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Grupo: Adiana Gianvecchio, Daniela Costa, Frederico Fernando Souza Silva Silva, Juliana C. S. Alboléa, Lizette Hanna Rached, Luciano Cardinali, Paulo Eduardo Barbosa e Zínia Carvalho. Seminário 2 – geral Paul Ricoeur A memória, a história e o esquecimento . Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU USP - Pós Graduação Memórias Artísticas – AUH 5839 - 1º semestre 2012 Prof. Luiz A. Munari e Profª. Maria Cecília França Lourenço

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Luciano Cardinali, Paulo Eduardo Barbosa e Zínia Carvalho.

Seminário 2 – geral

Paul Ricoeur

A memória, a história e o esquecimento.

Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e UrbanismoFAU USP - Pós Graduação

Memórias Artísticas – AUH 5839  - 1º semestre 2012Prof. Luiz  A. Munari e Profª. Maria Cecília França Lourenço

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Aristóteles

Platão

SÉC. IV a.c.

Indivíduo e pólis

Santo Agostinho

SÉC. IV a.c.

O Homem Interior

Husserl

Final SÈC. XIXInício SÉC. XX

Interioridade e reflexividade

Kant

Final SÉC. XVIIIInício SÉC. XIX

Sentido transcendental da palavra: SUJEITO

John Locke

Final SÉC. XVIIInício do SÉC. XVIII

IdentidadeSi

memória

Linha do tempo da tradição do olhar interior

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Paul Ricoeur Biografia• Filósofo francês, (1913-Valence, 2005-Chatenay-Malabry-Paris).

Foi aluno de Gabriel Marcel e professor nas Universidades de Sorbonne e Chicago.

Atividades• Campo: Filosofia, Hermenêutica, Fenomenologia,

Existencialismo.• Influenciado: Edmund Husserl, Gabriel Marcel, Karl Jaspers,

Sigmund Freud.• Prêmio: Prêmio Kyoto (2000)

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Pensamento• revela as influências da fenomenologia de Husserl, do pensamento de

Gabriel Marcel e da corrente personalista francesa, dirigida por Emmanuel Mounier.

Obra• tenta conciliar as correntes da filosofia contemporânea: fenomenologia,

hermenêutica, existencialismo e psicanálise. • Renovou à hermenêutica, associando-a a fenomenologia -corresponde

ao trabalho de captação do sentido dos textos e dos símbolos, além do esforço efetivo de compreensão de nós próprios e do mundo. • Segunda fase- reflete sobre a narrativa de caráter "inventivo".narração -

compreensão de nós próprios numa dimensão temporal. conceito do "agir ético": "momento do ético", "momento da moral" e "estádio da sabedoria prática".

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Notas de Orientação

Preocupação contemporânea com as operações da memória está na pergunta sobre o sujeito verdadeiro.

O autor desenvolve duas hipóteses a partir de uma questão central- o que vem a ser o fenômeno mnemônico (relação com a memória).

•Pretende realizar com isso, a distinção entre o que é imaginado e o que é retomada pela memória, daquilo que tenha ocorrido no passado.

Com essa fenomenologia da memória - quer perceber como se dá a representação de algo.

Cabe ao Historiador saber qual o contraponto entre:• A memória dos protagonistas da ação tomados um a um, ou• Das coletividades tomadas em conjunto?

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Se não se sabe:

•O que significa a prova da memória na presença viva de uma imagem das coisas passadas e o que significa partir em busca de uma lembrança perdida ou reencontrada?•Como se pode indagar a quem atribui essa prova e essa busca?

A preocupação de Ricoeur é fugir da dicotomia indivíduo x sociedade instaurada na tradição historiográfica.

Então ao invés de qualificar o sujeito verdadeiro como pergunta, ele se propõe ao deslocamento do problema.

Propõe a seguinte pergunta: a quem é legítimo atribuir o pathos correspondente à recepção da lembrança e a práxis em que consiste à busca da lembrança?

