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GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
Ativismo decisionista e Estado de Exceção: como a jurisdição constitucional tem
rebaixado a promessa de um Estado Democrático de Direito brasileiro a um atual
Estado de Exceção
Adalberto Antonio Batista Arcelo1
Propõe-se uma análise genealógica do neoconstitucionalismo, objetivando uma mais
consistente compreensão dos impactos da jurisdição constitucional na sociedade brasileira
contemporânea. O neoconstitucionalismo é todo um novo paradigma ou uma nova concepção
das condições de possibilidade do direito nas sociedades contemporâneas. A novidade em
questão tem sido estabelecida pela ciência do direito, repercutindo em posturas e métodos de
interpretação e de aplicação do direito pelo poder judiciário. Daí a forte amarração entre a
teoria ou a ciência do direito, com os desenvolvimentos de uma hermenêutica constitucional
centrada na discussão principiológica dos direitos fundamentais, e a performance dos
tribunais balizada por uma jurisdição constitucional também centrada na discussão e aplicação
dos princípios constitucionais fundamentais.
Neste complexo e muitas vezes acidentado processo de retroalimentação entre discurso e
performance (teoria e prática), o direito se expõe a reconfigurações e ressignificações que se
caracterizam por uma inquietante ambivalência: a performatividade do discurso do direito e
dos direitos pode viabilizar demandas emancipatórias e inclusivas determinantes para a
efetiva garantia dos direitos e para a afirmação da cidadania, mas também pode funcionar
como dispositivo de normalização, ou seja, como elemento de neutralização de direitos e
garantias fundamentais.
A genealogia do neoconstitucionalismo ora proposta visa à testagem das repercussões
concretas dessa nova tendência doutrinário-jurisprudencial na sociedade brasileira
contemporânea. Busca-se, assim, aferir o impacto das práticas discursivas de um
neoconstitucionalismo hegemônico na retroalimentação entre ciência do direito e atuação dos
tribunais no Brasil contemporâneo.
A hipótese a ser testada nesta pesquisa é a de que os impactos do neoconstitucionalismo, no
que concerne à retroalimentação entre a doutrina e a jurisprudência no Brasil contemporâneo,
1 Doutor em Filosofia do Direito (UFMG); Professor da Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas, Praça da
Liberdade; [email protected]
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
bem como à performance dos tribunais via jurisdição constitucional, levam à promoção de um
Estado de Exceção. Neste contexto acusa-se o paradoxo de uma dinâmica jurídica que, sob o
discurso da jurisdição constitucional, neutraliza performaticamente direitos e garantias
fundamentais.
Objetiva-se em tal contexto contribuir para a consolidação de uma – ainda – incipiente análise
crítica da dinâmica jurídica brasileira, denunciando a performatividade de um Estado de
Exceção sob o discurso de um Estado Democrático de Direito na operacionalização da
jurisdição constitucional no Brasil contemporâneo. Par/a tanto, a estruturação teórico-
metodológica desta discussão utiliza a genealogia foucaultiana, a desconstrução derridiana e a
reflexão agambeniana para a reconstrução crítica do complexo teórico atualmente conhecido
como neoconstitucionalismo, indicando sua complexidade e diversidade interna, o que conduz
a uma percepção de neoconstitucionalismos.
Finalmente, busca-se apontar estruturas e processos, no âmbito da dinâmica jurídica
brasileira, que culminam em uma versão hegemônica de neoconstitucionalismo e de
jurisdição constitucional para, em seguida, denunciar a redução da complexidade do debate
em torno do neoconstitucionalismo pela doutrina e jurisprudência brasileiras hegemônicas,
demonstrando aí o elemento da ativista/decisionista do saber-poder, que culmina no uso do
direito para neutralizar direitos (Estado de Exceção).
Palavras-chave: Estado Democrático de Direito. Estado de Exceção. Discursividade.
Performatividade.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
A Questão dos Refugiados: Entre a Inclusão e a Exclusão
Amael Notini Moreira Bahia1
A proteção internacional dos refugiados teria a importância fundamental de garantir as
necessidades e os considerados direitos humanos fundamentais a uma grande quantidade de
pessoas que atualmente fogem de perseguição por diversos motivos. Tal proteção é oferecida
a um grupo restrito de pessoas que se enquadram nos requisitos da Convenção relativa ao
Estatuto dos Refugiados de 1951. No entanto, como essa comunicação visa demonstrar,
mesmo que os Estados aleguem agirem em prol de promover tal proteção, os refugiados são
relegados a uma situação de grande precariedade e insegurança, visto que são incluídos a
partir dessa pretensa proteção, são excluídos por esse Estado de asilo.
