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GINÁSTICA: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DESTA MANIFESTAÇÃO DA CULTURA CORPORAL NO CONTEXTO ESCOLAR. Leda Beatriz Laurensi 1 Carmem Elisa Henn Brandl 2 RESUMO Este trabalho aborda a questão da prática pedagógica da ginástica na escola. Enfocar uma concepção de ensino coerente com o currículo, articulando aspectos do trabalho na escola, embasado nas diretrizes oficiais, através de sugestões que configuram a ginástica no ambiente escolar é, desde há muito tempo uma questão importante para ser discutida. Precisamos ver a ginástica como conteúdo e também como trabalhá-la na escola de forma adequada. É preciso enfatizar a modalidade como conhecimento historicamente produzido, com significados culturais riquíssimos. Problematizo a aplicação da ginástica, suas facilidades e dificuldades. Justifico-a pela presença nos documentos oficiais do Estado e como conhecimento historicamente produzido. Fundamento a Educação Física no âmbito escolar, a importância dos conteúdos e a situação das ginásticas na escola.Tenho por objetivo, verificar se a ginástica está presente na escola, nos diferentes estilos e formas e como é aplicada. Ainda, organizar um programa de atividades com os alunos desenvolvendo atitudes de criatividade, criticidade, interesse e curiosidade, de forma prazerosa, assegurando a globalidade de ações. Palavras-chave: Ginástica; Educação Física; Prática Pedagógica. RESUMEN Este documento aborda la cuestión de la práctica pedagógica en el gimnasia de la escuela. Centrarse en una concepción de la educación en consonancia con el plan de estudios, que combina aspectos del trabajo escolar, basado en las directrices oficiales, con notas que componen el gimnasia en el entorno escolar es mucho tiempo un tema importante a tratar. Tenemos que ver el gimnasia como el contenido y la forma de trabajar en la escuela apropiada. Cabe destacar el modo conocido como históricamente, con un significado cultural muy rica. Explora la aplicación de la gimnasia, sus instalaciones y dificultades. Justificada por la presencia en los documentos oficiales de Estado y como históricamente producción de conocimientos. Legal de la Educación Física en las escuelas, la importancia del contenido y el estado de la gimnasia en escola.Tenho pretende determinar si este es el gimnasia de la escuela, en diferentes estilos y formas y que se aplica. Sin embargo, la organización de un programa de actividades con los alumnos el desarrollo de habilidades de la creatividad, la crítica, el interés y la curiosidad, tan agradable, garantizando toda la población. Palabras clave: Gimnasia, Educación Física, Práctica Pedagógica. 1 Professora de Educação Física da E. E. Cristo Rei e C. E. Tancredo Neves, Pós-graduada em Educação Motora /UNICENTRO. 2 Professora do Curso de Educação Física da UNIOESTE, Doutora em Educação Física/Pedagogia do Movimento/UNICAMP. Líder do GEPEFE.

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GINÁSTICA: DIVERGÊNCIAS E CONVERGÊNCIAS DESTA MANIFESTAÇÃO DA CULTURA CORPORAL NO CONTEXTO ESCOLAR.

Leda Beatriz Laurensi1

Carmem Elisa Henn Brandl2

RESUMO

Este trabalho aborda a questão da prática pedagógica da ginástica na escola. Enfocar uma

concepção de ensino coerente com o currículo, articulando aspectos do trabalho na escola, embasado

nas diretrizes oficiais, através de sugestões que configuram a ginástica no ambiente escolar é, desde há

muito tempo uma questão importante para ser discutida. Precisamos ver a ginástica como conteúdo e

também como trabalhá-la na escola de forma adequada. É preciso enfatizar a modalidade como

conhecimento historicamente produzido, com significados culturais riquíssimos. Problematizo a

aplicação da ginástica, suas facilidades e dificuldades. Justifico-a pela presença nos documentos

oficiais do Estado e como conhecimento historicamente produzido. Fundamento a Educação Física no

âmbito escolar, a importância dos conteúdos e a situação das ginásticas na escola.Tenho por objetivo,

verificar se a ginástica está presente na escola, nos diferentes estilos e formas e como é aplicada.

Ainda, organizar um programa de atividades com os alunos desenvolvendo atitudes de criatividade,

criticidade, interesse e curiosidade, de forma prazerosa, assegurando a globalidade de ações.

Palavras-chave: Ginástica; Educação Física; Prática Pedagógica.

RESUMEN

Este documento aborda la cuestión de la práctica pedagógica en el gimnasia de la escuela. Centrarse en una concepción de la educación en consonancia con el plan de estudios, que combina aspectos del trabajo escolar, basado en las directrices oficiales, con notas que componen el gimnasia en el entorno escolar es mucho tiempo un tema importante a tratar.Tenemos que ver el gimnasia como el contenido y la forma de trabajar en la escuela apropiada. Cabe destacar el modo conocido como históricamente, con un significado cultural muy rica.Explora la aplicación de la gimnasia, sus instalaciones y dificultades. Justificada por la presencia en los documentos oficiales de Estado y como históricamente producción de conocimientos. Legal de la Educación Física en las escuelas, la importancia del contenido y el estado de la gimnasia en escola.Tenho pretende determinar si este es el gimnasia de la escuela, en diferentes estilos y formas y que se aplica. Sin embargo, la organización de un programa de actividades con los alumnos el desarrollo de habilidades de la creatividad, la crítica, el interés y la curiosidad, tan agradable, garantizando toda la población.

Palabras clave: Gimnasia, Educación Física, Práctica Pedagógica.

1 Professora de Educação Física da E. E. Cristo Rei e C. E. Tancredo Neves, Pós-graduada em Educação Motora /UNICENTRO.2 Professora do Curso de Educação Física da UNIOESTE, Doutora em Educação Física/Pedagogia do Movimento/UNICAMP. Líder do GEPEFE.

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1. INTRODUÇÃO

No processo histórico da evolução do homem, este se faz movimentar ou movimenta-

se. O movimento possui importância biológica, psicológica, social e estrutural para o ser

humano é próprio desta evolução e é através dele que o homem interage com o meio

ambiente. Segundo Piaget (1971), esta interação acontece através da troca da matéria

(energia) e de informações. Ambas são fundamentais para a sobrevivência e o

desenvolvimento de todo e qualquer ser vivo. Ainda, a comunicação, a expressão da

criatividade e a dos sentidos, são feitos através dos movimentos. É por meio deles que nos

relacionamos com o outro, aprendemos sobre nós mesmos e sobre o meio em que vivemos.

Na Escola, é a Educação Física que proporciona possibilidades de movimento, pois é a

área de conhecimento que tem como objeto de estudo e intervenção o movimento humano.

As principais teorias da Educação Física, principalmente as que tratam das abordagens

pedagógicas, enfatizam que são os jogos, os esportes, as lutas, as danças e as ginásticas, os

conteúdos da Educação Física Escolar. Neste trabalho, estarei destacando a Ginástica,

conteúdo que consta no Currículo Básico para as Escolas Públicas do Paraná (PARANÁ,

1992) e, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Os PCNs conceituam a

Ginástica como:

(...) técnicas de trabalho corporal que de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Por exemplo, pode ser feita como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água (BRASIL, 1998, p.70)”.

