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8/22/2019 Gilka Vargas
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Gilka Padilha de Vargas1Mestranda em Comunicao Social pela PUCRS
Resumo: Atravs de breve relato das transformaes tecnolgicas apresentadas
pelo cinema ao longo de pouco mais de um sculo, o presente artigo aborda como a
funo atualmente denominada direo de arte acompanha esta s inovaes. Tendo
como recorte os cinemas europeu e norte americano, assinalado o modo p elo qual
a direo de arte modifica seu fazer, adaptando-se s mais diversas tecnologias
introduzidas na realizao cinematogrfica, dos primrdios at o cinema digital
dos dias atuais.
Palavras-chave:cinema, tecnologia, direo de arte.
A arte no se produz no vazio. Nenhum artista independente
de predecessores e modelos. Na realidade, a histria, mais do que
simples sucesso de estados reais, parte integrante da realidade
humana [...] O passado no apenas lembrana, mas sobrevivncias
como realidade inscrita no presente. As realizaes artsticas
dos antepassados traam os caminhos da arte de hoje e seus
descaminhos. (PLAZA, , p. )
Desde aquela mo carimbada na caverna e daquele javali desenhado
com pernas a mais, a reproduo da imagem em movimento
parece ser uma obsesso do ser humano: reproduzir a imagem (seja
atravs do desenho, pintura, cmara escura ou fotografia), projetar
a imagem reproduzida (lanterna mgica), reproduzir o movimento
(teatro de sombras, brinquedos pticos, fuzil fotogrfico), projetar
a imagem reproduzida em movimento. Finalmente chegamos aocinematgrafo, aparato que vem sofrendo mltiplas transformaes
desde o seu surgimento em .
Assim como Muybridge e Marey, os Lumire estavam interessados
no aspecto cientfico do processo de reproduo das imagens em
movimento; os primeiros, para estudar o movimento per se, e os
[email protected] cinematgrafo Lumire
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Lumire, para aperfeioar seus equipamentos fotogrficos que
depois espalharam pelo mundo com seus operadores de cmera
para registrar, documentar a realidade mundial as atualidades -,
to distante dos parisienses.
Em seu estgio inicial, o cinema buscou inspirao nas artes daliteratura, do teatro, da pintura; o espectador, por sua vez, encontrava-
se habituado s convenes teatrais, cenografia composta por painis
pintados ao fundo e a assistir ao espetculo imvel, confortavelmente
instalado em seu assento perpendicular ao palco - ponto de vista que
lhe era oferecido pelas primeiras cmeras. Neste momento, afirma
Landim (, p. ), o prazer visual era muito mais importante
que qualquer pretenso narrativa e os espectadores estavam mais
interessados nos filmes mais como um espetculo visual (atraes -
views) do que como ma neiras de contar histrias.
E eis que o mago francs entrou em cena: Mlis introduziu a
experimentao, a fantasia, a iluso, o espetculo, os cenriosfantsticos, as atualidades reconstitudas, as trucagens e mentiras
que at hoje encontramos no cinema e que tanto prazer nos
proporcionam. A partir de , conforme coloca Sadoul (, p.
), filmava em seu estdio, pintando em diferentes tons de cinza os
ambientes, o mobilirio e os acessrios, mostrando-se preocupado
em criar volumes, forando a perspectiva com suas sombras e com
seus alapes, herdados do teatro de feira, mostrando diferentes
nveis. Utilizava maquetes; controlava a entrada de luz atravs de
vrios tecidos colocados est rategicamente no telhado e nas laterais
de seu estdio de vidro; fazia experimentaes com a pelcula. Para
Couto (, p..), com Mlis,ficou clara a importncia da relao
entre o visual e o uso da tecnologia disponvel na criao de efeitos
visuais que possibilitem uma experincia incomum ao espectador.
