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Globalização, Regionalização e a América Latina James Zomighani Especialista Formador de Geografia do IQE – Instituto Qualidade no Ensino Globalização faz parte de um conjunto de temas que, na escola, devido ao seu ele- vado nível de complexidade, é mais adequado de ser trabalhado com estudantes dos anos mais avançados. O ideal é que comece a ser estudado, com mais profun- didade, a partir do oitavo ou nono ano, e durante todo o ensino médio, etapa na qual o desenvolvimento cognitivo dos estudantes já permite a lida com teorias e conceitos mais abstratos, além da uti- lização de diferentes recursos educacionais. Quando o professor uti- liza recursos didáticos como textos de diversas fontes, além de mapas com dife- UHQWHV HVFDODV JHRJUiタFDV ele facilita o conhecimento de processos complexos, GHタQLGRV SRU FRQFHLWRV DEV- tratos, como a globalização. E permite reconhecer como ocorre - no território de diversos países - a atuação mundial das empresas mul- tinacionais pela demons- tração dos recursos que as atraem para cada um deles (matérias-primas, energia, mão de obra barata e espe- cializada, dentre outros). Em busca de analisar um conceito operacional, pode-se problematizar, junto aos estudantes, como a globalização produz con- sequências contraditórias (além da conexão plane- tária, também promove a fragmentação dos territórios nacionais), e gera respostas de enfrentamento como o esforço pela integração dos países por meio da regio- nalização. Desse modo, são criadas condições para que os estudantes compreendam como a divisão social, internacional e territo- rial do trabalho – produto e condição de modernizações incompletas e seletivas - organiza e implanta, no espaço nacional, um novo PHLR JHRJUiタFR FRQVWLWXtGR por ciência, técnica e infor- mação. Essa seletividade produz territórios frag- mentados ao substituir o meio natural por bases mais modernas, suplan- tando antigas formas de organização do espaço JHRJUiタFR PDV WDPEpP permite novas formas de trabalho e inserção no comércio mundial, gerando diversas implicações locais, como o aumento das desi- gualdades socioespaciais (pois os investimentos são muito seletivos, e podem não atender às demandas locais). Assim, o processo de glo- balização implantação planetária de sistemas JHRJUiタFRV GH WUDQVSRUWHV e comunicações tanto integra quanto, ao mesmo tempo, fragmenta diversas regiões ou territórios do globo terrestre. A integração (em escala mundial) decorre do alcance do uso das redes e sistemas de transportes e comunicações, permitindo circulação global de pessoas e mercadorias; já a fragmen- tação - em escala regional ou nacional - é resultante da escolha seletiva dos locais para implantação das redes, além da neces- sidade de poder econômico ou de conhecimento para utilizá-las com competência, havendo exclusão de grande parcela da sociedade desse processo. No caso da regionali- zação, há diversos exem- plos em curso. Nas Amé- ricas temos a Comunidade do Caribe (CARICOM); o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (a sigla em inglês é NAFTA), a União das Nações Boli- varianas (ALBA), a Asso- ciação Latino-Americana de Integração (ALADI) e a União das Nações Sul- Americanas (UNASUL), cujo braço econômico é o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Um dos exercícios que pode ser feito envolve – em um mapa múndi – delimitar essas grandes regiões for- madas pelos blocos de países. Ao descrever sua posição, o professor pode apontar relações de vizinhança e de interdependência dos modais de transporte em suas múltiplas combinações (aéreas, terrestres ou marí- timas), além dos recursos e serviços disponíveis em cada país, vetores de sua inte- gração com outras regiões do mundo. Outra etapa envolve compreender as transformações políticas e econômicas que ambos os processos – globalização e regionalização - provocam no mapa do mundo con- temporâneo. A constituição das redes JHRJUiタFDV GH DOFDQFH planetário, um dos funda- mentos da globalização, tem ampliado de forma H[WUDRUGLQiULD RV チX[RV mundiais, materiais ou imateriais, desde meados do século XX até o pre- sente. No caso da Asso- ciação Latino-Americana de Integração (ALADI), enquanto a popu- lação latino-americana aumentou de 320,2 para 519,1 milhões de pessoas entre 1980 e 2010, suas exportações passaram de 87 bilhões para mais de um trilhão de dólares anuais, ou 1.064% de cres- cimento no mesmo período de 30 anos. Não obstante esse colossal crescimento das exportações, há ainda grandes carências sociais e materiais na região, pois VHXV チX[RV GH PHUFDGRULDV atendem, principalmente, a demandas de outras regiões do mundo, muitas vezes em detrimento das necessi- dades latino-americanas. No caso da América do Sul, o principal projeto de inte- gração é a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) com objetivo de união política e cultural, além de fortaleci- mento das economias regio- nais. Um produto concreto dessa política de integração sul-americana é o Tratado de Assunção – que criou o MER- COSUL. Segundo o Minis- tério das Relações Exteriores do Brasil, o Tratado é um dos principais instrumentos da integração econômica na América do Sul. A natureza do processo de globalização e regionalização envolve a transformação profunda dos territórios nacionais. Seu conhecimento permitirá compreender FRP DSRLR GD FDUWRJUDタD H das teorias sobre o espaço JHRJUiタFR イ VXD FRPSOH[L- dade, tornando possível que professores e estudantes continuem a avançar no conhecimento do mundo atual.

