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Guia de Avaliao, Implantao e Monitoramento de
Programas e Servios em Telemedicina e Telessade
Erno Harzheim
Natan Katz
Cleusa Ferri
Jefferson Gomes Fernandes
Ingrid Barbosa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Hospital Alemo Osvaldo Cruz
1
Lista de Quadros
Quadro 1. Check list do Instrumento de Avaliao de Telessade
Lista de Figuras
Figura 1. Fluxograma do resultado da identificao e seleo dos estudos
Figura 2: O alinhamento das teorias de avaliao com os diferentes estgios do ciclo de
vida da telessade
Figura 3. Um modelo de Telessade
Figura 4. Principais aspectos para um efetivo projeto de Telessade
Lista de Siglas e Abreviaturas ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar
APP - Aplicativo
APS Ateno Primria Sade
AVC Acidente Vascular Cerebral
CFFa Conselho Federal de Fonoaudiologia
CFM Conselho Federal de Medicina
CFP Conselho Federal de Psicologia
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
DATASUS Departamento de Informtica do SUS
ECG - Eletrocardiograma
ESF- Estratgia Sade da Famlia
UE Unio Europeia
EUA Estados Unidos da Amrica
FMRAC - Federation of Medical Regulatory Authorities of Canada
FOMTA - Fundamental of Modern Telemedicine for Africa
ISSSTE - Instituto de Seguridad y Servicios Sociales de los Trabajadores del Estado
NHFPC - National Health and Family Planning Commission
OMS Organizao Mundial da Sade
PROADI-SUS Programa de Desenvolvimento Institucional do SUS
RAFT - Reseauen Africue Francophone pour La Telemedicine
RNP Rede Nacional de Pesquisa
RUTE Rede Universitria de Telemedicina
SAS Secretaria de Aes em Sade
SGTES Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao em Sade
SOF Segunda Opinio Formativa
SUS Sistema nico de Sade
TICS Tecnologias de Informao e Comunicao
2
Sumrio
Apresentao 3
Metodologia de Elaborao do Guia 4
Introduo 6
Conceitos 9
Histrico da Telemedicina 11
Marco Normativo no Brasil 14
Como avaliar solues em Telessade? 16
Instrumento de Avaliao em Telessade 19
1. Identificao das necessidades em sade 23
2. Escolha da soluo e definio da tecnologia 25
3. Aspectos legais e ticos 26
4. Aceitabilidade 27
5. Auditoria e monitoramento 29
6. Indicadores 30
7. Aspectos polticos 33
Concluso 35
Bibliografia 37
Anexos 46
Anexo 1. Instrumento de Implementao, Avaliao e Monitoramento com Referncias 46
Anexo 2. Panorama da Telemedicina no Brasil 54
Anexo 3. Telessade no mundo 68
Anexo 4. Modelo de Escala para Usabilidade 80
3
Apresentao
Este Guia de Avaliao, Implantao e Monitoramento de Programas e Servios de
Telemedicina e Telessade tem por objetivo apoiar, gestores, profissionais de sade,
usurios e outros atores, em todas as suas fases, desde o apoio para implantao de novas
ofertas em Telessade at a avaliao de servios j consolidados. O instrumento
apresentado ao final poder ser utilizado em sua forma integral, ou apenas sees
especficas, de acordo com a necessidade.
Desenvolvido como um dos projetos PROADI-SUS do Hospital Alemo Oswaldo
Cruz, a elaborao deste guia contou com participao da equipe do prprio Hospital, que
possui larga experincia em Telemedicina, de integrantes do Ministrio da Sade
(Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos e Secretaria de Gesto do
Trabalho e da Educao na Sade) e consultores contratados. A equipe responsvel foi
composta por profissionais de sade com formao e experincia no desenvolvimento,
gesto e avaliao de servios de Telemedicina e Telessade, assim como em
Epidemiologia Clnica.
Alm de apresentar um instrumento formal para implantao, avaliao e
monitoramento de Telemedicina e Telessade, este Guia apresenta conceitos bsicos sobre
o tema, um breve histrico da telemedicina, assim como seu marco normativo no Brasil.
Pretende, tambm, contextualizar brevemente a situao da Telemedicina e Telessade no
Brasil e no mundo. Sem essa descrio do estado da arte em nosso meio, o debate
fundamental que gira em torno de sua regulamentao e aprovao no Brasil se torna frgil.
essencial mostrar a quem procura apoio para implantao ou avaliao de servios de
Telemedicina, que esta possui consistncia e solidez ao redor do mundo, e que um dos
principais desafios brasileiros lidar com os entraves impostos pela legislao brasileira,
mais do que com a produo de servios na rea. Afinal, j impensvel organizar um
sistema de servios de sade, seja pblico e/ou privado, que no possua estratgias de
Telemedicina e Telessade como um de seus eixos organizacionais. Vale a pena esclarecer
que este Guia no se dirige a implantao de aes de teleducao, apesar de sua relevncia.
4
Por escolha dos autores, o foco principal deste Guia so os servios assistenciais e/ou de
suporte de Telemedicina e Telessade.
Metodologia de Elaborao do Guia
Este guia tem o objetivo de disponibilizar um arcabouo metodolgico para a
implementao, avaliao e monitoramento de programas ou servios de telemedicina e
telessade no pas. Para atingir tal objetivo, seguiu-se a seguinte metodologia:
- Dezembro de 2016: definio do escopo do guia entre autores e representantes do
Ministrio da Sade;
- Fevereiro de 2017: reviso sistemtica da literatura sobre o tema, descrita em
maiores detalhes a seguir;
- Julho de 2017: evento com especialistas em telessade com o objetivo de discutir
o escopo desse guia e do instrumento de implementao, avaliao e
monitoramento. Estiveram presentes representantes do Ministrio da Sade,
Conselho Federal de Medicina, ncleos de Telessade, Rede Rute, hospitais de
excelncia em uso de Telemedicina, provedores privados e instituies de ensino e
pesquisa. Alm disso, foram convidados usurios de solues de telessade.
- Novembro de 2017: reunio presencial entre os autores do guia.
- Dezembro de 2017: disponibilizao da verso final do guia para consulta pblica.
Para reviso sistemtica, a busca dos artigos cientficos foi realizada em dois
momentos: a primeira em janeiro de 2014 e a segunda em fevereiro de 2017, nas bases de
dados MEDLINE e EMBASE via OVID.
Os estudos deveriam apresentar a criao de um conceito/framework ou uma lista
de recomendaes baseados em uma reviso sistemtica ou em um processo de consenso
formal. Alm disso, esta estrutura ou lista de recomendaes deveriam conter sugestes
abordando desfechos clnicos relevantes ou domnios de desfechos clnicos.
As pesquisas estruturadas na base de dados eletrnicas foram conduzidas por um
dos autores (CPF). O processo de triagem dos estudos foi realizado em duas etapas.
Primeiro, um dos revisores selecionou os ttulos e resumos de todos os estudos
5
identificados atravs da pesquisa bibliogrfica. Os estudos que no cumpriram os critrios
de elegibilidade pr-especificados foram excludos da avaliao. Em uma segunda etapa,
foi obtido o texto integral dos estudos selecionados que foram ento avaliados em relao
aos critrios de elegibilidade por trs revisores (CPF, EH e NK).
Ao todo, 2625 artigos foram identificados com a nova busca e 19 j haviam sido
identificados na reviso sistemtica anterior. Dos 2625, 64 foram selecionados com base
na leitura dos ttulos e resumos, 19 j haviam sido identificados na reviso anterior e 2 por
outras vias, totalizando 85 cujo texto completo foi avaliado. Outros dois textos foram
incorporados na reviso por sugesto dos especialistas em Telessade. Destes, 20 foram
includos como representado na Figura 1.
Figura 1. Fluxograma do resultado da identificao e seleo dos estudos
Dos 20 estudos includos, oito focaram em sistemas ou programas de uma forma
ampla, sendo um deles uma reviso de revises sistemticas. Dois deles tinham foco em
servios especficos, sendo um no cuidado intensivo e o outro, mais recente, em hospitais.
