guia da advocacia sustentável

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    APRESENTAO

    INTRODUO

    NOTA DO REVISOR TCNICO

    AGRADECIMENTOS

    CAPTULO I GESTO PARA A SUSTENTABILIDADE

    1. A Aplicao dos Princpios Socioambientaise a Importncia dosStakeholders

    2. Os impactos das decises e atividades na Gesto Sustentvel

    3. A implementao e a integrao da Responsabilidade Socialem toda a organizao

    4. O exerccio da inuncia da Sociedade de Advogados

    5. A importncia da comunicao

    6. O monitoramento do desempenho das prticas sustentveis

    7. Iniciativas de Responsabilidade Social no mundo

    CAPTULO II - GOVERNANA ORGANIZACIONAL

    1. Noes Introdutrias

    1.1. Natureza da Governana Organizacional no contextoda Norma ISO 26000

    1.2. Conceito de Governana e sua aplicao s Sociedadesde Advogados

    2. Princpios a serem observados pelas Sociedades deAdvogados no contexto da Responsabilidade Social

    2.1. Prestao de contas e Responsabilidade

    2.2. Transparncia

    2.3.Comportamento tico

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    2.4. Respeito pelos interesses dos stakeholders

    2.5. Respeito pelo Estado de Direito

    2.6. Respeito pelas normas internacionais de comportamento

    2.7. Respeito pelos Direitos Humanos

    3. Sugestes de medidas prticas que podemser implantadas pelas Sociedades de Advogados

    3.1. Breves ponderaes

    3.2. Sugestes de medidas prticas

    CAPTULO III - DIREITOS HUMANOS1. Noes Introdutrias

    2. Questes de Direitos Humanos a serem observadaspelas Sociedades de Advogados no contextoda Responsabilidade Social

    2.1. Diligncia Devida

    2.2. Situaes de Risco para os Direitos Humanos

    2.3. Evitar Cumplicidade

    2.4. Resoluo de Queixas

    2.5. Discriminao e Grupos Vulnerveis

    2.6. Direitos Civis e Polticos

    2.7. Direitos Econmicos, Sociais e Culturais

    2.8. Direitos Fundamentais no Trabalho

    3. Sugestes de medidas prticas que podem ser implantadaspelas Sociedades de Advogados

    3.1. Breves ponderaes

    3.2. Sugestes de medidas prticas

    CAPTULO IV PRTICAS DE TRABALHO

    1. Noes Introdutrias

    1.1. Os Direitos do Trabalhador e as Sociedades de Advogados

    2. Questes sobre Prticas de Trabalho a serem observadaspelas Sociedades de Advogados no contexto daResponsabilidade Social

    2.1. Trabalho Decente

    2.2. Direitos fundamentais do trabalho

    2.3. Eliminar a discriminao em relaoao emprego e ao trabalho

    3. Sugestes de medidas prticas que podemser implantadas pelas Sociedades de Advogados

    CAPTULO V MEIO AMBIENTE

    1. A temtica ambiental na Norma ISO 26000

    1.1. Preveno da Poluio

    1.2. Uso Sustentvel de Recursos

    1.3. Mudanas Climticas

    1.4. Habitats Naturais

    2. Insero das Sociedades de Advogados na temticaambiental da Norma ISO 26000

    3. Sugestes de medidas prticas que podemser implantadas pelas Sociedades de Advogados

    CAPTULO VI - PRTICAS LEAIS DE OPERAO1. Noes Introdutrias

    2. Princpios e Questes sobre Prticas Leaisde Operao a serem observados pelas Sociedadesde Advogados no contexto da Responsabilidade Social

    2.1. Prticas Anticorrupo

    2.2. Envolvimento poltico responsvel

    2.3. Concorrncia leal

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    2.4. Promoo da responsabilidade social na cadeia de valor

    2.5. Respeito ao direito de propriedade

    3. Sugestes de medidas prticas que podem ser implantadaspelas Sociedades de Advogados

    CAPTULO VII - QUESTES RELATIVAS AO CONSUMIDOR

    1. Noes Introdutrias

    1.1. Contextualizao: O consumo conscientee sua relao com a sustentabilidade

    1.2. Princpios para as Organizaes em relaoaos Direitos do Consumidor

    1.2.1. Satisfao de necessidades bsicas

    1.2.2. Segurana

    1.2.3. Informao

    1.2.4. Liberdade de escolha

    1.2.5. Ser ouvido

    1.2.6. Indenizao

    1.2.7. Educao para o consumo

    1.2.8. Ambiente saudvel

    1.2.9. Demais diretrizes gerais aplicveis ao consumidor,como o direito privacidade, abordagem preventiva, promoo

    da igualdade de gnero e a promoo de design universal2. Questes a serem observadas pelas Sociedadesde Advogados no contexto da Responsabilidade Social

    3. Sugestes de medidas prticas que podemser implementadas pelas Sociedades de Advogados

    CAPTULO VIII - ENVOLVIMENTOE DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE

    1. Noes Introdutrias

    2. Princpios e Questes Fundamentais a serem consideradospelas organizaes em relao ao Envolvimento com asComunidades e seu Desenvolvimento

    2.1 Educao e Cultura

    2.2. Gerao de Emprego e Capacitao

    2.3. Desenvolvimento Tecnolgico e Acesso s Tecnologias

    2.4. Gerao de Riqueza e Renda2.5. Sade

    2.6. Investimento Social

    3. Sugestes de medidas prticas que podem serimplementadas pelas Sociedades de Advogados

    3.1. Breves ponderaes

    3.2. Sugestes de medidas prticas

    APRESENTAO INSTITUCIONAL DO CESA

    APRESENTAO INSTITUCIONALDO INSTITUTO PRO BONO

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    A elaborao deste Guia teve por objetivo fomentar a reexo das Sociedadesde Advogados em torno das diretrizes da Norma ISO 26000, a m de incenti-var a realizao de suas atividades cotidianas de modo sustentvel.

    O Guia foi elaborado por um grupo de Associadas integrantes do Comit de Advo-cacia Comunitria e Responsabilidade Social1do CESA e pelo Instituto Pro Bono,no mbito de termo de parceria rmado entre as duas instituies, em dezembrode 2009. Desde ento, ambas tm conjugado esforos para identicar, desenvol-ver e difundir diretrizes e boas prticas que auxiliem as Sociedades de Advogadosa elaborar suas polticas internas de advocaciapro bono e, de modo mais amplo,de responsabilidade social, estabelecendo um novo patamar para o exerccio daadvocacia no Brasil. O presente documento fruto desse trabalho conjunto.

    As instituies optaram por utilizar como base para elaborao do Guia aNorma ISO 26000, uma vez que esta apresenta de forma abrangente con-ceitos, princpios, prticas e temas da responsabildiade social para todos ostipos de organizaes.

    Durante os anos de 2009, 2010 e 2011 o Comit de Advocacia Comunitriae Responsabilidade Social promoveu estudos e debates sobre a Norma ISO

    26000, tendo identicado que os princpios e a viso constantes da referidaNorma so convergentes aos anseios das Sociedades de Advogados interes-sadas em ter acesso a um roteiro que as estimule a adoo de prticas socio-ambientais na sua atuao prossional.2

    1 Rubens Naves, Santos Jr., Hesketh Escritrios Associados de Advocacia - Instituto Pro Bono-Mattos Filho, Veiga

    Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados - Demarest & Almeida Advogados L.O Baptista Advogados Associados

    - Tozzini Freire Advogados.

    2 O conceito de responsabilidade social segundo a Norma ISO 26000 o da responsabilidade de uma organizao pelos

    impactos de suas decises e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento tico e trans-

    parente que contribua para o desenvolvimento sustentvel, inclusive a sade e bem estar da sociedade

    Apresentao

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    Guia da Advocacia sustentvel

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    O resultado do trabalho est representado neste Guia da Advocacia Sus -tentvel seguindo a estrutura geral da Norma ISO 26000, com orientaessobre gesto para a sustentabilidade e foco em sete temas centrais, a saber:

    Governana Organizacional Direitos Humanos Prticas de Trabalho Meio Ambiente Prticas Leais de Operao Questes relativas ao Consumidor Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

    A Norma ISO 26000 fornece orientaes sobre prticas socialmente respon-sveis e formas de integrar o comportamento das organizaes com as suasestratgias, sistemas, prticas e processos existentes.

    Reconhecendo que as organizaes se encontram em diferentes estgios deamadurecimento, entendimento e integrao da responsabilidade social, aNorma ISO 26000 foi concebida para ser utilizada tanto pela organizaoque comea a abordar o tema da responsabilidade social, como por aquelamais experiente em sua implementao.

    A responsabilidade social envolve a adoo de uma abordagem integrada de ges-to das atividades e impactos da organizao. Talvez no seja possvel para a or-ganizao remediar imediata e completamente todas as externalidades negativasde suas decises e atividades, para o meio ambiente e para a sociedade, sendonecessrio estabelecer prioridades em relao ao tema e tomar decises.

    O Comit de Advocacia Comunitria e Responsabilidade Social partiu da sis-tematizao dos conceitos e das diretrizes oferecidas pela Norma ISO 26000e, ao tratar dos temas centrais com impacto direto nas prticas socialmenteresponsveis das organizaes, visa motivar as Sociedades de Advogados acaminhar rumo sustentabilidade.

    Boa leitura e bom trabalho!

    Introduo

    IPB

    Instituto Pro BonoCESA

    Centro de Estudos dasSociedades de Advogados

    Antes de almejar tornar-se uma Sociedade de Advogados sustentvel neces-srio primeiramente conhecer o que se entende por sustentabilidade. O conceitode Desenvolvimento Sustentvel foi apresentado pela primeira vez em 1987 pelaComisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento como o desenvolvi-

    mento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidadedas futuras geraes de suprir suas prprias necessidades. O desenvolvimentosustentvel possui trs dimenses a ambiental, a social e a econmica, as quaisso interdependentes. O objetivo do desenvolvimento sustentvel atingir umestado de sustentabilidade para a sociedade como um todo e para o planeta.3

    A partir do nal dos anos 90, este conceito passou a ser aplicado em diver-sas reas do conhecimento e pela sociedade em geral. Atualmente fala-se deplanejamento nanceiro sustentvel, organizao institucional sustentvel,economia sustentvel, entre tantos exemplos.

    Existe um grande nmero de ferramentas criadas em vrias partes do mun -do que objetivam consolidar o conceito de sustentabilidade. Atualmente, afonte mais legtima sobre o tema a Norma ISO 26000, elaborada pelo Gru-po de Trabalho de Responsabilidade Social da International Organizationfor Standardization(ISO/TMB WG SR), foi desenvolvida por um processo

    multi-stakeholder envolvendo mais de 450 especialistas de 99 pases e 42 or-ganizaes internacionais, oriundos de diferentes grupos de partes interessa-das como consumidores, governo, indstria, trabalhadores, organizaes nogovernamentais (ONGs), de servios, suporte, pesquisa, academia e outros.

