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Gestão de Resíduos de Construção e Demolição em Obras de Edificação Carina Catarino Teixeira Dissertação apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para obtenção do Grau de Mestre em Tecnologia Ambiental Orientado por Professor Jorge Pedro Lopes Professor Rui Alexandre Figueiredo de Oliveira Bragança Abril 2013

Gestão de Resíduos de Construção e Demolição em Obras de ... CARINA... · Obras de Edificação ... Estimativa da produção de RCD’s em obras residenciais no ... Assim diminui-se

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  • Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    Carina Catarino Teixeira

    Dissertao apresentada Escola Superior Agrria de Bragana para obteno do Grau de Mestre em Tecnologia Ambiental

    Orientado por

    Professor Jorge Pedro Lopes

    Professor Rui Alexandre Figueiredo de Oliveira

    Bragana Abril 2013

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    NDICE

    RESUMO 9

    ABSTRACT 11

    SIGLAS E ABREVIATURAS 13

    1. INTRODUO 15

    1.1 ENQUADRAMENTO GERAL 15

    1.2 OBJETIVOS E METODOLOGIA 17

    1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO 19

    2. ENQUADRAMENTO POLTICO, LEGISLATIVO E NORMATIVO 21

    2.1 PANORMICA DE DIFERENTES PASES EUROPEUS 21

    2.1.1 CENRIO ATUAL NA UNIO EUROPEIA 21

    2.1.2 HOLANDA 23

    2.1.3 DINAMARCA 24

    2.1.4 ALEMANHA 26

    2.1.5 FRANA 27

    2.1.6 ESPANHA 28

    2.1.7 PORTUGAL 30

    2.2 NORMAS APLICVEIS 34

    3. CARACTERIZAO DOS RCDS 37

    3.1 CLASSIFICAO E COMPOSIO DOS RCDS 37

    3.2 ORIGEM DOS RCDS 44

    4. PRTICAS PARA A GESTO DE RESDUOS 47

    4.1 POLTICA DOS 4 RS 48

    4.1.1 REDUZIR 48

    4.1.2 REUTILIZAR 49

    4.1.3 RECICLAR 50

    4.1.4 REABILITAR 50

    4.1.5 OUTRAS APLICAES 51

    4.2 LEAN CONSTRUCTION 51

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    4.3 DESCONSTRUO 53

    4.4 MINIMIZAO DOS RCDS 54

    4.5 VANTAGENS NA GESTO DOS RCDS 55

    4.6 DEMOLIO 55

    4.7 DEMOLIO SELETIVA 61

    4.8 CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS E DOS EDIFCIOS 64

    4.8.1 INTRODUO 64

    4.8.2 CICLO DE VIDA DOS EDIFCIOS (CONCEO, CONSTRUO, UTILIZAO, FIM DO CICLO) 67

    5. PROCEDIMENTOS DE GESTO DOS RCDS 71

    5.1 OS CENRIOS PORTUGUS E EUROPEU NA ESTIMATIVA DE QUANTIDADES DE RCDS 71

    5.2 QUANTIDADE DE RESDUOS INCINERADOS E REUTILIZADOS PARA RECICLAGEM EM PORTUGAL E

    NA EUROPA 76

    6. ANLISE DOS PROCEDIMENTOS DE GESTO NO ESTUDO DE CASO 77

    6.1 BREVE CARACTERIZAO DO DISTRITO DE BRAGANA 77

    6.2 SISTEMA DE GESTO DE RESDUOS 78

    6.3 ANLISE DE RESULTADOS 79

    6.3.1 CENRIO B - ATERRO DE RSU URJAIS (MIRANDELA) 84

    6.3.2 CENRIO C RECUPERAO DA PEDREIRA DA MOTA ENGIL VILA FLOR 85

    7. CONCLUSES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS 89

    7.1 INTRODUO 89

    7.2 SUMRIO DA DISSERTAO 89

    7.3 CONTRIBUIO DO ESTUDO 91

    7.4 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS 92

    8. BIBLIOGRAFIA 95

    ANEXO 103

    QUESTIONRIO ELABORADO AOS MUNICPIOS DO DISTRITO DE BRAGANA 105

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    NDICE DE TABELAS

    Tabela 3.1 - Descrio dos diferentes resduos de construo e demolio na LER [2.15]. ................................37

    Tabela 3.2 Parte respetiva dos RCDs na LER [2.15]. .....................................................................................................38

    Tabela 3.3 - Principais origens e tipos de resduos na Unio Europeia [3.5]. ..........................................................40

    Tabela 3.4 - Demolies de edifcios concludos, por NUTS II, segundo as caractersticas, em 2000 e 2001

    (INE) .......................................................................................................................................................................................................41

    Tabela 3.5 - Caracterizao da construo de edifcios em Portugal [3.9]. .............................................................42

    Tabela 3.6 - Estimativa da constituio dos resduos de construo e demolio de edifcios na UE [3.5] .42

    Tabela 3.7 - Ciclo de vida previsto para cada tipo de estrutura [3.5]. ........................................................................43

    Tabela 3.8 - Fluxos de RCDs na UE [5.6]. ..............................................................................................................................45

    Tabela 3.9 - Taxa de produo per capita de RCDs em pases europeus [3.12] .....................................................46

    Tabela 4.1 - Estrutura tpica da gerao de resduos numa construo, por tipo de obra, na UE [2.11] .....60

    Tabela 5.1 - Estimativa da produo de RCDs em obras residenciais no Massachusetts, em 2000 [5.4] .....72

    Tabela 5.2 - Volume de RCDs gerado em trs fases construtivas distintas, em m3/m2 (Espanha). ..............73

    Tabela 5.3 - Volume de RCDs gerado na atividade de demolio, em m3/m2 (Espanha). ...............................73

    Tabela 5.4 - Estimativa de Ruivo e Veiga para a produo de RCDs em Portugal [5.7] .....................................74

    Tabela 5.5 - Estimativa de Coelho para a produo de RCDs em Portugal, para o ano de 2009 [5.8] .........75

    Tabela 5.6 - Taxa de produo per capita de RCDs em pases europeus ..................................................................76

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    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1.1. e 1.2 Exemplos de obras a decorrer.................................................................................................................16

    Figura 1.3 e 1.4 Depsito ilegal de RCDs. ............................................................................................................................17

    Figura 1.5 - Procura do equilbrio no consumo de recursos naturais. .........................................................................17

    Figura 2.1- Projeto Iguana (exemplo de uma habitao construda) .........................................................................24

    Figura 2.2 Imagens bags em Barcelona, Espanha. ..........................................................................................................30

    Figura 2.3 - Estrutura das normas da srie ISO 14000 ......................................................................................................35

    Figura 3.1 - Estrutura dos alojamentos clssicos existentes, por poca de construo em Portugal, em

    2001 (INE) ...........................................................................................................................................................................................43

    Figura 3.2 Percentagem de produo de RCDS em Portugal por interveno (INE, 2001). ..........................44

    Figura 4.1 - Diagrama Geral de um processo de triagem e reciclagem ......................................................................47

    Figura 4.2 - A "locomotiva" da Lean Construction .............................................................................................................53

    Figura 4.3 - Evoluo do nmero de licenas concedidas pelas Cmaras Municipais, por tipo de obra, entre

    1994 e 2005 (fonte: INE). Nota: Em 2003 e 2005, os dados encontram-se subavaliados por no inclurem a

    informao relativa aos concelhos de Lisboa e Sintra .......................................................................................................55

    Figura 4.4 - Evoluo do nmero de licenas de demolio concedidas pelas Cmaras Municipais, por

    NUTS II, entre 1994 e 2005 (fonte: INE) ..................................................................................................................................57

    Figura 4.5 - Evoluo do valor dos trabalhos de demolio realizados por empresas com 20 e mais pessoas

    ao servio, em milhares de euros, entre 1990 e 2004 (fonte: INE) ................................................................................58

    Figura 4.6 - Evoluo do valor dos trabalhos realizados por empresas com 20 e mais pessoas ao servio,

    por tipo de obra, em milhares de euros, entre 1990 e 2004 (fonte: INE)....................................................................59

    Figura 4.7 - Taxa total de crescimento do valor dos trabalhos realizados por empresas com 20 ou mais

    pessoas ao servio, por tipo de obra, entre 1990 e 2004 ...................................................................................................59

    Figura 4.8 - Evoluo da estrutura do nmero de licenas concedidas pelas Cmaras Municipais, por tipo

    de obra, entre 1994 e 2005 (fonte: INE) ..................................................................................................................................60

    Figura 4.9 - Demolio indiferenciada de um edifcio com recurso a equipamento de grande porte .............61

    Figura 4.10 - Interior e cobertura de um edifcio no decorrer da sua demolio....................................................62

    Figura 4.11 Ciclo de vida de um produto ............................................................................................................................66

    Figura 4.12 Ciclo de vida de um edifcio ...............................................................................................................................70

    Figura 6.1 - Municpios do distrito de Bragana ..................................................................................................................77

    Figura 6.2 - Mapa rea e infraestruturas da Resduos do Nordeste, E.I.M....................................................... ..........79

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    Agradecimentos

    Ao meu orientador cientfico na ESTIG Prof. Dr. Jorge Lopes e ao meu co-orientador

    professor Rui Oliveira pelo apoio prestado durante esta dissertao, sem eles o

    desenvolvimento deste trabalho teria sido muito mais difcil.

    Ao meu pai e minha me, pelo apoio e incentivo e pelas lgrimas que sempre

    enxugaram quando a derrota e o desnimo tomavam conta de mim.

    minha prima, irm, amiga e confidente sempre presente, para ns a distncia nunca foi

    problema.

    A toda a famlia e amigos pelo apoio dado e incentivo ao longo deste percurso muitas

    vezes sinuoso.

    Ao meu marido, Rui, por acreditar, por no me deixar desistir, pela pacincia, amizade e

    ajuda em todas as horas desde o primeiro dia que nos cruzamos.

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    triste pensar que a natureza fala e que o gnero humano no a ouve.

    Victor Hugo

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    Resumo

    Os resduos de construo e demolio tm sido produzidos e geridos sem qualquer

    controlo de gesto e sem qualquer preocupao pela triagem na origem. Tais prticas

    revelam dificuldades ao nvel da eliminao (depsito) e na valorizao (reciclagem,

    reutilizao). A legislao portuguesa tem semelhanas a nvel internacional, verificando-

    se no entanto que os departamentos governamentais no implementaram tais medidas

    em prticas. difcil e complexo licenciar locais para depsito e armazenamento de

    RCDs. Uma alternativa possvel passa por encontrar locais apropriados e disponveis

    para a sua instalao. Estes devem ser economicamente viveis para os Municpios.

