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GRUPO RBS.60 ANOSDE VIDA.OU MELHOR:60 ANOSDE VIDAS.

Quando Maurício Sirotsky Sobrinho ouviu pela primeira vez sua voz ecoar por um alto-falante em um poste de uma praça de Passo Fundo, nem de longe poderia imaginar que ali se iniciava a história da RBS.

Maurício sonhava grande e, há 60 anos, provavelmentepensava em mudar o mundo, a partir da vocação que moviatodos os seus passos: a comunicação.

Assim como ele, todo jornalista, todo comunicador, deseja mudaro mundo. Mas, com o tempo, a gente compreende que a nossa função não é mudar o mundo: é contar como o mundo muda.

O Grupo RBS tem feito isso, nessas seis últimas décadas.Cada pequeno recorte de história no Rio Grande do Sul foi,de alguma maneira, registrado, sentido, relatado pela RBS.Cada gaúcho que, em algum momento, parou para ver, ouvir ou lero que a RBS produzia não estava vendo, ouvindo e lendo a RBS:estava vendo, ouvindo e lendo sobre si mesmo.

Ao cumprir esta missão, ao informar, entreter e mostrar ao público o que está acontecendo em sua comunidade, a RBS foi mais do que agente de mudança. Contribuiu para que as pessoas mudassem o mundo.

A vida mudou e continua mudando. Estamos sempre em evolução. A RBS vai estar atenta, disposta a ver, ouvir e refletir essa mudança. Sempre junto das pessoas. Compartilhando experiências.Aprendendo com elas. Transformando-se. Essa é a nossa essência.

O Grupo RBS existe para conectar os gaúchose para contribuir com uma vida melhor.

Nunca nos sentimos tão interligados.Temos muito assunto para pensar juntos.Temos muita coisa para viver juntos.

É por isso que a RBS não está comemorando 60 anos de vida.Está celebrando 60 anos de vidas.

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3REVISTA AD180

ALMANAQUE

Dito “Simplicidade é o último grau

de sofisticação.”Leonardo da Vinci

(1452 - 1519)

“Se você não consegue expli-car algo para uma criança de seis anos, você mesmo não entendeu o suficiente.””Albert Einstein (1879 - 1955)

“Somente um tolo aprende de seus próprioserros. O sábio aprende dos erros dos outros.”Otto von Bismarck (1815 - 1898)

Sujismundo ensina bons hábitosHá 45 anos nascia um dos personagens da publi-

cidade brasileira que atraiu grande simpatia popular: Sujismundo. O boneco, criado pelo pu-blicitário Ruy Perotti Barbosa, era o protagonista

da campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”, patrocinada pelo governo federal com o objetivo de melhorar os hábitos de higiene e limpeza dos brasileiros.

Sujismundo não tomava banho, vivia rodeado de moscas e jogava lixo no chão. Nos comerciais, em animação, ele mostra-va seus maus hábitos e acabava punido.

Produzido pela Lynxfilm, o personagem foi ao ar em se-tembro de 1972, em filmes de 60 e 90 segundos de duração, exibidos na TV e no cinema. Sujismundo chegou a ter tiras diárias em jornais e, posteriormente, uma revista própria que misturava quadrinhos e passatempos em 1977.Tornou-se tão popular que acabou gerando polêmicas sobre a sua eficiência: sendo irresistivelmente simpático, não estaria ele incentivan-do a sujeira ao invés de combatê-la em favor da limpeza?

Esta dúvida foi esclarecida com pesquisas em diversas esco-las e empresas. Constatou-se que todos simpatizavam com o Sujismundo mas ninguém queria ser como ele. Funcionando como uma “carapuça”, virou tema de gozação entre as pesso-as que procuravam identificar, entre os colegas, conhecidos e familiares, os verdadeiros “sujismundos”.

The Hucksters (O Vendedor de Ilusões, na versão brasileira) é um filme de 1947 da Metro-Goldwyn-Mayer, dirigido por Jack Conway e estrelado por Clark Gable que marcou a estreia de Deborah Kerr em um filme americano. Gable interpreta Vic Norman, um executivo de publicidade de rádio que acabou de retornar da Segunda Guerra Mundial. Suas experiências de guerra o amarguraram sobre aspectos falsos de sua profissão. No entanto, ele precisa trabalha com a maior agência de publicidade da cidade, enquanto divide suas atenções entre clientes e os seus interesses amorosos.O filme é baseado na novela The Hucksters, de Frederic E. Wakeman, e mostra um olhar cômico da indústria publicitária de Nova York.

O V E N D E D O R D E I L U S Õ E S

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SUMÁRIO

AD180

Diretor-GeralJULIO RIBEIRO

Diretora-ExecutivaNELCI GUADAGNIN

Textos:MARCELO BELEDELI

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Imagens:Fotografia: Agência Preview

[email protected]

ImpressãoCOMUNICAÇÃO IMPRESSA

ComercializaçãoPORTO ALEGRE: (51) 3231 8181e (51) 99971 5805 comNELCI GUADAGNIN

PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RSCEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

[email protected]

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Almanaque

MIX

Opinião: Marcelo Beledeli

MIX

Entrevista: Edgar Powarczuk

Opinião: José Cesar Martins

18 Capa: Publicidade em transição

24 Fast Foward: Alberto Meneghetti

26 Grandes Nomes: Leni Riefenstahl

30 Galeria: Publicidade na Segunda Guerra Mundial

Sumário

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MIX

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Investimento on-line cresce no Brasil

Publicidade gratuita de Trump pode valer US$ 2 bilhões para o Twitter

A pesquisa Digital News Report 2017, do Reuters Institute, apontou que o investimento em publi-cidade on-line no Brasil, em 2016, aumentou 26% quando comparado a 2015, impulsionado por um aumento de 115% nos fundos gastos em comer-ciais de vídeos na internet (segundo dados do IAB Brasil e da comScore). Os bloqueadores de anúncios são um problema menor para o mercado de publici-dade digital brasileira em comparação com outros países. A pesquisa mostra que os bloqueadores de anúncios foram instala-dos em apenas 8% dos smartphones brasileiros.

Empresas que vendem produtos e serviços para crianças registraram queda de 13% na receita a partir de proibição da publicidade infantil, segun-do pesquisa divulgada hoje (25) pelo The Economist Intelligence Unit, feita a pedido do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos voltada à garantia da vivência plena da infância. O estudo mostra que o impacto econômico atingiu o varejo, composto por restaurantes fast food, alimentos vendidos em supermercados, bebidas não-alcoólicas, brinquedos, roupas infantis, jogos, música, vídeo e ingresso. A Associação Brasileira de Agências de Publicidade es-tima redução de 5% de participação da publicidade infantil no mercado do setor.

Donald Trump é responsável por quase um quinto do valor de mercado do Twitter, segun-do uma análise divulgada pela Bloomberg. Desde que assu-miu a Presidência, em janeiro, Trump tem usado a rede social regularmente, publicando co-mentários, críticas a adversários e até mesmo decisões políticas

do seu governo. O uso quase diário pelo presidente faz com que a empresa seja citada regu-larmente por toda a imprensa dos Estados Unidos e do resto do mundo. Segundo o levan-tamento, a empresa perderia o equivalente a US$ 2 bilhões do seu valor, caso o presidente pa-rasse de usar a rede social.

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... porcarias. Muitas vezes o resulta-do tem sido uma publicidade mais preguiçosa acompanhada de expe-riências de visualização ainda mais horríveis... é de se admirar que os bloqueadores de anúncios estão crescendo 40%? "

Mas o crescimento exponencial da porcaria não é o maior proble-ma, disse ele. Muito mais preocu-pante foi o retorno do problema de Wanamaker: quantas pessoas real-mente estão vendo esses anúncios?

Eventualmente, as pessoas vão perguntar: qual é a taxa de retor-no da publicidade on-line? Quem se beneficia desse sistema de lei-lões vasto, opaco, não regulamen-tado, não monitorado e, em última instância, hostil ao usuário? Parte da resposta pode ser vislumbrada nos preços das ações do Google e do Facebook. Mas, principalmente, é encontrada nos lucros dos data brokers, dos rastreadores e de ou-tras criaturas corporativas que es-preitam nas sombras lançadas pe-los gigantes da internet.

Marcelo Beledeli é jornalista

[email protected]

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publicidade era como um bombar-deio à distância. Você pagava muito dinheiro para colocar anúncios em jornais e revistas ou na televisão e outdoors, mas nunca poderia ter certeza do que funcionou. Como o magnata da loja de departamen-tos norte-americana, John Wana-maker, disse uma vez: "Metade do dinheiro gasto na propaganda é desperdiçada. O problema é que eu não sei qual metade".

Mas, quando o Google e o Face-book chegaram, tudo isso aparente-mente mudou. A tecnologia imple-mentada por essas mídias poderia garantir que apenas as pessoas que fossem receptivas a algumas men-sagens particulares as receberiam. Os “Wanamakers” podiam ter cer-teza de que suas verbas publicitá-rias estavam atingindo o local. E nesta base, o Google e o Facebook (e, por um tempo, o Yahoo) ganha-ram muito dinheiro.

E assim, as verbas dos anuncian-tes, desviadas da mídia impressa e da TV, entraram em cascata nos cofres do Google e companhia. Che-gou ao ponto em que, de acordo com o que Financial Times publi-cou no início do ano, 2017 deve ser o ano em que os anunciantes gasta-rão mais com anúncios on-line do que na TV.