Dessa forma, é criado um regime de clara exceção que exclui os refugiados e os classifica
dentro do sistema estatal, separando-os em estruturas precárias e assistência precária a título
de uma proteção internacional. Essa estrutura jurídica estadista culmina na criação de campos
de exceção que se pretendem temporários, mas que pela própria natureza complexa dos
conflitos e da locomoção transfronteiriça de pessoas, se realiza como permanente, dentro de
uma lógica capitalista, havendo uma perpetuação de uma lógica excludente que impede a
interação dos refugiados com a sociedade receptora, deixando-os desamparados
juridicamente, mesmo que sejam pretensiosamente protegidos pelo direito internacional.
Desse modo, essa comunicação visa entender como esses mecanismos de exceção operam e
assim encontrar aberturas ou brechas, para se pensar em outras possibilidades democráticas
para essa questão.
1 Graduando em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
Os Migrantes Internacionais no Brasil e sua exclusão no Estado de Exceção
Contemporâneo – Um Verdadeiro Homo Saccer?
André Luís Vedovato Amato1
João Vitor Lovato Sichieri2
Ao citar Saint-Bonnet, Agamben (2004; p.11) afirma que há no direito uma lacuna
representada pela ausência de uma teoria sobre o estado de exceção, visto que a maioria dos
pesquisadores o consideram uma quaestio facti e não como um problema jurídico. Entretanto,
ao se referir àquele autor afirma que o estado de exceção constitui “um ponto de desiquilíbrio
entre direito público e o fato político (...) situa-se numa ‘franja ambígua e incerta, na
intersecção entre o jurídico e o político” (AGAMBEN, 2004, p.11).
A partir do marco teórico desenvolvido pelo autor italiano, compreende-se ser condição
preliminar a definição da relação entre o direito posto e as situações fáticas reais, analisando
as consequências jurídicas daquilo que não possui, em sua forma clássica, forma legal.
Desta forma, proporemos uma análise comparativa, na qual “„estado de exceção’ como termo
técnico para o conjunto coerente dos fenômenos jurídicos a que se propõe a definir”
(AGAMBEN.; 2004, p.15). Para tanto, delimita-se o marco conceitual a partir da proposta do
autor, (2004, p. 39), in verbis:
“o estado de exceção não é nem exterior nem interior ao ordenamento jurídico e o
problema de sua definição diz respeito a um patamar, ou a uma zona de indiferença,
em que dentro e fora não se excluem, mas se indeterminam. A suspensão da norma
não significa sua abolição e a zona de anomia por ela instaurada, não é (ou, pelo
menos, não pretende ser) destituída de relação com a ordem jurídica.”
Dentre deste marco teórico que apresenta o limiar entre o político e o jurídico, entre o direito
e o vivente, pretende-se com o presente artigo analisar a tese de que o estado de exceção,
criado pelo próprio direito pode conviver com a Ordem Democrática, mesmo contendo uma
zona de exclusão da atuação das normas jurídicas vigentes.
1 Mestrando – Programa Direito e Desenvolvimento da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo – FDRP/USP 2 Graduando em Direito da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FDRP/USP
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
Para tanto, tem-se por hipótese que as leis restritivas a migração, com conteúdo restritivo à
própria existência jurídica do imigrante, tanto documentado como indocumentado, incluem
está classe de pessoas na zona de anomia e exclusão do direito pátrio.
Justifica-se tal corte metodológico pois segundo Stephen Castles e Mark J.Mille (2004, p.187)
há um aumento de fluxo migratório devido a processos de mudança econômica, demográfica,
social, política, cultural e ambiental, surgidas a partir da descolonização e do desenvolvimento
socioeconômico desigual entre os países, o que leva a uma tendência de aceleração futura,
com maiores distorções e desigualdades sociais. Eis o problema central.