Cruzamos o oceano e encontramos Edwin Porter: Vida de um
bombeiro americano(Life of an americanfireman, ), com imagens
reais de arquivo - e imagens produzidas mescladas na mesma
histria, construindo uma narrativa baseada na alternncia de duas
aes paralelas. No ano seguinte, em O grande roubo do trem(e
Great Train Robbery, ) vemos a cmera no exterior, ambientes
internos construdos e, segundo informa Ponce (, p. ),
algumas cenas apresentadas frontalmente, como no teatro, e outras
[] se desenvolvendo em profundidade, trabalhando a aproximao
e o afastamento dos personagens em relao cmera. Ituarte e
Letamendi (, p. ) referem o uso de planos gerais e mdios
combinados entre si, alm de variados ngulos de enquadramentoe leves movimentos de cmera que, juntos, acabaram por criar uma
ao dramtica dinmica. Assim, paralelo aos avanos tecnolgicos,
ocorreu o incio da estruturao da linguagem cinematogrfica; ao
mesmo tempo em que surgiram novas cmeras, novos acessrios,
novos artefatos de luz, a montagem clssica teve sua semente lanada.
De acordo com Frasquet (), em a cmera comeou a entrar
na ao e a mover-se como se fosse mais um dos personagens,
resultando no final do teatro filmado e no comeo do cinema. E,
para manter a iluso os cineastas passaram a construir cenrios mais
realistas em trs dimenses. Entre e , conforme Landim
(), os filmes ficaram mais longos e comearam a enfrentar odesafio de construir cinematograficamente os elos de narrao eis
o comeo da estabilidade narrativa.
Pas das grandes peras, dos magnficos cenrios teatrais e da
arquitetura monumental, em , a Itlia apresentou ao mundo
Cabiria(Giovanni Pastrone). Umfilme com cenrios tridimensionais
pensados pelo arquiteto Camillo Innocenti para a cmera andar
dentro deles, segundo afirma Martins (). O espectador
continuava esttico, mas ela estava mais livre, acompanhando atores
e ao, explorando os ambientes. nestes cenrios que comeou a
deslizarparalela s cenas, permitindo que o cinema deixasse de ser
plano e obtivesse maior sensao de relevo - impossvel com cenrios
at ento pintados na tcnica trompeloleil.
Abandonando o uso exclusivo dos ambientes montados nos terraos dos prdioscom grandes teles pintados ao fundo. (Ramrez, , p. )
Conforme Martins (), o fotgrafo, Segundo de Chomn colocou a cmerasobre uma plataforma mvel, improvisando o que talvez tenha sido o primeirotravellingdo cinema.
Trompe loleil, do francs: engana-olho, engana-viso. Pintura planasobre uma superfcie que, mediante artifcios de perspectiva, imita objetostridimensionais, iludindo a viso. Falsa profundidade. (DEL NERO, , p. )
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Facilmente percebemos a influncia deste filme sobre Griffith e
seu Intolerncia (Intolerance, ). Estrada () esclarece que foi
erguido o maior setconstrudo nos Estados Unidos at o momento:
muralhas de mais de metros de altura e ruas sobre as quais podia m
circular carruagens criando um novo conceito em termos de escala eproporo da figura humana na tela cinematogrfica. Rossini ()
acrescenta que, alm destas inovaes, Griffith foi o primeiro a
utilizar recursos como a montagem, o plano detalhe, movimentos de
cmera e outros mtodos de manipulao espacial e temporal; estes
so elementos narrativos e no apenas de registro de imagens.
Na Alemanha, a UFA produziu O gabinete do doutor Caligari(Das
kabinett des doktor Caligari, Robert Wiene, ). A deciso de no
montar o cenrio em estdio partiu de limitaes oramentrias,
mas acabou contribuindo para a visualidade marcante, funcional
trama proposta. O filme sacudiu toda a indstria (e o espectador!) por
utilizar a cmera como um instrumento da expresso imaginativa.Carrick (), mostrou que uma obra cinematogrfica no precisa ser
necessariamente realista, mas sim, uma realidade possvel, com imagens
representando um mundo interior de um louco -, uma construo
mental que nega a realidade objetiva. A viso de perspectivas falseadas
e imprevisveis, de formas distorcidas, despertam no espectador os
sentimentos de insegurana, inquietude e desconforto.
