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GESTÃO CONTÁBIL INTEGRADA: ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DE INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DO GRAU DE ADERÊNCIA À ABORDAGEM AMBIENTAL MARIA APARECIDA PEREIRA (UNINOVE) [email protected] Felipe Araujo Calarge (UNINOVE) [email protected] Diante das externalidades negativas geradas pelo processo produtivo atual existe a necessidade de uma reestruturação do desenvolvimento de forma sustentável, de maneira que as necessidades de consumo atuais possam ser supridas sem comprometter a sustentabilidade do planeta no futuro. A reestruturação exige das organizações muito mais do que a visão de lucratividade, exigindo assim a implantação de novos métodos de gestão e processos produtivos. A partir do assunto abordado, o objetivo do presente estudo é a elaboração e a aplicação de um instrumento de avaliação para analisar o posicionamento das usinas em funcionamento do setor sucroalcooleiro no Estado de São Paulo ao que se refere a uma gestão organizacional direcionada ao desenvolvimento sustentável nas dimensões financeira, ambiental, tecnológica e humana. Dado este cenário, no que se refere ao aspecto contábil verifica-se que informações fornecidas pela contabilidade tradicional não contemplam aspectos relacionados às externalidades geradas pelas práticas empresariais com relação aos investimentos que visam à sustentabilidade. Diante da dificuldade de mensurar os custos ambientais, uma Gestão Contábil Integrada irá colaborar para o levantamento de investimentos e retornos obtidos pelas empresas engajadas no contexto da preservação ambiental. Palavras-chaves: Sistema Integrado de Gestão - SIG. Gestão Contábil Integrada - GCI. Setor Sucroalcooleiro XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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GESTÃO CONTÁBIL INTEGRADA:

ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DE

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DO

GRAU DE ADERÊNCIA À ABORDAGEM

AMBIENTAL

MARIA APARECIDA PEREIRA (UNINOVE)

[email protected]

Felipe Araujo Calarge (UNINOVE)

[email protected]

Diante das externalidades negativas geradas pelo processo produtivo

atual existe a necessidade de uma reestruturação do desenvolvimento

de forma sustentável, de maneira que as necessidades de consumo

atuais possam ser supridas sem comprometter a sustentabilidade do

planeta no futuro. A reestruturação exige das organizações muito mais

do que a visão de lucratividade, exigindo assim a implantação de

novos métodos de gestão e processos produtivos. A partir do assunto

abordado, o objetivo do presente estudo é a elaboração e a aplicação

de um instrumento de avaliação para analisar o posicionamento das

usinas em funcionamento do setor sucroalcooleiro no Estado de São

Paulo ao que se refere a uma gestão organizacional direcionada ao

desenvolvimento sustentável nas dimensões financeira, ambiental,

tecnológica e humana. Dado este cenário, no que se refere ao aspecto

contábil verifica-se que informações fornecidas pela contabilidade

tradicional não contemplam aspectos relacionados às externalidades

geradas pelas práticas empresariais com relação aos investimentos

que visam à sustentabilidade. Diante da dificuldade de mensurar os

custos ambientais, uma Gestão Contábil Integrada irá colaborar para

o levantamento de investimentos e retornos obtidos pelas empresas

engajadas no contexto da preservação ambiental.

Palavras-chaves: Sistema Integrado de Gestão - SIG. Gestão Contábil

Integrada - GCI. Setor Sucroalcooleiro

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1. Introdução

Destaca-se que apesar das iniciativas existentes, no que diz respeito à literatura há um número

reduzido de discussões quanto aos aspectos envolvidos no processo da Gestão Contábil com

abordagem Integrada. Diante deste contexto existem inúmeras lacunas a serem preenchidas e

a aplicação de princípios e ferramentas na mensuração das informações contábeis na

dimensão ambiental mostrou-se necessária. Além disso, a discussão possibilita a verificação

da necessidade de implantação de uma gestão que possa contemplar as dimensões econômica,

social e ambiental.

Carvalho (2008) destaca que a contabilidade tradicional já definiu instrumentos necessários e

suficientes para demonstrar os fatos que se relacionam com a empresa, tendo em vista os fatos

ambientais não poderia ser diferente. Para Ribeiro (2005), os objetivos da contabilidade

ambiental estão consolidados em identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transações

econômico-financeiros que estejam relacionados com a proteção, preservação e recuperação

ambiental, ocorridos em um determinado período, visando à evidenciação da situação

patrimonial da entidade.

O presente trabalho teve como objetivo elaborar e aplicar um instrumento de avaliação para

verificar o grau de aderência do setor sucroalcooleiro paulista à abordagem da Gestão

Contábil Ambiental, de acordo com os constructos definidos na metodologia deste trabalho.

