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entrevistAAmbientAr 2010“Ser brasileiro é focar no talento brasileiroe não importar a cultura do outro”
A arte cinematográfica norteia a concepção dos ambientes e aposta na solidariedade em alta
decorarquitetura & interiores
Setembro 2010 - Ano IV - nº 13
GOIÂNIA
índice
208
44
2834
Sustentável e refinadopor daíse de s á
especial
Solidariedade cinematográficapor daíse de s á
mostra
Tendências marcam triênio decoreditorial
Vivencie o poder do naturalpor sandra camargo
artigo
Construir a desconstruçãocom fernando e humberto campana
entrevista
editorial
13ª edição da revista decor tem um sabor
diferente. Com ela, comemoramos o ter-
ceiro ano de registro diferenciado de im-
portantes eventos de arquitetura, design e paisagis-
mo; entrevistas exclusivas; e ainda artigos de profis-
sionais que informam com praticidade. Esse número,
inegavelmente, recebeu um carinho especial desde a
idealização das matérias até os últimos retoques.
A criatividade, baseada no cinema, e solidarieda-
de da Ambientar 2010 foram destaques da matéria
produzida com o melhor da Mostra. Abusando tam-
bém da criatividade e sustentabilidade, arquitetos e
indústrias têm usado, com excelência, o bambu para
elaborar ambientes e mobiliários inteligentes e con-
fortáveis.
Para fechar com chave de ouro o triênio decor, tra-
zemos a entrevista com a renomada dupla Humberto
e Fernando Campana. Numa conversa descontraída,
eles falaram das tendências de design mundial, suas
carreiras e processo criativo.
Desfrutem da boa leitura e até a próxima.
Bruno Brasil
a8
Tendênciasmarcam triênio decor
Espaço Solidário – um dos
destaques da Ambientar
2010, estimula
contemplação e reflexão
Foto da capa: Ricardo Lima
O projeto usa uma linguagem lúdica esimbólica, para se revelar, foram eleitosalguns símbolos do universo infantil quepudessem comunicar a todas as faixasetárias os conceitos da ação solidária
Estar Solidário
Arquiteto, designer de
interiores e vitrinista
(62) 8473-7223
profissional
12
Fotos: Ricardo Lima
robledocosta
lefantes, árvores, pássaros, canoa e
placas de gesso com mão impressa,
são os elementos fortes deste pro-
jeto, cada um dentro de sua simbologia con-
ta a relação de esperança, fartura, prosperida-
de, singeleza e simplicidade que envolve o ato
de ajudar. As cores predominantes no espaço
são o azul, dourado e o branco.
e Para que o espaço não fosse apenas uma área de cir-
culação, optou-se em transformá-lo num lugar onde se
pudesse permanecer, interagir e confraternizar.
Toda a mobília foi pensada de forma a ser visualmen-
te um ambiente convidativo a uma permanência média
e prolongada. Uma das peças de destaque é a grande me-
sa de centro de 3 metros, criada por Robledo e executada
pela Nova Aliança Arte e Design, que é estrutura em ma-
Foi criada para o espaço uma tela pela artista plásti-
ca Dani Gouthier, cuja temática se da em torno de todos
os tipos universais de solidariedade.
A mobília em geral do espaço ficou por conta da Or-
namento Interiores, a parte de iluminação é da VEZZO ilu-
minação, cortinados, carpete e papel de parede são da
SUMMERFLEX, o paisagismo da Garden Tamburil, a foi
criada e executada pelo próprio designer, já os adornos
(pássaros, peças do rack, bancos de porcelana, vasos e
porta retratos), são da Casa Renata Arantes.
deira e revestida de uma pele de vidro doura-
da que serve de base para a instalação de ar-
vores estilizadas, feitas em gesso e papel ma-
ché, que simbolizam o crescimento espiritual.
O dourado entra como símbolo da di-
vindade, da riqueza material e espiritual.
Achou-se interessante contar a história da
solidariedade através de um cenário con-
temporâneo que articula design, arte e ma-
teriais alternativos.
