100
em Moçambique Editado por Eduardo Namburete Género e Governo Local

Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

em MoçambiqueEditado por Eduardo Namburete

Género eGoverno

Local

Page 2: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

A Gender Links (GL) é uma ONG da África Austral comprometida com uma

região em que as mulheres e os homens são capazes de participar igualmente

em todos os aspectos da vida pública e privada de acordo com o articulado no

Protocolo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)

sobre Género e Desenvolvimento.

Género e Governo Local em Moçambique

© Direitos do Autor 2010 Gender Links.

ISBN: 978-0-9869880-4-2

Gender Links

9 Derrick Avenue

Cyrildene, 2198

Johannesburg, South Africa

Phone: 27 (11) 622 2877

Fax: 27 (11) 622 4732

Email: [email protected]

Website: www.genderlinks.org.za

Editor: Eduardo Namburete

Foto de Capa: Mulheres em Itoculo dançando by Ivone Soares

Foto de contracapa: Embarcação no porto-cais da catembe

by Eduardo Namburete

Desenho e paginação: Top Art Graphics & Promotions cc

Patrocinadores: Agência Dinamarquesa de Desenvolvimento Internacional

(DANIDA) e UKaid do Departamento para o Desenvolvimento Internacional

(DFID) do Governo do Reino Unido.

Este relatório foi produzido com o apoio financeiro da Agência Dinamarquesa

de Desenvolvimento Internacional (DANIDA) e UKaid do Departamento

para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido.

Os pontos de vista aqui expressos são da Gender Links e, portanto, não podem,

de nenhuma maneira serem tomados como reflectindo a opinião oficial da

DANIDA ou do UKaid.

Page 3: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 1

Género eGoverno Local

CONTEÚDOSAGRADECIMENTOSBIOGRAFIA DOS PESQUISADORESLISTA DE SIGLAS E ABREVIATURASPREFÁCIO

1. VISÃO GERAL 50/50 até 2015Género, democracia e governação localOs que os membros das Assembléias Municipais disseram:Existe relação entre género e democracia?Racional da pesquisaEstrutura do relatório

2. CONCEITOS, CONTEXTO E METODOLOGIAQuadro conceptual: Acesso, participação, transformaçãoPerfil do paísGoverno local em MoçambiqueMetodologia da pesquisa

3. ACESSANDO O GOVERNO LOCALAusência de mulheres no governo localBarreiras para o acessoEstratégias para a mudançaConclusões

4. PARTICIPAÇÃOMedindo a participaçãoBarreiras para a participaçãoFactores facilitadoresConclusões

5. FAZENDO A DIFERENÇAO que as mulheres trazem para a políticaAtitudes dos homensConclusões

6. GÉNERO NO TRABALHO DAS ASSEMBLÉIAS MUNICIPAISComo é que funciona o governo localO trabalho das Assembléias Municipais através das lentes do géneroConclusões

3456

71012

1314

1718222630

3536374246

4748535860

61636970

71727580

Page 4: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género eGoverno Local

2 • Género e Governo Local em Moçambique

CONTEÚDOS7. DA PRÁTICA PARA A ESTRATÉGIA

Questões conceptuaisPolíticas e estratégiasConclusões

8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕESConstataçõesRecomendações

LISTA DE REFERÊNCIAS

TABELAS

Tabela 1: Análise comparativa das mulheres nos parlamentos do mundoTabela 2: Género na política na África AustralTabela 3: Mulheres na política em MoçambiqueTabela 4: Amostra da pesquisaTabela 5: Amostra dos municípiosTabela 6: Distribuição do género pela amostra da pesquisaTabela 7: Distribuição dos partidos políticos pela amostraTabela 8: Resumo da tabela dos grupos focaisTabela 9: Mulheres e homens nas AM em MoçambiqueTabela 10: Eleições anteriores – Governo local urbanoTabela 11: Participação das mulheres nas sessões das AMTabela 12: Representação das mulheres nas comissões de trabalho das AMTabela 13: Mulheres na gestão do governo localTabela 14: Funções do governo local em Moçambique

GRÁFICOS

Gráfico 1: Mulheres na tomada de decisão na África AustralGráfico 2: Quadro conceptualGráfico 3: Mulheres e homens membros das AM por província

CAIXAS

Caixa 1: Espera-que as mulheres cuidem da casa, do marido e dos filhosCaixa 2: As mulheres do Lesotho lideram o caminho no governo local

81818790

919193

96

89253131313233374150525274

91936

3843

Page 5: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 3

Este relatório é parte da segunda fase do projecto de pesquisa que levou à publicação da Gender Links (GL): At the CoalFace: Género e Governo Local na África Austral. O objectivo da segunda fase é para extender a pesquisa sobre género e governolocal a todos os paises da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). A primeira fase da pesquisa foilevada a cabo em quatro paises: Lesotho, Maurícias, Namíbia e África do Sul.

Este é um relatório sobre a pesquisa conduzida em Moçambique em 2009, na qual 76 membros das Assembleias Municipais(50 mulheres e 26 homens) em 9 municípios participaram nas entrevistas, e 103 (48 mulheres e 55 homens) participaramnas discussões dos grupos focais. Os seus pontos de vista e as suas vozes constituem o coração deste trabalho.

Alves Talala e Inusso Chuau realizaram o trabalho de campo. Eduardo Namburete realizou a pesquisa documental, osestudos de caso e coordenou a pesquisa em Moçambique. Susan Tolmay coordenou e administrou o projecto. LukanyoNyati analisou os questionários e preparou os gráficos contidos neste relatório. Os resumos das biografias dos pesquisadoresestão na parte inicial deste relatório.

Este relatório basea-se na metodologia e conceitos contidos no estudo original editado pela Directora Executiva da GL,Colleen Lowe Morna e Susan Tolmay.

Os nossos sinceros agradecimentos aos nossos patrocinadores, a Agência Dinamarquesa de Desenvolvimento Internacional(DANIDA) e UKaid do Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unidopor apoiar este projecto de pesquisa como parte do apoio geral ao projecto do género e governo local.

Um leque de contribuições, conhecimentos e experiências inspiraram e enriqueceram este trabalho. Por último, entretanto,a GL assume a responsabilidade pelas interpretações, conclusões e recomendações tiradas.

AGRADECIMENTOS

Page 6: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

ALVES TALALA é jornalista do semanário Savana, editado em Maputo. Nascido aos 20de Junho de 1983, no distrito de Metarica, na província nortenha do NiassaTalala é licenciadoem jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade EduardoMondlane (UEM). Frequentou também cursos de Marketing Intercultural e ComportamentoOrganizacional promovidos pela Universidade Nova de Lisboa em parceria com a UEM.A sua experiência de pesquisa inclui participação em vários projectos de pesquisa, deentre os quais a análise dos media na cobertura eleitoral, nas eleições Presidenciais eLegislativas de 2009, em Moçambique, para União Europeia; e a Monitor dos Media na

cobertura das eleições Autarquicas de 2008 e Legislativas, Presidenciais de 2009 em Moçambique, paraInstituto dos Media da África Austral (MISA-Moçambique).

INUSSO CHUAU é licenciado em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes daUniversidade Eduardo Mondlane e editor do jornal A TribunaFax, editado na cidade deMaputo. Para além de trabalhar como repórter e porsteriormente editor, Chuau participouem vários projectos de pesquisa sobre HIV e Sida e Género, da Gender Links; e no projectode pesquisa sobre HIV e SIDA e TB da Panos Shouthern Africa. Em 2006 participou nalaboração da campanha “Por uma UEM livre do SIDA e Aposte na Fidelidade” realizadana Universidade Eduardo Mondlane através de uma parceiria com a John Hopkins UniversityBloomberg School of Public Health/Center for Communication Programs(JHU/CCP).

EDUARDO NAMBURETE é docente e fundador da Escola de Comunicação e Artes (ECA)da Universidade Eduardo Mondlane. Trabalha na comunicação social há mais de 23 anos,tendo trabalhado como Director de Pesquisa no Instituto de Comunicação Social (ICS),e como repórter no jornal The Washington Times, editado em Washington, D.C., nosEstados Unidos da América. É o facilitador do Plano de Acção dos Media para Moçambiquee coordenou a pesquisa sobre Género e Governaçãl Local em Moçambique. Actualmenteé membro do Conselho de Directores da Gender Links, sediada na África do Sul, e membrodo Conselho Universitário da Africa University, sediada no Zimbabwe. De 2005 a 2009

serviu como Deputado da Assembléia da República de Moçambique. Na sua capacidade de académicoNamburete tem realizado pesquisas sobre Género, HIV e SIDA, e tem já publicou vários artigos em jornais,revistas e livros versando sobre diversas temática no âmbito do Género, Democracia, Boa Governação eComunicação Social. Formado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, no Brasil,e pela Southern University, nos Estados Unidos da América, Namburete já realizou acções de formação dejornalistas sobre assuntos ligados ao Género, Saúde Reprodutiva para jornalistas do Malawi, Moçambique,Quénia, Tanzania e Uganda.

4 • Género e Governo Local em Moçambique

Biografias dos pesquisadores

Page 7: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 5

AM Assembléia Municipal

ANC Congresso Nacional Africano

BPFA Plataforma de Beijing para a Acção

CEDAW Convenção para a Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação contra as

Mulheres

CNE Comissão Nacional de Eleições

ECA Escola de Comunicação e Artes

FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique

GMS Sistema de Gestão do Género

HIV Virus de Imunodeficiência Humana

ICS Instituto de Comunicação Social

MAE Ministério da Administração Estatal

MDM Movimento Democrático de

Moçambique

MF Ministério das Finanças

MUCHEFA Mulheres Chefes de Família

PFG Ponto Focal de Género

PNAM Programa Nacional para o Avanço da

Mulher

PNUD Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento

RENAMO Resistência Nacional Moçambicana

SADC Comunidade de Desenvolvimento da

África Austral

SIDA Sindroma de Imunodeficiência

Adquirida

STAE Secretariado Técnico de

Admninistração Eleitoral

UEM Universidade Eduardo Mondlane

UG Unidade de Género

UIP União Inter Parlamentar

ANE Administração Nacional de Estradas

MOPH Ministério das Obras Públicas e

Habitação

MICOA Ministério para a Coordenação da

Acção Ambiental

IULA União Internacional do Governo Local

LED Linhas Estratégicas de

Desenvolvimento

Lista de siglas e abreviaturas

Page 8: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Moçambique é um dos poucosPaíses na África Austral queassinou e ratificou o Protocolod a C o m u n i d a d e d eDesenvolvimento da ÁfricaAustral (SADC) sobre Géneroe Desenvolvimento. Entre as 25metas a serem atingidas até 2015,o Protocolo clama pela igualdade

na representação e participação das mulheres na áreade decisão política. Dentre os Países da SADC,Moçambique é um dos que têm maior número demulheres no Parlamento. Ao nível nacional, é um dosquatro Países que superaram a meta original de 30%de mulheres no Parlamento, com 38%, o que é umfacto animador. Apesar deste avanço, a participaçãode mulheres no Parlamento não significa que asmulheres estejam devidamente representadas em todosos processos relativos às actividades do governo ànível local. Apesar dos números serem importantes,é necessário, também, que as mulheres tenham suasvozes ouvidas.

Faltando apenas mais uma eleição antes do prazo de2015, Moçambique ainda tem um longo caminho apercorrer. Alguns dos desafios enfrentados pelasmulheres, de acordo com esta pesquisa, incluem a faltade medidas de acções afirmativas, recursos, socializaçãodesigual, prácticas culturais que impedem oempoderamento da mulher e o patriarcado. Muitosdestes desafios encontram-se enraizados nas relaçõesde poder desiguais entre mulheres e homens. EmboraMoçambique tenha um sistema de eleições quefunciona - o sistema de Representação Proporcional- combinado com as quotas voluntárias estabelecidaspelos partidos políticos, o desafio que muitas mulheresencontram requer muito mais do que apenas vitóriasquando se fala em números. É óbvio que uma políticaclara, estratégia e muito empenho sejam necessáriospara o aumento radical da representação e para acapacitação das mulheres com as necessárias habilidadespara que as mesmas possam se erguer firmemente emposições já conquistadas. Para que isto aconteça, énecessário um esforço de todos os actores, incluindo

6 • Género e Governo Local em Moçambique

PREFÁCIO

Adélia Branco

as lideranças de partidos politicos, governo e sociedadecivil.

As evidências recolhidas nesta pesquisa indicam queaté em pequenos grupos de mulheres, Moçambiquetraz diferentes perspectivas e interesses para agovernanção local. As mulheres têm interesse emassuntos cotidianos como, educação, saúde, gruposmarginalizados habitação, mercados, violência baseadano género e desenvolvimento da comunidade e dejovens. Elas também são vistas como trabalhadoras,acessíveis e próximas da população e dos assuntoslocais. Muitas das mulheres e dos homens entrevistadosnesta pesquisa também mencionaram o impactopositivo do papel das mulheres nos governos locaisnas relações de género nas comunidades, apontandopara o facto de que as mulheres estão começando ater o retorno da conquista de uma maior representaçãona esfera pública.

O Protocolo SADC sobre Género e Desenvolvimentoé claro sobre o facto de que o acesso é apenas parteda história. As mulheres também devem participarefectivamente nas decisões políticas. As experiênciasem outros Países da SADC têm mostrado que ondehá um esforço em prol do desenvolvimento deestratégias e planos de acção no nível local e atravésdo encorajamento das Assembleias Municipais parase tornarem Centros de Excelência para a Integraçãoda Perspectiva de Género no Governo Local - basepara a provisão de serviços e para o desenvolvimento- há um enorme potencial para começar a mudançanas vidas das mulheres em geral. É, portanto,fundamental para todos os actores do governo eparceiros assegurarem que esta pesquisa se torne numinstrumento de mobilização em prol das mulheres daregião e dos desafios que as mesmas enfrentam.

A vez das mulheres Moçambicanas exigirem o seulugar na esfera de decisão e mostrarem ao mundo quenada é impossível, chegou! A hora é agora!

Adélia BrancoGestora do Programa da ONU Mulheres no País

Page 9: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

VISÃO GERAL:50/50 até 2015

1

As idas e vindas diárias dos municípes de Catembe. Photo: Eduardo Namburete

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 7

uando os Chefes de Estado da Comunidade de Desenvolvimentoda África Austral (SADC) assinaram o Protocolo sobre o Géneroe Desenvolvimento em 17 de Agosto de 2008, emJohannesburgo, eles se comprometeram a alcançar pelo menos

a representação de 50% de mulheres nas posições de tomada de decisãonos sectores públicos e privados até 2015.

Q

Page 10: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Em média, a região da SADC tem agora 24% demulheres em ambas as câmaras baixa e alta dosparlamentos; 5% mais alto que a média global queé de 18.9%, conforme indicado na tabela um. Oposicionamento da SADC, que está em segundolugar, só perde para os paises Nórdicos, mas perdepor muito diante de uma média alta de 42.1%, econtinua abaixo dos 30%, isso sem falar da meta50/50 acordada no âmbito do Protocolo da SADCsobre o Género e Desenvolvimento.

8 • Género e Governo Local em Moçambique

Moçambique no contexto regionalEste primeiro capítulo oferece os antecedents e ocontexto para a pesquisa; a sua racional e asfundações teóricas. O capítulo situa a pesquisasobre Moçambique no contexto da Comunidadede Desenvolvimento da África Austral e a campanhapara assegurar a representação igual das mulheresem todas as àreas de tomada de decisão. Ele mostracomo a campanha para aumentar a representaçãode mulheres nos governos locais não é apenas umacoisa que tem que ser feita, mas sim uma coisa quevai enriquecer a qualidade da governação e tomadade decisão.

Tabela 1: Análise comparativa das mulheres no parlamento em todo o globo

Fonte: UIP e Gender Links

Câmara baixa42.1%

24.6%

22.2%

21.9%

19.9%

18.7%

18.4%

13.2%

10.1%

19.1%

Câmara alta

19.8%

21.7%

19.8%

19.8%

16.4%

20.4%

32.6%

7.6%

17.9%

Ambas as câmaras42.1%

24 %

22.1%

21.4%

19.9%

18.5%

18.8%

15.3%

9.5%

18.9%

RegiãoPaises NórdicosSADCAméricasEuropa incluindo os paises NórdicosEuropa excluindo os paises NórdicosÁsiaÁfrica Sub-Sahariana (incluindo SADC)PacíficoEstados ÁrabesMédia Global

Page 11: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Tabela 2: Género e política na África Austral

Source: IPU and Gender Links

A tabela dois ilustra a enorme variação da representação de mulheres na política ao nível da região da SADC,desde a média de 42.7% na África do Sul para 7.7% na República Democrática do Congo. A variação aonível do governo local na região é ainda maior, de 58% de mulheres no governo local no Lesotho para apenas6% no Madagascar.

% de Mulheresem ambas as

câmaras38.6%

7.9%

7.7%

22.9%

10.3%

21.2%

18.8%

39.2%

24.7%

23.5%

42.7%

21.9%

30.7%

15.2%

17.9%

24.0%

% de Mulheres nogoverno

localDesconhecido

19.4%

Desconhecido

58.0%

6.0%

Não há membros eleitos

6.4%

35.6%

41.8%

Não há membros eleitos

39.7%

17.9%

34.2%

6.6%

18.5%

23.5%

País

Angola

Botswana

RDC

Lesotho

Madagascar

Malawi

Maurícias

Moçambique

Namíbia

Seychelles

África do Sul

Swazilândia

Tanzania

Zâmbia

Zimbabwe

Média regional

% de Mulheresna câmara

baixa38.6%

7.9%

8.4%

24.2%

8.7%

21.2%

18.8%

39.2%

23.9%

23.5%

44.5%

13.6%

30.7%

15.2%

15.0%

24.6%

% de Mulheresno Executivo

25.7%

21.1%

14.3%

31.6%

15.4%

22.7%

9.5%

32.1%

18.2%

16.7%

41.2%

23.5%

20.0%

13.0%

17.1%

22.0%

% de Mulheresna câmara

alta-

-

4.6%

18.2%

17.9%

-

-

-

26.9%

-

29.6%

40.0%

-

-

24.2%

19.8%

Género e Governo Local em Moçambique • 9

Reg

iona

lA

vera

ge

Ang

ola

Bot

swan

a

Leso

tho

Mad

agas

car

Mal

awi

Tan

zani

a

Mau

ríci

as

Moç

ambi

que

Nam

íbia

Sey

chel

les

Áfr

ica

do S

ul

Sw

azilâ

ndia

Zâm

bia

DR

C

Zim

babw

e

Gráfico 1: Mulheres na tomada de decisão na África Austral

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

% de mulheres no Parlamento% de mulheres no Governo% de mulheres de mulheres no Governo local

Page 12: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

10 • Género e Governo Local em Moçambique

Como ilustrado no gráfico um, no momento daredacção deste relatório, ao nível dos paises apenasquarto (Angola, Moçambique, África do Sul eTanzania) tinham alcançado ou ultrapassado a metaoriginal de 30%. E apenas cinco paises (Lesotho,Namíbia, África do Sul, Tanzania e Moçambique)tinham alcançado esta meta ao nível local.

A percentagem de 38.4% de mulheres naAssembléia da República coloca Moçambique emsegundo lugar na região, ficando apenas atrás daÁfrica do Sul que tem uma representação demulheres no Parlamento na ordem de 42.7%. Aonível do governo local Moçambique, com 35.6%de mulheres, ocupa o quarto lugar, depois doLesotho, Namíbia e África do Sul, com 58.0%,41.8% e 39.7%, respectivamente.

De acordo com Atkinson (2002:2) “governação é umtermo mais amplo que governo, no sentido de queele engloba o ambiente no qual o governo, ainstituição, funciona assim como as suas relaçõescom outros principais interessados externos. Essesprincipais interessados externos incluem oeleitorado, o público, os consumidores dos serviços

e outros actores não estatais. É, portanto, funçãodo governo assegurar que todos esses principaisinteressados sejam tomados em conta quandoexercer as funções de governo. O âmbito dagovernação, portanto, vai para além da dimensãotécnica (aspectos de providenciar serviços) e política,para o empoderamento da sociedade civil. Muitasdefinições de boa governação incluem quatrocomponentes importantes; transparência, prestaçãode contas, eficiência e aderência ao cumprimentoda lei.

O governo local é um ponto de entrada importantepara as mulheres por várias razões, não sendo amenor delas o facto da sua proximidade ao povo.Os gabinetes municipais estão geograficamentemais próximos das comunidades, que os gabinetesnacionais, o que significa que eles são mais acessíveise que os residentes deveriam ser capazes de interagircom este nível do governo. Os municípios sãodivididos em distritos e em bairros, onde existemos políticos a quem os membros da comunidadepodem se aproximar e com eles interagir. Segueentão que este nível de governo deveria ser o quemais facilmente responde às necessidades específicasde desenvolvimento das comunidades.

A governação local poderia então ser definida comoum processo através do qual os principaisinteressados interagem na determinação da agendade desenvolvimento local e na gestão dos recursospara a implementação dessas prioridades dedesenvolvimento (Evertzen 2001:5).

Porque historicamente as mulheres tem sidorelegadas ao lar, elas acabam passando a maior partedo seu tempo na comunidade, lidando com assuntoslocais que incluem a providência de serviços, ecomo tal elas são as que melhor conhecem e sãomais afectadas por esses serviços. As mulheresestão também mais envolvidas nas actividades e

Género, democracia e governaçãolocal

Sessão da Assembléia Municipal da Cidade de Maputo. Photo: Eduardo Namburete

Page 13: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

O argumento de justiça é de que porque as mulheresconstituem metade da população (ou mais da metadecomo é o caso em muitos paises Africanos) elastêm o direito de participar e serem representadasem igual número nas estruturas de tomada dedecisão. Argumenta que a sociedade onde asmulheres não estão representadas de maneira igualé antidemocrática e injusta.

Este argumento toma em conta o facto de que asmulheres e homens são diferentes e como resultadodisso, têm necessidades, expectativas, pontos devista e prioridades diferentes. “Os papéis eresponsabil idades socialmente conferidosdeterminam de forma diferenciada como asmulheres e os homens contribuem para e beneficiamda vida citadina” (Beall 1996:3).

As mulheres e os homens desempenham tarefas efunções diferentes. Por causa dos papéis socialmenteconstruidos que são atribuídos às mulheres - elasmuitas vezes desempenham as actividadesreprodutivas, que incluem todas as actividadesdomésticas bem como cuidar das crianças e aquelasque são do domínio da esfera privada. Sendo assimelas exper imentam em pr imeira mão adisponibilização ou não dos serviços, que incluemágua, saneamento, electricidade, serviços de saúdee segurança pública. Os homens, por outro lado,habitam o espaço público como políticos eparticipantes nas actividades económicas. Comoresultado, os homens muitas vezes não estão atentosàs insuficiências dos serviços e, como políticos,automaticamente eles não representam essesassuntos que são de preocupação para as mulheres.Este argumento retém que a participação dasmulheres na tomada de decisão, especialmente aonível do governo local é fundamental para assegurarque as necessidades, interesses e prioridades de

Género e Governo Local em Moçambique • 11

organizações comunitárias e têm, de longe, o melhorentendimento do que está a acontecer ao nível localdo que as suas contrapartes masculinas. Daí entãoque o seu envolvimento na tomada de decisão aeste nível do governo beneficiaria ambos, asmulheres e as suas comunidades.

A política local é também mais fácil para se entrar,tendo poucos requisitos e por causa da suaproximidade da casa, permite às mulherescombinarem as suas responsabilidades domésticascom a sua participação na política.

De acordo com Beall (1996:1), “uma abordagemda governação urbana sensível ao género tem doisobjectivos principais: primeiro para aumentar aparticipação das mulheres no desenvolvimento dosentendimentos humanos e, em segundo lugar,promover a conscientização do género ecompetência entre ambos mulheres e homens naarena política e na prática da planificação”.

O envolvemento das mulheres na política pode servisto de uma forma geral de duas maneiras: existemos argumentos de equidade ou quantitativose os argumentos de eficácia ou qualitativos.

Esta escola de pensamento argumenta que asmulheres deveriam participar porque elas têm odireito de participar. Este direito está contido namaioria das Constituições e está baseado nosprincípios de igualdade, democracia e legitimidade.“O empoderamento e autonomia das mulheres ea melhoria do estatuto social, económico e políticodas mulheres é essencial para o alcance de umgoverno e administração transparentes e que prestacontas, e um desenvolvimento sustentável em todasas áreas da vida”. (UN Women's Conference Beijing,1995).

Argumentos de equidade

Argumentos de eficácia

Page 14: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

12 • Género e Governo Local em Moçambique

O que os membros das Assembléias Municipais disseram: Existe uma ligaçãoentre género e democracia?

Quando perguntados se existe uma ligação entre género e democracia, a maioria dos entrevistados (90.5%)responderam positivamente, com uma maioria marginal de homens (92%) que mulheres (89.8%) queconcordam que género e democracia estão ligados.

Perguntados o porquê das suas respostas, 19.1% delesdisseram que é porque as mulheres constituem amaioria da população, sendo a maioria deste grupo(22.7%) mulheres, e os homens que concordam comesta afirmação corresponde a 12.5%. Mais mulheres(27.3%) que homens (20.8%) acreditam que a relaçãoentre género e democracia é porque as mulheres temperspectivas diferentes dos homens. 38.6% dasmulheres comparadas a 37.5% de homens citaramas duas razões anteriores, a de que elas constituem

metade da população e de que as mulheres têm prioridades e abordagens diferentes que os homens. Existeum número maior de participantes (29.2% de homens) e (11.4% de mulheres) que não estavam certosquanto a resposta a dar.

Estas constatações são diferentes das do primeiro estudo At the Coalface que constatou que no geral 63%dos membros das Assembléias Municipais entrevistados concordaram com ambas as afirmações, e haviapequena diferença entre as respostas masculinas e femininas. Os paises envolvidos no primeiro estudoincluiam Lesotho, Namíbia e África do Sul, cuja representação de mulheres no governo local é muito alta,e nas Maurícias, que tem o nível de representação de mulheres mais baixo.

Esta diferença pode encontrar explicação no facto de que a participação das mulheres nos cargos dedirecção, e principalmente em posições electivas, é algo novo no nosso país, e o próprio debate sobre ogénero ainda é incipiente. De qualquer maneira, as respostas dadas pelos entrevistadosmostram o reconhecimento da necessidade da abordagem do género ao nível da governação local.

50%

40%

30%

20%

10%

0%

MulheresHomens

ambos, mulheres e homens, serão tomados em conta no desenvolvimento e implementação das políticas eprogramas ao nível local.

Em Moçambique, os entrevistados no governo local consideraram que ambos argumentos são relevantes,mas pareceram menos categóricos nas suas respostas, possivelmente isto reflecte o facto de que o discursodo género e governação é ainda relativamente novo no país e principalmenete a este nível.

Equidade e eficácia

Ambos(a) e (b)

As mulheresconstituem metade

da população

Não temcerteza

As mulheres têmperspectivas

diferentes

Page 15: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 13

O estudo da Gender Links (GL) de 2004, Ringingup the Changes: Gender in Southern African Politicsidentificou a representação irregular das mulheresao nível dos governos locais na África Austral comouma das áreas mais notórias e ainda assim poucopesquisada nos estudos de género, conflicto egovernação na região. A África Austral tem hesitadoentre tomar medidas especiais para garantir oaumento da representação das mulheres no governolocal, e não tomar nenhuma acção.

O governo local provoca respostas contraditóriasentre os decisores masculinos sob pressão paracorrigir os desequilíbrios do género. Por um lado,ao ponto de paises na África Austral estaremdispostos a legislar quotas para a representação demulheres na política, mas têm estado mais dispostosa fazê-lo para as eleições locais do que as nacionais.O Lesotho, a Namíbia e África do Sul (os trêspaises com a mais alta representação de mulheres

no governo local) têm quotas de uma forma ou deoutra ao nível local, mas não ao nível nacional. EmMoçambique as quotas não são legisladas, masestão estabelecidas nos estatutos dos principaispartidos políticos, para a ocupação de lugares nosórgãos de decisão, bem como para todas as eleiçõeslocais e nacionais.

As discrepâncias verificadas nos diferentes paises,em relação as quotas, sugerem que em vez de serum reflexo do cometimento para a participaçãodas mulheres ao nível local, as medidas tomadasnos três paises são um caso de os decisoresmasculinos abrirem caminho para as mulheres aonível local, enquanto resistem a tais medidas parauma arena mais nacional.

No outro extremo daqueles que atingiram passosrápidos na representação de mulheres no governolocal, está um contigente de paises da SADC ondeas mulheres membros das Assembléias Municipaisconstituem menos de 10% do total. Nesses paises

Os grupos de discussão focal concentraram-se mais no argumento de eficácia, como se pode percebernas seguintes respostas:

“A ligação entre género e democracia justifica-se porque se os direitos dos homens e mulheres foremiguais, facilmente a democracia irá se consolidar, o que em última análise irá se repercutir positivamenteno desenvolvimento e na promoção do bem estar da sociedade”. (membro da MUCHEFA)

“A experiência das mulheres na gestão doméstica e das questões sociais, e a experiência prática dos homensnas várias áreas, combinadas podem contribuir para o desenvolvimento do Munípio e do país em geral.”(mulher em Manjacaze)

O argumento de equidade também é referenciado nos seguintes termos:

“Há uma relação entre género e democracia, por isso tem que haver uma igualdade entre homens emulheres. Uma democracia é melhor quando maior equilíbrio de género houver nos círculos de tomadade decisão.” (mulher em Manjacaze)

Racional da pesquisa

Page 16: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

14 • Género e Governo Local em Moçambique

Estrutura do relatório

(tais como Madagascar, Maurícias e Zâmbia) asatitudes conservadoras no terreno continuam a agircontra a participação das mulheres ao nívellocal, mais do que no nível nacional.