    Esta dissertao pretende fazer um contributo na caraterizao do problema, descrio

    de boas prticas de construo e de gesto de RCDs. As Cmaras Municipais tm um

    papel fundamental na gesto destes resduos, no s na criao de espaos para a

    instalao das unidades de triagem, mas tambm pela disponibilizao de locais para

    deposio dos resduos sem reutilizao.

    Os resduos de construo e demolio contm elevadas percentagens de materiais

    reutilizveis e reciclveis. Assim diminui-se a utilizao de recursos naturais e os custos

    de deposio final em aterro, aumentando-se o seu perodo de vida til. Neste contexto,

    necessrio reavaliar as solues para deposio final desses resduos sem reutilizao,

    assim como prolongar o ciclo de vida dos materiais e dos edifcios. Mudanas no modo

    de construir devem tambm ser atendidas pelos diversos intervenientes no processo de

    construo tendo em conta a reduo de RCDs.

    Em suma esta dissertao de mestrado pretende dar um contributo na gesto de RCDs.

    Este estudo prope boas prticas de construo, auxiliando com possveis solues para

    os problemas de gesto de RCDs.

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    Abstract

    The construction and demolition wastes (C&D wastes) have been dealt with and managed

    without any control and without any concern for sorting C&D wastes at source. These

    practices lead to additional difficulties in terms of disposal (storage) and recovery

    (recycling, reuse). The Portuguese legislation is quite similar to that applied at

    international level, however government departments have not implemented those

    provisions in practice. It is difficult and complex to create new licensed locals of

    warehouses and storage C&D wastes. A possible alternative is to find appropriate places

    to store those wastes. These places shouldt be economically affordable to the city

    councils.

    This dissertation intends to make a contribution to the problem characterization in order to

    develop good practices for the management of C&D wastes. City councils have a key role

    in this aspect, not only to create licensed places for storage and screening units

    components but also for filing and storage C&D wastes without reutilization.

    The C&D wastes have some material contents which could be reutilized and recyclable.

    This decreases the use of natural resources, the cost of final disposal in landfill and

    increases its useful life. In this context, there is a need for re-evaluating the solutions for

    final disposal of such wastes without reutilization capacities, with the aim to prolong the

    materials and building life cycle. Change in the paradigm is needed for all the

    stakeholders of the building process.

    In conclusion this master dissertation intends to make a special contribution to the

    management of C&D wastes. This study proposes good practices to contribute to the

    management of construction and demolition wastes.

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    Siglas e Abreviaturas

    ACV Anlise do Ciclo de Vida

    APA Agncia Portuguesa do Ambiente

    CCP - Cdigo dos Contratos Pblicos

    CNC - Confederao Nacional de Construo

    D.L Decreto Lei

    AERD - Associao das Entidades de Reciclagem e Demolio

    INR Instituto Nacional de Resduos

    LER Lista Europeia de Resduos

    LNEC - Laboratrio Nacional de Engenharia Civil

    MARM - Ministrio do Meio Ambiente e Meio Rural e Marinho

    PERSU - Plano Estratgico de Resduos Slidos Urbanos

    PESGRI - Plano Estratgico Sectorial de Gesto de Resduos Industriais

    PPGR - Plano de Preveno e Gesto de Resduos

    RC Resduos de Construo

    RD Resduos de Demolio

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    RCDs Resduos de Construo e Demolio

    RI - Resduos Industriais

    RIP - Resduos Industriais Perigosos

    RJUE - Regime Jurdico da Urbanizao e Edificao

    UE Unio Europeia

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    1. Introduo

    1.1 Enquadramento Geral

    A construo apesar de ser uma atividade com sculos de existncia, apenas nas ltimas

    dcadas surgiu a preocupao com a gesto dos seus resduos. A atividade de

    construo e demolio origina anualmente uma enorme quantidade de resduos com as

    mais variadas propriedades e caractersticas.

    Os RCDs tm sido considerados um problema menor na rea de gesto de resduos pelo

    facto de serem maioritariamente inertes, onde as preocupaes de contaminao por

    lixiviao, propagao de matrias txicas ou inconvenientes de putrefao de matrias

    orgnicas, como acontece com os Resduos Slidos Urbanos (RSU). Tal facto poder

    explicar a ausncia de legislao especfica sendo apenas colmatada com a publicao

    do D.L n. 46/2008 de 12 de Maro, embora havendo um caminho muito longo a

    percorrer.

    Segundo a comunicao da comisso para a estratgia temtica de preveno e

    reciclagem de resduos, a construo origina uma quantidade equivalente a 22% do total

    de resduos produzidos na Unio Europeia, correspondendo a aproximadamente 290

    milhes de toneladas por ano de acordo com estimativas comunitrias. Por outro lado, e

    aplicando uma proporcionalidade com os valores europeus estima-se que em Portugal

    so produzidos 7,5 milhes de toneladas relativamente ao ano 2005 1.1 .

    Atravs da publicao Working Document n. 1, os RCDs tm um elevado potencial de

    valorizao atingindo em alguns estados membros, onde as regras de reciclagem e

    reutilizao esto bem implementadas, cerca de 80% 1. 2 .

    A construo tem acompanhado o crescimento populacional e o desenvolvimento

    humano e social, dando um importante contributo para o aumento da qualidade de vida

    das populaes. Para isso necessita de uma crescente mobilizao de recursos, levando

    interveno fsica nos locais, com reflexos sobre os materiais, energia, gua e solo.

    Deste facto resultam impactes no ambiente natural e no construdo. Grande parte da

    quantidade de RCDs que so produzidos em Portugal, especificamente no nordeste

    transmontano, no tm qualquer controlo na triagem e na origem o que tem dificultado a

    valorizao desta tipologia de resduos. certo que as dificuldades impostas por

    legislao especfica para legalizao dos aterros de inertes acabam por dificultar o

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    processo. A deposio dos RCDs no nordeste transmontano apenas possvel, numa

    antiga pedreira legalizada para receber este tipo de resduos, estando em processo de

    reabilitao. Assim sendo, este processo est longe de ter consenso, chegando muitas

    vezes a levantar-se a questo se a nvel ambiental so viveis estas deslocaes.

    No entanto, as construes apresentam patologias como avarias, diminuio do ciclo de

    vida til das construes e custos de explorao e conservao muito elevados. Estas

    debilidades so causadas, muitas vezes, por problemas de conceo, pela no

    compatibilizao dos sistemas construtivos convencionais e pela utilizao de mo-de-

    obra no qualificada. Cada vez mais as populaes esto formatadas para o

    consumismo e para o excedente. Na construo no exceo, so geradas todos os

    dias toneladas de RCDs que podem ser aproveitadas (figuras 1.1 e 1.2).

    Figura 1.1. e 1.2 Exemplos de obras a decorrer.

    Os depsitos ilegais de RCDs revelam a ausncia de tratamento adequado deste tipo de

    resduos acarretando graves problemas ambientais, o que demonstra a necessidade de

    se avanar, especialmente no interior do pas, em direo implantao (implementao)

    de polticas especificamente voltadas para a gesto desses resduos, dando resposta aos

    problemas detectados ao longo deste trabalho. Os RCDs dispostos de forma inadequada

    (figuras 1.3 e 1.4), causam um grande impacto, tanto ambiental como social, uma vez que

    as suas consequncias geram a degradao da qualidade da vida urbana causando

    poluio visual, e sendo um vetor de proliferao de doenas.

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    Figura 1.3 e 1.4 Depsito ilegal de RCDs.

    urgente uma atitude de mudana e uma procura de equilbrio, entre a necessidade de

    produtos de construo e o consumo de recursos naturais (matrias-primas extradas da

    Terra (figura 1.5)).

    Figura 1.5 - Procura do equilbrio no consumo de recursos naturais.

    1.2 Objetivos e metodologia

    Em Portugal, o tema dos RCDs apesar de discutido h muito tempo relativamente novo

    no que concerne sua gesto e no se conhece nenhum estudo publicado sobre as suas

    diferentes problemticas. Desta forma com esta dissertao, procura-se explorar as

    vrias vertentes de gesto dos RCDs por forma a desenvolver uma viso geral desta

    questo no pas, e essencialmente no nordeste transmontano deixando um contributo

    para a possvel resoluo deste problema.

    Assim os objetivos passam pela pesquisa da legislao, das normas de gesto dos

    RCDs em vrios pases europeus, convergindo com a criao de melhores cenrios para

    o distrito de Bragana por forma a encontrar solues de gesto deste resduos.

    Com este contato, pretende-se recolher informao no s sobre o atual estado da

    gesto dos RCDs, mas tambm sobre os restantes aspectos desta metodologia que se

    abordam nesta dissertao. Este estudo foi complementado pela pesquisa de dados

    estatsticos e dados recolhidos junto dos municpios do nordeste transmontano.

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    18

    Posteriormente passou-se ao levantamento das metodologias para a prtica da gesto de

    resduos de construo e demolio tidas em conta com alguns dos municpios do distrito

    de Bragana, comparando-as e enquadrando-as com boas prticas nacionais e

    internacionais da sua gesto ao nvel ambiental. Procedendo ao enquadramento das

    boas prticas ambientais para a gesto dos resduos de construo e demolio este

    objetivo foi conseguido atravs de pesquisa bibliogrfica e por um questionrio efetuado

    aos diferentes municpios do nordeste transmontano.

    Finalmente, a questo essencial para a adoo da gesto de RCDs a sua viabilidade

    ambiental criando 3 possveis cenrios para o devido encaminhamento dos referidos

    resduos, associando ainda os custos inerentes operao nos diferentes concelhos

    abrangidos pelo estudo de caso. Apesar da legislao ser bastante exigente neste

    domnio, sabe-se que a forma de gesto dos resduos no est ainda generalizada,

    sendo interessante conhecer o que os diversos concelhos do distrito de Bragana esto a

    implementar e a fomentar.

    Desta forma, foi desenvolvido um estudo de caso que consiste na elaborao de

    entrevistas apoiadas por um questionrio. Uma metodologia que evidencie a aplicao de

    um estudo de caso tem uma abordagem de cariz qualitativo, muito embora nestes casos

    tambm aplicado o tratamento de dados com apoio da estatstica descritiva que emite

    uma vertente mais positivista e confirmatria do estudo.

