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Guia de Algibeira do Sertão Profundo

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A publicação impressa apresenta o artista Elomar Figueira Mello, assim como seu universo criativo - do qual fazem parte o sertão, a sua gente e seus encantamentos.

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Partindo do poema “Meu Retrato”, do inédito Lira dos Dezessete e Outras Quadras: Caderno de Poema, e de músicas do cancioneiro de Elomar Figueira Mello – com desenhos de Elomar (escudo da capa) e Juraci Dórea, textos de Carlos Costa e Micheliny Verunschk, edição de textos de Carlos Costa, revisão de texto de Karina Hambra e Polyana Lima, fotos de André Seiti e diagramação de Richner Allan –, foi percorrida a estrada que chegou a este guia. Deram guarda à cavalgada Eduardo Saron, Ana de Fátima Sousa, Alexandre Di Pietro, Claudiney Ferreira, Edson Natale, Glaucy Tudda, Henrique Idoeta, Jader Rosa, Jerusa Pires Ferreira, Kety Nassar, Laércio Menezes da Silva, Maria Clara Matos, Rossane Nascimento, Samara Ferreira e Tânia Rodrigues.

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São Paulo, entre as luas nova de julho e crescente de agosto de 2015

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Uma Loa para o menestrel sertanezo

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E LOMAR FIGUEIRA MELLO é um cavaleiro de outras eras. Autor de obra musical e literária, com desta-que para um primoroso cancioneiro,

retrata o sertão profundo, um lugar vaporoso, que se desmancha toda vez que se alcança.

Fora do nosso tempo, esse mundo tem como esteio o apuro estético, uma beleza nostálgica e paradoxos: fé cristã e magia, cultura erudita e sabedoria popular, amores e ódios, terra e céu. A essência cavaleiresca troca capa e espada por facão e gibão de couro e tem ares quixotescos de fantasia poética, dessas que nunca perdem a honra.

Para os personagens sertanejos – damas, donzelas, vaqueiros, cantadores, peregrinos – registrou um dialeto próprio. Para si construiu um castelo, de onde, recluso, ecoa o seu canto de menestrel e vo-cifera contra a modernidade, labutando nas suas criações – especialmente a música, a arquitetura e os bodes.

Entoamos uma loa em sua homenagem e a todos os sertanejos: a Ocupação Elomar. Entre as luas nova de julho e a crescente de agosto, o Itaú Cultural abriga uma casa de fazenda, no tempo das horas mortas, onde repousam registros, obje-tos e memórias do artista, permeados com o seu canto e sons atemporais de um reino encantado.

E oferecemos este guia, elaborado para iniciar uma caminhada de mil léguas rumo

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à pátria que o artista sonhou. Não garantimos a chegada, apenas uma companhia para o estradar. Esta é a 25ª Ocupação da série, que se destaca na produção do Itaú Cultural como uma fonte de infor-mação sobre processos criativos e obras de artistas basilares da cultura contemporânea brasileira.

O Banco Itaú apoia a digitalização do acervo do artista e a construção de um arquivo na Casa dos Carneiros, área rural de Vitória da Conquista, Bahia. O projeto do arquivo, de autoria de Elomar, simula um curral tradicional de bodes, redondo, e utiliza paredes e teto de vidro, para aproveitamento da luz natural da região.

Itaú Cultural

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imagem: Dos Altos Céus (ou Dobra do Tempo), de Juraci Dórea, guache, 2015

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Trecho de “O Violeiro”, do álbum Das Barrancas do Rio Gavião (1972)

[No excerto, o sertanez define o sotaque do texto. Elomar diz serem buscas recorrentes do homem amor, alforria e viola. Certa vez viu pichado em um muro uma imagem que reforça esses desejos – um beijo, grilhões quebrados e festa.]

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O violeiro

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E LOMAR FIGUEIRA MELLO, filho de tradicional família da zona da mata baiana, nasceu na casa da fazenda Boa Vista, em 21 de dezembro de 1937, em Vitória da Con-

quista (BA). Primeiro filho de Ernesto Santos Mello, tangedor de gado, e Eurides Gusmão Figueira Mello, costureira. A formação protestante, ainda criança, o atraiu para a musicalidade do entorno, enquanto empreendia a formação autodidata: da música de origem sacra à profana de cantadores, repentistas e violeiros.