A presença da ginástica aparece também nas Diretrizes Curriculares Estaduais -

DCEs (PARANÁ, 2008), construída coletivamente com discussão dos professores de

Educação Física da Rede Estadual. Este documento teve seu início de construção e reflexão

em 2003 e, em 2008, já finalizado. Nestas Diretrizes Curriculares a ginástica aparece como

conteúdo estruturante, junto com os jogos, esportes, brincadeiras e lutas. Este documento

descreve que “... a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades de

seu corpo, sem que esteja atrelado a uma prática meramente competitiva, com movimentos

obrigatórios, presos à perspectiva técnica dos exercícios repetitivos” (PARANÁ, 2008). Toda

escola possui a sua Proposta Pedagógica e nesta, consta a organização curricular onde todas as

disciplinas são contempladas. Segundo as DCEs (PARANÁ, 2008, p.10) “A Educação Física

é parte do projeto geral de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao Projeto Político

Pedagógico da escola.”

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Sendo a Educação Física parte integrante da escola e de seus projetos, faz-se

legítima a presença dos mais diversos conteúdos, incluindo a ginástica. Estando presente nas

DCEs, nas Propostas Pedagógicas das Escolas, obviamente deverá a ginástica, estar

contemplada nos planejamentos dos professores de Educação Física e obviamente aplicada

aos alunos. No entanto, não é isso o que realmente se vê. Ayoub (2003, p.81), declara que “

atualmente, a ginástica, como conteúdo de ensino, praticamente não existe mais na escola

brasileira”. Já Schiavon e Nista-Piccolo (2006) colocam que existe um tímido

desenvolvimento das modalidades gímnicas realizadas na escola, mesmo que ela tenha um

longo caminho percorrido desde o surgimento do homem. Sua tradição e evolução é que a

legitima na Escola.

Enfocar uma concepção de ensino coerente com o contexto da escola,

operacionalizando diretrizes oficiais, através de sugestões, que configuram a ginástica no

ambiente escolar é, desde há muito tempo, uma questão importante para ser discutida.

Não basta somente incluir a ginástica como conteúdo da Educação Física Escolar, mas

também refletir sobre seu atual conceito e suas diferentes manifestações, bem como as formas

de trabalho, tendo em vista a compreensão equivocada que muitas pessoas têm desta

manifestação da cultura corporal. Russel (1980, p.11) escreve que a ginástica...

... não precisa ser uma atividade perigosa, complicada, frustrante, dolorosa e assustadora que, de preferência, você evitaria de imediato. Ao contrário, ela pode ser facilmente transformada em segura, descomplicada e recompensadora por tudo e, ainda, (...) conservar o elemento que causa “emoção” – aquela estimulação cinestésica que imediatamente leva os alunos a quererem mais!

É preciso enfatizar a ginástica como conhecimento historicamente produzido, com

significados culturais riquíssimos. Segundo Soares apud Venâncio e Carreiro (2004) a

ginástica foi uma das primeiras formas de encarar o exercício físico de forma diferenciada.

Ainda, a ginástica oferece às crianças e adolescentes, através da prática, a construção de um

vocabulário motor diferenciado. Segundo Schiavon e Nista-Piccolo (2006) alguns

profissionais da área não visualizam as oportunidades de aprimoramento motor que os

elementos fundamentais das modalidades gímnicas podem proporcionar.

Nista-Piccolo (1988, p.105) reforça este assunto da seguinte forma.

Em relação à ginástica, observou-se que há um desconhecimento da efetividade que seus fundamentos básicos propiciam à formação do educando. Permanece ainda a ideia de que este esporte e de alto nível técnico, composto de elementos de difícil execução, com finalidades de competição ou de demonstração.

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Na prática da ginástica na escola, ainda, nos deparamos com outro fator relevante que

é a inexperiência e a preparação inicial com déficit na graduação dos profissionais que atuam

na escola após o término do período universitário.

Segundo Nista-Piccolo e Schiavon (2006) a ausência da ginástica na escola se dá

principalmente pela falta de conhecimento dos professores, embora a ginástica faça parte da

grade curricular nos cursos de Educação Física. O que distancia o professor da aplicação da

ginástica na escola é a dificuldade que eles têm de enxergar uma prática gímnica diferenciada,

para além das formas esportivizadas, complementam as autoras.

Outro fator que deve ser observado é que nem sempre encontramos espaço físico

adequado, nem materiais pequenos ou grandes, que poderiam facilitar a aplicação desta

manifestação cultural de movimento na escola. Segundo Nista –Piccolo e Schiavon (2006)

muitos professores da área alegam a falta de material específico e de como adaptar os

materiais disponíveis na escola para desenvolver a ginástica. Segundo Freire apud Nista-

Piccolo e Schiavon (2006) o que falta nas escolas na maioria das vezes, não é material, é

criatividade.

A ginástica, apesar de todas as dificuldades que encontramos para desenvolvê-la,

permanece nos documentos oficiais e referenciais teóricos como conteúdo da Educação Física

Escolar. No Estado do Paraná se percebe um movimento de mudanças nas aulas de Educação

Física, especialmente a partir da implantação das DCEs, neste sentido, e levando em

consideração a riqueza de possibilidades que este conteúdo oferece, considero necessário

investigar o cotidiano escolar e verificar se estas propostas se efetivam na prática pedagógica

dos Professores de Educação Física.

Diante do exposto, surgiu o seguinte questionamento: Será que a ginástica, como

conteúdo estruturante, é trabalhada em seus diferentes estilos de forma sistematizada nas aulas

de Educação Física das Escolas Estaduais da Educação Básica – 5ª a 8ª séries, do Município

de Francisco Beltrão?

Para buscar solucionar o problema proposto elencou-se como objetivos da pesquisa:

a) Verificar se a ginástica está inserida no planejamento do professor e se este planejamento é

seguido;

b) Verificar se o professor de Educação Física conhece o conceito de ginástica, se este é

reconhecido como conteúdo, quais os tipos de ginástica que conhece;

c) Verificar se o Professor teve contato com as ginásticas na graduação, quais delas e se hoje,

tem disponibilidade para participar de curso de formação;

d) Verificar se existe na escola espaços e materiais adequados para a prática da ginástica e quais

são eles.

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Para dar suporte teórico e compreender de que forma a bibliografia atual trata o

conteúdo ginástica no contexto escolar, organizou-se o referencial teórico, inicialmente

abordando a Educação Física Escolar de forma geral, em seguida tratando da especificidade

do conteúdo Ginástica.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Contextualização da Educação Física na Escola

Situar a Educação Física no tempo e espaço escolar é fundamental para que possamos

no final das reflexões compreender as diversas manifestações abordadas hoje no currículo.

Originária do latim curriculum, currículo significa corrida, caminhada, percurso. Representa o

percurso do homem no seu processo de apreensão do conhecimento científico selecionado

pela escola (SOARES et all, 1993). A Educação Física em seu percurso histórico escolar se

consolida a partir da Constituição de 1937, com o objetivo de doutrinar o corpo para o

patriotismo, a hierarquia e a ordem (PARANÁ, 2008). Ainda, esta mesma Diretriz coloca que

em 1942, amplia-se a obrigatoriedade da Educação Física até os 21 anos, formando mão-de-

obra capacitada para o trabalho. A partir de 1964, o esporte passa a fazer parte da Educação

Física Escolar. Em 1971 com a promulgação da Lei 5692/71, a disciplina passou a ser

considerada como atividade escolar regular e obrigatória em todos os níveis e cursos

(PARANÁ, 2008).

Atualmente, consta na LDB – Lei 9394/96, no art. 26, parágrafo 3º que:

“ A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; maior de trinta anos de idade; que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; que tenha prole”. (Lei nº 10793 de 1º de dezembro de 2003 que altera o parágrafo 3º do art. 26 da LDB 9394/96).