Pretendeu-se obter com presente estudo um instrumento que possibilitasse a verificação do

posicionamento do setor sucroalcooleiro paulista à abordagem da Gestão Contábil Integrada.

Para tanto, realizou-se análise das práticas socioambientais no que diz respeito ao contexto em

que as usinas paulistas estão inseridas. As práticas analisadas foram quanto às exigências para

preservação do meio ambiente, as necessidades do mercado consumidor, e aos fatores

tecnológicos e humanos de seus processos organizacionais e produtivos.

Para validação do instrumento de avaliação elaborado, além do setor sucroalcooleiro paulista,

aplicou-se o mesmo em relatórios divulgados publicamente por empresas de outros setores da

economia. Utilizou-se como norteador da referida aplicação as empresas brasileiras

participantes do Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) carteira 2008/2009.

Além do contexto organizacional, aplicou-se o instrumento no Balanço Contábil das Nações,

um relatório de âmbito global. Para Kassai et al. (2009) este relatório contábil é uma

prestação de contas à humanidade (accountability) sujeita à consciência de cada cidadão

planetário e a seus valores éticos e morais, o que requer ações economicamente viáveis,

socialmente justas, ambientalmente corretas e respeito às culturas e crenças locais. Destacam

que desta forma a Ciência Contábil não estaria limitada por aspectos normativos, auditorias e

tribunais de contas, mas à consciência de cada cidadão, valores estes implícitos nos conceitos

de equilíbrio e accountability.

O presente trabalho está estruturado em 6 itens, sendo o item 1 uma introdução e

contextualização do assunto a ser abordado; o item 2 descreve uma breve revisão nos

conceitos das mudanças organizacionais; o item 3 aborda uma breve análise do setor

sucroalcooleiro; o item 4 descreve a metodologia proposta para o desenvolvimento do

presente trabalho; item 5 apresenta os resultados obtidos do levantamento de dados e análise

realizada e finalmente, no item 6 constam as considerações finais.

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2. Mudanças no paradigma de Gestão Organizacional: abordagem integrada

Diante da necessidade de se obter e prestar informações das estratégias adotadas, para Dillard

et al. (2009) a gestão das organizações deve formular e implementar estratégias ambientais e

sistemas de informação que permitam sustentar tais estratégias, sendo os sistemas de gestão e

as informações contábeis um tipo particular de representação simbólica que contém o

conhecimento, facilitando o controle hierárquico.

No contexto atual das organizações, com as exigências dos grupos de interesses (stakeholders

financeiros e não financeiros) e com diferentes sistemas de gestão sendo implantados surge

uma nova necessidade: a integração dos sistemas em um único sistema, que Karapetrovic e

Casedésus (2009) denominam como Sistema Integrado de Gestão (SIG). Para os autores,

quando se trata de organizações com responsabilidades ambientais, a norma Internacional

Organization for Stardardization (ISO) 14001 não foi o único Sistema de Gestão a ser

implantado e destacam que os Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ), baseados

principalmente em normas ISO, como a ISO 9001, também têm sido bem sucedidos em sua

implantação.

Para Henri e Journeault (2009), considerando o desempenho econômico resultante de

melhorias no desempenho ambiental, os gestores devem estar conscientes da importância da

integração das questões ambientais nos sistemas de controle de gestão existentes e

denominam de eco-controle a aplicação de métodos de controle financeiro e estratégico no

gerenciamento ambiental.

Schaltegger e Burrit (2009) destacam que a procura de informações sobre os efeitos

econômicos das atividades ambientais e sociais contribui para impulsionar o desenvolvimento

de ferramentas de contabilidade para uso em práticas de sustentabilidade empresarial.

2.1 Gestão Contábil Integrada: abordagem ambiental

Para Mosimann e Fisch (2009) a contabilidade é o ramo do conhecimento que estuda

conceitos de identificação e acompanhamento no tempo do patrimônio das entidades expresso

monetariamente, ocupa-se com fatos relacionados com a atividade econômica do homem

limitada ao âmbito das entidades, deve ser preditiva e fornecer informações e não dados.

Cavalcanti et al. (2009) destacam que muitas empresas ainda não se adequaram ao real

conceito de sustentabilidade e ainda relutam em publicar de forma transparente informações

de cunho ambiental. O assunto merece destaque uma vez que as exigências mercadológicas

pressionam as empresas a serem transparentes na divulgação de suas informações econômicas

e ambientais.

Cordeiro e Chaves (2009) destacam a importância de a contabilidade assumir um papel de

alinhamento com as políticas de gestão ambiental e se envolver cada vez mais neste novo

contexto, para uma melhor e mais correta evidenciação dos dados socioambientais nas

Demonstrações e nos Relatórios divulgados pelas empresas.

