorrendo, decisivamente, para a sua concretiza-

ção e manutenção. Assim, quando foi instituída a Funda-

ção Museu Carlos Costa Pinto, faziam parte do seu então

Conselho Diretor, dentre outros membros, dois grandes

amigos de Carlos e Margarida Costa Pinto: o Dr. José Sil-

veira e o professor Dr. Pedro Tenório de Albuquerque. Em

05 de novembro de 1969 (Dia da Cultura), quando era

Governador da Bahia o Dr. Luís Viana Filho, foi inaugura-

do o Museu Carlos Costa Pinto. Nessa solenidade, o Dr.

José Silveira proferiu o discurso de saudação em nome

da instituição, como Conselheiro da Fundação Museu

Carlos Costa Pinto.

Em 1974, foi assinado um convênio de cooperação téc-

nica entre a Universidade Federal da Bahia, representada

pelo magnífico reitor Dr. Lafayette de Azevedo Pondé e a

Fundação Museu Carlos Costa Pinto, pela presidente D.

Margarida de Carvalho Costa Pinto, para a implantação

e organização da Biblioteca do Museu; a partir de en-

tão, como bibliotecária da Universidade, passei a exercer

minhas atividades profissionais na Biblioteca Margarida

Costa Pinto, aí permanecendo por 35 anos. Após minha

aposentadoria, e para minha grande satisfação, fui convi-

dada a integrar o Conselho Curador da Fundação Museu

Carlos Costa Pinto, função, por coincidência, anterior-

mente também ocupada pelo Dr. Silveira.

D) A Fundação José Silveira, sábia e competentemente pre-

sidida pelo Dr. Geraldo Leite, e conduzida com sucesso e

modernidade pela dinâmica Superintendente Leila Brito,

firmou, em 05 de abril de 2012, parceria com a Liga Ál-

varo Bahia Contra a Mortalidade Infantil, entidade filan-

trópica, que temos a grande honra e alegria de presidir,

mantenedora do Hospital Martagão Gesteira, liderado

pelo superintendente Carlos Emanuel Rocha de Melo,

que passou, assim, a contar com o relevante apoio da

Fundação, visando, principalmente, a transferência de

tecnologia assistencial e empresarial (processos, remode-

lagem, despesas, etc), objetivando a melhoria da presta-

ção de serviços ao SUS (Sistema Único de Saúde), através

da qual foram disponibilizados recursos humanos para a

ampliação dos atendimentos e melhoria na gestão.

Assim, estão sendo beneficiados, mensalmente,  cerca de

15.000 crianças e familiares atendidos pelo Martagão, com os

ganhos de eficiência administrativa e operacional, comparti-

lhados com a Fundação José Silveira. Na referida solenidade, as-

sinaram o Termo de Cooperação o presidente em exercício do

Conselho de Curadores da Fundação José Silveira, Dr. Fernando

de Souza Pedroza, representando o presidente – ausente por

motivo de viagem –, e a Presidente da Liga Álvaro Bahia Contra

a Mortalidade Infantil. A oficialização dessa parceria confirma

e consolida a antiga amizade entre os médicos Álvaro Bahia e

José Silveira, fundadores de duas instituições, hoje homônimas,

que dedicaram, ao longo de suas vidas profissionais, seus traba-

lhos e notáveis esforços em defesa dos mais carentes.

A população da Bahia, especialmente as crianças, agradecem a

sensibilidade dessas duas meritórias instituições filantrópicas!

Fundação José Silveira70

DEPOIMENTOS

Revista FJS em Ação 71

DEPOIMENTOS

Centenário de nascimento de José Silveira (1904-2004)

Edivaldo BoaventuraProfessor da Universidade Federal da Bahia, diretor-geral do jornal

A Tarde e ex-presidente da Academia de Letras da Bahia

Havia, em casa de minha avó paterna, uma fotografia muito im-

portante e altamente significativa. Importante pelas pessoas que

lá estavam. Toda a Feira do início do século, como o Sr. Berna-

dino Bahia e D. Luísa, e o farmacêutico José Alves Boaventura e

D. Lídia Abreu de Oliveira Alves de São Boaventura, meus avós

paternos. Meu pai, ainda de calças curtas, padre Loureiro e um

coroinha, louro e magro, seu sobrinho, o Zequinha de padre

Loureiro, como era chamado o Dr. José Silveira. A fotografia é o

testemunho do lançamento da pedra fundamental da Igreja do

Senhor dos Passos. A velha havia sido demolida. Lutava-se pela

construção de um templo novo. Afinal, não poderia haver uma

avenida Senhor dos Passos sem a Igreja do seu patrono!

A fotografia fixou o grupo de pessoas que liderava a Feira de

então, isto é, no começo do século XX e marcou também a

lembrança da amizade de infância entre o tisiologista e meu

pai. Amizade construída nos anos em que Silveira morou em

Feira, acompanhando o seu tio padre. Amizade que durou

todo o tempo, enquanto meu pai foi vivo. Silveira e o padre

Loureiro voltaram a Santo Amaro; depois ele seguiu medicina,

meu pai continuou em Feira. A diversidade de ocupações não

os separou. De vez em quando ouvíamos falar no seu nome tão

conhecido, reconhecido e, por todos nós, respeitado.

Acostumei-me, desde muito cedo, a ouvir falar no Dr. Silveira,

como um referencial ao mesmo tempo científico, pelo esforço

denodado do seu trabalho, e afetivo, pelos laços de amizade

com o pessoal da Feira e, em especial, com meu pai: foram co-

legas de escola de D. Isaura Paiva e juntos colecionavam selos.

Embora separados, um, em Feira, e outro, em Salvador, quando

havia problema de saúde sério, Silveira aparecia em cena. Mi-

nha mãe teve que ser operada, Silveira logo foi consultado e

lastimou não poder dar-lhe maior assistência, porque ia viajar

para a Europa.

Os quadros da infância seriam avivados com os nossos encon-

tros em Salvador. Assim, passei a olhá-lo de longe, admirando o

seu trabalho, mas já o conhecendo muito de perto, por todas

aquelas lembranças e referência lá de casa.

Como Godofredo Filho, José Silveira foi uma amizade que veio

de meu pai. Da Feira para Salvador. Mudei e trouxe acrisoladas

essas duas admirações, o tempo e o momento se encarrega-

ram de nos aproximar.

O trabalho, a pertinácia, o idealismo, a luta contra a tuberculo-

se, o IBIT, o profissional altamente competente, conhecido na

Bahia, dentro e fora do Brasil, tipificavam o seu desempenho.

Assim, morando ambos em Salvador, frequentando a mesma

Universidade, o Rotary Club, pela colaboração na imprensa, so-

bretudo no jornal A Tarde, fomos nos encontrando e ativando

antigos laços. A velha amizade paterna de vez em quando subia

à tona e era rememorada.

Quando fui Secretário de Estado da Educação e Cultura pela pri-

meira vez, no governo Luís Viana Filho, fiz um convênio com ele.

Depois, na Academia, passamos a nos encontrar. Consolidava a

admiração, que fazia nascer entre ele e eu, apesar da diferença de

idade, uma amizade, um encontro e uma convivência.

Quando li suas memórias em Vela Acesa, pude recompor o

homem por inteiro. A sua vida, sua luta para estudar, a admi-

ração e o esforço de sua avó, que não mediu sacrifícios para

vê-lo doutor, vendendo até uma das duas casas que possuía,

impressionaram-me sobremaneira.

Causou-me admiração com ele tentou e fez ciência e pesquisa

médica na Bahia. Mas o médico famoso, que eu conhecia pelo

referencial paterno, se aproximava cada vez mais de mim. Certa

feita, candidatei-me à Academia de Letras na Bahia e pergun-

tei-lhe sobre determinado médico que ia concorrer comigo. Eu

não o conhecia e ele me respondeu:

− Impossível você não conhecê-lo. É aquele médico

que já descobriu a cura do câncer várias vezes […].

Gostava do seu senso de humor. Fino e raro entre nós.

Se nas publicações médicas e científicas estão os resultados

de suas pesquisas e do ensino, na cátedra de Tisiologia, que

ele tanto ilustrou, na sua memorialística e nos livros de viagem,

reencontro o homem, amigo de infância de meu pai e meu

amigo por herança, revivida na convivência.

A ordem, o caráter, e a disciplina, o espírito de investigação, que

ele tanto admirava no ilustre confrade, levaram-me a fazer uma

releitura dos seus Antecedentes, títulos e trabalhos, publicado

pela Imprensa Regina, Salvador, em 1949. É a tradição europeia

do memorial de títulos e trabalhos que se transplantou para a

Faculdade de Medicina. De 1922 a 1949, que trajetória! Ascen-

são à Cátedra. Em publicação juntou as palavras de Arlindo

de Assis, então diretor do Departamento Nacional de Saúde,

representante do ministro Simões Filho, na sua posse como

professor catedrático, o discurso do argentino Nicolas Roma-

no, e as palavras de Adriano Pondé e do próprio Silveira. Longa

e trabalhosa caminhada de estudante e catedrático.

A memorialística começaria com Imagens da minha devoção

(1975). Enumera aqueles que o ajudaram na sua formação ou

na complementação íntima da amizade. Presente no seu ima-

ginário Prado Valadares, Fernando São Paulo, Rogéria Gusta-

vo dos Santos.

As memórias se completam com as impressões de viagem. E

Silveira era um grande viajante. Do carro de boi ao Zeppelin,

crônicas de viagem, publicado em 1976, é o relato de sua vol-

ta pelo mundo.

A sua criação maior, animada e organizada por ele, com o

apoio e a ternura de D. Ivone, aparece de retrato inteiro – Á

sombra de uma sigla ou 40 anos de IBIT, publicado em 1977.

