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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE CAMPOS ENSINO SUPERIOR DE DESIGN GRÁFICO TEORIA DA PERCEPÇÃO Prof. LUIZ CLAUDIO G. GOMES PSICOLOGIA DA FORMA Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração, que não é muito utilizado por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia. A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica. Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt. A psicologia da gestalt (forma) ou gestaltismo desenvolveu-se a partir de 1912, pela necessidade da existência de uma teoria que, não esquecendo o valor e a necessidade da experimentação científica, salienta sobretudo o aspecto global da realidade psicológica. Os grandes impulsionadores desta escola foram os psicólogos Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Hohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), que, depois de 1910, trabalhando na universidade de Frankfurt, criticaram fortemente a escola de Wilhelm Wundt (1832- 1920), fundador da psicologia moderna e responsável pelo primeiro laboratório de psicologia experimental. Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram as bases de uma teoria eminentemente psicológica. Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE CAMPOSENSINO SUPERIOR DE DESIGN GRÁFICO

TEORIA DA PERCEPÇÃOProf. LUIZ CLAUDIO G. GOMES

PSICOLOGIA DA FORMA

Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração, que não é muito utilizado por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia.

A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica.

Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt.

A psicologia da gestalt (forma) ou gestaltismo desenvolveu-se a partir de 1912, pela necessidade da existência de uma teoria que, não esquecendo o valor e a necessidade da experimentação científica, salienta sobretudo o aspecto global da realidade psicológica. Os grandes impulsionadores desta escola foram os psicólogos Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Hohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), que, depois de 1910, trabalhando na universidade de Frankfurt, criticaram fortemente a escola de Wilhelm Wundt (1832-1920), fundador da psicologia moderna e responsável pelo primeiro laboratório de psicologia experimental.

Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram as bases de uma teoria eminentemente psicológica.

Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito com uma forma diferente do que ele é na realidade.

É o caso do cinema. Uma fita cinematográfica é composta de fotogramas com imagens estáticas. O movimento que vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pelo fenômeno da pós-imagem retiniana (qualquer imagem que vemos demora um pouco para se 'apagar' em nossa retina). As imagens vão se sobrepondo em nossa retina e o que percebemos é um movimento. Mas o que de fato é projetado na tela é uma fotografia estática, tal como uma seqüência de slides.

Coube a Max Wertheimer ser o fundador da teoria, ao ter conseguido provar, experimentalmente, diferentes formas de organização perceptiva (o campo visual é percebido de uma forma organizada e com significado próprio para cada um de nós). Assim, já era válido defenderem o principal ponto de vista da escola destes cientistas: o conhecimento do mundo obtém-se a partir de elementos que por si só constituem formas organizadas. Para a psicologia da forma o todo é mais do que a soma das partes que o constituem.

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A teoria da forma parte, assim, da percepção como um todo: as suas propriedades não resultam da soma das propriedades dos seus elementos. Por exemplo, mesmo nos casos em que há apenas uma figura (como um ponto negro) desenhada numa folha branca, há uma totalidade, não existe só a figura, existe uma figura desenhada que sobressai num fundo branco (na folha do papel).

A psicologia da gestalt (forma) ou gestaltismo desenvolveu-se a partir de 1912, pela necessidade da existência de uma teoria que, não esquecendo o valor e a necessidade da experimentação científica, salienta sobretudo o aspecto global da realidade psicológica. Os grandes impulsionadores desta escola foram os psicólogos Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Hohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), que, depois de 1910, trabalhando na universidade de Frankfurt, criticaram fortemente a escola de Wilhelm Wundt (1832-1920), fundador da psicologia moderna e responsável pelo primeiro laboratório de psicologia experimental.

Coube a Max Wertheimer ser o fundador da teoria, ao ter conseguido provar, experimentalmente, diferentes formas de organização perceptiva (o campo visual é percebido de uma forma organizada e com significado próprio para cada um de nós). Assim, já era válido defenderem o principal ponto de vista da escola destes cientistas: o conhecimento do mundo obtém-se a partir de elementos que por si só constituem formas organizadas. Para a psicologia da forma o todo é mais do que a soma das partes que o constituem.

A teoria da forma parte, assim, da percepção como um todo: as suas propriedades não resultam da soma das propriedades dos seus elementos. Por exemplo, mesmo nos casos em que há apenas uma figura (como um ponto negro) desenhada numa folha branca, há uma totalidade, não existe só a figura, existe uma figura desenhada que sobressai num fundo branco (na folha do papel).

Os gestaltistas consideram como sendo o mais significativo aspecto da experiência sua totalidade e inter-relacionamento. Para eles, qualquer tentativa de analisar o comportamento em partes estava condenada a falhar porque

perdia a mais importante e distintiva característica da experiência - sua totalidade, organização e configuração. Nenhum estímulo tem um sentido ou significado constante; tudo depende do padrão de eventos circundantes. A água morna é sentida como quente por uma pessoa que tenha estado com a mão imersa em água gelada, mas é sentida como fria quando a mão esteve anteriormente na água quente. Uma pessoa de 1,80 parece pequena quando jogando basquete em uma equipe profissional, mas parece um gigante quando se encontra entre pigmeus.

