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Fundação José Silveira2 Revista FJS em Ação 3
José Silveira, honra e glória da Bahia e do Brasil
Geraldo Leite
Quando eu era estudante na Faculdade do Terreiro de Jesus, ve-
tusto berço da medicina brasileira, a tisiologia não fazia parte do
tirocínio médico. O professor José Silveira era docente livre e mi-
nistrava aulas, a convite dos catedráticos, em diversas disciplinas.
Somente em 1952, quando fui eleito presidente da Associação
Bahiana de Medicina, Regional de Feira de Santana, me aproxi-
mei do inesquecível mestre. Durante minha gestão, o professor
José Silveira – sempre acompanhado de D. Ivonne – me presti-
giou visitando Feira de Santana, Santo Amaro, Cachoeira e São
Felix, para proferir conferências e coordenar mesas redondas
em congressos, simpósios e painéis. Nessas oportunidades, es-
pargiu, com natural simplicidade, vasto conhecimento sobre
assuntos da medicina, os mais diversos.
Contato mais íntimo ocorreu quando passei a integrar o corpo
docente da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e, logo
depois, quando fui admitido como membro titular da Acade-
mia de Medicina da Bahia.
Esse convívio enriquecedor se tornou ainda mais acentuado
quando fui conduzido, concomitante ou sucessivamente, à
presidência da Fundação Universidade de Feira de Santana, rei-
tor da UEFS, conselheiro da Fundação Bahiana para Desenvol-
vimento das Ciências, do Instituto Brasileiro de Oftalmologia e
Prevenção da Cegueira, e diretor da Escola Bahiana de Medi-
cina e Saúde Pública. Quando atingi esse último posto, atendi
seu chamamento e passei a integrar o Conselho de Curadores
da Fundação José Silveira.
Elevado à categoria de discípulo e amigo, passei a frequentar,
com assiduidade, sua residência e seu gabinete no IBIT, para
buscar conselho e orientação.
Por toda parte onde andei e em todos os cargos que ocupei, o pro-
fessor Silveira esteve a meu lado, como mestre, amigo e conselheiro.
D. Ivonne, de igual modo, sempre me dispensou sempiterno e
respeitoso carinho.
A este casal maravilhoso dediquei o melhor dos meus senti-
mentos: amizade e devoção, as mais sinceras.
Presidente do Conselho de Curadores da
Fundação José Silveira
Fundação José Silveira4 Revista FJS em Ação 5
É, pois, com alegria que, na qualidade de presidente do Conse-
lho de Curadores da Fundação José Silveira, tenho a satisfação
de apresentar esta publicação comemorativa dos 75 anos de
criação do IBIT.
Ao assim proceder, louvo, em meu nome e em nome do Con-
selho de Curadores, o profícuo e valoroso trabalho da superin-
tendente, D. Leila Brito, de seus colaboradores imediatos e de
todos, do mais humilde ao mais graduado, que fazem parte
desta família que tem no professor José Silveira um exemplo de
trabalho, honradez e dignidade.
Os que compulsarem esta revista encontrarão depoimentos de
personalidades representativas do mundo científico e cultural,
todas elas exaltando a pessoa e a obra de um baiano ilustre,
honra e glória da Bahia e do Brasil.
Ao rememorar fatos importantes da minha vida, saúdo o IBIT,
célula mater da Fundação José Silveira, em comemoração aos
75 anos de sua criação.
38 IBR presta assistência completa
9 Exemplo nacional na luta anti-tuberculose
34 Programa Saúde e Cidadania promove o bem-estar integral
ÍNDICE
HISTÓRIA DESUCESSO
REABILITAÇÃO ESPECIALIZADA38
33 IBIT tem os melhores indicadores
15 Instituição perpetuada em bases sólidas
11 Inauguração da sede atual
12 Assistência médico-social 28 Na rota da modernidade
32 Papel de destaque do Conselho de Curadores
NO ALVO DA TUBERCULOSE
GALERIA
ÊXITO EMPRESARIAL
3316
28
44 Ação social firmada na sustentabilidade
40 Compromisso e responsabilidade social
MODELO DEEFICÁCIA44AÇÃO
CIDADÃ40
9
MAIS QUALIDADE DE VIDA 34
Ano 1 I nº 1 I fev/2013
Revista FJS em Ação 7
EDITORIAL
Leila BritoSuperintendente da Fundação José Silveira
O lançamento da revista comemorativa dos 75 anos da Funda-
ção José Silveira tem a finalidade de fazer um balanço da evo-
lução desta extraordinária obra que nasceu a partir da firmeza
de propósitos e de ideais de um homem que honra a Bahia e
os baianos, o professor José Silveira. A este venerado mestre na
arte médica e na vida, comprometido com a causa social em
benefício dos mais necessitados, dedicamos nossa eterna grati-
dão e nossos esforços em prol do desenvolvimento sustentável
do legado da Fundação José Silveira.
A linha editorial desta publicação foi concebida de forma a re-
tratar a trajetória histórica desta instituição, que ultrapassou
sete décadas em plena expansão, a despeito dos intensos de-
safios estruturais nas áreas de saúde e de assistência social. A
Fundação José Silveira vem expandindo sua atuação além das
fronteiras da capital baiana, levando às comunidades interiora-
nas tão carentes de serviços básicos a oferta de atendimento
gratuito, com ênfase na promoção da vida saudável e no exer-
cício da cidadania e da inclusão social.
Com um acervo médico-científico e social reconhecido inter-
nacionalmente, baseado, sobretudo, na obra do seu fundador,
a Fundação José Silveira está em plena maturidade gerencial.
Nos capítulos a seguir, está uma síntese dos passos iniciais até a
concretização dos empreendimentos e das fontes de sustenta-
ção e dos projetos que constituem a razão de ser da nossa insti-
tuição. Vale ressaltar que toda esta construção bem sucedida é
fruto de uma equipe integrada, constituída por colaboradores
qualificados e empenhados em dar o melhor de si, e do cons-
tante apoio do Conselho de Curadores. O perfil de comprome-
timento dos valores humanos da Fundação é algo que muito
nos orgulha como gestores desta obra valorosa.
O rigor com as melhores práticas, veladas pelo Ministério Pú-
blico estadual, e a excelência gerencial, firmada no planejamen-
to estratégico, são aspectos que referendam a Fundação José
Silveira como uma instituição de destaque em seu segmento.
Atualmente, gerenciamos um conjunto de unidades próprias
que apresentam indicadores favoráveis de desempenho e tam-
bém levamos nossa expertise para o desenvolvimento de ações
e programas em parceria com entidades governamentais locais
e de outros estados.
Edificamos, ao longo destes 75 anos, um acervo de unidades e
programas que primam pela qualidade assistencial. Com este
portfólio, a Fundação José Silveira obteve o reconhecimento
junto à opinião pública e vem colaborando com a reestrutura-
ção e a otimização de unidades hospitalares e de serviços assis-
tenciais. Sempre com a disposição de salvaguardar os interesses
da população que depende da assistência gratuita, seja filantró-
pica ou através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Por tudo o que construímos ao longo de 75 anos, o mo-
mento é de celebrar e de renovar os compromissos com a
nossa missão humanitária, com foco no bem maior, o valor
da vida humana.
Expediente
AdministraçãoPresidente do Conselho de Curadores Geraldo Leite
Vice-presidente Fernando Pedroza
Superintendente Leila Brito
Assessor Institucional Carlos Alberto Dumet Farias
Gerente da Unidade Assistencial de Saúde Monica Ribeiro Moreira
Gerente da Unidade de Segurança e Meio Ambiente Luiz Roberto Reuter
Gerente Administrativo da Unidade de Saúde Laura Queiróz
Gerente Técnico da Unidade de Saúde Sílvio Vasconcelos
Gerente de Comunicação Robert Batalha
Ficha Técnica Revisão de conteúdo Geraldo Leite Ione Ramos Pinheiro
Edição Gabriela Rossi (MTB 1417)
Revisão textual Ana Luz
Fotografia Gilberto Melo Ourisval Filho (parede) Rodrigo Carreiro Frederico Nogueira Arquivo FJS
Acervo documental Centro de Pesquisa da FJS
Apoio Maria de Fátima Cardoso Ourisval Filho (parede) Frederico Nogueira Amanda Aragão
Projeto gráfico e diagramação Elton Carlos R. de Almeida
Impressão Luripress (4.000 exemplares)
MEMÓRIA
DEPOIMENTOS
ARTIGOS46
49
7246 Entrevista com Dr. Norberto Odebrecht
49 Saudações pelos 75 anos de sucesso
53 José Silveira em prefácios e preâmbulos
57 Uma pequena história sobre um grande homem
59 Uma boa questão é o melhor começo
60 A concretização de um significativo ideal
72 Participação de JoséSilveira na Academiade Medicina da Bahia
81 O papel daFundação José Silveira
76 A tuberculose
82 Participação do IBIT na pesquisa da tuberculose (I)
64 Um herói na luta contra a tuberculose
67 Exemplo que honra a Bahia
68 Parceiros na filantropia
70 Centenário de nascimento de José Silveira (1904-2004)
Fundação José Silveira8 Revista FJS em Ação 9
Em 1935, a cidade de Salvador ostentava uma das mais eleva-
das taxas de mortalidade por Tuberculose, com uma propor-
ção de 400 mortes por 100.000 habitantes. A situação era con-
siderada calamitosa: a Bahia era um dos estados que lideravam
a incidência da doença.
Movido pelo ardor humanitário de reverter esse quadro e com-
bater a enfermidade, o jovem médico José Silveira fundou, no
dia 21 de fevereiro de 1937, o Instituto Brasileiro para Investi-
gação da Tuberculose – IBIT, obra de referência internacional.
Aos 31 anos de idade, José Silveira partiu em viagem para a Eu-
ropa, a fim de proferir conferências em Universidades da Ale-
manha e da Suíça, ocasião em que encontrou o Professor Lu-
dolf Brauer, uma das maiores expressões da Tisiologia mundial,
vítima da perseguição do nazismo, o qual solicitou ao amigo
Silveira que criasse um Instituto nos moldes do que ele havia
implantado na Alemanha, para agir na luta anti-tuberculose no
Brasil. Tão logo regressou ao Brasil, atendendo ao pedido do
amigo, o professor José Silveira criou o IBIT. Para tanto, contou
com o apoio do mestre alemão.
Exemplo nacional na luta anti-tuberculose
HISTÓRIA DE SUCESSO
Professor Ludolf Brauer, destaque mundial na
Tisiologia, incentivou a criação do IBIT
Ao ser diplomado, Dr. José
Silveira seguiu o caminho da
pesquisa e da medicina em
benefício dos mais necessitados
Com a esposa e companheira de todas as
horas, Dona Ivonne Silveira
Fundação José Silveira10
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 11
HISTÓRIA DE SUCESSO
José Silveira manteve o seu ideal, mesmo enfrentando as mais
inóspitas condições. Durante nove anos, o IBIT permaneceu em
três salas do subsolo do Ambulatório Augusto Viana, no Cane-
la, pertencente à Faculdade de Medicina da Bahia. Desde seus
primórdios, a instituição teve o apoio de uma gestão colegiada,
firmada em um Conselho consultivo integrado por renomados
profissionais da medicina, tendo como presidente o professor
Edgard do Rego Santos (diretor da Faculdade de Medicina da
Bahia) e vice-presidente Dr. César de Araújo (diretor da Inspe-
toria de Tuberculose). Contou também com o entusiasmo e
a dedicação de colegas, como Claudelino Sepúlveda, Vidal da
Cunha, João Rodrigues Dória, José Figueiredo, Heitor Marback,
Codes y Sandoval, Oswaldo Gomes, Hélio Simões, José Coelho
dos Santos, Carlos Passos, Oswaldo Alves, Manços Chastinet e
Jorge Carvalho.
A primeira geração médica do IBIT foi formada no Ambulató-
rio do Canela e, posteriormente, nas enfermarias Santa Rosa e
São Lázaro, do Hospital Santa Izabel, da Santa Casa de Miseri-
córdia da Bahia.
A partir da esquerda, os médicos Luis Seixas, José Stanchi, José Silveira, Itazil Benício dos Santos e Aloysio Durval, os primeiros da equipe do IBIT
A sede própria do IBIT
foi gradativamente am-
pliada para atender à
intensa demanda
Serviço Clínico-colapsoterapia
Inauguração da sede atual
O provedor da Santa Casa, desembar-
gador Genaro Pedreira, oficializou a do-
ação do terreno ao sopé do Cemitério
do Campo Santo, onde foi construída a
sede do Instituto, inaugurada no dia 29
de setembro de 1944. O prédio dispunha
de laboratórios (Bacteriologia, Patologia e
Análises Clínicas), consultórios médicos,
Serviços de Radiologia, Otorrinolaringo-
logia e de Expostos a Contágio, além de
Centro Cirúrgico, Auditório e Biotério.
A implantação da sede própria recebeu
o apoio de importantes personalidades,
entre as quais destacamos Neves da Ro-
cha, Landulfo Alves, Carlos de Aguiar
Costa Pinto, Arlindo de Assis, Walter
Buengeler, Manoel de Abreu, Milton
Fontes Magarão, Gumercindo Sayago,
Raul Vacarezza, Hector Baldó, Fernando
Gomez e Garcia Rosel.
Logo, o IBIT firmou convênio com a
Campanha Nacional contra a Tubercu-
lose e com a Secretaria de Educação e
Saúde da Bahia, na gestão do Dr. Anísio
Teixeira, o que facilitou a contratação de
pesquisadores estrangeiros. O Instituto
contou, a partir de então, com o reforço
de pesquisadores famosos, como Egon
Darzins, ex-diretor do Instituto de Bac-
teriologia de Riga (Letônia).
O aumento da demanda impulsionou a
necessidade de ampliação da Unidade,
obra inaugurada em 27 de janeiro de 1951.
Em conseqüência da grande incidência
de pacientes com afecções pulmona-
Fundação José Silveira12
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 13
HISTÓRIA DE SUCESSO
res e cardíacas, foram implantados
os consultórios de Pneumologia e
Cardiologia e criado o Serviço de
Provas Funcionais Cardiorrespira-
tórias. Ao Serviço de Expostos a
Contágio, acrescentou-se a Vacina-
ção BCG, e ao Serviço de Otorrino-
laringologia, a Broncoscopia.
Passou-se, então, a contar com as vi-
sitas importantes de especialistas do
Brasil e estrangeiros, entre os quais
destacamos Gertrud Meissner, Fran-
çoise Grumbach, Noel Rist, Georges
Cannetti, Elizabeth Gheno, Hubert
Bloch, Abel Centrangolo, Victor Lo-
rian, Karl Bartmann, Richard Urban-
czik, Wolfgang Göesner, Armin Krebs,
Egon Darzins e Arlindo de Assis, esse
último considerado introdutor da va-
cinação BCG no Brasil.
O IBIT é a célula mater da Fundação
José Silveira. Nele foram realizados
cursos, conferências, trabalhos ori-
ginais de pesquisa, atividade clínico-
ambulatorial e intensa assistência
médico-social. Os trabalhos de
pesquisa estão publicados nos AR-
QUIVOS BRASILEIROS DE TUBER-
CULOSE (revista oficial do IBIT) e em
outras revistas indexadas no Brasil e
no exterior.
Além da produção científica, tra-
duzida e publicada em importantes
periódicos estrangeiros, o professor
José Silveira notabilizou-se, também,
como conferencista e memorialista.
Assistência médico-social Ao longo de 75 anos de serviços inin-
terruptos, o IBIT vem prestando aten-
dimento gratuito a milhares de pessoas
acometidas pela Tuberculose. A insti-
tuição sempre foi referência no cenário
O trabalho social do IBIT contou, desde o prin-
cípio, com a atuação de Dona Ivonne Silveira
na linha de frente e prossegue, nos dias de
hoje, em benefício das comunidades de baixa
renda da capital e do interior do estado
nacional pelos indicadores de cura, os
quais estão muito além dos índices pre-
conizados pela Organização Mundial
de Saúde (OMS).
A abordagem médico-social é uma das
causas abraçadas pelo IBIT, desde sua
origem, através da liderança notável de
D. Ivonne Silveira, esposa do professor
José Silveira. Ela foi exemplo de incansá-
vel zelo pelo bem das famílias atingidas
pela Tuberculose, liderando a assistência
à essa parcela mais carente da popula-
ção. Sob sua presença inspiradora, con-
solidou-se, ao longo do tempo, o traba-
lho social do IBIT, o qual permanece até
os dias de hoje, tal como foi delineado
pela assistente social Maria Amélia Leite,
em 1952.
De acordo com Maria Amélia Leite, “a
Tuberculose é uma das maneiras dis-
farçadas de se morrer de fome.” (Josué
de Castro, Alimentação e Raça, vol. 5,
Civilização Brasileira, pag. 106- 1936).
Fundação José Silveira14
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 15
HISTÓRIA DE SUCESSO
antigo “Hospital do Tórax” em um hospital geral, com ma-
ternidade e serviços cirúrgicos especializados.
Como parte desta visão estratégica, ganharam impulso o
Laboratório José Silveira, o Centro Médico Álvaro Lemos e a
Unidade de Segurança e Meio Ambiente. O conjunto arquite-
tônico da FJS foi totalmente revitalizado e reformado. Em re-
conhecimento ao relevante papel desempenhado pelo ilustre
empresário, a ele foi conferido pelo Conselho de Curadores
da FJS a Medalha do Mérito, em 1984. Esta fase perdurou até
2008, quando o referido empresário afastou-se do Conselho de
Curadores da Fundação José Silveira.
A cultura organizacional consolidada se caracterizou pelo forta-
lecimento das lideranças, incentivo à geração de resultados favo-
ráveis e cumprimento de metas, além de prioridade para com a
melhoria da qualidade no ambiente de trabalho. Foi nesse terre-
no fértil que a Fundação José Silveira imprimiu um novo ritmo de
crescimento, com olhos voltados para o futuro.
maiores, senão o maior problema da vida
da pessoa com tuberculose, problema que
é também da comunidade, sob cujos om-
bros repousa a onerosa responsabilidade
de solucioná-lo. Foi com esse propósito,
convencida da necessidade que tem a as-
sistente social médica de conhecer a do-
ença de seus clientes, que frequentamos
aulas sobre Tuberculose ministradas no
IBIT e nos procuramos inteirar junto aos
médicos dos aspectos clínicos dos casos”.
O IBIT, desde a sua fundação, vem
cumprindo seu papel, colaborando em
ações diversas junto a entidades como
as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID),
Instituto dos Cegos da Bahia, Serviço
Social do Comércio (SESC), Serviço Na-
cional do Comércio (SENAC), Serviço
Nacional da Indústria (SENAI) e Funda-
ção Santa Terezinha.
Graças a essas diretrizes, foi instituído o
Programa de Controle da Tuberculose o
qual apresentou, em 2011, um índice de
cura da ordem de 90% e um percentual
de abandono em torno de 1,5%.
“Efetivamente, a subnutrição, a habi-
tação precária e anti-higiênica, o ex-
cesso de trabalho ou o seu exercício
em ambientes malsãos são fatores que
diminuem a resistência do organismo
e o tornam campo propício ao bacilo
de Koch. Doença crônica e contagiosa,
a Tuberculose obriga o seu portador a
afastar-se por muito tempo do trabalho,
fazendo-o, assim, perder o seu salário ou
sofrer restrições e limites que ainda difi-
cultam mais os problemas de sua vida e
manutenção. Por tudo isso, a insegurança
e deficiência financeira se tornam um dos
O tripé que norteia a atuação da Fun-
dação José Silveira pode ser resumido na
preservação da Memória, do Ensino e da
Pesquisa. A assistência médico-social é
consequência deste tripé.
Conforme assinala Peter Drucker, mes-
tre da administração moderna, “a me-
lhor maneira de prever o futuro é criá-
lo”. Dessa maneira, foi forjado o destino
da Fundação, mediante o compromisso
e o profissionalismo daqueles que não
mediram esforços em solidificar a obra.
Ao final da década de 70 e início de 80,
período em que o IBT enfrentava séria
crise financeira, o grupo empresarial baiano capitaneado pelo
Dr. Norberto Odebrecht, conceituada liderança do setor priva-
do da Bahia, prestou valiosa ajuda, estabelecendo novas dire-
trizes administrativas. Com um olhar voltado para a susten-
tabilidade, o processo de gestão liderado pelo Dr. Norberto
Odebrecht teve por base a implantação de centros de resul-
tados, ou seja, a otimização do desempenho de cada uni-
dade e serviço. Dentro desta filosofia, uma das iniciativas
de impacto extremamente favorável foi a transformação do
Instituição perpetuada em bases sólidas
Atual equipe de gestores da Fundação José Silveira
Entre as modernas unidades, está o Laboratório José Silveira
Mais de sete décadas de atuação em prol da saúde dos baianos
Revista FJS em Ação 17
HISTÓRIA DE SUCESSOGALERIA
Unidos no amor e na luta médico-social, Dr. José
Silveira e Dona Ivonne Silveira, sempre dedicada
aos cuidados em prol dos mais carentes
Lançamento da pedra fundamental da Clínica das Doenças do Tórax,
com a presença do então governador, Juracy Magalhães
Fundação José Silveira18
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 19
HISTÓRIA DE SUCESSO
Médicos, profissionais de saúde e figuras de projeção na Bahia prestigia-
ram o lançamento da pedra fundamental do Hospital do Tórax
Fundação José Silveira20
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 21
HISTÓRIA DE SUCESSO
Grande benfeitor do IBIT, Dr. Carlos Costa Pinto
foi condecorado pela instituição
O ex-presidente Juscelino Kubitschek presidiu a abertura do XI Congresso
Panamericano de Tuberculose, presidido pelo professor José Silveira
Prefeito Cleriston Andrade, professor José
Silveira e o então governador, Antonio
Carlos Magalhães, na inauguração do Centro
Cirúrgico de Cardiologia do Hospital do Tórax
Dr. Ludolf Brauer em visita à
Faculdade de Medicina da Bahia
Fundação José Silveira22
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 23
HISTÓRIA DE SUCESSO
Professor José Silveira ao lado do professor
Arlindo de Assis e do professor Gumercindo
Sayago, da Argentina, um dos nomes de projeção
internacional presentes nos congressos e eventos
científicos sobre Tuberculose sediados na Bahia
Na mesa oficial do lançamento da Campanha de Combate ao Fumo na Bahia,
as presenças dos professores José Rosemberg (SP), José Silveira (BA) e Cid
Teixeira (BA), Jayme Santos (ES), Newton Bethlen (RJ) e José Feldman (MG)
Dr Paulo Bittencourt, primeiro
diretor do Hospital Santo Amaro,
e o professor José Silveira
Fundação José Silveira24
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 25
HISTÓRIA DE SUCESSO
O ex-prefeito Antonio
Imbassahy inaugurou o busto
do Professor José Silveira, na
praça a ele dedicado, em frente
ao Hospital Santo Amaro
O IBIT tem sido prestigiado por
visitantes ilustres, como o ex-
ministro da saúde, Mário Pinotti
A partir da esquerda, professor Ruy Simões, professora Dra. Maria Theresa
Pacheco e Dr. Álvaro Lemos, na inauguração do memorial do IBIT
Dr. Prado Valadares, mestre
do professor José Silveira,
em sua formação médica
Fundação José Silveira26
HISTÓRIA DE SUCESSO
Revista FJS em Ação 27
HISTÓRIA DE SUCESSO
Por sua qualificação, o IBIT participou do processo de organização do cadastro abreugráfi-
co nacional, realização do Ministério da Saúde sob a coordenação do professor Noel Nutels
Fundação José Silveira28 Revista FJS em Ação 29
ÊXITO EMPRESARIAL
Investir na qualidade das instalações é prioridade
O acerto das atividades administrativas de Leila Brito
merece o louvor do Conselho de Curadores
O trabalho desenvolvido na Superinten-
dência projetou Antonio Brito nos cená-
rios nacional e internacional: presidente
do Conselho Nacional de Assistência So-
cial, Conselho Municipal de Assistência
Social de Salvador, Sindicato dos Hos-
pitais Filantrópicos da Bahia, Federação
das Santas Casas, Hospitais e Entidades
Filantrópicas da Bahia, Confederação
das Santas Casas do Brasil e Confede-
ração Mundial das Santas Casas. Depu-
tado Federal, fundou e presidiu a Frente
Parlamentar de Apoio às Santas Casas e
Hospitais Filantrópicos e a Frente Parla-
mentar de Combate à Tuberculose.
