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GOA OU O GUARDIÃO DA AURORA

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GOA OU O GUARDIÃO DA AURORA_________________________________

A história passa-se em Goa no séc. XVI e retrata magistralmente uma época em que o colonialismo português aliado à inquisição devastam a sociedade indiana e judaica. A história marca-nos pelo que podia ter sido e não foi.

Como às vezes um pequeno nada, modifica a nossa vida , ou dá cabo dela.

Tiago e Sofia, apesar de orfãos de mãe, vivem uma infância feliz e acabam de ser criados pelo pai judeu e por Nupi, a ama indiana, numa harmonia de

cultura e ensinamentos, rituais e festas.

No entanto,Sofia, loura e de pele clara, sofre com a sua mistura europeia e indiana, e vai fazer de tudo para renegar esta sua ascendência. Seduzida pela esposa portuguesa e católica, do Tio Isacc, toma as rédeas do seu

próprio destino decidindo casar com o seu primo Wadi e marca o destino dos outros, mas isso só o vamos descobrindo aos poucos.

Até aqui a história é-nos narrada em retrospectiva, vista pelos olhos de Tiago que recorda esta infância feliz enquanto apodrece nos calabouços da Inquisição. Recorda também a prisão do pai, traído por alguém que roubara um manuscrito judeu do seu bisavô e o entregara. A tortura a que o pai foi

sujeito, a tentativa de suborno para o libertar e finalmente a morte por envenenamento que ele próprio facultou ao pai.

Após a morte do pai, quando Tiago tenta recuperar o seu filho e a noiva, é preso também ele e, durante seis anos, cumpre pena em Lisboa. Tem

raciocínios e conclusões espantosas sobre o que o rodeia e perde a sua ingenuidade e bondade natural ao ver as atrocidades cometidas em nome da fé. Aí começa a delinear e a tecer a vingança contra o Padre Carlos e

quando o consegue descobre que «após um curto e luminoso momento de êxtase, perdeu o ânimo».

Quando regressa ao seu país as coisas já não são iguais, Sofia morrera e ele culpa o primo. Tudo se precipita, à procura de quem o traíra a si e ao pai,

vai de descoberta em descoberta. Tiago enreda-se numa vingança sem retorno, sem futuro nem para ele nem para ninguém. É Nupi quem lhe

revela toda a verdade, ali, tão evidente e que ele sempre se recusou ver...

Apesar da realidade dura das prisões e calabouços portugueses, da injustiça de uma inquisição que tortura inocentes, das vidas despedaçadas, dos

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destinos adulterados, li o livro sem angústia, sem revolta, sem o incómodo da impotência ou da dor. A narrativa é tão serena, as coisas fluem tão

naturalmente, a inevitabilidade dos factos é vivida numa simbiose tal que nos sentimos serenamente presos nesta trama, com vontade de descobrir o

final.Como diz a contra capa, Zimler dá-nos um livro imaginativo, estimulante e profundamente sensível.

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Na colónia portuguesa de Goa, no final do séc. XVI, a Inquisição fazia enormes progressos na sua missão de impedir todos os 'bruxos' - quer fossem nativos hindus, quer imigrantes judeus - de praticarem as suas

crenças tradicionais. Os que se recusavam a denunciar outros ou a renunciar à sua fé eram estrangulados por carrascos ou queimados em

autos-de-fé.

Ao viver nos limites do território colonial, a família Zarco consegue manter firmes as suas raízes luso-judaicas. Tiago e a irmã, Sofia, gozam uma

infância tranquila, aprendendo com o pai a ilustrar manuscritos e mergulhando no caos inebriante das festividades hindus celebradas pela

sua amada cozinheira Nupi. Quando as crianças atingem a idade adulta, a família é destroçada quando primeiro o pai e depois o filho são presos pela Inquisição. Mas quem poderia tê-los traído? De um rigor histórico notável,

Goa ou O Guardião da Aurora é simultaneamente um policial histórico absorvente e, na sua profunda exploração da natureza do mal, uma

poderosa reinterpretação do Othello de Shakespeare. Na linha dos seus romances históricos anteriores - O Último Cabalista de Lisboa e Meia-Noite

ou O Princípio do Mundo, Richard Zimler dá-nos um livro imaginativo, estimulante e profundamente sensível.

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O quarto romance deste escritor americano de raízes judaicas o terceiro publicado em língua portuguesa - que adoptou a terra de Camões como país de eleição para viver no início dos anos noventa versa, mais uma vez, sobre a família Zarco, já conhecida de O Último Cabalista de Lisboa. Em Goa ou o Guardião da Aurora, é explorada a história de outro ramo da mesma família,

algumas décadas mais tarde.

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Estamos nos finais do século XVI, na Índia, onde o pai de Tiago Zarco guarda o manuscrito, legado pelo falecido patriarca Abraham Zarco,

detentor dos segredos da Kaballah.