Nos anos, a revoluo russa atingiu tambm o cinema. Discorrendo
sobre as experimentaes que Kulechov realizou sobre o processo da
montagem, Guimares () coloca que este relacionava planos que
geram diferentes significados. Trata-se de um mtodo de exercitar
ritmo, gerar e exprimir significados onde o todo maior que a soma
das partes; a montagem passa a caminhar com a idia que analisa,
critica, une e generaliza (p. ). A autora refere que outros diretores
tambm se destacam como Pudovkin, Vertov e Einsenstein, sendo
que este apresentou produes fortemente apoiadas em metforas,
Rede de estdios cinematogrficos mais importante da Alemanha durante aRepblica de Weimar e III Reich.
Na realidade, trata-se de uma grande casa vazia na qual construram os fundoscom tecido, papelo e madeira.
praticou a montagem conceitual decorrente de colises entre planos,
imagens e sons. Os filmes realizados neste perodo foram rodados
em locaes externas, nos palcios, nas ruas e com pessoas do povo.
Em , Douglas Fairbancks, produtor, diretor e protagonista
de O ladro de Bagd (e ief of Bagdad), pediu a Menziese Grotuma Bagd mgica. Sob o ponto de vista de Couto (),
recebeu um espetculo visual de propores fantsticas: uma cidade
propositalmente irreal, onrica e extremamente sofisticada. A
profuso de detalhes, texturas e padres, a rica elaborao de cenrios
e figurinos, todos sem compromisso com a realidade, do ao filme
uma beleza extraordinria, acentuam o clima de fantasia da histria
e do ao visual status de estrela. A partir deste filme, os grandes
estdios americanos investiram pesado no espetculo monumental,
passando tambm a vender os grandiosos cenrios, as produes
tremendamente embelezadas em seus ambientes e figurinos. Temos
ento, o incio da poca dourada do studio system que ocorreu
entre e . Nela, os filmes foram totalmente produzidos emestdios: os interiores, construdos em grandes galpes e as cenas
externas, rodadas nos backlots.
Fritz Lang, na Alemanha, realizou Metrpolis () e nos estdios
da UFA segundo Couto (), vrios efeitos especiais foram
utilizados para otimizar os cenrios. Entre eles, a tcnica Schan
que aumenta a altura dos edifcios, do estdio onde os ricos praticam
William Cameron Menzies, diretor de arte americano, considerado um dosnomes mais importantes da histria da Direo de Arte.
Anton Grot, diretor de arte polons que emigrou para os EUA em ,trabalhando nos grandes estdios, at .
Anncio oficial do filme Os dez mandamentos(e ten commandments,CecilDeMille, ): Esplendor do cenrio! Luxo no figurino! Vocs, aficcionadosconhecedores, j tm isto certo nos filmes da Paramount. (Ramrez,, p.)
reas que os estdios possuam prximas aos galpes, para construir cenriosfixos, grandes edificaes, pequenas e grandes cidades.
Eugne Schan utiliza uma maquete construda ou pintada, que se refletesobre um vidro prateado colocado a sobre o eixo ptico e preenchendo assim aparte no construda do cenrio.
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esportes; a animao stop-motion foi usada para dar movimento
aos carros e avies na maquete da cidade na superficie; animao
tradicional, quadro a quadro, para as imagens das luzes da cidade e
a tcnica de back projection, na cena em que Fredersen fala com um
funcionrio atravs de um dispositivo de comunicao que o mostra
na tela. Estrada (, p. ) afirma que Metrpolis representa oapogeu do expressionismo de dimenso arquitetnica, assim como
O gabinete do doutor Caligario foi em su a vertente pictrica.