Mesmo licenciado do Conselho de Cura-
dores, Antonio Brito continuou apoian-
do os projetos e programas da FJS. Como
secretário municipal do Trabalho e Ação
Social, promoveu parceria com o Ministé-
rio Público Estadual, colocando em prá-
tica o Programa Salvador Cidadania, que
realizou milhares de atendimentos na ca-
pital e interior. Eleito deputado federal, foi
sucedido na Superintendência da FJS por
Leila Brito. A nova superintendente foi
eleita em 2009 pelo Conselho de Cura-
dores, presidido pela Profª. Maria Theresa
de Medeiros Pacheco. Pós-graduada em
Administração Hospitalar pela Univer-
sidade Federal da Bahia, ingressou na
FJS em 1992 como estagiária do Projeto
Calabar. Por seu desempenho, assumiu a
Na rota da modernidade
ÊXITO EMPRESARIAL
Coordenação de Assistência Social. No
projeto Saúde e Cidadania, iniciou um
movimento itinerante utilizando Unida-
As feiras de saúde e o trabalho itinerante das Unidades Móveis têm levado serviços
e atendimentos gratuitos para diversos municípios baianos
bens. Além de manter as ações anterior-
mente executadas, implementou a atu-
ação nas áreas de Consultoria Ambien-
tal e Gestão Terceirizada de Unidades e
Serviços de Saúde. Ampliou o Programa
Bem Nutrir, distribuindo pão e leite
de soja a outras instituições sociais,
aumentou a adesão ao tratamento da
Tuberculose, beneficiando milhares de
pessoas. Estendeu as ações preventivas
de Educação e Saúde às comunidades
com maior incidência da doença, na
capital e no interior. Sua principal atua-
ção foi na área social, ampliada e estru-
turada em sua gestão.
O falecimento do professor José Silveira,
ocorrido em 3 de abril de 2001, foi um
desafio para manter a FJS na rota da mo-
dernidade. Ao assumir, naquela época, o
comando da Instituição, tão bem ampa-
rada pelo seu Conselho de Curadores,
Antonio Brito se deparou com um ce-
nário desafiante, marcado pela escassez
de recursos, problema enfrentado pelo
setor filantrópico em geral. Seguindo o
exemplo do professor José Silveira, Ma-
noel Ezequiel da Costa e Álvaro Pinhei-
ro Lemos, colocou também seu nome
a serviço do saneamento financeiro da
Fundação, hipotecando seus próprios
Coube a Antonio Brito, liderança nacional
do setor filantrópico, assegurar a continui-
dade e a expansão da obra do professor
José Silveira, após o seu falecimento
Fundação José Silveira30 Revista FJS em Ação 31
A estrutura e o porte da Fundação José Silveira vêm crescendo bastante ao longo de mais de
sete décadas, a exemplo do que acontece com o Hospital Santo Amaro
Fundação José Silveira32
ÊXITO EMPRESARIAL
Revista FJS em Ação 33
se (PCT) desenvolvido pelo IBIT dispo-
nibiliza assistência médica nas áreas de
Clínica Médica, Pediatria, Tisiopediatria,
Pneumologia e Tisiologia, além do aten-
dimento de Enfermagem e Serviço So-
cial. É exemplo para
o estado da Bahia em
função de seu mode-
lo de suporte integral
ao paciente. Além do
tratamento médico,
realização de exames
radiológicos e labo-
ratoriais, distribuição
de medicamentos aos
portadores da doença,
são concedidos benefí-
cios ao paciente duran-
te o tratamento, tais
como complemento
alimentar (pão e leite
de soja) e cestas básicas. Este apoio contri-
bui para a adesão ao tratamento e impacta
de forma significativa no índice de cura.
des Móveis equipadas com consultó-
rios a fim de prestar assistência médica
nos mutirões e feiras de saúde realiza-
dos em diversos bairros de Salvador e
cidades do interior. O Projeto Saúde e
Cidadania oferece também educação
preventiva e amparo social, contabili-
zando cerca de um milhão de pessoas
atendidas no estado da Bahia.
Sob a gestão de Leila IBrito, a Fundação
José Silveira vivencia a plenitude de sua
maturidade e a experiência de 75 anos
de existência. O acerto de suas ativida-
des administrativas, a transparência, a
seriedade de suas práticas gerenciais, o
entrosamento das lideranças sob seu
comando, o clima de integração e o
sadio companheirismo que reina em to-
dos os setores da Fundação merecem o
louvor do Conselho de Curadores, a ad-
miração da comunidade e o respeito de
seus colaboradores.
O Conselho de Curadores da Fundação
José Silveira – presidido por Dr. Geral-
do Leite e composto pelos Conselhei-
ros Fernando de Souza Pedrosa, Júlio
Mesquita de Oliva, Gecilda Coutinho
Fernandes Serafim, Claudelino Miran-
da, Jairo Macedo Maia, José Antônio de
Almeida Souza, Marcelo Roberto Mo-
nello e Thais Dumet Faria – continua a
tradição de Conselhos anteriores, e vem
acompanhando o desenvolvimento da
Instituição, dando o necessário apoio às
decisões da Superintendência.
Vários presidentes-médicos têm contri-
buído de modo significativo, com seu
prestígio profissional e intelectual, para
a grandeza da obra criada pelo professor
José Silveira, a começar pelo primeiro de-
les, professor Fernando São Paulo.
O atual Conselho vem dando apoio à
Superintendência no cumprimento das
Papel de destaque do Conselho de Curadores
metas a serem alcançadas, especialmen-
te no que se refere ao resgate da atuação
do IBIT nas áreas de pesquisa e ensino. O
Centro de Pesquisas foi reativado e di-
versos projetos estão em andamento. A
mais recente realização foi o III Encontro
Internacional sobre Pesquisa em Tuber-
culose, que contou com a participação
NO ALVO DA TUBERCULOSE
IBIT tem osmelhores indicadoresAtualmente, o IBIT atende de 11% a
13% dos casos de Tuberculose notifica-
dos em Salvador, terceira maior cidade
do país. O índice de cura alcançado
pelo Programa de Controle da Tu-
berculose é de 90%,
o de abandono do
tratamento é de 1,5%.
Os percentuais preco-
nizados pelo Ministé-
rio da Saúde são 85%
para o índice de cura e
até 5% para o de aban-
dono de tratamento.
Em consequência dos
resultados obtidos pelo
IBIT, a Prefeitura Muni-
cipal da Cidade de São
Paulo firmou, em 2012,
convênio de coopera-
ção técnica com a Fundação José Silveira.
Segundo estatísticas da Organização
Mundial de Saúde (OMS), o Brasil encon-
tra-se entre os 22 países que concentram
80% do total de casos de Tuberculose.
Levantamento do Ministério da Saúde
coloca a Bahia no 9º lugar em número
de casos no Brasil, enquanto Salvador
está na 5ª colocação entre as capitais bra-
sileiras. Doença curável, a Tuberculose é
ainda responsável pela morte de 4.600
brasileiros, em média, a cada ano.
O Programa de Controle da Tuberculo-
O IBIT é referência internacional no combate à Tuberculose
de pesquisadores, especialistas e repre-
sentantes das três esferas do governo,
reunidos para fomentar, divulgar e esti-
mular a pesquisa científica.
Dr. Geraldo Leite, presidente atual Professor Fernando São Paulo,
primeiro presidente
Fundação José Silveira34 Revista FJS em Ação 35
MAIS QUALIDADE DE VIDAMAIS QUALIDADE DE VIDA
Programa Saúde e Cidadania promove o bem-estar integral
É dever do Estado garantir a saúde de todos, porém são fun-
damentais o apoio e a participação do chamado Terceiro Se-
tor que, por suas características e ações de servir à socieda-
de e contribuir para a garantia de direitos do acesso à saúde,
atende às demandas reprimidas da sociedade. O programa
Saúde e Cidadania: Estratégias de Ação Integrada para o Ter-
ritório Bahiano (PSC) surgiu no ano de 2011, com a unificação
dos programas Bem Nutrir, Salvador Cidadania e Bahia, Saúde
e Cidadania. O intuito desta fusão é otimizar os resultados e
potencializar os atendimentos, integrando as áreas de Saúde,
Fundação José Silveira36
MAIS QUALIDADE DE VIDA
Revista FJS em Ação 37
MAIS QUALIDADE DE VIDA
A Fundação mantém uma unidade de produção de leite e pão de soja, em benefício de milhares de pessoas
Programa Saúde e Cidadania disponibiliza à população
serviços e orientações para a saúde bucal
Cidadãos de baixa renda recebem gratuitamente pão e leite de soja como complemento alimentar
Segurança Alimentar e Nutricional e De-
senvolvimento Social.
No eixo Segurança Alimentar e Nutri-
cional, o Programa conta com suporte
da Unidade Produtora de Leite de Soja
Fernando d Almeida, que produz, apro-
ximadamente, 1.500 litros de leite de
soja/dia, e a Padaria José Roberto Vaz Fa-
gundes, que produz 5.000 pães de soja/
dia, em média. Toda a produção é dire-
cionada a suprir comunidades carentes.
Para se ter uma ideia do alcance do Pro-
grama, foram realizados nada menos
que 594.846 procedimentos durante o
ano de 2011. As atividades são efetua-
das em áreas de vulnerabilidade social
da capital baiana. Além de Salvador, o
Programa possui núcleos de atendimen-
tos nos municípios de Camaçari, Simões
Filho, Muritiba e Jequié, e realiza ações
de saúde em diversos outros municípios
do estado. Também promove feiras e
mutirões que propiciam maior acesso
da população aos serviços de saúde. Os
critérios considerados para definição
dos municípios contemplados são: Índi-
ce de Desenvolvimento Humano (IDH),
vulnerabilidade social de determinados
territórios, ausência de gestão plena
de saúde, entre outros. Durante essas
ações, busca-se adequar as especialida-
des às demandas. Além das especialida-
des oferecidas nas Unidades Móveis de
Saúde em Salvador, foram agregadas ou-
tras, tais como: Cardiologia (com exame
de ECG), Oftalmologia, Ortopedia, Der-
matologia e Mamografia. Para prestar
atendimento ao maior número possível
de cidadãos residentes nos municípios,
são acionadas três Unidades Móveis de
Saúde, que, juntas, somam seis consultó-
rios itinerantes. O Programa atuou em
188 organizações sociais de Salvador e
nos núcleos de atendimentos em Muriti-
ba, Camaçari, Jequié e Simões Filho, além
de outros 28 municípios onde foram re-
alizados mutirões e feiras de saúde. Mar-
cou presença em diversos eventos em
sua área de atuação, entre os quais: Pro-
jeto Rádio Sociedade nos Bairros; Dia Na-
cional da Ação Voluntária/Fundação Bra-
desco; Dia da Valorização do Trabalhador
Doméstico, promovido pela Secretaria
do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte
da Bahia (SETER); Ação Global, promovi-
do pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e
outra ação promovida pelo SESI, direcio-
nada ao trabalhador da Construção Civil,
em parceria com o Sindicato da Indústria
da Construção Civil (SINDUSCON). Com
o objetivo de formar multiplicadores de
saúde para atuar nas comunidades em
Salvador, foram realizadas pela equipe de
enfermagem oficinas educativas em 32
creches comunitárias.
O Serviço de Odontologia disponibili-
zou, gratuitamente, diversos procedi-
mentos, incluindo: adequação ao meio
bucal, aplicação de selante, aplicação tó-
pica de flúor, capeamento pulpar, con-
sulta odontológica, exodontia, orien-
tação em higiene bucal, pulpotomia,
radiologia interproximal e periapical, ras-
pagem supra e subgengival, restauração
de resina fotopolimerizável, restauração
de ionômero de vidro, restauração tem-
porária, remoção de sutura e urgência
endodôntica. Ao longo do ano de 2011,
foram gerados 12.450 procedimentos
com cerca de 1.815 crianças e adoles-
centes beneficiados pelo Programa.
Fundação José Silveira38 Revista FJS em Ação 39
REABILITAÇÃO ESPECIALIZADAREABILITAÇÃO ESPECIALIZADA
A Fundação José Silveira assumiu um
dos mais instigantes e recompensado-
res desafios de sua história: a gestão do
Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR),
idealizado em 1956 pelo professor Fer-
nando Nova, com a finalidade de atender
a pessoas com disfunção motora. A FJS
foi contratada pelo governo estadual, em
2003, para cuidar da gestão e garantir a
sobrevivência do Instituto Bahiano de
Reabilitação (IBR). Em 2005, a fim de evi-
tar o encerramento de suas atividades, a
Fundação decidiu assumir a Instituição e
incorporá-la ao seu patrimônio.
Completamente modernizado e refor-
mado, o IBR foi contemplado com amplo
Centro Poliesportivo, que abriga piscina,
mini-academia, sala de dança e sala de
Pilates, onde são ministradas as ativida-
des de reabilitação. No complexo polies-
portivo são realizadas atividades diversas,
com destaque para o tênis e basquete
para cadeirantes, aulas de hidroginástica,
natação, pilates, circuito da terceira idade,
cinesioterapia e outras atividades, benefi-
ciando aproximadamente 530 pacientes.
Em 2011, a Unidade atendeu cerca de
4.700 pacientes, adultos e crianças, em
mais de 25 especialidades, através do Sis-
tema Único de Saúde (SUS), totalizando
216.297 procedimentos/ano.
IBR presta assistência completa
Desde 2007, a FJS mantém parceria para
intercâmbio técnico-profissional com a
Associação de Assistência à Criança com
Deficiência de São Paulo (AACD/SP), re-
ferência em programas para o bem-estar
de pessoas com deficiência física.
O IBR engloba, na sua rotina, o atendi-
mento às mais diversas patologias neu-
romotoras, inclusive mielomeningocele,
lesões encefálicas adquiridas e vítimas
de amputações, dando o necessário su-
porte aos familiares. Em sua Clínica de
Pós-operatório, atende a crianças com
paralisia cerebral submetidas à cirurgia.
Dispõe também de um Laboratório de
Integração Sensorial com elementos lú-
dicos. A Oficina Ortopédica oferece à
comunidade oportunidade para adqui-
rir órteses, próteses, calçados especiais e
adaptações, sob medida, a preços aces-
síveis, confeccionados por terapeutas
ocupacionais especializados. A produ-
ção da oficina cresceu 124% nos últimos
quatro anos.
Fundação José Silveira40 Revista FJS em Ação 41
AÇÃO CIDADÃAÇÃO CIDADÃ
Compromisso e Responsabilidade SocialCentro Pestalozzi de Reabilitação
Ao longo da última década, desde o fa-
lecimento do seu dirigente maior, a ação
social da FJS ampliou-se acentuadamente.
A iniciativa partiu de um entendimento
dos antigos dirigentes da Fundação Pes-
talozzi e de representantes do Conselho
de Curadores da FJS, com a chancela do
Ministério Público da Bahia.
Inspirada no modelo de gestão do Insti-
tuto Bahiano de Reabilitação, a Funda-
ção passou a gerenciar, desde outubro
de 2011, o Centro Pestalozzi de Reabi-
litação, localizado no bairro da Ribeira,
em Salvador.
Na solenidade de reinauguração, a FJS
apresentou à sociedade uma Institui-
ção totalmente revitalizada, inclusive
com a ampliação dos atendimentos
para a área de saúde, antes apenas vol-
tados para a educação.
Estruturada para realizar 5.500 proce-
dimentos/mês, o Centro Pestalozzi de
Reabilitação oferece atendimentos nas
especialidades de Neuropediatria, Físio-
terapia, Terapia Ocupacional, Psicologia,
Pedagogia, Dançaterapia e Serviço So-
cial. Oferece também Oficinas de Arte-
sanato e Artes.
Para oferecer uma assistência digna e de
qualidade, a partir de setembro de 2011,
a Fundação incorporou ao seu quadro de
colaboradores os funcionários que ainda
trabalhavam na Instituição. Visando à
ampliação do atendimento multidiscipli-
nar, foram admitidos novos funcionários.
Santa Casa Hospital São Judas Tadeu
A FJS, com responsabilidade social, vem
assumindo novos empreendimentos em
regiões interioranas. Em junho de 2012,
atendendo a solicitação do Governo do
Estado da Bahia, a Fundação inaugurou
a Santa Casa Hospital São Judas Tadeu,
totalmente construída com recursos
próprios, em benefício da população de
Jequié e região. O hospital conta com 30
leitos para internação de pacientes clíni-
cos e cirúrgicos e 10 leitos para pacientes
de partos normais. Foi estruturado de
modo a reforçar o atendimento aos pa-
cientes do Sistema Único de Saúde (SUS),
no município de Jequié e microrregião.
Um dos destaques do hospital é o aten-
dimento obstétrico, capaz de atender a
mais de 200 partos/mês em leitos com
acompanhamento integral às parturien-
Atividades no Centro Pestalozzi de Reabilitação promovem as condições para a saúde e o exercício da cidadania
Fundação José Silveira42
AÇÃO CIDADÃ
Revista FJS em Ação 43
AÇÃO CIDADÃ
tes, antes, durante e após a parturição.
Do conjunto de 40 leitos, 28 integram a
enfermaria; 2 leitos individuais são desti-
nados a isolamento. O nosocômio é do-
tado de uma sala cirúrgica para realização
de intervenções de pacientes ambulato-
riais, Serviço Auxiliar de Diagnóstico e Te-
rapia (SADT): Raio X, Ultrassonografia e
exames laboratoriais.
O Ambulatório, inaugurado em junho
de 2011, realizou, em menos de 1 ano,
20.000 atendimentos.
Ação Voluntária da FJS
O Programa Ação Voluntária da FJS,
inaugurado em 2009, tem como objeti-
vo estabelecer parcerias com os diversos
segmentos da sociedade a fim de am-
pliar ações complementares de saúde. O
desenvolvimento do Programa possibili-
ta à comunidade participar ativamente
da ampliação e manutenção de ações
desenvolvidas nas Unidades de FJS. Os
benefícios são dirigidos diretamente a
milhares de pacientes e seus familiares
através do resgate e valorização de aspe-
tos biopsicossociais. O Programa conta
com 23 voluntários que atuam no IBR
nas seguintes áreas: Reabilitação Infantil,
Reabilitação de Adultos, Brinquedote-
ca, Recepção e Central de Marcação de
Consultas. Entre os Projetos desenvolvi-
dos, destaca-se a Campanha Super-no-
ta, que se refere à arrecadação de notas
ou cupons fiscais através da Campanha
Sua Nota é um Show de Solidariedade,
promovida pelo Governo do Estado da
Bahia. Outra vertente de solidariedade é
a corrente em busca de mantenedores,
benfeitores da sociedade baiana dispos-
tos a fazer doações para sustentação e
ampliação da obra social da FJS. Outros
eventos (tal como Bazar Solidário) con-
tabilizam doações de roupas, sapatos
e brinquedos para comercialização em
valores acessíveis. A última edição do
Bazar Solidário contou com o apoio das
lojas Jorge Bischof, Maria Bonita e Maria
Filó, localizadas no Shopping Salvador.
No Shopping Barra, o Stand Rosa pos-
sibilitou a comercialização de peças
produzidas na Oficina Rosa, criadas pela
estilista Irá Sales.
A Santa Casa Hospital São Judas Tadeu é a primeira unidade do interior ligada à Rede Cegonha, voltada ao incentivo do parto normal
A Fundação é a instituição madrinha da Campanha Outubro Rosa na Bahia, voltada à prevenção do câncer de mama, desde 2010
Parceria firmada com o Rotary Club da Bahia assegura oferta de serviços assistenciais para a população mais carente
Programa Aliança para a Saúde
Uma das iniciativas de ampla ação social,
lançada em 2012, foi o termo de coope-
ração técnica firmado entre a Fundação
José Silveira e o Rotary Club da Bahia,
Distrito 4550, que instituiu a Aliança
para a Saúde. O objetivo é a realização
de programas e ações conjuntas destina-
das à melhoria da saúde da população.
O lançamento oficial do Programa, em
abril de 2012, foi marcado pela realização
de uma feira de saúde na Escola Rota-
ry, em Itapoã, quando foram oferecidos
gratuitamente aos moradores da região
atendimentos em diversas especialida-
des médicas (Ultrassonografia, Exame
Preventivo, Avaliação Nutricional, Exame
de Glicemia, Aferição de Pressão Arterial
e Orientação de Higiene Bucal e Escova-
ção). A feira também contemplou ativi-
dades de reforço da cidadania, incluindo
oficina de sanduíche saudável para ado-
lescentes, oficina culinária, atendimento
jurídico e escuta social. É na diversidade
de programas e ações de cunho assisten-
cial que a FJS reafirma seu compromisso
de assegurar a atenção necessária a quem
mais precisa, em um estado onde é gran-
de a parcela da população desassistida e
em situação de risco social.
Fundação José Silveira44 Revista FJS em Ação 45
MODELO DE EFICÁCIA
viveu sua infância e adolescência, é a
reprodução fiel de sua residência em
Salvador, de onde foram transportados,
para Santo Amaro, móveis, prataria,
cristais, louças, placas, medalhas, diplo-
mas e objetos pessoais do casal, cui-
dadosamente conservados e expostos
à visitação pública. A Biblioteca Padre
José Gomes Loureiro, com um acervo
de 40.000 volumes, foi criada com a fi-
nalidade específica de servir à juventu-
de santamarense.
MODELO DE EFICÁCIA
Em 2012, a Fundação José Silveira distri-
buiu gratuitamente 1.500.000 pães de soja
e 363.000 litros de leite de soja, benefician-
do 56 Entidades carentes de Salvador e ou-
tros municípios baianos; foram realizados
1.000.000 de procedimentos pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Estes números con-
firmam o compromisso assumido pelo
professor José Silveira com a Bahia.
Atualmente, a FJS é constituída pelas
seguintes unidades mantenedoras:
Hospital Santo Amaro, Laboratório
José Silveira e Unidade de Segurança e
Meio Ambiente. Estas unidades geram
recursos que propiciam a sustentação
das unidades assistenciais, como o IBIT,
o IBR, o Centro Pestalozzi de Reabilita-
ção, a Santa Casa Hospital São Judas
Tadeu e o Núcleo de Incentivo Cultural
de Santo Amaro.
Do conjunto de trabalhos consagra-
dos desenvolvidos pela Fundação, vale
ressaltar a importância da Unidade de
Segurança e Meio Ambiente, que atua,
há mais de vinte anos, na prestação de
serviços e consultorias nas áreas de se-
Ação social firmada na sustentabilidade
gurança do trabalho, higiene e meio
ambiente. A vasta experiência da insti-
tuição na área ambiental referendou a
assinatura de convênio com a Univer-
sidade do Estado da Bahia (UNEB), em
2012, para cessão de uso de um terreno
de 30 hectares de propriedade da Uni-
versidade, situado no campus X , às mar-
gens da BR 101, no município de Teixeira
de Freitas. O referido convênio objetiva
promover a conservação, restauração e
valorização da Mata Atlântica e sua di-
versidade (Projeto Arboretum).
O Núcleo de Incentivo Cultural de
Santo Amaro (NICSA) é um espaço
aberto à comunidade, que abriga, em
sua estrutura, o Memorial José Silveira,
a Biblioteca Padre José Gomes Loureiro
e a Escolinha de Arte Adroaldo Ribeiro
Costa. O Memorial, situado no sobrado
onde o professor José Silveira nasceu e
A FJS firmou convênio com a UNEB para implementação do Projeto Arboretum, destinado a
promover a conservação, restauração e valorização da Mata Atlântica
O público infanto-juvenil encontra no NICSA incentivo para a leitura e a pesquisa
Acervo do memorial
Fundação José Silveira46 Revista FJS em Ação 47
MEMÓRIA
O que o motivou a implementar a Tecnologia Empresarial
Odebrecht na Fundação José Silveira?
A Fundação José Silveira tem como compromisso o atendi-
mento a necessidades humanas, fundamentais ao bem-estar
e à qualidade de vida da comunidade baiana, o que ressalta
e adverte sobre a necessidade de atuar com produtividade,
liquidez e imagem para que possa se desenvolver e crescer
de forma integrada e sustentável.
