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1 GRUPO GESER - GESTÃO EM SEGUROS E RISCOS – Ed. 1 – maio 2013

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GRUPO GESER - GESTÃO EM SEGUROS E RISCOS – Ed. 1 – maio 2013

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Professor do Dept. de Economia, Administração e Sociologia (ESALQ/USP), coordenador do Grupo GESER - Gestão em Seguros e Riscos - ESALQ/USP

O GRUPO GESER – Gestão em Seguros e Riscos apresenta o Boletim do Seguro

Rural (BSR) com o principal objetivo de esclarecer temas importantes sobre o

seguro rural, além de divulgar as informações do setor, notícias, estudos de

caso, entrevistas e artigos técnicos. O público alvo são os produtores rurais, mas

buscaremos atender também às expectativas dos demais atores ligados ao setor

de seguro rural.

Nesta primeira edição, o BSR apresenta em sua matéria de capa as ações do

Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural do Governo Federal (PSR), e

traz também um estudo de caso para o seguro agrícola de custeio, para a região

de Campo Mourão/PR.

A equipe também entrevistou o Coordenador do Departamento Técnico

Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), o

economista Pedro Augusto Martins Loyola Junior, que trata do posicionamento

da FAEP a respeito do PSR, seguro rural e desafios futuros do setor.

Esperamos que este material auxilie os produtores rurais a entender melhor o

seguro rural, destacando suas vantagens e limitações, e como esse instrumento

de gestão de riscos pode ser utilizado da melhor maneira possível para reduzir

de forma eficaz as perdas provenientes de eventos climáticos adversos.

BOA LEITURA !

EDITOR CHEFE:

Vitor Ozaki

EDITORES ASSOCIADOS:

Adriano Lênin Cirilo de Carvalho

Eduardo Passarelli

Henrique Cyrineu Tresca

COLABORADORES:

Daniel Menezes Lopes

Daniel Lima Miquelluti

Gislaine Vieira Duarte

Gustavo Arcerito

Juliana Guardia

Lethicia Magno M. de Almeida

Lucas Fernando Souza Eloy

Luiz Guilherme Fagotti

Mateus Gosser

Monique Monah Moreira

Rafael Augusto Tapetti

Rafael Seiji Tamura Yamamoto

Roberto Carlos Filho

Vanessa Siqueira Ribeiro

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Governo do Paraná amplia seguro rural de

três para 29 culturas

O Governo do Paraná está ampliando o pro-grama de seguro rural com subvenção do Estado, passando de três para 29 as culturas que podem ser seguradas a partir da safra 2013/14. A ação vai permitir aos agricultores paranaenses a redução dos custos de contratação do seguro rural.

Para atender a deman-da, o Governo do Paraná alocou um orçamento de R$ 6,4 milhões para dar suporte às operações que terão um limite de R$ 4,8 mil por cultura ou beneficiário.

Outro avanço do pro-grama é a possibilidade de credenciamento das seguradoras por até 60 meses. Anteriormente, esse prazo era de apenas um ano, gerando bu-rocracia e lentidão nas

renovações anuais dos contratos com a Se-cretaria da Agricultura e Abastecimento, respon-sável pela Coordenação Estadual, e com a Fo-mento Paraná, respon-sável pela gestão finan-ceira.

A Seab criou um Comitê Gestor do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural, composta por representantes de órgãos estaduais como a Secretaria do Plane-jamento e a Agência de Fomento, instituições re-presentativas dos pro-dutores como a Fede-ração da Agricultura e do Abastecimento (Faep) e a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).

Agora, além das culturas já subvencionadas (milho da segunda safra, trigo de sequeiro e irrigado e o café) o plano irá amparar mais 26 culturas - abacaxi, algodão, alho, arroz, batata, cebola, cevada, feijão de primeira e segunda safra, tomate, ameixa, caqui,

figo, goiaba, kiwi, laranja, maçã, melancia, moran-go, nectarina, pera, pês-sego, tangerina, uva e floresta cultivada, além da pecuária.

A estimativa é que o plano esteja pronto para operar já em 2013, com início previsto para se-tembro.