A partir dessa lei, a Educação Física aparece nas matrizes curriculares na Base

Nacional Comum em todas as escolas paranaenses e passa por adaptações curriculares. Em

1996 surgem os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e a partir de 2006 no Estado do

Paraná organizou-se, de forma coletiva, as DCEs (Diretrizes Curriculares Estaduais) onde,

cada disciplina/área possui a sua diretriz.

Alguns aspectos importantes e positivos da presença da Educação Física na escola são

as contribuições que a disciplina traz para a escola e seus alunos. Encontramos, por exemplo,

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nas DCEs (PARANÁ, 2008, p.08) “...resgatar o compromisso social da ação pedagógica da

Educação Física”.

Baseada no materialismo histórico dialético com princípios reflexivos e críticos

encontra-se nesta diretriz:

A Educação Física é parte do projeto geral de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao projeto político-pedagógico da escola. Se a atuação do professor efetiva-se na quadra e em outros lugares do ambiente escolar, seu compromisso, tal como de todos os professores, é com o projeto de escolarização ali instituído, sempre em favor da formação humana (PARANÁ, 2008, p.10).

2.2 Conteúdos da Educação Física na Escola

Falar do processo histórico da Educação Física situando-a na escola,

automaticamente chama à necessidade de historicizar o que a compõe.

A função do currículo é organizar a reflexão pedagógica do aluno (Soares et all,

1993). O mesmo Coletivo de Autores coloca que fazem parte do currículo, as disciplinas,

matérias e as atividades curriculares. Apresenta-se então, a chamada dinâmica curricular, que

não é nada mais, que a forma como esse mesmo currículo se materializa na escola.

A articulação diversificada na horizontalidade das disciplinas e na verticalidade

dos níveis/séries de ensino constroem essa dinâmica curricular, buscando nos conhecimentos

historicamente produzidos, que chamamos de conteúdos, os meios para que o processo

ensino-aprendizagem se efetive.

Na Educação Física os conteúdos historicamente produzidos são mencionados nos

inúmeros documentos existentes ao longo da história. Hoje, considerando a documentação

vigente, as DCEs (Diretrizes Curriculares Estaduais) são citados os seguintes conteúdos

estruturantes: a ginástica, os jogos e brincadeiras, os esportes, a dança e as lutas.

Soares et al. (1993) define esses conteúdos como:

Ginástica: são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Podem ser feitas como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. (p.70 e 71)”. “Constituem-se fundamentos da ginástica: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar, balançar/embalar (p.78).

Jogos: podem ter uma flexibilidade maior nas regulamentações, que são adaptadas em função das condições de espaço e material disponíveis, do número de participantes, entre outros. São exercidos com um caráter

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competitivo, cooperativo ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização ou ainda no cotidiano, como simples passatempo e diversão (p.70).

Esportes: práticas em que são adotadas regras de caráter oficiais e competitivos, organizados em federações regionais, nacionais e internacionais, que regulamentam a atuação amadora e a profissional. Envolvem condições espaciais e de equipamentos sofisticados como campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ginásios etc. (p. 70).

Dança: uma expressão representativa de diversos aspectos da vida do homem. Linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra, etc. (p.82).

Lutas: são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade (p.70).

2.3 A Ginástica

A Ginástica surgiu no século XIX, e era vista como o corpo reto e o porte rígido.

Os estudos sobre o corpo, mostravam a sua utilização enquanto força de trabalho e para

constituir um corpo saudável. A partir daí surgem os métodos ginásticos. O movimento

Ginástico Europeu tomou grande dimensão histórica e englobou as Escolas Alemã,

Dinamarquesa, Sueca, Francesa e Inglesa (PARANÁ, 2006).

A ginástica no Brasil teve forte influência do método francês, com caráter militar

e desenvolve-se no ambiente escolar formando os primeiros instrutores escolares. O grande

responsável por implementar a Ginástica no Brasil foi Rui Barbosa e fora pensada para a

saúde coletiva com influência militar (PARANÁ, 2006).

Na década de 70 introduz-se na escola duas concepções: a gímnica e a esportiva

(TOLEDO, 2004). Já na década de 80, a ginástica desenvolve-se com mais força nos clubes

como modalidade competitiva e na escola de forma mais retraída.

Hoje, diferentemente do relato histórico, a ginástica na escola não possui mais a

padronização de movimentos, o desempenho e a performance. Nas DCEs (PARANÁ, 2008) a

ginástica é mencionada como conteúdo e tem por objetivo:

...explorar as diversas práticas corporais, decorrentes dessa modalidade, sejam elas: ginástica artística, ginástica rítmica, ginastica geral, ginástica localizada, ginástica aeróbica e suas variantes. (...) os modos atuais de fazer ginástica devem ser refletidos na forma como são produzidos e oferecidos socialmente, desmistificando-os para que atendam aos propósitos de uma formação crítica (PARANÁ, 2008, p.15).

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Esta mesma diretriz traz como conceito de ginástica parte dos escritos do livro

Coletivo de Autores, e este nos coloca que...

... podemos entender a ginástica como uma forma de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral (SOARES et al., 1993, p.77).

Segundo Toledo (2004), a ginástica é dividida em várias possibilidades. Ginástica

de Condicionamento ou de academia (musculação, hidroginástica, aeróbica e suas

derivações); Ginástica Terapêutica; Ginástica Alternativa (antiginástica, RPG, eutonia,

bioenergética, biotonia...); Ginástica Competitiva (artística, rítmica, aeróbica, trampolim

acrobático, duplo-mini, minitramp, tumbling, roda ginástica); Ginástica Demonstrativa

(ginástica geral) e Ginástica Laboral.

Nas DCEs (PARANÁ, 2008) a ginástica aparece como conteúdo estruturante.

Deste conteúdo todos os tipos de ginástica são relacionados como conteúdos específicos. As

ginásticas mencionadas nestas diretrizes é que nortearão o trabalho dos profissionais de

Educação Física nas escolas do Estado do Paraná nos próximos anos. As ginásticas citadas

nas Diretrizes são: no Ensino Fundamental (Ginástica Rítmica, Ginástica Circense e Ginástica

Geral) e no Ensino Médio (Ginástica Artística, Ginástica de Academia e Ginástica Geral).

Entender o processo histórico da ginástica, situá-la nas diferentes formas/métodos,

percebê-la como conteúdo e ainda verificar as possibilidades da prática da ginástica na escola,

abordar a importância e os benefícios que a mesma traz para quem a executa são de suma

importância para dar a ginástica o lugar que lhe é cabível na cultura corporal de movimento.

Segundo Toledo (2004) as capacidades físicas presentes na ginástica são:

velocidade (de reação, de deslocamento, dos membros); resistência (aeróbica, anaeróbica,

muscular, localizada – RML); força (dinâmica, estática, explosiva); equilíbrio (dinâmico,

estático, recuperado); descontração (total, diferencial); coordenação; ritmo; agilidade e

flexibilidade.

As atividades gímnicas, por suas características próprias, podem ser o melhor

caminho para o desenvolvimento destas capacidades, sempre observando as leis de

crescimento orgânico da criança/adolescente.

Segundo o Coletivo de Autores (Soares et all, 1993), através das ginásticas todos

os movimentos básicos como correr, andar, saltar, trepar, subir, lançar, pegar e outras formas

de movimentos são desenvolvidas. As crianças/adolescentes devem ser levadas a pensar e

identificar-se no espaço. É necessário, por meio das diversas atividades, perceber os objetos,

organizar-se no ambiente e criar seus próprios movimentos. A ginástica permite que a criança/

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adolescente sinta-se segura da necessidade de executar, por exemplo, um salto – perder o

contato com seu ponto de apoio na execução do mesmo e retornar ao solo certa de que seu

exercício estará completo sem o perigo de queda grave.