Quatro estudos eram voltados para condies especficas; dois em sade mental, um em
cuidado paliativo peditrico domiciliar e um em teletutoria cirrgica. Seis estudos
6
avaliaram as metodologias de avaliao para aplicativos de sade no celular, sendo um
deles uma reviso sistemtica recente sobre a qualidade dos mtodos de avaliao. A partir
da anlise desses estudos foram desenvolvidos os tpicos deste guia, acerca de implantao
e avaliao de Telemedicina.
Introduo
Telemedicina pode ser definida como a prestao de servios de sade por
profissionais da rea, onde a distncia um fator crtico, usando Tecnologias de
Informao e Comunicao (TICs) para o intercmbio de informaes vlidas para o
diagnstico, tratamento e preveno das doenas e leses, pesquisa e avaliao, e para a
educao continuada dos profissionais de sade; tudo no interesse de promover a sade dos
indivduos e suas comunidades1. Essa definio da Organizao Mundial da Sade (OMS)
ainda se mantm atual, visto que nos ltimos 19 anos as TICs tomaram conta de nossas
vidas, e computadores de alta performance so encontrados nos bolsos de bilhes de
pessoas em todo o mundo, superando o acesso de servios essenciais como gua e esgoto
encanados2,3. Entretanto, no h uma consistncia conceitual entre os diversos termos
utilizados na literatura. Telemedicina, telessade e e-sade, por exemplo, podem apresentar
definies distintas entre diferentes autores, variando quanto s funes, envolvimentos
institucionais e profissionais, contextos e objetivos a serem alcanados4. Uma
nomenclatura clara e comum poder beneficiar o avano do uso desta tecnologia.
A prestao de servios em sade em nosso pas ainda se mostra receosa em
incorporar de forma definitiva esses avanos. Se a utilizao de pronturios eletrnicos tem
substitudo o registro em papel, ainda com certa lentido, h uma gama de possibilidades
pouco exploradas capazes de enfrentar os desafios em sade j postos h muitos anos.
As dificuldades enfrentadas pelos sistemas de sade so consequncia da transio
demogrfica e epidemiolgica e do desenvolvimento da medicina. A populao est cada
vez mais velha, e o atual momento traz uma alta morbimortalidade provocada por doenas
crnicas no transmissveis5,6. O impacto ainda maior na populao mais vulnervel
7
economicamente, visto que, frequentemente, o cuidado tardio, demandando a utilizao
de tecnologias de alto custo e inovadoras, ampliando muito os gastos em sade79. Essas
tecnologias esto frequentemente concentradas em grandes centros urbanos, o que penaliza
tambm as pessoas que moram nas reas rurais e/ou que tem restrio de acesso impostas
por barreiras socioeconmicas. A presso dos custos, das perdas (afastamento das
atividades produtivas), dos deslocamentos e dos problemas de gerenciamento, implica em
um aumento da iniquidade, e tem impacto negativo tanto no sistema de sade pblico
(Sistema nico de Sade SUS) como no privado/sade suplementar, bem como traz
prejuzos para as atividades econmicas dos pacientes envolvidos.
Esse contexto epidemiolgico complexo e diverso requer mltiplas respostas do
sistema de sade. Exige igualmente uma nova organizao da ateno sade em nvel
micro (o processo de cuidado) e macro (a gesto dos servios e sistemas de sade). A
resposta deve possibilitar um cuidado continuado, integral, coordenado e centrado no
paciente/pessoa. Neste cenrio, a qualidade e o fluxo da informao entre os diferentes
atores sociais implicados representa um desafio central.
Estratgias de integrao dos servios esto presentes desde antes da Constituio
de 1988. Com a organizao do SUS e o papel cada vez mais atuante da Agncia Nacional
de Sade Suplementar (ANS), essas estratgias tm se fortalecido do ponto de vista
normativo e operacional10, porm de forma mais rpida e intensa no aspecto normativo. No
contexto da organizao de sistemas de sade aptos a dar resposta aos desafios
epidemiolgicos, mantendo sustentabilidade econmico-financeira dos mesmos, trs
aspectos so centrais nessa discusso: acesso, qualidade e custo das aes em sade. Aliado
a isto, as aes efetivas devem apresentar a maior qualidade possvel, isto , serem
corretamente aplicadas, apropriadas aos sujeitos que mais se beneficiam, alcanando a
maior escalabilidade possvel, no momento oportuno, no lugar certo e com o custo certo.
justamente nesta trade de acesso, qualidade e custo que tecnologias de
Telessade podem representar um grande avano na prestao de cuidados em sade. Estas
tm papel estratgico na consolidao de Redes de Ateno Sade e melhoria da sade
da populao medida que ultrapassam barreiras de acesso fsico ao ofertar intervenes
8
efetivas, reguladas por mecanismos promotores de equidade e que previnam uso indevido
de intervenes mdicas (preveno quaternria1), sempre aliadas a um custo adequado12
14.
A palavra-chave em Telessade interao. Interao entre profissionais de sade,
entre profissionais de sade e pacientes, entre gestores e profissionais de sade, entre
gestores e pacientes, entre diferentes gestores e ainda destes com outros atores desse
ecossistema. Por ser ferramenta de interao e de integrao, cujo contedo a informao
(ou dados) transmitida por via eletrnica, permite a incorporao de diversos mecanismos
de regulao e coordenao do cuidado em sade.
Descrita desta forma, torna-se bvia a importncia da Telemedicina na
consolidao de Redes de Ateno Sade, aliando os conceitos de acesso facilitado,
qualidade e custo. Esse guia tem por objetivo disponibilizar um arcabouo metodolgico
para a implementao, avaliao, e monitoramento de programas ou servios de
telemedicina e telessade no Brasil.
1 aes tomadas para identificar o paciente em risco de supermedicalizao, proteg-lo de uma nova invaso mdica e sugerir-lhe intervenes que so eticamente aceitveis11.
9
Conceitos
Telessade pode ser conceituada como o uso das modernas tecnologias da
informao e telecomunicaes (TICs) para atividades distncia relacionadas sade em
seus diversos nveis (primrio, secundrio e tercirio)15. Nesse trabalho utilizaremos os
termos Telessade e Telemedicina como intercambiveis, para abarcar a prestao de
servios em sade por meio das TICs.
H na literatura mundial uma divergncia nos conceitos utilizados em Telessade,
a qual dificulta inclusive a comparao de publicaes e mesmo de modelos de prestao
de servios. Faz-se necessria a criao de uma nomenclatura comum. Utilizaremos nesse
guia os termos definidos pelo Ministrio da Sade:
Teleconsulta: a realizao de consulta mdica (ou por outro profissional de sade)
a distncia por meio de tecnologia de informao e comunicao, isto , interao
a distncia entre profissional de sade e paciente2.
Teleconsultoria: consulta registrada e realizada entre trabalhadores, profissionais e
gestores da rea de sade, por meio de instrumentos de telecomunicao
bidirecional, com o fim de esclarecer dvidas sobre procedimentos clnicos, aes
de sade e questes relativas ao processo de trabalho, podendo ser de dois tipos:
sncrona, realizada em tempo real, geralmente por web, videoconferncia ou
telefone; ou assncrona, realizada por meio de mensagens off-line16. Nesse cenrio
pode ser includo atividades de telementoria, como em cirurgias17.
Telediagnstico: servio autnomo que utiliza as Tecnologias de Informao e
Comunicao para realizar servios de Apoio ao Diagnstico atravs de distncias
geogrficas e/ou temporais, incluindo diversos subtipos como Telerradiologia,
2 A teleconsulta realizada por mdicos ainda no permitida no Brasil pelo Art. 37 do Cdigo de tica Mdica, salvo em situaes de emergncia, o que regulado pela Resoluo 1.643/02 do Conselho Federal de Medicina.
10
Tele-eletrocardiograma, Tele-eletroencefalograma, Tele-espirometria,
Telepatologia, e outros, geralmente de forma assncrona
Telecirurgia: realizao, a distncia, de cirurgia (ou procedimento) por um
cirurgio, por meio de um sistema robtico; conhecida como cirurgia remota
(remote surgery).
Telemonitoramento: monitoramento a distncia de parmetros de sade e/ou
doena de pacientes por meio de TICs, incluindo a coleta de dados clnicos do
paciente, sua transmisso, processamento e manejo por um profissional de sade
por meio de um sistema eletrnico12.