Fonte: Secretaria da Agricultura e do

Abastecimento do Paraná Modificado: GESER

GOVERNO FEDERAL AUMENTA SUBSÍDIO AO SEGURO RURAL DA SAFRA DE INVERNO

A Confederação Nacional da Agricultura apresentou ao governo a proposta de alocar R$ 850 milhões para o seguro rural da safra 2013/2014.

Segundo a confederação, este orçamento vai cobrir 20% da atual área plantada. Na safra 2012/2013, o valor do seguro rural ficou em R$ 400 milhões. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PSD-TO), acredita que o seguro rural contribuirá para a redução dos juros dos financiamentos agrícolas, porque o risco da atividade será menor.

Outra proposta feita pela CNA é a redução da taxa de juros de 5,5% para 4,5% ao ano para o crédito rural. As propostas foram apresentadas à ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ao ministro da Agricultura, Antônio Andrade, do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, e ao presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.

Fonte: Revista Época Modificado: GESER

CNA propõe R$ 850 milhões para seguro rural

O governo federal vai oferecer R$ 90 milhões para subvenção ao seguro rural da safra de inverno. O anúncio foi feito dia 8 de maio, pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Mapa), Mendes Ribeiro Filho, durante a Expodireto Cotrijal, que ocorre em Não-Me-Toque (RS).

Para feijão, milho segunda safra e trigo, o percentual de subvenção chega a 70%, enquanto para aveia, canola, cevada, centeio, sorgo e triticale é 60% – para amendoim e girassol, 40%, com limite de R$ 96 mil por produtor.

O benefício faz parte da Política Agrícola Brasileira para Triticultura e demais Culturas de Inverno. O programa prevê ainda preços mínimos para o trigo. Com isso, o valor mínimo subiu 6% em relação ao cobrado na temporada anterior. Em relação ao crédito, o limite do produtor subiu de R$ 650 mil para R$ 800 mil.

Para garantir a comercialização, o governo disponibilizou R$ 430 milhões como garantia de preços mínimos por meio das modalidades de Aquisição do Governo Federal (AGF) e pelos leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural ( Pepro).

Notícias em Destaque

Fonte: Portal EBC Modificado: GESER

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O risco é um fator inerente à

atividade agropecuária e deve ser

mapeado e gerenciado com grande

atenção pelos produtores. Dentre os

principais riscos da atividade

agropecuária, o risco de produção e o

risco de preço tem elevada

importância na medida em que

afetam diretamente o faturamento

agrícola.

Para gerenciar esses riscos e suas

consequências, os produtores

desenvolveram diversos mecanismos,

por exemplo, a diversificação de

culturas, desenvolvimento de novas

técnicas de produção e os

mecanismos baseados na

mutualidade. Dentre esses

mecanismos destaca-se o seguro

rural, uma ferramenta de mercado

eficaz de transferência de risco, que

tem a vantagem de reduzir o risco

sem grandes oscilações no retorno

esperado da atividade.

Neste contexto, foi instituído o

Programa de Subvenção ao Prêmio

do Seguro Rural (PSR), criado em 19

de dezembro de 2003, pela Lei n.º

10.823, com o objetivo de aumentar a

participação dos produtores no

mercado de seguro rural, por meio da

redução do prêmio cobrado pelas

seguradoras, o que tornou o seguro

rural um dos principais pilares da

política agrícola do Governo Federal,

assim como ocorre nos Estados

Unidos, na Espanha e no México. A

operacionalização do PSR ocorreu

dois anos após a sua aprovação, em

2005, com orçamento de R$ 2,3

milhões. O gráfico a seguir mostra a

evolução dos valores efetivamente

liberados pelo governo federal, de

2005 a 2012.

2,3

31,1

60,9

157,5

259,6

198,2

253,5

318,2

0

50

100

150

200

250

300

350

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Su

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s)

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Elaboração: GESER

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No período de 2005 a 2009, houve grande evolução

no montante liberado para o PSR. No entanto, em

2010 houve queda nesse valor, para R$ 198,2

milhões, dos R$ 238 milhões disponibilizados

naquele ano pelo governo federal. O reflexo da

redução do montante disponibilizado para a

subvenção foi a diminuição na adesão ao seguro

rural, com uma redução de 28% na área segurada de

2009 para 2010, motivada pelos prêmios elevados.