Em outubro de , nos cinemas norte americanos, o espectador
foi surpreendido pelo som: Alan Crosland lanou O cantor de jazz,
(e Jazz Singer), com o sistema sonoro Vitaphone. Entretanto, o
perodo mudo se estendeu at /. A chegada do som provocou
uma srie de limitaes no set, conforme a perspectiva de Couto
(), a localizao de portas e janelas e o tipo de material utilizado
consideravam no apenas o efeito visual, mas tambm o efeito acstico
por eles provocado; locaes externas foram preteridas e o ambiente
controlado do estdio passou a ser hegemnico. Martins (
)assinala que como consequncia do microfone esttico, tambm a
cmera parou, e a fluidez dos movimentos desenvolvida por anos de
experimentao tornou-se inadequada; a cmera transformou-se em
prisioneira dos limites impostos pelos roteiros (mais precisamente
pelos dilogos) e das cenas que podiam (ou no) ser fotografadas. A
montagem, atravs da qual criado o sentido, continuou a ser um
aspecto importante; mas, neste momento, havia mais um elemento
na composio flmica: os dilogos. E foi ao longo dos anos que
o cinema reconstruiu sua linguagem, compatibilizando som e
imagem, optando por dilogos coloquiais, recuperando aos poucos
a identidade visual.
Na animao stop-motiono objeto movido em pequenos incrementos entreos quadros individualmente fotografados, criando a iluso de movimento quandoa srie de quadros projetada como uma sequncia contnua.
Na tcnicaback projection o cenrio projetado atrs dos atores sobre uma telatranslcida; os atores atuam na frente da tela de projeo.
Traduo da autora. No original:Metrpolisrepresenta el apogeo delexpresionismo de dimensin arquitectnica, como El gabinete del doctor Caligarilo fue en su vertiente pictrica.
Sistema sonoro que utilizava o processo de gravao da banda sonora numdisco que posteriormente era sincronizado durante a exibio do filme.
A ambio de filmar em cores nasceu com o cinema, sendo que o
primeiro processo, a primeira tentativa, foi o tingimento mo ;
aps, a tcnica de viragens coloridas . De acordo com Martins ()
as pesquisas relativas ao uso da cor foram aceleradas e por volta de
, o Technicolorfoi aperfeioado com um sistema de trs cores
comercializvel, utilizado pela primeira vez no filme Vaidade e beleza,(Becky Sharp, Rouben Mamoulian, ). E o vento levou(Gone With
e Wind, Victor Fleming, ) foi o primeiro dos grandes filmes
a receber os benefcios dessas melhorias. A implementao deste
sistema na dcada de , esclarece o autor, forou as construes em
estdio, pois a cmera utilizada era muito grande - o que di ficultava
sua mobilidade - e exigia total controle sobre as condies climticas
e da iluminao, alm de maior preciso na pintura dos cenrios,
realizada em cores fortes e excluindo semitons.
Em , Orson Welles lanou Cidado Kane(Citizen Kane), rodado
em preto e branco e com o uso sistemtico da profundidade de
campo que, conforme argumenta Ramrez (
), exigiu perfeio noscenrios; posies de cmera inusitadas comoplonge e contra-plonge,
angulao esta que i mplicou na construo de tetos cenogrficos, at o
momento no utilizados em funo dos aparatos de luz e do microfone.
Na Europa, no final da Segunda Guerra Mundial, surgiu o cinema
moderno, tendo como expoentes Antonioni, Bertolucci e Pasolini
e marcado pelo neorrealismo italiano de diretores como Rosselini,
Visconti e Vittorio De Sica. Para Guimares (), na tela, o impacto
foi ocasionado por imagens que exerceram a funo de compor o
mundo, e no mais constru-lo. Gelpi () afirma que foi nas ruas
que o cinema encontrou seus ambientes, com os intensos dramas
causados pela luta pela sobrevivncia ocorrendo em runas e penses.
Com isto, cmeras e refletores mais leves passaram a ser aperfeioados
Processo que consistia em colorir manualmente fotograma por fotograma.
Trata-se de submeter a pelcula a um banho qumico,fixando-se uma nicacor por plano, cena ou sequncia, dependendo do material e das escolhas dorealizador.