Foto
s:
Ric
ard
o L
ima
NOVA ALIANÇA ARTE E DESIGNmóveis planejados
(62) 3565-7234
Artista Plástica DANIELLE GOUTHIER
(62) 7811-4662
(62) 3285-4900
(62) 3942-3859
(62) 3942-7922(62) 3942-7820
(62)3348-1355
Com consciência ecológica em alta, surgem possibilidades que agregam o natural ao luxo. O bambu tem sidoaposta de muitos profissionais paraconcepção de projetos refinados e com consumo conscienteporDaíse de S á
Sustentávele refinado
Bambu –material de custo
acessível é garantia de
sustentabilidade e refinamento
especial
20Fotos: Divulgação
lexibilidade, resistência, sustenta-
bilidade e beleza. Essas são algu-
mas das qualidades de um pro-
duto de custo acessível e que pode embele-
zar de forma natural ambientes internos e ex-
ternos: o bambu. O Brasil possui um dos maio-
res números de espécie nativa e maior área de florestas
naturais da planta. Tanta matéria prima tem entusiasma-
do designers e indústrias a investir na beleza decorativa
que vem da planta.
O bambu apresenta variadas vantagens, entre elas a
defesa pelo consumo consciente, tendência em alta em
f
Releitura –O antigo taco de madeira
é substituído por partes simétricas de bambu,
presente na Casa Cor Curitiba deste ano
Casa Cor São Paulo de 2009, que se vale da cadeira Lapa e
poltrona Bambu para dar conforto e charme ao local. Se
até algum tempo atrás, a ideia de ter mobiliário de alta
qualidade e design refinado utilizando o bambu como
matéria prima não passava de um sonho distante, as pe-
ças escolhidas para este ambiente deixam claro que o so-
nho se tornou realidade.
Outra possibilidade apresentada para ter elementos
da natureza dentro de casa é o painel duplo, criado tam-
bém pela Oré Brasil. O revestimento, que é uma releitura
do antigo modelo de tacos de madeira usados para piso
todo o mundo. Devido sua espessura fina, o
resultado são peças leves tanto fisicamente
quanto visualmente. O material é uma verda-
deira oportunidade de ter o luxo sem exage-
ros em casa unindo com totalidade a susten-
tabilidade e refinamento.
O fato de usar um produto brasileiro esti-
mula as produções do arquiteto Paulo Fog-
giato, da Oré Brasil. Seus móveis estiveram pre-
sentes em várias Casas Cores desse ano. Um
desses exemplos é o Restaurante Badebec, da
Foto
: E
stú
dio
DW
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Cadeira Lapa – tradução de conforto presente na
Casa Cor São Paulo
Uso variado de peças de decoração e iluminação comprovam a
versatilidade do bambu
Foto
s:
Div
ulg
ação
Design – Traço delicado
sem abrir mão da
alta qualidade
Os tons claros da
mesa Awá e cadeira
Alice criam atmosfera clean
A flexibilidade do bambu é bem ilustrada no Terraço
da Viúva, do designer de interiores Fabio Galeazzo, na Ca-
sa Cor São Paulo 2010. O espaço, inspirado na África con-
temporânea, impressiona pelo contraste entre os revesti-
mentos feito de pastilhas de ouro italianas e de bambu. O
luxo casa-se perfeitamente com o sustentável, sem deixar
de lado a comodidade que a alta tecnologia proporciona.
“A proposta era criar um ambiente sofisticado, mas sem
deixar a impressão de que tudo era intocável”, explica.
Terraço da Viúva – Projeto assinado por Fabio Galeazzo alia aconchego e sofisticação
deu personalidade e exclusividade ao am-
biente da arquiteta Daniela Shmaedecke, ex-
posto na Casa Cor Curitiba 2010. Além disso,
o bambu pode oferecer aconchego e confor-
to, por meio de traço delicado como obser-
vado nas curvas da mesa Awá e a cadeira Ali-
ce, também da Oré Brasil. O tom claro das pe-
ças é uma garantia de iluminar o ambiente,
dando a ele aspecto clean.
Foto
: D
ivulg
ação
iluminação bem escolhida confere de forma sutil um vi-
sual exclusivo ao projeto da arquiteta Ana Maria França e
Adriana Neves. A versatilidade do bambu pode ser con-
ferida nos lavabos, onde a planta serve de sustentação
para a saída de ar sem perder a linha aconchegante es-
colhida para decoração.
