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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GABRIEL DELAGE E SILVA Go to market no desenvolvimento de produtos eletromédicos São Paulo Junho 2018

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

GABRIEL DELAGE E SILVA

Go to market no desenvolvimento de produtos

eletromédicos

São Paulo

Junho 2018

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GABRIEL DELAGE E SILVA

Go to market no desenvolvimento de produtos eletromédicos

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

São Paulo

Junho 2018

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GABRIEL DELAGE E SILVA

Go to market no desenvolvimento de produtos eletromédicos

Versão original

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção

Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Senzi Zancul

São Paulo

Junho 2018

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Serviço de Biblioteca e Documentação

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Silva, Gabriel Delage.

Go to market no desenvolvimento de produtos eletromédicos/ G. D. Silva –

São Paulo, 2018.

- 87 p.

Trabalho de Formatura – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Departamento de Engenharia de Produção.

1. Desenvolvimento de produto 2. Inovação em saúde 3. Startup

I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de

Produção II. t.

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Resumo

O processo de desenvolvimento de produto tem incertezas inerentes que podem fazer com que

o produto não apresente os resultados previstos no início do projeto; em alguns casos, isso até

pode inviabilizar seu o lançamento no mercado. Quando o desenvolvimento se passa no

contexto de uma de startup, há ainda outros fatores que podem levar ao fracasso do

empreendimento. Por exemplo, muitas startups falham por não identificarem uma necessidade

real do mercado, por não terem uma equipe adequada ou simplesmente porque o capital de

financiamento acaba. Nesse contexto, o presente trabalho é realizado no âmbito de uma startup

de base tecnológica no setor de saúde, com o objetivo de superar as barreiras que ameaçam o

sucesso do produto e do empreendimento. Para o desenvolvimento do produto, foram

aplicados métodos de gestão de projeto e de redução de incertezas. Do ponto de vista do

empreendimento, foram mapeados processos regulatórios, realizadas análises financeiras e

elaboradas propostas para solicitação de financiamento. Além disso, também se obtiveram

aprendizados úteis que podem ser aplicados em projetos futuros da startup ou de outras

equipes de empreendedores. Acredita-se que a inovação em produtos gera valor tanto para a

startup e parceiros de desenvolvimento quanto para a comunidade que se beneficiará da nova

solução. Espera-se que, no médio prazo, a startup possa contribuir ao desenvolvimento

econômico, por meio da criação de novos empregos qualificados e desenvolvimento

tecnologia nacional.

Palavras-chave: desenvolvimento de produto, inovação, saúde, biodesign,

empreendedorismo, equipamento médico.

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Abstract

Product development processes have uncertainties inherent to their nature. Such uncertainties

may affect the project outcome and in some cases this may cause the unviability of the product

launch in the market. When the product is developed within a startup, there are also other

factors that may lead the startup to failure. For example, many startups fail due to lack of a

market-fit product, because they do not have the right team or just because they have run out

of funding money. In this context, this work was done within a technology-based startup in

the healthcare sector, in order to overcome barriers that threaten the success of the product

and the business. Regarding the product, project management and uncertainty reduction

methods were identified and implemented. As to the business development the regulatory

environment was mapped, financial projections were made and funding request proposals

were written. In addition, useful learning has been obtained that might be used for other

product development projects made by the startup or other groups of entrepreneurs. It is

believed that product innovation creates value both to developers and their partners, and to

the community that will benefit from the new solution. It is hoped that, in the medium term,

the startup shall contribute with economic development, through the creation of new qualified

jobs and developing national technology.

Keywords: product development, innovation, healthcare, biodesign, startup, medtech.

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Lista de ilustrações

Figura 1 – Principais causas de fracasso de startup ............................................................. 17

Figura 2 – Qualidade e gastos do sistema de saúde em diferentes países em 2014 ............. 22

Figura 3 – Visão geral do modelo unificado de PDP ........................................................... 28

Figura 4 – Exemplo de sobreposição de atividades em diferentes fases de projeto............. 29

Figura 5 – Desdobramento de funções do produto .............................................................. 31

Figura 6 – Gerenciamento de parâmetros críticos ................................................................ 32

Figura 7 – Etapas do ciclo de vida do produto ..................................................................... 33

Figura 8 – Processo de inovação de Biodesign .................................................................... 34

Figura 9 – Elaboração do Need Statement ........................................................................... 35

Figura 10 – Funil de seleção de conceitos ........................................................................... 39

Figura 11 – Exemplo de matriz para avaliar killing risks .................................................... 39

Figura 12 – Tipos de investimento em função do estágio de desenvolvimento do negócio 45

Figura 13 – Framework para envolvimento de usuários no desenvolvimento de produtos

médicos ................................................................................................................................ 47

Figura 14 – Processo de stage-gates para desenvolvimento de equipamentos médicos ...... 49

Figura 15 – Evolução do Coletor de Material de Cirúrgico ao longo do processo de

Biodesign. ............................................................................................................................. 53

Figura 16 – Evolução do Monitor Cardíaco Remoto ao longo do processo de Biodesign .. 54

Figura 17 – Deformações no produto ................................................................................... 56

Figura 18 – Etapas da elaboração da estratégia de P&D ..................................................... 58

Figura 19 – Fluxograma para organizar atividade durante reunião de sprint....................... 59

Figura 20 – Abordagem para a redução de incertezas ......................................................... 61

Figura 21 – Corpo de prova para testar materiais para esterilização ................................... 62

Figura 22 – Ficha de informações utilizada para cotação de fornecedores .......................... 63

Figura 23 – Comparação dos preços do fornecedor 1 em relação ao a média dos preços dos

fornecedores ......................................................................................................................... 64

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Figura 24 – Projeções de fluxo de caixa da Startup ............................................................. 67

Figura 25 – Processos para registrar uma empresa .............................................................. 70

Figura 26 – Avaliação dos riscos das atividades da empresa para licenciamento

municipal .............................................................................................................................. 71

Figura 27 – Avaliação dos riscos das atividades da empresa para licenciamento estadual . 71

Figura 28 - Processo de regularização de equipamentos na ANVISA segundo classificação

de equipamentos ................................................................................................................... 72

Figura 29 – Conceito da solução desenvolvida na fase inicial do projeto ........................... 74

Figura 30 - Etapas do ciclo de atendimento padrão de paciente cardíaco ........................... 76

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Lista de tabelas

Tabela 1 – Qualidade e gastos em saúde de países da América do Sul ............................... 23

Tabela 2 – Qualidade e gastos em saúde de países com gastos semelhantes ao do Brasil .. 24

Tabela 3 – Comparação de modelos de desenvolvimento de produto ................................. 51

Tabela 4 – Cotação das partes do produto ........................................................................... 64

Tabela 5 – Dados de gastos e qualidade em saúde de diferentes países .............................. 86

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Sumário

1. Introdução ..................................................................................................................... 15

1.1. Empresa .................................................................................................................. 15

1.2. Relevância do problema ......................................................................................... 16

2. Revisão da literatura ...................................................................................................... 19

2.1. Mercado de saúde................................................................................................... 19

2.1.1. Comparação do mercado de saúde no Brasil com outros países .................... 20

2.1.2. Particularidades do mercado de saúde brasileiro ............................................ 24

2.1.3. Desafios para a inovação em saúde no Brasil ................................................. 26

2.2. Processo de desenvolvimento de produto .............................................................. 27

2.2.1. Modelo unificado de PDP ............................................................................... 28

2.2.2. Biodesign: o processo de inovação em tecnologias médicas .......................... 34

2.2.3. Outros modelos para desenvolvimentos de produtos médicos ....................... 46

3. Materiais e métodos ...................................................................................................... 50

3.1. Justificativa e escolha do método adotado ............................................................. 50

3.2. Apresentação dos projetos de produto abordados .................................................. 52

3.2.1. Coletor de Material Cirúrgico ......................................................................... 52

3.2.2. Monitor de atividade remoto ........................................................................... 54

3.3. Atividades a serem realizadas ................................................................................ 55

4. Resultados ..................................................................................................................... 56

4.1. Contador de material cirúrgico .............................................................................. 56

4.1.1. Estratégia de pesquisa e desenvolvimento ...................................................... 56

4.1.2. Estratégia de marketing e stakeholders........................................................... 65

4.1.3. Estratégia regulatória ...................................................................................... 68

4.2. Monitor Cardíaco Remoto ..................................................................................... 73

4.2.1. Seleção do conceito final ................................................................................ 73

4.2.2. Estratégia de stakeholder e marketing ............................................................ 74

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4.2.3. Estratégia de P&D........................................................................................... 78

4.2.4. Abordagem para financiamentos .................................................................... 79

4.2.5. Conclusão dos avanços do projeto .................................................................. 80

5. Discussão ...................................................................................................................... 81

6. Conclusão ...................................................................................................................... 83

7. Referências bibliográficas ............................................................................................. 84

Anexo A – Gastos e qualidade em saúde de diferentes países ............................................. 86

Anexo B – Processo para cadastras ou registrar equipamentos médicos na ANVISA ........ 87

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1. Introdução

Este Trabalho de Formatura é realizado no âmbito de uma empresa que está em

processo de formação e busca desenvolver soluções tecnológicas na área de saúde.

O objetivo deste trabalho é atuar no desenvolvimento de produtos médico-hospitalares

para que eles sejam lançados no mercado de forma eficaz. Isso envolve reduzir incertezas,

identificar obstáculos e oportunidades ao longo do desenvolvimento e trabalhar para aumentar

a chance de sucesso do produto ao longo de sua trajetória até o mercado.

O resultado imediato deste trabalho é a evolução dos projetos de produto em direção

ao lançamento no mercado. Além disso, tem-se como resultado a identificação e aplicação de

conhecimentos, métodos e boas práticas que facilitam o desenvolvimento de produtos na área

médica e podem ser utilizados em projetos futuros.

O trabalho de formatura é organizado em seis seções principais: Introdução, Revisão

da Literatura, Metodologia, Resultados, Discussão e Conclusão.

A seguir são apresentadas mais informações sobre a empresa na qual o trabalho é

realizado e a relevância do problema abordado.

1.1. Empresa

A empresa na qual são realizadas as atividades do trabalho de formatura está em

processo de constituição e tem o objetivo de desenvolver e comercializar equipamentos médico-

hospitalares. A empresa será denominada Startup no escopo deste trabalho.

A equipe da Startup é formada por três alunos formandos da Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo (EP-USP). Um dos membros é estudante de Engenharia

Mecatrônica e o outro de Engenharia Elétrica. O terceiro membro da equipe é o autor do

trabalho do trabalho de formatura, graduando em Engenharia de Produção.

A Startup possui dois projetos de produto na área de saúde. Os produtos estão em fase

de desenvolvimento e ainda não foram lançados no mercado. Os projetos tiveram origem em

disciplinas de graduação da EP-USP e receberam apoio de instituições de saúde parceiras.

Acredita-se que as novas soluções podem impactar positivamente a operação de hospitais e

laboratórios de vários modos, como em ganho de produtividade, segurança e qualidade dos

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procedimentos realizados. Com isso, surgem oportunidades de modelos de negócio que têm

potencial para serem exploradas.

A empresa possui uma estrutura ad hoc, na qual a principal forma de coordenação é o

ajuste mútuo entre os membros da equipe. Todos os membros participam de todos os projetos

da empresa e as atividades são distribuídas de acordo com o conhecimento das áreas de

formação de cada integrante.

1.2. Relevância do problema

ROZENFELD et al. (2006) afirma que o processo de desenvolvimento de produtos

possui elevado grau incertezas e riscos em comparação a outros processos realizados nas

empresas. O fato de importantes decisões serem tomadas no início do projeto, faz com que haja

comprometimento da qualidade do resultado final em um momento em que as incertezas são

maiores. Isso pode ocasionar que os resultados não sejam conforme o esperado e o lançamento

do produto se mostre inviável.

Quando o projeto de produto é realizado em uma startup, há ainda mais fatores que

podem influenciar no sucesso do empreendimento que vão além das incertezas associadas ao

processo de desenvolvimento de produto. SALAMZADEH (2015) afirma que startups

fracassam nos estágios recentes de desenvolvimento e que menos de um terço delas conseguem

de fato se tornarem empresas.

A pesquisa realizada pela CBINSIGHTS (2018) com 101 startups que fracassaram

mostra que as causas de fracasso tem diversas naturezas. As causas mais frequentes são a

ausência de uma necessidade de mercado, o fim dos recursos financeiros durante o

desenvolvimento e não possuir uma equipe adequada para levantar o negócio. A Figura 1

mostra a lista de causas relatadas por empreendedores que levaram ao fracasso de suas startups.

Como muitas delas fracassaram por mais de um motivo, a soma das porcentagens ultrapassa

100%.

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Figura 1 – Principais causas de fracasso de startup

Fonte: CBINSIGHTS (2018)

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Em contrapartida, o sucesso de novos produtos e empreendimento é bastante relevante.

ROZENFELD et al. (2006) destacam a importância de novos produtos no ambiente competitivo

entre as empresas, pois é uma ferramenta que permite adquirir novos clientes e aumentar

participação no mercado das empresas. YOCK et al. (2015) afirmam que é imprescindível que

os novos produtos tenham como foco a geração de valor e impactem positivamente a vida dos

usuários. Além disso, DECKER et al. (2014) afirmam que o empreendedorismo tem importante

no papel no dinamismo da economia, no que diz respeito a adaptação das empresas em novos

cenários econômicos, e é um importante agente gerador de novos empregos. Os autores

afirmam que nos Estados Unidos (EUA), as startups são responsáveis por 20% dos novos

empregos criados.

Nesse contexto, esse trabalho de formatura se propõe a atuar no desenvolvimento de

novos produtos tecnológicos na área de saúde para aumentar a chance do sucesso no mercado,

considerando diversos fatores presentes na estruturação de um novo empreendimento. Busca-

se com isso, gerar mais valor para a Startup, para os parceiros desenvolvedores e para

comunidade que se beneficiará das novas soluções. No médio prazo, espera-se que a Startup

possa contribuir para o desenvolvimento econômico, criando novos empregos qualificados e

desenvolvendo tecnologia nacional.

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2. Revisão da literatura

A revisão da literatura é organizada em duas seções principais. A primeira traz um

panorama sobre o mercado de saúde no Brasil e discussões sobre a importância da inovação em

tecnologia médica e o papel que ela deve desempenhar para contribuir positivamente com setor

de saúde no país. A segunda apresenta a revisão bibliográfica sobre métodos de

desenvolvimento de produto, inicialmente apresentando um modelo de referência genérico, que

pode ser utilizado como base para organizar e estruturar o desenvolvimento de produtos em

diferentes setores da indústria. Em seguida, são apresentados modelos específicos para orientar

o desenvolvimento de produtos de base tecnológica para o setor de saúde.

2.1. Mercado de saúde

Os autores YOCK et al. (2015) iniciam sua obra sobre o processo de inovação em

tecnologias médicas destacando a importância de as novas soluções serem desenvolvidas tendo

como foco principal a criação de valor no para o paciente.

BAKER et al. (2015) afirmam que apesar dos gastos em saúde nos Estados Unidos da

América (EUA) corresponderem a duas vezes e meia a média gasta em saúde nos países

desenvolvidos, isso não significa que eles fornecem o melhor serviço de saúde para seus

cidadãos.

Em um estudo comparativo entre a qualidade do sistema de saúde na Austrália,

Canadá, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA, os EUA ficaram com a

última posição e é chamado atenção para o fato de os EUA se destacarem por não atribuírem

um bom valor aos dólares gastos em seu sistema de saúde (THE COMMONWEALTH FUND,

2010).

BAKER et al. (2015) ainda discutem que houve uma onda de inovação tecnológica na

área médica, que teve início em meados do século XX, conhecida como “progresso a qualquer

preço”. Nessa onda, muitas empresas de inovação tinham foco em desenvolver novos produtos

que promoviam melhorias em resultados clínicos, quase sem levar em consideração o custo

associado. Em alguns casos, isso significava simplesmente realizar melhorias marginais para

vender uma nova geração de produtos de produtos a um preço mais elevado. Os autores afirmam

que essa não é mais uma estratégia sustentável, tendo em vista a progressão de gastos com

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saúde, especialmente, nos EUA e que é preciso gerar mais valor e qualidade com o dinheiro

gasto em saúde.