Tudo tranquilo e favorável, en-tão? Nem tanto. Acontece que a in-dústria de publicidade está come-çando a perceber uma cilada nesse paraíso de alta tecnologia. Em ja-neiro, o chefe da Procter & Gamble, Marc Pritchard, disse: "Observa-mos um aumento exponencial em

Bem, elas são, mas até um certo ponto. Muitos já perceberam que, se o serviço for gratuito, nós somos o produto. Ou, em vez disso, nossos dados pessoais e as trilhas digitais que deixamos na web são o produ-to. Os dados são coletados, cortados e vendidos aos anunciantes em um sistema vasto, oculto e totalmente não regulamentado de leilões in-formatizados de alta velocidade que asseguram que cada usuário pode ser exposto a anúncios que correspondem precisamente aos seus interesses e dados demográfi-cos. Bem-vindo ao mundo do "capi-talismo de vigilância".

Ainda assim, considere os bene-fícios para anunciantes. Uma vez, a

Não existe almoço grátis. O problema com a tecno-

logia digital, porém, é que, durante muito tempo, fomos

encorajados a acreditar que essa lei havia sido suspensa. Nos acostumamos a pensar

que enviar emails, usar a nuvem para armazenar nossas

fotografias digitais, navegar na web, baixar podcasts, assistir

gatinhos no YouTube, pes-quisar na Wikipedia e verificar

nossos feeds de notícias do Facebook, entre outras ativi-dades, eram todas de graça.

Desafios da publicidade on-line

MARCELO BELEDELI

OPINIÃO

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MIX

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Dos quase R$ 130 bilhões investidos pelo setor publicitário no País em 2016, apenas 0,4% (ou R$ 550 milhões) foram aplicados diretamente em times de futebol, sem contar os aportes em televisão e nos torneios. Isso significa que os clubes não conseguem obter parcela significativa do fabuloso mercado da publicidade na indústria esportiva. Os dados integram levantamento realizado pelo Itaú

BBA (sistema de análise de crédito).A fatia abocanhada pelos clubes brasileiros

chama atenção quando são levados em conta os números dos times de outras grandes ligas mundiais. Na França, 2,7% de todo o dinhei-ro investido pelo setor publicitário em 2016 estava nas agremiações. Na Inglaterra e Ale-manha, esta taxa foi de aproximadamente 5%. Os contratos de publicidade dos clubes italianos representam quase 8% de tudo que foi movimentado pelo setor. Na Espanha, a

proporção chega a surpreendentes 16,6%.

Patrocinadores fogem de clubes

de futebol

Os maiores anunciantes do primeiro semestre De acordo com informações da Kantar Ibope Media, os veículos

monitorados pela empresa receberam mais de 40 mil anuncian-tes no seis primeiros meses de 2017. A Hypermarcas movimentou o equivalente a 3% do total no período e, pela primeira vez, ocu-pou a liderança no ranking. O empresa de produtos farmacêuti-cos acumulou o equivalente a R$ 1.59 bilhão em compra de es-paço publicitário, valor 102% superior ao registrado na primeira metade do ano em 2016, quando ocupava a 6ª posição no ranking.

Veja o top 10 de anunciantes no Brasil:1º – Hypermarcas2º – Genomma3º – Unilever Brasil4º – Ambev5º – Procter e Gamble6º – Ultrafarma7º – Trivago8º – Divcom Pharma Nordeste9º – Caixa10º – Claro Valor gasto em anúncios cresceAinda segundo o relatório da Kantar Ibope Mídia, a compra de

espaço publicitário nos meios e veículos monitorados pela em-presa alcançou o equivalente a R$ 61.9 bilhões, montante 2% su-perior ao registrado no mesmo período do ano anterior. 55,5% de todo o investimento publicitário foi feito na TV aberta.

A SEMrush, empresa de marketing digital, fez um levantamento através das ferramentas de busca na internet para identificar as palavras-chaves mais ca-ras e que tornam o tráfego mais relevante para empre-sas que pretendem investir em campanhas no Google Adwords ou em anúncios pagos na internet.

CONFIRA A LISTA DE PALAVRAS-CHAVE MAIS CARAS NO BRASIL: 1º - lei de franquiaUS$ 179,552º - umbuntoUS$ 112,333º - nuvem negraUS$ 107,474º - mydlink log inUS$ 102,895º - web app futUS$ 81,52

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ENTREVISTA

Quem é o Zuk? Jornalista, profis-sional de marketing? Mentor?

Eu tenho 57 anos, fiz agora em agosto. Comecei como jornalista no saudoso "O Repórter", em Gua-íba, como estagiário, e, duas sema-nas depois, o editor saiu e eu fiquei como editor. E aí eu fazia e turnê clássica do jornalismo do interior: tu vai no hospital, na delegacia e na prefeitura. E ali eu descobri que eu não queria ser jornalista. Não de redação, pelo menos. Porque naquela época o maior número de acidentes com mortes era naquele trecho, e ainda é, entre Eldorado do Sul e Guaíba. E morria gente ali toda semana. E eu tinha que ir lá cobrir junto com o fotógrafo, por-que isso era capa de jornal sempre, para vender, né?! Essa profissão não é para mim. E aí a oportunida-de que eu tive na RBS, eu comecei com o Heitor Kramer, diretor de Marketing da RBS. Ali eu comecei a tomar um prumo mais para o lado do marketing e aí fiz várias espe-cializações nessa área até chegar na administração, e aí fiz um mes-trado acadêmico em administração na Ufrgs e que me levou para essa área do empreendedorismo. Por

ficuldades — tá vendo aquela caixa de lenços de papel ali? É uma cai-xa por semana. Os caras vêm aqui e choram mesmo, porque não têm com quem desabafar.

O empreendedorismo é uma coi-sa meio solitária?

Completamente. Se tu vais com-partilhar teu problema com a tua mulher (ou marido), vais ouvir "re-laxa, vamos fazer uma viagem". Se tu vais compartilhar com teu sócio, teu sócio tem um interesse. Vais compartilhar com teu advogado, ele tem um interesse. Com um ami-go, o amigo tem outro. O meu inte-resse é resolver o teu problema.

E, às vezes, o problema é que o resultado não vem na dimensão e nem no tempo que se espera...

Os caras chegam aqui com uma visão do negócio que eu chamo as-sim de um "farol baixo", porque a atividade do empreendedor precisa ser de resolver problemas, um atrás do outro, que o farol acaba baixan-do. Os caras não conseguem enxer-gar um quilômetro à frente, mas isso dentro dele, ele como pessoa. Ele não consegue enxergar os seus

trabalhar muito tempo no Sebrae, eu convivi muito com pequenos negócios iniciantes, com o empre-endedor.

Mas tu trabalhas, já há um bom tempo, como empreendedor...

Eu fui trabalhar na XP, como empreendedor, com uns caras ma-lucos. Só jovens e tudo nerd. Tudo pilhado e com alta tecnologia. E ali eu comecei a me aproximar da tecnologia, que é outra questão que me interessa muito. Mas, não a tecnologia pela tecnologia, mas o impacto que a tecnologia causa na gente enquanto humanos e, claro, enquanto pessoa física e jurídica. E meu trabalho, também, foi se desenvolvendo na parte mais emo-cional do empreendedor. Com o tempo de consultoria e lidando com empreendedores, eu fui vendo que 80% do problema do cara é a cabe-ça. E aí fui me especializar. PNL, co-aching e etc. para tentar entender como me aproximar melhor do CPF do empreendedor. E aí o meu traba-lho é, se eu pudesse resumir, psica-nalista de empreendedor. Alguém a quem empreendedores recorrem para falar de seu mundo e suas di-

"Precisamos aprender a viver onlife - estar ligado, mas, ao mesmo tempo, vivendo"Edgar Powarczuk é jornalista por formação, trabalhou com marketing e estudou Administração, mas foi na Filosofia

que tirou as ideias para desenvolver seu método de trabalho atual. À frente da Ezuk, ele é especializado no desenvolvi-mento de empreendedores, por meio de técnicas de coaching e mentoring. Nesta entrevista, Zuk, como é conhecido, fala sobre empreendedorismo e a importância da solidão e do fracasso para se obter o sucesso, entre outros temas.

EDGAR POWARCZUK

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Entrevista:Julio Ribeiro

Fotos:Marcos Nagelstein

"Precisamos aprender a viver onlife - estar ligado, mas, ao mesmo tempo, vivendo"

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ENTREVISTA

relacionamentos, a vida dele se transforma naquilo ali. O meu tra-balho é tentar fazer o sujeito levan-tar o farol um pouquinho. Às vezes, ele chega com um problema A, e a gente descobre que é B.

O que tem de gente fazendo co-aching, mentoring, atualmente, é um troço impressionante. Tem até curso para ser mentoring...

