Guia de Avaliação, Implantação e Monitoramento de ...rebrats.saude.gov.br/images/MenuPrincipal/Guia_Avaliacao... · Guia de Avaliação, Implantação e Monitoramento de Programas

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  • Guia de Avaliao, Implantao e Monitoramento de

    Programas e Servios em Telemedicina e Telessade

    Erno Harzheim

    Natan Katz

    Cleusa Ferri

    Jefferson Gomes Fernandes

    Ingrid Barbosa

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Hospital Alemo Osvaldo Cruz

  • 1

    Lista de Quadros

    Quadro 1. Check list do Instrumento de Avaliao de Telessade

    Lista de Figuras

    Figura 1. Fluxograma do resultado da identificao e seleo dos estudos

    Figura 2: O alinhamento das teorias de avaliao com os diferentes estgios do ciclo de

    vida da telessade

    Figura 3. Um modelo de Telessade

    Figura 4. Principais aspectos para um efetivo projeto de Telessade

    Lista de Siglas e Abreviaturas ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar

    APP - Aplicativo

    APS Ateno Primria Sade

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    CFFa Conselho Federal de Fonoaudiologia

    CFM Conselho Federal de Medicina

    CFP Conselho Federal de Psicologia

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    DATASUS Departamento de Informtica do SUS

    ECG - Eletrocardiograma

    ESF- Estratgia Sade da Famlia

    UE Unio Europeia

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FMRAC - Federation of Medical Regulatory Authorities of Canada

    FOMTA - Fundamental of Modern Telemedicine for Africa

    ISSSTE - Instituto de Seguridad y Servicios Sociales de los Trabajadores del Estado

    NHFPC - National Health and Family Planning Commission

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PROADI-SUS Programa de Desenvolvimento Institucional do SUS

    RAFT - Reseauen Africue Francophone pour La Telemedicine

    RNP Rede Nacional de Pesquisa

    RUTE Rede Universitria de Telemedicina

    SAS Secretaria de Aes em Sade

    SGTES Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao em Sade

    SOF Segunda Opinio Formativa

    SUS Sistema nico de Sade

    TICS Tecnologias de Informao e Comunicao

  • 2

    Sumrio

    Apresentao 3

    Metodologia de Elaborao do Guia 4

    Introduo 6

    Conceitos 9

    Histrico da Telemedicina 11

    Marco Normativo no Brasil 14

    Como avaliar solues em Telessade? 16

    Instrumento de Avaliao em Telessade 19

    1. Identificao das necessidades em sade 23

    2. Escolha da soluo e definio da tecnologia 25

    3. Aspectos legais e ticos 26

    4. Aceitabilidade 27

    5. Auditoria e monitoramento 29

    6. Indicadores 30

    7. Aspectos polticos 33

    Concluso 35

    Bibliografia 37

    Anexos 46

    Anexo 1. Instrumento de Implementao, Avaliao e Monitoramento com Referncias 46

    Anexo 2. Panorama da Telemedicina no Brasil 54

    Anexo 3. Telessade no mundo 68

    Anexo 4. Modelo de Escala para Usabilidade 80

  • 3

    Apresentao

    Este Guia de Avaliao, Implantao e Monitoramento de Programas e Servios de

    Telemedicina e Telessade tem por objetivo apoiar, gestores, profissionais de sade,

    usurios e outros atores, em todas as suas fases, desde o apoio para implantao de novas

    ofertas em Telessade at a avaliao de servios j consolidados. O instrumento

    apresentado ao final poder ser utilizado em sua forma integral, ou apenas sees

    especficas, de acordo com a necessidade.

    Desenvolvido como um dos projetos PROADI-SUS do Hospital Alemo Oswaldo

    Cruz, a elaborao deste guia contou com participao da equipe do prprio Hospital, que

    possui larga experincia em Telemedicina, de integrantes do Ministrio da Sade

    (Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos e Secretaria de Gesto do

    Trabalho e da Educao na Sade) e consultores contratados. A equipe responsvel foi

    composta por profissionais de sade com formao e experincia no desenvolvimento,

    gesto e avaliao de servios de Telemedicina e Telessade, assim como em

    Epidemiologia Clnica.

    Alm de apresentar um instrumento formal para implantao, avaliao e

    monitoramento de Telemedicina e Telessade, este Guia apresenta conceitos bsicos sobre

    o tema, um breve histrico da telemedicina, assim como seu marco normativo no Brasil.

    Pretende, tambm, contextualizar brevemente a situao da Telemedicina e Telessade no

    Brasil e no mundo. Sem essa descrio do estado da arte em nosso meio, o debate

    fundamental que gira em torno de sua regulamentao e aprovao no Brasil se torna frgil.

    essencial mostrar a quem procura apoio para implantao ou avaliao de servios de

    Telemedicina, que esta possui consistncia e solidez ao redor do mundo, e que um dos

    principais desafios brasileiros lidar com os entraves impostos pela legislao brasileira,

    mais do que com a produo de servios na rea. Afinal, j impensvel organizar um

    sistema de servios de sade, seja pblico e/ou privado, que no possua estratgias de

    Telemedicina e Telessade como um de seus eixos organizacionais. Vale a pena esclarecer

    que este Guia no se dirige a implantao de aes de teleducao, apesar de sua relevncia.

  • 4

    Por escolha dos autores, o foco principal deste Guia so os servios assistenciais e/ou de

    suporte de Telemedicina e Telessade.

    Metodologia de Elaborao do Guia

    Este guia tem o objetivo de disponibilizar um arcabouo metodolgico para a

    implementao, avaliao e monitoramento de programas ou servios de telemedicina e

    telessade no pas. Para atingir tal objetivo, seguiu-se a seguinte metodologia:

    - Dezembro de 2016: definio do escopo do guia entre autores e representantes do

    Ministrio da Sade;

    - Fevereiro de 2017: reviso sistemtica da literatura sobre o tema, descrita em

    maiores detalhes a seguir;

    - Julho de 2017: evento com especialistas em telessade com o objetivo de discutir

    o escopo desse guia e do instrumento de implementao, avaliao e

    monitoramento. Estiveram presentes representantes do Ministrio da Sade,

    Conselho Federal de Medicina, ncleos de Telessade, Rede Rute, hospitais de

    excelncia em uso de Telemedicina, provedores privados e instituies de ensino e

    pesquisa. Alm disso, foram convidados usurios de solues de telessade.

    - Novembro de 2017: reunio presencial entre os autores do guia.

    - Dezembro de 2017: disponibilizao da verso final do guia para consulta pblica.

    Para reviso sistemtica, a busca dos artigos cientficos foi realizada em dois

    momentos: a primeira em janeiro de 2014 e a segunda em fevereiro de 2017, nas bases de

    dados MEDLINE e EMBASE via OVID.

    Os estudos deveriam apresentar a criao de um conceito/framework ou uma lista

    de recomendaes baseados em uma reviso sistemtica ou em um processo de consenso

    formal. Alm disso, esta estrutura ou lista de recomendaes deveriam conter sugestes

    abordando desfechos clnicos relevantes ou domnios de desfechos clnicos.

    As pesquisas estruturadas na base de dados eletrnicas foram conduzidas por um

    dos autores (CPF). O processo de triagem dos estudos foi realizado em duas etapas.

    Primeiro, um dos revisores selecionou os ttulos e resumos de todos os estudos

  • 5

    identificados atravs da pesquisa bibliogrfica. Os estudos que no cumpriram os critrios

    de elegibilidade pr-especificados foram excludos da avaliao. Em uma segunda etapa,

    foi obtido o texto integral dos estudos selecionados que foram ento avaliados em relao

    aos critrios de elegibilidade por trs revisores (CPF, EH e NK).

    Ao todo, 2625 artigos foram identificados com a nova busca e 19 j haviam sido

    identificados na reviso sistemtica anterior. Dos 2625, 64 foram selecionados com base

    na leitura dos ttulos e resumos, 19 j haviam sido identificados na reviso anterior e 2 por

    outras vias, totalizando 85 cujo texto completo foi avaliado. Outros dois textos foram

    incorporados na reviso por sugesto dos especialistas em Telessade. Destes, 20 foram

    includos como representado na Figura 1.

    Figura 1. Fluxograma do resultado da identificao e seleo dos estudos

    Dos 20 estudos includos, oito focaram em sistemas ou programas de uma forma

    ampla, sendo um deles uma reviso de revises sistemticas. Dois deles tinham foco em

    servios especficos, sendo um no cuidado intensivo e o outro, mais recente, em hospitais.