Através da ginástica o desenvolvimento motor poderá ser bem completo desde

que o trabalho siga a orientação segura dentro do processo educacional e pedagógico.

Observa-se hoje tentativas de uma prática pedagógica diferenciada, que parte da

realidade do educando, que busca desenvolvê-lo, que se preocupa com a sua formação,

adequando à sua conduta em situações particulares. Isto acarreta duas consequências

principais: primeiro uma análise mais sutil da destreza (aptidão) para melhor adaptar-se a esta

ou àquela circunstância; em segundo lugar, uma organização da prática pedagógica, que

permite a criança/adolescente dominar, com maior facilidade situações encontradas em

diferentes ocasiões, devido ao trabalho intenso de coordenação e equilíbrio.

A ginástica vem ao encontro com as necessidades que as crianças/adolescentes

apresentam de movimentos, aprimorando a análise do gesto permitindo um melhor domínio

corporal.

Com efeito, a ginástica põe o aluno em relação com seu próprio corpo,

permitindo-lhe descobrir diversos segmentos, exercer o jogo das articulações, sentir e realizar

melhor os vários movimentos que elas desencadeiam. É, sem sombra de dúvidas, uma

conscientização geral da existência do corpo, dos deslocamentos e do espaço, onde as

distâncias, os intervalos, as direções e os sentidos são avaliados e controlados.

Na ginástica, o corpo se encontra geralmente em situações e posições incomuns.

Mauss (1978) nos mostra possibilidades de enfrentar progressivamente, a partir de situações

seguras, situações mais perigosas, a luta para vencer sozinho a dificuldade do problema

proposto a superar e a sentir prazer de sair-se vitorioso. Para ele, a primeira preocupação é

colocar a criança/adolescente diante de uma situação problema fazendo com que esta

descubra sensações ligadas a uma resposta motora exata. Como todas as aquisições são

frutos de experiências vividas, devemos colocar as crianças em situações que possam ser

dominadas, obtendo assim, respostas de acordo com as suas possibilidades.

Se cada fase da atividade tem um significado e tem uma base, é necessário

imaginar diversas situações que, em diferentes contextos, levarão a criança a reencontrar e a

explorar, em novas circunstâncias, as aquisições motoras realizadas anteriormente.

Neste tipo de trabalho, o professor deverá colocar-se como observador. Hostal

(1982) nos diz: “... observar não significa simplesmente olhar. É questionar uma realidade: o

que deve ser observado e com que finalidade?”. Ainda, concentrar toda sua atenção em um

elemento da ação da criança/adolescente em dados momentos. A observação permite

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descobrir se os objetivos estabelecidos foram atingidos. Entra então, o processo avaliativo que

servirá para a introdução imediata ou posterior de novas situações. Primeiro detectando erros

característicos e crianças com dificuldades. Depois, ajudando a criança com correções

coletivas e não individuais, para que não ocorra fracasso ou desinteresse por parte do aluno.

Passar segurança para o aluno neste período é de fundamental importância.

Levar em consideração ainda, a organização técnica, onde o exercício não é mais

analisado, descrito, demonstrado e imitado e sim, que o professor oriente a

criança/adolescente para as realizações de situações cada vez mais evoluídas e complexas.

Segundo Hostal (1982) na ginástica, o corpo apresenta constantes e variantes

conforme quadro abaixo:

Constantes VariantesAs posições do corpo no início e no fim da atividade

De pé (1 ou 2 pés), de cócoras, sentado decúbito dorsal/ventral;

Os elementos do corpo envolvidos antes durante e no fim da atividade

- papel dos pés/mãos- papel das pernas/braços- participação de um grupo muscular ou articulação;

Em busca de um novo padrão de referência Olhos abertos, olhos fechados;Esforço exigido durante a atividade Grande, pequeno por muito tempo uma ou

várias vezes.

Ainda, o autor nos coloca que variar o número de participantes visando a

cooperação, a luta e a oposição é providencial para que se estabeleça outros contatos

permitindo, além de tudo, a sociabilização.

Piaget (1971) nos coloca que um fator essencial do desenvolvimento da criança

está na experiência física e esta, deve ser variada. A ginástica se apresenta como uma das

atividades fundamentais para que isto aconteça, pois baseia-se tanto na conquista do

conhecimento motor, sensível e intelectual, quanto na construção da personalidade da criança/

adolescente. Não podemos esquecer também, que a criança não é um adulto em miniatura e

sim, um ser específico. As crianças/adolescentes possuem desenvolvimentos diferentes e

evoluem de modos variados. Cada uma tem um ritmo próprio, portanto, a maneira de ensinar

não pode ser padronizada e definitiva. O aluno se constitui o centro das atenções do professor.

As DCEs (PARANÁ, 2008) nos fornecem parâmetros que nortearão o trabalho

com a Ginástica no âmbito escolar. Com a mesma norteando os trabalhos e com a abertura do

professor para desenvolver novas formas de trabalho, fica mais fácil trabalhar a ginástica no

meio escolar.

2.4. METODOLOGIA DA PESQUISA

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Este trabalho caracteriza-se como uma Pesquisa Descritiva que usa padrões

textuais como, por exemplo, questionários para identificação do conhecimento. Segundo

Carmo Neto (1996) a pesquisa descritiva tem por finalidade observar, registrar e analisar os

fenômenos sem, entretanto, entrar no mérito de seu conteúdo.

Nesta pesquisa descritiva não houve interferência minha como investigadora,

apenas procurei perceber, com o necessário cuidado, a frequência com que o fenômeno

acontece. A pesquisa foi sobre as ginásticas no ambiente escolar.

A população foi constituída por 32 professores de Educação Física da Rede

Estadual do Ensino Fundamental (séries finais) de Francisco Beltrão, que é composto por 12

Escolas, com 165 turmas de 5ª a 8ª série, totalizando em 4.817 alunos matriculados em 2008.

A amostra foi de 18 Professores, distribuídos nas 12 Escolas, que se dispuseram a

responder o questionário no prazo estabelecido.

Para a coleta das informações foi elaborado um questionário, contendo quatro

perguntas mistas, três abertas e uma fechada, que foi aplicado aos professores de Educação

Física da rede estadual da Educação Básica de 5ª a 8ª séries do Município de Francisco

Beltrão. Antes da aplicação do questionário, o mesmo, foi testado com alguns profissionais da

área, para verificar se as perguntas estavam bem elaboradas e seriam de fácil entendimento.

Ainda, passou pela avaliação de dois professores do Colegiado de Educação Física da

UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon, para verificar se o mesmo atendia os

critérios éticos de pesquisa e os objetivos da mesma. Depois de testado e validado, foi

aplicado aos professores da rede.

Após autorização do NRE/Francisco Beltrão para aplicar o questionário nas

Escolas Estaduais de 5ª a 8ª séries, o mesmo foi levado e entregue à Coordenação/Direção de

todas as escolas (12) e solicitado que entregassem aos professores de Educação Física para

que pudessem respondê-lo. O prazo para este preenchimento foi de 15 dias. Após este prazo

foram recolhidos todos os questionários para que se pudesse fazer a análise.

A análise que segue foi feita a partir de frequência e percentual das respostas

obtidas e complementada com análise qualitativa, a partir da elaboração de categorias.

2.5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.