Tem vários cursos para ser men-toring. Tem uma rede de produ-ção, então os caras cospem aí 200 coachings por mês, eu acho, no Rio Grande do Sul. Não sei o número, mas é em escala. E não se dão conta do seguinte: o coaching é um méto-do, é uma prática. Por exemplo, se tu és um nutricionista, o coaching vai te ajudar e entender melhor o problema do teu paciente, para en-tão exerceres a tua atividade pro-fissional, que é adaptar a melhor alimentação para o teu cliente. O coaching é uma ferramenta de uso para algo que tu já dominas. Ago-ra, quando tu faz o coaching pelo coaching... Eu vou ficar no que eu chamo de "o céu é azul", eu vou simplesmente falar num tom mais aveludado ou um pouco mais mo-tivador e dizer obviedades. Se tu tens uma profissão, uma competên-cia, o coaching vai te ajudar, como técnica, a potencializar tua compe-tência. Um médico, nutricionista, engenheiro, jornalista, o coaching vai te ajudar a aperfeiçoar tua téc-nica num sentido muito objetivo que é poder extrair um pouco mais de informações da tua interlocução, porque o coaching não é nada mais do que uma técnica de enunciação, de fazer perguntas, um método so-crático. São perguntas através de observações que tu vais recolhendo informações para ter a condição de um entendimento melhor do que tu podes resolver do problema do cara, dentro de uma competência que ele já tem. Agora, o que está

acontecendo é o seguinte: o cara não tem nada para fazer, tá desem-pregado, não tem um projeto, uma competência específica, e aí vai fa-zer coaching para dar coaching. E aí acabou se formando uma bolha de caras que dão coaching pelo co-aching. Como o cara não tem uma formação, fica tratando de obvieda-des, mas com uma tonalidade, uma verbalização, que, na verdade, é rasteira, rasa.

Isso não tem a ver também com a capacidade das pessoas de não querer dar mergulhos mais pro-fundos?

A questão do pensamento raso é uma coisa. Mas, tem uma questão antes dessa: as pessoas querem ser ouvidas. Por isso as pessoas pagam o coaching, porque elas querem alguém que as ouça. Hoje nós vive-mos numa sociedade em que tu tá falando com alguém e sentes que a outra pessoa só está esperando tu parares para ela falar o que a ela in-teressa. São interlocuções indepen-dentes. Não há empatia, muito me-nos a alteridade. Então, esse é um primeiro aspecto que já leva muitas pessoas a procurarem um profissio-nal assim. Aí, claro, há uma deman-da, que quer ser ouvida, se tu ouvi-res com qualidade essas questões e devolveres de uma maneira, mini-mante, articulada e razoável algum feedback, isso já ajuda a pessoa. Ok. Como uma terapia também ajuda-ria. O coaching trabalha numa for-ma mais superficial, menos profun-da. Ele resolve problemas que não são traumáticos, resolve problemas de crenças. Crenças que acabam sendo limitantes para as pessoas. Eu não gosto de ser chamado de coaching e não me apresento como coaching. Eu uso o coaching como uma técnica. Eu sou um mentor. O que significa o mentor? Não exis-te universidade para mentor, não existe curso para mentoria. Eu não

acredito nisso. Porque mentoria tu tens que ter barba branca, experi-ência, rodagem. Porque o cara se apresenta na tua frente com um problema e tu tens que, de alguma forma, ter tido alguma experiência parecida para dizer "olha, eu tive um tipo de experiência assim, ou conheço um cara, tratei de uma ex-periência assim". Eu preciso dar um norte para o sujeito. Há uma gran-de diferença no trabalho de men-toria. A mentoria iniciou nos Esta-dos Unidos, é clássica lá, dos caras que prestam consultoria pro bono, sem remuneração, profissionais já aposentados, na maioria das vezes, para orientação de jovens em suas carreiras.

Seria quase uma consultoria sê-nior?

É quase como uma consultoria sênior. Para jovens usar em suas carreiras. Só que começou a haver um crescimento de jovens não que-rendo mais carreira, mas querendo ser empresários, empreendedores. Falamos do Vale do Silício, o mais notável. Esse jovens, desprepara-dos, ainda sem experiência de vida, foram buscar mentores para acon-selhá-los. Esse mentores, que antes orientavam carreiras, tiveram que se adaptar, adequar, para tratar de jovens agora querendo ser empre-endedores. Então, a minha carrei-ra aqui no Brasil é relativamente nova, orientando jovens. Mas tam-bém não oriento só jovens, oriento os híbridos que eu falo, caras que viveram a vida antes do celular, da internet e do computador - são as três grandes revoluções.

Nós somos muito hedonistas, né?! Essa conclusão de que precisa-mos beber na experiência alheia é uma coisa meio rara.

A demanda é boa, mas eu volto para aquele ponto do não profun-do. Vivemos um contexto em que

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a não profundidade reina, veja o Instagram. A gente já tinha o Face-book que foi um empacotamento do conteúdo e agora nós temos o Instagram, que é o empacotamento do empacotamento. É uma imagem só e se tu botares uma frase que te-nha um segundo parágrafo, já era. Então, tu tens que viajar em uma frase. E aí as frases acabam sen-do "o céu é azul", provérbios que dizem tudo, mas não dizem nada ao mesmo tempo. Por isso que eu miro nessa preocupação que a gente deve ter, especialmente os empreendedores, para ampliar o seu farol e aprofundar um pouco mais. A maioria das pessoas vive numa zona mais confortável, até porque hoje discutir é muito difícil, normalmente, se parte para a pola-rização. Eu tava vendo a exposição do nosso grande Paulo Gasparotto e ele dizia lá que hoje cada um tem a sua coluna social, hoje a sua timeli-ne, a minha timeline, a timeline das pessoas é uma coluna social.

Essa exposição não nos deixa mais solitários ainda?

Eu escrevi vários artigos sobre isso e não publiquei ainda. Startup way oflife. Ou seja, nós estamos vi-vendo isso, como se nós fossemos pequenas empresas, nós temos que dar resultado rápido e exponencial. Nós temos que chegar ao sucesso antes dos 35 anos porque, senão, já passamos da idade. Nós temos que ser felizes, temos que amar aquilo que fazemos, como se o trabalho fosse um passaporte para a felici-dade. Isso é recente. Até há pouco tempo, o trabalho era um meio para se ter um provento e através desse provento a gente realizava, buscava a felicidade. Então, o ser feliz com o trabalho hoje é, também, uma pers-pectiva complicada.

Nem tudo te fará feliz no traba-lho, por mais que ele seja apro-priado ao teu gosto, à tua voca-ção, vão ter coisas no dia a dia que não te farão feliz...

Claro. O fracasso no trabalho é a impossibilidade de ser feliz. Quer dizer, se eu fracasso no meu traba-lho, eu sou infeliz. Essas duas coisas não podem estar conectadas assim dessa forma. A outra história é a seguinte: até hoje nenhum jovem veio aqui dizer que queria abrir uma empresa para tratar de velhi-nhos. Não. Querem abrir uma cer-vejaria, uma hamburgueria, uma pet, viajar o mundo. Cara, quem é que vai pilotar o avião? Quem é que vai abrir meu coração e fazer uma ponte de safena? Há um feti-chismo, uma glamorização, essa é a palavra, do trabalho, como algo que me levaria a ser mais feliz. Por-tanto, aquele que faz um serviço não glamorizado é um ser infeliz? Então, coitado do pobre do lixeiro, coitado do pobre do pedreiro. Al-guém tem que fazer aquilo. A felici-dade no trabalho é uma dimensão. A outra é essa hiperconexão que faz com que a gente tenha relacio-namentos muito líquidos, como diz o Zigmunt Bauman, ou seja, eu me amarro contigo com o botão de eject em cima da mesa, eu faço um laço contigo levemente atado para que eu possa desatar rapidamente. As pessoas estão mais preocupadas em se safar das coisas do que em se comprometer com as coisas. Essa condição de hiperconexão nos re-mete para a falta de tempo. Então, a gente trata de três coisas: a solidão, o tempo e o fracasso. Ou seja, nós lidamos, nessa lida de startup way oflife, numa condição de nos fazer buscar o sucesso muito rapidamen-te, ter que amar aquilo que faz, es-tar super conectado, e, ao mesmo tempo, não conseguir conviver ou ter medo da solidão.

Percebe-se, hoje, muito forte uma intolerância com a frustração, a dor, a contrariedade...

O pessoal, especialmente os mais jovens, não lavou a louça de casa, e

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ENTREVISTA

quer ganhar o mundo. E mora em casa, ainda, com os pais. Esse pri-meiro aspecto é a necessidade da solidão, ao invés da fuga da solidão. A outra é o medo do fracasso. Foi por causa do fracasso que a gente chegou aqui. O fracasso de milhões e milhões de pessoas, que tentaram e que erraram, que aí a gente olhou o erro deles e aprendeu. Os gran-des caras, que construíram o que a gente tem aqui, erraram muito. A importância do fracasso. Qual é o contrário de frágil? Normalmente, a gente associa a uma coisa forte, rí-gida, resistente. Uma taça de cristal é frágil, um tijolo é forte. O frágil é algo que sob a pressão de uma agen-te estressor externo se deteriora, se quebra. Uma coisa forte, resistente, resiliente, sob a ação de um agente estressor, permanece igual. O forte não é o oposto do frágil, o oposto do frágil é o antifrágil. O antifrágil, sob ação de um agente exterior, melho-ra. Ele nem se deteriora e nem fica igual, ele melhora. Mas o que é que melhora? Quase tudo.

O que tu chamas de fracasso?Temos o medo da solidão versus a

importância da solidão. Outro vetor é o medo do fracasso versus a im-portância do fracasso. E tem mais uma que é o tempo. A culpa de eu não estar conseguindo tempo para fazer tudo. Existe uma síndrome diagnosticada sobre isso, que é eu não consigo estar naquele mesmo momento lá, curtindo aquela fes-ta que está acontecendo lá. Eu tô nessa aqui e têm o outras pessoas curtindo uma festa lá e eu não es-tou conseguindo estar nesses dois lugares ao mesmo tempo. É uma síndrome. Então, a culpa do tempo versus o sabor do tempo. Eu nem falo das questões do lazer e tal, eu falo de tu entenderes que o tempo não precisa ser determinado pela velocidade da tecnologia e tu conse-guires as coisas rapidamente. Tem

uma história muito legal do Cézan-ne e do Picasso. O que aconteceu. O Picasso produziu adoidadamente quando jovem. As obras dele entre 20 e 30 anos valem quase 10 vezes mais do que as que ele pintou de-pois. É o que se chama de artistas conceituais. O Cézanne era um ex-perimentalista, um cara que apren-de com a tentativa e erro. Ele viveu, praticamente, a vida inteira dele com a angústia da frustração de ainda não ter alcançado a sua obra prima, porque para ele ainda não estava pronta a obra. Então, tu vês na obra do Picasso uma obra reta, objetiva, forte e com traços vibran-tes. E tu vês na obra do Cézanne o detalhe, a harmonia, a composição, o estudo, o detalhamento.