Aos 16 anos rumou para Salvador a fim de completar os estudos e ingressou na faculdade de arquitetura, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1959. Na mesma universidade frequentou, por cerca de três meses, os Seminários Livres de Música dos regentes e professores Ernst Widmer e H. J. Koellreutter. En-quanto o Brasil desafinava os ouvidos com a bossa nova, Elomar começava a estruturar seu cancioneiro. Ao terminar os estudos, retornou para Conquista e, em 1966, casou-se com Aldamária de Carvalho Mello, com quem teve três filhos: Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar.

Em 1968 lançou o primeiro compacto simples com as composições “O Violeiro” e “Canções da Catigueira”. Em 1972 publicou o primeiro álbum, Das Barrancas do Rio Gavião, em que agrega elementos e influências do romanceiro medieval ibérico e do cancioneiro po-pular nordestino, conforme destaca a apresentação do disco feita por Vinicius de Moraes. Nos anos 1980, em detrimento da arquitetura, começou a priorizar a música. São desse período os trabalhos “Parcelada

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Malunga” e “Fantasia Leiga para um Rio Seco”, entre outros. Em 1981 estreou em São Paulo o prestigiado espetáculo ConSertão, com participação de Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte. Em 1984, ano do show Cantoria – com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai –, passou a trabalhar sua obra erudita e adentrar no universo das óperas, dos concertos, das antífonas e da escrita orquestral.

Com seu filho e parceiro João Omar, transita com desenvoltura pelos espaços da tradução cultural desses elementos de origem europeia. O disco Árias Sertânicas, de 1992, registrou os fragmen-tos de seu trabalho operístico. Lançou álbuns pelos emblemáticos selos Kuarup e Marcus Pereira e tam-bém criou sua própria gravadora, a Rio do Gavião, responsável por quatro de seus 16 discos.

Elomar, que vive na fazenda Casa dos Carneiros, labuta tanto na criação de bodes e na rotina da vida rural quanto em sua obra musical e literária, que se desdobra em uma série de composições, de formatos diversos – como óperas, sinfonias, concertos, peças para violão solo, ensaios, poemas, peças de teatro, roteiros de cinema e romances. A maior parte do material é inédita.

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Sem coloridos e em tosca moldura

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I MAGEM NÃO REVELA OBRA. Esse mote guia Elomar no combate sem trégua ao uso de fotografias suas no que lhe diz respeito. “Eu nunca vi a cara de Sócrates”, provoca,

aludindo ao filósofo da Antiguidade grega. Dessa forma, em seus discos prefere usar pinturas, de-senhos e outros recursos. Evita ser fotografado ou filmado, ter a voz gravada sem justa razão.

Quando questionado sobre a possibilidade de um ensaio fotográfico para a Ocupação, mesmo que não fosse registrada sua face, Elomar apresentou como solução a poesia de sua autoria “Meu Retrato”. À guisa de fotografias de Elomar, o artista Juraci Dórea foi convidado para criar uma série de imagens que registrassem o cantor e o sertão profundo. Juraci, natural de Feira de Santana (BA), é amigo do cantor e para ele produziu as imagens dos discos Fantasia Leiga para um Rio Seco (1980), Auto da Catin-gueira (1983) e Dos Confins do Sertão (1987). Trabalha com poesia, pintura, escultura, desenho e fotografia e tem como principal referência a cultura sertaneja.

É seu o Projeto Terra, que levou para sete municí-pios do sertão baiano, entre 1982 e 2014, esculturas e pinturas. As esculturas somam 50 e são de madeira e couro, efêmeras. O projeto participou de exposições em São Paulo, Veneza, Cuba e Salvador (2014). Elomar, Juraci, o poeta Antonio Brasileiro, o maes-tro João Omar e a pesquisadora Jerusa Pires Ferrei-ra criaram a IV Real Academia, uma agremiação cheia de mistérios e que preserva a cultura desse mundo sertanejo.