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Para procurar esta resposta ele se propõe avaliar as relações entre memória individual e memória coletiva em:

•1ª hipótese: (3 autores) Santo Agostinho Locke Husserl

•2ª hipótese:

• Oposição entre os conceitos em Platão e Aristóteles para quem a relação entre memória individual e coletiva se insere na preocupação da relação entre o indivíduo e a cidade. Emergência da problemática da subjetividade causa o deslocamento de planos entre a memória individual e coletiva (verificar a questão epistemológica atribuída às ciências da natureza).

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O autor diz que a tarefa do filósofo é se propor a:

1 - discernir este mal entendido

2 - lançar pontes entre os dois discursos para isto recorre ao conceito de atribuição para confrontar teses opostas

3 - exame das trocas entre a atribuição a si dos fenômenos mnemônicos e sua atribuição a outros, estranhos ou próximos.

Não se propõe a resolver o problema entre memória individual e coletiva. Mas atribui à filosofia da história complementar este debate apontando as relações externas entre memória e história e as relações internas entre memória individual e memória coletiva.

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Platão e Aristóteles ou qualquer um dos Antigos – não consideraram como questão prévia a de saber quem se lembra.

•Pois, indagavam sobre o que significa ter ou buscar uma lembrança.

Eu ou nós estava subentendida à conjugação dos verbos de memória e de esquecimento, a pessoas gramaticais e tempos verbais diferentes.

Na verdade, era outra pergunta que se colocavam:

•Qual é a relação prática entre o indivíduo e a cidade.

Resolviam bem ou mal estas questões:

•como a: Disputa aberta por Aristóteles no livro II da Política contra a reforma da cidade proposta por Platão na República II- III.

•O problema é que estava sob o amparo de alternativa nociva.

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Os indivíduos (homens livres por participação no governo da cidade) cultivavam na escala de suas relações privadas, a virtude de amizade que tornava suas trocas iguais e recíprocas.

A emergência da problemática da subjetividade e egológica geraram:

•a problematização da consciência,

•o movimento de retraimento desta sobre si mesma.

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• Éikón – Ícone – Imago – Imagem.

• Eidos – Eideia – Ideia.

• Eidolon – semelhança – representação.

• Phantasma – vultus – retrato.

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Ricoueur aborda a cultura como um diálogo e embate entre diversos discursos mnemônicos e registros de linguagem. Sua análise se estabelece através de uma fenomenologia da memória – voltada ao objeto da memória, da lembrança que temos diante do espírito e seus estágios: a busca da lembrança, a anamnésia, a recordação, a memória dada, a memória refletida e a memória de si mesmo. O estudo passa por três momentos: do testemunho e arquivos, da compreensão e explicação e da representação do passado. Ou seja, da fenomenologia da memória, a epistemologia da história e a hermenêutica da condição da representação do passado.

SÍNTESE

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Todo o cerne do trabalho se estrutura a partir da EIKON – que se mostra como uma coisa ausente, marcada pelo selo da anterioridade. Portanto o conceito de eikon perpassa toda estrutura do trabalho – do testemunho, das representações sociais, das explicações até as nuances da escrita da história. Para construir uma arqueologia da memória, o autor vai aos gregos, em busca da raiz desse pensamento, passando por uma epistemologia do testemunho e das representações sociais consideradas objeto privilegiado de explicação e de compreensão – e abordando os documentos e representações dos acontecimentos que pontuam o passado histórico.

RECORTE

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O eikon é o que marca essa ausência reveladora – chave para compreender o fenômeno de anterioridade. Esse conceito perpassa pelas teorias dos testemunhos e das representações sociais.

O eikón se transfere da memória para a história – refletindo a questão da condição histórica que faz com que a representação do passado esteja exposta a ameaças de esquecimento como também confiada a uma permanência.

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A acepção em sua origem tem a terminologia estabelecida por Platão:

Eikón, em Platão os eikónes compreendem as sombras (skiaí) e os reflexos (phantásmata) produzidos pelas realidades sensíveis e são objetos da percepção sensível (eikasía) (A República VI 509e-510a). A imagem eikón é um fantasma do ser (phántasama, Timeu 52c-d), o mundo sensível é uma imagem do mundo inteligível e as imagens produzidas pelas artes da imitação estão a três graus da realidade.