Mas o Picasso invejava o Cézan-ne. É a boa inveja?

É. Mas porque eu tô usando o exemplo desses caras? O Cézanne, as suas obras primas e as mais valo-rizadas, que valem 10, 15, 20 vezes

mais, são as que ele produziu aos 60 para lá. Primeiro: se eu não fiz su-cesso ainda, até os 35, acabou a mi-nha chance de ter sucesso? Bom, o Cézanne estaria fudido então, né?! Dois: eu tenho 40, passou a minha chance ou eu estou ainda em fase de aperfeiçoamento. No startup way oflife a gente tende a achar que as coisas mais legais que existem no mundo são feitas por jovens. O Zu-ckerberg falou isto: acontece que os jovens são mais inteligentes. Ao mesmo tempo, o Caetano falou: o homem velho é o rei dos animais. Quer dizer, vamos com calma, por-que tu tens 50, 60 anos, tu tens a capacidade que pode te remeter a uma obra prima. Por que não? Ao jovem, outra perspectiva: peraí, meu velho, tu vais viver 100 anos. Olha quanto tempo tu tem, cara!

Nós estamos falando de startup, dos jovens. Mas nas grandes em-presas, grandes conglomerados, tradicionais, o CEO, o cara que

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só. O cara mais velho tem a condi-ção de absorver melhor o fracasso. Ele tem condições de olhar em volta dele e ver que precisa reorganizar o próprio tempo.

Se pudesse resumir a chamada para essa entrevista, seria a soli-dão, o fracasso e o tempo necessá-rios nos dias de hoje, mais do que nunca? A importância da solidão e do fracasso?

Nós vivemos numa zona de per-plexidade. No passado, nós tínha-mos mais tempo para maturar essas perplexidades, de pensar me-lhor sobre elas, de tratar, de apro-fundar cada uma dessas complexi-dades que foram surgindo. Agora, a tecnologia está nos comprimindo. A gente buscar resolver essas com-plexidades de uma maneira bizarra e avassaladora, que faz com que muita gente caia no caminho. En-tão, a gente vive um momento de urgências complexas, que está le-vando as pessoas a ter que dar res-postas muito rápidas e alguns caem pelo caminho, desistem.

Então, é aprender a navegar num mar de urgências?

Aprender a navegar num mar de urgências entendendo que fracas-sar, estar só e se sentir culpado por não ter tempo são coisas que nós vamos ter que aprender a lidar e que, por contrário ao pensamento comum, os caras que estão com um pouco mais de idade levam vanta-gem, porque eles viveram uma vida antes disso. Então, pô, eles conse-guem viver uma vida solitariamen-te. A minha filha fica meia hora só e é como se tivesse um fantasma na sala, ela não sabe viver com ela mesma, ela tem medo de fracassar porque no mundo do Facebook e Instagram todo mundo é perfeito. Ninguém falha. Todo mundo é feliz, realizado e perfeito. Se eu fracas-sar, eu me suicido.

toca ali, parece que ele está tão perdido quanto a gurizada que está começando agora.

Bom, a questão dos caras que do-braram a curva dos 40, os que eu chamo de híbridos, o que está acon-tecendo com eles é uma coisa bem clara, acontece hoje que a gente tá vivendo uma situação única na história da humanidade. Um grá-fico simples: tecnologia e tempo. A tecnologia veio crescendo exponen-cialmente. Há 50 anos, o crescimen-to tecnológico em uma década era sutil, podíamos ir nos adaptando gradualmente a essa nova tecno-logia. O que acontece hoje é que o tempo para se adaptar é muito curto. Surge uma nova tecnologia hoje e já tem outra amanhã e outra e outra. Essa angústia da obsoles-cência é algo que está dentro dessa angústia do tempo. Como é que eu faço para lidar com essa questão do tempo? Então, aqui começa a nossa entrevista, cara. Isso é que é o co-ração do negócio. De geração para geração, elas iam tendo tempo para se adaptar às novas tecnologias e ir se modelando. Então, os presi-dentes de grandes empresas, iam se adaptando, os mercados iam se adaptando, e a coisa ia indo. O que acontece é que hoje essa adaptação é muito violenta. O que é hoje, a semana que vem não é mais, e ano que vem já não é mais, também. O ambiente troca toda hora. Mas tem mais uma dimensão aí dentro des-se gráfico. Neste periodozinho, ao mesmo tempo do surgimento de uma tecnologia, o avô, o pai, o fi-lho e o neto estão tendo contato ao mesmo tempo com ela. O avô tem uma reação, o pai tem outra, o filho outra e o neto outra. Cada um vai reagir à sua maneira em relação a essa nova tecnologia. E aí, é o que eu chamo de achatamento geracio-nal. Ou seja, eu tenho que conviver junto com o meu neto ou junto com o meu filho, eu sendo pai, e com

meu avô, diante, ao mesmo tempo, de uma tecnologia nova para nós quatro. Isso dá um atravesso em todo mundo. É uma confusão.

Há, hoje, uma disputa por nossa atenção, e isso nos dá uma certa angústia quando estamos fazen-do algo que não seja "útil".

Não é angústia, é culpa. Porque eu não li aquele artigo? Porque eu não fiz aquele negócio? A coisa te do-minou. Então, quando a gente fala, especialmente, sobre tecnologia - e por isso eu botei startup way oflife, de uma forma metafórica, porque startup a gente liga à tecnologia e à velocidade. Nós somos quase que como empresas que têm que dar re-sultado, rápido, exponencial, temos que ser felizes nisso que fazemos e isso nos coloca num redemoinho em que a gente deixa de fazer coi-sas que não são tão fáceis, como fi-car sós. Voltando para o executivo, o cara que está com 50 anos à frente de uma empresa, ele tem a capaci-dade de ficar só, melhor do que o jovem. O jovem não consegue ficar

Estamos vivendo isso, como se nós fossemos pequenas empresas, nós temos que dar resultado rápido e exponencial. Nós temos que chegar ao sucesso antes dos 35 anos porque, senão, já passamos da idade.

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obtido nas redes sociais opera nos mesmos caminhos neuronais por onde opera a cocaína. Entre tan-tos possíveis males, é razoável ter cautela frente a problemas causa-dos pelo uso sem limites do badu-laquinho digital.

Mas será que é só isso? Será que o potencial positivo do smartpho-ne não está sendo subestimado e negligenciado? Há vários anos o Brasil sinaliza características de uso de ferramentas digitais e re-des sociais particulares. O Orkut tinha no país a maior penetração de usuários no mundo. No What-sapp somos campeões.

É possível que a razão para a in-diferença diante do capital social hiper conectado que dispomos te-nha a ver com a natureza antiga das "locomotivas" de nossa econo-mia, tradicionais e virtualmente alheias aos avanços que vão pelo mundo.

Mas temos lá nossas particulari-dades. Os dados indicam que gos-tamos de conectar, conversar. Éra-mos assim quando em 1936 Sergio Buarque de Holanda conceituou o homem-cordial brasileiro, e nos entendemos melhor nos anos 60

[email protected]

Por isso, se quisermos avançar como país, vamos ter de tirar da cartola coelhos imprevistos ou subestimados. Um exemplo é a universalização de smartphones na população brasileira. De acor-do com a 28ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnolo-gia da Informação, realizada pela FGV-SP, até outubro deste ano a base instalada no Brasil será de 208 milhões de aparelhos. Ou seja, teremos um smartphone por ha-bitante.

Além disso, somos have users, os mais intensos do planeta. Pe-guemos o número de horas por habitante para multiplicar pelas populações do Brasil e dos Esta-dos Unidos. O resultado mostra que, mesmo com uma população significativamente menor, o volu-me total de horas de uso de smar-tphone no Brasil é maior. Vivemos 940 milhões de horas/dia com a cara na telinha. Lá, “somente” 758 milhões.

Na América, o dark side da hi-per conectividade é uma preocu-pação disseminada: pais, profes-sores, pesquisadores, notam que os efeitos não são neutros e que falta distanciamento histórico, além de referências científicas, para avaliar todos os impactos e prevenir riscos.

No Brasil, dado o volume de uso, deveríamos nos preocupar em dobro. Especialistas falam em dependência equiparável à uma substância química, em que a "re-compensa" imediata de um like

O Jornalismo é uma fer-ramenta fundamental para a

sociedade. O problema, na atualidade, é que a busca

por audiência e, muitas vezes, a falta de con-

corrência têm feito os veículos deixarem de lado

o que de mais essen-cial eles têm a dar:

Jornalismo de qualidade.

Alguém ainda acredita no Brasil? Seitas ideológi-co-religiosas não contam. Certo é que, acreditar em caminhos propostos pelas

decisões dos grupos de interesse que nos puseram

onde estamos é tão útil quanto discutirmos a exis-tência de fadas e duendes.

