10
Página 1 Boletim 632/14 – Ano VI – 21/10/2014 Governo cria comitê para acelerar ajuste em normas de segurança Por Edna Simão | De Brasília O governo federal fez uma "intervenção" direta nas discussões em torno das normas de segurança do trabalho no uso de máquinas e equipamentos, a chamada NR-12, ao criar um comitê interministerial. O objetivo, segundo fontes, é acelerar os ajustes demandados pela indústria. Instituída em 1978, a NR-12, que abrange todo o parque industrial brasileiro, estabelece requisitos para a prevenção de acidentes de doenças do trabalho. Em 2010, a norma foi modificada e ampliou de 40 para 340 os itens obrigatórios a serem cumpridos pelas empresas, inclusive com exigências retroativas ao maquinário já existente. A norma vem gerando muitas reclamações da indústria devido ao alto custo de implementação e o aumento na quantidade das multas por descumprimento das regras. Para adequar todos os equipamentos usados pelas empresas - das panificadoras à indústria automotiva - estima-se gasto inicial de R$ 100 bilhões. Só o setor de panificação terá que investir cerca de R$ 4 bilhões para atender às novas exigências de segurança. Desde o início do ano, uma comissão tripartite discute mudanças na NR-12. A promessa era de que as negociações terminassem até setembro. Porém, segundo fontes, não houve consenso. Por isso, o governo resolveu criar o Comitê Interministerial de Segurança de Máquinas e Equipamentos. Esse "comitê" conta com os ministros Manoel Dias (Trabalho), Mauro Borges (Desenvolvimento) e Guido Mantega (Fazenda). "Entendo que é preciso preservar as condições de segurança do trabalhador, mas é preciso verificar a razoabilidade", disse a secretária de Desenvolvimento e Produção do Mdic, Heloísa Menezes. Além da retirada da retroatividade para adequação dos equipamentos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem solicitado nas negociações com o governo e trabalhadores o estabelecimento de obrigações distintas para fabricantes de equipamentos e os usuários e tratamento diferenciado para micro e pequenas empresas. No fim de setembro, Mantega, se reuniu com empresários exportadores, em São Paulo, e o assunto novamente foi abordado. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento sinalizou que, com a formação do comitê interministerial, as discussões em torno de ajuste na NR-12 ganhariam mais agilidade.

Governo cria comitê para acelerar ajuste em normas de ...az545403.vo.msecnd.net/uploads/2014/10/informe-desin-632-ano-vi-21... · segurança do trabalho no uso de máquinas e equipamentos,

  • Upload
    lydieu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Página 1

Boletim 632/14 – Ano VI – 21/10/2014

Governo cria comitê para acelerar ajuste em normas de segurança Por Edna Simão | De Brasília O governo federal fez uma "intervenção" direta nas discussões em torno das normas de segurança do trabalho no uso de máquinas e equipamentos, a chamada NR-12, ao criar um comitê interministerial. O objetivo, segundo fontes, é acelerar os ajustes demandados pela indústria.

Instituída em 1978, a NR-12, que abrange todo o parque industrial brasileiro, estabelece requisitos para a prevenção de acidentes de doenças do trabalho. Em 2010, a norma foi modificada e ampliou de 40 para 340 os itens obrigatórios a serem cumpridos pelas empresas, inclusive com exigências retroativas ao maquinário já existente.

A norma vem gerando muitas reclamações da indústria devido ao alto custo de implementação e o aumento na quantidade das multas por descumprimento das regras. Para adequar todos os equipamentos usados pelas empresas - das panificadoras à indústria automotiva - estima-se gasto inicial de R$ 100 bilhões. Só o setor de panificação terá que investir cerca de R$ 4 bilhões para atender às novas exigências de segurança.

Desde o início do ano, uma comissão tripartite discute mudanças na NR-12. A promessa era de que as negociações terminassem até setembro. Porém, segundo fontes, não houve consenso. Por isso, o governo resolveu criar o Comitê Interministerial de Segurança de Máquinas e Equipamentos.