Restaurante Atacama – O projeto de Ana Maria França e Adriana Neves equilibra requinte e rusticidade
Projetos sustentáveis –O restaurante goia-
no Atacama exibe a possibilidade de usar o
bambu na arquitetura. Os forros das área ex-
terna e dos lavabos equilibram requinte e
rusticidade, criando uma atmosfera intimista
e natural. O brilho do material obtido pela
Foto: Cida Carneiro
d
A Ambientar 2010 usa o cinema para norteara criação dos ambientes expostos. Acriatividade cinematográfica apresentasugestões acessíveis e oferece espaço aoespírito solidário, sempre presente na Mostra
porDaíse de S á
Solidariedadecinematográfica
mostra
aixão por cinema e criatividade de arquite-
tos. Esses foram os dois pilares da Mostra
Ambientar 2010, que acontece de 3 de se-
tembro a 1º de outubro, na Central de Apartamentos
Decorados Consciente/Bambui Empreendimentos. Mais
uma vez o público visitante pode apreciar várias possi-
bilidades de usufruir uma moradia confortável, moder-
na e acessível.
Este ano dois temas nortearam as criações: solida-
riedade e cinema. Enquanto o primeiro já é uma marca
oficial do evento, que anualmente encaminha verba e
alimentos arrecadados na bilheteria a instituições de
assistência social; o cinema levou glamour, emoções e
encanto aos 43 ambientes expostos.
p
28
Sex and The City – uma das locações do
filme serviu de base para concepção
do Living de Nando Nunes
Fotos: Ricardo Lima
nematográficas. Outro destaque da Cozinha fica por
conta da tinta e vidro, que substituíram o tradicional
uso de revestimento cerâmico. O acabamento se mos-
trou uma proposta inteligente para dar um toque dife-
renciado sem abrir mão de aspecto clean e organizado.
Criando contraponto entre as antigas ante-salas de
projeção de película e a modernidade do cinema em ca-
sa, o Home Cinema, de Flávio Paraguassú, estabelece
mistura ousada e bem-sucedida entre peças de anti-
quário e mobília contemporânea de designers italianos.
Tempos Modernos –Maria Fernandes homenageia Chaplin e o início em preto e branco do cinema
A era do cinema mudo de Charles Cha-
plin, em especial a temática da Revolução
Industrial trabalhada no filme Tempos Mo-
dernos, serviu de inspiração para a desig-
ner de interiores Maria Fernandes criar a Co-
zinha. A homenagem é traduzida pela foto
do ator britânico estilizada na persiana que
faz o papel de um grande painel. É impos-
sível olhar o preto e branco do ambiente e
não se lembrar das primeiras películas ci-
plorado na criação do Living, por Nando Reis, foi a mis-
tura envolvente entre o rústico e o clássico presente no
glamour de Dubai, referência nos Emirados Árabes. O
designer de interiores deixou claro que é totalmente
possível os amantes de cinema terem em casa a at-
mosfera do filme que mais gostam ou se identificam.
Entrando no living que mais se assemelha as amplas va-
randas árabes, com colunas clássicas e tendas doura-
das, a sensação transmitida é a de visitação aos luxuo-
sos hotéis dos Emirados.
Home Cinema – peças de antiquário e mobília contemporânea de designers italianos compõem o ambiente de Flávio Paragassú
A proposta do arquiteto é destacar a passa-
gem do tempo que marca o percurso histó-
rico do cinema. “A primeira idéia é a do ci-
nema como evento social, época em que as
pessoas iam assistir as películas com trajes
de festa; e hoje, é possível ter a tecnologia
com o conforto de casa”, explica o arquiteto.
Filmes específicos também fizeram par-
te da concepção de cenários da Mostra. Um
deles foi Sex and The City 2. O aspecto ex-
Foto
s:
Ric
ard
o L
ima
Mistura – o Lounge de Festas fez um verdadeiro mix de referências étnicas do Brasil, Índia e África
Barraco. Segundo o arquiteto, a mistura de elementos é
um meio de não quis abrir mão da atual reciclagem ur-
bana, fibras naturais e sintéticas e artesanato.