É preciso repensar o Jornalismo

JOSÉ CESAR MARTINS

OPINIÃO

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quando Gilberto Freyre anuncia "um novo mundo nos trópicos". Em linha com isso, sem qualquer intencionalidade e quase nenhu-ma consciência, o Brasil se viu envolvido em um ambiente tec-nológico que parece pensado para seu caráter. Por isso, ao deparar--se com tecnologias sociais que tão bem se assentam com a cordiali-dade brasileira, eis que nos vemos no pódio digital como a sociedade mais conectada do planeta.

Essas características não afas-tam riscos, mas são uma fortaleza esperando para ser utilizada. A indiferença ao fato de que somos um oceano de pessoas militando 5 horas por dia nos nossos dispo-sitivos não se justifica. Fossemos 5 milhões, seria um fato curioso a ser melhor entendido. Em uma população de 210 milhões é critico que se pense na utilização dessa rede poderosa para a solução de problemas em que estamos empa-cados.

E se cada smartphone tiver um

botão de pânico conectado a polí-cia? Se as crianças puderem aces-sar literatura infantil de primeiro nível? E se todo pai de criança em idade de vacina fosse lembrado e tivesse que clicar "ciente"? Em tempos de fenótipo digital, dei-xamos "pegadas" ao interagirmos com o Google, o Waze ou o Kindle. Dezenas de "bots" surgem para ex-trair daí conhecimento, ajudando a descobrir alguém deprimido do nosso lado, avisando que um vizi-nho precisa de um remédio que está nos sobrando. Existem cente-nas de aplicações que podem me-lhorar a vida, sobretudo dos mais vulneráveis, a custo marginal.

Vejo todos os dias startups ba-tendo cabeça em mercados pe-quenos, nichos pouco promisso-res e, sobretudo, divorciadas do ecossistema onde operam e que podem obter tração. Por curioso que soe, esse divórcio notável não é a exceção.

Se centros de inovação e jovens empreendedores mirarem nos

grandes problemas da população ao invés de nichos menos relevan-tes e tirarem partidos dos recur-sos abundantes que já dispomos, sou capaz de apostar meus cara-minguás que isso irá impactar sig-nificativamente a taxa de sucesso de nossos empreendimentos nas-centes.

Em tempos de empresários "campeões' na ponta doméstica, e negócios inovadores bilionaria-mente capitalizados na ponta in-ternacional, olhar para aplicações aderentes às necessidades do país é uma premissa que se impõe. Criar tração com aplicações para melhorar a saúde, a educação e a segurança de dezenas de milhões de usuários pode ser o leapfrog (o pulo do sapo) ao nosso alcance. E o Brasil, bem debaixo do nosso na-riz, tem um diferencial competiti-vo único, pronto para ser usado.

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José Cesar Martins é empresário e investidor em startups

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PublicidadeMATÉRIA DE CAPA

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Q uem não guarda um slogan ou jingle como memória afetiva? Há campanhas que

marcaram gerações, seja pelo produto anunciado que hoje tem um apelo nostálgico ou pelas mensagens cativantes, em que o bom humor e a emoção estão presentes. Daí vem o clichê de que a publicidade mexe com “corações e mentes”. E dele, vem o desejo de participar ativamente desse processo.

Em 2015, mais de 53,5 mil jovens ingressaram na universidade com o objetivo de serem os novos pro-fissionais da área. Destes, nem todos irão concluir o curso, e parte dos que chegarão à formatura não será absorvida pelo mercado de trabalho.

A constatação vem do quantitativo de vagas for-mais geradas nos últimos anos. De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), decla-rada pelas empresas, o número de profissionais em-pregados formalmente em 2015 (dado mais recente disponibilizado pelo Ministério do Trabalho e Previ-dência Social – MTPS) é menor do que o registrado em 2005. Foram 53.202 vínculos ativos em 2015 con-tra quase 56 mil registros há 10 anos.

No decorrer da década que separa os dois dados, houve um período de ascensão até 2012, quando o número de empregos formais chegou ao maior pa-tamar (173.509). Porém, no ano seguinte (2013), o número de profissionais empregados formalmente caiu drasticamente para pouco mais de 40 mil. O de-clínio abrupto é sintoma da crise econômica enfren-tada pelo Brasil. Além disso, parte dos profissionais pode ter migrado para trabalhos autônomos ou in-formais (sobre os quais não há informações consoli-dadas disponíveis).

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DA TEORIA À PRÁTICA

M E R C A D O D E T R A B A L H OEm 2015, mais de 13 mil jovens concluíram o curso para

um mercado em que a oferta de vagas alcançou 40 mil postos de trabalho formais, distribuídos entre profissionais experientes e recém-saídos das universidades

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MATÉRIA DE CAPA

O mais grave nessa situação é a incongruência em relação ao quan-titativo de publicitários que são for-mados anualmente. Em 2015, mais de 13 mil jovens concluíram o curso para um mercado em que a oferta de vagas alcançou 40 mil postos de trabalho formais, distribuídos entre profissionais experientes e recém--saídos das universidades. Conforme dados do Instituto Nacional de Estu-dos e Pesquisas Educacionais (Inep) dos últimos cinco anos, são forma-dos, em média, 12 mil novos publici-tários por ano. A realidade que os es-pera é complexa: engloba a mudança de paradigma da própria profissão, uma sociedade que responde ativa-mente às novas formas de interação consolidadas pelas ferramentas digi-tais de comunicação, novos modelos de contratação e o difícil fim de uma acentuada crise econômica, cujos efeitos irão ser sentidos ainda no de-correr dos próximos anos.

D O FA S C Í N I O À S N O VA S R E L AÇÕ E S D E T R A B A L H O

O curso de Publicidade e Propa-ganda há muito tempo está no rol dos mais procurados pelos vestibu-landos. No maior vestibular do país, o da Fuvest, o curso é o quinto mais concorrido, e no campo da comuni-cação social é o mais disputado. Fo-ram 44,26 candidatos por vaga na última seleção. Volta e meia a carrei-ra aparece com a mais concorrida, como aconteceu nos vestibulares da Fuvest de 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2009.

A procura elevada não fica restrita à Universidade de São Paulo (USP). No último vestibular da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul (Ufr-gs), por exemplo, a carreira foi a nona mais concorrida e a mais disputada entre os cursos na área da comuni-cação social. A Universidade Federal

do Paraná também tem a profissão entre as dez mais procuradas.

“É uma profissão que exerce mui-to fascínio”, justifica a coordenadora do Curso de Publicidade e Propagan-da da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, Márcia Pillon Christofoli. A atração que a carreira exerce não é recente, ava-lia o presidente da Associação dos Profissionais de Propaganda (APP), Ênio Vergeiro. Para ele, faz parte do imaginário criado no ápice da publi-cidade. “Na década de 1960, era uma profissão extraordinária”, comenta. “Acho que o publicitário já teve seu auge, mas esse momento não volta-rá”, acrescenta.

“Na década de 1960, era uma profissão extraordinária. Acho que o publicitário já teve seu auge, mas esse momento não voltará”, acrescenta.

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e exige que as empresas se ajustem à redução de custos impostas pelos clientes”, argumenta. A coordenado-ra de PP da Famecos descreve que existe uma condição comum no meio profissional, que é a das agências que contratam profissionais como pessoas jurídicas (PJ) para exercer atividade com as mesmas regras de um funcionário celetista, com dedi-cação integral ao trabalho, porém sem as mesmas garantias como fé-rias e 13º Salário. “Até há pouco tem-po, os profissionais se sujeitavam a essa realidade, hoje, não mais. O mercado também precisa enxergar esse lado.”

N O VA S A F R A D E P U B L I C I TÁ R I O S P R E C I S A S E R V E R S ÁT I L

A discussão da contratação é co-mum à maior parte das profissões: em uma ponta, empresas reclamam dos custos elevados, e, na outra, tra-balhadores buscam melhores condi-ções. O ajuste entre as duas necessi-dades está longe de se resolver com facilidade. Mas, no caso da publici-dade, essa é uma questão um pouco mais complexa. Hoje, a estrutura necessária para a realização dos tra-balhos é menor. As agências conse-guem atender seus clientes com uma equipe enxuta, e têm buscado cada vez mais esse formato. Na verdade, nem a agência mais é uma necessi-dade. “O profissional, sozinho, pode assumir a gestão de um contrato, e subcontratar parceiros para realizar serviços específicos dos quais ele de-pende”, salienta Márcia Pillon Chris-tofoli.

Essa é a realidade que está colo-cada aos novos profissionais. Mas os estudantes da área, pontua a co-ordenadora, ainda se sentem um pouco perdidos nesse novo cenário. “Eles entram na faculdade já com a

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Ao longo das décadas, a profissão mudou, e muito. Da mesma forma, os jovens que, hoje, escolhem a car-reira nutrem novas expectativas para a profissão. Ainda que muito influenciados por todo o imaginário que circunda a área, os recém-for-mados esperam mais do que o mer-cado tem oferecido. Além da sonha-da vaga nas poucas agências do país que concentram grandes clientes e contas milionárias, não querem se submeter a condições precárias de trabalho ou a baixas remunerações, e enfrentam, ainda, o desafio de ter serem gestores de si mesmos.

“Existe, realmente, o problema da recessão que impacta no mercado

convicção de que não querem atuar em agências, mas, ao mesmo tempo, não sabem muito bem qual vai ser o caminho profissional que querem percorrer.” Certo é que as possibili-dades de atuação se multiplicaram com novos meios de interação, como as redes sociais, mas ainda há bre-chas nesses mecanismos, sobretudo, relacionadas à remuneração de ati-vidades que ainda estão devidamen-te consolidadas. Ao final, resta uma certa frustração em parte desses for-mandos, o que não é exclusividade da publicidade.