Apesar da legislação vigente que regula a imigração em solo nacional, sua ideia não está
baseada no princípio da dignidade da pessoa humana e sim, nos princípios que norteiam a
doutrina de segurança nacional. Ainda, cumpre ressaltar a inexistência de uma forma eficiente
de administração dos fluxos migratórios, articulando o transito entre países de origem e países
de destino, além da proibição de participação do migrante junto a órgãos do Estado e da
Sociedade Civil, além de não garantir direitos mínimos a estas pessoas.
Desta forma, tem-se um trabalho teórico dedutivo, de comparação bibliográfica e teórica a
partir da análise da legislação competente, em especial da evolução paradigmática entre o
Estatuto do Estrangeiro e a Lei de Migrações, em paralelo com a Lei de Segurança Nacional,
embasado no marco teórico em epígrafe, como fito de compreender o entendimento a respeito
do migrante na legislação pátria e ver se há ou não conformação com o conceito de Homo
Saccer apresentado por Agamben em sua obra, concluindo-se pela viabilidade de sua
aplicação teórica, ou não à realidade fática brasileira.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
Processo penal brasileiro e estado de exceção
Arnaldo Vieira Sousa1
Mariana Gabrielle dos Santos de Mattos2
Walter Benjamin aponta, em suas teses sobre o conceito da história, que “o estado de exceção
em que vivemos é na verdade a regra geral”. Os caminhos do processo penal brasileiro têm
demonstrado o quão correto Walter Benjamin estava, ao apontar pela permanência do estado
de exceção.
A operação Lava Jato e outras operações midiáticas têm demonstrado o quanto o direito se
encontra refém de suas finalidades e quão grande é a influência de uma visão finalística e
moral do direito na sua aplicação cotidiana, em detrimento dos direitos fundamentais ao
devido processo legal, ao contraditório
Uma visão finalística e moral do direito no direito constitui a sua “aplicação” a partir e sua
própria suspensão, ou seja, busca-se a punição do agente criminoso a partir daquilo que a
legislação penal estabelece como sanção devida, mas se suspende os direitos e garantias
fundamentais do acusado em nome da suposta necessidade de sua punição ou pelo resguardo
de um suposto interesse público.
Desse modo, o direito se aplica na sua suspensão, motivo pelo qual se torna relevante analisar,
dentro do âmbito das operações midiáticas que tem pautado a agenda política do Brasil, em
que medida há manifestação clara do estado de exceção e quais os mecanismos possíveis de
solução do referido problema, com a necessária discussão entre a relação direito/política e sua
separação.
Para tanto, se tratará inicialmente acerca do estado de exceção, com a utilização de autores
como Walter Benjamin, Carl Schmitt, Giorgio Agamben e Michael Löwy, tratando das
principais características do que vem a ser um estado de exceção no paradigma do direito
moderno e como tal se encontra na raiz mesmo daquilo que se configura como o direito
ocidental moderno.
Após, se fará uma breve análise de alguns momentos emblemáticos das últimas operações
policiais no Estado brasileiro, bem como acerca do papel do Poder Judiciário como
1 Doutorando no Programa de Pós-graduação em políticas públicas pela Universidade Federal do Maranhão.
2 Graduanda em Direito pela Unidade de Ensino Superior Dom Bosco.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
responsável primordial pela suspensão permanente do direito (em especial o processual, no
que diz respeito às garantias fundamentais) em nome de uma suposta aplicação do próprio
direito, visto aqui a partir de uma das suas finalidades e, portanto, a partir de uma visão moral
do papel do direito enquanto instância punitiva, responsável por sancionar as condutas que lhe
são reprováveis.