Motivado pelas discussões e críticas a ineficiência do sistema de saúde estadunidense

em transformar gastos em saúde em valor ao paciente, o autor deste trabalho de formatura

realizou um breve estudo comparativo sobre qualidade e gastos com saúde no Brasil em relação

a outros países. Além desse estudo, são apresentados nesta seção da revisão bibliográfica

particularidades do sistema de saúde brasileiro e os desafios encontrados para inovação no

Brasil e como a inovação pode contribuir para melhorar a saúde no Brasil país.

2.1.1. Comparação do mercado de saúde no Brasil com outros países

O estudo comparativo utiliza três indicadores macroeconômicos que mostram a

relevância do setor da saúde no cenário econômico de cada país. São eles:

i) Gasto per capita em saúde;

ii) Parcela do produto interno bruto (PIB) gasta em saúde;

iii) Índice de qualidade e acesso à saúde.

Os indicadores i) e ii) são calculados a partir do gasto total em saúde (Current Health

Expenditure – CHE), que inclui tanto gastos públicos quanto privados. O cálculo do CHE avalia

o consumo final de produtos e serviços de saúde, de forma que são levados em consideração

gastos pessoais (como curativos, serviços auxiliares e produtos médicos) e serviços coletivos

(como saúde preventiva, saúde pública até gastos com administração). Entretanto,

investimentos em saúde não são contabilizados. (OECD, 2018).

O indicador “Gasto per capita em saúde” é calculado pela divisão do CHE anual do

país (normalmente em dólar dos Estados Unidos - US$) pelo número de habitantes da sua

população. O cálculo da média de gastos em saúde por pessoa facilita a comparação do

indicador entre diferentes países (WHO, 2016a).

O indicador “Parcela do PIB gasta em saúde” é calculada a partir da divisão do CHE

pelo PIB e fornece uma indicação do nível de recursos direcionados a saúde em relação a outros

gastos do país. Isso ajuda a compreender a importância do setor de saúde dentro da economia

como um todo e indica a prioridade social dada a saúde medida em termos monetários (WHO,

2016b).

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Esses dois indicadores foram obtidos consultando a bases dados de gastos em saúde

da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO) (WHO, 2018). Outras

fontes foram consultadas para países cujos dados de determinado país não constavam no banco

de dados da WHO. Foi o caso de Cuba (INDEXMUNDI, 2017) e Coréia do Norte (OECD,

2015).

O indicador “Índice de qualidade e acesso à Saúde” (Healthcare Quality and Access

Index – HAQ index) foi elaborado no estudo desenvolvido por BARBER et al. (2017). Os níveis

de acesso e qualidade de saúde pessoal podem ser avaliados por meio de taxas de mortalidade

por causas que não seriam fatais se houvesses a presença efetiva de atendimento de saúde –

esse tipo de mortalidade é denominado pelos autores de mortalidade amenizável. O índice

HAQ é medido numa escala de 0 a 100 e leva em consideração taxas de 32 causas de

mortalidades amenizáveis em 195 países, analisadas durante o período de 1990 a 2015.

O gráfico apresentado na Figura 2 cruza as informações de qualidade e gastos com

saúde em diferentes países no ano de 2014. A diagramação do gráfico foi elaborada pelo autor

deste trabalho de formatura, apresentando, no eixo das abcissas, o gasto per capita por saúde

em cada país em US$ em escala logarítmica, no eixo das ordenadas, a parcela do PIB gasta em

saúde expressa em porcentagem e o Índice de Qualidade e Acesso à Saúde em cada país por é

representado por uma escala de cores. O Anexo A contém a tabela com a base de dados

completa utilizada na elaboração da Figura 2.

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Figura 2 – Qualidade e gastos do sistema de saúde em diferentes países em 2014

Fonte: elaborado pelo autor

95

Healthcare Access and

Quality Index¹

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A partir desse gráfico pode-se observar que embora exista uma correlação entre

qualidade e gastos em saúde, não necessariamente gastar mais vai trazer mais valor e qualidade

de atendimento para o paciente. Conforme discutido por BAKER et al., (2015), esse fenômeno

é sofrido com bastante intensidade pelos EUA cujos gastos em saúde de 9060 US$ por habitante

representam mais de 16% do PIB do país e o índice de qualidade apresenta um valor de 74 –

valor que se equipara ao nível de saúde na Rússia, China e Cuba, que são países em que os

gastos em saúde são inferiores a 1000 US$.

Mais especificamente no caso do Brasil, para avaliar como ele se posiciona em relação

aos outros países, é interessante buscar compará-lo com países que tenham uma realidade

semelhante em algum aspecto à do Brasil. Dentre os países da América do Sul considerados

nesse estudo, nota-se que o Brasil ao lado de Chile e Uruguai, são os três países que mais gasta

com saúde, tanto em termos absolutos quanto relativos ao PIB. Porém, fica distante desses

países termos de qualidade e acesso a saúde – 11 pontos atrás do Chile e 7 pontos atrás do

Uruguai (ver Tabela 1).

Tabela 1 – Qualidade e gastos em saúde de países da América do Sul

País Gasto em saúde per capita em 2014 (US$)

Parcela do PIB gasta em saúde em 2014 (%)

Índice de qualidade e acesso à saúde

Paraguai 359 7,0% 60

Venezuela 570 3,5% 65

Brasil 1014 8,0% 65

Colômbia 507 6,0% 68

Argentina 845 6,4% 68

Peru 332 4,8% 70

Uruguai 1406 9,1% 72

Chile 1128 7,4% 76

Fonte: elaborado pelo autor

Outra comparação possível de ser realizada é entre países com gastos em saúde

semelhantes ao do Brasil. A Tabela 2 contém os países cujos gastos per capita com saúde estão

entre 400 US$ e 1500 US$. É válido notar que o nível de qualidade em saúde no Brasil se situa

entre países como México, Venezuela e Colômbia onde os gastos com saúde são em torno 500

US$ a 600 US$ por ano, o que representa um pouco a mais da metade do gasto brasileiro. Por

outro lado, é válido ressaltar que países como Croácia, Chile, Hungria e República Checa têm

gastos per capita aproximadamente iguais ao do Brasil e apresentam um nível de qualidade e

acesso à saúde significativamente maior.

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Tabela 2 – Qualidade e gastos em saúde de países com gastos semelhantes ao do Brasil

País Gasto em saúde per capita em 2014 (US$)

Parcela do PIB gasta em saúde em 2014 (%)

Índice de qualidade e acesso à saúde

África do Sul 510 7,7% 52

México 593 6,0% 63

Venezuela 570 3,5% 65

Brasil 1014 8,0% 65

Colômbia 507 6,0% 68

Argentina 845 6,4% 68

Bulgária 572 8,2% 71

Uruguai 1406 9,1% 72

Rússia 742 5,5% 72

Cuba 780 11,1% 74

Sérvia 491 9,4% 75

Chile 1128 7,4% 76

Turquia 527 4,4% 76

Lituânia 923 6,5% 77

Bósnia e Hezerg. 431 9,4% 78

Arábia Saudita 1249 4,4% 79

Hungria 894 7,2% 80

Estônia 1112 6,5% 81

Croácia 1006 7,3% 82

República Checa 1284 7,7% 85

Fonte: elaborado pelo autor

Essas duas análises sugerem que não é a falta de recursos destinados à saúde que limita

a qualidade da saúde no Brasil, mas que as limitações estão associadas à forma como esses

recursos são gastos. YOCK et al. (2015) afirmam que o compromisso entre gastos e a geração

de qualidade e valor para o paciente deve ser prioridades no setor de saúde tanto para países

desenvolvidos quanto para países em desenvolvimentos.

Nesse contexto, a inovação em saúde deve buscar canalizar os recursos que já são

gastos no país de uma forma em que a geração valor e qualidade para paciente ocorra de maneira

mais eficiente. É importante compreender as particularidades do mercado de saúde brasileiro e

como se dão os desafios para inovação no Brasil para que o desenvolvimento das novas

soluções consiga gerar mais valor para o paciente e não apenas realize melhorias marginais em

um sistema que é ineficiente.

2.1.2. Particularidades do mercado de saúde brasileiro

Uma das particularidades da saúde no Brasil é como se dá a relação entre o setor

público e privado. O atendimento no setor público é realizado pelo Sistema Único de Saúde

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(SUS) financiado por meio de impostos e contribuições sociais para fornecer atendimento

primário, secundário e terciário à população brasileira. No setor privado, existem mais de 1000

empresas de planos de saúde, que em sua maioria são pequenas e operam regionalmente. Dentre

as grandes empresas do setor, fusões e aquisições realizadas sinalizam uma tendência de

concentração desse mercado (VICTORA et al., 2011).

Estima-se que 75% dos cidadãos atendidos exclusivamente pelo SUS (JURBERG;

HUMPHREYS, 2010), entretanto, não existe uma interface clara que delimita a atuação do

setor público e privado. Existem diversas instituições de saúde (hospitais, laboratórios, clínicas

etc.) que realizam atendimentos pelo SUS e por pagamentos particulares. Em alguns casos, as

instalações da instituição chegam a ser divididas em uma ala para atendimento público e outra

para privado. Além disso, devido ao caráter universal do SUS, muitos pacientes têm acesso aos

sistemas público e privado. Em certas ocasiões, pacientes cobertos por planos privados são

encaminhados para ser atendidos no SUS (VICTORA et al., 2011).

Outras duas instituições que merecem destaque no sistema de saúde no Brasil são a

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA).

A ANS regula a o setor de saúde suplementar e é responsável pela lista de estatuária

que contém as os medicamentos para internação, dispositivos médicos e procedimentos que os

planos de saúde são obrigados a reembolsar. No Brasil, os planos de saúde não são obrigados a

reembolsar medicamentos e produtos vendidos em farmácias de varejo (CAPASSO, 2015).

A ANVISA é a instituição responsável por regular e exercer o controle de serviços e

atividades relacionadas a cadeia de produção e consumo de produtos que possam oferecer

potencial risco à saúde da população e ao meio ambiente. No setor da saúde, estão sujeitos a

regulação da ANVISA, por exemplo, os medicamentos, produtos médicos, serviços de saúde e

pesquisas clínicas (ANVISA, 2018; PIOVESAN; LABRA, 2007).

Para que uma inovação tecnológica entre no mercado de saúde do Brasil, é preciso

entender o funcionamento das instituições de financiamento público e privado e das agências

reguladoras para determinar como a nova solução vai se posicionar no mercado e quais

requisitos e exigências ela deve cumprir.

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2.1.3. Desafios para a inovação em saúde no Brasil

CAPASSO (2015) apresenta alguns fatores que oferecem barreiras à inovação

vivenciados pelo Brasil e pelos demais da América Latina, são eles: a falta de qualidade de

infraestrutura, falta de transparências de instituições como governo ou agências reguladoras e

processos burocráticos excessivamente longos e demorados. Além disso, ele aponta que o Brasil

apresenta qualidade desigual em seu sistema educacional, o que pode proporcionar uma

escassez de mão de obra qualificada em certas áreas, como por exemplo, a de desenvolvimento

de equipamentos médicos.

Particularmente na indústria de equipamentos médico-hospitalares, CUNHA et al.

(2009) afirmam que há um dinamismo tecnológico elevado nessa indústria que requer

significativos gastos significativos em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Os

autores também discutem que além de recursos financeiros, a inovação em equipamentos

médicos utiliza tecnologias provenientes de outras indústrias como mecânica de precisão,

eletrônica digital, tecnologia da informação e química. Dessa forma, a falta de acesso a recursos

financeiros e a tecnologias modernas podem dificultar o desenvolvimento de novos

equipamentos.

Tendo em vista os desafios e barreiras para inovação em saúde no Brasil, CAPASSO

(2015) sugere que as startups de tecnologia médica devem adotar uma estratégia tática que deve

envolver os seguintes três fatores inter-relacionados: (i) condução experimentos dentro do

mercado, (ii) estabelecimento em um mercado de nicho para depois expandir e (iii)

capitalização financiamentos públicos.

Apesar das barreiras e desafios, a inovação tecnológica tem potencial para impulsionar

tanto a indústria de equipamentos médicos quanto o setor de saúde de como um todo. CUNHA

et al., (2009) apontam que os principais desafios para aumentar a competitividade da indústria

brasileira de equipamentos médicos estão relacionados com o fortalecimento da capacidade de

realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico e o aumento da produtividade com base no

aumento de escala e redução da pressão das importações.

Além disso, VICTORA et al. (2011) apresentam diversos aspectos que dificultam o

avanço da qualidade da saúde Brasil, dentre eles estão o aumento da qualidade do serviço e a

forte dependência de tecnologia importada, principalmente na compra de equipamentos

médicos e commodities (medicamentos, vacinas, utensílios descartáveis etc.). Além disso, os

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autores destacam que a tecnologia pode trazer efeitos indevidos na decisão clínica (por

exemplo, o Brasil tem um dos índices mais altos no mundo de realização de cesáreas). Esse

último fator reforça a importância de a inovação buscar desenvolver soluções que gerem valor

e qualidade para o paciente, buscando integrar aspectos clínicos, humanos e tecnológicos.

Nesse contexto, este Trabalho de Formatura se propõe a pesquisar e aplicar

conhecimentos de engenharia de produção que facilitem e melhorem o desenvolvimento de

soluções tecnológicas em saúde.

Nas próximas seções, são abordados modelos de processo de desenvolvimento de

produto que fornecem a base teórica e ferramentas práticas para conduzir a realização das

atividades do presente trabalho.

2.2. Processo de desenvolvimento de produto

O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) compreende a sequência de

atividades necessárias para lançar novos produtos no mercado ou melhorar a aqueles que já

existem. Ao longo do PDP, são aplicadas novas tecnologias, conhecimentos e recursos da

empresa a fim de melhorar e evoluir o portfólio de produtos da empresa, para que ela se torne

mais competitiva no mercado. O PDP situa-se na interface do entre o mercado e a empresa

buscando identificar as oportunidades mercadológicas e tecnológicas para oferecer soluções

que atendam às necessidades dos clientes (ROZENFELD et al., 2006).

O PDP possui particularidades em relação a outros processos, como: elevado grau de

incertezas e riscos das atividades e resultados; tomada de decisões importantes no início do

processo, quando as incertezas são ainda maiores; as informações e atividades provêm de

diversas fontes e áreas da empresa e da cadeia de valor do produto; multiplicidade de requisitos

a serem atendidos pelo processo, considerando todas as fases do ciclo de vida do produto e seus

clientes (ROZENFELD et al., 2006).

A revisão sobre metodologias ligadas ao PDP se apoia em duas principais referências:

o modelo unificado do PDP elaborado por ROZENFELD et al., (2006) e o processo de inovação

de Biodesign desenvolvido por YOCK et al. (2015). Além disso, ao final da revisão são

abordadas outras modelos para desenvolvimento de produtos na área médica.

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2.2.1. Modelo unificado de PDP

ROZENFELD et al., (2006) desenvolveram um modelo de unificado de PDP voltado

principalmente para empresas de manufatura de bens de consumo durável e bens de capital,

com ênfase em tecnologia mecânica de fabricação. Este é apresentado como modelo de

referência genérico, isto é, ele pode ser utilizado como base para a construção de modelos de

referência em diferentes empresas ou setores, que por sua vez, irão auxiliar a criação de modelos

específicos de projetos de desenvolvimento de produto de um determinado setor de indústria

ou empresa. A Figura 3 contém a representação do modelo unificado de PDP, organizado em

três macrofases: Pré desenvolvimento, Desenvolvimento e Pós desenvolvimento, divididas em

fases, que por sua vez, se desdobram em atividades.