No Paraná, por exemplo, em 2009 o número de

apólices contratadas foi de 26.775, enquanto, em

2010, este número caiu para 20.532. Em 2011, o

orçamento liberado pelo governo federal voltou a

ficar abaixo dos valores de 2009, totalizando R$ 255

milhões. O que resultou em nova queda na adesão

do seguro, visto que a área segurada foi de 4,76

milhões ha, valor muito próximo ao de 2010, igual a

4,79 milhões ha, ambos inferiores a 2009 (6,67

milhões ha).

Essa situação afeta o planejamento das seguradoras

na comercialização do seguro rural além de interferir

diretamente na gestão de risco do produtor rural.

Outro problema que ocorreu nesse período foi o

atraso no repasse dos recursos às seguradoras. Em

2012, por exemplo, uma parcela do orçamento

destinado pelo PSR não havia sido disponibilizado

até novembro, época em que a safra de verão já está

semeada, portanto sem possibilidade de adesão a

qualquer produto de seguro.

Para a safra iniciada em 2012, os números obtidos

deram mostras de que a adesão ao seguro rural

aumentará nos próximos anos, sendo em grande

parte determinada pela política agrícola adotada

pelo governo, e neste caso, representada pelo PSR.

No ano passado, o valor disponibilizado para o

programa foi de R$ 329 milhões, do qual foram

utilizados efetivamente R$ 318,2 milhões. O

aumento de R$ 64,7 milhões em relação a 2011

resultou em um aumento de 10% na área segurada,

para 5,24 milhões ha em 2012. No entanto, este

valor é pouco representativo frente à área total

agricultável no Brasil.

Apesar da baixa penetração do seguro rural observa-

se que o estado do Paraná tem-se diferenciado dos

demais estados. Segundo o Ministério da

Agricultura, na última safra, a adesão do produtor

de soja paranaense foi o dobro da média nacional. A

área segurada no estado em 2012 foi de

aproximadamente 1.170.000 ha, o que corresponde

a 25% de toda a área de soja no Paraná, enquanto

no Brasil o seguro cobriu cerca de 3.000.000 ha de

soja, ou seja, 12,5% do total cultivado no país. Isso

mostra a importância da soja para o mercado de

seguros.

No final de 2012, foi aprovado o Plano Trienal do

Seguro Rural (PTSR) 2013 – 2015, o qual prevê o

orçamento de R$ 400 milhões para o PSR em 2013.

Para os próximos dois anos, 2014 e 2015, o valor a

ser disponibilizado é de R$ 459 milhões e R$ 505

milhões, respectivamente. O quadro a seguir

apresenta os percentuais de subvenção por cultura e

o limite garantido pelo governo, para cada

modalidade. Os percentuais de subvenção variam de

30% a 70%, e o limite a ser pago pelo PSR é de R$

96.000. O produtor poderá obter subvenção para

mais do que uma modalidade, desde que a soma

não ultrapasse o montante de R$ 192.000,00.

5

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Elaboração: GESER

Modalidades de

Seguro Grupos de culturas

Percentuais

de

Subvenção %

Limites em

R$

Agrícola

Feijão, milho, segunda

safra e trigo. 70

96.000,00

Aveia, sorgo, triticale,

entre outros. 60

Algodão, arroz, milho e

soja. 50

Amendoim, batata, café,

cana-de-açúcar, entre

outros.

40

Pecuário - 30 32.000,00

De Florestas - 30 32.000,00

Aquícola - 30 32.000,00

VALOR MÁXIMO SUBVENCIONÁVEL 192.000,00

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Ainda a respeito das ações governamentais em

incentivo à adesão ao seguro rural, o PSR estabelece

microrregiões prioritárias no país, em função da

importância socioeconômica da atividade

subvencionada na região, do zoneamento agrícola de

risco climático, do valor da produção, do histórico de

sinistros, da abrangência dos agentes de seguro e do

Índice de Desenvolvimento Rural. Para a safra

2013/2014, o PSR ampliará o percentual de subvenção

em 20% para os locais considerados prioritários. As

microrregiões beneficiadas por este aumento na

subvenção para a cultura da soja estão nos estados de

Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo,

Paraná e Rio Grande do Sul. O mapa a seguir mostra a

localização dos municípios do Paraná que estão inclusos

em microrregiões prioritárias, para a cultura da soja.