Por fim, se discutirá acerca das possibilidades de superação desse paradigma no direito atual
ou por cima deste, haja vista a possibilidade de se tratar de um esgotamento do modelo do
próprio direito ocidental e sua relação com a política desde os primórdios da construção da
civilização ocidental.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
Uma genealogia da exceção: o legado de Nietzsche na crítica dos fundamentos do direito
e do estado moderno
Diogo Valério Félix1
Em razão da problemática desenvolvida a partir da biopolítica e do biopoder, o problema da
fundamentação e legitimidade do direito apresenta-se como uma agenda necessária à
discussão acerca da relação entre o Direito, a Política, e, a Moral, na medida em que se
observa uma zona limite, limiar, entre o Direito e a Política. Dentro desta perspectiva,
observa-se que a decisão soberana que estabelece o conteúdo normativo, a partir de um
método genealógico, possibilita uma rediscussão da formação, tanto do Estado Moderno,
quando do próprio Direito contemporâneo, a partir do rompimento com a concepção do
„mitologema do contrato‟, em eleição, como matriz teórica, do instituto do bando, esculpido
por Giorgio Agamben, como figura de significação do direito de governança e soberania, em
uma releitura da estruturação do Estado Moderno, e do relacionamento entre o jurídico e o
político das sociedades modernas, aonde se observa, claramente, a possibilidade de criação de
novos conteúdos jurídicos, alterações, e, inclusive, a própria suspensão do respectivo
conteúdo, fazendo por indicar, que tanto a concepção de sujeito de direito, quanto a própria
definição do que é de direito, estão ligadas, necessariamente, a uma decisão política, e
portanto, soberana, abrindo margem à crítica de toda a tese dos direitos humanos,
fundamentais e personalíssimos, como direitos naturais, essenciais e inatos ao “homem”,
diante da possibilidade de suspensão de tais direitos, e, em especial, da própria
despersonalização da pessoa natural, ou, ainda, da ideia de sub-raça (inferioridade),
circunstâncias em que acabam por retirar todo o “véu” jurídico do sujeito, que não sendo,
assim, mais sujeito de direito, encontra-se na vida nua, onde a morte não implica nem em
homicídio, nem em sacrifício, não passando de um mero corpo em um espaço de exceção
jurídica-normativa. Neste sentido, Nietzsche apresenta dois argumentos que se destacam à
definição da temática apresentada, que se mostram paradigmáticos ao debate sobre a
fundamentação e legitimação do direito, e, ainda, do relacionamento entre o jurídico e o
político, a saber: como a moral enquanto elemento de justificação e legitimação do direito
1 Professor de Direito na Faculdade Cidade Verde – FCV; [email protected]
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
resulta de uma relação estritamente jurídico-contratual; e, do paradigma de formação do
Estado Moderno a partir do instituto do bando em contraposição ao “mito do contrato social”.
Assim, na medida em a respectiva problemática decorre da verificação de espaços de exceção
jurídico-normativa, justificáveis pela moral como forma de “promoção de justiça”, inclusive
no que se refere ao tratamento do “humano”, possibilitada pela forma vazia da norma jurídica,
desprovida de uma substância essencial supra-histórica, observa-se, na mesma medida, a
impossibilidade de uma qualificação jurídica para além de uma decisão que assume a forma
da violência, ou seja, da coercibilidade.
Palavras-chave: Estado de Exceção; Bando; Culpa.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
O estado de exceção na América Latina: Uma análise da situação da Venezuela à luz dos
escritos de Giorgio Agamben
Eugênio Delmaestro Corassa1
Lucas de Oliveira Maciel2
O mecanismo do estado de exceção, traçado por diversos autores e em especial Giorgio
Agamben, que apresenta o estado de exceção como parte integrante do direito, e que, na
atualidade, ao contrário de ser excepcional, é a norma, ganha corpo nas mais diversas formas,
sejam mais ou menos explícitas. Um dos casos mais marcantes, no entanto, é o desenrolar da
crise política na Venezuela, com a decadência do governo de Nicolas Maduro e a consequente
crise econômica, social e política. Mais que isso, cabe ir além da superficialidade com que é
analisada a crise no país e perceber a manifestação de elementos do estado de exceção
tratados por Giorgio Agamben em sua obra, em especial ao analisarmos o dispositivo
constitucional venezuelano que permite a deflagração do estado excepcional pelo presidente e
os decretos emitidos pelo governo de Maduro para implementar um estado de exceção nesse
país. Além disso, o que mais chama atenção no recente panorama político venezuelano é que
a questão econômica é destacada nas razões apontadas por Nicolas Maduro em seus decretos,
bem como os motivos expostos – são eles: segurança, estabilidade, desenvolvimento, entre
outros – estão diretamente ligados com os discursos apontados por Agamben quando da
deflagração da exceção, nos mais diversos ambientes. Por fim, o que se percebe também é que
a abordagem do autor italiano é válida na medida em que uma situação excepcional, como é o
estado de exceção nas Constituições nacionais, toma caráter de continuidade e se perpetua no
tempo, concretizando-se Maduro como verdadeiro ditador. A proposta deste artigo, como já
exposto, visa partir dos escritos do autor italiano para entender a situação venezuelana atual,
aplicando as ponderações de Giorgio Agamben a um caso concreto. Para isso, a metodologia
aplicada foi o retorno às fontes primárias sobre o tema na obra de Giorgio Agamben junto a
comentadores do estado de exceção como Carl Schmitt e Walter Benjamin. Além disso, foi
realizada análise fática da situação venezuelana, com consequente análise do ordenamento
jurídico do país sobre a questão e dos decretos emitidos pelo presidente Maduro. Os
1 Graduando em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
2 Graduando em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
resultados obtidos com o presente trabalho versam no sentido de que as considerações de
Agamben são intensamente aplicáveis ao contexto político venezuelano atual, além de serem
extremamente atuais para lidar com as crises contemporâneas. Soma-se a isso o fato de se ter
percebido a ascensão do critério econômico para a deflagração do estado de exceção, junto
com a perpetuação desse estado excepcional. Finalmente, a conclusão desse trabalho é no
sentido de que a obra de Giorgio Agamben é, mais que nunca, essencial para a análise das
crises e do estado de exceção na atualidade, bem como não se pode perder de vista os escritos
dos quais o autor extrai sua análise.