Teleducao: conferncias, aulas, cursos, ou disponibilizao de objetos de
aprendizagem interativos sobre temas relacionados sade ministrados a distncia
por meio de TICs15.
Segunda Opinio Formativa (SOF): resposta sistematizada, construda com base
em reviso bibliogrfica das melhores evidncias cientficas e clnicas e no papel
ordenador da ateno bsica sade, a perguntas originadas das teleconsultorias, e
selecionadas a partir de critrios de relevncia e pertinncia em relao s diretrizes
dos servios de sade15.
O presente guia tem foco nas ofertas de telemedicina que no englobam atividades
de teleducao e segunda opinio formativa.
11
Histrico da Telemedicina
O termo Telemedicine s foi incorporado como Medical Subject Headings (MeSH
Term) junto Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da Amrica (National
Library of Medicine) em 1993. Este ano marca a exploso da Internet como ferramenta de
comunicao, tornando-se a partir da a tecnologia mediadora da colaborao em sade.
Isto demonstra a contemporaneidade da sistematizao dos conceitos, publicaes, estudos
e pesquisas sobre o tema. Por outro lado, iniciativas de ofertar consultas e servios
diagnsticos e/ou teraputicos interativos e a distncia, por meio de TICs, remontam ao
sculo XIX.
Nesse processo histrico de desenvolvimento da Telemedicina, mesmo sem
intencionalidade, podemos encontrar iniciativas pioneiras, sucedidas por experincias cada
vez mais replicveis e efetivas, que tornaram possveis atualmente a realizao de
teleconsultorias, teleconsultas, telediagnstico, telecirurgias e telemonitoramento. H
relatos variados em publicaes mdicas sobre uso anedtico do telefone, no sculo XIX,
tanto na realizao de teleconsultas como de teleconsultorias entre mdicos. No incio do
sculo XX, inmeras experincias de telediagnstico foram realizadas, boa parte delas com
eletrocardiogramas (ECG), antes do desenvolvimento da computao e da transmisso
eletrnica de dados. Dada natureza eltrica dos dados que compem um ECG, este exame
foi um dos primeiros, conjuntamente a exames de imagem de raio X, a serem realizados a
distncia por meio de alguma tecnologia de comunicao.
Como relatam Bashshur e colaboradores12, em 1905, Einthoven usou um telefone
para transmitir sons cardacos desde o hospital at sua casa, descrevendo a experincia em
um artigo publicado em um peridico cientfico holands (Ned Tijd Geenesk) em 1906,
quando, qui pela primeira vez, se utilizou o prefixo tele aplicado medicina. Poucos
anos depois, em 1910, houve um dos primeiros relatos de transmisso via rede eltrica de
um ECG do quarto do paciente para um laboratrio dentro de um mesmo hospital18. Nas
12
dcadas seguintes, pases que possuam forte marinha mercante, seguindo o pioneirismo
da Noruega nos anos de 1920, instituram a prtica da teleconsultoria e teleconsulta via
rdio entre hospitais e navios, incluindo teleconsultorias sobre procedimentos cirrgicos
de urgncia12.
Aps a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se com intensa rapidez a
transmisso de imagens de raio X. Algumas experincias utilizaram sinais de rdio ou
telefones cabeados, com resultados limitados. Na dcada de 50, na Universidade de
Nebraska, Estados Unidos, um circuito interno de televiso foi utilizado para atividades de
teleducao em psiquiatria, realizando, inclusive, sesses de terapia de grupo a distncia12.
A partir da dcada de 70, h um florescimento de iniciativas de Telemedicina nos
Estados Unidos e na Europa, com programas de Telemedicina muito similares aos atuais,
integrando aes de teleassistncia com teleducao. As viagens espaciais tambm deram
grande impulso para Telemedicina. A Agncia Espacial Americana (NASA) empreendeu
inmeros esforos para seu desenvolvimento, usando telemetria para fazer
telemonitoramento dos astronautas sob gravidade zero19.
J no sculo atual, como bem exemplifica Castro-Filho em sua tese de doutorado,
a Telemedicina passa a ser incentivada inclusive por organismos internacionais20:
Em 2004, a Organizao Mundial da Sade (OMS) incorporou o
amplo leque de servios eletrnicos ligados sade, conhecido
como eHealth, em sua estratgia para os pases membros (World
Health Organization, 2004). Em 2005, instituiu o Global
Observatory for eHealth e promoveu uma pesquisa mundial nesta
rea para conhecer as necessidades dos pases. Entre os domnios
desta survey, publicada em 2006, estiveram Sistema de Informaes
para o General Practitioner (GP - termo usado em alguns pases
europeus para o Mdico de Famlia), Sistemas de Suporte Deciso
Clnica e Telessade. Os focos na Ateno Primria Sade, na
qualificao das condutas e nas ferramentas de colaborao e ao
a distncia estiveram, desde o incio, entre as preocupaes da OMS
(World Health Organization, 2006b). Ainda em 2006, o referido
Observatrio publicou um segundo relatrio (World Health
Organization, 2006a). Nele previa uma forte ampliao de eHealth
13
entre os pases membros para os dois anos seguintes, como de fato
veio a ocorrer no Brasil.
Desde ento a implementao de servios em telemedicina, e consequentemente os
investimentos financeiros, tem aumentado substancialmente. Algumas reas como a
radiologia, patologia, dermatologia e psiquiatria tem maior destaque, visto a forte afinidade
que sua prtica apresenta com as TICs. Contudo, o campo de ao tem sido expandido
medida que os entraves regulatrios so superados. Atualmente a maioria dos pases
desenvolvidos tem permitido a realizao de teleconsulta, fomentando a oferta de servios
para alm dos limites regionais. A assistncia sade por meio das TICs cresce
exponencialmente por meio da oferta de consultas, consultorias e diagnsticos distncia.
Dispositivos mdicos (a internet das coisas) so implementados com uma velocidade
crescente, e milhares de aplicativos em sade so desenvolvidos todos os anos. A aplicao
de softwares com aprendizado de mquina (machine learning) tem surgido como uma
alternativa futura para melhorar a qualidade, a velocidade e a acurcia das aes em sade.
No Brasil esse movimento foi capitaneado nas ltimas duas dcadas em grande
parte pela ao governamental. Projetos para ampliar a infraestrutura das TICs
promoveram a aquisio e disponibilizao de um amplo parque de mquinas em milhares
de servios de sade no Brasil. Junto a isso, foi criada e fomentada uma rede de
telecomunicaes de grande capilaridade com intuito de manter todos conectados21. Em
paralelo, diversas iniciativas tentaram diminuir o hiato educacional que boa parte dos
profissionais de sade tinha com as TICs, na mesma medida que smartphones, outrora
artigos de luxo, viraram itens de consumo de grande parte da populao. E, por fim, na
ltima dcada o Programa Telessade Brasil Redes tem promovido a expanso dos servios
assistenciais, notadamente na Ateno Primria Sade, o que fez do Brasil um dos pases
com maior produo de servios no mundo22. Esse ambiente profcuo tem permitido o
surgimento, nos ltimos anos, de um grande investimento privado em solues em
telemedicina, que se junta a um tambm crescente interesse do mercado de TI nacional
para desenvolvimento de inovaes, com destaque para as Start Ups. Nos anexos desse
14
guia h a descrio mais pormenorizada do panorama de desenvolvimento da Telessade
no Brasil e no mundo.
Marco Normativo no Brasil
O Conselho Federal de Medicina (CMF) posicionou-se sobre a telemedicina de
forma especfica pela primeira vez por meio da resoluo 1.643/2002 (usando como base
a Declarao de Tel Aviv de 1999) que considerava a autonomia do mdico na deciso de
utilizar telemedicina e na possibilidade de assistncia sem contato direto com o paciente23.
Esta resoluo definiu a Telemedicina como o exerccio da Medicina atravs da utilizao
de metodologias interativas de comunicao audio-visual e de dados, com o objetivo de
assistncia, educao e pesquisa em Sade.
Reproduzimos trs de seus principais artigos desta Resoluo:
Art. 2 - Os servios prestados atravs da Telemedicina devero ter a
infraestrutura tecnolgica apropriada, pertinentes e obedecer s normas tcnicas do CFM
pertinentes guarda, manuseio, transmisso de dados, confidencialidade, privacidade e
garantia do sigilo profissional.
