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4 Guia de cultura e idendade Selo UNICEF Município Aprovado 2013-2016 realização parceiros regionais apoio

Guia de cultura e identidade

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44Guia de cultura e identidadeSelo UNICEF Município Aprovado

2013-2016

realização

parceiros regionais

apoio

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4FÓRUM COMUNITÁRIO: GUIA DE CULTURA E IDENTIDADE

Selo Unicef Município AprovadoEdição 2013–2016

Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF

Gary StahlREPRESENTANTE DO UNICEF NO BRASIL

Antonella ScolamieroREPRESENTANTE ADJUNTA DO UNICEF NO BRASIL

Escritório do Representante do UNICEF no BrasilSEPN 510 – BLOCO A – 2º ANDAR. BRASÍLIA/ DF – 70750-521

EQUIPE DO UNICEF NA AMAZÔNIA

Antônio Carlos CabralClaudia PortoDariane SousaEliana AlmeidaEmly CostaFrancisca MorganaFábio MoraisIda OliveiraUnai Sacona

ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO

Inácio França

REVISÃO DE TEXTO

Maura Dourado

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Libra Design

FOTOGRAFIAS

Studio Lumiar e Adriano Magalhães

A reprodução desta publicação, na íntegra ou em parte, é permitida desde que citada a fonte.

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4FÓRUM COMUNITÁRIO: GUIA DE CULTURA E IDENTIDADE

Selo Unicef Município AprovadoEdição 2013–2016

Fundo das Nações Unidas para a InfânciaGuia de Participação dos Adolescentes - Selo UNICEF

2013-2016/ Fundo das Nações Unidas para a Infância - Brasília: UNICEF, 2014.

37 p.: il.1. Cidadania - Criança e Adolescente. 2- Cultura

Indígena. 3- Cultura afro-brasileira. I. Título.

F981c

CDD 323.6

Sumário6 Apresentação8 Arte, cultura e identidade para a diversidade cultural14 O empenho dos brasiileiros pela igualdade étnico-racial16 Como os municípios podem se organizar20 Atividades propostas

Apresentação

O principal objetivo do eixo de Mobilização, Participação e Controle Social do Selo UNICEF Município Aprovado 2013-2016 é promover a capacidade dos municípios da Amazônia de articularem, envolverem e integrarem diferentes setores da sociedade na realização das políticas públicas.

Assim, como está estabelecido em praticamente todas as políticas nacionais, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e os parceiros do Selo compreendem que a redução das desigualdades só acontecerá de maneira sustentável com presença da sociedade em todo o processo.

A sustentabilidade de uma política pública, portanto, depende da efetiva parti-cipação da sociedade em sua implementação, da ampla mobilização para que atinja a todos os setores a serem beneficiados e do exercício do controle social para fiscalizá-la e monitorar seus resultados. Enfim, a comunidade é a verdadeira protagonista das trans-formações. Todas as atividades propostas pelo UNICEF e seus parceiros para este eixo mantêm um estreito diálogo com as principais políticas nacionais para a redução das desigualdades.

O Selo reforça o potencial de escuta e ação da gestão municipal. Por essa razão, o município deverá ser capaz de garantir a participação de gestores(as), operado-res(as) do sistema de garantia de direitos, professo-res(as), profissionais de saúde e de assistência social, além de pais, mães e principalmente dos próprios adolescentes.

A participação dos adolescentes e também das crianças nas atividades deste eixo não deverá ser, ja-mais, figurativa ou meramente presencial. Deverá ser efetiva, com espaço assegurado para suas diferentes vozes, opiniões e questionamentos em todas as etapas de desenvolvimento do tema deste guia.

A participação concreta de adolescentes e crianças na execução, gestão e acompanhamento das políticas públicas é imprescindível para que o esforço pela redução de desigualdades e pela melhoria das suas condições de vida acon-teça de maneira contínua, equilibrada e permanente.

Porque é importante a participação concreta dos adolescentes? Nessa fase, uma grande reorganização cerebral propicia o aprendizado, intensifica a capacidade de ra-ciocínio abstrato, melhora a memória, começa a permitir o controle dos impulsos. No fim da adolescência, o indivíduo desenvolve o raciocínio consequente, que possibilita pensar nas consequências dos seus atos, e amadurece o circuito social, permitindo que o adolescente se torne uma pessoa sociável, empática e solidária.