Só assim será possível que esta Fundação aproprie suas insta-
lações, pesquisas, tecnologia e conhecimento no caminho da
sobrevivência, do crescimento e da perpetuidade corres-
pondente à sustentabilidade.
Como verificou a implantação desta tecnologia dentro da
Fundação no período em que esteve à frente de sua gestão?
À época, a Fundação José Silveira se estruturou em Grandes
e Pequenas Empresas, desenvolvidas a partir da organização
de Centros de Resultados, onde o empresário-parceiro era o
único Responsável por gerar a sobrevivência e o crescimento
do seu negócio, a partir da satisfação dos seus clientes. Creio
que essa cultura foi bem compreendida pelos profissionais de
saúde – médicos, enfermeiros e pesquisadores.
Toda Organização precisa estar
focada na geração de resultados.
Como o senhor vê a gestão da
FJS hoje? Representa o pensa-
mento que o Senhor teve ao
longo dos vários anos em que
acompanhou o Conselho?
As concepções filosóficas,
desdobradas nos princípios
básicos, conceitos essenciais
e critérios gerais e operacio-
nais, foram testadas, adap-
tadas, ajustadas e aplicadas,
na prática, no Ambiente da
Fundação, na sua plenitude
espacial e por todos os Prota-
gonistas envolvidos.
Para que isso acontecesse, foi essencial o espírito de abertura e
esforço de seres humanos. Este é o maior ativo de qualquer
organização. Assim sendo, é importante destacar a contribuição
de todos que passaram pela Fundação e que, de algum modo,
contribuíram para que ela chegasse aos dias atuais.
Aproveito esta oportunidade para agradecer a Lomanto Netto,
Paulo Bittencourt e Antonio Brito. Vale aqui ressaltar que Anto-
nio Brito iniciou suas atividades na Fundação como Almoxari-
fe, chegando a Superintendente.
Também destaco o apoio da então Prefeita Municipal, hoje Se-
nadora Lídice da Matta, que muito contribuiu para a adequação
do estacionamento, das áreas interna e externa, gabinetes e ou-
tros benefícios.
A Fundação é hoje o que o Senhor imaginou quando come-
çou a colaborar com ela?
A Fundação José Silveira me permite ver uma instituição, que
teve uma grande contribuição social para o Brasil no combate
a tuberculose, se desenvolver, tendo enfrentado desafios rele-
vantes no que diz respeito à
sua sustentabilidade, ao tempo
em que buscou reformular sua
missão, preservando sua identi-
dade e história.
Ao longo destes 75 anos, a
Fundação preservou o lega-
do do seu fundador, o ilustre
pesquisador José Silveira, que
muito contribuiu para melho-
rar as condições de Saúde do
nosso Povo. Entendo que ela
encontrou seu Rumo e vem, a
cada ano, crescendo, inovan-
do e servindo à Comunidade.
Dessa forma, constrói, hoje, o
seu amanhã.
Como as Organizações Sociais podem cooperar com o Go-
verno e com a Sociedade?
As Organizações Sociais, a exemplo da Fundação José Silvei-
ra e das Obras Sociais de Irmã Dulce, as quais atuam essen-
cialmente na área de Saúde, na Bahia, já prestam um serviço
complementar ao Estado, que entendo ser de grande relevân-
cia. O Governo reconhece que não pode fazer tudo e estar em
todos os lugares. Além disso, a máquina pública, muitas vezes,
MEMÓRIA
Entrevista com Dr. Norberto Odebrecht
Ações a favor da sustentabilidade passaram a ser um
sonho e um desejo da população
mundial.
Fundação José Silveira48
MEMÓRIA
Revista FJS em Ação 49
enfrenta dificuldades para agir com velocidade, eficácia e eficiên-
cia. Assim, organizações sociais sérias, transparentes, bem admi-
nistradas podem complementar e enriquecer as atribuições do
Governo em diversos setores, fazendo mais, melhor e utilizando
com mais efetividade os recursos.
A Fundação José Silveira precisa ser vista por esse ângulo pela
Prefeitura Municipal de Salvador e pelo Governo do Estado da
Bahia como de grande importância para se consolidar como
modelo da PPP.
A Lei que criou as OSCIPs veio criar condições importan-
tes nesse processo. As Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público puderam se profissionalizar, ser auditadas,
provando o correto uso dos recursos, dando transparência e
credibilidade aos seus atos, com maiores e melhores resul-
tados.
Ações a favor da sustentabilidade passaram a ser um sonho
e um desejo da população mundial. As comunidades, nos seus
múltiplos locais e abrangência, estão sendo convocadas a par-
ticipar conscientemente da sociorresponsabilidade, integran-
do a governança participativa, capaz de acompanhar, julgar
e dinamizar parcerias produtivas. Nessas condições, acredito
muito na evolução da Fundação José Silveira como agente ex-
celente no Serviço de Saúde.
Toda Organização precisa estar focada na geração
de resultados.
DEPOIMENTOS
“Após mais de 50 anos de existência, a
Associação Pestalozzi de Salvador, com
sede própria, necessitando ampliar seu
atendimento, principalmente médico e
ambulatorial, buscou o apoio da Fun-
dação José Silveira, com quem já fazia
um trabalho preventivo da tuberculose,
recebendo, há cerca de sete anos, como
contribuição, leite de soja (vaca mecâni-
ca) e pão de soja para a complementa-
ção da merenda escolar.
A Associação Pestalozzi de Salvador ce-
deria espaço para o atendimento médi-
co e ambulatorial para sua clientela e fa-
miliares, mantendo também a tradição
da Escola Especializada Lise Maria.
A fim de não interromper nossas ativi-
dades, esperamos contar com o apoio
da Fundação José Silveira para dar con-
tinuidade ao trabalho até aqui realizado,
evitando, assim, o fechamento da Asso-
ciação Pestalozzi de Salvador.”
Gecilda Serafim
_______________________
“Nos anos de 1942 e 1943, utilizei o Ser-
viço de Documentação Científica do
IBIT, particularmente para a confecção
de slides, os quais eram considerados os
melhores da Bahia”.
Gilberto Melo
“Foi uma honra muito grande trabalhar
com o professor Silveira, do qual fui alu-
na no 6º ano médico.
Ingressei no IBIT através de anúncio que
li no jornal. Fui entrevistada e aprovada
pelo próprio Professor.
Saudações pelos75 anos de sucesso
Por testemunho da humildade desse
grande homem, transcrevo a seguir um
pequeno trecho de uma correspondên-
cia que ele me enviou: “Se, no calor da
discussão, alguma expressão minha a
magoou, queira sinceramente me perdo-
ar... Os velhos, atordoados por pressões
de todos os lados, estão sujeitos a erros
lamentáveis. Aos verdadeiros amigos
como a Senhora, cabe compreender e to-
lerar. Conto com sua presença na missa
em nosso apartamento. Com o apreço de
sempre, Silveira.”
Dra. Elza Vieira de Andrade
_______________________
“O professor José Silveira, homem de
personalidade forte, um exemplo na
nossa sociedade, como médico e pes-
quisador, o que se refletia na qualidade
dos serviços que o IBIT prestava aos seus
pacientes, associados e colaboradores,
até os dias atuais.
Este meu depoimento é a propósito do
Laboratório de Bacteriologia do IBIT,
onde me iniciei como bacteriologista,
em 1955. O professor Silveira dispensava
atenção especial a esse laboratório, onde
se realizavam pesquisas, principalmente
sobre a importância da cultura do ba-
cilo no diagnóstico da Tuberculose, in-
troduzida no IBIT pelo professor Egon
Darzins, as quais resultaram em méto-
dos que ainda são utilizados na rotina
deste Instituto pois, comprovadamente,
apresentaram excelentes resultados.
O professor Silveira acompanhava com
interesse os trabalhos desenvolvidos
no Laboratório de Bacteriologia, cujos
Fundação José Silveira50 Revista FJS em Ação 51
DEPOIMENTOS
resultados eram de grande significação
para o diagnóstico da Tuberculose, sem-
pre procurando modernizar, estimular
e proporcionar aos técnicos cursos no
Brasil e no exterior. ”
Dr. Júlio Mesquita de Oliva
_______________________
“Acho que não necessito apresentação,
pois sou considerada “mobília” da FJS.
No meu entendimento, a denomina-
ção ‘mobília’ é algo extraordinário, pois
tem um significado que lembra perma-
nência, solidez, estabilidade, coisas que
remetem ao caráter e à personalidade
do queridíssimo Professor Silveira, que,
ao lado de Irmã Dulce e do Monsenhor
Sadoc da Natividade, representam a
Bahia no mais alto grau de inteligência
e religiosidade!
O Professor Silveira, que conheci e com
quem convivi por tantas décadas, traba-
lhando sempre em busca da excelência
do IBIT, depois da FJS, era um perfeito
gentleman, corajoso, gentil, culto, inteli-
gente. Enfim, o meu amigo Professor Sil-
veira foi algo que considero um prêmio
a mim concedido por Deus, o de poder
dizer com muito orgulho: fui secretária
do professor Silveira por 40 anos!
À D. Ivonne Silveira, querida amiga D.
Ivonne, a minha devoção absoluta, a
minha admiração por sua indestrutível
fortaleza diante de tantos percalços que
a vida se lhe apresentou, seu amor por
José Silveira e sua incansável proteção
aos pobres e desvalidos. ”
Ione Ramos Pinheiro
_______________________
“Durante sua vida, o professor Silveira
se considerava simplesmente um mé-
dico. Tenho muita recordação dele e
muita saudade.
No Hospital do Tórax, fui nutricionis-
ta, farmacêutica, fui tudo. Quando fal-
tava o funcionário responsável, diziam:
“Bote D. Lourdes !”
Professor Silveira era boníssimo. Todas
as terças, ele vinha até minha sala con-
versar sobre D. Ivonne e o Serviço Social,
com muita amizade e carinho.
D. Ivonne era também de extrema sim-
plicidade. Não me esqueço de que ela
sempre me convidava para comer “um
repolho cortadinho”. Juntas, almoçáva-
mos aqui no IBIT.”
Lourdes Carvalho
_______________________
“É impossível recordar momentos da
história do IBIT e da FJS sem considerar
que tive a felicidade de conhecer o Pro-
fessor Silveira através do amigo comum,
Dr. Manoel Ezequiel da Costa, desde a
época da minha vivência na Faculdade
de Medicina do Terreiro de Jesus.
Foi uma amizade que se enraizou por
longo tempo, a ponto de nos tornar-
mos compadres. Lembro das conversas
francas que tínhamos, de amigo para
amigo, que extrapolavam até mesmo o
ambiente de trabalho.
Quando fui chamado para fazer parte
do corpo clínico do IBIT, onde fiquei até
8 de março de 2011, compreendi, no dia
do aniversário de 90 anos, que devia dar
chance aos colegas mais jovens, após
vinte e três anos de serviços prestados
à Fundação e ao IBIT. Guardo comigo
lembranças bonitas e inesquecíveis.
O certo é que Silveira e Ivonne estão a
abençoar essa instituição. ”
Dr. Jairo Macedo Maia
_______________________
“Quando em 1951, após concurso
vestibular, ingressei na Faculdade de
Medicina da Universidade da Bahia
(ainda não era Federal), a expectativa
dominante da Faculdade era a posse
do Dr. José Silveira, jovem médico que
ocuparia a recém-criada cátedra de Ti-
siologia. Possuidor de um imenso ca-
bedal de conhecimentos sobre tuber-
culose, inclusive adquiridos no exterior,
José Silveira foi aprovado em brilhante
concurso realizado na velha Escola do
Terreiro de Jesus.
Aproximei-me do ilustre Professor em
1953, durante o Congresso de Tubercu-
lose do Nordeste do Brasil. Ele, como
filatelista, fez realizar, no saguão do Ins-
tituto Geográfico e Histórico da Bahia,
uma exposição de selos temáticos so-
bre tuberculose, organizada pela Socie-
dade Filatélica da Bahia, da qual ele e eu
éramos sócios.
Durante os anos de 1954 a 1956, como
acadêmico estagiário e interno do IBIT
(Instituto Brasileiro para Investigação
da Tuberculose) e da Clínica Tisiológi-
ca da Universidade Federal da Bahia,
ambas entidades sob a direção do
Professor José Silveira, pude conhecer
melhor a dimensão do cientista e da
pessoa humana.
Mesmo depois de formado, tendo saído
daquelas instituições científicas, conti-
nuei gozando da honrosa amizade e dos
sábios ensinamentos do Mestre Silveira
durante a sua profícua e longa existên-
cia. No NICSA – Núcleo de Incentivo
Cultural de Santo Amaro, Casa da Cultu-
ra da sua terra natal, o Professor Silveira
chamou-me para colaborar com a im-
portante instituição da qual, por mais de
duas décadas, fui Tesoureiro por decisão
da Assembleia Deliberativa.
Assim, durante a longa e preciosa
existência de José Silveira, aquele ho-
mem nunca parou de sonhar e realizar,
mesmo travando lutas titânicas. Estas
obras, que hoje dignificam a Bahia,
prestam inestimáveis serviços e com-
põem a Fundação José Silveira, honra e
orgulho para todos que ali trabalham. ”
Dr. Fernando de Souza Pedrosa
_______________________
“Cheguei à Fundação em 1985.
Fui entrevistada pelo Professor José Sil-
veira, que começou indagando sobre os
locais onde eu havia trabalhado. Informei
que trabalhei com o Professor Estácio de
Lima e que procurei o IBIT por indicação
da Profª. Maria Theresa Pacheco. Ele res-
pondeu: Uma pessoa que trabalha com o
Professor Estácio de Lima, meu amigo do
coração, e com Maria Theresa, uma filha,
Fundação José Silveira52
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 53
DEPOIMENTOS
para mim, já está contratada.
O Professor Silveira gostava de conver-
sar. Era uma pessoa que eu respeitava
muito. Graças a Deus, minha convi-
vência com ele foi muito boa.
Durante os anos em que trabalhei
aqui, conquistei amigos, amigos que
conservo até hoje. ”
Enoe Dias Costa
_______________________
“Fui trabalhar com o professor Silveira
no quarto ano de medicina, como in-
terno acadêmico da Clínica Tisiológica
da UFBA.
Em 1960, o professor Silveira me transfe-
riu para o IBIT, onde estou até hoje. Não
sei se por coincidência, ou pelo destino,
nascemos no mesmo dia, 3 de novem-
bro, e sempre festejamos nosso aniversá-
rio juntos, na casa dele.
Viajamos para muitos congressos, tanto
no Brasil como no exterior. Durante o
ano de 1973, visitamos mais ou menos
22 países da Europa. Posteriormente, em
uma viagem para o Japão, ficamos hos-
pedados em um hotel cinco estrelas. O
Professor perguntou onde eu e minha es-
posa estávamos fazendo as refeições e eu
respondi: – No hotel. Ele retrucou: – Mas
aqui no hotel é muito caro. Nós consegui-
mos um restaurante fora do hotel que é
muito mais barato, inclusive o mais barato
é o macarrão... Comemos macarrão du-
rante a semana inteira... Este episódio de-
monstra a simplicidade do casal Silveira.
Para mim, o professor Silveira foi o mar-
co da minha vida. ”
Dr. Renee Alfredo Quiroga Solis
_______________________
“Vim para o IBIT por empréstimo da Clí-
nica Tisiológica da UFBA, onde trabalha-
va, e aqui permaneci até os dias atuais.
Dr. José Silveira era uma pessoa maravi-
lhosa, ao lado de D. Ivonne, uma amiga
muito querida.
Convivi bastante com o casal, principal-
mente com D. Ivonne, representando-a
em atos públicos nos seus impedimentos.
Ele tinha um coração de ouro. Era muito
organizado, disciplinado e exigente, en-
quanto D. Ivone, sentada em sua máquina
de costura, confeccionando roupas para
os pacientes do Serviço Social do IBIT, era
igualmente disciplinada e organizada.
Éramos muito amigos. Muitas vezes
viajamos juntos: meu marido, Alfredo
Quiroga, eu e o casal Silveira, para con-
gressos e viagens de turismo.
Hoje, aposentada, já lá se vão quarenta
anos... Continuo trabalhando no IBIT
com muito amor. ”
Vera Quiroga
_______________________
“A Fundação significa muito em minha
vida. Estou muito satisfeito em ver o cres-
cimento da Fundação, porque, no meu
tempo, só havia o IBIT. Do IBIT é que par-
tiu a Fundação. Eu, que vim do tempo do
Dr. Silveira, e acompanho os trabalhos do
Dr. Antonio Brito e de D. Leila, juntamen-
te com meus colegas e companheiros da
Fundação, sinto-me muito orgulhoso e
feliz em estar ainda trabalhando na Fun-
dação, com o consentimento de Dr. An-
tônio Brito e D. Leila.”
João Silva
_______________________
A Fundação José Silveira (FJS), nos idos
dos anos 80, ciente da necessidade de sua
inserção e contribuição na área materno
infantil, lançou a proposta de implanta-
ção de uma instituição hospitalar voltada
à mulher, o Hospital Santo Amaro (HSA),
nome em homenagem à cidade natal do
Professor José Silveira.
Foi com grande expectativa que a comu-
nidade bahiana e os profissionais de saú-
de receberam o Hospital Santo Amaro,
reinaugurado em 18 de janeiro de 1988. O
impacto da FJS na área perinatal do nosso
estado, através do HSA, é bem expressivo:
foram mais de 70.000 partos e cerca de
10.000 admissões na UTI Neonatal, com
uma moderna e completa estrutura que
permitiu salvar inúmeros neonatos. O
trabalho da instituição sempre associou
recursos humanos capacitados e estimu-
lados ao suporte da tecnologia.
O HSA tem tido participação ativa na ca-
pacitação de profissionais na área mater-
no infantil nestes seus 25 anos. Portanto,
a Fundação José Silveira está de parabéns
pelas suas ações dirigidas à saúde perinatal!
Dra. Licia Moreira
José Silveira em prefácios e preâmbulos
Meu caro José Silveira:
Você é o homem novo do Brasil, o pa-
norama enorme da nossa riqueza e da
nossa miséria palpita no seu coração,
há rios imensos na sua vida, o homem
brasileiro, principalmente o brasileiro
doente que sofre e espera, vive na sua
sensibilidade. Você olha o Brasil, ouve o
Brasil, sente o Brasil. São vozes, são ge-
midos, são clamores que surgem na sua
palavra clara e direta. Você é o homem
novo do Brasil: o seu e o nosso destino
são inseparáveis, a sua alegria e sofri-
mento também nos pertencem, temos
um só pensamento, teremos igualmente
a nossa parte de glória e desespero. Meu
caro amigo, a nossa amizade constitui
agora um sentimento eterno, que paira
acima da nossa vida, da nossa própria
vontade”
Manuel de Abreu – Preâmbulo de
“Imagens da minha devoção”, 1975
_______________________
“Alto, loiro, vibrátil, esgalgado,
Esse que um teuto lembra tanto assim
E o alemão fala desembaraçado,
Não é do Rheno, é do Sergymirim.
Do carrinho de mão ao Zeppelim,
Os transportes diversos há tomado
E não havendo nenhum mais, enfim,
Quase atravessa Paulo Afonso a nado.
Contra a Tuberculose, esse Doutor
É General, e, sua Linha, o IBIT
Em seus domínios, ele é vencedor.
Espírito e talento de eleição
Tão presto em dar o “troco a quem o
irrite”,
Pulsa em Silveira, um nobre coração”.
Eugênio Gomes – Prefácio de “Do
carro de boi ao Zeppelin”, 1976.
_______________________
“A estrela do destino iluminou Silveira,
deu-lhe a chama de um ideal – perpé-
tua inquietação –, deu-lhe um sagrado
motivo – o flagelo da tuberculose na
sua Cidade, no seu Estado, no seu País
–, mostrou-lhe o penoso caminho que
iria percorrer – verdadeira tempestade
de responsabilidade, luta sem tréguas,
desapontamentos, vitórias e derrotas.
Todavia estava armado.
Assim, o inquieto provinciano partiu
para a Europa e deslumbrou-se. O que
viu mudou o que pensava até então.
Sentiu ser possível fazer pesquisa cien-
tífica com estrutura mínima, amparada
na qualidade do investigador. Muito di-
ferente do que sonhara. E lá, teve outro
instante decisivo para a grandeza da sua
idéia: um sábio estendeu-lhe a mão –
Ludolf Brauer.
O mestre alemão, perseguido e ator-
mentado pelo nazismo, indicou-lhe as
linhas mestras, os detalhes, a estrutura
mínima necessária, a simplicidade possí-
vel, as metas que paulatinamente seriam
Fundação José Silveira54
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 55
DEPOIMENTOS
prelúdio de novos agravos, novas lutas e
novas e sucessivas vitórias, porque Silvei-
ra é um semeador de milagres. ”
Jayme dos Santos Neves – Prefácio de
“A palavra do José”, 1978.
_______________________
“Não quero terminar sem fazer refe-
rência ao capítulo que encerra VELA
ACESA, a “Confissão Final”. Páginas can-
dentes, escritas com sangue, páginas de
profunda beleza, onde a chama da pai-
xão e do amor eterno entre o homem
e a mulher, o companheiro e a com-
panheira, o esposo e a esposa, cresce e
brilha. O amor duramente conquistado,
enfrentando as misérias do mundo e a
pequenez de certa gente. Páginas claras,
serenas, magníficas. O inesquecível perfil
de dona Ivonne, a quem tanto devemos,
pois ela foi e é a estrela-guia desse sábio,
a musa do poeta José Silveira – pura po-
esia, a vida que os dois viveram, a luta
que os dois lutaram.”
Jorge Amado, Prefácio de “Vela ace-
sa”, 1980.
_______________________
“Grande espírito, e por isso mesmo grato
aos que o ajudaram a viver, José Silveira
saiu de Santo Amaro da Purificação, no
Recôncavo baiano, para cumprir a vo-
cação que trazia do berço: ser médico.
E o foi ao máximo. Clínico, homem de
laboratório, não se limitou ao exercício
da Medicina prática. No ramo da tuber-
culose em que se especializou, lançou-
se de corpo e alma na pesquisa sobre
a terrível doença, fundando com raro
temperamento criador, o Instituto Bra-
sileiro para Investigação da Tuberculose,
hoje transformado num fabuloso centro
de pesquisas e estudos, que, de Salvador,
irradia saber para o resto do país e o es-
trangeiro”
Afrânio Peixoto – Prefácio de “Péro-
las e diamantes”, 1984.
_______________________
“Com as memórias de José Silveira, o lei-
tor viaja, conduzido pela beleza do es-
tilo e pela correção da linguagem. Uma
viagem que vem da infância e chega aos
momentos decisivos da idade provecta.
E que trata de uma existência toda ela
voltada para o bem, o IBIT, a amizade, a
coragem, a resignação, o alívio do sofri-
mento alheio.”
Mário Cabral – Prefácio de “O Neto
de dona Sinhá”, 1985.
“Em José Silveira – sabem todos os que
o conhecem – há muito que admirar.
Do médico, falam os que dele recebem
os benefícios da melhora ou da cura e
os que sabem das homenagens que lhe
foram prestadas ao longo de sua carrei-
ra. Do escritor, posso dizer, por ter lido
todos os seus livros, que foi dotado
daquela qualidade suprema e rara de
saber dizer as coisas com simplicidade
e clareza. Mais do que isso: com emo-
ção. Esse domínio da arte de narrar, que
está presente em tudo o que escreveu, e
particularmente nos seus livros, veio um
pouco, naturalmente, do conhecimento
dos mestres – a que faz menção neste
livro – aos quais frequentou com assi-
duidade. Mas veio também, e principal-
mente, de seu íntimo, de sua maneira de
ver e sentir. Aquilo adquiriu dos livros, e
foi a forma; mas isto ninguém lhe deu,
foi obra sua, aprimorada ao longo do
tempo. E, ao longo do tempo, intensa-
mente vivida, intensamente sofrida.”
alcançadas para aquilo que se chamaria
Instituto Brasileiro para Investigação da
Tuberculose – sonho de Silveira.