Art. 3 - Em caso de emergncia, ou quando solicitado pelo mdico responsvel, o
mdico que emitir o laudo a distncia poder prestar o devido suporte diagnstico e
teraputico.
Art. 4 - A responsabilidade profissional do atendimento cabe ao mdico assistente
do paciente. Os demais envolvidos respondero solidariamente na proporo em que
contriburem por eventual dano ao mesmo.
Em 2009, com a publicao do novo cdigo de tica mdica por meio da resoluo
CFM 1.931/2009, restries utilizao da telemedicina so impostas no Brasil24. O artigo
37 veda ao mdico a prescrio de tratamento ou outros procedimentos sem exame direto
do paciente, salvo casos de urgncia/emergncia, mas com atendimento presencial
subsequente obrigatrio.
Isso reforado pela Resoluo CFM 1.974/2011, que estendendo a proibio de
consulta, diagnstico e prescrio s redes sociais ou qualquer meio de comunicao em
massa ou a distncia25. Essa Resoluo, no entanto, em texto explicativo publicado
posteriormente refere que: (...) A resoluo probe ao mdico oferecer consultoria a
15
pacientes e familiares em substituio consulta presencial. O mdico pode, porm,
orientar por telefone pacientes que j conhea, aos quais j prestou atendimento presencial,
para esclarecer dvidas em relao a um medicamento prescrito, por exemplo 26.
A Resoluo CFM 2.107/2014 trata da normatizao da Telerradiologia e revoga a
resoluo anterior de 1.890/2009 sobre este tema. Esta Resoluo define a Telerradiologia
como o exerccio da Medicina, onde o fator crtico a distncia, utilizando as tecnologias de
informao e de comunicao para o envio de dados e imagens radiolgicas com o propsito
de emisso de relatrio, como suporte s atividades desenvolvidas localmente 27. Nesta
Resoluo h ainda a indicao dos especialistas que podem emitir relatrios distncia, alm
outros requisitos para prestao deste tipo de servio tal como a necessidade de autorizao
pelo paciente da transmisso de suas imagens e dados clnicos. Essa resoluo serve de
paradigma para as demais atividades de telediagnstico.
O parecer CFM 14/2017, ao discursar sobre o uso do aplicativo Whatsapp e
plataformas similares, refora que permitido seu uso entre mdicos e seus pacientes, ou
entre mdicos e mdicos, para tiver dvidas ou enviar dados, ressaltando o carter
confidencial e o uso somente dentro dos limites do prprio grupo. O parecer frisa que essa
comunicao entre o mdico e seu paciente deve ser restrita a pessoas j recebendo
assistncia, com intuito de elucidar dvidas, tratar de aspectos evolutivos e passar
orientaes ou intervenes de carter emergencial 28.
Durante o I Frum de Telemedicina promovido pelo CFM em julho de 2016 foi
declarado aberto o processo de reformular a Resoluo 1.643/2002, com a participao da
comunidade que lida com Telemedicina mdicos, professores, especialistas em
Informtica em Sade, entre outros. O CFM est em processo de reviso do cdigo de tica
mdica, e espera-se que as normativas sobre teleconsulta sejam revisitadas.
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) apresenta em suas recomendaes
ticas uma similaridade com as diretrizes do CFM, visto a publicao das Resolues
0456/2014 e 487/2015, (atualizaes da Resoluo COFEN n 225/2000), que dispem
sobre o cumprimento da prescrio medicamentosa ou teraputica distncia29,30.
16
A Fonoaudiologia publicou a Resoluo CFFa n 427/2013 que trata sobre a
regulamentao do uso do sistema Telessade em Fonoaudiologia. Ela traz importante
inovao resoluo anterior publicada em 2009 ao apresentar em quais cenrios
permitido o uso da teleconsulta31:
a) consulta envolvendo o fonoaudilogo e o paciente, com outro fonoaudilogo
distncia. Esta modalidade engloba aes fonoaudiolgicas, tanto de apoio
diagnstico quanto teraputico;
b) consulta envolvendo outro profissional de sade e paciente, ambos presenciais,
e fonoaudilogo distncia. Esta modalidade engloba aes de orientao e
condutas preventivas e no permite ao fonoaudilogo distncia realizar
diagnsticos e terapia fonoaudiolgica, bem como delegar a outro profissional no
fonoaudilogo a funo de prescrio diagnstica e teraputica fonoaudiolgicas;
c) consulta entre paciente e fonoaudilogo, ambos distncia. Esta modalidade
engloba aes fonoaudiolgicas de orientao, esclarecimento de dvidas, condutas
preventivas e no permite avaliao clnica, prescrio diagnstica ou teraputica.
Nesse mesmo documento h uma restrio para realizao de atividades de
telediagnstico sem a presena de um fonoaudilogo presencialmente.
A Psicologia, conforme resoluo CFP 011/2012, apresenta igualmente legislao
mais elaborada, visto que regulamentou e detalhou vrias modalidades de servios
psicolgicos a distncia, tanto em carter clnico quanto experimental, reforando a
obrigatoriedade em quaisquer modalidades destes servios que o profissional garanta o
sigilo das informaes e esclarea o cliente sobre isso32.
Como avaliar solues em Telessade?
A adoo de solues em telemedicina como uma tendncia na reorganizao da
assistncia sade caminha a passos lentos no Brasil, assim como a produo cientfica da
rea. So muitos projetos assistenciais que no progridem da fase inicial, e poucas so as
17
publicaes cuja cenrio so servios de sade. Alm disso, a maioria dos servios so em
pequena escala, e no integrados aos sistemas de sade locais, muito menos de mbito
nacional. Poucos, no fim, conseguem demonstrar reprodutibilidade dos seus resultados no
mundo real 2,3335.
Isso se deve, em parte, a caracterstica disruptiva que essas inovaes provocam na
prestao de servios em sade. A telemedicina, para atingir um nvel de operao
sustentada, necessita criar uma nova rotina. Khoja e colaboradores, ao avaliar teorias e
conceitos relevantes para telessade, compararam estas aos diferentes estgios do ciclo de
vida de uma soluo em telemedicina (figura 2) 36.
Figura 2. O alinhamento das teorias de avaliao com os diferentes estgios do ciclo de
vida da telessade.
Fonte: adaptado de Khoja e colaboradores
Entretanto, o desenvolvimento tecnolgico tende a provocar a incorporao de
inovaes mesmo sem evidncias cientficas definitivas que garantam sua utilizao fruto
da presso produzida pela existncia da tecnologia. Visto essa inexorabilidade,
fundamental o desenvolvimento da avaliao crtica dos servios e sistemas de sade, com
18
intuito de evitar que essa expanso seja direcionada pelos vieses individuais e comerciais,
e pelo imperativo tecnolgico 37. Por isso, a escolha da soluo em Telemedicina tem papel
fundamental. Se uma escolha certa no garante o sucesso do servio ou programa de
Telemedicina, a escolha errada tem alta probabilidade de provocar seu fracasso 35.
Uma das decises importantes no planejamento avaliar se a soluo ser sncrona
(em tempo real) ou assncrona (com um tempo previamente determinado para resposta).
Servios que funcionam de maneira sncrona agregam um custo mais alto, visto que
necessitam de uma equipe sempre disponvel no horrio de funcionamento. Alm disso,
essa equipe deve estar dimensionada e preparada para momentos de maior demanda ao
servio, e ter agilidade para dar as respostas em um tempo considerado adequado para o
usurio do servio, seja ele um paciente ou profissional de sade. A experincia do
TelessadeRS-UFRGS, vinculado ao Programa Telessade Brasil Redes do Ministrio da
Sade, demonstrou que solues em teleconsultoria so melhor adotadas quando ofertadas
de maneira sncrona, enquanto que a maioria dos servios de telediagnstico funcionam
assincronamente 38.
Outro ponto essencial para garantir o sucesso de qualquer estratgia de telemedicina
a integrao dessa oferta na rotina de trabalho das equipes de sade. Planejar desde o
incio a insero dessas ferramentas na prtica assistencial fundamental para alcanar
servios sustentveis 2,33,39. Tanto na implantao quando nas atividades de monitoramento
e replanejamento fundamental no s identificar aspectos facilitadores, mas tambm
avaliar as barreiras utilizao das solues em Telemedicina.