Silveira com o IBIT, pelo ensino, pela pesquisa e pela extensão,

criou uma universidade. Nesta gradação de imagens, viagens

e sombras, chegou Silveira à plenitude de sua memorialística

com Vela Acesa, publicado pela Civilização Brasileira, em 1980.

As suas memórias interessam de muitas maneiras. É a avaliação

que fez do ensino superior de sua época. Havia honestidade e

seriedade na transmissão de muitos professores; outros mistu-

ravam a atividade docente com a política; a pesquisa, porém,

era quase inexistente.

Evoco o Silveira, médico renomado e lutador incansável na ba-

talha da tuberculose, professor, pesquisador e escritor por in-

teiro. É esse Silveira que totaliza cem anos, que trago, pleno de

amizade, respeito e admiração, para esta festa centenária que a

Academia de Letras da Bahia comemora ano lançar o livro de

Jorge Calmon Santo Amaro, devoção de José Silveira.

Fundação José Silveira72 Revista FJS em Ação 73

ARTIGOS

Participação de José Silveira na Academia de Medicina da Bahia

“É de supor, pela natureza de sua destinação, pelo saber dos que

as integram, que às Academias compete este papel relevante de

esclarecer e conduzir o pensamento médico, a prática da Medici-

na, a dignidade da profissão, jamais olvidando a parcela que lhes

cabe nessa função orientadora, doutrinária e filosófica.”

(Sá Menezes, J – An Acad Med Bahia 1:11-23, 1978, pág. 23)

Ter-me-ia sido mais fácil escrever ou falar sobre José Silveira

como mestre, porque ele ainda foi meu eficiente professor de

Tisiologia na Faculdade de Medicina, nos idos de 1963. Mais

ainda, como consagrado escritor, porque li, prazerosa e aten-

tamente, todos os seus 14 livros. Como médico e pesquisador,

porque conheço sua vida profissional e científica. Mas como

dizer não a um convite de meu dileto confrade, conterrâneo e

amigo, Geraldo Leite, ainda mais sendo eu o presidente de uma

instituição que ele ajudou a criar e a desenvolver?

Vou contar sobre José Silveira e sua passagem pela Academia

de Medicina da Bahia, sua contribuição e seu legado. Servir-

me-ão de base impressões pessoais, bem como informações e

opiniões de outros que o conheceram bem e acompanharam

sua trajetória na instituição.

Conforme retrospecto histórico da fundação e do funciona-

mento da Academia, publicado por um dos paradigmas dela,

o saudoso confrade Jayme de Sá Menezes, a entidade foi criada

a partir do ideal de Jayme, comungado por Urcício Santiago

e José Ramos de Queiroz, que convidaram os demais futuros

confrades, considerados membros fundadores, entre os quais o

mestre Silveira, que logo emprestou sua solidariedade e apoio.1

Encontrei, nesse depoimento abrangendo duas décadas

(10.07.58 a 1978), notícias sobre o desempenho de José Silveira

no sodalício. Há referência sobre duas conferências importan-

tes, uma sobre o tema “Por que atualmente ainda fracassa

o tratamento da tuberculose?”, oportuna advertência sobre o

prosseguimento do perigo em que o bacilo de Koch continu-

ava (e continua) se constituindo, apesar das medidas terapêu-

1 Presidente da Academia de Medicina da Bahia.

Thomaz CruzPresidente da Academia de

Medicina da Bahia

ticas disponíveis (resistência a medicamentos, novas cepas), e

outra sobre “Patologia Pulmonar - Ontem e Hoje”, o passado

e o presente da Pneumologia, assuntos de seu amplo domínio.

Silveira também organizou, coordenou e participou, provoca-

tiva e proveitosamente, em simpósio sobre Pesquisa Médica.

Ao percorrer detalhadamente os 14 volumes dos Anais da Aca-

demia de Medicina da Bahia, cuja publicação Silveira deu início

durante sua primeira gestão como presidente, enfrentando,

como ele escreveu na apresentação, “dificuldades várias, prin-

cipalmente financeiras, inicialmente custeadas com recursos dos

próprios acadêmicos”, descobri 11 artigos de sua lavra 2-11 sobre

temas os mais variados. Destaquem-se:

• A Valorização do Médico2, simpósio em partici-

pação com próceres da Medicina, como Aloysio de

Paula, Murilo Belchior e Mário Rigatto, em que o

prestígio do médico foi abordado e discutido. 2

• Os Vinte Anos da Academia4, comemorados sob

sua presidência (1975-1979).

• Aula Magna (inaugural) da Universidade Federal

da Bahia sobre Medicina e Pesquisa8, um exemplo

de experiência, lucidez e espírito crítico.

• Abandono criminoso9, sobre a saída da Faculdade

de Medicina do Terreiro, a campanha pelos reparos

do prédio e, nela, o envolvimento da Academia, o

regozijo pelo encaminhamento das obras e as ideias

sobre a destinação do edifício.

Sete publicações sobre:

• Manoel de Abreu (ícone da Radiologia, criador

da abreugrafia).3

• Thales de Azevedo5, médico, ilustre antropólo-

go, confrade.

• Cardoso Fontes7, baluarte de Manguinhos, o pri-

meiro a empregar o método experimental no estudo

da tuberculose em terras brasileiras.

• Prado Valadares10, o grande propedeuta, seu mes-

tre e ídolo.

• O mais argentino dos médicos brasileiros11, ele

mesmo, discurso ao agradecer o título de Membro

Honorário da Academia de Medicina de Buenos Aires.

• Fernando São Paulo12, mestre da Terapêutica Clíni-

ca, que dividia sua aula entre tratamento para doen-

tes pobres e doentes abastados.

Nesses mesmos Anais, Silveira mereceu, ao longo da existên-

cia da Academia, publicações 13-20 ressaltando-lhe o valor e a

contribuição como acadêmico. Sua leitura fornecerá mais ricos

detalhes sobre o que ele fez e o que dele se pensava e pensa:

• Sá Menezes, no Retrospecto Histórico da Fun-

dação e Funcionamento da Academia e Nos 25

Anos da Academia, que se refere à campanha de-

sencadeada pela instituição para que o edifício da

antiga Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do

Brasil, fosse transformado em Monumento Histórico

da Medicina Nacional, movimento à frente do qual

José Silveira sempre esteve.1 Nos 25 Anos da Aca-

demia, Sá Menezes diz que a Silveira, “honra de uma

classe, no seu incurável idealismo, e com o amor que

devota a esta Academia, creditam-se serviços impon-

deráveis, uma ação inteligente e militante a favor do

prestígio sempre crescente da instituição a que tanto e

superiormente há servido, sobretudo nos dois períodos

em que exerceu a presidência”.13

• Cruz, durante a outorga pelo Rotary Club da Bahia

da Medalha de Mérito Científico José Silveira a Elsi-

mar Coutinho, fez, em discurso, um resumo da vida

profissional e cultural do mestre14, e Calmon Teixeira,

na oração proferida quando da concessão do Título

de Mérito aos Acadêmicos Jayme de Sá Menezes e

ARTIGOS

Fundação José Silveira74

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 75

ARTIGOS

José Silveira, escreve que “coube a Silveira desfraldar

a bandeira em favor da preservação do edifício secu-

lar da Faculdade de Medicina, ao Terreiro de Jesus”. Na

qualidade de presidente da Academia (1975-1979),

por duas gestões, “atraiu para a casa novos acadêmi-

cos, organizou simpósios sobre temas de maior inte-

resse da comunidade, abriu as portas das reuniões ao

grande público e iniciou a publicação dos Anais, dos

quais foi responsável pela publicação dos dois primei-

ros números.” 15

O feiticeiro de Santo Amaro da Purificação, o alemão do Ca-

nela, o polifacético, o canário arrepiado, um lutador, vela acesa,

lenda viva, fecundo gerador de ideias e Ulisses renascido são

cognomes16 que Silveira recebeu por sua luta contra a tubercu-

lose, o seu combate contra o fumo, pela sua múltipla atuação

na área associativa:

• Associação Bahiana de Medicina

• Clube Bahiano de Xadrez

• Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia

• Sociedade Amigos da Cidade

• Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT)

• Associação Baiana de Combate ao Fumo

• Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro (NICSA)

• Sociedade de Cultura Artística da Bahia (SCAB)

Todas foram instituições que fundou, ajudou a fundar ou das

quais participou ativa e entusiasticamente. A elas se acrescen-

te a nossa Academia de Medicina da Bahia, a qual, por quase

nove lustros (1958-2002) “engrandeceu-a com seu nome, vita-

lizou com sua ação, conferindo-lhe brilho e prestígio invulgares.

Como seu presidente, com seu trabalho e visão, projetou a en-

tidade além das fronteiras estaduais, ampliando seu prestígio,

através da dinamização de suas ações e aumento de sua qua-

lificação”, como escreveu Geraldo Milton da Silveira, em seu

trabalho por ocasião do centenário do mestre. 17

Serravalle18, por solicitação do autor desta comunicação, no

seu primeiro mandato como presidente da Academia (2003-

2005) e por ocasião do centenário de mestre Silveira, fez-lhe

uma apologia, chamando-o de “samaritano da saúde, novel

cavaleiro da esperança”. Afirmou que Silveira atingiu os 95 anos

de idade “lúcido, valoroso e vital à sociedade, encimando nobres

ideais e campanhas esclarecedoras”, e Berbert de Castro19 escre-

veu que Silveira era “um Dom Quixote que sempre vencia suas

batalhas, que não lutava contra moinhos de vento, mas lutava

contra gigantes e os derrotava.”