TERMINOLOGIA

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Desdobrando esse conceito, temos:

Ícone, para a semiótica, é um signo visual que representa outro objeto por força de semelhança. Ícones são signos substitutivos (podem ser usados no lugar da coisa representada) de conteúdo derivativo.

O ícone possui relação de semelhança com o objeto que representa. Ele possui três níveis:

• imagem (aparência visual)• diagrama (relações internas e estruturais) • metáfora (possui significado semelhante em algum aspecto)

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Peirce dizia: "Defino um ícone como sendo um signo que é determinado por seu objeto dinâmico em virtude de sua natureza interna".

Imagem, (do latin: imago) é a representação visual de um objeto. Em grego antigo corresponde ao termo eidos, raiz etimológica do termo idea ou eidea, cujo conceito foi desenvolvido por Platão. À teoria de Platão, o idealismo considerava a ideia da coisa, a sua imagem, como sendo uma projeção da mente. Já Aristóteles, ao contrário, considerava a imagem como sendo uma aquisição pelos sentidos a representação mental de um objeto real – fundando a teoria do realismo. A controvérsia estava lançada e chegaria aos nosso dias, mantendo-se viva em praticamente todos os domínios do conhecimento. Em síntese, a fenomenologia da memória pode ser pensada dentro dessa formulação e a dinâmica das representações também.

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Fonte: frutodearte.com.br – 13/06/2012

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Efígie é uma representação escultórica de corpo inteiro de uma pessoa já falecida, em pedra ou madeira, podendo surgir em momentos fúnebres em igrejas. Estas figuras frequentemente aparecem com mãos justapostas, em modo de oração, podendo ser encontradas também deitadas, ajoelhando em oração ou até mesmo de pé.

Efígie também é o termo usado para se referir ocasionalmente a um busto, tal como os encontrados em notas e moedas.

Efígie do Império Romano Teodósio I (346-395)

Moedas com Efígie de Nero

Fonte: historiaebiblia.blogspot.com – 13/06/2012Fonte: imperioroma.blogspot.com – 13/06/2012

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Túmulo do soldado desconhecidoArco do Triunfo, Paris

Fonte: pt.wikipedia.org – 13/06/2012

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Cinerária restos de combatentes argentinos, Argentina

(combate de San Lorenzo)Fonte: pt.wikipedia.org – 13/06/2012

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Porta da ÍndiaDelhi, Índia

Uma chama, conhecida como Amar Jawan Jyoti "a chama do soldado imortal", está acesa permanentemente.

Fonte: flickr.com – 13/06/2012

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• “caráter originário e primordial da memória individual tem vínculos nos usos da linguagem comum e na psicologia” (p. 107).

• Três traços do caráter privado da memória:

I. singularidade da memória – pronome reflexivo nas línguas latinas.

II. a memória é passado - vínculo da consciência com o passado residena memória. As lembranças se organizam como em arquipélago (níveis de sentidos) e a memória é a capacidade de percorrer, remontar no tempo; é na narrativa que se articulam as lembranças no plural e a memória no singular.

III. “à memória está vinculado o sentido da orientação na passagem do tempo” (p. 108).

STO. AGOSTINHO

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• Sto. Agostinho conhece o homem interior e não a relação entre identidade, o si e a memória – invenção de John Locke.

• Ele se preocupa com a relação da memória ao tempo – Confissões X e XI.

• Gênero literário da confissão associa fortemente ao momento de penitência.

• Confissões X – busca-se Deus primeiro na memória – verticalidade, meditação sobre a memória.

• Metáfora dos " vastos palácios da memória" - confere uma espacialidadeespecífica à interioridade – lugar pessoal, intimo (confissões X, VIII, 13) - relacionado à recordação e atos realizados interiormente.

• Paul Ricoeur admira a memória vista por Sto. Agostinho pois ela é ampla e ela retoma “os próprios inteligíveis”(p. 110). A memória individual pura - a memória iguala-se ao "cogito“, as noções (p. 110). “o espírito é também a própria memória”(X, XIV, 21).