Com a decisão dos Chefes de Estado da SADC deelevar a meta para as das mulheres na tomada dedecisão de 30% para 50%, e assegurar que todasas áreas de tomada de decisão sejam tomadas emconta, a pressão está a aumentar para garantir aindamais e maior participação de mulheres no governolocal. À medida que as campanhas para aumentara participação das mulheres na tomada de decisãono governo local aumentam, a pergunta que selevanta é: qual é a maneira menos conflictuosa emais benéfica para alcançar isto, que em últimaanálise vai empoderar as mulheres e mudar asatitudes dos homens em relação a igualdade dogénero?

Em 2006, a GL procurou responder a essasperguntas usando casos da África do Sul (queadoptou uma abordagem voluntária para acampanha de 50/50 ao nível local nas eleições de2005 num sistema eleitoral misto de constituênciase representação proporcional); o Lesotho (que temquotas legisladas num sistema baseado emconstituência); a Namíbia (que tem quotas legisladasnum sistema de representação proporcional, e asMaurícias (que realizou eleições em 2005 numsistema baseado na constituência, sem quotas).

Isto resultou num estudo pioneiro, At the Coalface:Género e Governo Local na África Austral. Desde quefoi lançado nos quatro paises, o estudo tem sidousado para desenvolver estratégias para incorporaro género no governo local, e foi seguido dodesenvolvimento de planos de acção de género emtodos os distritos. Com o financiamento daDANIDA e DFID, a GL extendeu a pesquisa paracobrir os restantes paises da SADC.

Este estudo pretende tirar lições sobre o aumentoda representação das mulheres no governo localduma maneira que minimiza o conflicto, aumentaa participação e leva a um governo mais equitativoe responsivo ao nível local, através de:

• Estudar as experiências dos paises da ÁfricaAustral com sistemas eleitorais diferentes eabordagens das quotas no aumento darepresentação das mulheres no governo local.

• Examinar como essas experiências podem seraplicadas por outros paises da África Austral queprocuram cumprir com a decisão dos Chefes deEstados de aumentar a quota para as mulheresem todas as áreas de tomada de decisão de trintapara cinquenta porcento.

• Examinar o impacto das mulheres ao nível locale propor estratégias para superar as barreiras paraa sua efectiva participação e contribuição.

• Capítulo um começa com uma visão geral daparticipação das mulheres na tomada de decisãopolítica ao nível global e na região e posicionaMoçambique no contexto regional. Destaca algunsconceitos chaves em torno do género, democracia

Passageiros aguardando o navio na ponte-cais da catembe.Photo: Eduardo Namburete

Page 17: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 15

apartir das constatações das observações dasreuniões das AM e das entrevistas de fundorealizadas com as mulheres e homens membrosdas AM, bem como das discussões dos gruposfocais. O capítulo mostra um número de barreiraspara a efectiva participação das mulheres nogoverno local, mas vai além para ilustrar que épossível transformar as barreiras em factoresfacilitadores.

• Capítulo cinco tenta demonstrar o que asmulheres trazem para a política local e se fazemdiferença nas vidas das outras mulheres e dassuas comunidades. Enquanto o estudo mostraque as mulheres podem ter preocupações einteresses diferentes, ressalta a importância deelas não serem esteriotipadas no sentido de queelas só levantam assuntos “ligeiros” dacomunidade e sobre bem-estar, que são geralmenteassociados às mulheres, mas por outro lado aimportância de os homens também levantaremesses assuntos. O capítulo retira dos exemplosdo trabalho que as mulheres estão a realizar parailustrar a importância da sua participação. Dátambém a visão dos homens membros das AM,e questiona se as suas atitudes em relação a formacomo olham para as mulheres estão a mudar, etambém se eles vê a participação das mulherescomo importante para eles e para as comunidades.

• Capítulo seis olha para as funções do governolocal e até que ponto o género está incorporadonos trabalhos diários dos municípios. O estudofaz uso dos exemplos extraídos das entrevistascom os membros das AM e das discussões dosgrupos focais e mostra que as mulheres começama influenciar as agendas dos municípios.Entretanto, o estudo destaca que a maior partedo trabalho das mulheres membros das AMrealizam aborda apenas as necessidades práticas

e governação local, e avança os argumentos paraa participação das mulheres na política, que podemser vistos de duas maneiras: os argumentos deequidade ou quantitativos, e os argumentos deeficácia ou qualitativos. Este capítulo estabelecea racional para este estudo.

• Capítulo dois sustenta-se na fundamentação dadapelo estudo Ringing up the Changes que se baseouno modelo de acesso, part ic ipação etransformação de Thenjiwe Mtintso para dar umquadro conceptual para a pesquisa, que por suavez sustenta a metodologia que é descrita emdetalhe neste capítulo. O capítulo também dáinformações de base sobre Moçambique,incluindo o sistema eleitoral e como o governolocal funciona.

• Capítulo três procupa-se com a capacidade dasmulheres acederem ao governo local. Emboranão haja nenhum impedimento legal para asmulheres acederem ao governo local emMoçambique, o estudo constatou que as estruturasnas quais as mulheres têm que operar continuammuito patriarcais e em alguns casos são obstrutivaspara a entrada de mulheres na arena política. Ocapítulo explora as barreiras que as mulheres têmque enfrentar para aceder ao governo local econclui com algumas estratégias que podem serimplementadas para assegurar que as mulheresentrem nesta área importante de tomada dedecisão.

• Capítulo quatro tem o seu enfoque na participaçãodas mulheres e nos factores que permitem ouimpedem essa participação. O capítulo destacaque o número só não é suficiente, e que parauma mudança legítima ter lugar, as mulheresprecisam de ser empoderadas para participarefectivamente. Tenta medir esta participação

Page 18: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

16 • Género e Governo Local em Moçambique

das mulheres e que é preciso fazer mais paraabordar as necessidades mais estratégicas dasmulheres nas comunidades.

• Capítulo sete é a sequência do capítulo anteriore começa a olhar como é que os municípiospodem abordar as necessidades das mulheres deuma forma mais estratégica. O capítulo explicaalguns conceitos chaves em torno dasnecessidades práticas e estratégicas e asabordagens do género. Destaca a importância de

se começar a abordar as causas do estatutomarginalizado das mulheres de modo a quetenham um impaco significativo nas suas vidas.O estudo mostra a importância de uma abordagemsistemática do género que inclua políticas eestratégias de desenvolvimento que abordamtodas as preocupações do género dentro dosmunicípios.

• Capítulo oito resume as principais constataçõese as recomendações do estudo.

Page 19: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

CONCEITOS,CONTEXTO E

METODOLOGIA

2

Clementina Comate explicando o Protocolo do Género da SADC. Photo: Mercedes Sayagues

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 17

ara as mulheres fazerem a direfença, primeiro elas devem estar na mesaonde as decisões são tomadas. Nessa mesa elas devem ser capazes defazer as suas vozes serem ouvidas, em virtude do seu número e porque

estão empoderadas para levantar as questões que lhes preocupam. Quando elasfalam, as suas vozes devem ser transformadas em políticas e decisões. Só depoisdisso é que mudanças efectivas podem tomar lugar, não apenas para essas poucas

P

Page 20: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

mulheres, mas para todas as mulheres da nossaregião. Este capítulo estabelece o quadro conceptualpara a pesquisa, o contexto do país e a metodologiada pesquisa.

O estudo At the Coalface, Género no Governo Local naÁfrica Austral basea-se no, e é informado pelo quadroconceptual inicialmente avançado por ThenjiweMtintso (1999:33-52), membro do Conselho deDirectores da Gender Links e antiga Presidente daGL e antiga Presidente da Comissão da Equidadedo Género da África do Sul (CGE). Este quadro,elaborado no Ringing up the Changes, está ilustrado nográfico dois.

O argumento central de Mtinstso é que o acesso eo número são pre-requesitos para a transformação,mas não garantem a transformação. Ela argumentaque uma vez as mulheres dentro da esfera de tomadade decisão, é necessário remover as barreiras parauma efectiva participação. Somente quando asmulheres estiverem presentes em força significativa,e serem capazes de participar efectivamente, podemcomeçar a fazer impacto.

As mulheres têm sido impedidas o acesso à tomadade decisões políticas por uma série de razões quebasicamente se resumem no facto de que associedades em todo o mundo definiram o espaçodas mulheres como sendo a esfera privada e não aespera pública. De todas as áreas de tomada dedecisão, a política é o mais público dos espaçospúblicos, e portanto tem sido entre os mais hostíspara o acesso das mulheres. Existem poucas

Quadro conceptual: Acesso,Participação, Transformação

18 • Género e Governo Local em Moçambique

evidências para sustentar a idéia de que o governolocal, como uma área de interesse imediato e directodas mulheres, é mais acessível para a sua participação.

Em vez disso, parece haver duas tendênciasdiametricamente opostas a este nivel: uma relativaelevada representação de mulheres onde os partidose paises decidiram avançar com a agenda de 50/50e ver a política local como uma base de poder menosconcorrida que a política nacional; e o baixo nívelde representação onde a força da tradição no terrenoé de tal maneira forte que a política nunca ousoudesafiá-la.

Acesso

Vendedeira de camarão na ponte-cais da Catembe. Photo: Eduardo Namburete

Page 21: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 19

PARTICIPAÇÃO:Factores que ajudam ouimpedem a eficiência das

mulheres na política

PolíticaSocial Institucional

HistóriaCultura Língua

Sistemaeleitoral,quotas

Comunicaçaosocial

Apoio

Partido

Gráfico 2: Quadro conceptual

Compromissodo Partido

Político

QuotasSistemaseleitorais

ObrigaçõesRegionais e

Internacionais

Activismo daSociedade

Civil

ACESSO:Mecanismos para meter as

mulheres e alcançar a“massa crítica”.

PessoalInstitucionalInstrumentos

governamentais

TRANSFORMAÇÃO:Mudanças nas relações de

género

Empoderamentodas mulheres

CulturaLeis/Políticasespecíficas do

género

Homensmudando de

atitude

Discurso Género em todasas Leis e Políticas

and policies

Localização

Serviços

Estruturas ecapacidade

Pessoal

Antecedentes

Exposição

Page 22: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

20 • Género e Governo Local em Moçambique

A questão que frequentemente se levanta nos debatessobre o acesso é até que ponto as mulheres devemser representadas em números específicos de modoa fazer a diferença. Colocado de outra forma, quãocrítica é a massa crítica? Quão mágico é o dado 30%?

A idéia de que para fazer a diferença as mulheresdevem constituir uma “massa crítica” leva-nos devolta para a pesquisa feita pela cientista politicadinamarquesa, Drude Dahlerup (1991:10) queafirmou: “Não esperem que façamos muita diferençaenquanto formos apenas poucas mulheres na política.Precisa de uma massa crítica de mulheres para fazeruma mudança fundamental”.

Um estudo sobre as mulheres na vida pública, levadaa cabo pela Divisão das Nações Unidas para oAvanço das Mulheres (DAW) em 2000, tambémargumenta que apenas uma massa crítica de mulherespermite as mulheres políticas trazerem valor diferentepara a vida pública:

Como uma minoria operando num domíniomasculino, para a maioria das mulheres figuraspúblicas serem aceites e operarem na base deigualdade com os homens, elas têm que se adaptare adoptar as prioridades masculinas predominantesna vida pública. De acordo com a teoria clássicado comportamento das minorias, as minorias, taiscomo as mulheres que são bem sucedidas nummundo dominado por homens, absorvem a culturadominante a tal ponto que elas tendem a sedissociarem das outras mulheres, enfraquecer oseu próprio sucesso e perceber qualquerdiscriminação que enfrentar como resultado dassuas próprias fraquezas. Precisa-se de uma minoriade um certo tamanho minimo, 30 - 35%, para ser

capaz de influenciar a cultura dos grupos e facilitaralianças entre os membros do grupo. A teoriapode também explicar o porquê uma mulhersozinha que atinge altos cargos parece não trazervalores femininos para os seus gabinetes(2000:5).

Entretanto, como Britton indica (2003:219), existe“igualmente um corpo de pesquisa de mulheres napolítica rico que constata que meter mulheres nosgabinetes não é suficiente para ter um impacto, quersobre o comportamento político ou legislativo”.

O argumento de meio termo é que enquanto asmulheres não são homogéneas, e enquanto elaspodem não advogar abertamente as agendasfeministas, elas têm certos interesses em comum,valores, perspectivas e abordagens diferentes emrelação aos homens. A simples presença das mulheresna tomada de decisão pode ser um impulso para amudança.

O argumento de que apenas as mulheres que sedeclaram feministas e activistas do género podemfazer a diferença, ignora o papel importante que asoutras mulheres jogam no apoio a tais agendas e aimportância dos números na construção dosconsensos em torno dessas agendas. Também ignoraa importância das várias mulheres que tomamdecisões que não se declaram feministas ou activistasdo género e nem são hostís a tais agendas, mas sesimpatizam com os assuntos sem estarem certos doque podem fazer dentro das estruturas de tomadade decisão para fazer a diferença. É esta 'massa crítica'que precisa de ser atingida com estratégias deempoderamento apropriadas que aproveitam a suaempatia e e equipá-las com habilidades para desafiaro ethos masculino dominante das instituições e dosserviços que elas oferecem.

A “massa crítica”

Page 23: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

O que é inegável é que aumentar os números demulheres nos gabinetes não é, por sí só, uma soluçãopara assegurar a igualdade de mulheres e acabar coma discriminação do género. Vários outros factores,tais como as normas culturais da sociedade, aslimitações financeiras das democracias incipientes,e os constragimentos partidários da vida política,jogam igualmente um papel importante (2003:378).

Esses factores podem ser especialmente intensos aonível local, onde o desempoderamento geral destaesfera do governo, combinado com as formas maisdescaradas de patriarcado que se vive no terreno,coloca desafios particulares na medição do impactodas mulheres na tomada de decisão a este nível (Britton2003:378).

Para as mulheres que tomam decisões serem maisefectivas, as estratégias de aumentar a representaçãode mulheres devem ir para além do simples acessoe abordar a questão das barreiras para uma efectivaparticipação. A tomada de decisão política é cheiade obstáculos para as mulheres. Esses incluem:

• Factores ideológicos, incluindo a naturezapatriarcal de todas as sociedades e a intercessãoentre racismo, sexismo, cultura e religião. Isto podevariar com o tempo, lugar e país. Também podeser diferente entre as várias esferas do governo.Como este estudo mostra, tais forças muitas vezesemergem mais visivelmente como barreiras aonível local que ao nível nacional.

• Factores políticos, tais como o apoio do partidoe das estruturas do partido; o tipo de sistemaeleitoral e onde estão na hierarquia do partido. Asmulheres na oposição, por exemplo, enfrentam osdesafios de serem mulheres e estarem na oposição; uma combinação de factores que pode serespecialmente desafiador ao nível local onde oescrutínio público é mais fechado e mais pessoal.

• Factores institucionais, tais como liderança epapéis de gestão dentro das instituições, bem comoos contactos e redes com organizações fora doparlamento. Mais uma vez, esses factores sãomuitas vezes mais graves ao nível local, onde asmulheres podem ser muitas em termos numéricos,mas poucas na influência real, uma vez que oshomens dominam as posições e decisões chaves,quer directamente ou indirectamente.

• Factores pessoais, tais como antecedentesindividuais, fundamentos, valores e capacidade.Geralmente os níveis de educação e exposição sãomais altos ao nível nacional que ao nível local.Ironicamente muitos dos assuntos a seremabordados a este nível (combrança de impostos,equilibrar orçamentos, subcontratação, gestão deinfraestruturas, etc.) são técnicos e requerem maisdo que conhecimentos básicos para ser capaz deorientar, gerir e responsabilizar os dirigentes. Istolevanta questões sérias sobre que tipo decapacitação é mais apropriada para o nível local.

O que é importante sublinhar é que cada um dosfactores que serve como barreira para a efectivaparticipação pode ser convertida num factorpermissor. O mesmo processo de facilitar aparticipação torna-se parte da transformação daspessoas, instituições, e da sociedade como umtodo.

A representação e participação na tomada de decisõespermite que um grande leque de vozes sejam ouvidas,

Género e Governo Local em Moçambique • 21

Participação

Para os efeitos deste estudo, a 'massa crítica' éentendida, não como um número fixo e mais comoo ponto no qual as mulheres, através da combinaçãode uma força numérica, ambiente político favorável,empoderamento e convicção de se sentir capaz delevantar questões críticas nos principais ambientes.

Transformação

Page 24: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Moçambique é um país situado na costa oriental daÁfrica Austral, cobrindo uma área de 799.380 km2,e faz fronteira com a Tanzania, Malawi e Zâmbiano extremo norte; com o Zimbabwe a oeste, Áfricado Sul e Swazilândia ao sul, e é banhado pelo Canalde Moçambique e OceanoÍndico a leste.

De acordo com o censo de2007, Moçambique temu m a p o p u l a ç ã o d e20.226.296 habitantes, dosquais 51% são mulheres.Moçambique é um dospaises mais pobres domundo e o Relatório deDesenvolvimento Humanodo PNUD (2009) colocaMoçambique na posição172 dos 182 pa i sesclassificados, o que mostraque o país tem aindadesafios de desenvolvimento por superar. Ainda deacordo com o relatório, a esperança de vida ànascença em Moçambique é de 47.8 anos. O índicede analfabetismo em pessoas com mais de 15 anosé de 55.6%.

A pobreza absoluta é o principal desafio que ogoverno elegeu como prioritário, numa situação emque a maioria dos moçambicanos vivem com menosde um dólar americano por dia, e 40.6% delespoderão morrer antes de completar 40 anos de idade.

22 • Género e Governo Local em Moçambique

experiências e valores sejam centradas nos cidadãose e estes assumirem responsabilidades e mudaremas suas próprias vidas. Uma vez os cidadãos queantes estavam reduzidos a um estatuto de “não-cidadãos” começam a trazer “outros” pontos devista, o paradigma começa a mudar. Aqueles quesempre falavam em nome dos outros, assumindoque sabem o que os outros sentem, são desafiados.Vários mitos são destruídos e novos entendimentossurgem.

Assim, quando as mulheres entram na tomada dedecisão, o conceito, o conteúdo e a forma da políticae governação, e a maneira como eles são praticados,começa a mudar. As relações de poder mudam. Osresultados começam a ser informados pelo novoparadigma. Mas há uma luta constante porque asferramentas para a transformação são muitas vezesas mesmas instituições que precisam de sertransformadas.

A transformação das relações de género é entendidaneste estudo como consistindo em duas componentesprincipais:

• O empoderamento das mulheres para assumiro seu papel igual e de direito em todas as àreassocial, económica e política, e

• Mudanças nas attitudes dos homens parapermitir as mulheres assumirem o seu lugar dedireito bem como libertar os homens dessas cargasde masculinidade que os impedem de trabalharcomo parceiros iguais com as mulheres; umprocesso que ilustra a teoria de transformação doconflicto no trabalho.

Perfil do país

Page 25: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

O HIV/SIDA, com maiores índices de prevalênciaentre as mulheres jovens, é considerada a principalameaça a todas as iniciativas de desenvolvimento dopaís.

Desde o fim da guerra civil em 1992, que opunhaa guerrilha da Renamo e as forças governamentais,a economia de Moçambique tem mostrado sinaisde crescimento. De uma tradição de economiacentralizada, Marxista-Leninista, o Governo deMoçambique embarcou, a partir dos finais da décadade 80, numa série de reformas macro-económicasdesenhadas para estabilizar a economia já fragilizadapela má gestão do governo da primeira Repúblicae pela guerra civil. Essas reformas, combinadas coma massiva assistência dos doadores e estabilidadepolítica que se verificou desde a realização dasprimeira eleições multipartidárias, tem levado o paísa conhecer melhorias extraordinárias nos índices decrescimento económico.

A assistência aos programas sociais aumentou, asescolas têm conhecido um dramático aumento deadmissões, e os índices de permanência nas escolastambém tem subido exponencialmente, porém aqualidade do ensino continua a ser um problemareal, com a maioria das salas de aulas superlotadas,em alguns casos com mais de 70 alunos numa turmapara um único professor, e muitos deles sem asqualificações necessárias. A proporção das raparigascontinua baixa em relação aos rapazes, o que elevaas diferenças entre as percentagens dos homens emulheres alfabetizados. A pesar de todos os esforçosque tem sido lançados para eliminar as disparidadesde género no acesso à educação, as raparigascontinuam em número inferior em relação aosrapazes, principalmente ao nível secundário e superior.

A pesar desses ganhos, Moçambique continuadependente da ajuda externa para grande parte doseu orçamento anual, e a maioria da população

Género e Governo Local em Moçambique • 23

continua a viver abaixo da linha da pobreza. Aagricultura de subsistência continua a ser a principalárea de emprego da maioria da mão de obra do país.

A República de Moçambique é uma democraciarepresentativa, liderada por um Presidente que é aomesmo tempo o Chefe de Estado e Chefe de umGoverno composto por 29 Ministros indicados peloPresidente da República. A Assembléia da República,o órgão máximo legislativo é composto por 250deputados eleitos, dos quais nesta legislatura saídadas eleições de 2009, 39.2% dos assentos sãoocupados por mulheres. A Assembléia da Repúblicade Moçambique é composta por três bancadas,nomeadamente, a Frelimo, que tem a maioria dosassentos (191), a Renamo (51) e o MovimentoDemocrático de Moçambique (8).

Moçambique tornou-se independente de Portugalem 25 de Junho de 1975, depois de uma longa lutaarmada que durou dez anos, e o golpe militar de 25de Abril de 1974 em Portugal terá acelerado processoda independência de Moçambique. A FRELIMOassumiu então o controlo total do território, depoisdo período de transição, conforme o entendimentonos Acordos de Lusaka, em que se reconhecia odireito de Moçambique a independênciae os termos de transferência do poder.

Durante o período do golpe de Abril em Portugal,muitos portugueses abandonaram Moçambique, eoutros foram forçados a abandonar o país pelo novogoverno depois da independência em 1975, o queprovocou uma série de sabotagens das infra-estruturaseconómicas deixando a economia nacionalenfraquecida. Com a massiva saida dos portugueses,o novo governo procurou a ajuda na antiga UniãoSoviética e seus aliados e estabeleceu no país umregime de partido único. Este alinhamento garantiu

Governo

Page 26: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

24 • Género e Governo Local em Moçambique

a lei. Em 2006 o governo aprovou a Política Nacionaldo Género e Estratégia da sua Implementação, e emDezembro de 2007 aprovou o Plano Nacional parao Avanço da Mulher. As atenções do governo e dosdoadores na área dos direitos da mulher e igualdadedo género estão mais concentradas na saúde eeducação.

Moçambique é signatário de vários instrumentoslegais internacionais relativos ao género, que advogamo aumento ou igual representação de mulheres nasposições de tomada de decisão, tais como a CartaAfricana sobre os Direitos Humanos e dos Povos(Protocolo Africano), a Convenção sobre aEliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoContra as Mulheres (CEDAW), a Plataforma deBeijing para a Acção (BPFA). Dos mais relevantespara Moçambique é o Protocolo da SADC sobreGénero e Desenvolvimento que foi assinado pelosChefes de Estado da SADC em Agosto de 2008, noqual os signatários se comprometem a trabalhar nosentido de assegurar que até 2015 se atinja a metade 50 porcento de mulheres nas posições de tomadade decisão, no sector público e privado.

O governo tem feito esforços visíveis no sentido deresponder a estes compromissos atravéz da ratificaçãoe domesticação de todos esses instrumentos legais.A ratificação do Protocolo Africano em 2005, aaprovação pela Assembléia da República da LeiContra a Violência Doméstica Contra a Mulher em2009 entre outras iniciativas, são sinais positivos queo governo dá como seu empenho no alcance dasvárias metas estabelecidas nos vários instrumentoslegais internacionais. O quadro abaixo mostra opercurso que Moçambique tem trilhado em direcçãoao cumprimento dos entendimentos ao nívelinternacional, no concerto das nações, e ao nívelregional.

a Moçambique um substancial apoio internacionalvindo de Cuba e os paises que compunham o blocosoviético.

Dois anos após a independência, Moçambiqueconheceu uma guerra civil que opôs as forçasgovernamentais e a guerrilha da RENAMO, queviria a conhecer o seu fim com a assinatura doAcordo Geral de Paz em 1992, processo esse queabriu o caminho para a realização das primeiraseleições multipartidárias de Moçambique em 1994.

O sistema legal moçambicano é baseado na lei civilportuguesa e na lei costumeira. O sistema formalde justiça é bifurcado em civil e criminal sob osauspícios do Ministério da Justiça. No topo dapirâmide de justiça está o Tribunal Supremo quedelibera sobre os recursos.

A Constituição da República de 1990 estabeleceu aseparação e interdependência dos poderes, colocandodesta forma o judiciário como um poderindependente, embora os juizes do Tribunal Supremocontinuem a ser indicados pelo Presidente daRepública.

Em relação ao género, a Costituição da Repúblicatambém reza que todos os cidadão são iguais perante

Representação de mulheres

Vista da cidade de Maputo. Photo: Eduardo Namburete

Page 27: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 25

250

TotalDifferença entre

2001 e 2010

Antes de 2001

Mulheres%

Mulheres Total Mulheres%

Mulheres Total Mulheres%

Mulheres69 27.6%

29%

250 79

238

31.6%

2001 2010

250

29

1030

98

9

369

39.2%

32.1%

35.8%

7.6%Assembleia da República

Ministros

Autoridade Local

Tabela 3: Mulheres na Política em Moçambique

Fonte: portal do governo - http://www.portaldogoverno.gov.mz/ogover/compos_conselhos_ministros/membros_cm/

O Governo aprovou em Março de 2006 a Políticade Género e Estratégia da sua Implementação quevisa contribuir para a redução das desigualdades degénero e, promover a mudança gradual dementalidade tanto do homem como da mulher,despertando e criando sensibilidades necessárias emambos, relativamente à situação de discriminaçãoexistente no tratamento de questões sociais,económicas, políticas e culturais.

O objectivo principal desta Política, conformeestabelecido no documento, é desenvolver de formaintegrada as principais linhas de actuação, visandoa promoção da igualdade de género, o respeitopelos direitos humanos e o fortalecimento daparticipação da mulher no desenvolvimento dopaís.

O Governo promove a igualdade das relações degénero incluíndo a remoção das dificuldades queafectam os cidadãos, em particular as mulheres,como condição essencial para um desenvolvimentosustentável centrado na pessoa humana. Nessaperspectiva, o governo promove o desenvolvimentode grupos e associações de mulheres para a promoçãodo desenvolvimento da mulher.

Em 2008 o Governo aprovou o Plano Nacional deAcção para a Prevenção e Combate à ViolênciaContra a Mulher (2008 - 2012), que é a materializaçãoda Política de Género e Estratégia de suaImplementação aprovado em 2006, e do Plano

Nacional para o Avanço da Mulher (PNAM), e temcomo principal objectivo a redução da violênciacontra a mulher em Moçambique.

Os instrumentos que abordam as questões degénero são aplicados indistintivamente em todo opaís, não havendo, portanto, legislação específicasobre o género ao nível local. Entretanto, algunsmunicípios desenvolvem esforços locais paraabordar as questões de género na perspectiva local.

A Constituição da República estabelece os parâmetrospara a realização das eleições no país, e define queo sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoale períodico constitui a regra geral de designação dostitulares dos órgãos electivos de soberania, dasprovíncias e do poder local. Estabelece também queo apuramento dos resultados obedece ao sistema derepresentação proporcional.

A primeira lei eleitoral, que viria a ser aplicada nasprimeiras eleições gerais e multipartidárias de 1994,foi aprovada em Dezembro de 1993, e desde então,uma vez em cada cinco anos realizaram-sesimultaneamente eleições presidenciais elegislativas, e com a revisão pontual da Constituiçãoda República foram realizadas as eleições para asAssembléia Provinciais em 2009, que passam a serrealizadas regularmente juntamente com aseleições presidenciais e legislativas.

O Sistema Eleitoral

Page 28: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

26 • Género e Governo Local em Moçambique

A CNE supervisiona todas as eleições, presidenciais,legislativas, provinciais e municipais e tem o apoiotécnico do Secretariado Técnico de AdministraçãoEleitoral (STAE), que é o órgão responsável pelaexecução de todas as actividades técnicoadministrativas dos recenseamentos e processoseleitorais

As últimas eleições realizadas em Moçambiquetiveram lugar em 2008 e 2009. Em 2008 tiveramlugar as eleições autárquicas, onde o partido Frelimovenceu em 42 dos 43 Municípios; e em 2009 tiveramlugar as eleições presidenciais e legislativas eprovinciais. Armando Guebuza, candidato do partidoFrelimo, foi re-eleito Presidente da República,concorrendo para este cargo com o candidato daRenamo, Afonso Dhlakama, e o do MDM, DavizSimango. Na corrida à Assembléia da República opartido Frelimo elegeu 191 deputados, a Renamo,a principal força da oposição elegeu 51, e o partidoMDM elegeu 8.