Segundo Grzebieluckas et al. (2008), as questões ambientais aliadas aos custos, receitas e

benefícios, preocupam cidadãos, governos, dirigentes de empresas na maioria dos países em

todo o mundo, tais preocupações sinalizam que as empresas devem mudar sua postura em

relação ao meio ambiente e buscar estratégias para amenizar os impactos ambientais, reduzir

os custos ambientais, otimizar os processos produtivos, bem como encontrar alternativas de

ganhos ligados à preservação ambiental.

Para Fleischman e Schuele (2006) a Gestão Contábil ao assumir sua nova dimensão – a

abordagem ambiental - traz inovações para a visão dos profissionais envolvidos em seu

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contexto. Observou-se, de acordo com Ferreira (2009), que existem iniciativas ao redor do

mundo, como por exemplo: o Centre for Social and Environmental Accounting Research

(CSEAR), criado na Escócia em 1991 por Rob Gray; o Canadian Institute of Chartered

Accounts (CICA), o qual publicou em 1993 o relatório Environmental costs and liabilities:

accounting and financial reporting issues – research report.

No contexto mundial, como destaca Ribeiro (2005) encontra-se também: o Eco-Management

and Audit Scheme (EMAS), uma organização não governamental européia; a Global

Reporting Iniciative (GRI), um grupo internacional e independente fundado em 1998 com o

objetivo de desenvolver e disseminar diretrizes para a elaboração de relatórios de maneira

integrada sob os aspectos econômicos, ambientais e sociais.

Destaca-se também Prince’s Accounting for Sustainability Project (A4S ) instituído no ano de

2004 por Sua Alteza Real o Príncipe de Gales. O projeto possui o objetivo de construir um

consenso internacional da necessidade de relatórios integrados denominados Connected

Reporting. No ano de 2010 o A4S em conjunto com a Global Reporting Initiative (GRI)

anunciou a criação de um quadro globalmente aceito para a Contabilidade voltada à

sustentabilidade: o International Integrated Reporting Committee (IIRC).

Além das iniciativas realizadas no âmbito organizacional, de acordo com Kassai et al. (2009)

no Brasil os membros fundadores do Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente

(NECMA), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP),

desenvolveram em 2008 um estudo sob o título “Balanço das Nações – reflexões sobre as

mudanças climáticas globais”.

Conforme destacam os autores elaborou-se balanços contábeis de sete países (Brasil, Rússia,

Índia, China, EUA, Japão e Alemanha) e do planeta consolidado, com base nos cenários de

aquecimento global apontados nos relatórios do Intergovernamental Panel on Climate

Change (IPCC) 2008. A metodologia utilizada no trabalho do núcleo permitiu a mensuração

dos ativos, passivos e patrimônios líquidos ambientais em balanços individuais e consolidado

dos países.

As informações fornecidas pela contabilidade tradicional não contemplam aspectos

relacionados às externalidades geradas pelas práticas empresariais com relação aos

investimentos que visam à sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável atualmente possui

destaque na gestão das empresas e encontrar uma forma de associar a contabilidade

tradicional à gestão ambiental para se conhecer o desempenho ecológico das organizações é

um dos desafios do momento.

2.2 A sustentabilidade empresarial e os indicadores de desempenho empresarial

Luz (2009) destaca a crescente preocupação da sociedade e a urgência de se buscar o

equilíbrio entre desenvolvimento econômico, meio ambiente e justiça social e que os

mercados financeiros atentos a essa preocupação, buscando atender a demanda de uma

parcela crescente de investidores têm criado índices e fundos.

De acordo com este autor o pré-requisito para participação da empresa é ter uma atuação

diferenciada em termos de sustentabilidade empresarial e esse tipo de investimento é

conhecido como “Investimentos Socialmente Responsáveis (ISR)”. Para Camargos (2006) um

indicador considerado para a realização da análise de sustentabilidade empresarial é o Índice

Dow Jones de Sustentabilidade (Dow Jones Sustainability Indexes - DJSI), o qual foi criado

pelo mercado de capitais como meio de considerar a sustentabilidade como projeção para os

participantes de suas carteiras.

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Segundo Shingh et al. (2008), as empresas que operam em conformidade com os princípios

do desenvolvimento sustentável são listadas pelo DJSI e os critérios pelos quais são

identificadas e classificadas baseiam-se em cinco princípios de "sustentabilidade": tecnologia,

governança, acionistas, indústria e sociedade. Além do DJSI, outros índices foram criados na

área de investimento, avaliação e gerenciamento de ativos. A Tabela 1 abaixo apresenta um

resumo dos referidos índices.

Área Índices Local

Inv

esti

men

to,

Av

alia

ção e

Ger

enci

amen

to d

e A

tiv

o

Gerenciamento de Ativo Sustentável (SAM) Suíça

Sustentabilidade Dow Jones (grupo DJSGI) E.U.A.

Sustentabilidade Empresarial da Bovespa Brasil

Benchmarking E.U.A. refinarias de petróleo, o Fundo de Defesa Ambiental (EDF) E.U.A.