O romance começa com uma regressão no tempo contada a partir das memórias de Tiago, já adulto, enquanto aguarda julgamento no cárcere. O jovem começa por recordar a infância – uma técnica que já é familiar em Richard Zimler: o recorrer à memória recuada das primeiras lembranças, isto é, aquelas que deixam marcas mais profundas. Principalmente as que

estão ligadas aos livros, como no texto introdutório de Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, outro romance do Autor no qual o jovem protagonista

se deixa seduzir por uma velha carta de amor escondida dentro de um livro.

A infância de Tiago e Sofia Zarco passa-se em Bijapur, cidade próxima de Goa. Os dois irmãos são crianças sobredotadas que, já desde tenra idade, se dedicam à arte da iluminura trabalhando em manuscritos, juntamente com

o pai.

Tiago executa desenhos que deslumbram, quer pela forma quer pelas cores de uma beleza impossível de descrever. Por outro lado, o apreço de Sofia pelo detalhe, pela minúcia e pelo segredo, característica que marcará a personagem ao longo de todo o romance, fazem-na optar pela arte do

microdesenho ou da micrografia, possibilitando-lhe escrever mensagens secretas nos livros.

Esta primeira parte das suas vidas decorre calmamente, numa cidade onde ainda não chegou o braço da Inquisição. A única sombra na vida dos dois

jovens reside na morte da mãe, que se reflecte em atitudes incoerentes por parte do pai, ao deixar entrever um desespero interior que mascara com um

talento inato para o mimo e a comédia.

A coesão entre os três membros desta família é, nesta fase, praticamente indissolúvel.

Existe, por outro lado, uma relação de desconfiança, uma espécie de amor-ódio, sobretudo por parte de Tiago em relação ao primo Wadi, de

ascendência árabe, adoptado pela tia – uma adepta fervorosíssima da fé católica –, que olha com um certo desprezo o lado judaico da família.

As coisas complicam-se com a entrada dos jovens na adolescência e o aparecimento de novas personagens. Wadi e a jovem indiana Tejal – a frequentar um colégio de freiras e a única criança na aldeia a receber

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instrução –, começam a fazer parte do círculo fechado que é a família nuclear Zarco, factor que gera alguns conflitos .

A personalidade de Wadi, vulcânica, conflituosa e ciumenta, assim como a doçura de Tejal causam uma forte perturbação nas relações entre os

membros da família. O pai teme sobretudo a influência da cunhada, Maria, esposa do irmão e mãe adoptiva de Wadi; Tiago receia a capacidade de

dissimulação do primo e a violência implícita nas suas atitudes; Sofia sofre com o medo imaginário de não ser apreciada, sendo susceptível a uma

melhor aceitação de Tejal por parte do pai do que em relação a Wadi. Sofia é detentora de uma personalidade extremamente frágil, de uma imaginação febril que a leva, muitas vezes, a tecer raciocínios deturpados e a construir

um mundo próprio no qual se refugia e a que mais ninguém tem acesso.

A mudança de cena para Goa, com o casamento dos dois primos - Sofia e Wadi - contribui para o desenvolvimento da intriga a qual atrairá a

fatalidade e o infortúnio para a família Zarco. Em Goa, torna-se mais difícil escapar às garras da Inquisição, que se serve da delação sem fundamento

como prova...

Numa terceira fase, após consumada parte da tragédia, Tiago Zarco passa a relatar, num discurso de grande realismo, a experiência vivida no cárcere –

o desterro a caminho de Lisboa, onde o esperam anos de trabalhos forçados. Motivo: dissidência religiosa.

Apesar das vicissitudes, Tiago faz alguns amigos e estabelece excelentes contactos, conquistando aliados.

Mas é precisamente neste período que a personalidade do protagonista começa a sofrer alterações. Um pormenor que dota este romance de uma convincente nota de realismo. Tiago passa a ocultar dentro de si algo de obscuro. Secreto. Desenvolve a capacidade de dissimular. Todas as suas

atitudes começam a ter subjacentes uma intenção oculta. Descobre o poder de jogar com as vidas alheias, como se estas se tratassem de peças de xadrez. É neste ponto do romance que Zimler dá o verdadeiro golpe de

génio, ao inverter radicalmente o desenvolvimento da trama.

Com o regresso à Índia, começam a ser reveladas, pouco a pouco, as linhas do plano de Tiago Zarco. Em Goa, Tiago depara-se com a possibilidade de escolher ou de alterar o seu próprio destino. A opção que faz determina o

destino de todas as restantes personagens.

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O Autor, para construir o discurso de um prisioneiro da Inquisição em Goa ou o Guardião da Aurora baseou-se em documentos antigos onde constam

apontamentos de pessoas que, na época referida, passaram à forma escrita as suas experiências.