A cmera technicolor three-stripsfilma uma nica cena em trs negativosseparados. Ao final, obtm-se um positivo com as cores complementares sutilizadas (cyan, amarelo e magenta, e como na impresso grfica, mais umacamada de preto), gerando um filme de cores fortes e distintas. (Couto, , p. ).
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e utilizados; foi reduzida a quantidade de equipamento de luz, em
funo da maior sensibilidade dos negativos.
Na dcada de surgiu a nouvelle vague, liderada por Godard e
Truffaut, que optaram por um cinema fundamentado em experincias
pessoais com a valorizao da simplicidade e de aspectos da vida diria;filmes que expressavam uma presena marcante do diretor na sua
autoria, afastando as filmagens dos estdios em proveito das realizadas
em exteriores e interiores reais. Em relao direo de arte, afirma
Barsacq (), anouvelle vague associada s histrias de gente comum
do neorrealismo italiano, aos documentrios blicos - proporcionou
a concepo e construo de cenrios menores, de tamanho mais
prximo da realidade. O fato de rodar em locaes reais implicou em
aumento de sensibilidade da pelcula, equipamentos menores e mais
leves, e fotgrafos mais experientes que aprenderam, nas ruas, a fazer
o desenho da luz com dificuldades inexistentes em estdio.
Neste perodo em Hollywood,a TV cresceu
e, segundo refere Olson(), os grandes estdios reagiram, passando a produzir tambm para
este meio eletrnico. Consequentemente, a direo de arte precisou se
adaptar aos novos equipamentos, que colocaram ambiente e atmosfera
em segundo lugar; assim como na implementao do som e da cor,
as necessidades da nova tecnologia prevaleceram. Ento, trabalhou
com uma gama de cinzas bem limitada, evitando contraste e vendo
os cenrios inundados por uma luz intensa e plana. Outra tentativa
de reao dos estdios foi v ista nas super-produes que comearam
a ser mostradas na grande tela atravs do novo sistema Cinemascope.
Ao alargar a imagem na tela, o sistema gerou modificaes quanto ao
trabalho da direo de arte: criou a necessidade de cenrios maiores,
com mais mobilirio e acessrios para preencher o quadro e, como
no havia cho, a tendncia foi a de colocar mobili rios (como mesas)
baixos, para que o espectador tivesse a ilusode piso.
Paralelo a isto, conforme aponta Rossini (), o desenvolvimento do
videoteipe permitiu que a TV estabelecesse esttica prpria, com planos
As primeiras imagens de TV so apresentadas ao pblico norte americano em.
OCinemascopefoi uma tecnologia de filmagem e projeo que utilizava lentesanamrficas. Foi utilizada entre e para a gravao de filmeswidescreen.
mais fechados, montagem mais acelerada e narrativas elpticas. Cinema
e TV organizaram suas prprias formas narrativas, pois suas realizaes
apresentavam diferentes espectadores, diferentes espaos de exibio e
diferentes equipamentos para captao e finalizao de imagens.
O espao sideral: este era um sonho desde Mlis. Em , oespectador chegou a ele conduzido por Stanley Kubrick em seu :
uma odissia no espao(: a space odyssey). Couto () coloca
que at : uma odissia no espao, as imagens dos filmes de fico
cientfica resultavam da imaginao criativa de seus realizadores.
Kubrick, por sua vez, chamou cientistas da NASA para sua equipe,
pois desejava que o espectador vivenciasse uma experincia
essencialmente visual e tambm, que se sentisse no espao. Aqui,
temos um marco visual e tcnico que revolucionou a maneira
de conceber e executar visualmente um filme; a cumplicidade
estabelecida entre tecnologia e visualidade, entre efeitos visuais
e direo de arte foi extremamente importante, uma vez que a
tecnologia foi utilizada no apenas como uma referncia para criaruma ambientao verossmil, mas tambm como um instrumento
que viabilizava a criao de imagens verossmeis.
