Gestalt-terapia e física quântica um diálogo possível

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    1/11

    Artigos........

    ..................

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    2/11

    Gestalt-Terapia e Fsica Quntica: uma Relao entre Fsica e Psicologia

    157 Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    GESTALT-TERAPIA E FSICA QUNTICA: UM DILOGO POSSVEL1

    Gestalt-therapy and Quantum Physics: a Possible Dialogue

    Terapia Gestalt y Fsica Cuntica: un Dialogo Possible

    kamiLa NogueiRa gabRieL de Nadai

    adRiaNo PeReiRa JaRdim

    Resumo: Este estudo contempla uma discusso epistemolgica sobre a psicologia clssica e uma de suas vertentes atuais, a Ges-talt-terapia, utilizando-se a trajetria da Fsica Clssica para a Quntica como pano de fundo. Realizou-se uma discusso pormeio de uma reviso bibliogrfica, abordando trs pontos dicotmicos que envolveram (e ainda envolvem na atualidade) umatransio parcial da Fsica Clssica para a Fsica Quntica (linearidade versus no linearidade; ao e reao versus complexi-dade; e mecnica clssica versus mecnica quntica); e, ilustrativamente, trs pontos de discusso associados s Fsicas clssi-cas em contraposio Gestalt-terapia (causalidade versus existencialismo; elementarismo versus holismo; e objetividade ver-

    sus fenomenologia). Concluiu-se que existem diferenas e semelhanas nas trajetrias analisadas, como as propriedades para-doxais de seus objetos, o quantum e a conscincia humana, configurando pontos de contato que possibilitam um dilogo entreambas, Fsica Quntica e Gestalt-terapia.Palavras-chave: Gestalt-terapia; Fsica Quntica; Desenvolvimento Cientfico.

    Abstract: This study offers an epistemological discussion about the classic psychology and one of its present components,Gestalt therapy, using the trajectory of classical physics to quantum as a backdrop. There was a discussion through a reviewby addressing three points involving dichotomous (and still currently involved) a partial transition from classical physics toquantum physics (linearity versus nonlinearity; action and reaction versus complex; and classical mechanics versus quantummechanics) and, illustratively, three points of discussion related to classical psychology as opposed to Gestalt therapy (causalversus existentialism; elementarism versus holism, and objectivity versus phenomenology). It was concluded that there are dif-ferences and similarities in the trajectories analyzed, as the paradoxical properties of its objects, the quantum and human con-sciousness, setting up contact points that enable a dialogue between both quantum physics and Gestalt-therapy.

    Keywords: Gestalt Therapy; Quantum Physics; Scientific Development.Resumen: Este estudio ofrece una discusin epistemolgica acerca de la psicologa clsica y uno de sus captulos, la terapiaGestalt, con la trayectoria de la fsica cuntica clsica como teln de fondo. Hubo una discusin a travs de una revisin por re-solucin de los tres puntos la part icipacin dicotmicos (y sigan operando actualmente) una t ransicin parcial de la fsica cl-sica a la fsica cuntica (la accin linealidad versus la no linealidad; accin y reaccin versus complejo; y la mecnica clsicaversus la mecnica cuntica) y, ilustrativa, tres puntos de debate relacionados con la psicologa clsica en oposicin a la terapiaGestalt (causal contra el existencialismo; elementarismo versus holismo, y la objetividad frente a la fenomenologa). Se concluyque hay diferencias y similitudes en las trayectorias analizadas, como las propiedades paradjicas de sus objetos, la cuntica yla conciencia humana, la creacin de puntos de contacto que permitan un dilogo entre la fsica cuntica y la Terapia Gestalt.Palabras-clave: Terapia Gestalt; la Fsica Cuntica; el Desarrollo Cientfico.

    (...) Procuramos newtonianamente causas e

    efeitos, precisamos de segurana, mas a realidade

    acontece sem obedecer a uma ordem necessria;

    antes, as coisas, os processos acontecem em

    todas as direes. Temos, portanto, de entender

    que, mesmo tendo escolhido o que pensamos ser

    o melhor caminho, as possibilidades perdidas

    continuam ao infinito.

    (Ribeiro, 1994)

    1 Artigo produto de trabalho apresentado como requisito para aconcluso do curso de graduao em Psicologia pela FaculdadeBrasileira (Univix), Vitria, ES.

    Introduo

    Atualmente, diversas reas vm demonstrando inte-resse sobre as discusses elaboradas pela Fsica atual, umavez que essa teoria apresenta uma possibilidade de desen-volvimento de novas interpretaes tericas e novos con-ceitos. A Psicologia tambm busca dialogar com as novasdescobertas que envolvem o ser humano em sua relaocom o mundo fsico. Este artigo apresenta uma discussoentre a Fsica quntica e a Gestalt-terapia, a partir de suasrazes cientficas, as psicologias clssicas e a Fsica clssi-

    ca. Para tanto, enfocam-se as implicaes das mudanasde concepo sobre o homem para ambos os campos, apartir dos debates da Fsica e da Psicologia. Na Fsica, a

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    3/11

    Kamila N. G. De Nadai & Adriano P. Jardim

    158Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    transio do modelo clssico para o modelo quntico temenvolvido uma reviso de conceitos como: o espao-tem-po, a linearidade, a ao e reao e a mecnica clssica;que compuseram novos tpicos como a no-linearidade,o novo conceito espao-tempo, a imprevisibilidade e amecnica quntica. Na Fsica, este trabalho prope uma

    narrativa segundo a qual o denominado modelo clssicose desenvolve de forma que a concepo centrada nos con-ceitos de causalidade linear, elementarismo, objetividadee experincia objetiva de espao e tempo passam a ser vis-tos como complexidade, especificao do dado sensorial,valorizao da experincia subjetiva, e temporalidade eespacialidade como condies experienciais. Embora aGestalt-terapia no tenha sido a nica teoria psicolgicaque incorporou tais princpios, entende-se que ela compso conjunto mais aproximado do que representou o deba-te conceitual na Fsica. A partir dessa concepo, ambosos campos, Fsica e Psicologia, passaram (e tm passado)

    por modificaes profundas, que implicaram discussesde reposicionamento epistemolgico (quanto ao entendi-mento do funcionamento da conscincia na experinciado mundo), metodolgico (quanto s formas de pesqui-sar o mundo) e ontolgico (quanto forma de conceituaro seu objeto mundo ou homem).

    Este trabalho centra na discusso sobre os concei-tos envolvidos na transio descrita, a partir de trs ca-ptulos. O primeiro discute o caminho percorrido pelaFsica clssica para chegar s novas teorias na Fsicaquntica. O segundo discute uma compreenso da pas-sagem das aqui denominadas psicologias tradicionaisat sua chegada na Gestalt-terapia. E o terceiro exploraos pontos de contato entre os campos descritos nos ca-ptulos anteriores.