Esse "comitê" conta com os ministros Manoel Dias (Trabalho), Mauro Borges (Desenvolvimento) e Guido Mantega (Fazenda). "Entendo que é preciso preservar as condições de segurança do trabalhador, mas é preciso verificar a razoabilidade", disse a secretária de Desenvolvimento e Produção do Mdic, Heloísa Menezes.

Além da retirada da retroatividade para adequação dos equipamentos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem solicitado nas negociações com o governo e trabalhadores o estabelecimento de obrigações distintas para fabricantes de equipamentos e os usuários e tratamento diferenciado para micro e pequenas empresas.

No fim de setembro, Mantega, se reuniu com empresários exportadores, em São Paulo, e o assunto novamente foi abordado. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento sinalizou que, com a formação do comitê interministerial, as discussões em torno de ajuste na NR-12 ganhariam mais agilidade.

Página 2

Destaques Danos morais

A Teleperformance CRM e a Sky Brasil Serviços terão de pagar R$ 20 mil de indenização por danos morais a uma coordenadora de operações, que se recusou a depor na forma pretendida pela empresa. Em recurso para o Tribunal Superior do Trabalho (TST), a trabalhadora conseguiu aumentar o valor da indenização, anteriormente fixado em R$ 5 mil, considerado desproporcional pela 2ª Turma. Conforme o processo, a funcionária, contratada pela Teleperfomance para trabalhar para Sky, teria sido convocada para testemunhar em litígio de danos morais movido por um ex-funcionário. Mas antes da audiência, alertou a advogada da empresa que, de fato, teria havido assédio moral por um dos gerentes da Sky ao funcionário, e que "não iria mentir em seu depoimento". A advogada, então, pediu que ela relatasse o acontecido por escrito e a dispensou da audiência. Com isso, de acordo com a funcionária, o gerente passou a persegui-la diariamente e chegou a falar que, reclamando que estava trabalhando com pessoas que "não eram de confiança". Seis meses depois, a funcionária foi demitida. Na reclamação trabalhista, a empresa negou a relação entre a demissão e a recusa em testemunhar em audiência.

Fim de 'layoff' na Volks

Quase 800 operários que estavam desde maio afastados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, voltaram ontem ao trabalho, segundo informações do sindicato dos metalúrgicos da região não comentadas pela montadora. Esses funcionários tiveram contratos de trabalho suspensos por cinco meses - o chamado "layoff" - dentro das medidas adotadas pela montadora para administrar o excesso de mão de obra na fábrica após o fim da produção da Kombi e do Gol G4, a versão mais barata do carro mais vendido no Brasil. A desativação dessas linhas foi agravada pela queda tanto da demanda interna como das exportações para a Argentina. Segundo informações do sindicato, a montadora está recolocando parte dos operários que estavam em "layoff" em novas funções. Recentemente, a empresa anunciou que vai montar o sedã Jetta em São Bernardo a partir do primeiro semestre de 2015.

'Layoff' na GM

Enquanto os funcionários da Volks em São Bernardo regressam ao trabalho, a General Motors (GM) discute na vizinha São Caetano do Sul o que fazer com o excesso na força de trabalho que, nas contas do sindicato local, chega perto de mil operários. Uma das alternativas em negociação, ainda segundo o sindicato, seria colocar em "layoff" cerca de 600 trabalhadores. Uma reunião para discutir o assunto está marcada para amanhã. A GM não comenta. As montadoras continuam adotando mecanismos como o "layoff" e antecipação de férias coletivas para adequar a mão de obra a uma produção ainda reduzida, já que a reação do mercado tem sido tímida e os estoques seguem elevados. A própria Volks colocou na semana passada um novo grupo de pouco mais de 400 trabalhadores em "layoff" na fábrica que produz o Fox em São José dos Pinhais (PR). Essa unidade, assim como a fábrica da Renault na mesma cidade, também concedeu férias coletivas a operários na semana passada.

(Fonte: Valor Econômico dia 21-10-2014).