Ainda mais. Prometeu apoio, união de
vistas, intercâmbio com seu Instituto de
Hamburgo e entregou a Silveira a tarefa
de organizar similar no Brasil em bases
puramente científicas. Foi a primeira e
grande alegria de José Silveira.
As notícias repercutiram favoravelmen-
te entre médicos e estudantes baianos,
mas atingiram a vaidade de muita gente.
Inteligente, agressivo e teimoso nos seus
objetivos, insolente e ousado... Mas mui-
to jovem para tal missão, diziam contra-
feitos.
Mal conheciam a força, a predestinação,
a genial insolência do jovem José Silveira
– arrombador do futuro. Não poderiam
saber que, mais tarde, Manoel de Abreu
o consagraria com uma frase lapidar:
“você é o homem novo do Brasil”.
Edmundo Blundi – Prefácio de “A
sombra de uma sigla”,1977
_______________________
“Mais que uma casa de pesquisa e de
ciência, o IBIT é um monumento. É um
monumento de amor. Basta ver a sua es-
pantosa e quase incrível transformação,
o seu impulso, antes e depois de Ivonne,
e a sua evolução. O IBIT é mais que qual-
quer outra coisa, a casa de Ivonne e de
José, feita à sua imagem e semelhança.
Nela se cultiva o milagre deste encon-
tro oceânico, que só em terras da Bahia
poderia acontecer. Silveira veio de Santo
Amaro e Ivonne veio do mar.
A sua história é assim, uma sucessão
de milagres. Uma superação constan-
te de impossíveis. Suas vitórias contra
descrença e hostilidade foram apenas
Nelson Werneck Sodré – Prefácio de
“O alemão do Canela”, 1988.
_______________________
“Construções em banal estilo moderno,
feitas de concreto e vidro, sem qualquer
beleza arquitetônica. Em alguns pavi-
lhões, vidraças quebradas. Nas paredes
externas, dizeres em grandes letras pin-
tadas com piche ou tinta vermelha, ber-
rando chavões do esquerdismo inter-
nacional. Em volta de tudo aquilo, um
terreno maltratado, com as pistas de
circulação margeadas pelo mato que se
confundia com o resto da vegetação da
extensa campina.
A impressão que a cena me deu é que
voltara ao Brasil, ou mais precisamente,
à Bahia, pois não é outro senão aquele o
aspecto da maioria de nossos estabele-
cimentos de ensino, notadamente os de
ensino superior, em que os estudantes,
levados por qualquer tipo de inconfor-
mismo, ou apenas por falta de formação
doméstica, costumam depredar as esco-
las em que entram para se educar.
Mas eu não voltara ao meu país. Estava
em Lima, no Peru, e visitava a quadricen-
tenária Universidade de São Marcos.
[...] Como no caso da Universidade de
São Marcos, também a secular Faculda-
de de Medicina foi deslocada de sua ve-
neranda sede, no Terreiro de Jesus, para
ir habitar um desgracioso e inadequado
edifício, num dos vales de Salvador.
Coincidentemente, a mudança ocorreu
quando já se tornava visível a decadên-
cia que ainda mais se acentuou daquela
época para os nossos dias.
[...] Foi José Silveira o pioneiro na luta
pela restauração da Faculdade. Dele a
sugestão a Luiz Fernando Macedo Cos-
Fundação José Silveira56
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 57
DEPOIMENTOS
ta, reitor da Universidade, para a organi-
zação do Memorial da Medicina, que a
seguir se fez uma esplêndida realidade.
Anteriormente, escrevera artigos para a
imprensa, já transmitira a outros médi-
cos, formados, com ele, pela antiga Fa-
culdade, sua inconformidade para com
a degradação material da velha escola.
[...] A justeza da causa defendida convo-
cou figuras de outros setores, como Má-
rio Cabral e Orlando Gonçalves Teixeira.
Todos se expressaram, em pronuncia-
mentos públicos, no sentido de exigir a
reconstrução de um monumento que é,
sem dúvida, uma das coisas mais precio-
sas do patrimônio da Bahia.
Jorge Calmon -- Prefácio de “No ca-
minho da redenção”, 1988.
“Quando se pensava haver encerrado o
laborioso e glorioso périplo, ensarilhan-
do as armas para o merecido repouso
do lutador – e que lutador ! – eis que
Silveira nos revela a mais nova das suas
faces – a face do grande memorialista.
Revelação que me faz lembrar outro
médico ilustre também chegando ao
campo das memórias quando se ima-
ginavam encerradas as atividades de es-
critor. Refiro-me a Pedro Nava, o grande
memorialista que a todos surpreendeu
e encantou com o seu “Baú de Ossos”.
Também Silveira nos surpreendeu e en-
cantou com os baús, memórias fixadas
inicialmente em “Vela Acesa”, depois
com as lembranças de ´”O Neto de D.
Sinhá”, a que seguiria “O Alemão do Ca-
nela”, renovado testemunho das raras
virtudes do memorialista, gênero do
qual é um dos mestres do nosso tempo.”
Luiz Viana Filho – Prefácio de “Para-
digmas”, 1989.
_______________________
“Depois da luta contra a tuberculose,
da campanha em favor da restauração
do nosso Centro Histórico, a capacida-
de de apaixonar-se encontrou em José
Silveira nova motivação no combate
ao tabagismo”.
Wilson Lins – Prefácio de “Colcha de
retalhos”, 1990.
“Se, em realidade, uma nação, em sua
essência, é constituída de homens, com
as suas ambições, renúncias, sacrifícios,
criatividades, defeitos e virtudes, temos
de convir que, no contexto do pro-
cesso social de tantas mãos e tantos
cérebros, transcende e se projeta uma
espécie, ao que se admite do mesmo
gênero, mas desenganadamente em
extinção nestes tempos de tão amargo
realismo pragmático: a dos sonhadores
e idealistas inveterados.
E se me fosse dado oferecer, entre nós,
um dos exemplos mais completos dessa
espécie, não hesitaria em apontar essa
admirável figura de cientista que, pela
fulgurância de suas idéias e pela gran-
deza de sua obra médico-pedagógica,
marcada, toda ela pelo sinete de um sa-
grado compromisso com a ciência pura
e a solidariedade humana mais sensível,
deixou, ainda muito cedo, de pertencer
a si mesmo para tornar-se um inesti-
mável patrimônio da cultura brasileira
e, mais significativamente baiana, com
lampejos pelos centros mais civilizados
dos quatro cantos do mundo: o Profes-
sor Doutor José Silveira!”
(Walfrido Morais – Prefácio de “Obs-
tinação – Aspectos da vida de um
hospital”, 1992.
Uma pequena história sobre um grande homem
Solicitado a dar uma contribuição sobre José Silveira, pensei
muito para não ser repetitivo e tornar o meu depoimento
enfadonho e pouco criativo. Escrever sobre José Silveira parece
não representar algo muito difícil, desde que possamos escolher
os vários aspectos da vida desse homem. Médico tisiologista,
professor universitário, pesquisador, escritor, além de um forte
impulso para empreendimentos vindos de seus sonhos. Todos
eles enriqueceram a vida desse baiano de Santo Amaro. Fui
buscar no tempo uma pequena história ou passagem, com
alguns diálogos que me marcaram sobremaneira.
Vivíamos, então, no final da década de 80, e o IBIT estava com
muitas dificuldades e poucos recursos. Em compensação,
pulsavam o entusiasmo e a perseverança de José Silveira que
contaminava a todos. Eu, como patologista, tendo ingressado
na Instituição em 1976, participava das apresentações de
correlação clinicopatológica nas nossas sessões semanais das
quartas-feiras, como faço até hoje. Sempre tive por hábito
documentar os casos interessantes, dentro da patologia
pulmonar e torácica. Essa prática me permitia contribuir com
algum conhecimento para as sessões científicas e também
documentar os casos para suas apresentações em congressos,
publicações dos mais diversos tipos, em periódicos nacionais
e estrangeiros. Aí entra uma característica importante da
personalidade do Professor Silveira, que era o seu grande
entusiasmo e verdadeira paixão na produção cientifica, com
a divulgação em revistas médicas de tudo aquilo que se fazia
no IBIT. Todos nós, incluindo bacteriologistas, tisiologistas
e também os da patologia, éramos sempre cobrados nesse
sentido. O Professor Silveira cultivava o pensamento científico
de que todo esforço deveria ser feito para publicações em
periódicos dos dados obtidos nas diversas áreas comuns à
tuberculose e doenças pulmonares outras. Sua luta nesse
sentido era constante e obstinada, bem de acordo com sua
visão abrangente e adiantada no tempo. Tudo se baseava,
acredito, na sua própria experiência como professor e
tisiologista, principalmente também pelo fato de ter criado um
Instituto com a finalidade principal de atender, diagnosticar,
tratar e pesquisar sobre a Tuberculose. Este modelo de visão
sobre uma Instituição de saúde persiste como moderno até
os dias de hoje. O professor chegava a ligar diariamente para
saber se o manuscrito tal já estava pronto para ser revisado
e vibrava muito quando a resposta era um sim. Assimilei
essa conduta e, com o seu estímulo, publiquei, em 1990, um
trabalho sobre cavidades pulmonares decorrentes de sequelas
de tuberculose e que tinha como titulo, “Pulmonary cavities
colonized by actinomycetes: report of six cases” (Revista do
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, volume 32; 63-
6). Era quase totalmente original, já que havia pouquíssimos
relatos similares na literatura sobre o assunto, e tive o prazer
de receber inúmeras solicitações de separatas do trabalho,
por parte de diversos pesquisadores internacionais. Esse
trabalho constou também na bibliografia do texto ATLAS
OF NONTUMOR PATHOLOGY – Non-Neoplastic Disorders
of the Lower Respiratory Tract publicado pela Armed Forces
Institute of Pathology – (AFIP), 2001. Esta abordagem tem
como objetivo demonstrar mais essa característica pessoal de
José Silveira, como a sua tenacidade na busca por objetivos,
João Carlos Coelho FilhoCoordenador Técnico-científico do IBIT e do
Laboratório de Patologia da Fundação José Silveira
Fundação José Silveira58
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 59
DEPOIMENTOS
da tuberculose, participou da investigação da eficácia das drogas
Rifampicina, Isoxyl, Ciclocerina, Etionamida, Pirazinamida, Etam-
butol, três delas ainda hoje de primeira linha no combate à tu-
berculose. Avante em seu tempo, propôs e comprovou a eficácia
da associação de três drogas utilizadas de forma intermitente na
segunda fase do tratamento. Neste sentido, também propôs o iní-
cio da deshospitalização do paciente, tratando-o na segunda fase
de forma ambulatorial, isto em 1940.
No IBIT, frequentaram pesquisadores de grande renome nacional e
mundial, passando estes um período tanto fazendo pesquisa como
ensinando, trazidos tanto pela fama do serviço como de seu presi-
dente. Dentre os nomes, destacamos G. Canetti, J. Grosset, B. Kreis.
N. RIST (França), M. Panzer (Romênia), A. Cetrangolo (Argentina), A.
Bravo (Espanha), H. Reutgen, F. Grumbach, Gössner, G. Hilscher (ale-
manha), V. Lorian, E. Darzins (Estados Unidos), Urbanczyk e do Brasil:
E. Andrade, R. Quiroga, M. Giudice, O. Ferreira, Bacelar, Cavalcante, R.
Cardoso, M. Goes e L.M. Almeida-Filho, dentre tantos outros.
A pesquisa no IBIT o levou, na época de ouro das descobertas
das medicações contra a tuberculose, a ser uma instituição à
frente de seu tempo. Muito se deve pelo fato de ser conduzi-
do pelas mãos fortes de seu mestre, que tinha uma visão ade-
quada sobre pesquisa como necessidade primária de busca por
melhores respostas para o que incomoda, na prática diária da
assistência, melhores respostas para a prática da administração,
inovando, por ser fundamental. Através dela, a instituição torna-
se capaz de gerar riqueza contínua e, assim, manter-se ou tornar-
se competitiva na sua missão.
nunca desistindo de perseguí-los. Ele me dizia: “Os desafios
estão na sua frente para que você os vença. Faça, escreva, você
pode, você está qualificado para fazê-lo, então faça. Para tudo
há um começo e faça sua parte como achar melhor. Não desista!
Nunca desista!”. Creio ter incorporado algumas coisas disto que
descrevi. Procuro recordar desta passagem, lembrando aos
mais jovens como isso pode servir em quaisquer atividades que
possamos desempenhar.
Dentro desse espírito de tenacidade, temos mantido as
nossas sessões cientificas, o nosso Centro de Pesquisas, alguns
trabalhos já publicados, projetos em andamento e muitos
sonhos. Preciso mencionar também que incorporei estas lições
à minha vida como um todo, com a preocupação constante
de repassá-las. Olhando para trás, percebo cada palavra, cada
momento e como isto se tornou definitivamente incorporado
ao meu trabalho em todos esses anos. Finalmente, é possível
que este não seja um fato isolado, e que vários de nós todos,
contemporâneos ou não, tenhamos vivido algo similar. Em
outra oportunidade já ressaltei a grande importância de José
Silveira ter sonhado, construído e mantido o IBIT. Acrescento
ainda que, além disso, o Professor Silveira também ajudou a
formar pessoas e profissionais.
Uma boa questão é o melhor começo
Pesquisa é a arte de estranhar o mundo. Estranhar o mundo não
é criticar, não é achar que o que vemos não conhecemos. Mas, es-
tranhar é achar que há mais a conhecer, é achar que há uma cons-
trução melhor no mundo do que o que vemos e querer descobrir
qual é esta construção. Qual é a verdadeira utilidade do BCG?
Como resolver o problema do cadastro torácico das grandes mul-
tidões? Este tipo de questão que moveu a vida do Dr. José Silveira.
Ele estranhou o mundo vendo inúmeros indivíduos adoecerem
e/ou morrerem pela agressão do bacilo da tuberculose. O que faz
com que as pessoas por causa da tuberculose morram? Posso uti-
lizar a reação de Mantoux para proteger pessoas de adquirirem a
tuberculose? Temos um tratamento, mas as pessoas são magras e
desnutridas, será que fornecendo o alimento correto pode-se atin-
gir níveis de cura mais significantes? Isto é estranhar o mundo, isto
é fazer pesquisa: fazendo a pergunta certa.
A pesquisa é um dos pés do tripé da instituição criada pelo profes-
sor Silveira, o Instituto Brasileiro para a investigação da Tuberculose
– o IBIT – em 1937. Os outros dois são a assistência e o ensino, pés
estes também fundamentais para o crescimento de uma institui-
ção. Durante toda a sua vida, o Professor foi um arguto questiona-
dor das coisas estabelecidas. Tanto que publicou isoladamente, ou
em colaboração com técnicos e pesquisadores do IBIT, além de
profissionais de outras instituições, mais de 200 trabalhos no Brasil
e no exterior durante toda a sua vida. Como reconhecimento por
seu trabalho e dedicação na área da tuberculose, foi indicado ao
Prêmio Nobel da Paz, em 1978, e ganhou o Prêmio Astra.
O IBIT, durante as décadas de ouro da investigação das drogas
Eduardo Martins NettoMédico epidemologista, professor da Pós-graduação em
Medicina e Saúde da UFBa e coordenador do Centro de
Pesquisa da Fundação José Silveira
Fundação José Silveira60
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 61
DEPOIMENTOS
Por que Medicina? Nunca soube explicar. Meu pai engenheiro
agrônomo, meu tio padre, meus tios-avós negociantes e lavradores.
Por que médico? Sei apenas que, desde o momento em que o pro-
blema se me apresentou – afora um rápido e transitório namoro
com as matemáticas –, só uma idéia me acudiu: a de ser médico.
José Silveira
Mais do que um nome marcante e significativo no cenário mé-
dico da Bahia, Dr. José Silveira passou a ser um referencial teóri-
co-prático da tuberculose na Bahia, e seu trabalho ultrapassou
as fronteiras nacionais e chegou ao mundo científico europeu.
Eu o conheci na juventude, ouvindo os jovens estudantes de
medicina pronunciarem o seu nome com admiração e respei-
to, creditando, àquele homem alto, magro e lépido, algo mais
que o título de professor. Naquela época, já era considerado
um cientista, um pesquisador apaixonado, por analisar, expe-
rimentar e descobrir algo raro na sua especialidade, também
raro naqueles idos do século passado.
Contaminado por uma infância tumultuada e sofrida, longe da
presenças paterna e do carinho materno, fortificou-se numa
adolescência vivida, em Santo Amaro e Feira de Santana, com
alegria, entre jovens saudáveis e garotas bonitas, deixando de
ser, como ele mesmo afirma, “cascabulho” para ingressar na
pretensiosa categoria de acadêmico.
Nessa condição, procurou usufruir do melhor que a gloriosa
Faculdade de Medicina da Bahia lhe tinha a oferecer. De acordo
com as chistosas categorias que se atribuíam, era agora “calou-
ro”, passando sequencialmente a “calouro enfeitado”, no segun-
do ano, “calouro de hospital” no terceiro, “doutor do quarto”,
numa alusão ao urinol, “[...] também chamado ‘doutor’ na vida
caseira”, “merda de doutor”, como apelidavam os quintanistas,
e, finalmente, “doutor de merda”, que, no último ano do curso,
já se considerava “[...] um sábio, via doentes, contestava os mes-
tres, operava e receitava, clandestinamente, bem se vê”1.
Mas, desde o início de sua vida acadêmica, absorve, dos gran-
des mestres, seus ensinamentos e seus valores. A análise crítica
que faz de todos eles evidencia o quanto pôde aprender com
aquela plêiade de professores com quem teve a sorte de convi-
ver na condição de “animal cáqui”, como o chamava Dr. Diniz,
por ele estar sempre abusando dessa “indumentária pobre e
única”. Assim ele entendia o porquê da sátira carinhosa.
Circulou José Silveira por entre os meandros das personalidades
de Mário Andréia, Augusto Viana, Couto Maia, Aristides Novis,
Adriano Gordilho, Prado Valladares, Sabino Silva, Jorge Valente,
Diniz Gonçalves, o grande Fernando São Paulo, Adolfo Diniz,
Leôncio Pinto e muitos outros. A respeito desses consagrados
médicos, conta, no seu admirável livro Vela Acesa, episódios
interessantes acontecidos entre eles e os estudantes, revelando
desse modo como era divertida a vida acadêmica, que ele viveu
intensamente, mergulhado na sua determinação de ser médico.
A concretização de um significativo ideal
(1. SILVEIRA, José. Vela acesa: memória. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1980. Os trechos aspeados ao longo do texto per-
tencem a essa obra.
As suas vivências como estudante de medicina representam
um documentário excepcional do curso médico da época,
quando se deparava com os mestres que tinham a volúpia da
reprovação e os que adotavam o regime do “passa tudo”. Des-
creve seus grandes mestres, categorizando-os, tentando sem-
pre compreendê-los, penetrar melhor nas suas características
pessoais, descrevendo muitas vezes suas metodologias, sua
maneira de examinar nas provas orais, de se comportar peran-
te a timidez de certos alunos e a arrogância de outros, inclusive
analisando a sua petulância de quintanista, “doutor de merda”
como se chamava, enfrentando Fernando São Paulo.
Não raro descreve as características físicas de seus mestres e
as alcunhas com que os alunos os identificavam: “Dr. Sopro de
Ponta”, “Professor Sudorese” (suava demais para ouvi-lo, pois
falava baixo e rouco). Com destaque, Dr. Silveira refere-se aos
cirurgiões, ao ensino da cirurgia com Fernando Luz, Caio Mou-
ra e Antônio Borja de quem narra uma artimanha para conten-
tar os pais, as mães principalmente, que aguardavam ansiosos a
definição do sexo do filho a nascer: dizia menino (ou menina) e
anotava, num pequeno caderno, os dados “dos genitores, data
provável do nascimento” e justamente o sexo oposto ao que
expressara verbalmente. Assim, se não coincidia, argumentava
que talvez se tivesse enganado, mas que iria rever ali as anota-
ções feitas por ocasião da consulta. Desse modo, mostrava a
anotação com a “previsão correta”, alertando para a possibilida-
de de o nervosismo e a ansiedade do momento terem levado
a um engano dos interessados.
Também se refere aos temporais violentos de Dr. Fernando Luz
e à grande resposta de Albino Leitão quando lhe aplicaram o
provérbio latino Verba Volant. Responde ele: “As palavras na
verdade voam, menos as minhas, porque a elas empresto o
peso da minha dignidade”.
Teonilo Amorim, Martagão Gesteira, o grande pediatra que
perpetuou seu nome no nosso grande hospital, Sepúlveda e
Valladares ganham um destaque especial na sua narrativa: “Se
Valladares foi o meu mestre, no sentido de abrir para mim
amplos e ambiciosos horizontes, estimular-me na busca de so-
lução e resposta a sérios e intrincados problemas científicos,
conduzir-me pelos caminhos ásperos do magistério científico,
ajudar-me, enfim, na sua clínica privada como na vida públi-
ca, foi Sepúlveda o guia verdadeiro dos meus primeiros pas-
sos, meu timoneiro firme nas procelas que tanto ameaçavam a
vida, meu amigo franco, leal, sincero e sempre fiel, nos momen-
tos graves e mais difíceis da minha existência”.
José Silveira tinha a ânsia do por que das coisas, e esta peculia-
ridade o acompanhou por toda a sua vida. Vivendo solteiro e
livre em plena juventude saudável, morou durante 17 anos (de
1921 a 1937) em pensões familiares e em algumas “repúblicas”.
Considerou essa fase de sua vida como risonha e franca.
Sempre bibliófilo, ligava pouco para a indumentária, embora
não fosse mais “animal de cáqui”. Na pensão de D. Mimi, no To-
roró, viveu anos e encontrou amigos, personagens ricas de sua
vida, como José Fiel que, ao morrer, deixou dividido em partes
iguais seu reduzido patrimônio para ele, Orlando Gomes, Go-
dofredo Filho e Eugênio.
Narrando episódios interessantes que ocorreram nesse perí-
odo de sua vida, consegue retratar uma época de juventude
saudável e bem vivida.
Sobre ele, também exerceu grande influência seu tio padre,
cuja vida tumultuada e cheia de percalços não o impediu de
se sagrar sacerdos in aeternum e conseguiu ser vigário da Purifi-
cação. Tendo vivido em ambiente religioso, vivenciou em tons
fortes a célebre festa de 2 de Fevereiro em Santo Amaro, para
homenagear Nossa Senhora da Purificação. A detalhada des-
crição que faz desses festejos demonstra claramente o quanto
amava a sua família, além da profunda ligação com sua terra.
Sua veia científica o levou à Europa, aproveitando, na Alema-
nha, todas as oportunidades que se apresentaram para se de-
dicar mais à Tisiologia do que à Radiologia, preparar-se para
enfrentar, com eficiência e coragem, a complexa e urgente
proposição de ser verdadeiramente um médico dentro de um
ideal humanístico.
Tímido e inexperiente, mas corajoso nas iniciativas tomadas
para conviver tanto quanto pôde com médicos alemães, fre-
quentou serviços de radiologia e até mesmo assistir cirurgias,
Leda JesuínoPrimeira diretora da Faculdade de Educação da UFBa e
presidente de honra da Academia Baiana de Educação
Fundação José Silveira62
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 63
DEPOIMENTOS
mesmo que às vezes tivesse de sair de Berlim para Berlitz para
ver operar o grande Kremer. Havia incluído um pedido-ordem
de seu mestre Valladares, para se interessar pela cura da tuber-
culose. Seu tempo na Alemanha foi bem cronometrado, pois,
entre a frequência regular e exaustiva aos serviços hospitalares
e conferências científicas e a convivência com as fräuleins loi-
ras e interessantes, os passeios e os contatos agradáveis com
o sexo feminino, chocando-se com os arroubos brejeiros dos
homossexuais, entregando flores à empregada como se fosse à
dona da casa, preparava-se o jovem médico para enfrentar, no
Brasil, um monstro: a tuberculose.
Voltou com um trunfo nas mãos. Havia feito, na Alemanha,
uma palestra, tendo sido aplaudido no mesmo momento em
que seu colega alemão não havia recebido palmas. Aprendeu
duas coisas ao término de sua fala: que os alemães aplaudem
de modo diferente e, o mais importante, que é preciso ter cora-
gem para enfrentar como visitante (als Gast) uma palestra em
alemão no Universität Institut para radiologistas.
