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GOVERNO POLITIZA ESPORTE

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Novo Jornal/RN

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Page 1: GOVERNO POLITIZA ESPORTE

14 / NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 18 DE ABRIL DE 2010

Esportes Editor Marcos Bezerra

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Fones84 3201.2443 / 3221.3438

A ação de substituir a atleta Magnólia Figueiredo, em uma in-dicação meramente política, não agradou alguns presidentes de fe-derações esportivas do Estado. Eles afi rmam que o vereador Júlio Protásio (PSB) é um desconheci-do nessa área.

Para o presidente da Federa-ção Norte-rio-grandense de Bas-quete (FNB), Raul Rodrigues Fer-rer, o uso político-partidário da Secretária de Estado de Esporte e Lazer (SEEL) é prejudicial. “Acho que foi uma decisão precipitada tirar Magnólia. Tirar uma atleta conhecida mundialmente para colocar um político? Pelo me-nos eu não fi quei satisfeito”, ava-liou. Júlio Protásio é desconheci-do no meio esportivo do basque-te. “Nunca vi pessoalmente, só o conheço pela televisão”, afi rmou. Apesar desse posicionamento, ele espera que a gestão surpreen-da nesses oito meses.

Segundo Raul Ferrer, o orça-mento reduzido da SEEL foi um dos complicadores para que a ex-secretária realizasse poucos avanços, situação que Júlio Pro-tásio terá que enfrentar. “Pelo menos ela ainda tinha interesse pela questão do esporte”, ameni-zou. O presidente da FNB contou que o Estado deixou de ser sede do campeonato juvenil feminino ano passado, em função da fal-ta de patrocínio. O investimen-to seria de R$ 40 mil. Entretanto a secretaria estadual iria entrar com um patrocínio de apenas R$ 10 mil; não o fez e inviabilizou o evento.

A FNB planeja receber um campeonato mundial de bas-quete da categoria master – para atletas com mais de 35 anos – e já prevê que “se a prefeitura e o go-verno não ajudarem não vai ter”, concluiu o responsável.

O presidente da Federação Norte-riograndense de Futsal (FNFS), Clóvis Gomes, é taxativo:

“ele [Júlio Protásio] não entende nada de esporte”. O comandante da FNFS não é um dos mais oti-mistas quando o assunto é polí-tica pública para o esporte. “Eles colocam um, colocam outro, mas nenhum quer fazer nada pelo es-porte. Vejo isso há 25 anos. Para mim é uma secretaria de facha-da”, acrescentou.

Com essa descontinuida-de administrativa, ele tem receio que as parcerias com o governo sejam abaladas. Clóvis Gomes também relatou que a principal difi culdade é para conseguir di-nheiro para bancar as viagens das equipes em campeonatos re-gionais. “É uma difi culdade tre-menda”. De acordo com o pre-sidente da FNFS, em nível pro-fi ssional, o Rio Grande do Nor-te conta atualmente com o sexto colocado da Taça Brasil de Clu-bes, o ABc/UnP/Art&C. No en-tanto, essa representatividade nacional não refl ete o desenvolvi-mento do cenário do futsal local. Clóvis Gomes afi rma que em to-das as esferas do Poder Executi-vo no Brasil, as políticas públicas voltadas para o esporte estão em segundo plano. “O Ministério do Esporte também é o que tem me-nor orçamento de todos os mi-nistérios”, expôs.

O presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF), José Vanildo da Silva, teve um tratamento diferente dos co-legas da federações amadoras. Conforme José Vanildo, o novo secretário entrou em contato com ele para marcar uma audi-

ência na próxima segunda-feira. O Presidente da FNF não analisaa saída de Magnólia Figueiredo como um problema, pelo menos para o futebol potiguar.

Para José Vanildo, a partici-pação da SEEL para as ações deplanejamento da Copa de 2014 pode até aumentar. “Era tão pou-ca a ação da secretaria, que eu acho que essa mudança pode atéalavancar uma ação mais efeti-va. Falo isso sem desmerecer o trabalho da secretária anterior”, completou. Ele acredita que osoito meses da administração de Júlio Protásio terão bons resulta-dos, se houver trabalho e plane-jamento ao lado das federaçõesesportivas.

O presidente da Federação Norte-riograndense de vôlei, IgorRibeiro, também vê com bons olhos a chegada de Júlio Protá-sio para a pasta do Esporte. “Te-nho certeza que o esporte vai crescer bastante com a presença dele [Protásio] na pasta. Conver-samos e ele tem boas idéias para transformar o esporte em nossoestado”, afi rmou.