    Quatro estudos eram voltados para condies especficas; dois em sade mental, um em

    cuidado paliativo peditrico domiciliar e um em teletutoria cirrgica. Seis estudos

  • 6

    avaliaram as metodologias de avaliao para aplicativos de sade no celular, sendo um

    deles uma reviso sistemtica recente sobre a qualidade dos mtodos de avaliao. A partir

    da anlise desses estudos foram desenvolvidos os tpicos deste guia, acerca de implantao

    e avaliao de Telemedicina.

    Introduo

    Telemedicina pode ser definida como a prestao de servios de sade por

    profissionais da rea, onde a distncia um fator crtico, usando Tecnologias de

    Informao e Comunicao (TICs) para o intercmbio de informaes vlidas para o

    diagnstico, tratamento e preveno das doenas e leses, pesquisa e avaliao, e para a

    educao continuada dos profissionais de sade; tudo no interesse de promover a sade dos

    indivduos e suas comunidades1. Essa definio da Organizao Mundial da Sade (OMS)

    ainda se mantm atual, visto que nos ltimos 19 anos as TICs tomaram conta de nossas

    vidas, e computadores de alta performance so encontrados nos bolsos de bilhes de

    pessoas em todo o mundo, superando o acesso de servios essenciais como gua e esgoto

    encanados2,3. Entretanto, no h uma consistncia conceitual entre os diversos termos

    utilizados na literatura. Telemedicina, telessade e e-sade, por exemplo, podem apresentar

    definies distintas entre diferentes autores, variando quanto s funes, envolvimentos

    institucionais e profissionais, contextos e objetivos a serem alcanados4. Uma

    nomenclatura clara e comum poder beneficiar o avano do uso desta tecnologia.

    A prestao de servios em sade em nosso pas ainda se mostra receosa em

    incorporar de forma definitiva esses avanos. Se a utilizao de pronturios eletrnicos tem

    substitudo o registro em papel, ainda com certa lentido, h uma gama de possibilidades

    pouco exploradas capazes de enfrentar os desafios em sade j postos h muitos anos.

    As dificuldades enfrentadas pelos sistemas de sade so consequncia da transio

    demogrfica e epidemiolgica e do desenvolvimento da medicina. A populao est cada

    vez mais velha, e o atual momento traz uma alta morbimortalidade provocada por doenas

    crnicas no transmissveis5,6. O impacto ainda maior na populao mais vulnervel

  • 7

    economicamente, visto que, frequentemente, o cuidado tardio, demandando a utilizao

    de tecnologias de alto custo e inovadoras, ampliando muito os gastos em sade79. Essas

    tecnologias esto frequentemente concentradas em grandes centros urbanos, o que penaliza

    tambm as pessoas que moram nas reas rurais e/ou que tem restrio de acesso impostas

    por barreiras socioeconmicas. A presso dos custos, das perdas (afastamento das

    atividades produtivas), dos deslocamentos e dos problemas de gerenciamento, implica em

    um aumento da iniquidade, e tem impacto negativo tanto no sistema de sade pblico

    (Sistema nico de Sade SUS) como no privado/sade suplementar, bem como traz

    prejuzos para as atividades econmicas dos pacientes envolvidos.

    Esse contexto epidemiolgico complexo e diverso requer mltiplas respostas do

    sistema de sade. Exige igualmente uma nova organizao da ateno sade em nvel

    micro (o processo de cuidado) e macro (a gesto dos servios e sistemas de sade). A

    resposta deve possibilitar um cuidado continuado, integral, coordenado e centrado no

    paciente/pessoa. Neste cenrio, a qualidade e o fluxo da informao entre os diferentes

    atores sociais implicados representa um desafio central.

    Estratgias de integrao dos servios esto presentes desde antes da Constituio

    de 1988. Com a organizao do SUS e o papel cada vez mais atuante da Agncia Nacional

    de Sade Suplementar (ANS), essas estratgias tm se fortalecido do ponto de vista

    normativo e operacional10, porm de forma mais rpida e intensa no aspecto normativo. No

    contexto da organizao de sistemas de sade aptos a dar resposta aos desafios

    epidemiolgicos, mantendo sustentabilidade econmico-financeira dos mesmos, trs

    aspectos so centrais nessa discusso: acesso, qualidade e custo das aes em sade. Aliado

    a isto, as aes efetivas devem apresentar a maior qualidade possvel, isto , serem

    corretamente aplicadas, apropriadas aos sujeitos que mais se beneficiam, alcanando a

    maior escalabilidade possvel, no momento oportuno, no lugar certo e com o custo certo.

    justamente nesta trade de acesso, qualidade e custo que tecnologias de

    Telessade podem representar um grande avano na prestao de cuidados em sade. Estas

    tm papel estratgico na consolidao de Redes de Ateno Sade e melhoria da sade

    da populao medida que ultrapassam barreiras de acesso fsico ao ofertar intervenes

  • 8

    efetivas, reguladas por mecanismos promotores de equidade e que previnam uso indevido

    de intervenes mdicas (preveno quaternria1), sempre aliadas a um custo adequado12

    14.

    A palavra-chave em Telessade interao. Interao entre profissionais de sade,

    entre profissionais de sade e pacientes, entre gestores e profissionais de sade, entre

    gestores e pacientes, entre diferentes gestores e ainda destes com outros atores desse

    ecossistema. Por ser ferramenta de interao e de integrao, cujo contedo a informao

    (ou dados) transmitida por via eletrnica, permite a incorporao de diversos mecanismos

    de regulao e coordenao do cuidado em sade.

    Descrita desta forma, torna-se bvia a importncia da Telemedicina na

    consolidao de Redes de Ateno Sade, aliando os conceitos de acesso facilitado,

    qualidade e custo. Esse guia tem por objetivo disponibilizar um arcabouo metodolgico

    para a implementao, avaliao, e monitoramento de programas ou servios de

    telemedicina e telessade no Brasil.

    1 aes tomadas para identificar o paciente em risco de supermedicalizao, proteg-lo de uma nova invaso mdica e sugerir-lhe intervenes que so eticamente aceitveis11.

  • 9

    Conceitos

    Telessade pode ser conceituada como o uso das modernas tecnologias da

    informao e telecomunicaes (TICs) para atividades distncia relacionadas sade em

    seus diversos nveis (primrio, secundrio e tercirio)15. Nesse trabalho utilizaremos os

    termos Telessade e Telemedicina como intercambiveis, para abarcar a prestao de

    servios em sade por meio das TICs.

    H na literatura mundial uma divergncia nos conceitos utilizados em Telessade,

    a qual dificulta inclusive a comparao de publicaes e mesmo de modelos de prestao

    de servios. Faz-se necessria a criao de uma nomenclatura comum. Utilizaremos nesse

    guia os termos definidos pelo Ministrio da Sade:

    Teleconsulta: a realizao de consulta mdica (ou por outro profissional de sade)

    a distncia por meio de tecnologia de informao e comunicao, isto , interao

    a distncia entre profissional de sade e paciente2.

    Teleconsultoria: consulta registrada e realizada entre trabalhadores, profissionais e

    gestores da rea de sade, por meio de instrumentos de telecomunicao

    bidirecional, com o fim de esclarecer dvidas sobre procedimentos clnicos, aes

    de sade e questes relativas ao processo de trabalho, podendo ser de dois tipos:

    sncrona, realizada em tempo real, geralmente por web, videoconferncia ou

    telefone; ou assncrona, realizada por meio de mensagens off-line16. Nesse cenrio

    pode ser includo atividades de telementoria, como em cirurgias17.

    Telediagnstico: servio autnomo que utiliza as Tecnologias de Informao e

    Comunicao para realizar servios de Apoio ao Diagnstico atravs de distncias

    geogrficas e/ou temporais, incluindo diversos subtipos como Telerradiologia,

    2 A teleconsulta realizada por mdicos ainda no permitida no Brasil pelo Art. 37 do Cdigo de tica Mdica, salvo em situaes de emergncia, o que regulado pela Resoluo 1.643/02 do Conselho Federal de Medicina.

  • 10

    Tele-eletrocardiograma, Tele-eletroencefalograma, Tele-espirometria,

    Telepatologia, e outros, geralmente de forma assncrona

    Telecirurgia: realizao, a distncia, de cirurgia (ou procedimento) por um

    cirurgio, por meio de um sistema robtico; conhecida como cirurgia remota

    (remote surgery).

    Telemonitoramento: monitoramento a distncia de parmetros de sade e/ou

    doena de pacientes por meio de TICs, incluindo a coleta de dados clnicos do

    paciente, sua transmisso, processamento e manejo por um profissional de sade

    por meio de um sistema eletrnico12.