    Referida Norma, que tem carter voluntrio e no est vinculada a qualquertipo de certicao, considerada como um guia de diretrizes e recomenda-es para as organizaes que desejam incorporar consideraes socioam-bientais em seus processos decisrios e a responsabilizao pelos impactosde suas decises na sociedade e no meio ambiente.

    3 Item 3.3.5 da ISO 26000.

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    Introduo

    A Norma ISO 26000 consigna ainda um alerta, diferenciando a expressocoloquial ser sustentvel e o que efetivamente uma organizao que buscaa sustentabilidade pode fazer.

    As decises e atividades da organizao socialmente responsvel podem

    trazer uma contribuio signicativa para o desenvolvimento susten-

    tvel. O objetivo do desenvolvimento sustentvel atingir um estado de

    sustentabilidade para a sociedade como um todo e para o planeta. No

    diz respeito sustentabilidade ou viabilidade permanente de uma orga-

    nizao especca. A sustentabilidade de uma determinada organizao

    poder ou no ser compatvel com a sustentabilidade da sociedade como

    um todo, a qual obtida ao lidar-se com aspectos sociais, econmicos e

    ambientais de uma maneira integrada.4

    Nesse contexto, nos termos da Norma ISO 26000, para ser sus-tentvel necessrio incorporar gesto de um empreendimen -to um conjunto de prticas que visem simultaneamente ao bomdesempenho econmico do empreendimento, melhoria da so-ciedade e conservao do equilbrio ambiental. O passo funda-mental para que uma organizao alcance tal condio ter uma gestosocialmente responsvel.

    Neste Guia e coerentemente com o que se passa no cotidiano da maioriade seus usurios a condio de ser sustentvelno deve ser entendidaliteralmente, mas como o equivalente de que contribue para o desenvolvi-mento sustentvel. Assim, a Sociedade de Advogados sustentvel deve serentendida como aquela que, em suas atividades cotidianas, incorpora valorese aes que contribuem com a sustentabilidade, mesmo que haja um longo

    caminho a percorrer.

    Como aponta a referida Norma, o compromisso com a sustentabilidade en -globa as atividades internas de uma organizao e tambm as dos que seencontram em sua cadeia de valor. Portanto, a ateno das Sociedades deAdvogados que pretendem ser sustentveis deve incluir tambm a relaocom fornecedores, parceiros, empresas, comunidade, meio ambiente, entreoutros. No se trata apenas de adotar prticas sustentveis, mas tambm deinduzir sua adoo por toda sua esfera de inuncia.

    4. Seo 3.3.5 da Norma ISO 26000/2010.

    Atualmente, ter uma postura sustentvel uma premissa para se fazer com-petitivo frente aos escritrios (ou empresas) melhor estruturados e concei -tuados em um mercado global, em que boas prticas so fundamentais porestarem diretamente relacionadas com a tica, a transparncia e a proteoao meio ambiente. Nesse sentido, a mentalidade em prol da sustentabili-dade pode ser um diferencial para a escolha de um escritrio de advocaciapelo cliente de hoje em dia.

    A Sociedade de Advogados deve ter como misso precpua a sua atuaodentro de padres ticos, morais, transparentes e viveis economicamente,respeitando a qualidade de vida de seus colaboradores, preservando o meioambiente e atingindo seus objetivos enquanto empreendimento.

    Um grande desafio das Sociedades de Advogados nessa nova era o dedifundir na sociedade a viso e a cultura de responsabilidade socioam-bientral atuando dentro dos parmetros da governana corporativa e daaccountability, e com pleno comprometimento pela melhoria das condi -es de vida de todos. Agindo assim, as Sociedades de Advogados, alm depraticar atividade indispensvel administrao da justia e prestar ser-vios de relevante funo social, estaro desempenhando seu papel comoverdadeiros agentes de transformao.

    Comit de Advocacia Comunitria e Responsabilidade Social doCESA

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    NOTA DO REVISOR TCNICO

    Ao lanar este guia, o CESA Centro de Estudos das Sociedades de Advogadosvisa atender crescente demanda dos escritrios de advocacia e dos prossionaisdesta rea sobre informaes relativas sustentabilidade e demais temas a elarelacionados, como a responsabilidade social e ambiental, entre outros.

    Neste trabalho, o CESA buscou uma combinao entre, por um lado, objetividadee praticidade - requeridas por prossionais que iro somar este tema sua j con-corrida agenda - e, por outro lado, a consistncia tcnica e atualidade necessrias

    para lidar com uma questo emergente, e cuja importncia tende a crescer cadavez mais. Para isso, uniram a experincia e a perspectiva prtica de prossionaisdas Sociedades de Advogados integrantes do Comit de Advocacia Comunitria eResponsabilidade Social do CESA, com os conhecimentos tcnicos de vrias fon-tes sobre o tema, especialmente a Norma ISO 26000, publicada em novembro de2010 e reconhecida mundialmente como a mais atual e completa publicao so-bre gesto socialmente responsvel (ou seja, a gesto voltada sustentabilidade,como a prpria Norma aponta).

    Esta publicao, por isso, reete o trabalho combinado de vrios colaboradores,que dividiram entre si as tarefas de ler diferentes partes da Norma ISO 26000,selecionando dela os aspectos considerados pertinentes para as Sociedades deAdvogados, traduzindo-os em linguagem adequada e combinando-os com outrasfontes aplicveis, e com a experincia e o conhecimento de cada colaborador. Otexto nal foi revisado por consultores especializados na Norma ISO 26000, querealizaram os ajustes essenciais para se manter a consistncia com a aludida Nor-

    ma, porm, respeitando ao mximo o texto original de cada colaborador.

    O resultado, portanto, deve ser visto como um produto novo, do prprio CESA,inspirado e consistente com a Norma de referncia. Aos que desejarem conhecermais sobre a Norma ISO 26000, recomendamos a sua leitura. E a todos deseja -mos uma boa leitura e que o contedo deste Guia possa reetir em seu cotidiano,tanto prossional como pessoal.

    Aron Belinky e Denise Lagrotta

    A todos que colaboraram neste projeto expressamos nosso agra-decimento e, especialmente, a:

    AGRADECIMENTOS

    Integrantes do Comit deAdvocacia Comunitria eResponsabilidade Social do CESA

    REDATORESEduardo PannunzioCludia NadasRubens Naves, Santos Jr., Hesketh

    Escritrios Associados de Advocacia

    Marcos FuchsRaissa GradimInstituto Pro Bono

    Flavia Regina de Souza OliveiraMarcella Maria Thomaz Monteirode Barros T. CoelhoMattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr.

    e Quiroga Advogados

    Luciana TornovskyDemarest & Almeida Advogados

    Eduardo Felipe P. MatiasAna Carolina B. MoraisL.O. Baptista Advogados Associados

    Maria Elisa Gualandi VerriClaudia Elena BonelliTozziniFreire Advogados

    Regina Ribeiro do ValleComisso do Terceiro Setor da OAB/SP

    Adriana Mathias BaptistaThais Cristina TesserTozziniFreire Advogados

    Aron BelinkyDenise Lagrotta

    REVISO TCNICA ISO 26000Aron BelinkyDenise Lagrotta

    COORDENAO GERALEduardo PannunzioRegina Ribeiro do ValleFlavia Regina de Souza OliveiraAna Carolina Gazoni Lopes da Silva

    REVISO FINALAna Carolina Gazoni Lopes da SilvaAndressa Frhlich BorelliRaissa Gradim

    PROJETO GRFICO, DIAGRAMAOE ILUSTRAESPaulica Santos

    IMPRESSO

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    APOIO

    Gesto paraSustentabilidade

    CAPTULO I

    AGRADECIMENTOS

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    1.A Aplicao dos Princpios Socioambientaise a Importncia dos Stakeholders

    A responsabilidade social concretiza valores, conceitos e informaes rele-vantes para que as organizaes, dentro de seu papel original, possam con-tribuir para o desenvolvimento sustentvel. A Norma ISO 26000 consolidouorientaes e diretrizes fundamentais em relao ao tema e por isso foi utili-zada como base desta publicao.

    Para que a Sociedade de Advogados torne-se sustentvel, necessrio, primei-ramente, desejar incorporar consideraes socioambientais em todo o seu pro-

    cesso de gesto e no apenas governana. Para tanto, preciso que a organiza -o aplique os princpios da responsabilidade social em suas rotinas e situaes:(i) responsabilizando-se pelas consequncias de suas aes, com prestao decontas; (ii) adotando comportamento tico e transparente que contribua parao desenvolvimento sustentvel; (iii)agindo em estrita observncia s leis e emconformidade com as normas internacionais de comportamento; (iv)respeitan-do incondicionalmente os direitos humanos e; (v) ouvindo, considerando e res-pondendo aos interesses das partes interessadas (stakeholders)5.

    Neste tpico, apresenta-se um dos principais temas da responsabilidade social: aidenticao e o engajamento de partes interessadas. Pois, a partir do momentoem que as partes interessadas so identicadas que se pode abrir um canal dedilogo (primeiro passo para um processo de engajamento) entre a Sociedade deAdvogados e esses stakeholders.Tal atitude fornece uma base slida e legtimapara a tomada de decises e estrutura da gesto sustentvel.

    O grande desao dar o primeiro passo na direo do dilogo, mas uma veziniciado o processo de engajamento, momento em que se percebe a riquezada troca e do compartilhamento de informaes, verica-se que se tornamais ecaz a implementao e a consolidao gradativa de uma cultura vol-tada para a sustentabilidade.

    5 Conforme a Norma ISO 26000,stakeholderdene-se como indivduo ou grupo que tem um interesse em quaisquer decises

    ou atividades de uma organizao. (Norma ISO 26000/2010, seo 2.20). A ISO 26000, publicada em 2010, inovounesse aspecto, ao incluir na denio de stakeholder apenas a questo dos interesses afetados. No entendimento de

    seus autores, a capacidade de afetar as aes da organizao caracteriza um ator social relevante para a organizao,mas no por causa da sua responsabilidade social, e sim pelos seus prprios interesses (no ser negativamente

    afetada por quem tem tal poder).

    Captulo I

    Para a identicao das partesinteressadas, a Sociedade de Advogadospode se fazer as seguintes perguntas:

    Com quem o escritrio tem obrigaes legais?

    Quem poderia ser positivamente ou negativamenteafetado pelas atividades ou decises do escritrio?