Depois de um ano e meio à fren-te da SEEL, a atleta Magnólia Figuei-redo voltará a sua rotina de treina-mentos e competições aos 46 anos de idade. Ela também vai se dedicar aos projetos sociais que gerencia. Para a atleta, não há problemas na substituição que seguiu critério po-líticos. “O que nós precisamos nesse momento é que o segmento se or-ganize e se consolide. Acho que esse tipo de indicação até ajuda, por-que uma indicação política tem até mais peso, frente à questão da cele-ridade, por exemplo”, avaliou.

A exoneração de Magnólia Fi-gueiredo foi anunciada por Ibe-rê Ferreira de Souza durante uma entrevista na televisão. Quanto a isso, ela disse que não houve cons-trangimentos, apesar de ter sido avisada por meio da imprensa. “O governador sabia que não teria problema nenhum, até pela nossa amizade. Ele só não esperava que a população reagisse mal a essa decisão”, comentou.

Ela conversou com Júlio Protá-sio e percebeu que os projetos se-rão mantidos. Segundo Magnólia Figueiredo, as principais conquis-tas da sua gestão dizem respeito às políticas sociais de esporte e la-zer. Os núcleos de esporte e lazer nas periferias e algumas cidades do interior, ações no para-despor-to; projetos em organizações qui-lombolas, formação de agentes sociais e árbitros, além de projetos que benefi ciam idosos.

“Acho que conseguimos con-tribuir para o desenvolvimento humano do povo do Estado”, con-cluiu. Apesar disso, ela discorda que a pasta tenha se limitado à fi -lantropia. Segundo Magnólia, no

seu período esse trabalho da secre-taria nas bases foi “motivacional”.

No que diz respeito ao espor-te de alto rendimento, um lamen-to. “Nesse momento, eu peço des-culpas às federações por não avan-çar mais nos apoios. Nós só tive-mos duas licitações para o esporte alto rendimento e os recursos fo-ram pequenos”, disse.

Com os recursos bastante redu-zidos, a ex-secretária muitas vezes teve que escolher entre o patrocí-nio de eventos e do desenvolvimen-to da modalidade, como a compra de material esportivo e o pagamen-to de técnicos. “O evento ele se en-cerra em si. Nós preferíamos que as federações optassem pelo desenvol-vimento do esporte”, declarou. Mes-mo assim, a ex-administradora da pasta tem a convicção que maximi-zou o mínimo de recursos.

Ainda segundo Magnólia Fi-gueiredo, há uma confusão das atribuições das entidades e do po-der público. “A nossa função é de apoio técnico”, enfatizou. Para ela, as agências de eventos e as entida-des ligadas ao setor devem assu-mir esse papel. “Não se pode trans-ferir a responsabilidade de grandes

eventos das confederações para as secretarias”, argumentou. Ela re-conhece a importância do apoio governamental, mas acredita que, antes de atrair eventos esportivos nacionais e até internacionais, as federações devem captar recursos não só do governo para garantir a realização do evento.

A ex-secretária também reco-nhece que não haver descentra-lizado os recursos para as fede-rações. “Precisamos que elas te-nham estruturas a altura da sua contribuição para o Estado, que é gratuita”, ressaltou. As federações já contam com a lei Piva, que de-termina uma renda para federa-ções esportivas, com fonte defi ni-da em 2% da loteria federal.

Ela também destacou a im-portância de “mecanismos de re-tenção do atleta”. O projeto Bol-sa Atleta seria um desses meca-nismos, visto que paga uma bolsa para que o esportista sem patrocí-nio dê prosseguimento à careira. Segundo Magnólia, o projeto es-tadual está com o Gabinete Civil e, para ser implantado, ainda precisa ser aprovado pela Assembleia Le-gislativa para que se efetive.

TIAGO LIMA / NJ

ELEGANTE, MAGNÓLIA ACHA QUE INDICAÇÃODARÁ FORÇA PARA A SECRETARIA

▶ José Vanildo, presidente da FNF

HUMBERTO SALES / NJ

▶ Clóvis Gomes, presidente da FNFS

HUMBERTO SALES / NJ

UM ESTRANHO NO NINHO

ACHO QUE CONSEGUIMOS CONTRIBUIR

PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO DO

POVO DO ESTADO”

Magnólia FigueiredoEx-secretária de Esportes do RN

306 mil

É quanto a Secretaria de Esporte tem para

investimentos em 2010.