Neste capítulo estaremos apresentando os resultados da pesquisa realizada junto

aos professores de Educação Física do município de Francisco Beltrão. Estaremos

apresentando em forma de quadros, seguidos da análise e discussão.

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As categorias apresentadas no quadro abaixo foram elaboradas a partir do

discurso dos professores. Na questão número 01, perguntou-se aos Professores o que eles

entendem por ginástica. O Quadro 01 representa o discurso dos mesmos.

Respostas dos Professores Fi1.Modalidade esportiva que trabalha o corpo e a mente 072.Movimentos corporais que surgiram a partir dos movimentos naturais 053.Exercícios sistematizados e construídos que desenvolvem o corpo 044.Movimentos com ritmos alternados e sincronizados com intensidades e frequências diferenciadas

03

5.Manifestação da linguagem corporal e que trabalha os aspectos afetivos, físicos e cognitivos

04

6.Movimentos expressivos e espontâneos do corpo 047.Atividade que busca e desenvolve postura, tônus muscular, elasticidade, potência, agilidade, flexibilidade, coordenação e outras capacidades físicas

02

8.Modalidade pouco conhecida e pouco trabalhada na escola 049.Atividade que faz parte da cultura corporal historicamente construída pelos homens

03

Quadro 1: Compreensão dos professores sobre o conceito de Ginástica.

Conforme o quadro acima, percebe-se que os professores apresentam diferentes

compreensões do conceito de Ginástica e que os conceitos apresentados por eles, estão muito

próximos de qualquer manifestação da cultura corporal trabalhada na disciplina de Educação

Física. Neste sentido, a compreensão do conceito de ginástica demonstrada no discurso da

maioria dos professores se confunde e representa também os outros conteúdos da Educação

Física.

Se tomarmos como referência a definição de ginástica apresentada nas DCEs,

onde aparece que “...a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades

de seu corpo, sem que esteja atrelado a uma prática meramente competitiva, com movimentos

obrigatórios, presos à perspectiva técnica dos exercícios repetitivos” (PARANÁ, 2008, p.68).

Ainda, esta mesma diretriz cita que “ podemos entender a ginástica como uma

forma de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de

atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal

das crianças, em particular, e do homem, em geral (PARANÁ, 2008, p.67).

E a definição apresentada por Soares et al. (1993, p.78) que coloca que as

ginásticas:

“são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Podem ser feitas como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos,

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podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. (p.70 e 71)”. “Constituem-se fundamentos da ginástica: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar, balançar/embalar (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.78)”;

Pudemos perceber que os professores possuem um vago entendimento do

conceito específico da ginástica. O que aparece nas respostas são fragmentos dos conceitos

apresentados pelos autores e documentos oficiais. Vamos analisar o item nove (9) do quadro

acima: “Atividade que faz parte da cultura corporal historicamente construída pelos homens”.

Sabemos que a ginástica faz parte da cultura corporal construída pelos homens, tanto que

aparece em todos os relatos históricos e que foi a primeira atividade incorporada nos

programas escolares, mas todas as outras manifestações da cultura corporal também foram

produzidas pelos homens ao longo da história, portanto, este conceito cabe tanto à ginástica,

como ao esporte, jogos, dança, brincadeiras e lutas.

Na sequencia, perguntou-se quais os tipos de ginástica os professores conhecem.

O quadro abaixo, organizado por categorias de análise baseadas na literatura, identifica as

respostas dos professores.

Categorias De Análise Respostas Citadas Fi Total1.Condicionamento Físico Natural 03

Localizada 05Academia 05Pilates 02Aeróbica 12

27

2.Competição Artística 18Rítmica 12Acrobática 03Trampolim 02

35

3.Fisioterápicas Compensação 01Corretiva 05Laboral 05Alongamento 01

12

5.Demonstração Geral 06Circense 03

09

6. Outras Manutenção 03Jazz 01Terceira Idade 01Escolar 02Formativa 03Recreativa 01

11

Total Geral de citações das Ginásticas 94Quadro 2: Tipos de ginástica conhecidas pelos professores.

O que se pode perceber nesta questão, é que os professores conhecem inúmeros

tipos de ginástica, mas o que não sabemos é se este conhecimento é aprofundado ou

superficial. Podem ter ouvido falar, lido em algum documento, visto na televisão. Ainda, as

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ginásticas foram citadas aleatoriamente e não dentro de uma classificação específica, como

encontramos em alguns autores. Percebe-se nas respostas que a ginástica Artística e Rítmica,

que, segundo Toledo (2004), classificadas como Ginástica de Competição e a Ginástica

Aeróbica de Condicionamento Físico, são as que foram citadas com maiores frequências,

possivelmente por serem as mais populares, presentes frequentemente na mídia e também as

mais antigas, presentes na maioria dos currículos de graduação. Se levarmos em consideração,

a classificação da autora supra-citada, os professores demonstraram novamente dificuldade

em identificar o conceito das Ginásticas, pois os mesmos que citaram Ginástica Aeróbica,

citaram novamente a Ginástica de Academia como sendo atividades diferenciadas. Dentro da

classificação de Toledo (2004), Ginástica Aeróbica é uma das Ginásticas de Academia, assim

como a Ginástica Localizada.

A questão 03 abordou se os professores reconhecem a ginástica como um

conteúdo da Educação Física Escolar. Nesta questão, 100% dos pesquisados responderam que

sim, reconhecem a ginástica como um conteúdo da Educação Física Escolar.

Se tomarmos como referência a história da Educação Física, a Ginástica foi a

primeira manifestação dessa disciplina, tanto para os gregos no século IV a.C, como na

sistematização da Educação Física, no séc. XVIII na Europa, quando surgiram os métodos

Ginásticos, como também na história da Educação Física no Brasil, que surgiu a partir da

implantação das aulas de Ginástica, método sueco, alemão e francês, no início do século XX.

No decorrer dessa história foram acrescentados outros conteúdos, como por exemplo, o

esporte.

Atualmente as Escolas Estaduais do Paraná, tem como referência as DCEs

(Diretrizes Curriculares Estaduais), que constam a ginástica como conteúdo estruturante desta

disciplina. Neste sentido, todas as Escolas devem oferecer este conteúdo e, portanto,

reconhecer a ginástica no contexto escolar.

Tendo em vista que a Ginástica é um conteúdo da Educação Física, a questão

quatro (4) buscou compreender quais as contribuições que a aprendizagem da mesma pode

trazer aos alunos, solicitou-se aos professores que citassem pelo menos três (3).

Respostas dos Professores Fi1.Capacidades físicas: destreza, equilíbrio,flexibilidade, agilidade, velocidade, força, resistência aeróbica...

13

2. Conhecimento do próprio corpo / consciência corporal 093.Saúde e qualidade de vida 054. Respeito pelo corpo 045. Postura 036.Concentração 03

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7.Socialização 038.Disciplina 029.Conhecimento da modalidade 0210.Conhecimento do espaço 0111.Trabalho em equipe 0112.relaxamento 01

Quadro 3: Contribuições da aprendizagem da Ginástica para os alunos.

As questões anteriores abordaram o conceito da ginástica, as modalidades que os

professores conhecem, se os mesmos reconhecem a ginástica como conteúdo escolar e agora

as contribuições que a mesma pode trazer aos educandos quando trabalhada na escola.

Pudemos perceber, que os professores tem noção das contribuições que a prática

da ginástica pode trazer aos alunos. O aprimoramento motor é um deles. Brandl (1999, p.46)

nos coloca que as ginásticas “... embora classificadas como desporto, são atividades feitas

para a aquisição de habilidades básicas com e sem material e com objetivos de formação

geral, envolvendo aspectos motores, cognitivos e afetivo-social”. Esta citação dá respaldo a

maioria das respostas que os professores colocaram no questionário, conforme podemos

verificar no quadro acima.