A Telessade deve ser dirigida para as necessidades dos pacientes, profissionais e
sistemas de sade, e no guiada pela tecnologia per se. Deve ser adaptada aos cenrios, e
seu impacto deve ser dimensionado em cada uma das reas envolvidas. O planejamento
deve envolver a prestao de servios, o plano de negcios e o desenvolvimento da
tecnologia, e acontecer posteriormente definio das necessidades, resultando em um
servio em sade com valor agregado (value-added) 33,40. Nesse sentido, uma das maiores
dificuldades das solues em telemedicina exatamente demonstrar qual o valor de ganho
do que ofertado. Pacientes, profissionais de sade, gestores e demais atores podem ter
19
vises diferentes do valor agregado, e at discordantes, de acordo com suas necessidades,
preferncias e inclinaes racionais e emocionais41.
No plano de negcios, a reduo de custos e a melhoria na prestao de servios
(qualidade) so razes chave para implantao de servios em telemedicina33. Entretanto,
em diversos cenrios no temos nem ao menos a oferta de servios de maneira presencial
(acesso). Por isso, acesso, qualidade e custos devem ser as principais justificativas para
implantao de um servio de telemedicina.
Instrumento de Avaliao em Telessade
O Instrumento de Avaliao, Implantao e Monitoramento de Programas e
Servios de Telemedicina e Telessade tem por objetivo apoiar gestores, profissionais de
sade, usurios e outros atores em todas suas fases, desde apoio para implantao at a
avaliao de servios j consolidados. Poder, portanto, ser utilizado em sua forma integral,
ou apenas sees deste, caso a necessidade seja apoiar somente a implantao de um novo
servio.
Este Instrumento no uma escala validada, pois no foi testado
metodologicamente para s-lo. Da mesma forma, no produz um escore com ponto de corte
pr-definido que estabelea se um servio de Telemedicina bom ou ruim. Este no o
propsito deste instrumento. Seu propsito auxiliar os tomadores de deciso, avaliadores,
profissionais de sade e usurios de servios de Telemedicina a refletir sobre a qualidade
do servio de Telemedicina em questo. Ou, se em fase de implantao, auxiliar os
responsveis pelo novo servio a seguirem um caminho de criao de servios de
Telemedicina que tenham maior probabilidade de xito. Dependendo do servio ou soluo
de telemedicina em avaliao alguns itens sero desnecessrios. Por exemplo, ao avaliar-
se um aplicativo que auxilie o mdico a tomar decises teraputicas adequadas baseados
em fluxogramas cientificamente reconhecidos, mas que no use dados especficos e
individuais de pacientes, no ser necessrio utilizar o item A soluo garante a segurana
e confidencialidade das informaes em sade dos pacientes? .
20
Quadro 1. Check list do Instrumento de Avaliao, Implantao e Monitoramento de
Programas e Servios em Telemedicina e Telessade
Sim No No sabe
No se aplica
1. Problema de sade e seu contexto As necessidades em sade atendidas pelo sistema/servio
de sade foram definidas?
A populao alvo (profissionais de sade e/ou pacientes)
foi definida?
A avaliao das necessidades em sade contou com a
participao dos profissionais de sade e dos pacientes?
2. Escolha da tecnologia Existem solues em telemedicina j previamente testadas
para resoluo do problema?
A soluo tem capacidade de melhorar o acesso da
populao alvo?
A soluo tem efetividade previamente estabelecida por
estudos clnicos adequados?
A incorporao da soluo est baseado em evidncias
cientficas de moderada ou alta qualidade?
A soluo tem acurcia e confiabilidade ao longo do tempo
definidas?
A soluo segura (riscos de danos menores que os
benefcios)?
A soluo adaptvel ao cenrio e estrutura existente?
A soluo adaptada populao alvo?
Foi discutido com os profissionais de sade e/ou pacientes
a escolha e formato da soluo?
Foi realizado algum projeto piloto para implementao?
3. Aspectos legais e ticos
A soluo garante a segurana e confidencialidade das
informaes em sade dos pacientes?
A soluo obtm e registra o consentimento do paciente
ao propsito de uso das informaes pessoais de sade?
A soluo cumpre as normas locais e a legislao vigente?
4. Aceitabilidade
21
Mecanismos foram desenvolvidos para insero da
soluo na prtica assistencial?
A soluo integrada ao sistema de registro de
informaes?
H treinamento ou mecanismos de suporte/capacitao
para utilizao por profissionais de sade ou pacientes?
O impacto na carga de trabalho dos profissionais de sade
compatvel com sua prtica assistencial?
H um sistema de resoluo de problemas/suporte
disponvel quando necessrio?
A soluo rpida de ser realizada/utilizada?
O tempo para resposta adequado para a demanda dos
profissionais solicitantes?
A soluo tem uso amigvel?
A soluo est adaptada ao contexto local e linguagem?
Foi utilizado algum mtodo padronizado/validado para
avaliao da usabilidade da soluo?
As lideranas do projeto esto engajadas com os
participantes (profissionais de sade e/ou pacientes)?
5. Monitoramento e Auditoria
Foram definidos indicadores para monitoramento?
Os resultados do monitoramento so publicados em
ambiente web e amplamente disponveis?
Foram criados mecanismos de auditoria sistemtica (por
amostragem, por exemplo)?
Avaliaes negativas emitidas pelos usurios recebem
auditoria de algum profissional snior do projeto?
H retorno (feedback) sobre os resultados e a qualidade
assistencial para os profissionais de sade executantes da
soluo em telemedicina?
H algum servio de ouvidoria ou pesquisa sistemtica
com os usurios para avaliao das solues e
identificao de possveis barreiras?
6. Indicadores
Indicadores da linha de base foram coletados?
A soluo tem impacto sobre desfechos de morbidade ou
mortalidade?
A soluo tem impacto sobre desfechos substitutos
clinicamente relevantes para os pacientes?
22
A soluo tem impacto na melhoria dos processos dos
servios/sistemas de sade nele inseridos?
A soluo tem volume ou frequncia de uso que justifica
sua incorporao/manuteno?
Estudos de custos (efetividade, utilidade, minimizao)
foram realizados para assegurar a viabilidade econmica
da soluo?
A organizao do servio de telemedicina pautada para
atingir uma economia de escala da oferta?
7. Aspectos polticos
A soluo compatvel com as polticas de sade dos
sistemas/servios nos quais ela foi incorporada?
H planejamento da equipe para garantir a sustentabilidade
do servio?
H colaborao, comprometimento e/ou envolvimento dos
stakeholders?
H colaborao, comprometimento e/ou envolvimento dos
governantes?
H promoo/divulgao/prestao de contas para os
financiadores/patrocinadores da soluo?
H alguma rotina dos lderes do servio para avaliao dos
indicadores e replanejamento?
O instrumento proposto por esse guia apresenta sete domnios e tem por meta
abarcar todas as dimenses envolvidas desde o desenvolvimento, implementao,
integrao, at a almejada operao sustentada 36. importante ressaltar que esses
domnios no so estanques no tempo (fixos em cada etapa descrita abaixo), mas servem
tambm para reavaliao de programas j implementados em suas etapas de
desenvolvimento, implementao, integrao e operao sustentvel. A apresentao do
instrumento nestas sete dimenses representa tambm, no um receiturio, mas um passo-
a-passo importante a seguir para quem se inicia no mundo da Telemedicina e Telessade.
A seguir, sero detalhados aspectos importantes de cada um dos sete domnios que
compem o Instrumento:
1. Identificao das necessidades em sade
2. Escolha da soluo e definio das tecnologias
23
3. Aspectos legais e ticos
4. Aceitabilidade
5. Monitoramento e auditoria
6. Indicadores
7. Aspectos polticos
1. Identificao das necessidades em sade
fundamental que qualquer programa ou servio de Telemedicina ou Telessade
seja dirigido a responder a necessidades em sade que possuam magnitude, transcendncia
e/ou vulnerabilidade39. Novas solues de telemedicina surgem s centenas anualmente.