No Espaço Solidário, de Robledo Cássio da Costa, o
azul e amarelo equilibrados pelo branco criaram atmos-
fera convidativa à solidariedade. Para o arquiteto, a área
estimula a contemplação e reflexão. O painel de gesso
com marcas de mãos infantis remete à necessidade de
ajudar o próximo. “Quis mostrar o resultado das doações
do ano passado por meio do painel que reflete não a
Cores –Mais uma vez é possível confirmar a
tendência de cores fortes presente em 2010
na maioria das mostras de arquitetura e de-
coração. Pink, verde limão e suntuoso lustre
deram vida e aspecto inconfundível ao Loun-
ge de Festas, do arquiteto Daniel Almeida. O
espaço mistura referências étnicas do Brasil,
da Índia e África. A interessante opção para
criação de um espaço voltado a festa oferece
também oportunidade de relax na poltrona
idéia de mãos que pedem, e sim mãos que agradecem”,
explica. Outra tendência atual utilizada no Espaço Soli-
dário é o jardim vertical intercalado por madeira de de-
molição, garantindo atmosfera suave e natural.
O Bar e Creperia uniu diferentes estilos para agradar
a todos os gostos. Verde limão, vermelho e roxo deram
colorido e descontração a parte externa, enquanto a
sofisticação, incluindo galeria de arte, tomou conta da
parte interna. Alexandre Dias, Alessandra Lobo, Alessa
Lobo e Pri Castro fizeram questão de reaproveitar ma-
teriais na concepção das arandelas e corrimão e tijolos
de demolição nas colunas.
Solidariedade – espaço para
contemplação e reflexão em meio ao colorido
do azul e amarelo compuseram o Espaço Solidário
Foto
s:
Ric
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ima
d
A funcionalidade e a sensação deaconchego que a madeira transmiteexplicam sua consolidação independentede qualquer tendência
Vivencie o poder do natural
Foto
: P
aulo
Merc
adanteartigo
34
O uso da madeira como material elegante e
neutro serve de pano de fundo para uma
decoração colorida
Foto: Divulgação
Arquiteta com especialização
em Paisagismo pela
Universidade Castelo Branco-RJ
sandracamargo
er a continuidade da natureza
em casa é uma das possibilida-
des que o uso da madeira traz
na construção. Sua utilização não é novi-
dade. Desde a antiguidade, teve início sua
trajetória seja no uso funcional – estrutu-
ra, cobertura, revestimento, piso ou como
decoração. O que não falta são oportuni-
dades para explorar suas qualidades.
Uma ótima opção ecológica é a madeira de de-
molição. Exemplo disso, é o ambiente idealizado, pe-
la paisagista paulista Gigi Botelho, para acolher o es-
pelho d’água. A madeira restaurada utilizada valoriza
o cenário, transmitindo aconchego e conforto.
Evitar o desperdício na construção pode ser ou-
tro papel importante desempenhado pela madeira.
Construir com este material evita uma quantidade
enorme de entulhos na obra. Mas, para escolher o ti-
tA madeira traz aconchego e
beleza e dá destaque a uma
arquitetura mais natural
Milenar na decoração, a madeira empresta seu charme ao ambiente
de linhas contemporâneas da Arquiteta Fernanda Marques
po ideal a ser utilizado, o proprietário de-
ve contar com a ajuda do arquiteto, que
indicará a espécie mais apropriada para
cada situação.
Que dizer de ter o conforto da madeira
em toda a casa? A arquiteta Fernanda Mar-
ques trabalhou bem essa idéia por prepa-
rar a estrutura, revestimento e cobertura
com essa matéria-prima. É possível reduzir
o gasto com a estrutura do imóvel por
meio de uma edificação com a madeira ,
uma vez que o peso deste material é con-
sideravelmente menor que o do concreto.
O grande sucesso deste projeto fica por
conta do diálogo entre a natureza que la-
deia a residencia e o uso de um material
tão natural.
A leveza visual pode ser observada no
projeto que a mesma arquiteta apresen-
tou na Casa Cor São Paulo. O contraste en-
tre o brilho do piso e a sobreposição de
diferentes tamanhos de madeira trouxe a
sensação de acolhimento e conforto em
um ambiente com ar extremamente mo-
derno.