Dos processos de desenvolvimento da adolescência, três elementos se desta-cam: a construção da identidade, que gera questionamentos existenciais e permite uma nova maneira de se entender e se colocar no mundo; a sua capacidade de interação com outros adolescentes e com pessoas de diferentes idades, ampliando sua rede de re-lacionamentos e sua habilidade de convivência em grupo; e a conquista da autonomia, quando o adolescente começa a assumir novas responsabilidades, buscar liberdade e fazer um plano de vida.

Afinal, além de serem os principais beneficiários – o que já seria motivação sufi-ciente para que se apoderem dos mecanismos que impactam suas vidas -, em poucos anos esses mesmos meninos e meninas deverão ser os responsáveis pela execução des-sas políticas. Daí o eixo de participação do Selo UNICEF Município Aprovado ter sido es-truturado para contribuir na formação e no desenvolvimento de cidadãos protagonistas e conscientes para atuar na vida social, política e administrativa dos seus municípios.

Nesse eixo, a participação da sociedade irá se dar em atividades de Arte, Cultura e Comunicação para a Diversidade Étnico-racial; Mudança Climática e seus impactos sobre as crianças e adolescentes na Amazônia; Esporte & Cidadania; e, finalmente, da Semana do Bebê.

Este guia orienta os municípios a estimularem e envolverem os gestores, a so-ciedade, suas crianças e adolescentes a reconhecer, valorizar e preservar as culturas afro-brasileira, africana e indígena, entre outras. A ideia essencial é fortalecer a política de educação para a igualdade étnico-racial, mas também enfrentar o racismo como um problema que causa danos irreversíveis para todos. Para isso, as principais referências do Selo UNICEF são as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornaram obrigatório o ensi-no das histórias e das culturas afro-brasileiras e indígena nas escolas.

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Arte, cultura e identidade para a diversidade étnico-racial.

Existem diferentes maneiras de entender o que é cultura. O Selo UNICEF propõe que os participantes das atividades desse tema pensem a cultura como tudo o que as pessoas fazem para construir sua existência, material ou espiritualmente, envolvendo tanto os aspectos físicos quanto os simbólicos.

A cultura talvez seja o mais importante patrimônio de um povo, afinal é o que resulta do conhecimento compartilhado entre os habitantes de um mesmo lugar e vai passando – e sendo recriada – de geração em geração.

É a cultura que diz em quê e em quem acreditar. A cultura também revela quem somos, determina também o modo como cada um decide ser e estar no mundo, a ma-neira de agir e de se relacionar com a natureza e com as outras pessoas.

Em nosso país, a diversidade cultural é enorme. Na verdade, dentro de uma mes-ma região como a Amazônia essa diversidade já é bastante significativa. E todas as cul-turas devem ser valorizadas e respeitadas.

Quando se valoriza a diversidade como o Selo UNICEF propõe, se percebe a força e a presença das culturas dos povos indígenas e afrodescendentes no cotidiano. No modo de falar, de vestir, de andar, comer, celebrar, orar e brincar de cada um de nós também estão inscritas as marcas dessas culturas.

Há um traço de destaque e em comum à cultura desses povos: ancorados na dimensão do sagrado, celebram e respeitam a vida e a morte

definindo uma relação ética com a natureza. Pela forma de se expressar e ver o mundo, essas populações

mantêm vivas suas respectivas histórias.Para o UNICEF e seus parceiros, cada criança

e adolescente deve ser estimulado a reconhecer e valorizar as identidades culturais, independente de

sua raça, etnia ou cor da pele. Ao compreender a tradição e a história do

município e também as que existem em aldeias, co-munidades ribeirinhas, quilombos, bairros populares,

terreiros, assentamentos e quaisquer outros espaços, essas crianças e adolescentes irão se orgulhar do fato da cultura do lugar onde vivem fazer parte da diversidade que compõe o Brasil.

Para que isso aconteça, elas precisam estar aten-tas às diferentes maneiras como as culturas indígena e

afro-brasileira foram incorporadas ao modo de vida da população local, como a comu-nidade se relaciona com essas tradições e como são lembradas as lutas dos antepassa-dos para sobreviver, seus valores, suas crenças, suas brincadeiras e também seu lazer.