    Teleducao: conferncias, aulas, cursos, ou disponibilizao de objetos de

    aprendizagem interativos sobre temas relacionados sade ministrados a distncia

    por meio de TICs15.

    Segunda Opinio Formativa (SOF): resposta sistematizada, construda com base

    em reviso bibliogrfica das melhores evidncias cientficas e clnicas e no papel

    ordenador da ateno bsica sade, a perguntas originadas das teleconsultorias, e

    selecionadas a partir de critrios de relevncia e pertinncia em relao s diretrizes

    dos servios de sade15.

    O presente guia tem foco nas ofertas de telemedicina que no englobam atividades

    de teleducao e segunda opinio formativa.

  • 11

    Histrico da Telemedicina

    O termo Telemedicine s foi incorporado como Medical Subject Headings (MeSH

    Term) junto Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da Amrica (National

    Library of Medicine) em 1993. Este ano marca a exploso da Internet como ferramenta de

    comunicao, tornando-se a partir da a tecnologia mediadora da colaborao em sade.

    Isto demonstra a contemporaneidade da sistematizao dos conceitos, publicaes, estudos

    e pesquisas sobre o tema. Por outro lado, iniciativas de ofertar consultas e servios

    diagnsticos e/ou teraputicos interativos e a distncia, por meio de TICs, remontam ao

    sculo XIX.

    Nesse processo histrico de desenvolvimento da Telemedicina, mesmo sem

    intencionalidade, podemos encontrar iniciativas pioneiras, sucedidas por experincias cada

    vez mais replicveis e efetivas, que tornaram possveis atualmente a realizao de

    teleconsultorias, teleconsultas, telediagnstico, telecirurgias e telemonitoramento. H

    relatos variados em publicaes mdicas sobre uso anedtico do telefone, no sculo XIX,

    tanto na realizao de teleconsultas como de teleconsultorias entre mdicos. No incio do

    sculo XX, inmeras experincias de telediagnstico foram realizadas, boa parte delas com

    eletrocardiogramas (ECG), antes do desenvolvimento da computao e da transmisso

    eletrnica de dados. Dada natureza eltrica dos dados que compem um ECG, este exame

    foi um dos primeiros, conjuntamente a exames de imagem de raio X, a serem realizados a

    distncia por meio de alguma tecnologia de comunicao.

    Como relatam Bashshur e colaboradores12, em 1905, Einthoven usou um telefone

    para transmitir sons cardacos desde o hospital at sua casa, descrevendo a experincia em

    um artigo publicado em um peridico cientfico holands (Ned Tijd Geenesk) em 1906,

    quando, qui pela primeira vez, se utilizou o prefixo tele aplicado medicina. Poucos

    anos depois, em 1910, houve um dos primeiros relatos de transmisso via rede eltrica de

    um ECG do quarto do paciente para um laboratrio dentro de um mesmo hospital18. Nas

  • 12

    dcadas seguintes, pases que possuam forte marinha mercante, seguindo o pioneirismo

    da Noruega nos anos de 1920, instituram a prtica da teleconsultoria e teleconsulta via

    rdio entre hospitais e navios, incluindo teleconsultorias sobre procedimentos cirrgicos

    de urgncia12.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se com intensa rapidez a

    transmisso de imagens de raio X. Algumas experincias utilizaram sinais de rdio ou

    telefones cabeados, com resultados limitados. Na dcada de 50, na Universidade de

    Nebraska, Estados Unidos, um circuito interno de televiso foi utilizado para atividades de

    teleducao em psiquiatria, realizando, inclusive, sesses de terapia de grupo a distncia12.

    A partir da dcada de 70, h um florescimento de iniciativas de Telemedicina nos

    Estados Unidos e na Europa, com programas de Telemedicina muito similares aos atuais,

    integrando aes de teleassistncia com teleducao. As viagens espaciais tambm deram

    grande impulso para Telemedicina. A Agncia Espacial Americana (NASA) empreendeu

    inmeros esforos para seu desenvolvimento, usando telemetria para fazer

    telemonitoramento dos astronautas sob gravidade zero19.

    J no sculo atual, como bem exemplifica Castro-Filho em sua tese de doutorado,

    a Telemedicina passa a ser incentivada inclusive por organismos internacionais20:

    Em 2004, a Organizao Mundial da Sade (OMS) incorporou o

    amplo leque de servios eletrnicos ligados sade, conhecido

    como eHealth, em sua estratgia para os pases membros (World

    Health Organization, 2004). Em 2005, instituiu o Global

    Observatory for eHealth e promoveu uma pesquisa mundial nesta

    rea para conhecer as necessidades dos pases. Entre os domnios

    desta survey, publicada em 2006, estiveram Sistema de Informaes

    para o General Practitioner (GP - termo usado em alguns pases

    europeus para o Mdico de Famlia), Sistemas de Suporte Deciso

    Clnica e Telessade. Os focos na Ateno Primria Sade, na

    qualificao das condutas e nas ferramentas de colaborao e ao

    a distncia estiveram, desde o incio, entre as preocupaes da OMS

    (World Health Organization, 2006b). Ainda em 2006, o referido

    Observatrio publicou um segundo relatrio (World Health

    Organization, 2006a). Nele previa uma forte ampliao de eHealth

  • 13

    entre os pases membros para os dois anos seguintes, como de fato

    veio a ocorrer no Brasil.

    Desde ento a implementao de servios em telemedicina, e consequentemente os

    investimentos financeiros, tem aumentado substancialmente. Algumas reas como a

    radiologia, patologia, dermatologia e psiquiatria tem maior destaque, visto a forte afinidade

    que sua prtica apresenta com as TICs. Contudo, o campo de ao tem sido expandido

    medida que os entraves regulatrios so superados. Atualmente a maioria dos pases

    desenvolvidos tem permitido a realizao de teleconsulta, fomentando a oferta de servios

    para alm dos limites regionais. A assistncia sade por meio das TICs cresce

    exponencialmente por meio da oferta de consultas, consultorias e diagnsticos distncia.

    Dispositivos mdicos (a internet das coisas) so implementados com uma velocidade

    crescente, e milhares de aplicativos em sade so desenvolvidos todos os anos. A aplicao

    de softwares com aprendizado de mquina (machine learning) tem surgido como uma

    alternativa futura para melhorar a qualidade, a velocidade e a acurcia das aes em sade.

    No Brasil esse movimento foi capitaneado nas ltimas duas dcadas em grande

    parte pela ao governamental. Projetos para ampliar a infraestrutura das TICs

    promoveram a aquisio e disponibilizao de um amplo parque de mquinas em milhares

    de servios de sade no Brasil. Junto a isso, foi criada e fomentada uma rede de

    telecomunicaes de grande capilaridade com intuito de manter todos conectados21. Em

    paralelo, diversas iniciativas tentaram diminuir o hiato educacional que boa parte dos

    profissionais de sade tinha com as TICs, na mesma medida que smartphones, outrora

    artigos de luxo, viraram itens de consumo de grande parte da populao. E, por fim, na

    ltima dcada o Programa Telessade Brasil Redes tem promovido a expanso dos servios

    assistenciais, notadamente na Ateno Primria Sade, o que fez do Brasil um dos pases

    com maior produo de servios no mundo22. Esse ambiente profcuo tem permitido o

    surgimento, nos ltimos anos, de um grande investimento privado em solues em

    telemedicina, que se junta a um tambm crescente interesse do mercado de TI nacional

    para desenvolvimento de inovaes, com destaque para as Start Ups. Nos anexos desse

  • 14

    guia h a descrio mais pormenorizada do panorama de desenvolvimento da Telessade

    no Brasil e no mundo.

    Marco Normativo no Brasil

    O Conselho Federal de Medicina (CMF) posicionou-se sobre a telemedicina de

    forma especfica pela primeira vez por meio da resoluo 1.643/2002 (usando como base

    a Declarao de Tel Aviv de 1999) que considerava a autonomia do mdico na deciso de

    utilizar telemedicina e na possibilidade de assistncia sem contato direto com o paciente23.

    Esta resoluo definiu a Telemedicina como o exerccio da Medicina atravs da utilizao

    de metodologias interativas de comunicao audio-visual e de dados, com o objetivo de

    assistncia, educao e pesquisa em Sade.

    Reproduzimos trs de seus principais artigos desta Resoluo:

    Art. 2 - Os servios prestados atravs da Telemedicina devero ter a

    infraestrutura tecnolgica apropriada, pertinentes e obedecer s normas tcnicas do CFM

    pertinentes guarda, manuseio, transmisso de dados, confidencialidade, privacidade e

    garantia do sigilo profissional.