Durante sessão conjunta da Academia de Medicina da Bahia

e da Academia de Letras da Bahia, foi-lhe entregue o título de

membro honorário da Academia Nacional de Medicina de

Buenos Aires, máxima titulação com que são brindados os

professores de outros países. O discurso da outorga foi pro-

nunciado pelo presidente dessa instituição, o eminente tisio-

logista argentino Lauro Astolfi (15 de agosto de 1985), ocasião

em que ele afirmou que o nome de Silveira naquele sodalício

se pronunciava com admiração e respeito.20

Na minha estada na Academia, fui testemunha da contínua

vibração acadêmica do mestre Silveira, até a sua conclusão,

em 2002, nunca esmaecida. Foi um acadêmico por excelência.

Durante toda a sua permanência na casa, José Silveira foi um

participante assíduo, entusiasta, questionador, ativo, realizador.

A ele todas as loas que possamos cantar não bastarão.

Seu legado permanece como um exemplo para seus confra-

des – de dedicação e persistência, de constante oferecimento

de si próprio à causa acadêmica. E também um estímulo aos

confrades do futuro, que serão responsáveis pela manutenção

do prestígio e do desenvolvimento constante da Academia de

Medicina da Bahia.

REFERÊNCIAS

1. Sá Menezes J de: Retrospecto Histórico da Fundação e Fun-

cionamento da Academia de Medicina da Bahia. An Acad

Med Bahia 1:11-23, 1978.

2. Silveira J: Valorização do Médico. An Acad Med Bahia 1:83-

85, 1978.

3. Silveira J: O Abreu que conheci. An Acad Med Bahia 1:187-

194, 1978.

4. Silveira J: Vinte Anos de Academia. An Acad Med Bahia 2:11-

15, 1979.

5. Silveira J: Thales de Azevedo. An Acad Med Bahia 2:287-288, 1979.

6. Silveira J: Gumercindo Sayago: um médico argentino que

viveu a medicina brasileira. An Acad Med Bahia 3:21-31, 1981.

7. Silveira J: Cardoso Fontes. An Acad Med Bahia 3:71-78, 1981.

8. Silveira J: Aula Magna – Medicina e Pesquisa. An Acad Med

Bahia 4:31-42, 1982.

9. Silveira J: Abandono Criminoso. An Acad Med Bahia 4: 59-

63, 1982.

10. Silveira J: Prado Valadares. An Acad Med Bahia 5:17-24, 1983.

11. Silveira J: O mais argentino dos médicos brasileiros. An

Acad Med Bahia 6-81-91, 1985.

12. Silveira J: Fernando São Paulo. An Acad Med Bahia 7:151-

156, 1987.

13. Sá Menezes J de: Nos 25 Anos da Academia. An Acad Med

Bahia 6:153-159, 1985.

14. Cruz T: Ninguém é profeta na sua terra. Medalha de Méri-

to Científico José Silveira (Rotary Club da Bahia) a Elsimar Cou-

tinho. An Acad Med Bahia 10:77-90, 1994.

15. Calmon Teixeira LC: Oração proferida quando da conces-

são e outorga do título de Emérito aos acadêmicos Jayme de

Sá Menezes e José Silveira. An Acad Med Bahia 10:93-105, 1994.

16. Almeida Souza JA: Discurso de Posse. An Acad Med Bahia

10:317-328, 1994.

17. Silveira GM: Centenário do Prof. José Silveira. An Acad

Med Bahia 13:95-92, 2004.

18. Serravalle A: Apologia a José Silveira. An Acad Med Bahia

14:101-106, 2004.

19. Berbert de Castro JA: José Silveira, um dos maiores nomes

da Medicina baiana. An Acad Med Bahia 13:149-155, 2004.

20. Astolfi L: Saudação ao prof. José Silveira. An Acad Med

Bahia 6:85-86, 1985.

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ARTIGOS

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ARTIGOS

A tuberculose

Geraldo LeitePresidente do Conselho de Curadores da

Fundação José Silveira

Imagine uma sexta feira fria e chuvosa, na Alemanha do século XIX.

Mais precisamente: sexta feira, 23 de março de 1882, entrada

principal do edifício da Sociedade de Fisiologia de Berlim.

Do prédio, ricamente iluminado, estão saindo, mudos e cabis-

baxos, os nomes mais ilustres da ciência alemã.

O que se passou?

Quem é capaz de desvendar este mistério?

Não pergunte a nenhum dos personagens que estão descen-

do, estarrecidos, a imponente escadaria.

É inútil, eles nada responderão.

São verbetes que viveram seu tempo, fizeram suas descobertas

e se recolheram ao Panteon da História.

Estão na eternidade, povoam livros de texto, dicionários e enci-

clopédias e se alimentam de recordação e glória.

*

Bem viva está entre nós a lembrança do professor Jaime dos

Santos Neves, tisiologista famoso que viveu em Vitória do Espí-

rito Santo, no século passado.

Em uma conferência que proferiu no Instituto Brasileiro Para a

Investigação da Tuberculose (IBIT) (2), por ocasião do centená-

rio da descoberta do bacilo de Koch, ele contou o que ocorreu

naquela noite.

A narrativa é a seguinte:

“Um jovem de 39 anos de idade, perante uma assembléia de

sábios, esclareceu definitivamente a etiologia da tuberculose, na-

quele preciso instante.

Nesse trabalho experimental, claro e conciso, de apenas 18 pági-

nas, ROBERT KOCH provou e comprovou, irrecusavelmente, que

a tuberculose, como o previra VILLEMIN em 1865, é uma doen-

ça infecciosa e, o seu agente específico é um pequeno bastonete

álcool-ácido-resistente a que ele modestamente classificou como

Mycobacterim tuberculosis.

Assistiram, ao que se convencionou chamar “o recital de Koch”,

apenas 36 pessoas, mas ali estavam os nomes mais notáveis da

ciência alemã:

RUDOLF LUDWIG KARL VIRCHOW, o fundador da Patologia celular;

EMIL ADOLPH VON BEHRING, o primeiro médico que iria receber o

Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da anti-toxina diftérica;

AUGUST VON WASSERMANN, diretor do Departamento de Te-

rapia Experimental e Pesquisas Sorológicas e inventor da reação

que tem o seu nome;

JAKOB HENLE, seu velho professor, autor de um trabalho notável

sobre “Miasmas e Contágio”;

PAUL ERLICH, o homem das balas mágicas, o primeiro a instituir

o tratamento quimioterápico da sífilis;

FERDINAND AUGUST COHN, JULIUS FRIEDERICH CONHEIN e

CARL WEIGERT, eminentes botânicos e patologistas;

FRIEDERICH AUGUST JOHANNES LOEFFLER, que estabeleceu as

bases da alergia;

GEORGE GAFKI, que viria a suceder KOCH, na direção do Institu-

to de Doenças Infecciosas de Berlim;

RICHARD FRIEDERICH JOHANNES PFEIFFER, célebre por seus es-

tudos sobre a etiologia da influenza;

WILLIAM HENRY WELCH, o grande pesquisador americano que

iria identificar o bacilo causador da gangrena gazosa;

CARL JOSEPH EBERTH, o descobridor do bacilo da febre tifóide;

DU BOIS RAYMOND,“chairman” da memorável sessão; além de

outros cientistas, inclusive o jovem KITASATO, que iria descobrir

o bacilo da peste, em 1894.

Ante esta assembléia de sábios, restrita e atenta, que confirmava,

por si só, o seu alto prestígio, KOCH expôs, metodicamente, clara-

mente, objetivamente, sem uma só palavra ou detalhe desneces-

sário, suas experiências dos últimos 8 meses, sobre a etiologia da

tuberculose, envolvendo aproximadamente 350 animais.

De acordo com a metodologia fixada por HENLE, provou inicial-

mente a existência no tecido tuberculoso, de alguma coisa extrínse-

ca, isolou essa substância, purificou-a, conseguiu corá-la por méto-

do original, identificou o germe, cultivou-o em meio sólido, também

original, inoculou-o em animais, reproduziu as mesmas lesões an-

teriores e delas retirou novamente , como em um passe de mágica,

o mesmo organismo, o Mycobacterium tuberculosis, e o exibiu aos

olhos incrédulos e estarrecidos daqueles grandes homens.

Passou assim, dentro de um método rigoroso, do geral ao especí-

fico, do específico ao geral e, novamente, do geral para o específi-

co com uma segurança e um virtuosismo incomparáveis.

Tratando-se de um tema altamente singular e polêmico é de

imaginar a série de questões técnicas desconcertantes, de críticas

sutis e de objeções insidiosas que iriam naturalmente surgir, dada

a qualidade técnica da audiência.

E, no entanto, KOCH foi ouvido no mais impressionante silêncio!

Em um silêncio mortal, como nos afirma ALLEN KRAUSE.

O edifício científico que ele acabara de erguer, pedra por pedra,

ante aquele auditório atônito, era alguma coisa tão sólida e insó-

lita, que nem sequer o aplaudiram.

Após este pesado silêncio o Prof. DU BOIS RAYMOND, que pre-

sidia aquela incrível sessão, abriu os debates. E pela primeira vez

na história da Sociedade de Fisiologia de Berlim, não houve de-

bates, nem uma só pergunta, nem um só comentário, nem uma

só crítica.

Nem o próprio RUDOLPH VIRCHOW, para quem naturalmente

logo se volveram os olhos indagadores dos demais, pois toda a

sua doutrina da dualidade da tísica ruía inteiramente naquela

hora, nem mesmo VIRCHOW, articulou uma só palavra. Vencido

e silencioso abandonou cabisbaixo o recinto, quando DU BOIS

RAYMOND encerrou a sessão, e todos, um a um, o acompanha-

ram calados e pasmos”.

*

A descoberta do bacilo da tuberculose, em 1882, estimado

leitor, foi um passo gigantesco no sentido de conhecer esta

doença que castiga a humanidade desde a pré-história.

À medida que os povos intensificaram as trocas comerciais e

se empenharam em viagens, guerras e degradações, a tubercu-

lose foi se espalhando, até se tornar, a partir da Idade Média,

um flagelo mundial.