Dispositivos mdicos, softwares, aplicativos e servios so desenvolvidos na busca de um
campo de atuao, de um nicho de mercado. Gestores, empreendedores e profissionais de
sade igualmente buscam nas TICs a resoluo de problemas crnicos na gesto dos
recursos, insolveis pelos mtodos usuais.
Entretanto, o desenvolvimento tecnolgico tem induzido a incorporao de
ferramentas de telessade sem substrato cientfico em sua grande maioria. O imperativo
tecnolgico tem criado novas demandas por meio do surgimento de novas ofertas. Isto ,
frente ao desenvolvimento de um dispositivo com aplicabilidade potencial na rea da
sade, busca-se um problema de sade a ser resolvido por este. Para evitar essa armadilha,
fundamental que a busca das solues em TICs ocorra a partir das necessidades em sade
das pessoas e/ou de necessidades de maior oferta de acesso e qualificao dos servios de
sade. A tecnologia deve ser o veculo da mudana, e no o guia 43. Nesse contexto, ter
um diagnstico claro das necessidades em sade ou de aprimoramento dos servios de
sade deve ocorrer antes da definio de quais solues sero incorporadas. o mesmo
processo de quando se planeja uma pesquisa cientfica: qual a pergunta / problema a ser
estudado? Aps termos uma slida pergunta, buscaremos o mtodo apropriado para
respond-la.
So inmeras as razes que tm justificado a incorporao de solues em
telessade:
24
Resoluo de filas de espera para atendimentos ou exames especializados
Ganhos de escala, visto que muitos servios podem ser atendidos por um
menor nmero de profissionais utilizando telemedicina
Garantia ou melhoria de acesso em locais de difcil provimento
Aumento da qualidade assistencial
Evitar os deslocamentos de pacientes e profissionais
Monitoramento distncia
Reduo do tempo para resoluo dos problemas em sade
Diminuio de custos diretos (recursos humanos, deslocamentos) e
indiretos (carga de doena, tempo)
Assistncia s urgncias ou situaes crticas de sade (ex.: acidente
vascular cerebral agudo, doentes em Unidade de Tratamento Intensivo)
Na incorporao destas solues, a segurana e a qualidade assistencial tem
importante destaque. A economia de escala em sade traz no s reduo de custos, mas
tambm uma excelncia na qualidade da assistncia. Isso porque no s o volume aumenta
a expertise, mas tambm porque essas ferramentas so mais afeitas a estratgias de
auditoria e retroalimentao.
A participao dos profissionais de sade e pacientes na definio das necessidades
recomendada, visto que o engajamento de ambos na utilizao da soluo tecnolgica
parte fundamental do processo. Alm disso, as preferncias e necessidades de ambos
auxiliam na definio da melhor soluo, no formato de contato (sncrono ou assncrono),
horrio que ela vai estar disponvel e forma de acesso.
Outro ponto importante a definio da populao-alvo da soluo. E, nesse item,
estamos discutindo no s os profissionais que vo utilizar, mas principalmente os
pacientes que sero beneficiados. Como em outros servios de sade, a oferta em
25
telemedicina invariavelmente pautada pela lei dos cuidados inversos3, aumentando a
iniquidade do cuidado 44. Mdicos com menor tempo desde a formao ou maior
familiaridade com TICs tem maior aderncia s solues, e o mesmo vale para os pacientes.
2. Escolha da soluo e definio da tecnologia
O passo seguinte aps a definio das necessidades escolher qual a soluo a ser
implantada e qual a tecnologia que melhor vai responder aos desafios propostos. E essas
escolhas devem ser criteriosas, visto que o sucesso em grande parte consequncia da
realizao deste planejamento.
A primeira etapa levantar evidncias cientficas para identificao da melhor soluo.
Se a soluo j foi testada e aprovada em cenrios semelhantes (problemas de sade e
populao alvo), a chance de sucesso maior. Nesse caso sempre interessante se valer de
estudos de alta ou moderada qualidade, de preferncia que avaliaram os desfechos de
interesse. A tecnologia tambm deve responder aos desafios de melhoria de acesso e/ou
qualidade, sem os quais no justificam sua incorporao.
Aps identificada a soluo, avaliar a adequabilidade ao cenrio e estrutura
existente pea-chave. A necessidade de mudanas complexas em questes de estrutura
(conectividade, recursos humanos, equipe tcnica para apoio) ou processos (carga de
trabalho da equipe, rotina assistencial) devem ser bem dimensionadas (visto impacto nos
custos fixos), e o ideal escolher uma tecnologia que tenha maior capacidade de adequao
ao ambiente (tanto estrutura quanto aos participantes profissionais e pacientes) 2.
Algumas caractersticas da soluo tambm devem ser interrogadas como acurcia
(capacidade de acerto ao aferir um fenmeno), confiabilidade (reprodutibilidade da taxa de
acerto ao longo do tempo) e segurana.
3 A disponibilidade de um bom atendimento mdico tende a variar inversamente com a necessidade da
populao atendida. Esta lei de cuidados inversos opera mais completamente onde a assistncia mdica
mais exposta s foras do mercado, e menor onde essa exposio reduzida.
26
Envolver os diversos atores na escolha da soluo igualmente uma tarefa
indicada, visto que melhora a aceitabilidade. Muitas vezes ignoramos a capacidade dos
atores de identificar as necessidades e propor solues efetivas. Alm disso, esse
envolvimento responsabiliza os mesmos sobre os resultados futuros.
Desenvolver um projeto piloto para implementao fortemente recomendado. A
identificao das barreiras e realizao das necessrias correes antes da incorporao em
maior escala aumenta a chance de sucesso posterior, economizando recursos e evitando
traumas maiores, os quais so esperados quando vamos modificar a rotina assistencial 33.
3. Aspectos legais e ticos
Acessar, compartilhar e salvar informaes pessoais e mdicas de um paciente envolve
um regramento que deve salvaguardar o direito a confidencialidade dos mesmos. Da
mesma maneira, padres devem ser respeitados para proteger dados em sade criados,
recebidos, mantidos ou transmitidos por via eletrnica. Essas regras de privacidade e
segurana devem ser obrigatoriamente observadas por qualquer soluo em telemedicina.
A norma ISO 27001 uma referncia internacional para a gesto da segurana da
informao. HIPAA (The Health Insurance Portability and Accountability Act),
promulgada em 1996 nos Estados Unidos, igualmente define um padro para proteger os
dados sensveis dos pacientes. Qualquer instituio que lida com informaes de sade
protegidas deve garantir que todas as medidas de segurana fsica, de rede e de processos
sejam implementadas e seguidas.
Outro ponto fundamental obedecer s normas locais (fundamentalmente associadas
com as prerrogativas profissionais da rea da sade) e a legislao vigente. Esse ponto j
foi abordado no captulo sobre o marco normativo no Brasil. Entretanto, interessante
entender que o conhecimento em telessade foi e est sendo construdo fortemente nas
ltimas dcadas. Por isso, inovar sob o ponto de vista normativo tambm pode ser
necessrio quando estamos estabelecendo tecnologias que rompem o estado atual do
27
conhecimento. Nesses casos mandatrio a subordinao aos regramentos da pesquisa
formal, a qual segue um rito que necessita da avaliao e salvaguarda de um comit de
tica em pesquisa legitimamente constitudo.
O consentimento do paciente para atividades de telemedicina igualmente algo
necessrio, visto a necessidade de transmitir informaes pessoais. O manual de
Certificao para Sistemas de Registro Eletrnico da Sociedade Brasileira de Informtica
em Sade e do Conselho Federal de Medicina destaca quais so os regramentos para
incorporao desse documento nos sistemas de registro eletrnico 45.
4. Aceitabilidade
A baixa utilizao , inmeras vezes, motivo de frustrao de qualquer provedor de
servios em telessade. A aceitabilidade elemento crucial do sucesso em telessade.
Entender as barreiras e virtudes da oferta dessas solues fundamental para melhorar
esses resultados 46,47.
Provavelmente o desafio primeiro das lideranas do projeto exatamente a mudana
de cultura 46. Modificar o modo de executar uma tarefa pode ser comparado a mudar
hbitos de vida: a efetividade baixa, depende do tempo que o provedor se dedica e
envolve forte engajamento com os participantes profissionais de sade e pacientes.