A área coberta pelo seguro no Brasil é de apenas 7,7%

do total cultivado, uma proporção muito baixa para um

país que tem o agronegócio como um de seus principais

pilares econômicos. Considerando outros programas

que atuam juntamente com o PSR, como o Proagro,

Garantia Safra e os fundos de mutualidade, esta

proporção chega a 18% da área agrícola brasileira, o

que ainda é muito pouco. Nos Estados Unidos, país em

que a cultura do seguro rural é amplamente difundida,

82% da área agrícola é coberta por seguro, por meio de

programas subvencionados pelo governo norte-

americano.

Vale ressaltar que o programa de seguro rural norte-

americano foi instituído em 1938. Do início até a

chegada ao estágio atual, com a massificação dos

produtos, houve um lento processo de

amadurecimento, com constantes melhorias e

reavaliações, sendo a participação estatal decisiva para

a viabilização do seguro em nível nacional.

Conforme apresentado anteriormente, o seguro rural

no Brasil passou a operar com subvenção apenas em

2005. Portanto, frente a experiência norte-americana,

nosso Programa ainda se encontra em estagio

embrionário, embora as primeiras iniciativas de se criar

um mercado de seguro rural datam de meados da

década de 50.

Embora as ações diretas do estado sejam recentes na

história do seguro rural no Brasil, cerca de 10 anos, é

vital que o governo federal atue de forma mais incisiva

em se alocar o montante previsto nos Planos Trienais e

na liberação em tempo hábil dos recursos previstos, o

que possibilitaria às seguradoras ofertar seus produtos

a um maior número de produtores, com taxas mais

atrativas.

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Nesta seção do Boletim iremos detalhar

um pouco mais sobre o seguro agrícola

por meio de exemplos e estudos de caso

com os principais produtos disponíveis

no mercado. Nessa edição do boletim

apresentaremos um estudo de caso com

o seguro de custeio, para a cultura da

soja, no município de Campo

Mourão/PR, situado na principal região

produtora do Paraná.

De acordo com os dados divulgados pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, referentes aos resultados

do PSR, a soja é a cultura agrícola com

maior número de apólices de seguros,

com destaque para o estado do Paraná.

Como se comporta a produtividade da

soja ao longo das safras em Campo

Mourão, e qual a implicação na adesão

ao seguro rural? E como funciona o

mecanismo de cálculo do prêmio do

seguro e da indenização a ser recebida

em caso de sinistro? Estas questões serão

respondidas neste artigo.

Ao observar as produtividades obtidas

para o estado, segundo informações do

IBGE, é fácil perceber que, em geral, ao

longo das safras, a produtividade no

Paraná apresenta maior variação, em

comparação a outros estados, como o

Mato Grosso. Isto ocorre devido à maior

variabilidade climática dos estados do Sul

do Brasil, em comparação aos estados do

Centro-Oeste, em que o risco de que se

tenha uma quebra de safra por geada,

por exemplo, é significativamente menor.

Esta é uma das explicações para a maior

demanda e interesse pelo seguro agrícola

na região Sul do país.

O principal produto de seguro agrícola

disponível aos agricultores é o chamado

“Seguro de Custeio”. Para que o produtor

tenha acesso ao seguro é preciso antes

conhecer a taxa de prêmio do seguro. A

taxa irá determinar o prêmio pago pelo

agricultor, ou seja, qual o valor a ser pago

para proteger a lavoura. Outro

parâmetro importante é a produtividade

esperada e o nível e cobertura. Para

Campo Mourão, vamos supor que a

produtividade esperada seja de 3.575

kg/ha.