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ARTIGOS

Revista FJS em Ação 79

ARTIGOS

*

Na América, há achados de tuberculose em múmias pré-colombianas.

No Brasil, a tísica veio com os missionários jesuítas. Morreram

de tuberculose: MANOEL DA NÓBREGA, FRANCISCO PIRRA,

JOSÉ DE ANCHIETA e GREGÓRIO SERRÃO.

O padre MANOEL DA NÓBREGA, em carta dirigida ao Provin-

cial MIGUEL TORRES, escreveu:

“A mim devem-me já ter por morto, porque ao presente fico

deitando muito sangue pela boca”

Algum tempo depois, em outubro de 1570, morreu de hemoptise.

CLEMENTINO FRAGA FILHO afirmou em 1888, pouco antes

da abolição da escravatura, que a mortalidade por tuberculose

era no Rio de Janeiro, de 1.200/100.000 habitantes!

*

Ao se espalhar, a tuberculose passou a se associar às almas tris-

tes e penosas, ingressou na literatura e se transformou em uma

moléstia de poetas, músicos e escritores.

ALEXANDRE DUMAS, em “A Dama das Camélias”, GIUSEPPI

VERDI, em “La Traviata”, GIACOMO PUCCINI, em “La Boéme”,

revestiram-na com a roupagem do amor ....

Outros, cantaram-na em versos.

CASTRO ALVES desabafou:

“Eu sei que vou morrer... dentro do meu peito

um mal terrível me devora a vida.”

ÁLVARES DE AZEVEDO escreveu:

“Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

Foi poeta, sonhou e amou a vida.”

CASIMIRO DE ABREU revelou sua angústia, dizendo:

“A febre me queima a fonte

E dos túmulos a aragem

Roça-me a pálida face.

Mas no delírio e na febre

Sempre teu rosto contemplo

Eu sofro; o corpo padece

E minh’alma se estremece

Ouvindo o dobrar de um sino.”

AUGUSTO DOS ANJOS falou da tuberculose em suas poesias:

“Falar somente uma linguagem rouca,

Um português cansado e incompreensível,

Vomitar o pulmão na noite horrível

Em que se deita sangue pela boca!

Expulsar aos bocados, a existência

Numa bacia autômata de barro

Alucinado, vendo em cada escarro

O retrato da própria consciência...”

MANOEL BANDEIRA conviveu com a tuberculose ainda jo-

vem e, recuperado, viveu mais de oitenta anos. À doença dedi-

cou várias poesias, algumas com tintas muito vivas:

“Minha respiração se faz como um gemido

Já não entendo a vida e se mais a aprofundo

Mais a descompreendo e não lhe acho sentido

Temo a monotonia e apreendo a mudança .

Sinto que minha vida é sem fim, sem objeto...

Ah, como dói viver quando falta a esperança !”

Aos trinta anos, teve a última recaída.

Embora a morte quase sempre estivesse presente em seus

versos, passou a encarar a tuberculose com fina ironia:

“Já fui sacudido, forte,

De bom aspecto, sadio

Como os rapazes do esporte

Hoje sou lívido e esguio

Quem me vê pensa na morte.”

Depois, com incrível realismo, entregou-se ao desespero. Seu

médico, instado pelo poeta, afirmou que o pneumotórax, sua

única esperança, não produziria efeito. Sob o impacto da no-

tícia, escreveu:

“Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos,

A vida inteira que poderia ter sido e não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico.

Diga trinta e três./

Trinta e três... trinta e três... trinta e três...

Respire

O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo

e o pulmão direito infiltrado.

Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

Não. A única coisa a fazer é tocar um tango ..”.

Além de CASTRO ALVES, CASIMIRO DE ABREU, ÁLVARES DE

AZEVEDO, AUGUSTO DOS ANJOS e MANOEL BANDEIRA,

outros personagens célebres, morreram de tuberculose. Estão

neste rol AUTA DE SOUZA (poetisa), PEDRO I (Imperador do

Brasil), SAMUEL NERY (pintor), JOÃO DA CRUZ E SOUZA

(poeta, precursor do Simbolismo) e JOSÉ DE ALENCAR (escri-

tor, criador do nacionalismo brasileiro).

Vivendo em outras paragens, figuram como tuberculosos fa-

mosos CHOPIN (imortal compositor polonês), TCHEKOV

(escritor russo), GEORGE ORWELL (escritor inglês), PERGO-

LESI (compositor italiano), JÚLIO DINIZ (escritor português),

CESÁRIO VERDE (poeta português), SOJI OKITA (sumurai do

século XIX), VIVIAN LEIGH (atriz americana, protagonista de

“...E O Vento Levou”) e ANNA ELEANOR ROOSEVELT (esposa

do Presidente Franklin Delano Roosevelt).

Vultos de todos os tempos e de todos os lugares, morreram nos

braços da “Peste Branca”. Estão neste caso HONORÉ DE BALZAC

(escritor francês, autor de “A Comédia Humana”), ALBERT CA-

MUS (escritor francês, Prêmio Nobel de literatura, 1957), KAFKA

(romancista alemão), GUY DE MAUPASSANT (escritor francês),

MOLIÉRE (teatrólogo francês), WALTER SCOTT (escritor inglês),

VOLTAIRE (filósofo francês), GAUGIN (pintor francês), PAGANI-

NI (compositor italiano), CALVINO (religioso francês, reformis-

ta), RICHELIEU (cardeal e político francês), SIMON BOLÍVAR (li-

bertador da Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia e Perú), LUIS

XIII e LUIS XVII (reis da França), HENRIQUE VII (rei da Inglaterra),

DIMITRI RAMANOV (político russo), GRAHAM BELL (ameri-

cano, inventor do telefone), HENRIETTE ROSINE BERNHARDT,

mais conhecida como SARAH BERNARDTH (atriz francesa),

RENNÉ LAENNEC (médico francês, inventor do estetoscópio) e

Santa THEREZA DE LISIEUX (religiosa francesa, canonizada em

1925 pelo Papa Pio XI).

AMEDEU MODIGLIANI, famoso pintor italiano, faleceu de tu-

berculose em 24 de janeiro de 1920. Sua esposa, Jeane, no dia

seguinte, suicidou-se. O infortúnio causou imensa repercussão

na capital francesa. Uma grande multidão acompanhou o fu-

neral de ambos, até o cemitério de Pére Lachaise.

*

No século XX, a tuberculose continuou a ser um grande pro-

blema de saúde pública.

Em 21 de fevereiro de 1937, quando regressava da Europa, para

onde foi a convite de universidades da Suiça e da Alemanha, o

professor JOSÉ SILVEIRA, naquela época um jovem médico de

33 anos de idade, criou o Instituto Brasileiro Para a Investigação

da Tuberculose, mais conhecido como IBIT.

O IBIT é a unidade-mãe da Fundação José Silveira.

Ao longo dos últimos três quartos de século, o IBIT se transfor-

mou em uma referência no combate à tuberculose, e acumu-

lou resultados que não encontram paralelo em nenhuma outra

Instituição brasileira.

Fundação José Silveira80

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 81

ARTIGOS

O Prof. JOSÉ SILVEIRA, pesquisador lúcido e empreendedor,

advertiu. desde os primeiros anos de funcionamento do IBIT,

que a Tuberculose é um problema social.

Fiel a este princípio, o IBIT pôs em prática, desde os primeiros

tempos de sua existência, um programa que apresenta exce-

lentes resultados. Em 2011, o índice de cura foi de 90% e o de

abandono oscilou em torno de 1%. (1).

O êxito reside na associação do atendimento médico com a

assistência social. Para isto muito contribuiu D. IVONNE SILVEI-

RA, precursora da assistência social na Bahia.

Utilizando teorias do comportamento humano, interagindo

com familiares, submetendo cada um deles a exames clínicos e

laboratoriais, ministrando gratuitamente os fármacos indicados,

o IBIT distribui cestas básicas aos doentes e comunicantes, reúne

famílias em palestras educativas e dá aconselhamento, tal como

foi realizado por D. IVONNE SILVEIRA, na década de 1940.

Registrando os 75 anos do IBIT, a Fundação José Silveira promo-

veu uma série de eventos que tiveram início em 21 de fevereiro

de 2012 e se estendem até 21 de fevereiro de 2013, ocasião em

que estamos lançando a Revista comemorativa da efeméride.

Formulando votos de uma boa leitura, passamos às mãos do

amigo leitor a presente publicação, resultado de muito amor,

esforço e dedicação.

REFERÊNCIAS:

1. Neves, Jaime dos Santos – Centenário da descoberta

do bacilo de Koch- Conferência realizada no IBIT. Arquivos Bra-

sileiros de Tuberculose e Doenças do Tórax, tomo XIV, vol. 14 :

03-05. Salvador, 1982.

2. Relatório de atividades 2011: unidade assistencial de

saúde./ Fundação José Silveira, Mônica Ribeiro Moreira (org.).

– Salvador: 84p.:Il.

O papel da Fundação José Silveira

O IBIT – INSTITUTO BRASILEIRO PARA INVESTIGAÇÃO DA

TUBERCULOSE nasceu em 1937, sob a inspiração do encontro

do Professor José Silveira com o Professor Ludolf Brauer, diretor

do “Forschungsanstalt fuer tuberkulose”. Entretanto, apesar

de inestimáveis serviços prestados ao ensino da medicina e as-

sistência à população mais carente da Bahia, abateu-se sobre

a obra pioneira uma séria crise financeira na década de 1980,

momento em que o IBIT foi transformado em Fundação José

Silveira – FJS.

O Hospital Santo Amaro, antiga Clínica das Doenças do Tórax,

foi adapatado à assistência materno-infantil, dotado de infra-

estrutura moderna e inovando também no quesito gestão.