As eleições municipais realizam-se uma vez a cadacinco anos, e este processo iniciou em 1998, numcontexto de grande expectativa criada pela Lei n.º3/94, de 13 de Setembro, pela implementação dadescentralização e pela criação das autarquias (Lein.º 2/97). Mas a eleição dos representantes dosórgãos da autarquia carecia de uma lei que definisseas condições em que os mesmos podiam concorrer.A regulação do processo eleitoral foi feita atravésda Lei n.º 6/97, de 28 de Maio, [Lei Eleitoral dosÓrgãos Autárquicos], que concedeu a grupos decidadãos eleitores, residentes nas áreas da respectivaautarquia local, a possibilidade de concorrer àseleições, desde que, para esse efeito, reunissem 1%de assinaturas relativas ao universo de cidadãosrecenseados.

Dos 250 deputados directamente eleitos, 248 sãoeleitos através de listas multi-nominais representando11 círculos eleitorais, e 2 são eleitos em listasuninominais representando os círculos eleitorais deÁfrica e Europa e resto do mundo.

O sistema de votação seguido em todas as eleiçõesem Moçambique é o de representação proporcionalpor listas de partidos políticos ou coligações departidos políticos, e para o caso das eleiçõesautárquicas permite-se a participação de grupos decidadãos.

O processo eleitoral é supervisado por uma ComissãoNacional de Eleições (CNE) de 13 membros dosquais um presidente, e inclui membros indicadospelos partidos políticos com representação naAssembléia da República, representantes da sociedadecivil, representantes de associações profissionais emembros indicados pelo governo. Por supervisãoentende-se a função de orientar, dirigir, superintendere fiscalizar os actos do processo eleitoral. A actualcomposição da CNE é liderada por um académico.

O poder local em Moçambique está estabelecido noTítulo XIV da Cosnstituição da República, e temcomo objectivos organizar a participação doscidadaos na solução dos problemas próprios da suacomunidade e promover o desenvolvimento local,o aprofundamento e a consolidação da democracia,no quadro da unidade do Estado moçambicano.

O poder local compreende a existência de autarquiaslocais, que são pessoas colectivas públicas, dotadasde órgãos representativos próprios, que visam aprossecução dos interesses das populaçõesrespectivas, sem prejuízo dos interesses nacionais eda participação do Estado.

Governo Local em Moçambique

Page 29: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

que acontece com a autonomia das autarquias, quejá foi referida. O Ministério da Administração Estatal(MAE) assume a tutela das autarquias garantindo-lhes maior autonomia à medida que o processo forganhando consistência. Contudo, essa autonomianão aconteceu e é pouco provável que venha aacontecer uma vez que as autarquias sofrem deenormes carências nomeadamente no domínio dosrecursos humanos qualificados e financeiros, quetornam impraticável a manutenção de algumas infra-estruturas, em avançado estado de degradação parasuportar uma população acima da sua real capacidade.

Na área financeira, o Ministério de Finanças (MF),tem a responsabilidade da reforma orçamental, tantoao nível provincial como local. Os planos eorçamentos das autarquias estão assim sujeitos àvigilância e acompanhamento por parte de um órgãoestatal externo à sua estrutura.

A estrutura organizacional dos governos local emMoçambique é semelhante, variando no seu tamanhoem função da sua classificação. Muitos municípioscontinuam organizados do mesmo modo que o eramantes ou imediatamente a seguir à criação do poderlocal. A sua estrutura e quadro de pessoal são muitasvezes inadequados à actual governação, gestão eresponsabilidades de prestação de serviços.

Na altura da aprovação das leis autárquicas, existiamno país 23 cidades classificadas, incluindo a Cidadede Maputo, as 10 capitais de província e outras doze.Todas estas cidades se tornaram municipalidadesem 1997. Além disso, o Governo propôs que umavila (i.e. uma sede de distrito) em cada província, setornasse “vila municipal”. Estas dez completaramo primeiro grupo de 33 municipalidades. Em 2008o Governo aprovou outras 10 vilas que se tornaram

Género e Governo Local em Moçambique • 27

A implantação do poder local e o processo dedescentralização foi feito através da Lei n.º 2/97, de18 de Fevereiro [Quadro Jurídico Legal para Implantaçãodas Autarquias Locais], e legislação complementar,aprovadas no Parlamento por maioria de votos daFrelimo e da União Democrática, e criou as autarquiaslocais, as quais reproduzem na localidade a estruturado Governo central. Esta lei revogou expressamentea Lei n.º 3/94, de 13 de Setembro.

O poder local em Moçambique é tutelado peloEstado, e neste caso pelo Ministério daAdministração Estatal. A tutela admninistrativa sobreas autarquias locais consiste na verificação dalegalidade dos actos administrativos dos órgãosautárquicos. De acordo com o estipulado naConstituição, o exercício do poder tutelar pode serainda aplicado sobre o mérito dos actosadmnistrativos, apenas nos casos e nostermos expressamente previstos na lei.

A implementação da descentralização e a criaçãodas autarquias locais surge em Moçambique numcontexto específico, e em harmonia com as divisõesadministrativas e territoriais existentes no aparelhoadministrativo. Este processo de reformaadministrativa dos órgãos locais do Estadocaracterizou-se, primeiro pelo processo dedescentralização e depois por aqueles que seriam osseus beneficiários, os municípios a serem criadosnos distritos e nas cidades com estatuto de distrito.Por isso, a descentralização implicou uma mudançaprofunda no modo de actuação da administraçãopública e tornou-se um processo irreversível.

A acção das autarquias está sujeita a interferênciasexternas que podem alterar, ou até mesmo anular,as suas decisões políticas, de forma semelhante ao

Devolução de responsabilidade

Estrutura organizacional do governo local

Page 30: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

28 • Género e Governo Local em Moçambique

As funções das autarquias compreendem uma vastaárea e estão estabelecidas na legislação do governolocal que define as competências municipais nasdiversas áreas: estradas dentro dos limites geográficos

municipalidades, perfazendo o conjunto dos 43municípios que hoje existem. Embora a lei não sejaexp l í c i t a , todas as sedes de d i s t r i to,independentemente das suas características, sãoconsideradas como cidades.

Apesar de a legislação municipal conceder umarazoável autonomia às autarquias para definirem asua estrutura organizacional e quadros de pessoal,com base nos modelos definidos pelo MAE, estafacilidade não tem sido aproveitada pela maioria dosmunicípios. Muitos municípios ajustaram os seusquadros de pessoal em quantidade e não pela funçãoa desempenhar para a prestação de serviços que sãoa sua razão de ser.

A Constituição da República prevê dois tipos deautarquias, os municípios e as povoações, sendo osmunicípios as circunscrições territorias das cidadese vilas; e as povoações as circunscrições territoriaisdas sedes dos postos administrativos.

As autarquias locais têm como órgãos umaAssembléia, dotada de poderes deliberativos, e umexecutivo que responde a esta assembéia, nos termosestabelecidos na lei.

A Assembléia Municipal (AM), que é o órgãodeliberativo, é eleita por sufrágio universal, directo,igual, secreto, pessoal e períodico dos cidadãoseleitores residentes na circunscrição territorial daautarquia, segundo o sistema de representaçãoproporcional.

O órgão executivo da autarquia é dirigido por umpresidente que é eleito por sufrágio universal, directo,igual, secreto e periódico dos cidadãos eleitoresresidentes na respectiva circunscrição territorial.

Para a AM concorrem os partidos políticos,coligações de partidos políticos e grupos de cidadãoseleitores, que são eleitos através do sistema derepresentação proporcional. Para a presidência doórgão executivo concorrem cidadãos que não estejamabrangidos pelas incompatibilidades previstas na lei,indicados pelos partidos políticos, coligações departidos políticos, grupos de eleitores, ou ainda comoindependentes.

A AM é composta por bancadas, representando ospartidos políticos, coligações de partidos políticose grupos de cidadãos que forem eleitos. Na suaestrutura de funcionamento as AM se organizamem comissões de trabalho, variando o seu númerode autarquia para autarquia, em função do seutamanho e especificidades.

O executivo autárquico é nomeado pelo presidenteeleito e a sua estruturação também obedece asespecificidades de cada autarquia.

O modelo de indicação das estruturas autárquicasse assemelha ao modelo da estrura nacional(Assembléia da República e Governo) como umaligeira diferença no que toca à composição dascomissões - enquanto na Assembléia da Repúblicanem todos os deputados são membros das comissões,nas AM todos os membros das AM pertencem aalguma comissão de trabalho.

Para os dois órgãos as eleições se realizam emsimultâneo e o mandato para ambos é de cinco anos.

Estruturas políticas

Funções

Page 31: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 29

da autarquia; sistemas municipais de abastecimentode água; drenagem (esgotos sanitários e drenagemde águas de superfície); distribuição de energia eiluminação pública; instalação de mercados; parquese espaços verdes; cemitérios; fiscalização documprimento dos regulamentos municipais atravésda polícia municipal; recolha dos resíduos sólidos;serviços de saúde primários; educação primária einternatos; urbanização, construção e habitação;licenciamento e regulamentação de terras e uso deterras; licenciamento e regulamentação da construçãocivil; licenciamento e regulamentação da actividadecomercial; licenciamento e regulamentação desistemas e serviços de transportes, entre outrasfunções.

As comissões de trabalho no município são gruposde membros da AM especialistas ou interessadosnuma determinada matéria, que a tratam de formamais concentrada antes da deliberação pela AM.

As comissões da AM pode ser em igual número eáreas das existentes ao nível do executivo, ouconforme deliberado pela AM. O mais importanteé ter uma organização que possa permitir o melhordesempenho da AM, deliberando sobre os assuntosque a autarquia enfrenta. O senso comum é quedeve prevalecer na decisão sobre o tipo de comissões,número de integrantes e áreas a abarcar. E porquealgumas áreas são chave para a prossecução domandato das AM, todas as AM devem ter comissõesde Finanças, Mercados e Feiras, Salubridade, entreoutras. Os membros da AM também trabalham emestreita auscultação com as comunidades para fazero acompanhamento da implementação dosprogramas aprovados pela AM.

As primeiras ideias para a criação da AssociaçãoNacional dos Municípios de Moçambique datam de1998, quando foi rubricada a primeira “Declaraçãode Intenções” na Cidade da Matola, à margem daPrimeira Reunião Nacional dos Municípios deMoçambique, promovida pelo Ministério daAdministração Estatal. Nessa mesma ocasião foicriada a Comissão Instaladora que se encarregariade dar os passos subsequentes para a criação daassociação.

Em Maio de 1999, na Cidade da Beira, foi decididaa integração, na Comissão Instaladora, dosPresidentes das Assembleias Municipais, e atribuiu-se a tarefa de preparar o Projecto de Estatutos daAssociação e organizar o seu Congresso Constitutivo.E finalmente em Outubro de 2004 realizou-se, nacidade de Quelimane, o Congresso Constitutivo daAssociação Nacional dos Municípios de Moçambique(ANAMM), e a eleição dos Corpos Sociais da novaAssociação que viriam a tomar posse em Março de2005.

A Associação Nacional dos Municípios deMoçambique, de acordo com os seus Estatutos, temcomo fim a promoção da cooperação e solidariedadeentre as autarquias locais, defesa dos seus direitos,dignificação e representação do Poder Local.Especificamente ela se propõe a realização de estudose projectos sobre assuntos relevantes para o poderautárquico; criar e manter serviços de consultoria eassessoria técnico-jurídica destinada aos seusmembros; desenvolver acções de informação aosmunícipes e de aperfeiçoamento profissional dopessoal da Administração Local; trocar experiências

Comissões de trabalho das AM

Associação Nacional dos Municípios(ANAMM)

Page 32: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

30 • Género e Governo Local em Moçambique

e informações de natureza técnico-jurídica destinadaaos membros; e apresentação propostas de acçõesde parceria com órgãos de soberania com vista àprodução de legislação.

A Constituição da República reconhece a igualdadede todos os cidadãos perante a lei sem distinção decor, raça, sexo, ou outros factores característicos,reconhece a igualdade do homem e da mulher emtodos os domínios da vida política, económica, sociale cultural.

O Governo local, que se funda nos princípiosconstitucionais, reconhece e valoriza a participaçãoda mulher. Os partidos políticos deliberaramestabelecer quotas para a representação das mulheresao nível local, o que justifica a presença, em númerossignificativos, de mulheres no Governo local.

Nas últimas eleições autárquicas de 2008, forameleitas 3 mulheres para presidir as autarquias de Xai-Xai, Manjacaze e Marrupa, e 367 mulheres forameleitas membros das Assembléias Municipais.

A pesquisa bibliográfica envolveu a revisão de umagama de documentos para entender melhor ofuncionamento do governo local em Moçambique.Os documentos consultados incluem as leis relativasao governo local, políticas de género, estudosacadémicos, relatórios de ONGs e relatórios sobregénero e governo local.

A amostra estava de acordo com a primeira fase doestudo At the Coalface na qual os pesquisadorestentaram entrevistar dez porcento dos membros dasAM nos paises com menos número de municípios(Namíbia), seis porcento nos paises com um númeromédio (Maurícias e Lesotho), e três porcento nopaís com maior número de municípios (África doSul). Moçambique enquadra-se na categoria dospaises com número médio de municípios.

Moçambique tem 43 Municípios com um total de1030 membros da AM, e 303 vereadores. Para esteestudo foi tirada uma amostra de 6%, que resultouem 80 pessoas a serem entrevistadas, mas por causade circunstâncias inesperadas, apenas 76 pessoasparticiparam no estudo, dos quais 26 homens e 50mulheres, em todos os 9 munícipios seleccionados.

A tabela quatro ilustra a amostra dos governos locaiscobertos pelo estudo e o número de membros daAM entrevistados (76 membros das AM em 9municípios).

As Mulheres no Governo Local emMoçambique

Metodologia da Pesquisa

Pesquisa bibliográfica e revisão da literatura

Amostra

Membros da Assembleia Municipal de Maputo em sessão plenária.Photo: Eduardo Namburete

Page 33: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Tabela 5: Amostra dos municípios

Género e Governo Local em Moçambique • 31

A tabela cinco oferece uma distribuição detalhada das províncias e municípios visitados. A pesquisa cobriu umaampla área geográfica e um bom equilíbrio entre os muncípios rurais e urbanos.

Tabela 4: Amostra da pesquisa

Moçambique 43

Total degovernos

locais

Governos locaiscobertos

pelo estudo

% demunicípios

Total demembros

da AM

Total deembros da

AM entrevistados

% demembros

da AM

9 21% 1030 76 7,4%

Porque o estudo é sobre mulheres no governo local,os pesquisadores procuraram entrevistar pelo menosdois terços de mulheres e um terço de homens. Ainclusão de homens na amostra era importante paraentender o impacto que as mulheres têm nos homensnas estruturas do governo local e entender comoeles veem as mudanças, se é que há alguma, queestejam a ter lugar como resultado da inclusão demulheres nesta esfera do governo. A tabela seisresume a distribuição por género das entrevistasrealizadas nesta pesquisa: 50 mulheres (66%) e 26homens (34%).

Considerações de género

Tabela 6: Distribuição do género da amostra da pesquisa

Moçambique 76

Total de membrosda AM

entrevistados

Mulheresentrevistadas

% deMulheres

Homensentrevistados

% deHomens

50 66% 26 34%

Pais

Cidade de Maputo

Gaza

Sofala

Nampula

Niassa

TOTAL: 5

PROVÍNCIA Município

Maputo

Chibuto

Manjacaze

Xai-Xai

Beira

Nampula

Metangula

Cuamba

Murrupa

9

A pesquisa tinha também que incluir, o máximopossível, os principais partidos políticos, de acordocom a percentagem dos assentos que o partido nopoder e a oposição têm no governo local. A tabela

Partidos políticos

sete mostra que no geral os pesquisadoresentrevistaram 79% dos membros do partidomaioritário e 21% do partido da oposição e outrosgrupos.

Page 34: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

FrelimoRenamoGrupos de cidadãosTOTAL

78.16%19.71%2.14%

% da representaçãono governo local % dos entrevistados

79%18.4%2.6%

Partido

Tabela 7: Distribuição dos partidos políticos na amostra da pesquisa

32 • Género e Governo Local em Moçambique

A pesquisa fez uso das seguintes técnicas:

Os pesquisadores administraram o questionárioindividual, incluído como Anexo A, para os membrosdas AM em cada um dos municípios de acordo coma amostra. Esses questionários forneceram asconstatações quantitativas desta pesquisa, que sãomisturadas ao longo de todo o texto em caixassombreadas com gráficos e comentários intitulados“o que os membros da AM disseram”.

Para obter maior introspeção e profundidade, ospesquisadores identificaram os membros e executivosdas autarquias para desenvolver um perfil nasseguintes categorias:

• Membros da AM mulheres que servem paradestacar o impacto do sistema eleitoral para seremeleitas.

• Membros da AM mulheres que ilustram osobstáculos para uma efectiva participação ao nívellocal.

• Membros da AM mulheres que ilustram osdiferentes interesses e sensibilidades das mulheresao nível local e como elas fazem a diferença.

• Membros da AM homens que ilustram a resistênciaà participação das mulheres ao nível local.

• Membros da AM homens que servem para destacara mudança de atitudes em relação a igualdade dogénero ao nível local.

Os resultados dessas entrevistas estão incluidos norelatório em forma de citações, contos pessoais,caixas e estudos de casos que dão à pesquisa umacara humana.

Os pesquisadores procuraram realizar grupos focaisnos municípios pesquisados com um mínimo detrês pessoas nos seguintes grupos:• Grupo da sociedade civil• Grupo de Homens onde há membros da AM

mulheres,• Grupo de Mulheres onde há membros da AM

mulheres

Como é que a pesquisa foi realizada

Número deentrevistados

6014276

Mulheres participando numa discussão. Photo: Gender Links

Questionários individuais estruturados

Entrevistas semi-estruturadas

Grupos focais

Page 35: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Tabela 8: Resumo dos grupos focais

A tabela oito mostra que os pesquisadores realizaram26 discussões de grupos focais em 8 municípios.Um total de 103 pessoas tomaram parte dos gruposfocais, dos quais 46.6% mulheres e 53.3% homens.Os grupos focais reflectiram sobre as mesmasperguntas colocadas ao membros das AM, masincluiram discussões sobre desafios especifícosenfrentados no município e as percepções de comoos membros das AM homens e mulheres nas áreasespecíficas realizam o seu trabalho. Os grupos focaisserviram para amplificar e verificar as respostasdadas pelos membros das AM. Ao separar osparticipantes em três grupos diferentes, tambémserviu para garantir que todas as partes (eespecialmente as mulheres ao nível local) poderiamexpressar os seus pontos de vista livremente.

Para definir como é que as mulheres participam nogoverno local e se esta participação é efectiva ounão, os pesquisadores observaram quatro sessõesdas AM, nomeadamente nos municípios de Maputo,Xai-Xai, Beira e Nampula. Os pesquisadores tomaramnotas e fizeram observações em cada uma dessasreuniões em relação às dinâmicas do género por

detrás do tipo de assuntos levantados; quem oslevantou; como foram debatidos; como foramresolvidos e quais as conclusões a que se pode chegarem relação a participação das mulheres nessasestruturas.

Os pesquisadores guardaram os registos quantitativosdas intervenções feitas pelas mulheres e homens nasreuniões da AM com proporções diferentes demulheres e homens; para avaliar até que ponto asmulheres participam nos diferentes cenários.

Assumindo que as mulheres têm sido capazes deacessar a tomada de decisão em números significantes,e que as barreiras para a sua efectiva participaçãocomeçaram a desaparecer, a pergunta agora é quediferença isto faz e como é que esta diferença podeser medida. Este é o principal enfoque deste estudo,que desenvolveu um número de índices para medira mudança. Esses incluiam:

• Mudanças infra-estruturais, tais como provisão desanitários e instalações adequadas para o elevado

Medindo as mudanças

Observação das sessões das AM

Transformação institucional

Género e Governo Local em Moçambique • 33

MaputoManjacazeChibutoBeiraNampulaCuambaMarrupaMetangulaTOTAL

Sociedade civil Mulheres Homens Total departicipantesMunicípio

Mulheres Homens

926

4

21

669

64

31

687

7

634

7

10

17

12231813615106

103

Page 36: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

34 • Género e Governo Local em Moçambique

número de mulheres que poderão ter acedido aesses “clubes” anteriormente só para homens.

• Criação de um ambiente de trabalho mais familiar;dias de folgas, horário das sessões e instalaçõespara cuidar de crianças.

• Mudança de estilo dos debates e discursos.• Até que ponto as mulheres têm influência dentro

da instituição, verticallmente (papéis de gestão ede l idenrança dentro da instituição) ehorizontalmente (estão distribuídas em todas asdiferentes àreas de trabalho).

• Se existem ou não estruturas para apoiar asmulheres que toma decisões e promovem aigualdade do género.

• As atitudes e níveis de confiança das mulheres nasprincipais posições para que as mulheres se sintamsuficientemente empoderadas para desafiar ascausas do género, mesmo dentro dessas estruturasmuitas vezes hostís e patriarcais.

• Até que ponto as atitudes dos homens que tomamdecisões começam a mudar e eles começam aassumir as questões do género.

• Até que ponto os esteriótipos de género sobre ospapéis e responsabilidades dos homens e mulheresque tomam decisões começam a mudar e que essespapéis e responsabilidades são alternadasnaturalmente.

• A existência de leis e políticas para remover todasas formas de discriminação contra as mulheres, eter uma responsabilidade directa sobre a melhoriado estatuto das mulheres, tais como uma legislaçãosobre a violência doméstica.

• Até que ponto a perspectiva do género informatodas as leis e políticas.

• Até que ponto as considerações do género sãolevadas em conta para o fornecimento de todosos serviços.

Um dos desafios que os pesquisadores enfrentarampara desempenhar com sucesso esta tarefa foi ofacto de que as AM não tinham datas fixas para assuas reuniões. Por várias vezes, os pesquisadorestiveram que voltar várias vezes ao mesmo local paramarcar audiências, ou várias reuniões confirmadasforam canceladas, o que causou atrasos na preparaçãodeste relatório.

Alguns membros das AM ou do executivo municpalprecisavam de autorização superior para poderemresponder às perguntas dos pesquisadores. Estasituação contribuiu também para que este processotivesse alguns atrasos.

A pesquisa incluía observações das sessões das AM,mas isto não foi realizado em todos os municípiospor causa das constantes mudanças de datas ecancelamento de sessões. Somente foi possívelobservar as sessões de quatro municípios.

Uma limitação geral de qualquer tipo de pesquisaqualitativa é a falta de “medida científica”. Pela suaprópria natureza, as atitudes e os relacionamentosnão se prestam a medidas quantificáveis. Elesocorrem dentro de ambientes dinâmicos e complexos,e são influenciados por factores que não podem sercontrolados ou mantidos constantes enquanto asoutras medidas ocorrem. Entretanto, o ponto fortedesta pesquisa é que as experiências dos“pesquisados” são trazidas para a luz através dassuas vivências e estórias nas páginas que seseguem.

Transformação pessoal

Transformação dos principais instrumentos dogoverno

Limitações do estudo

Page 37: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

ACESSANDOO GOVERNO LOCAL

3

Clara Paula Antonio Ferrão, membro da Assembleia Municipal da Cidade de Maputo. Photo: Eduardo Namburete

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 35

s mulheres têm ainda um longo caminho a percorrer para fazer valeros seus direitos e poder abraçar as oportunidades na vida pública. Muitasmulheres capazes, vezes sem conta são impedidas de participar nos

processos de tomada de decisão ou outros fora públicos, simplesmente porqueos maridos assim decidem.

A

Page 38: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

36 • Género e Governo Local em Moçambique

Gráfico 3: Mulheres e homens membros das AM por província

Um caso exemplificativo é o do Município deManjacaze onde os nossos entrevistados nosrevelaram existirem maridos que impedem as suasesposas de participar na governação local ou emquaisquer actividades sem o seu consentimento.Argumentam, segundo os nossos entrevistados,que esses maridos não querem que as suas esposassejam empoderadas e tenham prestígio ou o seuestatuto elevado com o receio de que uma vezeconomicamente e políticamente empoderadas,as mulheres vão menosprezar os seus maridos.Revelam-nos que em algum momento o ConselhoMunicipal da Vila de Manjacaze fez circular umanota anunciando vagas a serem preenchidas portrabalhadores a tempo parcial, em determinadasáreas tais como construção de estradas e limpeza,mas muitas mulheres, que se sabe necessitaremde trabalho, não responderam a esse apelo porqueos seus marido disseram que elas não poderiamtrabalhar lado a lado com suas esposas, daípreferirem que elas ficassem em casa.

O governo local pode parecer um lugar óbvio paraas mulheres por causa da sua proximidade àcomunidade e os assuntos diários de preocupaçãodas mulheres. Porém, é também a este nível onde acultura e o patriarcado ainda são profundamenteenraizados e existe a crença de que as mulheres nãosão capazes e não deviam ocupar espaços públicos.

Embora não existam impedimentos legais para asmulheres acederem o governo local em Moçambique,as estruturas nas quais as mulheres têm que funcionarcontinuam a ser amplamente patriarcais e em algunscasos bloqueiam a entrada de mulheres na arenapolítica. Este capítulo explora as barreiras para asmulheres acederem o governo local e as estratégiaspara mudar.

O gráfico abaixo mostra que a representação dasmulheres no governo local varia de 29.3% naProvíncia de Sofala a 45.9% na Cidade de Maputo,a capital do país.

C. M

aput

o

Map

uto

Gaz

a

Sof

ala

Man

ica

Tet

e

Zam

bezi

a

Nam

pula

Nia

ssa

Inha

mba

ne

Provincia

Cab

oD

elga

do

ME

DIA

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

HomensMulheres

Membros das AM (H/M) por Provincia

Ausência de mulheres no governo local

Page 39: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 37

Todos os 43 municípios têm representação femininanas Assembléias Municipais. A Cidade de Maputo,que tem estatuto de província, é a que apresenta omaior número de mulheres na AM (45.9%), seguidadas províncias de Niassa e Maputo, com 44.8 e 41.3,respectivamente. A tabela nove mostra a distribuiçãodo género nas AM por província, onde destaca-seque a província de Sofala é a que menos mulheresnas AM tem, com uma representação de 29.3%.

factores são de natureza ideológica; social; políticae financeira.

A política é um ambiente hostil para as mulheresporque ainda existe uma crença de que as mullheresnão foram feitas para a política, e que elas deviamse dedicar a cuidar da casa, do marido e dos filhos.As sociedades patriarcais restringem as mulheres àesfera privada onde se espera que elas assumam astarefas de esposas e mães. Como refere, CarlosMavie, membro da AM de Xai-Xai “Normalmente,no seio de muitas famílias moçambicanas,principalmente, nas residentes nas zonas rurais, asraparigas são obrigadas a fazer muitas tarefasdomésticas e são ensinadas que elas são inferioresem relação aos rapazes. Aliás, os pais costumamdividir os trabalhos de casa, pelo género. As raparigasfazem a maioria das tarefas de casa - lavam a loiça,varrem o interior de casa, carregam água, vão àmachamba, confeccionam alimentos, etc., enquantoaos rapazes são reservadas poucas tarefas tal comocuidar do gado”.

Embora a Constituição da República e outrosinstrumentos legais desencorajam a discriminaçãocom base no sexo, o comportamento dascomunidades, principalmentente na região sul dopaís, continua a relegação da mulher para os papéisdomésticos, promovendo-se os homens para o espaçomais público como é a política. Mas mesmo assimeste compartamento tende a mudar. Muitasorganizações femininas têm se desdobrado em acçõesvisando o empoderamento das mulheres paraabraçarem tarefas outrora definidas como sendopara os homens.

Tabela 9: Mulheres e homens nas AM emMoçambique

C. Maputo

Maputo

Gaza

Inhambane

Sofala

Manica

Tete

Zambezia

Nampula

Niassa

Cabo Delgado

TOTAL

Homens MulheresProvincia

61

80

94

104

92

81

65

112

156

96

89

1030

33

47

57

67

65

51

45

75

108

53

60

661

28

33

37

37

27

30

20

37

48

43

29

369

Na generalidade todas as províncias do país têmuma representação feminina nas AM de pelo menos30%, sendo a média nacional de 35.9%

Vários factores conspiram para manter as mulheresfora do governo local em Moçambique. Esses

Barreiras para o acesso

Crenças patriarcais

Page 40: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

38 • Género e Governo Local em Moçambique

“À altura da independência as mulheres não tinham cultura de trabalhar fora de casa. Muito poucas mulherestrabalhavam e os maridos não apoiavam as esposas. Isto era, em parte, porque os homens eram educados aserem machos e as mulheres submissas aos homens. Mas isto mudou com a independência, quando começamosa ter as nossas reuniões das organizações femininas e os maridos recusavam que as suas esposas participassem”,lembra Clara Ferrão, membro da AM da Cidade de Maputo, acrescentando que “tive muitas mulheres queme diziam que todas as vezes que participavam das reuniões quando regressavam a casa eram espancadaspelos seus maridos, mas não desistiram de participar, mesmo sabendo que no fim do dia iriam sofrer maispunição. E isto encourajou-me muito a me manter firme, embora eu nunca tenha experimentado tal situação,porque o meu marido entendia desde o começo a necessidade do meu engaijamento nessas actividades, etambém porque tive uma educação mais liberal dos meus pais”, explica. “Hoje a situação mudou muito, osmaridos entendem a necessidade de as mulheres trabalharem, talvés por causa das dificuldades económicasque enfrentamos e eles sentem a necessidade da contribuição da mulher na economia doméstica. Esta é paramim a maior conquista das mulheres neste país”.

Tal como em muitos paises da SADC, o maiornúmero de eleitores em Moçambique são mulheres.Mas apesar de serem a maioria do eleitorado, isto

não se tem traduzido em mais mulheres a seremeleitas para as posições de tomada de decisão.