É importante não se confundir aqui! A

produtividade garantida é igual à

produtividade esperada multiplicada

pelo nível de cobertura escolhido pelo

agricultor. Mas, o que seria o nível de

cobertura? Ele é um percentual,

normalmente entre 50 a 70%, que depois

de escolhido pelo agricultor é

multiplicado pela produtividade

esperada resultando na produtividade

garantida. Aqui, vale destacar uma

observação: quanto maior o nível de

cobertura mais caro será o seguro. Ainda

não comentamos sobre a indenização,

mas vale a pena destacar que se a

produtividade obtida for menor do que a

produtividade garantida, o produtor será

indenizado. Voltaremos a esse ponto em

breve.

A Tabela a seguir apresenta os níveis de

cobertura oferecidos por uma seguradora

do mercado para a soja em Campo

Mourão, que usaremos para o cálculo das

produtividades garantidas pelo seguro.

7

ESTUDOS DE CASO

Seguro Agrícola de Custeio em Campo Mourão/PR

Nível de cobertura Produtividade garantida

(kg/ha)

50% 1.788

55% 1.966

60% 2.145

65% 2.324

70% 2.503

Obs: A produtividade esperada é de 3.575 kg/ha.

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Antes de prosseguirmos é importante verificar o

conceito de “limite máximo de garantia”, que

para o seguro de custeio, é o valor máximo que o

produtor receberá caso a produtividade obtida

seja menor do que a produtividade garantida na

apólice. Este limite é obtido pelo valor custeio da

lavoura, em R$ por hectare, e depende também

da área segurada pelo agricultor.

Neste estudo de caso, será considerada uma

área plantada de soja de 200 ha e para o cálculo

do custeio, consideramos o custo de produção

médio, divulgado pela Secretaria de Agricultura

do Paraná, que para fevereiro de 2013 é de R$

2.142,30/ha. Com estes valores, portanto, o

limite máximo de garantia é de R$ 428.460,00.

Sobre esse valor o segurado multiplica a taxa de

prêmio para conhecer o prêmio do seguro, que é

na verdade o preço que o agricultor deverá

pagar à seguradora. Como o risco é alto, o

prêmio, muitas vezes, também é alto. Tendo em

vista esse problema, o Governo Federal iniciou

em 2003 um programa que visa reduzir o prêmio

do seguro, conhecido como Programa de

Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). A

cada três anos, o Governo libera os percentuais

de subvenção (subsídio) por tipo de cultura. Por

exemplo, para a soja o percentual de subvenção

é de 50%, ou seja, se o prêmio é de R$ 1000, o

produtor paga R$ 500 e o Governo Federal, o

restante. Dessa forma, o preço do seguro se

reduz pela metade. Para Campo Mourão, que é

uma região prioritária, segundo o MAPA, há

ainda um adicional de 20% na subvenção,

portanto o Governo Federal arca com 70% do

prêmio.

Continuando nosso estudo de caso, vamos

resumir no quadro abaixo, os cálculos dos

prêmios e totais e aqueles efetivamente pagos

pelos agricultores depois da aplicação do

percentual da subvenção.

8

Até agora, vimos o que é o nível de cobertura, o limite máximo de garantia, o percentual de subvenção e

como calcular a produtividade garantida e o prêmio do seguro. Em nosso estudo de caso, estamos no

momento da finalização do período de contratação do seguro, e daqui para frente, a safra já estará em

andamento.

Nível de cobertura Taxas de prêmio

da seguradora

Taxas de prêmio

após o % de

subvenção

Prêmio a ser pago

pelo agricultor (R$)

50% 3,21% 0,96% 4.113,22

55% 3,63% 1,09% 4.670,21

60% 4,40% 1,32% 5.655,67

65% 5,58% 1,67% 7.155,28

70% 6,88% 2,06% 8.826,28

ESTUDOS DE CASO

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Nível de Cobertura Produtividade

Garantida (kg/ha)

Produtividade

Final (kg/ha)

Índice de

Perda (%)

Indenização

(R$)

50% 1.788 2.205 -

55% 1.966 2.205 -

60% 2.145 2.205 -

65% 2.324 2.205 5,1 R$ 21.939,22

70% 2.503 2.205 11,9 R$ 51.011,22

Vamos supor que tudo corria muito bem na

região de Campo Mourão, mas na fase em que a

soja mais precisava de água, parou de chover.