    1. Da Fsica Clssica Fsica Quntica

    A Fsica clssica, na sua concepo original, era umacoleo de diversas teorias de autores que trabalhavam deforma independente. Newton (1643-1727) foi considerado,entre os sculos XVII e XVIII, como o principal pensa-dor da poca, estabelecendo diversas leis muito impor-tantes para o desenvolvimento posterior dessa cincia.O pensador contribuiu para as teorias fsicas, comean-do no momento em que passou a se interessar, ainda emseu perodo acadmico, pela mecnica da astronomia deCoprnico e Galileo e a tica de Kepler. A partir dessasbases tericas, o fsico ingls desenvolveu, entre vriasoutras teses, a Lei da Gravitao Universal, o telescpio eas trs leis que explicam a atuao de foras (sendo elasa inrcia, a lei da fora e da ao e reao).

    O pensamento newtoniano estabeleceu que a Fsicaclssica tivesse por base um pensamento determinista, no

    qual possvel perceber que o tempo, a massa e as distn-cias so medidas ponderadas como absolutas, mostran-do que as mesmas no dependem de um referencial pre-

    viamente estabelecido. Seus conceitos serviram de basepara a Fsica por dois sculos e representaram o avanode uma cincia que estabeleceu grandes conquistas parao conhecimento humano aplicado e terico. Somentemais tarde outro pesquisador iria revisar os conceitosnewtonianos e abalar conceitos da Fsica clssica. Albert

    Einstein desenvolveu teorias revolucionrias que servi-ram de marco para o incio da Fsica moderna, ou Fsicaquntica. Einstein (1879-1955) desenvolveu suas teoriasna primeira metade do sculo vinte. A Fsica Qunticapode ser considerada como uma parte da cincia moder-na desde a dcada de 1930, quando diversos estudiosos(como Max Planck2) dessa rea comearam a ter uma novaviso acerca dos casos clssicos elaborados pelos fsicosde sculos passados.

    Einstein, no incio de sua trajetria, tentou trabalhara partir das teorias iniciadas por Newton na Fsica cls-sica. Ele passou algum tempo do incio de sua vida aca-

    dmica procurando entender as leis da Fsica clssica.Depois de tentar adequar seus resultados aos princpiosnewtonianos, o fsico alemo discordou da teoria quetrabalha com o referencial inercial3, trazendo a idia deque todos os referenciais so igualmente importantes, eque no existe um referencial absoluto, ou seja, no exis-te o tempo absoluto.

    A partir desse momento, Einstein passou a se preocu-par com toda a base da Fsica clssica existente at ento,encontrando vrias brechas na teoria tradicional que nocondiziam com seus estudos. Com isso, outros autores,como Planck, Max Born, Max Laue e outros, algum tem-

    po depois, se juntaram a Einstein para iniciar o estudode uma Fsica baseada no quantum, a partcula subat-mica (Stachel, 2005). Mas foi o trabalho de Einstein quedesvinculou a idia do tempo absoluto na Fsica moder-na. Ele afirmou que o tempo to importante para umreferencial inerte quanto para outro. Ou seja, a idia detempo absoluto no pode ser vlida, pois a vivncia deum fenmenoxacontece relativamente emn pontos aomesmo tempo de uma forma igualmente importante.

    Alm de toda a teoria desenvolvida por Einstein, in-teressante pontuar a sua opinio sobre a importncia dopensamento filosfico como uma ferramenta que poderia

    ser utilizada para desenvolver seus trabalhos cientficos.Dentre os filsofos que eram julgados mais importantesno momento, Kant foi o que mais teve influencia sobreo pensamento filosfico de Einstein. A partir disso, elepassa a buscar, antes de tudo, compreender o que estsendo teorizado a partir dos seus resultados, compreen-der seu sentido e descrever aquilo que se apresenta. Logo,a filosofia de Einstein uma filosofia de consequncias,sugerida por problemas cientficos do momento.

    2 Max Planck (1858 - 1947) contribui com vastos estudos acerca damecnica quntica (Santos, Alves & Duarte, 2007).

    3 Referencial inercial um sistema de referncia em que corpos livres

    (sem foras aplicadas) no tm o seu estado de movimento alterado,ou seja: corpos livres no sofrem aceleraes quando no h forassendo exercidas. Tais sistemas ou esto parados (velocidade nula)ou em movimento retilneo uniforme uns em relao aos outros.

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    4/11

    Gestalt-Terapia e Fsica Quntica: uma Relao entre Fsica e Psicologia

    159 Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    Parece-me impossvel afirmar algo a priori, por m-nimo que seja, acerca do mtodo pelo qual devemosconstruir e relacionar conceitos e o modo como osordenarmos com experincias sensveis (...) As regrasde associao entre conceitos devem ser simplesmentedefinidas, pois, caso contrrio, o conhecimento, no

    sentido em que o almejamos, seria inatingvel. Pode-se comparar estas regras quelas de um jogo, regrasestas em si arbitrrias, mas que s depois de definidaspossibilitam que se jogue. Esta definio de regras,no entanto nunca ser definitiva, mas antes s poderreclamar para si qualquer validade na rea na qualestiver sendo aplicada no momento (ou seja, no hcategorias finais no sentido estabelecido por Kant).(Einstein conforme citado por Dahmen, 2006, p. 5).

    fundamental ressaltar que, apesar de todas as gran-des contribuies de Einstein para o desenvolvimento da

    Fsica quntica, at o final de sua vida o cientista aindatinha novas consideraes a serem feitas acerca da teoriae continuou reinventando-a constantemente, sendo sem-pre crtico e inovador (Dionsio, 2005).

    Os pontos desenvolvidos aqui demonstram o incio deuma nova compreenso do mundo que cerca o homem.Especificamente, trs conceitos, delimitaram essa tran-sio. So eles: linearidade versus no linearidade, aoe reao versus complexidade, e Mecnica clssica ver-sus Mecnica quntica.

    1.1 Linearidade versus No Linearidade

    Newton estabeleceu como foco de seus trabalhos umaidia de total linearidade4, mostrando que, para ele, a ma-tria era esttica e previsvel. Porm, com o passar dasdcadas e das novas descobertas que iam sendo feitas,a teoria newtoniana foi severamente questionada e suaobjetividade cientfica foi aos poucos dando lugar a umnovo pensamento (Gobbi, 2002). Os tomos no eram maisvistos como objetos, mas, sim, como tendncias. Com ainstaurao da Fsica moderna, os estudiosos passarama pensar na no-linearidade dos fenmenos, que pode serentendida como estruturas que no apresentam um nicosentido, mas sim, diversos caminhos e fins.