Nesse contexto, fundamental que os servios sejam centrados nas necessidades dos
pacientes (como premissa fundamental), mas tambm nas necessidades dos profissionais
de sade, visto que os ltimos frequentemente dirigem as demandas dos pacientes nos
sistemas de telemedicina 46.
A primeira medida entender que ainda hoje ofertas de telemedicina so consideradas,
na maioria dos cenrios, como uma oferta adicional, acessria, suplementar. Elas no so,
para quase todos os servios de sade, o formato mais comumente utilizado para
assistncia. Criar mecanismos (gatilhos) para insero na prtica clnica de forma
rotineira fundamental para atingir uma utilizao adequada.
28
Fomentar mecanismos de interoperabilidade tambm parte importante na
incorporao de novas tecnologias. Uma das barreiras para uma adequada utilizao a
necessidade dos usurios de acessar mltiplas plataformas de tecnologia de informao
durante sua prtica. Integrar a soluo no sistema de registro de informaes usual gera
reduo do impacto na carga de trabalho dos profissionais.
Visto que incorporao de um processo novo muitas vezes desperta temor e, como
consequncia, produz resistncia, ofertar um treinamento inicial medida salutar.
Sistemas complexos podem ainda exigir da equipe de implantao uma assistncia em
servio no incio do uso. Contudo, fundamental a existncia de um servio de suporte
contnuo, de preferncia disponvel em tempo real ou com mnimo tempo de resposta.
Solues em modo de produo ainda so a melhor maneira de estressar os sistemas e
processos, identificar falhas e corrigir rotas.
A usabilidade , sem sombra de dvida, um ingrediente essencial no desenvolvimento
de solues em telemedicina e aceitao pelos usurios, tanto profissionais de sade como
pacientes. As bases para avaliao da usabilidade foram estabelecidas na dcada de 1990
pelo ISO (ETR 95, diretriz para avaliaes de usabilidade de sistemas e servio de
telecomunicaes), e inmeros instrumentos de avaliao e pesquisa foram desenvolvidos
aps. Os principais mtodos so:
Log: dados baseados em sensores, pontuao manual por pesquisadores durante
observaes ou arquivos de log do sistema,
Observao: sistemas baseados em vdeo, software de captura de tela ou
superviso por especialistas em usabilidade,
Questionrios,
Entrevistas e
Auto-descritivas: usurios executam tarefas enquanto pensam em voz alta e
comentam sua experincia e impresses durante ou um pouco depois da
execuo de cada tarefa 48.
Para avaliar a usabilidade, a aplicao de questionrios mtodo mais utilizado para
uma variedade de sistemas de telemedicina, visto que so rpidos para aplicar, requerem
29
menos experincia de uso em relao aos outros mtodos, so facilmente distribudos e
customizveis. Nos anexos desse guia h um modelo deste tipo de questionrio. A escala
System Usability Scale (SUS) simples, rpida (so 10 itens) e fcil de compreender
(escala tipo Likert) 49. Entretanto, so inmeros os outros instrumentos disponveis.
No instrumento proposto, foram levantadas algumas questes que permeiam a
avaliao da usabilidade em seus aspectos de efetividade e eficincia, como frequncia de
utilizao, rapidez, tempo de resposta, compreenso, adaptao ao contexto local e
linguagem. Alm disso, ao encontro da qualidade da assistncia que pode ser otimizada
com a telemedicina, incorporamos um conceito de adequabilidade/apropriabilidade da
utilizao da soluo, principalmente orientados pelo conceito de preveno quaternria 50.
5. Auditoria e monitoramento
Monitoramento uma atividade pouco valorizada na prestao de servios em sade,
tanto nos aspectos da micro como nos da macrogesto. A falta de cultura e capacidade
organizacional para coletar, manejar e avaliar os dados em sade inviabilizam os enormes
ganhos que mecanismos de feedback podem produzir em profissionais de sade, pacientes
e redes de ateno 2,40. As solues em telemedicina apresentam ainda a vantagem de
produzir indicadores de maneira natural, visto que gerar bancos de dados est em sua
gnese.
Uma estratgia interessante iniciar com avaliaes bsicas antes de migrar para
desfechos ou estudos mais complexos. Questionar o que voc est fazendo, o volume de
uso e estabelecer quais indicadores medir tarefa inicial. De preferncia para incorporao
de instrumentos e indicadores j validados para avaliao 42.
Contudo, a produo de indicadores no deve sobrepor a usabilidade dessas
ferramentas. Os protocolos devem ser sucintos, objetivos e com claro vis assistencial. A
coleta de dados sem propsito burocratiza e lentifica os processos, sem incorrer em
benefcio para pacientes e profissionais.
Para quaisquer das atividades em telemedicina, a normatizao deve ser perseguida
pela equipe executante. Diretrizes e respostas padronizadas devem orientar a execuo
30
das tarefas, principalmente quando estas envolvem atividades de apoio a tomada de deciso
(mais sujeitas a vieses de interpretao ou mesmo da bibliografia utilizada). Nesse caso,
no s a busca de respostas deve englobar o melhor nvel de evidncia, como a
homogeneidade de conduta deve ser uma pauta da equipe. Para esse problema,
interessante o desenvolvimento de ferramentas de automatizao (tanto para emisso de
laudo, mas tambm para a busca de respostas).
Como em qualquer prestao de servios, avaliaes negativas devem ser encaradas
como eventos-sentinela na oferta dos servios, e receber a ateno devida. Entretanto, so
diversas as evidncias que mostram uma muito alta satisfao com as ofertas em
telessade. A auditoria sistemtica e ouvidoria ativa so mecanismos que otimizam o
processo de avaliao e identificao de barreiras ou problemas, elevando a qualidade
assistencial.
Os resultados consolidados do monitoramento devem ser publicados para consulta
pblica, de preferncia em ambiente web. Mais do que somente uma prestao de contas,
esse movimento de transparncia valorizado pelos atores envolvidos no processo. J a
avaliao individual (sistemtica ou provocada por inconsistncias) deve ser sigilosa, e
igualmente tem efeito importante na padronizao e melhoria da qualidade dos provedores
da soluo
6. Indicadores
A busca por diferenas em desfechos primordiais como reduo de mortalidade e
morbidade so sempre a escolha preferencial quando estamos incorporando uma nova
tecnologia, visto que no h discusso quanto a sua relevncia. Entretanto, esses desfechos,
para serem vlidos, igualmente devem ser acompanhados por um desenho cientfico
robusto (como um ensaio clnico randomizado), o qual permite inferir relaes de
causalidade da interveno com o desfecho 37. Em eventos de grande transcendncia como
um paciente com acidente vascular cerebral (AVC) atendido em servio de emergncia,
essa tarefa (de mostrar reduo de morbidade ou mortalidade) necessita de um menor
31
nmero de pacientes. O desafio como comprovar impacto relevante nesses indicadores
quando ofertamos servios em cenrios de menor risco (como na Ateno Primria), para
condies que o desfecho no frequente (diminuio da frequncia de AVCs em pacientes
com hipertenso arterial sistmica).
A escolha adequada dos indicadores sem dvida uma das principais tarefas dos
servios de telessade. Isso porque a maior parte das informaes desses servios so
focados em medidas de produtividade (ex: nmero de laudos, de teleconsultorias, de
participantes, de cursos), o que no necessariamente significa melhoria do acesso, da
qualidade e/ou reduo de custos. E essa informao ainda mais controversa quando a
prestao do servio no associada com um paciente especfico (e de preferncia com um
identificador unvoco como o carto SUS), como as teleconsultorias no identificadas e as
atividades de teleducao.
Por outro lado, tambm no de rotina necessrio a busca de diferenas em desfechos
duros, notadamente quando j existe evidncia cientfica suficiente que suporte a
interveno. Como exemplo temos as atividades de telediagnstico/teleconsultoria em
dermatologia. Inmeros estudos j compararam a acurcia da avaliao presencial
comparada com distncia, mostrando resultados similares e ganhos expressivos em
acesso e diminuio de tempo de espera. Seguindo o exemplo anterior, igualmente sabemos
que a reduo da presso arterial se traduz em menor frequncia de AVCs. Nesse contexto,
seguir as recomendaes padronizadas de qualidade assistencial, ou avaliar desfechos
substitutos clinicamente relevantes so suficientes para justificar o uso da tecnologia.