Por fim, e não menos importante, é fundamental que a gestão municipal, ao pensar e propor políticas, projetos e ações de cultura e tudo que a cerca, que povos indígenas, comunidades quilombolas, e outras comunidades tradicionais, tais como quebradeiras de coco, pescadores, extrativistas, entre outros, também são também sua responsabilidade. Isso significa que para que se consiga impactar positivamente nos in-dicadores, estes grupos que vivem de forma dispersa e, muitas vezes distantes da sede do município, são estratégicos para a gestão pública, tanto quanto todos os demais segmentos sociais, urbanos ou rurais.

Mas especialmente na cultura, não se pode ter resultados consistentes sem que, a partir das várias representações sociais e culturais do município, haja um diálogo fran-co, fluido, institucionalizado e permanente. Aliás, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente deverá, entre outras questões, contribuir para este resultado.

Conhecendo um pouco as tradições indígenas e afro-brasileiras

São inúmeras as formas como as tradições indígenas e afro-brasileiras se manifestam, afinal elas, por si só, possuem uma vasta diversidade. Talvez o mais correto seria falar em culturas indígenas e culturas afro-brasileiras. O que hoje é o Brasil, afinal, foi o lar de inúmeras nações e etnias indígenas e foram vários os povos africanos escravizados e trazidos à força para cá.

Para se ter ideia dessa diversidade, segundo a Fundação Nacional de Saúde (Fu-nasa) existem no Brasil 4.774 aldeias indígenas onde vivem mais de 600 mil indígenas de 220 diferentes povos que falam 180 diferentes línguas e dialetos. Eles estão distribu-ídos por 448 municípios de 24 estados.

Não importa como esses povos são chamados ou se autodenominem (indíge-nas, negros, caboclos, quilombolas, povos da floresta, ribeirinhos etc.), sua influência está presente nas formas de ser e de viver de todos os brasileiros, mesmo que as infor-mações sobre essas culturas muitas vezes não sejam mencionadas no conteúdo escolar, omitidas pelos meios de comunicação e ignoradas no dia-a-dia dos municípios, ou pior ainda com atos de preconceito e discriminação.

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O que é cultura?

De maneira geral, há características semelhantes entre essas tradições:

■ Nessas culturas a organização social se dá por meio de parti-cipação coletiva, sempre com a presença de crianças, jovens, adultos e idosos – estes são bastante valorizados;

■ Preservam o contato com a natureza e uma interação social permanen-te, juntando-se constantemente em torno de objetivos comuns;

■ Consideram o território como patrimônio de todas as gerações; ■ O território, aliás, não é definido apenas pela extensão de terra ou

pelos recursos naturais existentes, mas também pelo trabalho, sím-bolos, vivências que acontecem em cemitérios, casas, plantações, roças comunitárias, trilhas, estradas, rios, riachos, córregos, praias, mar, lagos, montanhas, florestas, mitos, lendas, histórias etc.

■ Esses povos são atingidos por diversas formas de violência física e cultural ao ponto de serem ameaçados de extermínio ou dissolução. Por isso, para eles é fundamental a transmissão de suas histórias de geração em geração;

■ Sua visão de mundo é elaborada a partir de suas vivências e sentimentos, nos quais são valorizadas as experiências dos mais velhos e daqueles que têm contato direto com a religião, seja de matriz africana ou indígena.

■ As vivências, sentimentos, experiências dos mais velhos e dos re-ligiosos são consideradas legado, herança e bens de família – en-fim, uma memória coletiva que se perpetua pela oralidade.

Como se manifesta a diversidade cultural

Já está claro que a intenção do UNICEF e dos seus parceiros, ao incorporar este tema ao Selo, é ampliar nos municípios a visibilidade das maneiras como indígenas e afro-brasileiras preservam suas culturas, tradições e histórias. Para ajudar na percepção da

presença dessas culturas na vida cotidiana, segue abaixo um detalhamento de algumas expressões para que os participantes possam identificar e

reconhecer as expressões dessas culturas.

Eventos — Festas e celebrações como Sairé, Quarup, Boi de Parintins, festejos do Divino Espírito Santo; apresenta-ções de teatro ou de dança, recitais de poesia e exposições de artes plásticas; atos públicos em defesa da cultura des-

ses povos; bumba-meu-boi, tambores, reinados do congo,

maculelê, ternos, folia de reis, tambor de crioula, cantos de traba-lho, ritos de passagem, cantorias, quadrilhas juninas e sambas.