    Esta nova teoria, trazendo novos conceitos para aFsica, passa a ser um foco, sendo estabelecida a partirda teoria sobre os processos no-lineares5. Este estudo feito baseando-se na idia que, de uma forma mais ob-

    4 A linearidade a caracterstica que um elemento possui de descrevera relao unidimensional entre causa e efeito.

    5 Bianchi et all (p. 3) explica que (...) a no-linearidade a propriedadedo processo de busca usada na construo dos planos e no umapropriedade da representao do mundo. Assim, esta propriedade importante porque pode facilitar muito o processo de planejamento,

    uma vez que a deciso sobre o ordenamento de certas aes podeser postergado at a execuo do plano, ou, ao menos, at o pontoonde alguma informao determine em que ordem certas aes,ainda no ordenadas entre si, devam ser ordenadas entre si.

    jetiva, existe uma imprevisibilidade na ao, em qual-quer momento, em que dois corpos indistinguveis estopresentes. Ou seja, a ao que envolve dois corpos dis-tintos no pode ser previamente estabelecida, uma vezque seus comportamentos sero sempre imprevisveis(Quentmeyer, 2002).

    Einstein, em torno de 1917, conseguiu estabelecer umvasto trabalho acerca dos sistemas caticos dentro daFsica quntica, porm, esse feito datou de antes da pr-pria teoria quntica em si ter sido finalizada e de muitoantes da teoria dos sistemas caticos6 ser aceita no mun-do da Fsica (Aguiar, 2005).

    (...) Einstein d duas contribuies importantes paraa compreenso das regras de quantizao. A primeiraconsiste em estend-las para sistemas no separveis,desde que esses tivessem tantas constantes de mo-vimento independentes quantos fossem seus graus

    de liberdade. Atualmente esses sistemas so ditosintegrveis. (...) A segunda contribuio de Einstein simplesmente observar que quando o sistema clssicono possui o nmero necessrio de constantes demovimento (como Poincar j havia apontado para oproblema de trs corpos), nem mesmo a sua regra dequantizao se aplicaria e no se sabia como procederpara quantizar o sistema (Aguiar, 2005, p. 101).

    Atualmente, a no-linearidade dos sistemas incorpo-rada como parte da Fsica quntica e permite possibilida-des de compreenso do mundo com consequncias paraas mais diversas reas do pensamento humano.

    1.2 Ao e Reao versus Complexidade

    O segundo ponto abordado neste artigo trata da di-ferenciao entre o pensamento mecanicista da ao ereao para a complexidade dos sistemas. A lei desen-volvida por Newton, em seus trabalhos experimentais,demonstra que, quando um corpo em repouso entra emcontato com outro, ir ocasionar uma igual reao, demesmo valor, no segundo.

    Essa lei compreende que onde existe uma fora sen-do exercida com um mesmo sentido, mesma magnitudee igual direo para com um respectivo outro, ela estariagerando uma resposta equivalente. Isso pode demonstraruma causalidade das aes entre os corpos nessa teoria.Tal princpio, entretanto, no se aplica aos resultados ob-tidos pelas pesquisas qunticas. O trabalho dos fsicosqunticos resulta na elaborao de uma nova teoria, quese harmoniza com os resultados observados, denomina-da teoria da complexidade. A complexidade origin-ria de uma escola filosfica que, em sua viso de mun-

    do, tudo indissocivel. A viso obtida do mundo de6 De acordo com Aguiar (2005) a teoria do caos quntica s se esta-

    beleceu por volta da dcada de 70.

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    5/11

    Kamila N. G. De Nadai & Adriano P. Jardim

    160Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    que ele um todo multidisciplinar que se encontra emrelao, a todo momento. Dessa forma, a causalidade daao e reao questionada, tendo em vista a nova visototalitria do mundo, que submetida s mais diferen-tes interaes a cada momento. O contato entre os cor-pos, no momento em que interagem pode ser entendido,

    a partir da complexidade, da seguinte forma: Quandodois objetos se encontram, pode-se estabelecer uma re-

    lao entre ambos - a ao mtua se torna mensurvel(Schuster, 2007, p. 466).

    O contato entre sistemas no mais caracterizadocomo algo que pode ser pr-estabelecido, no algo quepode ser previsto. Hoje, conta-se com a viso de que apartir do momento que um contato estabelecido, a re-ao no pode ser prevista. O leque de respostas podeser grande ou pequeno, porm no mais o mesmo. Ouseja, se um sujeito for de encontro a outro, no possvelafirmar que eles iro colidir e a fora feita por um ser

    a mesma fora contrria feita pelo outro. A teoria causalNewtoniana s pode ser vista como vlida em relao acorpos desprovidos de qualquer movimento ou resistnciadiferente do outro, dessa forma o contato pode ser igual,havendo uma ao e uma reao teoricamente adequadanesse processo.

    1.3. Mecnica Clssica versus Mecnica Quntica

    A partir das diversas teorias desenvolvidas no augeda Fsica clssica, fundamental entender a transioda viso objetiva dos fatos para uma viso complexa atu-al. Essa viso pode ser elucidada a partir da Mecnicaclssica e do princpio da incerteza de Heisenberg7 naMecnica quntica.

    A Mecnica clssica newtoniana busca as leis de for-a, que determinam a atuao de energias sobre as part-culas em especficas situaes, por meio de seu objeto, daobjetividade e da realidade apresentada (Videira, 2008).Partindo da concepo newtoniana, na Fsica clssica possvel entender que se o cientista conhecer todas aspartculas componentes de um sistema, desde sua dispo-sio primria quanto sua massa e velocidade, podem-seavaliar as influncias mtuas existentes e antecipar comoiro se comportar. Tal lgica s pode ser tomada comoverdadeira caso todas as interaes sejam descritas coma mais completa preciso, ou seja, desde que o momen-to e a posio completa das partculas sejam conhecidas(Santos, Alves & Duarte, 2007).

    Em contrapart ida, a Mecnica quntica aborda a ma-tria e a energia a partir de escalas atmicas e subat-micas, tendo implicaes diretas a situaes de muitobaixa ou de muito alta energia. A partir dessa teoria, fundamental destacar o princpio da incerteza, no qual

    7 Werner Heisenberg, fsico alemo ganhador do prmio Nobel daFsica no ano de 1932, nasceu em 1901 e faleceu em 1976 (Nunes,2007).

    fica explicitado que no possvel distinguir com exati-do a disposio ou o momento da partcula. Isso s se-ria possvel com a alterao da mesma, modificando suanatureza e, consequentemente, o resultado mais fidedig-no desejado (Santos et al, 2007). Entretanto, apesar de naMecnica quntica a maior parte dos eventos importantes

    envolverem sistemas microscpicos, suas consequnciaspart iculares no so apenas compreensveis nesta escala(Heisenberg, 1949).

    A relatividade de Einstein e a Mecnica qunticarevolucionaram a maneira com que percebemos ouniverso e nosso papel na teia viva da criao. Todaa complexidade que vemos no mundo pode surgir doacaso, conforme previsto pela teoria quntica, en-quanto nas escalas astronmicas, a prpria evoluodo universo pode ser descrita a partir de condiesiniciais (Abdalla, 2005, p. 148).

    Uma vez estabelecida e com seus conceitos desenvol-vidos, consolidados e comprovados experimentalmente,esta teoria estabeleceu-se na sociedade fsica por contade seu dinamismo e capacidade de lidar com possibili-dades. Atualmente, muito ainda h que se discutir paraque a complexidade dos sistemas no-lineares seja com-pletamente compreendida. No entanto, indiscutvel asua contribuio para a compreenso do mundo das par-tculas e, por extenso, do mundo visvel que habitamos.Alm disso, fundamental entender que as evoluesda Fsica moderna no descartam os esclarecimentos daFsica clssica (Videira, 2008).