Página 3

Empresas querem derrubar no STF adicional de 40% da do a faxineiras Tribunal Superior do Trabalho (TST) garantiu em mai o aumento às funcionárias que limpam banheiros de uso coletivo Roberto Dumke São Paulo - Empresas do ramo de limpeza entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar adicional de 40% referente à insalubridade para faxineiras que limpam banheiros de uso coletivo. O benefício foi garantido em maio pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), na súmula 448, que serve de regra para decisões judiciais de primeira e segunda instância. Conforme o documento, cabe o adicional máximo de insalubridade para quem higieniza banheiros de uso coletivo. Até então, as faxineiras conseguiam adicionais menores, de 10% ou 20% do valor do salário mínimo. Mas, agora, recebem o adicional máximo, de 40%. Esse nível era dado apenas a uma pequena parcela de empregados, como os expostos a agentes químicos e biológicos de alto risco à saúde.

Em São Paulo, o adicional máximo representa um acréscimo de R$ 324 sobre o salário da categoria, que normalmente fica pouco acima do mínimo de R$ 810. Para os empresários do ramo de limpeza, o acréscimo repentino de salário gera desconforto, pois incide sobre custos de contratos já firmados, com possibilidades de reajuste limitadas. Segundo o presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços e Limpeza Ambiental (Febrac), Edgar Segato Neto, o valor de um contrato com órgão público pode subir 30%. "Um contrato de R$ 300 mil, por exemplo, com o impacto da súmula pode ir para R$ 390 mil. Por que tanto? Por causa de bitributação", diz Segato.

Passivo

Outra preocupação do empresariado é o passivo trabalhista. Como a súmula do TST não estabelece prazo, os funcionários têm cobrado das empresas o adicional de insalubridade de 40% de forma retroativa, referente aos salários dos últimos cinco anos. Nos cálculos de Segato, isso representa um custo de R$ 18 mil por funcionário. "O empresário vai dormir tranquilo, mas acorda com passivo trabalhista gigante. Há insegurança jurídica enorme neste País. Imagine uma empresa de 500 funcionários, considerada pequena no nosso setor. Até maio estava bem ajeitada. Agora, está com um passivo trabalhista de R$ 9 milhões", acrescenta. Segundo ele, a súmula afeta a situação de 600 mil faxineiras no Brasil. Segato declara que os empresários não são contra o pagamento de adicional aos profissionais do ramo de limpeza. "Somos contra a forma pela qual o TST editou a súmula".

Página 4

Por conta disso a Febrac pediu auxílio à Confederação Nacional do Comércio (CNC) para ingressar com ação no STF. A reclamação, de número 18.850, foi protocolada na segunda-feira (13) e está nas mãos da ministra Cármen Lúcia.

Grau máximo

De acordo com a sócia do escritório Renato Von Mühlen Advogados, Angela Von Mühlen, antes da súmula 448 o adicional máximo, de 40%, dificilmente era conseguido. O benefício dependia de apresentação de laudo pericial ao juiz. Os garis, que recebem o bônus máximo de insalubridade, eram a exceção da regra. Agora, ela diz que a discussão não gira mais em torno do percentual do adicional, mas se a situação do trabalhador se enquadra no que diz a súmula.

O entendimento do TST, contudo, deixa espaço para dúvidas. Segundo a advogada, não há definição clara do que seria banheiro "de grande circulação", por exemplo. Ao mesmo tempo, a súmula exclui o benefício máximo para faxineiras de residências e escritórios. "Mas e no caso de um escritório com milhares de pessoas, isso não se enquadra no conceito de grande circulação?", questiona ela. Angela avalia que a decisão do TST foi acertada ao garantir o pagamento do grau máximo às faxineiras, mas destaca que a súmula "deixa dúvidas".

Com crise, crescem pedidos de reestruturação de emp resas A maior parte das empresas que usam o serviço são f amiliares, com médio ou grande porte, estão no ramo industrial e têm problemas com fornec edores e capital de giro Pedro Garcia São Paulo - A sensação para o empresário pode ser comparada a de uma amputação: dolorosa, porém necessária. A opção pela reestruturação da empresa, mecanismo que procura recuperar firmas que perderam a saúde financeira e não conseguem se reerguer por conta própria, cresceu em meio à desaceleração econômica.

A demanda pelo serviço aumentou a ponto de, conforme apurou o DCI, algumas consultorias rejeitarem pedidos. "O que se comenta no mercado é que existam 38 mil empresas com dificuldade para pagar suas contas", apontou o presidente da Corporate Consulting, Luiz Alberto Paiva.