A tendência de qualquer grupo de oprimidosinteriorizar a sua própria opressão é um fenómeno

As mulheres são “suas próprias inimigas”

Caixa 1: Espera-se que as mulheres cuidem da casa, do marido e dos filhos

Uma das poucas Presidents de Município em Moçambique, Rita Muianga, contaque quando foi eleita não sonhava que um dia teria de dirigir um município, aindamais, grande como o de Xai-Xai, e ter que lidar com pessoas de várias origens.“Lembro-me que quando tomei posse só havia uma única mulher no município”.

“Era um desafio ter que dirigir homens, especialmente nesta província onde a tradiçãoé de que os homens devem estar no topo e as mulheres serem subordinadas”, refereMuianga acrescentando que foi um choque para mim particularmente porque era aprimeira vez a ser eleita para essa posição”.

Para ela aceitar a proposta da sua candidatura à presidência do município precisou de consultar e obter aaceitação do seu marido, que neste caso foi muito aberto e permitiu que ela se candidatasse. “Na nossatradição, como mulher, esposa, mãe, tenho que consultar o meu marido para tudo que queira fazer,especialmente coisas que tem a ver com trabalhar fora num serviço público”, disse “eu tive sorte porque omeu marido foi muito compreensivo e apoiou-me e continua a me apoiar”. Antes de ser presidente doMunicípio de Xai-Xai, Rita Muianga foi presidente da Assembléia Municipal de Xai-Xai.

Page 41: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

com as mesmas qualificações, competindo para amesma posição, as mulheres podem facilmente apoiarum homem”. “Ouvimos frequentemente de outrasmulheres a dizerem coisas como: “essa mulher nãoé casada como é que vai ser capaz de ser uma boachefe para a nossa comunidade? Mas as mulheresnão colocam a mesma questão a um homem quenão seja casado”, questiona Muianga, concluindoque “as mulheres precisam de se educar mais edefinir objectivos claros do que elas querem. Secontinuamos atrás, temos que nos culpar a nósmesmas”.

As evidências mundiais mostram que o tipo desistema eleitoral aplicável tem algo a ver se asmulheres são eleitas ou não. O sistema deRepresentação Proporcional (RP) tem mostrado serde longe muito mais conducivo para a eleição dasmulheres contrariamente ao sistema First Past the Post(FPTP).

O sistema de Representação Proporcional (RP) ousistema de listas onde o eleitorado vota nas listasdos partidos políticos a quem depois se alocamassentos no parlamento ou nas AM de acordo coma percentagem de votos conseguidos. Neste sistemaa colocação dos candidatos individuais na lista é oque determina se vão ou não serem eleitos. Quantomais acima estiver na lista, maior é a chance de sereleito. Num sistema de lista fechada, o partido políticodetermina onde é que os candidatos vão ser colocadosna lista, e isto normalmente é baseado num processode eleição democrática dentro dos próprios partidospolíticos, enquanto que no sistema de lista aberta,os eleitores é que determinam onde os candidatosficam na lista.

No sistema de constituência ou sistema First Past thePost (FPTP) os cidadãos votam nos candidatos que

Género e Governo Local em Moçambique • 39

Sistema eleitoral

comum. Como um estudo sobre as mulheres noZimbabwe indica, “ironicamente, a sociedade temtornado as mulheres guardiãs dos valores culturaisque as levaram a sua opressão. A esse respeitotendemos a concluir que politicamente, socialmentee culturalmente a sociedade tornou as mulheres suaspróprias opressoras, uma vez que elas tendem a veros homens como sendo melhores líderes que asmulheres”. (SARDC/WIDSAA, 1998:43).

Tem sido frequentemente observado que as mulheres,que são geralmente a maioria dos eleitores, tendema votar a favor dos homens. Isto, argumenta ThenjiweMtintso, membro do Conselho de Directores da GLe antiga Deputada do Parlamento da África do Sulpelo Congresso Nacional Africano (ANC) é“principalmente porque as suas próprias experiênciascondicionaram as mulheres a serem subordinadas”.(Gender Links, 2007:72)

Rita Muianga acredita que as mulheres são suaspróprias piores inimigas porque “quando vemos quehá uma mulher a concorrer para uma posição, oprimeiro pensamento que vem de outras mulheresé “o que ela tem de mais que as outras para assumiressa posição'”? E, segundo Muianga estequestinamento começa a se espalhar por toda acomunidade ao ponto de todo o apoio possível serdesviado para um outro candidato masculino, queaté pode não ser a melhor escolha. “Nós sempredizemos que queremos igualdade nos cargos públicos,mas quando temos a chance para fazer isso acontecer,recuamos e damos espaço para os homens”.

“Na nossa cerimónia de celebração do dia 8 deMarço, Dia Internacional das Mulheres, a minhamensagem foi que as mulheres deviam se unir,porque muitas vezes quando há uma chance parauma mulher ascender a uma posição, a oposiçãovem das próprias mulheres”, diz Muianga explicandoque “se existirem cinco pessoas, homens e mulheres

Page 42: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

do discurso eleitoral mas nada escrito constava nosseus manifestos.

O partido FRELIMO faz referência, nos seusEstatutos, a igualdade entre a mulher e o homem ea preocupação com o envolvimento da mulher noprocesso de desenvolvimento do país. Na alínea g)do artigo 5 dos seus Estados, sobre os objectivos,A FRELIMO afirma ser um dos seus objectivoassegurar um quadro institucional que satisfaça demodo crescente os interesses dos grandes grupossociais: da criança, do jovem, da mulher, dos idosos,dos veteranos de guerra e das vítimas da guerra. Eno seu artigo 8º sobre os deveres dos membros,estabelece que são deveres dos membros, de entreoutros, lutar pelo respeito e pela emancipação damulher.

O artigo 78 dos Estatutos da FRELIMO, sobre aseleção de candidatos a deputados, a Frelimoestabelece que “com vista a assegurar a participaçãosignificativa da mulher e dos jovens nos órgãos doEstado e nas autarquias locais, a Comissão Políticapode definir quotas mínimas a serem observadas naorganização das listas.

O manifesto da FRELIMO para as eleições de 2009refere que este partido promove o equilíbrio dogénero nos órgãos de decisão a todos os níveis, bemcomo em todas as esferas da vida social, política,económica e cultural, como um dos elementosimportantes para a unidade nacional. Diz tambémque assume os Objectivos do Milénio de “Promovera igualdade de género e e o exercício do poder pelamulher”.

O Partido FRELIMO estabeleceu a quota para asmulheres nos órgãos de tomada de decisão a todosos níveis em 40 porcento e, na legislatura que esteano foi inaugurada (2010 - 2014) elegeu 79 deputadas,

40 • Género e Governo Local em Moçambique

representam o partido numa constituência, em vezde votar no partido político. O candidato que ganhaé aquele que consegue mais votos que os outroscandidatos, mesmo que não seja uma maioriaabsoluta. O sistema é também conhecido como “ovencedor leva tudo” porque mesmo que um partidotenha conseguido uma percentagem significativa devotos, podem ficar com poucos ou sem nenhumrepresentante no parlamento.

Moçambique segue o sistema de RepresentaçãoProporcional (RP) em que o país está divido em 11círculos eleitorais nacionais, e dois estrangeiros. Osassentos são alocados em função da percentagemde votos que o partido consegue numa determinadaeleição. Este sistema tem sido aplaudido pelapossibilidade que ele abre para a participação erepresentação dos diferentes grupos representativosda sociedade moçambicana na tomada de decisão.

Os partidos políticos têm um papel muito importantena garantia da entrada das mulheres na política,através do encorajamento de candidaturas femininas,e assegurar que elas ocupem posições elegíveis naslistas. Porém, as estruturas de decisão ao nível dospartidos políticos continuam muito dominadas peloshomens, e em muitos casos continuam a obstruir oavanço das mulheres.

Um estudo sobre Género e Eleições 2009 revelaque os três partidos com representação parlamentartêm semelhanças e diferenças quanto a caracterizaçãoda democracia exercida por homens e mulheresdentro dos referidos partidos. Alguns partidosestabeleceram nos seus manifestos posições clarasem relação ao género e outros o fizeram no âmbito

Partidos políticos

Manifestos e Estatutos

Page 43: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

o correspondente a 41.4% do total de eleitos poreste partido.

O partido RENAMO faz referência, no artigo 25dos seus Estatutos, sobre a composição do ConselhoNacional, que é o órgão deliberativo do partido nointervalo entre dois congressos, de que no processoda selecção dos seus membros observa-se o princípiode representação das províncias e do género.

Embora não tenhamos podido acessar osdocumentos que estabelecem as quotas para asmulheres, de fontes autorizadas fomos informadosque o partido RENAMO estabelecera a quota de30 porcento para a participação da mulher nasestruturas decisórias do partido, e que no últimoCongresso, realizado em 2009, o partido decidiuaumentar a cota para 50 porcento. Dos 51 deputadosque o partido RENAMO elegeu nas eleições de2009, 16 são mulheres, o que corresponde a 31.37%dos seus deputados.

O Movimento Democrático de Moçambique(MDM), recentemente entrado no cenário políticonacional, elegeu nas últimas eleições legislativas 8deputados, dos quais apenas uma mulher,representando uma percentagem de 12.5% dos seusdeputados. Os Estatutos do MDM fazem mençãoa participação da mulher na sua estrutura, e destacaa Liga da Mulher como a organização do partidovirada para a promoção e mobilização da mulher.

No seu manifesto eleitoral de 2009, o MDM propõe-se a, de entre outras coisas, desenvolver acçõesafirmativas que permitam incluir as mulheres noprocesso de desenvolvimento do país, por meio dapromoção da sua autonomia económica e deiniciativas produtivas que eliminem as diferençassalariais entre homens e mulheres; Abrir um lequede oportunidades de emprego para as mulheres, querna agricultura comercial, quer em actividades não-

Género e Governo Local em Moçambique • 41

agrícolas, de modo a aumentar a mobilidade femininapara fora da agricultura.

Especificamente sobre a participação da mulher noprocesso de tomada de decisão, o MDM propõe-se,no seu manifesto eleitoral, a incentivar a participaçãodas mulheres nos espaços de poder na sociedade enas decisões das políticas públicas;

Embora poucos partidos políticos explicitam nosseus Estatutos ou manifestos eleitorais a sua posiçãoem relação ao género, é clara a preocupação com asmulheres, que é manifesta nos discursos e na criaçãode estruturas próprias dentro dos partidos paracoordenar as suas actividades. Porém, a participaçãodas mulheres nos processos de decião ao nível dospartidos políticos ainda está refém do patriarcadoque caracteriza a nossa sociedade.

Um estudo realizado em 2005 revela que apesar deas mulheres participarem em maior número nascampanhas eleitorais, e os partidos políticosdemonstrarem alguma consideração pelas mulheres,elas são muitas vezes usadas apenas para amobilização do eleitorado, aproveitando-se da suapre-disposição de realizar “tarefas menos visíveis”.“...o papel das mulheres limita-se a cantar e a apelaràs pessoas para votarem no seu líder e no seupartido”1.

1 Osorio, C. et al The case of the 2004 legislative elections in Mozambique: agender analysis (WLSA Maputo, 2005).

Tabela 10: Eleições anteriores – Governo localurbano

Frelimo

Renamo

Outros

No. de mulheresPartido politico

319

44

5

% de mulheres

87.9%

11.9%

1.3%

Page 44: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

42 • Género e Governo Local em Moçambique

é suportada pelos partidos políticos, os candidatostêm que dedicar tempo para mobilizar o eleitorado,e para as mulheres sem condições sociais eeconómicas favoráveis para a sua participação, estapode ser a razão da sua auto-exclusão destesprocessos”.

Nunca houve falta de razões para explicar o porquêas mulheres não podem ser eleitas para os cargosde tomada de decisão. Mas também existem muitosexemplos, no sistema de RP e no sistema FPTP, deaumentos significativos da participação de mulheresna tomada de decisão como resultado de medidasdeliberadas a serem tomadas. O factor chave aqui éa vontade política. Se ela existe, outras medidas seseguirão.

As quotas têm sido implementadas na região daSADC. Todos os cinco paises da SADC quealcançaram ou ultrapassaram os 30% derepresentação de mulheres no governo local -Lesotho (58%), Moçambique (35.6%), África do Sul(40%), Tanzania (34%) e Namibia (42%) têm algumtipo de quotas.

As quotas voluntárias são medidas tomadas pelospartidos políticos para garantir a inclusão de mulheresnas suas listas ou nas suas estruturas. A desvantagemdeste tipo de quotas é que muitas vezes não existemsanções pelo seu não cumprimento, e como resultadoelas são muitas vezes promessas que ficam no papele não são implementadas. O Congresso NacionalAfricano (ANC) da África do Sul, a FRELIMO e aRENAMO, ambos de Moçambique, estabeleceramquotas voluntárias de 50% para o primeiro partido,e 40% e 30% para os dois últimos, respectivamente.

Estratégias para a mudança

A forma como os partidos políticos confirmam osseus candidatos pode favorecer ou prejudicar aparticipação das mulheres nas eleições. No caso deMoçambique, os principais partidos políticosestabeleceram, de forma clara, o espaço a ser ocupadopelas mulheres, através da definição de quotas, masporque esta decisão é tomada por uma estruturafortemente dominada pelos homens, a participaçãoda mulher continua condicionada.

Dos 111 candidatos que concorriam ao cargo dePresidente de Município nas 43 autarquias nas eleiçõesde 2008, apenas 7 (6%) eram mulheres, e dessasapenas 3 conseguiram se eleger Presidente deMunicípio, esses são os casos de Rita Muianga, emXai-Xai, Maria Helena Langa, em Manjacaze, ambasna província de Gaza, e Marta Romeu, o Municípiode Marrupa, província do Niassa. Todas estasmulheres pertencem ao partido FRELIMO.

As eleições autárquicas, contrariamente ao queacontece com as eleições legislativas e presidenciais,não são financiadas com fundos do Estado, o significaque cada partido organiza as suas finanças da melhormaneira que conseguir. Esta responsabilidade muitasvezes é depois transferida aos candidatos aos cargosde presidente dos municípios e a membros das AM.

Algumas mulheres entrevistadas para este estudoindicaram que os constrangimentos financeiros têmdificultado a entrada de mulheres na corrida por umassento nas AM. “Imagina o tempo que uma mãeque é vendedeira no mercado, e tem que abandonara sua actividade para ir fazer campanha e no finaldo dia regressar a casa sem nada para dar aos filhos.É uma situação difícil, principalmente quando essamulher é mãe solteira”. Mesmo quando a campanha

Finanças

O processo dos partidos políticos

Quotas - lições da região

Page 45: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

As entrevistas com os membros das AM e asdiscussões nos grupos focais revelaram um elevadoíndice de apoio ao estabelecimento das quotas comoforma de garantir a participação da mulher nogoverno local. Este apoio vem inclusive de partidosque não têm quotas estabelecidas nas suas própriasestruturas, mas que equacionam a adopção de quotas.Outra revelação interessante é que os homenstambém apoiam a aplicação de quotas para apromoção da mulher no governo local.

Género e Governo Local em Moçambique • 43

As quotas Constitucionais e legisladas são medidasobrigatórias que determinam, através da Constituiçãoou Leis eleitorais relevantes que uma certapercentagem dos assentos ou posições devem serreservadas para mulheres. A vantagem deste tipo dequota é que elas se aplicam a todos os partidospolíticos e há sancões ou penas para os partidos que

não cumprirem, tais como a rejeição das listas pelasComissões Eleitorais ou desqualificação naseleições. A Namíbia tem um sistema de RPassim como quotas legisladas de 30% ao nívellocal. Esta experiência é muito relevante para o casode Moçambique que também adoptou o sistema deRP.

Quotas - A visão da base

Caixa 2: As mulheres do Lesotho lideram o caminho no governo local

O Lesotho é o exemplo brilhante quando se trata de representação de mulheres no governo local na região(e ao nível mundial), com 58% de mulheres nesta esfera. A razão para isto é que para as primeiras eleiçõeslocais em 2006 instituiu uma quota de 30% para as mulheres através da Lei do Governo Local de 2004. Umaem cada três constituências era reservada para mulheres. Essas constituências vão ser rotativas ao longo detrês eleições consecutivas, depois das quais as quotas vão ser revistas. Este processo teve os seus desafios,com um membro da AM que, insatisfeito, abriu um processo contra a Comissão Eleitoral Independente nasvésperas das eleições de 2005 na base de que o seu direito constitucional de concorrer na constituência dasua escolha havia sido violado pela reserva de constituência apenas para mulheres.

O Tribunal de recurso do Lesotho recusou o pedido de declaração da inconstitucionalidade da reserva de30% das constituências para as mulheres, mantendo a decisão do Tribunal Supremo de que a acção afirmativapode ser aplicada para responder aos desequilíbrios estruturais. Este julgamento é bastante significante paraa região da SADC uma vez que ele sustenta o princípio da acção afirmativa no aumento da representaçãode mulheres na tomada de decisão e no alcance das metas estabelecidas pelos Chefes de Estado.

Na Tanzania os artigos 66 (1) (b) e 78 (1) daConstituição da União estabelece 30% dos assentosna Assembléia Nacional a serem alocados asmulheres apenas baseado na pe rcentagem dosvotos que cada partido conseguir. Ao mesmo tempoque as mulheres têm a liberdade de concorrerneste sistema de FPTP, a Constituição garante àsmulheres 30% dos assentos no Parlamento atravésdo mecanismo de distribuição dos assentosde RP.

Page 46: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

44 • Género e Governo Local em Moçambique

aceitarem estabelecer quotas é sinal de crescimentoda consciência. (Homem da Beira)

• Esta é a única maneira de se ter mais mulheresnos círculos de decisão e desta forma fortalecera democracia. (Homem de Xai-Xai)

• A instituição das quotas é uma medida muitoacertada para o aumento da participação dasmulheres na tomada de decisão. Mas esta não deveser a única decisão a ser tomada, é preciso de secriem condições para que as mulheres adquiramconhecimentos que lhes capacitem a participaremactivamente nos locais onde estiverem. (Mulherde Manjacaze)

• As quotas são muito boas, mas precisamos de daràs mulheres oportunidades para conseguirem asua independência financeira. (Mulher de Maputo)

• O aumento do número de mulheres é desejável,uma vez que as mulheres e os homens têm diferençasem termos de pontos de vista, o que é importante

As discussões dos grupos focais com mulheres ehomens eleitores bem como representantes dasociedade civil forneceram opiniões interessantes.Embora não surpreendente, vale notar que osentrevistados do sexo masc ulino apresentaram-semuito favoráveis ao estabelecimento de quotas comoforma de imprimir maior celeridade ao equilíbriodo género nos círculos de tomada de decisão. Algunsdos comentários são:

• Não achamos que porque em todo o ciclo da vidaas mulheres são as que mais responsabilidades têm- no seio das famílias, além de que são a maioriada população em Moçambique, seria importanteque a sua participação nos círculos de tomada dedecisão fosse maior. (Homem de Chibuto)

• Ainda persiste um certo grau de machismo ediscriminação contra a mulher, mas as evidênciasindicam uma evolução. O facto de os partidos

O que os membros das AM disseram sobre as quotas

No geral 91% dos membros das AM entrevistados(92% mulheres e 88.5% homens) disse acreditar nouso das quotas para o aumento da representação dasmulheres na tomada de decisão ao nível local. Estenível de apoio é muito superior aos resultados obtidosno primeiro estudo At the Coalface realizado no Lesotho,Maurícias, Namíbia onde 81% dos entrevistadosconcordavam com a utilização das quotas.

Este resultado é muito superior ao identificado na pesquisa levada a cabo em Ringing up the Changes em 2004(78 porcento de mulheres, 66 porcento de homens e 76 porcento no geral apoiavam as quotas). Este estudocobriu políticos em todas as áreas de tomada de decisão (parlamento, governo central e governo local).

As constatações deste estudo, que apenas cobriu os membros das AM, reflecte o alto grau de conscientizaçãoao nível local. É uma clara mensagem para aqueles que dizem que as quotas não vão funcionar ao nível local;eles não estão a escutar as vozes que vem da base.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%0%

Não sabeSim Não

MulheresHomens

Page 47: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

• Não se pode colocar mulheres no municípiosomente para dar a entender que à mulher é dadoespaço, para depois ser usada para finspropagandísticos, o que de facto é o que temacontecido em alguns casos. (Homem de Xai-Xai)

• As mulheres devem lutar para conseguir o seupróprio espaço porque elas têm capacidades e nãosão deficientes. Elas são a maioria da populaçãoe se quizerem podem alcançar a maiorrepresentatividade de que tanto se fala sem aadopção de medidas proteccionistas. (Homem deChibuto)

A legislação eleitoral moçambicana tem sempre sidoalvo de revisões em todos os processos eleitorais, efundamentalmente as questões em debate são osaspectos considerados não consensuais e que, naopinião de uns, favorece a ocorrência de fraudes eoutras irregularidades. A questão da participação dasmulheres ainda não foi assunto de debate nosprocessos de reforma eleitoral. Esta questão temsido levantada nos debates académicos e emseminários, onde se busca a melhor fórmula de fazercom que a lealdade dos representantes do povo sejaprimeiro para com o eleitorado/povo e não paracom as lideranças dos seus partidos como aconteceactualmente.

Género e Governo Local em Moçambique • 45

para a consolidação da democracia e promoção dedesenvolvimento. (Mulher de Chibuto)

• Para além de implementar quotas, os partidosdeveriam promover uma educação sobre anecessidade e importância da igualdade de género,de modo a que a igualdade de género sejainteriorizado por todos e não apenas um exercíciomecânico. (Mulher de Manjacaze)

A opinião de muitos participantes é de que as quotassão uma medida acertada para resolver os problemasde desequilíbrio de género que têm ao longo degerações colocado as mulheres em posição dedesvantagem. Porém, o aumento do número demulheres nos cargos de decisão deve seracompanhado por outras medidas para transformaros números em acções concretas. Para que a presençadas mulheres nos cargos de decisão seja mais efectivaé necessário que elas sejam capacitadas.

• É importante que se estabeleçam as quotas paraas mulheres, mas mais do que isso elas precisamde ser apoiadas financeiramente para que sejamefectivamente livres para fazerem as suas escolhas.(Sociedade Civil de Chibuto)

• As mulheres tem capacidades, elas só precisam deserem apoiadas para poderem demonstrar aquiloque elas podem fazer para o bem das comunidades.(Sociedade Civil de Manjacaze)

Apesar de serem poucos os que se apresentamcontrários à ideia das quotas para as mulheres, érelevante apresentar os seus pontos de vista:

• Não deve existir igualdade absoluta, entre homense mulheres. O homem tem que ser superior emrelação à mulher para ser bom chefe; mesmo emcasa, a mulher é a secretária e o homem é o chefe,e para o homem ser bom chefe no serviço, temprimeiro que ser chefe de uma família. (Mulherda Beira)

Reforma eleitoral

Mulheres vendendo mariscos na ponte-cais da Catembe. Photo: Eduardo Namburete

Page 48: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

46 • Género e Governo Local em Moçambique

A evidências da região mostram que as quotas, sejamelas voluntárias ou legisladas ou estabelecidasconstitucionalmente, podem ser implementadas deforma efectiva e produzir resultados para as mulheresno governo local. Moçambique tem dado sinaismuito positivos com o estabelecimento de quotasvoluntárias ao nível dos partidos políticos. A presençasignificante de mulheres no Parlamento, no Governocentral e ao nível dos governos locais, é em parteresultado da deliberação dos principais partidospolíticos de estabelecer quotas para as mulheres.

O compromisso dos partidos políticos com a causado género é crucial e deve ser mais do que um meroencorajamento das mulheres a participar, devem

todos avançar para a inclusão desses compromissosnos seus Estatutos e manifestos e outros documentosde políticas.

O momento actual em que o Governo tem sidoreconhecido internacionalmente pelas suas conquistasna promoção do género, e a vantagem de obter umamaioria qualificada no órgão legislativo, apresenta-se favorável para que a questão das quotas sejalegislado e seja aplicado por todos os partidospolíticos que almejam assumir a direcção do país oudos governos locais. Para isso, é importante que ogoverno e as organizações empenhadas na promoçãodo género envolvam cada vez mais os parlamentaresnas discussões sobre igualdade do género.

Conclusões

Page 49: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

PARTICIPAÇÃO4

Mulheres participando numa reunião em Chimoio. Photo: Eduardo Namburete

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 47

uitos estudos têm revelado que é possível as mulheres estarem na tomada dedecisão mas para serem efectivamente excluídas por causa das barreirasinstitucionais. Este capítulo tenta medir o nível de participação das mulheres

no governo local em Moçambique e as barreiras para a sua participação efectiva. Inversamente,o capítulo explora os factores que viabilizam a participação das mulheres. Potencialmente,todos os factores inibidores podem ser transformados em factores viabilizadores. Isto éimportante porque só através da efectiva participação das mulheres se pode mudar o caracterinstitucional do governo local, a sua agenda e os serviços que providencia.

M

Page 50: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

48 • Género e Governo Local em Moçambique

Uma vez que as mulheres conseguem entrar nogoverno local levantam-se grandes expectativas paraelas desempenharem as suas funções de formaefectiva. Sendo elas ainda minoria em Moçambique,

as mulheres enfrentam dificuldades para conseguirque as suas vozes sejam ouvidas. Há uma fortepercepção , principalmente entre as mulheresmembros da AM de que elas não são levadas a sério.

Medindo a participação

Clara Paula António Ferrão é membro da AM de Maputo, onde serve na Comissãode Cemitérios e Salubridade. Para além de membro da AM Ferrão é proprietáriade uma farmácia no bairro Trevo, na Província de Maputo. Nascida em 1948 naprovincial de Tete, onde fez o ensino primário e secundário antes de se mudarpara Maputo onde cursou Farmácia em 1971. É casada e tem nove filhos, dosquais seis biológicos e três adoptivos.

Ferrão tornou-se membro da AM indicada pelo seu partido, ao qual se juntouem 1974. “Desde 1974 sempre fui membro da FRELIMO e foi nessa capacidadeque quando o partido esteve a organizar as listas para as eleições de 2003 fui abordado para integrar a listada Cidade de Maputo, o que prontamente aceitei”, disse Ferrão acrescentando que “no nosso sistema eleitoralsó se torna membro da AM se o seu partido ou organização te incluir na lista”.

Embora operando num ambiente ainda dominado por homens, Ferrão está confiante de que vai vencer osobstáculos e fazer-se ouvir. “Gosto de desafios”, esta é a forma como ela respondeu quando perguntamoso que lhe tem ajudado a crescer na AM. “Somos muitas mulheres, mas muitas delas são muito cuidadosasao falar, em público e nas plenárias elas se auto-controlam, mas comentam muito nas comissões. E comoeu gosto de falar, o medo das outras é um encorajamento para mim e uma oportunidade para falar”.

Ferrão reconhece os desafios que as mulheres enfrentam na AM, mas para ela esses desafios não deviamser um impedimento para as mulheres se expressarem e participarem activamente nas actividades. “Temostodas as classes sociais na AM, e de todas elas as mulheres são as menos preparadas”. Olhando para ostempos da sua juventude, Ferrão lembra que durante muito tempo as mulheres não eram permitidas estudar,esse era um privilégio dos homens. “Essas mulheres de hoje, que gostam de trabalhar, participar, não estãointelectualmente preparadas para enfrentar os desafios de hoje”, disse Ferrão, deixando claro que a falta depreparação dessas mulheres é apenas ao nível do discurso, porque elas estão preparadas para identificar osproblemas reais que afectam as pessoas nas comunidades. “Ajudar a traduzir o pensamento e as preocupaçõesdessas mulheres tem sido a minha inspiração. Eu as encorajo a continuarem com os estudos de modo asuperar essas limitações, e estou feliz em ver que muitas delas estão agora a estudar”.

Page 51: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 49

Participação nas reuniões e debates

O que pode ser, para as mulheres, que muitas delasestão no governo local pela primeira vez, participarnessas sessões? Uma pesquisa do Banco Mundialsobre municípios locais na índia constatou que,controlando outros factores, as mulheres marcavam24 pontos mais baixo que os homens numa escalade participação política de 100 pontos (1999:14).Mas as evidências mostram que as mulheres

enfrentam uma grande batalha quando a questão éparticipar nas sessões da AM.

Numa observação de quatro sessões das AM emMoçambique, a GL desenvolveu uma planilhadetalhada de todas as intervenções feitas pelosmembros das AM, divididos em masculinos efemininos. E estes foram ainda subdivididos emDecisores, e se o Presidente da Assembléia Municipalé homem ou mulher, Partido no Poder (PP) e Partidode Oposição (PO).

O que os membros das AM dizem sobre a participação das mulheres nas sessões

Como o gráfico indica, mais da metade dosentrevistados, homens (92.3%) e mulheres (90%),concordam que as mulheres falam frequentementee são ouvidas. Apenas 10% das mulheres disseramque as mulheres são interrompidas quando falam,enquanto que nenhum homem mencionou estefacto. Há também uma concordância em quepoucas mulheres (16%) e homens (15.4%)concordam que as mulheres são humilhadas oulhes é criado algum desconforto.

Estes dados estão em linha com os resultados da primeira fase do estudo At the Coalface realizado no Lesotho,Maurícias, Namíbia e África do Sul, em que, com a excepção das Maurícias, há muitas mulheres no governolocal. Isto sugere que onde há uma “massa crítica” de mulheres, o seu nível de desconforto é muito maisbaixo.

Ao mesmo tempo que os homens afirmam não interromper as mulheres quando falam, 26.9% deles admitemque elas só são ouvidas quando são bem educadas (escolarizadas) e auto-confiantes, contra 34% de mulheresque concordam com esta colocação.