    As entrevistas tm um perfil direcionado para o tpico do estudo de caso, nesta medida a

    problemtica da gesto de RCDs, sendo tambm de maior percetividade. obvio que

    tm pontos desfavorveis, tais como o problema de possveis questes mal elaboradas,

    respostas indiretas, ocultao de respostas e ainda a possvel reflexibilidade, onde o

    entrevistado emite as respostas que o entrevistador quer ouvir ou deseja. A subjetividade

    outro ponto que pode ter aplicabilidade nas entrevistas. O questionrio de apoio

    entrevista tem como objetivo combater algumas das interferncias descritas e possveis

    debilidades, tentando dar maior objetividade aos resultados.

    Por sua vez, o pblico-alvo para as entrevistas rene tcnicos afetos s reas ambiental

    e de obras, integrados nas cmaras municipais do distrito de Bragana. O investigador ,

    portanto, mais sensvel ao contexto. Isto significa que, ao contrrio dos mtodos

    quantitativos, os investigadores trabalham atravs destes mtodos, com a subjectividade,

    com as possibilidades quase infinitas de explorao que a riqueza dos detalhes pode

    proporcionar.

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    1.3 Estrutura do Trabalho

    O Captulo 1 constitudo pelo enquadramento do trabalho e dos objetivos que se

    pretendem alcanar, assim como pela prpria metodologia e estruturao da dissertao.

    O Captulo 2 foca o enquadramento poltico, legislativo e de normas associadas aos

    RCDs quer a nvel nacional quer a nvel internacional.

    O Captulo 3 aborda a caracterizao dos resduos de construo e demolio quer na

    Lista Europeia de Resduos, como na origem deste tipo de resduos no setor da

    construo.

    No Captulo 4 desenvolvido um estudo centrado nas prticas de gesto dos RCDs. O

    captulo pretende seguir a linha das preocupaes de gesto destes resduos por forma a

    incentivar a sua reciclagem, a reutilizao, a reduo e reabilitao dos edifcios, bem

    como fomentar a desconstruo por forma a garantir uma prtica adequada no

    tratamento destes resduos. Neste captulo tambm feita uma breve abordagem do ciclo

    de vida dos materiais por forma a conhecer os melhores e mais adequados aquando da

    elaborao dos projetos para logo numa fase inicial de construo.

    No Captulo 5 fomenta-se uma abordagem mais concreta atravs da comparao entre

    procedimentos de gesto de RCDs do atual cenrio em Portugal e em outros pases

    europeus, analisando tambm os principais problemas.

    No Captulo 6 apresenta-se uma anlise dos procedimentos de gesto de RCDs no

    distrito de Bragana propondo solues para a sua gesto.

    Por fim no Captulo 7 so expostas as concluses, perspetivas e consideraes finais da

    dissertao.

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    2. Enquadramento Poltico, legislativo e normativo

    O atual cenrio depara-se com uma deposio descontrolada e sem qualquer triagem na

    origem dos RCDs. Por outro lado os despejos ilegais tm vindo a originar autnticos

    crimes ambientais e de sade pblica. Como consequncia destas ms prticas, tm sido

    implementados um grande nmero de regulamentos que se encontram em vigor, tanto na

    parte da fiscalizao como em questes de reutilizao e triagem em obra.

    Nos pases da Unio Europia no existe legislao especifica para a gesto dos RCDs.

    No entanto, grande parte dos pases decidiram a ttulo individual a criao de legislao

    especifica para regulamentao desta temtica. De qualquer forma h uma lacuna muito

    evidente em alguns pases, como o caso de Portugal, onde apenas em 2008 aprovou

    legislao especfica para o efeito, tendo ainda um enorme caminho a percorrer at se

    alcanarem as melhores prticas que fomentem os resultados desejados.

    2.1 Panormica de diferentes pases europeus

    2.1.1 Cenrio Atual na Unio Europeia

    Atualmente, tal como foi referido, no existe legislao especfica comunitria. Sendo

    assim pretende-se com este captulo desta dissertao dar uma ideia geral da evoluo

    das normas e legislao da UE. Em 1975, com a aprovao e entrada em vigor da

    Diretiva n. 75/442/CEE, veio abrir-se o caminho para a gesto de resduos que tinha

    como finalidade harmonizar a legislao a nvel europeu, incentivar a recuperao de

    resduos e a sua reutilizao, a fim de preservar os recursos naturais, garantir uma

    eliminao de resduos que proteja a sade humana e o ambiente.

    Esta Diretiva esteve em vigor at publicao da Diretiva n. 91/156/CEE e que veio

    introduzir alteraes na Diretiva anterior uma vez que para alm de garantir uma correta

    eliminao de resduos, veio incentivar a promoo da sua preveno. Por outro lado, e

    uma vez que se tratava de uma comunidade veio harmonizar a legislao a nvel

    europeu. Relativamente a outra inovao, veio encorajar a reutilizao e a reciclagem dos

    resduos, como alternativa aos recursos naturais. Assim como, assegurar que a

    Comunidade e que cada Estado-Membro se tornem autossuficientes no que se refere

    eliminao de resduos.

    Segundo Caixinhas foi revogada a Diretiva n. 75/442/CEE, no se verificando grandes

    mudanas na Diretiva n. 91/156/CEE, atravs da Diretiva n. 2006/12/CE. [2.1].

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    22

    Uma vez que os problemas ambientais e as questes da sustentabilidade se debatem

    cada vez mais, foi publicada em 2008, a Diretiva n. 2008/98/CE que veio consolidar o

    papel principal da preveno dos resduos. Esta Diretiva veio alterar por completo a ideia

    at ento imposta pelas Diretivas em vigor, introduzindo aspetos como minimizao do

    impacte provocado pela gesto dos resduos que tanto tm prejudicado a sade humana

    e os ecossistemas naturais. Esta Diretiva veio clarificar os conceitos, acabando com

    dvidas existentes, tais como a diferena entre valorizao e eliminao. Este novo

    quadro legislativo veio dar nfase reduo como forma de preveno. Assim como, ao

    incentivo da reciclagem de materiais por forma a valorizar os recursos naturais e os

    ecossistemas. Os Estados membros tiveram que transcrever essa Diretiva revista nas

    suas regulamentaes nacionais leis, regulamentos e disposies administrativas at

    12 de Dezembro de 2010.

    A Diretiva revista estabelece uma hierarquia de gesto de resduos em 5 etapas. Os

    Estados membros tm que respeitar essa hierarquia na elaborao da sua poltica

    nacional nomeadamente, a preveno dos resduos, a preparao para a reutilizao, a

    reciclagem, a valorizao (inclusive a valorizao energtica) e o armazenamento seguro

    (como ltimo recurso).

    Nesta Diretiva surgiu pela primeira vez referncia aos RCD, onde na alnea c) do artigo

    2. excludo do mbito de aplicao da Diretiva o solo no contaminado e outros

    materiais naturais resultantes de escavaes no mbito de atividades de construo,

    sempre que se tenha a certeza de que os materiais em causa sero utilizados para efeito

    de construo no seu estado natural e no local em que foram escavados [2.2]. Neste

    artigo denota-se uma preocupao em encontrar a soluo para os solos de escavaes

    devendo ter-se em conta que no deveriam ser considerados resduos uma vez que no

    tm na grande maioria dos casos qualquer contaminao.

    Por outro lado, na alnea b) do n. 2 do artigo 11. at 2020, a preparao para a

    reutilizao, reciclagem e valorizao de outros materiais, incluindo operaes de

    enchimento utilizando resduos como substituto de outros materiais, de resduos de

    construo e demolio no perigosos, com excluso de materiais naturais definidos na

    categoria 17 05 04 da lista de resduos, sofrem um aumento mnimo de 70 % em peso.

    [2.2]. Com esta publicao so apresentadas as metas pretendidas at 2020 na reciclagem

    dos resduos dos RCD.

    Deste modo, decidiu-se fazer uma abordagem a alguns exemplos de pases da Unio

    Europeia, nomeadamente a Espanha por se tratar de um pas com um cenrio idntico ao

    portugus, comparando com a Holanda, a Dinamarca, a Alemanha e a Frana. Alguns

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    23

    destes so exemplos a seguir, uma vez que se encontram devidamente organizados,

    onde se encontram os melhores exemplos na correta gesto de RCD e onde a taxa de

    reciclagem muito elevada.

    2.1.2 Holanda

    A situao da Holanda est sustentada num sistema muito organizado e o mais avanado

    de toda a UE. Segundo o Ministry of Housing, Spatial Planning and the Environment

    (2001) [2.3] a meta traada de reciclagem para os RCD em 1990 at 2000 foi de 90%, e

    foi atingida em 1999. Neste pas as metas foram levadas muito a srio comeando pela

    obrigao da triagem na origem.Paralelamente forma criados mercados atrativos para

    produtos provenientes de materiais reciclados, assim como produtos fiveis e

    duradouros. Houve portanto a preocupao, no s de transposio da Diretiva para

    legislao prpria, mas de criar condies para que as suas imposies fossem

    facilmente atingidas, procurando dar solues na origem, eliminando em muito a

    deposio em aterro dos resduos provenientes da construo. Houve um investimento

    inicial em campanhas publicitrias, sesses de esclarecimento, incentivos fiscais e

    financeiros para que a separao seja feita na origem, facilitando assim o correto

    encaminhamento para as fileiras correspondentes, facilitando a separao dos materiais,

    tornando o processo mais clere, eficaz e menos dispendioso.

    Neste pas os produtos produzidos a partir de produtos reciclado so, segundo a mesma

    entidade, agregados reciclados, produzidos segundo normas especificas publicadas pelo

    Centro de Investigao Holands e so vendidos na maior parte para estradas e em

    menor quantidade para fabrico de beto.

    Com apoio do programa LIFE (Financial Instrument for the Environment), que se trata de

    um instrumento financeiro para o Ambiente, que contempla o cofinanciamento da

    conservao da natureza e outras reas de interesse Europeu (tais como gua, resduos,

    ar e clima), foi criado o projeto Groene Leguaan - Iguana Verde na Holanda, em

    Stavoren (figura 2.1), onde foram construdas habitaes ecolgicas a preos baixos,

    com materiais reciclados: fachadas em madeira; utilizao des tintas naturais; paredes

    em adobe, gesso cartonado e papel reciclado; isolamento trmico base de celulose e

    conchas. O aquecimento feito atravs de painis solares e tubagens subterrneas e

    reaproveitada a gua da chuva para fins sanitrios. As casas so feitas tendo em conta

    as orientaes solares por forma a aproveitar esse recurso na poupana de energia. Os

    referidos materiais tm muito menos impacte sobre o ambiente durante todas as etapas

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    24

    do seu ciclo de vida, do que os materiais de construo convencionais, tais como beto,

    metais, plsticos e outros.