De acordo com ele, somente na Corporate, a procura pelo serviço aumentou 40% do ano passado para 2014 e, atualmente, a consultoria possui mais de 30 clientes ativos.

Página 5

O processo de reestruturação começa com um diagnóstico da situação da empresa em crise, no qual é feita uma varredura nas áreas financeira e operacional da companhia, analisando os ativos e os passivos, os meios de precificação dos produtos, os contratos com fornecedores, entre outros.

Depois disso, avalia-se a possibilidade de recuperação da firma, em um processo que se estende por aproximadamente dois meses. "Existe um bocado de empresas que a gente vai analisar e elas já estão quebradas", observou Paiva.

Caso exista a possibilidade de recuperação, é traçada uma estratégia, que normalmente envolve vários setores da empresa, como administração, vendas e marketing, para definir um cronograma de ações para recuperação da companhia. "A gente analisa a situação real da empresa e prepara um novo fluxo de caixa, com uma nova perspectiva", explicou o proprietário da Estratégia & Negócios, Fernando Hennemann.

O consultor afirmou que o mercado estagnou nos últimos seis meses, o que prejudicou as vendas de diversas empresas e aumentou a demanda pelo serviço de reestruturação. "É como se a semana tivesse quatro dias. Além disso, os bancos frearam nas concessões", comentou.

Médias e grandes

Segundo os executivos ouvidos pelo DCI, a maior parte das empresas que buscam a reestruturação são empresas familiares, de médio ou grande porte, e são do setor da indústria. "Em 110% dos casos o maior problema é má gerência", observou Hennemann.

Após o diagnóstico, a consultoria traça a estratégia para a reestruturação e pode, se a empresa optar, assumir interinamente o controle operacional e financeiro da companhia em crise até que ela esteja recuperada. O processo dura, em média, entre um e dois anos.

Segundo Hennemann, esse tipo de serviço não chega às pequenas empresas porque os credores não têm interesse em renegociar dívidas com valores menores, o que restringe a reestruturação às companhias de maior porte.

O sócio fundador da Global Trevo Consulting, Eduardo Peres, afirmou que, em sua carteira de clientes, os problemas mais comuns são descasamentos de prazos de pagamentos e recebimentos, o que prejudica a liquidez da companhia, e erros na precificação dos produtos comercializados. "A empresa, muitas vezes, vende com a precificação errada e trabalha sem margem", observou Peres.

De acordo com o consultor, embora no período da Copa a demanda pelo serviço tenha diminuído, os pedidos de reestruturação feitos na Global Trevo aumentaram de 2013 para 2014. "A gente tem visto muitas empresas reclamando da redução de margem operacional. Elas não estão conseguindo repassar os custos", afirmou.

Página 6

Em alguns casos, a consultoria precisa tomar medidas mais drásticas, como corte de pessoal, para reduzir os excessos. "Muitas vezes, se retira as pessoas que levaram a empresa à situação em que ela se encontra", afirmou Hennemann.

Paiva ressaltou que a perda de controle financeiro é um dos problemas mais frequentes entre as corporações que procuram a consultoria. "Os gestores não organizam os pontos de risco, a companhia perde cada vez mais competitividade, as margens desaparecem e passam a ser financiadas por meio de dívidas, o que é fatal", apontou.

No caso da tecelagem Teka, uma das empresas assessoradas pela Corporate, a dívida com credores estão na casa dos R$ 2 bilhões.

Credibilidade

Um dos mecanismos usados pelas empresas de reestruturação é emprestar a credibilidade que possuem para renegociar débitos com fornecedores, funcionários e instituições financeiras. Apresentando o plano de recuperação das corporações assessoradas, as consultorias conseguem estender prazos e renegociar juros.

Além de elaborar a estratégia, a Corporate, em alguns casos, ainda assume os passivos da firma e injeta dinheiro próprio para resolver pontos críticos, como folha de pagamentos, fornecedores de insumos, e garantir capital de giro para retomar a produção.