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indivíduo

DEUS

memória

2º - meditação

Santo AgostinhoLivro X, Confissões

> interioridade:

1º - lugar íntimo

depósito, armazém, onde são depositadas, postas em reserva,

...o pátio imenso do palácio da minha

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Lembrança da Memória e Lembrança do Esquecimento

Aquilo que lembramos é o que a memória retém, se nos lembramos do esquecimento, então a memória retém o esquecimento;

quando a memória reconhece o objeto esquecido, testemunha a existência do esquecimento

Como existir o “esquecimento” se de fato nos esquecer?

direi: não tenho na memória aquilo que me lembro?

Minha memória retém uma “imagem” do esquecimento ou o próprio esquecimento?

Não posso me lembrar de algo que não esquecí...Posso me lenmbrar de “algo” que esquecí?

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Um dilema:

“ Superarei até mesmo essa força em mim que se denomina a memória; eu a superarei para tender até ti, doce luz. (X, XVIII,26)... Superarei também a memória, para te encontrar onde? [...] Se for fora da minha memória que te encontro, é que estou sem memória de ti; e como te encontrarei se não tenho memória de ti?”

o esquecimento de Deus?

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Tempo e Narrativa e a problemática da interioridade

A medida dos tempos:“é em ti, meu espírito, que meço os tempos ...o espírito é a própria memória.

Livro XI, Confissões

para entender o presente: (teoria do tríplice presente)

1. presente do passado — MEMÓRIA

2. presente do futuro — ESPECTATIVA

3. presente do presente — ATENÇÃO

“o trânsito do tempo, diz Sto Agostinho, consiste em ir do futuro pelo presente dentro do passado”. (Confissões XI, XXI, 27) – relacionado a noção de distância temporal e da preteridade do passado.

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• “encontrar é reencontrar, e reencontrar é reconhecer, e reconhecer é aprovar, logo julgar que a coisa reencontrada é exatamente a mesma que a coisa buscada e, portanto, posteriormente considerada como esquecida”(p. 110).

• ameaça do esquecimento: o esquecimento que sepulta nossas lembranças"mas aquilo de que nos lembramos, é pela memória que o retemos; ora,sem nos lembrarmos do esquecimento não poderíamos absolutamente, aoouvir este nome, reconhecer a realidade que significa; se assim é, é amemória que retém o esquecimento" (p. 111).

• “o trânsito do tempo, diz sto agostinho, consiste em ir do futuro pelo presento dentro do passado”. (Confissões XI, XXI, 27) – relacionado a noção de sitância temporal e da preteridade do passado.

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• Não há o platonismo e neoplatonismo como em Santo Agostinho;

• Inventor de 3 noções e da sequência que formam juntas:

I. identity

II. consciousness

III. self - diversidade de funções

identidadeTratado de Locke =Vitória sobre a diversidade/ diferença

Tríade identidade-consciência-si

Definição puramentereflexiva:“idêntica igual mesma que si”

JOHN LOCKE

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• A pessoa, para Locke, é identificada unicamente pela consciência, ou self;

• Consciência é purificada pela linguagem e pelas palavras;

• Significar sem palavras = Mind – reflete diretamente sobre “o que ocorre em nós”

• Não são ideias inatas que a consciência encontra em si mesma, o que ela percebe são as “operations of our Minds”:

I. Passivas – ao se tratar das ideias de percepção;II. Ativas – ao se tratar dos powers of mind.

• Princípio de Individuação:

- átomo: “corpo persistente de uma superfície invariável” = identidade a si: “Pois, sendo nesse instante o que é e nada mais, ele é o mesmo e deve assim permanecer enquanto continuar sua existência: de fato, para toda essa duração, ele será o mesmo e nenhum outro.” (p.114)

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•Identidade do homem: “é simplesmente a participação ininterrupta na mesma vida...” (p.115)

• Identidade pessoal: entre o homem e o si.

“[...] é a consciência que diferencia a ideia do mesmo homem e a de um si, também chamado de pessoa: É, penso, um ser pensante e inteligente, dotado de razão e de reflexão, e que pode considerar a si mesmo como si mesmo, uma mesma coisa pensante em diferentes tempos e lugares. [...] O saber dessa identidade a si, dessa ´coisa pensante´ (referência a Descartes), é a consciência.[...]” (p.115)

Consciência x si x memória

“(...) a identidade de tal pessoa estende-se tão longe que essa consciência consegue alcançar retrospectivamente toda ação ou pensamento passado; é o mesmo si agora e então, e o si que executou essa ação é o mesmo que aquele que, no presente, reflete sobre ela.”