    Figura 2.1- Projeto Iguana (exemplo de uma habitao construda) [2.4]

    Na Holanda desde 1997 que, segundo o Ministry of Housing, Spatial Planning and the

    Environment, foi proibida a deposio de RCD potencialmente reciclveis em aterros e

    posteriormente a deposio de RCD combustveis. Infelizmente, e por razes de

    dificuldade de valorizao e incinerao destes resduos, em 2001 foi isenta essa

    proibio, impondo-se apenas uma taxa de deposio em aterro. Contudo essa taxa

    chega a atingir 122 a tonelada em algumas zonas do pas, [2.3] tornando-se assim mais

    econmica a triagem e encaminhamento dos RCD para reciclagem e dos RCD

    combustveis para incinerao.

    2.1.3 Dinamarca

    Outro caso de estudo a Dinamarca, pois a reciclagem dos RCDs uma prtica

    assumida. O imposto de resduos na Dinamarca tem sido um instrumento muito eficaz no

    aumento da reciclagem dos RCDs, tendo as taxas de reciclagem aumentado de 25%

    para 92% desde 1990.

    At dcada de 1980, para a gesto dos RCDs, a Dinamarca dependia fortemente da

    deposio de resduos em aterro. Esta mudana radical deveu-se ao facto da

    preocupao da contaminao das guas subterrneas, uma vez que a gua potvel

    existente para consumo toda de origem subterrnea. Outra questo deve-se

    dificuldade em encontrar locais para deposio destes resduos.

    Em 1985, a Danish Environmental Protection Agency (DEPA) regulamentou a reutilizao

    de asfalto, podendo ser utilizado na sub-base e na pavimentao de novas estradas ou

    de caminhos.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    25

    Em 1990, a DEPA possibilitou a reutilizao, sem autorizao prvia, de determinados

    materiais de construo (pedra, telhas e elementos de beto) em processos construtivos,

    desde que livres de contaminantes e separados na origem [2.5].

    Em 1996 o Ministro do Ambiente e Energia celebrou um acordo com a Associao

    Dinamarquesa de Demolies denominada de Construo Dinamarquesa em relao

    demolio seletiva de edifcios. O acordo foi designado de Acordo de Controlo Ambiental

    das Indstrias de Demolio Dinamarquesas.

    A Associao de Demolies tem 26 membros e ocupa cerca de 85% do mercado de

    demolies. Quando uma empresa adere ao Acordo todas as suas atividades de

    demolio com mais de 10 toneladas de resduos passam a estar por ele abrangidas. O

    objetivo da Associao promover uma demolio de edifcios e instalaes, a mais

    apropriada possvel e contribuir para o manuseamento e tratamento de produtos

    residuais, resduos e solos contaminados, de forma mais adequada.

    O imposto sobre os resduos , desde 2001, de 44,30 por tonelada para os resduos

    incinerados e de 50,34 por tonelada para os resduos depositados em aterro [2.5], no

    havendo nenhum imposto sobre os resduos a ser reciclados. A extrao de agregados

    naturais encontra-se tambm sujeita ao pagamento de uma taxa especfica.

    Em 1995, foi publicado o regulamento municipal sobre a triagem de RCDs [2.5]. As

    Cmaras Municipais ficaram encarregues do dever de elaborar regulamentao sobre os

    RCDs, a fim de aumentar a sua reciclagem. Essa regulamentao deve obrigar

    separao de RCDs na fonte quando o total de resduos produzidos for superior a uma

    tonelada [2.6]. Isto significa que mesmo os edifcios de menores dimenses esto

    obrigados a separar os resduos na origem.

    Um acordo voluntrio foi selado, em 1996, entre o Ministrio do Ambiente e Energia e a

    Associao Dinamarquesa de Empreiteiros de Demolio. O acordo assegura a correta

    demolio das construes de modo a privilegiar a reciclagem dos resduos atravs da

    sua correta separao [2.5]. A demolio seletiva aplicada mesmo quando mais cara e

    demorada do que a demolio tradicional. Isto acontece porque so obtidas grandes

    poupanas atravs da reduo de custos para o imposto sobre os resduos e de maior

    venda de materiais reciclveis.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    26

    2.1.4 Alemanha

    A Alemanha o pas da UE que mais RCDs produz mas tambm um dos que tem a

    maior taxa de reciclagem destes. Em 2002, produziu cerca de 214 milhes de toneladas

    de RCDs, cerca de 60% de todos os resduos produzidos no pas, tendo 85% destes sido

    reutilizados ou reciclados [2.7].

    Os padres de tratamento de resduos de construo na Alemanha so bastante

    elevados. Existem regulamentaes extensivas que vo muito alm das exigncias da

    UE e que em geral so cumpridas. O fluxo de resduos tem que ser, cuidadosamente,

    documentado e, devido a exigncias legais, a reutilizao e a reciclagem de resduos

    deve ser preferida face sua eliminao. O dono de obra e os construtores so os

    responsveis pelo adequado escoamento de resduos, mas, em geral, estes

    subcontratam empresas de recolha. O mais usual, em termos de contratualizao, cada

    especialidade ser responsvel pelo encaminhamento dos seus prprios resduos. Perante

    isto, os resduos so normalmente separados apenas em resduos de construo

    minerais, resduos misturados, sucatas, madeiras e embalagens, isto nos locais de

    construo de maior dimenso. Nos locais de construo mais pequenos nem isto chega

    a ser feito.

    As propostas e os contratos poderiam prever formas alternativas de separar os resduos,

    mas estas so utilizadas com pouca frequncia. Uma maneira de melhorar a situao

    seria colocar toda a responsabilidade de tratamento e separao de resduos sob a rea

    de jurisdio de uma das diferentes especialidades ou subempreiteiros ou de uma

    empresa de recolha que prestasse servios obra como um todo, o que otimizaria os

    aspetos logsticos da recolha. Os custos de tratamento variam muito e dependem, para

    alm do mtodo de recolha e das diferenas regionais, da existncia ou no de

    substncias contaminantes e/ou perigosas entre os resduos. Os custos de recolha e

    tratamento constituem entre 0,3 e 3% dos custos totais de um projeto, podendo ser

    possvel fazer alguma poupana atravs de uma recolha separada de resduo [2.7].

    O ncleo das normas alems referentes questo de resduos o decreto sobre a

    gesto de resduos industriais e comerciais. Este contm princpios gerais sobre o

    tratamento de resduos (privilegiando a reutilizao eliminao) e substanciado por

    uma srie de outros decretos, como o decreto referente aos resduos de madeira [2.7].

    Uma iniciativa para a promoo da reutilizao de resduos da construo um conjunto

    de orientaes sobre a reciclagem do Ministrio Federal para o planeamento regional,

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    27

    construo e desenvolvimento urbano (guideline recycling). Qualquer empresa de

    recolha necessita de vrias autorizaes e de uma certificao prpria para poder ser

    considerada um operador de resduos especializado. At reutilizao/reciclagem dos

    resduos, estritamente proibida a sua mistura. Isto significa que os resduos no podem

    ser misturados antes de serem analisados, ainda que pertenam mesma classe da

    Lista Europeia de Resduos (LER). O objetivo prevenir uma eventual reciclagem de

    material poludo ou perigoso. De uma forma geral, necessrio a apresentao de

    documentao comprovativa da eliminao e reciclagem dos resduos controlados; para

    os resduos que no exigem controlo. Este procedimento apenas necessrio mediante

    imposio das autoridades responsveis. Alguns locais de aterro no aceitam resduos

    de construo misturados (entulhos), outros exigem pagamentos mais elevados para os

    resduos misturados com grandes quantidades de materiais valorizveis, do que para os

    com menores quantidades de tais materiais. Estas medidas vm favorecer o

    encaminhamento de resduos de construo no separados para triagem prprias. Os

    resduos de construo minerais, a madeira, os metais, o vidro, os detritos de

    escavaes, os plsticos, e o material de embalagem podem ser, em grande parte

    reutilizados/reciclados. As tintas, as impermeabilizaes, os isolamentos de telhados, as

    lajes de beto com amianto, as latas de poliuretano tm que ser encaminhados para

    aterros prprios ou para incineradoras de resduos. Para as embalagens, existem

    variados sistemas logsticos de retoma e reutilizao das mesmas [2.7].

    2.1.5 Frana

    A gesto de resduos de construo parte integral dos padres legais franceses, sendo

    que tm surgido muitas iniciativas neste sentido nos ltimos 5 anos. A regulamentao

    incide sobre todas as fases da gesto de resduos: produo, transporte e eliminao ou

    tratamento. As autoridades competentes j deveriam ter finalizado a maior parte dos

    planos departamentais para a eliminao de resduos da construo, mas a existncia de

    problemas a nvel local, tm atrasado o processo. Por exemplo, nem sempre existem

    destinos livres disponveis para as especialidades da construo, assim como algumas

    cidades no tm solues previstas para os resduos industriais [2.8].

    Em algumas zonas, esto a ser desenvolvidas plataformas de acumulao de resduos

    de construo e centrais para a separao manual e mecnica dos mesmos. Os agentes

    envolvidos nesta recolha e acumulao esto preparados para apresentar s empresas

    solues globais e especficas de tratamento de resduos.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    28

    No mbito da estrutura de tratamento de resduos, o pas dispe de sistemas eficazes

    para a madeira, o carto, o vidro e para a maioria dos resduos de embalagens. No que

    diz respeito a entulhos, alguns sistemas de reciclagem de resduos minerais ou inertes

    podem valoriz-los como agregados reciclados. As empresas de recolha e transporte,

    acumulao, separao e eliminao ou tratamento de resduos da construo esto

    sujeitas a um tipo de controlo especial e so submetidas mesma regulamentao que

    outras empresas de gesto de resduos.

    O cumprimento da regulamentao ambiental acarreta custos para as empresas e as

    solues que lhes so propostas aumentam estes custos. Os custos de gesto de

    resduos representam, aproximadamente, entre 3 e 5% dos custos totais de construo.

    A gesto de resduos deve ser devidamente integrada em cada nvel da cadeia de

    agentes envolvidos: dono de obra, supervisor do projeto e empresas de construo, de

    modo a poderem encontrar as solues mais adequadas. Tem sido desenvolvido um

    trabalho importante no que toca integrao da gesto de resduos nos mercados

    privados e pblicos.