    Art. 3 - Em caso de emergncia, ou quando solicitado pelo mdico responsvel, o

    mdico que emitir o laudo a distncia poder prestar o devido suporte diagnstico e

    teraputico.

    Art. 4 - A responsabilidade profissional do atendimento cabe ao mdico assistente

    do paciente. Os demais envolvidos respondero solidariamente na proporo em que

    contriburem por eventual dano ao mesmo.

    Em 2009, com a publicao do novo cdigo de tica mdica por meio da resoluo

    CFM 1.931/2009, restries utilizao da telemedicina so impostas no Brasil24. O artigo

    37 veda ao mdico a prescrio de tratamento ou outros procedimentos sem exame direto

    do paciente, salvo casos de urgncia/emergncia, mas com atendimento presencial

    subsequente obrigatrio.

    Isso reforado pela Resoluo CFM 1.974/2011, que estendendo a proibio de

    consulta, diagnstico e prescrio s redes sociais ou qualquer meio de comunicao em

    massa ou a distncia25. Essa Resoluo, no entanto, em texto explicativo publicado

    posteriormente refere que: (...) A resoluo probe ao mdico oferecer consultoria a

  • 15

    pacientes e familiares em substituio consulta presencial. O mdico pode, porm,

    orientar por telefone pacientes que j conhea, aos quais j prestou atendimento presencial,

    para esclarecer dvidas em relao a um medicamento prescrito, por exemplo 26.

    A Resoluo CFM 2.107/2014 trata da normatizao da Telerradiologia e revoga a

    resoluo anterior de 1.890/2009 sobre este tema. Esta Resoluo define a Telerradiologia

    como o exerccio da Medicina, onde o fator crtico a distncia, utilizando as tecnologias de

    informao e de comunicao para o envio de dados e imagens radiolgicas com o propsito

    de emisso de relatrio, como suporte s atividades desenvolvidas localmente 27. Nesta

    Resoluo h ainda a indicao dos especialistas que podem emitir relatrios distncia, alm

    outros requisitos para prestao deste tipo de servio tal como a necessidade de autorizao

    pelo paciente da transmisso de suas imagens e dados clnicos. Essa resoluo serve de

    paradigma para as demais atividades de telediagnstico.

    O parecer CFM 14/2017, ao discursar sobre o uso do aplicativo Whatsapp e

    plataformas similares, refora que permitido seu uso entre mdicos e seus pacientes, ou

    entre mdicos e mdicos, para tiver dvidas ou enviar dados, ressaltando o carter

    confidencial e o uso somente dentro dos limites do prprio grupo. O parecer frisa que essa

    comunicao entre o mdico e seu paciente deve ser restrita a pessoas j recebendo

    assistncia, com intuito de elucidar dvidas, tratar de aspectos evolutivos e passar

    orientaes ou intervenes de carter emergencial 28.

    Durante o I Frum de Telemedicina promovido pelo CFM em julho de 2016 foi

    declarado aberto o processo de reformular a Resoluo 1.643/2002, com a participao da

    comunidade que lida com Telemedicina mdicos, professores, especialistas em

    Informtica em Sade, entre outros. O CFM est em processo de reviso do cdigo de tica

    mdica, e espera-se que as normativas sobre teleconsulta sejam revisitadas.

    O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) apresenta em suas recomendaes

    ticas uma similaridade com as diretrizes do CFM, visto a publicao das Resolues

    0456/2014 e 487/2015, (atualizaes da Resoluo COFEN n 225/2000), que dispem

    sobre o cumprimento da prescrio medicamentosa ou teraputica distncia29,30.

  • 16

    A Fonoaudiologia publicou a Resoluo CFFa n 427/2013 que trata sobre a

    regulamentao do uso do sistema Telessade em Fonoaudiologia. Ela traz importante

    inovao resoluo anterior publicada em 2009 ao apresentar em quais cenrios

    permitido o uso da teleconsulta31:

    a) consulta envolvendo o fonoaudilogo e o paciente, com outro fonoaudilogo

    distncia. Esta modalidade engloba aes fonoaudiolgicas, tanto de apoio

    diagnstico quanto teraputico;

    b) consulta envolvendo outro profissional de sade e paciente, ambos presenciais,

    e fonoaudilogo distncia. Esta modalidade engloba aes de orientao e

    condutas preventivas e no permite ao fonoaudilogo distncia realizar

    diagnsticos e terapia fonoaudiolgica, bem como delegar a outro profissional no

    fonoaudilogo a funo de prescrio diagnstica e teraputica fonoaudiolgicas;

    c) consulta entre paciente e fonoaudilogo, ambos distncia. Esta modalidade

    engloba aes fonoaudiolgicas de orientao, esclarecimento de dvidas, condutas

    preventivas e no permite avaliao clnica, prescrio diagnstica ou teraputica.

    Nesse mesmo documento h uma restrio para realizao de atividades de

    telediagnstico sem a presena de um fonoaudilogo presencialmente.

    A Psicologia, conforme resoluo CFP 011/2012, apresenta igualmente legislao

    mais elaborada, visto que regulamentou e detalhou vrias modalidades de servios

    psicolgicos a distncia, tanto em carter clnico quanto experimental, reforando a

    obrigatoriedade em quaisquer modalidades destes servios que o profissional garanta o

    sigilo das informaes e esclarea o cliente sobre isso32.

    Como avaliar solues em Telessade?

    A adoo de solues em telemedicina como uma tendncia na reorganizao da

    assistncia sade caminha a passos lentos no Brasil, assim como a produo cientfica da

    rea. So muitos projetos assistenciais que no progridem da fase inicial, e poucas so as

  • 17

    publicaes cuja cenrio so servios de sade. Alm disso, a maioria dos servios so em

    pequena escala, e no integrados aos sistemas de sade locais, muito menos de mbito

    nacional. Poucos, no fim, conseguem demonstrar reprodutibilidade dos seus resultados no

    mundo real 2,3335.

    Isso se deve, em parte, a caracterstica disruptiva que essas inovaes provocam na

    prestao de servios em sade. A telemedicina, para atingir um nvel de operao

    sustentada, necessita criar uma nova rotina. Khoja e colaboradores, ao avaliar teorias e

    conceitos relevantes para telessade, compararam estas aos diferentes estgios do ciclo de

    vida de uma soluo em telemedicina (figura 2) 36.

    Figura 2. O alinhamento das teorias de avaliao com os diferentes estgios do ciclo de

    vida da telessade.

    Fonte: adaptado de Khoja e colaboradores

    Entretanto, o desenvolvimento tecnolgico tende a provocar a incorporao de

    inovaes mesmo sem evidncias cientficas definitivas que garantam sua utilizao fruto

    da presso produzida pela existncia da tecnologia. Visto essa inexorabilidade,

    fundamental o desenvolvimento da avaliao crtica dos servios e sistemas de sade, com

  • 18

    intuito de evitar que essa expanso seja direcionada pelos vieses individuais e comerciais,

    e pelo imperativo tecnolgico 37. Por isso, a escolha da soluo em Telemedicina tem papel

    fundamental. Se uma escolha certa no garante o sucesso do servio ou programa de

    Telemedicina, a escolha errada tem alta probabilidade de provocar seu fracasso 35.

    Uma das decises importantes no planejamento avaliar se a soluo ser sncrona

    (em tempo real) ou assncrona (com um tempo previamente determinado para resposta).

    Servios que funcionam de maneira sncrona agregam um custo mais alto, visto que

    necessitam de uma equipe sempre disponvel no horrio de funcionamento. Alm disso,

    essa equipe deve estar dimensionada e preparada para momentos de maior demanda ao

    servio, e ter agilidade para dar as respostas em um tempo considerado adequado para o

    usurio do servio, seja ele um paciente ou profissional de sade. A experincia do

    TelessadeRS-UFRGS, vinculado ao Programa Telessade Brasil Redes do Ministrio da

    Sade, demonstrou que solues em teleconsultoria so melhor adotadas quando ofertadas

    de maneira sncrona, enquanto que a maioria dos servios de telediagnstico funcionam

    assincronamente 38.

    Outro ponto essencial para garantir o sucesso de qualquer estratgia de telemedicina

    a integrao dessa oferta na rotina de trabalho das equipes de sade. Planejar desde o

    incio a insero dessas ferramentas na prtica assistencial fundamental para alcanar

    servios sustentveis 2,33,39. Tanto na implantao quando nas atividades de monitoramento

    e replanejamento fundamental no s identificar aspectos facilitadores, mas tambm

    avaliar as barreiras utilizao das solues em Telemedicina.