    2. Das Psicologias Clssicas Gestalt-terapia

    Conforme previamente citado, o conhecimento psi-colgico um dos campos de saber que vem se familia-rizando com alguns pensamentos ligados Fsica, porisso entende-se ser importante desenvolver de formaepistemolgica esta conexo, abrindo mais ainda o le-que do pensamento psicolgico para explorar as possi-bilidades que outras reas podem oferecer para o cres-cimento da Fsica.

    Tendo isso em vista, fato que a Fsica, como co-nhecida hoje, no a mesma de seus primrdios. Assimcomo qualquer campo do conhecimento humano, ela se-gue uma linha de desenvolvimento, sendo uma expressodo tempo e das limitaes da sua poca. Assim sendo, importante entender o que embasava a Fsica quando deseu surgimento e o caminho percorrido para seu encon-tro com a Gestalt-terapia (Figueiredo, 1991).

    A Fsica clssica estabelecida a partir da viso doestruturalismo de Wilhelm Wundt (1832-1920). Este pen-

    sador desenvolveu uma teoria centralista, conhecidacomo Fsica experimental (Figueiredo, 1991; Schultz &Schultz, 2009; Marx & Hillix, 1973). Tal Fsica trabalha

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    6/11

    Gestalt-Terapia e Fsica Quntica: uma Relao entre Fsica e Psicologia

    161 Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    com o conceito de causalidade psquica, que diz respei-to experincia da conexo de processos psquicos e aosignificado e valor dessa experincia (Abib, 2005, p. 56).A teoria demonstra que as experincias esto, de algu-ma forma, conectadas. Ou seja, um pensamento poderiaestar sujeito a outro pensamento, assim como um senti-

    mento estaria sujeito a tal pensamento. As aes seriam,dessa forma, diretamente conectadas e causais. Porm,a causalidade que trabalhada aqui no provenienteda causalidade fsica ou da biolgica. O acontecimentoda causalidade psquica algo imediato e est sujeito aalgo subjetivo ou ao indivduo que a experiencia. Ou seja,um fenmeno psicolgico deve ser explicado com causas

    psicolgicas (Abib, 2005, p. 56).

    Wundt (1917), por exemplo, afirma a liberdade doindivduo, mas aceita no enxergando nisto a menorsombra de contradio que esta mesma liberdade

    seja causada, possuindo, portanto, pelo menosalgum grau de determinao, ainda que a mesmano seja to facilmente notvel como a causalidademecnica. Este autor, inclusive, pensa a liberdadecomo o uso deliberado das nossas aes (Schmidt etal, 2008, p. 11).

    A teoria da causalidade psquica, desenvolvida porWundt, recebeu duras crticas, desde suas primeiraspublicaes. Sua psicologia centralista concordava como dualismo cientfico ou com a impossibilidade de sereduzir questes da cincia em questes da natureza(Abib, 2005). Wundt desenvolveu, ento, a Fsica experi-mental, no sculo XIX, com seu laboratrio em Leipzig,que visava, novamente, a conscincia imediata do sujeito(Gomes, 1997). Esse feito transformou-o em referncia nocampo da Fsica como o fundador da Fsica experimen-tal. Apesar disso, Wundt acreditava em que uma inves-tigao do campo psicolgico no poderia ser reduzida aseu laboratrio. Ele entendia a importncia de uma visoexperiencial e social (Honda, 2004).

    Wundt estabeleceu a Fsica experimental como basepara os estudos subsequentes em Fsica, mas diversosprincpios em suas pesquisas foram reformulados, comoa metodologia introspectiva. Entretanto, diversas cor-rentes posteriores mantiveram importantes bases epis-temolgicas que a Fsica experimental tomou das cin-cias naturais. O funcionalismo (de John Dewey, William

    James e James Angell), por exemplo, manteve a viso ex-perimental a partir da observao (Dewey, 1971; James,1943; Angell, 1907). A psicanlise (na concepo deFreud, 1975) sustentou a noo de causalidade tomadado funcionalismo e da teoria da evoluo. E o behavioris-mo watsoniano conserva o mecanicismo (Watson, 1970),substitudo pelo pensamento funcionalista em Skinner,

    no behaviorismo radical (Skinner, 1967).Somente em meados do sculo vinte iriam surgir ou-tras compreenses tericas psicolgicas, seguindo a rup-

    tura com os princpios da Fsica clssica, por meio daFsica da forma ou Psicologia da Gestalt, desenvolvidainicialmente por um grupo de profissionais originais daAlemanha que compartilhavam o interesse de pesqui-sar a percepo (Perls, 1973; Khler, 1959; Koffka, 1922).Esta preservou a experimentao, mas em bases total-

    mente novas. A Psicologia da Gestalt tomava o mesmoobjeto de Wundt, a conscincia, no em seus elementos,mas sim como fenmeno perceptivo submetido a uma to-talidade expressiva (muito mais prxima do objeto dascincias ps-romnticas, conforme Figueiredo, 1991). APsicologia da Gestalt serviu de base para as elaboraesde Fritz Perls, que comps o seu pensamento por meiodo desenvolvimento da Gestalt-terapia (Perls, Hefferline& Goodman, 1997).

    Frederick Salomon Perls (1893-1970), um judeu deBerlim hoje conhecido como o pai da Gestalt-terapia(Burow & Scherpp, 1985). Sua consolidao ocorreu por

    volta de 1951 e encontrou seu auge, durante um momentosocial em 1968, aps Perls ter praticado por muitos anos ateoria psicanaltica em diversos pases. Buscando novosvalores humanistas, evocando a responsabilidade e va-lorizando o ser em relao ao ter, a Gestalt-terapia umateoria que trata de diversos fenmenos que dizem respei-to ao homem em contato constante com o mundo suavolta. Mais especificamente, Perls tomou da Psicologia daGestalt, desenvolvida em meados da dcada de 1920 pordiversos pensadores, como Max Wertheimer, WolfgangKohler, Kurt Koffka, Kurt Lewin e Wolfgang Metzger,alguns de seus pressupostos bsicos, como a teoria defigura-fundo, todo e partes, e lei da semelhana (Burow& Scherpp, 1985).

    Conforme os tericos da Gestalt-terapia (Fritz Perls,Laura Perls, Paul Goodman, entre outros) a realidade semostra, a cada momento e para cada um de ns, de formasingular, assim como todas as coisas (Burow & Scherpp,1985). Esse estilo terico preocupa-se com o como dosfenmenos que so apresentados para cada um, como elesso compreendidos e como a awareness8 feita. Ou seja,o foco da Gestalt-terapia o como das coisas e no o porque (Ginger, 2007). Por fim, interessante ressaltar queos conceitos da Gestalt-terapia so todos complementarese se fundamentam a partir uns dos outros.