Para quem prefere a praticidade e não
quer abrir mão do efeito plástico da ma-
deira, o destaque fica para os revestimen-
grande material de construção no século XXI. Além
disso, o uso consciente da natureza agrega valor ao
projeto. É imprescindível a aquisição com responsabi-
lidade ambiental, por exigir o uso de produto com cer-
tificado de madeira legal e que tenha o selo verde. En-
fim, é possível construir edificações com a beleza da
madeira e praticidade das novas tecnologias.
O uso da madeira de demolição como uma opção ecológica presente na Casa Cor São Paulo
tos que imitam a madeira que podem ser
utilizados nas áreas internas e externas. O
mercado oferece diferentes tipos de por-
celanatos com aspecto visual idêntico ao
material nobre e que não apresentam di-
ficuldade na manutenção.
Não há dúvidas de que a madeira é um
Foto
s:
Paulo
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adante
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Cozinha do Apartamento da Família Globalizada
Maria FernandesDesigner de Interiores [email protected] 62 8441-7005 62 9107-5515
A revolução industrial, mais precisamente os e
Ambientar 2010
A
A revolução industrial, mais precisamente os episódios retratados no cinema mudo de chaplin,foi a inspiração para este ambiente.As paredes, aocontrário do tradicional, não possuem revestimento cerâmico, sendo trabalhadas em tinta e vidro. A mobília e os eletroeletrônicos remetem às tonalidades das primeiras produções da indústria cinematográfica, bem como ao aprimoramento das
tecnologiasdomésticas, desde a era chaplin até os tempos modernos. Destaque também para bancada emsilestone e armário em mdf negro e vidro reflecta.A persiana faz o papel de um grande painel, em homenagem ao ator britânico que se transformou numa das personalidades mais criativas e influentes da era do cinema mudo.
Apoio:
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estrutura da escada em aço inox
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(62) 3282-0033 / 3282-0044
Construir a desconstrução
entrevista
44
fernandocampana
humbertocampana
Os irmãos Fernando e Humberto Campana,do interior de São Paulo, têm criações quefalam por si só e calam aqueles que as ob-servam. Humberto, formado em Direito, e Fer-nando, em arquitetura, trabalham juntos hámais de 20 anos. O Brasil levou um tempopara reconhecer o talento da dupla. A Itálialogo notou a proposta inovadora. “Quandonos propomos ser um criador ou alguém quevai propor o novo, não pode só ser repetir. Épreciso lançar tendências”, alfineta Fernando.Seus nomes estão ligados a diferentes em-presas como Edra, Alessi, Artecnica, Melissa,Grendene, Lacoste, H. Stern, Plus Design. E ain-da mais! A Vermelha Chair tem espaço reser-vado no Museu de Arte Moderna, de NovaIorque, o famoso MoMA. Com qual objetivoeles criam? “Quero com meu trabalho passarafetividade”, responde Humberto. Em tom dedescontração, eles falaram com a decor.
Anêmona –Com mangueiras PVC, ferro e o
constante entrelaçar pode ser feito inimaginável
Foto: Edra/Divulgação
Foto: Giuliano Gillet
porDaíse de Sá
fernando –Caótico. Nós não determinamos fazer um
projeto por vez. Às vezes temos dez projetos em cur-
so. O que nos atrai mais é que aquele que tem maior
prioridade, porque daí ele saí mais rápido e dá tem-
po de fazer o outro.
decor – Como os senhores exteriorizam algo que es-
tá na imaginação?
humberto campana –Criar é um ato constante. Nun-
ca paramos. Eu estou de férias e estou criando. Sem-
pre estou olhando e vendo coisas novas.
decor –O que o leitor pode esperar ver e
ler no livro Campana Brothers- Complete
Works, que teve sua noite de autógrafo
no último mês de agosto em Goiânia?
fernando campana–Desejamos que tra-
ga inspiração. Não só para fazer móvel,
mas para se vestir também, para vida. En-
fim, se inspirar.
decor – Como é o processo criativo dos
senhores?
Foto
: Luis
Cala
zans
Multidão Chair – Símbolo do
projeto social da cidade de
Esperança, Paraíba, as bonecas
garantem exclusividade
à peça feita somente
sob encomenda
humberto –Sem dúvida. Acho importante ter a de-
licadeza de unir simplicidade, sofisticação e sustenta-
bilidade sem ser over, mesmo trabalhando com o over.