    Quem provavelmente expressar preocupao com

    as decises e atividades do escritrio? Quem se envolveu no passado quando

    preocupaes semelhantes precisaram sertratadas?

    Quem pode ajudar o escritrio a cuidar de impactosespeccos?

    Quem pode afetar a capacidade do escritriode arcar com suas responsabilidades?

    Quem seria desfavorecido se fosseexcludo do engajamento?

    Quem da cadeia de valor afetado?

    2.Os impactos das decises e atividadesna Gesto Sustentvel

    Um nmero crescente de organizaes est se comunicando com suas partes in-teressadas, inclusive produzindo relatrios de responsabilidade social para aten-der s necessidades de seus stakeholdersrelativamente obteno de informa-es sobre o desempenho da organizao. Este um dos fatores que constituemo atual contexto da sustentabilidade e que contribuem para que as organizaesdemonstrem sua responsabilidade social.

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    Captulo I

    Neste contexto, isto signica que os impactos6das decises ou atividades da So-ciedade de Advogados podem ser profundamente afetados por suas relaes comoutras organizaes, incluindo seus pares, concorrentes (cuidando para evitarcomportamento desleal), outras partes da cadeia de valor7ou qualquer outra par-te relevante dentro da esfera de inuncia8da organizao.

    O fato de o escritrio de advocacia ser um fornecedor de servios traz comoconsequncia a sua incluso na cadeia de valor de seus clientes. Em razodisso, uma organizao que esteja comprometida com a responsabilidadesocial ter o cuidado de estabelecer relaes contratuais com organizaesque tambm sejam sustentveis.

    Como ponto de partida, a Sociedade de Advogados pode conhecer a extenso desua responsabilidade social atravs da compreenso de trs esferas de relaesfundamentais: (i)entre a organizao e a sociedade; (ii)entre a organizao esuas partes interessadas e; (iii)entre as partes interessadas e a sociedade.

    A identicao dos impactos socioambientais das decises/atividades do es-critrio pode ser feita por meio de um processo abrangente e proativo (duediligence), que poder incluir, por exemplo: (i)um meio de avaliar como asatividades existentes e as propostas podero afetar os objetivos da organiza-o voltados para o desenvolvimento sustentvel; (ii)um meio de integrar ostemas de responsabilidade social por toda a organizao; e (iii)aes apro-priadas para abordar os impactos negativos de suas decises.

    3. A implementao e a integrao daResponsabilidade Social em toda a organizao

    Alm de todos os aspectos acima abordados, a implementao de uma gestosocialmente responsvel depende da familiaridade com as questes e expecta-tivas relacionadas com os temas centrais abordados nos prximos captulos.

    6 Impacto:mudana positiva ou negativa na sociedade, economia ou no meio ambiente, total ou parcialmenteresultante das decises e atividades passadas e presentes da organizao (Clusula 2, seo 2.15, da Norma ISO26000).

    7 Cadeia de valor:sequncia completa de atividades ou partes que fornecem ou recebem valor na forma de produtos ou servios(Clusula 2, item 2.2, da Norma ISO 26000).

    8 Esfera de inuncia: amplitude/extenso de relaes polticas, contratuais, econmicas ou outras relaes por meio das quaisuma organizao tem a capacidade de afetar as decises ou atividades de indivduos ou organizaes(Clusula 2, item 2.11, daNorma ISO 26000).

    Estes princpios e as questes socioambientais devem ser includos comouma forma de operar todas as atividades da Sociedade de Advogados, e nocomo um assunto parte. Por isso, fundamental que a gesto sustentvelseja iniciada prioritariamente dentro do escritrio,antes mesmo de se reali-zar aes pontuais externas.

    A integrao da responsabilidade social em toda a Sociedade de Advogados podee deve ser feita aproveitando-se processos, estruturas e recursos j existentes, as-sim como desenvolvendo novos, quando necessrio.

    importante ressaltar que para ser praticada, a responsabilidade social deveser previamente compreendida. Isso signica: (i)identicar os aspectos de cada

    um dos temas centrais que sejam mais relevantes e signicantes 9na questo dodesenvolvimento sustentvel; (ii)priorizar tais temas com base nos objetivos enecessidades da organizao, assim como frente aos impactos que ela gera e aosinteresses de suas partes interessadas, que tambm devem participar de todo oprocesso; (iii)avaliar a esfera de inuncia da organizao e os meios de us-lapara disseminar sua responsabilidade social; e (iv)proceder sempre diligente-mente (due diligence).

    Este guia de certa forma j seleciona os aspectos mais relevantes para a apli-cao da responsabilidade social pelas Sociedades de Advogados, porm cadaorganizao tem seus prprios desaos, cultura, diferentes partes interessa-das e sistemas prprios de gerenciamento. Neste sentido, cada organizaotrabalhar com o tema de acordo com sua prpria identidade.

    4.O exerccio da inuncia da Sociedade

    de AdvogadosOutro fator importante dentro da gesto responsvel o exerccio da inu-ncia da organizao, que pode ocorrer sobre outros, tanto para fortalecer osimpactos positivos no desenvolvimento sustentvel, quanto para minimizaros impactos negativos.

    Porm, a responsabilidade social no algo que se estabelece de forma alheia gesto da organizao. Quaisquer aes voltadas sustentabilidade somen-

    9 Relevante: o que de algum modo impactado pela organizao ( sua responsabilidade social)

    Signicante: quanto mais signicativos os impactos, maior a responsabilidade social

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    Captulo I

    te podem ter legitimidade se forem incorporadas viso estratgica e aosprocessos internos. Quando a responsabilidade social levada a todos os as-pectos da Sociedade, ocorre o envolvimento, o comprometimento e a com-preenso por todos os funcionrios, scios, alta direo e demais integrantesda organizao. Da a preferncia pelo termo gesto socialmente respons-vel, em vez de gesto sustentvel.

    Isso fundamental para o fortalecimento e eccia do exerccio da inunciada organizao em relao ao seu papel para o desenvolvimento sustentvel.

    Os lderes da Sociedade de Advogados precisam ser a mudana que elesquerem ver acontecer. Para isso, necessrio querer se comprometer com a

    transformao da Sociedade de maneira a modicar a sua cultura.

    H vrias formas de determinar a direo da organizao rumo responsa-bilidade social. O primeiro passo fazer um autodiagnstico que possa in-dicar em que aspectos torna-se necessrio o aperfeioamento das polticas eprticas da Sociedade e, a partir da, estabelecer um cronograma de aes aserem realizadas.

    Esse um aspecto fundamental, considerando que nos dias atuais a organi-zao representa um importante espao existencial de seus scios e funcio -nrios. As pessoas permanecem grande parte de seu tempo no ambiente detrabalho e nele estabelecem relaes prossionais, interpessoais e institucio-nais de grande relevncia.

    A responsabilidade social da organizao com seu pblico interno efetivamentepraticada mediante (i)reconhecimento e respeito diversidade (pessoas e opi-

    nies); (ii)promoo de condies de bem estar no meio ambiente interno; (iii)estabelecimento de polticas claras de remunerao, benefcios e carreira; (iv)valorizao das competncias; (v)investimento no desenvolvimento pessoal eprossional;(vi)melhoria das condies de trabalho; e (vii) estabelecimento deum canal de dilogo transparente e interativo.

    Assim, seria altamente recomendvel que, antes de iniciar as aes voltadas sustentabilidade propriamente dita, os escritrios primeiramente estruturassemum amplo processo de conscientizao e educao sobre a responsabilidade so-cial para todo o seu pblico interno, at mesmo para o m de poder atuar proati-vamente e auxiliar os seus clientes nessa questo.

    5.A importncia da comunicaoA comunicao um aspecto essencial na prtica da gesto sustentvel, tan-to no que diz respeito imagem da Sociedade de Advogados, quanto no quetange ao dilogo com as partes interessadas (internas e externas).

    por meio da comunicao completa, compreensvel, responsiva, precisa, equi-librada, tempestiva e acessvel que se propiciar: (i)a motivao e o engaja-mento dos scios, associados e funcionrios; (ii)o fortalecimento da reputaoda Sociedade e conana das partes interessadas em relao s aes voltadaspara a sustentabilidade; e (iii)a difuso ampla de informaes e valores.

    Algumas dicas de gesto podem ser teis nesseprocesso, por exemplo:

    Incluir na declarao de viso da Sociedade de Advogadosreferncias sobre a forma pela qual a responsabilidade so-cial inuencia suas atividades, integrando-a, em seguida,nos procedimentos dirios mediante compartilhamentocom seus scios, associados e funcionrios;

    Incorporar em sua misso referncias especcas e claras so-bre aspectos importantes de sustentabilidade, que devemser compatveis com a viso da Sociedade;

    Adotar cdigos de conduta ou de tica por escrito que es-peciquem claramente o compromisso da Sociedade como desenvolvimento sustentvel, de forma que todos os in-tegrantes do escritrio sejam orientados a tomar decisescondizentes com as metas e convices da organizao;

    Incluir a responsabilidade social como um elemento essencialna estratgia da organizao, principalmente na gesto de re-cursos humanos e no meio ambiente interno.

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    Captulo I

    H vrios tipos de comunicao que podem ser utilizados nestas questes,tais como reunies e negociaes com stakeholders, publicaes de artigose reportagens; e divulgao de aes (nesse caso, observando-se o cdigo detica estabelecido pela entidade de classe).

    O resultado do processo de dilogo que se estabelece entre a organizao esuas diversas partes interessadas pode levar a uma reviso das prticas coti-dianas e, consequentemente, a uma gesto mais transparente e democrtica(e, por isso, tambm mais capaz de detectar precocemente mudanas no con-texto e adaptar-se a elas).

    Alm disso, esse dilogo com as partes interessadas uma forma impor-

    tante de aumentar a conana de que os interesses e intenes de todos osparticipantes esto compreendidos no processo, fortalecendo a credibilida-de da organizao.

    Outra forma de a Sociedade de Advogados reforar a sua credibilidade assumin-do compromissos relevantes aos seus impactos, adotando medidas apropriadas,avaliando seu desempenho e relatando seu progresso e suas decincias.

    6. O monitoramento do desempenhodas prticas sustentveis

    O monitoramento permanente das atividades relacionadas responsabilida-de social assegura que o processo de implementao da gesto socialmenteresponsvel esteja ocorrendo conforme o previsto, bem como identica cri-ses e possibilita fazer modicaes que sejam necessrias.

    H muitos mtodos que podem ser utilizados para monitorar o desempe-nho em responsabilidade social, sendo que o mais comum a medio pormeio de indicadores.

    Para reforo da credibilidade nas questes relacionadas responsabilidadesocial, tambm recomendado que a organizao realize anlises peridicasde suas prticas e atividades.

