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COORD. DE ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA

D.J. 22.06.2007

EMENTÁRIO N° 2 2 8 1 - 1

11/04/2007 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

RELATORA

AGRAVANTE(S)

ADVOGADA

AGRAVADO(A/S)

MIN. ELLEN GRACIE

UNIÃOPFN - TEREZINHA BALESTRIM CESTARE

CONSULADO GERAL DA REPÚBLICA DACORÉIA

CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO.EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA UNIÃO CONTRA ESTADO"ESTRANGEIRO. CONVENÇÕES DE VIENA DE 1961 E 1963.

1. Litígio entre o Estado brasileiro e Estado estrangeiro:

observância da imunidade de jurisdição, tendo em consideração as

Convenções de Viena de 1961 e 1963.

2. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ACO 522-

AgR/SP e ACO 634-AgR/SP, rei. Min. limar Galvão, Plenário, 16.9.98 e

25.9.2002, DJ de 23.10.98 e 31.10.2002; ACO 527-AgR/SP, rei. Min.

Nelson Jobim, Plenário, 30.9.98, DJ de 10.12.99; ACO 524 AgR/SP, rei.

Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 09.05.2003.

3. Agravo não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os

Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na

conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria

de votos, negar provimento ao agravo regimental.

Brasília, 11 de abril de 2007.

>OM4Gi

4Ellen Gracie Relatora e Presidente

STF 102.002

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09/02/2006 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

RELATORA

AGRAVANTE(S)

ADVOGADA

AGRAVADO(A/S)

MIN. ELLEN GRACIE

UNIÃOPFN - TEREZINHA BALESTRIM CESTARE

CONSULADO GERAL DA REPÚBLICA DA CORÉIA

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Ellen Gracie: Trata-se de agravo regimental,

fundado no art. 317 do RISTF, interposto pela União da decisão de fl. 32 que, em sede

de ação cível originária, negou seguimento à execução fiscal movida contra o

Consulado Geral da República da Coréia.

Alega a agravante a existência de divergência jurisprudencial,

porquanto o egrégio Superior Tribunal de Justiça, no tocante às execuções fiscais

movidas por municípios contra Estados estrangeiros, tem mantido entendimento

segundo o qual "não se pode alegar imunidade absoluta de soberania para não pagar

impostos e taxas cobrados em decorrência de serviços específicos prestados ao Estado

Estrangeiro" (fl. 41). Sustenta que as execuções fiscais movidas pela União contra

pessoa jurídica de direito público externo não se incluem no rol das causas abrangidas

pela imunidade de jurisdição, em atenção ao princípio da soberania. Afirma, ainda, a

inobservância ao art. 88, incisos II e III, do CPC, bem como a exclusão da imunidade

de jurisdição no tocante aos atos de gestão praticados pelo Estado estrangeiro.

É o relatório.

STF 102 002

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ACO 633-AgR / SP <^Jh/'rrw ^reAf/tta/ ^'cr/e/-<,/

VOTO

A Senhora Ministra Ellen Gracie - (Relatora): 1. A União interpôs

agravo regimental em face da seguinte decisão (fls. 32):

"/ - Cuida-se de execução fiscal proposta pela União

contra o Consulado Geral da República da Coréia, tendo por

objeto multa referente ao imposto de importação, nos termos do

art. 521, II, b_, do Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto

n° 91.030/85.

O Juízo Federal da 10a Vara de Execuções Fiscais da

Seção Judiciária de São Paulo declinou de sua competência,

remetendo os autos a esta Corte, nos termos do art. 102, I, e da CF

(fls. 08/11).

2 - A mim distribuídos os autos, determinei,

preliminarmente, a consulta ao apontado Estado estrangeiro para

que este se manifestasse sobre sua eventual submissão, no presente

caso, à jurisdição brasileira (fls. 16). Não houve, entretanto,

qualquer manifestação por parte da representação diplomática da

República da Coréia (fls. 24 e 31).

3 - Em casos análogos ao presente, concernentes à

execução fiscal, fixou esta Corte o entendimento de que o Estado

estrangeiro detém a imunidade de jurisdição prevista nas

Convenções de Viena de 1961 e 1963 (ACO n° 522-AgR, Rei. Min.

limar Galvão, e ACO n° 638-AgR, Rei. Min. Nelson Jobim e,

recentemente, ACO n° 634-AgR, Rei. Min. limar Galvão, DJ

02.10.2002).

Ante o exposto, não tendo havido expressa renúncia à

imunidade em questão, em conformidade com ajurisprudência deste

Supremo Tribunal, nego seguimento à presente ação. "

2. A decisão acima transcrita, que se apoia na jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal, conforme nela mencionado, é de ser mantida.

Com efeito, em que pese aos temperamentos que a jurisprudência

vem impondo à imunidade do Estado estrangeiro em relação à jurisdição brasileira,

STF 102 002

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ACO 633-AgR / SP

continua o Tribunal a entendê-la absoluta, relativamente ao processo de execução, em

virtude das Convenções de Viena de 1961 e 1963.

Isso é o que se vislumbra em recentes decisões monocráticas

proferidas por membros desta Corte: ACO 699, rei. Min. Cezar Peluso, DJ de

07.03.2005; ACO 777, rei. Min. Gilmar Mendes, DJ 16.08.2005; ACO 691, rei. Min.

Sepúlveda Pertence, DJ 15.08.2005; ACO 645, rei. Min. Gilmar Mendes, DJ de

17.3.2003.

No mesmo sentido, ainda, a ACO 524-AgR, rei. Min. Carlos

Velloso, Pleno, unânime, DJ de 09.05.2003, assim ementada:

"CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO:

EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA UNIÃO CONTRA ESTADO

ESTRANGEIRO. Convenções de Viena de 1961 e 1963. /.- Litígio entre

o Estado brasileiro e Estado estrangeiro: observância da imunidade

de jurisdição, tendo em consideração as Convenções de Viena de

1961 e 1963. II- Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ACO

522-AgR/SP e 634-AgR/SP, Ministro limar Galvão, Plenário,

16.9.98 e 25.9.2002, "DJ." de 23.10.98 e 31.10.2002; ACO 527-

AgR/SP, Ministro Nelson Jobim, Plenário, 30.9.98, "D.J." de

10.12.99; ACO 645/SP, Ministro Gilmar Mendes, "D.J." de

17.3.2003. III.- Agravo não provido. "

3. Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

STF 102.002

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ACO 633-AgR / SP

Como precedentemen-te referido, trata-se de litigio que

envolve tema pertinente à imunidade de execução e que foi instaurado

entre o Estado brasileiro (que é o Estado acreditado ou receptor),

parte ora agravante, de um lado, e um Estado estrangeiro (que é o

Estado acreditante ou de envio), parte ora recorrida, de outro.

É inquestionável que a controvérsia suscitada na

presente causa, consistente na discussão relativa à imunidade de

Estados estrangeiros perante o Poder Judiciário nacional, revela-se

impregnada do mais alto relevo jurídico.

