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1 Boletim 1122/2016 – Ano VIII – 15/12/2016 Governo faz acordo e comissão da Previdência fica para 2017 Por Raphael Di Cunto Após pressão do Centrão e do PSB, o governo fechou acordo com a base aliada e parte da oposição para votar o parecer favorável à admissibilidade da PEC da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na noite de ontem, mas a comissão especial que analisará o conteúdo do projeto só será instalada em fevereiro, depois da eleição para a presidência da Câmara. O debate sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) começou às 15h e foi paralisado às 20h, ainda em fase inicial, para que o plenário votasse uma medida provisória e o projeto da renegociação da dívida dos Estados. Havia acordo para votar ainda ontem a PEC, mas, diante de divergências no plenário, a CCJ poderia só ser retomada hoje e sem a certeza do acordo. A oposição e parte da base, como PSB e SD, além de deputados de PTB, DEM, Pros, PP e PV, tentaram travar a votação da PEC com o argumento de que a pressa era inadmissível em uma proposta que impactará tantas pessoas. Na tentativa de que a votação não ocorresse ontem, apresentaram vários requerimentos, como a inclusão em pauta de outra PEC, de autoria do deputado Miro Teixeira (RedeRJ), para realizar eleições diretas, pelo voto popular, caso a presidência da República fique vaga até os seis meses anteriores ao mandato. A PEC é apoiada pela oposição como uma forma de desestabilizar o governo Temer diante de delações premiadas que atingem o coração do Palácio do Planalto e de pesquisas que apontam que a maioria da população quer novas eleições diretas o que, pela lei, não ocorrerá mais a partir de 1º de janeiro de 2017, o terceiro ano do mandato, quando a eleição para o posto passa a ser feita indiretamente pelo Congresso. O requerimento foi rejeitado por 33 a 9. Para permitir uma votação mais tranquila ontem, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSCSE), garantiu que o governo seguraria a comissão que debaterá o mérito. "O governo assegura que só iremos criar e instalar a comissão especial no próximo ano, após a eleição da mesa diretora", afirmou Moura.

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Boletim 1122/2016 – Ano VIII – 15/12/2016

Governo faz acordo e comissão da Previdência fica p ara 2017 Por Raphael Di Cunto Após pressão do Centrão e do PSB, o governo fechou acordo com a base aliada e parte da oposição para votar o parecer favorável à admissibilidade da PEC da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na noite de ontem, mas a comissão especial que analisará o conteúdo do projeto só será instalada em fevereiro, depois da eleição para a presidência da Câmara. O debate sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) começou às 15h e foi paralisado às 20h, ainda em fase inicial, para que o plenário votasse uma medida provisória e o projeto da renegociação da dívida dos Estados. Havia acordo para votar ainda ontem a PEC, mas, diante de divergências no plenário, a CCJ poderia só ser retomada hoje e sem a certeza do acordo. A oposição e parte da base, como PSB e SD, além de deputados de PTB, DEM, Pros, PP e PV, tentaram travar a votação da PEC com o argumento de que a pressa era inadmissível em uma proposta que impactará tantas pessoas. Na tentativa de que a votação não ocorresse ontem, apresentaram vários requerimentos, como a inclusão em pauta de outra PEC, de autoria do deputado Miro Teixeira (RedeRJ), para realizar eleições diretas, pelo voto popular, caso a presidência da República fique vaga até os seis meses anteriores ao mandato. A PEC é apoiada pela oposição como uma forma de desestabilizar o governo Temer diante de delações premiadas que atingem o coração do Palácio do Planalto e de pesquisas que apontam que a maioria da população quer novas eleições diretas o que, pela lei, não ocorrerá mais a partir de 1º de janeiro de 2017, o terceiro ano do mandato, quando a eleição para o posto passa a ser feita indiretamente pelo Congresso. O requerimento foi rejeitado por 33 a 9. Para permitir uma votação mais tranquila ontem, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSCSE), garantiu que o governo seguraria a comissão que debaterá o mérito. "O governo assegura que só iremos criar e instalar a comissão especial no próximo ano, após a eleição da mesa diretora", afirmou Moura.