    7.Iniciativas de Responsabilidade Social no mundo

    Muitas organizaes tm desenvolvido iniciativas voluntrias visando a aju-dar outras organizaes a tornarem-se socialmente responsveis. Em algunscasos, uma iniciativa de fato uma organizao criada para tratar expressa-mente de vrios aspectos da responsabilidade social.

    Nesse contexto, por exemplo, foi criado, no ano de 2005, o ndice Boves-pa de Sustentabilidade Empresarial ISE10,cujo objetivo criar umambiente de investimento compatvel com as demandas de desenvolvimen-to sustentvel da sociedade contempornea e estimular a responsabilidadetica corporativa.

    10 Tal ndice constitui uma ferramenta de anlise comparativa da performance das empresas listadas na Bovespa sob o aspecto

    da sustentabilidade, baseada na ecincia econmica, no equilbrio ambiental, na justia social e na governana corporativa.

    Alm disso, utilizado para instruir os interessados em entender melhor e distinguir empresas comprometidas com a sus-

    tentabilidade empresarial e diferenci-las em termos de qualidade, nvel de compromisso, transparncia, desempenho, dentre

    outros fatores relevantes para investidores com preocupaes ticas.

    As seguintes perguntas podem ser formuladaspara um processo de avaliao:

    Os objetivos e as metas foram atingidos como previsto?

    As estratgias e os processos serviram aos objetivos?

    O que funcionou e por qu? O que nofuncionou e por qu?

    Os objetivos foram adequados?

    O que poderia ter sido feito melhor?

    Todas as pessoas relevantesforam envolvidas?

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    Outro exemplo so os Indicadores Ethos de Responsabilidade So-cial11, uma ferramenta de autodiagnstico cuja principal nalidade auxi-liar as empresas a gerenciarem os impactos sociais e ambientais decorren-tes de suas atividades.

    Dentre vrias outras iniciativas, h tambm a ferramenta criada pelo GlobalReporting Iniative GRI,primeira iniciativa em escala mundial que visachegar a um consenso a respeito de uma srie de diretrizes de comunicaosobre a responsabilidade social, ambiental e econmica das empresas.

    Tais iniciativas voluntrias ao redor do mundo representam a forte tendn-cia do mercado rumo gesto sustentvel, tornando-se cada vez mais neces-

    srias a observncia e a aplicao dos princpios e temas da responsabilidadesocial por todas as organizaes.

    A Norma ISO 26000 mais um instrumento que pode ser utilizado pe-las organizaes a m de implementar a gesto socialmente responsvel. Anorma recomenda que a organizao dena o escopo de sua responsabilida-de social abordando, de forma interdependente, os temas centrais que serodescritos e analisados nos captulos a seguir.

    11 Foram criados pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, que uma ONG idealizada em 1998

    por empresrios e executivos oriundos do setor privado.

    GovernanaOrganizacional

    CAPTULO II

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    Captulo II

    1. Noes Introdutrias

    1.1. Natureza da Governana Organizacional no contexto daNorma ISO 26000

    No contexto da ISO 26000, o tema Governana Organizacional possui ca-racterstica diferenciada quando comparada aos outros temas relacionados responsabilidade social, pois alm de representar um tema central sobre oqual as Sociedades de Advogados devem atuar, serve tambm como um meiopara aumentar a sua capacidade de implementar um comportamento social-mente responsvel em relao aos demais temas.

    Sob o prisma da ISO 26000, a transversalidade uma caracterstica intrn-seca da Governana Organizacional, pois, por meio desta, possvel estabe-lecer e implementar polticas, normas ou procedimentos que versem sobreoutros temas centrais que no a prpria governana (direitos humanos, pr-ticas trabalhistas, meio ambiente, prticas leais de operao, dentre outros),tendo por fundamento os princpios que norteiam a responsabilidade social.

    1.2. Conceito de Governana e sua aplicao s Sociedades deAdvogados

    Cada vez mais, em suas relaes com clientes e consumidores, as organizaesesto sendo cobradas quanto a ter um comportamento socialmente respon -svel, tornando-se este um forte elemento de competitividade. Nesse contex-to, no se diferenciam somente pelo preo e qualidade de seus produtos ouservios, mas tambm pela maneira que conduzem seus negcios e a formacomo se relacionam com os diversos pblicos de interesse (stakeholders)12.

    Temas relacionados a transparncia, comportamento tico, sustentabilida-de, respeito aos direitos humanos, prestao de contas e responsabilizao,dentre outros, passam a integrar a agenda (e a estratgia) das organizaes.

    Pode-se relacionar o nvel de responsabilidade social das organizaes pelosvalores e princpios que denem suas prioridades, pelos critrios adotadospara a tomada de decises e pelos relacionamentos com os stakeholders.

    12 Vide Captulo I - nota 05

    O conceito da responsabilidade social se relaciona com a tica e a transpa-rncia na gesto dos negcios e deve reetir nas decises cotidianas quepodem causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dosprprios negcios13.

    Nesse contexto surge a questo da Governana, que tambm traz, dentre ou-tros, reconhecidos benefcios em termos da gesto eciente, ecaz e convelde qualquer organizao.

    A Governana pode ser denida como o sistema pelo qual as organizaesso conduzidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo o relacionamentoentre os rgos de direo e controle e as partes interessadas e/ou afetadas

    por suas atividades14.

    No mbito da Sociedade de Advogados, diz respeito ao conjunto de normas,polticas e prticas pelas quais se conduz e monitora a gesto, contribuindopara uma melhor administrao em benefcio dos diversos pblicos que im-pactam ou so impactados pela atuao da Sociedade (stakeholders), comoos scios, demais colaboradores internos, clientes, Poder Pblico, comuni-dade, entre outros.

    Os sistemas de Governana podem variar dependendo do tipo e porte dasSociedades e do contexto ambiental, econmico, poltico, cultural e socialno qual elas esto inseridas. Nesse sentido, podem os sistemas ser conduzi -dos por uma nica pessoa ou grupo de pessoas (scios, associados, conse-lheiros ou outros) munidos de autoridade e responsabilidade na busca dosobjetivos da Sociedade.

    recomendvel que todas as Sociedades de Advogados, independente da es-trutura de tomada de deciso, adotem um sistema de governana, cujos pro-cessos, mecanismos e estruturas possam reetir a aplicao dos princpios deresponsabilidade social medida que os converta em recomendaes prti-cas e objetivas, de modo a alinhar a sua estratgia aos interesses das partes.

    13 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas

    Empresas Passo a Passo. So Paulo: Ethos, 2003.

    14 Instituto Brasileiro de Governana Corporativa. Cdigo das Melhores Prticas de Governana. Corporativa So Paulo:

    IBGC, 2009. 4 Ed.

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    Guia da Advocacia sustentvel Captulo II

    2. Princpios a serem observados pelasSociedades de Advogados no contextoda Responsabilidade Social

    As estruturas e os processos de tomada de deciso que conduzem responsabili-dade social so aqueles que promovem o uso prtico dos seguintes princpios:

    2.1. Prestao de contas e Responsabilidade: este princpio impe Governana, alm da obrigao de prestar contas aos seus scios e s au -toridades legais, a responsabilizao da Sociedade perante aqueles afetadospelos impactos de suas decises e atividades. Decorre deste princpio o con-

    ceito de accountable, ou seja, a assuno de responsabilidade por decisese pelas consequncias decorrentes de suas aes e omisses 15. A ISO 26000considera que a responsabilidade de uma organizao no se limita s suasprprias atividades, mas se estende tambm por sua esfera de inuncia ecadeia de valor, segundo o princpio de quanto maior a inuncia exercidaou benefcio recebido, maior a responsabilidade 16;

    2.2. Transparncia: por este princpio a Sociedade de Advogados deve zelarpela transparncia em suas decises e atividades que podem ter repercusso nasociedade e no meio ambiente. Isso pressupe a disponibilizao de informaes,em tempo hbil, aos diversos pblicos de interesse, de modo que possam fazer es -colhas ou tomar decises, devendo o contedo destas informaes ser adequadoe compatvel com aqueles que as esto recebendo. reconhecido, tambm, que aprtica de elaborar relatos consistentes sobre sustentabilidade ou responsabilida-de social, aumenta a capacidade da organizao nessas reas;

    2.3. Comportamento tico:por este princpio espera-se que a Sociedadede Advogados comporte-se de maneira tica na conduo de suas atividades,no relacionamento com os stakeholders17, na disponibilizao de informa-es, dentre outros;

    2.4. Respeito aos interesses dos stakeholders: a Sociedade de Advogadosdeve respeitar, considerar e responder aos interesses de seus stakeholders;

    15 COELHO, S. C. T. Terceiro setor:um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. So Paulo: Editora Senac,

    2002, 2. Ed.16 Item 5.2.3, Seo 7 Orientaes sobre integrao da responsabilidade social em toda a organizao.

    17 Ver notas sobre este conceito ao longo da publicao.

    2.5. Respeito ao Estado de Direito:o ponto central deste princpio o re-conhecimento do Estado de Direito como obrigatrio, contrapondo-se ao exer-ccio arbitrrio do poder. Reconhece-se que nenhum indivduo, organizao ougoverno est acima da lei. No contexto da responsabilidade social, o respeito peloEstado de Direito signica que a Sociedade obedece a todas as leis e regulamentosaplicveis e toma medidas para conhec-las e cumpri-las;

    2.6. Respeito s normas internacionais de comportamento 18: a Socie-dade de Advogados deve respeitar as normas internacionais de comportamento,assim entendidas como os princpios geralmente aceitos de leis internacionais oude acordos intergovernamentais (tratados e convenes);

    2.7. Respeito aos Direitos Humanos:implica no respeito aos direitos hu-manos e no reconhecimento de sua importncia e universalidade, que so aplic-veis em todos os pases, de forma unvoca.

    Todos os princpios acima mencionados esto interrelacionados e so afe-tos aos outros temas de responsabilidade social no contexto da Norma ISO26000. No h possibilidade de observar um princpio isoladamente, em de-trimento dos demais.

    3.Sugestes de medidas prticas que podem serimplantadas pelas Sociedades de Advogados

    3.1. Breves ponderaes

    A estrutura de governana da Sociedade de Advogados sustentvel deve reetiros princpios da responsabilidade social em suas prticas de gesto, por meiode seus processos de tomada de deciso, polticas, normas e procedimentos.

    Nesse sentido, as Sociedades de Advogados devem, primeiramente, rever (ouimplantar) as suas declaraes de misso, viso e valores, bem como os ob-jetivos institucionais e estratgias, de modo que quem incorporados a estesos princpios de responsabilidade social.