Apesar das respostas estarem em concordância com alguns autores, Nista-Piccolo

(1988, p.105) nos coloca que “Em relação à Ginástica, observou-se que há um

desconhecimento da efetividade que seus fundamentos básicos propiciam à formação do

educando”. Os pesquisados demonstraram conhecer as contribuições, no entanto ainda temos

dúvida se os mesmos efetivamente desenvolvem os elementos da ginástica na escola, para que

estas contribuições se efetivem nos alunos.

Na questão cinco (5), foi solicitado aos professores que respondessem se a

ginástica está presente no seu planejamento anual. A resposta foi positiva para dezesseis (16)

dos professores, ou seja, 88% responderam sim. Apenas dois (2) professores disseram que não

(12%). A vivência profissional na área e o contato com as Escolas pesquisadas nos levam a

pensar, que nem sempre aquilo que está planejado efetivamente se desenvolve. Os motivos

são diversos, entre eles, a falta de estrutura, de materiais e a falta de conhecimento do

professor por determinados conteúdos.

Nesta mesma questão, solicitou-se que se caso a resposta fosse positiva, deveriam

citar quais as modalidades ginásticas estavam presentes no planejamento. Para realizar a

análise desta questão, optou-se em organizar categorias a partir da literatura e enquadrar as

resposta dos professores nessas categorias, conforme demonstrado no quadro 4.

Categorias de Análise Respostas dos professores Fi1.Ginástica de Condicionamento Físico Academia 04

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ManutençãoAeróbica

0104

2.Competição ArtísticaRítmicaAcrobática

100502

3.Fisioterápicas CorretivaCompensaçãoLaboral

020101

4.Conscientização Corporal Alongamento 025.Demonstração Geral

Circense0701

6. Outras FormativaEscolar

0201

Não Respondeu 01Quadro 4: Ginásticas presentes no planejamento anual dos professores.

O que se percebe é que os professores conhecem muitas modalidades ginásticas e

nos planejamentos abordam apenas algumas. As ginásticas não foram mencionadas conforme

as categorias acima descritas, apenas foram citadas aleatoriamente. Ainda, citam exemplos de

ginástica, que não são consideradas pela literatura como modalidades, como por exemplo, a

Ginástica Formativa e Escolar, que são diversas ginásticas adaptadas à Educação Física

Escolar.

Nas Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Física, são citadas nos

conteúdos específicos a serem trabalhados, a Ginástica Artística, a Ginástica Rítmica, a

Ginástica de Academia, a Ginástica Circense e a Ginástica Geral, e são exatamente estas que

mais aparecem no Planejamento do Professor. O que se pode perceber é que os professores

abordam as modalidades de ginástica que nem mesmo as diretrizes comentam. Este aspecto

pode ser visto como positivo uma vez que o professor buscou outras fontes e possivelmente

adaptou seu conhecimento a situação de suas turmas, ao menos em seus planejamentos anuais.

Após este questionamento, perguntou-se aos professores se na formação

acadêmica (graduação), tiveram contato com as mais variadas ginásticas. Responderam

positivamente 94,44% (17) dos entrevistados. Apenas um profissional não teve a ginástica

contemplada na grade curricular no Ensino Superior.

Barbosa apud Nista-Piccolo e Schiavon (2006) nos coloca que as disciplinas

gímnicas sempre fizeram parte da formação profissional do professor de Educação Física. Ela,

a ginástica, aparece nas mais variadas formas nestes cursos, e, desta forma, também refletem

sua inconsistência conceitual no ambiente escolar. Muitos professores que responderam o

questionário são professores da rede estadual de ensino, graduados a mais de 10 anos.

Possivelmente esses professores obtiveram muito mais conhecimentos técnicos das

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modalidades gímnicas ligadas aos esportes, ou seja, ginásticas de competição, do que de como

ensinar as mesmas na escola, talvez dificultando fazer a transposição didática e as adaptações

necessárias para que a ginástica possa ser aplicada da forma como deve na escola.

Nesta mesma questão, solicitou-se aos professores que respondessem quais as

modalidades ginásticas tiveram contato na graduação. Observe o quadro abaixo, que nos dá

clareza que, mesmo sendo cursos de graduação instituídos e aprovados pelo MEC, não

possuem uma mesma matriz curricular. Denota-se que a faculdade/universidade tem a

autonomia de montar seu próprio currículo podendo abordar este ou aquele conteúdo

(disciplina) com mais ênfase. Também neste quadro optou-se em elaborar categorias, de

acordo com a classificação de Toledo (2004) e enquadrar a resposta dos professores nessas

categorias.

Categorias De Análise Respostas Fi1.Condicionamento Físico Localizada

AcademiaAeróbica

030504

2.Competição RítmicaArtística

1311

3.Fisioterápicas LaboralAlongamento

0201

4.Demonstração GeralCircense

0401

5. Outras EscolarInfantil

0101

Quadro 5: Modalidades ginásticas presentes na graduação dos professores.

Em face ao quadro acima, observa-se que os professores aplicam o conteúdo que

tiveram maior carga horária na graduação, ou que praticou na adolescência/juventude. Quanto

a isto, Nista-Piccolo e Schiavon (2006) colocam que existe uma certa ineficácia na formação

profissional em relação à criação de alternativas pedagógicas para o desenvolvimento de uma

Ginástica possível. Modalidades diferentes, tempo de contato com as modalidades diferentes e

consequentemente entendimentos das modalidades gímnicas de forma diferenciadas, é que

darão legitimidade aos conteúdos na escola. Percebe-se também que os professores citaram as

ginásticas de competição, conforme a divisão proposta pela literatura, pois são as que mais

são ofertadas na mídia e também, as mais antigas nos cursos de graduação, como já havíamos

colocado anteriormente.

Perguntado na sequencia, ainda na questão seis (6), se os professores atualmente

tem participado de cursos de formação na área de ginástica aplicada à Educação Física

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Escolar. Dezesseis dos pesquisados responderam não, ou seja, 88.89% dos professores não

tem tido nenhum tipo de atualização nesta área. Como podemos trabalhar um conteúdo

extremamente amplo e complexo na escola, se o único contato que o professor teve com o

mesmo, foi na graduação? Das respostas obtidas dois (2), ou seja, 11,11% dos professores

responderam que tem participado de cursos na área escolar. Ao serem questionados sobre

quais os cursos que tem participado, um professor respondeu Congressos, outro Jornada e os

dois responderam Cursos.

O que se pode entender é que após a graduação os professores tem tido um certo

acomodamento no trabalho escolar, não buscando aperfeiçoamento. Pode-se entender ainda,

que estes cursos, não são ofertados com muita frequência ou próximo ao município de

residência. A mantenedora (SEED) também não tem oferecido aperfeiçoamento nesta área

para que possam atuarem na escola com mais eficácia.

Na questão sete (7) perguntou-se aos professores se a ginástica é aplicada na

escola nas suas aulas de Educação Física. Dos dezoito pesquisados, dezesseis (16), ou seja,

88,89% responderam que sim, que a ginástica é aplicada na escola nas suas aulas de Educação

Física.