Figura 3 – Visão geral do modelo unificado de PDP

Fonte: ROZENFELD et al. (2006)

As fases são determinadas pela entrega de um conjunto de resultados (deliverables),

que juntos permitem que o projeto avance para um novo nível do desenvolvimento. Ao final de

cada fase, revisa-se e avalia-se os resultados obtidos até então. Caso eles sejam considerados

satisfatórios, a fase é aprovada e o projeto avança para a fase seguinte. Caso contrário, melhorias

e ações corretivas podem ser implementadas, ou, em cenários mais extremos, o projeto pode

ser redirecionado ou cancelado. Quando uma fase é aprovada os resultados obtidos são

guardados e mantidos “congelados”. Eles poderão ser acessados futuramente para consulta de

informações, entretanto, não podem ser modificados ou apagados (ROZENFELD et al., 2006).

O modelo é apresentado de forma linear e sequencial para fins didáticos, porém,

atividades que não dependem do resultado das anteriores podem ter seu início antecipado e

serem realizadas em paralelo, conforme exemplificado pela Figura 4. Esse princípio é trazido

pela abordagem de engenharia simultânea, que tem como objetivo reduzir lead-time e custos de

projetos, antecipando tomadas de decisão para que as incertezas sejam reduzidas o mais cedo

possível e as alterações ocorram nas fases iniciais de projeto (ROZENFELD et al., 2006).

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Figura 4 – Exemplo de sobreposição de atividades em diferentes fases de projeto.

Fonte: ROZENFELD et al. (2006)

A seguir, consta uma breve apresentação das fases do modelo unificado de PDP:

1. Pré desenvolvimento

1.1. Planejamento estratégico de produtos: A partir do planejamento estratégico

concebido pela alta administração da empresa, o objetivo dessa fase é elaborar um

plano de portfólio de produtos que permita atingir as metas e objetivos da

estratégia de negócio. O plano deve conter produtos a serem desenvolvidos,

apresentando suas descrições, objetivos e previsões de entrada e saída do mercado

(ROZENFELD et al., 2006).

1.2. Planejamento do projeto: Nessa fase, é realizado o macroplanejamento de um

determinado produto do portfólio elaborado na fase anterior. O resultado da fase

é um plano de projeto que contém a identificação dos stakeholders, o escopo do

projeto, escopo do produto, equipe do projeto, cronograma, orçamento, análise de

riscos, indicadores de desempenho e métodos de avaliação e controle. O objetivo

é que o plano guie as atividades da macrofase de desenvolvimento de forma a

alinhar pessoas e recursos frente a um mesmo objetivo, levando em consideração

mecanismos para reduzir riscos, eliminar incertezas e prevenir e corrigir falhas

(ROZENFELD et al., 2006).

2. Desenvolvimento

2.1. Projeto informacional: Tendo em vista o escopo e objetivo do produto

determinados durante o pré desenvolvimento, o primeiro passo do projeto

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informacional é definir o problema que a solução em desenvolvimento deve

endereçar. Em seguida, deve-se definir os clientes do produto ao longo de seu

ciclo de vida e para cada um deles levantar quais são suas necessidades e desejos

em relação ao novo produto. Os autores chamam esse processo de ouvir a “voz do

cliente”. Depois, deve-se traduzir a voz dos clientes em requisitos objetivos do

produto. Em geral, a necessidades dos clientes são conflitantes tecnicamente (p.

ex. é interessante para motorista que o carro seja potente e econômico, mas do

ponto de vista de engenharia, esses atributos são controversos), de forma que

possa ser inviável atingir todos os requisitos levantados. Para finalizar o projeto

informacional, deve-se priorizar e quantificar os requisitos a serem apresentados

pelo produto. Tais requisitos são chamados de “especificações meta” do projeto.

Uma ferramenta indicada para determiná-las é o QFD (Quality Function

Deployment) (ROZENFELD et al., 2006).

2.2. Projeto conceitual: O primeiro passo dessa fase é a modelar as funções do produto

a partir das especificações meta. O modelo pode ser representado em diagrama de

blocos desdobrando a função total do produto em outras funções mais simples e

indicando quais são as saídas e entradas do sistema (ver Figura 5). Uma ferramenta

indicada para a representação de funções do produto é o diagrama FAST

(Function Analysis System Technique). Em seguida, deve-se buscar princípios de

soluções capazes de realizar as funções idealizadas. Ferramentas que podem ser

utilizadas para esse fim são: brainstorming, método morfológico, análise do valor,

teoria da solução de problemas inventivos (TIPS), entre outras. O próximo passo

é elaborar alternativas de soluções que apliquem os princípios levantados. As

alternativas podem ser representadas por esquemas denominados “arquitetura de

produto”. A arquitetura contém os principais elementos do produto e descreve

como eles interagem entre si para que o produto realize suas funções. Em seguida,

deve-se trabalhar as alternativas de solução para torná-las alternativas de

concepção de produto, esse processo é realizado por meio da análise dos principais

Sistemas, Subsistemas e Componentes (SSC) do produto, definindo seus

parâmetros (formas, materiais, possíveis processos de fabricação) e analisando os

aspectos críticos relacionados a fabricação, montagem, qualidade, custos, descarte

etc. Exemplos de métodos indicados para esse fim são Design for Manufacturing

(DFM) e Design for Assembly (DFA). Por fim, seleciona-se a melhor alternativa

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de solução e são determinados os macroprocessos de fabricação (ROZENFELD

et al., 2006).

Figura 5 – Desdobramento de funções do produto

Fonte: ROZENFELD et al. (2006)

2.3. Projeto detalhado: o objetivo dessa fase é finalizar todas as especificações e

documentações do produto a serem utilizadas nas etapas do ciclo de vida

(compras, produção, distribuição, uso, assistência técnica etc.). Sendo assim, é

preciso criar e detalhar todos os SSC e avaliar se eles estão de acordo com as

especificações meta. Um método para atingir as especificações meta é o

gerenciamento de parâmetros críticos, cujo ciclo de desenvolvimento é

representado na Figura 6. Ao final as iterações do ciclo, quando se obtém a versão

final dos SSCs, é preciso armazenar os desenhos detalhados e toda a

documentação de suporte. Para tanto podem ser usados sistemas de PDM (Product

Data Management) e PLM (Product Lifecycle Management). A Estrutura de

Produto é uma ferramenta que centraliza e organiza o armazenamento das

informações do produto. Ela permite que cada área da organização tenha acesso a

informações específicas, por meio de visualizações personalizadas da estrutura de

produto. Em seguida, deve-se planejar como será a fabricação do produto, o que

envolve a decisão de os terceirizar ou produzir os SSCs, fazer planos de fabricação

e montagem dos SCCs e levantar os recursos necessários para a fabricação. Por

fim, elabora-se material de suporte, embalagem e são realizados testes e

homologações (ROZENFELD et al., 2006).

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Figura 6 – Gerenciamento de parâmetros críticos

Fonte: ROZENFELD et al. (2006)

2.4. Preparação da produção: O objetivo dessa fase é garantir que a empresa e todos

os elos da cadeia de valor do novo produto sejam capazes de produzir unidades

do produto nas quantidades e padrões de qualidade definidos durante o projeto

detalhado. A parte inicial dessa fase compreende a aquisição de recursos

necessários a produção, planejamento e fabricação do lote piloto. O objetivo da

produção do lote piloto é testar e avaliar o processo produtivo para identificar

falhas e aperfeiçoá-lo antes de lançar a produção em larga escala. A fabricação do

lote piloto também permite a homologação dos processos internos a empresa e a

obtenção de certificações. Feito isso, é preciso preparar e planejar a produção em

larga escala. Para tanto, são usados métodos de PPCP (Planejamento Produção e

Controle da Produção), planejamento da manutenção de equipamentos e de

elaboração das versões preliminares dos métodos de gestão e treinamento de

equipe. Nessas atividades do projeto é importante levar em consideração os

princípios e métodos de gestão da qualidade como Lean Management, 5S’s Total

Quality Management, Seis Sigma, entre outros (ROZENFELD et al., 2006).

2.5. Lançamento: Nessa fase, são elaborados os processos necessários para entrada do

produto no mercado que não estão associados a aspectos produtivos. São eles:

processos de venda, distribuição, atendimento ao cliente, suporte, assistência

técnica. Além disso nessa etapa é trabalhado toda a parte de comunicação da

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empresa que envolve estratégia de marketing e publicidade para desenvolver a

imagem do produto frente aos clientes. Ferramentas úteis para essa fase são:

modelagem de processo, estudos de marketing, sistemas de CRM (Customer

Relationship Management) e ERP (Entreprise Resources Planning)

(ROZENFELD et al., 2006).

3. Pós desenvolvimento

3.1. Acompanhar produto: Após o lançamento do produto, a equipe de

desenvolvimento é dissolvida e uma nova equipe é formada para acompanhar o

produto no mercado. A nova equipe é composta por algumas pessoas que

trabalharam no desenvolvimento e por pessoas das áreas de marketing, operação,

vendas e suporte, publicidade etc. Essa equipe deve estipular metas e planos de

ações para que a evolução do produto ao longo do seu ciclo de vida (tipicamente

representado conforme a Figura 7) contemplem os objetivos estratégicos da

empresa (ROZENFELD et al., 2006).

Figura 7 – Etapas do ciclo de vida do produto

Fonte: ROZENFELD et al. (2006)

3.2. Descontinuar produto: A fase final do modelo do PDP caracteriza-se tanto pelo

emprego de métodos de reutilização, reciclagem, manufatura e descarte das partes

do produto, após o fim de sua vida o útil, quanto pelo planejamento e execução da

retirada do produto do mercado. Quando a comercialização do produto não é mais

vantajosa para a empresa, devido a questões econômicas ou estratégicas, a

produção é descontinuada. Porém, serviços de assistência ao cliente continuam

sendo oferecidos. O fim dessa fase, o que também caracteriza o fim do projeto do

produto, é marcada pela finalização do suporte e atendimento ao cliente bem como

a produção de peças reposição e serviços de assistência técnica.

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2.2.2. Biodesign: o processo de inovação em tecnologias médicas

O processo de inovação de Biodesign foi desenvolvido por YOCK et al. (2015) e é

voltado para estudantes graduandos ou graduados de engenharia, medicina e negócios, para

auxiliá-los em projetos de desenvolvimento de soluções na saúde. O método foi originalmente

projetado para orientar programas de inovação na Universidade de Stanford e pode ser utilizado

para guiar o aprendizado durante o desenvolvimento de projetos tanto em contexto acadêmico

quanto industrial. O processo de inovação é organizado em três fases: Identificar, Inventar e

Implementar. Cada uma delas é subdivida em dois estágios, contendo ao todo 29 atividades

principais, conforme ilustrado na Figura 8.

Figura 8 – Processo de inovação de Biodesign

Fonte: SCHWARTZ et al. (2016)

A seguir serão apresentados e discutidos os objetivos de cada estágio do processo de

inovação, com as principais recomendações e diretrizes destacada pelos autores para a

realização das atividades do processo.

1. Identificar

1.1. Procura de necessidades: O processo de inovação começa pela imersão na

realidade do problema a ser abordado. O principal resultado desse estágio é a

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determinação do objetivo e escopo do projeto de inovação, enunciado por meio

de uma frase denominada Need Statement. A primeira atividade é a elaboração do

foco estratégico do projeto, que é escolhido em consenso pelos membros da

equipe, levando em consideração aspectos subjetivos (como pontos fortes e fraco

da equipe e a motivação de cada um), fatores ambientas e oportunidades

identificadas. Tendo esse primeiro direcionamento, a equipe deve explorar o

problema que ela abordará. As três principais técnicas indicadas para isso são:

pesquisas prévias, observações e entrevistas. É recomendado que sejam utilizadas

as três técnicas. Primeiro realiza-se um estudo sobre o tema abordado, buscando

compreender aspectos patológicos, as principais partes envolvidas no tratamento,

as soluções existentes e fatores mercadológicos. O entendimento básico desse

cenário aumenta o preparo da equipe para ir a campo realizar entrevistas e

observações. É válido ressaltar que as pesquisas de campo têm um caráter de

aprendizado, absorção de informação e compreensão da realidade do problema.

Deve-se evitar ao máximo realizar julgamentos, sugestões e induzir

comportamentos nas pessoas durantes as entrevistas e observações. Por fim, deve-

se consolidar todo o conhecimento adquirido na elaboração do Need Statement. A

sua construção é um processo iterativo e se aperfeiçoa à medida que os inovadores

avançam no projeto. O Need Statement deve estar relacionado apenas ao problema

validado, não apresentando aspectos da solução, da tecnologia ou estar ligado a

uma prática médica específica. É recomendado que a elaboração do Need

Statement seja feita conforme indicado na Figura 9 (YOCK et al., 2015).

Figura 9 – Elaboração do Need Statement

Fonte: YOCK et al. (2015)

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1.2. Triagem de necessidades: O objetivo dessa fase é selecionar, dentre as

necessidades levantadas na fase anterior, aquela com maior potencial para ser

trabalhada. O método proposto é organizado em seis passos: (i) determinar os

fatores ou critérios utilizados na avaliação das necessidades; (ii) atribuir pesos a

esses fatores de acordo com sua importância; (iii) para cada necessidade, atribuir

uma nota para cada fator e calcular um score baseado nos pesos dos fatores; (iv)

selecionar necessidades segundo o ranking de score; (v) iterar os passos i a iv até

que restem poucas necessidades; (vi) validar com stakeholders qual delas é a de

maior relevância. É recomendado que processo de triagem seja iterativo, pois a

cada etapa o detalhamento das informações sobre as necessidades é aprofundado.

A primeira iteração é baseada de informações básicas, enquanto na última, são

realizadas pesquisas mais elaboradas e consistentes.

É indicado que os fatores utilizados para avaliação das necessidades sejam

relacionados a quatro aspectos: fundamentos patológicos, soluções existentes,

análise de stakeholders, análise de mercado. Os fundamentos patológicos

compreendem estudos de epidemiologia, anatomia e fisiologia da doença

abordada e questões clínicas de seu tratamento, que compreendem a análise dos

procedimentos terapêuticos e quanto eles custam para o sistema de saúde. A

análise de soluções existentes tem como objetivo identificar oportunidades e

espaços para novas soluções. Essa análise só pode ser feita após a avaliação dos

fundamentos patológicos. Recomenda-se que ela estude os mecanismos de

atuação das soluções, o custo despendido, o valor entregue ao paciente e por fim

avaliar tendências de soluções emergentes. O resultado ideal da análise das

soluções é a representação dos espaços encontrados (gaps). A análise de

stakeholders deve levar em consideração tanto o processo de atendimento ao

paciente (desde a identificação dos sintomas até o fim do tratamento) e o fluxo

de dinheiro envolvido nos pagamentos dessas atividades. Feito isso, deve

identificar quais stakeholders têm maior relevância nesses dois fluxos e avaliar

quais deles têm interesses alinhados e contrários ao desenvolvimento da nova

solução. Por fim, deve-se avaliar quais stakeholders tem poder de decisão e como

eles interferem na adoção da solução. A última análise é referente ao mercado

alvo abordado. Ela começa pelo levantamento de aspectos gerais do mercado

como tamanho, crescimento, principais segmentos e gaps, que representam

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oportunidades para novas soluções. Em seguida, é feito um estudo especifico dos

segmentos de mercado que se deseja abordar, que compreende: avalição do

tamanho e crescimento de cada segmento; a identificação das necessidades

específicas dos clientes daquele segmento; a análise de competidores e avaliação

da disposição dos stakeholders para pagar por uma nova solução. Por fim,

determina-se o mercado alvo, aquele em que uma nova solução tem maior

potencial para gerar valor tanto para o usuário quanto para empreendedores e

investidores (YOCK et al., 2015).

2. Inventar

2.1. Geração de conceitos: Esse estágio é composto por duas atividades. Na primeira,

chamada ideação, ocorre a criação de ideias para diferentes conceitos de solução.

Na segunda atividade, ocorre a seleção dos conceitos gerados. A ideação tem

caráter criativo e o objetivo é estimular a geração de ideias. Para tanto, são

organizadas reuniões de brainstorming, em que a equipe trabalhe de forma

colaborativa e construtiva para que cada membro acrescente e melhore as ideias

trazidas pelos colegas.