    18 A ISO 26000 as dene como as expectativas de comportamento organizacional socialmente responsvel oriundas do Di-reito Internacional costumeiro, dos princpios geralmente aceitos de leis internacionais ou de acordos intergovernamentais(tratados e convenes) que sejam universalmente ou quase universalmente reconhecidos.

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    Captulo II

    A partir desse ponto, pode-se partir para uma reviso da estrutura de go-vernana, bem como dos processos de tomada de deciso e de outros proce-dimentos organizacionais, a m de que quem alinhados com os princpiosacima referidos.

    3.2. Sugestes de medidas prticas

    A partir da reviso da estrutura de governana podem decorrer algumas aes, asquais reetem as prticas de responsabilidade social, exemplicadamente:

    Dar conhecimento a todos os pblicos de interesse sobre a estrutu-ra de governana, tornando acessvel o organograma da Sociedade,

    indicando as aladas decisrias;

    Tornar explcitos os critrios de tomada de deciso, incluindo a de-nio de papis, responsabilidades e autoridades nas diferentesfunes dentro da Sociedade;

    Fazer o mapeamento, utilizando critrios e procedimentos claros para aidenticao das pessoas ou grupos de pessoas (stakeholders) que soafetadas pelas atividades da Sociedade, de modo que se possa avaliara magnitude dos interesses de cada qual e, por conseguinte, o impactodas decises;

    Promover o dilogo com os stakeholders, ouvindo previamente aquelesque podero ser afetados pela tomada de deciso da Sociedade;

    Instituir um comit/grupo de trabalho formado por representantes

    dos diversos departamentos/reas da Sociedade, com a atribuiode propor, implantar e monitorar a poltica de responsabilidade so-cial da Sociedade;

    Estimular a efetiva participao de colaboradores de todos os n-veis no processo decisrio referen te a questes de responsabili-dade social;

    Tornar pblica a poltica de responsabilidade social, bem comooutras relevantes para as partes interessadas que a Sociedade ve-nha a implantar;

    Estabelecer um canal institucionalizado de reclamaes e respostas,atravs do qual os stakeholderspodem enderear seus questionamen-tos e objees a respeito de decises e aes, com a garantia de respostasadequadas e oportunas;

    Formalizar polticas internas de gesto de pessoas, de compras/homo-logao de fornecedores, de divulgao de resultados e de prestao decontas, entre outras;

    Adotar cdigos de tica19e conduta decorrentes da declarao devalores e princpios da Sociedade, de forma que possa contribuircom: (i)o desenvolvimento de relaes slidas com os colaborado-

    res, fornecedores, clientes e demais parceiros;(ii) a denio e co-municao dos padres de comportamento tico esperados de suaestrutura de governana, empregados, fornecedores, terceirizadose, quando apropriado, de seus scios, gerentes e, especialmente, da-queles que tm a oportunidade de inuenciar signicativamente osvalores, cultura, integridade, estratgia e operao da Sociedade edas pessoas que atuam em seu nome, preservando a identidade dacultura local; (iii)a preveno ou soluo de conitos de interesseem toda a Sociedade que poderiam, de outra forma, levar a um com-portamento antitico; e (iv) a criao de mecanismos de supervisoe controle para monitorar e exigir comportamento tico;

    Implementar um plano de ao, aps identicar questes relevantespara suas decises e atividades, relacionado aos princpios de res -ponsabilidade social, com o estabelecimento das respectivas aes,prioridades, metas, responsveis e prazos;

    Prestar contas e se responsabilizar por resultados de suas decisese atividades.

    19 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas

    Empresas Passo a Passo. So Paulo: Ethos, 2003.

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    1. Noes Introdutrias

    A primazia dos direitos humanos tem sido salientada pela comunidade inter-nacional, como por exemplo na Carta Internacional dos Direitos Humanos.

    A Norma ISO 26000 rearma as qualidades dos direitos humanos, que soinerentes, inalienveis, universais, indivisveis e interdependen-tese descreve como as organizaes podem contribuir para que estes direi-tos sejam efetivamente garantidos a todos os seres humanos. Neste sentido,a Norma resume aes que podem ser realizadas para eliminar todas as for-mas de discriminao racial e contra mulheres, tortura e outros tratamentosdesumanos, crueis ou degradantes, proteo aos direitos das crianas, dostrabalhadores migrantes e familares, proteo de todas as pessoas contra de-saparecimento forados e direitos das pessoas com decincia20.

    Da mesma forma que os Estados tm o dever e a responsabilidade de respei-tar, proteger, cumprir e concretizar os direitos humanos, as Sociedades deAdvogados tm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos em suarea de atuao e ambiente de trabalho, inclusive em sua esfera de inuncia.O reconhecimento e o respeito aos direitos humanos so essenciais para oEstado de Direito, para os conceitos de justia e equidade social, e como base

    subjacente maioria das instituies essenciais das sociedades, tais como osistema judicirio.

    Os aspectos de direitos humanos apresentados neste captulo se baseiamnos princpios descritos no Pacto Global ONU21e nas questes descri-tas na Norma ISO 26000, a saber: (i) diligncia devida; (ii)situaesde risco aos direitos humanos; (iii)evitar cumplicidade; (iv)resoluo

    20 Norma ISO 26000, Seo 6.3, Box 6.

    21 Programa da ONU lanado em 2000 para encorajar empresas a adotarem polticas de responsabilidade social

    corporativa e de sustentabilidade. Hoje so mais de 5.200 organizaes signatrias ao redor do mundo.www.pac-

    toglobal.org.br

    DireitosHumanos

    CAPTULO III

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    Captulo III

    de queixas; (v)discriminao e grupos vulnerveis; (vi)direitos civis epolticos; (vii)direitos econmicos sociais e culturais; e (viii) direitosfundamentais no trabalho.

    2. Questes de Direitos Humanos a serem observadaspelas Sociedades de Advogados no contexto da Res-ponsabilidade Social

    As questes descritas a seguir tm como funo auxiliar as Sociedades deAdvogados a mapear, identicar e lidar com os principais temas de direitoshumanos que possam surgir no dia a dia de sua atuao.

    importante destacar que questes assimiladas com naturalidade no coti-diano brasileiro como a contratao de servios de segurana e a convivn-cia com a pobreza podem ter implicaes diretas sobre os direitos humanose sua violao, mesmo que de forma involuntria ou despercebida.

    2.1. Diligncia Devida

    As Sociedades de Advogados sustentveis devem estabelecer critrios de di-ligncia devida, levando em considerao o contexto do pas em que atuam epraticam suas atividades e tambm evitando e investigando possveis viola-es dos direitos humanos.

    Um processo de diligncia devida implica na adoo de uma poltica de di-reitos humanos com orientaes para todos os prossionais envolvidos nasatividades da Sociedade de Advogados. Possuir um mecanismo para avaliar

    o impacto de suas atividades nos direitos humanos, buscar integrar a pol -tica de direitos humanos em todo o escritrio e avaliar o desempenho destapoltica ao longo do tempo so medidas essenciais para o acompanhamentoda poltica instituda e de sua eccia.

    As Sociedades de Advogados podem mobil izar esfor os para compreen-der os desafios e dilemas do ponto de vista dos indivduos e grupos quepodero ser potencialmente prejudicados por suas aes e prticas. Esteexerccio, alm de permitir uma anlise mais completa e imparcial doproblema, abre canais de comunicao e poder contribuir na resoluoda questo.

    O conceito de diligncia devida traz consigo um maior grau de responsabili-zao dos que por deixar de exerc-la a contento causem violaes de di-reitos humanos, direta ou indiretamente, voluntria ou involuntariamente.

    2.2. Situaes de Risco para os Direitos Humanos

    Recomenda-se que as Sociedades de Advogados considerem as possveisconsequncias de suas aes, de forma que o objetivo de respeito aos direitoshumanos seja realmente atingido. Em particular, importante no complicarproblemas existentes ou criar outras violaes. Neste sentido, a complexida-de de uma situao no deve ser usada como desculpa para no combater ouno investigar uma possvel violao de direitos humanos.

    2.3. Evitar Cumplicidade

    Pela perspectiva da Norma ISO 26000, que enfoca a cumplicidade no ape -nas no seu sentido estritamente jurdico, mas tambm em termos ticos, aSociedade de Advogados poder ser considerada cmplice quando colabo-rar, de qualquer forma, com outros que desrespeitem normas internacio-nais de comportamento que, por meio do exerccio da diligncia devida,a Sociedade sabia ou deveria saber que provocariam impactos negativossubstanciais no meio ambiente ou na sociedade. Esta medida tambm po-der estender-se quando a Sociedade silenciar sobre tais atos indevidos ouse beneciar deles de alguma forma.

    A cumplicidade em uma violao de direitos humanos pode ser direta, van-tajosa ou silenciosa. Ela se congurar como direta quando, deliberada-mente, houver colaborao com a violao dos direitos humanos. A Socie-

    dade de Advogados sustentvel no admite, por exemplo, uma operao queenvolva violao de direitos humanos.

    A cumplicidade ser vantajosa quando a organizao obtiver vantagemdireta da violao dos direitos humanos cometida. No caso das Sociedadesde Advogados, por exemplo, h cumplicidade vantajosa quando a violao realizada por seus clientes ou terceiros com quem se relaciona.

    Por m, a cumplicidade ser silenciosaquando a organizao deixa de le-var ao conhecimento das autoridades competentes violaes sistemticas oucontnuas dos direitos humanos.

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    Captulo III

    Para evitar cumplicidade com violaes de direitos humanos recomenda-ses Sociedades de Advogados que: (i)no forneam servios a entidades queos use para cometer violaes dos direitos humanos; (ii)no estabeleamparceria formal ou informal com um parceiro ou cliente que cometa viola -es dos direitos humanos; (iii) informem-se acerca das condies socio-ambientais em que os bens e servios que compram so produzidos; e (iv)considerem tornar pblico seu compromisso para eliminao de qualquerdiscriminao no ambiente de trabalho.

    2.4. Resoluo de Queixas

    Outra questo a ser observada o estabelecimento de um mecanismo para

    resoluo de queixas sobre violaes de direitos humanos. As Sociedades deAdvogados podem criar um sistema de comunicao para que aqueles queacreditem que seus direitos humanos tenham sido violados pelo ou dentrodo escritrio levem essa queixa para o administrativo ou para a alta direo/scios e busquem uma reparao.

    Para que esses mecanismos sejam ecazes, recomendado que sejam legti-mos, acessveis, previsveis, equitativos, claros, transparentes e baseados nodilogo e na mediao.