Em meados dos anos , cineastas como Nicholas Ray, Jacques Tati,
Wim Wenders, Michelangelo Antonioni, Francis Ford Coppola e o
prprio Jean-Luc Godard, comearam uma busca pela experimentao
do vdeo e do cinema fundidos, o que seria, para Dubois (, p.
), uma espcie de mostrar as coisas atravs de telas de vdeo
refilmadas, que so literalmente embutidas, incrustadas no quadro
negro da imagem de cinema. De acordo com Freitas (), foi neste
perodo que a informtica estreou no cinema via efeitos especiais,
participando de filmes de fico cientfica baseados no imaginrio
ligado conquista e explorao do espao, e proporcionando todo
tipo de sensao ao espectador. E, se o espectador j navegava pelo
espao em magnficas espaonaves e se relacionava com aliengenas,
em Tron - Uma Odissia Eletrnica (Tron, Steven Lisberg, ),
foi levado para o colorido e mgico mundo virtual no interior do
vdeo ga me. O diretor proporcionou o encontro do ci nema com o
computador, do vdeo game com o mundo do espetculo. Para a
autora, Tronprojetou a imagtica tecnolgica no mais num espao
de extraterrestre, mas num ciberespao informtico que se revelou
definitivamente no cinema dos anos (FREITAS, , p. ).
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Ainda na dcada de , surgiu o movimento Dogma, frontalmente
contrrio espetacularizao do cinema e ao mito hollywoodiano,
aos conceitos de autor e de cinema individual, aos efeitos especiais,
maquiagem, ao desenho de luz e ao som extra-diegtico. Conforme
Freitas (, p. ), [...] a imagem digital pode ser vista como um
retorno s origens do cinema e, ao mesmo tempo, como um salto nops-cinema, no cinema eletrnico.
Ao longo dos anos e ocorreram vrias transformaes
tecnolgicas; cada vez mais as tecnologias interagiam, cada vez mais
cinema e informtica dialogavam. Enquanto os efeitos especiais
invadiam as telas, as cmeras diminuia m de tamanho e apresentavam
maiores recursos; havia constante intercmbio de informaes ; velhos
e novos diretores experimentavam, buscando usufruir o melhor do
que lhes era oferecido. Como resultado desta articulao, podemos
ver obras como Timecode(Mike Figgis, ) eArca russa(Russkiy
kovcheg, Sokurov, ), impossveis em pelcula. Buena Vista Social
Club(Wim Wenders,
) teve seu oramento viabilizado. Matrix(e Matrix, Andy e Larry Warchowski, ), Danando no escuro
(Dancer in the Dark, Lars Von Trier, ), Cidade dos sonhos
(Mulholland Drive, David Linch, ) so mais alguns exemplos dos
filmes produzidos neste perodo. Temos tambm grandes produes
como Titanic (James Cameron, ) e Avatar (James Cameron,
) ambos blockbusters:seu sucesso comprovou que a frmula
espetacular, grandiosa hollywoodiana permanecia intacta com a
diferena de que, neste momento, grande parte das imagens e dos
efeitos especiais era gerada em computadores. Hollywood j no
vendia o luxo, a suntuosidade dos cenrios e figurinos, mas sim a
alta qualidade e diversidade de efeitos especiais.
As tecnologias continuam convergindo incessantemente e proliferam
formatos em diferentes nveis de definio, como o HD, o Full HD, o
Ke o K. Tambm o nmero de fabricantes e a s especificidades dos
equipamentos apresentam extrema variedade, de mini-cmeraGo
Pro, que pode ser fixada em praticamente qualquer tipo de suporte,
passando pelas cmeras HDSRL, como as da linha Canon(D, D,
D), at as sofisticadas Red One, criadas para otimizar a profundidade
de campo e fidelidade de cores e contrastes. O cinema tem suas
imagens captadas em cmeras digitais, criadas e ps-produzidas
em computadores. O que conhecemos como alta tecnologia veio
para ficar, trazendo toda esta praticidade cmeras extremamente
pequenas e leves, que com alta sensibilidade luz proporcionam
imagens com uma qualidade cada vez mais prxima da pelcula.