Palavras-chave: Carl Schmitt; Crise; Estado de Exceção; Giorgio Agamben; Venezuela;
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N° 6.214, de fecha 14 de enero de 2016. Gaceta Oficial Extraordinaria 6.219: Decreto N° 2.270. Caracas,
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Económica, dadas las circunstancias extraordinárias de orden Social, Económico, Político, Natural y Ecológicas
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Extraordinario, de fecha de 13 de mayo de 2016.Gaceta Oficial de La Republica Bolivariana de Venezuela N°
40.942. Caracas, Venezuela, 2016E
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
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el Decreto N° 2.452 de fecha de 13 de septiembre de 2016, publicado en la Gaceta Oficial de la Republica
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Bolivariana de Venezuela N° 6.272 Extraordinario. Caracas, Venezuela, 2016G.
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em todo el território Nacional. Gaceta Oficial de La Republica Bolivariana de Venezuela N° 6.298
Extraordinario. Caracas, Venezuela, 2017C.
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WALSH, Nick Paton; BROCCHETTO, Marilia. Venezuela: Where supplies are few and pain is everywhere.
CNN, maio 2017. Disponível em: <http://edition.cnn.com/2017/05/17/americas/venezuela-pain-and-
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Acesso em 19 de maio de 2017.
GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
The Handmaid’s Tale: a ascenção da extrema direita e a limitação aos direitos da mulher
Hortência Dias Silva Neta1
Kristianne Veloso2
The Handmaid’s Tale é uma série que conta com uma realidade distópica, e se passa em um
período apocalíptico no qual se instaura um regime totalitário, semelhante a uma cultura de
castas onde cada pessoa tem uma posição social e um dever. Essa cultura é baseada em um
ideal de superioridade masculina. A queda na taxa de natalidade faz com que as mulheres em
idade fértil tenham suas vidas mantidas em um rigoroso controle estatal e privadas dos seus
direitos básicos. O presente trabalho pretende apresentar uma análise da série The handmaid’s
tale criada por Bruce Miller e baseada no romance de mesmo nome de Margareth Atwood
(1985). Este estudo objetiva traçar um paralelo entre o romance e os movimentos políticos
atuais que proporcionaram a ascensão da extrema direita, além de tratar da liberdade feminina
e os direitos conquistados. Dessa forma, usa as recentes propostas de lei com referência aos
direitos da mulher que possibilitariam uma limitação desses direitos. Posto isto, apresenta
uma análise bibliográfica para entender tal fenômeno, passando pelos estudos de Bourdieu
(2002) acerca da dominação masculina que em termos gerais trata de uma questão de
violência simbólica sobre as mulheres, possibilita o entendimento de que a violência muitas
vezes não é física, mas sim, utiliza de meios específicos para propagá-la possibilitando neste
âmbito a aplicação de direitos excludentes ou retirada de direitos inclusivos. Com isso, a
análise passa aos conceitos de Arendt (2008) acerca do totalitarismo, como dominação do
Estado e controle do individuo, tendo em vista que o regime apresentado pela série é um
regime totalitário e é perceptível o quão necessário é o controle dos corpos, possibilitando a
compreensão do papel do Estado quando esse tipo de organização Estatal está em ascensão.