Como se sabe, a_ imunidade de jurisdição dos Estados

estrangeiros - quer se trate de imunidade à jurisdição cognitiva

(imunidade ao processo de conhecimento), quer se cuide de imunidade

à jurisdição executiva (imunidade de execução) - derivava,

ordinariamente, de um principio básico, o princípio da "comitas

gentium", consagrado pela prática consuetudinária internacional e

assentado em premissas teóricas e em concepções políticas, que,

fundadas na essencial igualdade entre as soberanias estatais,

legitimavam o reconhecimento de que "par in parem non habet imperium

vel judicium", consoante enfatizado pelo magistério da doutrina

(JOSÉ FRANCISCO REZEK, "Direito Internacional Público", p. 173/178,

itens ns. 96 e 97, 7a ed., 1998, Saraiva; CELSO DUVIVIER DE

STF 102.002

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09/02/2006 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

v o j_ o

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Reconheço,

preliminarmente, que, tratando-se de litigio entre Estado estrangeiro

e a União Federal, assiste, ao Supremo Tribunal Federal, campetência

originária para processá-lo e julgá-lo (AÇO 526/SP, Rei. Min. CELSO

DE MELLO, v.g.), inooorrendo, a esse respeito, notadamente em face

da existência de explicita previsão constitucional (CF, art. 102, I,

"e") , qualquer divergência de indole doutrinária em torno do órgão

investido de jurisdição, para, no plano interno, dirimir conflitos

interestatais (PONTES DE MIRANDA, "Comentários à Constituição de

1967 com a Emenda n° 1 de 1969", tomo IV/24-25, item n. 11,

2a ed./2a tir., 1974, RT; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, "Comentários à

Constituição de 1988", vol. VI/3.084-3.086, item n. 105, 1992,

Forense Universitária; WALTER CENEVIVA, "Direito Constitucional

Brasileiro", p. 195, item n. 4, 1989, Saraiva; PINTO FERREIRA,

"Comentários à Constituição Brasileira", vol. 4/104, 1992, Saraiva;

CELSO RIBEIRO BASTOS/IVES GANDRA MARTINS, "Comentários à

Constituição do Brasil", vol. 4, tomo III/167, 1997, Saraiva; MANOEL

GONÇALVES FERREIRA FILHO, "Comentários à Constituição Brasileira de

1988", vol. 2/219, 1992, Saraiva, v.g.).

STF 102.002

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8ACO 633-AgR / SP Csu/fwmc ÇL/#iáwria/ Ç2/'ef/et'a/

Min. CELSO DE MELLO (RTJ 161/643-644), e do RE 222.368-AgR/PE, Rei.

Min. CELSO DE MELLO (RTJ 184/740-741).

Em função dessa nova orientação, a jurisprudência

firmada pelo Supremo Tribunal Federal, tratando-se de atuação de

Estado estrangeiro em matéria de ordem privada, notadamente em

conflitos de natureza trabalhista, consolidou-se no sentido de

atribuir caráter meramente relativo à imunidade de jurisdição, tal

como reconhecido pelo direito internacional público e consagrado na

prática internacional.

Esse entendimento júrisprudendal, formulado sob a

égide da vigente Constituição, foi bem sintetizado pelo Supremo

Tribunal Federal, quando do julgamento do AI 139.671-AgR/DF, Rei.

Min. CELSO DE MELLO, ocasião em que esta Corte proferiu decisão

unânime, consubstanciada em acórdão assim ementado:

"IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. CONTROVÉRSIA DE NATUREZA

TRABALHISTA. COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DOS TRIBUNAIS

BRASILEIROS.

- A imunidacif* de jurisdição do Estado estrangeiro,

guando se tratar de litígios trabalhistas, revestir-se-á

de caráter meramente relativo er em conseqüência, não

impedirá que os juizes e Tribunais brasileiros conheçam

de tais controvérsias e sobre elas exerçam o poder

jurisdicional que lhes é inerente.

ATUAÇÃO DO ESTADO ESTRANGEIRO EM MATÉRIA DE ORDEM

PRIVADA. INCIDÊNCIA DA TEORIA DA IMUNIDADE

JURISDICIONAL RELATIVA OU LIMITADA.

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Q7u/t'remo ÇÍSi'-ti>u<ri<z/ (Py^Me^atACO 633-AgR / SP

ALBUQUERQUE MELLO, "Direito Constitucional Internacional",

p. 330/331, item n. 3, 1994, Renovar; ALFRED VERDROSS, "Derecho

Internacional Publico", p. 171/172, 1972, Aguilar, Madrid; JACOB

DOLINGER, "A Imunidade Estatal à Jurisdição Estrangeira", "in" "A

Nova Constituição e o Direito Internacional", p. 195, 1987, Freitas

Bastos; JOSÉ CARLOS DE MAGALHÃES, "Da Imunidade de Jurisdição do

Estado Estrangeiro perante a Justiça Brasileira", "in" "A Nova

Constituição e o Direito Internacional", p. 209/210, 1987, Freitas

Bastos; AMILCAR DE CASTRO, "Direito Internacional Privado",

p. 541/542, item n. 295, 4a ed., 1987, Forense, v.g.).

Tais premissas e concepções - que justificavam,

doutrinariamente, essa antiga prática consuetudinária internacional -

levaram a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, notadamente

aquela que se formou sob a égide da revogada Carta Política de 1969,

a emprestar, num primeiro momento, caráter absoluto à imunidade de

jurisdição instituida em favor dos Estados estrangeiros (RTJ 66/727 -

RTJ 104/990 - RTJ 111/949 - RTJ 116/474 - RTJ 123/29).

Essa orientação, contudo, tratando-se de imunidade à

jurisdição de conhecimento, sofreu abrandamentos, que, na vigência

da presente ordem constitucional, foram reconhecidos pelo Supremo

Tribunal Federal, quando do julgamento da Apelação Cível 9.696/SP,

Rei. Min. SYDNEY SANCHES (RTJ 133/159), do AI 139.671-AgR/DF, Rei.

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A/"1/") ^^Q-^/vP / OO {—'/t/./7-JWi-MS'). C^J /Vf /i/s,l?r*/ C 3 ■y%?s'/j9iss-y/ -^- ^^

'Tate Letter', a conclusão de que 'tal imunidade, em

certos tipos de caso, não deverá continuar sendo

concedida'. O Congresso americano, em tempos mais

recentes, institucionalizou essa orientação que

consagra a tese da imunidade relativa de jurisdição,

fazendo-a prevalecer, no que concerne a questões de

índole meramente privada, no *Foreign Sovereign

Immunities Act' (1976)."

(RTJ 161/643-644, Rei. Min. CELSO DE MELLO)

Uma das razões decisivas dessa nova visão

jurisprudencial da matéria deveu-se ao fato de que o tema da

imunidade de jurisdição dos Estados soberanos - que, antes, como já

enfatizado, radicava-se no plano dos costumes internacionais

passou a encontrar fundamento jurídico em convenções internacionais

(a Convenção Européia sobre Imunidade dos Estados de 1972) ou, até

mesmo, consoante informa LUIZ CARLOS STURZENEGGER (RDA 174/18-43),

na própria legislação interna de diversos Estados, como os ESTADOS

UNIDOS DA AMÉRICA ("Foreign Sovereign Jmmunities Act" de 1976), o

REINO UNIDO ("State Tvmunity Act" de 1978), a AUSTRÁLIA ("Foreign

States Immunities Act" de 1985), CINGAPURA {"State Immunity Act" de

1979) , a REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL ("Foreign States üBmunities Act"

de 1981), o PAQUISTÃO ("Stafce Immunity Act" de 1981), o CANADA ("State

Immunity Act" de 1982) e a República' Argentina ("£ey n° 24.488/95",

art. 2o), exemplificativãmente.