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• Só a consciência faz a identidade pessoal;

Identidade

Consciência

“A mesma consciência reúne [as] ações afastadas no âmago da mesma pessoa, quaisquer que sejam as substâncias que contribuíram para a sua produção.” (p.115)

Ex: dedo cortado não falta a alguma substância corporal, mas à consciência corporal.

CONSCIÊNCIA = MEMÓRIA (sameness)

Diversidade: “uma coisa mesma que ela mesma e não outra”Memória: diversidade percorrida e retirada dos lugares e dos momentos dos quais a memória forma um conjunto.Diversidade: aspecto da vida subjacente à memória, que é a própria passagem do tempo.Consciência: é a consciência do que se passa nela.

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• os “que”s da memória = percepções e operações;

• não distingue memória de lembranças = memória é sem lembranças;

• “continuação da existência” = tensão entre a consciência e a vida = “união viva”

• conceito da “conta prestada a si”: quem pode prestar contas de si a si de seus atos é “responsável” por eles (accountable)

• A “preocupação com a própria felicidade acompanha inevitavelmente a consciência.” – (p.117)

• Tratado de Locke sobre a Identidade, a consciência e o si = intransigência de uma filosofia sem concessão que deve ser chamada de filosofia do “mesmo”.

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• “[...] o tratado de Locke é uma vitória sobre a diversidade, sobre a diferença.”

• “[...] todo o nosso conhecimento provém da nossa percepção do mundo externo (a sensação) ou do exame da atividade de nossa própria mente (a reflexão).” (Locke)

• “[...] a experiência da percepção nos põe em presença do momento em que se constituem para nós as coisas, as verdades, os bens; a percepção nos dá um logos em estado nascente, nos ensina, fora de todo dogmatismo, as verdadeiras condições da própria objetividade; ela nos recorda as tarefas do conhecimento e da ação.” (Merleau-Ponty)

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GOYA

• Desenhou e gravou diversas obras de Velásquez.

• Desenho livre, sem planejamento.

• Razão e liberdade são os caminhos a serem seguidos pela humanidade.

• A luz é a verdade que luta contra a escuridão. A luz revela, faz surgir, mostra o caminho que o homem pode seguir, cria a verdade.

• O emblema da luminosidade surge com a Revolução Francesa e permeia até o século XIX. Inicialmente popularizou-se nas gravuras, depois nos quadros até chegar nos monumentos. “O triunfo da claridade sobre as trevas, herdado do Iluminismo, é celebrado reiteradamente por obras demonstrativas de uma tradição consolidada.” (COLI, 1996, p.303).

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el Sueño de la Razón Produce Monstruos

Francisco Goya gravura em metal

1799

Fonte: westminsterhoy.wordpress.com – 13/06/2012

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D. Baltasar Carlos Príncipe de España. E

Filho de Filipe IV

Pintura de D. Diego Velasquez de tamanho natural, desenhada

e grafada por D. Francisco Goya, 1778.

Gravura em metal Acervo Coleção Arthur Azevedo

Fonte: metmuseum.org – 13/06/2012

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Maurice Halbwachs

Ao individualismo metodológico, a escola durkheimiana opõe um holismo metodológico- na qual se inscreverá Maurice Halbwachs.

Halbwachs (as memórias individuais contribuem para a formação de memórias coletivas) a partir do holismo metodológico de Emile Durkheim (define o fato social como norma coletiva, com independência e poder de coerção sobre o indivíduo).

•Para a sociologia, na virada do século XX, a consciência coletiva é uma dessas realidades cujo estatuto ontológico não se questiona.

A memória individual, com pretensão de ser procedente, torna-se problemática.

A fenomenologia que surge, tem dificuldade em não ser rotulada como ofensivo do psicologismo que pretende defender-se;

A consciência privada, sem credibilidade científica, presta-se somente à descrição e à explicação na via da interiorização.

Ela se torna a coisa a explicar- o explicandum - sem privilégio de originalidade.