Globalização, Regionalização e a América Latina · Geografia do IQE – Instituto Qualidade no Ensino Globalização faz parte de um conjunto de temas que, na escola, devido

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Globalização, Regionalização e a América LatinaJames ZomighaniEspecialista Formador de Geografia do IQE – Instituto Qualidade no Ensino

Globalização faz parte de um conjunto de temas que, na escola, devido ao seu ele-vado nível de complexidade, é mais adequado de ser trabalhado com estudantes dos anos mais avançados. O ideal é que comece a ser estudado, com mais profun-didade, a partir do oitavo ou nono ano, e durante todo o ensino médio, etapa na qual o desenvolvimento cognitivo dos estudantes já permite a lida com teorias e conceitos mais abstratos, além da uti-lização de diferentes recursos educacionais.

Quando o professor uti-liza recursos didáticos como textos de diversas fontes, além de mapas com dife-

ele facilita o conhecimento de processos complexos,

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tratos, como a globalização. E permite reconhecer como ocorre - no território de diversos países - a atuação mundial das empresas mul-tinacionais pela demons-tração dos recursos que as atraem para cada um deles (matérias-primas, energia, mão de obra barata e espe-cializada, dentre outros).

Em busca de analisar um conceito operacional, pode-se problematizar, junto aos estudantes, como a globalização produz con-sequências contraditórias (além da conexão plane-tária, também promove a fragmentação dos territórios nacionais), e gera respostas de enfrentamento como o esforço pela integração dos países por meio da regio-nalização. Desse modo, são criadas condições para que os estudantes compreendam como a divisão social,

internacional e territo-rial do trabalho – produto e condição de modernizações incompletas e seletivas - organiza e implanta, no espaço nacional, um novo

por ciência, técnica e infor-mação. Essa seletividade

produz territórios frag-mentados ao substituir o meio natural por bases mais modernas, suplan-tando antigas formas de organização do espaço

permite novas formas de trabalho e inserção no comércio mundial, gerando diversas implicações locais, como o aumento das desi-gualdades socioespaciais (pois os investimentos são muito seletivos, e podem não atender às demandas locais).

Assim, o processo de glo-balização – implantação planetária de sistemas

e comunicações – tanto integra quanto, ao mesmo tempo, fragmenta diversas regiões ou territórios do globo terrestre. A integração (em escala mundial) decorre do alcance do uso das redes e sistemas de transportes e comunicações, permitindo circulação global de pessoas e mercadorias; já a fragmen-tação - em escala regional ou nacional - é resultante da

escolha seletiva dos locais para implantação das redes, além da neces-

sidade de poder econômico ou de conhecimento para utilizá-las com competência, havendo exclusão de grande parcela da sociedade desse processo.

No caso da regionali-zação, há diversos exem-plos em curso. Nas Amé-ricas temos a Comunidade do Caribe (CARICOM); o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (a sigla em inglês é NAFTA), a União das Nações Boli-varianas (ALBA), a Asso-ciação Latino-Americana de Integração (ALADI) e a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), cujo braço econômico é o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

Um dos exercícios que pode ser feito envolve – em um mapa múndi – delimitar essas grandes regiões for-madas pelos blocos de países. Ao descrever sua posição, o professor pode apontar relações de vizinhança e de interdependência dos modais de transporte em suas múltiplas combinações (aéreas, terrestres ou marí-timas), além dos recursos e serviços disponíveis em cada

país, vetores de sua inte-gração com outras regiões do mundo. Outra etapa envolve compreender as transformações políticas e econômicas que ambos os processos – globalização e regionalização - provocam no mapa do mundo con-temporâneo.

A constituição das redes

planetário, um dos funda-mentos da globalização, tem ampliado de forma

mundiais, materiais ou imateriais, desde meados do século XX até o pre-sente. No caso da Asso-ciação Latino-Americana de Integração (ALADI), enquanto a popu-lação latino-americana aumentou de 320,2 para 519,1 milhões de pessoas entre 1980 e 2010, suas exportações passaram de 87 bilhões para mais de um trilhão de dólares anuais, ou 1.064% de cres-cimento no mesmo período de 30 anos. Não obstante esse colossal crescimento das exportações, há ainda grandes carências sociais e materiais na região, pois

atendem, principalmente, a demandas de outras regiões do mundo, muitas vezes em detrimento das necessi-dades latino-americanas.

No caso da América do Sul, o principal projeto de inte-gração é a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) com objetivo de união política e cultural, além de fortaleci-mento das economias regio-nais. Um produto concreto dessa política de integração sul-americana é o Tratado de Assunção – que criou o MER-COSUL. Segundo o Minis-tério das Relações Exteriores do Brasil, o Tratado é um dos principais instrumentos da integração econômica na América do Sul.

A natureza do processo de globalização e regionalização envolve a transformação profunda dos territórios nacionais. Seu conhecimento permitirá compreender –

das teorias sobre o espaço -

dade, tornando possível que professores e estudantes continuem a avançar no conhecimento do mundo atual.