A segunda atividade tem início quando a equipe considera que possui uma

quantidade suficiente de conceitos de solução. O objetivo é organizar e realizar

uma triagem inicial dos conceitos criados. Exemplos de critérios para agrupar os

conceitos são: mecanismo de funcionamento, área da engenharia ou ciência em

que se baseia a solução, critérios anatômicos e fisiológicos, viabilidade de

fabricação ou necessidade de investimento. Feito isso, é interessante avaliar se os

conceitos de soluções criados estão alinhados com o foco estratégico da equipe e

com os fatores de maior relevância da análise de necessidades. As soluções que

estiverem distantes desses aspectos podem ser eliminadas.

2.2. Triagem de conceitos: O processo de triagem de conceitos ocorre segundo funil

representado na Figura 10. Na primeira triagem, as ideias selecionadas na fase

anterior são avaliadas segundo critérios de viabilidade relacionados à propriedade

intelectual, questões regulatórias, reembolso e modelos de negócio. O processo de

análise desses quesitos, mesmo para um único conceito, pode ser longo, complexo

e requerer bastante conhecimento específico. Sendo assim, nesse estágio do

processo, o intuito da atividade não é fazer uma análise detalhada e exaustiva, mas

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sim identificar os principais riscos a que cada conceito está sujeito. Se houver

algum killing risk (risco que tem chances de inviabilizar o desenvolvimento da

solução) em qualquer um desses quatro aspectos, é altamente recomendado que o

conceito seja abandado. A análise de killing risks pode ser sintetizada conforme a

matriz da Figura 11. Na matriz há apenas a sinalização de existe algum risco

grande (bola vermelha), moderado (bola amarela) ou não há riscos relevantes

(bola verde).

Após a primeira triagem, tem início a atividade de teste e exploração dos conceitos

viáveis. Esse tipo de atividade é característico da fase de P&D e ocorre

iterativamente por diversas vezes ao longo do desenvolvimento do produto. O

intuito de antecipar a primeira rodada de testes e prototipação, nesse estágio do

processo de inovação, é utilizar o resultado dos primeiros testes como forma de

avaliação dos conceitos. Algumas das barreiras e dificuldades da implementação

de determinado conceito ficam mais evidentes após a realização de experimentos

práticos. Nesse contexto, são sugeridos quatro tipos de testes que podem ser

realizados: (i) testes com usuário – são úteis para avaliar a reação do usuário em

relação a determinada feature da solução e auxilia a classificação das features em

categorias como: Must-haves, Must-not-haves, Indifference e Exciters; (ii)

Simulações – softwares de simulação podem ser empregados para reproduzir

determinada condições de uso da solução e podem ser utilizados para avaliar sua

viabilidade técnica; (iii) Testes de bancada – são utilizados para avaliar materiais,

funcionalidades ou métodos em ensaios com condições controladas. Os testes de

bancada devem ser o mais simples possível isolando somente a parte que se quer

testar; (iv) Testes em tecido – para soluções invasivas, um passo importante é

avaliar o comportamento de protótipo em testes em tecidos de animais.

Os conceitos principais que passarem pela segunda fase de triagem serão

submetidos à seleção final. Essa seleção é realizada por meio da comparação dos

conceitos de solução em relação aos requisitos do usuário. Para tanto, são

atribuídos pesos aos requisitos de acordo com sua relevância e notas dos conceitos

em relação a capacidade de endereçar cada requisito. Por fim é elaborado um

ranking que auxilia a escolha da solução final (YOCK et al., 2015).

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39

Figura 10 – Funil de seleção de conceitos

Fonte: YOCK et al. (2015)

Figura 11 – Exemplo de matriz para avaliar killing risks

Fonte: YOCK et al. (2015)

3. Implementar:

3.1. Desenvolvimento de estratégia: O processo de inovação de Biodesign é voltado

para grupos de estudantes que visam desenvolver um novo negócio a partir do

produto a ser criado. Nesse contexto, a estratégia para implementar o conceito

desenvolvido tem que considerar todos os aspectos relevantes na estruturação de

um novo negócio, que vão desde aspectos jurídicos até questões de engenharia e

marketing. As frentes de elaboração de estratégias são independentes e devem ser

abordadas simultaneamente, de acordo com as prioridades e capacidade da equipe.

É recomendado que os membros da equipe busquem mentores e especialistas

auxiliá-los nessa fase (YOCK et al., 2015). São destacadas nove frentes a serem

trabalhadas:

(i) Estratégia de propriedade intelectual: compreende a busca e estudo das

patentes publicadas para atingir duas principais finalidades: identificar como as a

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40

nova solução deve ser desenvolvida de forma a não sofrer restrições de operação

tendo em vista as patentes existentes; e determinar como as novas patentes devem

ser depositadas para proteger a tecnologia da empresa. O depósito de novas

patentes pode ser feito de maneira defensiva, que visa criar barreiras para que

outras empresas copiem a tecnologia desenvolvida, ou de maneira ofensiva, que

consiste na identificação da estratégia de P&D dos concorrentes e são depositadas

patentes que bloqueiam esse desenvolvimento (YOCK et al., 2015).

(ii) Estratégia de P&D: envolve a abordagem utilizada para transformar o

conceito inicial em produto final. As atividades de P&D são organizada em função

de marcos de desenvolvimento. Esses marcos incorporam eventos significativos

no processo de P&D e corresponde e mitigação dos principais riscos de requisitos

de projeto. São exemplos de marcos de desenvolvimento: prova de conceito,

primeiro protótipo eficaz em testes de bancada, sucessos nos testes em tecido,

primeiro teste com seres humanos, produção de um produto piloto etc. O

planejamento do projeto de P&D é organizado com o objetivo de alcançar

gradativamente os marcos de desenvolvimento e envolve cronograma de

atividades, equipe e recursos necessários (YOCK et al., 2015).

(iii) Estratégia clínica: compreende a realização de ensaios clínicos cujos

objetivos são estão relacionados a aspectos regulatórios (obtenção de certificações

e registros nas agências reguladoras), a recebimento de reembolso (demonstrar

que o produto atende a exigências de eficácia, segurança e fatores econômicos

para ser incluído na lista itens reembolsáveis) e lançamento no mercado (obtenção

de dados para dar respaldo a solução frente à comunidade clínica). O tempo, os

recursos e o tipo de atividade empregados nos ensaios variam de acordo com a

complexidade do efeito clínico que se deseja demonstrar (YOCK et al., 2015).

(iv) Estratégia regulatória: é preciso atender às exigências regulatórias específicas

de cada país onde a solução será comercializada. Erros e falhas durante o processo

de regulação podem atrasar ou impedir que a solução seja vendida em determinado

local (YOCK et al., 2015).

(v) Gestão da qualidade: até o fim da segunda fase do processo de inovação a

equipe de desenvolvimento pode ser pequena e trabalhar de maneira informal. A

medida que o desenvolvimento avança, é preciso incorporar procedimentos

operacionais que melhorem a confiabilidade e robustez itens produzidos e

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41

estabeleçam um padrão de qualidade. Essa transição possui riscos e se ela for

realizada de maneira equivocada pode ameaçar o sucesso da nova empresa. Os

sistemas de gestão da qualidade (Quality Management Systems - QMS) são

ferramentas que auxiliam que a transição desses estágios do processo de inovação

ocorra de forma estruturada. Nesse contexto, a aplicação de QMS tem tanto papel

no ganho de escala de operação da empresa, quanto no cumprimento de exigências

regulatórias – por exemplo, nos EUA, é exigido que o QMS da empresa apresente

métodos de ações preventivas e corretivas, planejamento e controle da produção,

controle de projeto, controle de materiais, controle de equipamentos e

infraestrutura e controle de mudanças (YOCK et al., 2015).

(vi) Estratégia de reembolso: o ponto de partida dessa atividade é entender quais

são os passos necessários para obter a aprovação de reembolso para um

procedimento médico. As exigências para aprovação podem variar de acordo com

o local onde a solução será comercializada. Nos EUA, a aprovação do reembolso

ocorre em três etapas: a primeira é o cadastro da nova solução nos procedimentos

padronizados utilizados em hospitais e clínicas, cada procedimento tem um código

de identificação específico. Em seguida deve-se solicitar a inclusão do novo

código na lista de cobertura de planos de saúde ou governo. Por fim é necessário

determinar as condições de pagamento, que é basicamente acertar o valor e quem

recebe pelo procedimento. As exigências de eficácia da solução, comprovação

clínica, publicações e demonstração de efetividade econômica variam de acordo

com nível da cobertura (nacional ou local, por exemplo) e de acordo com as

políticas de cada pagador. Por ser um procedimento complexo e de grande

importância para novos negócios em saúde, recomenda-se que a estratégia de

reembolso seja trabalhada desde as fases iniciais do Biodesign e envolva equipe

multidisciplinar (marketing, clínica, regulatória e vendas pelo menos). As

diretrizes para elaboração da estratégia de reembolso são: começar pela avaliação

da estratégia de reembolso empregada por competidores e soluções similares e

usá-las como referência, em seguida, deve-se estimar a faixa de preço da nova

solução e a qual segmento de pacientes se destina. Após esse mapeamento, deve-

se planejar os ensaios e estudos que demonstrem aspectos clínicos, econômicos e

de valor agregado da solução necessários em cada etapa da aprovação de

reembolso. Por fim, deve-se buscar o reconhecimento de stakeholders importantes

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como key-opinion-leaders e membros do comitê das instituições de reembolso

públicas e privadas (YOCK et al., 2015).

(vii) Estratégia de marketing e stakeholders: a estratégia de stakeholders envolve

a revisão, detalhamento e aprofundamento da análise de stakeholders feita na fase

de triagem de necessidades. Nesse processo, deve-se considerar o ciclo de

atendimento e o fluxo de pagamento para identificar os principais stakeholders.

Para aqueles que são tomadores de decisão, deve-se elaborar propostas de valores,

preferencialmente em termos quantitativos, que demonstrem os benefícios que

eles terão ao optarem pela nova solução. A estratégia de marketing envolve a

abordagem dos 4P’s do mix de marketing da empresa: Produto, Preço, Promoção

e Praça. O mix de produto e serviços está associado ao tipo de produto e ao modelo

de negócio escolhido para a solução (essa análise foi realizada no estágio de

triagem de conceito). O preço pode ser determinado por diferentes métodos, por

exemplo: value-based pricing, bundle pricing, gainsharing, pay-for-performance.

A promoção envolve todo o tipo de comunicação empregado pela empresa, a fim

de fortalecer a marca e promover o aumento de receita da empresa. A praça,

relacionada a aspectos de distribuição, é discutida na elaboração de estratégia de

vendas e distribuição (YOCK et al., 2015).

(viii) Estratégia de vendas e distribuição: existem duas estratégicas básicas de

vendas e distribuição para tecnologias médicas: indireta e direta. A primeira é

caracterizada pela presença de um distribuidor intermediário entre o produtor e o

comprador da solução. Na segunda, o relacionamento entre fornecedor e clientes

ocorre diretamente. A estratégia de vendas diretas exige que o fornecedor

desenvolva uma força de vendas capaz de se relacionar com a instituição

compradora. Como as vendas de tecnologias médicas são influenciadas pelos

médicos, pelo setor de compras e em certos casos até pela própria administração,

a força de vendas deve ter um bom relacionamento com essas três áreas. Em geral

quanto maior for o preço da solução e o volume de vendas, mais indicado é a

adoção de um canal de vendas diretas ao cliente (YOCK et al., 2015).

(ix) Vantagens competitivas e estratégia de negócio: existem dois tipos básicos de

vantagens competitivas: as posicionais e as de capacidade. As vantagens

posicionais estão ligadas a maneira que a empresa se posiciona no ambiente em

que está inserida a fim de obter vantagem sobre os concorrentes. É um

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posicionamento relativo aos outros competidores e pode mudar ao longo do

tempo, na medida que os competidores melhoram seu posicionamento estratégico.

Pode-se citar como principais fontes de vantagens de posicionamento:

propriedade intelectual: restringe ou limita legalmente a liberdade de operação dos

competidores; relações chave: um bom relacionamento com importantes

stakeholders, em especial médicos formadores de opinião e poderosos tomadores

de decisão, pode facilitar a aquisição de novos clientes; cobertura de reembolso:

as empresas pioneiras a conquistar aprovação de reembolso podem solicitar

formas de cobertura que favoreçam sua tecnologia e dificulte a obtenção de

reembolso pelos concorrentes; alianças estratégicas: parcerias com grandes

grupos podem dar credibilidade e abrir portas para empresas nascentes; vantagens

geográficas: facilita o acesso a redes de distribuição; marca: adiciona valor

intangível ao produto e é difícil de ser replicado; e acesso a recursos chave: como

financiamentos, informações e insumos. Enquanto as vantagens posicionais estão

associadas a fatores externos à empresa, as vantagens de capacidade estão

associadas a maneira como a empresa gerencia internamente seus recursos. As

principais fontes de vantagens de capacidade são: gestão de propriedade

intelectual: um time capaz de produzir e registrar patentes de forma eficiente,

fortalece continuamente o portfólio de propriedade intelectual da empresa; gestão

de relacionamento: colabora para manutenção e expansão do networking da

empresa; gestão de alianças: saber preservar parcerias estabelecidas e fomentar

novas alianças é uma habilidade que traz inúmeras possibilidades de atuação para

a empresa; gestão de recursos humanos: ter uma boa equipe, requer mecanismos

para atrair, recrutar, manter e formar pessoas talentosas; gestão interna: diz

respeito a capacidade dos gestores em liderar as equipes. É válido ressaltar que as

fontes de vantagens competitivas não são empregadas de forma exclusiva e

estática, as empresas buscam combinar mais de uma fonte e evoluí-las ao longo

do tempo para ter diferenciais em relação aos concorrentes e implementarem suas

estratégias de negócio (YOCK et al., 2015).

3.2. Planejamento de negócio: O último estágio do processo de Biodesign representa

o início do novo negócio criado. Essa fase envolve o planejamento, levantamento

de recursos e execução de atividades que colocam em prática os itens das

estratégias concebidas no estágio anterior. Ferramentas importantes nesse estágio

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são plano financeiro e pitch. Elas servem para reunir o conhecimento gerado até

então e evidenciar como os inovadores vão construir o novo negócio. O plano

financeiro é composto por seis elementos: plano operacional (organiza as

atividades e os marcos principais ao longo do tempo), plano de equipe (especifica

as pessoas que compões a equipe), modelo de mercado (traz projeções de receita

e de participação de mercado bem como uma previsão da força de vendas

necessária), projeções de custo (integra e categoriza os custos das atividades) e

por fim esses elementos são integrados no demonstrativo de resultado do exercício

(DRE). O pitch é uma ferramenta de comunicação que sintetiza principais

características do negócio é utilizado para prospectar novos investidores,

parceiros, clientes e colaboradores.

Para levantar recursos financeiros, as startups podem recorrer a três modalidade

de financiamentos. A modalidade mais frequente é a que o investidor adquire

participações da empresa (Equity) por determinado montante de capital, como o

valor aportado integra o capital social da empresa, não há necessidade de

reembolsá-lo ao investidor. A segunda modalidade de financiamento são

empréstimos (Debt) em que a empresa deve pagar montantes em datas pré-

estabelecidas a empresa credora, levando em conta uma determinada taxa de juros.

A última modalidade são empréstimos não reembolsáveis (Grants), normalmente

oferecidos em programas do governo ou por meio de leis de incentivo fiscal. O

tipo de investimento recebido varia em função do estágio de desenvolvimento da

startup, quanto mais incipiente ele for, maior será o custo para levantar capital, ou

seja, uma parte relativamente alta das participações vão ser oferecidas em troca de

um montante de investimento relativamente baixo. O desenvolvimento de uma

startup é medido em função de marcos de negócio que ela alcança. Os marcos de

negócio normalmente são estabelecidos a partir dos marcos do plano e operacional

e são eventos que representam um ganho de maturidade do modelo de negócio e

a redução de riscos tecnológicos, mercadológicos ou clínicos. A parte superior da

Figura 12 traz exemplos de marcos típicos que as startups de tecnologia médica

devem alcançar em cada estágio de desenvolvimento e a parte inferior da Figura

12 relaciona os tipos de investimento com os tipos de investidores que

normalmente atuam em cada estágio da startup (YOCK et al. 2015).