BRUNO ARAÚJOMARCELO LIMADO NOVO JORNAL

ASSIM COMO NO futebol, a mu-dança de técnico geralmente re-fl ete em dispensas e contrata-ções para a respectiva equipe, da mesma forma, com a chega-da de Iberê Ferreira de Souza ao Governo do Estado, seu time de secretários passou por uma re-formulação e a pasta de Espor-tes não fi cou de fora deste pro-cesso; saiu a atleta Magnólia Fi-gueiredo para a entrada do ad-vogado e vereador Júlio Protásio.

Confi ante o novo secretário estadual de Esportes prometeu, com o menor orçamento do Es-tado, de R$ 3,2 milhões – reduzi-do em relação a 2009 em pouco mais de R$ 1,2 milhões e onde somente R$ 306 mil são para in-vestimentos, já que o resto do dinheiro será para o pagamen-to de pessoal, – implantar uma série de programas em pouco mais de oito meses e dar visibili-dade ao esporte. “Nosso objetivo é fomentar o esporte, estruturar as federações, o esporte escolar e universitário para que a cidade da Copa possa viver o esporte de

maneira geral”, afi rmou.Como experiência para a

pasta Protásio conta com a vi-vência no esporte que teve na Câmara. Ele foi jogador de bas-quete na juventude e coordena-va eventos esportivos na uni-versidade onde se formou em direito. O novo secretário acre-

dita que a especialização em gestão pública também pode ajudar.

De acordo com o secretá-rio, a pasta passa por difi culda-des por ser recente – foi criada em 2007. “Temos aqui seis car-gos comissionados e servido-res de outras secretarias que es-

tão prestando serviço, mas ve-nho com a vontade de acertar e espero poder contribuir com o crescimento do esporte no es-tado”, disse Protásio que con-fi rmou a inexistência de servi-dores lotados ofi cialmente nos quadros da Seel (Secretaria Es-tadual de Esporte e Lazer).

PEQUENA SECRETARIA, GRANDES PROBLEMAS

Dentre as principais difi cul-dades que Protásio deverá en-frentar no comando da Seel, além do baixo orçamento e a fal-ta de pessoal, está a ausência de uma comissão de licitação, fer-ramenta importante para que a

secretaria possa realizar os pro-cedimentos de licitação para se-lecionar as empresas fornece-doras ou prestadoras de servi-ço, como por exemplo, para exe-cutar as reformas previstas pelo secretário em quadras da ca-pital, obras que deverão exigir mais R$ 15 mil e que poderão necessitar de licitação.

Vereador em segundo Pro-tásio encara o convite do gover-nador como um desafi o e pre-tendo se dedicar, mas minimi-za o desenvolvimento de açõesde médio-longo prazo devidoao pouco tempo que terá pela frente. “Não posso fazer nada além do normal, pois não te-mos tempo para isso, mas que-ro dar visibilidade ao esporte elevá-lo para perto da popula-ção”, fi nalizou.

Júlio Protásio é um dos acu-sados da Operação Impacto, in-vestigação que teve como alvoprincipal 14 vereadores de Na-tal. Eles teriam recebido pro-pina para benefi ciar o setor daconstruçãocivil em 2007. Coma nomeação ao cargo de secre-tário, ele e os demais acusados, passaram a terão foro privilegia-do no processo.

GOVERNOPOLITIZA O ESPORTE

/ ESTADO / A ESCOLHA DO NOVO SECRETÁRIO DA PASTA, EM SUBSTITUIÇÃO A MAGNÓLIA FIGUEIREDO, VEIO NO BOJO DAS MUDANÇAS FEITAS PELO GOVERNADOR IBERÊ FERREIRA DE SOUZA E NÃO REPERCUTIU MUITO BEM NO MEIO ESPORTIVO AMADOR DO ESTADO

▶ Júlio Protásio: experiência na Câmara e como atleta amador pode ajudar na tarefa de administrar o esporte no RN

ARGEMIRO LIMA / NJ

VENHO COM

A VONTADE

DE ACERTAR E

ESPERO PODER

CONTRIBUIR COM

O CRESCIMENTO

DO ESPORTE NO

ESTADO”

Júlio ProtásioSecretário de Esportes do RN