O novo quadro normativo que se delineou no plano do

direito internacional, e também no âmbito do direito comparado,

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ACO 633—AgR / SP < s////remo Qi/rivwna/ Ct/'e<ie)<\

- O novo quadro normativo que se delineou no plano

do direito internacional, e também no âmbito do direito

comparado, permitiu - ante a realidade do sistema de

direito positivo dele emergente - que se construísse a

teoria da imunidade jurisdicional relativa dos Estados

soberanos, tendo-se presente, para esse específico

efeito, a natureza do ato motivador da instauração da

causa em juízo, de tal modo que deixa de prevalecer,

ainda que excepcionalmente, a prerrogativa

institucional da imunidade de jurisdição, sempre que o

Estado estrangeiro, atuando em matéria de ordem

estritamente privada, intervier em domínio estranho

àquele em que se praticam os atos jure imperii.

Doutrina. Legislação comparada. Precedente do STF.

A teoria da imunidade limitada ou restrita objetiva

institucionalizar solução jurídica que concilie o

postulado básico da imunidade jurisdicional do Estado

estrangeiro com a necessidade de fazer prevalecer, por

decisão do Tribunal do foro, o legítimo direito do

particular ao ressarcimento dos prejuízos que venha a

sofrer em decorrência de comportamento imputável a

agentes diplomáticos, que, agindo ilicitamente, tenham

atuado more privatorum em nome do País que representam

perante o Estado acreditado (o Brasil, no caso).

Não se revela viável impor aos súditos brasileiros,

ou a pessoas com domicílio no território nacional, o

ônus de litigarem, em torno de questões meramente

laborais, mercantis, empresariais ou civis, perante

tribunais alienígenas, desde que o fato gerador da

controvérsia judicial - necessariamente estranho ao

específico domínio dos acta jure imperii - tenha

decorrido da estrita atuação more privatorum do Estado

estrangeiro.

OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E A DOUTRINA DAIMUNIDADE DE JURISDIÇÃO RELATIVA OU LIMITADA.

- Os Estados Unidos da América - parte ora

agravante - já repudiaram a teoria clássica da

imunidade absoluta naquelas questões em que o Estado

estrangeiro intervém em domínio essencialmente privado.

Os Estados Unidos da América - abandonando a posição

dogmática que se refletia na doutrina consagrada por

sua Corte Suprema em 'Schooner Exchange v. McFaddon'

(1812) - fizeram prevalecer, já no início da década de

1950, em típica declaração unilateral de caráter

diplomático, e com fundamento nas premissas expostas na

STF 102.002

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ACO 633-AgR / SP12

DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO TEM CARÁTER l*srRAMENTERELATIVO.

- O Estado estrangeiro não dispõe de imunidade de

jurisdição, perante órgãos do Poder Judiciário

brasileiro, quando se tratar de causa de natureza

trabalhista. Doutrina. Precedentes do STF (RTJ 133/159

e RTJ 161/643-644) .

- Privilégios diplomaticos não podem ser invocados,

em processos trabalhistas, para coonestar o

enriquecimento sem causa de Estados estrangeiros, em

inaceitável detrimento de trabalhadores residentes em

território brasileiro, sob pena de essa prática

consagrar censurável desvio ético-jurídico, incompatível

com o princípio da boa-fé e inconciliável com os

grandes postulados do direito internacional.

O PRIVILÉGIO RESULTANTE DA IMUNIDADE DE EXECUÇÃONÃO INIBE A JUSTIÇA BRASILEIRA DE EXERCER JURISDIÇÃONOS PROCESSOS DE CONHECIMENTO INSTAURADOS CONTRA

ESTADOS ESTRANGEIROS.

- A imunidade de jurisdição, de um lado, e a

imunidade de execução, de outro, constituem categorias

autônomas, juridicamente inconfundíveis, pois - ainda

que guardem estreitas relações entre si - traduzem

realidades independentes e distintas, assim

reconhecidas quer no plano conceituai, quer, ainda, no

âmbito de desenvolvimento das próprias relações

internacionais.

A eventual impossibilidade jurídica de ulterior

realização prática do título judicial condenatório, em

decorrência da prerrogativa da imunidade de execução,

não se revela suficiente para obstar, só por si, a

instauração, perante Tribunais brasileiros, de

processos de conhecimento contra Estados estrangeiros,

notadamente quando se tratar de litígio de natureza

trabalhista. Doutrina. Precedentes."

(RTJ 184/740-741, Rei. Min. CELSO DE MELLO)

Impõe-se destacar, por isso mesmo, na linha dos

precedentes firmados pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 133/159 -

RTJ 161/643-644 - RTJ 184/740-741), que deixará de prevalecer,

excepcionalmente, a prerrogativa institucional da imunidade de

STF 102 002

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ACO 633-AgR / SP Gsú/t/'e-mo Ç^fr-táwnal' çi/tedeva-i

p>ermitiu - ante a realidade do sistema de direito positivo dele

emergente - que se construísse, inclusive no âmbito da

jurisprudência dos Tribunais, e em função de situações especificas,

a teoria da imunidade jurisdicional meramente relativa dos Estados

soberanos.

É por essa razão - jjá vigente o novo ordenamento

constitucional brasileiro - que tanto a jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal (RTJ 133/159 - RTJ 161/643-644 - RTJ 184/740-741)

quanto a do Superior Tribunal de Justiça (RSTJ 8/39 - RSTJ 9/53 -

RSTJ 13/45) consolidaram-se no sentido de reconhecer que,

modernamente, não mais deve prevalecer, de modo incondicional, no

que concerne a determinadas e especificas controvérsias - tais como

aquelas de direito privado - o principio da imunidade jurisdicional

absoluta, circunstância esta que, em tais situações, legitima a

plena submissão de qualquer Estado estrangeiro à jurisdição

doméstica do Poder Judiciário nacional:

"IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO - RECLAMAÇÃO TRABALHISTA -

LITÍGIO ENTRE ESTADO ESTRANGEIRO E EMPREGADO BRASILEIRO -

EVOLUÇÃO DO TEMA NA DOUTRINA, NA LEGISLAÇÃO COMPARADA E

NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA

IMUNIDADE JURISDICIONAL ABSOLUTA À IMUNIDADE

JURISDICIONAL MERAMENTE RELATIVA - RECURSO

EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.