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45

Figura 12 – Tipos de investimento em função do estágio de desenvolvimento do negócio

Fonte: adaptado de YOCK et al. (2015)

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46

2.2.3. Outros modelos para desenvolvimentos de produtos médicos

2.2.3.1. Framework teórico para envolvimento de usuário

SHAH, ROBINSON e ALSHAWI (2009) afirmam que existem diversas perspectivas

em relação à concepção de equipamentos médicos, como a dos reguladores, fabricantes e

usuários. Todas elas são importantes no desenvolvimento de novos produtos, mas os autores

trazem a atenção, em especial, para a importância da perspectiva dos usuários. Primeiramente,

pois o objetivo primário de um equipamento médico é atender aos profissionais de saúde e

pacientes que vão utilizá-lo. Em segundo lugar, o fato dos usuários de equipamentos serem

bastante heterogêneos (por exemplo, os pacientes podem apresentar diferentes necessidades

específicas dada as suas condições de saúde) exige que os equipamentos sejam capazes de lidar

com a singularidade de cada usuário.

Nesse contexto, SHAH, ROBINSON e ALSHAWI (2009) propõem um framework

teórico para aumentar o nível de envolvimento do usuário ao longo do desenvolvimento de

equipamentos médicos. O primeiro passo realizado pelos autores foi identificar quais eram os

estágios do desenvolvimento de produtos médicos em que era relevante a participação do

usuário. A partir da análise de diferentes modelos, SHAH, ROBINSON e ALSHAWI (2009)

concluíram o desenvolvimento de equipamentos médicos pode ser consolidado em cinco fases

principais: conceito, design, testes e ensaios, produção e uso. Entretanto, só é possível envolver

usuário em quatro delas, que são: conceito, design, testes e uso. Em sequência, os autores

levantaram catorze métodos que permitem o envolvimento de usuários em desenvolvimento de

produto, dos quais podemos citar: entrevista, teste de usabilidade, focus group, seminários de

usuário, entre outros. Por fim, os autores construíram um framework que correlaciona os

métodos de envolvimento de usuário com as fases do desenvolvimento de equipamentos

médicos, tendo em vista que os usuários podem ser classificados em dois grandes grupos:

profissionais de saúde e usuários finais (pacientes, idosos, pessoas com necessidades especiais).

A Figura 13 ilustra o framework elaborado.

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Figura 13 – Framework para envolvimento de usuários no desenvolvimento de produtos médicos

Fonte: SHAH, ROBINSON e ALSHAWI (2009)

2.2.3.2. Processo de Stage-Gates

O objetivo dos autores PIETZSCH et al. (2009) era construir uma representação

abrangente do processo de desenvolvimento de dispositivos médicos. Para isso, foi conduzido

uma pesquisa com entrevistas aprofundadas com especialistas envolvidos ativamente com o

desenvolvimento, regulamentação e uso de dispositivos médicos.

Os autores buscaram entrevistar pessoas envolvidas em diferentes estágios do

desenvolvimento de produtos médicos, desde pesquisa e invenção até definição de conceito

inicial, desenvolvimento, aprovação regulatória e feedback pós-mercado. Foram selecionados

um grupo de oitenta e seis entrevistados, que compreendia especialistas de diferentes áreas de

tecnologia, representantes de empresas, líderes de agências reguladoras, consultores em

assuntos regulatórios e consultores em planejamento de testes clínicos.

O resultado da pesquisa foi a construção de um modelo linear de desenvolvimento de

produtos médicos semelhante a um processo controlado por etapas representado na Figura 14.

Use

rs o

f M

ed

ica

l D

evic

e T

ech

no

log

ies

Healthcare

Professionals

Carers

Patients

People with

Disabilities

Elderly People

Pro

fessio

na

l U

se

rsE

nd

Use

rs

Stage 1

Idea Generation &

Concept Development

Stage 2

Device (Re-) Design &

Prototype Development

Stage 3

Prototype

Testing In-house &

Trials in Real Field

Stage 4

Device Deployment in

the Market & User

Feedback

Professional Users’ Stream

End Users’ Stream

invo

lve

Invo

lve

invo

lve

invo

lve

invo

lve

invo

lve

invo

lve

invo

lve

Lay

Pro

fess

iona

l

Scenario B: Major Upgrading of Existing Device

Scenario C: Redesigning of Device Prototype

Scenario A: Device New to the Market

Invo

lve

me

nt

1. Brainstorming sessions 2. Cognitive walkthrough 3. Discussion with users 4. Ethnography 5. Expert users meetings

6. First human use 7. Focus groups 8. In vitro tests 9. Interviews 10. Observations 11. Surveys 12. Think aloud method

13. Usability tests 14. Users - producers seminars 15. User feedback

User

Involvement

Methods

*

*

1,4,5,7,9,14 1,8,9,10, 12,13,14,15

1,4,5,7,9,14 8,9,13, 14,15* * 3,6,8, 9,12,13 * 2,4,7,9,11 *

* 2,3,6,8,9, 10,12,13* *2,4,5,9,11

Adapted from: 39 (Shah & Robinson, 2008)

Route

Invo

lve

me

nt

Methods

Route

Methods

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O modelo é organizado em cinco fases separadas por quatro stage-gates. A fase 1 é

referente a análise de risco e oportunidade, a fase 2 avalia a formulação do conceito e

viabilidade do produto, a fase 3 compreende o desenvolvimento do projeto detalhado do

produto e testes de validação ao e verificação, a fase 4 envolve as validações finais e a

preparação do lançamento do produto, a fase 5 é referente ao acompanhamento do produto no

mercado. O modelo considera as atividades a serem realizadas por cada função da empresa ao

longo das cinco fases de desenvolvimento. O final de uma fase é marcado pela conclusão dos

principais entregáveis, que vão ser a base para as tomadas de decisão relativas à determinada

etapa do projeto.

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Figura 14 – Processo de stage-gates para desenvolvimento de equipamentos médicos

Fonte: PIETZSCH et al. (2009)

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3. Materiais e métodos

O primeiro passo a ser dado em questões relativas aos materiais e métodos foi a escolha

do método a ser utilizado. Em seguida realizou-se a caracterização dos projetos da Startup em

relação ao método escolhido e por fim estabeleceram-se as atividades a serem realizadas

3.1. Justificativa e escolha do método adotado

A seleção do método escolhido busca levar em consideração o contexto no qual a

metodologia foi elaborada e qual é o seu objetivo. Tendo em vista esses dois fatores, é possível

avaliar qual método está mais alinhado com as condições da realização do trabalho de formatura

O modelo unificado do PDP de ROZENFELD et al. (2006) é elaborado no contexto

de grandes empresas com um número de colaboradores relativamente elevado que são

organizados em diversas áreas. O método busca integrar diferentes equipes para desenvolver

novos produtos, registrando e documentando todas as atividades realizadas. Esse método é

voltado para empresas que já possuem um portfólio de produtos no mercado e têm certa

experiência e conhecimento em lançar produtos no mercado. O modelo tem foco no em

questões tecnológicas e de engenharia, com ênfase em processos de manufatura mecânica para

bens de consumo e bens de capital.

O processo de Biodesign de YOCK et al. (2015) é criado para orientar alunos de

graduação ou graduados em programas de inovação na Universidade de Stanford. O método é

específico para soluções tecnológicas na área médica para equipes que pretendem desenvolver

um modelo de negócio a partir da nova solução. Nesse contexto, o método leva em consideração

diversos aspectos necessários para estruturação de um negócio que vão além do

desenvolvimento tecnológico – contém desde a análise inicial de necessidades, estudo de

oportunidades de mercado, até a o planejamento operacional e estratégia de financiamento da

nova empresa.

PIETZSCH et al. (2009) realizaram um estudo com 86 entrevistas com experts em

desenvolvimento de equipamentos médicos, com o objetivo de identificar padrões no processo

de desenvolvimento de produtos médicos. Os autores abordam o contexto de empresas grandes,

médias e startups. O resultado do estudo é um modelo de desenvolvimento de produtos

organizado em cinco fases e ao final de cada uma delas tem-se um stage-gate, momento em

que são avaliados os principais entregáveis daquela fase. Além disso, durante a realização de

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cada fase, o modelo segmenta as atividades a serem realizadas, as ferramentas que podem ser

empregadas e as principais decisões que devem ser tomadas de acordo com as diferentes frentes

do projeto (marketing, pesquisa e desenvolvimento, qualidade, regulação etc.).

Os autores SHAH ROBINSON e ALSHAWI (2009) revisam modelos de

desenvolvimento de produtos médicos e constatam um baixo nível de envolvimento com o

usuário nos modelos analisados. Nesse contexto, eles propõem um framework teórico que

seleciona os métodos mais adequados para envolver o usuário de acordo com cada fase do

projeto. O framework considera apenas o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos

médicos.

A Tabela 3 compara as quatro metodologias de projetos apresentadas em termos do

contexto em que foram elaboradas e de seus objetivos.

Tabela 3 – Comparação de modelos de desenvolvimento de produto

Autor Modelo Contexto Objetivo

ROZENFELD et al. (2006)

Modelo unificado de PDP

Grandes empresas com muitos funcionários que têm portfólio de produtos no mercado

Aumentar a eficiência do processo de desenvolvimento de produtos

YOCK et al. (2015)

Biodesign Orientar alunos de graduação em programa de inovação da Universidade de Stanford

Orientar o desenvolvimento de um novo negócio que envolve um novo produto médico

PIETZSCH et al. (2009)

Processo de Stage-Gates

Pesquisa de campo com entrevistas com experts em desenvolvimento de produtos médicos

Criar um modelo que represente a realidade de diferentes empresas e sintetiza principais aspectos do desenvolvimento de produtos médicos

SHAN, ROBINSON e ALSHAWI (2009)

Framework teórico para envolvimento de usuários

Discussão teórica sobre modelos de desenvolvimento de produto

Propor métodos para aumentar o envolvimento do usuário

Fonte: elaborado pelo autor

Tendo em vista que o trabalho de formatura é realizado no contexto de uma startup

formada por alunos de graduação para desenvolver equipamentos médicos, o método cujo

contexto e objetivo mais se aproximam dessa realidade é o Biodesign elaborado por YOCK et

al. (2015). Portanto, esse método será base para orientar a realização das atividades práticas do

trabalho de formatura.

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3.2. Apresentação dos projetos de produto abordados

Conforme apresentado na Introdução do trabalho, as atividades são realizadas no

âmbito de uma startup que possui dois projetos de produtos tecnológicos para saúde.

O primeiro se destina a elaborar uma solução que auxilie na contagem de materiais

utilizados em centros cirúrgicos. O produto será denominado Contador de Material Cirúrgico e

foi desenvolvido com o apoio de uma instituição de saúde que será denominada Hospital 1.

O segundo projeto tem o objetivo de desenvolver uma solução para monitorar à

distância a atividade cardíaca de pacientes. Esse produto será denominado Monitor cardíaco

remoto e a instituição parceira que apoia o projeto será chamada de Hospital 2.

As atividades do trabalho de formatura relativas à revisão da literatura e ao estudo de

temas ligados a empreendedorismo tiveram início em 2017 quando o autor cursou a

especialização de Criação de Empresas (Création d’Entreprise et Développement d’Activité -

CREDA) durante o programa de Duplo Diploma (DD) na escola francesa Arts et Métiers

ParisTech. Após o intercâmbio, o autor deu continuidade aos estudos de empreendedorismo,

porém com um foco voltado para soluções tecnológicas no setor de saúde do mercado brasileiro.

As atividades práticas do trabalho de formatura tiveram seis meses de duração, com início em

janeiro de 2018 e término em junho de 2018.

A seguir são apresentados os projetos de produto segundo o estágio de

desenvolvimento em que se encontravam antes do início das atividades do trabalho de

formatura.

3.2.1. Coletor de Material Cirúrgico

O processo de contagem de material cirúrgico é um método importante para aumentar

a segurança do paciente submetido a cirurgias. Ainda que a retenção inadvertida de objetos no

interior de pacientes seja um evento raro, a Association of periOperative Registered Nurses

(AORN) recomenda que a contagem de material seja realizada em todos os procedimentos

cirúrgicos, devido às suas graves complicações (AORN, 2015; FREITAS; MENDES;

GALVÃO, 2016).

Nas diretrizes de segurança para cirurgia publicadas pela Organização Mundial da

Saúde, recomenda-se que a contagem de material cirúrgico seja realizada por duas pessoas ou

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por um dispositivo automático e que caso a contagem seja interrompida, ela deve ser

recomeçada do início (WHO, 2009).

Nesse contexto, o projeto do Contador de Material Cirúrgico se propõe a automatizar

a tarefa de contagem realizada pelos profissionais de hospital durante a realização de cirurgias.

O produto contribui para aumentar a segurança, praticidade e confiabilidade do processo de

contagem.

O desenvolvimento parte da necessidade da equipe do Hospital 1 de aprimorar a

execução do processo de contagem de material cirúrgico, dado que a confiabilidade dos

processos manuais de contagem está sujeita a questões subjetivas dos contadores. As atividades

do projeto começaram em março de 2016. Após alguns ciclos de desenvolvimento, em julho de

2017, concluiu-se a fase de seleção do conceito do produto – isto é, o princípio de solução

escolhido foi testado e validado com a equipe do hospital por meio da construção de protótipo

conceitual. Em janeiro de 2018, o desenvolvimento já estava em um estágio mais avançado

visando à concepção da primeira versão do produto apta para a comercialização. A Figura 15

representa a evolução do projeto segundo a estrutura do processo de Biodesign, destacando os

marcos discutidos.

Figura 15 – Evolução do Coletor de Material de Cirúrgico ao longo do processo de Biodesign

Fonte: adaptado de YOCK et al. (2015)

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3.2.2. Monitor de atividade remoto

Desafios enfrentados pelos prestadores de saúde, como o envelhecimento da

população, doenças crônicas, custos elevados e crescentes na prestação de serviços de saúde

(principalmente para serviços hospitalares) e riscos de erros no cuidado ao paciente têm

potencial para serem mitigados por meio da incorporação de novas tecnologias como os

sistemas de monitoramento de pacientes por aparelhos portáteis (BAIG et al., 2017).

Mais especificamente no que diz respeito ao monitoramento da atividade cardíaca,

sensores portáteis podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico de doenças

cardiovasculares – uma das principais causas de morte tanto em países desenvolvidos quanto

em países em desenvolvimento (ORESKO et al., 2010).

As tecnologias de monitoramento de pacientes facilitam a obtenção de informações

necessárias para realizar diagnósticos e tomadas de decisões durante o tratamento dos pacientes.

Nesse contexto, o projeto de desenvolvimento do Monitor Cardíaco Remoto surge da

necessidade do Hospital 2 em ampliar o monitoramento de seus pacientes e integrar as

informações geradas com as atividades do hospital

As atividades do projeto começaram em março de 2017. Desde então, foram realizadas

várias atividades exploratórias para avaliação da arquitetura do sistema de monitoramento. Em

janeiro de 2018, a equipe buscava conceber um conceito de solução para validá-lo com a equipe

do Hospital 2. A Figura 16 ilustra a evolução do projeto ao longo do processo de inovação do

Biodesign.

Figura 16 – Evolução do Monitor Cardíaco Remoto ao longo do processo de Biodesign

Fonte: adaptado de YOCK et al. (2015)

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3.3. Atividades a serem realizadas

Como o objetivo do trabalho de formatura é fazer com que os projetos avancem ao

máximo em direção ao lançamento no mercado, a atuação em cada projeto começa nas

atividades correspondentes ao estágio do processo de Biodesign que cada projeto se encontra

(ver Figura 15 e Figura 16) e avançam o mais longe possível considerando o prazo disponível

para a realização do trabalho de formatura e o planejamento de cada projeto.

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4. Resultados

4.1. Contador de material cirúrgico

Antes das atividades do trabalho de formatura, a última versão testada do produto

realizava perfeitamente a contagem de material cirúrgico. O equipamento identificava todos os

materiais previstos no escopo do projeto, ainda que os materiais estivessem sujos de sangue e

não realizava contagens duplicadas. Entretanto, o equipamento não teve um bom desempenho

durante o processo de esterilização. Algumas partes do dispositivo se deformaram

plasticamente, o que ocasionou em algumas avarias no equipamento destacadas na Figura 17.