ECCO-CHECK Índice de Avaliação de Riscos Ambientais Ltd Reino Unido

Investor Responsibility Research Centre (IRRC) E.U.A.

Council on Economic Priorities (CEP) E.U.A.

Oeko Sar Fund, Bank Sarasin e Cie Suíça

Storebrand Scudder Environmental Value Fund Noruega

Innovest Strategic Advisors E.U.A.

Oekom Ambiente Avaliação Alemanha

Júpiter Income Trust Funds Reino Unido

Fonte: Adaptado de Shingh et al (2008)

Tabela 2 - Resumo dos criadores de índices na área de investimento, avaliação e gerenciamento de ativos

3. Breve análise do setor sucroalcooleiro

Freitas e Mendonça (2009) afirmam que o setor sucroalcooleiro do país se defronta com boas

perspectivas nos mercados mundiais de açúcar e de etanol, ambos se encontram em expansão,

a iniciativa privada local está atenta mostrando disposição para os desafios de um mercado

globalizado.

Destacando-se no contexto, São Paulo, o Estado de maior representatividade do setor que

segundo Nogueira e Soler (2008), é o Estado que tem estimulado a produção sustentável de

etanol por meio do respeito aos recursos naturais, controle da poluição, com responsabilidade

social e certificação do setor. Correndo o risco de perderem espaço no mercado mundial de

açúcar e etanol, as usinas precisam aliar a gestão empresarial de custos e menores preços ao

desenvolvimento social e à preservação do meio ambiente para manter a maior

competitividade do mundo.

3.1 Contexto Organizacional

Moraes (2007) salienta que o setor de açúcar e álcool nacional tem passado por profundas

alterações nos anos recentes, com impactos importantes sobre a organização setorial,

estratégias empresariais e sobre o mercado de trabalho, sendo que, desde 1999, o Estado

afastou-se consideravelmente deste setor. Atualmente os preços dos produtos são formados

em livre mercado, o que impôs um novo padrão de competitividade às usinas de açúcar e/ou

álcool, induzindo-as a buscar estratégias competitivas visando redução de custos e aumento de

competitividade para sobrevivência neste novo ambiente competitivo.

O produtor brasileiro de maior expressividade no que diz respeito ao cultivo da cana de açúcar

é o Estado de São Paulo. Nogueira e Soler (2008) destacam que o Estado possui datas

específicas para o fim das queimadas nas lavouras já existentes e nas áreas novas haverá

permissão somente de colheitas mecanizadas.

3.2 Contexto econômico

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O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2007)

apontou que o agronegócio sucroalcooleiro faturou, direta e indiretamente, cerca de R$ 40

bilhões por ano, o que correspondeu a aproximadamente 2,35% do PIB nacional, sendo

também, um dos setores que mais empregou no país, com a geração de mais de 3,6 milhões de

empregos, diretos e indiretos, reunindo mais de 72.000 agricultores.

Outros dados relevantes foram referentes ao potencial deste mercado, uma vez que

aproximadamente 50 mil empresas brasileiras sofreram o impacto do elevado volume de

capital destinado a investimentos, compra de equipamentos/insumos e contratação de serviços

por parte das usinas de açúcar e álcool, o que ultrapassou R$ 4 bilhões/ano. Em relação à

geração de impostos, confirmou-se a importância social do agronegócio sucroalcooleiro, pois

a cada ano recolheu mais de R$ 12 bilhões aos cofres públicos.

3.3 Contexto socioambiental

Nichols et al. (2008), salientam que a produção e uso do etanol derivado da cana-de-açúcar

como combustível é crescente em todo o mundo em resposta à economia, segurança, e as

preocupações ambientais. No Brasil o etanol é fabricado em larga escala a partir da cana de

açúcar, o que vem ao encontro da crescente demanda nacional e internacional da substituição

do combustível fóssil por uma fonte renovável, de qualidade e ecologicamente viável devido à

redução da emissão de gases nocivos ao meio ambiente.

Lins e Saavedra (2009), afirmam que características do país e do próprio ramo de atuação são

partes dos determinantes do contexto no qual se inserem os desafios de sustentabilidade do

setor e destacam como importantes características atuais da atividade sucroalcooleira

brasileira na agenda da sustentabilidade, os seguintes pontos: (i) a intensidade de uso de

recursos naturais e sociais; (ii) o diferencial competitivo brasileiro por condições climáticas e

pela experiência adquirida do setor; e (iii) o movimento de consolidação, expansão e entrada

de novos players no mercado.

No caso do Estado de São Paulo, há o Protocolo Agroambiental que estabelece uma série de

compromissos e diretivas técnicas relacionadas às indústrias sucroenergéticas. Uma delas

refere-se à antecipação legal do fim da colheita de cana com o uso de fogo até 2014 (para área

mecanizáveis) e 2017 (para áreas não mecanizáveis).