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O deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade e da Força Sindical, disse que a mudança na instalação que o governo pretendia fazer ainda este ano permitirá que os partidos leiam com mais atenção o projeto e preparem as emendas. Se ocorresse agora, o prazo de emendas acabaria no meio da próxima semana, quando o Congresso já estará esvaziado pelo recesso e seria mais difícil coletar os apoios para emendas. O centrão, grupo de Paulinho e Moura formado por PP, PR, PSD, PTB, PRB, SD e PSC, pressionava para que a instalação ocorresse só em fevereiro. Isso possibilitará que o novo presidente da Câmara negocie mudanças na presidência e relatoria da comissão o atua, Rodrigo Maia (DEMRJ), que quer disputar a reeleição, indicou Sérgio Zveiter (PMDBRJ) para a presidência e Arthur Maia (PPSBA) para a relatoria. As escolhas foram negociadas com o governo e integrantes do Centrão dizem que não haverá mudanças, mas nem todos garantem a manutenção do acordo e parte dos líderes do bloco também serão trocados em fevereiro. Cotado para relatar a proposta na comissão especial, Arthur Maia defendeu ontem que a Câmara analise, junto com as propostas do governo, ampliar a base de cobrança da Previdência. Ele citou como isenções a serem analisadas as desonerações promovidas no governo Dilma, Super Simples e de entidades filantrópicas como universidades que cobram mensalidades tão altas como as instituições privadas. Maia criticou, principalmente, a isenção concedida a clubes de futebol. "Hoje estive no Ministério da Fazenda e recebi a incrível informação que nenhum dos clubes de futebol do Brasil pagam a Previdência Social. Recolhem os 8% do trabalhador, mas são isentos de recolher seus 20%", disse. "É muito difícil exigir o sacrifício do trabalhador, fazer regras que endurecem a Previdência, e não fazer essa discussão." Já os críticos da PEC atacaram o endurecimento das regras, como a idade mínima igual para homens e mulheres, de 65 anos. "O déficit da Previdência é uma mentira. A desvinculação das receitas da União [DRU] tira mais de R$ 100 bilhões por ano da Previdência e o governo só pensa em atender o mercado", acusou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTBSP), que é de um partido da base.

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Justiça do Trabalho fecha acordo para elevar ganho com depósitos judiciais Por Joice Bacelo Após um ano de dificuldades financeiras e já prevendo o impacto da PEC do teto dos gastos aprovada na terçafeira pelo Senado ao orçamento do ano que vem, a Justiça do Trabalho se adiantou na busca por novas fontes de receita. Dois acordos que preveem um incremento nas verbas decorrentes dos depósitos judiciais devem ser fechados até amanhã. Um deles será formalizado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) ainda hoje. Tratase de um contrato com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para praticamente dobrar os valores pagos pelas instituições financeiras para o gerenciamento desses depósitos. Essa remuneração é um percentual fixo que incide sobre o montante depositado. Antes essa margem era negociada com os bancos por cada Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e ficava, na média, em 0,07%. Agora, foi tratado diretamente pelo TST e o mesmo percentual será aplicado para todos. Ficará em 0,13%. A Justiça do Trabalho movimenta aproximadamente R$ 48 bilhões por ano com esses depósitos. Isso gera, em rendimento anual para os tribunais, cerca de R$ 450 milhões. Com o aumento do percentual passará para mais de R$ 700 milhões. O outro acordo vem sendo costurado com o Ministério do Planejamento para que o acesso a esses recursos seja facilitado. Dentre as possibilidades discutidas está a reclassificação da receita decorrente da remuneração dos depósitos. Passaria a ser considerada como própria dos tribunais, sem a necessidade de edição de medida provisória (MP) ou projeto de lei para a liberação dos recursos. Hoje, esse dinheiro entra no caixa do tesouro e só pode ser acessado por meio de decreto. Uma outra hipótese seria a garantia de socorro, ao longo do ano, por meio de aditivos ao orçamento. A PEC do teto dos gastos que limita os desembolsos da União por um período de 20 anos determina que o governo pode usar até 0,25% do seu orçamento para compensações (em todas as áreas). À Justiça do Trabalho, nesse caso, ficaria garantido parte do percentual. Presidente do TST, o ministro Ives Gandra Martins Filho diz querer resolver a questão até amanhã. "O ano Judiciário termina no dia 19 [próxima segundafeira]. Não podemos entrar no recesso sem saber o que vai acontecer em 2017", pondera. Segundo o ministro, o acordo teve contrapartida. A Justiça Trabalhista, segundo ele, pediu para que fossem retirados de pauta todos os projetos de lei que tramitavam na Câmara Federal para a criação de novos cargos. A Justiça do Trabalho será uma das mais impactadas pela PEC. Isso porque, pelas novas regras, deve ser mantido o orçamento do ano anterior com correção somente pela inflação. E este ano foram feitos cortes de mais de 30% nas verbas de custeio dos tribunais e é essa receita que vai servir de base para os orçamentos dos próximos anos.