Os preços praticados e os métodos de cobrança variam dependendo da consultoria. A Corporate cobra um percentual sobre a nova rentabilidade da empresa que costuma variar entre 3% e 10%. A Estratégia & Negócios cobra um percentual fixo e um variável, que depende de empresa para empresa. Já a Global Trevo cobra por hora de serviço.

Recuperação judicial

Dados da Serasa Experian apontam que 631 empresas entraram com pedido de recuperação judicial entre janeiro e setembro deste ano. Somente no mês passado foram 90 pedidos, número 38,46% maior que em agosto, quando 65 pessoas fizeram o pedido.

A ferramenta é usada por algumas consultorias quando a varredura feita na empresa mostra que não existe possibilidade de reestruturação. "A grande sacada é, no processo, utilizar uma consultoria que já tenha boa reputação com os credores que, normalmente, não acreditam mais nos sócios das empresas", observou Paiva.

Hennemann alertou, entretanto, que a recuperação pode ser perigosa e, caso o juiz não veja possibilidade de reestruturação, pode decretar falência.

(Fonte: DCI dia 21-10-2014).

Página 7

A revolução digital e o emprego JOSÉ PASTORE - O ESTADO DE S.PAULO A revista The Economist apresentou recentemente um importante relatório sobre o impacto das tecnologias digitais no emprego e na remuneração (The World Economy, 4/10/2014). O referido artigo mostra que uma parcela expressiva da força de trabalho mundial vem obtendo aumentos salariais decrescentes ao lado da entrada daquelas tecnologias. Entre 1991 e 2012, o aumento real médio dos salários na Inglaterra foi de 1,5% ao ano; nos Estados Unidos, de 1%; e na Alemanha, de 0,6% - todos bem abaixo dos ganhos de produtividade e do crescimento das empresas. Os dados mostram grandes dispersões em torno das médias. Os profissionais especializados ganharam, enquanto os demais perderam em termos salariais. Muitos dos que estavam na indústria foram substituídos por tecnologia e "empurrados" para o setor de serviços. Alguns economistas entendem que as próprias inovações tecnológicas abrirão espaços para os países se integrarem no comércio internacional de serviços e, nesse setor, abrigar os deslocados da indústria. Ocorre que também nos serviços a variação é enorme. As atividades dominadas por tecnologias sofisticadas, como no setor financeiro, proporcionam ganhos salariais expressivos para os profissionais especializados. Mas as demais, em especial as atividades do comércio e de serviços pessoais, oferecem salários minguados. Uma elevação adicional do conteúdo tecnológico dessas atividades redundaria em desemprego de pessoas que não encontrariam condições para voltar para a indústria ou para a agricultura. Para os analistas que assim pensam, as consequências sociais do avanço tecnológico são decepcionantes e os trabalhadores são os perdedores. E o problema não para aí. As novas tecnologias ameaçam substituir os próprios profissionais especializados. Os médicos poderão ser substituídos por equipamentos que fazem diagnósticos e prescrevem a terapia. Os milhões de professores poderão ser trocados por alguns tutores que ensinam multidões a distância. Os pesquisadores poderão sofrer a concorrência de sistemas digitais que realizam milhões de experimentos até encontrar a resposta para a questão pesquisada. Ao lado dessas previsões catastróficas, muitos analistas argumentam, porém, que os impactos positivos das inovações tecnológicas são demorados, mas vêm. Assim ocorreu com a introdução da mecanização na agricultura, com o invento da máquina a vapor e com a entrada do motor elétrico e da telefonia na indústria e nos serviços. Em todos os casos, o emprego cresceu e os salários subiram depois de certo tempo. Na verdade, o mundo