Uma grande diferença de posicionamentos verifica-se em relação a preparação que as mulheres fazem antesde irem para as reuniões, com uma percentagem de 58% de mulheres a concordarem que as mulheres sepreparam melhor para as reuniões contra apenas 23.1% de homens que concordam com esta afirmação.Isto revela que as mulheres nem sempre são julgadas nos mesmos padrões aplicados aos seus parceirosmasculinos, e que para terem reconhecimento nesta arena, têm que trabalhar muito mais.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

MulheresHomens

Preparam-semelhor paraas reuniões

Raramentefalam

Falamsempree são

ouvidas

Sãointerrompidas

quandofalam

Lhes écriado

descomforto

São ouvidasquando são

bemeducadas

90.0 92.3

58.0

23.1

34.026.9

18.023.1

16.0 15.410.0

0.0

Page 52: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

50 • Género e Governo Local em Moçambique

Assuntos levantados

Tabela 11: Participação das mulheres nas sessões da AM

MaputoNampuloBeiraXai-XaiTOTAL

D

Municipio

18.2%20.8%37.5%36.3%23.7%

Totalde MAM

Mulheresna AM

TotalInterven

çõesPAM

Total

MULHERESHOMENS

QUEM FALA?

HHHH

653418

04.1%25%

04%

01203

18.2%16.6%12.5%36.4%19.7%

641415

00000

00000

81.8%79.1%62.5%63.6%76.3%

27195758

18.2%20.8%25%

017.1%

652013

63.6%58.3%37.5%63.6%59.2%

21143745

00000

00000

PP PO/Ind Total D PP PO/Ind

45.9%40.3%30.0%38.2%31.3%

2823181382

3324081176

%Mulheres

na AM

45.9%40.3%30.0%38.2%31.3%

D= Decisor; PP= Partido no Poder; PO= Partido da Oposição; Ind= Independente

As grandes questões levantadas pelos homens emquase todas as sessões observadas relacionavam-secom a habitação (29%) e transportes (12%). Notou-se que nas intervenções dos homens nas AM, boaparte do tempo (24%) foi dedicado a ataques pessoaisentre os vários intervenientes.

Os homens fizeram também menção às questõesdo meio ambiente, erosão (principalmente nosMunicípios de Xai-Xai e Beira), saneamento do meio,educação, saúde, corrupção e gestão orçamental.

As intervenções femininas foram também paraabordar as questões de habitação, em 22 porcento,e as questões de infra-estrutura e energia, saúde,meio ambiente, mulher e acção social e segurança,ocuparam 16.7% do tempo das intervenções dasmulheres.

Na AM de Maputo as interveções eram maisarticuladas, quer da parte das mulheres assim comoda parte dos homens, todos a exigir maior acção porparte do executivo nas áreas de salubridade etransportes.

No município de Xai-Xai quase todos osintervenientes limitaram-se a repetir o que consta

A tabela onze mostra que os homens dominam emtodas as sessões das AM, com as mulheres aparticiparem em apenas 23.7% do tempo. Entretanto,se considerarmos que as mulheres constituem apenas31.3% nesses municípios, essa percentagem departicipação é relativamente alta. Dos municípiosonde os pesquisadores observaram as sessões, oMunicípio da Beira é o que menos mulheres têm,mas apresenta um nível de participação femininamais elevado, em 37.5%. É interessante observarque mesmo no município de Xai-Xai onde asmulheres constituem 38.2% dos membros das AM,a sua participação na sessão foi de 36.3% deintervenções feitas. Estes dados conferem com asafirmações avançadas pelos nossos entrevistados deque as mulheres falam frequentemente e são ouvidas,com algumas excepções nos Municípios de Maputoe Nampula, onde, curiosamente, a presença femininaé consideravelmente elevada.

Nas quatro Assembleias Municipais em que seefectuou a observação das sessões, foram 76 asintervenções feitas, das quais apenas 18 mulheres,o correspondente a 23.7%. E destas apenas trêsrepresentam os partidos da oposição.

Page 53: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

destaque, apenas algumas raras menções na AM deXai-Xai.

A existência de mulheres em todas as AssembléiaMunicípais do país constitui uma vantagem para asua inserção ao nível das comissões de trabalho.Embora haja uma relativa vantagem para os homens,a presença das mulheres nas comissões de trabalhoé significativa, chegando em alguns casos a representarmetade dos membros das comissões.

A tabela abaixo, sobre a representação das mulheresnas comissões de trabalho, ilustra como as mulheresestão distribuídas nas comissões de trabalho nosmunicípios pesquisados. Revela que 41.2% doslugares nas comissões de trabalho são preenchidospor mulheres, sendo a maior representatividade naAssembléia Municipal de Cuamba, onde 53.7% doslugares nas comissões são ocupados por mulheres,seguindo-se a Assembléia Municipal de Metangula,com 50% de representação feminina ao nível dascomissões de trabalho.

A representação mais baixa de mulheres nascomissões de trabalho verifica-se no Município daBeira, onde apenas 30% dos lugares são ocupadospor mulheres. Este facto se justifica pelo facto dehaver poucas mulheres ao nível da AM da Beira(30%).

De referir que ao nível municipal todos os membrosda AM pertencem a alguma comissão de trabalho,daí que a proporção de mulheres ao nível dascomissões de trabalho será a mesma ao nível daAssembléia Municipal.

Género e Governo Local em Moçambique • 51

no informe da edilidade de Xai-Xai, e notou-se quea maioria das mulheres que interviram tiveramdificuldades para apresentar as suas intervenções,mesmo estando elas por escrito. Notou-se, entretanto,que a presença de mulheres na AM de Xai-Xai fazalguma diferença pois elas tendem, de algum modo,a articular os interesses das mulheres, embora aagenda do género não seja destacada nos debates,eventualmente devido aos problemas mais urgentesque afectam os munícipes.

No município da Beira a sessão concentrou-se maisnos questionamentos ao informe apresentado peloPresidente da AM da Beira. Aqui, tanto os homenscomo as mulheres denotavam grandes dificuldadespara articular o seu pensamento, e mostravam algumainsegurança do que pretendiam apresentar.

Os problemas que dominaram a sessão da AM daBeira, tanto da parte das mulheres como da partedos homens, se resumiam a problemas de água,energia, criminalidade, lixo e saneamento que aautarquia da Beira ainda enfrenta.

Em todas as sessões observadas notou-se que aquestão do género não aparecia como assunto de

Posições ocupadas nas AM

Comissões

A participação das mulheres nas comissões do conselho é um imperativo.Photo: Eduardo Namburete

Page 54: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Ao nível dos Municípios pesquisados as mulheresocupam 22% das posições de vereadores, contra78% das posições ocupadas por homens. Emboranão pudessemos acessar os dados dos empregadosnos municípios nos escalões inferiores, as evidênciasempíricas nos remetem a conclusão de que há maismulheres nos serviços de apoio - secretárias,protocolo, recepcionistas.

52 • Género e Governo Local em Moçambique

As mulheres tendem a estar presente nos cargos deadministração do que nos cargos de decisão política.Nesta pesquisa constatamos que apenas trêsmunicípios são dirigidos por mulheres e os restantesquarenta por homens.

Tabela 12: Representação das mulheres nas comissões

MaputoMandlakaziChibutoXai-XaiBeiraNampulaMarrupaCuambaMetangulaTOTAL

Municipio Presidente daAM H/M

Mulheres Total % Mulheres

28471318234156

118

HHHHHHHHH

Homens

33582142346136

168

61915346057102812286

45.9%44.5%46.6%38.2%30.0%40.3%40.0%53.7%50.0%41.2%

Mulheres gestoras no governo local

Tabela 13: Mulheres no executivo do governo local

Gestão de topoGestão séniorGestão de nivel medioGestão de baseTOTAL

Níveis de gestão Mulheres Total

%

7%22%

--

16.8%

Nr.

318--

21

Homens

Nr.4064--

104

%

93%78%

--

83.2%

4382--

125

tem maior representatividade de mulheres (50%).O Município de Xai-Xai segue em segundo lugarcom 37.5% de mulheres no executivo municipal, eem terceiro lugar está o Municiípio de Nampula com33.3%.

A pesquisa identificou 64 veareações nas 9 autarquiasque fazem parte desta investigação, e constatou queapenas 18 delas são dirigidas por mulheres, ocorrespondente a 27.8%. A maior parte dessasmulheres estão no Município de Manjacaze - o que

Page 55: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 53

As entrevistas com os membros das AM, amboshomens e mulheres, evidenciaram que as mulheresenfrentam muitos desafios. Confrontadas com asgrandes expectativas que a comunidade tem delas,as mulheres membros das AM têm que trabalharnum ambiente ainda patriarcal onde os costumes ea tradição estão profundamente enraizados.

Quando os problemas emergem nas comunidades,os membros das AM mulheres são as primeiras aserem procuradas para ajudar na solução dessesproblemas, principalmente os de natureza social.Mas a falta de recursos impede-as de respondersatisfatóriamente a todas as solicitações. “quandosurgem problemas na comunidade nós somos osprimeiros a ser chamados para acudir as situações;quando são doenças, falecimentos, mas muitas vezesnão temos as condições para apoiar essas pessoas etemos que tirar do pouco que temos para ajudá-las”,disse uma das entrevistadas.

Os Municípios da Beira e de Cuamba são os quemenos representatividade feminina têm ao nível doexecutivo municipal, com apenas 14.3%.

A presença significativa de mulheres ao nível doexecutivo municipal em Manjacaze e Xai-Xai podeter a sua explicação no facto de os dois municípiosserem dirigidos por mulheres que abraçaram a causado equilíbrio do género. Como referiu Rita Muianga,“quando assumí a presidência do município só haviauma mulher no executivo municipal e os restanteseram homens, e o meu desafio era idetificar pessoascom as quais poderia desenvolver o meu plano degoverno, trazendo novas pessoas e tentando equilibraro género no meu gabinete”, disse Muianga, repisandoque “neste momento tenho na minha equipa trêsmulheres responsáveis por áreas chaves:Administração e Finanças; Mulher e Assuntos Sociais;e Educação”.

Barreiras para a participação

O que os membros das AM disseram sobre as barreiras para a participação

No geral, 26% dos membros das AM entrevistadas concordam coma afirmação de que existem barreiras para a participação das mulheresno governo local, mas mais mullheres (32%) que homens (15.4%)defendem esta posição. A maioria dos entrevistados (74%) dos quais68% mulheres e 84% homens não acreditam que existam barreiras.

Isto é relativamente mais baixo em relação ao estudo At the Coalfaceque constatou que no geral nos quatro paises que foram estudos decaso (Lesotho, Maurícias, Namíbia e África do Sul) 42% concordavam

com a afirmação de que existem barreiras para a participação das mulheres no governo local (46% entre asmulheres).

Com relação ao tipo de barreiras que as mulheres membros das AM enfrentam para participar no governolocal de forma efectiva, os nossos entrevistados listaram as barreiras culturais, políticas, económicas e sociais.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Sim Não

MulheresHomens

32.0

15.4

68

84.6

Page 56: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

54 • Género e Governo Local em Moçambique

e ela me respondeu que já sabia ler e escrever e queo maior sonho dela era casar e ter uma família.Portanto a responsabilidade na sociedade para a qualela está preparada a assumir de ser esposa e cuidarda família”.

Estas crenças criam barreiras para as mulheres adois níveis: primeiro dentro das próprias AM ondeelas conseguem chegar com muita resistência doshomens, e segundo porque uma vez dentro elas têmque trabalhar com aqueles que acreditam que elasdeviam estar em casa a cuidar da falília, e muitasdelas também assim acreditam que esse é o papelprincipal delas.

Uma percentagem significativa de mulheres (23%)indicaram “outras” barreiras não classificadas comoimpedimento para a sua participação no governolocal. Nessas se incluem as questões da pobreza,práticas e crenças tradicionais.

Apenas os homens, numa proporção de 22%indicaram a falta de recursos como sendo umabarreira para a participação das mulheres, ecuriosamente nenhuma mulher indicou isto comobarreira.

A cultura e socialização foi indicada como a principalbarreira para a participação das mulheres, com amaioria dos homens (44%) e mulheres (26%) aindicar isto como um impedimento. As barreirasculturais mencionadas referem-se às crenças de queas mulheres quando se casam é para cuidar das suasfamília, filhos e maridos, e por isso o trabalho forade casa ou em funções públicas não faz parte dasexpectativas das sociedade em relação a uma mulhercasada. Essas sociedades não aceitam de formaserena o envolvimento de mulheres em assuntosque são considerados dos homens, como é o casoda política e vida pública. É interessante notar quemais homens que mulheres apontaram as questõesculturais e de socialização como a grande barreira,o que pode levar a concluir que as mulheres assumemessas barreiras como algo normal, daí não haveruma menção massiva destas barreiras.

Como referiu Clara Ferrão, que muitas mulheresforam educadas para servir o marido e sempre secolocar inferior diante do marido. “Há alguns diasperguntei a uma rapariga daqui da zona o que elaqueria fazer quando terminasse os estudos primários

Barreiras ideológicas

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%Cultura e

socializaçãoViolênciapolítica

Educação Falta derecursos

Outros ExperiênciaResponsabilidadedoméstica

Falta deapoio

Língua

26

44

23

0

20

33

14

0

9

03

03

03

0 0

22

MulheresHomens

Barreiras ideológicas

Cultura e socialização

Falta de recursos

Page 57: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 55

A não menção da falta de recursos como uma barreirapara a participação das mulheres pode ter a ver como facto de que no sistema eleitoral Moçambicano,os candidados à AM não são individualmenteresponsáveis pelas suas campanhas - os partidos éque assumem a responsabilidade de produzir osmateriais de campanha e providenciar os recursospara a mesma. Porém, e como nos referimos

anteriormente, os membros das AM, principalmenteas mulheres, são bastante solicitados quando surgemproblemas na comunidade, e a sua resposta implicanecessariamente disponibilidade de recursos quemuitas vezes elas não os têm. Esta barreira incluirecursos como meios de transporte e recursosfinanceiros para responder as necessidadesemergentes nas comunidades.

O que os membros das AM disseram sobre os seus municípios

A pesquisa constatou que a probabilidade de as mulheres (48%) estaremnos municípios rurais era maior que a dos homens (42%), e que oshomens (58%) estariam mais nos municípios urbanos que as mulheres(52%).

Os municípios rurais são geralmente mais vastos e mais difíceis paracircular (especialmente para as mulheres que não têm meios de

transporte). São também os piores quando se trata de disponibil idade de serviços.“Porque não temos transporte eficiente acabamos chegando a casa sempre tarde, e ainda temos que cozinhar,olhar pelas crianças e acabamos dormindo muito tarde e espera-se que estejamos no serviço muito cedo.Por causa desta correria, nós acabamos sem tempo para descansar e isto pode influenciar o nosso desempenho.Mas tudo isto é por falta de transporte”, diz Rosa Pedro, Membro da AM de Metangula, para quem oproblema de transporte transcende as idas e voltas ao serviço, tem implicações no trabalho político e apoioàs comunidades, porque sempre que há uma necessidade temos que andar a pé”.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Urbano Rural

52.057.7

48.042.3

MulheresHomens

O que os membros das AM disseram sobre exposição às viagens

Quando questionados sobre até que ponto elestêm viajado e são expostos a outras realidades,quase todos os entrevistados, mulheres (88%) ehomens (84.6%) responderem terem já viajado parafora do distrito. 78% de mulheres e 69.2% dehomens já viajaram para fora da província. Comose pode observar neste gráfico, as mulheres viajarammais para fora do distrito e da província, enquantoque os homens (42.3%) superam as mulheres(28.6%) nas viagens dentro da região da África

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

MulheresHomens

Fora daprovíncia

Fora deÁfrica

Fora dodistrito

Dentro deÁfrica

Dentro daÁfrica Austral

88.084.6

78.0

69.2

38.042.3

14.0 15.4

4.0

11.5

Page 58: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

56 • Género e Governo Local em Moçambique

níveis. Muitos, porque não têm nenhumaescolarização, não conseguem articular as idéias epreferem não participar nos debates com receio deserem humilhados.

O estudo revelou que os estrevistados identificarama educação como sendo no geral a segunda maiorbarreira para a participação das mulheres, com maishomens (33%) que mulheres (20%) a indicar estacomo impedimento.

A legislação eleitoral em Moçambique não exigenível de escolaridade como condição para acandidatura a nenhum cargo eleito, porém esteassunto tem sido abordado em vários cantos comosendo um dos principais impedimentos para a efectivaparticipação dos representantes do povo aos vários

Barreiras pessoais

Austral. Este fenómeno pode ser explicado com base na cultura de que as mulheres são as que estabelecema ligação entre as famílias e as viagens para fora do distrito ou província podem ser para satisfazer estedesígnio; enquanto as deslocações para fora do país, são vistas como papel do homem que pode deixar afamília para trabalhar ou buscar sustento, principalmente nos paises vizinhos. Porém, os dados das deslocaçõespara fora do distrito, província ou da região da SADC não apresentam grandes variações.

Tal como nas deslocações dentro da SADC, os homens (11.5%) lideram nas deslocações para fora da regiãoda SADC, enquanto que 4% das mulheres é que já viajaram para fora da região; e para fora continenteafricano as mulheres (14%) e os homens (15.4%) viajaram numa porporção quase igual. Em última análiseo gráfico acima indica e corrobora com as afirmação sobre a participação das mulheres no governo local,de que embora não em número igual ao dos homens, as mulheres moçambicanas têm encontrado o seuespaço na governação em Moçambique. Este é um marco, embora não satisfatório, do empoderamento dasmulheres em Moçambique.

Educação

O que os membros da AM disseram sobre o nível de educação

O estudo revelou que as mulheres têm mais probabilidades de terconcluído o nível primário e secundário, enquanto que os homens têmmais probabilidades de alcançar os níveis secundários e superior. Estesdados corroboram com as estatísticas nacionais que mostram umagrande aderência de raparigas no nível primário de educação e à medidaque vão crescendo vão abandonando os estudos. O abandono do ensinopelas raparigas é explicado pelas expectativas que a sociedade cria emtorno das raparigas, principalmente nas zonas rurais - o casamento, aprocriação, responsabilidades domésticas, etc., o que deixa as raparigas

sem tempo para se dedicarem aos estudos. Esta tendência explica então o baixo nívelde escolaridade das mulheres adultas e dos membros das AM do sexo feminino.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

Esc

ola

prim

ária

Esc

ola

secu

ndár

ia

36.0

3.916.019.2

MulheresHomens

46.0

76.9

2.0 0.0

Ens

ino

terc

eário

Edu

caçã

ovo

caci

onal

Page 59: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 57

públicos. Mais ainda, muitas delas têm outrostrabalhos a tempo inteiro, de onde tiram o sustentopara as suas famílias, o que faz com elas tenham quese desdobrar entre a política, serviço e a casa. A faltade apoio por parte dos seus maridos e famíla piorammais a situação. Nenhum homem apontou asresponsabilidades domésticas como uma barreirapara a participação das mulheres.

Enquanto a pesquisa quantitativa mostrou que poucasmulheres (14%) indicaram as responsabilidadesdomésticas como uma barreira, talvéz porque elastêm sido socializadas de modo a não ver asresponsabilidades domésticas como barreira.As mulheres têm um grande fardo deresponsabilidades domésticas e privadas que temque balancear com outros deveres políticos e

Responsabilidades domésticas

O que os membros das AM disseram sobre o estado civil

Em resposta à pergunta sobre o estado civil, apesquisa constatou que os membros das AMhomens têm maior probabilidade de serem casados(53.9%) que as mulheres (32%). O gráfico revelatambém que os membros das AM do sexo femininotendem a ser solteiras, numa porporção de 30%,contra nenhum membro da AM homem solteiro.As mulheres (8%) tendem a ser mais divorciadas

que os homens (3.9%). Entretanto, os membros das AM do sexo masculino (26.9%) são mais tendentes aser separados que as mulheres (8%). Os membros das AM do sexo masculino também se destacam porserem os que têm tendência a viver maritalmente, numa proporção de 15.4% contra 4% de mulheres quedeclaram viver maritalmente.

A grande proporção de membros das AM do sexo feminino solteiras e divorciadas pode encontrar explicaçãono facto de que muitos homens ainda não aceitam que as mulheres trabalhem foram ou tenham uma projecçãopública, principalmente no campo político.

“Muitos maridos não deixam as suas esposas se envolver em política ou assumir tarefas como membros dasAM, porque eles não querem que as suas esposas estejam sempre expostas ao público”, disse uma dasentrevistadas, acrescentando que “é muito difícil estar na política sendo casada porque muitas vezes tem quese deslocar aos locais onde surgem os problemas; as pessoas batem à sua porta a procura de ajuda ou soluçãopara algum problema que tenham”. “Eu consigo fazer o meu trabalho porque não sou casada e se fôr a ver,boa parte das mulheres bem sucedidas na política não tem marido, porque às vezes eles, no lugar de ajudar,só prejudicam”.

70%60%50%40%30%20%10%

0%

MulheresHomens

Solteiro DivorciadoCasado Co-habitandoSeparadoOutros

32.0

53.9

30.0

0.0

18.0

4.08.0

3.98.0

26.9

4.0

35.4

Page 60: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

58 • Género e Governo Local em Moçambique

A pesquisa revelou exemplos de alguns membrosdas AM que estão a gerir melhor as suasresponsabilidades na vida pública e têm sido capazesde superar as várias barreiras anteriormentemencionadas. Os exemplos abaixo mostram quecada um dos factores inibidores podem se tranformarem factores facilitadores que melhoram odesempenho das mulheres membros das AM.

Muitos dos membros das AM entrevistadas paraeste estudo estavam no seu primeiro mandato, edestacaram os desafios de entender e aprender ofuncionamento das AM. Para eles a falta de umaformação prévia tornou o processo ainda mais difícil,enquanto que para os que já estavam no seu segundomandato mostravam mais desenvoltura e confiançana função.

Evelina Sitoi é membro daAssembléia Municipal deMaputo e está no seu primeiromandato diz que o ambientepolítico continua a ser muitodominado pelos homens, mas asmulheres estão a conseguir,gradualmente, o seu espaço.

“estando no primeiro mandato as dificuldades sãomaiores porque não há uma formação específicapara se ser membro da Assembléia Municipal, masa nossa experiência política nos permite superarmuitas das dificuldades que enfrentamos”. Sitóicomenta que “ainda sente-se um pouco desubestimação do valor das mulheres, por parte doshomens, mas se não nos curvarmos os homensreconhecem o nosso valor”. Sitói diz que uma dassaídas para que as mulheres consigam se impôr napolítica é a troca de experiências entre as que têmmais experiência e as que estão a se iniciar na política,e convida as organizações femininas a apoiarem asmulheres que estão na política. Sitói dedica parte doseu tempo a ensinar as mulheres a lutarem para asua afirmação e melhoramento das suas vidasenquanto membros da sociedade.

Maria Helena Langa foi membroda AM de Manjacaze no mandatode 1998 a 2003, no segundomandato de 2003 a 2008 serviucomo presidente da AM, e nestemandato foi eleita presidente doMunicípio de Manjacaze. A eleiçãode Langa em todos estes processosse deveu, em parte, ao seucomentimento, no alívio ao sofrimento, sobretudo

Um homem membro da AM concorda com esta posição nos seguintes termos:“ser casada é uma barreira para muitas mulheres quando os seus maridos nãoas apoiam, o que é muito comum na nossa sociedade onde a mulher tem sempreque seguir o que o marido diz”.

Nas discussões dos grupos focais foi revelado que há maridos que não deixamas suas esposas participarem da vida pública por ciúmes, e outros por acharem

que quando as mulheres são bem sucedidas na vida pública desprezam os seus maridos e colocam em causa a sua autoridadena família.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Nenhum 1 - 3

0.03.9

66.061.5

12.015.4

4 - 8 8 +

22.015.2

MulheresHomens

Factores facilitadores

Experiência

Antecedentes e enraizamento

Page 61: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

2 O distrito de Manjacaze foi um dos mais fustigados pela guerra civil dos 16anos.

Género e Governo Local em Moçambique • 59

dos membros das AM assim como do executivo nasactividades da comunidade é que determina areeleição a esses cargos, mesmo dentro dos partidospolíticos.

Clara Ferrão é membro daAssembléia Municipal de Maputoacredita que, apesar de já estar napolítica desde a sua juventude, oseu reconhecimento pelos seuspares e pela comunidade é devidoao trabalho que desenvolve juntoda comunidadeonde onde estáinserida. “Na minha àrea de especalidade que é afarmácia, eu tenho ajudado muitas pessoas nacomunidade, dando assistência e aconselhamentopara as mães levarem os seus filhos ao hospital”,disse Ferrão acrescentando que por causa dessa suaentrega na comunidade, ela virou referência na zonaonde estabeleceu uma farmácia. “Aconselho as mãesa não ficarem com as crianças em casa enquantoelas estão doentes, e este meu trabalho já está aproduzir efeitos porque já vejo as mães a sepreocuparem em correr para o hospital quando assuas crianças estão doentes”, diz Ferrão. “Obviamentequando temos os nossos trabalhos políticos somosmais reconhecidos em função do trabalhocomunitário que fazemos com as pessoas dacomunidade”.

A importância do apoio não pode ser menosprezado,como Maria Helena Langa coloca: “Quando entreina política tive muito apoio do meu marido e deume muito encorajamento”

de mulheres chefes de família, viúvas, idosos, criançase demais pessoas vulneráveis, assim como ocometimento político-partidário, que ela tem aolongo da sua carreira política.

“Eu estou muito enraizada nesta comunidade esempre participei da vida da comunidade - nosmomentos alegres e nos momentos tristes”, dizLanga, a quem a comunidade de Manjacazereconhece o mérito pela melhoria da vida de muitasmulheres daquela vila.

A ascessão de Langa à presidência do ConselhoMunicipal de Manjacaze, está relacionada ao históricoe importante papel que ela desempenhou, naAssociação Mulher Chefe de Família, MUCHEFA,uma organização de âmbito local, criada, em 1996,da qual ela é a principal mentora. Esta organizaçãotinha, numa primeira fase, como principais objectivosapoiar mulheres chefes de família, viúvas, bem comomulheres com maridos doentes ou mutilados emconsequência da guerra civil2. A associação conseguiujuntar muitas mulheres e estabelecer parcerias, queculminaram com a criação de muitos projectos derendimento, tais como de corte e costura, programasagrícolas, de criação de aves, exploração de escolinhascomunitárias pertecentes à agremiação que hojeconstituem fontes de subsistência da MUCHEFA ede muitas famílias encabeçadas por mulheres.

Rabeca da Graça Chambale é membro daAssembléia Municipal de Manjacaze e afirma que oseu envolvimento com a comunidade tem sido umagrande vantagem para o seu reconhecimento e,eventualmente, uma das razões para a sua escolhapara membro da AM. Chambale já foi vereadora nomandato anterior e actualmente é membro da AM,para além de ser professora na Escola Secundáriade Manjacaze. Na opinião de Chambale, a entrega

Experiência

Apoio

Page 62: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

60 • Género e Governo Local em Moçambique

Rabeca Matane, membro daAssembléia Municipal de Maputo,acredita que o seu sucesso napolítica, é devido a entrega aotrabalho no terreno o que lhe temgarantido reconhecimeto porparte dos seus pares. Matane foi

durante muito tempo responsável pela mobilizaçãoao nível do partido RENAMO, o que lhe permitiuconhecer a Cidade de Maputo e os seus problemas.“Quando falo dos problemas que afligem a populaçãodesta cidade, falo daquilo que eu conheço e vivo nodia a dia, e as pessoas reconhecem isso porque mevê lá junto deles”, diz Matane, confirmando que estaé a sua estratégia para ter o reconhecimento nestecampo muito masculinizado que é a política. “Épreciso que as pessoas te conheçam, não só dentrodo seu partido, mas as pessoas que em último vãovotar precisam saber quem são as pessoas que fazemparte da lista do partido. E tem que te conhecer porbem”, disse acrescentando que o fundamental paraconseguir fazer o seu trabalho político e comunitário,é o apoio que sempre recebeu da sua família.

A formação e criação de capacdades, desde quedireccionadas e relevantes para as mulheres, podemmelhorar bastante a participação e desempenho. Muitosdos membros das AM entrevistados disseram que aformação que tiveram no início das suas funções foimuito insuficiente, deixando-os com muitas dificuldadespara cum prirem com as suas responsabilidades. Oscursos de orientação dos novos membros das AMvariam muito de município para município.

Alguns dos entrevistados afirmaram que ao níveldos seus partidos tiveram uma formação, o queajudou a superar alguns dos obstáculos que seapresentavam, principalmente para os membros dasAM que estão no seu primeiro mandato.

O capítulo anterior abordava a questão da entradadas mulheres na arena política e mostrou que semalgum mecanismo que facilitasse a entrada dasmulheres, elas muitas vezes enfrentam obstáculospara aceder ao governo local. Mas isso é apenas ocomeço do processo porque uma vez eleitas e setornam membros das AM, as mulheres enfrentamos mesmos obstáculos e outros novos que impedema sua participação efectiva. Essas barreiras podemser divididas em três categorias principais:institucionais, ideológicas e pessoais.

As mulheres trabalham em instituições e comunidadesque continuam bastante influenciadas pelos costumes,cultura e atitudes patriarcais. Elas não têm os recursose o apoio necessário para o seu desempenho efectivo.Continuam a ser muito poucas as mulheres noscargos de direcção para poderem fazer uma diferençareal. O que se requer é que as instituições setransformem e sejam instituídos sistemas parapermitir que as mulheres participem de forma maisefectiva. As mulheres também precisam trabalharjuntas para encontrar soluções para essas barreirase criar ambientes facilitadores.