Essa versão será denominada de Versão 1 do Contador de Material Cirúrgico.

Figura 17 – Deformações no produto

Fonte: fotos da Versão 1 do Contador de Material Cirúrgico

A partir desse contexto, tiveram início as atividades do trabalho de trabalho de

formatura no projeto do Contador de Material Cirúrgico. Elas foram realizadas segundo as

frentes de seção “Desenvolvimento da Estratégia” descritas no processo de Biodesign. As

seções seguintes destacam as atividades realizadas.

4.1.1. Estratégia de pesquisa e desenvolvimento

A elaboração estratégia de P&D tem como objetivo evoluir o conceito de produto

selecionado ao fim da fase de Invenção para um produto totalmente funcional, confiável e

robusto que tenha qualidade e desempenho para ser lançado no mercado. No método de YOCK

et al. (2015) são apresentados diretrizes para realizar o planejamento das atividades de P&D.

Neste trabalho, foram realizadas relacionadas atividades ligadas à elaboração e implementação

da estratégia de P&D.

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4.1.1.1. Elaboração da estratégia de P&D

O principal papel do autor do trabalho na elaboração da estratégia de P&D foi a escolha

e realização das atividades para se chegar nas diretrizes do projeto.

A orientação do processo do Biodesign é que o projeto de P&D seja organizado por

marcos de desenvolvimento que se pretende alcançar. Os marcos são eventos importantes que

representam uma redução significante de riscos tecnológicos e de projeto, que ameaçam o

desempenho do produto. Assim, o plano inicial de P&D é elaborado para atingir tais marcos e

compreende o cronograma de atividades, pessoas e recursos necessários para executá-lo.

Dessa forma, o primeiro passo da elaboração da estratégia de P&D foi a determinação

marcos de desenvolvimento. O último marco que havia sido alcançado foi a versão do produto

em que a função principal era realizada perfeitamente. A equipe decidiu que o próximo marco

a ser alcançado seria uma versão do produto totalmente funcional que pode ser utilizada em

diversas cirurgias.

Em sequência, para aprofundar os conhecimentos sobre equipamentos utilizados em

cirurgias e a dinâmica do centro cirúrgico, foi realizada uma visita om caráter exploratório a

um centro cirúrgico. Durante a visita, observou-se como é realizado o manuseio de

equipamentos dentro do centro cirúrgico, foram entendidos aspectos mais detalhados do

processo de esterilização e avaliados outros produtos utilizados.

A visita permitiu ter insights e informações para estabelecer as diretrizes de projeto.

Para tanto, foi aplicada a técnica de análise funcional do produto, que é mencionada tanto por

ROZENFELD et al. (2006) e YOCK et al. (2015). A técnica consiste na representação em

blocos das funções a serem cumpridas. Se necessário, elas são desdobradas em sub-funções e

por fim são elencados métodos, mecanismos, materiais e características que capazes de realizar

as funções e sub-funções. Em reunião de equipe, discutiu-se que as três funções que deveriam

ser priorizadas eram: ser esterilizável conforme o método padrão do Hospital 1; ter design mais

tecnológico e robusto; e ter interfaces mais simples com usuários. O desdobramento das funções

permitiu identificar aspectos de materiais, geometria e arquitetura do produto que precisavam

ser aprimorados. Essas características que a nova versão do produto deve apresentar são

denominadas diretrizes do projeto. A Figura 18 representa esquematicamente as atividades

realizadas para se chegar nas diretrizes.

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Figura 18 – Etapas da elaboração da estratégia de P&D

Fonte: elaborado pelo autor

4.1.1.2. Implementação da estratégia de R&D

As atividades do autor do trabalho de formatura durante a implementação da estratégia

de P&D foram a elaboração e aplicação de um método de gestão de projeto; participação ativa

nas tomadas de decisão para priorizar de atividades e reduzir de incertezas; identificação e

cotação de fornecedores.

Gestão de projeto

Os principais objetivos da gestão do projeto são garantir a boa qualidade do resultado

final e reduzir a duração do projeto. Para atingir esses objetivos, a gestão do projeto visa reduzir

esperas desnecessárias (por exemplo, espera pela entrega de componentes cuja compra poderia

ser antecipada) e manter o foco da equipe técnica nas atividades prioritárias que agregam valor

ao resultado final do projeto.

Para tanto, buscou-se um método de gestão para que fosse simples, dinâmico e

compatível com o elevado grau de incerteza do projeto. A gestão deve ser capaz de absorver as

mudanças de curso à medida que as incertezas são reduzidas e a equipe adquire novas

informações. O método utilizado foi inspirado na metodologia de Scrum, tipicamente usada

para desenvolvimento de softwares em um ambiente dinâmico. Essa abordagem parte do

levantamento das funções do produto, que são implementadas em períodos de trabalho

denominados sprints, que normalmente têm uma semana de duração. O início de cada sprint é

marcado pela reunião de planejamento da sprint, na qual são revisadas as atividades realizadas

na sprint anterior e, a partir da lista de funções do produto, as atividades da sprint atual são

determinadas e divididas entre os membros do time.

Nesse contexto, foi feita uma reunião de equipe para levantar as principais atividades

necessárias para construir uma nova versão do produto segundo as diretrizes de projeto e foi

acordado que seriam realizadas sprints semanais com reuniões de planejamento no início de

cada sprint.

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Durante as reuniões era preciso utilizar uma ferramenta para organizar as decisões

tomadas e monitorar a realização de atividades. Foram avaliadas três ferramentas online grátis

de gestão de projeto: Scrumbr1, Scrumhalf2 e Trello3. O fato do projeto do Coletor de Material

Cirúrgico ter uma relação muito forte de dependência das atividades (i. e. o início de uma

atividade depende dos resultados de atividades anteriores) exige que a ferramenta de projeto

seja capaz de evidenciar as dependências das atividades, para que elas sejam organizadas ao

longo do tempo. Entretanto, nenhuma das três ferramentas avaliadas deixava explícita a relação

essa relação de dependência. Por isso o autor do trabalho de formatura elaborou uma fermenta

para usar nas reuniões de planejamento de sprint, ilustrada na Figura 19. A ferramenta consiste

em um fluxograma que organiza as atividades a serem feitas, levando em conta as relações de

dependência entre elas. As atividades marcadas em verde são aquelas que já foram realizadas,

as com o fundo branco são as que ainda devem ser feitas. A cor vermelha foi utilizada para

indicar as atividades cuja incerteza do resultado é maior e, portanto, devem ser antecipadas (p.

ex. um ensaio para avaliar materiais). Os marcos em linha pontilhada representam as datas de

início e término de cada sprint.

Figura 19 – Fluxograma para organizar atividade durante reunião de sprint

Fonte: elaborado pelo autor

O uso da ferramenta foi importante, pois facilita a priorização atividades, deixando

claro para equipe em quais tarefas devem ser focadas na semana. Isso vai ao encontro dos

1 Disponível em: < http://scrumblr.ca/ > 2 Disponível em: < http://myscrumhalf.com> 3 Disponível em: < https://trello.com/>

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principais objetivos da gestão do projeto. A priorização de atividades é feita tendo em vista o

caminho crítico do projeto e a antecipação das atividades de maior risco.

A atualização do diagrama é feita durante a reunião de planejamento da sprint. O

primeiro passo é marcar as atividades realizadas e caso alguma atividade não foi concluída,

discutir o motivo que levou a isso. Dado os aprendizados da semana anterior, é revista a

necessidade de incluir alguma atividade no cronograma que não estava no plano inicial. Por

último são decidas quais serão as atividades da próxima sprint e quem deve ser o responsável

por cada uma delas. É válido ressaltar que é bastante importante que todos os membros da

equipe participem das decisões tomadas nas reuniões de planejamento.

O objetivo do método de gestão não é fazer com que o resultado final seja entregue a

qualquer custo na dada inicialmente estipulada, mas manter a equipe de desenvolvimento

focada, com ritmo de trabalho constante nas atividades prioritárias.

Redução de incertezas

ROZENFELD et al. (2006) associa o nível de inovação de um projeto com a

quantidades de novidades e mudanças em relação aos projetos anteriores realizados pela equipe.

O projeto do Contador de Material Cirúrgico é o primeiro projeto de produto realizado pela

Startup e exige pesquisa constante para integração de tecnologias, materiais e processos de

fabricação. Isso o caracteriza como um projeto de inovação radical, segundo o a classificação

desses autores.

Nesse contexto, a redução incertezas é um evento constante ao longo do projeto.

Durante as atividades de desenvolvimento de projeto de produto propriamente ditas (realização

de modelos, desenhos, protótipos etc.) em diversos momentos o projetista deve tomar decisões

que vão desde coisas simples como cores e dimensões de componentes até escolha de

tecnologias e a serem utilizadas.

As incertezas estão associadas ao risco referente a tomada de decisões do projeto. A

escolha da cor de componentes e a escolha de materiais vão impactar a experiência do usuário

ao interagir com o produto. Cabe a equipe decidir se vale a pena ou não realizar testes para

realizar essas escolhas. Dessa forma, o primeiro ponto da redução de incertezas é avaliar quais

decisões a equipe de projeto pode fazer de forma autônoma e em quais é necessário a realização

de destes para eliminar dúvidas – esse processo está diretamente associado ao risco que a equipe

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está disposta a correr. A escolha e priorização dos testes envolvem aspectos técnicos, requisitos

do usuário, disponibilidade de recursos e prazo do projeto. A realização de testes em geral

diminui riscos e aumenta gastos e a duração do projeto. Assim, a escolha dos testes é sempre

um trade-off entre a redução de riscos e consumo de recursos.

A abordagem de redução de incertezas ocorre de forma iterativa conforme o ciclo

indicado na Figura 20. A atuação do autor do trabalho de formatura foi principalmente na

decisão de quais testes seriam realizados e no planejamento da construção dos testes.

Figura 20 – Abordagem para a redução de incertezas

Fonte:elaborado pelo autor

Uma boa prática é procurar isolar dúvida ou incerteza que se deseja eliminar e realizar

um teste que atue especificamente sobre a questão abordada. Por exemplo, a viabilidade de

esterilização de um objeto está associada à sua geometria e material. No projeto do Coletor de

Material Cirúrgico, optou-se por tratar independentemente os dois aspectos e decidiu-se realizar

um teste específico para avaliar os materiais utilizados. Foi construído um corpo de prova com

materiais para ser submetido ao processo de esterilização (ver Figura 21). O ensaio de

esterilização realizado dessa forma permitiu testar diversos materiais em uma única rodada de

esterilização. Além disso obtivemos feedback dos profissionais que realizaram o ensaio

específicos sobre os materiais, pois não havia outros fatores (como a geometria do corpo de

prova) para tirar o foco da análise.

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As vantagens de fazer um ensaio com um corpo de prova de geometria simples foram

a redução de custos, comparado a um corpo de prova com a geometria do produto, e a obtenção

de muitas informações a respeito do material. A desvantagem é que não se pode garantir que os

materiais vão apresentar o mesmo comportamento quando estiverem na geometria final do

produto. Isso reforça a ideia de que a realização de testes é um compromisso entre a gestão de

riscos e consumo de recursos do projeto.

Figura 21 – Corpo de prova para testar materiais para esterilização

Fonte: foto realizada pelo autor

Avaliação de fornecedores

Segundo ROZENFELD et al.(2006) uma atividade importante no projeto conceitual é

avaliar o acesso a forncedores capazes de produzir as partes do produto. Para tanto, o autor do

trabalho fez um levantamento dos fornecedores que poderiam fabricar as partes críticas do

produto e solicitou orçamento para seu fornecimento, conforme concebido no projeto.

O processo de busca de forncedores foi realizado por meio de palavras-chave em

buscadores online,. Foram considerados apenas fornecedores nos estados das regiões sul e

sudeste do Brasil. Foram encontrados 25 fornecedores cujas informações foram organizadas

conforme a ficha elaborada pelo autor, ilustrada na Figura 22.

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Figura 22 – Ficha de informações utilizada para cotação de fornecedores

Fonte: elaborado pelo autor

Esse modelo de ficha foi útil para poder lidar com vários fornecedores

simultaneamente. A foto da faixada foi importante para ter uma primeira impressão das

instalações do fornecedor e avaliar se ele seria capaz de produzir as peças na qualidade que

esperávamos. O histórico ajudou na comunicação ao longo do pedido de cotação e

posteriormente permitiu avaliar o fornecedor quanto ao atendimento recebido, aos prazos

estabelicidos e ao cumprimento das promessas feitas.

Ao final, obteve-se cinco orçamentos das partes do produto, sendo que um dos

fornecedores não enviou o preço por peça. Alguns dos fornecedores não fabricavam todas as

peças. Os orçamentos são apresentados na Tabela 4. O gráfico da Figura 23 foi elaborado para

facilitar a comparação de um dado fornecedor em relação aos demais. O gráfico mostra a

comparação, em percentual, dos valores cotados por um forncedor em relação a média dos

preços de todos os fornecedores. A comparação é feita peça por peça e para o valor do produto

como um todo. Os nomes das partes e dos fornecedores foram alterados e os valores da tabela

foram multiplcados por uma constante para manter a confidencialidade do projeto.

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Tabela 4 – Cotação das partes do produto

Fornecedor 1 Fornecedor 2 Fornecedor 3 Fornecedor 4 Fornecedor 5 Média

Parte A R$ 88 R$ 136 R$ 36 R$ 52 R$ 78

Parte B R$ 132 R$ 311 R$ 187 R$ 100 R$ 182

Parte C R$ 134 R$ 174 R$ 328 R$ 118 R$ 188

Parte D R$ 285 R$ 444 R$ 328 R$ 241 R$ 324

Parte E R$ 107 R$ 321 R$ 193 R$ 170 R$ 198

Parte F R$ 155 R$ 274 R$ 413 R$ 252 R$ 273

Parte G R$ 27 R$ 0 R$ 62 R$ 21 R$ 28

Parte H R$ 56 R$ 253 R$ 88 R$ 72 R$ 117

Parte I R$ 709 Não fabrica Não fabrica R$ 1.258 R$ 983

Parte J R$ 559 Não fabrica Não fabrica R$ 1.147 R$ 853

Parte L R$ 43 R$ 185 R$ 37 R$ 50 R$ 79

Parte K R$ 89 R$ 201 R$ 103 R$ 104 R$ 124

Parte L R$ 89 R$ 201 R$ 35 R$ 81 R$ 102

Parte M R$ 672 Não fabrica Não fabrica R$ 426 R$ 549

Parte N R$ 44 R$ 74 R$ 31 R$ 22 R$ 43

Parte O R$ 70 R$ 222 R$ 61 R$ 52 R$ 101

Parte P R$ 44 R$ 56 R$ 29 R$ 26 R$ 39

Parte Q R$ 40 R$ 89 R$ 57 R$ 44 R$ 58

Valor do produto

R$ 3.340 R$ 2.940 R$ 1.986 R$ 4.235 R$ 5.018 R$ 4.198

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 23 – Comparação dos preços do fornecedor 1 em relação ao a média dos preços dos fornecedores

Fonte: elaborado pelo autor

A ficha de informações em conjunto com a tabela e gráfico apresentados ajudaram a

avaliar comparativamente os forncedores em termos quantitativos e qualitativos. Essas

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informação foram importantes para elaboração da estratégia de marketing e para confirmar a

viabilidade de fabricação do produto.

4.1.1.3. Conclusão da estratégia de P&D

Ao longo da elaboração e implementação da estratégia, foi possível constatar que a

qualidade dos resultados de P&D dependem fortemente de aspectos individuais da equipe como

o conhecimento técnico, comprometimento com as entregas e vontade para adquirir novos

conhecimentos. Além disso, existem fatores ligados à gestão de projetos que também podem

influenciar na qualidade dos resultados obtidos. Dessa forma, a principal maneira de atuação

da gestão é canalizar o potencial da equipe para que a realização de atividades esteja alinhada

com os marcos de desenvolvimento do projeto.