Ao retornar, estava seguro da sua vocação científica, dos “ru-
mos do seu futuro”, conforme escreveu no seu livro Vela Acesa,
já citado. Foi livre-docente no Rio de Janeiro e catedrático na
Bahia, através de concurso da nossa Faculdade de Medicina,
em um daqueles concursos que se tornaram famosos pelos
hilariantes e/ou trágicos episódios que marcaram uma épo-
ca. Tive a oportunidade de presenciar alguns deles, quando
se aplaudia realmente os candidatos e era divertido assistir às
famosas arguições. Entrando sozinho para disputar a cátedra,
apresentou a tese Poder protetor do BCG nos alérgicos.
Enveredou o Dr. José Silveira pela tisiologia e, num pedido-
ordem de Dr. Valladares, procurou então se aperfeiçoar no
Rio de Janeiro e no exterior. Em 1934, o 3º Congresso Pan-
americano de Tuberculose, realizado em Montevidéu, reuniu
grandes tisiólogos, e ele percebeu, então, a “extensão epide-
miológica, social e humana da doença”, e, no convívio com
médicos de alto nível, compreendeu a necessidade de ir além
do seu consultório, que começava a ser muito procurado. A
tuberculose assustava as pessoas que temiam o contágio.
Nessa fase de sua vida, aconteceram numerosos episódios
que revelam as dificuldades de um tisiólogo diante de uma
clientela cheia de dúvidas e receios quanto a uma doença
ainda contagiosa e fatal, temida naquela época, obrigando o
paciente ao isolamento.
Mas continuava o anseio de ser professor e de encetar uma
luta aberta para debelar a tuberculose. Era necessário esclare-
cer, divulgar as estatísticas, lutar contra a doença. E, nessa luta,
ele se empenhou tenazmente. E desse élan tão forte quanto
a sua própria vida, nasceu o Instituto Brasileiro para Investi-
gação da Tuberculose (IBIT). A sua amizade com o Dr. Brauer
em 1934, no Uruguai, onde se impressionou com o nível dos
colegas do Prata, foi decisiva para isso, pois ele lhe incentivou a
ideia da fundação, no Brasil, de um Instituto para a investigação
da tuberculose.
Aí é o começo da sua saga, das suas lutas, das suas derrotas,
mas também das suas vitórias. No 1° Congresso Regional de
Medicina, relatou o tema “A Campanha Regional Anti-tuber-
culose na Bahia e deu seu grito de protesto e alarma: ”Na Bahia,
é um flagelo de tão extraordinárias proporções que, se não lhe
opusermos uma barreira forte, em combate enérgico, tenaz e
bem orientado, seremos responsabilizados, nas gerações vin-
douras, pelo crime de lhes havermos legado o maior fator de
degeneração e miséria”.
Começa aí o IBIT, o início de uma jornada laboriosa, necessi-
tando de união, de esforços e de sucessivas ações sinérgicas.
Na época, o secretário de Saúde era o Dr. Barros Barreto, sen-
do governador o General Juracy Magalhães. Surgiram, então,
algumas ações e associações importantes que o animaram a
prosseguir na luta.
Surgiu a Inspetoria de Tuberculose da Bahia, o Ramiro de Aze-
vedo entrou em Reforma para ser o Dispensário Central, deu-se
início à construção do Hospital Santa Terezinha, revitalizou-se
a Liga Baiana da Tuberculose por Alfredo Britto, Alfredo de Ma-
galhães, Gonçalo Muniz, Adeodato de Souza e Pedro Celesti-
no, foram criadas a Fundação Antituberculose Santa Terezinha
e a Sociedade de Tisiologia da Bahia.
Sua aproximação com o Dr. Arlindo de Assis e sua passagem
pelo Departamento de Saúde do Estado foram frutos significa-
tivos e representaram um mergulho numa realidade lamentá-
vel. Alarmado com o que viu, procurou realizar uma adminis-
tração sensível às necessidades imediatas dentro do possível,
no período de 1º de julho a 21 de dezembro de 1947.
Então, procurou oferecer o máximo que lhe foi possível ao Ins-
tituto Osvaldo Cruz, ao Hospital Juliano Moreira, ao Hospital
Couto Maia, aos Centros de Saúde, ao Centro de Tratamento
Rápido das Doenças Venéreas, ao Hospital Santa Terezinha,
sem esquecer o atendimento de saúde no interior do Estado.
Precisava, naquele momento, concentrar todo o seu energético
potencial para, através do IBIT, concretizar o seu ideal: comba-
ter a tuberculose. Os esforços posteriores foram acolhidos. Já
havia demonstrado muito da sua capacidade de articulação e
habilidade administrativa. Precisava agora de muita união, de
concentração de esforços, de demonstração contínua de firme
e inabalável vontade para buscar, com seu entusiasmo e poder
associativo, bagagem de conhecimentos e os caminhos para a
concretização de seu ideal – o IBIT.
Participou de inúmeras sociedades como a prestigiosa Socie-
dade de Medicina da Bahia, a Sociedade Médica dos Hospitais
da Bahia e a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na
Bahia, tendo no Rotary Club da Bahia desencadeado o pro-
cesso para fundar a Sociedade dos Amigos da Cidade. Esteve
sempre cercado de médicos renomados, homens capazes de
entender a sua luta por um ideal comum.
Devo ainda ressaltar o amor que o Dr. José Silveira devotou a
sua querida Ivonne, o qual, como é da essência de um amor
verdadeiro e forte, expandiu-se e envolveu o IBIT e a Bahia.
Fundação José Silveira64
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 65
DEPOIMENTOS
Nos primeiros anos do século XX, floresceram, na Faculdade
de Medicina da Bahia, dois grupos de médicos clínicos, orien-
tados, cada um deles, por professor dotado de significativa cul-
tura médica e humanística, capazes de aglutinarem valores: o
professor Prado Valadares e o professor Clementino Fraga.
Entre os médicos que compunham cada um desses grupos,
estavam José Silveira e César de Araújo, que vieram a ser, nos
anos que se seguiram, dedicados e eficientes profissionais na
condução dos problemas referentes à tuberculose.
Na época, a tuberculose na Bahia era um grande problema – “a
grande epidemia”. Matava mais que todas as doenças transmis-
síveis juntas. É bem verdade que, desde o início do século, algu-
mas medidas, na luta contra a tuberculose, no Estado, haviam
sido tomadas, tais como: a Liga Bahiana contra a Tuberculose
(1900), o Dispensário Ramiro de Azevedo (1919), a Fundação
Santa Terezinha (1936), e, sobretudo, o Hospital Sanatório San-
ta Terezinha (1942).
José Silveira diplomou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia,
em 1927. Como estudante, aproximou-se do professor Prado
Valadares, o seu “grande mestre”, e assim se manteve nos anos
que se seguiram à sua formatura. Defendeu a tese de doutora-
mento – “Radiologia da aorta descendente”, o que lhe valeu a
distinção da medalha Alfredo Brito. No início da sua formação,
foi orientado para a especialidade de radiologia.
Viajou para a Alemanha no ano de 1930. Orientado pelo Pro-
fessor Ludolf Brauer observou institutos , sanatórios para tuber-
culose, serviços clínicos e laboratórios especializados. A com-
Um herói na luta contra a tuberculose
paração do que via na Alemanha com o que conhecera, na
Bahia, convenceu-lhe de que muito havia de fazer na sua terra.
Germanizou-se: na disciplina e na assiduidade no trabalho e na
exatidão e fidelidade aos compromissos que assumia.
Ao regressar, participou do 1º Congresso Regional de Medicina
da Bahia (1935). Apresentou, então, um plano de combate à
tuberculose em que conclamava a participação ativa dos ór-
gãos governamentais, considerada de importância precípua.
Não lhe deram ouvidos. Decidiu então, criar, na Bahia, uma
instituição que atendesse ao seu objetivo de fazer pesquisa da
tuberculose, pois, “não se poderia progredir sem que se criasse
uma base científica”.
Neste sentido, em fevereiro de 1937, fez surgir o IBIT (Instituto
Brasileiro para a Investigação da Tuberculose). Na época, Silvei-
ra tinha 33 anos de idade, sem economia própria, sem prestígio
social. Muitos anos depois, refletindo sobre aquele seu gesto
audacioso, comentou ter sido “o desafio de um louco”.
O IBIT foi iniciado no sub-solo do Ambulatório Augusto
Viana e permaneceu no Canela até 1946, em condições mo-
destas. Mesmo assim, Silveira não ficou de braços cruzados.
Lutou. Na Federação, junto ao Cemitério do Campo Santo,
conseguiu um terreno, onde construiu a sede da Instituição,
que lá permanece até hoje.
Novos horizontes se abriram. Pesquisadores de outras nacio-
nalidades estiveram no IBIT, formando pessoal, estabelecendo
laboratórios, implantando setores de pesquisa, realizando cur-
sos e proporcionando intercâmbio de brasileiros e estrangeiros.
Editou uma revista “Arquivos do IBIT”, onde foram publicadas
as pesquisas realizadas e acontecimentos relacionados com
a especialidade. Organizou uma biblioteca especializada de
boa qualidade.
Em 1950, Silveira, após concurso, tornou-se professor catedrá-
tico de Tisiologia da Faculdade de Medicina da Bahia, o que
muito lhe satisfez.
Mas, novos ventos sopraram no tratamento da tuberculose. Os
antibióticos e quimioterápicos mudaram substancialmente a te-
rapêutica da doença e o destino dos doentes. Passou a época do
pneumotorax, pleural e extrapleural; da toracoplastia mutilante,
do pneumoperitônio, das pneumectomias freqüentes, da secção
do frênico – de todas as manobras de colapsoterapia. A época
dos agonizantes com insuficiência respiratória, sem nenhuma
possibilidade de ajuda pela falta de tecido pulmonar, das he-
moptises fulminantes, das hospitalizações sem fim.
O advento da estreptomicina, da rifampicina, da isoniazida, do
etambutol, dos PAS mudou o prognóstico da doença de tal for-
ma que se falava da tuberculose como vencida. A doença per-
deu a sua individualidade e passou a ser considerada como uma
das outras doenças infecciosas. Apagou a figura do tisiologista.
Ledo engano, porém. A tuberculose continua a ser um problema
expressivo. A resistência bacteriana, as micobaterias atípicas, a tu-
berculose nos pacientes aidéticos, os pacientes provenientes de
ambientes empobrecidos e promíscuos e outras situações.
O Hospital do Tórax foi construído em continuidade à sede do
IBIT e representou a concretização de um projeto do Professor
Silveira, de atender a pacientes com doenças do tórax. Posterior-
mente o Hospital do Tórax passou a ser denominado Hospital
Santo Amaro, homenageando o Professor Silveira com o nome
da sua cidade natal, voltado para o atendimento materno-infantil.
Nos anos 80, foi constituída a Fundação José Silveira, composta
pelo Hospital Santo Amaro, pelo Laboratório José Silveira (na
época denominado Laboratório Ludolf Brauer), pelo Núcleo
de Toxicologia Ambiental e pelo Cento de Saúde Ocupacional.
O IBIT continuou o seu papel filantrópico de atender pacientes
com tuberculose. As Unidades Assistenciais de Saúde, da qual
faz parte o IBIT e mais ainda, o Instituto Baiano de Reabilitação,
o Centro Pestalozzi de Reabilitação, a Santa Casa Hospital São
Judas Tadeu (em Jequié), o Hospital N. Sra. da Natividade em
Santo Amaro, além do Programa Saúde e Cidadania.
Ao completar 70 anos, o Professor Silveira voltou sua atenção
para as pegadas que fez no caminho que havia percorrido. Per-
cebeu os primeiros sinais de que o tempo começava a cobrar
os seus direitos. Relembrou o esforço que fez para construir e
organizar o IBIT e o Hospital do Tórax e imaginou que, mais
tarde, o destino iria ampliar os seus compromissos, o que re-
almente aconteceu, com o surgimento de uma Fundação que
recebeu o seu nome.
Refletiu que era chegado o momento de registrar os aconteci-
mentos que tinha vivido.
Entre 1975 e 1994, escreveu os 15 livros, abaixo relacionados:
• Imagens da minha devoção – 1975
• Do carro de boi ao zepelin- 1976
• À sombra de uma sigla – 1977
• A palavra do José - 1978
• Vela acesa – 1980
• Prado Valadares: Idéias, doutrinas e atitudes – 1982
• Pérolas e diamantes – 1984
• O neto de D. Sinhá – 1985
• O alemão do Canela – 1988
• No caminho da redenção – 1988
• Paradígmas: Vidas que ensinam, exemplos que engrande-
cem – 1989
Rodolfo TeixeiraMembro da Academia de Medicina da Bahia e
professor titular de Doenças Infecciosas e
Parasitárias da Faculdade de Medicina da Bahia
Fundação José Silveira66
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 67
DEPOIMENTOS
• Colcha de retalhos: idéias, fatos e sugestões – 1990
• Obstinação: aspectos da vida de um hospital – 1992
• Últimos lampejos: idéias, depoimentos, conceitos e pre-
ceitos – 1993
• Uma doença esquecida: a história da tuberculose na Bahia
– 1994.
Os seus livros são de um memorialista, obcecado por toda a sua
vida, pelo IBIT e por uma doença lendária – a tuberculose. Em mui-
tos momentos, orgulhoso e otimista com o trabalho que realizava
e, em outras ocasiões, se mostrava, injustamente, desencantado.
Os amigos e colaboradores, médicos e empresários e, às vezes,
políticos, aparecem, em muitos momentos, no seu texto, com
os seus agradecimentos.
Porém, a grande razão da sua obsessão foi a sua esposa que-
rida, D. Ivonne Silveira, companheira fiel, sempre presente ao
seu lado. Organizou programas de assistência à família dos do-
entes pobres, manteve a Escola do Menino Jesus, criada pela
comunidade carente do Alto das Pombas. A sua presença foi
uma constante em todas as iniciativas de Silveira e ele, afetuoso
pediu-lhe “compreensão por tê-la queimado na chama ardente
e torturante de um ideal inatingível”.
Exemplo que honra a Bahia
Antonio Carlos Vieira LopesPresidente da Associação Bahiana de Medicina
(ABM) e professor doutor aposentado e emérito da
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Na comemoração dos 75 anos da Fundação José Silveira, cum-
pre-nos exaltar o legado do seu líder maior e fundador, o pro-
fessor José Silveira, eminente cientista e médico dos mais huma-
nitários. A semente lançada por ele em 1937, quando a Bahia
ostentava uma das mais altas taxas de incidência de tuberculose
do país, foi a implantação do atual Instituto Brasileiro para In-
vestigação do Tórax – IBIT. Trata-se de uma obra que se tornou
referência internacional no combate à doença e foi a base para
a criação da Fundação José Silveira, instituição que prima pelo
padrão de excelência em suas atividades, projetos e obras.
O professor José Silveira foi um homem notável, com um con-
junto de atributos que o projetaram como um dos grandes
nomes na medicina bahiana. Foi um especialista de reconheci-
mento internacional, com vários artigos, pesquisas e trabalhos
científicos publicados no Brasil e no exterior. Implementou uma
instituição de referência, embasada em uma ampla cobertura
médico-assistencial aos pacientes portadores de tuberculose,
que inclui não só o acompanhamento terapêutico, mas ações de
amparo social e nutricional. O resultado pode ser constatado até
hoje, quando a instituição ostenta índices elevados de cura e de
adesão ao tratamento, em percentuais acima dos preconizados
pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para exaltar a herança deste médico e cientista visionário é in-
dispensável contextualizar a sua atuação em várias frentes. Pelo
seu dinamismo, coragem e perfil empreendedor, o professor
José Silveira também projetou-se como uma liderança atuante
da classe médica na Bahia. Foi aclamado pelos colegas como
presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM) em dois
biênios consecutivos (1946 – 1949).
À frente da presidência da ABM, Dr. José Silveira intensificou a
atualização científica, com a realização de conferências e cur-
sos, que mobilizaram públicos bem maiores em relação aos
das gestões que o precederam. Entre outros feitos, ele se nota-
bilizou pelo extraordinário êxito do 3o Congresso Regional de
Medicina. Atividade memorável, inserida nos anais da história
da nossa atuante Associação.
Pela sua trajetória, Dr. José Silveira e sua Fundação, com re-
conhecida atuação nos campos da assistência social, saúde e
meio ambiente, são exemplos que honram a Bahia. Um lega-
do que merece o justo reconhecimento pelo alcance social da
sua obra em benefício de milhares de baianos, sobretudo junto
à população de baixa renda, contemplada pelos programas e
ações assistenciais da Fundação José Silveira.
Fundação José Silveira68
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Revista FJS em Ação 69
DEPOIMENTOS
Nessa histórica e marcante ocasião, em que se celebra a lou-
vável e bem sucedida trajetória de 75 anos da Fundação José
Silveira, honradamente, e com grande satisfação, associo-me
a essas comemorações, prestando um simples e breve depoi-
mento da nossa vivência pessoal, registrando os laços e amáveis
coincidências que nos unem, direta ou indiretamente, a essa
grandiosa instituição, que agora se deseja homenagear.
A) Lembro-me de visitar, frequentemente, quando criança,
meu avô materno, saudoso e renomado pediatra, Dr.
Álvaro Pontes Bahia, em seu consultório, localizado no
edifício A Tarde, na Rua Chile. No mesmo prédio, tam-
bém estava instalado o consultório do Dr. José Silveira,
eminente e respeitado cientista, tisiologista. Além de co-
legas de profissão e vizinhos de consultório, os dois eram
amigos e mantinham longas conversas sobre assuntos
médicos e sobre a atuação de cada um. Recordo-me, ain-
da, que uma antiga auxiliar de nossa residência contraiu
a Tuberculose. Minha mãe, preocupada, recorreu a meu
avô que, rapidamente, contatou o Dr. Silveira. Como de
costume e com sua generosidade, imediatamente ele
deu todo o apoio e orientação necessários. Após longo e
eficiente tratamento através do IBIT, deu-se a cura, para
alegria de todos nós.
B) José Silveira e Álvaro Bahia, além de dedicados e com-
petentes médicos em suas respectivas áreas de atuação,
tinham, também, em comum, o vibrante idealismo pro-
fissional, voltado para o social, realizando e idealizando,
cada um no seu mister, reconhecidas entidades de nobre
Parceiros na filantropia
Rosina Bahia Alice Carvalho dos SantosPresidente da Diretoria Executiva da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil
missão, destinadas, especialmente, para as pessoas mais
carentes: 1) Dr. Silveira, criando o IBIT (Instituto Brasileiro
para a Investigação da Tuberculose), em 1937, instituição
de vanguarda e de grande valor, internacionalmente re-
conhecida na pesquisa e no tratamento da Tuberculose,
que era considerada, na época, o mal do século, célula
mãe da Fundação José Silveira, tornando-se referência,
no estado, no combate à Tuberculose. Com a expansão
do IBIT, foram criados outros serviços e unidades, tanto
na área da saúde, quanto na assistência social, destacan-
do-se a criação do Hospital Santo Amaro. 2) Dr. Bahia,
idealizando a então Liga Bahiana Contra a Mortalidade
Infantil, fundada, conjuntamente com o Dr. Joaquim
Martagão Gesteira e Álvaro da Franca Rocha, em 17 de
junho de 1923, denominada, a partir de 1967, Liga Álvaro
Bahia Contra a Mortalidade Infantil, que vem prestando,
ao longo de seus quase 90 anos, inestimáveis serviços
em prol da saúde da criança, particularmente a menos
favorecida. Posteriormente, visando prestar uma atenção
mais efetiva e integral à criança, idealizou e fundou, em
1946, o Hospital Martagão Gesteira, inaugurado em duas
etapas, 1965/66, igualmente referência, em nosso estado,
na área da Pediatria, que foi, indubitavelmente, o grande
sonho e realização da sua vida.
C) O Sr. Carlos de Aguiar Costa Pinto, grande empresário
do açúcar e colecionador de obras de arte, verdadeiro
mecenas, promotor e patrocinador das mais diversas ati-
vidades culturais, educativas, científicas, artísticas, religio-
sas e esportivas da nossa terra, era amigo muito próximo
do Dr. Silveira, tendo sido um dos grandes benfeitores do
IBIT, concorrendo, decisivamente, para a sua concretiza-
ção e manutenção. Assim, quando foi instituída a Funda-
ção Museu Carlos Costa Pinto, faziam parte do seu então
Conselho Diretor, dentre outros membros, dois grandes
amigos de Carlos e Margarida Costa Pinto: o Dr. José Sil-
veira e o professor Dr. Pedro Tenório de Albuquerque. Em
05 de novembro de 1969 (Dia da Cultura), quando era
Governador da Bahia o Dr. Luís Viana Filho, foi inaugura-
do o Museu Carlos Costa Pinto. Nessa solenidade, o Dr.
José Silveira proferiu o discurso de saudação em nome
da instituição, como Conselheiro da Fundação Museu
Carlos Costa Pinto.
Em 1974, foi assinado um convênio de cooperação téc-
nica entre a Universidade Federal da Bahia, representada
pelo magnífico reitor Dr. Lafayette de Azevedo Pondé e a
Fundação Museu Carlos Costa Pinto, pela presidente D.
Margarida de Carvalho Costa Pinto, para a implantação
e organização da Biblioteca do Museu; a partir de en-
tão, como bibliotecária da Universidade, passei a exercer
minhas atividades profissionais na Biblioteca Margarida
Costa Pinto, aí permanecendo por 35 anos. Após minha
aposentadoria, e para minha grande satisfação, fui convi-
dada a integrar o Conselho Curador da Fundação Museu
Carlos Costa Pinto, função, por coincidência, anterior-
mente também ocupada pelo Dr. Silveira.
D) A Fundação José Silveira, sábia e competentemente pre-
sidida pelo Dr. Geraldo Leite, e conduzida com sucesso e
modernidade pela dinâmica Superintendente Leila Brito,
firmou, em 05 de abril de 2012, parceria com a Liga Ál-
varo Bahia Contra a Mortalidade Infantil, entidade filan-
trópica, que temos a grande honra e alegria de presidir,
mantenedora do Hospital Martagão Gesteira, liderado
pelo superintendente Carlos Emanuel Rocha de Melo,
que passou, assim, a contar com o relevante apoio da
Fundação, visando, principalmente, a transferência de
tecnologia assistencial e empresarial (processos, remode-
lagem, despesas, etc), objetivando a melhoria da presta-
ção de serviços ao SUS (Sistema Único de Saúde), através
da qual foram disponibilizados recursos humanos para a
ampliação dos atendimentos e melhoria na gestão.
Assim, estão sendo beneficiados, mensalmente, cerca de
15.000 crianças e familiares atendidos pelo Martagão, com os
ganhos de eficiência administrativa e operacional, comparti-
lhados com a Fundação José Silveira. Na referida solenidade, as-
sinaram o Termo de Cooperação o presidente em exercício do
Conselho de Curadores da Fundação José Silveira, Dr. Fernando
de Souza Pedroza, representando o presidente – ausente por
motivo de viagem –, e a Presidente da Liga Álvaro Bahia Contra
a Mortalidade Infantil. A oficialização dessa parceria confirma
e consolida a antiga amizade entre os médicos Álvaro Bahia e
José Silveira, fundadores de duas instituições, hoje homônimas,
que dedicaram, ao longo de suas vidas profissionais, seus traba-
lhos e notáveis esforços em defesa dos mais carentes.
A população da Bahia, especialmente as crianças, agradecem a
sensibilidade dessas duas meritórias instituições filantrópicas!
Fundação José Silveira70
DEPOIMENTOS
Revista FJS em Ação 71
DEPOIMENTOS
Centenário de nascimento de José Silveira (1904-2004)
Edivaldo BoaventuraProfessor da Universidade Federal da Bahia, diretor-geral do jornal
A Tarde e ex-presidente da Academia de Letras da Bahia
Havia, em casa de minha avó paterna, uma fotografia muito im-
portante e altamente significativa. Importante pelas pessoas que
lá estavam. Toda a Feira do início do século, como o Sr. Berna-
dino Bahia e D. Luísa, e o farmacêutico José Alves Boaventura e
D. Lídia Abreu de Oliveira Alves de São Boaventura, meus avós
paternos. Meu pai, ainda de calças curtas, padre Loureiro e um
coroinha, louro e magro, seu sobrinho, o Zequinha de padre
Loureiro, como era chamado o Dr. José Silveira. A fotografia é o
testemunho do lançamento da pedra fundamental da Igreja do
Senhor dos Passos. A velha havia sido demolida. Lutava-se pela
construção de um templo novo. Afinal, não poderia haver uma
avenida Senhor dos Passos sem a Igreja do seu patrono!