“Não acredito que o mercado irá assimilar todos os formandos, assim como ocorre nas demais atividades. Todos os formandos em direito se tornam advogados? Todos os enge-nheiros recém-formados ingressam no mercado? Acho que não. Em pu-blicidade ocorre o mesmo. Apenas os melhores, mais perseverantes e mais pacientes com os obstáculos normais da profissão irão se colo-car”, destaca Mario D'Andrea, pre-sidente da Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap).

Em um momento de mudança de paradigma, em que se estão conso-lidando novas formas de relacio-namento com o público, e em que a própria sociedade se transforma, definir os rumos das empresas de publicidade e dos profissionais da área é um desafio a ser vencido. “O que é esse profissional que o merca-do precisa hoje? Esse perfil não está definido, nem mesmo as empresas conseguem definir”, reflete Ênio Vergeiro, presidente da Associação dos Profissionais de Propaganda.

Se parte dos novos formandos não será o incorporada ao mercado, aos que, de fato, vão seguir na carreira, cabe a tarefa de se ajustarem a uma nova realidade, que ainda não está claramente colocada. No entanto, há um caminho cada vez mais eviden-te: é preciso, cada vez mais, conhe-cer bem todas as etapas produtivas

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MATÉRIA DE CAPA

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da publicidade. O profissional com perfil muito específico, como era co-mum até há pouco tempo, é coisa do passado.

“Antes, você tinha um profissional que atuava com criação, outro com planejamento, outro com mídia, e as-sim por diante. Só que tudo mudou. Não há mais essa distinção. O atendi-mento, por exemplo, é praticamente inexistente”, demonstra Vergeiro. Compete às universidades preparar seus alunos para um contexto mais exigente, concorda Márcia. “Já não existe mais o profissional que só atu-ava com vídeos ou com fotografia publicitária”, afirma. A versatilida-de, atualmente, é determinante para a colocação profissional.

O D E S A F I O DA Q UA L I F I C AÇ ÃO

Fernando Silveira, presidente do Sindicato das Agências de Propa-ganda do (Sinapro-RS), observa que tem chegado ao mercado uma leva de “estudantes mais fracos”. É per-ceptível que existem os estudantes e recém-formados mais interessados, mas também há um número signifi-cativo de apáticos, pondera.

Essa visão não destoa dos dados de avaliação do conhecimento dos for-mandos. Basta verificar as duas edi-ções mais recentes do Enade. Para o curso de Publicidade e Propaganda, houve uma elevação no percentual de cursos com a pior avaliação (Con-ceito 1) e queda nos que estão com os melhores desempenhos (Concei-to 5). Ainda que seja uma alteração percentual discreta, é uma mudança emblemática por comportar pontos extremos. Na média, os cursos se concentram na faixa intermediária, com Conceito 3.

Os dados também sacramentam algo de que o mercado tem se queixa-do: há muitos cursos de graduação. Nem sempre com a qualidade que as empresas gostariam. Em 2012, por

exemplo, 329 instituições obtiveram pontuação entre os conceitos 1 e 5 para o curso de publicidade e propa-ganda. Desse total, cinco receberam a pior avaliação (conceito 1) e 90, a melhor (conceito 5).

Três anos depois, em 2015, o nú-mero de instituições avaliadas au-mentou para 346 para o mesmo cur-so. Também aumentou a quantidade de cursos com a pior colocação, que subiu de cinco para oito. Entre os melhores, houve uma queda de 90 para 80 cursos com Conceito 5.

“Nas faculdades, existe pouca for-mação para o digital”, exemplifica Silveira. “Eu recebo muitas pessoas que querem trabalhar com comu-nicação digital, mas o rendimento é bem menor, porque a turma vem com uma capacidade de redação muito baixa, com português ruim, e as campanhas agora têm muito con-teúdo”, descreve.

AC A D E M I A BUS C A S O LU ÇÕ E S

Para a comunicação social, quatro anos, o período de duração do curso universitário, é praticamente uma eternidade, dadas as mudanças ace-leradas que ocorrem na área. Assim, o aluno que ingressa no curso vis-lumbra um mercado no momento da escolha do curso, mas se forma, possivelmente, com uma modela-gem distinta.

“Um espaço de quatro anos é gi-gantesco para as novidades que acontecem”, avalia o professor Nel-mar Vaccari, coordenador da in-cubadora da ESPM-Sul. “Se a gente for falar de quatro anos atrás, era uma realidade diferente da atual, e daqui a quatro anos será distin-ta, novamente.” Mudar a estrutura curricular não é tarefa simples. Há toda uma burocracia a ser vencida e exigências a serem cumpridas que fogem até mesmo da alçada das ins-tituições de ensino.

A saída é a busca incessante pela atualização, na medida do que for possível. No Rio Grande do Sul, fa-culdades com cursos de publicidade e propaganda bem avaliadas pelo mercado, como a PUCRS e a ESPM--Sul, têm como praxe a realização de cursos complementares e de atu-alização como uma das formas de manter os alunos sintonizados com as práticas do segmento.

É um desafio constante, que não depende mais só da renovação das instituições do ensino. Hoje, o papel a ser exercido pelos graduandos re-quer mais agilidade e interesse em buscar conteúdos e caminhos para complementar a formação. Segundo Vaccari, o docente exerce, atualmen-te, a função de um mentor, curador de conteúdo, do que de mero prove-dor da informação, que estão facil-mente à disposição de todos.

Para o professor da ESPM-Sul, boa parte dos alunos tem o perfil voltado para as novas práticas de mercado e de ensino. São estudantes que bus-cam o preparo e a atualização para obter melhor destaque na disputa acirrada por uma colocação pro-fissional. Outros, no entanto, ainda são muito dependentes do conteúdo que lhes é passado, seja na acade-mia ou no ambiente de trabalho.

Recentemente, o que se tem nota-do, demonstra Vaccari, é a procura dos estudantes pelo empreendedo-rismo, uma característica que se manifesta, sobretudo, na incuba-dora de negócios da faculdade. “Ao invés de usarem as boas ideias que têm para alavancar empresas, es-tão eles mesmos criando novos ne-gócios na indústria criativa.”

O professor acrescenta que há muitas oportunidades colocadas, que não existiam até pouco tempo, os meios digitais já são uma realida-de para boa parte dos formandos, e vão criar melhores condições de remuneração, projeta. Outros cami-nhos envolvem o estudo mais apro-

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fundado das relações de consumo, como o uso das ferramentas de le-vantamento e análise de dados, a exemplo do Big Data.

“Temos preparado nossos alunos para esse novo cenário, em que ele serão, cada vez mais, donos da própria carreira”, reforça Márcia Pillon Christofoli, coordenadora da PUCRS. A realidade do profissional que atua de forma autônoma, ava-lia, é uma das apostas que faz sobre os rumos da profissão.

M E R C A D O G AÚ C H O P R E C I S A V E N C E R B A R R E I R A S

Se no geral a publicidade enfrenta desafios grandiosos, regionalmente eles são ainda mais acentuados. “O Rio Grande do Sul vem diminuindo de tamanho há mais de 40 anos, não é de agora”, critica Nelmar Vaccari,

da ESPM-Sul. Na avaliação dele, o Estado não se renovou. E essa falha cobra seu preço no momento mais crítico da crise econômica.

“A primeira dificuldade é o racio-cínio do gaúcho”, sustenta Fernan-do Silveira, presidente do Sinapro--RS. “Nosso orgulho pelo jeito de fazer as coisas, impediu que a gen-te percebesse a mudança de mer-cado”, diz. Isso fica evidente, por exemplo, quando ele compara o Rio Grande do Sul com outros estados, que até há pouco tempo tinham menor expressividade, tanto na pu-blicidade quanto na inovação. “Em Pernambuco, as coisas estão acon-tecendo, as agências estão organi-zadas de maneira mais profissional, com uma competição saudável em que todas se unem pelo crescimen-to de mercado”, demonstra.

Reverter esse quadro é urgente, mas as condições não são as mais favoráveis. A publicidade é uma

peça dentro de uma estrutura gi-gantesca que é a economia, e que está há algum tempo praticamente travada. Embora a comunicação seja estratégica para as empresas, campanhas publicitárias só exis-tem se há consumo, do contrário, vêm os cortes que atingem, primei-ramente, as áreas de comunicação.

Mesmo que o país esteja dando passos para sair da recessão, ain-da é difícil prever como o mercado gaúcho e nacional irá se comportar no curto e médio prazo. “Se eu sou um investidor em Londres procu-rando um lugar para investir, qual vai ser a minha resposta em rela-ção ao Brasil? Não”, descreve Vac-cari. Mas a boa perspectiva existe, acrescenta. E ela vem do “exército de empresas que está surgindo”. Parte desse empreendedorismo emergente terá como força motora os próprios publicitários.

Nelmar Vaccari

Coordenador da incubadora da ESPM-Sul

Fernando Silveira

Presidente do SINAPRO-RS

Márcia Christofoli

Coordenadora do Curso de Publicidade e Propaganda da Famecos

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Depois de baixada a poeira dos ensi-namentos captados durante o últi-mo Festival de Cannes, observo que muitas marcas, como o sabão em pó Omo, da Unilever, a Natura, o Boti-cário e outras beberam na fonte das

tendências apontadas no maior festival de criatividade do mundo. Este sinal de transformação, que aponta para uma maior ênfase na diversidade, na verdade, na tecno-logia e no uso dos dados, tem marcado a nova forma de se comunicar.