Já a trama em si, é nitidamente inspirada em Othello de Shakespeare onde as personagens de Ana/Sofia fazem de Desdémona, onde há um Mouro de carácter sanguíneo que comete um crime passional e, contrariamente a

tudo aquilo que se poderia esperar, o grande vilão é mesmo o Judeu.

A revelação final torna-se a punição que o Autor atribui ao arquitecto da Vingança, ao qual lhe é negada a felicidade, em cujo lugar se instala,

finalmente, a Culpa.

Os indícios da presença de um "gene Maléfico", ainda por desenvolver, ou de uma propensão para executar uma vingança sem limites está patente na atribuição da alcunha de "Trevas Azuis" ao grande vilão do romance. Uma

alcunha que é inspirada no olhar da personagem, em cuja cor celeste espreita algo de misterioso e obscuro. Luciferino. O temperamento

explosivo, calculista e felino desta criatura está implícito na alcunha atribuída pelo rival – Tigre.

Tudo isto, porque o jovem não se conforma com o papel, conferido pelo pai, de Guardião da Aurora – inspirado numa lenda indiana que fala de um

guardião que, nas trevas na noite, zela para que a Aurora continue a chegar ao horizonte, impedindo a humanidade de perecer nas trevas. O objectivo

deste guardião é impedir o extermínio de todos os judeus do território português e o perecer do conhecimento, saber e cultura judaicos nos autos-

de-fé em praça pública. A Aurora personifica a luz que expulsa as trevas, numa manifestação da força de YHWH. É a génese do iluminismo.

Contudo, nem sempre os fins justificam os meios...

Um livro que surpreende pela pertinência da crítica face à intolerância em todas as manifestações de fé e às posições ideológicas extremistas,

escondida nas entrelinhas e patente no impressionante final com que nos presenteia Richard Zimler.

Zimler é particularmente brilhante, na forma como constrói a estrutura mental de todas as personagens e estratifica as respectivas motivações ao descrever todas as nuances emocionais, uma característica que torna a sua

escrita particularmente rica.

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“O que é a memória?” A história, narrada na primeira pessoa, começa com o protagonista relembrando o dia da sua prisão em 1591, assim iniciando um flashback pela sua vida e da sua família de judeus na Índia Portuguesa do

século XVI.

Trata-se de uma narrativa, que não obstante a sua aparente simplicidade, se revela a tal ponto enleante, que torna difícil ao leitor escapar à trama que o

aprisiona à leitura.

Tiago é um judeu português nascido na Índia no início de 1573, mistura de indiano e europeu (que os seus olhos azuis não permitiam ocultar), que

conserva como primeiras memórias a recordação do desaparecimento da mãe, apesar de parecer ter sido entretanto capaz de, por um instante,

atravessar a ponte da morte para a vida, era então uma criança de quatro anos e meio.

Do seu núcleo central de “companheiros de jornada” faziam parte:

- o pai Berequias (provindo de Constantinopla, cuja família já antes, em 1507, se vira obrigada a fugir de Portugal, porque o Rei D. Manuel e outros

altos responsáveis não a deixara viver livremente como judeus);

- a misteriosa, irada, irascível e obstinada irmã Sofia, com os seus mesclados traços europeus e indianos, fechada sobre si própria e o seu

pequeno mundo;

- a doce amada, a hindu Tejal, cuja recordação lhe dava forças para suportar o cativeiro;

- o tio Isaac (irmão do pai), judeu converso; e

- a sua esposa, a cristã (ex-) aristocrata e por vezes crua tia Maria (ambos vivendo em Goa);

- o “pequeno mouro” Wadi, o primo muçulmano adoptado, ao mesmo tempo que era rebaptizado como Francisco Xavier (em homenagem ao missionário

jesuíta que convertera dezenas milhares de hindus de Goa);

- a cozinheira hindu Nupi, que, com a repetida expressão «Os guardiães da aurora conhecem a noite melhor que ninguém», lembrava que a esperança

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faz sentir mais profundamente as épocas de escuridão e que é necessário que nos protejamos uns aos outros;

- a par da memória do trisavô Berequias Zarco, cabalista de Lisboa que, em 1497, fora forçadamente convertido ao cristianismo, consubstanciada por via de um manuscrito por ele escrito, descrevendo o massacre de 1506 em Lisboa, no qual 2 000 judeus convertidos foram assassinados e queimados

em público.

______________________________________________________COMENTARIOS:

"Gostei mto da tua visão do livro, só que comigo passou-se algo diferente: eu fiquei perturbada com aquelas descrições das torturas e outras

situações, o livro mexeu mto comigo, não o li serenamente... mas adorei lê-lo, sem dúvida. Marcou-me muito."

»"Gosto da forma simples como escreve e trata de questões tão complexas.Julgo que a crítica aos extremismos e radicalismos que, como

sublinhas, está presente neste livro, é uma constante de toda J Ba obra do autor."