Ter a mão muito delicada, o traço delicado.
fernando –Considero os três importantes. Até mesmo
a sofisticação que é mais fútil. Não adianta fazer aquele
ecológico chato – o ecochato. Hoje, todo mundo que
trabalha com isso está tentando mudar, colorir. Antes
parecia que tudo que era ecológico era cor caqui. Tem
que haver o equilíbrio entre os três.
decor –Os senhores tiveram a infância numa cidade
relativamente pequena e agora participam da vida de
grandes cidades e têm seus nomes ligados a marcas
famosas. Como é presenciar essa evolução na própria
vida e na do outro?
humberto –Acho que somos abençoados. Nenhum de
nós pensava que queria ser designer, a profissão veio
até nós.
Modernidade – A rusticidade das ripas dá vida a Cadeira
Favela, que evoca as formas de uma favela brasileira
fernando –Observação.
Quem trabalha com estéti-
ca tem que estar sempre observando co-
mo o outro vive. Quem vai propor alguma
coisa sempre tem que observar como é
que o outro vive. Com o tempo criamos um
vocabulário de coisas que ainda não foram
executadas; mas quando precisamos aque-
la ficha sai rápido. Isso vem do exercício.
decor – É possível unir a tríade simplici-
dade, sofisticação e sustentablilidade
em uma só peça? Quais dessas três têm
maior importância no processo criativo
dos senhores?
Acho importante ter
a delicadeza de unir
simplicidade, sofisticação e
sustentabilidade
Humberto Campana
“Foto: Edra/Divulgação
fernando –Por trás tinha um inconformis-
mo. Eu adorava morar no interior e tudo
mais. Mas, só ir ao sítio e jogar bola não era
o bastante. Nossos pais também tinham is-
so de viajar, de ver novas culturas, novos ho-
rizontes.
decor –Falando sobre as diferenças de per-
sonalidade. Como lidam com os momen-
tos de discordância e de integração du-
rante o processo criativo de uma peça?
fernando –Quando se adquire amizade e
cumplicidade isso passa do familiar. Amigo
a gente escolhe, família não. A discordância
acontece 350 mil vezes por minutos. Mas,
acho que é isso que ajuda a qualidade.
Quando a peça fica pronta, ela sai por um
fio de muito apurado. Tanto eu quanto ele
temos uma auto crítica, até para se auto iro-
nizar, muito grande. Acho isso muito bacana. Com ou-
tro sócio eu tentaria encontrar uma palavra para não
agredir. Já com ele, meu irmão, posso virar e falar que es-
tá ruim, que não tem criatividade nenhuma. Isso já não
ofende mais. Na hora os dois estão ansiosos para realizar
alguma coisa.
decor –Como os senhores avaliam a produção na área
da arquitetura e design no Brasil?
humberto –Temos ótimo criadores, ótimos designers:
Sérgio Rodrigues, Carlos Motta, Zanini de Zanine. Acho
que falta o melhor entendimento das pessoas que edi-
tam design. Falta os empresários serem mais ousados,
não tentar ser o que não é. Ser brasileiro e focar no ta-
lento brasileiro e não importar a cultura do outro. Com
relação à arquitetura, acho que depois do Niemeyer é
complicado. O trabalho dele ainda tem um peso muito
grande. Tem o Paulo Mendes da Rua Axé. Mas, acho tam-
bém que não são dados a eles grandes projetos. Vemos
o Niemeyer fazendo tudo. De vez em quando, apare-
cem coisas estranhas no meio da
rua. Como por exemplo,
aquele monumen-
to aqui de Goiânia.
Os três espetos que
aparecem do nada. É muito
feio. Porque que não convi-
dam um arquiteto brasilei-
ro para fazer algo legal, co-
mo o Marcio Kogam.
