Gritam impeachment e querem a renúncia - filedetença, servis, reconquistar a perdida confiança dos grandes patrões. Na manhã seguinte à ... o ex-presidente exige que a presidenta

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    Gritam impeachment e querem a renncia

    Mrio Maestri

    Professor da Universidade de Passo Fundo, RS

    http://www.correiocidadania.com.br/

    As passadas eleies registraram duas grandes tendncias. Primeiro, o apoio em bloco

    do capital a Acio Neves, pondo fim opo pelo PT como gerente do Estado dos 12

    ltimos anos. Segundo, a forte reorientao conservadora da sociedade brasileira,

    registrada no perfil do novo congresso Bancada Evanglica, Bancada da Bala,

    Bancada Ruralista etc. Destacam-se entre as razes da guinada poltica do grande

    capital: o esgotamento do surplus produzido pelas exportaes de commodities e a crise

    econmica mundial, que exigem um maior escorcho social para relanar as margens de

    lucro; o esgotamento petista da capacidade de controle social; a nova fora do

    conservadorismo, com arraigadas razes na populao.

    Apesar da milionria distribuio pr-eleitoral de recursos, no segundo turno, o PT foi

    obrigado, mesmo a contragosto, a mobilizar (eleitoralmente) a populao. Obtida contra

    a diuturna militncia oposicionista da grande mdia, a vitria petista registrou a difusa

    conscincia plebeia e anticapitalista de multido de trabalhadores, populares e

    assalariados brasileiros. Entretanto, Dilma Rousseff e o PT no pensaram por um

    segundo em governar com a populao que lhes elegera. Ao contrrio, tentaram sem

    detena, servis, reconquistar a perdida confiana dos grandes patres. Na manh

    seguinte vitria, sem qualquer pudor, mudaram de discurso e de cara, expropriando o

    programa de Acio e do PSDB.

    Mais e melhor

    Para mostrar que podiam ferrar as classes populares mais duro e mais rapidamente do

    que os partidos conservadores tradicionais, nomearam, no ato, ministrio com o filo-

    banqueiro Joaquim Levy e alguns dos mais desprezveis polticos direitistas. Num vapt-

    vupt, confiscaram direitos trabalhistas e previdencirios; aumentaram o preo da

    gasolina, que despencava atravs do mundo; concederam maxi-aumento da eletricidade

    e anunciaram outra dentada para muito logo. Desvalorizaram o real, relanando a

    inflao, sem compensao para a populao mais desprotegida. Prosseguindo a

    ladainha de maldades, liquidaram qualquer aumento real de salrio mnimo miservel

    durante os prximos anos e tratamento ainda pior para os aposentados.

    Iniciaram violento corte nos gastos sociais, comprometendo direitos adquiridos pela

    populao. Asseguraram a centralizao federal de recursos, acirrando a pauperizao

    geral de estados e municpios. Prometeram seguir as privatizao e vender parcialmente

    a Caixa Econmica Federal, h sculo e meio propriedade da populao brasileira. Em

    alguns meses, a populao trabalhadora e assalariada vai devolver, com juros de

    bancrios, o pouco que conquistou na ltima dcada.

    As medidas e as promessas inquas fizeram um estrago geral e imediato entre as classes

    mdias, assalariadas e trabalhadoras que votaram em Dilma Rousseff e com as quais

    http://www.correiocidadania.com.br/

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    podia contar para sua defesa, caso compreendessem que a agresso a ela era, nos fatos,

    ataque prpria populao. terrvel o dio que nasce da conscincia de ter sido trado

    sem contemplao. A avaliao positiva do governo despencou ladeira abaixo (timo e

    bom), de 40% em dezembro de 2014 para 12% em fins de maro do corrente ano. O

    saco dilmista de ruindades infindveis era carta de boas intenes enviada ao grande

    capital nacional e internacional, com arautos, fanfarra e aviso de recepo.

    Ele, entretanto, negou-se peremptoriamente a receb-la, pois j sonhava em obter muito

    mais. Sem reconquistar o apoio dos grandes proprietrios, esvaindo-se pelo ralo o apoio

    da populao que no cessam de ferir, Dilma Rousseff e o PT veem-se dependurados

    apenas no pincel institucional, mais ou menos como pintor que, nas alturas, v o

    andaime desaparecer sobre seus ps. E seguem como desvairados na perseguio das

    boas graas dos grandes proprietrios, distribuindo desgraas para a populao

    brasileira.

    Lula, por que no te calas?!

    A desarticulao total do governo e do PT os tornou quase cartas fora do baralho

    poltico. Dilma Rousseff defende o programa do capital, mas no mais a delegada do

    capital. Agride sem vacilar os segmentos populares e seus representantes, nica fora

    que pode garantir a presidncia. Os petistas no governo j no representam o partido e o

    partido j no expressa, mesmo em vis social-liberal, qualquer faco significativa dos

    assalariados, dos trabalhadores, das classes mdias. Outra fantasmagoria do passado,

    Lula da Silva sai luta e no cala a boca, como um papagaio rouco. Diz que apoia

    Dilma Rousseff e no pra de critic-la. Alfineta sem cessar Aloizio Mercadante, que

    sonha com o futuro trono presidencial que Lula da Silva cr seu.