OS ESTADOS ESTRANGEIROS NÃO DISPÕEM DE IMUNIDADE DE

JURISDIÇÃO, PERANTE O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, NAS

CAUSAS DE NATUREZA TRABALHISTA, POIS ESSA PRERROGATIVA

STF 102.002

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ACO 633—AtiR / SP G/uJi^em-o Qsv-óáwna/ Ç>/recíet<a.t

vol. X/221, item n. 330, 2a ed., 1956, Rio de Janeiro; PEDRO LESSA,

"Do Poder Judiciário", p. 212, 1915, Livraria Francisco Alves; GUIDO

FERNANDO SILVA SOARES, "Das Imunidades de Jurisdição e de Execução",

p. 152/161, 1984, Forense; LUIZ CARLOS STURZENEGGER, "Imunidades de

Jurisdição e de Execução dos Estados - Proteção a Bens de Bancos

Centrais", "i/j" RDA 174/18; OSIRIS ROCHA, "Reclamações Trabalhistas

contra Embaixadas: Uma Competência Inegável e Uma Distinção

Imprescindível", vin" LTr, vol. 37/602; JOSÉ FRANCISCO REZEK,

"Direito Internacional Público", p. 175/178, item n. 97, 7a ed.,

1998, Saraiva; GERSON DE BRITTO MELLO BOSON, "Constitucionalização

do Direito Internacional", p. 248/249, 1996, Dei Rey).

É por essa razão que o Ministério das Relações

Exteriores do Brasil ("Itamaraty") , no passado, em comunicado

dirigido às Missões Diplomáticas acreditadas em Brasilia/DF e no

qual enfatizou a inaplicabilidade da imunidade de jurisdição, quando

se tratar de atos de gestão - como aqueles derivados de pactos

laborais ajustados em território brasileiro - fez expedir a Nota

Circular n°_ 560/DJ/DPI/CJ, de 14/2/1991, a seguir transcrita:

"O Ministério das Relações Exteriores cumprimenta

as Missões Diplomáticas acreditadas em Brasília e, a

fim de atender às freqüentes consultas sobre processos

trabalhistas contra Representações Diplomáticas e

Consulares, recorda que:

a) Em virtude do princípio da independência dos

Poderes, consagrado em todas as Constituições

10

STF T02 002

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13ACO 633-AgR / SP (Í7t(/ti<&?no oJriáuna/ Qjúec/eyci/

jurisdição (imunidade à jurisdição cognitiva), sempre que o

representante do Estado estrangeiro, por atuar em matéria de ordem

estritamente privada (matéria laborai, p. ex.), intervier em dominio

estranho àquele em que usualmente se praticam, no plano das relações

diplomáticas e consulares, atos "jure imperii".

Esse entendimento, aplicável a casos de reclamação

trabalhista ajuizada por empregados brasileiros (ou domiciliados no

Brasil) contra Estados estrangeiros que os contrataram (para a

execução, em território brasileiro, dos serviços contratados) ,

encontra fundamento, como já referido, em precedentes firmados pelo

Supremo Tribunal Federal, já_ sob a égide da vigente Constituição

(RTJ 133/159, Rei. Min. SYDNEY SANCHES - RTJ 161/643-644, Rei. Min.

CELSO DE MELLO - RTJ 184/740-741, Rei. Min. CELSO DE MELLO),

apoiando-se, ainda, em autorizado magistério doutrinário (PONTES DE

MIRANDA, "Comentários ao Código de Processo Civil", tomo 11/263-265,

2* ed., 1979, Forense; CLÓVIS RAMALHETE, "Estado Estrangeiro Perante

a Justiça Nacional", "in" Revista da Ordem dos Advogados do Brasil,

n° 4/315-330, Setembro/Dezembro de 1970; AMILCAR DE CASTRO, "Direito

Internacional Privado", p. 540/541, item n. 295, 4a ed., 1987,

Forense; CLÓVIS BEVILÁQUA, "Direito Público Internacional",

tomo 1/79, 2a ed., Freitas Bastos; OSCAR TENÓRIO, "Direito

Internacional Privado", vol. 11/351, 11a ed., Freitas Bastos;

HILDEBRANDO ACCIOLY, "Tratado de Direito Internacional Público",

STF 102.002

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K/"»f"\ <T"i*3 .«.n / CO ^ -J/sf? ira/win C^J /*y7í//,M/// C~) 'ffsis/sisis^/ -^- ^^

item n. 513, 14* ed., 2002, Renovar, v.g.), ressalvadas, no entanto,

as hipóteses excepcionais (a) de renúncia, por parte do Estado

estrangeiro, à prerrogativa da intangibilidade dos seus próprios

bens (RTJ 167/761, Rei. Min. ILMAR GALVÂO - ACO 543/SP, Rei. Min.

SEPÚLVEDA PERTENCE) ou (b) de existência, em território brasileiro,

de bens, que, embora pertencentes ao Estado estrangeiro, não tenham

qualquer vinculação com as finalidades essenciais inerentes às

legações diplomáticas ou representações consulares mantidas em nosso

Pais.

Cabe referir, neste ponto, a propósito da questão

especifica da imunidade de execução, o autorizado magistério de JOSÉ

FRANCISCO REZEK ("Direito Internacional Público", p. 176/177,

item n. 97, 7a ed., 1998, Saraiva):

"A execução forçada da eventual sentença

condenatória, entretanto, só é possível na medida em

que o Estado estrangeiro tenha, no âmbito espacial de

nossa jurisdição, bens estranhos é. sua. própria

representação diplomática ou consular - visto que estes

se encontram protegidos contra a penhora ou medida

congênere pela inviolabilidade que lhes asseguram as

Convenções de Viena de 1961 e 1963, estas seguramente

não derrogadas por qualquer norma ulterior (...)."

(grifei)

São, também, de JOSÉ FRANCISCO REZEK ("A Imunidade do

Estado Estrangeiro à Jurisdição Local. O Problema da Execução na

Justiça do Trabalho", "in" I Ciclo de Estudos de Direito do

12

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brasileiras, e que figura no artigo segundo da

Constituição de 1988, é vedada ao Poder Executivo

qualquer iniciativa que possa ser interpretada como

interferência nas atribuições de outro Poder.

b) A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas

de 1961, assim como a de 1963, sobre Relações

Consulares, não dispõe sobre matéria de relações

trabalhistas entre Estado acreditante e pessoas

contratadas no território do Estado acreditado.

brasileiros, em sintonia com o pensamento jurídico

atual, que inspirou, aliás, a Convenção Européia sobre

Imunidade dos Estados, de 1972, o 'Foreign Sovereígn

Immunity Act', dos Estados Unidos da América, de 1976,

e o 'State Immunity Act' do Reino Unido, de 1978,

firmaram jurisprudência no sentido de que as pessoas

jurídicas de direito público externo não gozam, de

imunidades no domínio dos 'atos de gestão', como as

relações de trabalho estabelecidas localmente.

d) A Constituição brasileira em vigor determina, em

seu Art. 114, ser da competência da Justiça do Trabalho

o conhecimento e julgamento desses litígios." (grifei)

Impende registrar que essa diretriz tem sido reafirmada,

pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em documentos

oficiais transmitidos às Missões Diplomáticas e Repartições

Consulares acreditadas em nosso Pais, como resulta claro da Nota

Circular n° 18/DJ/DPI/CJ, de 1995, e da Nota Circular n° 07/97.