    A Telessade deve ser dirigida para as necessidades dos pacientes, profissionais e

    sistemas de sade, e no guiada pela tecnologia per se. Deve ser adaptada aos cenrios, e

    seu impacto deve ser dimensionado em cada uma das reas envolvidas. O planejamento

    deve envolver a prestao de servios, o plano de negcios e o desenvolvimento da

    tecnologia, e acontecer posteriormente definio das necessidades, resultando em um

    servio em sade com valor agregado (value-added) 33,40. Nesse sentido, uma das maiores

    dificuldades das solues em telemedicina exatamente demonstrar qual o valor de ganho

    do que ofertado. Pacientes, profissionais de sade, gestores e demais atores podem ter

  • 19

    vises diferentes do valor agregado, e at discordantes, de acordo com suas necessidades,

    preferncias e inclinaes racionais e emocionais41.

    No plano de negcios, a reduo de custos e a melhoria na prestao de servios

    (qualidade) so razes chave para implantao de servios em telemedicina33. Entretanto,

    em diversos cenrios no temos nem ao menos a oferta de servios de maneira presencial

    (acesso). Por isso, acesso, qualidade e custos devem ser as principais justificativas para

    implantao de um servio de telemedicina.

    Instrumento de Avaliao em Telessade

    O Instrumento de Avaliao, Implantao e Monitoramento de Programas e

    Servios de Telemedicina e Telessade tem por objetivo apoiar gestores, profissionais de

    sade, usurios e outros atores em todas suas fases, desde apoio para implantao at a

    avaliao de servios j consolidados. Poder, portanto, ser utilizado em sua forma integral,

    ou apenas sees deste, caso a necessidade seja apoiar somente a implantao de um novo

    servio.

    Este Instrumento no uma escala validada, pois no foi testado

    metodologicamente para s-lo. Da mesma forma, no produz um escore com ponto de corte

    pr-definido que estabelea se um servio de Telemedicina bom ou ruim. Este no o

    propsito deste instrumento. Seu propsito auxiliar os tomadores de deciso, avaliadores,

    profissionais de sade e usurios de servios de Telemedicina a refletir sobre a qualidade

    do servio de Telemedicina em questo. Ou, se em fase de implantao, auxiliar os

    responsveis pelo novo servio a seguirem um caminho de criao de servios de

    Telemedicina que tenham maior probabilidade de xito. Dependendo do servio ou soluo

    de telemedicina em avaliao alguns itens sero desnecessrios. Por exemplo, ao avaliar-

    se um aplicativo que auxilie o mdico a tomar decises teraputicas adequadas baseados

    em fluxogramas cientificamente reconhecidos, mas que no use dados especficos e

    individuais de pacientes, no ser necessrio utilizar o item A soluo garante a segurana

    e confidencialidade das informaes em sade dos pacientes? .

  • 20

    Quadro 1. Check list do Instrumento de Avaliao, Implantao e Monitoramento de

    Programas e Servios em Telemedicina e Telessade

    Sim No No sabe

    No se aplica

    1. Problema de sade e seu contexto As necessidades em sade atendidas pelo sistema/servio

    de sade foram definidas?

    A populao alvo (profissionais de sade e/ou pacientes)

    foi definida?

    A avaliao das necessidades em sade contou com a

    participao dos profissionais de sade e dos pacientes?

    2. Escolha da tecnologia Existem solues em telemedicina j previamente testadas

    para resoluo do problema?

    A soluo tem capacidade de melhorar o acesso da

    populao alvo?

    A soluo tem efetividade previamente estabelecida por

    estudos clnicos adequados?

    A incorporao da soluo est baseado em evidncias

    cientficas de moderada ou alta qualidade?

    A soluo tem acurcia e confiabilidade ao longo do tempo

    definidas?

    A soluo segura (riscos de danos menores que os

    benefcios)?

    A soluo adaptvel ao cenrio e estrutura existente?

    A soluo adaptada populao alvo?

    Foi discutido com os profissionais de sade e/ou pacientes

    a escolha e formato da soluo?

    Foi realizado algum projeto piloto para implementao?

    3. Aspectos legais e ticos

    A soluo garante a segurana e confidencialidade das

    informaes em sade dos pacientes?

    A soluo obtm e registra o consentimento do paciente

    ao propsito de uso das informaes pessoais de sade?

    A soluo cumpre as normas locais e a legislao vigente?

    4. Aceitabilidade

  • 21

    Mecanismos foram desenvolvidos para insero da

    soluo na prtica assistencial?

    A soluo integrada ao sistema de registro de

    informaes?

    H treinamento ou mecanismos de suporte/capacitao

    para utilizao por profissionais de sade ou pacientes?

    O impacto na carga de trabalho dos profissionais de sade

    compatvel com sua prtica assistencial?

    H um sistema de resoluo de problemas/suporte

    disponvel quando necessrio?

    A soluo rpida de ser realizada/utilizada?

    O tempo para resposta adequado para a demanda dos

    profissionais solicitantes?

    A soluo tem uso amigvel?

    A soluo est adaptada ao contexto local e linguagem?

    Foi utilizado algum mtodo padronizado/validado para

    avaliao da usabilidade da soluo?

    As lideranas do projeto esto engajadas com os

    participantes (profissionais de sade e/ou pacientes)?

    5. Monitoramento e Auditoria

    Foram definidos indicadores para monitoramento?

    Os resultados do monitoramento so publicados em

    ambiente web e amplamente disponveis?

    Foram criados mecanismos de auditoria sistemtica (por

    amostragem, por exemplo)?

    Avaliaes negativas emitidas pelos usurios recebem

    auditoria de algum profissional snior do projeto?

    H retorno (feedback) sobre os resultados e a qualidade

    assistencial para os profissionais de sade executantes da

    soluo em telemedicina?

    H algum servio de ouvidoria ou pesquisa sistemtica

    com os usurios para avaliao das solues e

    identificao de possveis barreiras?

    6. Indicadores

    Indicadores da linha de base foram coletados?

    A soluo tem impacto sobre desfechos de morbidade ou

    mortalidade?

    A soluo tem impacto sobre desfechos substitutos

    clinicamente relevantes para os pacientes?

  • 22

    A soluo tem impacto na melhoria dos processos dos

    servios/sistemas de sade nele inseridos?

    A soluo tem volume ou frequncia de uso que justifica

    sua incorporao/manuteno?

    Estudos de custos (efetividade, utilidade, minimizao)

    foram realizados para assegurar a viabilidade econmica

    da soluo?

    A organizao do servio de telemedicina pautada para

    atingir uma economia de escala da oferta?

    7. Aspectos polticos

    A soluo compatvel com as polticas de sade dos

    sistemas/servios nos quais ela foi incorporada?

    H planejamento da equipe para garantir a sustentabilidade

    do servio?

    H colaborao, comprometimento e/ou envolvimento dos

    stakeholders?

    H colaborao, comprometimento e/ou envolvimento dos

    governantes?

    H promoo/divulgao/prestao de contas para os

    financiadores/patrocinadores da soluo?

    H alguma rotina dos lderes do servio para avaliao dos

    indicadores e replanejamento?

    O instrumento proposto por esse guia apresenta sete domnios e tem por meta

    abarcar todas as dimenses envolvidas desde o desenvolvimento, implementao,

    integrao, at a almejada operao sustentada 36. importante ressaltar que esses

    domnios no so estanques no tempo (fixos em cada etapa descrita abaixo), mas servem

    tambm para reavaliao de programas j implementados em suas etapas de

    desenvolvimento, implementao, integrao e operao sustentvel. A apresentao do

    instrumento nestas sete dimenses representa tambm, no um receiturio, mas um passo-

    a-passo importante a seguir para quem se inicia no mundo da Telemedicina e Telessade.

    A seguir, sero detalhados aspectos importantes de cada um dos sete domnios que

    compem o Instrumento:

    1. Identificao das necessidades em sade

    2. Escolha da soluo e definio das tecnologias

  • 23

    3. Aspectos legais e ticos

    4. Aceitabilidade

    5. Monitoramento e auditoria

    6. Indicadores

    7. Aspectos polticos

    1. Identificao das necessidades em sade

    fundamental que qualquer programa ou servio de Telemedicina ou Telessade

    seja dirigido a responder a necessidades em sade que possuam magnitude, transcendncia

    e/ou vulnerabilidade39. Novas solues de telemedicina surgem s centenas anualmente.