    O caminho traado entre a Fsica clssica e a Fsicada Gestalt-terapia foi feito a partir de um desenvolvimen-to terico. Este encontro se caracterizou particularmentepor discusses envolvendo alguns conceitos. Entre es-tes, destacam-se trs: causalidade versus existencialis-mo, elementarismo versus holismo, e objetividade ver-sus fenomenologia.

    8

    Estar em contato com a conscincia totalmente no momento que seencontra presente, ter ateno ao que se sente em seu corpo e suasemoes. entrar em contato com aquilo que mostra, tanto no nvelsensorial quanto no intelectual. (R ibeiro, 2006).

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    7/11

    Kamila N. G. De Nadai & Adriano P. Jardim

    162Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    2.1 Causalidade versus Existencialismo

    Com o intuito de explicar os experimentos realizadoscom base em sua teoria, Wundt trabalhava com a causa-lidade linear dos fatos. Essa foi a forma que o pesquisa-dor encontrou para poder explorar a origem das questes

    que se faziam presentes em seus estudos. Sendo assim,ele encontra, de fato, uma significante eficcia em talinstrumento que se mostra suficientemente qualifica-do para atingir o seu objetivo: a descrio da conscin-cia em seus elementos. A causalidade linear auxiliou-oa garantir o encontro com um grande conhecimento emrelao ao objeto de estudo, uma vez que era isolado ofator que era considerado inconstante e inferia os ou-tros pontos como constantes (Czeresnia & Albuquerque,1995). Os fatos que eram focados durante o experimentotinham uma conexo linear com outros fatos (a influen-cia o comportamento de b que modifica c). Os fatos so

    limpos (colocados em foco sem a influncia de outrospontos externos que podem modificar o resultado de c).Ressalta-se aqui que, apesar de ser uma teoria fechada, acausalidade ainda considerada como efeitos de causasem indivduos (unidades) especficos que (...) ocorrem na

    singularidade(Czeresnia & Albuquerque, 1995, p. 417).Porm ela no pode ser vista como a nica alternativa deestudo para a explicao dos fenmenos.

    Em contrapartida causalidade linear na Fsica cls-sica, a Gestalt-terapia se aproxima de outra noo causala fim de dar conta das prticas em Fsica: a causalidadecircular. Nesta, o macro considerado como de granderelevncia para o desenvolvimento dos processos micro.Diferentemente da causalidade linear, o estudo circular feito em relao interao existente nos processos ma-croscpicos com os microscpicos e no em um s dospontos do comportamento de um sujeito em relao li-near com algo (Haselager & Gonzalez, 2002). A circulari-dade complexa tem sua expresso mxima nas formula-es do existencialismo (especialmente de Kierkegaard,de Heidegger e de Nietzsche, particularmente influentesno pensamento de Perls). Para alm do desenvolvimentodessas teorias, percebe-se que o existencialismo, tomadoa partir do pensamento de Perls, aparece como uma fugada causalidade seja ela circular ou linear, e uma tentativade compreender as coisas em uma perspectiva comple-tamente original, como uma produo nica a cada mo-mento, no aqui agora. Isto porque as coisas no estosoltas no espao, mas acontecendo no tempo, o tempo fundamental para a existncia do homem com seu amploleque de probabilidades (Josgri lberg, 2007).

    Ribeiro (1985) ento explica que a existncia huma-na se d pela singularidade e subjetividade dos atos dohomem em seu meio. O que remete ligao deste coma conscincia, uma vez que ela est sempre ligada a um

    objeto e o objeto sempre ligado a ela. Neste raciocnio, onosso consciente est sempre ligado com o que queremosfazer de nossa existncia, sendo isso bom ou ruim para

    ns mesmos. Porm, mesmo essas decises subjetivas,conscientes e inconscientes, devem ser vistas como ni-cas, e de exclusiva responsabilidade do prprio homem.Assim, percebe-se que o homem o seu prprio ser. Eledeve se responsabilizar por essa existncia, que s per-cebida de fato a partir de sua relao direta com o mun-

    do. Logo, Ribeiro (1985, p. 35) diz que o existencialismotenta e procura o valor e signif icado do homem. O homem

    e deveria ser a grande preocupao do homem. poss-vel, assim, entender o existencialismo como a forma queo homem escolhe para poder experimentar o seu cami-nho, como ele o assume, orienta e dirige.

    2.2 Elementarismo versus Holismo

    O elementarismo uma das formulaes tericasmais importantes para a Fsica clssica. Segundo Bock,

    Furtado & Teixeira (2002), a diviso da psique em ele-mentos aponta para uma compreenso de questes es-truturais, ou seja, um estudo sobre as condies rudi-mentares (ou elementares) da conscincia vistas comocomposies do sistema nervoso central. Essa viso podeser classificada como um tipo de reducionismo (enten-dido aqui na perspectiva de Dilthey, conforme Amaral,2004) utilizado para explicar as partes que se apresentamatreladas ao comportamento humano a partir do funcio-namento unitrio de um sistema particular. A idia dealguns dos psiclogos que aderem teoria clssica deWundt, como Titchener (1867-1927), a de que seria me-lhor iniciar a compreenso do sujeito por meio do que elementar, a saber, os elementos que vm a dividir o todo(Engelmann, 2002). Dessa forma, as partes so maiorese mais importantes que o todo. A compreenso sobre oque se passa em uma das partes seria o suficiente parase entender algo especfico (como buscar entender o tomde voz usado por uma pessoa e focar o motivo em suascordas vocais). A compreenso de tais elementos co-mumente feita utilizando de experimentos (como os deWundt em Leipzig).

    Essa viso foi fundamental para a Fsica em seus pri-mrdios e a Gestalt-terapia no a descarta completamen-te, mas prope que se trabalharmos com a produo designificado, perceberemos que trabalhamos com a estru-tura total, e no com as partes isoladas. Essa forma de vi-sualizar o todo chamada de holismo, na Gestalt-terapia(Oliveira, 2000).

    Segundo Goerdt (1974), o holismo teve seu significadopopularizado por Smuts9 em 1926 e, a partir dessa poca,seu significado passou a ser utilizado de forma generali-zada. Nessa idia, na qual no cabiam experimentos iso-

    9 Jan Christian Smuts (1870 - 1950) foi um proeminente estadista e

    soldado da frica do Sul. Foi primeiro minist ro da frica do Sul de1919 a 1924 e de 1939 a 1948. Era tambm um advogado e intelectual.Escreveu o livro Holism and Evolution em 1926, que deu origemao termo Holismo (Bar rera, 2007).