    2.5. Discriminao e Grupos Vulnerveis

    As organizaes devem evitar e combater bases ilegtimas de discriminaono ambiente de trabalho e em sua esfera de inuncia, como raa, cor, g-nero, idade, estado civil, idioma, propriedade, nacionalidade ou regio, reli-gio, origem tnica ou social, casta, situao econmica, decincia, orien-

    tao sexual, estado de sade, ser portador de HIV/AIDS, gravidez, liaopartidria, opinies polticas ou outras opinies. Os grupos que sofrem dis-criminao persistente, o que leva a desvantagens crnicas, so vulnerveis edevem receber maior ateno.

    Recomenda-se s Sociedades de Advogados justicar objetivamente porum m legtimo, apropriado e necessrio os critrios de seleo, promovera conscientizao de grupos vulnerveis acerca de seus direitos e contri-buir para a reparao de discriminao ou de um legado de discriminaono passado.

    2.6. Direitos Civis e Polticos

    O conjunto de direitos civis e polticos incluem direito vida e dignidade,direito de no ser submetido tortura, direito segurana, direito proprie-dade, liberdade e integridade da pessoa; e direito ao devido processo legale de uma audincia justa ao enfrentar acusaes de carter penal. Incluem,ainda, liberdade de opinio e expresso, liberdade de reunio pacca e deassociao, liberdade para adotar e praticar uma religio ou crena, liberda-de contra a ingerncia arbitrria na famlia, domiclio ou correspondncia edireito privacidade, ao acesso a servios pblicos e a participar de eleies.

    Recomenda-se que as Sociedades de Advogados respeitem todos os direitos

    civis e polticos de seus integrantes, particularmente suas liberdades de opi-nio e expresso. Recomenda-se que a organizao no procure reprimir asvises e opinies de ningum, mesmo quando a pessoa criticar a organiza-o, interna ou externamente.

    Recomenda-se tambm que promovam o acesso ao devido processo legal e as-segurem o direito a uma audincia justa antes que sejam tomadas quaisquermedidas disciplinares internas contra um de seus integrantes, as quais devemser proporcionais e no devero envolver tratamento desumano ou degradante.

    2.7. Direitos Econmicos, Sociais e Culturais

    Quanto s questes de direitos humanos relacionadas a direitos econmicos,sociais e culturais, a ISO 26000 destaca que as organizaes devem avaliaros impactos potenciais de suas atividades, produtos e servios, bem como deseus novos projetos nesses direitos, incluindo os direitos da populao local,

    facilitando o acesso educao e educao continuada para membros dacomunidade e considerando apoiar e oferecer espaos em suas instalaespara que estes ocorram.

    As Sociedades de Advogados podem trabalhar em conjunto e somar esforosentre si com ONGs e instituies governamentais, a m de apoiar o respeitoaos direitos econmicos, sociais e culturais e sua viabilizao, adaptando ser-vios ao poder de compra dos pobres, disponibilizando de tempos em tempossuas instalaes e recursos para sediar atividades culturais da comunidade,entre outros.

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    Captulo III

    2.8. Direitos Fundamentais no Trabalho

    A Organizao Internacional do Trabalho (OIT) identicou como direitosfundamentais no trabalho: a liberdade de associao e o reconhecimentoefetivo do direito negociao coletiva; a eliminao de todas as formas detrabalho forado ou compulsrio; a efetiva abolio do trabalho infantil; e aeliminao da discriminao relativa ao emprego e ocupao.

    w A liberdade de associao e negociao coletiva: reconhe-

    cendo as organizaes representativas de classe, disponibilizandoespao e informaes para seus representantes e incluindo em seus

    contratos de trabalho e acordos coletivos dispositivos para resolu-o de controvrsias;

    O trabalho forado: no se envolvendo nem se beneciando de tra-balho escravo ou prisional, salvo se os prisioneiros tiverem sido conde-nados em um tribunal de justia e seu trabalho estiver sob a supervisoe controle de um rgo pblico (no Brasil, por exemplo, h importantesprogramas nessa rea, visando reabilitao e gerao de renda parapresidirios e suas famlias);

    A igualdade de oportunidades e no discriminao:promo-vendo polticas e prticas de contratao, remunerao, condies detrabalho, acesso a treinamento e promoes e cessao do contrato detrabalho baseadas somente nas exigncias do emprego, alm de medi-das para preveno de assdio no local de trabalho e medidas positivaspara promover a proteo e o progresso de grupos vulnerveis.

    O trabalho infantil22: assegurando que crianas em situao de tra-balho infantil em suas operaes ou esfera de inuncia no somentesejam retiradas do trabalho, mas tambm tenham acesso a alternativasapropriadas, especialmente educao.

    22 Ressalta-se, porm, que o trabalho leve que no prejudique a criana ou interra na sua frequencia escolar ou emoutras atividades necessrias para o pleno desenvolvimento da criana no considerado trabalho infantil, e queo termo trabalho infantil no deve ser confundido com trabalho para jovens ou trabalho estudantil, que

    podem ser ambos legtimos e desejveis.

    3. Sugestes de medidas prticas que podem serimplantadas pelas Sociedades de Advogados

    3.1. Breves ponderaes

    A Norma ISO 26000 fornece orientaes sobre prticas socialmente res-ponsveis que sejam teis para todos os tipos de organizaes nos setoresprivado, pblico e sem ns lucrativos. Contudo, apesar de existirem temascomuns em como as organizaes esto se aproximando da responsabilidadesocial, cada negcio possui suas particularidades.

    Assim, alm das prticas relacionadas s questes centrais identicadas pelaNorma ISO 26000, cabe ressaltar no mbito especco de atuao das Socie-dades de Advogados o tema do acesso Justia.

    A premissa bsica do sistema jurdico brasileiro de que este seja igualmenteacessvel a todos. O acesso formal, mas no efetivo Justia, corresponde igualdade apenas formal, mas no efetiva dos cidados.

    O relatrio anual da Anistia Internacional de 201123sobre direitos humanosno mundo, observa que as comunidades em situao de pobreza (no Bra-sil)continuam a enfrentar uma srie de abusos dos seus direitos humanos,como despejos forados e falta de acesso a servios bsicos.Dentre estesservios bsicos, destaca-se o acesso Justia.

    Quando se refere ao acesso Justia no Brasil, vislumbram-se vrios obst-culos a serem transpostos, tais como: (i)custas judiciais e impossibilidade

    de pagamento de honorrios advocatcios; (ii) falta de aptido para reco-nhecer um direito e propor uma ao (reconhecer a existncia de um direi-to e conhecimentos a respeito da maneira de ajuizar uma demanda); e (iii)disposio psicolgica para recorrer a processos judiciais (desconana nosadvogados e no sistema judicirio, procedimentos complicados, formalismo,ambientes que intimidam).

    23 Fonte: http://www.br.amnesty.org/docs/Informe2011.pdf

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    Em alguns Estados do Brasil, a OAB25 regulamentou a prtica da

    advocacia pro bono como sendo uma atividade de assessoria econsultoria jurdicas, permitindo-se excepcionalmente a atividadejurisdicional, e tendo como benecirias pessoas jurdicas sem

    ns lucrativos integrantes do terceiro setor, reconhecidas e com -provadamente desprovidas de recursos nanceiros, para custear

    as despesas procedimentais, judiciais ou extrajudiciais.

    25 Vide Resoluo Pro Bono da OAB/SP em:

    http://www.oabsp.org.br/tribunal-de-etica-e-disciplina/legislacao/resolucao-pro-bono

    Captulo III

    O sistema legal brasileiro vigente24prev assistncia jurdica gratuita via poderpblico a todos aqueles que no podem arcar com os custos de um processo, in-cluindo a os honorrios advocatcios. A concesso deste benefcio segue a regrade at trs salrios mnimos de rendimento familiar mensal.

    No entanto, existe uma lacuna na qual se encontram aqueles que tm ren-dimento familiar mensal superior a trs salrios mnimos e que no tmdireito de pleitear os benefcios da advocacia pblica gratuita e cam, por-tanto, desatendidos.

    24 CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988, TTULO II - Dos Direitos e Ga-

    rantias Fundamentais, CAPTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVO. Art. 5

    Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas

    a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:... LXXIV - o Estado

    prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insufcincia de recursos.

    A chamada Assistncia Judiciria Gratuita evoluiu junto como direito ptrio. Sua importncia atravessou os sculos, sendogarantida nas mais diversas cartas constitucionais, fossem emtempos de ditadura, ou no.

    O modelo escolhido no Brasil chamado pela doutrina desistema judicare. Neste, a assistncia judiciria estabelecidacomo um direito para todas as pessoas que se enquadrem nostermos da lei e a remunerao dos advogados particulares queforneam assistncia judiciria aos litigantes de baixa rendase d pelo Estado. A assistncia jurdica gratuita , assim, umdever intransfervel do Estado.

    Segundo a Constituio Federal, tal funo da DefensoriaPblica (Captulo IV, das Funes Essenciais Justia, artigo134) da Unio ou do Estado. O Estado, entretanto, no temconseguido atender a imensa demanda da populao. Emuitas vezes esta funo realizada atravs da atuao deadvogados particulares por meio de convnios entre essesrgos e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

    O fato que atualmente, no Brasil, apenas uma pequena parcela da socieda-de pode pagar por uma assessoria jurdica. Em contrapartida, sabido que afalta de acesso Justia impacta direta e negativamente a sociedade, sendo aviolncia o principal desses impactos.

    As Sociedades de Advogados tem o poder e, muitas vezes, a possibilidade de con-tribuir para que o acesso Justia seja estendido camada da populao que delenecessita. Esta ao est na essncia da atividade prossional dos advogados.

    Neste sentido, as Sociedades de Advogados, na pessoa de seus scios e ges -tores, podem estimular o prossional do direito a se posicionar tambm deforma responsvel em relao ao ambiente no qual est inserido.

    Vale lembrar que a Constituio Federal, em seu artigo 170, esclarece queas empresas, enquanto agentes da ordem econmica, devem observar entreoutros princpios, a reduo das desigualdades regionais e sociais. Portanto,a elas cabe o desao constante de compatibilizar a prosperidade, a rentabili-dade e a competitividade de seu negcio com os interesses coletivos.

    O mesmo vale para os escritrios de advocacia. nessa coerncia de aesque se insere aAdvocaciapro bono. A traduo literal da expresso lati-napro bono para o bem. Assim, a advocacia pro bonopode ser denidacomo a prestao gratuita de servios jurdicos para promover o bem, ofere-cendo assistncia jurdica a quem dela necessitar.

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    Guia da Advocacia sustentvel Captulo III

    Ao organizar e desenvolver de forma sistemtica e adequada um atendi-mento gratuito, os escritrios contribuem com a incluso social e a promo-o da cidadania.