Muitos exemplos mostram que os factores inibidorespodem a breve trecho serem transformados emfactores facilitadores. Da mesma forma que as famíliaspodem não apoiar, também podem apoiar. Osmunicípios podem não empoderar os membros dasAM não fornecendo informação e formação, oupode empoderá-los dando-lhes o apoio necessários,informação e formação. Assim, este capítulo destacaos problemas mas também indica as possibilidades.O que se requer é um esforço concertado paraassegurar, não apenas que as mulheres entrem nogoverno local, mas que elas tenham habilidade, apoioe capacidades que precisam para serem agentes demudança efectivos.

Conclusão

Criação de capacidades

Page 63: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

FAZENDO ADIFERENÇA

5

Ajudar as comunidades locais a melhorar a sua condição de vida. Photo: Eduardo Namburete

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 61

aria Helena Langa, contabilista de profissão e actualmente presidentedo Conselho Municipal de Manjacaze, é uma das mulheres quechegou ao poder por mérito. A sua eleição pode estar relacionada

ao histórico e importante papel que desempenhou na Associação Mulher Chefede Família, (MUCHEFA), uma organização de âmbito local, criada em 1996. Ela

M

Page 64: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

62 • Género e Governo Local em Moçambique

Uma vez ganhando acesso e podendo participar nasestruturas de governação, fazem as mulheres algumadiferença para as vidas das outras mulheres comunsno terreno? Esta é uma pergunta difícil de responder.Um argumento sustenta que é injusto esperar queas mulheres se preocupem mais ou trabalhem mais

pelas mulheres. O outro argumento é de que damesma forma que as mulheres têm experiênciasdiferentes, é razoável experar que elas tragam consigoagenda e estílos diferentes, e isso devíamos sercapazes de medir.

foi a principal mentora da criação desta associação que, numa primeira fase, tinha como principais objectivosapoiar as mulheres que chefiavam famílias, viúvas, bem como mulheres com maridos doentes ou mutiladosem consequência da guerra civil dos 16 anos, uma vez que o distrito de Manjacaze foi um dos mais afectadopela guerra.

A associação criada por Langa conseguiu juntar várias mulheres e estabelecer parcerias que resultaram nacriação de vários projectos de rendimento, tais como de corte e costura, agricultura, de criação de aves egestão de escolinhas comunitárias, que hoje constituem fontes de subsistência da MUCHEFA e de muitasfamílias encabeçadas por mulheres.

Aquando das cheias do ano 2000, o maior desastre natural dos últimos cem anos, a MUCHEFA apoioumuitas mulheres vítimas das cheias, criando um centro de acolhimento para crianças de famílias chefiadaspor mulheres, enquanto as mães buscavam condições para o reassentamento no novo bairro chamandoNdhambini, ou procuravam outras condições de sobrevivência, uma vez que a maioria das machambaslocalizadas na zona da Lagoa de Sulué, na baixa dão Município de Mandlakazi, estavam submersas.

Contando actualmente com 25 colaboradores e 335 membros, as principais atenções da MUCHEFA hojeestão viradas para o resgate da auto-estima da mulher do seu empoderamento económico, educacional, sociale cultural. A MUCHEFA luta, hoje, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pela participaçãoda mulher e presença das mulheres nos círculos de tomada de decisão e pela conquista, exercício e manutençãodo poder. A associação trabalha também na conscientização das mulheres, em particular, e da sociedade emgeral, sobre o impacto que a pandemia do HIV/SIDA causa no seio da família moçambicana.

Através do seu trabalho junto à comunidade, Langa certamente já fez impacto na vida de muitas mulherese muitas famílias, o que lhe assegura um reconhecimento e prestígio no município que dirige.

“Não faço isto sozinha, o sucesso que conseguimos é resultado de esforços conjugados de várias mulheresfortes que congregados ganham coragem e vontade de trabalhar”, diz Langa demonstrando uma vivacidadee confiança no que diz e faz. Langa reconhece também o apoio que lhe têm sido dado pelo seu marido queé um empreiteiro na mesma região “é certo que no meu trabalho sempre contei com o apoio do meu marido,que me encoraja em tudo que tenho a fazer”.

Page 65: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 63

O que as mulheres trazem para apolítica

Este capítulo lida com a questão dão que as mulherestrazem para a tomada de decisão. Cobre também sea presença das mulheres faz ou não diferença paraa forma como os homens se comportam e realizamos seus trabalhos. O ponto de partida nesta análiseé de que a sociedade para a qual devíamos trabalharé aquela em que as mulheres e os homens participamde igual e da mesma forma se preocupam com todosos assuntos de políticas, desde assuntos financeirose económicos, geralmente associados aos homensaté os assuntos da comunidade e bem estar,geralmente associados com as mulheres.

Existe uma crença instintiva de que as preocupaçõese prioridades das mulheres são diferentes das doshomens e que elas deveriam ser envolvidas na tomadade decisão porque vão levantar assuntos que têmsido subjugados pelos homens. A pesquisa investigoucomo é que os membros das AM olham para estaquestão.

Interesses e preocupações

O que os membros das AM disseram sobre os interesses e preocupaçõesdas mulheres

No geral apenas 42% de todos os respondentes, (46% de mulherese 35% de homens) concordaram com a afirmação de que as mulherestrazem interesses e preocupações diferentes para a tomada de decisão.

A maioria dos entrevistados (52% das mulheres e 61.5% dos homens)não concordaram com esta afirmação. Esta constatação diferesubstancialmente com as constatações do primeiro estudo At The

Coalface que indicava uma média de 61% de mulheres e 39% de homens que concordavam com a afirmaçãode que as mulheres trazem interesses e preocupações diferentes. Porém, há uma similaridade no facto deque dos 42% que concordam com a afirmação, a maioria são mulheres.

Solicitados a explicarem as suas posições, os entrevistados deram as seguintes respostas:

• As mulheres se preocupam mais com questões básicas que preocupam a comunidade tais como água,saneamento e educação.

• As mulheres se preocupam com as crianças órfãs, viúvas, pessoas vivendo com o HIV e SIDA, deficientes.• As mulheres se preocupam mais com os assuntos ligados a família e isto deveria estar reflectido nas políticas

e decisões dos municípios.• As mulheres têm uma maior capacidade de gestão, principalmente no que se refere à economia doméstica.• As mulheres deveria ter a oportunidade de partilhar ao nível dos cargos de decisão a sua experiência na

gestão de conflictos, porque elas são muito boas nisso.• Porque as mulheres são mães elas se preocupam mais com os problemas das crianças e das famílias.• Os homens se preocupam menos com os problemas do lar, eles relegam as questões domésticas para as

mulheres, por isso a sua apreciação das questões das crianças, educação e saúde, não é tão grande quantodas mulheres.

80%70%60%50%40%30%20%10%0%

Não sabeSim Não

46.0

34.6

52.0

61.5

2.03.9

MulheresHomens

Page 66: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

64 • Género e Governo Local em Moçambique

Mukheristas na fronteira de Ressano Garcia. Photo: Luís Muianga

Ligado à questão de se as mulheres têm ou nãointeresses e preocupações diferentes, está a questãode saber se as mulheres são ou não mais sensíveisàs questões locais. A teoria diz que por causa do seu

involvimento diário nos assuntos como àgua,saneamento e higiene, é justo assumir que as mulherestêm maior sensibilidade para esses assuntos ao nívelde políticas públicas.

O que os membros das AM disseram sobre a sensibilidade das mulheresem relação às preocupações locais?

Quando perguntados se concordavam com a afirmação de que “asmulheres são mais sensíveis às preocupações locais que os homens”,uma grande maioria dos membros das AM concordaram com aafirmação, mas mais mulheres (80%) que homens (76.9%).

Isto é semelhante ao que foi constatado no primeiro estudo At theCoalface que revelou que 81% das mulheres e 66% dos homens

concordavam com a afirmação.

“As mulheres vivem mais os problemas da comunidade e elas estão em melhor posição de articular questõescomo água, meio ambiente, saneamento do meio, saúde infantil, que são questões com as quais elas sedebatem no dia a dia”, disse um membro da AM homem.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%Concorda Discorda

80.076.9

20.0 23.1

MulheresHomens

Sensibilidade para as preocupações locais

Têm as mulheres a responsabilidade de levantar erepresentar as questões das mulheres? Num mundoideal a resposta seria: não necessariamente.Simplesmente porque os candidatos eleitos deveriamrepresentar os interesses de todos. Mas as evidênciasmostram que enquanto persistirem as disparidadesde género, é natural experar que as mulheres sejammais sensíveis às preocupações de outras mulheres;e as mulheres que estão nos cargos de decisão sentirque têm responsabilidade de providenciar na basedessas preocupações.

Responsabilidade das mulheres

Page 67: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 65

O que os membros das AM disseram sobre as mulheres levantaremassuntos de outras mulheres

Os membros das AM foram perguntados se as mulheres têm aresponsabilidade de levantar os assuntos de outras mulheres. No geral96% deles (100% de mulheres e 88.5% dos homens) concordaramque as mulheres têm a responsabilidade de levantar os assuntos dasoutras mulheres.

Estas constatações fazem eco ao anterior estudo At the Coalfaceque constatou que a generalidade de 83% de todos os membros das

AM (86% de mulheres e 76% de homens) concordavam com a afirmação, em harmonia com todos os paisesenvolvidos nesse estudo que cobriu Lesotho, Maurícias, Namíbia e África do Sul) e com uma pequenadiferença entre os pontos de vista das mulheres e dos homens.

O mesmo que o primeiro estudo At the Coalface, muitas mulheres membros das AM entrevistadas disseramque uma das razões porque elas se candidataram para membros das AM foi porque elas viram mulheressofrendo e queriam representar essas mulheres e tornarem-se suas 'vozes'. Alguns comentários dos membrosdas AM incluem:

• “Porque as mulheres têm algumas preocupações diferentes dos homens, os seus problemas específicosdevem ser apresentados no governo local ou nos círculos de tomada de decisões pelas mulheres,principalmente. Por exemplo, a questão de licença de parto, particularmente para as mulheres que fazemcesariana, e a questão da violência doméstica não constituem prioridade para os homens, mas sim paramulheres e, se elas não levantarem estas questões nos círculos de tomada de decisões, são quase nulas asprobabilidades de serem os homens a levantarem estes e outros assuntos que dizem respeito apenas àsmulheres”, disse uma das entrevistadas, acrescentando que “são poucas as mulheres que assumem cargosde direcção, por isso as que têm o pivilégio de participar nestes círculos têm que pensar nas outras mulheres.

• “...as mulheres são conhecedoras dos problemas e preocupações de outras mulheres, por isso, podem edevem servir de porta-vozes de outras mulheres”.

• “...homens e mulheres apresentam, de forma indistinta, as preocupações da sociedade. Portanto quandoestamos reunidos as mulheres apresentam as preocupações de outras mulheres e resolvêmo-las em conjunto”.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%0%

Não sabeSim Não

MulheresHomens

Estas constatações estão em sintonia com asconstatações globais das mulheres nos cargos dedecisão. Uma pesquisa da experiência política dasmulheres levada a cabo pela União Inter-Parlamentarem 1999, incluindo 187 mulheres de 65 paises

mostrou que 89% das mulheres na políticaconsideram que elas têm uma responsabilidadeespecial para representar as ecessidades e interessesdas mulheres (IPU, 2000).

Page 68: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

2. As mulheres são melhores chefes de equipas queos homens.

3. As mulheres são mais capazes de gerir asdiferenças.

4. Os homens são mais decisivos que as mulheres.5. As mulheres prestam mais contas que os homens.6. As mulheres são mais acessíveis que os homens.

66 • Género e Governo Local em Moçambique

Os membros das AM foram perguntados se elesconcordavam ou discordavam com uma série deafirmações em relação ao estílo de liderança:

1. Não existe diferença entre a forma como asmulheres e os homens lideram.

Estilo de liderança

O que os membros das AM disseram sobre o estilo de liderança

Quase todas as mulheres entrevistadas (98%) euma proporção bastante representativa (80.8%)dos homens concordam que as mulheres têm maiscapacidade de gerir as diferença. De igual modo,uma grande proporção de mulheres (80%) e dehomens (69.2%) afirmaram não existirem diferençasno estilo de liderança das mulheres e dos homens.A tendência de concordância também se verificaquanto a afirmação de que os homens são maisdecisivos, com 46% das mulheres e 42.3% doshomens a concordarem. É curioso notar que quantoa esta afirmação menos da metade dos entrevistadosconcordaram com esta afirmação, incluindo oshomens (42.3%).

A grande discordância verifica-se quanto a afirmação de que as mulheres prestam mais contas, com asmulheres a concordarem com esta afirmação em 70% e apenas 26.9% dos homens que concordam com aafirmação. Estas constatações estão em sintonia com as constatações do primeiro estudo At the Coalface.Nota-se também uma grande diferença quanto à afirmação de que as mulheres são melhores líderes deequipas, com 54% de mulheres que concordam com esta afirmação contra apenas 19.2% dos homens.

Mais da metade dos entrevistados, 86% de mulheres e 57.7% de homens concordam que as mulheres sãomais acessíveis. Como disse um membro da AM em Nampula, “as mulheres é que trabalham mais com asbases, elas conhecem os problemas da comunidade melhor porque elas estão mais presentes na comunidade”.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

As

mulh

ere

s sã

om

elh

ore

s ch

efe

sde e

quip

as

Os

hom

ens

são

mais

deci

sivo

s

Nenhum

adife

rença

As

mulh

ere

s sã

om

ais

ace

ssív

eis

As

mulh

ere

spre

stam

melh

or

conta

s

As

mulh

ere

s sã

oca

paze

s de g

erir

as

dife

rença

s

89.0

69.2

98.0

80.3

46.042.3

30.026.9

57.354.0

19.7

MulheresHomens

86.0

Page 69: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 67

4. Os homens são mais rápidos e mais dispostos aaprender.

5. A mulheres são mais prováveis a admitir quecometeram um erro.

6. Os homens são mais efectivos nos contactos queas mulheres.

7. As mulheres têm que trabalhar mais duro paraserem reconhecidas.

8. As mulheres e os homens têm pontos fortescomplementares, os quais todos são importantespara a tomada de decisão.

Se as mulheres entendem as suas comunidades e osseus assuntos melhor que os homens, então elasdeveriam ser capazes de abordá-los melhor. Osmembros das AM foram questionados se elesconcordavam ou discordavam com as seguintesafirmações:

1. As mulheres são mais honestas que os homens.2. As mulheres são menos corruptas que os homens.3. Os homens são capazes de gerir orçamentos

melhor que as mulheres.

Desempenho

O que os membros das AM disseram sobre o desempenho das mulherese homens

Todos os entrevistados, mulheres e homens temuma posição unânime em relação a afirmação deque as mulheres e os homens têm potencialidadescomplementares, e têm posições próximas emrelação a afirmação de que os homens são maiseficientes nos contactos, com 69.2% de homense 62% de mulheres a concordarem com estaafirmação; e em relação a afirmação de que oshomens gerem melhor os orçamentos, embora empequenas percentagens (20% de mulheres e 19.2%de homens). Mas discordam profundamente quantoa afirmação de que as mulheres são mais honestas,com 80% de mulheres e apenas 20.1% de homensa concordarem com esta afirmação. Outro ponto

de discordância, na posição inversa, é em relação a afirmação de que os homens são mais rápidos, com 61.5%dos homens e apenas 26% de mulheres a concordarem com a firmação.

Embora apenas 23.1% dos homens concordaram com a afirmação de que as mulheres são mais honestas,44% dos homens reconhecem que elas são menos corruptas. Como um dos membros da AM em Chibutocoloca: “as mulheres têm compaixão, enquanto os homens só têm pena. A mulher fica sentida quando alguémlhe apresenta um problema e faz tudo ao seu alcance para ver o problema resolvido, enquanto que os homensvêem, na maioria das vezes, oportunidades para colher dividendos, mediante práticas corruptas”.

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%

0%

As

mulh

ere

s sã

om

enos

corr

upta

s

Os

hom

ens

são

mais

rápid

os

As

mulh

ere

s sã

om

ais

honest

as

Os

hom

ens

são m

ais

efic

iente

s nas

rela

ções

As

mulh

ere

s sã

om

ais

pro

váve

isde a

dm

itir

err

os

Os

hom

ens

são

capaze

s de g

erir

melh

or

os

orç

am

ento

s

20.026.0

61.5

74.0

44.0

80.0

23.119.7

MulheresHomens

69.2

63.0

As

mulh

ere

s e

hom

ens

são

com

ple

menta

res

As

mulh

ere

str

abalh

am

mais

duro

para

sere

mre

conheci

das

40.2

80.082.0

38.5

Page 70: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

68 • Género e Governo Local em Moçambique

porque uma vez eleitos começamos a mudar onosso estilo de vestuário porque temos que nosapresentar melhor nas sessões da AM e as pessoaspercebem essa diferença e associam as mudançaa um incremento financeiro nos nossos orçamentosfamiliares.

• O que recebemos na AM não é suficiente para asnossas próprias despesas, porque abdicamos demuitas actividades que poderiam nos render algumdinheiro para nos dedicarmos a AM, mas quandosomos abordados não podemos recusar, massempre que posso digo as pessoas qual é a minhasituação como membro da AM e que a minhatarefa não é distribuir dinheiro as pessoas.

Os participantes dos grupos focais têm vários pontosde vista sobre o impacto que as mulheres têm tido.Como indicaram as mulheres da comunidade deManjacaze que a presença de mulheres no governolocal faz diferença na qualidade de vida das mulherese no seu papel na sociedade. Elas argumentam que“quando o município era dirigido por um homemnão acontecia muita coisa que beneficiasse as

Existem vários pontos de vista sobre o impacto queas mulheres têm feito nas comunidades. Como foidiscutido no capítulo quatro, ainda existem váriasbarreiras que as mulheres têm que superar antes deelas poderem começar a fazer um impacto real emMoçambique. É muito difícil medir o impacto dasmulheres no governo local quando elas ainda sãomuito poucas. O estudo indicou, entretanto, paraalgumas percepções interessantes sobre esta questão.

Por causa da localização do governo local, osmembros das AM lidam com assuntos básicos dascomunidades onde uma grande proporção vive napobreza. Vários membros das AM tinham estóriassobre como as pessoas na comunidade pensam delese as expectativas que têm sobre eles. Muitos dosmembros da comunidade não conhecem muito bemqual é o papel dos membros da AM, e pensam queestes ganham muito dinheiro, o que faz com que osmembros das AM sejam muitas vezes abordadospela comunidade para pedir dinheiro, comida, caixãoe outras ajudas para funerais. Alguns dos comentáriosdos membros das AM são:

• As pessoas pensam que o membro da AM temmuito dinheiro e que porque foi eleito pelacomunidade ele tem o dever de distribuir essedinheiro. Não tem sido fácil porque eu próprianão tenho dinheiro, às vezes nem para transportetenho, mas tenho que fazer o sacrifício de tirar opouco que tenho para dar a pessoa que me pede.

• Quando surgem problemas na comunidade, sejamorte ou doença, é frequente que as pessoasvenham me bater à porta porque pensam que sócomigo é que podem ter a ajuda de que precisam.

• Esta percepção de que os membros da AM temmuito dinheiro, em parte nós próprios criamos,

Expectativas idealísticas

Impacto

Mulher numa barraca na Polana Canico. Photo: Lourenço Pinto

Page 71: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

as mulheres no que tange ao processo de consulta,elaboração, implementação, assim como namonitoria dos programas.

• A mulher tenta, mas ainda não é capaz de fazertudo. Ainda precisa da ajuda do homem, por issoo seu impacto no governo local ainda não é sentido.

• O impacto da presença das mulheres no governolocal não se faz sentir porque muitas vezes elasestão lá, mas só representam interesses dos homensque escrevem para elas o que devem falar. (Homemde Xai-Xai)

Enquanto que as entrevistas não revelaram nenhumaresistência descarada em relação a participação dasmulheres no governo local, os homens falaram dealgumas dificuldades que encaram como membrosdas AM. Onde os membros das AM homens têmtrabalhado com membros das AM mulheres elesexpressaram pontos de vista progressivos. Esses sãotestemunhos de que parcerias iguais e construtivaspodem ser forjadas ao nível local para o bem deambos mulheres e homens na comunidade.

Armindo Micaias, presidente da AM de Metangulae professor da Escola Pré-Universitária de Metangula,acredita que as mulheres podem dar uma contribuiçãosignificativa no governo local, e a sua experiência éque elas têm feito muito pelo desenvolvimento dascomunidades locais. “Embora ainda exista algumaresistência por parte de alguns homens, para aceitarque as mulheres assumam funções ao nível de decisão,esta situação está a mudar porque as mulheres estãoa lutar pela sua emancipação e estão a ganhar oespaço. Graças a esta emancipação as mulheres estãoa ganhar consciência sobre o papel que devemdesempenhar na sociedade. Há uma necessidade dese empoderar cada vez mais as mulheres porque elastêm uma tarefa muito importante no processo dedesenvolvimento do pais e da comunidade. Muito

Género e Governo Local em Moçambique • 69

Atitudes dos homens

mulheres, tal como acontece agora”. “por exemploagora que temos uma mulher na direcção já nãolevamos porrada nos lares, e estamos a dispertar aconsciência de que temos os mesmos direitos eliberdades que os homens”.

• Como resultado da presença das mulheres nogoverno local está a notar-se uma relativa reduçãode casos relacionados com corrupção, porque aolado da mulher é bastante defícil os homensfazerem corrupção, porque as mulheres falammuito. “A mulher combate mais a corrupção, emrelação ao homem”. (Plataforma da SociedadeCivil do CCM de Chibuto)

• As mulheres são mais abertas, acessíveis eentregam-se mais na auscultação dos problemasque inquietam a população, para a posteriorelaboração, implementação e monitoria deprogramas. (Sociedade Civil OTM-CS, Beira)

• “No mandato anterior, quando o edil era umhomem, houve uma rapariga que foi violadasexualmente por um grupo de jovens, e os autoresdeste acto foram identificados. As autoridadesgovernamentais e policiais, ao nível do distrito,tiveram conhecimento, mas nada se fez e oscriminosos ficaram impunes. Entretanto, este ano(2009) no novo mandato do governo local, lideradopor uma mulher, ocorreu um caso semelhante, emque uma rapariga foi também violada sexualmentepor um grupo de jovens, mas o problema foiresolvido imediatamente e os seus mentoresresponsabilizados criminalmente”. (mulherManjacaze)

Mas outros acharam que a presença das mulheresnão tem nenhum impacto para o governo local. Aseguir alguns dos comentários:

• Não há nenhum impacto decorrente daparticipação das mulheres que seja digno de realce.os homens são mais responsáveis, melhores que

Page 72: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

70 • Género e Governo Local em Moçambique

participação das mulheres no governo local é muitofraca, porque as poucas que participam não têmrepresentado cabalmente as outras mulheres”.

Embora seja difícil quantificar o “fazer a diferença”,este capítulo destaca fortes percepções de que asmulheres trazem perpsectivas diferentes para ogoverno local; elas são sensíveis às preocupaçõeslocais e elas sentem o dever de representar os assuntosdas mulheres e falarem por elas. As mulheres sãomais acessíveis e vê a importância de trabalhar emconsultação com as comunidades.

Os homens podem obstruir o progresso e a agendadas mulheres, mas eles também podem ser agentesde mudança. Onde os homens não se sentemameaçados pelas mulheres e têm trabalhado comelas como profissionais eles vêem a diferença queas mulheres podem fazer e as encorajam. Uma dasformas de medir até onde as mulheres fazemdiferença é quando levantar as questões de génerotorna-se parte normal dos debates das sessões dasAM, com as mulheres e homens a aparecerem comocampeões do género. Os exemplos neste capítulomostram que existem muitos homens Moçambicanosque apoiam a participação igual das mulheres.

Os capítulos que se seguem vão tentar medir atéque ponto, mesmo em poucos números, as mulheresestão a fazer diferença no trabalho diário das AM eno trabalho mais aturado da incorporação do génerono trabalho do governo local em Moçambique. Estaevidência é muito importante na campanha queprecisa urgentemente de ser lançada antes das eleiçõesautárquicas de 2013 para aumentar a participaçãodas mulheres a este nível.

disto depende muito de nós os homens aceitar queas mulheres têm as mesmas capacidades intelectuaisque os homens, e que a sociedade deve aceitar queas mulheres também podem assumir outras funçõespara além de cuidar da casa e dos filhos”.

Ismael Manhiça, membro da AM de Maputo entendeque a igualdade do género é algo desejável e deencorajar. As mulheres e os homens devem serencorajados a trabalhar juntos porque o nosso paísé composto de homens e mulheres, e neste caso emconcreto, as mulheres são a maioria. Porque asmulheres são a maioria no país, e as que mais sofremcom os vários problemas que o país tem, a suaparticipação na tomada de decisão sobre comodesenvolver os programas de desenvolvimento podeser muito importante. A ausência de mulheres nosprocessos de decisão pode justificar o fracasso dealguns programas que são desenhados pelos homenssozinhos. “Nós apoiamos as mulheres porquesabemos que trabalhando juntos com as mulhereshá muita coisa que os homens não prestam muitaatenção e as mulheres podem abordar, assim comohá questões que para as mulheres não são muitorelevantes, mas que os homens consideramprioritários. Nesta parceiria quem sai a ganhar é asociedade”.

Bento Mavie, membro da AM de Xai-Xai, acreditaque a participação das mulheres no governo local éimportante porque elas formam uma parte bastantesignificativa da sociedade moçambicana. Mas entendeque para elas serem efectivas e terem um impactona governação local elas devem ser capacitadas paraque não ocorram situações em que elas são usadascomo bandeira de género para a projecção de algunsdirigentes. “As mulheres devem estar no governolocal para fazer diferença, para ter um impacto realna vida da comunidade e de outras mulheres,fundamentalmente. Infelizmente até agora a

Conclusões

Page 73: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

GÉNERO NO TRABALHODAS ASSEMBLÉIAS

MUNICIPAIS

6

Mulheres membros da Assembleia MunicipalPhoto: Eduardo Namburete

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 71

ste capítulo analisa até onde as preocupações de géneroestão reflectidas no trabalho diário do governo local, e atéque ponto as mulheres são capazes de influenciar esta agenda.

O capítulo começa com uma descrição de como é que o governolocal funciona em Moçambique, incluindo as suas competências. Os

E

Page 74: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

principais assuntos e preocupações são analisadosapartir de uma perspectiva de género. As entrevistascom os membros das AM mulheres e homens, bemcomo os grupos focais, são usados para investigaraté que ponto o número limitado de mulheresmembros das AM em Moçambique pode influenciara agenda diária.

O governo local que representa, como reza aConstituição da República de Moçambique, o podelocal, é representado no Estado moçambicano pelasautarquias. Embora fazendo parte do Estadomoçambicano, a autarquia tem mais autonomia emcomparação com, por exemplo, o Governo doDistrito o que significa que tem um poder de decisãopróprio para realizar diversas actividades dentro doseu território, em prol do desenvolvimento dacomunidade local, prestação de serviços públicosetc. As autaquias podem ter recursos humanos efinanceiros próprios ou devolvidos pelo governocentral, o que lhes confere uma autonomiaadministrativa, isto é, elas têm o direito de auto-organizar-se em termos administrativos, e aautonomia financeira, que é o direito de definir osseus próprios planos e orçamentos, bem comocolectar uma variedade de impostos, taxas. Temtambém o direito de possuir e usufruir de patrimóniopróprio tais como imóveis, equipamentos, veículosetc. Portanto as autarquia são entidades autónomasque não se subordinam ao governo central e o Estadosó pode intervir apenas nos casos em que osmunicípios violam a lei e as normas administrativase financeiras.

As autarquias são constituidas por uma AssembléiaMunicial, cujos membros são todos eleitos de entre

Como é que o governo localfunciona

72 • Género e Governo Local em Moçambique

os residentes da autarquia propostos pelos partidospolíticos e grupos organizados da sociedade civil; epor um Conselho Municipal, que é a estruturaexecutiva da autarquia, cujo presidente é eleitos porsufrágio universal, e os restantes membros doexecutivo indicados pelo presidente. Todos os cargoseleitos para as autarquias têm um mandato de cincoanos.

Ao nível da comunidade os membros das AMtrabalham com a população, com as secretarias dosbairros e com as organizações da sociedade civil. Aorganização das autarquia é variável, de acordo como tamanho e especificidades, e a forma de indicaçãodas estruturas de apoio também pode variar deautarquia para autarquia.

A Constituição da República e demais legislaçãoautárquica estabelece claramente que as autarquiasgozam de autonomia administrativa, patrimonial efinanceira. Porém, estas intenções são condicionadaspor um quadro caracterizado pela escassez e rigidezde recursos ao nível nacional e por um sistemaorçamental e fiscal concentrado e centralizado.Portanto a autonomia dos municípios implicanecessariamente a existência de um sistema de receitasmunicipais e transferências orçamentais do governocentral que possam gerar recursos para ofinanciamento das actividades do município.

A Lei das Finanças Autárquicas e o Código TributárioAutárquico definem que o sistema TributárioAutárquico abrange as seguintes categorias de receitaspróprias municipais:• Impostos autárquicos• Adicionais, derrames e percentuais de alguns

impostos do Estado• Taxas municipais por licenças concedidas e pela

prestação de serviços

Finanças

Page 75: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 73

“A equipa do Conselho Municipal prepara o planoe o orçamento, e esses instrumentos são depoisenviados para apreciação da AM que é o órgão querepresenta a comunidade”.