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Ives Gandra Filho afirma que com a aprovação da PEC e sem a conclusão dos acordos que tratam sobre a remuneração dos depósitos, a Justiça Trabalhista correria o risco de fechar as portas no ano que vem. "O nosso orçamento foi o pior de todo o Poder Judiciário em 2016", diz o ministro. Ele frisa que só foi possível manter o funcionamento devido a duas MPs, no meio do ano, que permitiram o acesso às receitas dos depósitos judiciais. "Fomos salvos por esses recursos. Então, duplicando os valores, a partir dos novos percentuais, teremos condições de funcionar o próximo ano inteiro", diz o ministro. Os cortes no orçamento de 2016 levaram os Tribunais Regionais do Trabalho a duras medidas de contenção ao longo do ano. Pelo menos dez deles fizeram alterações nos horários de atendimento ao público e praticamente todas as unidades romperam contratos com funcionários terceirizados o que inclui limpeza e vigilância , além de reduzir o horário de funcionamento de aparelhos de arcondicionado e elevadores. O desembargador Lorival Ferreira dos Santos, que esteve à frente do Colégio dos Presidentes e Corregedores dos tribunais regionais do país neste ano, diz que durante todo o exercício foram realizadas reuniões quase que semanalmente com as diretorias financeiras dos tribunais. "Não sabíamos até quando teríamos dinheiro", aponta. Segundo ele, ao mesmo tempo em que realizavam os cortes, a demanda aumentava. No tribunal onde atua, o da 15ª Região em Campinas, o segundo maior do país houve um acréscimo de 7% no número de processos na primeira instância e 6% de recursos no segundo grau. "Sendo que temos um déficit de mil servidores", destaca. Presidente do TRT de São Paulo (2ª Região), o desembargador Wilson Fernandes diz que a unidade em que atua só conseguiu se manter funcionando até o fim do ano por conta das medidas provisórias que permitiram o acesso à remuneração dos depósitos. O TRT da 2ª Região recebeu cerca de R$ 70 milhões com esse aditivo. Ele diz ainda que não haveria mais cortes suficientes para assegurar o funcionamento caso, no ano que vem, tivesse que lidar somente com o orçamento previsto pela PEC. "Mesmo se déssemos calote em todos os locadores, por exemplo, não conseguiríamos uma economia desse porte. Não seria algo factível", diz o desembargador. "Eu asseguro com toda a certeza que não passaríamos de setembro a outubro, se chegássemos lá", diz. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) estuda ingressar com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as limitações impostas pela PEC ao orçamento do Judiciário. O presidente da entidade, Germano Siqueira, entende que o texto agride o princípio da separação dos poderes. (Fonte: Valor Econômico dia 15/12/2016)

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Acordo na CCJ garante rapidez na PEC da reforma