Nestes 24 anos, a Fundação José Silveia vem contribuindo para

a promoção da saúde da população baiana, com serviços es-

senciais prestados por meio de ações de cunho educativo, cul-

tural, social e pesquisas. O ideário do Professor José Silveira

está alicerçado em bases sólidas, distribuídas em seis unidades

em Salvador e em Santo Amaro da Purificação, sua cidade na-

tal, e outros municípios da Bahia, com a missão de “promover

saúde e assistência social em benefício da sociedade.”

Além do IBIT e do Hospital Santo Amaro, a FJS, entidade filantró-

pica, sem fins lucrativos, é composta pelo Instituto Bahiano de

Reabilitação (IBR), o Laboratório José Silveira (LJS), a Unidade de

Saúde (US) e Unidade de Segurança e Meio Ambiente (USMA).

Em 2010, o Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro

(NICSA) foi incorporado ao patrimônio da FJS. O NICSA pro-

move iniciativas culturais e dedica cuidado especial à preser-

vação da memória do seu fundador.

Várias gerações de médicas e médicos graduados pela Faculdade

de Medicina da Bahia e pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde

Pública adquiriram amplos conhecimentos em tisiologia no IBIT.

Assim como existiam formações específicas no Hospital Couto

Maia (doenças infecciosas), Urgência e Emergência no Hospital

Getúlio Vargas (o Pronto-Socorro do Canela), Obstetrícia nas

Maternidades Tsylla Balbino e Climério de Oliveira, era no IBIT

sob a tutela do Professor José Silveira e sua equipe, que se apren-

dia com riqueza de detalhes a abordagem da tuberculose.

O atual presidente da FJS, o Professor Geraldo Leite trouxe toda

a sua experiência de gestão na Escola Bahiana de Medicina e

Saúde Pública e na Universidade Estadual de Feira de Santana

para a Fundação. Mas, acima de tudo, trouxe o altruísmo, a

perseverança, a honradez e o espírito empreendedor que veio

se somar à figura emblemática do Professor José Silveira, sem

dúvida o maior exemplo para a prestação de serviços médicos

de excelência que a FJS dedica à população baiana.

José Abelardo Garcia de MenesesPresidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia - CREMEB

Coordenador do Conselho Superior das Entidades Médicas da Bahia - COSEMBA

Fundação José Silveira82

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 83

ARTIGOS

Participação do IBIT na pesquisa da tuberculose (I)

Impossível descrever em sua totalidade, no lapso de tempo con-

cedido, a contribuição do Instituto Brasileiro para Investigação

da Tuberculose (IBIT) à pesquisa da tuberculose. Daí a presente

Nota Previa, a ser complementada em oportunidade futura.

Para sua elaboração, utilizamos artigos publicados nos Arqui-

vos do IBIT (1937-1995) e trabalhos constantes da BIBLIOTECA

DE TISIOLOGIA DO IBIT, coleção de 11 volumes, organizada

pelo professor José Silveira.

*

Em 1937, ano da criação do IBIT, três indagações persistiam

na mente dos investigadores: (1) Qual a verdadeira utilidade

do BCG? (2) Como resolver o problema do cadastro torácico

das grandes multidões? (3) Como conseguir uma medicação

específica para a tuberculose? O IBIT, durante seus primeiros

cinquenta anos, tentou responder essas perguntas.

*

Pertencendo a um país tropical, o Instituto começou estudan-

do a correlação da tuberculose com a ascaridiose80, malária14,

filariose30 e esquistossomose 61,50,40,28,51.

Sobre a esquistossomose, Silveira elucidou alguns aspectos clí-

nicos e histopatológicos. Demonstrou que, em sua localização

pulmonar, ela causa vários distúrbios vasculares e um quadro

de pulmonarite. O fato foi comprovado por Shaw e Ghareb no

Egito, e Alves Meira, em São Paulo. Knipping, entre os fatores

do cor pulmonale, incluiu a “bilharziose pulmonar de Silveira”.

Antes dos modernos recursos da quimioterapia, o IBIT inda-

gou a importância de algumas substâncias desprovidas de efei-

to bacteriostático ou bactericida. Citamos como exemplo os

trabalhos de Silveira57,45 e Silveira & Costa67 sobre sais de Cálcio,

Iodo, Cobre e Ouro. Disse Silveira: “Firmado em histórias clíni-

cas apuradas, com documentação radiológica e provas labora-

toriais seguras, alcancei a cura de muita gente, como denunciei

em alguns livros publicados62.

*

Da quimioterapia insegura, caminhou o IBIT para a colapsote-

rapia e o pneumotórax artificial, método de uso na Bahia, há

algum tempo. Codes e Sandoval iniciaram a prática de freni-

cectomia. Macedo Costa dedicou-se ao estudo das aderências

pleurais. Pontes enveredou pela toracoplastia. Cardoso e Góes

pelas ressecções pulmonares 6,29,41,46,48,62,78

*

Datam da mesma época os trabalhos sobre glicemia39, reações

de Weltmann 42,73, Takata-Ara72, precipitação em dupla difusão

de agar24, índices hemáticos20, hemossedimentação20,73 e índi-

ce lipásico23 nos pacientes com tuberculose pulmonar.

*

Geraldo LeitePresidente do Conselho de Curadores da

Fundação José Silveira

Muito contribuiu Darzins para o êxito de algumas pesquisas.

Graças a Darzins, deve o IBIT o método de agitação ou precipi-

tação, a padronização das técnicas de sensibilidade aos tuber-

culinostáticos (em uma época em que os testes de resistência

eram praticamente desconhecidos no Brasil), a descoberta de

numerosas espécies do gênero Mycobacterium, a identificação

do Mycobacterium gyae e outras bactérias apatogênicas isola-

das no escarro, lavado brônquico e lavado gástrico.15,16,17

Outros cientistas estrangeiros, e técnicos, trabalharam no IBIT.

Dentre os cientistas, destacamos Canetti (França), Pantzer (Ro-

mênia), Cetrangolo (Argentina), Reutgen (Alemanha), Bravo (Es-

panha), Gössner (Alemanha), Lorian (Estados Unidos) E. Hilscher

(Alemanha), além de Rist, Grosset, Krebs, Urbanczyk. Dentre os

técnicos, mencionamos Elizabeth Gheno e Hans Geissler. Eliza-

beth Gheno contribuiu para a organização do Departamento de

Anatomia Patológica e Hans Geissler para a criação e organiza-

ção do Departamento de Documentação Científica. 62,65

Canetti estabeleceu normas para a avaliação da resistência do M. tu-

berculosis aos tuberculinostáticos. A ele creditamos o conhecimento

da flora bacteriana das lesões tuberculosas e as condições básicas

para a aplicação da quimioterapia antituberculose no Brasil. 65

A Canetti, Grosset e Grumbach devemos o teste da sensibilida-

de proporcional aos tuberculinostáticos. O IBIT foi o primeiro a

aplicar o referido teste, no norte e nordeste do Brasil.

Rist, Grosset, Krebs e Urbanczyk estudaram os medicamentos

da 2ª linha, sob o ponto de vista clínico e experimental.

Essas pesquisas tornaram possível a experimentação de várias

drogas (Isoxil, Ciclocerina, Etionamida, Pirazinamida, Etambu-

tol e Rifampicina) e, consequentemente, sua aplicação em regi-

mes simplificados e combinações econômicas.

*

Merece destaque o trabalho de Silveira, Ferreira, Giudice, Hil-

tner & Quiroga64, sobre quimioterapia intermitente da tuber-

culose. Esses autores, baseados no modelo experimental de

Mme. Grumbach, pesquisaram:

1) A importância de um regime tríplice prévio diário, durante

um mês, com a associação INH-SM-EMB, nas doses usuais.

2) A eficácia da associação INH-EMB daí por diante, sob a

forma intermitente, três vezes por semana, em dosagem nor-

mal e dupla.

3) A ação do regime intermitente INH+EMB, três vezes por se-

mana, em dose diária, durante um mês, sem estreptomicina.

*

De grande importância são os trabalhos de Silveira43,47,53,59,63 e

Silveira & Medeiros (75,76,77) sobre o poder protetor do BCG,

nos alérgicos.

As pesquisas tiveram por objetivo responder às seguintes perguntas:

1) O que fazer com a alta percentagem de indivíduos infecta-

dos, sem lesão tuberculosa ativa, que são obrigados a conviver

com tuberculosos bacilíferos?

2) O que fazer com os membros da família de um tuberculoso

bacilífero, quando é impossível seu isolamento, condenados a um

contágio fatal em um ambiente onde vivem várias pessoas?

Nesse último caso, só os recém-nascidos estão livres da infec-

ção, portanto passíveis de serem beneficiados com uma vaci-

nação concorrente. E para os infectados, o que fazer?

Silveira & Medeiros75,76 analisaram os resultados obtidos com

a observação de 57 alérgicos expostos a contágio, vacinados

com BCG oral, em doses que variaram de 0,10gr. a 0,50gr. Con-

firmaram a inocuidade do método, apontaram sua ação de-

sensibilizadora (que chegou até à extinção da alergia) e insis-

tiram que não basta provar a inocuidade do BCG no alérgico,

sendo necessário proclamar seu poder protetor.

As pesquisas conduziram às seguintes conclusões:

1. O BCG é inteiramente inócuo para os indivíduos já infec-

tados, ainda quando vivem em ambiente altamente bacilífero.

Fundação José Silveira84

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 85

ARTIGOS

2. Além de inócuo, deixa antever, em tais indivíduos, seu pa-

pel protetor.

3. Após vacinações repetidas pelo BCG, há um possível au-

mento, e entretenimento da imunidade do primoinfectado.

4. Dias após o uso da vacina oral, há exaltação da sensibilida-

de cutânea à tuberculina, seguida de pronunciada atenuação e

até completa extinção da alergia.