As funções e competências dos municípios estãoestabelecidos na Lei Base das Autarquias (Lei 2/97)e respeitam os interesses próprios, comuns eespecíf icos das respect ivas populações,nomeadamente desenvolvimento económico e sociallocal; meio ambiente, saneamento básico e qualidadede vida; abastecimento público; saúde; educação;cultura, tempos livres e desporto; polícia da autarquia;urbanização, construção e habitação.

A tabela catorze, abaixo resume as funções dasdiferentes autoridades responsáveis por fornecerserviços, e as áreas sombreadas referem-se às funçõesdo governo local.

• Multas e coimas, heranças, doação e outras receitasautárquicas estabelecidas por lei.

Em complemento das receitas próprias, a Lei dasFinanças Autárquicas estabelece, no artigo 40, oregime de transferências orçamentais do Estado paraas autarquias, determinando a criação do Fundo deCompensação Autárquica, destinado a financiar ofuncionamento corrente das actividades dosmunicípios. No que se refere ao regime detransferência de capital, a lei estabelece que para oinvestimento de iniciativa local o Orçamento deEstado contemple anualmente uma dotação globalpara o financiamento dos respectivos projectos.

O padrão actual das receitas autárquicas é bastanteconcentrado e dependente das “transferência do Estado”e, à excepção de alguns impostos locais, a actividadetributária incide na cobrança de taxas por licençasconcedidas e pela prestação de serviços a população.

O executivo municipal, representado pelo presidentedo Conselho Municipal planifica e orçamenta asactividades do município para um período de cincoanos que é o período do seu mandato, e submetepara aprovação da Assembléia Municipal que é oórgão legislativo municipal e representativo dapopulação municipal.

Alguns municípios já iniciaram o chamado OrçamentoParticipativo, que implica auscultar os munícipes sobreo que eles consideram serem as prioridades para umdeterminado período, que vão responder àsnecessidades específicas da comunidade. De acordocom Rita Muianga o orçamento é desenvolvidoanualmente, mas também tem um plano a longoprazo que cobre o perído do mandato.

Planificação e orçamentação nos Municípios

A educação é uma preocupação central para as autarquias locais.Photo: Eduardo Namburete

Competências do governo local

Page 76: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

74 • Género e Governo Local em Moçambique

ADMINISTRAÇÃO GERAL

PolíciaBombeirosJustiça criminalJustiça civilRecenseamento eleitoralEDUCAÇÃO

Pré-escolaPrimáriaSecundáriaTécnica e vocacionalEnsino superiorEducação de adultosBEM-ESTAR SOCIAL

CrechesCasas de asílioSegurança socialSAÚDE PÚBLICA

Cuidados primáriosHospitaisProtecção sanitáriaHABITAÇÃO E PLANEAMENTO URBANO

HabitaçãoPlaneamento urbanoPlaneamento regionalTRANSPORTES

EstradasTransportesEstradas urbanasPortosAeroportos

Distritos Municípios

*

*

**

Funções/Poder

Tabela 14: Funções do governo local em Moçambique

**

*

*

**

*

*

Autoridade provedora

Trabalho dos Municípios

Central Provincias

*****

*****

**

***

***

*****

*

*

*

*

*

**

**

**

**

Page 77: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

O governo local tem o potencial de fazer a diferençapara a vida diária dos cidadãos - especialmente asmulheres - porque está preocupado com os serviçosbásicos. Todas as funções desempenadas pelosmembros das AM têm uma dimensão do género.Apesar dos obstáculos que elas enfrentam, asevidências mostram que as mulheres membros dasAM estão a usar o espaço que elas têm para fazer adiferença.

Género e Governo Local em Moçambique • 75

A educação é essencial para todas as comunidades.É importante para as mulheres porque elas é queprincipalmente cuidam das crianças e assumem aresponsabilidade pelo seu desenvolvimento. Boasinfra-estruturas educacionais (que sejam acessíveis,limpas, seguras e que funcionam bem) facilitam acarga de trabalho das mulheres em duas frentes -em termos de não terem que ser elas a fazer estaparte de ensino das crianças, assim como terem maistempo para participarem em outras actividadesenquanto os seus filhos estão na escola.

Trabalho dos municípios através daslentes do género

Educação

AMBIENTE E SANEAMENTO PÚBLICO

Água e saneamentoRecolha de lixoCemitérios e crematóriosMatadourosProtecção ambientalProtecção do consumidorCULTURA, LAZER E DESPPORTO

Teatro e concertoMuseus e bibliotecasParques e espaços livresDesporto e lazerInstalações religiosasSERVIÇOS

Serviços de gás

Abastecimento de água

Electricidade

ECONOMIA

Agricultura, florestas e pesca

Promoção económica

Comércio e indústria

Turismo

Distritos Municípios

***

**

*

Funções/Poder

*****

*

**

*

***

Central Provincias

******

*****

***

****

**

**

*

***

**

Page 78: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

limpos e seguros, que ofereçam serviços amigáveise acessíveis.

Clara Ferrão, membro da AM de Maputo, que éfarmacêutica de profissão, fez da área de cuidadosde saúde primária uma das suas principaispreocupações. Ferrão têm uma farmácia onde, paraalém de comercializar medicamentos, apoia acomunidade orientando as mulheres, principalmente,a buscar assistência médica nos hospitais e nãorecorrer a automedicação, prática comum nascomunidades mais carentes.

“Desde que eu cheguei nesta comunidade até a estaaltura, vejo com muita alegria a mudança que severifica na comunidade”, diz Ferrão com ar de devercumprido. “Era comum encontrar mulheres em casacom os seus filhos doente a espera dos maridos paralhes autorizar a ir ao hospital, e eu fui insistindocom elas que deviam trazer as crianças a mim e sefosse algo mais grave recomendava que fossem aohospital, e hoje essas mulheres entendem o que fazerquando os filhos estão doentes”.

O HIV e SIDA em Moçambique é uma das grandesprocupações em matéria de saúde, com umaprevalência de 11%, colocando o país no grupo dosmais infectados ao nível da região e do mundo. Anível mundial as estatísticas mostram que maismulheres que homens tem sido infectadas pelo virusdo HIV devido as desigualdades das relações depoder entre as mulheres e os homens, que tambémcontribui para que as mulheres não sejam capazesde negociar o sexo seguro e o uso do preservativo.A situação em Moçambique segue o mesmo padrão,as mulheres são mais infectadas e mais afectadaspelo HIV e SIDA, pois para além da infecção, todaa carga de cuidar dos doentes e dos órfãos recaisobre elas.

76 • Género e Governo Local em Moçambique

Maria Helena Langa do município de Manjacaze vêo sector da educação como uma àrea fundamentale que requer muita atenção por parte de toda acomunidade. “Temos uma preocupação muitoespecial em relação a tudo que concorra para a boaeducação das nossas crianças”. A construção deescolinhas e melhoria das condições de algumasinfra-estruturas educacionais no âmbito dascompetências do município tem sido uma prioridadepara o seu executivo.

A associação que Langa ajudou a criar conta comuma escolinha com três salas de aulas construídascom material convencional e perspectiva construir,num futuro breve, um centro internato para albergarraparigas que se vêem proibidas de estudar devidoa diferentes razões, para além da construção de umabiblioteca, um refeitório e infra-estruturas para apromoção do desporto feminino.

A presidente do Conselho Muncipal de Xai-Xainomeou de forma deliberada uma mulher para chefiara vereação da Educação, porque acredita ser esteum sector onde as mulheres têm mais sensibilidadee dedicação, e a sua administração pauta esta áreacomo prioritária.

A saúde é uma componente fundamental para odesenvolvimento humano, e a saúde e o bem estardas mulheres estão intimamente ligados ao bem estarda família. As mulheres são as principaisconsumidoras dos serviços de cuidados de saúdeprimária por causa do seu papel reprodutivo nasociedade, e o acesso aos serviços de cuidados desaúde primária tem um impacto positivo na vida dasmulheres e das suas famílias. Ao nível local istotraduz-se em clínicas ou postos de saúde dentro deuma distância razoavelmente curta para caminhar,

Cuidados de saúde primária

HIV e SIDA

Page 79: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 77

alocação de terrenos é crucial para garantir que asmulheres sejam consideradas nesses processos.

“As mulheres devem ter direito a aquisição de casae terreno porque isso vai lher garantir algumasegurança e independência para tomar as suaspróprias decisões”, disse uma mulher membro daAM de Cuamba, para quem “ter casa é sinal de podere as mulheres têm de ganhar esse poder para seremefectivamente emancipadas”.

A legislação do governo local define as competênciasmunicipais rodoviárias como incluindo: gestão emanutenção de estradas que fazem parte das redesurbanas e rurais, com excepção das estradas primáriase secundárias; coordenação com a AdmnistraçãoNacional de Estradas (ANE) relativamente a estradasprimárias e secundárias que cruzam a área municipal;financiamento de estradas e infra-estruturas deestradas urbanas conexas; introdução de portagenspara utilização de estradas e infra-estruturas conexasdentro da sua jurisdição; e concessões de exploraçãode estradas sob a sua jurisdição.

E com relação ao transporte a legislação atribuipoderes às autarquias para fornecer e regular o

Os entrevistados ao nível do Município da Beiraforam muito incisivos na questão do HIV e SIDAtendo referido que as mulheres têm muito contributoa dar ao nível do governo local para a mitigação doimpacto do HIV/SIDA em pessoas infectadas,afectadas assim como vulneráveis, com maiordestaque para as Crianças Órfãs e Vulneráveis.

Importa recordar que o Município da Beira, um dosprincipais corredores de desenvolvimento deMoçambique, é também um dos principais pontosde concentração de casos de HIV e SIDA, e oexecutivo municipal e a AM têm destacado esteproblema nas suas discussões.

Um dos pontos que foi destacado pelos entrevistadosnaquele município foi a questão da discriminaçãoque as pessoas vivendo com o HIV e SIDA têmsofrido, principalmente as mulheres, o que leva aque muitas pessoas infectadas não se exponham enem procurem assistência médica temendo seremreconhecidos na comunidade, e por via disso seremdiscriminados. O papel que os membros da AMnesta circunstância é de promover acções de educaçãoe sensibilização das pessoas para a eliminação daestigmatização das pessoas vivendo com o HIV eSIDA ou seus familiares.

Numa sociedade onde historicamente os homenssempre tiveram o direito exclusivo de ter casa eterras, a distribuição igual e justa de terra tem umenorme potencial de mudar as vidas das mulheres.A possibilidade de as mulheres poderem serproprietárias de terras e casa significa que elas nãomais precisarão de ser dependentes dos homenspara a sua acomodação e protecção para si e paraos seus filhos. A participação das mulheres nascomissões responsáveis pela deliberação sobre a

Habitação

Estradas e transportes

Transportes publicos, uma preocupacão constante. Photo: Luis Muianga

Page 80: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

78 • Género e Governo Local em Moçambique

transporte colectivo que funciona exclusivamentedentro de território municipal. As autarquias têmtambém poderes para licenciar o transporte públicourbano de passageiros e carga. Transporte públicoé transporte que não é classificado como privado,i.e. fornece serviços a várias pessoas segundo roteirose horários previamente estabelecidos.

As mulheres são potenciais usuárias das estradas etransportes daí que uma atenção especial deve serprestada nas decisões que se tomam em relação aeste sector. Um transporte regular e eficiente podefacilitar as várias tarefas que as mulheres têm adesenvolver ao longo do dia, nomeadamente chegarmais cedo a casa e ter a oportunidade de prepararas refeições e ter tempo para acompanhar odesenvolvimento dos filhos na escola e repouso.Como referiu Clara Ferrão, a questão do transportetem sido um dos principais constrangimentos paraas mulheres que trabalham, pois uma vez que estenão é eficiente, as mulheres chegam a casa sempretarde e ainda têm que fazer todas as tarefas de casae dormem pouco o que interfere sobremaneira noseu desempenho profissional.

“Nós insistimos muito nesta questão do transporteporque as mulheres sofrem muito. Chegam sempretarde a casa correndo todos os riscos de seremassaltadas no caminho, porque têm que andar à noitefalta de transporte”, disse Ferrão.

A água e saneamento são indiscutivelmente doisserviços básicos indispensáveis em qualquermunicípio. A falta de acesso a água potável e infra-estrutura de saneamento tem efeitos desastrosos nasaúde da comunidade bem como na segurança dasmulheres que são as pessoas que carregam o fardode providenciar água e saneamento para as famílias,

mas que quando esses assuntos são discutidos asmulheres não são consultadas.

Estima-se que apenas 35.7% da população tenhaacesso a água limpa, mas há diferenças significativasentre áreas urbanas, peri-urbanas e rurais (não hádados disponíveis que correlacionem o acesso a águalimpa e saneamento e o sexo do chefe do agregadofamiliar). Pensa-se que 57.7% das famílias urbanase peri-urbanas têm acesso a água limpa, comparadocom apenas 26.4% da população rural. Nas áreasrurais, a maioria das mulheres percorrem até meiahora até chegar à fonte de água mais próxima.A lei-quadro municipal estabelece apenas que asautarquias estão incumbidas do investimento públiconos sistemas municipais de abastecimento de água.No entanto, e em contraste, a legislação específicado sector da água, aprovada no contexto da reformae restruturação política para permitir a delegação dagestão dos sistemas públicos de abastecimento deágua ao sector privado, estabelece a transferência dagestão dos sistemas de abastecimento de água embenefício dos municípios. No entanto, estatransferência de sistemas geridos por particularesainda não teve lugar e os municípios não estão aindaa exercer os poderes correspondentes.

A nível nacional, a responsabilidade pela drenagemdas águas de superfície, incluindo a gestãoadministrativa e financeira dos serviços e amanutenção e funcionamento das infraestruturas,está cometida ao Estado ou às autarquias e pode serdelegada a terceiros. O Decreto 33/06 estabelece atransferência para as autarquias das competênciasrelacionadas com o planeamento e implementaçãode investimentos e a gestão de equipamentos desuporte dos sistemas municipais de drenagem e otratamento de resíduos líquidos urbanos e águas desuperfície. Não obstante este instrumento legal e apolítica implícita de descentralização das funções de

Água e Saneamento

Page 81: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 79

recolha de esgotos para as autarquias, as instituiçõesestatais, nomeadamente o Ministério das ObrasPúblicas e Habitação (MOPH) e as suas direcçõesprovinciais, continuem a intervir directamente naresolução dos problemas do saneamento básicourbano.

Em todos os municípios pesquisados, a questão daágua e saneamento tem sido mencionado combastante recorrência, o que significa que de todosos problemas que afectam os municípios, a questãoda água é o principal constrangemento, e este éfrequentemente mencionado pelas mulheres.

A questão da recolha de resíduo sólidos é umaquestão de saúde ambiental, e mais uma vez, queafecta mais as mulheres devido ao seu papelreprodutivo na sociedade, e por serem as responsáveispelas questões domésticas tais como cozinhar elimpar. A falha no tratamento destas questões desaúde por parte do município pode ser detrimentalpara a saúde de toda a comunidade.

A intervenção de entidades do Estado na área dagestão dos resíduos sólidos é da responsabilidadedo Ministério para a Coordenação da AcçãoAmbiental (MICOA) e é dirigida, entre outrosaspectos, à preparação e publicação de regulamentos,licenciamento de instalações ou locais dearmazenagem ou eliminação de lixos e fiscalizaçãodo cumprimento com os regulamentos.

Em geral, o quadro legal do saneamento básico, eem particular no que se refere à gestão de resíduossólidos urbanos, remete para as autarquias asatribuições e competências relacionadas com aremoção de lixo, limpeza pública e investimentosassociados ao tratamento e eliminação de lixos.

Recolha de lixo

Consequentemente, os municípios são responsáveispela recolha e transporte de resíduos sólidos urbanosnão perigosos, utilizando para tal os meios, métodose processos de recolha apropriados, com base nasnecessidades técnicas de cada situação, de modo agarantir condições de higiene para que não sejampostos em risco a saúde pública e o ambiente.

Em paralelo a questão do abastecimento de água, aquestão do lixo é bastante levantado pelas mulheresnos vários municípios visitados, apelando para queos executivos municipais olhem para estas áreas comparticular atenção. Vários dos intervenientes nasdiscussões de grupos focais nos municípioslevantaram a preocupação com o lixo, e as mulheresmostravam-se mais preocupadas sobre o assunto,pelas razões antes mencionadas.

Os cemitérios têm uma função muito importantenas comunidades. Mas por causa da extrema pobreza,familas existem que não conseguem comprar umcaixão para enterrar os seus entes queridos, chegandoa abandoná-los nas morgues. Existe um grande riscode saúde quando os corpos são abandonados nasmorgues por muito tempo, o que muitas vezes forçaos serviços de saúde a enterrar os corpos em valascomuns. Os membros das AM têm que liderar comessas preocupações reais. Como mencionamosanteriormente, vários membros das AM sãoabordados pelos seus constituintes para pedir ajudapara a aquisição de caixões ou outras despesasinerentes a realização dos funenrais.

De acordo com o quadro legal, o planeamento,investimento e gestão de cemitérios públicos é umacompetência municipal básica. Neste contexto, osepultamento de defuntos só é permitido emcemitérios constituídos e autorizados pela autarquia.

Cemitérios e crematórios

Page 82: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

80 • Género e Governo Local em Moçambique

“O problema do comércio informal é sério e chegaa colocar a vida das mulheres em risco porque muitasvendem mesmo nas bermas da estrada e qualqueracidente por perto pode ser fatal”, disseRabeca Matane da Cidade de Maputo.

Para além das competências acima descritas,relacionadas com os mercados formais, os municípiostêm vindo a efectuar o licenciamento e inspecçãode actividades comerciais praticadas em bancas derua e por vendedores ambulantes. Essas competênciasestão designadas para serem formalmente transferidaspara os municípios, de acordo com o Decreto 33/06.

Este capítulo destaca alguns dos desafios enfrentadospelas mulheres para exercer as funções de legisladorese fiscalizadores, e até implementar algumas acçõesao nível das comunidades onde residem ou estãoadstritas. Os exemplos neste capítulo ilustram comoas mulheres membros das AM têm feito as suasintervenções nas várias áreas de interesse dacomunidade, desde a educação, saúde, habitação atéos mercados.Muitas das intervenções espelhadasneste capítulo são intervenções de carácter práticodas mulheres, que respondem às necessidades reaise práticas do dia a dia. Embora isto seja importante,estas intervenções não abordam as causas damarginalização das mulheres na comunidade e porisso não alteram o estatuto das mulheres. O que osmunicípios precisam começar a reflectir é sobrecomo sair das intervenções práticas para intervençõesmais estratégicas que têm uma possibilidade real detransformar as vidas das mulheres comuns.

Para além de garantir que os cemitérios municipaisobedeçam a padrões estabelecidos em termos desaúde pública e segurança, não há uma base concretade intervenção por parte de entidades do Estado, anível central ou local, na organização e funcionamentodos cemitérios locais.

As mulheres, que são as que cuidam das famílias,inclusive nos momentos de mortes, precisam deserem encorajadas a levar os corpos dos seus entequeridos às morgues ou providenciar os entenrosdentro de curto espaço de tempo para evitar osriscos de saúde que podem advir da manutençãodos defuntos nas residências.

Com o alto nível de desemprego entre as mulheres,os mercados informais tem um potencial de atrairmais as mulheres. As mulheres seriam melhorempoderadas através da disponibilização de espaçosorganizados, l impos e seguros para elasdesenvolverem as suas actividades comerciais.

Uma das principais competências dos municípiosem matéria de infra-estruturas, é o investimentopúblico em mercados e feiras. Esta competênciacabe exclusivamente às autarquias e não é partilhadacom qualquer outra entidade pública. A maioria dosregulamentos relativos a mercados consta, ou deveconstar, de posturas municipais. As autarquiasconstroem e são responsáveis pela manutenção efuncionamento dos mercados, geralmenterecuperando os custos de funcionamento através detaxas pagas pelos vendedores, com base em tarifasaprovadas a nível local.

Mercados Conclusões

Page 83: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

DO PRÁTICO PARA OESTRATÉGICO

7Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 81

Como foi abordado nos capítulos anteriores, a pesquisaencontrou muitos exemplos de intervenções práticas que

os membros das AM estão a fazer e que estão a ter impacto nasnecessidades práticas das mulheres na comunidade mas nãonecessidades estratégicas.

Q uestões conceptuais

Tarefas variadas, pontos fortes da mulher. Photo: Luis Muianga

Page 84: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

82 • Género e Governo Local em Moçambique

Moser (1993:39-40) descreve as necessidades práticase estratégicas como:

As necessidade práticas do género são asnecessidades que as mulheres identificam nos seuspapéis socialmente aceites na sociedade. Asnecessidades práticas não desafiam a divisão dotrabalho por género ou a posição de subordinaçãodas mulheres na sociedade, embora surjam delas.As necessidades práticas do género são uma respostaa uma necessidade imediata percebida, identificadadentro de um contexto específico. Elas são práticasna sua natureza e muitas vezes preocupadas com ascondições de vida impróprias, tais comofornecimento de água, cuidados sanitários e emprego.Assim, por exemplo, quando as mulheres pobresrecebem empréstimos e preferem máquinas decostura a comprar terra e começar um negócioagrícola, esta opção satisfaz uma necessidade práticaimediata de gerar rendimentos dentro de um espaçoseguro. Mas isto não desafia o status quo ou começaa bordar as necesidades estratégicas das mulherespara começarem a partilhar o controlo sobre osrecursos económicos que tradicionalmente têm

estado nas mãos dos homens, recursos esses quesão a base da criação da grande riqueza.

As necessidades estratégicas de género são asnecessidades que as mulheres identificam por causada sua posição de subordinação em relação aoshomens na sociedade. As necessidades estratégicasdo género variam de acordo com contextosespecíficos. Elas estão relacionadas com a divisãodo trabalho por género, poder e controlo e podemincluir assuntos como direitos legais, violênciadoméstica, salários iguais e controlo sobre os seuscorpos. Satisfazer as necessidades estratégicas degénero ajuda as mulheres a alcançar maior igualdade.Muda também os papéis existentes e portanto desafiaa posição de subordinação das mulheres.

É importante entender o termo género de modo aentender as diferentes necessidades e como elaspodem ser abordadas. Os membros das AM emMoçambique mostraram baixo entendimento dosignificado de género comparado aos membros dasAM nos quatro paises estudos de caso (Lesotho,Maurícias, Namíbia e África do Sul).

Como é que os membros das AM entendem o termo género

Os membros das AM foram solicitados a escolher qual dasquatro definições de género achavam ser a mais correcta:mulheres lutando pelos seus direitos; diferenças socialmenteconstruídas entre mulheres e homens; e mulheres assumindoo poder.

Na generalidade, metade dos entrevistados escolheram adefinição de género convencionalmente aceite (diferenças

socialmente construídas entre mulheres e homens) mas mais homens (58%) que mulheres (34%) escolherama resposta correcta. A segunda resposta mais comum foi “mulheres assumindo o poder” com mais mulheres(32%) que homens (23%) que escolheram esta como o significado de género.

80%70%60%50%40%30%20%10%0%

34.0

57.7

26.0

15.4

8.0 3.9

MulheresHomens

As mulheresassumem o

poder

As mulhereslutam pelosseus direitos

Diferençassocialmenteconstruídas

Mulheres

32.023.1

Page 85: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 83

Existem várias abordagens diferentes do génerodentro do trabalho de qualquer organização. Essasabordagens variam desde o esquecimento àenfatização do papel das mulheres para abordagensmais conscientes do género que colocam ênfase querno empoderamento das mulheres assim como namudança de attitudes dos homens.

Na abordagem da cegueira do género, todos os sereshumanos são vistos como iguais. Esta abordagem,de longe a mais comum, decreta que existe umconjunto de leis e normas universais que deveriamditar a forma como a sociedade é organizada. Aabordagem ignora o facto de que o campo de jogonão está nivelado para as mulheres, especialmentepara certas categorias de mulheres. Na África do Sule Namíbia, o mesmo argumento pode ser utilizadopara a questão da raça. A não ser que essasdiscrepâncias sejam reconhecidas e incluídas naspolíticas e programas, o legado histórico continuama ser perpetuado com poucas mudanças.

A abordagem específica às mulheres vê as mulherescomo uma categoria especial, necessitando de umtratamento especial de modo a ganhar igualdadecom os homens.

Abordagens do género

Estes dados estão muito abaixo do constatado no estudo original At the Coalface que revelou que ageneralidade de 76% de todos os membros das AM escolheu as diferenças socialmente construídas entremulheres e homens, também com mais homens (79%) que mulheres (73%) a escolheram a resposta correcta.

Existem duas variantes para esta aordagem:• A abordagem do bem estar vê as mulheres como

uma categoria isolada que precisa de umacontribuição física - comida, intervenções defertilidade (tais como controlo de natalidade) etc.Essas necessidades estão relacionadas com ospapéis de género construídas das mulheres e o seuestatuto inferior na sociedade. As mulheres sãoconsideradas como dependentes dos seus parceirosmasculinos ou membros da família ou do Estado.Esta abordagem não olha para o desmantelamentodo sistema que oprime as mulheres. Se estaabordagem fôr assumida isoladamente vai piorara falta de empoderamento das mulheres a longoprazo, uma vez que ela ignora as suas capacidadesintelectuais e culturais, as suas criatividadesindividuais e senso de responsabilidade.

Cegueira do género

Específico às mulheres

As mulheres também podem. Photo: Eduardo Namburete

Page 86: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

relações entre eles; como é que as sociedades estãoestruturadas em termos de género, e o impactodessas relações sobre toda a sociedade. Ela exploraa subordinação das mulheres e homens, e analisacomo é que esta relação tem impacto sobre todosos aspecto da vida e da sociedade. A abordagemreconhece as diferenças em termos de contexto,ambiente económico e político. Uma perpectiva dogénero que está preocupada com o garantir umaanáise do género com relação às políticas, programas,estratégias de planificação e avaliação. Ela olhafundamentalmente na transformação das relaçõesde poder desigual e mudança da sociedade (2005:10).

Em Beyond Numbers (Para além dos Números) Meintjeescreve:

Incorporar género pode simplesmente significarintegrar as mulheres no topo sem confrontar asquestões fundamentais da igualdade do género.A vontade política dentro dos partidos políticosdeve ser encorajada pelas políticos feministas quepor seu turno devem, ao mesmo tempo, prestar

contas e serem apoiadas pelos lobbiesda sociedade civil. A agenda datransformação de um grupo depolíticos feministas é o que asseguraque as políticas e legislação ultrapassaa simples presença de uma massacrítica de mulheres. O perigo é queesses políticos feministas não ficampara sempre. O factor importanteparece ser a relação entre osparlamentares e os movimentosfemininos e ONGs comprometidoscom a transformação do género. Istoexige um compromisso de garantirque as organizações de mulherescontinuam a trabalhar juntas. Odesafio é assegurar que isso aconteça.(2005:236)

84 • Género e Governo Local em Moçambique

• A abordagem de igualdade de oportunidades coloca oenfoque na criação de oportunidades para asmulheres entrarem nas esferas da autoridade, podere controle. Justiça e equidade são vistos apenascomo catalizadores com os quais se entra nodomínio masculino sem necessariamente mudaro status quo em termos de relação de poder, idéiase valores dominantes. Esta abordagem quer asmulheres engajadas nas actividades masculinasnum mundo masculino. A abordagem vai maispelos números - meter as mulheres - sem muitapreocupação com o que acontece depois. Assumetambém que as mulheres, pela virtude do seu sexo,estão conscientes do género ou queautomaticamente vão representar os interesses dasmulheres. A transformação do género é assumidaem como vai acontecer “quando as mulheresentrarem na Fortaleza do poder” (2005:9).

A abordagem da consciência do género não olhapara as mulheres e homens isoladamente, mas nas

Consciência do género

Depois do trabalho, é momento de celebrar. Photo: Eduardo Namburete

Page 87: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 85

Os imprevistos na incorporação do género temlevado a que alguns activistas do género peçam quese repense esta abordagem. Argumenta-se queprestando-se um serviço marginal à incorporaçãodo género, os governos têm efectivamente asseguradoque o género esteja em todo o lado e em lugarnenhum.

Uma consequência dolorosa da incorporação dogénero para as ONGs ligadas ao género é que asagencias financiadoras estão dando menos dinheiroa essas ONGs a favor da “incorporação” do génerono trabalho de todas as ONGs. Os planos nacionaise estratégicos para assegurar que os departamentosassumem a responsabilidade pelo género são muitasvezes citados pelos governos como evidência deque o género tem estado a “ser tratado”.

Porém, a rota alternativa, de alocar o género dentrode estruturas específicas como ministérios da mulher,com pequenas alocações orçamentais e poucainfluência sobre os outros ministérios, tem feito comque o género seja marginalizado. Cientes doscriticismos da incorporação do género, mas naausência de uma alternativa credível, este estudoassume o ponto de vista de que ao nível local e todosos outros níveis, todas as estruturas na sociedadedevem se esforçar para garantir que o género sejaintegrado no seu trabalho. O estudo avalia destaforma até que ponto a incorporação do género estaa ter lugar no governo local contra um conjunto deparâmetros que cobre um amplo espectro do trabalhono governo local.

Em teoria, se existisse verdadeiramente incorporaçãodo género numa organização, não haveria necessidade

de uma política específica de género. Porém, até queisso aconteça, é importante que todas asorganizações tenham uma política de género.