    Vale mencionar alguns benefcios da prtica da advocacia pro bonoaos ad-vogados: (i)colaboram com a promoo da cidadania e a universalizao dedireitos; (ii)lidam com novas questes jurdicas; (iii)conhecem novas rea-lidades sociais; (iv)resignicam o seu papel como advogado; e (v)reforamo seu vnculo com a empresa ou escritrio, unindo-os na viso comum dosvalores e da cultura empresarial.

    3.2. Sugestes de medidas prticas

    Criao de uma poltica pro bono, que estabelea um ProgramaPro Bonoprevendo: princpios, estrutura organizacional, forma deatendimento, critrio para seleo dos benecirios, nmero de ho-raspro bono a serem concedidas no ano, forma de remunerao aosadvogados, etc;

    Recomenda-se que as Sociedades de Advogados sustentveis ado-tem a poltica pro bonoinstitucionalmente. Assim sendo, as horaspro bonodevem ser computadas de forma idntica s horas cobr-veis (conforme o caso, pode haver uma pequena reduo no valor dahora) e sejam consideradas no cmputo da meta e do bnus anual, am de estimular os advogados a trabalharem em causaspro bononamedida em que isso no impactar na perfomance e no redimentonanceiro do prossional;

    Sugerir uma meta com um mnimo de horas anuais/mensais probonopara os advogados;

    Organizar visitas peridicas s instituies benecirias do Progra-ma para que os colaboradores da Sociedade de Advogados tenhama oportunidade de vericar, na prtica, o impacto benco de seutrabalho na entidade;

    Engajamento efetivo dos scios seniors no ProgramaPro Bonoa mde dar o exemplo para os demais colaboradores;

    Criao de um Comit Pro Bono dentro da Sociedade de Advogados queselecione os casospro bonoa serem atendidos. Caso a criao de umcomit no seja vivel, designar um advogado responsvel pela imple-mentao do Programa Pro Bono, seleo dos casos, supervisionamen-to dos demais advogados, entre outros;

    O ComitPro Bonoser responsvel por:

    avaliar o andamento do ProgramaPro Bonoe denir estratgias de atu-ao para o seu fortalecimento;

    definir e reavaliar os critrios utilizados para aceitao de casospro bono;

    estimular scios, advogados, estagirios e paralegais a participardo Programa;

    deliberar sobre a dispensa do pagamento das despesas incorridasrelacionadas com os servios jurdicos gratuitos, como por exemplo,despesas com telefonemas interurbanos ou internacionais, fotoc-pias, transporte, tradues, dentre outros.

    O gerenciamento26do ProgramaPro Bono pode ser feito da seguinte forma:

    receber os casos pro bono e denir sua aceitao conforme os crit-rios denidos pela poltica ou pelo ComitPro Bono;

    comunicar a entidade sobre a aceitao ou no do seu caso dentrodo ProgramaPro Bono;

    a entidade dever preencher cha de inscrio e apresentar docu-mentos (Estatuto Social atual, Ata de Eleio da atual Diretoria, De-monstrativos Contbeis, Relatrio de Atividades e CNPJ);

    manter uma lista atualizada dos scios, advogados, estagirios e pa-ralegais interessados em receber as demandas pro bono;

    acompanhar os casos pro bono e solicitar aos responsveis informa-es sempre que julgar necessrios.

    26 O Instituto Pro Bono possui um projeto que agrega um banco de dados com contatos de advogados, escritrios

    voluntrios e departamentos jurdicos de empresas, que so acionados para atender demandas jurdicas de ONGs

    cadastradas no Instituto. Uma maneira mais fcil da Sociedade de Advogados iniciar a prtica pro bono, pode ser

    atravs deste sistema de clearing housedo Instituto Pro Bono. Saiba mai s sobre o Projeto Pro Bono em: http://www.

    probono.org.br/projeto-pro-bono

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    1. Noes Introdutrias

    Alm dos aspectos legais obrigatrios, almeja-se que as Sociedades de Ad-vogados sustentveis promovam prticas trabalhistas que transcendam as

    questes legais. Assim, as prticas aqui sugeridas se baseiam nos princpiosdescritos no Pacto Global ONU27, nos preceitos descritos na Norma ISO26000 e nos conceitos da Organizao Internacional do Trabalho OIT 28.

    importante lembrar que a sociedade civil, de uma forma geral, tende a sercada vez mais criteriosa nas suas escolhas relativas aos aspectos acima des-critos, tanto para o caso da contratao de uma Sociedade de Advogados pelocliente, quanto para atrao e reteno de talentos.

    A ISO 26000 destaca algumas preocupaes centrais que devem ser obser-vadas pelas organizaes em relao ao tema: (i)emprego e condies deempregabilidade; (ii)condies de trabalho e proteo social; (iii)dilogosocial; (iv)sade e segurana no trabalho; e (v)desenvolvimento humano etreinamento no trabalho.

    Ademais, deve-se assegurar: (i) a liberdade de associao e o reconheci-

    mento efetivo do direito negociao coletiva; (ii) a efetiva abolio dotrabalho infantil; e (iii)a eliminao da discriminao em relao ao em-prego e ao trabalho.

    27 Programa da ONU lanado em 2000 para encorajar empresas a adotarem polticas de responsabilidade social

    corporativa e de sustentabilidade. Hoje so mais de 5.200 organizaes signatrias ao redor do mundo.www.pacto-

    global.org.br

    28 importante destacar que a ISO 26000 trata as questes trabalhistas como tema central e como uma questo in-

    serida dentro do tema de direitos humanos. Para maiores detalhes, vide iem 2.8 do Captulo II do presente Guia.

    CAPTULO IVPrticas

    de trabalho

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    Captulo IV

    Os princpios acima destacados tambm utilizam como base a Declarao daFiladla, de 1944, da OIT, a qual refora que o trabalho no uma merca-doria. Isso signica que os trabalhadores no devem ser tratados como umfator de produo e sujeitos s mesmas foras de mercado que se aplicam aosprodutos. A vulnerabilidade inerente dos trabalhadores e a necessidade deproteger seus direitos bsicos tambm esto reetidas na Declarao Univer-sal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos Direitos Econmicos,Sociais e Culturais.

    2.3. Eliminar a discriminao em relao ao emprego e ao tra-balho:A Constituio Federal rejeita qualquer forma de discriminao aoproclamar que todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer

    natureza, sendo inviolveis os direitos vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade. Assim, dentre os objetivos fundamentais da Re-pblica Federativa do Brasil est a promoo do bem de todos, sem precon-ceitos de origem, raa, sexo, cor, idade ou outros quaisquer.

    Tais direitos so reforados pelo Captulo III do Ttulo III da Consolidaodas Leis do Trabalho CLT, com destaque para o art. 373-A, que veda, den-tre outros: publicar anncio de emprego no qual haja referncia ao sexo, idade, cor ou situao familiar, salvo quando a natureza da atividade

    a ser exercida, pblica e notoriamente, assim o exigir.E ainda recusaremprego, promoo ou motivar a dispensa do trabalho em razo de sexo,

    idade, cor, situao familiar ou estado de gravidez, salvo quando a natu-

    reza da atividade seja notria e publicamente incompatvel.

    Alm disso, exige-se que homens e mulheres sejam igualmente remunera-dos por trabalho de igual valor, e no simplesmente pelo mesmo trabalho

    ou similar. Na prtica, ainda recorrente o desrespeito aos documentos su -pracitados, o que contribui para a perpetuao do processo de discriminaoem relao estipulao de salrios e cargos de chea por indivduos negros,homosexuais e/ou do sexo feminino.

    Ressalte-se que a construo de uma sociedade justa e igualitria passa, obri-gatoriamente, pelo reconhecimento das diferenas e das diversidades, bemcomo pela rejeio de mecanismos discriminatrios em qualquer mbito ounvel. A igualdade, no entanto, refere-se fundamentalmente igualdade dedireitos, de oportunidades e de tratamento entre homens e mulheres em to-das as dimenses da vida humana.

    3. Sugestes de medidas prticas que podem serimplantadas pelas Sociedades de Advogados

    A relao entre a Sociedade de Advogados e seus colaboradores podese estabelecer de diversas formas, mas essencial que a formaliza-o da contratao seja coerente com o contrato realidade entre aspartes, estabelecendo direitos e obrigaes contratuais condizentescom a autonomia - ou dependncia dos trabalhadores. Por exem-plo, havendo regularidade, subordinao (jurdica) e remuneraoxa32, ou seja, se existir efetiva relao de emprego, o advogado deveser contratado nos termos da CLT.

    No mesmo sentido, para que o prossional seja considerado advo-gado com participao nos resultados (associado) ou scio, a re-lao de fato no pode congurar a relao de emprego - por faltarno contrato realidade algum dos itens retro mencionados. Nestescasos, importante que sejam observadas as condies de forma-lizao e normas estabelecidas no Estatuto da Advocacia e Regula-mento Geral do Estatuto da OAB, Provimento 112/06, para scio deservio, e a Instruo Normativa 02/96 para advogado associado.

    Recomenda-se que as Sociedades de Advogados observem os reexoslegais da contratao dos colaboradores. Tais como frias, benefciossociais, averbao do contrato de associao, adequao do contratosocial s limitaes de responsabilidade dos scios de servio, etc.

    Estabelecer um canal institucionalizado de reclamaes e respostas,

    sendo recomendado que a Sociedade de Advogados propicie aos seuscolaboradores fazer suas crticas, elogios e sugestes de forma annima(ex.: comunicaes dirigidas a um ombudsman, ou ouvidor).

    Estimular a transparncia nas relaes praticadas pela rea de Re-cursos Humanos e entre chefes e subordinados. Recomenda-se, porexemplo: (i)em caso de desligamento, que se avise o colaboradorcom antecedncia maior que o prazo legal previsto, facilitando suarealocao no mercado de trabalho e, ainda, proporcionando uma

    32 Decreto-Lei 5452/43, CLT: Art. 3 - Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios de naturezano eventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante salrio.

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    Captulo IV

    certa segurana para o exerccio regular de suas atividades; e (ii)a realizao de avaliaes peridicas, no mnimo uma vez por ano,para discutir performance, expectativas e melhorias (tcnicas abran-gentes como a avaliao 360 graus podem ser teis para isso).

    A Sociedade de Advogados deve garantir a negociao coletiva para ad-vogados e para no advogados. Nos termos da lei, os empregados dasreas administrativas devem ser registrados e possuir sindicato espe-cco em cada localidade. A representao por tais sindicatos deve serreconhecida e incentivada pelo escritrio.

    A elaborao e acessibilidade ao organograma do escritrio, indi-

    cando as aladas decisrias e, nos casos de advogados associadosou scios de servio, seu estabelecimento nos instrumentos de con-tratao, de forma clara, tica e justa, as regras deliberativas, bemcomo as condies de resciso.

