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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE Gestão da informação tecnológica desenvolvida na parceria universidade – empresa Francisco Carlos da Costa Barros Rio de Janeiro, RJ, julho de 2001 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE

Gestão da informação tecnológica desenvolvida na parceria universidade – empresa

Francisco Carlos da Costa Barros

Rio de Janeiro, RJ, julho de 2001 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE

Gestão da informação tecnológica desenvolvida na parceria universidade – empresa

Francisco Carlos da Costa Barros Autor

Yasmin Maria R. M. da Costa Professora Orientadora

Rio de Janeiro, RJ, julho de 2001.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE

Gestão da informação tecnológica desenvolvida na parceria universidade – empresa

Francisco Carlos da Costa Barros

TRABALHO MONOGRÁFICO PRESENTADO COMO REQUESITO PARCIAL PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE.

Rio de Janeiro, RJ, julho de 2001

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Dedico à minha esposa Heloisa e aos meus filhos Igor e Saulo pelo incentivo e compreensão

nos momentos difíceis da elaboração desta monografia.

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Agradeço a Deus, a meu pai (in memorian) Adelino

e a minha mãe Elza.

Agradeço a todos que me ajudaram nesta caminhada.

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“Ensinar o que não se pode aprender: viver, conviver,...

Aprender o que não se pode ensinar: SER.”

(autor desconhecido)

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Resumo

O conhecimento nas organizações é um dos ativos mais importantes da empresa. O conhecimento pode ser disseminado com velocidade, porém, a atuação do profissional com experiência é fundamental para enfrentar os desafios do ambiente competitivo do mercado. A interação entre a universidade e a empresa tornou-se um dos fatores principais para o desenvolvimento e difusão da tecnologia para a produção mais eficiente e de menor custo comparado aos grandes investimentos envolvidos nas inovações.

Não se pode isolar dos avanços tecnológicos o papel das universidades na expansão das fronteiras da ciência, há uma sinergia das universidades com as empresas para interagirem e cumprir a parte que lhes cabe no processo da inovação. Na estratégia de gestão de uma pesquisa tecnológica é fundamental todo o envolvimento entre o técnico e os objetivos da empresa e uma definição clara e precisa destes objetivos.

Os sistemas cooperativos propõem um modelo conceitual de cooperação mútua, dinamismo ambiental e concepção de um sistema aberto de parceria entre as empresas para juntas alcançarem a excelência em qualidade no mercado.

A transferência de tecnologia difere da difusão de informação. Na

terceirização da tecnologia este processo de transferência é acompanhado de todo o interesse e a preocupação que a base de conhecimento seja absorvida de modo eficiente e eficaz. É um desafio a aprender e a conviver com a partilha do desenvolvimento tecnológico na terceirização das tarefas. A propriedade intelectual, embora protegida por regras e normas ainda não é um instrumento de barganha para o investimento e para as pesquisas inovadoras frente aos altos custos iniciais e de difícil contabilidade no custo do produto.

A gestão estratégica da informação tecnológica da parceria universidade-empresa exige o envolvimento e o amadurecimento dos parceiros, desenvolvimento de novos valores, de criar em sintonia com a objetividade recomendados pelas diretrizes tecnológicas.

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Sumário Resumo VI Sumário VII

Introdução 8 Capítulo 1 - A PROPRIEDADE INTELECTUAL, O CONHECIMENTO E A

RETENÇÃO DE TALENTOS NAS EMPRESAS 11 1.1 - Acesso à informação tecnológica 12 1.2 - Conceitos relacionados ao conhecimento 15 1.3 - O recurso Conhecimento 16 1.4 - O processo de desenvolvimento e inovação 18 1.5 - A transferência de tecnologia 19 1.6 - Identificando e classificando talentos 21 1.7 – Reflexões 23

Capítulo 2 - A GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DESENVOLVIDAS NA

PARCERIA UNIVERSIDADE-EMPRESA 24 2.1 - Relações nas UNIVERSIDADES e nas empresas 25 2.2 - Capacidade de colaboração entre UNIVERSIDADE – empresa 27 2.3- Estratégia de gestão 28 2.4- Planejamento Estratégico 30 2.5- Ação governamental na interação universidade-empresa 32 2.6 – Reflexões 35

Capítulo 3 – O DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA PODE SER

TERCEIRIZADO? 36 3.1 - Modelo de relacionamento 37 3.2 - Sistemas cooperativos de pesquisa tecnológica 39 3.3 – Intermediação: cientista e tecnólogo 40 3.4 – A terceirização da tecnologia 41 3.5 – A Propriedade Industrial 45 3.6 – Reflexões 46

Conclusão 49 Bibliografia 52

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Introdução

Para enfrentar e superar os desafios impostos pelo ambiente competitivo, a

interação entre a universidade e a empresa privada se tornou um dos fatores

principais para o desenvolvimento e difusão da tecnologia para a produção mais

eficiente e de menor custo. Uma das causas do retorno das empresas para buscar

o desenvolvimento e a excelência da tecnologia nas universidades é a escassez

de recursos financeiros e a política de redução de atividades que não estejam

focadas no negócio – bens produtivos - da empresa.

Atualmente, percebe-se que além das práticas atuais de administrar e gerir

os ativos físicos e financeiros, há uma consciência quase universal da

necessidade de gerir o conhecimento. Esta necessidade não nasceu nesta

década, é uma necessidade constante, que sempre existiu e que se torna mais

importante a partir da competição pela qualidade e menor custo.

Com o objetivo de explorar as formas de gerir este conhecimento, esta

monografia traça alguns paralelos para expor o problema da propriedade da

informação e do conhecimento tecnológico do setor produtivo. Este trabalho não

esgota o assunto, que é vasto e tem suas peculiaridades, mostra a visão do autor

que tem vivência de alguns anos na área de desenvolvimento de tecnologia.

O objetivo da monografia é investigar as formas de gestão para a tecnologia

desenvolvida em parceria universidade-empresa, preservando o cerne da

tecnologia do processo produtivo. Analisar alguns modelos mais significativos de

gestão e sinalizar alguns critérios que podem melhorar a avaliação e

implementação desta parceria.

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As hipóteses discutidas na monografia, mostram que há elos e conflitos na

gestão do conhecimento quando a tecnologia é desenvolvida pelas universidades

e aplicadas nas empresas sem que haja uma definição precisa da propriedade da

informação.

Os resultados da parceria universidade-empresa podem ser benéficos se

houver uma gestão bem definida e controlada por parte das empresas que visam

o maior retorno no investimento e no menor espaço de tempo, evitando que o

academicismo das universidades se perca dos objetivos iniciais.

Face ao estágio de reorganização da economia nacional, devido as grandes

mudanças políticas ocorridas nesta década, o Brasil não consolidou uma política

de gestão do conhecimento como instrumento de desenvolvimento, ainda

prevalece, a importação do conhecimento através das “fábricas” e produtos que

fazem parte dos acordos da globalização.

No desenvolvimento desta monografia, estão discutidas algumas teses

sobre a gestão do conhecimento e da gestão da produção de tecnologia que são

expostas nos livros: “Administração em Ciência e Tecnologia”, organizado por

Marcovitch(8) em 1983, “Acesso à informação estratégica para a competitividade”

escrito por Maurício Frota e Maria Helena Frota(6) e publicado em 1994, que ainda

continuam atuais na busca pela excelência na gestão da pesquisa e

desenvolvimento, e “Gestão do Conhecimento: o grande desafio empresarial” de

José C.C.Terra(13).

O conhecimento, quando é gerado pelas universidades, discute-se se

pertence ao pesquisador ou é propriedade das universidades. Cabe a

universidade o papel de inovar e manter e gerar o conhecimento preservando a

evolução da ciência. Porém, se esta universidade é contratada para aprimorar

técnicas específicas de uma determinada empresa, estará exercendo seu papel

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institucional na sociedade que busca a evolução da ciência para atingir a

excelência, porém de forma direcionada e exclusiva. Como responder: “Se o

incremento deste conhecimento for divulgado para o ambiente científico, como

estará preservado o direito de propriedade da empresa?”. A resposta parece

simples: há mecanismos como as patentes industriais, porém estas não são

completas e nem controlam o conhecimento do pesquisador.

Na monografia há uma reflexão sobre os mecanismos de adquirir o

conhecimento, a ciência como produto e sobre a questão da informação produzida

nas universidades e que é gerida pelas empresas, como um produto ou uma

parcela do balanço patrimonial das empresas.

Para consolidar os conceitos e práticas atuais foram utilizadas a pesquisa

bibliográfica e entrevistas com os técnicos de empresas que administram os

contratos de parceria com universidades e de serviços técnicos.

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Capítulo 1

A PROPRIEDADE INTELECTUAL, O CONHECIMENTO E A RETENÇÃO DE

TALENTOS NAS EMPRESAS

No momento atual, as organizações estão passando por uma situação

inesperada que está causando uma reviravolta na administração das empresas.

As novas regras, determinadas pelo governo, que modificam as aposentadorias e

os fundos de pensão, estão provocando o aumento do número de pedido de

aposentadoria precoce de muitos profissionais que ocupam cargos estratégicos

nas empresas, que são os profissionais com idade mais elevada.