    Os dados quantitativos e qualitativos apresentados na anlise mostram que h uma falta

    de continuidade no que diz respeito aos resduos de construo. Um passo necessrio

    para a definio de uma poltica eficaz de reduo de resduos seria determinar a

    produo de resduos na construo, na demolio e na renovao de edifcios.

    2.1.6 Espanha

    Em Espanha, a reciclagem de RCDs ainda se encontra pouco desenvolvida, sendo a

    taxa de reciclagem menor do que 10%. Tal como em Portugal, s em 2008 foi publicada

    legislao para regular a produo e gesto deste fluxo especfico de resduos. Esta

    medida foi tomada como resposta aos aumentos imprevistos na produo de RCDs, que

    superaram as estimativas mais pessimistas, aps um perodo em que a indstria da

    construo registou um grande desenvolvimento [2.9]. Segundo as autoridades

    espanholas, as causas que levam ao baixo reaproveitamento dos RCDs so: o despejo

    ilegal ou descontrolado, sem o cumprimento dos requisitos da legislao de aterro, e as

    baixas taxas de admisso em aterros autorizados, que dificultam a sustentabilidade e a

    rentabilidade da operao de estaes de tratamento de RCDs [2.10].

    Contudo, antes da implementao da nova legislao, j existiam alguns progressos na

    correta gesto de RCDs, particularmente na Comunidade Autnoma de Madrid, do Pas

    Basco e da Catalunha [2.11]. Este facto deve-se ao aumento da iniciativa pblica e privada

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    29

    para a implementao de instalaes de tratamento, tanto de equipamentos fixos e

    mveis para o tratamento de RCDs como de aterros controlados [2.10].

    Existiram tambm avanos na formao e sensibilizao do sector, em grande parte

    devido a iniciativas de formao levadas a cabo pela Confederao Nacional de

    Construo (CNC), congressos desenvolvidos pela Associao das Entidades de

    Reciclagem e Demolio (GERD) e outras iniciativas que beneficiaram do apoio

    institucional e financeiro do Ministrio do Meio Ambiente e Meio Rural e Marinho (MARM).

    Estas Comunidades Autnomas desenvolveram tambm polticas ativas no mbito dos

    RCDs, incluindo a aplicao de taxas sobre a sua deposio em aterro. o caso da

    Catalunha, onde se alcanou um bom controlo do fluxo de RCDs e o desaparecimento

    virtual de despejos no controlados no seu territrio [2.10].

    O Real Decreto 105/2008, de 1 de Fevereiro de 2008, institudo como uma pea

    fundamental da poltica espanhola no mbito dos RCDS, esperando-se que contribua

    para o desenvolvimento sustentvel de um sector to importante para a economia

    espanhola como o setor da construo. Este decreto aplica os princpios: da

    responsabilidade do produtor; de preveno de resduos; da responsabilidade entre todos

    os agentes envolvidos na cadeia de produo e gesto de RCDs [2.10] .

    Este novo regulamento obriga o arquiteto a incluir um estudo sobre a gesto de RCDs na

    fase de projeto e compete ao construtor desenvolver um plano de gesto de RCDs para

    a obra. Tanto o estudo como o plano so necessrios para a obteno da licena de

    construo e necessitam de conter dois aspectos importantes: as quantidades de

    resduos e o custo do tratamento destes [2.9]. O decreto impe tambm a obrigao de

    separao dos RCDs na origem, a partir de certos limites, de modo a facilitar a sua

    posterior valorizao, e a proibio de deposio de RCDs sem tratamento prvio, de

    maneira a desencorajar a deposio de resduos valorizveis (figura 2.2).

    Prev ainda o estabelecimento de um mecanismo de controlo vinculado obteno de

    licenas de construo, no qual o produtor, atravs de uma cauo, garante o

    cumprimento das exigncias de gesto dos RCDs a ser produzidos no local.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    30

    Figura 2.2 Imagens bags em Barcelona, Espanha.

    2.1.7 Portugal

    Segundo o Decreto-Lei n. 46/2008 de 12 de Maro - O sector da construo civil

    responsvel por uma parte muito significativa dos resduos gerados em Portugal, situao

    comum generalidade dos demais Estados membros da Unio Europeia em que se

    estima uma produo anual global de 100 milhes de toneladas de resduos de

    construo e demolio (RCDs) [2.12].

    A classificao dos RCDs sofreu ao longo do tempo diversas modificaes. Numa fase

    inicial foram apreciados no Plano Estratgico de Resduos Slidos Urbanos (PERSU),

    aprovado em 1997, como um dos fluxos de RSU. Por outro lado, no Plano Estratgico

    Sectorial de Gesto de Resduos Industriais (PESGRI) publicado pelo Decreto-Lei n.

    516/99, de 2 de Dezembro, revisto pelo Decreto-Lei n. 89/2002 de 9 de Abril foram

    considerados Resduos Industriais (RI) includos na categoria de Resduos Industriais

    Perigosos (RIP) porque em grande parte dos casos contm componentes perigosos [2.13].

    Com a aprovao do Regime Geral da Gesto de Resduos - Decreto-Lei n. 178/2006,

    de 5 de Setembro - na alnea x) no artigo 3. surgiu a definio de resduo de construo

    e demolio resduos provenientes de obras de construo, reconstruo, ampliao,

    alterao, conservao e demolio e da derrocada de edificaes. [2.14].

    At publicao de um quadro legislativo especfico, publicado pelo Decreto-Lei

    n.46/2008, de 12 de Maro a gesto de RCDs era regulada pelo Regime Geral da

    Gesto dos Resduos, aprovado pelo Decreto-Lei n. 178/2006, de 5 de Setembro, bem

    como pela legislao especfica referente aos fluxos especiais frequentemente contidos

    nos RCDs, como sejam os resduos de embalagens, os resduos de equipamentos

    eltricos e eletrnicos, os polibifenilos policlorados (PCB), os leos usados e os pneus

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    31

    usados. ainda de considerar a classificao dos RCDs de acordo com a LER,

    estabelecida pela Portaria n. 209/2004, de 3 de Maro [2.15].

    O Decreto-Lei n. 46/2008, 12 de Maro estabelece o regime jurdico e normas tcnicas a

    que fica sujeita a gesto de RCDs, nomeadamente a sua preveno e reutilizao e as

    suas operaes de recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorizao e

    eliminao, de forma a no constituir perigo ou causar prejuzo para a sade humana ou

    para o ambiente.

    Tendo em conta a importncia de uma abordagem que garanta a sustentabilidade

    ambiental da atividade da construo lgica do ciclo de vida, so definidas metodologias

    e prticas a adotar nas fases de projeto e execuo da obra que privilegiam a aplicao

    dos princpios de preveno e da reduo e da hierarquia das operaes de gesto de

    resduos.

    O referido decreto-lei considera como princpio fundamental de gesto de RCDs a

    preveno da produo destes resduos, reduzindo a incorporao de substncias

    perigosas na construo, bem como o recurso triagem na origem e a sistemas de

    reutilizao, reciclagem e outras formas de valorizao, com vista a reduzir a quantidade

    e a perigosidade dos resduos a eliminar.

    O Decreto-Lei 46/2008 de 12 de Maro, veio introduzir a questo da corresponsabilidade

    na gesto de todos os intervenientes do ciclo de vida dos RCDs. Como tal, o artigo 3.

    enuncia que os RCDs produzidos em obras isentas de licena ou de comunicao prvia

    so da responsabilidade da entidade que gere os resduos urbanos (normalmente as

    cmaras municipais). Por outro lado sempre que for impossvel detetar o produtor do

    resduo o seu responsvel ser o seu detentor. O mesmo artigo refere ainda que a

    responsabilidade destas entidades s deixa de ser vinculativa quando os RCDs so

    entregues a uma entidade licenciada para o efeito.

    Este quadro legislativo contempla a correta gesto em obra e valorizao dos resduos

    produzidos, bem como orientao de demolies efetuadas por forma a instituir o

    princpio de gesto e reduo na produo de RCDs.

    Como anteriormente referido existe uma panplia extensa de resduos que so gerados

    numa obra. Contudo o Decreto-Lei n. 46/2008 contempla que podero ser usados Os

    solos e as rochas que no contenham substncias perigosas provenientes de atividades

    de construo devem ser reutilizados no trabalho de origem de construo, reconstruo,

    ampliao, alterao, reparao, conservao, reabilitao, limpeza e restauro, sendo

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    32

    que o material deste tipo que no for aproveitado nessa atividade podero ser usados em

    locais tais como na recuperao paisagstica de exploraes mineiras e pedreiras, em

    obras sujeitas a licenciamento ou comunicao prvia, cobertura de aterros de resduos

    ou locais devidamente licenciados pelas cmaras municipais ao abrigo do artigo 1. do

    Decreto-Lei n. 139/89, de 28 de Abril [2.16].

    Por outro lado, o Decreto-Lei n. 46/2008 de 12 de Maro estabelece obrigao legal de

    elaborao de um Plano de Preveno e Gesto de Resduos (PPGR) de construo e

    demolio nas obras pblicas, onde sejam assegurados princpios gerais de gesto de

    RCDs e das demais normas aplicveis. O Decreto-Lei n. 18/2008, de 29 de Janeiro que

    transcreve o Cdigo dos Contratos Pblicos (CCP) refere que o plano faz parte dos

    elementos da soluo da obra, nomeadamente do projeto de execuo e que o Dono de

    Obra responsvel pela correta execuo do plano de preveno e gesto de resduos

    de construo e demolio. O referido PPGR deve conter: a caracterizao da obra a

    efetuar, com descrio dos mtodos construtivos a utilizar tendo em vista os princpios

    referidos no artigo 2. e as metodologias e prticas referidas no artigo 5. do referido

    decreto-lei; a metodologia para a incorporao de reciclados de RCDs; a metodologia de

    preveno de RCDs, com identificao e estimativa dos materiais a reutilizar na prpria

    obra ou noutros destinos; a referncia aos mtodos de acondicionamento e triagem de

    RCDs na obra ou em local afeto mesma, devendo, caso a triagem no esteja prevista,

    ser apresentada fundamentao da sua impossibilidade; a estimativa dos RCDs a

    produzir, da frao a reciclar ou a sujeitar a outras formas de valorizao, bem como da

    quantidade a eliminar, com identificao do respetivo cdigo da lista europeia de

    resduos.