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    8/11

    Gestalt-Terapia e Fsica Quntica: uma Relao entre Fsica e Psicologia

    163 Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    lados, uma nova viso emprica toma lugar na comuni-dade gestltica. O organismo visto como algo uno, queno tem como ser dividido por completo em partes queexplicaro seu funcionamento (Oliveira, 2000). Por isso,na viso do gestalt-terapeuta, imprescindvel que o serhumano seja visto e tratado como um todo que represen-

    ta muito mais do que a soma de suas partes, lugar ondetudo est interligado e em que uma parte no consegueexistir sem o todo, sendo a recproca verdadeira. o eucomo um todo fazendo parte do mundo e, mais uma vez,entendendo sua prpria responsabilidade perante essaidia, perante o mundo que tambm faz parte do sujeito.Isto , a compreenso de todos os fenmenos que esto nossa volta, sem nunca nos esquecermos daquilo queest mesmo no fundo, fora de foco, mas que parte fun-damental da sustentao do caminho do homem. No ho-lismo, todos os fenmenos esto ligados a todo o campo10que est nossa volta.

    2.3 Objetividade versus Fenomenologia

    Para que a instaurao da objetividade tomasse seulugar em seus experimentos, Wundt, inicialmente intro-duziu a compreenso da conscincia como seu objeto deestudo, empregando a introspeco como ferramenta fun-damental. No intuito de entender a experincia imediata,alm da introspeco, Wundt passou a utilizar aparelhosde laboratrios da rea de fisiologia, acreditando ser fun-damental estudar a fisiologia determinstica dos pontoselementares da esfera mental (Cardoso & Lopes, 2008).Com isso, possvel entender que uma prtica objetiva sefazia indispensvel para a execuo de sua Fsica. Wundtprocurava objetivar as partes mais elementares da cons-cincia, promovendo a possibilidade do estudo de cadauma das partes da forma mais objetiva possvel. Tal feitoseria possvel a partir da verificao das sensaes envol-vidas durante o estudo, mesclando assim a introspecoe a objetividade (Cardoso & Lopes, 2008).

    A consequncia dessa forma de pensar que os expe-rimentos utilizados por Wundt eram focalizados na ob-jetividade em prol dos resultados a serem alcanados. visvel que a objetivao de suas tcnicas foi fundamentalpara que o empirismo psicolgico alcanasse um novopatamar. Wundt encontra no seu mtodo experimentalo controle necessrio para ser objetivo (o pesquisador re-tirava qualquer fator que no interessasse ao resultadopara focar na resposta desejada). Isto o levou a ser mui-to criticado pela Fsica do sculo vinte, embora autoresposteriores como Titchener, William James e Skinner te-nham considerado alguma forma de objetividade comoum elemento vlido para os experimentos empricos.

    10

    Teoria desenvolvida por Kurt Lewin, traz a idia de que o compor-tamento humano se d sempre dentro de um campo de relaes,cercado por fatos e acontecimentos que influenciam o mesmo(Lewin, 1965).

    Porm, na Fsica estruturalista clssica, a objetividadesupervalorizada tornava a teoria excessivamente artifi-cial e com grande nfase na anlise do sujeito (Marx &Hillix, 1973).

    A linha de pensamento crtico objetividade faz par-te das posies epistemolgicas da Gestalt-terapia e diz

    respeito importncia de um fenmeno percebido emum dado momento na vida do sujeito. Ela trata dos ob-jetos apresentados ateno consciente do homem, ouseja, aquilo que foco para a pessoa naquele momento.O fenmeno aquilo que pode ser entendido e assimi-lado pela mente do homem (Muller-Granzotto & Muller-Granzotto, 2007). A Gestalt-terapia afirma que muitoimportante considerar diversas questes que fazem o su-jeito ser o que ele hoje e aquilo que ele quer ser amanh.No pode existir uma ciso entre esse dado e o presente,pois, aqui agora somos o nosso passado, o nosso pre-sente e nosso futuro, tudo compreendido em um s mo-

    mento. Por isso, importante estimular o foco do sujeitopara aquilo que se apresenta no momento e o que podesignificar. A relao figura-fundo compreendida pelo su-jeito configura a sua base fenomenolgica e implica umaviso especfica de mundo. A conscincia busca captar aessncia mesma das coisas e, para que isso acontea, elaprocura descrever a experincia do modo como ela acon-tece e se processa, colocando a realidade entre parnte-ses, suspendendo todo juzo. Essa a atitude fenomeno-lgica (Gomes, 1997) e implica compreender o processoconsciente como inevitavelmente relativo ao sujeito quepercebe, sendo impossvel uma experincia totalmenteobjetiva (ou totalmente subjetiva).

    Segundo Ribeiro (2006), quando dizemos fenmenopodemos dizer que o homem em si um fenmeno. Semdvida o mais complexo, aquele em que o manifestar-seda conscincia percorre caminhos de difcil acesso, poiso fenmeno homem se revela lentamente. Quanto maisele se desnuda, mais ele vem, se aproxima de uma de-terminada luz, mais ele est em contato com a sua reali-dade, com sua essncia. Essncia essa resultante da re-lao entre compreenso e experincia, que se processano mundo fenomenal. O mundo objetivo, portanto, no mais do que as suas propriedades que se oferecem paraserem compreendidas por um sujeito e s podemos falardele assim, a partir de uma viso particular. A compre-enso objetiva da conscincia, tentada por Wundt, comoconsequncia, cede lugar a uma viso fenomenolgicade um ponto no sujeito, um territrio objetivo-subjetivo,isto , o fenmeno.

    3. A Relao entre a Fsica Quntica e a Gestalt-Terapia

    As relaes existentes entre a Fsica e a Psicologia noso to recentes quanto se imagina e com certeza no selimitam, no campo da Fsica, somente Gestalt-terapia.

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    9/11

    Kamila N. G. De Nadai & Adriano P. Jardim

    164Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    No entanto, embora Fsica quntica e Gestalt-terapia cons-tituam elaboraes especficas s suas reas, no configu-ram necessariamente campos isolados. H 94 anos, Khlercomeou a desenvolver um livro intitulado Gestalten

    fsicas em repouso e em estado estacionrio (Arnheim,1998), mostrando seu interesse sobre a importncia da

    unio dessas duas teorias. Esse trabalho, quase secular,foi encaminhado para Albert Einstein, que exprimiu umaresposta positiva sobre tal conexo (Ash, 1995). A par-tir disto, possvel entender que as trajetrias da Fsicae da Psicologia tiveram alguns pontos de encontro. Noso incomuns propostas de paralelismo psicofsico nosprojetos tanto das cincias naturais quanto das cinciashistricas (Dilthey, 2002). E aqui j se pode apontar umponto de contato entre Fsica quntica e Gestalt-terapia:ambas foram formuladas em contraposio a valores tra-dicionais referentes a pressupostos epistemolgicos rigi-damente estabelecidos em defesa de uma viso de mun-

    do especfica. Foram, portanto, teorias de ruptura em umdado momento histrico.

    Outras semelhanas destacam-se, a partir da anlisedo paralelo entre seus desenvolvimentos. Pode-se afir-mar que tanto a Fsica quntica pode ser consideradacomo holstica (e por consequncia gestaltista) quanto aGestalt-terapia pode ter uma viso quntica da realidadeque nos cerca. Conforme Ribeiro, no universo quntico

    nada premeditado, a realidade um labirinto mvel e in-

    determinado de possibilidades (Ribeiro, 1994). Estamos,dessa forma, para alm do pensamento linear e causal deNewton, no nos encontramos em um universo de siste-mas e fatos j conhecidos.