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•É nesta situação polêmica, que opõe a uma tradição antiga da reflexividade uma mais recente de objetividade, que memória individual e coletiva são postas em posição de rivalidade.

Tradição antiga da reflexividade X tradição mais recente de objetividade.

Elas não se opõem no mesmo plano, mas em universos de discursos que se tornam alheios um ao outro. (p.106)

A tarefa do Filósofo em compreender como a historiografia articula seu discurso com a fenomenologia da memória é:

1. a de discernir as razões deste mal entendido radical por um exame de funcionamento interno de cada um dos discursos sustentados de um lado e de outro;

2. lançar pontes entre os dois discursos - recorre ao conceito de atribuição para confrontar teses opostas, porém mútua e cruzada, de memória individual e coletiva;

3. análise das trocas entre a atribuição a si dos fenômenos mnemônicos e sua atribuição a outros, estranhos ou próximos.

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Mesmo assim, o problema entre memória individual e coletiva não estará resolvido.

A historiografia o retomará do começo.

Surgirá de novo, quando a história, ao se colocar como sujeito de si mesma:

• tenta abolir o estatuto de matriz de história, concedido à memória, e, • trata a memória como um dos objetos do conhecimento histórico.

O autor não se propõe a resolver o problema entre memória individual e coletiva.

Atribui à filosofia da história complementar este debate apontando:

• as relações externas entre memória e história e;• as relações internas entre memória individual e memória coletiva.

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Conforme o autor: as discussões que envolvem Husserl e Halbwachs indicam conclusão negativa.

a sociologia da memória coletiva e a fenomenologia da memória individual- não conseguem resultar a legitimidade aparente da tese adversa:

• De um lado, têm-se a coesão dos estados de consciência do eu individual;

• Do outro, a capacidade das entidades coletivas de conservar e recordar as lembranças.

As tentativas de derivação não são simétricas; não há áreas de sobreposição entre uma derivação fenomenológica da memória coletiva e uma derivação sociológica da memória individual.

Três sujeitos da atribuição da lembrança: eu, os coletivos e os próximos

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O autor propõe explorar os recursos de complementaridade que estas duas abordagens antagônicas contêm:

• recursos mascarados, de um lado- pelo preconceito idealista da fenomenologia husserliana (parte da obra publicada), e

• Pelo preconceito positivista da sociologia nos seus primórdios, de outro.• busca identificar a região de linguagem onde os dois discursos podem entrecruzar.

A linguagem comum oferece uma boa ajuda:

• retrabalhada com ajuda de ferramentas de uma semântica e de uma pragmática do discurso.

Uso de possessivos da forma “meu” e “o meu” (singular e plural).

• Asserção dessa possessão privativa da lembrança constitui na prática de linguagem um modelo de minhadade para os fenômenos psíquicos.

• Esses indícios de apropriação estão no texto das Confissões.

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John Locke - primeiro a teorizar a operação (p.134)

• introduz a expressão appropriate e uma série de jogos semânticos em torno da palavra own na forma pronominal ou verbal.

• nota que o caráter forensic, a linguagem jurídica - introduz distância entre a propriedade apropriada e o possuidor.

Para Ricoeur:

•essa expressão pode ser associada a vários possuidores (my own self etc.) e o substantivo the self.

• À expressão appropriate- juntam-se as expressões impute, accountable (assumir responsabilidade, ser responsável ou responsabilizar outrem).

• appropriation num contexto jurídico não deve subtrair-lhe a magnitude semântica.

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Imagens

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Bibliografia básica:RICOEUR, PAUL. A memória, a história, o esquecimento. Tradução: Alain François. Campinas, SP: UNICAMP, 2007. Bibliografia Complementar:«Entrevista com Paul Ricoeur [sobre a crise da filosofia]». Publicada em: La philosophie d´aujourd´hui, Lausanne-Barcelone: Éditions Grammont-Salvat Editores, 1976 (Bibliothèque Laffont des grandes thèmes). (II.A.314a.)

Confissões de Santo Agostinho.

COLI, Jorge. O sono da razão produz monstros. In: A crise da razão (org. Adauto Novaes), Cia das Letras. 2006.

Luz e razão: A sede de Goya. In: www.unicamp.br/chaa

REFERÊNCIAS