São para esses momentos que existe o seguro

agrícola. Nesse caso, o agricultor liga para a

seguradora e ela, em seguida, envia o perito

para verificar situação a lavoura. Lembrando que

a decisão de pagamento da indenização ocorrerá

apenas no momento que antecede a colheita,

pois a soja poderá ter se recuperado nesse

período.

Assim, já próximo do final da safra, o perito

retorna à fazenda e verifica que, em função da

estiagem, a produtividade final foi de 2.205

kg/ha. E agora, ele recebe ou não a indenização

da seguradora? Vamos verificar em todos os

níveis de cobertura, em quais casos ele receberia

a indenização e qual seria esse valor? Para isso,

precisaremos calcular um índice de perda, que é

igual a produtividade garantida menos a

produtividade final sobre a produtividade

garantida. Dessa forma, calculamos a

indenização pela multiplicação do índice de

perda pelo limite máximo de garantia (R$

428.460,00).

Portanto, o segurado não receberia a

indenização se tivesse contratado os níveis de

cobertura de 50%, 55% e 60%. Por outro lado, ele

seria indenizado se tivesse escolhido os níveis de

65% e 70%. Nesses casos, os valores indenizados

seriam de R$ 21.939 (e prêmio pago de R$

7.155), e R$ 51.011 (com prêmio pago de R$

8.826).

A mensagem final é de que o seguro agrícola,

desde 2003, faz parte da atual política agrícola

do Governo Federal, além de iniciativas de

alguns Governos Estaduais que também criaram

politicas de subvenção ao prêmio. Ainda temos

uma longa estrada a percorrer até chegar a um

mercado massificado e com produtos que

realmente satisfaçam as reais necessidades dos

agricultores. Mas o bom sinal é que existe um

consenso geral, de todos os envolvidos no nosso

agronegócio, de que o seguro rural é

fundamental para garantir não apenas a

continuidade dos bons resultados dos grandes

agricultores, mas principalmente no momento

de socorrer os pequenos e médios em

momentos de catástrofes climáticas.

ESTUDOS DE CASO

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Qual é atuação da FAEP na expansão da cultura de adesão ao seguro rural no Paraná? Em que medida isso ajudou a tornar o estado o principal destino das verbas do PSR? A bandeira da gestão de riscos é uma das prioridades da FAEP e o seguro rural é visto como um dos principais instrumentos disponível aos produtores. No Paraná, a FAEP realizou um trabalho de sensibilização dos produtores sobre a cultura do seguro e também agiu junto às seguradoras para que ofertassem seguros condizentes com as necessidades de nosso estado. O trabalho da FAEP resultou em melhorias nas condições de contratação do seguro, ampliação nos recursos destinados ao programa federal de seguro, entendimento do produtor rural sobre a importância do seguro para mitigar riscos (principalmente evitando endividamentos) e o engajamento do governo estadual com um programa inicialmente para o trigo, mas que será ampliado na próxima safra para 29 atividades/culturas. Vale lembrar que o Paraná tem uma estrutura fundiária em que predominam a pequena e média propriedade com 87% das áreas com até 50 hectares. Isso faz com que os produtores tenham acesso fácil ao crédito rural oficial, o qual conta com uma rede de agentes financeiros que tem exigido a contratação de seguro nos financiamentos de custeios da safra. Ressalto ainda o trabalho de capacitação do SENAR-PR com seus programas como o “Empreendedor Rural” e os cursos que levam informação ao produtor sobre a gestão das propriedades. A somatória desses fatores ajudou o estado a ser o líder nacional em seguro rural. Em 2012, o governo federal destinou R$ 318,1 milhões para a subvenção ao prêmio do seguro rural. Deste montante, o estado do Paraná utilizou aproximadamente R$ 96,2 milhões, para diversas culturas. O valor disponibilizado é suficiente para atender às demandas do estado? O Paraná tem potencial para utilizar em torno de três vezes mais recursos desse programa federal nos próximos anos. Se