5. A perda da alergia parece depender de componente genético.

O BCG não beneficiou somente os recém-nascidos e os que

ainda não foram contaminados pelo M. tuberculosis. Mesmo

nos já infectados, alérgicos, sem tuberculose ativa ou em evo-

lução, o BCG mostrou que possui apreciável poder protetor

contra sucessivas superinfecções.

Os dados obtidos, “limitados no tempo e no espaço, se não au-

torizam a aplicação, em massa da vacinação do alérgico, obriga

a que se repitam essas investigações em maior escala, porque,

provada de modo definitivo a existência do poder protetor do

BCG para os alérgicos, ter-se-á dado um passo avantajado na

profilaxia da tuberculose, sobretudo nos países de alto índice

epidemiológico dessa doença, onde existe uma percentagem

elevada de alérgicos expostos a contágio obrigatório e em be-

neficio dos quais nada se pôde fazer até então.”59

No particular da calmetização e do tuberculíno-diagnóstico,

muito deve o IBIT aos estudos de Silveira37,43,44,47,53,54,56,59,63, Silveira

& Durval70,71, Silveira & Medeiros75,76 e Freitas.21,22

Confirmando observação anterior27, afirmou Silveira59,54 que o

fato de grandes e repetidas doses de BCG não provocarem aler-

gização em alguns recém-nascidos, mesmo quando se emprega

a via cutânea, parece estar ligado a uma predisposição familiar.

Silveira vacinou os positivos à tuberculina, os enfermos e os

aparentemente sãos. “Com isso o IBIT, Stela Medeiros e eu, in-

gressamos na chamada École Bresilienne de BCG, tão cara, prin-

cipalmente aos mestres e pesquisadores franceses Max Foures-

tier e Gernez Rieux.”62

*

Silveira56 removeu vários “dogmas” que impediam a aplicação

indiscriminada do BCG: o da obsessão da alergia, o da insufici-

ência do método oral, o dos perigos da vacinação do alérgico e

o da perenidade imunizante da primoinfecção.

O alcance dessa conquista é da maior importância para os países

subdesenvolvidos, onde existem massas humanas incultas, carên-

cia de leitos hospitalares e deficiência de técnicos qualificados.

*

Medeiros publicou importantes trabalhos sobre os expostos a

contágio, crianças infectadas, inquéritos epidemiológicos, com-

paração entre as diversas tuberculinas conhecidas, relação entre as

tuberculinas brutas e as purificadas, desaparecimento da alergia

em certas e determinadas circunstâncias, possibilidade de desper-

tar a chamada alergia infratuberculínica com o uso da vacinação

pela via digestiva, e exploração imunológica do BCG oral.

*

O IBIT realizou estudo comparativo entre a tuberculina BCG2 e

BCG3 (fornecida por Assis) e as tuberculinas purificadas da Ale-

manha, Dinamarca e França. “Se, à primeira vista, as tuberculinas

purificadas deveriam ser as preferidas – diz Silveira – e, de fato, o

são cada vez mais, é preciso não esquecer que a velha tubercu-

lina de Koch (especialmente se preparada em meios sintéticos)

continua a oferecer uma regularidade de resultados e um rigor

de especificidade que não podem ser desprezados.” 54

*

As investigações levadas a efeito no IBIT demonstram que o

emprego da tuberculina na diluição de 1/10 (10mg. de tuber-

culina bruta), além de diluições mais débeis, descobre cerca de

10% a mais de alérgicos. A verificação do fenômeno de Willis-

Sayé, provocado por via oral, acrescenta mais 12% de positivi-

dade. “Testar-se com concentrações fracas de tuberculina (da

ordem de 1/1000 ou 1/100), como se tem largamente pratica-

do, é deixar passar grande número de infectados que, como

falsos analérgicos e, pois, verdadeiros alérgicos, vêm sendo am-

plamente vacinados.” (Ibidem).

*

Silveira demonstrou que, entre os que perderam a alergia tu-

berculínica, existe a predominância de indivíduos jovens, com

menos de 20 anos de idade. Ao contrário da crença generali-

zada, Silveira observou que essa perda se faz em proporções

semelhantes, tanto no sexo masculino quanto no feminino,

sendo mais pronunciada, independentemente do sexo, quan-

do se administra o BCG. Quanto à raça, tanto nos vacinados

quanto nos testemunhas, a perda entre os afrodescendentes é

bem mais pronunciada (50%)37

A perda da alergia é tanto mais difícil quanto maior for a rea-

tividade alérgica inicial. Essa tendência é exagerada pelo BCG,

pois os hiperalérgicos extinguem sua alergia em 50% dos casos.

Com a administração do BCG, esse percentual sobe para 100%.

Os hiperérgicos, isto é, os que reagem a grandes diluições de

tuberculina, perdem espontaneamente a alergia em cerca de

28% dos casos (Ibidem).

Rosemberg31 e Silveira37 demonstraram que, ao contrário do

que era sustentando, o uso reiterado do BCG não provoca

exaltação da alergia. Pelo contrário, atenua. Essa dessensibiliza-

ção é bem acentuada, podendo atingir total extinção.

Essa perda da alergia é benéfica ou prejudicial para o pacien-

te? Tentando encontrar a resposta, Silveira, após dois anos de

acurada observação, encontrou, em 37 vacinados, apenas 3 pa-

cientes com processos pulmonares inespecíficos, o que equiva-

le a 91% de casos sem qualquer alteração clínica, radiológica ou

laboratorial. Entre as testemunhas, o percentual foi ligeiramen-

te inferior, isto é, da ordem de 88,90%.37

Concluindo, afirma que a experiência ensina duas lições: uma

de natureza clínica e outra de natureza epidemiológica. A pri-

meira diz respeito ao diagnóstico de primoinfecção do adulto.

Na verdade, casos conhecidos e reconhecidos como de supe-

rinfecção estão sendo rotulados como de primoinfecção do

adulto. Na opinião de Silveira, devemos ser muito mais caute-

losos ao afirmar a existência de uma forma primária no adulto.

Quanto à lição de cunho epidemiológico, ela demonstra que

o número de analérgicos “corresponde à parte da população

que, ainda nos primeiros anos de vida, escapou da infecção”. O

mesmo não ocorre, necessariamente, com a população adulta,

devido à possibilidade de tal população ter sido infectada e

ter esgotado sua capacidade alérgica, ou nunca ter tido alergia.

*

Em 1939, sob a orientação de Silveira, foi realizado um inquéri-

to tuberculínico na Cidade do Salvador, em internatos de crian-

ças pobres e na Penitenciária (detentos em grande parte do in-

terior do Estado, adultos jovens). As condições de higiene eram

equivalentes, bem como a alimentação e o regime de trabalho.

Foram utilizadas três diluições gradativamente crescentes. A

primeira correspondia à diluição de 1/25.000; a segunda, 1/100

e a terceira, 1/10. Foram considerados hiperérgicos os reatores

positivos à primeira diluição; mesoérgicos, os positivos à segun-

da; e hipoalérgicos, os positivos à terceira diluição.

Assis3 demonstrou a existência de indivíduos que mantêm a

sua alergia abaixo do limiar corriqueiro (alergia infratuberculí-

nica de Assis), o que torna necessário despertar a alergia com

uma dose de BCG para repetir, depois, a intradermo-reação a

1/10. A rigor, somente as pessoas que respondem negativa-

mente devem ser consideradas analérgicas.

A leitura dos testes foi procedida no prazo máximo de 72 ho-

ras, de modo uniforme, com redobrada atenção para os afro-

descendentes.

O objetivo do cadastro tuberculínico é a descoberta dos ana-

lérgicos para vacinação com o BCG. No Brasil, primeiramente

Assis5,3, depois Silveira53,59 e Silveira & Medeiros75 provaram que

o BCG não prejudica os alérgicos, pelo que recomendam não

molestar o paciente com a realização de vários testes. Devemos

vacinar indiferentemente, realizando a “vacinação em massa.”

Modificações raciais, influências devidas a vários estados fisio-

lógicos, tais como gravidez, fatores hormonais e nutricionais,

teor de vitamina C no organismo e até variações geográficas

Fundação José Silveira86

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 87

ARTIGOS

podem modificar o estado alérgico. Até bacilos saprófitas po-

dem provocar reações positivas. Tais fatores existem, são raros

e não têm influência no cadastro tuberculínico e na sua inter-

pretação epidemiológica.

Duas mil, cento e trinta e cinco pessoas foram submetidas ao

teste. Dessas, 87,6% são alérgicas e 12,4%, analérgicas. Dos ana-

lérgicos, 26,1% eram falsamente analérgicos. A partir dos 5 anos

de idade, a ascensão da alergia foi violenta. A partir dos 15 aos

20, foi possível observar queda que se acentuou com o avançar

da idade. O fato não impediu que pessoas com idade avan-

çada apresentassem reação forte. Entre 80 e 90 anos, foram

encontradas 33 pessoas positivas, das quais 14 hiperérgicas, 18

mesoérgicas e 1 hipoérgica. Entre 90 e 95 anos, 2 hiperérgicos

e 1 mesoérgico. As reações mais fortes foram nos afrodescen-

dentes. Entre os falsos reatores, predominou a raça branca (21

brancos e 8 afrodescendentes). Entre os homens, houve predo-

mínio do de hiperérgicos. Entre as mulheres, predominaram as

mesoérgicas e hipoérgicas.

*

Silveira66 propôs três tipos de formas anatomoclínicas de tuber-

culose pulmonar:

1. Formas de primoinfecção

2. Formas de superinfecção

3. Formas residuais

“No primeiro caso”, diz o autor, “as formas clínicas são a expressão

do próprio processo de primoinfecção ou correspondem às suas

consequências imediatas. No segundo, o organismo volta ao es-

tado anterior à infecção e, se uma nova agressão bacilar ocorre,

está-se diante de uma verdadeira reinfecção, nova infecção no

sentido real do termo. No terceiro, os quadros ligados a formas

provenientes de focos antigos quiescentes (superinfecção endó-

gena) ou de novos quadros enxertados em portadores de uma

infecção vigente (superinfecção exógena).” (Ibidem).