A fotografia fixou o grupo de pessoas que liderava a Feira de
então, isto é, no começo do século XX e marcou também a
lembrança da amizade de infância entre o tisiologista e meu
pai. Amizade construída nos anos em que Silveira morou em
Feira, acompanhando o seu tio padre. Amizade que durou
todo o tempo, enquanto meu pai foi vivo. Silveira e o padre
Loureiro voltaram a Santo Amaro; depois ele seguiu medicina,
meu pai continuou em Feira. A diversidade de ocupações não
os separou. De vez em quando ouvíamos falar no seu nome tão
conhecido, reconhecido e, por todos nós, respeitado.
Acostumei-me, desde muito cedo, a ouvir falar no Dr. Silveira,
como um referencial ao mesmo tempo científico, pelo esforço
denodado do seu trabalho, e afetivo, pelos laços de amizade
com o pessoal da Feira e, em especial, com meu pai: foram co-
legas de escola de D. Isaura Paiva e juntos colecionavam selos.
Embora separados, um, em Feira, e outro, em Salvador, quando
havia problema de saúde sério, Silveira aparecia em cena. Mi-
nha mãe teve que ser operada, Silveira logo foi consultado e
lastimou não poder dar-lhe maior assistência, porque ia viajar
para a Europa.
Os quadros da infância seriam avivados com os nossos encon-
tros em Salvador. Assim, passei a olhá-lo de longe, admirando o
seu trabalho, mas já o conhecendo muito de perto, por todas
aquelas lembranças e referência lá de casa.
Como Godofredo Filho, José Silveira foi uma amizade que veio
de meu pai. Da Feira para Salvador. Mudei e trouxe acrisoladas
essas duas admirações, o tempo e o momento se encarrega-
ram de nos aproximar.
O trabalho, a pertinácia, o idealismo, a luta contra a tuberculo-
se, o IBIT, o profissional altamente competente, conhecido na
Bahia, dentro e fora do Brasil, tipificavam o seu desempenho.
Assim, morando ambos em Salvador, frequentando a mesma
Universidade, o Rotary Club, pela colaboração na imprensa, so-
bretudo no jornal A Tarde, fomos nos encontrando e ativando
antigos laços. A velha amizade paterna de vez em quando subia
à tona e era rememorada.
Quando fui Secretário de Estado da Educação e Cultura pela pri-
meira vez, no governo Luís Viana Filho, fiz um convênio com ele.
Depois, na Academia, passamos a nos encontrar. Consolidava a
admiração, que fazia nascer entre ele e eu, apesar da diferença de
idade, uma amizade, um encontro e uma convivência.
Quando li suas memórias em Vela Acesa, pude recompor o
homem por inteiro. A sua vida, sua luta para estudar, a admi-
ração e o esforço de sua avó, que não mediu sacrifícios para
vê-lo doutor, vendendo até uma das duas casas que possuía,
impressionaram-me sobremaneira.
Causou-me admiração com ele tentou e fez ciência e pesquisa
médica na Bahia. Mas o médico famoso, que eu conhecia pelo
referencial paterno, se aproximava cada vez mais de mim. Certa
feita, candidatei-me à Academia de Letras na Bahia e pergun-
tei-lhe sobre determinado médico que ia concorrer comigo. Eu
não o conhecia e ele me respondeu:
− Impossível você não conhecê-lo. É aquele médico
que já descobriu a cura do câncer várias vezes […].
Gostava do seu senso de humor. Fino e raro entre nós.
Se nas publicações médicas e científicas estão os resultados
de suas pesquisas e do ensino, na cátedra de Tisiologia, que
ele tanto ilustrou, na sua memorialística e nos livros de viagem,
reencontro o homem, amigo de infância de meu pai e meu
amigo por herança, revivida na convivência.
A ordem, o caráter, e a disciplina, o espírito de investigação, que
ele tanto admirava no ilustre confrade, levaram-me a fazer uma
releitura dos seus Antecedentes, títulos e trabalhos, publicado
pela Imprensa Regina, Salvador, em 1949. É a tradição europeia
do memorial de títulos e trabalhos que se transplantou para a
Faculdade de Medicina. De 1922 a 1949, que trajetória! Ascen-
são à Cátedra. Em publicação juntou as palavras de Arlindo
de Assis, então diretor do Departamento Nacional de Saúde,
representante do ministro Simões Filho, na sua posse como
professor catedrático, o discurso do argentino Nicolas Roma-
no, e as palavras de Adriano Pondé e do próprio Silveira. Longa
e trabalhosa caminhada de estudante e catedrático.
A memorialística começaria com Imagens da minha devoção
(1975). Enumera aqueles que o ajudaram na sua formação ou
na complementação íntima da amizade. Presente no seu ima-
ginário Prado Valadares, Fernando São Paulo, Rogéria Gusta-
vo dos Santos.
As memórias se completam com as impressões de viagem. E
Silveira era um grande viajante. Do carro de boi ao Zeppelin,
crônicas de viagem, publicado em 1976, é o relato de sua vol-
ta pelo mundo.
A sua criação maior, animada e organizada por ele, com o
apoio e a ternura de D. Ivone, aparece de retrato inteiro – Á
sombra de uma sigla ou 40 anos de IBIT, publicado em 1977.
Silveira com o IBIT, pelo ensino, pela pesquisa e pela extensão,
criou uma universidade. Nesta gradação de imagens, viagens
e sombras, chegou Silveira à plenitude de sua memorialística
com Vela Acesa, publicado pela Civilização Brasileira, em 1980.
As suas memórias interessam de muitas maneiras. É a avaliação
que fez do ensino superior de sua época. Havia honestidade e
seriedade na transmissão de muitos professores; outros mistu-
ravam a atividade docente com a política; a pesquisa, porém,
era quase inexistente.
Evoco o Silveira, médico renomado e lutador incansável na ba-
talha da tuberculose, professor, pesquisador e escritor por in-
teiro. É esse Silveira que totaliza cem anos, que trago, pleno de
amizade, respeito e admiração, para esta festa centenária que a
Academia de Letras da Bahia comemora ano lançar o livro de
Jorge Calmon Santo Amaro, devoção de José Silveira.
Fundação José Silveira72 Revista FJS em Ação 73
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Participação de José Silveira na Academia de Medicina da Bahia
“É de supor, pela natureza de sua destinação, pelo saber dos que
as integram, que às Academias compete este papel relevante de
esclarecer e conduzir o pensamento médico, a prática da Medici-
na, a dignidade da profissão, jamais olvidando a parcela que lhes
cabe nessa função orientadora, doutrinária e filosófica.”
(Sá Menezes, J – An Acad Med Bahia 1:11-23, 1978, pág. 23)
Ter-me-ia sido mais fácil escrever ou falar sobre José Silveira
como mestre, porque ele ainda foi meu eficiente professor de
Tisiologia na Faculdade de Medicina, nos idos de 1963. Mais
ainda, como consagrado escritor, porque li, prazerosa e aten-
tamente, todos os seus 14 livros. Como médico e pesquisador,
porque conheço sua vida profissional e científica. Mas como
dizer não a um convite de meu dileto confrade, conterrâneo e
amigo, Geraldo Leite, ainda mais sendo eu o presidente de uma
instituição que ele ajudou a criar e a desenvolver?
Vou contar sobre José Silveira e sua passagem pela Academia
de Medicina da Bahia, sua contribuição e seu legado. Servir-
me-ão de base impressões pessoais, bem como informações e
opiniões de outros que o conheceram bem e acompanharam
sua trajetória na instituição.
Conforme retrospecto histórico da fundação e do funciona-
mento da Academia, publicado por um dos paradigmas dela,
o saudoso confrade Jayme de Sá Menezes, a entidade foi criada
a partir do ideal de Jayme, comungado por Urcício Santiago
e José Ramos de Queiroz, que convidaram os demais futuros
confrades, considerados membros fundadores, entre os quais o
mestre Silveira, que logo emprestou sua solidariedade e apoio.1
Encontrei, nesse depoimento abrangendo duas décadas
(10.07.58 a 1978), notícias sobre o desempenho de José Silveira
no sodalício. Há referência sobre duas conferências importan-
tes, uma sobre o tema “Por que atualmente ainda fracassa
o tratamento da tuberculose?”, oportuna advertência sobre o
prosseguimento do perigo em que o bacilo de Koch continu-
ava (e continua) se constituindo, apesar das medidas terapêu-
1 Presidente da Academia de Medicina da Bahia.
Thomaz CruzPresidente da Academia de
Medicina da Bahia
ticas disponíveis (resistência a medicamentos, novas cepas), e
outra sobre “Patologia Pulmonar - Ontem e Hoje”, o passado
e o presente da Pneumologia, assuntos de seu amplo domínio.
Silveira também organizou, coordenou e participou, provoca-
tiva e proveitosamente, em simpósio sobre Pesquisa Médica.
Ao percorrer detalhadamente os 14 volumes dos Anais da Aca-
demia de Medicina da Bahia, cuja publicação Silveira deu início
durante sua primeira gestão como presidente, enfrentando,
como ele escreveu na apresentação, “dificuldades várias, prin-
cipalmente financeiras, inicialmente custeadas com recursos dos
próprios acadêmicos”, descobri 11 artigos de sua lavra 2-11 sobre
temas os mais variados. Destaquem-se:
• A Valorização do Médico2, simpósio em partici-
pação com próceres da Medicina, como Aloysio de
Paula, Murilo Belchior e Mário Rigatto, em que o
prestígio do médico foi abordado e discutido. 2
• Os Vinte Anos da Academia4, comemorados sob
sua presidência (1975-1979).
• Aula Magna (inaugural) da Universidade Federal
da Bahia sobre Medicina e Pesquisa8, um exemplo
de experiência, lucidez e espírito crítico.
• Abandono criminoso9, sobre a saída da Faculdade
de Medicina do Terreiro, a campanha pelos reparos
do prédio e, nela, o envolvimento da Academia, o
regozijo pelo encaminhamento das obras e as ideias
sobre a destinação do edifício.
Sete publicações sobre:
• Manoel de Abreu (ícone da Radiologia, criador
da abreugrafia).3
• Thales de Azevedo5, médico, ilustre antropólo-
go, confrade.
• Cardoso Fontes7, baluarte de Manguinhos, o pri-
meiro a empregar o método experimental no estudo
da tuberculose em terras brasileiras.
• Prado Valadares10, o grande propedeuta, seu mes-
tre e ídolo.
• O mais argentino dos médicos brasileiros11, ele
mesmo, discurso ao agradecer o título de Membro
Honorário da Academia de Medicina de Buenos Aires.
• Fernando São Paulo12, mestre da Terapêutica Clíni-
ca, que dividia sua aula entre tratamento para doen-
tes pobres e doentes abastados.
Nesses mesmos Anais, Silveira mereceu, ao longo da existên-
cia da Academia, publicações 13-20 ressaltando-lhe o valor e a
contribuição como acadêmico. Sua leitura fornecerá mais ricos
detalhes sobre o que ele fez e o que dele se pensava e pensa:
• Sá Menezes, no Retrospecto Histórico da Fun-
dação e Funcionamento da Academia e Nos 25
Anos da Academia, que se refere à campanha de-
sencadeada pela instituição para que o edifício da
antiga Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do
Brasil, fosse transformado em Monumento Histórico
da Medicina Nacional, movimento à frente do qual
José Silveira sempre esteve.1 Nos 25 Anos da Aca-
demia, Sá Menezes diz que a Silveira, “honra de uma
classe, no seu incurável idealismo, e com o amor que
devota a esta Academia, creditam-se serviços impon-
deráveis, uma ação inteligente e militante a favor do
prestígio sempre crescente da instituição a que tanto e
superiormente há servido, sobretudo nos dois períodos
em que exerceu a presidência”.13
• Cruz, durante a outorga pelo Rotary Club da Bahia
da Medalha de Mérito Científico José Silveira a Elsi-
mar Coutinho, fez, em discurso, um resumo da vida
profissional e cultural do mestre14, e Calmon Teixeira,
na oração proferida quando da concessão do Título
de Mérito aos Acadêmicos Jayme de Sá Menezes e
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José Silveira, escreve que “coube a Silveira desfraldar
a bandeira em favor da preservação do edifício secu-
lar da Faculdade de Medicina, ao Terreiro de Jesus”. Na
qualidade de presidente da Academia (1975-1979),
por duas gestões, “atraiu para a casa novos acadêmi-
cos, organizou simpósios sobre temas de maior inte-
resse da comunidade, abriu as portas das reuniões ao
grande público e iniciou a publicação dos Anais, dos
quais foi responsável pela publicação dos dois primei-
ros números.” 15
O feiticeiro de Santo Amaro da Purificação, o alemão do Ca-
nela, o polifacético, o canário arrepiado, um lutador, vela acesa,
lenda viva, fecundo gerador de ideias e Ulisses renascido são
cognomes16 que Silveira recebeu por sua luta contra a tubercu-
lose, o seu combate contra o fumo, pela sua múltipla atuação
na área associativa:
• Associação Bahiana de Medicina
• Clube Bahiano de Xadrez
• Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia
• Sociedade Amigos da Cidade
• Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT)
• Associação Baiana de Combate ao Fumo
• Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro (NICSA)
• Sociedade de Cultura Artística da Bahia (SCAB)
Todas foram instituições que fundou, ajudou a fundar ou das
quais participou ativa e entusiasticamente. A elas se acrescen-
te a nossa Academia de Medicina da Bahia, a qual, por quase
nove lustros (1958-2002) “engrandeceu-a com seu nome, vita-
lizou com sua ação, conferindo-lhe brilho e prestígio invulgares.
Como seu presidente, com seu trabalho e visão, projetou a en-
tidade além das fronteiras estaduais, ampliando seu prestígio,
através da dinamização de suas ações e aumento de sua qua-
lificação”, como escreveu Geraldo Milton da Silveira, em seu
trabalho por ocasião do centenário do mestre. 17
Serravalle18, por solicitação do autor desta comunicação, no
seu primeiro mandato como presidente da Academia (2003-
2005) e por ocasião do centenário de mestre Silveira, fez-lhe
uma apologia, chamando-o de “samaritano da saúde, novel
cavaleiro da esperança”. Afirmou que Silveira atingiu os 95 anos
de idade “lúcido, valoroso e vital à sociedade, encimando nobres
ideais e campanhas esclarecedoras”, e Berbert de Castro19 escre-
veu que Silveira era “um Dom Quixote que sempre vencia suas
batalhas, que não lutava contra moinhos de vento, mas lutava
contra gigantes e os derrotava.”
Durante sessão conjunta da Academia de Medicina da Bahia
e da Academia de Letras da Bahia, foi-lhe entregue o título de
membro honorário da Academia Nacional de Medicina de
Buenos Aires, máxima titulação com que são brindados os
professores de outros países. O discurso da outorga foi pro-
nunciado pelo presidente dessa instituição, o eminente tisio-
logista argentino Lauro Astolfi (15 de agosto de 1985), ocasião
em que ele afirmou que o nome de Silveira naquele sodalício
se pronunciava com admiração e respeito.20
Na minha estada na Academia, fui testemunha da contínua
vibração acadêmica do mestre Silveira, até a sua conclusão,
em 2002, nunca esmaecida. Foi um acadêmico por excelência.
Durante toda a sua permanência na casa, José Silveira foi um
participante assíduo, entusiasta, questionador, ativo, realizador.
A ele todas as loas que possamos cantar não bastarão.
Seu legado permanece como um exemplo para seus confra-
des – de dedicação e persistência, de constante oferecimento
de si próprio à causa acadêmica. E também um estímulo aos
confrades do futuro, que serão responsáveis pela manutenção
do prestígio e do desenvolvimento constante da Academia de
Medicina da Bahia.
REFERÊNCIAS
1. Sá Menezes J de: Retrospecto Histórico da Fundação e Fun-
cionamento da Academia de Medicina da Bahia. An Acad
Med Bahia 1:11-23, 1978.
2. Silveira J: Valorização do Médico. An Acad Med Bahia 1:83-
85, 1978.
3. Silveira J: O Abreu que conheci. An Acad Med Bahia 1:187-
194, 1978.
4. Silveira J: Vinte Anos de Academia. An Acad Med Bahia 2:11-
15, 1979.
5. Silveira J: Thales de Azevedo. An Acad Med Bahia 2:287-288, 1979.
6. Silveira J: Gumercindo Sayago: um médico argentino que
viveu a medicina brasileira. An Acad Med Bahia 3:21-31, 1981.
7. Silveira J: Cardoso Fontes. An Acad Med Bahia 3:71-78, 1981.
8. Silveira J: Aula Magna – Medicina e Pesquisa. An Acad Med
Bahia 4:31-42, 1982.
9. Silveira J: Abandono Criminoso. An Acad Med Bahia 4: 59-
63, 1982.
10. Silveira J: Prado Valadares. An Acad Med Bahia 5:17-24, 1983.
11. Silveira J: O mais argentino dos médicos brasileiros. An
Acad Med Bahia 6-81-91, 1985.
12. Silveira J: Fernando São Paulo. An Acad Med Bahia 7:151-
156, 1987.
13. Sá Menezes J de: Nos 25 Anos da Academia. An Acad Med
Bahia 6:153-159, 1985.
14. Cruz T: Ninguém é profeta na sua terra. Medalha de Méri-
to Científico José Silveira (Rotary Club da Bahia) a Elsimar Cou-
tinho. An Acad Med Bahia 10:77-90, 1994.
15. Calmon Teixeira LC: Oração proferida quando da conces-
são e outorga do título de Emérito aos acadêmicos Jayme de
Sá Menezes e José Silveira. An Acad Med Bahia 10:93-105, 1994.
16. Almeida Souza JA: Discurso de Posse. An Acad Med Bahia
10:317-328, 1994.
17. Silveira GM: Centenário do Prof. José Silveira. An Acad
Med Bahia 13:95-92, 2004.
18. Serravalle A: Apologia a José Silveira. An Acad Med Bahia
14:101-106, 2004.
19. Berbert de Castro JA: José Silveira, um dos maiores nomes
da Medicina baiana. An Acad Med Bahia 13:149-155, 2004.
20. Astolfi L: Saudação ao prof. José Silveira. An Acad Med
Bahia 6:85-86, 1985.
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A tuberculose
Geraldo LeitePresidente do Conselho de Curadores da
Fundação José Silveira
Imagine uma sexta feira fria e chuvosa, na Alemanha do século XIX.
Mais precisamente: sexta feira, 23 de março de 1882, entrada
principal do edifício da Sociedade de Fisiologia de Berlim.
Do prédio, ricamente iluminado, estão saindo, mudos e cabis-
baxos, os nomes mais ilustres da ciência alemã.
O que se passou?
Quem é capaz de desvendar este mistério?
Não pergunte a nenhum dos personagens que estão descen-
do, estarrecidos, a imponente escadaria.
É inútil, eles nada responderão.
São verbetes que viveram seu tempo, fizeram suas descobertas
e se recolheram ao Panteon da História.
Estão na eternidade, povoam livros de texto, dicionários e enci-
clopédias e se alimentam de recordação e glória.
*
Bem viva está entre nós a lembrança do professor Jaime dos
Santos Neves, tisiologista famoso que viveu em Vitória do Espí-
rito Santo, no século passado.
Em uma conferência que proferiu no Instituto Brasileiro Para a
Investigação da Tuberculose (IBIT) (2), por ocasião do centená-
rio da descoberta do bacilo de Koch, ele contou o que ocorreu
naquela noite.
A narrativa é a seguinte:
“Um jovem de 39 anos de idade, perante uma assembléia de
sábios, esclareceu definitivamente a etiologia da tuberculose, na-
quele preciso instante.
Nesse trabalho experimental, claro e conciso, de apenas 18 pági-
nas, ROBERT KOCH provou e comprovou, irrecusavelmente, que
a tuberculose, como o previra VILLEMIN em 1865, é uma doen-
ça infecciosa e, o seu agente específico é um pequeno bastonete
álcool-ácido-resistente a que ele modestamente classificou como
Mycobacterim tuberculosis.
Assistiram, ao que se convencionou chamar “o recital de Koch”,
apenas 36 pessoas, mas ali estavam os nomes mais notáveis da
ciência alemã:
RUDOLF LUDWIG KARL VIRCHOW, o fundador da Patologia celular;
EMIL ADOLPH VON BEHRING, o primeiro médico que iria receber o
Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da anti-toxina diftérica;
AUGUST VON WASSERMANN, diretor do Departamento de Te-
rapia Experimental e Pesquisas Sorológicas e inventor da reação
que tem o seu nome;
JAKOB HENLE, seu velho professor, autor de um trabalho notável
sobre “Miasmas e Contágio”;
PAUL ERLICH, o homem das balas mágicas, o primeiro a instituir
o tratamento quimioterápico da sífilis;
FERDINAND AUGUST COHN, JULIUS FRIEDERICH CONHEIN e
CARL WEIGERT, eminentes botânicos e patologistas;
FRIEDERICH AUGUST JOHANNES LOEFFLER, que estabeleceu as
bases da alergia;
GEORGE GAFKI, que viria a suceder KOCH, na direção do Institu-
to de Doenças Infecciosas de Berlim;
RICHARD FRIEDERICH JOHANNES PFEIFFER, célebre por seus es-
tudos sobre a etiologia da influenza;
WILLIAM HENRY WELCH, o grande pesquisador americano que
iria identificar o bacilo causador da gangrena gazosa;
CARL JOSEPH EBERTH, o descobridor do bacilo da febre tifóide;
DU BOIS RAYMOND,“chairman” da memorável sessão; além de
outros cientistas, inclusive o jovem KITASATO, que iria descobrir
o bacilo da peste, em 1894.
Ante esta assembléia de sábios, restrita e atenta, que confirmava,
por si só, o seu alto prestígio, KOCH expôs, metodicamente, clara-
mente, objetivamente, sem uma só palavra ou detalhe desneces-
sário, suas experiências dos últimos 8 meses, sobre a etiologia da
tuberculose, envolvendo aproximadamente 350 animais.
De acordo com a metodologia fixada por HENLE, provou inicial-
mente a existência no tecido tuberculoso, de alguma coisa extrínse-
ca, isolou essa substância, purificou-a, conseguiu corá-la por méto-
do original, identificou o germe, cultivou-o em meio sólido, também
original, inoculou-o em animais, reproduziu as mesmas lesões an-
teriores e delas retirou novamente , como em um passe de mágica,
o mesmo organismo, o Mycobacterium tuberculosis, e o exibiu aos
olhos incrédulos e estarrecidos daqueles grandes homens.
Passou assim, dentro de um método rigoroso, do geral ao especí-
fico, do específico ao geral e, novamente, do geral para o específi-
co com uma segurança e um virtuosismo incomparáveis.
Tratando-se de um tema altamente singular e polêmico é de
imaginar a série de questões técnicas desconcertantes, de críticas
sutis e de objeções insidiosas que iriam naturalmente surgir, dada
a qualidade técnica da audiência.
E, no entanto, KOCH foi ouvido no mais impressionante silêncio!
Em um silêncio mortal, como nos afirma ALLEN KRAUSE.
O edifício científico que ele acabara de erguer, pedra por pedra,
ante aquele auditório atônito, era alguma coisa tão sólida e insó-
lita, que nem sequer o aplaudiram.
Após este pesado silêncio o Prof. DU BOIS RAYMOND, que pre-
sidia aquela incrível sessão, abriu os debates. E pela primeira vez
na história da Sociedade de Fisiologia de Berlim, não houve de-
bates, nem uma só pergunta, nem um só comentário, nem uma
só crítica.
Nem o próprio RUDOLPH VIRCHOW, para quem naturalmente
logo se volveram os olhos indagadores dos demais, pois toda a
sua doutrina da dualidade da tísica ruía inteiramente naquela
hora, nem mesmo VIRCHOW, articulou uma só palavra. Vencido
e silencioso abandonou cabisbaixo o recinto, quando DU BOIS
RAYMOND encerrou a sessão, e todos, um a um, o acompanha-
ram calados e pasmos”.