Rituais —Mmarcos do nascimento, da passagem a infância/adolescência para a vida adulta, do casamento, da morte e outros. Alguns exemplos disso são os rituais da Moça Nova ou da Tucandeira, entre os indígenas, assim como momentos sagrados nas religiões de matriz africana.

Ofícios e modos de fazer — Processos de trabalho ou produtos obtidos, que sejam próprios do município ou da região e tenham origem e histórias nas civiliza-ções indígena e/ou africana. Essas expressões cultu-rais podem ser encontradas nas artes, no artesanato, na fabricação de instrumentos musicais ou objetos de uso religioso, na culinária e na medicina tradicional.

A cerâmica, a cestaria, os cocares, joias, pintu-ras de corpo, ferramentas de orixás, carrancas, pa-nos-de-costa, penteados, trançados, tear, navegações ou comidas (tapioca, acarajé etc.) são alguns exemplos disso.

Lugares ou construções — Espaços naturais ou construídos pelo ho-mem que testemunharam ou foram cenários de passagens importantes da história local e que são referências para a experiência indígena ou afro-brasileira no município. Esses locais podem ser aldeias, reservas indígenas, territórios quilombolas, terreiros, mercados, feiras ao ar li-vre, rios, cachoeiras, praias, barrancas, beiradão, manguezais, igarapés, igapós, lagos, paranás, várzeas, furos, montanhas ou florestas. As histó-rias contadas sobre a origem ou a vida da comunidade no município, vila, povoado, distrito ou bairro, ou mesmo a relação da população com um rio, montanha ou floresta são fundamentais para o reconhe-cimento dos laços tradicionais por parte dos mais jovens.

Mitologia e narrativas — Histórias contadas geralmente pelas pessoas mais velhas que conhecem a tradição e a cultura e sentem prazer em repassá-las para os mais jovens. Estes, por sua vez, ao conhecê-las, começam a sentir orgulho e senti-mento de pertencer às suas raízes étnico-raciais. A memória de uma comunidade é o seu maior bem. E a tradição oral possibili-ta que esse bem circule, organize a vida, as ideias e ganhe o mun-do e seja transformado, gerando ainda mais riqueza cultural. Quando

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contadas, as histórias estabelecem uma ligação entre o passado e o presente de um povo, dando continuidade à existência. Nas culturas indígenas e afro-brasileiras, a ora-

lidade é a principal forma de transmissão e preservação do conhecimento, assim como de resistência à indústria cultural massificadora e homogeneizadora.

Lideranças e personalidades — São pessoas com experiência de vida e trabalho reconhecidas por grande parte da população. Podem ser, por exemplo, líderes comunitários, artistas, artesãos, educadores, re-zadeiras, caciques, guerreiros, sindicalistas, pajés, agricultores ou reli-giosos. Em alguns casos são pessoas que se incubem de representar e

cuidar dos interesses populares. Em outros, de manter vivos e repassar os modos de celebração e cura aprendidos dos ancestrais. Nenhuma reli-

gião é mais importante que a outra. Portanto, aos que frequentam a igreja católica, ao templo evangélico e os terreiros de candomblé deverá ser dada a mesma importância, tantas sejam as religiões no município.

Linguagem e vocabulário — Palavras, termos ou expressões linguísticas de origem indígena ou africana que perma-necem sendo utilizadas pela fala cotidiana da popula-ção de uma região. Muitos nomes de rios, municípios, povoados, comidas e objetos carregam essa herança.

Instituições — As entidades representativas ou origi-nárias da cultura indígena e/ou afro-brasileira permitem que se perceba a importância da organização popular no município, quais são foram suas principais lideranças e o reco-nhecimento da atuação dessas instituições. São exemplo de instituições, associa-ções comunitárias, grupos culturais, ordens religiosas, grupos de capoeira ou de dança, terreiros de candomblé, organizações não governamentais ou movimen-tos de luta pela terra (como as dos seringueiros e quebradeiras de coco). Também

podem ser considerados movimentos populares do passado mas que contribuí-ram para a formação da identidade de um povo, como o Movimento Cabano.

Em praticamente todas essas manifestações mencionadas acima, a participação das pessoas acontece inserida no coletivo e não individual. O Selo UNICEF propõe que esse princípio seja seguido, contextualizando sempre o papel da pessoa na instituição, religião, escola, grupo cultural ou associação. Também é importante evitar que determi-nada pessoa mereça destaque como protagonista, em detrimento de outros.