No Brasil, as formas de primoinfecção e de superinfecção são

frequentes. As formas de reinfecção são raras e excepcionais e,

quando surgem, costumam reproduzir as de primoinfecção,

pelo que nem sempre é fácil a distinção.

*

Digno de nota é o trabalho de Costa11 sobre topografia radio-

lógica: “Tomando como ponto de reparo as extremidades pos-

teriores ou vertebrais da 6ª e 9ª costelas e tirando duas linhas

horizontais em toda a largura do tórax, terei dividido os cam-

pos pulmonares em três zonas: superior, média e inferior. Essas

três zonas serão, por sua vez, subdivididas em duas regiões –

interna e externa – por uma linha vertical, partindo da metade

da clavícula ao meio da cúpula diafragmática homóloga. Cada

uma dessas zonas poderá ser relacionada a uma das partes que

estejam em sua circunscrição ou mesmo que a delimite ou ain-

da sobre ela faça sentir sua influência. Desse modo, ao invés de

simplesmente zona superior poderemos chamar de zona clavi-

cular, a média, de zona hilar e a inferior, de base ou zona frêni-

ca. A zona superior ou clavicular ainda sofrerá outra subdivisão

em três subzonas, limitadas pela clavícula: zona supraclavicular,

ou de vértice, zona retroclavicular e zona infraclavicular”

Pouco depois, Silveira36 apresentou proposta de sistematização

das imagens pleuropulmonares, baseada em três modalidades:

imagens de condensação (com os tipos miliar, nodular, numu-

lar, linceolar, linear, fascicular e reticular), imagens de refração

(com os tipos enfisema e pneumo) e imagens mistas (com os

tipos espongiloide, anular e hidroaéreo).

*

De indiscutível valia para a época de sua publicação é a expe-

riência de Costa10 sobre tomografia pulmonar. Costa recomen-

dou a necessidade da estratigrafia:

1. Na pesquisa da caverna tuberculosa (delimitação do con-

torno, volume e profundidade).

2. Na elucidação da possível existência de caverna, antes de

um espessamento, ou antes de um derrame pleural.

3. Na escolha de melhor opção cirúrgica, considerando a ex-

tensão da ressecção das costelas e o número de sessões ope-

ratórias.

4. No controle do resultado terapêutico, face ao fechamento,

ou não, da caverna.

*

Diante dos resultados diversos entre os que, sentindo-se sadios,

deixavam-se examinar nos inquéritos radiológicos e os que,

em contato com fontes bacilíferas, queriam saber se tinham

contraído a doença, criou Silveira a “Abreugrafia diferenciada”,

“ponto de vista que, se aceito e assumido, teria evitado a série

de confusões, providências absurdas e erradas, que prejudicam

a luta antituberculose em vários países, inclusive o nosso. Não

nos escutaram; perderam tempo e dinheiro; contribuíram para

a desmoralização de um método, que tem toda a razão de ser

e continua aplicado, no mundo civilizado, dentro dos padrões

por nós aconselhados naquela oportunidade.” 36

*

Entre os motivos que levaram ao abandono da Abreugrafia

em inquéritos epidemiológicos, estava o achado de sombras

de potencial duvidoso, fora das condições de uma tuberculose

aberta, de fácil evidenciação por via bacteriológica.

Em 1951, Silveira48, atendendo a solicitação dos organizadores

do 5º Congresso Nacional de Tuberculose, apresentou pro-

posta para padronização do diagnóstico dos portadores de

sombra do cadastro torácico, e sua significação médico-social.

Iniciou o documento lançando por terra mais um dogma: “...

portador de sombra é todo aquele que, num cadastro torácico

apresenta imagem anormal do tórax”. O equívoco, esclarece

Silveira, surgiu quando Manoel de Abreu, criador da röntgen-

fotografia, afirmou: “... de qualquer modo, a sombra radiológica

constitui o grande fator de triagem social que nos permitirá,

mais tarde, esclarecer o diagnóstico precoce.”1,47 Argumentan-

do que Gil Ribeiro e Alcides Lopes, discípulos de Abreu, afir-

mam que “a finalidade do cadastro torácico está em descobrir

os portadores de sombra e os portadores de modificações car-

diovasculares, com isso separando os dois campos radiológicos,

Silveira argumentou que “... os portadores de sombra são os que

apresentam alterações da transparência pulmonar quaisquer

que elas sejam”. Complementando, acrescentou que outro não

foi o pensamento de Abreu, quando informou que “... o fito

prático do exame sistemático estaria em separar os indivíduos

nas seguintes categorias: 1º – normais; 2º – portadores de som-

bra e baciloscopia negativa, logo suspeitos; 3º –portadores de

sombra e baciloscopia positiva, logo tuberculoso.”

Há, portanto, duas modalidades de portadores de sombra: uma

é a dos indivíduos com alterações radiológicas mais ou menos

características, em que a natureza da sombra é facilmente es-

clarecida. Outra é a dos indivíduos que apresentam imagens de

feitio atípico, geralmente de proporções reduzidas, em que os

exames complementares nada esclarecem, criando delicados

problemas de interpretação radiológica e de entendimento clí-

nico. A segunda modalidade é a que tem gerado uma série de

obstáculos para se chegar a um diagnóstico exato, ensejando

problemas de ordem social, econômica e epidemiológica.

A pergunta para os indivíduos do segundo grupo é: Trata-se de

um processo tuberculoso? Em caso afirmativo, está o processo

em evolução ou é simples efeito residual? Buscando a resposta,

Silveira recomendou a seguinte conduta:

1. Exame clínico integral, com anamnese minuciosa e

exame físico bem conduzido.

2. Radioscopia e telerradiografia nas incidências indispensá-

veis, e com penetração adequada.

3. Tomografia, de preferência localizada, conforme a exi-

gência do caso.

4. Pesquisa do M. tuberculosis pelos métodos mais sensíveis,

inclusive com inoculação do material suspeito, se necessário.

5. Alergodiagnóstico, seja qual for a idade do paciente, com tuber-

culina de boa procedência e em condições técnicas rigorosas.

6. Provas hematológicas, preferencialmente hemossedimen-

Fundação José Silveira88

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 89

ARTIGOS

tação e hemograma.

7. Outros recursos semióticos julgados necessários, com pre-

ferência para a endoscopia traqueobrônquica.

8. Controle rigoroso, com repetição das pesquisas indispen-

sáveis, objetivando encontrar, no menor espaço de tempo pos-

sível, um sinal revelador da evolução do processo.

*

Oliva25, comparando os resultados da cultura com os obtidos pela

baciloscopia direta, chegou à conclusão de que em cerca de 30%

dos casos a cultura é positiva, enquanto a baciloscopia é negativa.

*

Do mesmo autor é o antígeno para ensaios com a reação de

precipitação em dupla difusão do agar. Machado24, utilizando

o referido antígeno em 43 pacientes com tuberculose evolu-

tiva, obteve 18 resultados positivos (44%), 11 duvidosos e 13

negativos. Testando mais uma vez os resultados discordantes,

conseguiu 60% de positividade.

*

Contribuição importante foi a valorização dos exames bacterio-

lógicos. Silveira55 resume a referida contribuição em cinco itens:

1. Supressão dos ácidos e álcalis fortes no preparo do mate-

rial para cultura e inoculação.

2. Isolamento de micobactérias apatógenas para o cobaio,

com propriedades morfológicas e culturais idênticas ao M. tu-

berculosis.

3. Possibilidade de maior frequência de bactérias apatógenas

nos trópicos.

4. Atenuação dos germes pela quimioterapia, ou pela elimi-

nação do BCG (indivíduos tuberculino-positivos).

5. Necessidade de minucioso estudo sobre a frequência e a

natureza dos germes apatógenos, não só para melhorar a qua-

lidade do diagnóstico bacteriológico, como para se conhecer

com mais precisão a biologia do M. tuberculosis, sujeito à ação

dos mais diversos agentes quimioterápicos.

*

Em 1968, animados com os resultados obtidos com a associa-

ção BEM+DAT+Ka em pacientes cavitários permanentemente

positivos, alguns já operados, polirresistentes às drogas de 1ª

e 2ª linhas, considerados irrecuperáveis e com tempo de hos-

pitalização média de 4 anos, Silveira, Bacelar, Andrade & Ca-

valcante41 recomendaram esse tipo de tratamento para maior

rotatividade de leitos hospitalares.

*

Alguns laboratórios farmacêuticos solicitaram ao IBIT a comprova-

ção do poder terapêutico de medicamentos. O exemplo a seguir

demonstra o escrúpulo que sempre norteou tais averiguações.

Interessados em uma substância capaz de substituir o PAS, Sil-

veira, Cavalcante & Andrade60 fizeram uso de um derivado da

thiuréa, conhecido pela sua ação tuberculostática: o “Isoxyl”.

Utilizaram o produto em três pacientes longamente tratados,

resistentes às drogas clássicas. Em dois, o resultado foi nulo;

em outro, a baciloscopia se tornou negativa. Como nesse últi-

mo caso se tratava de um paciente que havia se submetido a

uma toracoplastia, o resultado foi considerado duvidoso. Ficou

constatada perfeita tolerância por parte de todos os enfermos.

Com o objetivo de apurar o poder bacteriostático do medi-

camento, os autores selecionaram quatro pacientes, hospita-

lizados na Clínica Tisiológica e doze no Ambulatório do IBIT.