4. Métodos, fonte e coleta de dados

A presente pesquisa possui como escopo a elaboração e aplicação de um instrumento de

avaliação para analisar sob a ótica da Gestão Contábil Ambiental as informações constantes

nos relatórios econômico-financeiros das empresas do setor sucroalcooleiro paulista. Sendo

assim, ao aplicar o instrumento pretende-se encontrar resposta à seguinte questão: qual o

posicionamento e o grau de aderência do setor às práticas que subsidiam a Gestão Contábil

Ambiental?

Para tanto, a pesquisa possui caráter exploratório com procedimentos sistemáticos para

análise dos dados, uma vez que existem poucos ou inexistem trabalhos sobre tema e desta

forma pretende-se proporcionar uma visão global sobre a abordagem em questão com

precedentes para estudos futuros.

O instrumento de avaliação proposto foi elaborado tomando como referência a estruturação

proposta pela norma SAE J4000. A norma recebe a denominação de “Identificação e

mensuração de melhores práticas de uma operação enxuta em uma organização industrial”,

como destacam Satolo et al. (2007), sendo desenvolvida pela Society for Automotive

Engineers (SAE) em 1999.

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A norma SAE J4000 é composta por um conjunto de elementos divididos em áreas que

atingem empresa, clientes e fornecedores, lista os critérios pelos quais a manufatura enxuta

poderá ser alcançada, sempre enfocando na eliminação ou minimização de desperdícios

(SATOLO et al. 2007; NOGUEIRA e SAURIN 2006).

O prosseguimento do estudo se deu através da estrutura das contas apresentadas no Balanço

Patrimonial e classificadas como Contas Patrimoniais que representam os bens, direitos,

obrigações e o Patrimônio Líquido da entidade, agrupadas de acordo com o escopo das

normas brasileiras de contabilidade. Ressalta-se que os relatórios analisados se referem ao ano

calendário de 2009 que constam das publicações do ano de 2010 conforme legislação vigente.

De acordo com a legislação vigente, além de apresentarem os relatórios com o registro, a

evidenciação e a divulgações das contas patrimoniais, as entidades também possuem a

obrigatoriedade de realizarem a apuração do resultado ao final do exercício social. Para a

elaboração do instrumento de avaliação do grau de aderência à Gestão Contábil ambiental

realizou-se análise dos dados levantados nos relatórios contábeis: Balanço Patrimonial e

Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

Para Vallejo et al. (2003), traduzir ou adaptar testes e escalas de outros idiomas é muito

habitual, sendo que um caso distinto é quando os instrumentos em outros idiomas servem

simplesmente de modelo de inspiração para a construção de um novo instrumento. Segundo

os autores, quando se pensa em traduzir e adaptar um instrumento uma das primeiras

perguntas a serem feitas é: “é a melhor alternativa?”.

Após a construção do instrumento de avaliação do grau de aderência à abordagem da Gestão

Contábil Ambiental, para verificação de sua aplicabilidade e validação de sua estrutura o

primeiro passo foi realizar uma análise nos relatórios contábeis da usina considerada como a

maior em termos de produção mundial. Em seguida, após a validação do instrumento,

realizou-se a aplicação nas demais usinas de acordo com o objetivo proposto no presente

trabalho. Além das usinas, aplicou-se também em relatórios de empresas de outros setores da

economia e no Balanço Contábil das Nações.

A interpretação da escala de valores dos itens colaborou para definir o perfil quantitativo da

pesquisa que foi desenvolvido obedecendo a uma avaliação estatística descritiva, na qual se

determinou relações percentuais. A partir deste ponto elaborou-se o cálculo do grau de

aderência da empresa do setor sucroalcooleiro paulista no que diz respeito à abordagem da

Gestão Contábil Ambiental.

A análise dos resultados foi conduzida através do levantamento das práticas que subsidiam a

gestão organizacional voltada ao contexto socioambiental no setor sucroalcooleiro paulista,

bem como o levantamento dos demonstrativos contábeis divulgados. Nos demonstrativos

contábeis, foram analisadas as contas elencadas em seu escopo sob a ótica da Gestão Contábil

Ambiental, tendo em vista o instrumento de avaliação do grau de aderência proposto no

presente trabalho.

5. Resultados da elaboração e aplicação do instrumento de avaliação proposto

A elaboração do instrumento de avaliação deu-se com o objetivo de construir uma ferramenta

que possibilitasse quantificar o grau de aderência do setor sucroalcooleiro paulista com a

temática central da pesquisa. Utilizou-se assim como proposições para a construção da escala

as abordagens da Gestão Contábil Tradicional (GCT) e da Gestão Contábil Ambiental (GCA).