Nesse contexto, a gestão de projeto utiliza métodos, ferramentas e mecanismos de

controle para que o trabalho da equipe esteja sempre alinhado com os objetivos da estratégia e

respeitando as limitações de recurso do projeto.

A contribuição do autor do TF se deu no desdobramento da estratégia de P&D e na

busca e construção de ferramentas e métodos de gestão mais adequados considerando a

realidade do projeto. Além disso, o autor teve um papel importante na priorização de atividades

e no processo de redução de incertezas buscando o compromisso entre gestão de riscos,

consumo de recursos e lead-time do projeto.

Por fim, podemos citar como resultados concretos da fase de P&D: a concepção da

nova versão do produto, reduzindo as principais incertezas para alcançar a diretrizes do projeto;

e a análise de viabilidade de fabricação do modelo.

Os próximos passos da estratégia de P&D envolvem a construção da nova versão do

Contador de Material Cirúrgico e sua validação com stakeholders.

4.1.2. Estratégia de marketing e stakeholders

YOCK et al. (2015) discute que a estratégia de marketing está relacionada com a

determinação dos 4 P’s do marketing: Produto (portfólio de produtos e serviços oferecidos),

Preço, Praça (canais de venda e distribuição) e Promoção (comunicação realizada pela empresa

com os stakeholders mais relevantes). Enquanto a estratégia de stakeholders envolve a

elaboração de propostas de valor para os stakeholders tomadores de decisão presentes no ciclo

de tratamento (cycle of care) e no fluxo de pagamento (payment flow).

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Dentre todos esses elementos, as atividades do trabalho de formatura se concentraram

no escopo da estratégia de precificação, buscando realizar uma análise preliminar sobre o

impacto do preço nas projeções de fluxo de caixa da Startup.

4.1.2.1. Análise de preço

A partir das cotações dos fornecedores realizadas no escopo da estratégia de P&D,

pode-se fazer uma estimativa da estrutura de custos da Startup e montar projeções do

Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) (ver Figura 24). Isso permitiu realizar

simulações de vendas variando número de unidades vendidas e o preço do Coletor de Material

Cirúrgico para avaliar a receita gerada e como seria o consumo de recursos. Isso permite avaliar

quanto tempo a empresa conseguiria operar a partir da receita gerada pelas vendas do produto.

Os valores apresentados no DRE foram multiplicados por uma constante por questões de

confidencialidade do projeto.

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Figura 24 – Projeções de fluxo de caixa da Startup

Fonte: elaborado pelo autor

4.1.2.2. Conclusão da estratégia de marketing

O intuito da análise de fluxo de caixa não era precificar o novo produto baseado nos

custos da Startup, mas avaliar o risco financeiro que seria assumido de acordo com o preço e o

volume de vendas. Avaliou-se que a cobrança de um sinal na venda, reduzira significativamente

a necessidade por investimentos. Espera-se que essa ferramenta seja utilizada posteriormente

quando o produto entrar na fase de comercialização.

M1 M2 M3 M4 M5 M6

ReceitaUnidades vendidas

Contador de material cirúrgico 12

Preço

Contador de material cirúrgico R$ 10.000

Sinal R$ 24.000

Receita total R$ 24.000 R$ 96.000 R$ 0 R$ 0 R$ 0 R$ 0

Custo de Produtos Vendidos (COGS)Custos variáveis por unidade

Papa Agulhas

Partes padronizadas R$ 1.803

Partes críticas R$ 3.340

Total R$ 5.143

Custos variáveis

Papa Agulhas

Partes padronizadas R$ 21.637

Partes críticas R$ 40.080

Custos totais R$ 61.717

Margem bruta (Gross margin) R$ 24.000 R$ 34.283 R$ 0 R$ 0 R$ 0 R$ 0

Despesas (SG&A)Infra - estrutura

Incubadora R$ 1.200 R$ 1.200 R$ 1.200 R$ 1.200 R$ 1.200 R$ 1.200

Equipamentos R$ 6.000

Mobília + TI R$ 6.000

Contador R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700

Outras R$ 500 R$ 500 R$ 500 R$ 500 R$ 500 R$ 500

Equipe

Colabordor A R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000

Colabordor B R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000

Colabordor C R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000 R$ 2.000

Despesas operacionais R$ 20.400 R$ 8.400 R$ 8.400 R$ 8.400 R$ 8.400 R$ 8.400

Margem operacional (Operating margin) R$ 3.600 R$ 25.883 -R$ 8.400 -R$ 8.400 -R$ 8.400 -R$ 8.400

Margem op. / Receita 15% 27% - - - -

Gastos financeirosImpostos (Alíquota Simples = 6%) R$ 1.440 R$ 5.760

Investimento

Fluxo de caixa mensal R$ 2.160 R$ 20.123 -R$ 8.400 -R$ 8.400 -R$ 8.400 -R$ 8.400

Fluxo de caixa acumulado R$ 2.160 R$ 22.283 R$ 13.883 R$ 5.483 -R$ 2.917 -R$ 11.317

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4.1.3. Estratégia regulatória

A estratégia regulatória compreende o planejamento das atividades necessárias para

cumprir os requisitos e exigências das instituições reguladoras para autorizar a comercialização

de produtos para área da saúde. No livro de Biodesign, na seção de estratégia regulatória, é dada

ênfase para o processo de registro de um novo produto na FDA (Food and Drug

Administration), que é a agência estadunidense responsável por regular e fiscalizar o comércio

de produtos médicos nos EUA – instituição análoga à ANVISA nos EUA. YOCK et al. (2015)

descrevem como se dão os diferentes processos burocráticos de registro na FDA, em função da

classificação do produto médico.

Neste trabalho, a elaboração da estratégia regulatória tem como referência o contexto

brasileiro e vai além da análise das exigências da ANVISA para comercializar um novo produto

médico. A elaboração da estratégia regulatória, tem como objetivo organizar todos as etapas e

procedimentos necessários para regularizar uma empresa e comercializar equipamentos

médicos na cidade de São Paulo.

O primeiro passo foi a identificação das etapas regulatórias a serem cumpridas. A partir

da consulta ao Manual para Regularização de Equipamentos Médicos na ANVISA (OLIVEIRA

et al., 2017), ao Manual do Módulo Estadual de Licenciamento do Via Rápida Empresa

(JUCESP, 2016) e Manual Empreenda Fácil (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017) o

processo regulatório pode ser organizado em duas grandes etapas: a regularização da pessoa

jurídica e regularização frente à ANVISA.

4.1.3.1. Regularização da pessoa jurídica

A primeira etapa compreende os procedimentos necessários para a criação de empresa

e obtenção de autorização para operar. Existe um fluxo de procedimentos padrão aplicável a

todas as empresas do município de São Paulo descrito no Manual Empreenda Fácil

(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017). Entretanto a aplicação desses procedimentos varia

de acordo com a classificação da atividade e porte da empresa. Por isso, foi necessário analisar

as exigências específicas de empresas fabricantes de produtos médicos.

A regularização da pessoa jurídica ocorre em três etapas: (i) registro da empresa; (ii)

licenciamento municipal; (iii) licenciamento estadual. O ponto de partida para a realização

desses três procedimentos é a escolha da Classificação Nacional de Atividades Econômicas

(CNAE).

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CNAE é organizada por códigos utilizados para padronizar e identificar as atividades

produtivas das empresas frente as instituições do governo, principalmente para fins tributários. A

CNAE é responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) (JUCESP,

2016).

A estratégia de regulação nessa etapa está associada à escolha dos códigos da CNAE a

serem contemplados pela empresa. Pois, todas as exigências e prazos de licenciamento e registro

são relativos à CNAE da empresa. No caso da Startup, ela pretende ser responsável por montar e

comercializar os dispositivos médicos, realizar instalação, manutenção e assistência técnica dos

produtos e eventualmente oferecer treinamentos sobre instruções de uso. Além disso, a empresa

pode realizar projetos de engenharia. Para tanto, estudando a base da CNAE4, foram identificados

os seguintes códigos para as atividades da Startup.

C-2660-4/00 – Fabricação de aparelhos eletromédicos e eletroterapêuticos

equipamentos de irradiação

C-3312-1/00 - Manutenção e reparação de equipamentos eletrônicos e ópticos

M-7112-0/00 - Serviços de engenharia

P-8599-6/04 - Treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial

A partir da escolha dos códigos, foram avaliados os procedimentos para regularizar

uma nova empresa fabricante de equipamentos médicos, com base no Manual Empreenda Fácil

(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017). Os procedimentos foram organizados em três etapas

pelo autor do trabalho de formatura, apresentadas nas seções abaixo.

Registro da empresa

Compreende as atividades para obtenção do CNPJ e desbloqueio do Cadastro de

Contribuinte Mobiliário (CCM). As atividades são realizadas em plataformas online conforme

indicado na Figura 25.

4Disponível em: <https://cnae.ibge.gov.br/>

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Figura 25 – Processos para registrar uma empresa

Fonte: elaborado pelo autor

Licenciamento municipal

O processo de licenciamento varia de acordo com o risco da atividade da empresa. Em

consulta na plataforma RLE (Registro e Licenciamento de Empresas), verificou-se que apenas

a CNAE C-2660-4/00 é considerada de alto risco pela prefeitura de São Paulo. A Figura 26

mostra a consulta feita e qual é o procedimento para se obter a licença para uma CNAE de alto

risco.

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Figura 26 – Avaliação dos riscos das atividades da empresa para licenciamento municipal

Fonte: consulta à plataforma RLE

Licenciamento estadual:

Compreende o licenciamento conferido por três instituições: Corpo de Bombeiros,

Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e Centro de Vigilância Sanitária

(CVS). Como as atividades da empresa foram consideradas de baixo risco, ver Figura 27, a

empresa pode ser licenciada pela plataforma online Via Rápida Empresa (VRE).

Figura 27 – Avaliação dos riscos das atividades da empresa para licenciamento estadual

Fonte: consulta à plataforma VRE

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4.1.3.2. Regularização na ANVISA

O processo completo para regularização de equipamentos médicos na ANVISA consta

no Anexo B. Esse processo é organizado em cinco passos, em que o Passo 1 é relacionado a

regularização da empresa na ANVISA e o Passo 2 são os procedimentos para regularizar o

produto a ser comercializado. Os demais passos são atividades burocráticas internas a ANVISA

e não oferecem riscos regulatórios a Startup.

Existem duas formas de se regularizar um equipamento médico na ANVISA: por meio

de obtenção do Certificado de Cadastro de Equipamento ou do Certificado de Registro de

Equipamento. O que determina se um produto está sujeito a um ou outro a tipo de procedimento

é classificação do equipamento de acordo com as regras presentes na Resolução RDC185/01.

A Figura 28 foi elaborada a partir do Manual de Regularização de Equipamentos Médicos na

ANVISA e sintetiza os principais aspectos do procedimento de regularização.

Figura 28 - Processo de regularização de equipamentos na ANVISA segundo classificação de equipamentos

Fonte: elaborado pelo autor

Os equipamentos de menor risco devem ser cadastrados na ANVISA. Esse

procedimento é mais simples e rápido do que o registro, principalmente por não demandar

Certificado de Boas Práticas de Fabricação, Certificado de Conformidade do Inmetro e

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Relatório de Informação Econômica. As etapas de cadastramento podem ser realizadas

remotamente ou via internet ou via correios. Os procedimentos mais demorados são a obtenção

dos certificados, que fazem com que a duração do processo de regularização possa levar de seis

meses a dois anos (HALPERN; SPIEWAK, 2013).

Os produtos desenvolvidos pela Startup estão dentro da Classe I de equipamentos e,

portanto, devem ser cadastrados na ANVISA para poderem ser comercializados.

4.1.3.3. Conclusão da estratégia regulatória

A regularização da empresa e de seus produtos são processos que devem ser realizados

obrigatoriamente para todo equipamento médicos que for comercializado no Brasil. Conforme

destacado por YOCK et al. (2015), o tempo despendido durante os processos regulatórios

podem atrasar o lançamento de produtos no mercado e influenciar diretamente na projeção de

fluxo de caixa e na viabilidade financeira da empresa nascente. No caso da Startup, a maioria

dos procedimentos regulatórios podem ser feitos remotamente (exceto o licenciamento

municipal) e não é necessária a obtenção de certificados para registro de equipamentos na

ANVISA. Esses aspectos, indicam que não há grandes barreiras e riscos regulatórios para lançar

os produtos no mercado.

4.2. Monitor Cardíaco Remoto

No início das atividades do trabalho de formatura, o projeto do Monitor Cardíaco

Remoto estava no final da fase “Inventar” do processo de Biodesign, buscando validar o

conceito de nova solução. Já havia sido realizada uma primeira fase de testes exploratórios de

conceitos que foram apresentados a equipe do Hospital 2. Os feedbacks obtidos nessa

apresentação permitiram identificar requisitos fundamentais do produto que ainda deveriam ser

atingidos.

Em um primeiro momento, as atividades do autor do trabalho de formatura se

concentraram no escopo da seleção do conceito final. Posteriormente, foi abordado como o

desenvolvimento do projeto do monitor prosseguiria para a fase “Implementar” do processo de

Biodesign.

4.2.1. Seleção do conceito final

YOCK et al. (2015) sugerem que a seleção final do conceito seja feita em conjunto

com stakeholders após a realização de testes e exploração de protótipos. Nesse contexto,

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planejou-se a construção de um protótipo que contemplasse os requisitos fundamentais do

produto, para ser testado e avaliado junto à equipe do hospital.

Nessa etapa, a contribuição do autor do trabalho de formatura foi na condição de

coordenador do projeto. Foi responsável pelas reuniões semanais de equipe para organizar e

distribuir tarefas, ofereceu suporte à seleção e compra de materiais e participou de tomadas de

decisão do projeto. O resultado dessa etapa foi a construção de um protótipo cuja arquitetura

pode ser representada pelo esquema da Figura 29.

Figura 29 – Conceito da solução desenvolvida na fase inicial do projeto

Fonte: elaorado pelo autor

O protótipo foi apresentado à equipe do Hospital 2 e foi considerado um conceito de

produto promissor e passível de ser incorporado em serviços médicos atuais e futuros. Esse

evento foi considerado um marco no projeto, que representou a validação e seleção do conceito

da solução.

Segundo o processo de Biodesign, após esse marco o projeto avança para a fase

“Implementar” na qual devem ser desenvolvidas estratégias em diversas frentes. O autor do

trabalho de formatura optou por priorizar o desenvolvimento da estratégia de stakeholders e de

P&D.

4.2.2. Estratégia de stakeholder e marketing

Conforme apresentado na seção 4.1.2. Estratégia de marketing e stakeholders, YOCK

et al. (2015) discutem que nessa atividade são avaliados os 4P’s do Marketing e é realizado

aprofundamento da proposta de valor aos principais stakeholders. Nessa etapa do projeto,

optou-se por abordar somente a estratégia de stakeholders, tendo em vista que a estratégia de

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marketing pode ser realizada posteriormente, quando o projeto se aproximar da comercialização

do produto.

Conversando com diferentes profissionais de saúde, foi realizado um mapeamento do

ciclo padrão de atendimento de um paciente cardíaco, representado na Figura 30.

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Figura 30 - Etapas do ciclo de atendimento padrão de paciente cardíaco

Fonte: elaborado pelo autor

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O início do ciclo é marcado pela fase de diagnóstico, na qual ocorrem consultas com

o médico clínico para avaliação do paciente. Geralmente após a primeira avaliação, o médico

solicita a realização de exames para realizar o diagnóstico do paciente. Para tanto, o médico

emite um pedido de exame, que é levado pelo paciente até a clínica competente. O médico

clínico pode indicar alguma clínica em especial, mas, em geral, a decisão de local realização do

exame é do paciente. Após o exame, o paciente deve levar o resultado até o médico clínico que

o prescreveu. Tipicamente ocorrem duas avaliações clínicas, mas se os resultados dos exames

se mostrarem inconclusivos, o clínico pode solicitar uma nova rodada de exames para realizar

o diagnóstico. Ao final dessa fase, o médico clínico prescreve o tratamento para o paciente. Em

casos mais brandos, o paciente pode realizar o tratamento em casa administrando seus próprios

medicamentos e ajustando sua rotina segundo as orientações do médico. Em casos mais graves

o clínico pode solicitar algum procedimento ou pode encaminhar o paciente para um médico

especialista.