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imagem: Dos Labutos, de Juraci Dórea, guache, 2015

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Infrentei fosso muralha e os ferros dos portaisSó pela graça da gentil senhoraFiltrando a vida pelos grãos de ampulhetas mortaisD’além de Trás-os-Montes venhoPor campos de justas honrando este amorMe expondo à Sanha Sanguinária de cortes cruéisInfrentei vilões no Algouço e em Senhores de BiscaiaFidalgos corpos de armas brunhidasNão temo escorpiões cruéis carrascos vosso paiEnfreado à porta de casteloTenho meu murzelo ligeiro e alazãoQue em lidas sangrentas bateu mil mouros infiéisÓ Senhora dos SarsaisMinh’alma só teme ao Rei dos reisDeixa a alcova vem-me à janelaÓ Senhora dos SarsaisSó por vosso amor e nada maisDesça da torre Naíla donzela

Trecho de “O Rapto de Juana do Tarugo”, do álbum Na Quadrada das Águas Perdidas (1978)

[O dialeto é sutil na modulação sem vírgulas e na pronúncia das palavras. Portugal medieval das Cruzadas e suas batalhas são o cenário para o amor do narrador pela Senhora dos Sarsais. A música funde tempos e geografias em uma homenagem à nonavó de Elomar, Juana do Tarugo, que vivia perto do Rio de Contas, afluente do Rio Gavião.]

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Fosso muralha e os ferros dos portais

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M ÚSICA E ARQUITETURA têm uma relação há muito investigada. Da antiga Grécia aos dias de hoje, as ligações co-muns com o espaço, a forma, a harmo-

nia, os tons e as cores revelam um potencial diálogo estético-estrutural entre as duas artes. Música e ar-quitetura lidam com precisão, ritmos, modulações, silêncios e movimentos.

Formado em arquitetura pela Universidade Fede-ral da Bahia (UFBA), Elomar trabalhou em diver-sos projetos: de casas de bonecas e currais a pon-tes, hospitais, estádios de futebol, escolas e teatros. Na Casa dos Carneiros, onde vive, e nas cercanias projetou a ágora na qual se situaria o Domus Operae – complexo que abrigaria as edições de seu Festival da Ópera Brasileira –, com o Teatro Escola Líri-ca Mineira e o Museu Vivo, com Casa de Farinha, Casa do Leite, Engenho e Tenda do Ferreiro. O lo-cal abriga ainda uma escola-parque para o ensina-mento das práticas rurais.

A arquitetura musical de Elomar, por sua vez, é marcada por uma audácia harmônica que faz popu-lar e erudito se entrelaçarem em um edifício barroco e mestiço sem parelha na paisagem da música bra-sileira. Utilizando na mesma argamassa o hinário cristão, a sonoridade árabe-ibérica e o cancioneiro popular nordestino, ele compõe a partir de quebras de ritmos e quadraturas, estabelecendo cromatis-mos ímpares no panorama musical. Como músi-co-arquiteto, estabelece em suas obras redobras na matéria em ângulo agudo e em direção ao infinito.

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imagem: Vigiano os Rebãin (ou Viola de Pastores), de Juraci Dórea, guache, 2015

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Trecho de “Cantiga do Estradar”, do álbum Cartas Catingueiras (1983)

[O dialeto é árido. Para decifrar trechos como “De pauta velha com a dor” e “O que o abandono guardou” são exigidos do leitor atenção e referenciais do modo de falar sertanejo. A mensagem alude a uma peregrinação, que simboliza o viver, seguindo pre-ceitos cristãos de vencer íntegro as provações do caminho. Faz menção ao poema de Dante A Divina Comédia, do século XIV.]

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Ajuntei no isquicimento o qui o baldono guardô

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D ESDE SEU PRIMEIRO TRABALHO, Elomar explora uma expressão própria da língua portuguesa – grafia e termos – que copia a fala do sertanejo e que foi batizada

pelo criador de “dialeto sertanezo”. Essa troca de letra na palavra sertanejo é exemplo. Segundo o autor, a criação foi necessária para registrar com originali-dade a fala de seus personagens, e pelo consequente respeito a essa expressão.

Sua palavra transita pela oralidade própria aos ha-bitantes do sertão e por um português atravessado por notas medievais. Essa palavra, falada e escrita, se constitui em uma liga mediadora entre o fora e o dentro, o alto e o baixo, compondo territórios vivos da linguagem.