Outro ponto interessante o impacto da soluo de telemedicina no cenrio de
assistncia. Ao padronizar condutas escoradas em altos padres de qualidade, esta pode
transformar a organizao dos servios, afetando padres de comportamento, o trabalho
em equipe, a comunicao e a prtica baseada em sistemas 37. Esse tipo de efeito sobre a
qualidade do processo de cuidado deve ser um foco importante para mensurao dos
resultados.
Uma discusso interessante so desfechos relacionados com a satisfao dos
participantes. Inmeros trabalhos demonstram que aplicaes em telemedicina so bem
32
avaliadas 46. Entretanto, isso no se reflete em taxas igualmente compatveis de utilizao.
Os autores deste guia acreditam que a satisfao uma informao muito pouco til para
ser utilizada como desfecho, e no mximo deve guiar o monitoramento dos servios.
Alguns indicadores so normalmente muito valorizados por gestores de sade visto seu
impacto na macrogesto. Diminuir as filas e o tempo de espera para consultas e exames
especializados so desfechos avaliados em todo o mundo. Entretanto, recomendado que
essas atividades no sejam somente uma triagem para definir a complexidade do paciente.
Esses servios devem garantir uma melhor equidade (atendendo os pacientes mais graves
primeiro), mas tambm incorporar resolutividade, proporcionando que os pacientes
possam ser atendidos em locais mais prximos de sua residncia e em menor tempo por
telemedicina.
Exemplificamos abaixo alguns indicadores, conforme classificao proposta por
Donabedian51:
I. Indicadores de Estrutura
a. Nmero de dispositivos disponveis per capita
b. Capacidade instalada e demanda esperada
c. Qualificao clnica da equipe de telessade
d. Horrio de funcionamento
II. Indicadores de Processo
a. Proporo de profissionais ativos em determinado perodo (sobre o total
de profissionais)
b. Disponibilidade do servio (tempo em funcionamento/tempo total
contratado)
c. Frequncia de utilizao por profissional (em um determinado perodo
de tempo)
d. Taxa populacional mdia de utilizao (exemplo: nmero de
telediagnsticos per capita por cidade 43)
e. Tempo de resposta
III. Indicadores de Resultado (clnico assistenciais)
33
a. Nmero de pacientes em fila de espera para atendimento especializado
b. Tempo mdio de espera para atendimento especializado
c. Taxa de reinternaes
d. Tempo mdio de internao
e. Reduo de mortalidade
IV. Indicadores de Resultado (econmicos)
a. Custo per capita/procedimento/diagnstico com igual efetividade
(custo-minimizao)
b. Impacto sobre acesso ou qualidade com mesmo custo semelhante (custo
utilidade
atividade rotineira das ofertas de telessade a gerao e interpretao dos indicadores.
Contudo, essa atividade no far sentido se o processo no gerar aperfeioamentos e
correes de rumo. Gerar produo sem produzir melhores resultados na resoluo dos
problemas de sade das pessoas no aceitvel.
7. Aspectos polticos
A adoo de inovaes, principalmente as disruptivas, no alcanam xito se no
possuem apoio poltico dos principais patrocinadores, tanto na esfera pblica, como na
privada. A falta de evidncias cientficas com moderada ou boa qualidade persiste como
uma das maiores fragilidades das solues em telemedicina no processo de consolidao
da adoo de inovaes. Benefcios questionveis e a falta de avaliaes de longo prazo
dificultam a incorporao dessas tecnologias em grande escala, principalmente visto o
crescente apelo a uma maior responsabilidade na prestao de contas do setor da sade.
Alm disso, h falta de consistncia em relao estrutura de avaliao, e definio de
mtricas e desfechos. Os estudos de custo so igualmente infrequentes 2,47.
Isso fica evidente visto os altos custos que envolvem a implementao da telemedicina
com equipamentos, recursos humanos, conectividade, interoperabilidade e mudanas de
34
organizao do trabalho. Esses custos fixos devem ser compensados na busca de uma
economia de escala por meio da cooperao, sinergia de aes ou ampliao dos cenrios
de atuao 34.
Governantes, gestores e outros atores devem ser envolvidos em todas as etapas desde
a implementao das solues em telessade. Faz-los participantes (com influncia na
tomada de deciso) tambm os tornam responsveis pelos resultados. Uma das formas mais
interessantes de conseguir esse comprometimento divulgar da maneira mais transparente
possvel os indicadores de estrutura, processo e resultado envolvidos em cada projeto. Da
mesma forma a prestao de contas deve ser o mais transparente possvel, visto que os
financiadores do projeto (diretos ou indiretos) devem ter total cincia sobre como foi
aplicado seus investimentos.
Aranda e colaboradores criaram uma figura muito ilustrativa dos principais aspectos
envolvidos em um programa de Telemedicina (figura 4) 2.
Figura 4. Principais aspectos para um efetivo projeto de Telessade
35
Fonte: Adaptado de Aranda e colaboradores
A manuteno de solues em telessade envolve a capacidade das lideranas de
atingir ganhos em acesso e qualidade por um custo aceitvel. Os altos custos dessas
iniciativas (mesmo com a perspectiva de reduo que tem sido alcanada com o avano
tecnolgico) exigem uma dedicao importante da equipe em avaliar-se de maneira
frequente, com base em slidos indicadores, e modificar o jeito de fazer. A busca da
excelncia deve ser incessante, e aproveitar essa flexibilidade que as ferramentas de
telessade possuem produzem resultados evidentes principalmente quando automatizamos
e padronizamos processos.
Concluso
O uso de tecnologias de informao e comunicao por meio da telemedicina capaz
de produzir melhorias no fluxo das informaes, no desempenho dos profissionais, no
acesso rpido e oportuno ao diagnstico e manejo clnico e na qualidade dos servios
prestados. E essa realidade tem uma tendncia de melhora, visto a crescente adeso e
familiaridade das pessoas aos telefones mveis e smartphones. Mais do que isso, pode ser
uma alternativa custo-efetiva para um pas cujo sistema de sade tem dificuldades de
provimento de servios primrios e especializados, visto suas dimenses continentais e sua
estrutura descentralizada.
O acesso dos pacientes aos cuidados em sade , sem dvida, o ganho mais evidente
que a telessade proporciona. Levar para a populao o atendimento especializado (em
seus diferentes nveis e complexidades) condio primordial para a incorporao de
solues em telessade. Na maior parte dos casos isso significa a oferta de servios em
regies rurais e remotas, visto a dificuldade de adquirir e reter fora de trabalho nesses
locais. Entretanto, o avano das tecnologias tem tornado o termo distncia algo cada vez
mais voltil.
36
A maioria dos trabalhos considera o padro-ouro da prestao de servios em sade
o encontro face a face. Entretanto, so inmeros os estudos que demonstram uma melhora
da qualidade assistencial quando utilizamos a telemedicina. Isso se d pela facilidade que
essas ferramentas nos conduzem utilizao de diretrizes, protocolos e decises orientadas
por evidncias. Alm disso, temos ganhos com a maior privacidade garantida pela
interao no presencial. Como exemplo, pacientes com doenas estigmatizantes podem
se sentir mais confortveis no atendimento distncia.
Por outro lado, notrio a falta de estudos com qualidade metodolgica suficiente
para mostrar benefcios em desfechos relevantes clinicamente para os pacientes. Mais do
que isso, mesmo quando h esses desfechos, a falta de economia de escala para boa parte
das intervenes produz custos muito altos, visto a baixa adeso da maioria dos
profissionais de sade.
fundamental o entendimento que nenhuma outra ferramenta tem maior potencial
em melhorar os processos em sade do que as solues em telemedicina, e que no futuro
muito das demandas presenciais sero substitudas por interaes mediadas pelas
tecnologias de informao e comunicao. Por outro lado, igualmente importante que
no se incorra no erro de acreditar que a telemedicina ser a panaceia para resoluo de
nossos problemas de assistncia sade. Ainda a interao presencial face a face ser
preponderante como principal forma de contato, e possivelmente para sempre.
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