isso vai acontecer e em que velocidade, depende da vontade política do governo federal em ampliar o programa e do desenvolvimento, pelas seguradoras e resseguradoras, de produtos adequados às necessidades de cada atividade. Também há uma área de sombra entre o seguro privado e o Proagro. O Proagro teve seu limite ampliado para R$300mil e concorre diretamente com o seguro agrícola em diversas culturas. Nesse item falta ao poder público definir quem é o público do Proagro e do seguro rural privado. O Paraná é um dos estados que possui subvenção estadual ao prêmio do seguro rural, em complemento à subvenção federal. Recentemente, o governo do estado anunciou a ampliação do programa de subvenção, que passará a abranger 29 culturas/atividades. Para a FAEP, a subvenção estadual é determinante para que o seguro rural seja viável ao produtor rural? A subvenção estadual complementa a federal, principalmente em culturas/atividades em que o risco é maior e consequentemente a taxa-prêmio tem um custo maior. O programa no Paraná começou com trigo e será ampliado para milho safrinha, café, frutas e outras atividades que em geral tem taxa-prêmio acima de 10%. Como o governo federal paga parte (em torno de 30% a 70%) desse prêmio, o governo estadual complementa pagando outra parte e com isso viabiliza a contratação pelos produtores do seguro dessas atividades. Um caso que exemplifica isso é o seguro da maçã. Por se tratar de cultura de alto risco climático, seu prêmio é em média 10%. Como o governo federal paga 6%, o estadual quita outros 2% e o produtor os 2% restantes, ou seja, o prêmio líquido fica muito parecido com o que é cobrado no adicional (taxa) do Proagro e que cabe no bolso do produtor. Em Santa Catarina o programa estadual começou com a maçã e alavancou o seguro. Vale lembrar que os efeitos negativos para a economia de um país que não tem seguro rural se estendem para as economias locais,

estados e municípios. Isso significa que todas as esferas de governo deveriam se preocupar , a exemplo do que faz SP, PR, SC, MG e o município de Itatiba em São Paulo, este com um programa municipal de subvenção aos fruticultores. Um dos principais problemas do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) é em relação à programação de liberação dos recursos, visto que o mercado segurador queixa-se constantemente desses atrasos, que comprometem a venda de apólices. Qual a opinião da FAEP a respeito deste problema, e qual a importância do Plano Trienal do Seguro Rural? Não há seguro agrícola sem planejamento de todos os atores envolvidos. Não restam dúvidas que o PSR alavancou as contratações de seguro rural no País e o programa federal pode se tornar um case internacional de seguro. Porém ele corre riscos desde 2010, ano em que o governo federal começou a falhar na liberação dos recursos. Em 2012 tivemos um ano bom para o seguro rural, mas dos R$318 milhões, apenas R$174 milhões foram liberados até meados do ano e em dezembro outros R$144 mi foram usados, ou seja, 45% dos recursos disponibilizados no último mês do ano. A FAEP acredita que o seguro deve ser contratado no período em que o produtor está fazendo a compra dos insumos ou quando estiver financiando a safra. Dessa forma, o produtor pode adquirir a cultura de incluir o seguro em seu custo de produção. Logo, o governo deveria tratar como Lei a liberação dos recursos, obedecendo o calendário agrícola.

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Pedro Augusto Martins Loyola Junior Economista - Coordenador do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP

Nesta primeira edição do Boletim do Seguro Rural trazemos como entrevistado Pedro Augusto Martins Loyola Junior, Coordenador do Departamento Técnico Econômico da

Federação da Agricultura do Estado do Paraná.