    No que concerne o caso de obras particulares sujeitas a licenciamento ou comunicao

    prvia nos termos do Decreto-lei n. 555/99 de 15 de Dezembro alterado pelo Decreto-lei

    n. 26/2010 de 30 de Maro Regime Jurdico da Urbanizao e Edificao (RJUE), deve

    o produtor de RCDs promover a reutilizao de materiais e introduo de RCDs na obra;

    assegurar a existncia na obra de um sistema de acondicionamento adequado que

    permita a gesto seletiva dos RCDs; assegurar a aplicao em obra de uma metodologia

    de triagem de RCDs ou, quando tal no seja possvel, o seu encaminhamento para

    operador de gesto licenciada; assegurar que os RCDs so mantidos em obra o mnimo

    tempo possvel, sendo que, no caso de resduos perigosos, esse perodo no pode ser

    superior a trs meses; cumprir as demais normas tcnicas respetivamente aplicveis;

    efetuar e manter, conjuntamente com o livro de obra, o registo de dados de RCDs, de

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    33

    acordo com o modelo constante do anexo II ao presente decreto-lei, do qual faz parte

    integrante.

    O RJUE cita ainda que a cmara municipal fixa as condies a observar na execuo da

    obra com o deferimento do pedido de licenciamento das obras () devendo salvaguardar

    o cumprimento do disposto no regime da gesto de resduos de construo e demolio.

    Relativamente utilizao dos RCDs em obra est sujeita a normas tcnicas nacionais e

    comunitrias, onde por outro lado e segundo o artigo 7. sempre que no existam as

    referidas normas tcnicas so reconhecidas as normas do Laboratrio Nacional de

    Engenharia Civil (LNEC) devidamente homologadas pelos responsveis do governo das

    reas envolvidas, nomeadamente a rea do ambiente e das obras pblicas.

    As normas tcnicas especficas do LNEC referidas so a E471/2006 guia para a

    utilizao de agregados reciclados grossos em beto de ligantes hidrulicos; E472/2006 -

    guia para a reciclagem de misturas betuminosas a quente em central; E473/2006 - guia

    de para a utilizao de agregados reciclados em camadas no ligadas de pavimentos;

    E474/2006 - guia para a utilizao de resduos de construo e demolio em aterro e

    camada de leito de infraestruturas de transporte;

    O Decreto-Lei n. 46/2008 de 12 de Maro descreve que as operaes de RCDs,

    nomeadamente valorizao, armazenagem, triagem e eliminao esto sujeitas a

    licenciamento conforme descrito no Decreto-Lei n. 178/2006 de 5 de Setembro [2.14]. Por

    outro lado a deposio em aterro s permitida aps triagem e sendo esta ao sujeita a

    licenciamento segundo termos do Decreto-Lei n. 152/2002, de 23 de Maio [2.17].

    Na conceo de obras pblicas e empreitadas, o projeto de execuo acompanhado de

    um Plano de Preveno e Gesto de RCDS (PPGR), tendo segundo o artigo 10. do

    Decreto-Lei n. 46/2008 de 12 de Maro, a obrigatoriedade de assegurar o cumprimento

    dos princpios gerais de gesto de RCDs e das demais normas aplicveis [2.12].

    Este plano contempla a caracterizao da obra, com a descrio dos mtodos

    construtivos a utilizar; a metodologia de preveno de RCDs, com identificao e

    estimativa dos materiais a reutilizar na prpria obra ou noutros destinos; por outro lado,

    devem contemplar a metodologia para a incorporao de reciclados de RCDs, bem

    como a identificao e estimativa dos materiais a reutilizar na prpria obra ou noutras

    obras sujeitas a licenciamento ou comunicao prvia; a referncia aos mtodos de

    acondicionamento e triagem de RCDs na obra ou em local afeto mesma, devendo,

    caso a triagem no esteja prevista, ser apresentada fundamentao da sua

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    34

    impossibilidade e por fim deve fazer referncia quantidade de RCDs que vo ser

    produzidos, referindo os que vo ser eliminados e os que vo ser valorizados ou

    reciclados devidamente identificados pelo cdigo da LER [2.12].

    O Plano de Gesto de Resduos deve estar disponvel no local da obra para poder ser

    analisado e consultado pelas entidades competentes, podendo o mesmo ser alterado na

    fase de execuo, sob proposta do produtor de RCDs, ou, no caso de empreitadas de

    conceo-construo, pelo adjudicatrio com a autorizao do dono da obra, desde que a

    alterao seja devidamente fundamentada. [2.12].

    Relativamente s obras sujeitas a comunicao prvia ou licenciamento o produtor de

    RCDs est sujeito a manter juntamente com o livro de obra, o registo de dados dos

    RCDs de acordo com modelo constante do anexo II do Decreto-Lei n. 46/2008 de 12 de

    Maro, bem como assegurar a reutilizao de materiais e introduo de RCDs reciclados

    na obra, garantindo um sistema de acondicionamento eficaz tendo em vista a triagem dos

    RCDs, promovendo esta triagem em obra e sempre que no seja possvel ser efetuada

    por um operador licenciado.

    No que concerne ao transporte dos RCDs o Decreto-Lei n. 46/2008, de 12 de Maro,

    prev no seu artigo 12. a definio de uma guia especfica para o transporte de RCDs.

    Assim, o transporte de RCDs deve ser acompanhado de guias de acompanhamento de

    resduos, cujos modelos constam dos anexos I e II da Portaria n. 417/2008, de 11 de

    Junho [2.18]. O modelo constante do anexo I deve acompanhar o transporte de RCDs

    provenientes de um nico produtor ou detentor, podendo constar de uma mesma guia o

    registo do transporte de mais do que um movimento de resduos. O modelo constante do

    anexo II deve acompanhar o transporte de RCDs provenientes de mais do que um

    produtor ou detentor.

    2.2 Normas Aplicveis

    As normas alusivas analise do ciclo de vida (ACV) encontram-se especificadas nas

    normas ambientais da srie 14000 (figura 2.3). Abordando temas especficos no que

    concerne as questes ambientais nomeadamente:

    auditorias ambientais;

    rotulagem ambiental;

    avaliao do desempenho ambiental;

    avaliao do ciclo de vida;

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    35

    sistemas de gesto ambiental;

    gesto de gases com efeitos de estufa, auditorias ambientais.

    Figura 2.3 - Estrutura das normas da srie ISO 14000 (adaptado de [2.19]).

    A srie de normas ISO 14000 envolve as seguintes normas:

    ISO 14040 Environmental management Life cycle assessment Principles and

    framework princpios e estrutura.

    Esta norma especfica a estrutura geral, os princpios e requisitos para conduzir e relatar

    estudos de avaliao do ciclo de vida, no incluindo as tcnicas de avaliao do ciclo de

    vida em detalhes.

    ISO 14041 Environmental management Life cycle assessment Goal and

    scope definition and inventory analysis definio do objetivo e anlise do

    inventrio.

    Esta norma orienta como o objetivo deve ser suficientemente bem definido para

    assegurar que a extenso, a profundidade e o grau de detalhe do estudo sejam

    compatveis e suficientes para atender ao objetivo estabelecido. Da mesma forma, esta

    norma orienta como realizar a anlise de inventrio, que envolve a recolha de dados e

    procedimentos de clculo para quantificar as entradas e sadas pertinentes de um

    sistema de produto.

    ISO 14042 Environmental management Life cycle assessment Life cycle

    impact assessment Avaliao do impacto do ciclo de vida.

    Esta norma especifica os elementos essenciais para a estruturao dos dados, sua

    caracterizao, a avaliao quantitativa e qualitativa dos impactos potenciais identificados

    na etapa da anlise do inventrio.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    36

    ISO 14043 Environmental management Life cycle assessment Life cycle

    interpretation Interpretao do ciclo de vida.

    Esta norma define um procedimento sistemtico para identificar, qualificar, conferir e

    avaliar as informaes dos resultados do inventrio do ciclo de vida ou avaliao do

    inventrio do ciclo de vida, facilitando a interpretao do ciclo de vida para criar uma base

    onde as concluses e recomendaes sero materializadas no Relatrio Final. Existem

    ainda os relatrios tcnicos:

    ISO TR 14047 Exemplos para a aplicao da ISO 14042;

    ISO TS14048 Formato da apresentao de dados;

    ISO TR 14049 Exemplos de aplicao da ISO 14041 para definio de objetivos

    e anlise de inventrio.

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    37

    3. Caracterizao dos RCDs

    3.1 Classificao e composio dos RCDs

    Com a publicao do Decreto-Lei n. 239/97, de 9 de Setembro, foram estabelecidas as

    regras a que fica sujeita a gesto de resduos no territrio nacional.

    Nos termos das alneas a) e b) do artigo 3. desse diploma, foram identificadas, atravs

    da Portaria n. 818/97, de 5 de Setembro, as substncias ou objetos a que podem

    corresponder as definies de resduos e de resduos perigosos, em conformidade com o

    Catlogo Europeu de Resduos, aprovado pela Deciso n. 94/3/CE, da Comisso, de 20

    de Dezembro de 1993, e com a Lista de Resduos Perigosos, aprovada pela Deciso no

    94/904/CE, do Conselho, de 22 de Dezembro [3.1].

    As referidas decises foram posteriormente revogadas pela Deciso n. 2000/532/CE, da

    Comisso, de 3 de Maio, alterada pelas Decises nos 2001/118/CE, da Comisso, de 16

    de Janeiro, 2001/119/CE, de 22 de Janeiro, e 2001/573/CE, do Conselho, de 23 de Julho,

    que adota a nova Lista Europeia de Resduos e as caractersticas de perigo atribuveis

    aos resduos, e que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2002.

    Nestas condies, a Lista Europeia de Resduos (tabelas 3.1 e 3.2) que consta da

    Portaria n. 209/2004, de 3 de Maro, assegura a harmonizao do normativo vigente em

    matria de identificao e classificao de resduos, ao mesmo tempo que visa facilitar

    um perfeito conhecimento por partes dos agentes econmicos do regime jurdico a que

    esto sujeitos [2.15].

    Os diferentes tipos de resduos includos na Lista so totalmente definidos pelo cdigo de

    seis dgitos para os resduos e, respetivamente, de dois e quatro dgitos para os nmeros

    dos captulos e subcaptulos. Assim sendo:

    Tabela 3.1 - Descrio dos diferentes resduos de construo e demolio na LER [2.15].

    Cdigo Descrio

    17 Resduos de construo e demolio (incluindo solos escavados de locais contaminados)

    17 01 Beto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cermicos

    17 02 Madeira, vidro e plstico

    17 03 Misturas betuminosas, alcatro e produtos de alcatro

    17 04 Metais (incluindo ligas)

    17 05 Solos (incluindo solos escavados de locais contaminados), rochas e lamas de dragagem

    17 06 Materiais de isolamento e materiais de construo, contendo amianto

    17 08 Materiais de construo base de gesso

    17 09 Outros resduos de construo e demolio

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    38

    Tabela 3.2 Parte respetiva dos RCDs na LER [2.15].