Desses últimos, um faleceu logo no início do ensaio; outro fale-

ceu tendo usado apenas 176 comprimidos; seis abandonaram

o Serviço após a primeira prescrição. Ficaram, apenas, nove, dos

quais quatro na Clínica Tisiológica e cinco no IBIT. Desses, um

com apenas 3 meses de uso da substância. Restaram, portanto,

oito em condições de um julgamento imparcial. Em todos, a

partir de certo tempo, os autores foram obrigados a associar

outras drogas, uma vez que, apesar de produzir algum efeito, o

Isoxyl não curou a doença.

A análise dos casos da Clínica Tisiológica mostra que o medica-

mento foi submetido a condições experimentais inteiramente

desfavoráveis: enfermos longa e irregularmente tratados, com

processos pulmonares muito avançados e eliminadores de ba-

cilos resistentes a todas as drogas clássicas. No caso único, não

tratado anteriormente, o resultado foi bem melhor, não alcan-

çando o êxito completo porque a droga foi, a princípio, em-

pregada isoladamente, em dose considerada, posteriormente,

insuficiente. Em todos os casos, não foi registrado qualquer

tipo de intolerância.

Nos casos do IBIT, não tratados previamente, os autores conclu-

íram que, embora a casuística fosse insuficiente para fornecer

um juízo perfeito, algum resultado foi obtido. Em primeiro lugar,

ficou patente que o resultado é mais eficiente nos pacientes vir-

gens de qualquer tratamento anterior. Em segundo lugar, o uso

do DAT demonstra que a droga é incapaz, por si só, de vencer a

doença. Em terceiro lugar, a associação a um tuberculinostático

forte parece reforçar, e muito, a ação do medicamento.

*

Devido ao seu elevado conceito, o IBIT também foi procurado

para pesquisas de interesse industrial. É o caso do isolamen-

to de bactérias redutoras de sulfatos e da ação bactericida de

certos produtos químicos sobre tais bactérias, investigação de

interesse da PETROBRÁS (PETRÓLEO BRASILEIRO S.A.)

Em muitas oportunidades, o IBIT foi solicitado para dirimir

dúvidas e esclarecer questões relacionadas com diagnóstico,

terapêutica e profilaxia da tuberculose, bem como para opinar

sobre questões epidemiológicas.

Serve de exemplo estudo realizado sobre a evolução da resis-

tência do M. tuberculosis ao EMB e a RMP, isoladamente, e à

combinação EMB+RMP, no período de sete anos consecutivos

(1970 a 1976).

Os resultados exibidos nos Quadros 1, 2, 3 e 4 constatam a

superioridade da combinação BEM+RMP.

QUADRO 1

EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO EMB,

NO PERÍODO DE 1970 A 1976

Ano Pacientes Resistentes% de

Resistência

1970 597 11 1,8%

1971 809 14 1,7%

1972 686 11 1,5%

1973 829 9 1,0%

1974 750 10 1,3%

1975 600 16 2,6%

1976 290 6 2,0%

Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose

QUADRO 2

RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO RMP, NO PERÍODO DE

1970 A 1976

Ano Pacientes Resistentes% de

Resistência

1970 597 3 0,5%

1971 809 10 1,2%

1972 686 6 0,8%

1973 829 17 2,0%

1974 750 11 1.4%

1975 600 7 1,4%

1976 290 10 3.4%

Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose

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ARTIGOS

Revista FJS em Ação 91

ARTIGOS

QUADRO 3

EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis À

COMBINAÇÃO EMB+RMP, NO PERÍODO DE 1970 A 1976

Ano Pacientes Resistentes % de Resistência1970 597 2 0,3%1971 809 5 0,6%1972 686 9 1.3%1973 829 11 1,4%1974 750 9 1,2%1975 600 10 1,6%1976 290 5 1,7%

Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose

QUADRO 4

RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO EMB, AO RMP E À

COMBINAÇÃO EMB+RMP, NO PERÍODO DE 1970 A 1976

AnoPacientes

examinadosResistentes

ao BEM Resistentes

ao RMP

Resistentes à

combinação BEM+RMP

1970 597 1,8% 0,5% 0.3%1971 809 1,7% 1,2% 0,6%1972 686 1,5% 0,8% 1,3%1973 829 1,0% 2,0% 1,4%1974 750 1,3% 1,4% 1,2%1975 600 2,6% 1,4% 1,6%1976 290 2,0% 3.4% 1,7%

Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose

*

Concluindo, citamos mais uma vez Silveira36, o qual resumiu a

participação do IBIT em 9 itens:

1. Importância da Bacteriologia no diagnóstico e na conduta

terapêutica.

2. Valorização das provas tuberculínicas para conhecimento

perfeito do estado imunitário do enfermo ou suposto são.

3. Abreugrafia seletiva, em vez de cadastro móvel e total.

4. Possibilidade de substituir o hospital pelo ambulatório, tão

ricos e seguros são os novos resultados.

5. Vacinação ampla e generalizada, sem provas tuberculínicas

prévias.

6. Indispensabilidade do esquema bem feito e bem dosado,

na base de drogas convenientemente selecionadas.

7. Tratamentos simplificados, de acordo com as condições

econômicas e sociais de cada país.

8. Encurtamento progressivo do programa de tratamento.

9. Negação total ao ufanismo das primeiras vitórias, sem recur-

sos de novos meios e elementos de combate à doença.

Tais resultados, disse ele, “... não nos deram, é verdade, originalida-

de capaz de alterar profundamente a evolução do pensamento

científico. É que, vítimas da nossa pobreza, sem recursos huma-

nos e aparelhagem adequada, trabalhando por conta própria, à

custa de ajudas oficiais minguadas e incertas, jamais consegui-

mos criar a estrutura técnica e funcional indispensável para de-

sempenhar, na sua totalidade, o programa sonhado.” (Ibidem).

RESUMO

Em 1937, ano da fundação do Instituto Brasileiro Para Inves-

tigação da Tuberculose, três indagações persistiam na mente

dos investigadores: Qual o verdadeiro valor do BCG? Como re-

solver o problema do cadastro torácico das grandes coletivida-

des? Quando teremos uma droga específica para o tratamento

da tuberculose? Nessa linha de pensamento, o autor enumera

as principais contribuições do referido Instituto, destacando

os seguintes tópicos: diagnóstico diferencial entre tuberculose

do pulmão e esquistossomose pulmonar; inocuidade dos sais

de iodo na tuberculose pulmonar; valor relativo das reações

de Weltmann e Takata-Ara, e dos índices hemáticos e lipásico

na bacilose; valorização do diagnóstico bacteriológico (méto-

do da precipitação ou agitação, padronização de técnicas de

sensibilidade aos tuberculinostáticos, identificação de germes

apatógenos nos exames de escarro, lavado gástrico e lavado

brônquico); emprego do teste de sensibilidade proporcional;

papel protetor do BCG nos alérgicos; valorização das provas

tuberculínicas; estudo comparativo de vários tipos de tuber-

culina; importância clínica e epidemiológica dos analérgicos;

inquéritos tuberculínicos em Salvador e Feira de Santana; ca-

dastro torácico em escolas e estabelecimentos comerciais e in-

dustriais de Salvador; proposta de classificação das formas ana-

tomoclínicas da tuberculose pulmonar; valorização da abreu-

grafia seletiva; padronização das sombras radiológicas; ensaios

sobre o valor terapêutico de quimioterápicos. Para Silveira, a

contribuição do IBIT pode ser resumida em 9 itens: importân-

cia da bacteriologia no diagnóstico e na conduta terapêutica;

valorização das provas tuberculínicas; abreugrafia seletiva; pos-

sibilidade de substituir o hospital pelo ambulatório; vacinação

BCG, ampla e generalizada; indispensabilidade de um esquema

terapêutico bem feito e bem dosado; tratamento simplificado;

encurtamento progressivo do programa de tratamento; nega-

ção do ufanismo pelas primeiras vitórias na terapia da bacilose.

SUMMARY

In 1937, the foundation year of the Brazilian Institute for Tu-

berculosis Research, three questions persisted in the research-

ers´ mind: “What is the real value of BCG? How to solve the

problem of the chest register of large communities? When

will we have a specific drug for the treatment of tuberculo-

sis?” Along with this line of thought, the Author presents

a list of the Institute´s main contributions, by pointing out

the following topics: different diagnoses between pulmonary

tuberculosis and pulmonary schistosomiasis; innocuity of

iodine salts in pulmonary tuberculosis; relative value of Welt-

mann and Takata-Ara´s reactions, and of blood and lipase

rates in bacillosis; increase in the value of the bacteriologic

diagnosis ( method of precipitation / stirring, standardization

of sensitiviness techniques to tuberculostatic; identification

of apathogenetic germs not only in the sputum tests but also

in gastric and bronchial lavage); use of proportional sensitiv-

ity tests; protective role of BCG in allergic people; increase

in the value of tuberculin; comparative sudy of various types

of tuberculin; clinical and epidemiological importance of un-

allergenic drugs; tuberculin surveys in Salvador and Feira de

Santana cities; chest registers in schools, in commercial and

industrial establishments in Salvador city; proposed classifica-

tion of clinical forms of pulmonary tuberculosis; increase in the

value of selective miniature chest radiography; standardization

of radiological shadows; tests on the therapeutic value of che-

motherapic drugs.

To SILVEIRA, IBIT´S contribution can be summarized in nine

items: importance of bacteriology in the diagnosis and thera-

peutic procedures; increase in the value of tuberculin tests; se-

lective miniature chest radiography; possibility of replacing the

hospital by an ambulatory care center; BCG vaccination; wide

and general indispensability of a well done and well balanced

therapeutic scheme; simplified treatment; progressive shorten-

ing of the treatment program; no overoptimism about the

first victories in the bacillosis therapy.

Fundação José Silveira92

ARTIGOS

Revista FJS em Ação 93

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