    Dispositivos mdicos, softwares, aplicativos e servios so desenvolvidos na busca de um

    campo de atuao, de um nicho de mercado. Gestores, empreendedores e profissionais de

    sade igualmente buscam nas TICs a resoluo de problemas crnicos na gesto dos

    recursos, insolveis pelos mtodos usuais.

    Entretanto, o desenvolvimento tecnolgico tem induzido a incorporao de

    ferramentas de telessade sem substrato cientfico em sua grande maioria. O imperativo

    tecnolgico tem criado novas demandas por meio do surgimento de novas ofertas. Isto ,

    frente ao desenvolvimento de um dispositivo com aplicabilidade potencial na rea da

    sade, busca-se um problema de sade a ser resolvido por este. Para evitar essa armadilha,

    fundamental que a busca das solues em TICs ocorra a partir das necessidades em sade

    das pessoas e/ou de necessidades de maior oferta de acesso e qualificao dos servios de

    sade. A tecnologia deve ser o veculo da mudana, e no o guia 43. Nesse contexto, ter

    um diagnstico claro das necessidades em sade ou de aprimoramento dos servios de

    sade deve ocorrer antes da definio de quais solues sero incorporadas. o mesmo

    processo de quando se planeja uma pesquisa cientfica: qual a pergunta / problema a ser

    estudado? Aps termos uma slida pergunta, buscaremos o mtodo apropriado para

    respond-la.

    So inmeras as razes que tm justificado a incorporao de solues em

    telessade:

  • 24

    Resoluo de filas de espera para atendimentos ou exames especializados

    Ganhos de escala, visto que muitos servios podem ser atendidos por um

    menor nmero de profissionais utilizando telemedicina

    Garantia ou melhoria de acesso em locais de difcil provimento

    Aumento da qualidade assistencial

    Evitar os deslocamentos de pacientes e profissionais

    Monitoramento distncia

    Reduo do tempo para resoluo dos problemas em sade

    Diminuio de custos diretos (recursos humanos, deslocamentos) e

    indiretos (carga de doena, tempo)

    Assistncia s urgncias ou situaes crticas de sade (ex.: acidente

    vascular cerebral agudo, doentes em Unidade de Tratamento Intensivo)

    Na incorporao destas solues, a segurana e a qualidade assistencial tem

    importante destaque. A economia de escala em sade traz no s reduo de custos, mas

    tambm uma excelncia na qualidade da assistncia. Isso porque no s o volume aumenta

    a expertise, mas tambm porque essas ferramentas so mais afeitas a estratgias de

    auditoria e retroalimentao.

    A participao dos profissionais de sade e pacientes na definio das necessidades

    recomendada, visto que o engajamento de ambos na utilizao da soluo tecnolgica

    parte fundamental do processo. Alm disso, as preferncias e necessidades de ambos

    auxiliam na definio da melhor soluo, no formato de contato (sncrono ou assncrono),

    horrio que ela vai estar disponvel e forma de acesso.

    Outro ponto importante a definio da populao-alvo da soluo. E, nesse item,

    estamos discutindo no s os profissionais que vo utilizar, mas principalmente os

    pacientes que sero beneficiados. Como em outros servios de sade, a oferta em

  • 25

    telemedicina invariavelmente pautada pela lei dos cuidados inversos3, aumentando a

    iniquidade do cuidado 44. Mdicos com menor tempo desde a formao ou maior

    familiaridade com TICs tem maior aderncia s solues, e o mesmo vale para os pacientes.

    2. Escolha da soluo e definio da tecnologia

    O passo seguinte aps a definio das necessidades escolher qual a soluo a ser

    implantada e qual a tecnologia que melhor vai responder aos desafios propostos. E essas

    escolhas devem ser criteriosas, visto que o sucesso em grande parte consequncia da

    realizao deste planejamento.

    A primeira etapa levantar evidncias cientficas para identificao da melhor soluo.

    Se a soluo j foi testada e aprovada em cenrios semelhantes (problemas de sade e

    populao alvo), a chance de sucesso maior. Nesse caso sempre interessante se valer de

    estudos de alta ou moderada qualidade, de preferncia que avaliaram os desfechos de

    interesse. A tecnologia tambm deve responder aos desafios de melhoria de acesso e/ou

    qualidade, sem os quais no justificam sua incorporao.

    Aps identificada a soluo, avaliar a adequabilidade ao cenrio e estrutura

    existente pea-chave. A necessidade de mudanas complexas em questes de estrutura

    (conectividade, recursos humanos, equipe tcnica para apoio) ou processos (carga de

    trabalho da equipe, rotina assistencial) devem ser bem dimensionadas (visto impacto nos

    custos fixos), e o ideal escolher uma tecnologia que tenha maior capacidade de adequao

    ao ambiente (tanto estrutura quanto aos participantes profissionais e pacientes) 2.

    Algumas caractersticas da soluo tambm devem ser interrogadas como acurcia

    (capacidade de acerto ao aferir um fenmeno), confiabilidade (reprodutibilidade da taxa de

    acerto ao longo do tempo) e segurana.

    3 A disponibilidade de um bom atendimento mdico tende a variar inversamente com a necessidade da

    populao atendida. Esta lei de cuidados inversos opera mais completamente onde a assistncia mdica

    mais exposta s foras do mercado, e menor onde essa exposio reduzida.

  • 26

    Envolver os diversos atores na escolha da soluo igualmente uma tarefa

    indicada, visto que melhora a aceitabilidade. Muitas vezes ignoramos a capacidade dos

    atores de identificar as necessidades e propor solues efetivas. Alm disso, esse

    envolvimento responsabiliza os mesmos sobre os resultados futuros.

    Desenvolver um projeto piloto para implementao fortemente recomendado. A

    identificao das barreiras e realizao das necessrias correes antes da incorporao em

    maior escala aumenta a chance de sucesso posterior, economizando recursos e evitando

    traumas maiores, os quais so esperados quando vamos modificar a rotina assistencial 33.

    3. Aspectos legais e ticos

    Acessar, compartilhar e salvar informaes pessoais e mdicas de um paciente envolve

    um regramento que deve salvaguardar o direito a confidencialidade dos mesmos. Da

    mesma maneira, padres devem ser respeitados para proteger dados em sade criados,

    recebidos, mantidos ou transmitidos por via eletrnica. Essas regras de privacidade e

    segurana devem ser obrigatoriamente observadas por qualquer soluo em telemedicina.

    A norma ISO 27001 uma referncia internacional para a gesto da segurana da

    informao. HIPAA (The Health Insurance Portability and Accountability Act),

    promulgada em 1996 nos Estados Unidos, igualmente define um padro para proteger os

    dados sensveis dos pacientes. Qualquer instituio que lida com informaes de sade

    protegidas deve garantir que todas as medidas de segurana fsica, de rede e de processos

    sejam implementadas e seguidas.

    Outro ponto fundamental obedecer s normas locais (fundamentalmente associadas

    com as prerrogativas profissionais da rea da sade) e a legislao vigente. Esse ponto j

    foi abordado no captulo sobre o marco normativo no Brasil. Entretanto, interessante

    entender que o conhecimento em telessade foi e est sendo construdo fortemente nas

    ltimas dcadas. Por isso, inovar sob o ponto de vista normativo tambm pode ser

    necessrio quando estamos estabelecendo tecnologias que rompem o estado atual do

  • 27

    conhecimento. Nesses casos mandatrio a subordinao aos regramentos da pesquisa

    formal, a qual segue um rito que necessita da avaliao e salvaguarda de um comit de

    tica em pesquisa legitimamente constitudo.

    O consentimento do paciente para atividades de telemedicina igualmente algo

    necessrio, visto a necessidade de transmitir informaes pessoais. O manual de

    Certificao para Sistemas de Registro Eletrnico da Sociedade Brasileira de Informtica

    em Sade e do Conselho Federal de Medicina destaca quais so os regramentos para

    incorporao desse documento nos sistemas de registro eletrnico 45.

    4. Aceitabilidade

    A baixa utilizao , inmeras vezes, motivo de frustrao de qualquer provedor de

    servios em telessade. A aceitabilidade elemento crucial do sucesso em telessade.

    Entender as barreiras e virtudes da oferta dessas solues fundamental para melhorar

    esses resultados 46,47.

    Provavelmente o desafio primeiro das lideranas do projeto exatamente a mudana

    de cultura 46. Modificar o modo de executar uma tarefa pode ser comparado a mudar

    hbitos de vida: a efetividade baixa, depende do tempo que o provedor se dedica e

    envolve forte engajamento com os participantes profissionais de sade e pacientes.