Os participantes não devem perder de vista que as atividades desse tema procuram reconhecer o valor e a legitimidade das ações culturais e das civilizações que as geraram, afinal as expressões culturais indígenas e afro-brasileiras oferecem à sociedade brasileira contribuições como:

■ O fortalecimento de nossa identidade étnico-racial; ■ A promoção da autoestima e autoconfiança de in-

dígenas e descendentes de africanos; ■ Fortalecimento da relação entre memória e tradição oral; ■ O resgate das lutas populares e da resistência à opressão; ■ A valorização das realizações históricas ou cotidianas dessas populações.

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O empenho dos brasileiros pela igualdade étnico-racial

A educação pela igualdade étnico-racial, assim como todos os demais esforços do Poder Público brasileiro para assegurar a superação das desigualdades e iniquidades entre as diferentes raças e etnias que formam o País, faz parte do conjunto de políticas públicas há alguns anos.

Em razão disso, o Governo Federal, por meio dos ministérios e secretarias da área, conta com recursos financeiros para essa finalidade. O assunto é trabalhado por milhares de municípios brasileiros, inclusive da Amazônia, que têm ou deveriam ter or-çamento definido para a questão.

É bem verdade que a Constituição Federal de 1988 representou um marco para as políticas de promoção da igualdade racial, ao apresentar diversos princípios e dire-trizes sobre o tema. O que pouca gente sabe é que bem antes disso o Brasil assinou importantes tratados internacionais de criminalização do racismo e de enfrentamento às desigualdades.

Mesmo durante a ditadura militar, de 1964 até 1984, o País assumiu posições internacionais bastante significativas. Em 1968 foi ratificada a Convenção 111 da Orga-nização Internacional do Trabalho (OIT) Concernente à Discriminação em Matéria de Emprego e Profissão e também a Convenção Relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino. No ano seguinte, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação também foi ratificada pelos militares. O país partici-pou nas duas conferências mundiais contra o racismo em 1978 e 1983.

Mas foi a partir de 1988 que a temática racial começou a se fazer mais presente, principalmente com a criminalização do racismo, na valorização da diversidade cultural e no reconhecimento dos direitos territoriais das comuni-dades quilombolas. No mesmo ano de promulgação da Constituição foi criada a Fundação Cultural Palmares, um organismo federal voltado exclusivamente para promover e preservar a influência negra na sociedade brasileira.

Em 2003, o Brasil deu mais um passo para construir uma sólida política educa-cional capaz de contribuir para a redução das desigualdades. As leis 10.639 e a 11.645, alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e instituíram a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas do ensino fundamental e médio do sistema público e privado.

Em 2004, passou a vigorar no Brasil a Convenção 169 da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT). O Brasil, juntamente com mais 16 países, ratificou a convenção. Dessa forma, ela tem força de lei no Brasil.

A Convenção 169 assegura, por exemplo, que nenhum Estado tem o direito de negar a identidade de um povo indígena ou tribal que se reconheça como tal. Esta con-venção beneficia outras comunidades tradicionais, tais como as de terreiro, os extrati-vistas, os ribeirinhos, os caboclos, os pescadores artesanais, entre outros.

No mesmo ano, o Governo Federal criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Em fevereiro de 2007, foi instituída a Política Nacional de Desenvolvi-mento Sustentável dos Povos e Comunida-des Tradicionais pelo Decreto 6.040.

Desde então, o Brasil ratificou a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, através do Decreto Presidencial 6.177. Essa decisão reafirmou o compromisso do Estado brasileiro com o respeito à diversidade cul-tural e à liberdade de expressão das práticas tradicionais.

Por fim, em julho de 2010, foi promulgado, por meio da Lei 12.288, o Estatuto da Igualdade Racial, documento que compreende propostas de políticas pú-blicas nos campos do direito à saúde, educação para a diversidade e a valorização da cultura e das tradições indígenas e afro-brasileiras.

Para construir esse guia de orientações, o UNICEF e seus parceiros usaram como referências toda essa legislação e as convenções interna-cionais assinadas pelos diferentes gover-nos brasileiros ao longo desses anos. No entanto, três documentos nortearam o conteúdo do tema “Arte, cultura e iden-tidade para a diversidade étnico-racial”: as leis 10.639 e 11.645, o Estatuto da Igual-dade Racial e o Plano Nacional de Desenvol-vimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana.