    17 RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO (INCLUINDO SOLOS ESCAVADOS DE LOCAIS CONTAMINADOS):

    17 01 Beto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cermicos:

    17 01 01 Beto.

    17 01 02 Tijolos.

    17 01 03 Ladrilhos, telhas e materiais cermicos.

    17 01 06 (*) Misturas ou fraes separadas de beto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cermicos contendo substncias perigosas.

    17 01 07 Misturas de beto, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cermicos no abrangidas em 17 01 06.

    17 02 Madeira, vidro e plstico:

    17 02 01 Madeira.

    17 02 02 Vidro.

    17 02 03 Plstico.

    17 02 04 (*) Vidro, plstico e madeira contendo ou contaminados com substncias perigosas.

    17 03 Misturas betuminosas, alcatro e produtos de alcatro:

    17 03 01 (*) Misturas betuminosas contendo alcatro.

    17 03 02 Misturas betuminosas no abrangidas em 17 03 01.

    17 03 03 (*) Alcatro e produtos de alcatro.

    17 04 Metais (incluindo ligas):

    17 04 01 Cobre, bronze e lato.

    17 04 02 Alumnio.

    17 04 03 Chumbo.

    17 04 04 Zinco.

    17 04 05 Ferro e ao.

    17 04 06 Estanho.

    17 04 07 Mistura de metais.

    17 04 09 (*) Resduos metlicos contaminados com substncias perigosas.

    17 04 10 (*) Cabos contendo hidrocarbonetos, alcatro ou outras substncias perigosas.

    17 04 11 Cabos no abrangido 17 04 10.

    17 05 Solos (incluindo solos escavados de locais contaminados), rochas e lamas de dragagem:

    17 05 03 (*) Solos e rochas contendo substncias perigosas.

    17 05 04 Solos e rochas no abrangidos em 17 05 03.

    17 05 05 (*) Lamas de dragagem contendo substncias perigosas.

    17 05 06 Lamas de dragagem no abrangidas em 17 05 05.

    17 05 07 (*) Balastros de linhas de caminho de ferro contendo substncias perigosas.

    17 05 08 Balastros de linhas de caminho de ferro no abrangidos em 17 05 07.s em 17 04 10.

    17 06 Materiais de isolamento e materiais de construo contendo amianto:

    17 06 01 (*) Materiais de isolamento contendo amianto.

    17 06 03 (*) Outros materiais de isolamento contendo ou constitudos por substncias perigosas.

    17 06 04 Materiais de isolamento no abrangidos em 17 06 01 e 17 06 03.

    17 06 05 (*) Materiais de construo contendo amianto (ver nota 4).

    17 08 Materiais de construo base de gesso:

    17 08 01 (*) Materiais de construo base de gesso contaminados com substncias perigosas.

    17 08 02 Materiais de construo base de gesso no abrangidos em 17 08 01.

    17 09 Outros resduos de construo e demolio:

    17 09 01 (*) Resduos de construo e demolio contendo mercrio.

    17 09 02 (*) Resduos de construo e demolio contendo PCB (por exemplo, vedantes com PCB, revestimentos de piso base de resinas com PCB, envidraados vedados contendo PCB, condensadores com PCB).

    17 09 03 (*) Outros resduos de construo e demolio (incluindo misturas de resduos) contendo substncias perigosas.

    17 09 04 Mistura de resduos de construo e demolio no abrangidos em 17 09 01, 17 09 02 e 17 09 03.

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    39

    Um resduo , de acordo com o Decreto-Lei n. 178/2006, de 5 de Setembro, que aprova

    o Regime Geral de Gesto de Resduos, qualquer substncia ou objeto de que o

    detentor se desfaz ou tem a inteno ou obrigao de se desfazer, nomeadamente os

    identificados na Lista Europeia de Resduos (LER) [2.14].

    Os RCDs designam, segundo o mesmo documento, o conjunto de resduos que

    proveniente de obras de construo, reconstruo, ampliao, alterao, conservao e

    demolio e da derrocada de edificaes.

    O nmero 5.32 do ponto 5.5 da reviso do Plano Estratgico de Resduos Slidos

    Urbanos (PERSU II), aprovado pela Portaria n 187/2007, de 12 de Fevereiro, constitui

    estes resduos como um fluxo especfico dos resduos slidos urbanos (RSU), a par de

    outros oito que incluem, por exemplo, pilhas e acumuladores ou veculos em fim de vida

    [3.2].

    Por outro lado, os RCDs eram classificados no Plano Estratgico Sectorial de Gesto de

    Resduos Industriais (PESGRI 99) como sendo resduos industriais (RI). A classificao

    dos resduos era feita, neste documento, de acordo com a atividade industrial que os

    produz, sendo que as atividades industriais consideradas agrupadas de acordo com a

    Classificao das Atividades Econmicas (CAE Rev. 2), estabelecida pelo Decreto-Lei

    n. 182/93, de 14 de Maio [3.3].

    A Indstria da Construo corresponde seco F da CAE Rev. 2 e engloba os

    resduos designados pela LER como 08 (resduos do fabrico, formulao, distribuio e

    utilizao de revestimentos, vedantes e tintas de impresso), 13 (leos usados), 14

    (resduos de substncias orgnicas usadas como solventes), 15 (resduos de

    embalagens, absorventes, panos de limpeza, materiais filtrantes), 16 (resduos no

    especificados equipamentos fora de uso) e 17 (RCDs).

    Na reviso deste plano, designado PESGRI 2001 e aprovado pelo Decreto-Lei n.

    89/2002, de 9 de Abril, a seco F deixa de ser abrangida (sendo-o apenas as seces C

    indstria extrativa, D indstria transformadora e H indstria da restaurao

    (catering) e E produo e distribuio de gs e gua). Os resduos de construo e

    demolio (classe 17 da LER como visto anteriormente) passam a estar includos na

    seco D, E e H [3.4].

    Desta forma, existe uma sobreposio entre o PERSU II e o PESGRI 2001, deixando

    pouco clara a posio dos RCDs no panorama dos resduos. No entanto, a

    considerao, no PESGRI 99, de mais tipos de resduos para alm dos RCDs na

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    40

    Indstria da Construo ajusta-se melhor produo efetiva de resduos em obras de

    construo, mas principalmente nas de demolio. Na tabela 3.3 apresentada a relao

    de resduos produzidos por algumas obras de demolio de edifcios de tipologia e

    funo diferentes, deixando clara a extenso e variabilidade de classes de resduos que

    podem resultar de uma demolio, bem como de construo nova, reparao e

    manuteno de edifcios.

    Tabela 3.3 - Principais origens e tipos de resduos na Unio Europeia [3.5].

    Tipo de Obra Tipos de resduos Principais origens Materiais que no so normalmente recuperados

    Demolio Alvenarias, beto armado e

    beto pr-esforado, metais

    ferrosos e no ferrosos,

    madeira, cermicos, plsticos,

    vidro, produtos de gesso e

    estuque, ferragens e guarnies

    e materiais de isolamento.

    Edifcios residenciais e no

    residenciais, estruturas de

    engenharia civil (pontes,

    viadutos, chamins, entre

    outros).

    Metais para reciclagem, entulho

    para enchimentos, algumas

    ferragens e guarnies para

    revenda, alguma madeira para

    reutilizao e pequenas

    quantidades de tijolos.

    Construo Na maioria, solos e rocha,

    desperdcios de tijolos e outros

    cermicos, restos de beto, ao,

    madeira, tintas e embalagens.

    Trabalhos de movimentao

    de terras, desperdcios e

    restos de materiais de

    trabalhos de construo.

    Solos e rochas para

    enchimentos

    Reparao e manuteno

    Semelhantes aos resduos de

    demolio: beto, alvenaria,

    solos e produtos betuminosos.

    Reabilitao e transformao

    de edifcios. Manuteno de

    sistemas de transporte.

    Semelhantes aos resduos de

    demolio. Entulho para

    enchimentos.

    Os resduos de construo compreendem, geralmente, solos de escavao e

    movimentos de terra, desperdcios, excessos e materiais partidos ou danificados gerados

    em obras de construo e ainda materiais gerados pela reparao e manuteno de

    edifcios, estradas e infraestruturas, materiais gerados em reabilitaes de fraes de

    habitao e transformaes de edifcios no residenciais.

    Os resduos de demolio compreendem, por excluso de partes, todos aqueles que

    resultam da demolio de edifcios e outras estruturas, sendo que so gerados em

    volumes substancialmente maiores e gozam de maior variabilidade quanto sua

    composio [3.5]. Os resduos de demolio tendem a contribuir com mais resduos

    contaminados por substncias indesejadas ou perigosas, tal como chumbo, tintas,

    vernizes e adesivos, e tendem tambm a consistir em aglomerados de materiais com

    ligaes tais que se torna mais difcil separ-los em materiais passveis de reciclagem

    [3.6].

  • __________________ Gesto de Resduos de Construo e Demolio em Obras de Edificao

    41

    A composio destes resduos resultado do tipo de estrutura a ser demolida, da poca

    em que foi construda o que dita as tcnicas e os materiais utilizados e do mtodo que

    se usa para a sua demolio [3.7]. A composio dos RCDs gerados numa mesma

    demolio pode ainda variar significativamente consoante o empreiteiro que a realiza

    devido, nomeadamente ao seu nvel de percia e qualidade de formao da sua mo-

    de-obra [3.6].

    Na verdade, o facto de cada demolio ser nica e particular significa que a composio

    dos resduos varivel de demolio para demolio. Alm disso, os volumes originados

    em cada obra foram ainda pouco estudados e, sem uma amostra estatstica

    suficientemente ampla e representativa, difcil dispor de dados que permitam

    estabelecer, satisfatoriamente, a caracterizao dos RCDs [3.8]. No entanto, tendo em

    conta os tipos de construo que se fazem demolir, pode tentar-se uma previso de, pelo

    menos, a parte mais representativa da constituio dos RCDs produzidos em cada local

    ou pas.

    Em Portugal, de acordo com os dados da tabela 3.4, os edifcios de habitao foram, com

    larga margem, o tipo de construo que mais se demoliu em 2000 e 2001. Tendo ainda

    em conta que o edificado habitacional representa cerca de 50% do patrimnio construdo

    e a durao da sua vida til, poder assumir -se que a maior parte dos RCDs produzidos

    no pas ter a composio dos resduos gerados tipicamente na demolio de um edifcio

    de habitao.