Página 8

nunca assistiu a uma avalanche de desemprego e a uma deterioração dos salários em decorrência de inovações que elevam a produtividade. Mas será que isso vale para a revolução digital? A própria The Economist apresenta importantes sugestões para enfrentar os novos desafios. Para sobreviver e progredir na revolução digital, as sociedades terão de prover aos trabalhadores educação de boa qualidade e bom acesso a uma infraestrutura eficiente. Para os que por algum tempo ficarem de fora da referida reintegração, a revista sugere subsídios ao emprego e garantia de uma espécie de renda mínima. Os analistas lembram, finalmente, que inúmeras profissões manuais qualificadas continuarão com grande demanda (eletricistas, encanadores, mecânicos, etc.), restando a eles, porém, se qualificarem para se engajar com vantagem no novo mundo dos serviços. Os programas de seguro-emprego, como o Kurzarbeit, da Alemanha, a redução da burocracia na contratação de trabalho e a diminuição dos encargos sociais são essenciais para acomodar os trabalhadores deslocados. Ou seja, a revolução digital vai demandar uma verdadeira revolução educacional e trabalhista para que a humanidade se beneficie de modo mais equitativo das vantagens trazidas pela modernização tecnológica. *José Pastore é professor da USP, presidente do Con selho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letr as

Metalúrgicos da Embraer entram em greve em protesto por reajuste salarial Trabalhadores pedem um reajuste de 10%, mas empresa oferece aumento de 6,6%; a greve de 24 horas, mas que pode ser estendida, ocorre no mesmo dia em que a Embraer apresenta o KC-390, o maior avião já desenvolvido pela compan hia Agência Estado e Reuters - O Estado de S. Paulo Trabalhadores da fábrica da Embraer em São José dos Campos (SP) decidiram parar atividades nesta terça-feira, 21, dia em que a companhia faz a apresentação oficial do cargueiro KC-390, para pressionar a empresa a melhorar proposta de reajuste salarial. Cerca de 7 mil dos 12 mil trabalhadores dos setores produtivo e administrativo iniciaram uma greve de 24 horas por um reajuste de 10% nos salários, ante uma proposta de 6,6% da companhia. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, o reajuste de 10% incluiria um aumento real de 3,43%. A proposta da empresa oferece um aumento real de 0,24%.

Página 9

A Embraer apresenta nesta terça-feira o KC-390, o maior avião já desenvolvido pela companhia, na fábrica em Gavião Peixoto, interior de São Paulo. A apresentação da aeronave acontece depois da companhia ter assinado em maio contrato estimado em US$ 7,2 bilhões para venda de 28 unidades do cargueiro ao governo brasileiro, em negócio que inclui suporte logístico, peças sobressalentes e manutenção. "Por enquanto, a greve é de 24 horas, mas amanhã (22) faremos uma votação na assembleia. Se a empresa não fizer proposta, não avançar em nada e se os trabalhadores decidirem que devem continuar, seguiremos em greve", disse o vice-presidente do Sindicato, Herbert Claros da Silva. Ele lembra que a data-base da categoria foi em 1º de setembro e as negociações entre os trabalhadores e a Embraer seguem há quase dois meses sem conclusão. A paralisação ocorre no dia anterior ao pagamento da primeira parcela da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2014 pela Embraer. Cada trabalhador receberá um valor fixo de R$ 912,31 e mais 12,44% sobre o salário, valor considerado baixo pelo sindicalista. "Um trabalhador que ganha R$ 10 mil, por exemplo, vai receber pouco mais de R$ 3 mil de PLR. Na General Motors, aqui perto, com todos os problemas, a PLR é de R$ 16 mil", disse Silva, se referindo ao complexo industrial da montadora em São José dos Campos. Segundo o vice-presidente do sindicato, a Embraer passa ainda por um "processo de desnacionalização de seus aviões" e o próprio KC-390 seria um exemplo dessa política da companhia. "Muitas partes desses aviões serão feitas nos Estados Unidos e em Portugal", disse Silva. O sindicalista alerta ainda que a busca pela Embraer de componentes para os aviões em outros países atinge fornecedores da companhia na região do Vale do Paraíba. Em Jacareí, a fábrica C&D, que já empregou mais de 180 funcionários, terminará o ano com apenas 35 na produção. Já Latecoere do Brasil, na mesma cidade, deixará de produzir a fuselagem dos Embraer 190 e 195 a partir de 2017, cujas peças virão dos Estados Unidos, e pode encerrar as atividades. (Fonte: ESTADO SP dia 21-10-2014).

Página 10

Caso não haja interesse em continuar recebendo esse boletim, favor enviar e-mail para [email protected] , solicitando exclusão.