Poucas empresas possuem um programa eficiente para garantir a sucessão

e proteção de seus talentos estratégicos contra as ofertas tentadoras do mercado

ou as ações inesperadas do ambiente externo. Mas esta situação pode ser tratada

com uma gerência mais efetiva passando por um processo de mudança nas

relações de trabalho. Este processo pode ser benéfico para oxigenar a empresa e

renovar seus quadros ou pode perder produtividade ou afetar a continuidade do

seu desenvolvimento, dependendo de como estas empresas se preparam para a

reposição dos recursos humanos.

Nessa etapa da evolução da civilização industrial, considerando o momento

globalizado que estamos vivendo, torna-se crucial garantir a continuidade e a

dinâmica entre produção e conhecimento científico especializado que está na

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atuação estratégica destes talentos. É importante que a empresa tenha um

programa eficiente de sucessão e substituição destes talentos para que preencha

a lacuna que estes profissionais possam deixar.

Várias organizações têm-se dedicado a pensar sobre como gerir e manter o

conhecimento destes talentos sem que haja uma perda de continuidade e

produtividade quando estes saem da empresa. Várias perspectivas se

apresentam: gestão de pessoas, tecnologia da informação, organização do

trabalho, gestão da tecnologia e da inovação e outras. Em particular, a

universidade está se mostrando como a melhor das opções para uma parceria,

visto que é uma instituição com experiência milenar no trato do conhecimento sob

várias perspectivas: preservação, inovação e utilização do conhecimento.

O conhecimento nas organizações é o ativo mais importante, comparado ao

dos sistemas tradicionais de contabilidade, porém não aparece em balanços mas

é representado nos indicadores crescimento e rentabilidade. O conhecimento

pode ser disseminado com velocidade, que está extremamente facilitado com o

desenvolvimento da tecnologia da informação, porém a atuação do profissional

com experiência e vivência – entenda-se como o talento – é fundamental para o

bom uso deste conhecimento que é diferente de manipular a informação.

Um profissional pode ser bem informado na empresa e ter informações

privilegiadas, porém se não detém o conhecimento, sua atuação será limitada, e

porque não dizer medíocre.

1.1 - Acesso à informação tecnológica

Num ambiente caracterizado pelo crescimento e demanda em expansão

acelerada, o acesso à informação tecnológica e a adequação de infra-estrutura de

serviços constituem elementos de estratégia da competitividade da empresas.

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Deste ponto de vista, o sucesso de uma empresa depende de sua habilidade em

criar mecanismos pioneiros de mobilização de todos os recursos: capacitação

tecnológica instalada, métodos, patentes, conhecimento técnico e científico,

acesso à informação e etc..

Na discussão do acesso à informação tecnológica Frota(6) cita um estudo de

Morin que teoriza em “Le management des resssources technoloiques” sobre o

equacionamento da questão gerencial afirmando que:

“... esta questão não está dissociada dos processos de inovação tecnológica, conquista e globalização de mercados, facilitados pelo expressivo progresso de sistemas de comunicação que possibilitam o domínio e controle dos saberes de povos e organizações”.

Entenda-se que o domínio do saber está associado ao saber fazer e ter o

conhecimento da técnica para inovar e desenvolver suas próprias necessidades

sem ser dependente. O conhecimento é um bem que não é tangível, mas está

presente nos resultados da empresa seja pela performance da produção ou pela

aceitação dos produtos representados pelas vendas.

Em outra referência, Frota(6) cita que o estudo de Morin estrutura um

modelo de gestão dos recursos tecnológicos que considera a informação

tecnológica como um fator estratégico. Este modelo estrutura seis funções de

natureza estratégica: inventariar, avaliar, otimizar, enriquecer, observar e

salvaguardar o patrimônio tecnológico.

A compreensão destas funções dá a base de uma gestão efetiva sobre os

valores e talentos que compõem o segmento tecnológico que é de suma

importância na comunidade de interesse. A inter-relação entre estas funções

estabelece um caminho para alcançar o objetivo e avaliar os resultados, sem

esquecer que todo o processo de gestão tem implicações diretas na otimização

dos resultados.

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Na busca de conhecimentos técnicos para suprir as necessidades

tecnológicas no ritmo e nas proporções demandadas pelo crescimento econômico

e pela competitividade, as principais instituições de ensino, universidades e

centros de pesquisas estão se dedicando à formação de recursos humanos e à

produção de conhecimentos científicos aplicados incentivados pelas empresas

que não se dedicam ao desenvolvimento de tecnologia, porém é a usuária deste

desenvolvimento para fazer a diferença nos resultados.

Empresas públicas e órgãos do governo, com função de coordenação,

financiamento e apoio às atividades científicas, estão envolvidas no processo de

viabilizar uma política nacional de ciência e tecnologia estabelecida no país. Estas

empresas têm o papel de propulsores das instituições de pesquisa, que para

atenderem a uma diversidade de interesses, promove uma sólida infra-estrutura

de pesquisa que reverte no aumento da competitividade dos produtos nacionais.

Entre as instituições do governo que atuam na área de ciência e tecnologia

podemos citar o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico, Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, e outras. Há também

instituições que vinculadas às Forças Armadas como o ITA – Instituto Tecnológico

de Aeronáutica, IME – Instituto Militar do Exército e etc. que atuam na pesquisa do

conhecimento na área de defesa em parceria com empresas nacionais. Não é

objeto desta monografia explicitar as instituições de pesquisa, apenas registramos

que há um número expressivo e que o conhecimento pode ser acessado por

várias fontes, desde a associação entre empresas até a compra da tecnologia.

O modelo de adquirir ou desenvolver o conhecimento depende de vários

aspectos relevantes da estrutura produtiva e da interação de seus segmentos

combinados com interesses governamentais e empresariais na disputa de

posições no mercado ou para manter liderança. Há setores que adotam um

modelo baseado na “cópia” de suas matrizes internacionais, que dependendo da

gestão desenvolvem os periféricos para atenderem ao mercado nacional. Embora

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não seja o modelo ideal, este ocupa um pequeno espaço no desenvolvimento,

diferente das empresas rígidas que só “montam” o produto final.

O modelo de associação entre empresas, joint-ventures, dependentes da

necessidade de adaptação do uso da matéria-prima, maquinário ou produtos

finais, propicia um desenvolvimento sustentado mais efetivo que se atuassem de

forma independente. Este modelo de gestão foi muito comum na década de 60 e

70 onde o Brasil teve uma grande expansão industrial. Uma característica positiva

deste tipo de gestão é o desenvolvimento acelerado, porém a característica

negativa é a especificidade e a dependência entre as empresas.

O modelo caracterizado pela venda ou licença da tecnologia é

predominante em alguns segmentos da indústria. Este modelo é uma

característica da dominação que a empresa líder tem sobre suas associadas e

uma forma de controlar os possíveis desenvolvimentos que a necessidade exige

para solucionar os problemas operacionais.

1.2 - Conceitos relacionados ao conhecimento

Em um determinado ambiente, as informações podem ser definidas como

um conjunto de dados providos de significado dentro de um contexto e descritos

como registros estruturados de um acontecimento. A informação pode ser descrita

como um termo que permite a tomada de decisão e execução de uma ação devido

ao significado que esta informação tem para aquela empresa, há outros conceitos

e definições para o contexto empresarial.

O conhecimento deriva da informação. O conhecimento é gerado a partir de

um conjunto de informações obtidas externamente a ele com o conhecimento

existentes em seu cérebro, conforme citado por Korowajczuk et alli(7). Muito se tem

estudado, pesquisado e escrito sobre o conhecimento, aprendizagem e

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criatividade e a relação entre elas que é fundamental na etapa da inovação no

processo produtivo. O conhecimento pode estar incorporado em pessoas já

capacitadas, é o conhecimento tático, ou estar descrito de alguma forma que

possa ser localizado e utilizado por qualquer pessoa, é o conhecimento explícito.

Um outro conceito sobre o conhecimento tácito é citado por Terra, J.C.(13) a

partir de uma frase do filósofo Polanyi interpretando-a como “que muito do que

sabemos não pode ser verbalizado ou escrito em palavras”. O conhecimento tácito

envolve uma relação entre o conhecimento específico – executar uma ação – e o

outro que temos consciência conforme ele serve ao anterior. O conhecimento

tácito tem sido associado ao processo de inovação visto que está associado a

identificação e a solução de problemas, a predição e a antecipação.

O conhecimento nas empresas é criado por meio da interação do

conhecimento tácito com o explícito, cujo processo é chamado de conversão do

conhecimento empresarial. Stewart(11) apresenta a percepção que há entre o

indivíduo e o conhecimento e é sintetizado por Korowajczuk et alli(7) :

Conhecimento Existente Não Existente

Percebido

Explícito

Indivíduo sabe que tem

Lacunas conhecidas

Indivíduo sabe que não tem

Não Percebido

Tácito

Indivíduo não sabe que tem

Lacunas desconhecidas

Indivíduo não sabe que não tem

1.3 - O recurso Conhecimento

A valorização do Capital Humano ocorre quando a empresa investe nas

habilidades e competências de seus funcionários desenvolvendo talentos

comprometidos com os resultados e participando deles também. Conforme

comentado, há uma mudança de paradigma na nova economia em relação ao que

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se postulava na década de 80, há uma inversão na valoração em relação ao

funcionário e o cliente. Hoje na escala de preferência a prioridade maior é o

funcionário-talento, aquele que agrega valor. Michael Porter descarta a dúvida:

“não há como agregar valor da empresa para o cliente (nem agregar valor do

cliente para a empresa) sem a participação do pessoal”.