    Em iluminao singular, o ex-presidente exige que a presidenta e o PT se aproximem

    das bases e da populao... Para defender o tarifao e o ajuste conservador.

    Simplesmente pede que convena os condenados a colocarem a corda no pescoo, sem

    espernear! Propaga a necessidade de retorno ao esprito do PT dos anos 1980,

    esquecendo, porm, que ele e seus aclitos procederam, de corpo presente, a liquidao

    do petismo de ento, classista, anticapitalista e pr-socialista.

    Vendo realizados seus mais ambiciosos devaneios, atravs de seus braos polticos

    tradicionais e provisrios, o grande capital levantou-se propondo o afastamento

    imediato de Dilma Rousseff. Defende, agora, um programa muito mais amplo e

    ambicioso do que no passado pleito, j que no se realiza a traumtica troca de um

    presidente com programa conservador, no incio de mandato, por outro alguns dedos

    mais conservador.

    As manifestaes de 15 de maro expressaram a adeso macia ao defenestramento

    imediato de Dilma Rousseff pelas classes proprietrias, sobretudo altas e menos altas.

    Estiveram presentes importantes segmentos mdios e, residualmente, trabalhadores e

    assalariados, em geral ainda no conquistados para a derrubada da presidenta. A pfia

    manifestao petista do dia 13 registrou o monumental desequilbrio de foras e uma

    indiscutvel verdade: a imensa maioria das classes populares no ps ainda o p na rua.

    Um Brasil para o Tea Party

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    A grande burguesia e o imperialismo querem agora tudo e muito mais do prometido por

    Acio Neves e o PSDB. Sonham, sobretudo, com reformatao institucional, poltica e

    ideolgica do pas, no estilo de 1964, sem cederem o poder aos oficiais superiores.

    Sabem que eles, como os polticos tradicionais, aps agarrarem a teta, esperneiam para

    larg-la. Em verdade, a reorganizao institucional do pas j se iniciou atravs de

    projetos de lei sobre a maioridade penal; sobre a lei antiterrorismo; com a proposta de

    autonomia do Banco Central; com a discusso de reforma eleitoral etc.

    Os parlamentares trabalham, agora, aprovando leis como jamais o fizeram! Tudo

    pensado pelos representantes diretos da burguesia liberal e sob o bafo do moralismo

    piegas, do nacionalismo fascistizante, do fundamentalismo religioso. O principal chefe

    de orquestra parlamentar Eduardo Cunha, presidente da Cmara de Deputados,

    evanglico, homofbico, misgino, investigado no passado e no presente por corrupo.

    Imagem cintilante da grandeza republicana das foras do neoconservadorismo brasileiro

    triunfante.

    Apoiado no movimento de indignao da populao causado pelo escndalo da

    Petrobrs, pelo anojamento para com o impudico estelionato eleitoral petista e pelas

    medidas antipopulares impostas e em imposio, o grande capital tem a inteno de

    enviar o PT para as calendas da histria. Faces direitistas da Justia em atividade

    sectria ininterrupta lanam a ideia de caar o registro eleitoral de partidos -

    desnecessrio dizer qual - com militantes e dirigentes envolvidos na corrupo. Ao igual

    do imposto aos partidos comunistas pelo imperialismo em pases do Leste Europeu, sob

    outras justificativas, aps a restaurao capitalista. O ataque busca resultados mais

    amplos do que a liquidao, como grande partido nacional, da fantasmasgoria petista,

    que ser certamente realizada nas prximas eleies.

    Atravs do PT, ambicionam esculhambar poltica e ideologicamente a esquerda que, no

    frigir dos ovos, a imensa maioria da populao ainda identifica com o PT, praticamente

    desconhecendo PSTU, PSOL, PCB. Ao chafurdar na lama da corrupo e do

    colaboracionismo com o capital, o petismo prestou um ltimo e valioso servio aos seus

    antigos patres, que hoje o demitem afirmando justa-causa. Enlameou princpios, ideias,

    memrias, lutas que h muito trara pelas trinta moedas da adeso ao capital.

    Gritam o impeachment, mas querem a renncia

    As condies gerais para a deposio da presidenta so as mais propcias, ainda que

    nada possa ser dado por certo, ao igual que na guerra e no amor. Os partidos

    conservadores unificaram-se em torno da proposta, com a ruptura de fato do PMDB

    com o governo e sua convergncia com o PSDB, pondo as bases para a nova aliana

    governamental. A defeco do ncleo duro do PMDB permitiu imobilizar o governo,

    impossibilitando-o de cumprir a promessa de rpida imposio do ajuste conservador.

    Para faz-lo, ter que cortar no osso seu oramento! Financiada pelo capital

    internacional e usando mtodos aprimorados desde a Revoluo de Veludo, na Europa

    do Leste, em 1989, a direita desce multitudinariamente s ruas para exigir a acusao

    cons