Compilada no sertanezo, ou dialeto catingueiro, essa palavra-artefato exige corpo, na emissão da voz, e a mente acesa, aberta. É, simultaneamente, imanência e alteridade, trazendo consigo o sotaque das eras mais arcaicas e projetando uma novidade fraturada, um futuro possível, ressoante. Palavra inquieta para ser cantada, ouvida, devorada, falada, o dialeto inventado de Elomar mergulha na tradição, na invenção e sobretudo nas artimanhas da sedução.

É uma palavra exigente, erótica, retórica, cuja magia está (precisa ou imprecisamente) em do-minar a multiplicidade do tempo, em manipular as tensões e fagulhas dos contrários.

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imagem: O Violeiro, de Juraci Dórea, guache, 2015

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Trecho de “Desafio”, do álbum Auto da Catingueira (1983)

[O trecho é da única ópera encenada de Elomar – estreou em 2011, em Belo Horizonte. O excerto narra o desafio de dois violeiros que duelam pelo amor de uma linda pastora chamada Dassanta.]

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O cantadô pede licença

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U TILIZANDO-SE A METÁFORA do tecido, um tecido musical, a obra de Elomar se mostra como um grande texto em dobras, uma tessitura polifônica que

se dobra, desdobra e redobra sobre si mesma em movimento contínuo.

Sua música se configura, portanto, como um orga-nismo vivo, modulante: um corpo. Desobediente a preceitos canônicos, reúne amarrações, parcelas, puluxias, desafios e galopes (gêneros de cantorias de viola e repente) e composições como antífonas (tipo de música litúrgica), concertos, sinfonias e óperas.

Alinhavando essas dobras, o músico se coloca em conversação com tradições desterritorializadas, nômades: de uma Europa medieval, que se torna muito próxima, em cantigas de amigo e de amor e em pastorais; passando por uma África em diáspora nos batuques e na chula; até retornar para a Europa teatralizada do concerto barroco e do gênero operís-tico. Tudo isso transitando por tensões e harmonias possíveis num sertão povoado de vozes, acentos, sotaques. Um sertão povoado de vidas em passagem.

Transfigurando os gêneros musicais e subvertendo as noções lineares de tempo, essa música, geralmen-te, e equivocadamente, circunscrita a uma denomi-nação regional, é elaborada para além de fronteiras. É portal e errância. De raiz mestiça, caminha e agre-ga, sem distinção, influências populares e eruditas, estabelecendo um novo paradigma no cenário da música brasileira do século XX em diante.

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Dividida em dois núcleos, o cancioneiro e a música culta, mantém-se viva e pulsante, mesmo tendo seu último registro (o disco de carreira Cantoria 3) lançado há 20 anos.

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“Corban”, do álbum Cartas Catingueiras (1983) [Korban é uma palavra de origem hebraica cujo significado é sacrifício. Na canção o termo se refere ao fim dos tempos, ao apocalipse. O narrador, que se diz pecador, pede e espera a chegada de Cristo, para que ele possa assim amenizar as guerras e enfermidades.]

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Ao sol peço clemença

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O SEMIÁRIDO BRASILEIRO é uma das mais povoadas regiões de terras se-cas do planeta. Historicamente casti-gado pela estiagem e pelo descaso po-

lítico, foi marcado com a brasa do trágico em nosso imaginário – vidas secas, retirantes, asa branca e diadorins, em todos a dor e a perda latejam.

Como a economia rural da região sempre foi frágil, a população de lá por anos muniu o país de mão de obra na mais representativa diáspora brasileira – sertanejos construíram as capitais do Sudeste e desbravaram as selvas do Norte e os serrados do Centro-Oeste. Por onde foram leva-ram seus hábitos e sua cultura. Carne-seca e fari-nha, religiosidade e superstição, música e poesia.

No sertão da Bahia estão três fazendas que marca-ram a vida de Elomar: – A Casa dos Carneiros, no povoado da Gameleira, distrito do Iguá, Vitória da Conquista; – A Fazenda Duas Passagens, Tanhaçu, divisa com Anagé, no curso do Rio Gavião – geralmente cha-mada por ele de Gavião; – A Fazenda Lagoa dos Patos, na encosta da Cha-pada Diamantina. Situada em Livramento de Nos-sa Senhora, é comumente posta por Elomar no mu-nicípio próximo, Lagoa Real, conhecido pelas Festa e Missa do Vaqueiro.