Foto
: E
dra
/Div
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ação
Brasília Table –Pedaços de vidro
com tamanhos e alturas diferentes
transformam os cacos brilhantes e
multicoloridos em caleidoscópios mágicos
Cadeiras Sushi – A
linha de móveis Sushi
trazem grande mistura de
cores, marca presente nas criações Campana
decor – É importante acompanhar tendências? Elas
são referenciais para os senhores?
fernando –Quando nos propomos ser um criador ou
alguém que vai propor o novo, não pode só ser repetir,
porque daí você só segue a tendência. É preciso lançar
tendências. Muitas vezes ninguém vai achar que é ten-
dência, mas que é diferente de tudo que já foi feito. Is-
so para quem cria. Para quem só produz ou quer traba-
lhar só com o mercado já é diferente. Daí, sim você se-
gue. Se a tendência é só sofá roxo, então vamos só fazer
sofás roxos. Para nós dois seguir tendências incomoda.
fernando –Ou um goiano mesmo que te-
nha um olhar mais apurado. Talvez da pró-
xima vez que voltarmos a Goiânia seremos
apedrejados. Mas, acho importante falar is-
so. Eu gosto de Goiânia, tem muito verde. É
uma cidade agradável.
humberto –Mas, aquele monumento agri-
de. A cidade é tão linda, com praças, árvo-
res. Sabe, eu acho que deveria ser mais de-
licado. Não tão opressivo. Não colocar a ex-
pressão “essa é minha marca”.
Foto: Luiz Calazans
Alguém que propõe
o novo, não pode só
repetir, senão só segue a tendência
Fernando Campana
decor – Atualmente os senhores têm no-
me e trabalho suficientes para discutir com
industriais. Mas qual seria a dica para quem
está iniciando?
fernando –Aprender a linguagem do chão
de fábrica. Ser muito humilde e simples. Vo-
cê dialoga não é só com o dono da fábrica,
mas com o operário – que tem que sentir
amor e entusiasmo pelo que está propon-
do senão ele vai preferir fazer a repetição.
decor – Existe nas criações dos senhores
uma marca exclusiva, um registro único?
fernando –Acho que o processo de cons-
trução. A gente desconstrói muito dos ma-
teriais e reconstrói para dar uma outra lei-
tura. Por exemplo, cortar o papelão que é
uma chapa que normalmente vemos uma
caixa, e daí vermos ele todo picadinho e
empilhado. Acho que essa seria nossa mar-
ca o que até dificulta. E para isso tem que
ter uma paciência muito grande.
decor –Como é feita a escolha desses ma-
teriais?
humberto – Pelo olhar. Pela investigação. É um flerte
com o material. Compramos o material e trabalhamos
com ele. Às vezes não dá certo e deixo em um canto. De-
pois volto novamente. É um flerte constante. O material
é uma personagem a procura de um autor.
fernando –Com respeito à limitação e capacidade de-
le. A gente fica meio que testando.
decor –O que significa para os senhores o Salão de Mó-
vel de Milão?
humberto –É o evento mais importante no mundo na
área do design. A Itália tem uma característica muito in-
teressante de não ser nacionalista. Hoje, quem produz
na Itália são os alemães, os brasileiros, os chineses, co-
reanos, americanos. Acho que o Salão do Móvel é um
polo de fusão de ideias que não existe em outro lugar
do mundo.
fernando – É o momento para os designers verem e
sentirem a reação do mercado ao que era só um protó-
tipo e que está em vias de ser industrializado. Até pode
ser uma coisa super complicada ou conceitual. Mas, se
ela entra numa produção de fábrica, ela é o ideal – isso
é o que todo mundo quer.
decor –O que os irmãos Campana buscam passar com
suas criações?
fernando –Bem estar, seja para o corpo ou para alma.
humberto –Quero com meu trabalho passar afetivi-
dade. A humanidade hoje está em busca de afetivida-
de. Vivemos em um mundo tão agitado e sem tempo
para as coisas mais importantes e simples. d
“
Diretor ResponsávelBruno Brasil
Diretor AdministrativoVitor Berquó
Direção TécnicaSandra Camargo
Jornalista ResponsávelDaíse de Sá (DRT/GO 2143)
Projeto GráficoThiago Luis GomesDuMato studio - www.dumato.com
Assessoria JurídicaRenata Rangel
ColaboraçãoFotografia: Ricardo Lima
Impressão e AcabamentoGráfica Talento Tiragem: 10.000 exemplares
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