São Paulo - Governo e oposição fizeram ontem (14), acordo que vai acelerar a votação da admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Pelo acordado, opositores aceitaram retirar o kit obstrução na sessão de ontem do colegiado. Em troca, o governo se comprometeu a só instalar a comissão especial para discutir o mérito do texto em fevereiro de 2017. Com o acordo, a oposição retirou uma série de requerimentos que visavam apenas adiar a leitura e votação do parecer da PEC na CCJ. Embora tenham decidido não obstruir a sessão, deputados contrários à matéria ressaltaram que continuarão votando contra a admissibilidade da matéria. O governo, por sua vez, se comprometeu a só instalar a comissão especial após a eleição para presidência da Câmara, prevista para 1º de fevereiro. Dessa forma, a discussão do mérito da PEC e o prazo para apresentação de emendas ficará para o próximo ano. Com o acordo com a oposição, o governo também conseguiu neutralizar o chamado Centrão. O grupo ameaçava ontem obstruir a votação da admissibilidade na CCJ. A ameaça de obstrução do Centrão tinha dois objetivos: frear movimento do Palácio do Planalto de dar mais espaço ao PSDB no governo e enfraquecer articulação do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em busca de sua reeleição, já que cumpre mandato tampão. O Centrão acredita que, com a aprovação da admissibilidade da PEC e a instalação da comissão especial neste ano, Maia se cacifaria junto ao presidente Michel Temer (PMDB), que deseja ver a reforma da Previdência avançar o mais rápido possível no Congresso.

OAB critíca reforma O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, afirmou ontem que a proposta do governo Temer para a reforma da Previdência aponta para "sério retrocesso". O ponto central do projeto é a fixação da idade mínima para aposentadoria em 65 anos. "A proposta de reforma da Previdência, apresentada pelo governo em momento de extrema instabilidade política, aponta para sério retrocesso nas conquistas dos direitos sociais garantidos na Constituição Federal e, por isso, preocupa a Ordem dos Advogados do Brasil", afirmou o presidente nacional da OAB. "Não se nega a necessidade de mudanças no sistema previdenciário. Mas a sociedade precisa ser esclarecida sobre as escolhas possíveis e as consequências de cada uma. A solidariedade que motivou o Estado a construir uma estrutura de direitos sociais previdenciários não pode ser açodadamente extirpada sem um profundo debate com a sociedade", completou Lamachia. (Fonte: DCI dia 15/12/2016)

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‘Reforma da Previdência não pode virar uma utopia’ Para secretário, o que não se pode é desfigurar tan to a proposta que seja preciso uma nova reforma em 2019

Murilo Rodrigues Alves, Adriana Fernandes, Idiana T omazelli BRASÍLIA - Prestes a iniciar uma longa negociação no Congresso Nacional sobre os pontos da reforma, o secretário de Previdência, Marcelo Caetano, disse ao Estado que a proposta tem um ideal que deve seguir como norte, mas não pode ser transformado em utopia, com o risco de ser “inatingível”. “Não é uma proposta que é isso ou não se aprova nada”, afirmou. Ele alerta, porém, sobre os riscos de os parlamentares desconfigurarem demais o modelo, o que levaria ao risco de o próximo presidente já ter de apresentar uma nova reforma. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que acontece com a PEC do Teto se a reforma da Pr evidência não for para frente? A reforma da Previdência é necessária independentemente da PEC do Teto. Gosto de enfatizar isso porque pode ficar parecendo que se está fazendo a reforma porque se aprovou um limitador de gasto. Mas, de fato, como se impõe um limite, e a Previdência tende a aumentar os gastos... É preciso complementar a PEC do Teto com alguma reforma. Ela já deveria ter feito há mais tempo.

O Centrão (bloco informal de 13 partidos da base al iada liderado por PP, PSD e PTB) já resiste a votar a reforma? Como as questões polí ticas podem atrapalhar? O Congresso tem soberania e poder de decisão, mas ela (reforma) se faz necessária para a manutenção de uma estabilidade das contas públicas. Essas discussões políticas ocorrem, mas o que é relevante é que, independente de ambiente político que pode estar por trás, essa proposta não é proposta de governo. É de Estado. Quem se beneficia de fato são as gestões futuras.