Nesta mesma questão perguntou-se: em caso de resposta positiva que

assinalassem as modalidades ginásticas trabalhadas nas aulas. Na própria questão foram

citadas as ginásticas de competição (Artística, Rítmica e Acrobática), de demonstração

(Geral) e de condicionamento físico (Aeróbica e Localizada), divisão retirada na literatura, e

uma alternativa “outras”, com espaço para que escrevessem ao lado quais eram as outras

possibilidades ginásticas que trabalhavam. Observe no quadro abaixo a freqüência com que

cada modalidade ginástica foi citada pelos professores.

Categorias de Análise Modalidades Ginásticas FiGinástica de Competição Artística 06

Rítmica 07Acrobática 02

Ginástica de Condicionamento Físico Aeróbica 09Localizada 05

Ginástica de Demonstração Geral 11Circense 01

Outras Laboral 01Alongamento 02Escolar 01

Quadro 6: Modalidades ginásticas trabalhadas na escola.

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Observe que na ginástica geral apareceram onze (11) citações. Pelo tempo que os

professores não participam de cursos de aperfeiçoamento pode-se dizer que o entendimento

que eles têm de ginástica geral, é que esta trata-se de qualquer exercício, qualquer movimento

ou qualquer atividade realizada a mãos livres, que esteja presente, principalmente no

aquecimento, ou ainda qualquer tipo de ginástica, uma vez que era essa a nomenclatura que

era utilizada nos cursos de graduação, nas grades curriculares mais antigas.

A Ginástica Geral, segundo a CBG (2002) é uma modalidade esportiva, não

competitiva e tem seu conceito fundamentado pela FIG – Federação Internacional de

Ginástica.

Ginástica Geral é parte da ginástica que está orientada para o lazer, onde as pessoas de todas as idades participam principalmente pelo prazer que sua prática proporciona. Desenvolve a saúde, a condição física e a interação social, contribuindo desta forma para o bem-estar físico e psicológico de seus praticantes. Oferece um vasto campo de atividades, respeitando as características, interesses e tradições de cada povo, expressados através da variedade e beleza do movimento corporal.(CBG, 2002).

Também, Santos (2001) define a Ginástica Geral como:

Um campo bastante abrangente da Ginástica, valendo-se de vários tipos de manifestações, tais como danças, expressões folclóricas e jogos, apresentadas através de atividades livres e criativas, sempre fundamentadas em atividades ginásticas. ...havendo a preocupação de apresentar neste contexto aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos.

Outra observação interessante que se pode verificar no quadro acima, é de que a

Ginástica Aeróbica, também é trabalhada por grande parte dos professores participantes da

Pesquisa. A Ginástica Aeróbica classificada como Ginástica de condicionamento físico, está

bastante presente na mídia e vai ao encontro com as atividades físicas relacionadas à saúde,

que aparece como elemento articulador nas DCEs do Paraná. Também o elemento articulador

corpo, que pode suscitar o debate entre alunos e professores sobre questões de corporeidade,

bastante interessante para as faixas etárias pré-adolescência e adolescência.

Perguntou-se também, nesta mesma questão, a frequência com que a ginástica

está sendo trabalhada nas aulas de Educação Física. O quadro abaixo representa a resposta dos

Professores.

Categorias de Análise FiBimestralmente 08De vez em quando 05Semestralmente 02Anualmente 01Outra 0Não Responderam 02

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Quadro 7: Tempo de trabalho da ginástica na escola no ano letivo.

Percebe-se que mesmo a maioria das respostas (8) foi de que o trabalho com a

ginástica é bimestral. Isso reflete um velho costume, ou cultura, das Escolas de trabalhar um

conteúdo por bimestre. Já os outros oito professores trabalham numa frequência bem menor,

ou seja, de vez em quando, semestralmente ou anualmente. Isto pode significar que não há

uma organização e/ou sistematização da ginástica, comparado com os outros conteúdos, como

por exemplo os esportes.

Para que pudéssemos saber como este conteúdo é de fato trabalhado na escola,

solicitamos na questão oito (8) para que respondessem se existe espaço adequado na escola

para a prática das ginásticas. Dez (10) dos pesquisados responderam não haver espaço

adequado para a prática da mesma, dão suas aulas em espaços não apropriados. Já oito (8) dos

professores disseram que sim, que há espaço para a prática da mesma. Aos professores que

responderam sim sobre o espaço adequado, foi solicitado para descrevessem estes espaços. Os

espaços citados foram: ginásio (02 professores), sala de aula (04), quadra de esportes (05) e

saguão da escola (02).

Mesmo os que responderam sim, colocam que os espaços que utilizam são

espaços adaptados. Portanto, nenhuma escola possui espaço específico para a prática da

ginástica. O que se pode entender é que os professores que aplicam a ginástica, a fazem de

forma criativa e adaptada. E que, mesmo com pouco espaço conseguem efetivar uma prática

tímida da mesma no espaço escolar.

Sobre a existência de materiais na escola, quatorze (14) professores responderam

não haver quaisquer tipos de materiais para a aplicação da ginástica na escola, ou seja,

77,78% não tem acesso a nenhum tipo de material ginástico para as aulas de Educação Física.

Somente quatro (4) responderam sim (22,22%). Entre eles 02 professores citaram

colchonetes, 04 citaram arcos, 03 citaram cordas e bolas e cada um citou: fitas, aparelho de

som, bancos, colchões, bastões e maças.

Com relação aos materiais, observa-se que mesmo tendo o mínimo de materiais e

que estes estão em apenas algumas escolas estaduais, os professores colocaram nas respostas

que desenvolvem a ginástica na escola. Nista-Piccolo e Schiavon (2006) citam nos seus

estudos, que nem sempre é a falta de material ou de espaço físico, que limita o professor em

aplicar a ginástica. Colocam que é muito mais pela falta de conhecimento do tema proposto,

do que as condições físicas e materiais que impedem que a ginástica seja aplicada com maior

efetividade nas aulas de Educação Física. Diante disto, ressaltamos que o professor precisa

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conhecer a modalidade a fundo, para que consiga, adaptar espaços e materiais, criando

alternativas no trabalho com este conteúdo.

As DCEs (PARANÁ, 2008) nos coloca que a ginástica não precisa ocorrer em um

espaço específico, mas sim em espaços livres como pátios, campos, bosques e outros.

Também nos coloca que podemos usar materiais alternativos na busca de um trabalho

pedagógico amplo, utilizando-se o que a escola possui, tanto espaços, como materiais.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, da literatura pesquisada e da pesquisa efetuada com os

professores de Educação Física da rede estadual de ensino deste município, percebe-se que a

ginástica está sendo tratada de uma forma diferenciada nas escolas e que já é um conteúdo

que faz parte da prática pedagógica dos nossos professores, mas para tecer as considerações

finais deste trabalho, considera-se necessário retomar os objetivos do mesmo. Percebemos

ainda, que existem convergências e divergências nas respostas dos professores com a

literatura pesquisada.

No primeiro objetivo específico que foi de verificar se a ginástica está inserida no

planejamento do professor e se este planejamento é seguido conclui-se que a resposta foi

positiva. Com relação a esta pergunta percebe-se que os professores sabem que a ginástica

está nos documentos oficiais, que vem ao longo da história participando da realidade escolar e

automaticamente colocam nos seus planejamentos escolares, como um dos conteúdos a serem

aplicados na escola.