*
A descoberta do bacilo da tuberculose, em 1882, estimado
leitor, foi um passo gigantesco no sentido de conhecer esta
doença que castiga a humanidade desde a pré-história.
À medida que os povos intensificaram as trocas comerciais e
se empenharam em viagens, guerras e degradações, a tubercu-
lose foi se espalhando, até se tornar, a partir da Idade Média,
um flagelo mundial.
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*
Na América, há achados de tuberculose em múmias pré-colombianas.
No Brasil, a tísica veio com os missionários jesuítas. Morreram
de tuberculose: MANOEL DA NÓBREGA, FRANCISCO PIRRA,
JOSÉ DE ANCHIETA e GREGÓRIO SERRÃO.
O padre MANOEL DA NÓBREGA, em carta dirigida ao Provin-
cial MIGUEL TORRES, escreveu:
“A mim devem-me já ter por morto, porque ao presente fico
deitando muito sangue pela boca”
Algum tempo depois, em outubro de 1570, morreu de hemoptise.
CLEMENTINO FRAGA FILHO afirmou em 1888, pouco antes
da abolição da escravatura, que a mortalidade por tuberculose
era no Rio de Janeiro, de 1.200/100.000 habitantes!
*
Ao se espalhar, a tuberculose passou a se associar às almas tris-
tes e penosas, ingressou na literatura e se transformou em uma
moléstia de poetas, músicos e escritores.
ALEXANDRE DUMAS, em “A Dama das Camélias”, GIUSEPPI
VERDI, em “La Traviata”, GIACOMO PUCCINI, em “La Boéme”,
revestiram-na com a roupagem do amor ....
Outros, cantaram-na em versos.
CASTRO ALVES desabafou:
“Eu sei que vou morrer... dentro do meu peito
um mal terrível me devora a vida.”
ÁLVARES DE AZEVEDO escreveu:
“Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida.”
CASIMIRO DE ABREU revelou sua angústia, dizendo:
“A febre me queima a fonte
E dos túmulos a aragem
Roça-me a pálida face.
Mas no delírio e na febre
Sempre teu rosto contemplo
Eu sofro; o corpo padece
E minh’alma se estremece
Ouvindo o dobrar de um sino.”
AUGUSTO DOS ANJOS falou da tuberculose em suas poesias:
“Falar somente uma linguagem rouca,
Um português cansado e incompreensível,
Vomitar o pulmão na noite horrível
Em que se deita sangue pela boca!
Expulsar aos bocados, a existência
Numa bacia autômata de barro
Alucinado, vendo em cada escarro
O retrato da própria consciência...”
MANOEL BANDEIRA conviveu com a tuberculose ainda jo-
vem e, recuperado, viveu mais de oitenta anos. À doença dedi-
cou várias poesias, algumas com tintas muito vivas:
“Minha respiração se faz como um gemido
Já não entendo a vida e se mais a aprofundo
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido
Temo a monotonia e apreendo a mudança .
Sinto que minha vida é sem fim, sem objeto...
Ah, como dói viver quando falta a esperança !”
Aos trinta anos, teve a última recaída.
Embora a morte quase sempre estivesse presente em seus
versos, passou a encarar a tuberculose com fina ironia:
“Já fui sacudido, forte,
De bom aspecto, sadio
Como os rapazes do esporte
Hoje sou lívido e esguio
Quem me vê pensa na morte.”
Depois, com incrível realismo, entregou-se ao desespero. Seu
médico, instado pelo poeta, afirmou que o pneumotórax, sua
única esperança, não produziria efeito. Sob o impacto da no-
tícia, escreveu:
“Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos,
A vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico.
Diga trinta e três./
Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
Respire
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
e o pulmão direito infiltrado.
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango ..”.
Além de CASTRO ALVES, CASIMIRO DE ABREU, ÁLVARES DE
AZEVEDO, AUGUSTO DOS ANJOS e MANOEL BANDEIRA,
outros personagens célebres, morreram de tuberculose. Estão
neste rol AUTA DE SOUZA (poetisa), PEDRO I (Imperador do
Brasil), SAMUEL NERY (pintor), JOÃO DA CRUZ E SOUZA
(poeta, precursor do Simbolismo) e JOSÉ DE ALENCAR (escri-
tor, criador do nacionalismo brasileiro).
Vivendo em outras paragens, figuram como tuberculosos fa-
mosos CHOPIN (imortal compositor polonês), TCHEKOV
(escritor russo), GEORGE ORWELL (escritor inglês), PERGO-
LESI (compositor italiano), JÚLIO DINIZ (escritor português),
CESÁRIO VERDE (poeta português), SOJI OKITA (sumurai do
século XIX), VIVIAN LEIGH (atriz americana, protagonista de
“...E O Vento Levou”) e ANNA ELEANOR ROOSEVELT (esposa
do Presidente Franklin Delano Roosevelt).
Vultos de todos os tempos e de todos os lugares, morreram nos
braços da “Peste Branca”. Estão neste caso HONORÉ DE BALZAC
(escritor francês, autor de “A Comédia Humana”), ALBERT CA-
MUS (escritor francês, Prêmio Nobel de literatura, 1957), KAFKA
(romancista alemão), GUY DE MAUPASSANT (escritor francês),
MOLIÉRE (teatrólogo francês), WALTER SCOTT (escritor inglês),
VOLTAIRE (filósofo francês), GAUGIN (pintor francês), PAGANI-
NI (compositor italiano), CALVINO (religioso francês, reformis-
ta), RICHELIEU (cardeal e político francês), SIMON BOLÍVAR (li-
bertador da Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia e Perú), LUIS
XIII e LUIS XVII (reis da França), HENRIQUE VII (rei da Inglaterra),
DIMITRI RAMANOV (político russo), GRAHAM BELL (ameri-
cano, inventor do telefone), HENRIETTE ROSINE BERNHARDT,
mais conhecida como SARAH BERNARDTH (atriz francesa),
RENNÉ LAENNEC (médico francês, inventor do estetoscópio) e
Santa THEREZA DE LISIEUX (religiosa francesa, canonizada em
1925 pelo Papa Pio XI).
AMEDEU MODIGLIANI, famoso pintor italiano, faleceu de tu-
berculose em 24 de janeiro de 1920. Sua esposa, Jeane, no dia
seguinte, suicidou-se. O infortúnio causou imensa repercussão
na capital francesa. Uma grande multidão acompanhou o fu-
neral de ambos, até o cemitério de Pére Lachaise.
*
No século XX, a tuberculose continuou a ser um grande pro-
blema de saúde pública.
Em 21 de fevereiro de 1937, quando regressava da Europa, para
onde foi a convite de universidades da Suiça e da Alemanha, o
professor JOSÉ SILVEIRA, naquela época um jovem médico de
33 anos de idade, criou o Instituto Brasileiro Para a Investigação
da Tuberculose, mais conhecido como IBIT.
O IBIT é a unidade-mãe da Fundação José Silveira.
Ao longo dos últimos três quartos de século, o IBIT se transfor-
mou em uma referência no combate à tuberculose, e acumu-
lou resultados que não encontram paralelo em nenhuma outra
Instituição brasileira.
Fundação José Silveira80
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 81
ARTIGOS
O Prof. JOSÉ SILVEIRA, pesquisador lúcido e empreendedor,
advertiu. desde os primeiros anos de funcionamento do IBIT,
que a Tuberculose é um problema social.
Fiel a este princípio, o IBIT pôs em prática, desde os primeiros
tempos de sua existência, um programa que apresenta exce-
lentes resultados. Em 2011, o índice de cura foi de 90% e o de
abandono oscilou em torno de 1%. (1).
O êxito reside na associação do atendimento médico com a
assistência social. Para isto muito contribuiu D. IVONNE SILVEI-
RA, precursora da assistência social na Bahia.
Utilizando teorias do comportamento humano, interagindo
com familiares, submetendo cada um deles a exames clínicos e
laboratoriais, ministrando gratuitamente os fármacos indicados,
o IBIT distribui cestas básicas aos doentes e comunicantes, reúne
famílias em palestras educativas e dá aconselhamento, tal como
foi realizado por D. IVONNE SILVEIRA, na década de 1940.
Registrando os 75 anos do IBIT, a Fundação José Silveira promo-
veu uma série de eventos que tiveram início em 21 de fevereiro
de 2012 e se estendem até 21 de fevereiro de 2013, ocasião em
que estamos lançando a Revista comemorativa da efeméride.
Formulando votos de uma boa leitura, passamos às mãos do
amigo leitor a presente publicação, resultado de muito amor,
esforço e dedicação.
REFERÊNCIAS:
1. Neves, Jaime dos Santos – Centenário da descoberta
do bacilo de Koch- Conferência realizada no IBIT. Arquivos Bra-
sileiros de Tuberculose e Doenças do Tórax, tomo XIV, vol. 14 :
03-05. Salvador, 1982.
2. Relatório de atividades 2011: unidade assistencial de
saúde./ Fundação José Silveira, Mônica Ribeiro Moreira (org.).
– Salvador: 84p.:Il.
O papel da Fundação José Silveira
O IBIT – INSTITUTO BRASILEIRO PARA INVESTIGAÇÃO DA
TUBERCULOSE nasceu em 1937, sob a inspiração do encontro
do Professor José Silveira com o Professor Ludolf Brauer, diretor
do “Forschungsanstalt fuer tuberkulose”. Entretanto, apesar
de inestimáveis serviços prestados ao ensino da medicina e as-
sistência à população mais carente da Bahia, abateu-se sobre
a obra pioneira uma séria crise financeira na década de 1980,
momento em que o IBIT foi transformado em Fundação José
Silveira – FJS.
O Hospital Santo Amaro, antiga Clínica das Doenças do Tórax,
foi adapatado à assistência materno-infantil, dotado de infra-
estrutura moderna e inovando também no quesito gestão.
Nestes 24 anos, a Fundação José Silveia vem contribuindo para
a promoção da saúde da população baiana, com serviços es-
senciais prestados por meio de ações de cunho educativo, cul-
tural, social e pesquisas. O ideário do Professor José Silveira
está alicerçado em bases sólidas, distribuídas em seis unidades
em Salvador e em Santo Amaro da Purificação, sua cidade na-
tal, e outros municípios da Bahia, com a missão de “promover
saúde e assistência social em benefício da sociedade.”
Além do IBIT e do Hospital Santo Amaro, a FJS, entidade filantró-
pica, sem fins lucrativos, é composta pelo Instituto Bahiano de
Reabilitação (IBR), o Laboratório José Silveira (LJS), a Unidade de
Saúde (US) e Unidade de Segurança e Meio Ambiente (USMA).
Em 2010, o Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro
(NICSA) foi incorporado ao patrimônio da FJS. O NICSA pro-
move iniciativas culturais e dedica cuidado especial à preser-
vação da memória do seu fundador.
Várias gerações de médicas e médicos graduados pela Faculdade
de Medicina da Bahia e pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública adquiriram amplos conhecimentos em tisiologia no IBIT.
Assim como existiam formações específicas no Hospital Couto
Maia (doenças infecciosas), Urgência e Emergência no Hospital
Getúlio Vargas (o Pronto-Socorro do Canela), Obstetrícia nas
Maternidades Tsylla Balbino e Climério de Oliveira, era no IBIT
sob a tutela do Professor José Silveira e sua equipe, que se apren-
dia com riqueza de detalhes a abordagem da tuberculose.
O atual presidente da FJS, o Professor Geraldo Leite trouxe toda
a sua experiência de gestão na Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública e na Universidade Estadual de Feira de Santana
para a Fundação. Mas, acima de tudo, trouxe o altruísmo, a
perseverança, a honradez e o espírito empreendedor que veio
se somar à figura emblemática do Professor José Silveira, sem
dúvida o maior exemplo para a prestação de serviços médicos
de excelência que a FJS dedica à população baiana.
José Abelardo Garcia de MenesesPresidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia - CREMEB
Coordenador do Conselho Superior das Entidades Médicas da Bahia - COSEMBA
Fundação José Silveira82
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 83
ARTIGOS
Participação do IBIT na pesquisa da tuberculose (I)
Impossível descrever em sua totalidade, no lapso de tempo con-
cedido, a contribuição do Instituto Brasileiro para Investigação
da Tuberculose (IBIT) à pesquisa da tuberculose. Daí a presente
Nota Previa, a ser complementada em oportunidade futura.
Para sua elaboração, utilizamos artigos publicados nos Arqui-
vos do IBIT (1937-1995) e trabalhos constantes da BIBLIOTECA
DE TISIOLOGIA DO IBIT, coleção de 11 volumes, organizada
pelo professor José Silveira.
*
Em 1937, ano da criação do IBIT, três indagações persistiam
na mente dos investigadores: (1) Qual a verdadeira utilidade
do BCG? (2) Como resolver o problema do cadastro torácico
das grandes multidões? (3) Como conseguir uma medicação
específica para a tuberculose? O IBIT, durante seus primeiros
cinquenta anos, tentou responder essas perguntas.
*
Pertencendo a um país tropical, o Instituto começou estudan-
do a correlação da tuberculose com a ascaridiose80, malária14,
filariose30 e esquistossomose 61,50,40,28,51.
Sobre a esquistossomose, Silveira elucidou alguns aspectos clí-
nicos e histopatológicos. Demonstrou que, em sua localização
pulmonar, ela causa vários distúrbios vasculares e um quadro
de pulmonarite. O fato foi comprovado por Shaw e Ghareb no
Egito, e Alves Meira, em São Paulo. Knipping, entre os fatores
do cor pulmonale, incluiu a “bilharziose pulmonar de Silveira”.
Antes dos modernos recursos da quimioterapia, o IBIT inda-
gou a importância de algumas substâncias desprovidas de efei-
to bacteriostático ou bactericida. Citamos como exemplo os
trabalhos de Silveira57,45 e Silveira & Costa67 sobre sais de Cálcio,
Iodo, Cobre e Ouro. Disse Silveira: “Firmado em histórias clíni-
cas apuradas, com documentação radiológica e provas labora-
toriais seguras, alcancei a cura de muita gente, como denunciei
em alguns livros publicados62.
*
Da quimioterapia insegura, caminhou o IBIT para a colapsote-
rapia e o pneumotórax artificial, método de uso na Bahia, há
algum tempo. Codes e Sandoval iniciaram a prática de freni-
cectomia. Macedo Costa dedicou-se ao estudo das aderências
pleurais. Pontes enveredou pela toracoplastia. Cardoso e Góes
pelas ressecções pulmonares 6,29,41,46,48,62,78
*
Datam da mesma época os trabalhos sobre glicemia39, reações
de Weltmann 42,73, Takata-Ara72, precipitação em dupla difusão
de agar24, índices hemáticos20, hemossedimentação20,73 e índi-
ce lipásico23 nos pacientes com tuberculose pulmonar.
*
Geraldo LeitePresidente do Conselho de Curadores da
Fundação José Silveira
Muito contribuiu Darzins para o êxito de algumas pesquisas.
Graças a Darzins, deve o IBIT o método de agitação ou precipi-
tação, a padronização das técnicas de sensibilidade aos tuber-
culinostáticos (em uma época em que os testes de resistência
eram praticamente desconhecidos no Brasil), a descoberta de
numerosas espécies do gênero Mycobacterium, a identificação
do Mycobacterium gyae e outras bactérias apatogênicas isola-
das no escarro, lavado brônquico e lavado gástrico.15,16,17
Outros cientistas estrangeiros, e técnicos, trabalharam no IBIT.
Dentre os cientistas, destacamos Canetti (França), Pantzer (Ro-
mênia), Cetrangolo (Argentina), Reutgen (Alemanha), Bravo (Es-
panha), Gössner (Alemanha), Lorian (Estados Unidos) E. Hilscher
(Alemanha), além de Rist, Grosset, Krebs, Urbanczyk. Dentre os
técnicos, mencionamos Elizabeth Gheno e Hans Geissler. Eliza-
beth Gheno contribuiu para a organização do Departamento de
Anatomia Patológica e Hans Geissler para a criação e organiza-
ção do Departamento de Documentação Científica. 62,65
Canetti estabeleceu normas para a avaliação da resistência do M. tu-
berculosis aos tuberculinostáticos. A ele creditamos o conhecimento
da flora bacteriana das lesões tuberculosas e as condições básicas
para a aplicação da quimioterapia antituberculose no Brasil. 65
A Canetti, Grosset e Grumbach devemos o teste da sensibilida-
de proporcional aos tuberculinostáticos. O IBIT foi o primeiro a
aplicar o referido teste, no norte e nordeste do Brasil.
Rist, Grosset, Krebs e Urbanczyk estudaram os medicamentos
da 2ª linha, sob o ponto de vista clínico e experimental.
Essas pesquisas tornaram possível a experimentação de várias
drogas (Isoxil, Ciclocerina, Etionamida, Pirazinamida, Etambu-
tol e Rifampicina) e, consequentemente, sua aplicação em regi-
mes simplificados e combinações econômicas.
*
Merece destaque o trabalho de Silveira, Ferreira, Giudice, Hil-
tner & Quiroga64, sobre quimioterapia intermitente da tuber-
culose. Esses autores, baseados no modelo experimental de
Mme. Grumbach, pesquisaram:
1) A importância de um regime tríplice prévio diário, durante
um mês, com a associação INH-SM-EMB, nas doses usuais.
2) A eficácia da associação INH-EMB daí por diante, sob a
forma intermitente, três vezes por semana, em dosagem nor-
mal e dupla.
3) A ação do regime intermitente INH+EMB, três vezes por se-
mana, em dose diária, durante um mês, sem estreptomicina.
*
De grande importância são os trabalhos de Silveira43,47,53,59,63 e
Silveira & Medeiros (75,76,77) sobre o poder protetor do BCG,
nos alérgicos.
As pesquisas tiveram por objetivo responder às seguintes perguntas:
1) O que fazer com a alta percentagem de indivíduos infecta-
dos, sem lesão tuberculosa ativa, que são obrigados a conviver
com tuberculosos bacilíferos?
2) O que fazer com os membros da família de um tuberculoso
bacilífero, quando é impossível seu isolamento, condenados a um
contágio fatal em um ambiente onde vivem várias pessoas?
Nesse último caso, só os recém-nascidos estão livres da infec-
ção, portanto passíveis de serem beneficiados com uma vaci-
nação concorrente. E para os infectados, o que fazer?
Silveira & Medeiros75,76 analisaram os resultados obtidos com
a observação de 57 alérgicos expostos a contágio, vacinados
com BCG oral, em doses que variaram de 0,10gr. a 0,50gr. Con-
firmaram a inocuidade do método, apontaram sua ação de-
sensibilizadora (que chegou até à extinção da alergia) e insis-
tiram que não basta provar a inocuidade do BCG no alérgico,
sendo necessário proclamar seu poder protetor.
As pesquisas conduziram às seguintes conclusões:
1. O BCG é inteiramente inócuo para os indivíduos já infec-
tados, ainda quando vivem em ambiente altamente bacilífero.
Fundação José Silveira84
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 85
ARTIGOS
2. Além de inócuo, deixa antever, em tais indivíduos, seu pa-
pel protetor.
3. Após vacinações repetidas pelo BCG, há um possível au-
mento, e entretenimento da imunidade do primoinfectado.
4. Dias após o uso da vacina oral, há exaltação da sensibilida-
de cutânea à tuberculina, seguida de pronunciada atenuação e
até completa extinção da alergia.
5. A perda da alergia parece depender de componente genético.
O BCG não beneficiou somente os recém-nascidos e os que
ainda não foram contaminados pelo M. tuberculosis. Mesmo
nos já infectados, alérgicos, sem tuberculose ativa ou em evo-
lução, o BCG mostrou que possui apreciável poder protetor
contra sucessivas superinfecções.
Os dados obtidos, “limitados no tempo e no espaço, se não au-
torizam a aplicação, em massa da vacinação do alérgico, obriga
a que se repitam essas investigações em maior escala, porque,
provada de modo definitivo a existência do poder protetor do
BCG para os alérgicos, ter-se-á dado um passo avantajado na
profilaxia da tuberculose, sobretudo nos países de alto índice
epidemiológico dessa doença, onde existe uma percentagem
elevada de alérgicos expostos a contágio obrigatório e em be-
neficio dos quais nada se pôde fazer até então.”59
No particular da calmetização e do tuberculíno-diagnóstico,
muito deve o IBIT aos estudos de Silveira37,43,44,47,53,54,56,59,63, Silveira
& Durval70,71, Silveira & Medeiros75,76 e Freitas.21,22
Confirmando observação anterior27, afirmou Silveira59,54 que o
fato de grandes e repetidas doses de BCG não provocarem aler-
gização em alguns recém-nascidos, mesmo quando se emprega
a via cutânea, parece estar ligado a uma predisposição familiar.
Silveira vacinou os positivos à tuberculina, os enfermos e os
aparentemente sãos. “Com isso o IBIT, Stela Medeiros e eu, in-
gressamos na chamada École Bresilienne de BCG, tão cara, prin-
cipalmente aos mestres e pesquisadores franceses Max Foures-
tier e Gernez Rieux.”62
*
Silveira56 removeu vários “dogmas” que impediam a aplicação
indiscriminada do BCG: o da obsessão da alergia, o da insufici-
ência do método oral, o dos perigos da vacinação do alérgico e
o da perenidade imunizante da primoinfecção.
O alcance dessa conquista é da maior importância para os países
subdesenvolvidos, onde existem massas humanas incultas, carên-
cia de leitos hospitalares e deficiência de técnicos qualificados.
*
Medeiros publicou importantes trabalhos sobre os expostos a
contágio, crianças infectadas, inquéritos epidemiológicos, com-
paração entre as diversas tuberculinas conhecidas, relação entre as
tuberculinas brutas e as purificadas, desaparecimento da alergia
em certas e determinadas circunstâncias, possibilidade de desper-
tar a chamada alergia infratuberculínica com o uso da vacinação
pela via digestiva, e exploração imunológica do BCG oral.
*
O IBIT realizou estudo comparativo entre a tuberculina BCG2 e
BCG3 (fornecida por Assis) e as tuberculinas purificadas da Ale-
manha, Dinamarca e França. “Se, à primeira vista, as tuberculinas
purificadas deveriam ser as preferidas – diz Silveira – e, de fato, o
são cada vez mais, é preciso não esquecer que a velha tubercu-
lina de Koch (especialmente se preparada em meios sintéticos)
continua a oferecer uma regularidade de resultados e um rigor
de especificidade que não podem ser desprezados.” 54
*
As investigações levadas a efeito no IBIT demonstram que o
emprego da tuberculina na diluição de 1/10 (10mg. de tuber-
culina bruta), além de diluições mais débeis, descobre cerca de
10% a mais de alérgicos. A verificação do fenômeno de Willis-
Sayé, provocado por via oral, acrescenta mais 12% de positivi-
dade. “Testar-se com concentrações fracas de tuberculina (da
ordem de 1/1000 ou 1/100), como se tem largamente pratica-
do, é deixar passar grande número de infectados que, como
falsos analérgicos e, pois, verdadeiros alérgicos, vêm sendo am-
plamente vacinados.” (Ibidem).
*
Silveira demonstrou que, entre os que perderam a alergia tu-
berculínica, existe a predominância de indivíduos jovens, com
menos de 20 anos de idade. Ao contrário da crença generali-
zada, Silveira observou que essa perda se faz em proporções
semelhantes, tanto no sexo masculino quanto no feminino,
sendo mais pronunciada, independentemente do sexo, quan-
do se administra o BCG. Quanto à raça, tanto nos vacinados
quanto nos testemunhas, a perda entre os afrodescendentes é
bem mais pronunciada (50%)37
A perda da alergia é tanto mais difícil quanto maior for a rea-
tividade alérgica inicial. Essa tendência é exagerada pelo BCG,
pois os hiperalérgicos extinguem sua alergia em 50% dos casos.
Com a administração do BCG, esse percentual sobe para 100%.
Os hiperérgicos, isto é, os que reagem a grandes diluições de
tuberculina, perdem espontaneamente a alergia em cerca de
28% dos casos (Ibidem).