    Nesse contexto, fundamental que os servios sejam centrados nas necessidades dos

    pacientes (como premissa fundamental), mas tambm nas necessidades dos profissionais

    de sade, visto que os ltimos frequentemente dirigem as demandas dos pacientes nos

    sistemas de telemedicina 46.

    A primeira medida entender que ainda hoje ofertas de telemedicina so consideradas,

    na maioria dos cenrios, como uma oferta adicional, acessria, suplementar. Elas no so,

    para quase todos os servios de sade, o formato mais comumente utilizado para

    assistncia. Criar mecanismos (gatilhos) para insero na prtica clnica de forma

    rotineira fundamental para atingir uma utilizao adequada.

  • 28

    Fomentar mecanismos de interoperabilidade tambm parte importante na

    incorporao de novas tecnologias. Uma das barreiras para uma adequada utilizao a

    necessidade dos usurios de acessar mltiplas plataformas de tecnologia de informao

    durante sua prtica. Integrar a soluo no sistema de registro de informaes usual gera

    reduo do impacto na carga de trabalho dos profissionais.

    Visto que incorporao de um processo novo muitas vezes desperta temor e, como

    consequncia, produz resistncia, ofertar um treinamento inicial medida salutar.

    Sistemas complexos podem ainda exigir da equipe de implantao uma assistncia em

    servio no incio do uso. Contudo, fundamental a existncia de um servio de suporte

    contnuo, de preferncia disponvel em tempo real ou com mnimo tempo de resposta.

    Solues em modo de produo ainda so a melhor maneira de estressar os sistemas e

    processos, identificar falhas e corrigir rotas.

    A usabilidade , sem sombra de dvida, um ingrediente essencial no desenvolvimento

    de solues em telemedicina e aceitao pelos usurios, tanto profissionais de sade como

    pacientes. As bases para avaliao da usabilidade foram estabelecidas na dcada de 1990

    pelo ISO (ETR 95, diretriz para avaliaes de usabilidade de sistemas e servio de

    telecomunicaes), e inmeros instrumentos de avaliao e pesquisa foram desenvolvidos

    aps. Os principais mtodos so:

    Log: dados baseados em sensores, pontuao manual por pesquisadores durante

    observaes ou arquivos de log do sistema,

    Observao: sistemas baseados em vdeo, software de captura de tela ou

    superviso por especialistas em usabilidade,

    Questionrios,

    Entrevistas e

    Auto-descritivas: usurios executam tarefas enquanto pensam em voz alta e

    comentam sua experincia e impresses durante ou um pouco depois da

    execuo de cada tarefa 48.

    Para avaliar a usabilidade, a aplicao de questionrios mtodo mais utilizado para

    uma variedade de sistemas de telemedicina, visto que so rpidos para aplicar, requerem

  • 29

    menos experincia de uso em relao aos outros mtodos, so facilmente distribudos e

    customizveis. Nos anexos desse guia h um modelo deste tipo de questionrio. A escala

    System Usability Scale (SUS) simples, rpida (so 10 itens) e fcil de compreender

    (escala tipo Likert) 49. Entretanto, so inmeros os outros instrumentos disponveis.

    No instrumento proposto, foram levantadas algumas questes que permeiam a

    avaliao da usabilidade em seus aspectos de efetividade e eficincia, como frequncia de

    utilizao, rapidez, tempo de resposta, compreenso, adaptao ao contexto local e

    linguagem. Alm disso, ao encontro da qualidade da assistncia que pode ser otimizada

    com a telemedicina, incorporamos um conceito de adequabilidade/apropriabilidade da

    utilizao da soluo, principalmente orientados pelo conceito de preveno quaternria 50.

    5. Auditoria e monitoramento

    Monitoramento uma atividade pouco valorizada na prestao de servios em sade,

    tanto nos aspectos da micro como nos da macrogesto. A falta de cultura e capacidade

    organizacional para coletar, manejar e avaliar os dados em sade inviabilizam os enormes

    ganhos que mecanismos de feedback podem produzir em profissionais de sade, pacientes

    e redes de ateno 2,40. As solues em telemedicina apresentam ainda a vantagem de

    produzir indicadores de maneira natural, visto que gerar bancos de dados est em sua

    gnese.

    Uma estratgia interessante iniciar com avaliaes bsicas antes de migrar para

    desfechos ou estudos mais complexos. Questionar o que voc est fazendo, o volume de

    uso e estabelecer quais indicadores medir tarefa inicial. De preferncia para incorporao

    de instrumentos e indicadores j validados para avaliao 42.

    Contudo, a produo de indicadores no deve sobrepor a usabilidade dessas

    ferramentas. Os protocolos devem ser sucintos, objetivos e com claro vis assistencial. A

    coleta de dados sem propsito burocratiza e lentifica os processos, sem incorrer em

    benefcio para pacientes e profissionais.

    Para quaisquer das atividades em telemedicina, a normatizao deve ser perseguida

    pela equipe executante. Diretrizes e respostas padronizadas devem orientar a execuo

  • 30

    das tarefas, principalmente quando estas envolvem atividades de apoio a tomada de deciso

    (mais sujeitas a vieses de interpretao ou mesmo da bibliografia utilizada). Nesse caso,

    no s a busca de respostas deve englobar o melhor nvel de evidncia, como a

    homogeneidade de conduta deve ser uma pauta da equipe. Para esse problema,

    interessante o desenvolvimento de ferramentas de automatizao (tanto para emisso de

    laudo, mas tambm para a busca de respostas).

    Como em qualquer prestao de servios, avaliaes negativas devem ser encaradas

    como eventos-sentinela na oferta dos servios, e receber a ateno devida. Entretanto, so

    diversas as evidncias que mostram uma muito alta satisfao com as ofertas em

    telessade. A auditoria sistemtica e ouvidoria ativa so mecanismos que otimizam o

    processo de avaliao e identificao de barreiras ou problemas, elevando a qualidade

    assistencial.

    Os resultados consolidados do monitoramento devem ser publicados para consulta

    pblica, de preferncia em ambiente web. Mais do que somente uma prestao de contas,

    esse movimento de transparncia valorizado pelos atores envolvidos no processo. J a

    avaliao individual (sistemtica ou provocada por inconsistncias) deve ser sigilosa, e

    igualmente tem efeito importante na padronizao e melhoria da qualidade dos provedores

    da soluo

    6. Indicadores

    A busca por diferenas em desfechos primordiais como reduo de mortalidade e

    morbidade so sempre a escolha preferencial quando estamos incorporando uma nova

    tecnologia, visto que no h discusso quanto a sua relevncia. Entretanto, esses desfechos,

    para serem vlidos, igualmente devem ser acompanhados por um desenho cientfico

    robusto (como um ensaio clnico randomizado), o qual permite inferir relaes de

    causalidade da interveno com o desfecho 37. Em eventos de grande transcendncia como

    um paciente com acidente vascular cerebral (AVC) atendido em servio de emergncia,

    essa tarefa (de mostrar reduo de morbidade ou mortalidade) necessita de um menor

  • 31

    nmero de pacientes. O desafio como comprovar impacto relevante nesses indicadores

    quando ofertamos servios em cenrios de menor risco (como na Ateno Primria), para

    condies que o desfecho no frequente (diminuio da frequncia de AVCs em pacientes

    com hipertenso arterial sistmica).

    A escolha adequada dos indicadores sem dvida uma das principais tarefas dos

    servios de telessade. Isso porque a maior parte das informaes desses servios so

    focados em medidas de produtividade (ex: nmero de laudos, de teleconsultorias, de

    participantes, de cursos), o que no necessariamente significa melhoria do acesso, da

    qualidade e/ou reduo de custos. E essa informao ainda mais controversa quando a

    prestao do servio no associada com um paciente especfico (e de preferncia com um

    identificador unvoco como o carto SUS), como as teleconsultorias no identificadas e as

    atividades de teleducao.

    Por outro lado, tambm no de rotina necessrio a busca de diferenas em desfechos

    duros, notadamente quando j existe evidncia cientfica suficiente que suporte a

    interveno. Como exemplo temos as atividades de telediagnstico/teleconsultoria em

    dermatologia. Inmeros estudos j compararam a acurcia da avaliao presencial

    comparada com distncia, mostrando resultados similares e ganhos expressivos em

    acesso e diminuio de tempo de espera. Seguindo o exemplo anterior, igualmente sabemos

    que a reduo da presso arterial se traduz em menor frequncia de AVCs. Nesse contexto,

    seguir as recomendaes padronizadas de qualidade assistencial, ou avaliar desfechos

    substitutos clinicamente relevantes so suficientes para justificar o uso da tecnologia.