Na sequencia, com o objetivo de verificar se o professor de Educação Física

conhece o conceito de ginástica, se este é reconhecido como conteúdo e quais os tipos de

ginástica que conhece, obtivemos as seguintes respostas: percebe-se que os professores

apresentam diferentes compreensões do conceito de Ginástica e que os conceitos apresentados

por eles, estão muito próximos de qualquer manifestação da cultura corporal trabalhada na

disciplina de Educação Física. Neste sentido, a compreensão demonstrada no discurso da

maioria se confunde e representa também os outros conteúdos da Educação Física. Os

professores sabem que a ginástica está nos documentos oficiais, que vem ao longo da história

participando da realidade escolar e automaticamente colocam nos seus planejamentos

escolares, como um dos conteúdos a serem aplicados na escola. Ainda, conhecem muitas

modalidades ginásticas e nos planejamentos abordam apenas algumas. As ginásticas não

foram mencionadas conforme as categorias descritas pela literatura, apenas foram citadas

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aleatoriamente. Citam exemplos de ginástica que não são consideradas pela literatura como

modalidades.

Quanto ao conceito de ginástica e a sua importância no plano docente: conhecem

parte do conceito da ginástica, ou seja, fragmentos do mesmo quando comparado à literatura.

Reconhecem a ginástica como conteúdo escolar e este está presente no planejamento anual

dos professores. O que se percebe, é que os professores não conhecem a ginástica na sua

totalidade, portanto colocam fragmentos do conceito nas suas respostas. Ainda, a ginástica

aparece nos planejamentos anuais, pois está nas diretrizes estaduais para a Educação Física e

todos os planejamentos devem adequar-se a este documento, principalmente por que aparece

nas propostas pedagógicas das escolas. Percebemos também, que a falta de conhecimento do

conteúdo, gera uma prática pedagógica ineficiente, pois é necessário conhecimento para que

se faça as adaptações necessárias e se trabalhe de forma organizada e sistemática a ginástica.

Quanto aos tipos de ginástica que conhecem e quais são aplicadas nas aulas de

Educação Física: conhecem inúmeras modalidades ginásticas, principalmente as que estão

mais presentes na mídia (competição), que fizeram parte do currículo na graduação

(competição) e as que estão relacionadas aos aspectos corporais e de saúde (condicionamento

físico). Desconhecem as divisões da ginástica citadas na literatura, portanto trabalham na

escola a ginástica presente na mídia e nas diretrizes, pois nem mesma esta coloca estas

divisões e nem cita todas as modalidades ginásticas existentes. Citam algumas que talvez,

seriam as possíveis de serem trabalhadas na escola.

Quanto aos benefícios que a prática da ginástica pode trazer aos alunos:

reconhecem os aspectos motores (capacidades físicas) e outras questões como postura,

questões corporais e trabalho coletivo. Não citam nas respostas o que os autores colocam

sobre os ganhos permanentes que os praticantes de ginástica tem quanto à criatividade,

movimentos amplos e fundamentais de locomoção, manipulação e estabilização corporal.

Ainda como ganho de um bom trabalho corporal citamos o menor gasto de energia quando o

gesto é aprimorado, melhoria dos resultados das ações motoras, prevenção de lesões, beleza

dos movimentos, desenvolvimento da saúde, interação social, superação dos próprios limites,

colaboração entre os colegas e outros. Denota-se que não há este conhecimento aprofundado.

Isto pode estar atrelado a falhas na formação profissional nas atividades gímnicas, falta de

aprimoramento (cursos), atualizando os professores neste conteúdo ou visualização de uma

modalidade totalmente técnica e competitiva na escola, não podendo aplicá-la de forma

adequada e adaptada à realidade escolar.

O terceiro objetivo tinha como meta verificar se o Professor teve contato com as

ginásticas na graduação, quais delas e se hoje, tem disponibilidade para participar de cursos

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de formação. Os professores responderam positivamente. O que se percebe na prática é que os

professores aplicam mais, o conteúdo que teve maior carga horária na graduação, ou que

praticou na adolescência/juventude. Quanto a isto, Nista-Piccolo e Schiavon (2006) colocam

que “... existe uma certa ineficácia na formação profissional em relação à criação de

alternativas pedagógicas para o desenvolvimento de uma Ginástica possível”. Os professores

tiveram acesso a modalidades diferentes, com um tempo de contato com as modalidades

diferentes e consequentemente entendimentos das modalidades gímnicas de forma

diferenciadas. É este conhecimento que pode fazer a diferença na aplicação do conteúdo na

escola e que dará legitimidade à ginástica no ambiente escolar. Percebe-se também que os

professores não tem feito cursos de atualização na área da ginástica, mas gostariam de

aprimorar-se, pois o contato com as mesmas na graduação foi insuficiente para que possam

aplicar este conteúdo de forma sistemática.

No último objetivo específico queríamos verificar se existe na escola espaços e

materiais adequados para a prática da ginástica e quais são eles. Um pouco mais que a metade

dos pesquisados responderam não haver espaço adequado para a prática da mesma, ou seja,

dão suas aulas em espaços não apropriados. Já os outros professores disseram que sim, que há

espaço para a prática da mesma. Para aqueles que responderam sim, sobre o espaço adequado,

foi solicitado para descrevessem estes espaços. Os espaços citados foram ginásio, sala de aula,

quadra de esportes e o saguão da escola. Mesmo os que responderam sim, colocam que os

espaços que utilizam são espaços adaptados. Portanto, nenhuma escola possui espaço

específico para a prática da ginástica. O que se pode entender é que os professores que

aplicam a ginástica, a fazem de forma criativa e adaptada. E que, mesmo com pouco espaço

ou pouco material, conseguem efetivar uma prática da mesma no espaço escolar.

Os autores já colocam esta dificuldade existente na escola com relação aos

espaços e materiais, mas também colocam que isto não pode servir de desculpas para que o

conteúdo não seja aplicado na escola. Colocam ainda, que o que falta na verdade, é

conhecimento do assunto, dominar o conteúdo que irá trabalhar para que a transposição

didática aconteça na prática. O que não se pode mais conceber é que o professor tenha uma

visão da modalidade ginástica como uma modalidade técnica, competitiva. Caso isto

aconteça, não será possível trabalhá-la na escola da forma como deve e que, não sendo

trabalhada não proporcionará os benefícios que esta manifestação corporal pode trazer aos

alunos. É fundamental entender que a ginástica é um conteúdo da Educação Física (e isto os

professores reconhecem), deve ser colocado nos planejamentos anuais (isto, pela pesquisa

também está sendo feito), que o professor tenha formação atualizada para que veja este

conteúdo de forma diferenciada e consiga trabalhá-lo na escola (isto não está acontecendo),

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conheça todas as modalidades ginásticas e relacione algumas delas para serem trabalhadas na

escola, faça a transposição didática, ou seja, as adaptações necessárias tanto de espaços

quanto de materiais, efetivando uma prática que envolva a todos, siga uma certa

sistematização e proporcione aos alunos mais esta vivência corporal e cultural.

Tendo em vista esses resultados parciais, em relação ao objetivo geral que foi de

verificar se a ginástica, como conteúdo estruturante, é trabalhada em seus diferentes estilos de

forma sistematizada nas aulas de Educação Física das Escolas Estaduais da Educação Básica

– 5ª a 8ª séries, do Município de Francisco Beltrão chegou-se à conclusão de que embora

timidamente e de forma aleatória a ginástica está sendo contemplada, nas aulas de Educação

Física nas Escolas Estaduais do Município de Francisco Beltrão. Esse resultado demonstra

que há uma preocupação por parte dos professores, em melhorar a prática pedagógica, tendo

em vista que em muitas pesquisas este conteúdo não é contemplado. No entanto, diante das

convergências e divergências apresentadas neste trabalho, concluímos que ainda há um longo

caminho a percorrer, lembrando que este caminho não pode ser trilhado isoladamente por

alguns professores, mas pelo coletivo que compõe o sistema educacional.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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