Rosemberg31 e Silveira37 demonstraram que, ao contrário do
que era sustentando, o uso reiterado do BCG não provoca
exaltação da alergia. Pelo contrário, atenua. Essa dessensibiliza-
ção é bem acentuada, podendo atingir total extinção.
Essa perda da alergia é benéfica ou prejudicial para o pacien-
te? Tentando encontrar a resposta, Silveira, após dois anos de
acurada observação, encontrou, em 37 vacinados, apenas 3 pa-
cientes com processos pulmonares inespecíficos, o que equiva-
le a 91% de casos sem qualquer alteração clínica, radiológica ou
laboratorial. Entre as testemunhas, o percentual foi ligeiramen-
te inferior, isto é, da ordem de 88,90%.37
Concluindo, afirma que a experiência ensina duas lições: uma
de natureza clínica e outra de natureza epidemiológica. A pri-
meira diz respeito ao diagnóstico de primoinfecção do adulto.
Na verdade, casos conhecidos e reconhecidos como de supe-
rinfecção estão sendo rotulados como de primoinfecção do
adulto. Na opinião de Silveira, devemos ser muito mais caute-
losos ao afirmar a existência de uma forma primária no adulto.
Quanto à lição de cunho epidemiológico, ela demonstra que
o número de analérgicos “corresponde à parte da população
que, ainda nos primeiros anos de vida, escapou da infecção”. O
mesmo não ocorre, necessariamente, com a população adulta,
devido à possibilidade de tal população ter sido infectada e
ter esgotado sua capacidade alérgica, ou nunca ter tido alergia.
*
Em 1939, sob a orientação de Silveira, foi realizado um inquéri-
to tuberculínico na Cidade do Salvador, em internatos de crian-
ças pobres e na Penitenciária (detentos em grande parte do in-
terior do Estado, adultos jovens). As condições de higiene eram
equivalentes, bem como a alimentação e o regime de trabalho.
Foram utilizadas três diluições gradativamente crescentes. A
primeira correspondia à diluição de 1/25.000; a segunda, 1/100
e a terceira, 1/10. Foram considerados hiperérgicos os reatores
positivos à primeira diluição; mesoérgicos, os positivos à segun-
da; e hipoalérgicos, os positivos à terceira diluição.
Assis3 demonstrou a existência de indivíduos que mantêm a
sua alergia abaixo do limiar corriqueiro (alergia infratuberculí-
nica de Assis), o que torna necessário despertar a alergia com
uma dose de BCG para repetir, depois, a intradermo-reação a
1/10. A rigor, somente as pessoas que respondem negativa-
mente devem ser consideradas analérgicas.
A leitura dos testes foi procedida no prazo máximo de 72 ho-
ras, de modo uniforme, com redobrada atenção para os afro-
descendentes.
O objetivo do cadastro tuberculínico é a descoberta dos ana-
lérgicos para vacinação com o BCG. No Brasil, primeiramente
Assis5,3, depois Silveira53,59 e Silveira & Medeiros75 provaram que
o BCG não prejudica os alérgicos, pelo que recomendam não
molestar o paciente com a realização de vários testes. Devemos
vacinar indiferentemente, realizando a “vacinação em massa.”
Modificações raciais, influências devidas a vários estados fisio-
lógicos, tais como gravidez, fatores hormonais e nutricionais,
teor de vitamina C no organismo e até variações geográficas
Fundação José Silveira86
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 87
ARTIGOS
podem modificar o estado alérgico. Até bacilos saprófitas po-
dem provocar reações positivas. Tais fatores existem, são raros
e não têm influência no cadastro tuberculínico e na sua inter-
pretação epidemiológica.
Duas mil, cento e trinta e cinco pessoas foram submetidas ao
teste. Dessas, 87,6% são alérgicas e 12,4%, analérgicas. Dos ana-
lérgicos, 26,1% eram falsamente analérgicos. A partir dos 5 anos
de idade, a ascensão da alergia foi violenta. A partir dos 15 aos
20, foi possível observar queda que se acentuou com o avançar
da idade. O fato não impediu que pessoas com idade avan-
çada apresentassem reação forte. Entre 80 e 90 anos, foram
encontradas 33 pessoas positivas, das quais 14 hiperérgicas, 18
mesoérgicas e 1 hipoérgica. Entre 90 e 95 anos, 2 hiperérgicos
e 1 mesoérgico. As reações mais fortes foram nos afrodescen-
dentes. Entre os falsos reatores, predominou a raça branca (21
brancos e 8 afrodescendentes). Entre os homens, houve predo-
mínio do de hiperérgicos. Entre as mulheres, predominaram as
mesoérgicas e hipoérgicas.
*
Silveira66 propôs três tipos de formas anatomoclínicas de tuber-
culose pulmonar:
1. Formas de primoinfecção
2. Formas de superinfecção
3. Formas residuais
“No primeiro caso”, diz o autor, “as formas clínicas são a expressão
do próprio processo de primoinfecção ou correspondem às suas
consequências imediatas. No segundo, o organismo volta ao es-
tado anterior à infecção e, se uma nova agressão bacilar ocorre,
está-se diante de uma verdadeira reinfecção, nova infecção no
sentido real do termo. No terceiro, os quadros ligados a formas
provenientes de focos antigos quiescentes (superinfecção endó-
gena) ou de novos quadros enxertados em portadores de uma
infecção vigente (superinfecção exógena).” (Ibidem).
No Brasil, as formas de primoinfecção e de superinfecção são
frequentes. As formas de reinfecção são raras e excepcionais e,
quando surgem, costumam reproduzir as de primoinfecção,
pelo que nem sempre é fácil a distinção.
*
Digno de nota é o trabalho de Costa11 sobre topografia radio-
lógica: “Tomando como ponto de reparo as extremidades pos-
teriores ou vertebrais da 6ª e 9ª costelas e tirando duas linhas
horizontais em toda a largura do tórax, terei dividido os cam-
pos pulmonares em três zonas: superior, média e inferior. Essas
três zonas serão, por sua vez, subdivididas em duas regiões –
interna e externa – por uma linha vertical, partindo da metade
da clavícula ao meio da cúpula diafragmática homóloga. Cada
uma dessas zonas poderá ser relacionada a uma das partes que
estejam em sua circunscrição ou mesmo que a delimite ou ain-
da sobre ela faça sentir sua influência. Desse modo, ao invés de
simplesmente zona superior poderemos chamar de zona clavi-
cular, a média, de zona hilar e a inferior, de base ou zona frêni-
ca. A zona superior ou clavicular ainda sofrerá outra subdivisão
em três subzonas, limitadas pela clavícula: zona supraclavicular,
ou de vértice, zona retroclavicular e zona infraclavicular”
Pouco depois, Silveira36 apresentou proposta de sistematização
das imagens pleuropulmonares, baseada em três modalidades:
imagens de condensação (com os tipos miliar, nodular, numu-
lar, linceolar, linear, fascicular e reticular), imagens de refração
(com os tipos enfisema e pneumo) e imagens mistas (com os
tipos espongiloide, anular e hidroaéreo).
*
De indiscutível valia para a época de sua publicação é a expe-
riência de Costa10 sobre tomografia pulmonar. Costa recomen-
dou a necessidade da estratigrafia:
1. Na pesquisa da caverna tuberculosa (delimitação do con-
torno, volume e profundidade).
2. Na elucidação da possível existência de caverna, antes de
um espessamento, ou antes de um derrame pleural.
3. Na escolha de melhor opção cirúrgica, considerando a ex-
tensão da ressecção das costelas e o número de sessões ope-
ratórias.
4. No controle do resultado terapêutico, face ao fechamento,
ou não, da caverna.
*
Diante dos resultados diversos entre os que, sentindo-se sadios,
deixavam-se examinar nos inquéritos radiológicos e os que,
em contato com fontes bacilíferas, queriam saber se tinham
contraído a doença, criou Silveira a “Abreugrafia diferenciada”,
“ponto de vista que, se aceito e assumido, teria evitado a série
de confusões, providências absurdas e erradas, que prejudicam
a luta antituberculose em vários países, inclusive o nosso. Não
nos escutaram; perderam tempo e dinheiro; contribuíram para
a desmoralização de um método, que tem toda a razão de ser
e continua aplicado, no mundo civilizado, dentro dos padrões
por nós aconselhados naquela oportunidade.” 36
*
Entre os motivos que levaram ao abandono da Abreugrafia
em inquéritos epidemiológicos, estava o achado de sombras
de potencial duvidoso, fora das condições de uma tuberculose
aberta, de fácil evidenciação por via bacteriológica.
Em 1951, Silveira48, atendendo a solicitação dos organizadores
do 5º Congresso Nacional de Tuberculose, apresentou pro-
posta para padronização do diagnóstico dos portadores de
sombra do cadastro torácico, e sua significação médico-social.
Iniciou o documento lançando por terra mais um dogma: “...
portador de sombra é todo aquele que, num cadastro torácico
apresenta imagem anormal do tórax”. O equívoco, esclarece
Silveira, surgiu quando Manoel de Abreu, criador da röntgen-
fotografia, afirmou: “... de qualquer modo, a sombra radiológica
constitui o grande fator de triagem social que nos permitirá,
mais tarde, esclarecer o diagnóstico precoce.”1,47 Argumentan-
do que Gil Ribeiro e Alcides Lopes, discípulos de Abreu, afir-
mam que “a finalidade do cadastro torácico está em descobrir
os portadores de sombra e os portadores de modificações car-
diovasculares, com isso separando os dois campos radiológicos,
Silveira argumentou que “... os portadores de sombra são os que
apresentam alterações da transparência pulmonar quaisquer
que elas sejam”. Complementando, acrescentou que outro não
foi o pensamento de Abreu, quando informou que “... o fito
prático do exame sistemático estaria em separar os indivíduos
nas seguintes categorias: 1º – normais; 2º – portadores de som-
bra e baciloscopia negativa, logo suspeitos; 3º –portadores de
sombra e baciloscopia positiva, logo tuberculoso.”
Há, portanto, duas modalidades de portadores de sombra: uma
é a dos indivíduos com alterações radiológicas mais ou menos
características, em que a natureza da sombra é facilmente es-
clarecida. Outra é a dos indivíduos que apresentam imagens de
feitio atípico, geralmente de proporções reduzidas, em que os
exames complementares nada esclarecem, criando delicados
problemas de interpretação radiológica e de entendimento clí-
nico. A segunda modalidade é a que tem gerado uma série de
obstáculos para se chegar a um diagnóstico exato, ensejando
problemas de ordem social, econômica e epidemiológica.
A pergunta para os indivíduos do segundo grupo é: Trata-se de
um processo tuberculoso? Em caso afirmativo, está o processo
em evolução ou é simples efeito residual? Buscando a resposta,
Silveira recomendou a seguinte conduta:
1. Exame clínico integral, com anamnese minuciosa e
exame físico bem conduzido.
2. Radioscopia e telerradiografia nas incidências indispensá-
veis, e com penetração adequada.
3. Tomografia, de preferência localizada, conforme a exi-
gência do caso.
4. Pesquisa do M. tuberculosis pelos métodos mais sensíveis,
inclusive com inoculação do material suspeito, se necessário.
5. Alergodiagnóstico, seja qual for a idade do paciente, com tuber-
culina de boa procedência e em condições técnicas rigorosas.
6. Provas hematológicas, preferencialmente hemossedimen-
Fundação José Silveira88
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 89
ARTIGOS
tação e hemograma.
7. Outros recursos semióticos julgados necessários, com pre-
ferência para a endoscopia traqueobrônquica.
8. Controle rigoroso, com repetição das pesquisas indispen-
sáveis, objetivando encontrar, no menor espaço de tempo pos-
sível, um sinal revelador da evolução do processo.
*
Oliva25, comparando os resultados da cultura com os obtidos pela
baciloscopia direta, chegou à conclusão de que em cerca de 30%
dos casos a cultura é positiva, enquanto a baciloscopia é negativa.
*
Do mesmo autor é o antígeno para ensaios com a reação de
precipitação em dupla difusão do agar. Machado24, utilizando
o referido antígeno em 43 pacientes com tuberculose evolu-
tiva, obteve 18 resultados positivos (44%), 11 duvidosos e 13
negativos. Testando mais uma vez os resultados discordantes,
conseguiu 60% de positividade.
*
Contribuição importante foi a valorização dos exames bacterio-
lógicos. Silveira55 resume a referida contribuição em cinco itens:
1. Supressão dos ácidos e álcalis fortes no preparo do mate-
rial para cultura e inoculação.
2. Isolamento de micobactérias apatógenas para o cobaio,
com propriedades morfológicas e culturais idênticas ao M. tu-
berculosis.
3. Possibilidade de maior frequência de bactérias apatógenas
nos trópicos.
4. Atenuação dos germes pela quimioterapia, ou pela elimi-
nação do BCG (indivíduos tuberculino-positivos).
5. Necessidade de minucioso estudo sobre a frequência e a
natureza dos germes apatógenos, não só para melhorar a qua-
lidade do diagnóstico bacteriológico, como para se conhecer
com mais precisão a biologia do M. tuberculosis, sujeito à ação
dos mais diversos agentes quimioterápicos.
*
Em 1968, animados com os resultados obtidos com a associa-
ção BEM+DAT+Ka em pacientes cavitários permanentemente
positivos, alguns já operados, polirresistentes às drogas de 1ª
e 2ª linhas, considerados irrecuperáveis e com tempo de hos-
pitalização média de 4 anos, Silveira, Bacelar, Andrade & Ca-
valcante41 recomendaram esse tipo de tratamento para maior
rotatividade de leitos hospitalares.
*
Alguns laboratórios farmacêuticos solicitaram ao IBIT a comprova-
ção do poder terapêutico de medicamentos. O exemplo a seguir
demonstra o escrúpulo que sempre norteou tais averiguações.
Interessados em uma substância capaz de substituir o PAS, Sil-
veira, Cavalcante & Andrade60 fizeram uso de um derivado da
thiuréa, conhecido pela sua ação tuberculostática: o “Isoxyl”.
Utilizaram o produto em três pacientes longamente tratados,
resistentes às drogas clássicas. Em dois, o resultado foi nulo;
em outro, a baciloscopia se tornou negativa. Como nesse últi-
mo caso se tratava de um paciente que havia se submetido a
uma toracoplastia, o resultado foi considerado duvidoso. Ficou
constatada perfeita tolerância por parte de todos os enfermos.
Com o objetivo de apurar o poder bacteriostático do medi-
camento, os autores selecionaram quatro pacientes, hospita-
lizados na Clínica Tisiológica e doze no Ambulatório do IBIT.
Desses últimos, um faleceu logo no início do ensaio; outro fale-
ceu tendo usado apenas 176 comprimidos; seis abandonaram
o Serviço após a primeira prescrição. Ficaram, apenas, nove, dos
quais quatro na Clínica Tisiológica e cinco no IBIT. Desses, um
com apenas 3 meses de uso da substância. Restaram, portanto,
oito em condições de um julgamento imparcial. Em todos, a
partir de certo tempo, os autores foram obrigados a associar
outras drogas, uma vez que, apesar de produzir algum efeito, o
Isoxyl não curou a doença.
A análise dos casos da Clínica Tisiológica mostra que o medica-
mento foi submetido a condições experimentais inteiramente
desfavoráveis: enfermos longa e irregularmente tratados, com
processos pulmonares muito avançados e eliminadores de ba-
cilos resistentes a todas as drogas clássicas. No caso único, não
tratado anteriormente, o resultado foi bem melhor, não alcan-
çando o êxito completo porque a droga foi, a princípio, em-
pregada isoladamente, em dose considerada, posteriormente,
insuficiente. Em todos os casos, não foi registrado qualquer
tipo de intolerância.
Nos casos do IBIT, não tratados previamente, os autores conclu-
íram que, embora a casuística fosse insuficiente para fornecer
um juízo perfeito, algum resultado foi obtido. Em primeiro lugar,
ficou patente que o resultado é mais eficiente nos pacientes vir-
gens de qualquer tratamento anterior. Em segundo lugar, o uso
do DAT demonstra que a droga é incapaz, por si só, de vencer a
doença. Em terceiro lugar, a associação a um tuberculinostático
forte parece reforçar, e muito, a ação do medicamento.
*
Devido ao seu elevado conceito, o IBIT também foi procurado
para pesquisas de interesse industrial. É o caso do isolamen-
to de bactérias redutoras de sulfatos e da ação bactericida de
certos produtos químicos sobre tais bactérias, investigação de
interesse da PETROBRÁS (PETRÓLEO BRASILEIRO S.A.)
Em muitas oportunidades, o IBIT foi solicitado para dirimir
dúvidas e esclarecer questões relacionadas com diagnóstico,
terapêutica e profilaxia da tuberculose, bem como para opinar
sobre questões epidemiológicas.
Serve de exemplo estudo realizado sobre a evolução da resis-
tência do M. tuberculosis ao EMB e a RMP, isoladamente, e à
combinação EMB+RMP, no período de sete anos consecutivos
(1970 a 1976).
Os resultados exibidos nos Quadros 1, 2, 3 e 4 constatam a
superioridade da combinação BEM+RMP.
QUADRO 1
EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO EMB,
NO PERÍODO DE 1970 A 1976
Ano Pacientes Resistentes% de
Resistência
1970 597 11 1,8%
1971 809 14 1,7%
1972 686 11 1,5%
1973 829 9 1,0%
1974 750 10 1,3%
1975 600 16 2,6%
1976 290 6 2,0%
Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose
QUADRO 2
RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO RMP, NO PERÍODO DE
1970 A 1976
Ano Pacientes Resistentes% de
Resistência
1970 597 3 0,5%
1971 809 10 1,2%
1972 686 6 0,8%
1973 829 17 2,0%
1974 750 11 1.4%
1975 600 7 1,4%
1976 290 10 3.4%
Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose
Fundação José Silveira90
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Revista FJS em Ação 91
ARTIGOS
QUADRO 3
EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis À
COMBINAÇÃO EMB+RMP, NO PERÍODO DE 1970 A 1976
Ano Pacientes Resistentes % de Resistência1970 597 2 0,3%1971 809 5 0,6%1972 686 9 1.3%1973 829 11 1,4%1974 750 9 1,2%1975 600 10 1,6%1976 290 5 1,7%
Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose
QUADRO 4
RESISTÊNCIA DO M. tuberculosis AO EMB, AO RMP E À
COMBINAÇÃO EMB+RMP, NO PERÍODO DE 1970 A 1976
AnoPacientes
examinadosResistentes
ao BEM Resistentes
ao RMP
Resistentes à
combinação BEM+RMP
1970 597 1,8% 0,5% 0.3%1971 809 1,7% 1,2% 0,6%1972 686 1,5% 0,8% 1,3%1973 829 1,0% 2,0% 1,4%1974 750 1,3% 1,4% 1,2%1975 600 2,6% 1,4% 1,6%1976 290 2,0% 3.4% 1,7%
Fonte: Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose
*
Concluindo, citamos mais uma vez Silveira36, o qual resumiu a
participação do IBIT em 9 itens:
1. Importância da Bacteriologia no diagnóstico e na conduta
terapêutica.
2. Valorização das provas tuberculínicas para conhecimento
perfeito do estado imunitário do enfermo ou suposto são.
3. Abreugrafia seletiva, em vez de cadastro móvel e total.
4. Possibilidade de substituir o hospital pelo ambulatório, tão
ricos e seguros são os novos resultados.
5. Vacinação ampla e generalizada, sem provas tuberculínicas
prévias.
6. Indispensabilidade do esquema bem feito e bem dosado,
na base de drogas convenientemente selecionadas.
7. Tratamentos simplificados, de acordo com as condições
econômicas e sociais de cada país.
8. Encurtamento progressivo do programa de tratamento.
9. Negação total ao ufanismo das primeiras vitórias, sem recur-
sos de novos meios e elementos de combate à doença.
Tais resultados, disse ele, “... não nos deram, é verdade, originalida-
de capaz de alterar profundamente a evolução do pensamento
científico. É que, vítimas da nossa pobreza, sem recursos huma-
nos e aparelhagem adequada, trabalhando por conta própria, à
custa de ajudas oficiais minguadas e incertas, jamais consegui-
mos criar a estrutura técnica e funcional indispensável para de-
sempenhar, na sua totalidade, o programa sonhado.” (Ibidem).
RESUMO
Em 1937, ano da fundação do Instituto Brasileiro Para Inves-
tigação da Tuberculose, três indagações persistiam na mente
dos investigadores: Qual o verdadeiro valor do BCG? Como re-
solver o problema do cadastro torácico das grandes coletivida-
des? Quando teremos uma droga específica para o tratamento
da tuberculose? Nessa linha de pensamento, o autor enumera
as principais contribuições do referido Instituto, destacando
os seguintes tópicos: diagnóstico diferencial entre tuberculose
do pulmão e esquistossomose pulmonar; inocuidade dos sais
de iodo na tuberculose pulmonar; valor relativo das reações
de Weltmann e Takata-Ara, e dos índices hemáticos e lipásico
na bacilose; valorização do diagnóstico bacteriológico (méto-
do da precipitação ou agitação, padronização de técnicas de
sensibilidade aos tuberculinostáticos, identificação de germes
apatógenos nos exames de escarro, lavado gástrico e lavado
brônquico); emprego do teste de sensibilidade proporcional;
papel protetor do BCG nos alérgicos; valorização das provas
tuberculínicas; estudo comparativo de vários tipos de tuber-
culina; importância clínica e epidemiológica dos analérgicos;
inquéritos tuberculínicos em Salvador e Feira de Santana; ca-
dastro torácico em escolas e estabelecimentos comerciais e in-
dustriais de Salvador; proposta de classificação das formas ana-
tomoclínicas da tuberculose pulmonar; valorização da abreu-
grafia seletiva; padronização das sombras radiológicas; ensaios
sobre o valor terapêutico de quimioterápicos. Para Silveira, a
contribuição do IBIT pode ser resumida em 9 itens: importân-
cia da bacteriologia no diagnóstico e na conduta terapêutica;
valorização das provas tuberculínicas; abreugrafia seletiva; pos-
sibilidade de substituir o hospital pelo ambulatório; vacinação
BCG, ampla e generalizada; indispensabilidade de um esquema
terapêutico bem feito e bem dosado; tratamento simplificado;
encurtamento progressivo do programa de tratamento; nega-
ção do ufanismo pelas primeiras vitórias na terapia da bacilose.
SUMMARY
In 1937, the foundation year of the Brazilian Institute for Tu-
berculosis Research, three questions persisted in the research-
ers´ mind: “What is the real value of BCG? How to solve the
problem of the chest register of large communities? When
will we have a specific drug for the treatment of tuberculo-
sis?” Along with this line of thought, the Author presents
a list of the Institute´s main contributions, by pointing out
the following topics: different diagnoses between pulmonary
tuberculosis and pulmonary schistosomiasis; innocuity of
iodine salts in pulmonary tuberculosis; relative value of Welt-
mann and Takata-Ara´s reactions, and of blood and lipase
rates in bacillosis; increase in the value of the bacteriologic
diagnosis ( method of precipitation / stirring, standardization
of sensitiviness techniques to tuberculostatic; identification
of apathogenetic germs not only in the sputum tests but also
in gastric and bronchial lavage); use of proportional sensitiv-
ity tests; protective role of BCG in allergic people; increase
in the value of tuberculin; comparative sudy of various types
of tuberculin; clinical and epidemiological importance of un-
allergenic drugs; tuberculin surveys in Salvador and Feira de
Santana cities; chest registers in schools, in commercial and
industrial establishments in Salvador city; proposed classifica-
tion of clinical forms of pulmonary tuberculosis; increase in the
value of selective miniature chest radiography; standardization
of radiological shadows; tests on the therapeutic value of che-
motherapic drugs.
To SILVEIRA, IBIT´S contribution can be summarized in nine
items: importance of bacteriology in the diagnosis and thera-
peutic procedures; increase in the value of tuberculin tests; se-
lective miniature chest radiography; possibility of replacing the
hospital by an ambulatory care center; BCG vaccination; wide
and general indispensability of a well done and well balanced
therapeutic scheme; simplified treatment; progressive shorten-
ing of the treatment program; no overoptimism about the
first victories in the bacillosis therapy.
Fundação José Silveira92
ARTIGOS
Revista FJS em Ação 93
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