Entrevista Pedro Augusto Martins Loyola Junior – FAEP

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O Plano-Trienal é importante para dar um norte para o planejamento do seguro agrícola no País, mas infelizmente nos últimos anos deixou de ser cumprido, aumentando a distância entre o planejado, o orçado e o efetivamente liberado. Esperamos que o governo federal priorize o seguro nos próximos anos e seja mais agressivo nas metas do Plano Trienal. Nos eventos promovidos pela FAEP com seus filiados, quais são as principais questões levantadas a respeito do seguro rural? Quais são as principais reinvindicações dos produtores sobre esta temática? A FAEP é composta por 185 Sindicatos Rurais no Paraná e mantém 11 Comissões Técnicas das principais cadeias produtivas. Essas comissões são formadas por produtores indicados pelos sindicatos. São nesses fóruns que o seguro rural é discutido. Há ainda muita reclamação devido ao alto custo do seguro, a falta de oferta de seguro para algumas atividades, a inadequação de algumas produtividades estipuladas em seguro agrícolas, a instabilidade de recursos no programa federal, que gera incertezas na contratação de seguro pelos produtores e também as vendas de seguro agrícola realizadas sem uma explicação mais consistente de que coberturas o produtor está comprando. Também nos períodos em que houve problemas climáticos severos, os produtores reclamaram da demora na peritagem dos sinistros. Todos esses problemas recaem no planejamento do seguro rural. Sabendo com um horizonte de longo prazo como vai se desenvolver o mercado, acredito que as seguradoras poderiam atender melhor os produtores. Na agricultura mundial, há alguns bons exemplos que comprovam a eficácia do seguro rural. Em 2012, os Estados Unidos passaram pela pior seca dos últimos 50 anos, e devido à adesão massificada ao seguro rural pelos produtores, foi possível garantir parte da renda dos produtores rurais, afetada pelas perdas na produção. A Espanha liberará em 2013 cerca de €$ 200 milhões de subvenção ao prêmio do seguro rural, o que é substancial se comparado ao Brasil. Na visão da FAEP, quais são as diretrizes necessárias para que o seguro rural se consolide no cenário agrícola brasileiro? Há muitos desafios para o

desenvolvimento do seguro rural brasileiro. A FAEP tem como propostas: a) Criar um sistema de acesso ao PSR em que o produtor possa escolher a seguradora. O modelo do programa distribui os recursos para as seguradoras para beneficiar os produtores. No entanto, isso gera uma reserva de mercado e não cria competitividade entre as seguradoras nas diferentes regiões do país e exclui muitos produtores de terem as mesmas condições de acesso ao programa. Além disso, cria "vendas casadas“, quando ao produtor é oferecido apenas uma opção de seguradora. Na própria Caixa Econômica Federal, os seguros habitacionais vinculados aos financiamentos tem a opção de duas seguradoras, dando a opção ao cliente de escolher qual a seguradora presta o melhor atendimento e tem o melhor custo-benefício. b) Liberar os recursos do PSR conforme o calendário agrícola, ou seja, no período em que o produtor está comprando os insumos ou contratando o financiamento de pré-custeio. c) Regulamentar a Lei Complementar nº 137, de 26 de agosto de 2010, que trata do fundo de catástrofe. d) Revisar o PSR, ampliando o montante de recursos para médio e longo prazo, e buscando amparar com seguro 50% da área cultivada no Brasil até 2015. e) Readequar os percentuais de subvenção por cultura, visando a ampliação do programa para todos os produtores rurais. f) Criar uma central de informações e promover a divulgação através do site e outros meios de comunicação dos valores disponíveis para subvenção ao prêmio, bem como dos prêmios cobrados, produtividade garantida por seguradora, corretores especializados em seguro rural e produtos disponíveis. g) Propiciar a previsibilidade e estabilidade do programa de seguro agrícola, através de um planejamento de longo prazo (mínimo de 3 anos) e o estabelecimento de garantia dos recursos, considerando a época de liberação dos mesmos em relação ao calendário agrícola. h) Criar um banco de dados (Cadastro Único do Produtor Agrícola), com a finalidade de reunir as informações dos produtores e fornecer os dados aos interessados autorizados. Este banco de dados deve contemplar informações que darão suporte a tomada de decisão das

seguradoras e dos financiadores, a fim de reduzir o risco de fraudes e inadimplência e propiciar a redução dos custos dos programas. i) Negociar a participação dos Estados e Municípios para que estes constituam seus programas de subvenção, a exemplo do que fazem alguns Estados como SP, PR, MG e SC. j) Estabelecer juros menores no financiamento das operações para produtores que adotem o seguro agrícola. A adoção de seguro reduziria o risco de inadimplência e, consequentemente, o custo do financiamento.

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