    Outro ponto interessante o impacto da soluo de telemedicina no cenrio de

    assistncia. Ao padronizar condutas escoradas em altos padres de qualidade, esta pode

    transformar a organizao dos servios, afetando padres de comportamento, o trabalho

    em equipe, a comunicao e a prtica baseada em sistemas 37. Esse tipo de efeito sobre a

    qualidade do processo de cuidado deve ser um foco importante para mensurao dos

    resultados.

    Uma discusso interessante so desfechos relacionados com a satisfao dos

    participantes. Inmeros trabalhos demonstram que aplicaes em telemedicina so bem

  • 32

    avaliadas 46. Entretanto, isso no se reflete em taxas igualmente compatveis de utilizao.

    Os autores deste guia acreditam que a satisfao uma informao muito pouco til para

    ser utilizada como desfecho, e no mximo deve guiar o monitoramento dos servios.

    Alguns indicadores so normalmente muito valorizados por gestores de sade visto seu

    impacto na macrogesto. Diminuir as filas e o tempo de espera para consultas e exames

    especializados so desfechos avaliados em todo o mundo. Entretanto, recomendado que

    essas atividades no sejam somente uma triagem para definir a complexidade do paciente.

    Esses servios devem garantir uma melhor equidade (atendendo os pacientes mais graves

    primeiro), mas tambm incorporar resolutividade, proporcionando que os pacientes

    possam ser atendidos em locais mais prximos de sua residncia e em menor tempo por

    telemedicina.

    Exemplificamos abaixo alguns indicadores, conforme classificao proposta por

    Donabedian51:

    I. Indicadores de Estrutura

    a. Nmero de dispositivos disponveis per capita

    b. Capacidade instalada e demanda esperada

    c. Qualificao clnica da equipe de telessade

    d. Horrio de funcionamento

    II. Indicadores de Processo

    a. Proporo de profissionais ativos em determinado perodo (sobre o total

    de profissionais)

    b. Disponibilidade do servio (tempo em funcionamento/tempo total

    contratado)

    c. Frequncia de utilizao por profissional (em um determinado perodo

    de tempo)

    d. Taxa populacional mdia de utilizao (exemplo: nmero de

    telediagnsticos per capita por cidade 43)

    e. Tempo de resposta

    III. Indicadores de Resultado (clnico assistenciais)

  • 33

    a. Nmero de pacientes em fila de espera para atendimento especializado

    b. Tempo mdio de espera para atendimento especializado

    c. Taxa de reinternaes

    d. Tempo mdio de internao

    e. Reduo de mortalidade

    IV. Indicadores de Resultado (econmicos)

    a. Custo per capita/procedimento/diagnstico com igual efetividade

    (custo-minimizao)

    b. Impacto sobre acesso ou qualidade com mesmo custo semelhante (custo

    utilidade

    atividade rotineira das ofertas de telessade a gerao e interpretao dos indicadores.

    Contudo, essa atividade no far sentido se o processo no gerar aperfeioamentos e

    correes de rumo. Gerar produo sem produzir melhores resultados na resoluo dos

    problemas de sade das pessoas no aceitvel.

    7. Aspectos polticos

    A adoo de inovaes, principalmente as disruptivas, no alcanam xito se no

    possuem apoio poltico dos principais patrocinadores, tanto na esfera pblica, como na

    privada. A falta de evidncias cientficas com moderada ou boa qualidade persiste como

    uma das maiores fragilidades das solues em telemedicina no processo de consolidao

    da adoo de inovaes. Benefcios questionveis e a falta de avaliaes de longo prazo

    dificultam a incorporao dessas tecnologias em grande escala, principalmente visto o

    crescente apelo a uma maior responsabilidade na prestao de contas do setor da sade.

    Alm disso, h falta de consistncia em relao estrutura de avaliao, e definio de

    mtricas e desfechos. Os estudos de custo so igualmente infrequentes 2,47.

    Isso fica evidente visto os altos custos que envolvem a implementao da telemedicina

    com equipamentos, recursos humanos, conectividade, interoperabilidade e mudanas de

  • 34

    organizao do trabalho. Esses custos fixos devem ser compensados na busca de uma

    economia de escala por meio da cooperao, sinergia de aes ou ampliao dos cenrios

    de atuao 34.

    Governantes, gestores e outros atores devem ser envolvidos em todas as etapas desde

    a implementao das solues em telessade. Faz-los participantes (com influncia na

    tomada de deciso) tambm os tornam responsveis pelos resultados. Uma das formas mais

    interessantes de conseguir esse comprometimento divulgar da maneira mais transparente

    possvel os indicadores de estrutura, processo e resultado envolvidos em cada projeto. Da

    mesma forma a prestao de contas deve ser o mais transparente possvel, visto que os

    financiadores do projeto (diretos ou indiretos) devem ter total cincia sobre como foi

    aplicado seus investimentos.

    Aranda e colaboradores criaram uma figura muito ilustrativa dos principais aspectos

    envolvidos em um programa de Telemedicina (figura 4) 2.

    Figura 4. Principais aspectos para um efetivo projeto de Telessade

  • 35

    Fonte: Adaptado de Aranda e colaboradores

    A manuteno de solues em telessade envolve a capacidade das lideranas de

    atingir ganhos em acesso e qualidade por um custo aceitvel. Os altos custos dessas

    iniciativas (mesmo com a perspectiva de reduo que tem sido alcanada com o avano

    tecnolgico) exigem uma dedicao importante da equipe em avaliar-se de maneira

    frequente, com base em slidos indicadores, e modificar o jeito de fazer. A busca da

    excelncia deve ser incessante, e aproveitar essa flexibilidade que as ferramentas de

    telessade possuem produzem resultados evidentes principalmente quando automatizamos

    e padronizamos processos.

    Concluso

    O uso de tecnologias de informao e comunicao por meio da telemedicina capaz

    de produzir melhorias no fluxo das informaes, no desempenho dos profissionais, no

    acesso rpido e oportuno ao diagnstico e manejo clnico e na qualidade dos servios

    prestados. E essa realidade tem uma tendncia de melhora, visto a crescente adeso e

    familiaridade das pessoas aos telefones mveis e smartphones. Mais do que isso, pode ser

    uma alternativa custo-efetiva para um pas cujo sistema de sade tem dificuldades de

    provimento de servios primrios e especializados, visto suas dimenses continentais e sua

    estrutura descentralizada.

    O acesso dos pacientes aos cuidados em sade , sem dvida, o ganho mais evidente

    que a telessade proporciona. Levar para a populao o atendimento especializado (em

    seus diferentes nveis e complexidades) condio primordial para a incorporao de

    solues em telessade. Na maior parte dos casos isso significa a oferta de servios em

    regies rurais e remotas, visto a dificuldade de adquirir e reter fora de trabalho nesses

    locais. Entretanto, o avano das tecnologias tem tornado o termo distncia algo cada vez

    mais voltil.

  • 36

    A maioria dos trabalhos considera o padro-ouro da prestao de servios em sade

    o encontro face a face. Entretanto, so inmeros os estudos que demonstram uma melhora

    da qualidade assistencial quando utilizamos a telemedicina. Isso se d pela facilidade que

    essas ferramentas nos conduzem utilizao de diretrizes, protocolos e decises orientadas

    por evidncias. Alm disso, temos ganhos com a maior privacidade garantida pela

    interao no presencial. Como exemplo, pacientes com doenas estigmatizantes podem

    se sentir mais confortveis no atendimento distncia.

    Por outro lado, notrio a falta de estudos com qualidade metodolgica suficiente

    para mostrar benefcios em desfechos relevantes clinicamente para os pacientes. Mais do

    que isso, mesmo quando h esses desfechos, a falta de economia de escala para boa parte

    das intervenes produz custos muito altos, visto a baixa adeso da maioria dos

    profissionais de sade.

    fundamental o entendimento que nenhuma outra ferramenta tem maior potencial

    em melhorar os processos em sade do que as solues em telemedicina, e que no futuro

    muito das demandas presenciais sero substitudas por interaes mediadas pelas

    tecnologias de informao e comunicao. Por outro lado, igualmente importante que

    no se incorra no erro de acreditar que a telemedicina ser a panaceia para resoluo de

    nossos problemas de assistncia sade. Ainda a interao presencial face a face ser

    preponderante como principal forma de contato, e possivelmente para sempre.

  • 37

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