    Usar Fsica quntica entender que Gestalt-terapiano apenas perceber o indivduo, mas entenderquanticamente que a maior e mais harmnica dasGestalts o universo que se transforma na grande casaque nos acolhe, nos d vida, nos faz compreensveisuns aos outros. S descobrimos o nosso sentido quan-do, mergulhamos dessa Gestalt maior, entendemosque tudo, sem exceo, relao e probabilidades(Ribeiro, 1994, p.78).

    A semelhana entre as teorias, conforme ressaltaCiornai (2007), aponta para a importncia de abrir o cam-po no qual os profissionais se encontram. Especificamentesobre a prtica gestalt-teraputica, diversas possibilida-des complexas se mostram presentes para alm do cam-po atual dessa atuao. A singularidade e a subjetividadeda existncia humana so fundamentais para entender acomplexidade, seja do mundo, seja do homem, da mesmamaneira que, nos termos de Figueiredo (1991), os tomosde conscincia so as nossas sensaes. Tal complexidadese faz presente a partir do momento que o homem entra

    em contato com o mundo que o cerca.

    Foi pelo canal das aplicaes tcnicas que a cincia foiobrigada a descer da torre de marfim dos fenmenospuros e a encontrar a complexidade como um dos ele-mentos do mundo moderno, primeiro nas estruturaselaboradas pelo homem, depois na natureza onde elaestava, todavia, to evidentemente inscrita (Moles,

    1971, p. 22).

    Tanto para a Fsica quntica, quanto para a Gestalt-terapia, essa complexa conectividade entre as aes exe-cutadas constantemente pelo homem no um simplesevento que diz respeito somente a ele. Apesar de ele tera responsabilidade por tais aes, o resultado delas ouat mesmo de suas idias podem ter influencias no seuentorno. Como o homem no vive em isolamento, suasaes iro repercutir no mundo e determinar caminhosque nem ele mesmo poderia imaginar. A partir disto, acompreenso da imprevisibilidade quntica na constru-

    o social do homem fundamental para entendermosque a imprevisibilidade inevitvel.

    A transitoriedade, portanto, marca fundamental domundo fsico e humano. Nesse sentido, a Fsica qunticae a Gestalt-terapia representam a constatao da tempo-ralidade como elemento fundamental para a vida (cons-tatao j realizada precocemente por Bergson, 1988).Alm disso, constata-se que, a partir do que foi exposto,a percepo , para cada um, algo sempre novo, em eter-na metamorfose. O que entendemos por algo que vemoshoje pode no ser o mesmo quando vemos novamenteamanh. Assim, Uma pessoa que vi h cinco anos e quevejo hoje em dia no apresenta quase nenhuma parte

    igual, pelo menos com relao sua formao bsica: os

    tomos (Engelmann, 2002, p. 12). No existe uma cons-tante certeza no meio gestltico e nem no mundo visto daperspectiva das part culas qunticas. Existe, na verdade,o momento presente e s isso pode, de fato, existir.

    Logo, possvel entender a relao existente entre asduas teorias, a Fsica quntica e a Gestalt-terapia, como odesenvolvimento de campos tericos resultantes de umacomplexificao de viso de homem (Spangenberg, 2007).Isto explicita que os pontos da Fsica quntica discuti-dos neste trabalho podem ser utilizados em prticas ges-tlticas, em suas mais diversas formas (clnica, grupos,escola...). Como citou Ribeiro (1994), a Fsica qunticaparece tornar mais slidas as consideraes da Gestalt-terapia. A recproca tambm seria verdadeira, por meioda utilizao de algumas prerrogativas psicolgicas daGestalt-terapia como base filosfica para o contnuo de-senvolvimento da Fsica quntica. Cabe aqui ressaltar apossibilidade de conscientizar-se de que as teorias podemse relacionar de forma que uma auxilie a outra para quenovas prticas tomem forma, o que implica um enrique-cimento mtuo e profcuo, tanto para cincia quanto para

    a filosofia (Holanda & Faria, 2005).

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    10/11

    Gestalt-Terapia e Fsica Quntica: uma Relao entre Fsica e Psicologia

    165 Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    Referncias

    Abdalla, E. (2005). Teoria quntica da gravitao: cordas e te-oria.Revista Brasileira de Ensino de Fsica [online], 27(1),147-155.

    Abib, J. A. D. (2005). Prlogo histria da psicologia.Psicologia:Teoria e Pesquisa [online], 21(1), 53-60.

    Aguiar, M. A. M. (2005). Einstein e a teoria de caos qunti-co. Revista Brasileira de Ensino de Fsica [online], 27(1),101-102.

    Amaral, M. N. C. P. (2004). Dilthey Conceito de vivncia eos limites da compreenso nas cincias do esprito. Trans/

    Form/Ao [online], 27(2), 51-73.

    Angell, J. R. (1907). The province of functional psychology.Psychological Review [online], 14, 61-91. Disponvel em:http://psychclassics.yorku.ca/Angell/functional.htm

    Arnheim, R. (1998). Wolfgang Khler and Gestalt theory.Historyof psychology, 1(1), 21-6.

    Ash, M. G. (1995). Gestalt psychology in German culture, 1890-1967. Cambridge, UK: Cambridge University Press.

    Bergson, H. (1988).Ensaio sobre os dados imediatos da cons-cincia. (J. S. Gama, Trad.). Lisboa: Edies 70 (Trabalhooriginal publicado em 1889).

    Bock, A. M. B., Furtado, O., & Teixeira, M. L. T. (2002).Psicologias: uma introduo ao estudo de psicologia. SoPaulo: Saraiva.

    Burow, O., & Scherpp, K. (1985).Gestalt-pedagogia: um caminhopara a escola e a educao. So Paulo, Summus.

    Cardoso, C. R. D. & Lopes, E. J. O. (2008). Problema mente-cor-po e a naturalizao da psicologia (cognitiva): considera-es epistemolgicas.Anais do XXII Seminrio de IniciaoCientfica. Uberlndia, Universidade Federal de Uberlndia.Disponvel em: http://www.ic-ufu.org/anaisufu2008/PDF/IC2008-0281.PDF

    Ciornai, S. (2007). Gestalt-terapia, paradigmas da contempora-neidade e fsica quntica: um dilogo necessrio. Em EnioBrito Pinto (Org.), Gestalt-Terapia: Encontros (pp. 152-172).So Paulo: Instituto Gestalt de So Paulo.

    Czeresnia, D., & Albuquerque, M.F.M. (1995). Modelos de infe-rncia causal: anlise crtica da utilizao da estatstica naepidemiologia. Revista de Sade Pblica, 29(5), 415-423.

    Dahmen, S. R. (2006). Einstein e a Filosofia.Revista Brasileirade Ensino de Fsica [online], 28(1), 3-7.