Na fase de diagnóstico, os principais stakeholders tomadores de decisão são o paciente

e o médico clínico. O primeiro escolhe o médico clínico que irá avaliá-lo e o segundo determina

os exames e o tratamento a ser realizado.

A fase de tratamento, nos casos em que for necessário, começa a com a realização de

procedimentos médicos. Geralmente há um médico (ou grupo de médicos) responsável pelo

procedimento e uma equipe de suporte de profissionais de saúde. O local de realização

procedimento geralmente é indicado pelo médico responsável. Durante o procedimento, a

disponibilidade de materiais depende da administração do local em que é realizado o

procedimento e os médicos responsáveis solicitam os materiais necessários.

Após o procedimento, a recuperação do paciente tem início dentro do hospital (em

UTI’s, enfermarias ou quartos) onde é monitorado frequentemente pela equipe de saúde. A

disponibilização de medicamentos e equipamentos é de responsabilidade da administração do

hospital e a equipe de saúde escolhe e solicita os materiais que serão aplicados na recuperação

do paciente.

Em casos em que o paciente algum tipo de debilitação, o médico clínico ou a equipe

de saúde do hospital pode solicitar que ele faça atividades de reabilitação sob supervisão de

profissionais de saúde até que ele recupere sua autonomia. Os equipamentos utilizados na

reabilitação são escolhidos pela administração da clínica.

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Quando for considerado pela equipe de saúde responsável pelo paciente que está apto

a voltar para casa, o paciente recebe alta e continua o tratamento segundo as orientações

médicas.

O mapeamento inicial do ciclo de atendimento do paciente, evidencia a importância

do médico clínico como tomador de decisão. Mesmo, que o clínico não esteja presente durante

a realização de exames e procedimentos, ele é responsável por escolhê-los e orientar o paciente

sobre suas realizações. Além disso, para que determinada equipamento seja utilizado em

clínicas de exame, centros cirúrgicos, UTI’s, enfermarias ou quartos de hospital, é importante

que a administração da instituição adquira e mantenha os equipamentos em condições de uso,

para que o profissional de saúde competente possa solicitar o uso do equipamento.

YOCK et al. (2015) destacam a importância de um bom relacionamento e

comunicação com médicos formadores de opinião, para que uma solução ganhe conhecimento

e credibilidade na comunidade de saúde e passe a ser solicitada pelos profissionais durante o

diagnóstico e tratamento dos pacientes.

Após o mapeamento inicial do ciclo de atendimento, a equipe de desenvolvimento do

Monitor Cardíaco Remoto em conjunto com a equipe do Hospital 2 escolheram uma atividade

específica do ciclo de atendimento para posicionar a solução. Em seguida, fez-se uma análise

mais detalhada de stakeholders dessa atividade, para avaliar quais necessidades específicas a

nova solução poderia abordar.

As necessidades dos stakeholders ofereceram os inputs necessários para começar a

elaboração da estratégia de P&D.

4.2.3. Estratégia de P&D

A concepção da estratégia de P&D, da mesma forma que se passou no projeto do

Coletor de Material Cirúrgico, começou pelo estabelecimento de marcos de desenvolvimento

para que a nova solução fosse capaz de endereçar as necessidades do stakeholders. Ao

desdobrar os marcos em atividades principais de P&D, foi possível identificar os recursos e o

perfil dos membros da equipe necessários para implementar a estratégia de P&D.

Como a equipe não dispunha desses recursos, optou-se por buscar financiamentos

externos à Startup para recrutar pessoas e adquirir as ferramentas necessárias.

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4.2.4. Abordagem para financiamentos

YOCK et al. (2015) afirmam que o capital envolvido para desenvolver e comercializar

produtos de tecnologia médica é suficientemente grande para que a maioria dos

empreendedores nessa área precisem de investimentos institucionais para desenvolver seu

negócio. Nesse contexto, os autores afirmam que a elaboração de uma estratégia de

financiamento requer ampla exploração dos cenários de financiamento possíveis, afim de

decidir qual é o tipo mais adequado para o estágio da empresa e qual fonte de financiamento

está mais alinhada com os interesses dos empreendedores. Por fim, para levantar capital de

investidores, os empreendedores têm que ser capazes de contar uma história atraente de sua

empresa e demonstrar como os investidores podem obter o retorno que eles esperam.

Assim, o primeiro passo foi determinar o tipo de investimento condizente com o

estágio do projeto. Revisitando a Figura 12 – Tipos de investimento em função do estágio de

desenvolvimento do negócio – contatou-se que o projeto de Monitor Cardiovascular alcançou

os marcos típicos da fase de “Conceito” (Identificação do problema, seleção de conceito e

protótipo de prova de conceito) e precisava de recursos para avançar para o estágio de

“Empresa” (que compreende evoluir a solução em termos de viabilidade tecnológica,

viabilidade clínica e avaliar os requisitos de comercialização). Portanto, concluiu-se que o tipo

de investimento mais adequado seria o Seed Funding.

YOCK et al. (2015) afirmam que no Seed Funding os investimentos ocorrem na faixa

de 10.000 US$ a 100.000US$ e que são úteis para impulsionar o desenvolvimento do projeto

até um estágio onde investimento mais significativos podem ser alcançados. Os

empreendedores podem vender participações da empresa, buscar empréstimos não

reembolsáveis ou até mesmo empréstimos pessoais para financiar essa fase do

desenvolvimento. Os autores ainda destacam que é importante buscar os investimentos com

condições o mais razoável possível, visto que o risco nesse estágio do projeto é muito elevado.

YOCK et al. (2015) ainda afirmam que modelos de negócio com alto risco implicam em baixo

valor de mercado de uma startup e em alto custo para levantar capital – os investidores podem

exigir uma grande porcentagem de participações da empresa por um aporte de capital

relativamente baixo.

Nesse contexto, com o objetivo de proteger o capital próprio da empresa, a equipe da

Startup decidiu por não optar por investimentos em troca participações e buscar empréstimos

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não reembolsáveis. As principais fontes desse tipo de empréstimo são iniciativas

governamentais e programas de empresas que se apoiam em leis de incentivo fiscal.

Realizou-se uma busca por alternativas de financiamento com essas características e a

opção considerada mais adequada foi a primeira fase do Programa Pesquisa Inovativa em

Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP).

Assim, o autor do trabalho de formatura redigiu uma proposta de projeto que foi

submetida à FAPESP no segundo ciclo de análise de 2018 do PIPE. A previsão de divulgação

do parecer da FAPESP é em setembro de 2018.

4.2.5. Conclusão dos avanços do projeto

As atividades do trabalho de formatura contribuíram para alcançar dois marcos no

desenvolvimento do projeto do Monitor Cardíaco Remoto. O primeiro foi a validação do

conceito da solução, sendo a contribuição do autor do trabalho no âmbito de coordenação do

projeto e suporte à equipe de desenvolvimento. O segundo marco foi a submissão da proposta

para financiamento da FAPESP, que exigiu pesquisas no âmbito das estratégias de stakeholders

e P&D.

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5. Discussão

Até o começo das atividades do trabalho de formatura o desenvolvimento dos projetos

era focado quase que exclusivamente na parte associada à estratégia de P&D e engenharia. O

trabalho do autor contribuiu para que outras questões importantes para a estruturação do novo

empreendimento fossem abordadas.

Os resultados obtidos pelas as atividades do trabalho de formatura foram relevantes

em aspectos (i) de desenvolvimento de produto: o autor contribuiu na concepção da nova versão

do Contador de Material Cirúrgico e na seleção do conceito do Monitor Cardíaco Remoto; (ii)

regulatórios: foram mapeados os procedimentos regulatórios necessários para abrir uma

empresa e comercializar equipamentos médicos na cidade de São Paulo; (iii) de financiamento:

foi escolhido de um tipo de financiamento que mais se adequava com os objetivos dos

empreendedores e uma proposta de projeto foi redigida e submissão em uma linha de fomento

da FAPESP; (iv) financeiros: a partir das cotações de fornecedores foi estimado a estrutura de

custos da Startup e avaliou-se do risco financeiro que seria assumido em diferentes cenários de

venda, em que se variavam o preço e quantidade de unidades vendidas do Coletor de Material

Cirúrgico.

Além dos resultados objetivos descritos acima, também se obtiveram aprendizados

úteis para desenvolvimento de produtos futuros que podem ser aproveitados em outros projetos

Startup e por outras equipes de empreendedores.

Um ponto muito importante destacado por YOCK et al. (2015) é que a organização do

trabalho da startup seja orientada por marcos de projeto. Os marcos são eventos importantes

que representam conquistas relevantes em quesitos tecnológicos, de produto, clínicos,

regulatórios ou de financiamentos. Os marcos servem para orientar a equipe frente a um

objetivo comum e mostrar que avanços estão sendo obtidos. Além disso, permitem que

correções estratégicas sejam feitas ao longo do desenvolvimento da startup. É importante

ressaltar que os marcos devem ser validados com stakeholders relevantes, pois se o

desenvolvimento do projeto se apoiar em muitas hipóteses estabelecidas pela própria equipe,

as chances de que o produto e serviço final atinjam seus objetivos é menor.

A validação de hipóteses e redução de incertezas de é um aspecto importante e

constante no escopo de um projeto de produto. Entretanto, é importante ter em mente que a

redução de incertezas envolve testes que consomem recursos e tomam tempo da equipe. Dessa

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forma, a gestão de riscos e incertezas tem sempre que levar em conta se vale a pena investir ou

em um teste para eliminar alguma dúvida ou se vale a pena a equipe tomar decisões

autonomamente. É importante que todas as dúvidas e incertezas de projetos sejam identificadas

e estejam claras para a equipe. Não há problemas em não validar determinada hipótese. Cabe à

equipe avaliar se ela está disposta a correr o risco envolvido. O que pode ser arriscado é que

não se esteja claro quais são as incertezas e dúvidas presentes no decorrer do projeto e assumir

hipótese sem saber qual é o risco envolvido dessa decisão. Dessa forma a startup pode tomar

inconscientemente um risco muito alto e, caso a hipótese assumida seja falsa, as consequências

podem trazer prejuízos que a startup não tem como cobrir.

Além desses pontos, é importante que a equipe tenha um método de gestão que seja

compatível com a realidade da startup. Para tanto considera-se o nível de incerteza do projeto,

a experiência prévia dos membros, o número de pessoas na equipe, a quantidade de recursos

disponíveis etc. O resultado final do trabalho é limitado por aspectos subjetivos da equipe e

pela quantidade de capital disponível. Porém, uma startup com os mesmo recursos e pessoas

pode chegar a resultados com qualidade significativamente diferentes se o potencial da startup

não for empregado de maneira adequada ou em uma direção equivocada.

Conforme mostrado na Introdução do projeto, as startups podem fracassar por diversos

motivos, portanto, é importante que sejam trabalhados diversos aspectos, além da tecnologia

do produto, necessários para estruturar um novo empreendimento. Nesse ponto a utilização

livro de YOCK et al. (2015) foi bastante importante, porque os autores apresentam quais são

as frentes mais importantes para se trabalhar, o que ajuda verificar se há algum aspecto relevante

que a equipe estava negligenciando. Dentro de cada frente destacada pelo autor, são

apresentadas diretrizes a serem consideradas ao se trabalhar em determinada frente. As

diretrizes são muito importantes quando os empreendedores não têm experiência no campo

abordado, elas direcionam o trabalho e fornecem fundamentos para os empreendedores

buscarem ferramentas que sejam compatíveis com sua realidade.

Há muitos fatores que precisam ser abordados para constituir um empreendimento de

base tecnológica no setor de saúde. YOCK et al. (2015) trazem nove estratégias que devem ser

levadas em consideração, além de questões operacionais, de financiamento e comunicação.

Dessa forma, tendo em vista que as startups em fase inicial operam com grande restrição de

recursos, é impraticável que todos esses aspectos sejam abordados ao mesmo tempo. Por isso,

é importante saber priorizar em qual frente trabalhar e canalizar os recursos para as atividades

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que geram mais valor para startup. A priorização de atividades é outro aspecto constante no

contexto de uma startup e vai desde questões amplas sobre priorização das estratégias a serem

abordadas até questões mais rotineiras como a priorização de atividades em uma semana de

trabalho.

Por fim, o método do Biodesign ajudou a identificar quais são os próximos passos a

serem traçados pela Startup. Na frente de P&D é importante atuar para atingir os próximos

marcos de desenvolvimento. Nas demais frentes, é preciso aprofundar os conhecimentos

ligados a questões de reembolso e mapear o processo e as exigências para se cadastrar um novo

item na cobertura de planos de saúde. Além disso, será preciso elaborar uma estratégia clínica

mais detalhada para incorporar a nova solução de monitoramento cardíaco no tratamento de

pacientes.

6. Conclusão

As atividades do trabalho de formatura permitiram a evolução dos projetos de produtos

da Startup. O estudo do processo de inovação do Biodesign de YOCK et al. (2015) trouxe

conhecimentos relevantes para a equipe e impactou positivamente a realização dos projetos.

Além disso, o estudo do Biodesign ajudou identificar pontos em que a Startup precisa avançar,

de forma que será dado continuidade ao trabalho realizado até então, para que os produtos sejam

lançados no mercado com sucesso. Espera-se que a Startup cresça e se transforme em uma

empresa com modelo de negócio robusto, sustentável e contribua com a melhoria do

atendimento realizado no setor de saúde, por meio da inclusão de novas soluções tecnológicas.

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Anexo A – Gastos e qualidade em saúde de diferentes países

Tabela 5 – Dados de gastos e qualidade em saúde de diferentes países

Países Gasto em saúde per capita em 2014 (US$)

Parcela do PIB gasta em saúde em 2014 (%)

Índice de qualidade e acesso à saúde

Haiti 59 7,24% 38

Sudão do Sul 29 2,15% 39

Angola 132 2,99% 41

Congo 71 2,40% 44

Camarões 71 4,93% 44

Índia 57 3,75% 45

Indonésia 120 3,37% 49

Nigéria 107 3,40% 51

África do Sul 510 7,72% 52

Paraguai 359 6,97% 60

Iraque 187 3,19% 60

Egito 154 4,59% 61

Marrocos 181 5,65% 61

Coréia do Norte 48 6,90% 62

México 593 6,01% 63

Venezuela 570 3,51% 65

Brasil 1014 7,99% 65

Colômbia 507 6,01% 68

Argentina 845 6,39% 68

Peru 332 4,81% 70

Iran 383 6,26% 71

Bulgária 572 8,20% 71

Uruguai 1406 9,08% 72

Emirados Árabes Unidos 1613 3,62% 72

Rússia 742 5,54% 72

Cuba 780 11,06% 74

EUA 9060 16,32% 74

China 376 4,87% 74

Síria 94 3,41% 75

Sérvia 491 9,41% 75

Chile 1128 7,36% 76

Turquia 527 4,40% 76

Lituânia 923 6,51% 77

Albânia 266 6,82% 78

Bósnia e Herzegovina 431 9,38% 78

Arábia Saudita 1249 4,39% 79

Eslováquia 1108 6,89% 79

Hungria 894 7,24% 80

Montenegro 382 5,97% 81

Estônia 1112 6,51% 81

Croácia 1006 7,30% 82

República Tcheca 1284 7,65% 85

Portugal 1987 9,09% 85

Reino Unido 4567 9,85% 85

Coréia do Sul 1996 6,90% 86

Israel 2889 7,10% 86

Alemanha 5293 10,97% 86

Grécia 1716 8,34% 87

Canadá 5029 10,12% 88

Áustria 4536 10,32% 88

França 4779 10,93% 88

Japão 4099 10,79% 89

Itália 3190 8,95% 89

Noruega 9118 8,93% 90

Austrália 5638 8,81% 90

Suíça 10005 11,36% 92

Islândia 4609 8,70% 94

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Anexo B – Processo para cadastras ou registrar equipamentos

médicos na ANVISA

Fonte: OLIVEIRA et al. (2017)