Em recente artigo Joelmir Beting(2) escreve que a empresa de consultoria

Arthur Andersen constatou em pesquisa em mais de dez mil empresas com ações

na bolsa, que de 1978 a 1998, os ativos físicos declinaram de 95% para 28% do

valor de mercado. E os ativos intangíveis, na mesma medida, saltaram de 5% para

82%, entre eles: pessoal, clientela, fornecedores, logística, mercado, marca e etc..

Grande parte das empresas do setor industrial ou serviços, privadas ou

estatais está estruturada nos conceitos antigos da burocracia de Weber, ou seja

da cadeia hierárquica de comando, de especialização por funções, políticas

uniformes e impessoais cobrindo direitos e deveres e promoções baseadas na

competência técnica e relações interpessoais. Tais princípios foram importantes

para a consolidação do capitalismo e responsáveis por importantes ganhos de

eficiência nas empresas.

No processo de transformação das organizações há uma necessidade de

quebrar alguns paradigmas conservadores e modificar padrões culturais e

comportamentais. Este processo de transformação deve ser lento e bem

estruturado de forma que as gerências passem credibilidade no processo e que os

objetivos sejam bem definidos para que todos os funcionários vejam de maneira

clara todo o desenrolar das mudanças. É um desafio permanente para as

empresas a procura de novos estilos de administrar e valorizar o capital humano

para reter em seus quadros os talentos que detêm o conhecimento tácito da sua

técnica ou do seu fazer.

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O desenvolvimento tecnológico obriga um novo aprendizado a cada

momento e de maneira bastante incerta e descontínua, isto é, não há uma forma

perfeita e estruturada capaz de ensinar ao indivíduo tudo o que ele terá que saber

por toda a sua vida profissional. A cada momento há a necessidade de se estar

em contato com o novo com o que se está produzindo criando o conhecimento

tácito e fazendo o conhecimento explícito da empresa, é o processo de auto-

aprendizado. A capacidade criativa é estimulada a partir de treinamento e

participação na definição das atividades produtivas através do compartilhamento

de idéias e do conhecimento por meio de contatos informais a fim de compreender

as relações complexas de um permanente processo de reformulação dos modelos

pré-estabelecidos.

1.4 - O processo de desenvolvimento e inovação

A literatura está repleta de estudos teóricos, empíricos e relatos

experimentais sobre a busca de inovações e conhecimento nas diversas áreas

tecnológicas e de serviços. O processo de inovação não é um sistema ou uma

seqüência de procedimentos bem definidos. Há tentativas de identificar um

modelo conceitual bem definido, porém cada área tem suas próprias

peculiaridades e natureza errática como ocorrem as inovações na prática.

Um ponto chave para o sucesso do desenvolvimento ou da inovação é o

ambiente adequado estimulado por disponibilidade de informações técnico-

científicas, acesso a laboratórios de pesquisa e universidades e disponibilidade de

informações sobre o mercado. É importante a existência de um corpo técnico

qualificado na empresa como elemento de ligação com o meio para fins de

transferência de informações essenciais. Para a implementação da inovação há

sempre o risco e a incerteza do sucesso. Qualquer decisão empresarial é tomada

sob condições em que algum grau de incerteza está presente, são as variáveis

aleatórias das quais não se tem um domínio completo e que podem ter sua

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influência reduzida a partir do aumento do conhecimento da variância destas

variáveis. Métodos cada vez mais sofisticados de avaliação de projetos inovadores

estão sendo colocados no mercado.

O lucro é o objeto fundamental de uma empresa. Quando o empresário

investe em pesquisa e desenvolvimento - P&D – há uma expectativa que esta

ação resulte em um aumento de lucro associado à redução de custos e manter o

atendimento ao mercado atual com possíveis conquistas de novos mercados.

A citação de Teixeira(12) em seu artigo que o professor Freeman usou uma

classificação bastante pragmática para os diversos tipos de estratégias

empresariais para a inovação industrial, cujas idéias são resumidas da seguinte

forma: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente, tradicional e oportunista. A

importância deste estudo é entender que existe uma variedade de posturas frente

às incertezas da inovação e que cada uma tem característica que se adapta ao

mercado em que a empresa está inserida.

Não se pode isolar dos avanços tecnológicos o papel das universidades na

expansão das fronteiras da ciência: a ação dos técnicos de engenharia básica,

dos institutos de pesquisas, e etc. A existência de tal sinergia pode induzir as

empresas privadas a interagir e cumprir a parte que lhes cabe no processo da

inovação, pois a ciência tem valor limitado se não aplicada ao desenvolvimento

tecnológico.

Políticas governamentais podem favorecer este processo de inovação

através de provimento de recursos para a pesquisa básica conduzidas nas

universidades, proteção da invenção de da propriedade industrial através de leis,

favorecimento de linhas de financiamentos para as empresas que realizam P&D

ou que se disponham a explorar e incentivar as invenções e outras ações.

1.5 - A transferência de tecnologia

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Os países em desenvolvimento geralmente são carentes e dependentes de

tecnologia externa para sustentarem seu processo de desenvolvimento. Muitas

das vezes é estimulada a transferência de tecnologia para um melhor

aproveitamento da matéria–prima disponível no país ampliando o parque industrial

e propiciando o crescimento econômico. Mas este crescimento pode ter

conseqüências desastrosas caso não haja uma política bem definida para evitar a

dependência tecnológica.

A expressão “transferência de tecnologia” é aplicada para designar “o

deslocamento de um conjunto de conhecimentos e práticas tecnológicas de uma

entidade para outra, incluindo as diversas etapas componentes do processo”

conforme define Souza Neto(10) no seu trabalho sobre transferência de tecnologia.

A “transferência horizontal de tecnologia” corresponde além do know-kow,a fase

do know-why. A “transferência vertical de tecnologia” corresponde somente a

know-kow, a que ocorre entre instituições integradas verticalmente na economia.

Para negociar a compra da tecnologia é preciso ter capacidade de entendê-

la e absorvê-la, que a parte receptora tenha o conhecimento para analisar e

criticar as condições que a parte doadora está propondo. Sem o conhecimento

não há como criticar e avaliar a adequação da tecnologia, se esta é obsoleta ou se

é avançada demais para os padrões do país que pode gerar outras dependências

tecnológicas.

A visão integrada do conhecimento com o know-kow e o know-why é

essencial para o domínio da tecnologia. A dependência tecnológica é uma

preocupação para o governo visto que esta transferência do “fazer” acarreta

pagamentos de diversos títulos como licença para uso de marcas e patentes,

assistência técnica, e etc. provocando uma evasão de divisas que muitas das

vezes pode ser desastrosa para a balança comercial com sérias conseqüências

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para o país. Há também o lado político da questão como a subordinação aos

interesses estrangeiros.

Neste momento em que a globalização da economia e algumas barreiras

estão sendo quebradas, a preocupação política é minimizada pela facilidade de

ofertas de produtos no mercado. Mas não se descarta a preocupação com a parte

econômica que gera muitas dificuldades devido à mobilidade do capital externo

para o financiamento das empresas.

A criação de mecanismos de interface entre os institutos de pesquisa ou as

universidades e o ambiente, poderia dinamizar a interação necessária para

sincronizar a oferta tecnológica e as demandas do setor produtivo. As deficiências

que o mercado detecta devem ser explicitadas para as universidades para que

estas se capacitem e retornem com as soluções, seja de ordem tecnológica ou de

formação de especialistas.

A transferência de tecnologia traz na própria atividade um questionamento

que o sistema gerador de técnicas e inovações – a universidade - não está

atendendo as necessidades e carências tecnológicas das empresas. Há uma

necessidade de se articular com o empresariado e definir uma missão para as

universidades e centros de pesquisa que atendam a demanda tecnológica do país.

1.6 - Identificando e classificando talentos

Fazer uma lista dos recursos da empresa ou o balanço contábil não é uma

tarefa difícil. Quando é realizado o inventário da empresa, não se explicitam os

recursos intangíveis, somente os ativos físicos: dinheiro, ativos financeiros,

imóveis e equipamentos da produção. Alguns recursos intangíveis podem estar

incluídos, marcas e tecnologia, mas geralmente a valorização destes itens e

raramente tem seu verdadeiro valor explicitado. Os recursos humanos, na maioria

das vezes, não são contabilizados como ativos intangíveis. A experiência e a

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qualificação das diferentes categorias de empregados, muitas das vezes são as

causas do sucesso ou da excelência no demonstrativo das empresas.

O conjunto de recursos da empresa é que executam as tarefas produtivas e

assim estabelecem a vantagem competitiva. A identificação do sucesso de uma

empresa é fundamental para a sobrevivência e geralmente não se valoriza ou se

dá a devida importância para as qualificações dos empregados ou o banco de

idéias e muitas das vezes são os talentos que fazem a grande diferença. Muito se

gasta com recursos humanos, com cursos de atualização tecnológica ou

empresarial com os funcionários, mas não se pesquisa dentro da própria empresa

quais são as competências disponíveis e que podem estar em outras atividades.

Na literatura há vários artigos sobre gerenciamento estratégico citando que

a sustentação da vantagem competitiva depende de características de recursos e

das capacidades que a empresa tem de modificar o ambiente, interferindo a seu

favor através de seus talentos criando situações para que seus produtos tenham o

diferencial positivo.