Para a elaboração do instrumento de avaliação do grau de aderência à Gestão Contábil

ambiental realizou-se análise dos dados levantados nos relatórios contábeis.

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5.1 A estrutura do instrumento proposto

A relevância da escolha do tema principal dos elementos foi devido à estrutura contábil a

partir das diretrizes da legislação e das normas do CFC em vigor. Para tanto, os grupos do

Ativo são os direitos e os grupos do Passivo são as obrigações na composição do Patrimônio

Líquido que na abordagem ambiental passa a ser: “Patrimônio Líquido Ambiental”.

No que diz respeito à DRE, a mesma possibilita conhecer o resultado da apuração de ganhos

ou perdas nas operações. Após a adaptação ao contexto da Gestão Contábil Ambiental, o

instrumento de avaliação elaborado neste estudo, apresentou a estrutura ilustrada no Quadro 1

a seguir.

Elemento Tema principal Número de componentes Peso

Elemento 1 Ativo Circulante e não Circulante 12 40 %

Elemento 2 Passivo Circulante e não Circulante 09 30 %

Elemento 3 Resultados de Exercícios Futuros 01 10 %

Elemento 4 Patrimônio Líquido 02

Elemento 5 Demonstração do Resultado do Exercício - DRE 05 20%

QUADRO 01 - Estrutura do instrumento de avaliação do grau de aderência à Gestão Contábil Ambiental

O Quadro 2 apresenta a escala de medição do nível de aderência considerando a Gestão

Contábil Ambiental.

Nível Pontuação Significado

0 0 O componente não está adequado à estrutura da Gestão Contábil Ambiental.

1 1 O componente está adequado à estrutura da Gestão Contábil Ambiental, mais ainda

existem inconsistências quanto a esta adequação.

2 2 O componente está satisfatoriamente adequado à estrutura da Gestão Contábil

Ambiental.

3 3 O componente está satisfatoriamente adequado à estrutura da Gestão Contábil

Ambiental e mostra uma tendência de aumento quanto a esta adequação.

QUADRO 2 - Escala de medição do nível de aderência considerando a Gestão Contábil Ambiental

5.2 Aplicação do instrumento de avaliação do grau de aderência

O resultado apurado mediante a aplicação do instrumento de avaliação, foi a partir da análise

de 90 usinas que possuem um canal de divulgação e dentre elas 32 usinas divulgam seus

relatórios econômicos e financeiros, os quais foram analisados pelo presente estudo. A

quantidade de usinas que divulgam relatórios representa 36% das usinas paulistas.

Para aplicação do instrumento de avaliação, realizou-se análise dos dados levantados nos

relatórios divulgados pelas usinas paulistas. Os relatórios analisados se referem ao ano

calendário de 2009 que constam das publicações do ano de 2010 conforme legislação vigente.

O instrumento foi aplicado também nas empresas brasileiras participantes do DJSI carteira

2008/2009

Além do contexto organizacional o instrumento foi aplicado no Balanço Contábil das Nações,

um estudo que apresenta cenários globais para 2020 e 2050. Como destacam Kassai et al.

(2008) o estudo utilizou para composição de sua base de dados países representantes do BRIC

(Brasil, Rússia, Índia, China) e países desenvolvidos da América, Europa e Ásia (EUA,

Alemanha e Japão). A representatividade da amostra segundo os autores é de 32% da área

emersa do planeta; 50% da população mundial; e 68% do PIB mundial.

Os autores destacam que a amostra envolve os principais blocos econômicos, como: União

Européia (UE); Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); Cooperação Econômica da Ásia e

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do Pacífico (APEC); Tratado Norte Americano de Livre Comércio (NAFTA); e Área Livre de

Comércio das Américas (ALCA).

5.3 Análise conjunta dos dados apurados com aplicação do instrumento de avaliação

A seguir são apresentados os resultados obtidos com a aplicação do instrumento de avaliação

no setor sucroalcooleiro paulista, bem como nas empresas brasileiras participantes da carteira

2008/2009 do DJSI e também no Balanço das Nações

5.3.1 Resultados da aplicação no setor sucroalcooleiro paulista

Com os resultados obtidos, apurou-se que havia um total de 167 usinas em funcionamento na

safra 2007/08 no estado de São Paulo, o que representou 45% das usinas em funcionamento

no Brasil. Apurou-se também que 90 usinas possuem site, ou seja, nas consultas realizadas na

web 54% das usinas paulistas em funcionamento na safra 2007/08 se utilizam deste meio de

comunicação. A Figura 1 ilustra o número de consultas realizadas, bem como aplicação do

instrumento.