Nessa perspectiva de ascensão de Estado Totalitário os estudos de Agamben (2004) acerca do
Estado de Exceção e de suas definições também são utilizados, em especial no sentido de ser
um conceito ainda em aberto e que pode ser utilizado como justificativa para diversas
violações. Aponta também os conceitos de Bauman (1999) sobre a modernidade e seus
reflexos na manutenção da ordem, colocando que, esse modo de controle só é possível dentro
1 Acadêmica do 8º período na Faculdade de Direito Santo Agostinho. [email protected].
2 Acadêmica do 6º período na Faculdade de Direito Santo Agostinho. [email protected].
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de um critério, há de se falar em corpos dóceis, compreendendo a partir dessa análise
bibliográfica como ocorre a manutenção dessa estrutura a partir da perspectiva de Bauman.
Completando essa ideia, com os estudos de Semelin (2009) acerca da destruição, expondo
como é possível que a humanidade repita situações de violência extrema através da
inferiorização e desconsideração do outro como igual. Portanto, ao fazer tais análises
bibliográficas, a proposta é que venha o presente estudo a tratar do desenvolvimento da
extrema direita e o contexto social que possibilitou tal pensamento retrógrado. A metodologia
utilizada é de caráter qualitativo com a utilização de revisão bibliográfica.
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DUCK SOUP: A EXCEÇÃO EM SUA FORMA SATÍRICA
Isabela Antônia Rodrigues de Almeida1
Maria Laura Tolentino Marques Gontijo Couto2
Este trabalho busca discutir o estado de exceção em inter-relação com a arte, por meio do
filme Diabo a Quatro (Duck Soup), comédia satírica americana de 1933 estrelada pelos
irmãos Marx e dirigida por Leo McCarey. Primeiramente, abordar-se-á o conceito de estado
de exceção, fundamentado no pensamento de Carl Schmitt e Giorgio Agamben. Depois, far-
se-á análise do filme, buscando a exceção no cenário nele apresentado, e relacionando-o a seu
contexto histórico de produção.
O conceito de estado de exceção traz uma incerteza terminológica, de modo que escolher essa
expressão indica posicionamento a respeito do fenômeno em discussão (AGAMBEN, 2004, p.
15). Tal estado é caracterizado pela suspensão da ordem jurídica, suspensão que não nega o
direito, mas “o imobiliza a fim de realizá-lo, o que se dá mediante a normalização da cena
institucional que deve se seguir à exceção” (MATOS, 2012, p. 305). A provisória suspensão é
instaurada em circunstâncias excepcionais, anormais, que ameaçam a organização do Estado
de Direito. E essa suspensão é organizada pelo soberano, responsável por conferir validade à
nova ordem jurídica, fundada em sua decisão. O estado de exceção “se presentifica mediante
uma dialética necessária com o Estado de Direito” (MATOS, 2012, p. 283), está relacionado a
uma situação imprevisível e anormal, e sua existência necessita de uma finalidade superior a
ser alcançada (MATOS, 2012, p. 283-284).
Diabo a Quatro passa-se na Freedonia, país em dificuldades financeiras. Diante disso, seus
governantes pedem ajuda à milionária Sra. Teasdale (Margaret Dumont), que concorda em
emprestar-lhes dinheiro somente se ela puder indicar um novo líder “do qual o país precisa”:
Rufus T. Firefly (Groucho Marx), que é nomeado ditador, em uma exceção justificada na
finalidade de melhorar a situação da Freedonia. Reuniões de governo, formalidades e
1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Monitora das disciplinas de Introdução ao
Conhecimento Científico do Direito e do Estado (2017/1) e Pensamento Jurídico-Político Brasileiro (2017/2).
Pesquisadora de Iniciação Científica voluntária pela Universidade Federal de Minas Gerais, sob a orientação
da Profa. Dra. Karine Salgado. 2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Monitora da disciplina de História do
Direito (2017/2). Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, sob orientação da Profa. Dra. Karine Salgado.
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festividades ainda ocorrem com aparente normalidade, embora Firefly cante em sua posse:
“Se vocês pensam que este país está ruim, esperem até eu acabar com ele”. A partir daí,
apontam-se cenas de corrupção, desleixo com a administração pública (contrariando o que a
exceção, supostamente, deveria trazer) e a culminância em uma declaração de guerra frívola,
todas retratadas de forma irônica e nonsense - o absurdo reflete a situação anormal. Também
há um julgamento por espionagem, característico da insegurança em governos de exceção.