O Palácio do Planalto já sinalizou que pode negocia r pontos importantes da reforma? Não conheço. Quando analisamos a Previdência, a reforma tem de ser ampla, porque são vários aspectos a considerar. Tem as regras permanentes, as de transição e as de fórmula de cálculo. Tem de tomar cuidado, ao longo do processo de negociação, para que se mantenha um todo consistente.

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Uma coisa é a questão técnica, mas o momento políti co é difícil para passar a reforma? Se houver muita alteração nas negociações, a reforma pode ficar insuficiente, inclusive para a PEC do Teto. Pode chegar o momento de ser necessário fazer uma outra reforma em 2019.

A proposta recebeu muitas críticas, entre elas, de que vai prejudicar a renovação de trabalhadores no mercado de trabalho e prejudicar o emprego. Eu ouço dos dois lados. Que foi mais rígido em algumas coisas e menos em outras. Eu ouço, por exemplo, críticas porque não se colocou contribuição de inativos e pensionistas. Eu particularmente não concordo, porque não deveríamos fazer reforma com aumento de tributação, deve ser mais na questão da despesa.

E o mercado de trabalho? O tema do desemprego está mais relacionado a questões de conjuntura e crescimento econômico. Não concordo com a visão de que há um número fixo de mercado de trabalho e que, se alguém está ficando, o outro não está entrando.

Mas há preocupação da população se haverá emprego p ara as pessoas mais velhas que terão de trabalhar por mais tempo. As estatísticas de maior desemprego não estão entre os idosos. No geral, é muito mais entre os jovens. Se começar a considerar que existe um problema de desemprego e que a Previdência vai resolver...

A reforma começou com certo atropelo, com a retirad a dos militares... Foi uma decisão no nível superior. Se for considerar, a proposta (dos militares) tem a perspectiva de ser tratada em projeto de lei. Temos trabalhado na tecla de um processo de harmonizar, de que as regras fiquem muito parecidas para todo mundo. Eu tenho certos ideais e eles são compartilhados por grande parte da equipe técnica, de ter um tratamento mais igualitário para todo mundo. O que importa, sendo bem pragmático, é o que do ideal pode virar norte e o que pode virar utopia. Se a gente se apegar tanto, tem de ser exatamente isso e de acordo com o ideal, aquilo pode ficar inatingível. Aí, pode deixar de ter avanço por conta de um ponto que não se conseguiu chegar.

Por que essa idade de 65 anos é fundamental? Primeiro, 65 anos já é uma idade mínima que existe no Brasil. Existe aposentadoria por tempo de contribuição, que estamos acabando, e existe por idade. Se for homem urbano, já é hoje de 65 anos.

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A exigência de ter de contribuir por 49 anos para t er direito a 100% do benefício recebeu muitas críticas. Estou bem tranquilo em relação à proposta. Por exemplo, se você for pegar o caso americano, a reposição máxima que você vai ter é de 90%. Lá, nem 100% você consegue, mesmo com renda mais baixa. No modelo brasileiro, hoje você tem o fator previdenciário. No ano passado, começou a vigorar a fórmula 85/95, mas de 1990 até 2015, há a questão do fator previdenciário. Há quem receba mais, há quem receba menos, mas dá alguma coisa na faixa de 70%. E, na proposta de reforma, estabelecemos que no mínimo vai ser 76%. No caso de quem ganha o salário mínimo, o benefício é integral.

O núcleo político do governo queria suavizar mais a s regras e a equipe técnica barrou? Isso aconteceu. A equipe política deu autonomia à equipe técnica para estabelecer o que considerávamos importante. Quando encaminhamos essa proposta, tínhamos a perspectiva de longo prazo. Vamos tentar convencer as pessoas de que é importante para não passar por outra sequência de reformas.

Quanto tempo as finanças públicas aguentam sem a re forma? Se você for ver a situação dos Estados em particular, vários deles já não aguentam. Quando chega numa situação que não consegue pagar fornecedor, não consegue pagar folha... Não vejo como uma questão de futuro, é o presente. No governo federal, o déficit primário já é alto, e o déficit do INSS em particular é bastante alto. Então, o problema previdenciário já chegou.

(Fonte: Estado de SP dia 15/12/2016)

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