Este desenvolvimento extraordinrio, com a alta definio e a ps-produo digital, modifica o papel desempenhado pela direo de arte.
Olson (, p. .) afirma que temos sistemas de realidade virtual
que, atravs de suas pequenas telas coloridas e trajes com sensores,
podem situar o espectador em u m ambiente criado sinteticamente.
Do cinematgrafo ao cinema digitalou Do analgico ao digital. Parece
um simples ttulo de algum captulo a ser escrito. No entanto, trata-se
de um captulo que perpassa um pouco mais de um sculo, e traz em
si as transformaes acumuladas pelo cinema ao longo de sua histria,
sempre em busca de melhor captar, melhor tratar, melhor exibir as
imagens que nosso crebro continua recebendo e reconhecendo
como realidade. Durante estes cento e alguns anos, profi
ssionaisde diferentes reas trabalharam para que as imagens aparecessem
perfeitas na tela; para que os sons se espalhassem, fidedignos, pela
grande sala escura; para que as cores no nos soassem to falsas; para
que Nosferatu, King Kong, oPredador, ou o Faunomexessem com
nosso imaginrio; para que ns, enquanto espectadores, pudssemos
sentir os ps gelados aos acompanharmos o funeral da virgem pela
Traduo da autora. No original: Los sistemas de realidad virtual, a travs desus dos pequeas pantallas de color y sus trajes equipados com sensores, pueden
situar al espectador en um entorno creado sinteticamente.
Utilizamos aqui o termo como: a expresso cinema digital usada paradesignar os filmes que utilizam as novas tecnologias, trate-se quer de filmesrealizados no suporte tradicional, a pelcula, e que usam recursos digitais naps-produo; quer de filmes que usam aparelhos digitais na captao de imagense sons; quer, ainda, de filmes que utilizam a computao grfica em todas as suasetapas de concepo (PENAFRIA e Martins, , p. ).
Nosferatu (Eine Symphonie des Grauens, F.W. Murnau, ).
King Kong(Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, ).
Predador(e predator, de John McTiernan, ).
O labirinto do fauno(El laberinto del fauno, Guillermo del Toro,).
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neve, ou seguir os passos de Joana at a fogueira, assim como andar
com Sweeney Todd em sua Londres virtual.
A pelcula, cmera, lentes e os artefatos de luz, os equipamentos de
som, os materiais cenogrficos e todo o arsenal utilizado na feitura
de um produto audiovisual foram aperfeioados ou substitudospor outros mais eficazes: cmeras digitais, computadores, sowares,
efeitos especiais, criao e duplicao de imagens, cenrios e
personagens virtuais, filmes emD.
Temos, enquanto realizadores, uma histria na qual a tecnologia
desempenha um papel crucial. O roteiro que vamos concretizar, o olho
que decide o que enquadrar, o sentimento que queremos despertar e
qual o visual e o som que utilizaremos para isto, como conduziremos
o olhar, so questes que nos remetem a Gerbase (, p. ), que
nos diz: se o fator tecnolgico tem um impacto (e ele, apesar de oculto,
existe), este ser sempre muito menor que o fator humano.
A condio artstica de uma obra pode ser definida e diferenciada
considerando-se os valores que a compem, a partir de dois plos
opostos: primeiro, na subjetivao inspiradora, que circunscreve e
determina o mundo potico do artista; depois, na objetivao que
revela a postura existencial, a precisa maneira de ver o universo
em seu conjunto ou em suas partes e na interpretao dos aspectos
fenomenolgicos que concernem ao artista como construtor .
(BANDINI E VIAZZI, , p. )
O realizador deve escolher seu caminho, decidir como se valer dos
avanos tecnolgicos que tem ao seu alcance, como utiliza r o tipo de
O tesouro do Sr. Arnes(Herr Arnes Pengar, de Mauritz Stiller, ).
A paixo de Joana dArc(La Passion de Jeanne dArc, Carl eodor Dreyer, ).