Os exemplos são vários. Agora, pela primeira vez em 60 anos, a Omo terá um comercial sem atores. Pessoas comuns serão as protagonistas. E, ainda por cima, no iní-cio da peça, a locução fala o seguinte: “Este NÃO é um co-mercial...”, reforçando que o estilo “reality show” pegou de vez os anunciantes. A Natura estreou uma campanha da perfumaria feminina que evoca o protagonismo e a força da mulher brasileira, personificados pela cantora Elza Soares, enquanto o Boticário apostou no vínculo fundamental na relação entre pais e filhos, numa bela campanha para marcar o Dia dos pais, com o conceito “Você e seu pai têm ainda muita coisa em comum para descobrir”. Todas são campanhas que evocam causas e propósitos, evidenciam a autenticidade das marcas, os seus propósitos verdadeiros e o seu engajamento às cau-sas, tal e qual seus premiados congêneres.

Mas, na contramão desta tendência, que prega a verda-de e a autenticidade na comunicação, todos os dias vemos também exemplos que, digamos, não seguem o desejado “walk the talk”. Esta semana, num vôo da Gol, apertadís-simo na minha poltrona, leio o slogan “Gol. Voe com con-forto”, no encosto da cabeceira da poltrona à minha fren-te. O que se sabe é que hoje o espaço entre as poltronas das categorias econômicas da Gol é de míseros 78,7 cm de distância. Conforto? Brincadeira.

Bom, voltando à Cannes, além das 5 tendências que listei na última matéria (Tecnologia/Realidade Virtual/

FAST FORWARD

Alberto Meneghetti é publicitário

[email protected]

Diversidade/Empoderamento Feminino/Mídia como um conceito bem amplo), anotei outras 6, que refletem muito bem o atual momento da comunicação mundial.

Vamos a elas:

#6: A VITÓRIA DA CAUSA E DO PROPÓSITO SOBRE O PRODUTO NO PROTAGONISMO DA COMUNICAÇÃO:Palavras-Chave: Consistência e trabalho a longo prazo

#7: O ORIGINAL E O INUSITADO COMO RESPOSTA AOS DESAFIOS DE COMUNICAÇÃO: Desconstruir o convencional e trilhar um caminho ori-ginal.

#8: A ”BIG IDEA” PODE – E DEVE – SER SIMPLES: Soluções minimalistas e inteligentes para públicos tam-bém inteligentes.

#9: CONSISTÊNCIA CRIATIVA AO LONGO DO TEMPO: As campanhas de marketing que são corajosas e inovadoras, constantemente desafiando os limites da excelência cria-tiva, são as que vencem num cenário supercompetitivo.

#10: A REINVENÇÃO PERMANENTE DAS MARCAS COMO CONDIÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA:As marcas que param no tempo não duram.

#11: MOBILE-FIRST: Caminhando para o futuro da comunicação, baseado no mobile

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Cabe também destacar que, na opinião de vários publi-citários que ouvi, no Palais, a campanha mais inovadora e surpreendente desta edição do Cannes Lions foi “Meet Graham”, da agência ClemengerBBDO, de Melbourne, Austrália, criada para seu cliente Transport Accident Commission, que foi distinguido, merecidamente, com 2 Grand Prix pelos jurados de Cyber e Health & Wellness Lions.

O case, que pode ser conferido aqui: https://youtu.be/7FQpjCauL0w, é um trabalho multidisciplinar, ima-ginativo, e uma demonstração de divulgação de uma mensagem importante de maneira extremamente en-gajadora, como poucas que vimos em Cannes. A agência australiana criou um humanoide baseado em pesquisas científicas e mecânicas, que representa, perfeitamente, como o corpo humano deveria ser para conseguir resistir a acidentes de trânsito. O grotesco Graham ganhou dis-parado a preferência do público presente às premiações, recebendo ovações a cada apresentação.

E, de quebra, a ClemengerBBDO ganhou o título de “Agência do Ano”, reunindo impressionantes 56 Leões neste Festival.

O GPS, um instrumento de navegação por satélite, criado para fins militares, no início da década de 1960, se tornou um equipamento comercial só no começo dos anos 2.000. Hoje, o sistema está presente em incontáveis dispositivos e é praticamente indispensável na vida de muitas pessoas.

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P A R T E 2

Dica de série na Netflix:

Dicas de Apps de trânsito

Mas não se vê mais, em táxis, aquele tradicional aparelho fixado no painel do motorista. O smartphone passou a ser o principal equipamento de acesso ao GPS e muitos aplicati-vos exploram essa funcionalidade. Dois apps reinam sobe-ranos: o Waze e o Google Maps. O que tenho notado é que, apesar do Waze ainda ser o preferido entre os motoristas, vários relatos de pessoas que acabaram em quebradas, fa-velas e desvios perigosos por causa desta principal funcio-nalidade do aplicativo, de sugerir o caminho mais rápido, a partir de seu sistema colaborativo e interativo, estão fa-zendo com que ele esteja sendo trocado pelo Google Maps. Este, mais conservador e minimalista, faz o serviço, na mi-nha opinião, muito melhor e, principalmente, de maneira mais segura. E não é um comedor de bateria como o Waze.

Fica a dica.

Vantagens do Waze

Maior interatividade com os usuáriosFacilidade de encontrar pontos de engarrafamentoSinalização de contratempos no caminho

Vantagens do Google Maps

Já vem instalado nos aparelhos AndroidConsome menos bateria e dados de internetPossui outras funções como Street View e Google EarthO app usa um algoritmo inovador para traçar a rota mais curta e segura

OSARK: Para os saudosos de “Breaking Bad”, estreou na Netflix outra baita série, que lembra um pouco aquela e lida também com questões ligadas aos cartéis de droga mexicanos. Jason Bateman, produtor executivo e diretor, estrela como Marty Byrde, junto à atriz indicada ao Os-car, Laura Linney, como sua mulher, Wendy.

Os dois são consultores financeiros que vivem num subúrbio de Chicago. A trama aborda o capitalismo, as dinâmicas familiares e modos de sobrevivência através dos olhos de dois americanos que fogem completamente do tradicional. Os Byrde e seus filhos adolescentes, Char-lotte e Jonah, são, para todas as intenções e propósitos, uma família comum com uma vida comum.

Mas, quando as coisas ficam feias, Marty precisa se mudar com ela para a região bucólica dos Lagos Ozark, no Missouri. Com o sucesso desta primeira temporada, a Netflix já anunciou sua sequência, em 2018.

Fica a dica.

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eles chamaram de Helene Bertha Amalie (também conhecida por Leni) Riefenstahl. Os jovens pais não poderiam imaginar que seu bebê acabaria por se transformar em uma das mulheres mais con-troversas e influentes no campo das artes das comunicações, espe-cialmente pelos seus impressio-nantes filmes de propaganda em apoio ao Partido Nacional Socialis-ta (Nazista).

Leni iniciou sua longa e extra-ordinária carreira como dançari-na interpretativa. Depois de uma lesão no joelho temporariamente interromper sua vocação, ficou fascinada com as possibilidades do meio cinematográfico, especial-mente os filmes da natureza. Ela tornou-se a estrela de um grande número de filmes mudos do dire-tor alemão Arnold Fanck, tipica-mente ambientados nos Alpes (o estilo chamado Bergfilme), em que a jovem Leni apresentava sua lide-

LENI RIEFENSTAHL

Para Alfred Riefens-tahl, proprietário de uma empresa de aquecimento e ventilação bem sucedida, com sede

em Berlim, e sua esposa, Bertha Scherlach, o dia 22 de agosto de 1902 foi a data do nascimento or-gulhoso de sua primeira filha, que

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rança atlética e audaz.Popular como atriz com o públi-

co alemão, Leni Riefenstahl dirigiu seu primeiro grande longa-metra-gem, Das blaue Licht (A Luz Azul), em 1932. O filme foi bem recebido e, mais importante, atraiu a aten-ção de um político em ascensão que se orgulhava ele mesmo em ter ambições artísticas: Adolf Hi-

privado para Tiefland, mas as filma-gens na Espanha foram atrasadas e o projeto cancelado. Com isso, resol-veu ceder ao apelo de Hitler quando recebeu recursos ilimitados e licen-ça artística completa para o registro do encontro nazista.

Triunfo da Vontade, com suas imagens evocativas e técnica de filme inovadora, classificada como uma obra épica de filmagem do-cumental, e é amplamente con-siderada como um dos filmes de propaganda mais magistrais já produzidos. Ganhou vários prê-mios, mas sempre ligou o tema do filme, o nacional-socialismo, com o nome de Leni Riefenstahl.

Igualmente impressionantes fo-ram os esforços de direção da di-retora em Olympia, que capturou com grande eficácia as imagens dos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim. Foi o trabalho em Olympia que fez de Leni Riefenstahl uma pioneira em numerosas técnicas cinema-tográficas, como a realização de filmagens com câmeras montadas em trilhos (conhecida hoje como travelling), e o uso de imagens em câmera lenta. A mistura vigorosa de estética, esportes e propaganda de Olympia ganhou novamente elo-gios e prêmios para Leni, incluindo as honras de melhor filme estran-

geiro no Festival de Cinema de Ve-neza e um prêmio especial do Comi-tê Olímpico Internacional (COI) por retratar a alegria do esporte.