É bem verdade que o Supremo Tribunal Federal, tratando-se

da questão pertinente à imunidade de execução (matéria que não se

confunde com o tema concernente à imunidade de jurisdição),

continua, quanto a ela (imunidade de execução), a entendê-la como

prerrogativa institucional de caráter mais abrangente (CELSO D. A.

MELLO, "Curso de Direito Internacional Público", vol. II/1.344,

11

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18ACO 633-AgR / SP ^uftre,»* Q£ —..... *O

com a imunidade de jurisdição, também não constitui prerrogativa

institucional absoluta que os Estados estrangeiros possam opor,

quando instaurado, contra eles, perante o Poder Judiciário

brasileiro, processo de execução.

Entendo necessário fazer, ainda, neste ponto, uma

ponderação - que considero relevante - consistente na distinção

entre atos imputados a agentes diplomáticos ou consulares (a que se

aplicam as disposições das Convenções de Viena sobre Relações

Diplomáticas e sobre Relações Consulares), de um lado, e aqueles

atribuidos aos próprios Estados estrangeiros, de outro, consoante

adverte, a esse propósito, o eminente Professor GUIDO FERNANDO SILVA

SOARES ("Curso de Direito Internacional Publico", vol. 1/276, 2002,

Atlas):

"No assunto, é mister distinguir as imunidades da

jurisdição (incidentes relacionados ao conhecimento e

julgamento das causas) , das imunidades de execução

(incidentes relacionados a medidas constritivas,

definitivas ou provisórias, contra os bens ou direitos,

tendo em vista o cumprimento preliminar ou definitivo

das decisões dos órgãos do Poder Judiciário). No caso

das imunidades de jurisdição das pessoas a serviço do

Est-ado, as regras internacionais são as que

anteriormente expusemos e que não se confundem com as

imunidades do próprio Estado estrangeiro, frente aos

Poderes Judiciários nacionais de outro Estado (aspecto

que será analisado a seguir). Quanto às hipóteses das

imunidades de execução, a questão desloca-se para o

exame não das pessoas, mas da natureza dos bens,

eventualmente penhoráveis ou não, e que, na verdade, ou

são de propriedade do Estado estrangeiro, ou se

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Trabalho, p. 239/242, 241/242, IBCB, 1995), as seguintes

ponderações, que vale rememorar ante a extrema pertinência que

assumem no contexto desta causa:

"ttaa palavra final sobre o tema da execução, onde

esbarramos com problema de grande seriedade. Antes que

o Brasil alterasse sua visão da matéria, outros países

já o haviam feito, e, em alguns desses, como Itália,

Alemanha e Estados Unidos da América, um dos Estados

estrangeiros processados no foro comum, trabalhista ou

civil, havia sido justamente o Brasil; e foram casos em

que, por casualidade, por mero jogo de circunstâncias,

a execução pôde consumar-se. E certíssimo que ela não

pode realizar-se sobre bens diplomáticos ou consulares.

Nesse particular tem havido ainda no foro brasileiro

algum equivoco. O processo de conhecimento, sim, tem

cabimento, pode chegar a termo.

No domínio da análise prática das coisas, é sabido

que o Estado estrangeiro proponde a executar, sem criar

problemas, a sentença condenatória proferida no

processo de conhecimento. Quando isso, entretanto, não

acontece, o que é fato raro, a execução não pode

materializar-se, forçadamente, sobre bens diplomáticos

ou consulares. Aí estaríamos agredindo, de modo

frontal, norma escrita, norma convencional que nos

obriga, e lançando o país em ilícito internacional.

Todavia, a execução pode materializar-se quando se

consegue alcançar, dentro do domínio espacial da nossa

soberania, incluído o mar territorial, o bem do Estado

estrangeiro não coberto pela afetação diplomática ou

consular.

Assim aconteceu quando o Brasil foi o réu. Lá fora,

eram bens do Instituto Brasileiro do Café, eram bens do

Lloyd Brasileiro. Bens do Estado, portanto, porém não

afetos ao serviço diploma tico ou consular. Serviam,

assim, de objeto a execução. Eram penhorados e

garantiam a execução eficaz." (grifei)

As considerações que venho de expor levam-me a

reconhecer que a imunidade de execução, à semelhança do que sucede

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Internacional escrito: tratados que, em certo momento,se negociaram lá fora, e que entraram em vigor para oBrasil, sendo aqui promulgados.

Ficou claro, não obstante, que nenhum dos dois

textos de Viena diz da imunidade daquele que, naprática corrente, é o réu preferencial, ou seja, opróprio Estado estrangeiro. Com efeito, o que nosevidencia a observação da vida judiciária é que rarasvezes alguém intenta no Brasil um processo contra a

pessoa de um diplomata ou cônsul estrangeiro. O que

mais vemos são demandas dirigidas contra a pessoajurídica de direito público externo, contra o Estadoestrangeiro. Essas demandas, quando não têm índoletrabalhista - o que ocorre em mais de dois terços doscasos - têm Índole indenizatória e concernem àresponsabilidade civil. Quanto a esta imunidade - a do

Estado estrangeiro, não mais a dos seus representantescobertos pelas Convenções de Viena -, o que dizia estaCasa outrora, e se tornou cristalino no começo da

década de setenta? Essa imunidade não está prevista nostextos de Viena, não está prevista em nenhuma forma

escrita de direito internacional público. Ela resulta,entretanto, de uma antiga e sólida regra costumeira doDireito das Gentes. (...)." (grifei)

Mesmo, porém, que não se fizesse essa distinção (que se

revela necessária, contudo) , ainda assim caberia uma observação

referente aos denominados "privilégios diplomáticos e consulares".

Sabemos que as Convenções de Viena sobre Relações

Diplomáticas (1961, Artigos 23, 34 e 36) e sobre Relações Consulares

(1963, Artigos 32, 49, 50, 60, 62 e 66) instituiram, em favor das

Missões Diplomáticas e das Repartições Consulares, as prerrogativas

e privilégios, dentre outras, a garantia de intributabilidade, cuja

incidência, no entanto, depende da observância da cláusula de

reciprocidade ("do ut des"), a significar, portanto, que as

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19

encontram afetados a um serviço público de outro

Estado, por pertencerem ou estarem na posse de pessoas

a seu serviço.

Poderia parecer contraditório que, aos Estados,

fossem concedidas menos imunidades que a seus

representantes em outros Estados; contudo, é o que

passa, tendo em vista que as imunidades concedidas aos

representantes são tradicionais, muito bem definidas

pelos usos e costumes e pelas normas multilaterais

escritas, conforme já expusemos, e que aquelas

eventualmente concedidas aos Estados são fenômenos

modernos, em que o consenso dos Estados ainda é muito

fluido. O que deve ser evitado, nesse campo, é o erro

de transporem—se regras das citadas Convenções de Viena

de 1961 (sobre Relações Diplomáticas) e de 1963 (sobre

Relações Consulares) , para situações em que o próprio

Estado diretamente se encontra envolvido com

particulares, diante de tribunais de outros Estados."

(grifei)

É importante assinalar, a esse respeito, que o Supremo

Tribunal Federal, ao julgar a Apelação Civel n° 9.696/SP, Rei. Min.