As políticas de género devem ser informadas pordocumentos tais como a Constituição, a Convençãopara a Eliminação de Todas as Formas deDiscriminação contra as Mulheres (CEDAW) e aDeclaração da Comunidade de Desenvolvimentoda África Austral (SADC) sobre Género eDesenvolvimento. O primeiro teste de quão efectivoé ter uma política de género específica na conduçãoda incorporação do género, é se o género faz parteda missão, visão, código de ética, princípiosorientadores ou quasquer outros documentos quedefinem e guia uma organização.

Numa esfera de governação como o governo local,as instituições incluem dirigentes eleitos e nomeados.Os eleitos constituem a estrutura de governação. Onível em que esta estrutura apresenta o equilíbrio esensibilidade do género é uma medida óbvia deincorporação do género.

Ao nível administrativo, a incorporação do génerorefere-se a uma gama de medidas administrativasque precisam de ser tomadas para garantir que aspolíticas de recrutamento e promoção nãodiscriminam as mulheres, indirectamente oudirectamente; a criação de um ambiente de trabalhoque é amigável a família e livre de assédio sexual;bem como a reorientação da cultura de umainstituição - a sua linguagem e práticas - para umaque encoraja o melhor em ambos homens e mulheres.

Uma efectiva incorporação começa com o nível emque as considerações de género são integradas na

Lista de verificação do género para ogoverno local

Quadro para política do género

Transformação institucional

Planificação

Page 88: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

do género deve ser partilhada por todos, eespecialmente conduzida a partir do nível superiorde gestão, enquanto se assegura que aresponsabilidade específica e especialidade sãorevestidos numa Unidade do Género (UG) ou(em organizações pequenas) um Ponto Focal doGénero (PFG) empoderado para exercer funçõestransversais.

• Monitoria e avaliação: A única maneira de mediro impacto do género das políticas, leis efornecimento de serviços é ter indicadores degénero como parte de um sistema de monitoria eavaliação. Esses por sua vez podem apenas sersignificativos se a organização manter estatísticasregulares, correctas e actualizadas desagregadaspor género. Essas estatísticas devem ir para alémde quantos homens e mulheres estão empregadaspela organização (geralmente a estatística maisdisponível em qualquer organização) para dadosdesagregados por género para beneficiários.

• Orçamentação do género: Outra medida útil naincorporação do género é a alocação de recursos.A estatística relacionada com género mais fácil dese identificar em qualquer orçamento são osrecursos alocados especificamente direccionadosaos projectos de mulheres. Entretanto, tais recursosgeralmente constituem apenas uma pequena porçãodo orçamento geral (muitas vezes não mais quecinco porcento). O mais revelador é o nível emque as mulheres beneficiam de igual dos recursosalocados para os projectos de incorporação e onível em que esses projectos ajudam a corrigir osdesequilíbrios de género, por exemplo através dapromoção do acesso das mulheres às àreas detrabalho não tradicionais para as mulheres. Aorçamentação do género refere-se não apenas asdespesas inscritas para as mulheres, mas tambéma uma análise de todo o orçamento sob ponto devista do género.

86 • Género e Governo Local em Moçambique

planificação e nos processos de consultas que temlugar durante a planificação. As políticas de géneroque não estejam ligadas aos principais instrumentosde planificação, sejam quais forem em cada país, sãomenos prováveis de serem levadas a sério no trabalhoda organização.

O teste mais importante da incorporação do géneroé o nível em que a consciência do género é reflectidonos produtos da organização. Ao nível programáticoisto é reflectido na selecção das áreas do programa.Porque as mulheres tem sido historicamenteprejudicados, uma abordagem é garantir que asnecessidades específicas das mulheres sejamabordadas através de programas que tem como alvoespecífico as mulheres. Porém, isto não deve serfeito em prejuízo da garantia de que as mulheresbeneficiem igualmente dos projectos existentes, oubeneficiem mais, como forma de corrigir asdesigualdades existentes.

Em todo o mundo, as organizações tem achadonecessário instituir o que o Secretariado daCommonwealth chama de Sistema de Gestão doGénero (GMS) para garantir que a incorporação dogénero tome lugar. Isto consiste em:

• Estruturas: Os mecanismos institucionais sãofundamentais para garantir que a incorporação dogénero ocorra. Deve-se tomar cuidado paraassegurar que essas estruturas não sãomarginalizadas, e que elas não sejam consideradascomo apenas de interesse dos recursos humanosou assuntos institucionais internos, mas seextendam para os sectores de formulação depolíticas, planificação e implementação dainstituição. A responsabilidade pela incorporação

Programas e projectos

Sistema de gestão do género

Page 89: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Género e Governo Local em Moçambique • 87

Políticas e estratégias

De entre os instrumentos internacionais e regionais,existe apenas um que se pode encontrar nestapesquisa que tem uma relevância para o governolocal. É a Declara o Mundial sobre asMulheres no Governo Local da UniãoInternacional do Governo Local (IULA) que afirmaque:

As mulheres têm direito a acesso igual aos serviçosdo governo local, bem como o direito de seremtratadas de igual nesses serviços e serem capazes deinfluenciar a iniciação, desenvolvimento, gestão emonitoria dos serviços. O fornecimento de serviçostais como educação, segurança social e outros serviçossociais pelo governo local deviam procurar ver asmulheres e os homens igualmente responsáveis pelosassuntos relacionados com a família e a vida pública,e evitar perpetuar os esteriotipos das mulheres ehomens.

As mulheres e homens têm direito igual às condiçõesde vida ambientais melhores, habitação, distribuiçãode água e infra-estrutura sanitária, bem comotransporte público acessível. As necessidades econdições de vida das mulheres devem ser dadosvisibilidade e tomados em conta em todos osmomentos da planificação.

As mulheres têm direito a igual acesso ao territórioe espaço geográfico do governo local, desde o direitode ter propriedade de terra, ao direito de semovimentar livremente e sem medo nos espaçospúblicos e nos transportes públicos.

O governo local tem um papel a jogar na garantiados direitos reprodutivos das mulheres e dos direitosdas mulheres a serem livres da violência domésticae outras formas de violência e abuso físico,psicológico e sexual.

Em toda a África Austral, o termo “incorporaçãodo género” é relativamente novo. Enquanto que oconceito tem sido levantado regularmente noscírculos de desenvolvimento ao nível nacional,existem poucas políticas ou instrumentos queabordam directamente o assunto ao nível local. Estasecção analisa o quadro de política no qual aincorporação do género toma lugar através da revisãodos instrumentos que existem ao nível internacional,regional e nacional que se referem directamente aincorporação do género ao nível local.

Legislação internacional e regional• Criação da capacidade: Enquanto o PFG e a UGprecisam de ter habilidades de análise de géneroprofundos, é importante que todos os membrosda organização tenham a habil idade econhecimentos para identificar, reconhecer eabordar questões de género no seu trabalho e nolocal de trabalho. O mais ideal é que tais formaçõesnão deveriam acontecer apenas uma vez, deveriamfazer parte da agenda geral de transformação daorganização.

IGUA

LDADE DO GÉNERO ATÉ

2015

S IM

N Ó S P O D E M OS!

Page 90: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

88 • Género e Governo Local em Moçambique

observância da diversidade cultural que caracterizaa sociedade moçambicana. Assenta também na lutapela eliminação de preconceitos e práticas que estejambaseadas na idéia de superioridade ou inferioridadede qualquer dos sexos, ou funções esteriotipadas dehomens e mulheres impedindo o desenvolvimentoe a adopção de uma abordagem integral do génerocomo uma categoria de análise, planificação eavaliação das questões de desenvolvimento.

A política de género aprovada pelo governo não fazmenção específica ao governo local, mas a Estratégiade implementação menciona, no domínio político,a garantia do gozo de oportunidades iguais entre homens emulheres, a participação e acesso aos órgãos decisórios,contribuindo para a elevação do estatuto da mulher. Ogoverno se propõe a incentivar uma maiorparticipação das mulheres na política e acesso àposições de influência na sociedade. Propõe-setambém a desenvolver uma política sensível aogénero que visa garantir a introdução da perspectivado género na concepção e análise de políticas e, emprogramas de desenvolvimento sustentável querespondam às necessidades e esforços de homense mulheres em todos os sectores de actividade.

O Protocolo da SADC sobre G nero eDesenvolvimento recentemente adoptado nãofaz referência específica ao governo local mas contémartigos de relevância directa para as mulheres aonível comunitário, tais como sobre saúde, educação,recursos produtivos, emprego e violência baseadano género. A popularização do Protocolo está sendofeita nas Maurícias e está a provar ser uma ferramentaefectiva para elevar a consciência sobre os assuntosdo género e informar as mulheres ao nívelcomunitário, que no passado foram excluídas dessesprocessos, sobre quais são os seus direitos eprevilégios.

O Governo de Moçambique aprovou em 2006 aPolít ica de Género e Estratégia da suaImplementação, com o objectivo de desenvolver deforma integrada as principais linhas de actuação,visando a promoção da igualdade de género, orespeito pelos direitos humanos e o fortalecimentoda participação da mulher no desenvolvimento dopaís.

O documento, aprovado pelo Conselho de Ministros,na sua V Sessão de Março de 2006, explicita que nodomínio político pretende-se garantir o gozo deoportunidades iguais entre homens e mulheres, aparticipação e o acesso aos órgãos decisórios,contribuindo para a elevação do estatuto da mulher.

A política do género assenta na aplicação da justiçasocial como garante do gozo das liberdadesfundamentais do homen e da mulher, semdiscriminação, focalizando o equilíbrio do géneroem todos os extractos da sociedade moçambicana;no reconhecimento e respeito dos direitos humanose no facto de que a equidade entre homem e mulherdeve conduzir a acções específicas de melhoramentodo estatuto de género a todos os níveis, com

Estratégia do género ao nível nacional

Activistas do género traçando estratégia. Photo: Eduardo Namburete

Page 91: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

de primeira linha, para o Municipio, na base doreconhecimento dos direitos socias como dimensãofundamental da cidadania contemporênea.

O Município, refere o documento, prosseguirá oseu empenho numa política social multifacetada,que promova a igualidade de oportunidades, evalorize o papel da família como estrutura básica dasociedade; que promova a inclusão das pessoas maisvulneráveis, nomeadamente as crianças, as mulherese os idosos.

“O Município promoverá acções que visam melhoraras questões do género e potenciar a todos para umamelhor qualidade de vida”, lê-se no Plano Estratégicodo Município de Manjacaze (pág.5).

Em termos de projecções, com a finalidade deassegurar a viabilização da questão de género, oPlano Estratégico preconiza o “desenvolvimento deuma rede social, ao nível local, assim como amobilização da comunidade, para o combate dasdiversas formas de exclusão social (...). Oestabelecimento de parcerias, efectivas e dinâmicas,de modo a garantir uma maior eficácia nas respostassociais, abrindo portas a novas formas de luta contraa exclusão social (...)”.

O Município de Manjacaze prevê, ainda, dentreoutras, (1) promover acções que visem melhorar asquestões de género, para o resgate da auto-estimadas mulheres, em coordenação com todos osparceiros; (2) sensibilizar para uma maior participaçãoda rapariga, nas escolas, bem como promovercampanhas de alfabetização da mulher; (3) promoverprogramas que visem uma maior participação damulher, em lugares de tomada de decisão e; (4)providenciar o apoio às mulheres vítimas da violênciadoméstica, sobretudo, a sua reinserção social, alémde sensibilizar a sociedade para os problemasdecorrentes da violência doméstica.

Género e Governo Local em Moçambique • 89

Políticas de género e incorporação ao níveldos municípios

Existem sinais claros e evidentes do esforço que oGoverno de Moçambique desenvolve no sentido deabordar as questões do género de forma maissistemática e estratégica, porém, a fraca popularizaçãodeste instrumento faz com que poucos membrosdas AM tenham conhecimento do mesmo.

Ao nível dos municípios o género não é tratado deforma sistemática, havendo apenas menções semprerelacionadas a outras abordagens. Mas algunsmunicípios já iniciaram um movimento no sentidode desenharem políticas e estratégias do género, ouimplementar a política e estratégias do géneronacionais.

O Município de Manjacaze é um exemplo dessesmunicípios que embarcaram neste movimento.Embora não tenha desenvolvido uma política degénero específica, o género consta como uma dasáreas prioritárias das Linhas Estratégicas deDesenvolvimento (LED) definidas, nomeadamente:(1) vencer o desafio do desenvolvimento; (2) umnovo paradigma do Municipio - afirmar o município;(3) promover a qualidade de vida e o desenvolvimentosustentável; (4) desenvolver a coesão e a justicasocial; (5) potenciar a competitividade. É, portanto,na IV LDE que está preconizado o que o Municípioda Vila de Manjacaze vai fazer durante o mandato(2009-2013) sobre o género.

De maneira geral, num documento de 29 páginas,o Município de Manjacaze propõe-se, no seu PlanoEstratégico, a promover a mulher e a justiça social,bem como a valorizar as questões de género ecidadania.

De acordo com o Plano Estratégico, a promoçãoda inclusão social continuará a ser uma prioridade

Page 92: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

90 • Género e Governo Local em Moçambique

não existe um sistema de gestão do género paragarantir que o género esteja a ser efectivamenteconsiderado em todas as actividades que sãodesenvolvidas, e se não existe monitoria e avaliação,então a probabilidade de o género não ser tratadoé maior.

Um aspecto encorajador é que o país tem umapolítica do género e estratégia para a suaimplementação, com indicadores e metas. O que serequer é que esses instrumentos sejam popularisadosao nível local, acompanhado de formação sobre ogénero e capacitar os membros das AM paraabordarem a questão do género de forma maiscompreensiva e sistemática.

Este capítulo começa por definir alguns conceitose abordagens chave do género para tratar a questãodo género, incluindo o sistema de gestão do género.A pesquisa mostra que as políticas e programas degénero não existem de forma sistemática nosmunicípios em Moçambique. Enquanto o governoelaborou uma política de género e estratégia da suaimplementação, esta ainda não é de conhecimentode todos os membros das AM, aqueles querepresentam o povo ao nível local.

As evidências mostram que a incorporação do géneronão ocorre por si só. Se não existem políticas formaise programas, a questão do género é tratada de formaexporádica e de forma ad hoc, se é que é tratada. Se

Conclusões

Page 93: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

CONCLUSÕES ERECOMENDAÇÕES

8

Olhando para o futuro com esperança. Photo: Trevor Davies

Género eGoverno Local

Género e Governo Local em Moçambique • 91

s capítulos anteriores detalham as constatações deste estudo, que sãoresumidas a seguir:

As mulheres estão sub-representadas em todas as áreas do governo local: EmboraMoçambique esteja acima da média regional de 23.5% de representação feminina

OPrincipais constatações

Page 94: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

ao nível do governo local, as mulheres continuammuito abaixo dos homens, com 35.5% no governolocal, colocando o país em quarto lugar, abaixo deLesotho, Namíbia e África do Sul. Estão ainda menosrepresentadas como presidentes de municípios, comomembros e presidentes das comissões.

O sistema eleitoral tem efeitos positivos nasmulheres: Moçambique adopta o sistema derepresentação proporcional (RP), que tem sidoamplamente reconhecido como sendo mais abertopara a participação das mulheres, uma vez que oseleitores votam nas listas dos partidos e não nosindivíduos, como acontece nos sistemas First Pastthe Post (FPTP). Por deliberação dos partidos, asmulheres podem ser colocadas em lugares elegíveisnas listas de candidatura e a probabilidade de elasserem eleitas é maior.

Os partidos políticos têm um papel importante:Sendo os guardiões da entrada das mulheres napolítica, os partidos políticos jogam um papel muitoimportante na participação das mulheres. Como foiobservado anteriormente, a maioria dos partidospolíticos, e todos os que estão representados noparlamento destacam a questão do género nos seusmanifestos, e têm estruturas específicas das mulheres

92 • Género e Governo Local em Moçambique

nos seus estatutos. Os partidos políticos têmdemonstrado esforços no sentido de assegurar apresença das mulheres nos órgãos de decisão a todosos níveis.

As quotas ajudam: Moçambique não tem o sistemade quotas legislado, mas os partidos políticosassumiram voluntariamente estabelecer quotas paraas mulheres, o que certamente tem contribuido paraos elevados índices de representação ao nível dosórgãos eleitos. O estudo constatou que a maioriados membros das AM, mulheres e homens, acreditamque as quotas são importantes para a elevação darepresentação de mulheres no governo local. Porém,alguns insistiam que as quotas deveriam seracompanhadas por um processo de formação ecapacitação das mulheres membros das AM, paraque elas possam participar de forma efectiva.

Cultura e socialização: A maior parte das mulheresidentificaram a cultura e socialização como a suamaior barreira para o acesso e participação na políticalocal. As barreiras culturais mencionadas referem-se às crenças de que as mulheres devem se ocupardos deveres de cuidar da família, filhos e maridos,e que a responsabilidade de trabalhar e prover osustento da família bem como participar da vidapública/política é dos homens.

A Educação limita a participação: O grau deinstrução não é requisito para a entrada na políticaou no governo local, mas é uma limitante para aparticipação efectiva de muitas mulheres. 20% dasmulheres membros das AM indicaram que a fracaescolarização tem sido a sua segunda maior barreirapara a sua participação efectiva no governo local.Sabendo que os instrumentos de trabalho, e todo oprocesso legis lat ivo em Moçambique éfundamentalmente conduzido na língua portuguesae que requer a leitura de documentos, a falta deabilidades para a leitura constitui uma desvantagem.Photo: Trevor Davies

Page 95: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

fez parte deste estudo tem uma política do género.Embora haja uma política nacional do género eestratégia da sua implementação, ao nível local esteinstrumento não está popularizado, e é muito poucoconhecido.

As principais recomendações que emergiram desteestudo são as seguintes:

Aprendendendo dos outros países da SADC:Moçambique é membro da SADC e signatário doProtoco lo da SADC sobre Género eDesenvolvimento, recentemente adoptado pelosChefes de Estado. Este protocolo requer umarepresentação de 50 porcento de mulheres em todosas posições de tomada de decisão até 2015. Oprotocolo propõe também o uso de medidas deacção afirmativa para se alcançar esta meta.Moçambique tem dado passos significativos nestadirecção, mas poderia avançar mais no sentido depassar da actual situação em que as quotas sãovoluntárias para uma situação em que as quotas paraas mulheres são legisladas.

Popularizar o Protocolo da SADC: O protocolo daSADC sobre Género e Desenvolvimento tem opotencial de fazer mudanças significativas nas vidasdas mulheres, através da abordagem das questõesque continuam a marginalizá-las nas suascomunidades. O governo local é o lugar apropriadopara começar a popularizar o protocolo para que asmulheres tomem consciência dos instrumentos queexistem para proteger os seus direitos.

Desenvolver e implementar uma estratégia de géneropara o governo local e políticas de género ao níveldas AM: Devia-se desenvolver uma estratégia degénero para o governo local a partir da Política

Recomendações

Género e Governo Local em Moçambique • 93

Mas os números fazem a diferença: Uma questãorecorrente nas entrevistas e nas discussões dos gruposfocais foi de que enquanto as mulheres forem poucasnos órgãos de decisão, o seu impacto continuará aser muito pouco. Os membros das AM indicaramque é difícil para as mulheres mudarem as instituiçõese as políticas quando elas continuam uma minoria.

As barreiras podem ser superadas: Ao mesmotempo que existem barreiras que as mulheres devemsuperar, muitos membros das AM entrevistadasdestacaram alguns factores que lhes têm possibilitadosuperar as barreiras e serem mais efectivas. Essesincluíam: experiência, enraizamento (exposiçãopolítica e no trabalho), apoio da família, colegas,organizações da sociedade civil) e a capacitação.

Os homens podem ser mobilizados: Nenhum doshomens membros das AM assumiu abertamenteuma resistência à participação das mulheres nas AM.Pelo contrário, no geral todos os homensentrevistados, quer membros das AM assim comoas pessoas da sociedade civil que participaram nasdiscussões dos grupos focais, mostraram-se abertospara a participação das mulheres no governo local.O que é necessário é mobilizá-los e trazê-los a mesapara que eles possam passar do simplesencorajamento para um apoio às mulheres maisconcertado.

As necessidades estão a ser abordadas apenas aonível prático: Muito do que tem sido feito ao nívellocal é tratar das questões práticas das mulheres.Embora isto seja importante, porque trata dasquestões básicas e fundamentais, há a necessidadede se abordar as questões das mulheres de umaforma mais estratégica que possa trazer ganhos paraas mulheres a longo prazo.

Não existem estratégias para abordar as questõesdo género ao nível local: Nenhum município que

Page 96: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

comunidade os entende e os avalia. É importantetambém que a comunidade seja educada sobre aimportância da participação das mulheres no governolocal, e a importância de apoiá-las durante as eleiçõese depois de serem eleitas.

Mecanismos de apoio: É importante que seestabeleçam alguns mecanismos de apoio às mulheresque estão a entrar pela primeira vez na política. Fazero acompanhamento dos novos membros das AMpelos membros mais experientes pode ajudar a queo processo de aprendizagem seja mais fácil e maisrápido, isto beneficiaria a própria AM porque osnovos membros estaria enquadrados e mais eficientesem pouco tempo. Uma formação específica para osnovos membros das AM poderia ajudar a entenderos procedimentos e o funcionamento das instituiçõesrelevantes para o governo local. Para as mulheresem particular, o desenvolvimento de um directóriode pessoas e instituições que podem procurar parareceber apoio sobre assuntos de mulheres, seriamuito útil.

94 • Género e Governo Local em Moçambique

Nacional de Género, e descer para o desenvolvimentode políticas ao nível das AM.

Incorporação do género e planos de acção: Umavez desenvolvido uma política e estratégia de géneropara os governos locais, os membros das AM devemser formados sobre como incorporar o género paraque eles possam desenvolver os seus próprios planosde acção de como vão abordar as questões do géneroem todo o seu trabalho.

As comunidades devem ser educadas: A educaçãocívica sobre o papel dos membros das AM serábenéfica para ambos os membros das AM e ascomunidades. Para os membros da comunidade serábom para que eles fiquem a conhecer quais são asresponsabilidades dos membros das AM, e em quêeles devem ser cobrados explicações. E para osmembros das AM será útil no sentido de que pelomenos as expectactivas irealistas que os membrosda comunidade têm em relação aos membros dasAM irão reduzir e não terão efeitos sobre como a

Page 97: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

LISTA DOS ENTREVISTADOSAnexo A

Género e Governo Local em Moçambique • 95

MondlaneMuhateBuleMutombeneL.MazineLangaMuchayaMoyoneMhabetseMavingoSilueNonhifereKhauBontoAsomeMlanzeManifuileCochavaSilveMachawaAnaneMacuacupTchaifurJealoveliMahommedMatanaBenitoMuchangaSitoiSouzaFererãoMachaieieSaicaKiagemJoromeBancelMoimongoLenuzSeluederMaichangegeMaeraMachavaLampaiesPanelForgeNcwilakeAbdalaMadebaSebastianoFernandoPedroPalstoaeNaulaMaunoHamelaMuacuveiaMiguelMavihaGimnoFemareDanielFimasLoganMarcelimoWiriamuNicaiaMalungaPedroMtambarilaMuthembalicaMicaiaSerafimComacoma

GazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGazaGaza

MaputoMaputoMaputoMaputoMaputoMaputoMaputoMaputoSofalaSofalaSofalaSofalaSofalaSofalaSofalaSofala

NampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampula

NiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassaNiassa

Luis DimesDavid jaimeSimãoOfelia TimoteoGracyRegime JudasMLauraGloriaMante FloraMilagosaAlcime JoseCelana GaideEmmando LoverMarie CarlosAbdulGasfar AllentoAldaIsabelLoila AlbindoOfelesFransciscoAdaoJoas AdiomoLidiaBuanarRebecaRitaXavierEvelina AntonioAna MargaridaClara PaulaAlbertoIsabelCatrina MafzeHelene BateFelipeTadeuJosé MonteiroRaimundoIldaFernandoAntónioM.NatáliaLúciaEufrásia RosaTecha ChadeimbaMaria TeresaMarianaFaustinoJoseAdelinoMadalena FranciscoAna IreneAnita AlfredoLúciaAna MariaHortêncio JaimeFernandoChristinaElisaRosalinaVerónicaCatarinaBonifácioZamalade ChaiboMargaridaAdeline RosaFlorida HLúciaArmandoRachideJaime Jona

ManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeManjacazeXai -XaiXai -XaiXai -XaiXai -XaiXai -XaiXai -XaiXai -XaiChibutoChibutoChibutoChibutoChibutoChibutoChibutoChibuto

C. MaputoC. MaputoC. MaputoC. MaputoC. MaputoC. MaputoC. MaputoC. Maputo

BeiraBeiraBeiraBeiraBeiraBeiraBeiraBeira

NampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaNampulaCuambaCuambaCuambaCuambaCuambaCuambaCuambaCuambaMarrupaMarrupaMarrupaMarrupaMarrupaMarrupaMarrupaMarrupa

MetangulaMetangulaMetangulaMetangulaMetangulaMetangulaMetangulaMetangula

������������

����

������

����

������

�����

�����

�����

Apelido Nome Município ProvínciaSex

M H��

���

���

���

���

���

��

���

Partido

FrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoRenamoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoRenamoFrelimoFrelimoRenamoFrelimoFrelimoRenamoRenamoRenamo

GDBFrelimoGDB

RenamoFrelimoFrelimoRenamoFrelimoFrelimoRenamoRenamoRenamoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoRenamoRenamoFrelimoFrelimoRenamoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimoFrelimo

Page 98: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

Atkinson, D (2006) Local Government, Local Governance and SustainableDevelopment: Getting the parameters right, HSRC Publishers.

Beall, J (1996) Urban governance: Why gender matters, UCLG

Britton, H (2003), From Resistance to Governance: South African Women'sTransformation of Parliament, unpublished: p 219.

Dahlerup D (1991), From a small to a large minority, women in Scandinavianpolitics quoted in Virginia Willis, “Public life: Women Make a Difference”,Paper for the Expert Group Meeting on the Role of Women in Public Life,DAW, Vienna: p.10.

DAW (2000), Public life: women make a difference, in “Women 2000”, No2, 1992: p.5.

Evertzen, A (2001) Gender and Local Governance, SNV - NetherlandsDevelopment Organisation

FES (2005) Gender and Local Government, Occasional Paper, p. 9, FES

Inter-Parliamentary Union (2000) Politics: Women's Insight, IPU, Geneva.

International Union of Local Authorities (IULA) (1998) Worldwide Declarationon Women in Local Government, Harare

Lowe-Morna, C (ed) (2004), Ringing up the Changes: Gender in SouthernAfrican Politics, Gender Links

Lowe-Morna, C. and Tolmay (eds) (2007), At the coalface: Gender and LocalGovernment in Southern Africa, Gender Links

Litvak, J. and Seddan (1999), Decentralization Briefing Notes, World Bank.

Meintjes, S (2005) South Africa: Beyond Numbers in “Women in ParliamentBeyond Numbers”, IDÉIAS, p. 236.

Moser, C. (1993) Gender Planning and Development: Theory, Practice andTraining. Routledge, London and New York.

Mtintso, T (1999), Making: A Conceptual Framework in Women in Politicsand Decision Making in SADC: Beyond 30 % in 2005”, SADC: p35-52

SARDC, WIDSAA (1998), Beyond Inequalities, Women in Zimbabwe, SARDC,WIDSA

World Bank (1999), Panchayats as Inclusive Organisations, World Bankp14.

Asdi (2007), Para uma Igualdade de género em Moçambique, Asdi

Nuvunga, A. (Ed) (2005), Multiparty Democracy in Mozambique: Strenghts,weakenesses and Challenges, EISA.

Conselho de Ministros (2006), Política de Género e Estratégia da suaImplementação, CM

Estatutos

Constituição da República de MoçambiqueLei Base das Autarquias - Lei 2/97Política de género e Estratégia da sua ImplementaçãoEstatutos da Associção Nacional dos Municípios de Moçambique (ANAM)Estatutos do partido FrelimoEstatutos do partido RenamoEstatutos do partido MDM

Sítios da internet

Partido Frelimo: www.frelimo.org.mzPartido Renamo: www.renamo.org.mzAssociação Nacional dos Municípiosde Moçambique: www.anamm.org.mz

LISTA DE REFERÊNCIAS

Género eGoverno Local

96 • Género e Governo Local em Moçambique

Page 99: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui

GÉNERO E GOVERNAÇÃO NA ÁFRICA AUSTRAL

Principais metas no Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento

Artigo 5: Acção afirmativa

• Os Estados Partes deverão decretar medidas de acção afirmativa, com referência particularàs mulheres, tendentes a eliminar todas as barreiras que as impeçam de participar de formasignificativa em todas as esferas da vida e criar um ambiente propício a tal participação.

Artigo 12: Representação

• Até 2015, pelo menos 50% dos cargos decisórios nos sectores público e privado deverão serocupados por mulheres.

• Qualquer medida tomada (para aumentar a participação) legislativa ou outra, deverá seracompanhada de campanhas de sensibilização pública que demonstrem a importância darepresentação e participação igual de mulheres e homens em cargos decisórios, e que isto évital para a democracia, boa governação e cidadania.

Article 13: Participação

• Os Estado Partes deverão adoptar políticas, estratégias e programas para permitir a igualdadede participação das mulheres e homens na tomada de decisão.

Page 100: Género e Governo - Gender Linksgenderlinks.org.za/wp-content/uploads/imported/... · para o Desenvolvimento Internacional (DFID) do Governo do Reino Unido. Os pontos de vista aqui