A relação entre os profissionais altamente qualificados com a empresa tem

mudado o modo de trabalhar em algumas empresas que usam a parceria e o

trabalho de equipe para evitar que fiquem dependentes destes profissionais. E

quando o mercado sofre de escassez de profissionais qualificados é preciso

investir principalmente em reter estes talentos, pois é menos dispendioso para

empresa além do tempo necessário para a formação do especialista.

Empresas criam mecanismos para seduzir os profissionais mais

qualificados a fim de evitar que haja alguma perda para as concorrentes. Para o

gerenciamento destes profissionais há um certo grau de criatividade para retê-los

com a criação de incentivos tais como: plano de carreira, participação nos lucros e

resultados, bônus, remuneração flexível e etc.. O clima propício, o ambiente

agradável e os desafios fazem com que os funcionários tenham vontade de

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crescer e se desenvolver. A motivação e o desafio no trabalho são fundamentais

para reter os talentos.

Para as empresas de menor porte, o incentivo da participação nos lucros

está cada vez mais comum, pois é uma das formas da avaliar o que os

funcionários acrescentam à empresa. A criação de vínculos com o funcionário é

outra forma de reter o especialista através de cursos de extensão e pós-

graduação, cursos na área gerencial tipo MBA – Master Business Administration –

fazendo-o sentir parte importante da empresa.

A estratégia de investir nos talentos internos da empresa está em preservar

a sua capacidade cognitiva, a criatividade, a motivação individual, a capacidade de

trabalhar em grupo e manter o moral dos funcionários elevada, pois há um

reconhecimento do líder natural ou do talento entre os seus pares além de manter

o conhecimento tácito na empresa.

1.7 - Reflexões

Cada vez mais a necessidade de reter o conhecimento e o aprendizado na

empresa está indo ao encontro da otimização e aumento da eficiência do processo

produtivo para competir na globalização dos mercados. São nos convênios

universidade-empresa, institutos de pesquisa, compra de tecnologia,

desenvolvimento em conjunto, joint-ventures, e parcerias com clientes que este

aprendizado vai sendo incorporado aos ativos da empresa.

A crescente complexidade das inovações aumenta a incerteza quanto aos

resultados e a demanda envolvendo toda a empresa no compartilhamento dos

riscos. A formação de alianças permite às empresas manterem o alto nível de

flexibilidade e adquirirem apenas as competências de que necessitam

aumentando a sinergia entre elas.

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Em decorrência das tendências atuais, há uma relação direta entre o

conhecimento e criatividade dos seus funcionários, talentos, com a

competitividade das empresas.

O recrutamento de novos funcionários ou manter os talentos/especialistas é

a decisão de investimento mais importante de um gerente para cumprir o plano

estratégico, aumentar os ativos intangíveis e preservar o conhecimento tácito da

empresa.

Capítulo 2

A GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DESENVOLVIDAS NA PARCERIA

UNIVERSIDADE-EMPRESA

Preocupar-se com a disseminação de informações na empresa não é uma

prática nova e nem é muito fácil, visto que quem controla o direcionamento das

informações nem sempre tem formação suficiente para direcioná-las e chegar a

quem poderá utilizá-las da forma adequada.

A gestão do conhecimento pode não significar nada para muitos, mas

percebe-se que o conhecimento, por mais elementar que seja o conceito, está

presente em todas as ações do dia a dia. O conhecimento é mais que saber um

número de uma norma ou patente, envolve os insights, idéias, experiência pessoal

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e toda a capacidade de interpretar e interferir nas ações. E todo o conhecimento

não significa nada se este não estiver sendo aplicado na produção de bens.

Os interesses econômicos em jogo num mercado de grandes dimensões

estimulam a interferência nas pesquisas tecnológicas pelas empresas que

atualmente dominam o mercado. O modelo econômico adotado pelo governo

brasileiro, através das privatizações das empresas estatais tem estimulado a

entrada de empresas privadas no mercado para incrementar a competitividade

das existentes e propiciando produtos de qualidade. Mas observa-se que em

algumas áreas estes objetivos não têm sido alcançados provocando uma “fuga” de

divisas. Neste modelo de privatização não é possível fazer reserva de mercado e

impor regras, mesmo aos mercados de grande importância estratégica para o

país.

Com a privatização das empresas, que antes eram estatais e tinham

investimentos limitados frente à grande demanda de seus produtos, havia a

intenção de se trazer grandes indústrias com recursos financeiros suficientes para

investir e suprir o mercado e aumentar a oferta de mão de obra. As oportunidades

de colaboração entre as empresas e as escolas seriam inúmeras, visto que há a

necessidade de se adaptar a tecnologia para uso no país além de preparar a mão

de obra especializada para a operação da empresa, o fazer acontecer. Com isto, o

governo consegue certo direcionamento da pesquisa tecnológica nas escolas com

uma incipiente orientação para as vocações e competências que levam ao

crescimento e estabilização da oferta de mão de obra capacitada para o

desenvolvimento.

Há uma relação natural, ainda com alguma dificuldade, da empresa com a

universidade de procurar resolver os problemas técnicos e o inverso, a relação da

universidade com a empresa ainda está muito incipiente, mas já começa a

vislumbrar-se grandes progressos e superação das dificuldades iniciais do

pesquisador chegar às empresas.

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2.1 - Relações nas UNIVERSIDADES e nas empresas

O docente de uma universidade geralmente exerce as atividades de

transmitir informação aos alunos de graduação e pós-graduação, as atividades de

pesquisa de novos trabalhos que o capacite e desenvolva os novos caminhos da

ciência e administrar e programar a própria carreira e os recursos disponíveis para

as suas atividades como pesquisador.

Estas atividades estão completamente relacionadas com o

desenvolvimento da tecnologia e tudo estaria enquadrado se as verbas

disponíveis fossem as justas, e se o gestor das atividades de desenvolvimento e

administração reconhecessem que o fluxo tecnológico tem duas direções: a

capacitação do técnico e o envolvimento deste com a empresa.

Se uma empresa possui recursos e capacidade superiores aos de seus

concorrentes e adota uma estratégia que utiliza esses recursos de maneira eficaz,

ela poderá criar uma vantagem competitiva. Craig e Grant(4) citam que:

a capacidade de sustentação da vantagem competitiva depende de três principais recursos e capacidades: de durabilidade, de transferência e de reprodução,enquanto que a capacidade de a empresa obter lucro de sua capacidade competitiva depende da capacidade de apropriação desses retornos.

Avaliar as capacidades é uma tarefa difícil devido ao seu grau de

objetividade. Uma das sugestões para a avaliação é a técnica de benchmarking,

alinhada a análise do mercado que a empresa está inserida, fazendo um controle

rígido sobre a situação e avaliando a capacidade da vida útil (durabilidade) e de

inovação (transferência e reprodução) de seus produtos.

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As empresas enfrentam problemas diversos não somente na área de

produção (solucionando pequenos defeitos de máquinas, matéria prima, pessoal,

etc.), como também na área comercial (concorrência, produtos mais baratos, etc.)

e econômica (impostos, taxas de juros, etc.). Além destes, há o da evolução

natural da tecnologia e do mercado que exige um constante cuidado na

capacitação da empresa para enfrentar e superar os desafios; há uma forte e

crescente tendência de associarem os setores de pesquisa aos de produção,

planejamento e marketing para interagirem de forma eficaz.

Várias associações estão sendo feitas entre as empresas com objetivo de

reduzir os custos dos produtos aperfeiçoando os processos de produção e criando

novas opções de matéria-prima, capacitando seus funcionários através de vários

cursos, congressos, e seminários promovidos por entidades que congregam várias

empresas de mesma atuação no mercado, tais como SESI, SENAC, FIRJAN,

FIESP, SEBRAE e etc.. Há um notável progresso nestas atividades onde há um

compartilhamento de esforços para suprir as necessidades comuns, criando ações

estratégicas e políticas para enfrentar o mercado externo e a entrada de empresas

estrangeiras no país, porém sem perder de vista o diferencial de cada empresa.

A tendência atual é o predomínio da pesquisa de curto prazo e que atenda as

necessidades de forma rentável, segura e com a rapidez que o mercado exige. As

empresas brasileiras não estão suficientemente amadurecidas para se dedicarem

à pesquisa de longo prazo e substituir as tecnologias licenciadas por tecnologia

própria, apenas se investe na pesquisa de soluções de problemas típicos ou

adaptações.

2.2 - Capacidade de colaboração entre UNIVERSIDADE - empresa

No passado, ainda recente, havia uma grande falta de entrosamento entre

os técnicos das universidades e das empresas. Havia a suspeita de que de que o

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outro não tinha condições de atendê-lo nas suas necessidades. Havia um

desconhecimento recíproco nas suas capacidades e interesses com a realidade

vivida na empresa e na universidade, variando com o porte e com as

características tecnológicas da empresa.

Uma das maiores críticas da empresa à universidade era a não obediência

aos prazos estipulados que ficavam inviáveis a sua utilização ou na solução de

problemas imediatos. Outros fatores que dificultavam a interação entre as equipes

eram: hierarquia, estudo aprofundado e acadêmico das questões, a comunicação

das informações privilegiadas que poderiam ser negociadas ou divulgadas aos

concorrentes, diferenças na remuneração entre os técnicos envolvidos, e outros. A

alegação básica da empresa era a que a universidade se dedicava exclusivamente

a pesquisa acadêmica e teórica. Há exemplos de estudos teóricos do passado,

estudo da tecnologia do laser, da engenharia genética e etc., e que hoje que se

transformaram em produtos da indústria e há os que estão sendo desenvolvidos

nas universidades e que serão motivos de diferenciação tecnológica no futuro.