A abordagem fenomenológica, dirigiu o interesse da psicologia da Gestalt para os processos de pensamento, raciocínio e solução de problemas. Outra área que ela produziu impacto foi particularmente a da percepção-visual

Uma importante lei de organização perceptual da Gestalt é a de agrupamento perceptual. Tendemos a organizar nosso campo ou mundo visual em grupos significativos de objetos, configurações ou estímulos. O agrupamento ilustra claramente a noção geral da Gestalt de que o todo é diferente da soma de suas partes. Uma cena global, portanto, depende de como você vê a relação figura-fundo e de como as várias partes da cena estão organizadas umas em relação às outras.

Para os psicólogos da gestalt existem quatro princípios para a percepção de objetos e formas: a tendência à estruturação, a segregação figura-fundo; a pregnância ou boa forma e a constância perceptiva.

A tendência à estruturação explica-se pela natural propensão dos indivíduos a organizar ou estruturar os diferentes elementos que se lhe deparam. Tendemos a agrupar elementos que encontram-se próximos uns dos outros ou que sejam semelhantes.

A segregação figura-fundo explica-nos que percepcionamos figuras definidas e salientes que se inscrevem em fundos indefinidos. Não podemos ver objetos sem os separarmos do seu fundo. Por exemplo, para vermos um cálice branco pintado num fundo preto, há que fixarmos o olhar na parte branca. Se, fixarmos o olhar na parte preta, podemos ver outras formas que não a do cálice.

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Designa-se por pregnância das formas, a qualidade que determina a facilidade com que percepcionamos figuras. Percepcionamos mais facilmente as boas formas, ou seja, as simples, regulares, simétricas e equilibradas.

A constância perceptiva traduz-se na estabilidade da percepção (os seres humanos possuem uma resistência acentuada à mudança). Existem três grandes tipos de constância: a da grandeza (estabilidade de percepção em relação ao tamanho dos objetos), a da forma (em relação à forma que os objetos normalmente têm) e a constância da cor (que tem haver com a quantidade de luz recebida).

A constância perceptiva é particular-mente importante porque, graças a ela, o mundo surge-nos com relativa estabilidade

Os itens são agrupados em termos de:

Proximidade. Itens próximos um ao outro são percebidos como um todo.

Semelhança. Itens que se parecem mais estreitamente uns com outros são percebidos como unidades.

Simetria. Itens que formam unidades simétricas são agrupados juntos.

Fechamento. Itens são percebidos como formando uma unidade completa, mesmo que estejam interrompidos por lacunas.

Continuação. Itens com as mínimas interrupções são percebidos como unidades.

Os psicólogos da gestalt surgiram também com uma teoria para a percepção da profundidade. Esta advém da interação de fatores do nosso organismo com fatores ambientais.

São exemplos dos fatores do nosso organismo: a acomodação do cristalino que é uma espécie de lente natural de que dispomos para focar convenientemente os objetos e que se contrai (sempre que os objetos estejam a curta distância) ou se estende (se os objetos se encontram afastados); e a convergência das linhas de visão, ou seja, a posição destas linhas altera-se sempre que olhamos para objetos situados a diferentes distâncias. Quando olhamos para um objeto colocado a mais de quinze metros, as linhas de visão são paralelas, mas quando a distância é inferior, as linhas de visão tornam-se concorrentes (cruzam-se).

Para exemplificar os fatores ambientais temos o princípio do contraste luz-sombra (as partes salientes dos objetos são mais claras que as restantes, em função da iluminação recebida) e a grandeza relativa (a profundidade pode ser representada variando o tamanho e a distância dos objetos pintados. Os objetos mais distantes parecem-nos mais pequenos do que aqueles que estão mais próximos).

Estes e muitos outros princípios da psicologia da forma fizeram com que um europeu de formação psicanalítica, Fritz Perls (1893-1970), surgi-se com uma psicoterapia de orientação gestáltica, fundando, em 1952, o Instituto Gestalt de New York.

A gestalterapia defende que o desenvolvimento psicológico e biológico do organismo se processa de acordo com as tendências inatas (tendências já próprias do corpo aquando do nascimento) desse organismo e que tentam adaptá-lo harmoniosamente ao ambiente. A psicoterapia é, normalmente, realizada em grupo e ao longo das suas sessões destaca-se a realização de um conjunto de exercícios sensório-motores (que trabalham as áreas sensoriais e motoras do nosso corpo) e meditativos (de relaxamento). Estes exercícios pretendem, principalmente, que os indivíduos descubram novas forças existentes em si, para poderem ultrapassar as dificuldades.

Para a gestalt, a personalidade é um todo único que não pode ser analisado por partes. Nada adianta analisar separada-mente traços. No conjunto, cada traço adquire uma outra significação daquela que tinha quando visto isoladamente. A persona-lidade, enfim, deve ser entendida, não explicada. O entendimento é obtido pelo estudo do passado histórico do indivíduo e do presente cultural.

A personalidade forma com o ambiente que a afeta uma só unidade. Essa gestalt é o que Lewin chama de espaço vital. A personalidade, por outro lado, é o centro do campo de forças. As forças são representadas por vetores e o comportamento é uma resultante dos vetores presentes no campo, uns positivos, outros negativos.