Lembremo-nos do contexto da época: o ano de 1933 viu a ascensão de Hitler ao governo
alemão e crescente expectativa de guerra. Gardner (2009, p. 74-76) também remonta a
escândalos de corrupção nos Estados Unidos e à crise econômica que se seguiu a 1929. Por
outro lado, Mussolini baniu o filme da Itália, por considerá-lo um ataque ao fascismo
(GARDNER, 2009, p. 88).
Assim, vê-se que o filme, independentemente da intenção de seus idealizadores, e sem
abandonar seu lado cômico, mostra a disparidade entre a justificativa que embasa o estado de
exceção e os fins que ele atinge. Ademais, além de dialogar fortemente com seu contexto
histórico, a obra dos irmãos Marx permanece atual, bem como as discussões em torno do
estado de exceção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004 (Estado de Sítio).
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MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. NΟMO ΠANTΟKΡATΩΡ? Apocalipse, exceção, violência.
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BIBLIOGRAFIA PRIMÁRIA
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GT Estado de exceção I Coordenação: Ana Suelen Tossige Gomes e Bruno Bicalho Lage Silva
BROWN, Craig. A whole lotta elephants: the enduring delights of Duck Soup. The Guardian, 9 jan. 2015.
Disponível em: <https://www.theguardian.com/film/2015/jan/09/craig-brown-on-the-delights-of-duck-soup>.
Acesso em: 2 nov. 2017.
GARDNER, Martin A. The Marx Brothers as social critics: satire and comic nihilism in their movies.
Jefferson: McFarland & Company, 2009.
GEHRING, Wes D. The Marx Brothers: A Bio-Bibliography. Westport: Greenwood Press, Inc., 1987.
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PIETRO, Evaristo. Poder, soberania e exceção: uma leitura de Carl Schmitt. Trad. Andityas Soares de Moura
Costa Matos. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, nº 105, p. 101-150, jul/dez. 2012.
PONTEL, Evandro. Estado de exceção em Giorgio Agamben. 2011. 130f. Dissertação (Mestrado) Programa
de Pós-Graduaçao em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2011.
SCHMITT, Carl. O conceito do político/ Teoria do Partisan. Trad. Geraldo de Carvalho. Belo Horizonte: Del
Rey, 2008.
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Criminalização da pobreza e estado de exceção: análise dos mandados de busca e
apreensão coletivos em favelas do Rio de Janeiro
Luan Guilherme Dias1
Há uma série de fatores que compõem uma boa fotografia. Cenário, iluminação e habilidade
do fotógrafo são alguns dos elementos que, se bem combinados, eternizam ínfimos momentos
capturados pela lente de uma câmera, deixando para a posteridade um retrato do presente.
Se fosse possível capturar as nuances do intangível em apenas um clique, uma boa fotografia
do sistema político-jurídico do Rio de Janeiro retrataria, de forma inequívoca, um longo
projeto de criminalização da pobreza e de suspensão intermitente do Estado Democrático de
Direito em comunidades carentes, como demonstram as recentes decisões judiciais que
expediram mandados de busca e apreensão coletiva em favelas.
A presente pesquisa, sem a pretensão de substituir os grandes mestres da fotografia, tem por
objetivo retratar a torturante realidade do sistema político-jurídico carioca, expondo as
fissuras presentes no tecido social, como a violação consciente e deliberada de direitos e
garantias fundamentais por representares do Estado, abordando também o longo e desolador
processo de identificação de determinada parcela da população como cidadãos de segunda
classe.
Para tanto, elege-se o método dedutivo, com o uso de dados qualitativos, de natureza
bibliográfica e documental. Como referencial teórico, a pesquisa apoia-se nas indispensáveis
obras de Giorgio Agambem e Carl Schmitt, assim como nos principais teóricos do Estado de
Exceção no Brasil, entre eles Pedro Estevam Serrano, além de recorrer aos estudos de Vera
Malaguti Batista e Salo de Carvalho para compreender as particularidades da escalada da
repressão penal contra a população pobre.