Algumas destas dificuldades já foram resolvidas e há grandes parcerias

entre a universidade e empresa que trabalham de forma profissional com visão de

desenvolvimento para atender as necessidades atuais da empresa com objetivos

claros de inovar e ser competitiva. As universidades estão se modernizando, nos

arrojados estudos de desenvolvimento tecnológico ou na busca de recursos para

financiar suas pesquisas. Há grandes parcerias entre as universidades e

empresas. E com a visão empresarial e prática, as empresas utilizam os talentos

disponíveis nas universidades, detentores de conhecimentos teóricos, a um custo

muito menor do que manter uma equipe de desenvolvimento para acompanhar a

evolução da tecnologia ou solucionar os problemas da produção.

2.3 – Estratégia de gestão

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O desenvolvimento da técnica e inovação é sempre perseguido e

acompanhado nos diferentes nichos de negócios como elemento diferenciador e

muitas vezes é definido de modo muito claro na missão da empresa que é tornar-

se líder de mercado.

As metas e objetivos da empresa estão definidos no plano estratégico da

empresa. E a implantação da estratégia de forma eficaz garante o sucesso se

estas forem bem definidas e com objetivos bem realistas com a situação da

empresa.

Uma análise não tão profunda sobre a administração, principalmente as

definidas por Taylor, e na visão da produção e produtividade alinhada a

informação desenvolveu-se a teoria da qualidade e a reengenharia de processo.

Frota(6) cita em seu livro que Davenport descreveu no livro Reengenharia de

Processos:

Os princípios da administração científica adotados por F.W.Taylor, e mais tarde incluídos nas disciplinas de engenharia industrial e da análise de sistemas, estão estreitamente ligados à reengenharia de processos, enfatizando muito a decomposição do trabalho, bem como se concentrando na avaliação e, por fim, no poder da tecnologia para capacitar a mudança de trabalho. Negligenciaram, porém, a mudança radical e o papel dos fatores humanos e organizacionais na motivação e no projeto do trabalho, enquanto a reengenharia de processos oferece a possibilidade de tornar novamente completos trabalhos que tenham se tornado fragmentados e especializados – de criar tarefas nas quais um trabalhador, com ajuda da tecnologia, monitora e age por toda a organização.

Davenport analisa e critica a política de gerenciamento e concentração de

poder, decompondo as etapas do trabalho e a não relevância da motivação do

homem na execução das tarefas. Na reengenharia de processos o trabalhador

tem a visão completa de todas as atividades e sua importância.

Na estratégia de gestão de uma pesquisa tecnológica é fundamental todo o

envolvimento entre o técnico e os objetivos da empresa, definidos de forma clara e

precisa, propiciando o conhecimento acerca do fenômeno ou de determinada

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situação. Todo o processo de desenvolvimento tecnológico tem que ser

harmônico, há uma coerência entre os fenômenos conhecidos e os que estão

sendo pesquisados. Não há uma segregação entre as informações, esta deve ser

contínua e global, atingir toda a equipe de interesse.

Outra etapa do processo é a sistematização. Embora não haja uma receita

para a formulação científica de um problema a ser estudado, há condições ótimas

para a definição dos problemas significativos:

- observação sistemática do objetivo em estudo,

- consulta e estudo da literatura existente,

- discussão com os talentos internos da área na empresa,

- formulação precisa das questões,

- direcionamento correto das questões sob análise.

Adotando uma estratégia de análise, como a explicitada acima, é então

iniciado o processo do planejamento estratégico a ser adotado. Sua definição

implicará em selecionar um caminho a seguir: desenvolver, “comprar a

tecnologia”, fazer parceria com outros (fornecedores, clientes, etc.) ou

simplesmente abandonar a hipótese original da pesquisa e trocar de produto.

2.4- Planejamento Estratégico

O processo de planejamento e acompanhamento de desenvolvimento das

tecnologias deve ser executado por técnicas que forneçam os insumos para o

planejamento estratégico e utilizam os produtos da pesquisa nas suas atividades.

O planejamento tático/operacional deve estar consoante com o estratégico da

empresa para não haver dispêndio de esforços.

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Em sintonia com o rigor e objetividade recomendados pela teoria, os

seguintes itens devem ser observados:

- proposição de conceitos e definições utilizados no trabalho;

- critérios e regras de categorização e codificação para um entendimento

entre as partes envolvidas;

- aspectos práticos relacionados à construção do instrumento para a coleta

de dados;

- definição do universo da pesquisa;

- sistemática de atribuição de responsabilidade pelas informações;

- formas de divulgação e atualização das informações;

- usos estratégicos para a informação tratada;

- avaliação e desmembramento do trabalho.

Adicionalmente aos itens específicos do planejamento estratégico para a

pesquisa, há uma proposição de macro-diretrizes para um sistema tecnológico,

adaptado da monografia de mestrado lato-sensu de Mattos(9):

- investir em tecnologia abordando todo o ciclo do produto (da matéria-

prima ao produto final entregue ao cliente);

- ampliar o domínio tecnológico na produção visando a redução de custos

de investimentos e operacionais;

- desenvolver tecnologia (em consórcio ou não) que permitam assegurar

a qualidade dos produtos como também a liderança no mercado;

- manter-se informado “up to date” de novas técnicas desenvolvidas pelos

concorrentes, intensificando a articulação com instituições externas e

universidades;

- garantir recursos para o desenvolvimento de tecnologias de caráter

inovatório para ser elemento diferenciador na concorrência;

- direcionar esforços de treinamento e capacitação técnica para

atenderem as necessidades expressas pelas diretrizes tecnológicas e

posturas estratégicas associadas;

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- preservar e desenvolver as competências (talentos) essenciais

relacionadas às necessidades da empresa;

- aperfeiçoar os mecanismos de avaliação e reconhecimento individual e

por equipes;

- adequar o corpo gerencial para os novos ambientes competitivos.

As macro-diretrizes acima descritas, são apenas referenciais e adaptáveis a

cada empresa e necessitando de um estudo mais profundo da adequabilidade

destas e de outras que porventura são mais pertinentes em virtude do ambiente

em que a empresa está inserida.

No planejamento tático/operacional das diretrizes estratégicas definidas

pela empresa para serem desenvolvidas em parceria com as universidades, há

todo um processo de priorização de tarefas e desdobramento de atividades. Neste

processo há uma análise de consistência, que considera a natureza da demanda

(desenvolvimento ou serviço técnico); linhas de pesquisa, possibilidade de

alternativas e recursos para a execução (parceria, recursos próprios,

financiamentos privados ou governamentais, etc.).

É importante salientar que todo este processo deve ser dinâmico, a cada

momento ser questionado quanto a sua coerência com a estratégia e atratividade

da empresa.

As empresas não devem perder de vista o alto grau de competitividade do

mercado. Portanto, o gerenciamento estratégico deve estar relacionado à

economicidade, à competitividade, à inovação e ao prazo de implantação dos

resultados. E com o fortalecimento da patrulha ambiental, o impacto ao meio

ambiente deve ser considerado como um fator de grande importância da

avaliação.

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2.5- Ação governamental na interação universidade-empresa

Com o objetivo de aumentar interação entre a universidade e a empresa

privada, e priorizando como um dos fatores principais para o desenvolvimento

científico e tecnológico de vários segmentos da economia, o governo federal criou

os “Fundos Setoriais”, subordinado ao Ministério de Cultura e Tecnologia,

aprovado pela Lei número 9478 de 1999. Uma das metas destes “Fundos” é

mobilizar a comunidade científica para direcionar as atividades de pesquisa,

desenvolvimento e qualificação de recursos humanos para os setores produtivos

do país, principalmente nos que há uma demanda tecnológica diferenciada e nos

de cunho social. Os “Fundos setoriais”, inicialmente, estão divididos em:

- Petróleo – CTPetro (Comitê Gestor do Petróleo)

- Energia elétrica

- Recursos hídricos

- Transportes terrestres

- Recursos minerais

- Universidade-empresa

- Espacial

- Infra-estrutura

A prioridade para efetivação do apoio da Finep para os estudos obedece a

alguns critérios: como a relevância da pesquisa para a economia, importância

estratégica do conhecimento e articulação com outras indústrias nacionais de

pesquisa, setor produtivo e com agentes sociais. A decisão das prioridades é

tomada a partir da experiência de cada um dos órgãos envolvidos e no retorno do

investimento, seja de importância econômica ou social, havendo um consenso,

chega-se à aplicação segura do recurso.

A liberação de recurso da Finep para os projetos cooperativos permite a

passagem do conhecimento das pesquisas das universidades para o setor

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produtivo (empresas) com qualificação da mão-de-obra e segurança de conclusão

dos trabalhos. Antes da criação deste “Fundos”, os projetos universitários não

podiam ser levados à frente, pois o Estado não fornecia recursos para a

concretização das pesquisas, havia uma insegurança por parte das universidades

quanto à liberação de verbas para a conclusão das pesquisas.

Dos “Fundos Setoriais”, o CTPetro tem um grande número de projetos

financiados com recursos provenientes dos royalties do petróleo coordenados pela

ANP (Agência Nacional do Petróleo). Os demais “Fundos” ainda não adquiriram

força devido a falta de um órgão ou departamento que incentive e busque

recursos para os programas da área.