    Dewey, J. (1971).Experincia e educao. So Paulo: CompanhiaEditora Nacional.

    Dilthey, W. (2002).Psicologia e Compreenso. Lisboa: Edies70.

    Dionsio, P. H. (2005). Albert Einstein e a fsica quntica.

    Cadernos Brasileiros de Ensino da Fsica [online], 28(2), 147-164. Disponvel em: http://www.fsc.ufsc.br/cbef/port/22-2/artpdf/a1.pdf

    Engelmann, A. (2002). A psicologia da gestalt e a cincia em-prica contempornea.Psicologia: Teoria e Pesquisa [onli-ne], 18(1), 1-16.

    Figueiredo, L. C. M. (1991).Matrizes do pensamento psicolgi-co. Rio de Janeiro: Vozes.

    Freud, S. (1975).Esboo de psicanlise. Rio de Janeiro: Imago.Ginger, S. (2007). Gestalt: a arte do contato: nova abordagem

    otimista das relaes humanas. Petrpolis: Vozes.

    Gobbi, S. L. (2002). Teoria do caos e a abordagem centrada napessoa: uma possvel compreenso do comportamento hu-mano. So Paulo: Vetor.

    Gomes, W. B. (1997). A Entrevista Fenomenolgica e o Estudoda Experincia Consciente. Psicologia USP [online]. 8(2),305-336.

    Goerdt, W. (1974). Holismus. Em J. Ritter (Org.), HistorischesWrterbuch der Philosophie (Band 3, pp. 1167-1168).

    Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.Haselager, W. F. G. & Gonzalez, M. E. Q. (2002). Causalidade

    circular: uma sada para a oposio internalismo versusexternalismo?Manuscrito [online], 25, 217-238. Disponvelem: http://www.nici.kun.nl/~haselag/publications/Manuscrito2002.pdf

    Heisenberg, W. (1949). The physical principles of the quantumtheory. Toronto: Dover Publications.

    Holanda, A. F., & Faria, N. J. (2005). Gestalt-Terapia eContemporaneidade: Contribuies para uma construoepistemolgica da teoria e da prtica gestltica. Campinas:Livro Pleno.

    Honda, H. (2004). Notas sobre a noo de inconsciente emWundt e Leibniz. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online],20(3), 275-277.

    James, W. (1943). A filosof ia de Wil liam James: Seleo desuas obras principais. So Paulo: Companhia EditoraNacional.

    Josgrilberg, F. P. (2007). A temporalidade a partir da perspec-tiva existencial.Revista da Abordagem Gest ltica [online],13(1), 63-73.

    Koffka, K. (1922). Perception: An introduction to the Gestalt-theorie. Psychological Bul letin, 19, 531-585. Disponvel

    em:http://psychclassics.yorku.ca/Koffka/Perception/per-ception.htm

    Khler, W. (1959). Gestalt Psychology Today. Amer icanPsychologist, 14, 727-734. Disponvel em: http://psychclas-sics.yorku.ca/Kohler/today.htm

    Marx, M. H., & Hillix, W. A. (1973). Sistemas e teorias emPsicologia. So Paulo: Cultrix.

    Moles, A. (1971).A criao cientfica. So Paulo: Perspectiva.

    Muller-Granzotto, M. J. & Muller-Granzotto, R. L. (2007).Fenomenologia e Gestalt-Terapia. So Paulo: Summus.

    Oliveira, C. C. (2000).Holismo: Aprender e Educar. Diversidadee Diferena. Porto: Faculdade de Letras, Universidade doPorto.

  • 7/28/2019 Gestalt-terapia e fsica quntica um dilogo possvel

    11/11

    Kamila N. G. De Nadai & Adriano P. Jardim

    166Revista da Abordagem Gestltica XVI(2): 157-165, jul-dez, 2010

    A

    rtig

    o

    Perls, F. (1973).A abordagem gestltica e testemunha ocular naterapia. Rio de Janeiro: LTC.

    Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P. (1997). Gestalt-Terapia.So Paulo: Summus.

    Quentmeyer, T. (2002). Chaos theory, dynamic systems, and

    fractual geometry. Disponvel em: http://library.thinkquest.org/3493/frames/menu1.html

    Ribeiro, J. P. (1985). Gestalt-Terapia: refazendo um caminho.So Paulo: Summus.

    Ribeiro, J. P. (1994). Gestalt-Terapia: o processo grupal: umaabordagem fenomenolgica da teoria de campo e holstica.So Paulo: Summus.

    Ribeiro, J. P. (2006). Vade-mcum de Gestalt-Terapia: conceitosbsicos. So Paulo; Summus.

    Santos, B. R., Alves, R. S. & Duarte, O. C. M. B. (2007).Trabalhosde rede I. UFRJ. Disponvel em: http://www.Gestalt-Terapiaa.

    ufrj.br/grad/07_1/quantica/index.html.

    Schmidt, A., Monteiro, G. G., Carij, F., Padilha, K., Almeida, M.C., Starosky, M., Kauffman, N., Machado, R., & Ferreira, A.A. L. (2008). Entre a autonomia e o controle: o surgimentodo indivduo como condio de possibilidade dos saberese prticas psicolgicas.Fractal: Revista de Psicologia [on-line], 20(1), 337-338.

    Schuster, P. M. (2007). Revolucionrio e ainda assim desconhe-cido!Revista Brasileira de Ensino de Fsica [online], 29(3),465-470, So Paulo.

    Schultz, S. E., & Schultz, D. P. (2009). Histria da PsicologiaModerna. So Paulo: Cengage Learning.

    Skinner, B. F. (1967). Cincia e comportamento humano.Braslia: Editora da Universidade de Braslia.

    Spangenberg, A. (2007).O contato com o livro Gestalt-Terapia um caminho de volta para casa. Campinas: Livro Pleno.

    Stachel, J. (2005). 1905 e tudo o mais. Revista Brasileira deEnsino de Fsica [online], 27(1), 5-9.

    Videira, A. A. P. (2008). Breves consideraes sobre o tema:Heisenberg e a histria.Filosof ia e Histria da Cincia noCone Sul: Seleo de trabalhos do 5 encontro,8, 63-71.

    Watson, J. B. (1970).Behavior ism. New York: Norton Library.

    Kamila Nogueira Gabriel De Nadai - Graduanda em Psicologia pelaUnivix Faculdade Brasileira, Vitria (ES). Endereo Institucional:UNIVI X Faculdade Brasileira. Rua Jos Alves, 301. Goibeiras, Vitria,ES. CEP 29.075-080. Email: [email protected]

    Adriano Pereira Jardim - Psiclogo, Mestre e Doutor em Psicologiado Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Professor Adjunto da Univix - Faculdade Brasileira. Endereo Institucional:UNIVIX Faculdade Brasileira. Rua Jos Alves, 301. Goibeiras, Vitria, ES.CEP 29.075-080. Email: [email protected]

    Recebido em 10.04.10Primeira Deciso Editorial em 12.08.10

    Aceito em 18.10.10