Ainda que indigesto, por expor a mazela do sistema político-jurídico, o tema proposto é
justificado por abordar uma complexa e desoladora realidade que aponta para o fracasso do
projeto constitucional. Não obstante, a abordagem sobre o estado de exceção e a
criminalização da pobreza tem justificativa na escalada da violência estatal contra a população
1 Mestrando em Direitos Coletivos e Cidadania pela Universidade de Ribeirão Preto, com bolsa pela
Coordenação de Aperfeiçoamento do ensino Superior (CAPES). E-mail: [email protected].
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0064446231125347.
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pobre e, o pior, na ascensão do discurso que legitima e identifica a truculência policial como
algo ideal.
A concessão de mandados de busca e apreensão coletivos por membros do Judiciário,
permitindo a entrada indiscriminada e irrestrita de policiais em diversos lares em
comunidades cariocas, em total desrespeito ao disciplinado na Constituição Federal, é apenas
mais um triste retrato da atual realidade brasileira que, se não devidamente denunciada e
combatida, deixará para a posterioridade a repressão penal e o vale-tudo jurídico na caça de
cidadãos pobres, considerados inimigos.
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A liberdade de manifestação e o estado de exceção: a atuação estatal frente às
manifestações populares brasileiras
Mariana Pinto Zoccal1
Atualmente vivencia-se no Brasil um contexto de “inferno urbano” caracterizado pelo
sucateamento do ensino e da saúde pública, o aumento dos índices de desemprego e a
precariedade de acesso ao lazer e ao transporte público. As manifestações que eclodiram em
junho de 2013, a princípio lideradas pelo Movimento Passe Livre, buscaram romper com a
passividade deste “status quo” e reivindicar uma real efetivação do direito à cidade.
No entanto, os manifestantes que encampavam pautas críticas e avessas aos interesses das
classes hegemônicas passaram a figurar como vítimas de um truculento processo de
criminalização orquestrado pelo Estado, de modo que inúmeras práticas foram observadas em
âmbito dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário buscando cercear o exercício do
direito de protesto.
Em âmbito do Executivo, nota-se que este influenciou diretamente a política de segurança
pública adotada em manifestações, que se pautou pela utilização desenfreada de armamentos
“menos letais”, pela inexistência de identificação de policiais presas às fardas, a instauração
de inquéritos obscuros, dentre outras arbitrariedades relatadas.
Acerca do Legislativo, conforme dados levantados pela ONG ARTIGO 19, atualmente
tramitam no Congresso 59 projetos de lei atinentes a matéria dos protestos. Dentre eles, ampla
maioria se inserem em categorias que buscam criminalizar novas condutas em detrimento das
que primam pela salvaguarda do direito de manifestação.
O Judiciário em diversas decisões se mostra avesso ao livre exercício do direito de
manifestação, negando-se a dialogar com manifestantes e membros de movimentos sociais e
tratando as suas reivindicações como “casos de polícia”, reduzindo conflitos coletivos a meras
lides individuais.
Nos dizeres de Agamben, o estado de exceção se estabelece no tênue limiar entre o direito
público e o fato político, entre a ordem jurídica e a conjuntura social, caracterizando-se “a
forma legal daquilo que não pode ter forma legal”. Por se tratar de uma situação excepcional,
1 Bolsista de Iniciação Científica pelo PIBIC - CNPq, período 2014/2015 e estudante do 5º ano de graduação da
Faculdade de Direito de Franca.
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o Estado de exceção se insere e se integra no corpo do direito vigente, perpetuando as práticas
circunstanciais e instalando-se no Estado Constitucional. Aquilo que foi concebido como
prática emergencial eleva-se ao patamar de paradigma de governo nos estados democráticos,
executando medidas provisórias e excepcionais como técnica de administração pública.
Nesse ínterim, é sintomático que no dia 24 de maio de 2017, no uso das atribuições
constitucionais, o Presidente Michel Temer tenha autorizado o emprego das Forças Armadas
para a Garantia da Lei e da Ordem no Distrito Federal no período compreendido entre os dias
24 e 31 de maio, em que diversos grupos se mobilizavam para protestar na capital do país. A
atuação das Forças Armadas é disciplinada na lei apenas em hipóteses em que o policiamento
ostensivo não é suficiente, o que não foi verificado no caso em questão.
Assim, ante o acima exposto, entende-se notória a conjuntura de desmonte do Estado
democrático de direito, que tem sido reiteradamente exposta desde a eclosão dos protestos de
junho, de modo a caracterizar a implementação de um verdadeiro “estado de exceção” em
terrae brasilis.