FIGURA 1 –Quantidade de usinas avaliadas com aplicação do instrumento

Ressalta-se que na safra 2010/11, segundo a relação das usinas cadastradas no Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), posição em 30 de agosto de 2010, o estado

de São Paulo permaneceu com 45% de participação nacional com 196 usinas produtoras. No

entanto, a região centro sul passou de 76% para 66% de participação. As Figuras 15 e 16

ilustram os números referentes às usinas produtoras com destaque para a participação do

estado de São Paulo. O Quadro 3 a seguir, apresenta o resultado consolidado obtido a partir da

aplicação do instrumento de avaliação do grau de aderência à Gestão Contábil Ambiental

proposto no presente estudo em empresas do setor sucroalcooleiro paulista.

Elemento Peso Tema Principal Pontuação do elemento Grau de

Aderência %

Máxima Obtida

1 40% Ativo Circulante e não Circulante 36 36 0 0 0

2 30% Passivo Circulante e não Circulante 27 27 0 0 0

3 10%

Resultados Exercícios Futuros 3 9

0 0 0

4 Patrimônio Líquido 6 0

5 20% Demonstração do Resultado do Exercício 18 18 0 0 0

SOMA 90 90 0 0 0

QUADRO 3 - Resultados apurados no setor sucroalcooleiro paulista com a aplicação do instrumento de avaliação

Destaca-se que o resultado apurado mediante a aplicação do instrumento de avaliação

proposto na presente pesquisa é de que os relatórios contábeis obrigatórios apresentados pelas

usinas são preponderantemente na abordagem da Gestão Contábil Tradicional. A Figura 2

ilustra a pontuação obtida pelo setor em comparação com a pontuação máxima do elemento.

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FIGURA 2 – Comparativo da Pontuação obtida setor sucroalcooleiro paulista e Pontuação máxima do elemento

Portanto, o resultado do grau de aderência do setor sucroalcooleiro paulista foi “nulo”, ou

seja, o percentual do grau de aderência foi igual a “zero”, ilustração da Figura 3.

FIGURA 3 – Grau de aderência do setor sucroalcooleiro paulista à Abordagem Contábil Ambiental

5.3.2 A aplicação do instrumento de avaliação em outros setores da economia

Além do setor sucroalcooleiro paulista, o instrumento de avaliação proposto no presente

estudo foi aplicado em empresas de diversos setores da economia. Para tanto, foram avaliadas

as empresas brasileiras participantes da carteira 2008/2009 do DJSI devido à relevância deste

índice no cenário econômico mundial. O Quadro 4 a seguir ilustra o resultado consolidado

obtido a partir da aplicação do instrumento de avaliação nas empresas brasileiras participantes

do DJSI.

Elemento Peso Tema Principal Pontuação do elemento Grau de

Aderência %

Máxima Obtida

1 40% Ativo Circulante e não Circulante 36 36 0 0 0

2 30% Passivo Circulante e não Circulante 27 27 0 0 0

3 10%

Resultados Exercícios Futuros 3 9

0 0 0

4 Patrimônio Líquido 6 0

5 20% Demonstração do Resultado do Exercício 18 18 0 0 0

SOMA 90 90 0 0 0

QUADRO 4 - Resultados apurados com a aplicação do instrumento de avaliação em outros setores da economia

O Quadro 5 apresenta os setores nos quais o instrumento foi aplicado, bem como o resultado

da abordagem contábil adotada pelos mesmos. Como resultado foi apurado que apesar das

empresas participarem do referido índice e apresentarem o relatório anual de sustentabilidade,

seus demonstrativos foram avaliados como “preponderantemente tradicional”, uma vez que o

percentual do grau de aderência foi igual a “zero”.

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Setor DJSI Abordagem Contábil

Bancos Sim Preponderantemente tradicional

Financeiro Sim Preponderantemente tradicional

Petróleo e Gás Sim Preponderantemente tradicional

Recursos Básicos Sim Preponderantemente tradicional

Utilitários Sim Preponderantemente tradicional

QUADRO 5 – Resultados da abordagem contábil referente à aplicação do instrumento de avaliação em outros setores da economia.

5.3.3 A aplicação do instrumento em relatórios de contexto global: Balanço das Nações

O instrumento de avaliação elaborado no presente estudo, também foi aplicado fora do

contexto organizacional. Para tanto foi aplicado nos relatórios elaborados a partir do estudo da

USP denominado de “Balanço das Nações” o qual apresentou cenários para 2020 e 2050. Os

cenários foram apresentados em balanços contábeis elaborados para cada país e em balanço

consolidado.

De acordo com instrumento de avaliação o resultado obtido no “Balanço das Nações”

consolidado apresenta um grau de aderência de 23,33% à abordagem da Gestão Contábil

Ambiental. O Quadro 6 a seguir ilustra o resultado obtido a partir da aplicação do instrumento

de avaliação no “Balanço das Nações” consolidado.