Na mesma linha de absorver recursos da iniciativa privada, as

universidades criaram fundações e serviços de consultoria, que sob a sua

administração prestam serviços à comunidade e as empresas de pequeno porte –

micro e médias empresas - que não tem condições de investir e contratar

consultores. Através destes programas criam condições de trabalhos para seus

alunos de pós-graduação, que no momento estão se dedicando ao estudo da tese

de mestrado ou doutorado, auxiliando na prestação de serviços à comunidade.

Estas empresas têm o papel de viabilizar a interação entre a universidade e

as empresas de pequeno porte para atenderem a uma diversidade de questões –

sociais ou técnicas – promovendo uma sólida infra-estrutura de pesquisa que

reverte no aumento da competitividade dos produtos nacionais. Dentre as

universidades que implementaram estes serviços podemos citar como exemplos:

- a COPPE (Coordenação dos Programas de Pós-graduação de

Engenharia)/UFRJ que administra a INCUBADORA DE EMPRESAS,

que sob a supervisão da promove o desenvolvimento atuando

diretamente nas empresas. Há convênios com empresas como a

Petrobras, Telemar, Renault, etc.;

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- a UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) tem o

programa de Empresas Juniores, que desenvolve atividades na área de

Ciências Econômicas através de estudos e análises de situações

empresariais elaborando diagnósticos e propondo alternativas e/ou

soluções, formando a empresa MutiConsultoria/UFRRJ;

- a PUC/RJ (Pontifícia Universitária Católica do Rio de Janeiro) tem

programas de desenvolvimento na área social, empresarial e técnica,

administrados pelo diversos departamentos da universidade, com as

empresas; e outras.

Na área de ciência e tecnologia podemos citar o CNPq, Finep, e outras que

administram e financiam diversos programas de pós-graduação no país e no

exterior direcionados para a área do desenvolvimento tecnológico.

Estes exemplos não esgotam o assunto, apenas comentamos que há

espaços, e muitos, que viabilizam a interação entre as universidades e as

empresas na procura de soluções tecnológicas.

2.6 - Reflexões

Com a constante evolução do mercado, definição de sua missão e do plano

estratégico, as empresas tendem a estreitar as relações com as universidades

com o objetivo de atender as diretrizes tecnológicas.

Há a necessidade de desenvolver parcerias e alianças com universidades,

conforme sinaliza o governo com a criação dos Fundos Setoriais, através de uma

gestão estratégica bem definida e de diretrizes operacionais viáveis.

O processo de cooperação tende a ter mais sucesso e a durar mais quando

é acumulativo, ou seja, quando o grau de cooperação evolui gradualmente por um

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processo de conhecimento e aprendizado mútuo e uma evolução equivalente da

contribuição de cada empresa para a parceria com a universidade

A relevância estratégica e o mérito indiscutível da nova “ciência” de

planejamento e gestão dos recursos tecnológicos da empresas e organizações

são fundamentais para o sucesso empresarial e diferenciador no mercado

competitivo e globalizado.

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Capítulo 3

O DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA PODE SER TERCEIRIZADO?

Tem-se observado o aumento de empresas prestadoras de serviços e

consultorias na área de geração e adaptação de tecnologia. O aparecimento

destas empresas é sensível às variações da situação econômica e política,

nacional e internacional, bem como ao impacto que o conteúdo tecnológico

envolvido exercem sobre o mercado. O outro fator importante nesta questão é o

amadurecimento, o desaparecimento e o surgimento de novas técnicas

adequadas à nova realidade.

Há dificuldades inerentes a este processo: os talentos nas áreas técnicas,

como em qualquer outra, são reduzidos. Estes talentos, normalmente, estão

ligados a grandes empresas que os mantêm com incentivos como descritos no

capítulo1.

A prestação de serviços às empresas por profissionais ligados as

universidades tem sofrido algumas restrições por parte destas universidades

quanto a questão de administração de recursos, humanos ou econômicos, pois

estes profissionais tendem a ser absorvidos pelas empresas. As universidades

não têm autonomia suficiente para dispor de “incentivos” para reter os talentos.

Os produtos gerados nas cooperativas universidade-empresa são em

alguns casos de propriedade das empresas que firmaram um compromisso com

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universidades, seja por contrato, acordo de sigilo, ou outra forma de privilégio da

informação. Regulando toda estas atividades há o INPI – Instituto de Propriedade

Industrial - que através de leis, patentes e normas administram a propriedade

intelectual do país. Mas, cessado o trabalho conjunto com a empresa, como a

informação de propriedade da empresa será administrada por técnicos da

universidade? O desenvolvimento estará integrado ao conhecimento da

universidade que devido ao seu caráter universal terá a possibilidade de divulgar

nos meios acadêmicos. É uma preocupação das empresas que através de

acordos de sigilo se protegem da divulgação dos resultados dos trabalhos

conjuntos.

3.1 - Modelo de relacionamento

A interação entre a universidade–empresa poderia ser expressa como uma

relação direta: ação e reação, influenciando e sendo influenciada, gerida por um

ambiente externo, representado em alguns casos pelo governo, ou órgão definido

por este quando a universidade é pública, ou entidades financiadoras, ou

entidades geradoras do conhecimento (cursos de graduação, pós-graduação,

etc.). Uma outra forma de administrar esta relação universidade-empresa, é a

criação de órgãos de interface, tais como a Incubadora de Empresas

(COPPE/UFRJ), A Companhia de Desenvolvimento Tecnológico

(CODETEC/UNICAMP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, SP) e etc..

Em algumas instituições o modelo não funcionou tão bem. Há desvio de recursos

arrecadados para pagamento de docentes de departamentos desvinculados dos

trabalhos de pesquisa ou implantar melhorias nas instalações das universidades.

Também há vantagens: colaboração para a melhoria do relacionamento

universidade-empresa na geração de tecnologia, estímulo aos trabalhos de

consultoria que permitem que os docentes das universidades estejam atualizados

e em sintonia com as necessidades das empresas, como também o aprendizado

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mútuo sendo re-introduzido nas escolas atualizando os currículos e adequando-os

a realidade das empresas.

A convivência resultante de trabalhos realizados nas universidades, através

de técnicos/ professores, pertencentes ou não aos quadros da escola, permite

identificar o capital humano (talento) que poderá fazer a diferença na empresa.

Como vantagem inegável do contato do docente com a empresa está o

melhor conhecimento das necessidades desta, e do setor de atuação,

possibilitando a colaboração eficaz na criação de cursos de aperfeiçoamento

específicos ou até mesmo seu engajamento na tão necessária “’educação

continuada” dos profissionais ativos no setor.

Este modelo de administração direta por tarefas de serviços de consultoria,

conforme apresentado por Azevedo(1) em seu trabalho, não é adequado para

programas de grande porte e sugere a interveniência de um centro de pesquisas e

desenvolvimento dotado de recursos físicos e humanos próprios e que utilizam

esses mesmos recursos pertencentes às universidades e às empresas. Estes

tipos de contratos de consultoria, se não bem definidos e administrados, podem se

transformar em contratos de serviços técnicos sem o enfoque de desenvolvimento

tecnológico.

Como exemplo, a Petrobras, através de convênios com as universidades,

propicia o desenvolvimento de programas específicos. Um dos gestores destes

convênios, no âmbito da empresa Petrobras, é o CENPES – Centro de Pesquisas

e Desenvolvimento – que dinamiza os resultados entre os interessados, sem violar

procedimentos de mercado nem propiciar a competição desleal ou aética com

outras empresas fornecedoras de tecnologia. Ressalta-se que a Petrobras, por ser

uma empresa estatal, tem forte interesse em fomentar o desenvolvimento

tecnológico no país.

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A consultoria, individual ou coletiva, conforme Azevedo (1), é uma das

práticas mais almejadas pelos professores das universidades que envolvem

aspectos positivos e negativos, tais como:

- equalizam as condições de concorrência entre as várias

universidades/escolas quando geridos pelos órgãos de interface;

- partição de riscos (pesquisa básica) em assuntos de interesse

estratégicos que podem ser de alto potencial de utilização no futuro;

- competição com firmas experientes em tecnologia específica e com alto

grau de utilização de informações privilegiadas;

- menor tempo para produção acadêmica retardando o desenvolvimento

de técnicas que poderiam ajudar no avanço de novas formas no futuro;

- uso do tempo ocioso de suas instalações e equipamentos, favorecendo

um amadurecimento dos operadores deste, frente aos novos desafios;

- melhora no marketing da capacitação individual e coletiva dos docentes

destas universidades.

A relação universidade-empresa necessita inovar e buscar vencer os

desafios burocráticos, que não gera a criatividade, mas que seja adequada para o

desenvolvimento da tecnologia e do conhecimento, agregando uma forte

componente de inovação nos currículos e na formação dos novos talentos que

mais tarde serão incorporados às empresas.

3.2 - Sistemas cooperativos de pesquisa tecnológica

A questão do desenvolvimento de tecnologia em pequenas e médias

empresas é fundamental para a sobrevivência neste mundo competitivo. E como o

investimento é alto, a solução se apresenta através de sistemas cooperativos de

pesquisa tecnológica, nos quais, diversas empresas se uniriam para financiá-la e

desfrutar de seus resultados.