SYDNEY SANCHES (RTJ 133/159-170), também fez essa distinção, como se

depreende do voto então proferido pelo eminente Ministro FRANCISCO

REZEK (RTJ 133/164-168):

"Esta Casa vinha sistematicamente proclamando que

duas linhas de imunidade de jurisdição, fluentes do

direito internacional público contemporâneo, alcançam,

grosso modo, a representação dos Estados estrangeiros

no território da República.

Numa primeira vertente temos as imunidades pessoais

resultantes das duas Convenções de Viena, de 1961 e

1963, ambas promulgadas no Brasil, relacionada a

primeira com o serviço diplomático, e a segunda com o

serviço consular. Quando se cuide, pois, de processo

penal ou cível onde o pretendido réu seja membro do

corpo diplomático estrangeiro aqui acreditado - ou

ainda, em determinadas hipóteses, do serviço consular

estrangeiro -, opera em sua plenitude o direito

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«oeaa-^s, ■ ™ ----- 22

destinação diplomática e/ou consular (requisito de

expropriabilidade) , de modo a ensejar—se o regular prosseguimento,

perante órgão competente do Poder Judiciário nacional (o Supremo

Tribunal Federal, na espécie), do processo de execução instaurado

contra determinada soberania estrangeira.

SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Vossa Excelência

afasta, portanto, a idéia relativa ao principio da imunidade

tributária, consideradas as soberanias?

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Afirmo que esse

principio não ostenta caráter absoluto, de tal modo que, comprovado,

pelo credor, que os bens pertencentes ao Estado estrangeiro não

guardam vinculação com as atividades diplomáticas e/ou consulares,

legitimar-se-á, então, nessa particular situação, a instauração,

contra essa soberania estrangeira, do concernente processo de

execução.

Sendo assim, e tendo em consideração as razões

expostas, peco vênia para dar provimento ao presente recurso, em

ordem a propiciar, à parte ora recorrente, restabelecido o curso

normal do processo de execução, a possibilidade de indicar, a este

Tribunal, a existência, em território brasileiro, de bens

pertencentes ao Estado estrangeiro que não se achem vinculados,

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cr- 21ACO 633-AaR / SP CJu/ire/n-o ç^/m/hmi-o/ QjÁea&faf

autoridades brasileiras deverão dispensar, em nosso Pais, àquelas

representações e repartições estrangeiras, o mesmo tratamento que o

Estado a que se acham vinculadas dispensar, em seu próprio

território, às Missões Diplomáticas e às Repartições Consulares nele

mantidas pelo Brasil.

Caberá, portanto, à União Federal, presente o contexto

subjacente a este processo de execução, demonstrar, ao Supremo

Tribunal Federal, que o ora executado não proporciona, em seu

próprio território, ao Brasil, o exercício dessa mesma garantia de

intributabilidade, em ordem a tornar possível, desde que configurado

eventual tratamento discriminatório, a aplicação, na espécie, da

cláusula de reciprocidade.

É^ por esse motivo, Senhores Ministros, que entendo, com

toda a vênia, sem desconhecer a extrema delicadeza de que se reveste

a questão pertinente à intangibilidade dos bens titularizados por

soberanias estrangeiras (GUIDO FERNANDO SILVA SOARES, "Das

Imunidadas de Jurisdição e de Execução", 1984, Forense, v.g.), que

se deve permitir, ao credor exeqüente (à União Federal, no caso), em

situações como a que ora se examina, a possibilidade de comprovar

que existem, em território brasileiro, bens passíveis de constrição

judicial, pertencentes ao Estado estrangeiro que figura como devedor

executado, desde que tais bens não se mostrem impregnados de

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rstt/t

24

09/02/2006 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

VISTA

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Sra. Presidente,

fiquei bastante seduzido, teórica e dogmaticamente, pelo voto do

eminente Ministro Celso de Mello. Tenho, também, uma preocupação um

pouco maior de focar o tema da imunidade de jurisdição relativamente

aos Estados estrangeiros, seja no plano da cognição, seja no plano

da execução, de extrair o fundamento jurídico das nossas decisões

não apenas dos tratados internacionais, não apenas dos costumes, mas

extrair da própria Constituição Federal, mas de perto avanço do

principio constitucional que rege as relações internacionais do

Brasil (art. 4o) que proclama a igualdade entre os estados. A partir

dai, penso ser possível uma teorização mais dogmática, mais

assentada na própria Constituição.

Peço vista dos autos para ter oportunidade de fazer

essa inflexão.

STF 102.002

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23ACO 633-AgR / SP <£fy™»° dfcáuneá d&cüya/

institucionalmente, aos respectivos serviços diplomáticos e/ou

consulares, satisfazendo-se, desse modo, a exigência de

expropriabilidade, sem prejuízo, ainda, de a União Federal comprovar

que o Estado estrangeiro em questão não dispensa, em seu próprio

território, ao Brasil, a prerrogativa da imunidade tributária.

É o meu voto.

19

STF 102.002

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AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

VOTO - YJL§TA

O SENHOR MINISTRO CARLOS AYRES BRITTO

Trata-se de agravo regimental contra decisão que, em sede

de ação cível originária, negou seguimento a execução fiscal contra

o Consulado Geral da República da Coréia. Execução, aclare-se, de

multa incidente sobre o não-pagamento de Imposto de Importação. Já a

decisão agravada, esta se louvou em precedentes desta egrégia Corte,

segundo os quais "o Estado estrangeiro detém a imunidade de

jurisdição prevista nas Convenções de Viena de 1961 e 1963" (fls.

32) .

2. Tal entendimento foi mantido pela eminente Relatora,

Ministra Ellen Gracie, que negou provimento ao agravo. No mesmo

sentido votaram os Ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Cezar

Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence. Foi

quando o Ministro Celso de Mello abriu divergência, a partir de

fundamentos que me animaram a pedir vista dos autos.

3. Antes de proferir meu voto, porém, informo que a União

somente agravou porque o Superior Tribunal de Justiça, no tocante às

execuções fiscais movidas pelos Municípios contra Estados

STF -02 005

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25

PLENÁRIO

EXTRATO DE ATA

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1

PROCED.: SÃO PAULO

RELATORA : MIN. KLLEN GRACIE

AGTE.(S): UNIÃO

ADVDA.: PFN - TEREZINHA BALESTRIM CESTARE

AGDO.(A/S): CONSULADO GERAL DA REPÚBLICA DA CORÉIA

Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Ellen Gracie

(Relatora), negando provimento ao agravo regimental, no que foiacompanhada pelos Senhores Ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa,

Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence, e

do voto do Senhor Ministro Celso de Mello, dando-lhe provimento, nos

termos do voto que proferiu, pediu vista dos autos o Senhor Ministro

Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Nelson

Jobim (Presidente). Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie

(Vice-Presidente). Plenário, 09.02.2006.

Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie (Vice-

Presidente) . Presentes à sessão os Senhores Ministros Sepúlveda

Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar

Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando

Barros e Silva de Souza.

STF 102 002

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/-iôi//ia/

"São fisicamente invioláveis os locais da

missão diplomática, com todos os bens ali situados,

assim como os locais residenciais utilizados pelo

quadro diplomático e pelo quadro administrativo e

técnico. Esses imóveis, e os valores mobiliários

neles encontráveis, não podem ser objeto de busca,

requisição, penhora ou medida qualquer de execução"

(in "DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO", Saraiva, 10a

edição, 2005, pág. 170).