Em um segundo momento, o instrumento de avaliação foi aplicado no Balanço das Nações

consolidado dos países considerados como “Monster Countries” ou “Países Monstros”,

também elaborado pelo grupo de pesquisadores da USP do Núcleo de Estudos em

Contabilidade e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (NECMA/USP). O grau de

aderência obtido para os “Monster Countries” também foi de 23,33% a partir da aplicação do

instrumento de avaliação, como pode ser observado no Quadro 7.

Elemento

Peso Tema Principal Pontuação do elemento Grau de

Aderência %

Máxima Obtida

1 40% Ativo Circulante e não Circulante 36 36 6 6 6,67

2 30% Passivo Circulante e não Circulante 27 27 6 6 6,67

3 10%

Resultados Exercícios Futuros 3 9

3 6 6,67

4 Patrimônio Líquido 6 3

5 20% Demonstração do Resultado do Exercício 18 18 3 3 3,33

SOMA 90 90 21 21 23,33

QUADRO 6 - Resultados apurados com a aplicação do instrumento de avaliação no “Balanço das Nações” consolidado

Elemento Peso Tema Principal Pontuação do elemento Grau de

Aderência %

Máxima Obtida

1 40% Ativo Circulante e não Circulante 36 36 6 6 6,67

2 30% Passivo Circulante e não Circulante 27 27 6 6 6,67

3 10%

Resultados Exercícios Futuros 3 9

3 6 6,67

4 Patrimônio Líquido 6 3

5 20% Demonstração do Resultado do Exercício 18 18 3 3 3,33

SOMA 90 90 21 21 23,33

QUADRO 7 - Resultados apurados com a aplicação do instrumento de avaliação no “Balanço das Nações” consolidado dos países considerados “Monster Countries”

Ressalta-se que a pontuação foi obtida a partir dos constructos do modelo do referido balanço,

no entanto, pode-se inferir pela metodologia de desenvolvimento do mesmo que apesar do

resultado ser de aproximadamente 25%, a abordagem contábil apresentada pelos relatórios,

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sob um ponto de vista analítico, é “preponderantemente ambiental”. O Quadro 8 abaixo

apresenta a abordagem contábil a partir da análise realizada.

Países Relatório

avaliado

Abordagem Contábil

Balanço de cada país Balanço consolidado

Membros do BRIC e

países desenvolvidos da

América, Europa e Ásia

Balanço das

Nações

Preponderantemente

ambiental

Preponderantemente

ambiental

Monster Countries Balanço das

Nações

Preponderantemente

ambiental

Preponderantemente

ambiental

QUADRO 8 – Abordagem Contábil do “Balanço das Nações”.

6 – Considerações Finais

Com a condução da presente pesquisa, apurou-se que o tema proposto possui relevância, uma

vez que existem iniciativas no Brasil e ao redor do mundo no que diz respeito ao

desenvolvimento de ferramentas contábeis que possam fornecer subsídios à tomada de

decisões. Os trabalhos desenvolvidos sob os aspectos da Gestão Contábil Ambiental têm

como ponto de partida o pressuposto do TBL ou o Tripé da Sustentabilidade que por sua vez

possui como objetivo a integração das dimensões econômica, ambiental e social.

Como aspecto limitativo aponta-se que os relatórios obrigatórios divulgados pelas empresas

apresentam grau de aderência “nulo”, ou seja, igual a zero apesar de práticas e programas

socioambientais serem divulgados.

A análise dos aspectos e das práticas que norteiam o desenvolvimento sustentável foi sob o

ponto de vista da Contabilidade Ambiental. Aspectos considerados importantes para as

empresas atingirem novos patamares de gestão contábil, possibilitando a apresentação de

relatórios em uma linguagem acessível aos seus usuários e permanecerem competitivas e

lucrativas em seus mercados de atuação.

No que diz respeito aos relatórios econômico-financeiros divulgados pelo setor, a pretensão

foi de verificar se as práticas relacionadas ao contexto socioambiental e divulgadas

publicamente foram evidenciadas nos relatórios analisados.

Diante deste contexto, como pode ser constatado, foi possível a elaboração do instrumento de

avaliação e também dimensionar sua aplicabilidade nos relatórios divulgados. Com os

resultados obtidos e demonstrados por este trabalho, foram atendidas as questões referentes

aos objetivos propostos e aos aspectos metodológicos desta pesquisa

Ressalta-se que no Brasil e ao redor do mundo ainda não há leis específicas ou normas

contábeis que façam exigências quanto a elaboração e apresentação de relatórios contábeis na

abordagem da Gestão Contábil Ambiental. Entretanto, após a realização do presente estudo,

destaca-se que há uma necessidade emergente de se traduzir as práticas socioambientais em

linguagem de negócios para atender os grupos de interesses financeiros e não financeiros.

Relatórios estes que possam contemplar principalmente as externalidades geradas pelo

processo produtivo atual e que possam apurar os resultados para as futuras gerações.

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