Sweeney Todd - O Barbeiro Demonaco da Rua Fleet(Sweeney Todd: eDemon Barber of Fleet Street, Tim Burton, ).
Traduo da autora: No original: La condicin artstica de una obra se puededefinir y di ferenciar, respecto a los valores que la componen, desde dos polosopuestos: primero, en la subjetivacin inspiradora, que circunscribe y determinael mundo potico del artista; y luego, en la objetivacin que revela la toma deposicin existencial, la precisa manera de ver el universo en su conjunto o en suspartes y en la interpretacin de los aspectos fenomenolgicos que incumbem alartista como constructor.
imagens e sons que so captados e como isto influencia (ou no) sua
narrativa ou a esttica que pretende para o seu trabalho. direo
de arte cabe refletir, discutir, acompanhar e adaptar o seu fazer a
todas estas importantes transformaes, inerentes a este momento
de transio. Segundo Estrada (, p. ) [] as conquistas da
direo de arte avanaram paralelas s novas tecnologias na histriado cinema, e hoje temos o auxlio de impressionantes meios
computadorizados para a criao da visualidade de um filme.
Ou seja, no momento em que pensamos neste encontro de inconscientes
que a projeo de um filme e sua recepo pelo espectador,
precisamos ter claro que somos herdeiros de toda uma histria, de toda
uma tradio cinematogrfica. No podemos oferecer tecnologia a
primazia de nossas realizaes. Cinema, antes de mais nada, arte.
Traz em si novos olhares, novos desafios, imagens e sons diegticos
que, por vezes, so pura poesia aqui, inevitavelmente pensamos em
Bergman, Fellinni, Saura, sem esquecer a primorosa plasticidade de
Tarkovski, Kurosawa, Greenaway. A tecnologia nos propicia brincar
com a textura, a intensidade das cores e da luz, com os enquadramentosdesconcertantes, com o desenho de som, com os mundos virtuais; cabe
a ns escolher os sistemas e os modos de produo mais adequados s
realidades estticas e econmicas do nosso projeto.
Assim, ainda que os aspectos tcnicos da imagem digital sejam
importantssimos para a realizao cinematogrfica, de nada servem
se no so utilizados para dar nova potncia s imagens. Como
afirma Estrada (, p. ),
[...] em essncia o cinema pretende o mesmo que no incio do sculo
XX: contar histrias. O trabalho do cineasta seguir dependendo
no apenas de elementos externos que podem proporcionar
resultados perfeitos e frios, mas sobretudo, do toque sensvel,
visceral, que consegue transmitir emoes ao espectador.
Traduo da autora. No original: [...] los logros en la direccin de arte hanavanzado a la par que las nuevas tecnologas en la historia del cine.
Traduo da autora. No original: [...] en essncia el cine pretende lo mismoque a principios de siglo: narrar historias. Pero la labor del cineasta seguirdependiendo no slo de elementos externos que pueden ser perfectos y frios,sino, sobre todo, del toque sensible, visceral, que logra transmitir emociones alespectador.
8/22/2019 Gilka Vargas
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Temos nos Lumire e em Melis duas vertentes originais que podem
ser reinventadas com as tecnologias digitais e sua sempre nova gama
de possibilidades. Afinal, continuamos fazendo cinema.
!"#"!$%&'()
BANDINI, Baldo & VIAZZI, Glauco. La escenografia
cinematogrfica. Madrid: Rialp. .
BARSACQ, Lon. Caligaris Cabinet and Other Grand Illusions: a
history of film design. New York: Plume, .
CARRICK, Edward. Art and design in the british film.Londres:
Dennis Dobson, .
COUTO, Claudia Stancioli Costa. O design do filme.. f.
Dissertao (Mestrado em Artes Visuais), Escola de Belas Artes,
UFMG, Belo Horizonte, .
DEL NERO, Cyro. Mquina para os deuses: anotaes de um
cengrafo e o discurso da cenografia. So Paulo: Senac, .
DUBOIS, Philippe, -. Cinema, vdeo Godard.So Paulo: Cosac
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