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Cenários e habitantes dessas terras estão presen-tes em sua obra, convivendo com suas fantasias. Há lugares que existem e outros que ainda não foram encontrados. Há pessoas de carne e osso e outras vaporosas. MIA NOIVA É A LUA NOVASertanejos, camponeses, indígenas e outros povos de tradição telúrica marcam o tempo de plantar e de colher ou atividades como amassar o barro para construções e cortar o cabelo pelas fases da lua, que também influencia assombrações, amores, marés. O mesmo faz Elomar e, dessa forma, conhece as quadras da lua e por meio delas registra o tempo.

SÃO SETE MIL LÉGUASO número 7 tem atenção especial na música de Elo-mar. Número apolíneo, o 7 representa a perfeição e a unidade e corresponde aos dias da semana, às es-feras celestes, às pétalas da rosa e aos galhos da ár-vore cósmica, entre outros simbolismos possíveis. É o número da completude humana e da perfeita união do masculino ao feminino.

Outro número evocado por Elomar, o 17 é místico ou mágico em algumas tradições orientais, repre-sentando a quantidade de letras do nome de Deus.

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A precie paisagens e pedaços das fazendas Casa dos Carneiros e Duas Passagens.

A primeira é a estrada de acesso à Casa dos Carneiros, na Gameleira, seguida por um detalhe do curral dos bodes e um pau-ferro secular. A quarta revela a cerca Gabriela, criada por Elomar, seguida por uma vista da casa da Fazenda Duas Passagens, pela caatinga com mandacarus e pelo sol se pondo atrás da Serra da Tromba.

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programação paralela

Durante a Ocupação Elomar, a programação paralela traz concertos e outras atividades cujo sertão é terra e sol.

Da Carantonha Mili Légua a CaminháNo dia da abertura da Ocupação Elomar, o artista apresen-ta o primeiro de dois concertos no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, em que, acompanhado dos malungos Heraldo do Monte e João Omar, revisita seu cancioneiro.

O título do espetáculo tem origem na abertura de uma de suas canções, “Na Quadrada das Águas Perdidas”, uma lagoa cujas bordas vazam o conteúdo, que de repente se reconstitui. Famosa nas histórias dos vaqueiros, essa la-goa ainda não foi encontrada por Elomar, ele afirma exis-tir nas redondezas de uma de suas fazendas.

A frase é um brado peregrino em dialeto catingueiro, “Da Carantonha mili léguas a caminhar”, que na canção segue com a resposta do coro, “muito mais, inda mais”. A Carantonha é uma serra da região da mesma fazenda, encantada, visitada por vaqueiros e seres que habitam as horas perdidas.

Da Carantonha Mili Légua a Caminhácom Elomar Figueira Mello e participação especial de Heraldo do Monte e João Omarsábado 18 de julho de 2015às 21hdomingo 19 de julhoàs 19hauditório ibirapuera – oscar niemeyerR$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Manto CantadoEducadores e visitantes embarcam em uma viagem para o sertão imaginário das canções de Elomar na produção coletiva de um manto de cavaleiro. Durante a mostra, aos sábados e domingos, o grupo produzirá – a partir do mote de canções – imagem e/ou texto com os materiais e técni-cas de bordado e desenho em tecido e feltro. O manto do cavaleiro, ao final, será oferecido ao homenageado.

sábado 18 e domingo 19 de julho às 14h e às 17hsábado 25 de julho a domingo 23 de agostoàs 17h[duração aproximada 60 minutos]itaú cultural – piso térreo[mais bem aproveitado por crianças acima de 9 anos]Mais informações pelo telefone 2168-1876, de terça a sexta, das 9h às 20h, ou no balcão de atendimento ao público. Se Essa Rua Fosse Nossa Nas Abas do Meu CordelA intervenção Nas Abas do Meu Cordel, criada pela Cia. da Matilde, ocorre às 11h, às 13h e às 16h –, com artistas cantando cantigas e contando histórias rimadas no es-paço público. Quem quiser pode participar por meio de trava-línguas e adivinhas relacionados à literatura de cor-del. Às 12h, uma série de brincadeiras de rua é comanda-da pela Casa do Brincar.