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Fleury(5) faz um histórico de sistemas cooperativos do século passado na

Europa até os dias atuais e propõe um modelo conceitual para o caso brasileiro:

- cooperação mútua;

- questão de escala, atingir uma escala adequada;

- dinamismo ambiental, concepção de um sistema aberto, sendo a

empresa visualizada como um constante intercâmbio com as empresas

das quais são clientes e fornecedoras para juntas alcançarem a

excelência em qualidade no mercado.

No final da década de 60, evidenciou-se que diferentes setores da

organização tendem a interagir com diferentes segmentos ambientais

desenvolvendo estruturas e processos internos e diferenciados. Evoluindo, hoje,

têm-se as empresas com a visão de horizontalidade, olhando a processo como um

todo e não as partes da produção - o que é feito (as etapas de fazer). A produção

é responsável pelo todo e não por atividade. A experiência mostra que o sucesso

de um sistema cooperativo de pesquisa tecnológica depende de uma estratégia de

ações e responsabilidades bem definidas, assim como o cronograma real das

etapas do processo produtivo da pesquisa.

3.3 – Intermediação: cientista e tecnólogo

O trabalho científico é divulgado amplamente, pode ter utilização universal e

seu uso não é condicionado à autorização de quem o gerou. E com o tempo, este

é incorporado ao patrimônio da humanidade com milhões de exemplos na área

tecnológica.

Tecnologia, por definição, é o conjunto de conhecimentos, especialmente

princípios científicos, que se aplicam e um determinado ramo de atividade. É

específico de uma produção ou serviço. O trabalho tecnológico, consolidado na

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forma de projeto de um novo produto ou processo, constitui-se em mercadoria de

alto valor de troca: representa um importante instrumento de dominação entre os

povos.

Na prática, a fronteira entre o trabalho científico e o tecnológico não é tão

clara. Há uma diferença na base do atendimento, o científico é direcionado para o

meio acadêmico e o tecnológico dialoga com a indústria. O primeiro não se limita a

solução do problema específico, quer a explicação teórica, o tecnológico se

preocupa com a solução e melhora da performance.

O controle sobre o conhecimento patenteado é apenas um dos indicadores

da situação de dependência tecnológica do país. Há também o controle de

licenças para a exploração de patentes, certificados de averbação de contratos

expedidos, registros de “compra” ou transferência de tecnologia, e etc. que

definem a maturidade do país em termos de tecnologia - seja na produção ou na

utilização nas empresas de mão de obra terceirizada para o atendimento

tecnológico.

3.4 – A terceirização da tecnologia

Pode-se dizer que há transferência de tecnologia quando um conhecimento

desenvolvido por uma pessoa, grupo ou instituição passou a ser usado por

outros. A transferência difere da difusão de informação sobre a tecnologia, uma

vez que, para que ela exista, é necessário que a tecnologia seja incorporada em

algum tipo de operação. Na terceirização da tecnologia este processo de

transferência é acompanhado de todo o interesse e a preocupação que a base de

conhecimento seja absorvida de modo eficiente e eficaz.

Em uma visão genérica, os principais tipos de empresas de terceirização de

desenvolvimento de tecnologia podem ser classificados:

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- empresas que trabalham por similaridade de operações unitárias da

indústria (com feedback);

- empresas que trabalham genericamente similares;

- empresas que trabalham com tecnologia intensiva para indústrias com

tecnologia menos intensiva;

- empresas que são “filiais” de empresas estrangeiras e que usam

recursos nacionais para repassar a tecnologia de outras.

Os institutos de pesquisas governamentais sabem qual a sua função social,

qual seja, a produção de tecnologia e transferência da mesma para a sociedade.

Camponar(3) cita que há as barreiras para serem vencidas e que são de grande

importância:

- barreiras estruturais: as instituições de P&D governamentais enfatiza o

próprio treinamento técnico e administrativo. Muitas indústrias não têm

recursos para investir e preferem adquirir tecnologia já existente e

testada. Outras indústrias têm acesso direto as matrizes internacionais

que financiam ou trazem a tecnologia.

- barreiras humanas: com os baixos salários pagos por algumas

instituições de ensino e com grande liberdade de trabalho, os docentes

de universidades, podendo escolher tópicos de pesquisa cujos

resultados são interessantes para a sua carreira individual, passam a se

dedicar a trabalhos de desenvolvimento tecnológico.

O conhecimento das organizações/empresas, individual ou coletivo, é seu

ativo mais importante, portanto as barreiras devem ser vencidas para que o

conhecimento tácito e o conhecimento explícito sejam socializados e

externalizados.

Com o desenvolvimento acelerado da tecnologia da informação e o

encurtamento das distâncias, esse processo de busca e disseminação do

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conhecimento ficou extremamente facilitado. Mas estas facilidades trazem a

necessidade de um gerenciamento maior por parte das empresas para aliar a

resultados.

O que mantém as pessoas ou grupos conectados são seus interesses

comuns de aprendizado e desenvolvimento. Na terceirização, principalmente as

empresas intensivas em conhecimento como as de consultoria, vêm estimulando o

desenvolvimento de redes de aprendizado que apontam ao novo modelo de

relacionamento que é o de compartilhamento de informações e destas

segmentando para a especificidade das questões.

O aprendizado com o ambiente, e em particular a articulação de alianças

com o ambiente representam um grande desafio em termos de gestão e de

inovação para preservar a confidencialidade da tecnologia. Terra(13) em seu livro

Gestão do Conhecimento explicita algumas razões para uma crescente

importância do aprendizado externo por meio de alianças (seja parceria ou

contratação direta de mão de obra):

- o processo de inovação requer a combinação crescente de diferentes

habilidades e conhecimentos complementares;

- crescente aparecimento de niche players focados em tecnologias ou

habilidades muito específicas;

- algumas tecnologias genéricas como informática, biotecnologia e novos

materiais que permeiam pelos vários setores da economia;

- avanços recentes da tecnologia da informação e comunicação reduzindo

os custos entre empresas;

- a crescente complexidade das inovações aumenta a incerteza dos

resultados e demanda uma maior experimentação e compartilhamento

dos riscos;

- constante redução do ciclo de vida dos produtos.

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A realização de parecerias entre as empresas e entre empresas e

universidades é tão importante que está afetando profundamente a gestão de

muitas empresas. Como exemplo, podemos citar o setor farmacêutico que faz

uma cadeia de parcerias movida pela revolução trazida pelos avanços da

biotecnologia, da engenharia genética e da informática. Outro exemplo é o modelo

japonês de cooperação empresarial em que os parceiros que entram na aliança

têm um claro objetivo estratégico de aprender as competências de outro parceiro.

E estudos têm mostrado que as principais características são:

- tanto o fornecedor e cliente assumem o lugar do outro, assim como

mantém equipes de manutenção dos acordos;

- presença de executivos nos conselhos de administração da outra

empresa;

- assistência técnica ou financeira para ajudar o desenvolvimento de

fornecedores.

Hoje é difundido e incentivado pelo governo do Japão o desenvolvimento

pela fusão tecnológica e inovação sistêmica que caracterizam-se pelo

desenvolvimento de inovações a partir de combinações de diferentes tecnologias

e/ou habilidades de diferentes empresas. Outro exemplo internacional é o da

MICROSOFT que através de múltiplas alianças, parcerias, contratos e acordos

desenvolve vários softs e detêm o domínio da tecnologia da informática.

O exemplo brasileiro de sucesso de parcerias é o da empresa Embraer, que

através de convênios, acordos de cooperação, desenvolvimento conjunto com

fornecedores e clientes nacionais e internacionais. Com os fornecedores de

tecnologias foram firmados vários contratos de risk sharing que envolveram aporte

de capital financeiro, transferência de tecnologia e de divisão de

responsabilidades. Outro exemplo é o caso da WEG, maior produtora de motores

elétricos do país, que através de parcerias com grandes empresas superou

desafios e recebeu vários prêmios de qualidade.

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Vários estudos têm mostrado que a maior parte das idéias para a inovação

se origina da sugestão de clientes. Por isso várias empresas de ponta estão

fazendo uso intensivo da informática para prever e antecipar necessidades dos

clientes criando parcerias e envolvimento com o produto.

3.5 – A Propriedade Industrial

Há no país um conjunto de normas e regras que visam a proteger a

produção intelectual garantindo aos titulares o resguardo de direitos e, inclusive os

benefícios que possam ser proporcionados. Constata-se que nem sempre os

titulares de tais produtos demonstram interesse e logram alcançar a proteção

através de patentes perante o INPI que regula os direitos e as obrigações relativos

à propriedade industrial.

A propriedade intelectual abrange tanto a propriedade industrial como o

direito de autor. Há várias seções na legislação que regula os diversos assuntos,

desde programas de computadores a lei de Biossegurança. Os tópicos abaixo da

propriedade Intelectual se referem às normativas específicas de cada segmento:

- propriedade intelectual;

- patente e desenho industrial;

- marcas e indicação geográfica;

- transferência de tecnologia;

- registro de programa de computador;

Os procedimentos legalmente estabelecidos podem construir um natural

embaraço a uma tramitação ágil de assuntos da espécie, pedidos mal formulados

que poderão agravar as dificuldades ou até impossibilitar o registro da patente ou

invenção, prejudicando o país ou a equipe que investiu na pesquisa de

desenvolvimento. O CNPq, através de sua assessoria jurídica, vem dando apoio e

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orientação necessários ao registro e acompanhamento e disciplinamento

contratual da pesquisa e do produto da inovação.