7. A contrario sensu, os bens de pais estrangeiro, não

vinculados ao serviço dos respectivos quadros diplomático,

administrativo, ou técnico, podem ser objeto, sim, de constrição

judicial, isso já aconteceu contra o nosso País, quando acionado em

outros Estados soberanos, conforme pontuou o Ministro Celso de

Mello. Casos, disse ele, do IBC e do Lloyd Brasileiro, cujos bens se

tornaram objeto de alienígena execução judicial.

8. Foi exatamente esse registro que suscitou em mim a

questão jurídica da reciprocidade. Questão assim tematizada pelo

sempre lembrado Celso de Albuquerque Mello (em CURSO DE DIREITO

INTERNACIONAL PÚBLICO, 1° volume, 15a edição, 2004, pág. 100):

O principio da reciprocidade não é novo e é

encontrado em tratados que datam dos séculos XII e

XIII. Ele tem dominado a vida jurídica internacional,

3

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27

estrangeiros, fixou orientação contrária à do Supremo Tribunal

Federal. Assentou aquela Corte, nos últimos julgados, que "Dão se

pode alegar imunidade absoluta de soberania para não pagar impostos

e taxas cobrados em decorrência de serviços específicos prestados ao

Estado estrangeiro".

4. Foi além a agravante, para sustentar que houve

desrespeito aos incisos II e III do art. 88 do CPC. Pelo que a

imunidade de jurisdição não se aplicaria aos "atos de gestão",

praticados por Estado estrangeiro.

5. A tese fazendária, conforme já anotei, foi rechaçada

pelos sete primeiros votos exarados na Sessão do dia 09.02.2006. Já

o Ministro Celso de Mello, após relembrar a evolução jurisprudencial

sobre o tema, expressou o entendimento de que se deve dar à

exeqüente a oportunidade de demonstrar a existência de bens que,

embora pertencentes ao executado, não se acham vinculados aos

serviços diplomáticos ou consulares. Pois o certo é que, nesses

casos, há de prosseguir a execução.

6. No ponto, o Ministro Celso de Mello evocou o

magistério de Francisco Rezek, ministro aposentado desta nossa

Corte, para quem somente os bens afetados às atividades diplomáticas

e consulares é que se encontram protegidos contra a penhora ou

medida congênere, em face da inviolabilidade que lhes asseguram as

Convenções de Viena, anos de 1961 e 1963. Daí a lição do emérito

publicista:

2 . _-■ '

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W/YV<7V 30

11. Ora bem, se a práxis internacional se marca pelo

principio da reciprocidade e pela distinção entre atos de simples

gestão administrativa e atos de verdadeira soberania, para somente

imunizar estes últimos quanto a medidas judiciais externas de

cobrança de divida e eventuais constrições de ordem processual, como

negar ao Brasil esse poder-dever de conformar sua jurisdição, na

matéria, aos padrões internacionais de justiça? Se a soberania, no

plano externo, é exatamente o poder de protagonizar relações

jurídicas em pé-de-igualdade com as demais pessoas de direito

público externo, organizadas sob a forma de Estado? A implicar,

portanto, reciprocidade de tratamento para situações idênticas?

12. É certo que, em tese, não se tem parâmetros

absolutamente seguros para se dizer quando um consulado ou quando

uma embaixada estrangeira faz de sua atuação administrativa um meio

necessário à realização das chamadas "relações jurídicas

internacionais" (estas, sim, uma genuína expressão de soberania

externa). Como também não se tem prévia certeza de quando o

patrimônio, a renda ou os serviços de qualquer das duas instituições

mantêm com a finalidade de cada uma delas uma relação de inerência,

ou, então, de natural defluência. Mas daí a obstar que eventual

credor, público ou privado, tenha a oportunidade jurisdicional de

sindicar as coisas para distingui-las nesse plano da finalidade ou

afetação. . . vai uma grande distância!

STF «02 002

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29

sendo aplicado tanto no caso de respeito às normas

internacionais, como no caso de violação. A

"reciprocidade é a medida da igualdade", que é

"obtida por reação", ou seja, ela "é a igualdade

dinâmica"(E. Decaux). A sua finalidade é atingir um

"equilíbrio". A fim de que ele funcione é necessário

como pressuposto aceitar o "outro" como sujeito de

direito. Ela está "na fronteira do fato e do direito"

e possui uma natureza "política, jurídica e lógica"

(E. Decaux).

(■■■)"

9. Com efeito, a reciprocidade de tratamento entre

Estados soberanos não é outra coisa senão o principio da igualdade

internacional posto em ação. Principio que a nossa Constituição de

1988 proclama como regente das relações externas que o Brasil venha

a protagonizar, conforme se lê do inciso V do art. 4o. Dai o

comparecimento dela, reciprocidade, como intransigente condição para

o atendimento de pedidos de extradição de não-brasileiros sob formal

acusação de prática de crime em território estrangeiro (art. 76 da

Lei 6.815/80, configuradora do Estatuto do Estrangeiro).

10. Em palavras outras, os Estados são juridicamente

iguais. Desfrutam de iguais direitos e de igual capacidade para

exercê-los. Reversamente, suportam deveres que também se

caracterizam pelo timbre da equivalência.

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/r *'"

Ainda que essas relações ocorram pela mediação entre tais Estados e

os respectivos cidadãos que venham a atuar no palco das relações

jurídicas de direito internacional privado.

15. Por tudo quanto explanado, também dou provimento ao

recurso para que a execução tenha continuidade. Isto, para o

especifico fim de conferir à União a possibilidade de demonstrar a

existência de bens funcionalmente desvinculados dos serviços

regulares do Consulado Geral da República da Coréia. Por isso mesmo,

bens suscetiveis de constrição judicial.

É como voto.

**********************

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13. Nesse fluxo de idéias, penso que duas outras

passagens da nossa Constituição têm especial serventia. A primeira

delas é a que faz clara diferenciação entre o agir oficial e o

comportamento simplesmente privado do agente público. Isto para

dizer que a responsabilidade patrimonial objetiva do Estado somente

se configura quando seus agentes, atuando nessa qualidade, causarem

danos a terceiros (§ 6o do art. 37). Estatuição que nos parece

legitimar as distinções aqui tantas vezes encarecidas, ao menos

quanto ao tema da afetação do patrimônio, da renda e dos serviços

atinentes às embaixadas e aos consulados estrangeiros. Já a

segunda passagem, esta reside no § 2o do art. 150, que, mesmo

estendendo a regra da imunidade de impostos a autarquias e fundações

públicas, somente o faz quanto "ao patrimônio, a renda e aos

serviços vinculados a suas finalidades essenciais ou dela

decorrentes". A também patentear que a finalidade das coisas não se

constitui num indiferente jurídico, mas, ao contrário, é fator que

vai servir de critério para a incidência da benfazeja regra da

imunidade em causa.