Das 11h às 17h, o Cantinho da Leitura disponibiliza seu acervo e acesso ao site infantil do instituto, O Mundo de Bartô [bartoitaucultural.org]. Ocorre também a Feirinha de Troca de livros, CDs e DVDs infantojuvenis.

domingo 26 de julho das 11h às 17hrua leôncio de carvalho [ao lado do itaú cultural]

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Quintas MusicaisAo SertanoO maestro e músico João Omar lança seu disco mais recente, Ao Sertano, em que interpreta antífonas compostas por seu pai. As peças solo para violão representam parte da obra erudita sobre a qual Elomar se dedica há mais de 20 anos e é, praticamente, inédita. Antífonas são músicas litúrgicas que intermeiam a récita de salmos. Na leitura de Elomar, ganham traços mestiços de cantorias, flamencos e outras influências.

quinta 13 agostoàs 20hsala itaú cultural – 249 lugares [distribuição de ingressos 30 minutos antes do início do espetáculo]

Toca BrasilJurema Jurema Paes é uma cantora baiana que tem em Elomar o primeiro referencial musical e de quem já gravou, em roupagem nova, duas canções em seu primeiro disco.

Flávio Paiva e Dona ZefinhaInvocado é adjetivo que leva a dois caminhos, o que se invocou em uma prece ou o que se invocou por cisma. Nesse caso, o escritor cearense Flávio Paiva recorre ao se-gundo sentido para apresentar um olhar sobre a música brasileira provocante e atemporal. O show é homônimo ao livro-CD lançado em 2014, com ilustrações musicais de autores cearenses em gravações acústicas da banda Dona Zefinha.

O curta em 3D A Roza é uma animação que conta uma história de amor e desgraça, nas vésperas de um casa-mento, como tantas da tradição oral sertaneja. Elomar é o narrador do filme e João Omar autor da trilha sonora. O

A Roza

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Toca BrasilJuremasexta 14 agosto às 20hsala itaú cultural – 249 lugares

Flávio Paiva e Dona Zefinhasábado 15 de agostoàs 20hsala itaú cultural – 249 lugares

A Roza (Marieta Cazarré e Juliano Cazarré, 2013, 11 min)domingo 16 de agostoàs 18hsala itaú cultural – 249 lugares [distribuição de ingressos 30 minutos antes do início do espetáculo]

Quintas MusicaisA Meu Deus um Canto NovoA cantora e historiadora baiana Jurema Paes conversa sobre a carreira, referências e ressonâncias da obra de Elomar em suas produções e no cenário musical brasileiro. A mediação é da poeta Micheliny Verunschk.

quinta 30 de julhoàs 20hsala itaú cultural – 249 lugares

enredo é a adaptação do conto “No Manantial”, do regio-nalista gaúcho Simões Lopes Neto.

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Lá na Casa dos CarneirosA Casa dos Carneiros é uma associação cultural cujo objetivo é a administração, a preservação e a propagação da obra de Elomar Figueira Mello, bem como a pesquisa, a preservação e a dissemi-nação da arte puramente brasileira. Atua desde 2007 promoven-do e apresentando projetos artístico-culturais nas mais variadas linguagens, como exposição, cinema, teatro, concerto, sarau e sim-pósio de literatura. Implantou com pioneirismo o projeto Festival da Ópera Brasileira – inaugurado em 2010 –, a fim de celebrar e tornar conhecida a Ópera Brasileira e seus autores que estão no anonimato. Está localizada na Fazenda Casa dos Carneiros, a 20 quilômetros de Vitória da Conquista.

contato: [email protected]

“Cantiga de Amigo”, do álbum Das Barrancas do Rio Gavião (1972)

[O título da canção tem como referência a lírica medieval ibérica. Assim eram chamadas as composições de amor em que mulhe-res confessavam a paixão a seus pretendentes, o amigo.]