    Havendo relao de subordinao, regularidade e salrio, a Sociedadede Advogados deve observar tambm as regras do Estatuto Geral da Ad-vocacia e OAB33, que em seu artigo 20, 2 e 3, preceituam que, casoo advogado preste servios exclusivos: 2 As horas trabalhadas queexcederem a jornada normal so remuneradas por um adicional no

    inferior a cem por cento sobre o valor da hora normal, mesmo haven-

    do contrato escrito e 3 As horas trabalhadas no perodo das vinte

    horas de um dia at as cinco horas do dia seguinte so remuneradas

    como noturnas, acrescidas do adicional de vinte e cinco por cento.

    A remunerao deve ser digna para o suprimento das despesas b-

    sicas do trabalhador e de seus dependentes, com especial atenopara os funcionrios da rea administrativa e estagirios.

    Reconhecer e incentivar as formas de integrao entre seus colabo-radores tanto das reas administrativas quanto dos tcnicos, bemcomo as atividades de responsabilidade social.

    33 Lei n 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do

    Brasil OAB

    Criar acordo de participao nos resultados para empregados da reaadministrativa e para advogados. Nessa medida, seria oportuno a for-mao de uma comisso de empregados da rea administrativa e outracomisso de advogados para propor, monitorar e negociar a poltica deresultados e participao dos colaboradores da Sociedade em seus re-sultados. A partir dessa negociao, poderia, inclusive, ser rmado umacordo prevendo regras e valores a serem distribudos.

    Criar plano de carreira, instituindo, por exemplo, critrios e competn-cias tcnicas e comportamentais objetivas, totalmente independentesde credo, cor, raa, idade, sexo e necessidades especiais. A igualdade deoportunidades deve se estender no apenas ao quadro de advogados,

    mas tambm a todas as reas administrativas.

    Elaborar programas de nanciamento de cursos que visem ao aperfei-oamento dos prossionais integrantes da Sociedade, incluindo scios,associados, estagirios e funcionrios, tanto em capacitao prossio-nal, quanto em relacionamento e qualidade de vida.

    Diagnosticar a composio do quadro de colaboradores, com o mapea-mento anual sobre a composio da Sociedade de Advogados, a m devericar se as minorias esto sendo representadas (percentual de mu-lheres, negros, etc.). tambm importante assegurar que todos tenhamas mesmas chances, remunerao proporcionalmente equivalente emetas de avaliao. Realizado o diagnstico, deve-se propor polticasarmativas no sentido de incluso, melhoria das condies de trabalhoe evoluo na carreira, tais como a criao do Comit da Diversidade,para estimular a discusso das questes de gnero.

    Respeitar as normas legais, nalidades e peculiaridades quanto con-tratao dos estagirios, escolhendo no corpo de advogados orientado-res/supervisores qualicados a responder corretamente gravidade daincumbncia de orientar os prossionais em formao.

    Participar de programa para a a contratao de Menor Aprendiz, res-saltando-se que h distino entre os conceitos de trabalho infantil etrabalho para jovens, que, no caso, pode ser legtimo quando realizadodentro de um genuno programa de aprendizagem, como o caso domenor aprendiz (14 at 24 anos).

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    Criar, ou melhorar nos casos em que j existe a obrigatoriedade legal,uma poltica interna de contratao e adaptao dos portadores de ne-cessidades especiais, e de condies favorveis para o desenvolvimentodesses prossionais no escritrio.

    Criar solues a m de auxiliar as advogadas que sejam mes a conciliaro trabalho com a maternidade, implementando-se, por exemplo, a umapoltica de trabalho em casa at a criana atingir determinada idade,e/ou criando horrios de expediente exveis/ou alternativos.

    Criar programas que visem sade dos funcionrios. No caso das So-ciedades de Advogados, a sade est muitas vezes ligada ao nmero de

    horas trabalhadas por dia, bem como condies ergonmicas das ativi-dades. preciso, por exemplo, estar atento postura, posio das mesase cadeiras, avaliando e adequando s melhores condies de trabalho,fsicas e mentais, como tambm estimulando a realizao de examesmdicos peridicos para vericar o estado de sade dos colaboradores,inclusive participando de campanhas relacionadas ao assunto. Educar eincentivar modos de vida saudveis, especialmente no tocante alimen-tao e prtica de atividade fsica.

    Estimular o voluntariado como forma de desenvolvimento de um ad-vogado cidado, criando-se, por exemplo, um grupo responsvel peloestmulo, sistematizao e coordenao das aes dos integrantes do es-critrio ligadas responsabilidade social, incluindo scios, associados,estagirios e empregados de todas as reas.

    Estabelecer uma poltica de contratao de fornecedores e prestadores

    de servios, recomendando-se, por exemplo, a criao de poltica paracompras ou contratao de terceiros que garantam que o fornecedor noseja conivente com nenhuma forma de trabalho escravo ou compulsrioe que promova a efetiva abolio do trabalho infantil. Alm das dispo-sies formais em contrato, recomenda-se que medidas de vericao econtrole sejam adotadas para aferir o seu efetivo cumprimento. Ou seja,o escritrio no deve admitir que seus fornecedores ou prestadores deservio desrespeitem os princpios legais, ticos e morais que norteiamas suas atividades.

    CAPTULO VMeio

    Ambiente

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    Captulo V

    1. A temtica ambiental na Norma ISO 26000

    A Norma ISO 26000 no deixa de considerar a importncia que a questoambiental representa dentro do contexto da responsabilidade social, umavez que a proteo ambiental requisito imprescindvel para a manutenoda sadia qualidade de vida. justamente em razo desta caracterstica de es-sencialidade que o meio ambiente um aspecto relevante a ser consideradoquando se trata de responsabilidade social.

    Mesmo sendo pouco expressivo em diversos casos, no se pode ignorar ofato de que todas as atividades humanas geram impactos ao meio ambiente,sendo por isso mesmo indispensvel que nos processos de tomada de decisosejam levados em considerao os efeitos socioambientais de quaisquer me-didas tomadas pelas organizaes.

    Responsabilidade ambiental, abordagem preventiva, gesto de risco ambien-tal e poluidor-pagador so os princpios que devem ser considerados pelasorganizaes no que se refere gesto ambiental de acordo com os preceitosda Norma ISO 26000.

    A norma ainda aponta as questes a serem consideradas com relao ques-to ambiental preveno da poluio, uso sustentvel de recursos, mitiga-o e adaptao s mudanas climticas e proteo e restaurao de habitatsnaturais e indica aes e medidas que podem vir a ser adotadas pelas orga-nizaes com relao a estes temas.

    1.1. Preveno da Poluio:No que se refere preveno da poluio,a Norma estimula as organizaes a melhorar seu desempenho ambiental eevitar a poluio, adotando medidas para controlar suas emisses atmosf -ricas, as descargas na gua, a gesto de resduos, o lanamento de produtosqumicos txicos e perigosos, dentre outras questes.

    1.2. Uso Sustentvel de Recursos: Por sua vez, o uso sustentvel de re-cursos estimulado, visando assegurar sua disponibilidade para as futurasgeraes. Devem as organizaes, portanto, levar em conta esta necessidadede preservao e gerenciar de forma sustentvel o uso de energia, combust-veis, matrias-primas, gua e outros insumos.

    1.3. Mudanas Climticas:Com relao s medidas de mitigao e adap-tao s mudanas climticas, as organizaes devem se empenhar em ado-tar medidas para minimizar as suas emisses de gases causadores de efeitoestufa, bem como se preparar para implementar as medidas necessrias parase adaptarem s mudanas climticas.

    1.4. Habitats Naturais:Por m, a preocupao com a proteo e restauraode habitats naturais est relacionada com a necessidade de proteo do meio am -biente para a preservao dos ecossistemas e de suas funes, minimizando asperdas de habitats e os impactos biodiversidade.

    2. Insero das Sociedades de Advogados na temtica

    ambiental da Norma ISO 26000

    No se pode deixar de considerar que o impacto ambiental das atividades exer-cidas pelas Sociedades de Advogados pouco expressivo e a possibilidade deadoo de medidas tendentes reduo da poluio e proteo e restauraode habitats naturais, por exemplo, bastante limitada justamente em razo danatureza das atividades desenvolvidas por tais organizaes.

    Um dos principais pontos a ser tratado quando se discute a questo ambientalnas Sociedades de Advogados a necessidade de que estas organizaes compre-endam o exato papel que podem exercer com relao proteo ambiental.

    O poder de inuncia exercido pelas Sociedades de Advogados junto s partesinteressadas a ferramenta mais importante que estas organizaes tm suadisposio quando o assunto o compromisso com o meio ambiente, o que lhespermite encorajar positivamente outras organizaes a tambm considerarem avarivel ambiental nos seus negcios.

    tambm atravs da educao ambiental reconhecida pela norma ISO 26000como fundamental na promoo do desenvolvimento de sociedades e estilos devida sustentveis que as Sociedades de Advogados podem contribuir de manei-ra efetiva para a promoo da proteo ambiental.

    Nesse sentido, a interlocuo das Sociedades de Advogados com os seus colabo-radores, clientes, fornecedores e parceiros uma das principais contribuies queestas organizaes oferecem para a sustentabilidade.

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    Guia da Advocacia sustentvel

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    Captulo V

    Um programa de educao ambiental que inclua a conscientizao de seuscolaboradores, estimulando o consumo consciente tanto dentro quantofora da organizao pode ser elaborado e colocado em prtica para o m deconcretizar este propsito.

    As Sociedades de Advogados podem considerar ainda a adoo de uma pol-tica de aquisio de produtos e servios baseada em critrios de sustentabili-dade, fazendo-a no apenas com o objetivo de incorporar esta varivel no seunegcio, mas tambm de forma a permitir a disseminao deste conceito denegcio perante os seus parceiros.

    Alm disto, embora sejam pouco signicativos os impactos ambientais causados

    pelas Sociedades de Advogados, no se pode ignorar a possibilidade de imple-mentao de prticas organizacionais voltadas minimizao destes impactos.

    3.Sugestes de medidas prticas que podem serimplantadas pelas Sociedades de Advogados

    Reduo no consumo de papel, destinao adequada dos resduos gerados pelasatividades do escritrio, medidas de ecincia energtica e reduo no consumode gua so apenas alguns exemplos de comportamentos a serem consideradosobjetivando o controle e a reduo da inuncia negativa gerada por estas orga-nizaes ao meio ambiente.

    Por m, sem deixar de lado o tema de mudanas climticas trazido pela NormaISO 26000, as Sociedades de Advogados podem colaborar para mitigao des -tas mudanas atravs da incorporao de medidas voltadas neutralizao dasemisses de gases causadores do efeito estuf