A chegada da Segunda Guerra Mundial e a rápida escalada de vio-lência sob o regime nazista tiveram um efeito desfavorável tanto em Leni Riefenstahl quanto em sua car-reira. No início da campanha alemã contra a Polônia, um incidente aba-lou a confiança dela no movimento nazista, que a diretora havia glorifi-cado em imagens cinematográficas. Enquanto acompanhava os exérci-tos perto de Konskie, a cineasta tes-temunhou a execução de civis polo-neses em retaliação por um ataque da resistência contra as tropas ale-mãs. Leni, aparentemente, aban-donou suas filmagens naquele dia, a fim de fazer um apelo pessoal a Hitler contra essa violência arbitrá-ria. O incidente pode ter plantado uma semente de dúvida na mente da diretora, mas não a impediu de filmar o desfile triunfal de Hitler em Varsóvia apenas algumas sema-nas depois.

Após as obras sobre Nuremberg e Olympia, Riefenstahl começou a trabalhar no filme que tentou e não dirigiu uma vez antes, ou seja, Tiefland. Por ordem direta de Hi-tler, o governo alemão pagou sete

Triunfo da Vontade, com suas imagens evocativas

e técnica de filme inovadora, classificada

como uma obra épica de filmagem documental, e é amplamente considerada

como um dos filmes de propaganda mais

magistrais já produzidos

Foi o trabalho em Olympia que fez de Leni Riefenstahl uma pioneira em numerosas técnicas cinematográficas, como a realização de filmagens com câmeras montadas em trilhos (conhecida hoje como travelling), e o uso de imagens em câmera lenta

tler. No mesmo ano, Leni ouviu Hitler falar em uma manifestação pública e foi arrebatada pelo seu estilo oratório e sua capacidade de hipnotizar o público.

Hitler viu Leni Riefenstahl como uma diretora que poderia usar a estética para produzir uma imagem de uma Alemanha forte, imbuída de motivos wagnerianos de poder e beleza. Em 1933, ele pediu a Rie-fenstahl que dirigisse um curta-me-tragem, Der Sieg des Glaubens (A Vi-tória da Fé), filmado no Encontro do Partido Nazista em Nuremberg. O filme foi um modelo para seu traba-lho mais famoso, Triumph des Wil-lens (Triunfo da Vontade), filmado no Encontro de Nuremberg no ano seguinte, em 1934.

Leni inicialmente rejeitou a co-missão de Hitler para o filme,pois queria dirigir uma obra baseada em uma das óperas favoritas do Führer, Tiefland (Terra Baixa), de Eugen d’Albert. Ela recebeu financiamento

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Nos anos do pós-guerra, Leni Riefenstahl foi sujeita a quatro processos de desnazificação, até ser final-mente declarada uma simpatizante nazista (Mitläu-fer). Ela tentou separar-se da natureza criminal do regime nazista, sugerindo que seu dever era para seu ofício e não necessariamente para as autoridades na-zistas que encomendaram seus filmes.

Embora nunca tenha sido membro do Partido Na-zista, Riefenstahl achou difícil superar sua associação com os filmes de propaganda que ela havia feito para o regime. Ela procurou muitas vezes fazer mais filmes durante os anos 1950 e 1960, mas encontrou resistên-

cia, protestos públicos e críticas agu-das. Sua experiência foi bem diferen-te da de seu colega Veit Harlan, que havia dirigido tais obras seminais de propaganda nazista como Jüd Süss e Kolberg, mas que retornou a uma carreira de diretor florescente na dé-cada de 1950.

Com a carreira no cinema acabada, Riefenstahl voltou-se para a fotogra-fia, publicando na década de 1970 um volume ilustrado sobre a tribo Nuba, do Sudão. No final dos anos 1970, ela empreendeu um novo interesse na cinematografia subaquática, prática que seguiu executando mesmo quan-do já tinha completado 90 anos.

Em 2000, Leni sobreviveu a um acidente de helicóptero no Sudão en-quanto tentava aprender o destino de seus amigos Nuba durante a Segunda Guerra Civil Sudanesa. Ela morreu de câncer em Pocking, na Alemanha, em 8 de setembro de 2003, algumas semanas depois do seu 101º aniver-sário.

Ao longo de sua longa carreira, Leni Riefenstahl alcançou uma nova estética no cine-ma e introduziu técnicas cinematográficas inovadoras, mas nunca poderia escapar de sua associação passada como propagandista nazista e permaneceu uma figura controversa até o fim de sua vida. Ela chegou a dizer que seu maior arrependimento na vida era ter conhe-cido Hitler.

Pouco antes de morrer, Riefenstahl expressou suas últimas palavras sobre o assunto de sua conexão com Adolf Hitler em uma entrevista para a BBC. “Eu era um dos milhões que achavam que Hitler tinha todas as respostas. Vimos apenas as coisas boas, não sabía-mos que coisas ruins estavam por vir”.

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milhões de Reichsmarks como financiamento. De 23 de setembro a 13 de novembro de 1940, ela filmou em Krün perto de Mittenwald. Os extras que interpreta-vam mulheres e agricultores espanhóis foram arregi-mentados de ciganos detidos em um campo em Sal-zburg-Maxglan, que foram forçados a trabalhar com ela. As filmagens nos estúdios Babelsberg, perto de Berlim, começaram 18 meses depois, em abril de 1942. Desta vez, ciganos do campo de detenção de Marzahn foram obrigados a trabalhar como extras.

Quase no final de sua vida, apesar da evidência esmagadora de que os ocupantes do campo de con-centração foram forçados a tra-balhar no filme de forma não remunerada, Leni continuou a afirmar que todos os extras do filme sobreviveram e que conheceu vários deles após a guerra. Ela processou a cineas-ta Nina Gladitz, que disse que Leni escolheu pessoalmente os extras em seu campo. A Justiça alemã decidiu em grande parte a favor de Gladitz, declaran-do que Riefenstahl sabia que os extras eram de um campo de concentração, mas também concordaram que Leni não ti-nha sido informada de que os ciganos seriam enviados para Auschwitz depois que a filma-gem foi concluída.

Em outubro de 1944, a produ-ção de Tiefland mudou-se para os estúdios Barrandov em Praga para a filmagem interior. O fil-me só foi lançado quase 10 anos depois.

A última vez que Riefenstahl viu Hitler foi quando ela se casou com Peter Jacob em 21 de março de 1944. Leni e Jacob divorciaram-se em 1946. À medida que a situação militar da Alemanha se tornou impossível no início de 1945, Leni saiu de Berlim e estava pedindo carona com um grupo de ho-mens, quando foi detida pelas tropas americanas. Ela saiu de um campo de prisioneiros, começando uma série de fugas e prisões. Finalmente, voltando para casa em uma bicicleta, ela descobriu que as tropas americanas haviam tomado sua casa. Ela seria nova-mente presa em janeiro de 1946 por tropas francesas ocupando a região do Tirol,na Áustria, quando teve todo o seu material cinematográfico confiscado.

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aviões e motores; a Ford Motor Company produtora de motores para aviões e veículos; a Studebaker, produtora de veículos domésticos e caminhões; a Esso Standard Oil Company of Brazil e Texaco, distribuidoras e beneficia-doras de petróleo e seus derivados.

Entre 1943 a 1944, as palavras tornam-se ríspidas. Ter-mos fortes que, hoje, seriam polêmicos, eram utilizados com naturalidade principalmente nos anúncios de aviões bombardeiros; eram mencionados com clareza os termos “total destruição dos inimigos” e “uma excelente arma mortífera”, referindo-se em destruir completamente os países do Eixo.

Ao final de 1944 os anunciantes começam a transmitir na publicidade todo o cansaço e descontentamento da so-ciedade. Como exemplo, num anúncio a Kodak mostra um soldado machucado, recebendo uma correspondência das mãos de uma enfermeira com os dizeres: “Vital para os que têm lutado pela Liberdade”. Em 1945 é certo o final da guerra e os anúncios começam a falar do pós-guerra assim como refletem as esperanças do que farão quando tudo acabar. Na maioria dos anúncios é possível perceber um enorme otimismo, lembrando que tudo relacionado à produção e entrega das mercadorias voltaria ao normal após a “Vitória” que serie em breve.

Na época da Segunda Guerra Mundial, em meio ao afundamento de navios civis brasileiros,

à declaração de guerra do Brasil contra a Alemanha e Itália, aos preparativos para a defesa,

os blackouts, à ida da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e do 1º Grupo de Caça para lutar

na Itália, muitos foram os jornais e revistas que ficaram repletos de propagandas que evocavam vários aspectos bélicos daqueles dias sombrios.

O cenário da propaganda brasileira, na épo-ca da guerra, era formado por agências norte-americanas grandes e importantes, que vinham para o país e se estruturavam em agências pequenas porque o mercado

nacional não comportava um aparato muito grande. Sua presença aqui era solicitada pelos clientes internacionais localizados no Brasil, que tinham necessidade de uma propaganda profissional.

No início da guerra, poucos anunciantes brasileiros preocuparam-se com o evento a ponto de inserir em suas mensagens comerciais referências a ele. A partir de 1942, com a declaração de beligerância do Brasil contra as potências do Eixo, é que realmente o assunto passou a ocupar de modo marcante a mente das pessoas, espe-cialmente após a formação da Força Expedicionária Bra-sileira (FEB).

Em geral, prevalecia as mensagens institucionais das empresas que gostavam de mencionar suas contribui-ções à guerra e afirmavam que, após o período de ba-talhas, as linhas de produção voltariam ao normal e os clientes, em breve, os encontrariam novamente à venda. Esses foram os casos da Higgins, produtora de lanchas; a Northrop Aircraft, a Boeing e a Jacobs, produtoras de

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Publicidade durante a Segunda Guerra Mundial

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