Lá na Casa dos Carneiros Onde os violeirosVão cantar louvando você.Em cantigas de amigo Cantando comigoSomente porque você é Minha amiga mulherLua nova do céu Que já não me quer

Dezessete é minha contaVem amiga e contaUma coisa linda pra mimConta os fios dos seus cabelosSonhos e anelosConta-me se o amor não tem fimMadre a amiga é ruimMe mentiu jurando Amor que não tem fim

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Ocupação Elomar18 de julho a 23 de agosto 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h entrada franca

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FICHA TÉCNICA Concepção e realização Itaú CulturalCuradoria Equipe Itaú CulturalProjeto expográfico Henrique Idoeta

Digitalização de fotos e documentos Laerte Fernandes

Itaú Cultural Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

Núcleo de MúsicaGerência Edson NataleCoordenação Alexandre Di PietroProdução executiva Bianca Costa

Núcleo de EnciclopédiasGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Camila Nader, Láercio Menezes e Bruna Ferreira (estagiária)

Núcleo de Produção de Eventos Gerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução Carmen Cristina Fajardo Luccas, Cristiane Zago, Daniel Suares (terceirizado), Érica Pedrosa Galante, Laís Silveira (terceirizada) e Wanderley BispoExpografia Érica Pedrosa Galante e Henrique Idoeta Soares

Núcleo de Audiovisual e LiteraturaGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety NassarProdução audiovisual Ana Paula Fiorotto e Camila FinkCaptação de imagens André Seiti, Luiza Fagá e Ricardo Saito (terceirizado)Edição de vídeo Luiza FagáSom Tomás Franco, Fernanda Porto e Gustavo Nascimento (terceirizados)

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Núcleo de Educação e RelacionamentoGerência Valéria ToloiCoordenação de atendimento educativo Tatiana PradoEquipe Amanda Freitas, Caroline Faro, Thays Heleno, Victor Soriano e Vinicius MagnunEstagiários Alan Ximendes, Alessandra Boa Ventura, Ana Paula Sampaio, Ana Tramontano, Breno Gomes, Bruna Linndy, Carolina Candido, Carolina Luditza, Daiana Terra, Elaine Lino, Felipe Leiva, Felipe Nogueira, Gabriela Akel, Giovani Monaco, Jaqueline Chile, João Bueno, Kleithon Barros, Leandro Lima, Marina Moço, Paloma Rodrigues, Rafael Freire, Renata Sterchele, Roger Dezuani, Thais Seixas, Thomas Angelo, Victoria Pinheiro e William MirandaCoordenação de programas de formação Samara FerreiraEducadores Bianca Selofite, Carla Léllis, Claudia Malaco, Edinho Santos, Josiane Cavalcanti, Lucas Takahaschi, Luisa Saavedra, Malu Ramirez, Raphael Giannini e Thiago Borazanian

Núcleo de Comunicação e RelacionamentoGerência Ana de Fátima SousaCoordenação de conteúdo Carlos CostaProdução e edição de conteúdo Maria Clara Matos e Micheliny Verunschk (terceirizada)Edição do site Maria Clara MatosRedes sociais Renato CorchRevisão de texto Karina Hambra (terceirizada) e Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Guilherme Ferreira, Richner Allan e Yoshiharu ArakakiProdução editorial Luciana AraripeProdução gráfica Lilia Góes e Toninho AmorimEdição de fotografia André Seiti e Marcos Ribeiro (terceirizado)Relacionamento Jaqueline Santiago e Patricia Recarey (estagiária)Eventos e comunicação estratégica Melissa Contessoto e Simoni Barbiellini

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Arquivos Implacáveis da Casa dos CarneirosTitular Elomar Figueira MelloCoordenação técnico-administrativa Rossane Nascimento

Etapa ICoordenação arquivística Marcos Profeta Ribeiro e Rita de Cássia Mendes PereiraEquipe Danilo Oliveira, Gilson Rodrigues, Gabriela Almeida Mello, João Omar Carvalho Mello, Juliane Dantas, Laluña Gusmão, Naelza Lacerda Brito, Rossane Nascimento, Sirlene Chaves, Tales Dourado, Tatiana Souza Rabelo, Vanúzia Nascimento e Washington Luis S. Fonseca

Etapa IICoordenação arquivística Mônica Teixeira AmorimEquipe Bianca Adlai, Elizabete Costa de Oliveira, Fernando Gundlach, Gabriela de Carvalho Mello, Gilson Rodrigues Bomfin, João Omar Carvalho Mello, Maíra Cibleris, Meisa da Silva Gusmão, Naelza Lacerda Brito, Orônio Nunes de Oliveira, Rossane Nascimento, Tatiana Souza Rabelo, Vanúzia Nascimento e Washington Luis S. Fonseca

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