Há uma cartilha, divulgada na internet, no site(14) do INPI, onde são

discutidos e informados os 7 passos para obter a proteção da patente e registrar o

invento. É solicitado que antes da divulgação de qualquer detalhe do invento seja

discutido e informado com a assessoria jurídica do CNPq.

É assegurado na Constituição Federal aos autores o direito exclusivo de

utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros

pelo tempo que a lei fixar. Porém a lei no 9279 de 14/05/1996:

“A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao empregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais o empregado foi contratado.”- art. 88.

“O empregador, titular da patente, poderá conceder ao empregado, autor

do invento ou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econômicos resultantes da exploração da patente, mediante negociação com o interessado ou conforme disposto em norma da empresa.”- art. 89.

Os controles exercidos sobre os contratos de know-how, patentes e etc.

têm por objetivo de coibir práticas financeiras lesivas aos interesses nacionais e

ao proprietário da inovação conforme descrito acima no artigo 89. Uma pequena

modificação no processo produtivo pode representar uma economia ou lucros

fabulosos para a empresa, mas se esta modificação, que é um produto de um

conhecimento, muitas das vezes difícil de contabilizar, não for protegida e

recompensada não haverá estímulo ao desenvolvimento tecnológico. Por isso o

INPI tem um papel de grande importância na valoração e controle da aplicação do

conhecimento.

3.6 - Reflexões

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O cenário atual é de crescente necessidade de aprendizado por meio de

redes de informações e da gestão do conhecimento. É um desafio a aprender e a

conviver com a partilha do desenvolvimento tecnológico na terceirização das

tarefas.

Os projetos cooperativos de desenvolvimento tecnológico em convênio

universidade-empresa, tanto no nível nacional quanto no internacional estão em

um crescimento acelerado, visto que os investimentos e os riscos são altos. Ainda

são modestos o número de projetos em parcerias, a maioria dos projetos são

acadêmicos, patrocinados por órgãos do governo.

Existe no Brasil a tradição de que o produto estrangeiro é o melhor e essa

falta de crédito de que goza o produto nacional é um dos grandes motivos que

impede o desenvolvimento da indústria. E gera o efeito da bola de neve, se a

indústria nacional não tem prestígio, não investe para crescer e se não cresce,

não é reconhecida. Para modificar esta visão, é necessário reconhecer as

deficiências, adotando uma atitude positiva no sentido de superá-las através de

convênios maduros, planos estratégicos e investimento na área de pesquisa e

desenvolvimento para superar as barreiras e impor-se no mercado.

A questão da inovação parte muito mais de ações/interações com os

clientes que com as universidades. Há um estímulo pelo mercado para a parceria

do que a pesquisa inovadora e solitária das universidades. A propriedade

intelectual, embora protegida por regras e normas ainda não é um instrumento de

barganha para o investimento para as pesquisas inovadoras frente aos altos

custos iniciais e de difícil contabilidade no custo do produto.

A decisão de terceirizar o desenvolvimento da tecnologia exige um

envolvimento das equipes com algumas questões para refletir:

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- a empresa tem habilidade na gestão da própria tecnologia?

- a empresa tem habilidade na parceria – seja no mercado ou no

desenvolvimento?

- a inovação faz parte do plano estratégico da empresa?

- os funcionários da empresa percebem a necessidade das parcerias?

- os funcionários estão preparados para conviver com a divisão de

tarefas?

- há mecanismos de proteção do “segredo tecnológico” da empresa?

- os funcionários percebem, muito claramente, o objetivo do aprendizado?

A resposta para a questão: “o desenvolvimento tecnológico pode ser

terceirizado?”, não é trivial, não é sim ou não, depende do grau de

amadurecimento das equipes, das empresas e das universidades, para que haja

fluência das informações e do conhecimento em ambas as direções.

Na nova economia, vastos espaços que antes nem eram cogitados como

possibilidades, hoje são uma realidade e como exemplos cita-se: a genética que

está mudando a medicina, a biotecnologia está mudando a indústria química, e a

tecnologia interativa mudará a própria idéia da universidade.

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Conclusão

O ambiente externo das empresas está em constante mutação e influindo

nas mudanças internas e na gestão das empresas. Portanto, a mudança passa a

ser vista não como uma questão de gosto, mas como uma necessidade de

sobrevivência. Ameaças externas precisam ser superadas; oportunidades

estratégicas devem ser aproveitadas. Novos enfoques econômicos e contábeis

estão sendo considerados nos relatórios das empresas. Há a necessidade de se

considerar o valor do conhecimento. As empresas estão remodelando suas

políticas organizacionais e de recursos humanos para assegurar que as

habilidades profissionais, os detentores do conhecimento tácito, os talentos,

estejam disponíveis para se adequarem a crescente demanda do mercado.

Os modelos antigos de aquisição ou desenvolvimento de tecnologia para

manter ou conquistar novos mercados estão sendo questionados frente aos novos

paradigmas da competitividade. Novos modelos de gestão e parcerias são

necessários para discutir o desenvolvimento tecnológico, pois o desenvolvimento

e a inovação não são processos de procedimentos bem definidos e cartesianos,

ao contrário há o envolvimento, cooperação e riscos.

Empresas públicas, órgãos do governo e universidades assumem a função

de coordenadores, financiadores e de apoio às atividades de P&D viabilizando

uma política nacional de ciência e tecnologia. As empresas buscam nas

universidades apoio às suas necessidades tecnológicas porque o custo de manter

ou encontrar profissionais capacitados é alto.

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Os trabalhos científicos, de natureza universal, não podem estar

dissociados dos estudos tecnológicos que certamente tem suas diferenças, mas é

a base do conhecimento. O conhecimento tecnológico representa um importante

instrumento de comércio e dominação entre os povos. É o diferenciador na

performance da empresa no mercado competitivo.

Algumas dificuldades no relacionamento universidade-empresa já estão

resolvidas e se posicionam como parceiros do desenvolvimento. O controle de

fluxo das informações e conhecimento é uma área na política de gestão

estratégica que terá de ser discutida de forma global em um ambiente participativo

em que clientes e fornecedores estarão em sinergia para oferecerem produtos e

serviços de qualidade.

Na terceirização da tecnologia, há uma cumplicidade das empresas

envolvidas pois o produto, o conhecimento, é muito complexo de ser transmitido.

Há uma relação do conhecimento explícito – transmitido nos manuais, e do

conhecimento tácito – associado a intuição, vivência do saber. Se não houver uma

interação entre as equipes, uma proposta de cooperação e uma gestão

estratégica da transmissão do conhecimento, todo o esforço de desenvolvimento e

inovação não será útil. O conhecimento adquirido deve ser revertido em

produtividade, qualidade e soluções inovadoras, para assim se constituir em um

diferencial competitivo sustentável.

A parceria entre as empresas é sinônimo de trabalho de equipe, respeito e

aprendizado. Há uma valoração do conhecimento sinérgico, e as novas

capacitações advindas destas parcerias estão fazendo com que seja mais eficaz e

barato colaborar com terceiros do que agregar todas as atividades associadas ao

negócio. Há o estímulo ao desenvolvimento de redes de aprendizado que

apontam para o novo modelo de relacionamento entre empresas.

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Atividades de P&D podem-se comportar como uma mercadoria e as

empresas detentoras de conhecimento a utilizam como uma vantagem competitiva

e econômica. Para obter esta vantagem há a necessidade de proteger a inovação

- o conhecimento - registrando no INPI através de patentes, marcas, acordos de

sigilo, etc..

A gestão estratégica da informação tecnológica da parceria universidade-

empresa exige o envolvimento e o amadurecimento dos parceiros,

desenvolvimento de novos valores da habilidade de criar em sintonia com a

objetividade e os rigores recomendados pelas necessidades expressas nas

diretrizes tecnológicas. O objetivo não é desenvolver estratégias “perfeitas”, mas

estratégias que apontem direções e que com as mudanças do ambiente externo

adequá-las através de rápidos processos de experimentação (inovação) e ajustes.

Quando a parceria universidade-empresa está suportada por um ambiente

estimulante e criativo, o Homem terá condições de ser talentoso e genial, então, a

Humanidade caminha na busca da excelência do conhecer e saber sem esquecer

das suas necessidades básicas do conviver.

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Bibliografia

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Tecnologia. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda., 1983.São Paulo,

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Editora Littera Mundi, 1999.

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Fundação do Prêmio Nacional de Qualidade. Monografia apresentada no

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Conhecimento e Inteligência Empresarial da Pontifícia Universidade

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8 - MARCOVITCH, Jacques (coordenação) Administração em Ciência e

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9 - MATOS, P. P Lopes, APPI Ciro J., Plano Tático e Operacional de

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Fundação Getúlio Vargas, no curso de MBA Formação de Gerentes e

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Administração em Ciência e Tecnologia. São Paulo, Editora Edgard

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11 - STEWART, Thomas A. Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

12 - TEIXEIRA, Descarte de Souza. “Pesquisa, Desenvolvimento Experimental e

Inovação Industrial: motivações da empresa privada e incentivos do setor

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São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda., 1983.São Paulo, Editora Edgard

Blücher Ltda., 1983.

13 - TERRA, José Cláudio C. Gestão do conhecimento: o grande desafio

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14 - World Wide Web: http://www.inpi.gov.br

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Monografia apresentada por

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Francisco Carlos da Costa Barros

E aprovada por

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Prof. Yasmin

Rio de Janeiro, RJ, 21 de julho de 2001.