14. Em síntese, assim como a inviolabilidade material e a

imunidade processual apenas se reportam aos agentes diplomáticos e

consulares enquanto agentes mesmos, também a imunidade de impostos

somente deve recair sobre o patrimônio, a renda e os serviços

afetados à própria razão-de-ser das embaixadas e consulados como

espaço de institucionalizadas relações entres Estados soberanos.

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ACO 633-AgR / SP

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - O Brasil já sofreu

constrição no exterior.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Hoje a chamada

diplomãtie marchande substitui, na prática, a diplomacia

tradicional. Nos grandes países como os Estados Unidos, as

embaixadas são mais escritórios comerciais do que embaixadas

propriamente ditas.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE E RELATORA) -

Ministro Ricardo Lewandowski, receio apenas que o Brasil se destaque

no concerto das nações como país hostil às legações estrangeiras. A

solução alvitrada ensejará toda uma série de demandas judiciais para

definir-se, afinal, se o bem X ou Y está afetado ou não à atividade

diplomática.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Se me permite

Vossa Excelência, impressionou-me o argumento do eminente Ministro

Celso de Mello no sentido de não haver a menor reciprocidade com

relação aos demais países. Eu concordaria com a imunidade total e

absoluta se o país requerente nos desse a reciprocidade. Parece-me

que, no caso concreto, tal não existe.

O SR. MINISTRO GILMAR MENDES - O Ministro Francisco

Rezek, a propósito dessa questão, já ressaltava que talvez faltasse,

nessa matéria, uma maior energia por parte dos setores competentes

dos órgãos da diplomacia brasileira. Quer dizer, essas questões são

confiadas aos setores técnicos especializados dos órgãos da

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11/04/2007

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Ministro, mas seria

factível?

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - O objetivo é

possibilitar à União a indicação; se esta não conseguir indicar, não

é factível.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - É possível haver um

bem que não esteja, de certa forma, vinculado à atividade do

consulado?

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Discutimos a respeito

na última assentada em que a matéria veio à balha.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - É possível sim.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - No entanto, creio que,

no caso concreto, essa ou aquela embaixada pode dispor de um bem.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Em último

caso, o juiz decidirá se afeta ou não diretamente. De outro lado,

permito-me observar também que, hoje, há legações diplomáticas

extensas, com departamento comercial e uma série de outras

atividades que não são estritamente diplomáticas. Atuali

grandes nações usam a diplomacia mais para incrementar a:

comerciais. Certamente, então, existirão bens que nteo

diretamente vinculados à atividade diplomática stricto sensu\.

enfte, as

relações

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ACO 633-AgR / SP

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Exato.

O SR. MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - A competência

originária, no caso, é nossa: a União contra Estado estrangeiro.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - O juiz irá

decidir.

O SR. MINISTRO GILMAR MENDES - Estamos a discutir, na

verdade, o problema da possibilidade de execução.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE E RELATORA) -

É execução trabalhista.

O SR. MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - É problema da

possibilidade de execução coativa, com penhora, etc.

Lembro-me do brilhante voto do Ministro Celso de

Mello. No entanto, minha dúvida é estarmos a discutir aqui, pelo que

vejo, execução fiscal. A agravante é a União, contra o Consulado

Geral da República da Coréia. Trata-se do Estado da Coréia. No caso,

então, aplica-se o artigo 102, I, "e".

A questão mais comum e mais dramática são as

reclamações trabalhistas.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Lembro-me de que o

Ministro Celso de Mello, na outra assentada, relatou o caso em que

contas bancárias da Embaixada brasileira foram objeto de constrição

em país importante da Europa.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Sim, houve constrição

contra bens brasileiros.

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ACO 633-AgR / SP

diplomacia brasileira ou dos seus correspondentes no exterior. Em

geral, afirma-se, então, a ocorrência de um quadro de abuso. Essa

execução que se vislumbra, porque deferir à magistratura em geral

essa possibilidade é permitir, obviamente, que se façam eleições de

bens .

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - O critério é muito

objetivo: trata-se de saber se o bem está ou não afetado à missão.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE E RELATORA) -

E então a discussão será levada de instância a instância até o

Supremo Tribunal Federal, para que se defina.

O SR. MINISTRO GILMAR MENDES - Novamente.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - O país se

defenderá e dirá que esse bem está afetado à atividade diplomática.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE E RELATORA) -

Em quantos anos, Ministro Ricardo Lewandowski?

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - É vantagem do

devedor discutir anos a questão.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE E RELATORA) -

Há muitas questões na Justiça do Trabalho.

Recebi, neste Supremo Tribunal Federal, representantes

de uma grande nação européia que teve uma propriedade imóvel

penhorada pela Justiça do Trabalho e que iria a leilão.

O SR. MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - Sim, mas o caso é

de execução fiscal da União, pelo que ouvi.

, T I 102 00?

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11/04/2007 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente,

em que pesem os argumentos - que me tocam muito - do Ministro Celso

de Mello, agora lembrados pelo Ministro Carlos Britto, e com reserva

para a possibilidade de repensar o tema, pelo menos por ora e neste

caso acompanho o voto de Vossa Excelênciai^

STF 102.002

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ACO 633-AgR / SP

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Exatamente.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Na Europa, nos Estados

Unidos.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Nos Estados

Unidos, não há contemplação com os devedores, sejam eles quais

forem.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - O princípio da

reciprocidade está nos prejudicando.

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40

11/04/2007 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Senhora

Presidente, também fico vencido, porque reformulo o meu voto.

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39

11/04/2007 TRIBUNAL PLENO

AQ.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, acompanho a divergência, data venla, com as ressalvas

que foram expressamente consignadas.

******

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42

\ PLENÁRIO

\ EXTRATO DE ATA

j AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1i PROCED.: SÃO PAULO] RELATORA : MIN. BLLEN GRACIE| AGTE.(S): UNIÃO

j ADVDA.: PFN - TEREZINHA BALESTRIM CESTARE

I AGDO.(A/S): CONSULADO GERAL DA REPÚBLICA DA CORÉIA

Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Ellen Gracie

(Relatora), negando provimento ao agravo regimental, no que foi

acompanhada pelos Senhores Ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa,

Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence, e

do voto do Senhor Ministro Celso de Mello, dando-lhe provimento, nos

termos do voto que proferiu, pediu vista dos autos o Senhor Ministro

Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Nelson

Jobim (Presidente). Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie(Vice-Presidente). Plenário, 09.02.2006.

Decisão: O Tribunal, por maioria, nos termos do voto

da Relatora, Ministra Ellen Gracie (Presidente) , negou provimento" aoagravo regimental, vencidos os Senhores Ministros Joaquim Barbosa,

Cezar Peluso, Celso de Mello (que votara na assentada anterior),

Carlos Britto e Ricardo Lewandowski. Reformularam os votos os

Senhores Ministros Joaquim Barbosa e Cezar Peluso. Ausente,

justificadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello. Plenário,11.04.2007.

Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie.

Presentes à sessão os Senhores Ministros Sepúlveda Pertence, Marco

Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim

Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando

Barros e Silva de Souza.

/"■

../ . Luiz Tomimatsu

J ' Secretário

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11/04/2007 TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 633-1 SÃO PAULO

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

também fico vencido, porque reformulo o meu voto.