    Tabela 3.4 - Demolies de edifcios concludos, por NUTS II, segundo as caractersticas, em 2000 e 2001 (INE)

    Obras concludas

    Regies

    Total

    Demolio de edifcios

    Destino anterior dos edifcios

    Habitao Outros destinos

    2001

    Portugal 193 173 159 34

    Continente 193 173 159 34

    Norte 3 3 3 -

    Centro 25 23 21 4

    Lisboa e Vale do Tejo 106 92 83 23

    Alentejo 2 2 1 1

    Algarve 57 53 51 6

    Reg. Aut. Aores - - - -

    Reg. Aut. Madeira - - - -

    2000

    Portugal 308 285 233 75

    Continente 308 285 233 75

    Reg. Aut. Aores - - - -

    Reg. Aut. Madeira - - - -

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    Por sua vez, as caractersticas dos edifcios em Portugal foram, naturalmente, variando

    ao longo dos tempos e com ela os materiais usados na construo.

    A tabela 3.5 revela a evoluo dos sistemas de construo desde data anterior a 1755

    at aos dias de hoje, bem como os materiais incorporados dominantemente nas

    construes em cada um dos sistemas.

    Segundo Hendricks e Pietersen, os RCDs produzidos hoje em dia so baseados nos

    materiais de construo utilizados h cerca de 50-100 anos atrs, a demolio incidiu,

    nessa altura, essencialmente sobre edifcios de habitao, construdos na segunda

    metade do sculo XIX [3.9].

    Tabela 3.5 - Caracterizao da construo de edifcios em Portugal [3.9].

    Ano poca Sistema Construtivo Subprodutos

    Anterior a 1755 Anterior ao terramoto Alvenaria de pedra Alvenaria de pedra, madeira, porcelanas, metais e areias.

    1755 at ao III quartel do sc. XIX

    Pombalina

    Alvenaria portante

    Alvenaria de pedra, argamassa de cal,

    areia, porcelanas, madeira, vidro, metais, txteis e azulejos.

    III quartel do sc.

    XIX

    at 1930

    Gaioleiro Alvenaria Alvenaria de pedra, areias, porcelanas, madeira e metais.

    1930 at hoje

    Atual

    Beto armado

    Alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo, madeira, beto, vidro, metais, txteis, azulejos e papel e carto.

    Os materiais desse tipo de construo revelaram-se semelhantes em todos os Estados-

    Membros paredes resistentes de alvenaria de tijolo ou pedra com estrutura de

    pavimentos de madeira e revestimento interior de gesso e telhas de ardsia [3.5].

    A composio da construo praticada do terceiro quartel do sculo XIX at hoje

    consistente com a constituio estimada dos RCDs na UE, apresentada na Tabela 3.6.

    Tabela 3.6 - Estimativa da constituio dos resduos de construo e demolio de edifcios na UE [3.5]

    Fileiras Composio (%)

    Alvenaria 57

    Beto 37

    Madeira 2

    Ao 0,3

    Diversos 3,7

    Apesar de ainda poder ter menor significado do que a demolio de edificado antigo, o

    nmero de demolies de edifcios habitacionais mais modernos cresce todos os anos na

    UE, ocorrendo normalmente para dar lugar a novo desenvolvimento urbanstico ou erros

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    de construo, como a presena de cimento com grandes quantidade de alumnio em

    edifcios de apartamentos com vrios andares [3.5].

    Contudo, perspetiva-se que, num futuro prximo, estas motivaes para a demolio de

    construes modernas deem lugar necessidade da renovao do parque edificado,

    uma vez que, de acordo com a tabela 3.7, os primeiros edifcios habitacionais construdos

    com beto armado comeam a chegar ao fim da sua vida til prevista.

    Tabela 3.7 - Ciclo de vida previsto para cada tipo de estrutura [3.5].

    Categoria Tipo de Edifcios Ciclo de vida previsto para as estruturas (anos)

    Proporo relativa

    Vida Curta Industriais 40 20%

    Vida mdia Habitao e comercio 70 50%

    Vida longa Escolas e hospitais 100 30%

    Assim sendo, tendo em ateno a proporo dos alojamentos clssicos em 2001, por

    poca de construo (figura 3.1), em que 86% da construo posterior a 1945, poder

    prever-se que os subprodutos do beto armado como sistema operativo constituir a base

    da composio dos resduos obtidos na demolio de edifcios de habitao.

    14%

    23%

    63%

    Antes 1945

    1946-1970

    1971-2001

    Figura 3.1 - Estrutura dos alojamentos clssicos existentes, por poca de construo em Portugal, em 2001 (INE)

    Para alm da demolio dos edifcios da habitao, de referir a demolio dos edifcios

    no residenciais que podem ser divididos em trs grupos: os comerciais (centros

    comerciais e de escritrios e servios), os industriais (fbricas e oficinas) e um terceiro

    grupo de edifcios que no se encaixam nas duas primeiras categorias, como so as

    igrejas, escolas, hospitais, hotis e outros similares.

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    3.2 Origem dos RCDs

    Os RCDs, de acordo com Symonds Group podem ter origem [5.6]:

    1. Em demolies totais ou parciais de edificaes e/ou obras de infraestruturas

    civis;

    2. Durante o processo de construo de edificaes e/ou obras de infraestruturas

    civis;

    3. Nos trabalhos de terraplanagem e fundaes;

    4. Na construo e manuteno de estradas;

    Para a Agncia Portuguesa do Ambiente, os resduos de construo e demolio so

    produzidos durante a construo, demolio, manuteno de edifcios, estradas, pontes,

    viadutos e so compostos essencialmente por, beto, madeira, gesso, asfalto, metais,

    vidro, plstico, tijolos, solos e vegetao [4.7].

    As catstrofes naturais ou artificiais (incndios, desabamentos, entre outros), as

    deficincias inerentes ao processo construtivo utilizado nos dias de hoje e a baixa

    qualificao da mo-de-obra podem tambm ser considerados como fontes de produo

    de RCDs [3.10].

    Segundo dados no Instituto Nacional de Estatstica - INE (figura 3.3) em Portugal, 41%

    dos RCDs tm origem em construes novas (considerando um todo), por outro lado

    59% so referentes a reconstrues, ampliaes e demolies.

    59%20%

    21%Reconstruo /ampliao / demolio

    Construo nova

    Construo nova acima300m2

    Figura 3.2 Percentagem de produo de RCDS em Portugal por interveno (INE, 2001).

    Quando comparados, em alguns pases da Europa pode verificar-se que a percentagem

    de reutilizao e reciclagem dos RCDs produzidos na Holanda e na Dinamarca atingem

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    valores na ordem dos 90% e 81% respetivamente. Por outro lado, Portugal e Espanha

    reutilizam e reciclam menos de 5% dos RCDs produzidos (tabela 3.8). Essa diferena

    pode ser atribuda s tcnicas e materiais empregues na construo em pases

    desenvolvidos.

    Tabela 3.8 - Fluxos de RCDs na UE [5.6].

    Pas RCDs (milhes de toneladas) % reutilizao e reciclagem % incinerao e aterro

    Alemanha 59 17 83

    Frana 24 15 85

    Espanha 13 5 95

    Holanda 11 90 10

    Portugal 3 5 95

    Dinamarca 3 81 19

    Por outro lado, Pinto e Gonzles afirmam que a taxa de produo mdia de resduos em

    novas construes aproximadamente 150 Kg/m2 [3.11]. Em obras o processo utilizado

    no interfere diretamente no volume de resduos gerado, pois esse entulho faz parte do

    processo. Porm algumas tcnicas como a da demolio seletiva e a desconstruo

    minimiza a contaminao dos RCDs, aumentando o potencial de reutilizao e

    reciclagem dos mesmos, necessitando de mo-de-obra mais qualificada e requer mais

    tempo que a demolio tradicional [2.13] .

    Na Europa, a origem de RCDs atinge valores entre 0,52 e 2,56 t/hab.ano, como se pode

    observar na tabela 3.9. No caso do nordeste transmontano, sero admitidos os valores

    registados de 0,32 t/hab/ano de produo de RCDs na construo e de 0,42 t/hab/ano

    em casos de demolio, para criao de 3 cenrios de localizaes de aterros de RCDs

    por forma a rentabilizar recursos e eliminar os depsitos ilegais que surgem um pouco

    por todo o distrito de Bragana e Douro Superior.

    A ideia chave passa por criar possveis cenrios contabilizando os custos totais da

    deposio dos resduos para deposio dos RCDs usando infra-estruturas existentes

    devidamente licenciadas para o efeito, licenciando espaos novos e/ou para recuperar

    pedreiras existentes que necessitam de recuperao paisagstica.

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    Tabela 3.9 - Taxa de produo per capita de RCDs em pases europeus [3.12]

    Origem dos

    resduos

    Unidade Dinamarca Alemanha Frana Portugal Espanha

    Construo

    t/hab.ano

    0,13 0,73 0,28 0,32

    0,52 0,76

    Demolio 0,34 0,05 0,23 0,42

    Obras virias 0,07 0,18 1,66 0,02

    Escavao 0,12 1,6 des. 0,26

    Total t/hab.ano 0,66 2,56 2,17 0,6 0,52 0,76

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    4. Prticas para a gesto de resduos

    A deposio de RCDs em locais licenciados e no licenciados para o efeito constituiu

    grande ocupao volumtrica, sendo uma preocupao que comea hoje a ser invertida

    tanto quanto possvel. O ideal est em produzir menos quantidade de resduos e os

    produzidos que possam ser reutilizados ou reaproveitados na sua maioria. A otimizao

    de prticas de construo tem vindo a ser fomentada, pois representa custos nos

    desperdcios de material e de mo-de-obra, de transporte e no destino final.

    A triagem e reciclagem so fundamentais nas questes de valorizao dos RCDs (figura

    4.1) por forma a conseguir rentabilizar de modo aceitvel os recursos existentes. Por

    outro lado, segundo o artigo 8. do D.L n. 46/2008, de 12 de Maro os RCDs so

    obrigatoriamente objeto de triagem em obra ou em operador de gesto licenciado e

    estes resduos no podero ser depositados em aterro sem que os mesmos no sejam

    devidamente triados [2.12].

    Figura 4.1 - Diagrama Geral de um processo de triagem e reciclagem [4.1]

    Atualmente a deposio em aterro a soluo mais usada em Portugal essencialmente

    para reabilitao de pedreiras inativas. Contudo, esta prtica deve ser vista apenas

    quando a revalorizao por meio de reciclag