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Como os municípios podem se organizar

As atividades dos temas do eixo de Participação Social exigem que os municípios se preparem e planejem o que e como vão fazer para incluir na sua agenda de implemen-tação ações que fortaleçam a diversidade social nas políticas públicas. Como já diz o próprio título do eixo, é necessário ir além daqueles que já compõem a comissão inter-setorial e incorporar pessoas de outros segmentos da comunidade. Isso é fundamental para que as atividades sejam realizadas de forma lúdica, com envolvimento de todos e muita interatividade.

A escolha do mobilizador

Antes de qualquer outra coisa, a primeira providência é a escolha de alguém que tenha alguma intimidade com o assunto para atuar como “mobilizador” do municí-pio para as atividades do tema. O articu-lador do Selo UNICEF Município Aprovado e a comissão intersetorial devem escolher a pessoa mais adequada para a função.

É recomendável que o “mobilizador” seja uma pessoa ligada à secretaria municipal de Educação, pois a maior parte das ativida-des serão desenvolvidas a partir das escolas (em contato direto com a comunidade) e deverá estar em sintonia com a proposta pedagógica adotada na rede municipal de ensino.

Não basta conhecer o assunto. O “mobilizador” terá de montar um grupo para trabalhar (por isso mesmo, vamos chamá-lo aqui de Grupo de Trabalho) e acompanhar de perto como o tema está sendo desenvolvido no município.

Na hora de escolher o “mobilizador”, o articulador e a comissão precisam levar em conta se a pessoa escolhida é animada, se está motivada para atuar no Selo, se é bem articulada e comprometida com a educação de qualidade. Essa pessoa deverá manter contato continuamente com a comissão intersetorial, tanto para mantê-la informada quanto para solicitar apoio.

Como líder das ações do tema, entre outras coisas, o mobilizador deverá: ■ Ser a principal referência na hora de colocar em práti-

ca as propostas e tarefas recomendadas neste guia;

■ Formar o Grupo de Trabalho agregando mais pessoas interessa-das no tema e dispostas a apresentar, incentivar e acompanhar as ações a serem desenvolvidas nas escolas e na comunidade;

■ Incentivar a integração das escolas municipais nas atividades do tema; ■ Viabilizar as condições para que as atividades sejam documentadas; ■ Ajudar a organizar, juntamente com o Grupo de Trabalho, a apre-

sentação/exposição dos produtos desenvolvidos por ocasião do 2º Fórum Comunitário, conforme será detalhado mais adiante;

Como formar o Grupo de Trabalho

A primeira tarefa do “mobilizador” será a escolha dos integrantes do Grupo de Trabalho (GT) que irá se dedicar ao tema ‘Arte, cultura e identidade para a diversidade étnico-racial’.

Podem fazer parte do GT, por exemplo, as diretoras(es) ou coordenadoras peda-gógicas das escolas participantes, representantes das secretarias municipais de Educa-ção, de Assistência Social, de Cultura ou de Igualdade Étnico-racial, pessoas que atuam em ONGs ou em movimentos negro ou indígena, lideranças quilombolas ou de povos indígenas, associações comunitárias, grupos culturais e os adolescentes que participam do Selo por meio do Núcleo de Mobilização dos Adolescentes (ver o Guia de Participa-ção dos Adolescentes).

Sempre é bom lembrar que a participação dos ado-lescentes neste tema como em qualquer outra atividade do Selo não é facultativa nem deve acontecer apenas de maneira simbólica ou para executar as tarefas decididas pelos adultos. Afinal, como como está dito no Guia de Par-ticipação dos Adolescentes, “é uma questão de coerência e não uma imposição arbitrária, pois interagir, participar e contribuir nas decisões é fundamental para o desenvolvi-mento das potencialidades de todo adolescente”.

Os municípios que já participaram das edições anteriores do Selo devem considerar a participação de quem já atuou nas outras oportunidades, pois começar o trabalho com a experiência acumulada e a partir de algo já realizado pode facilitar o desenvolvimento das atividades.

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Ao longo do processo, o GT não pode perder de vis-ta alguns aspectos importantes:

■ Manter contato constante com o articulador muni-cipal do Selo e a Comissão Intersetorial;

■ Elaborar um plano de trabalho para a realização das ativi-dades propostas pelo Selo UNICEF para o tema;

■ Elaborar um plano de comunicação – envolvendo divulgação e mobilização; ■ Envolver e motivar a direção, os professores e os alunos das

escolas municipais, considerando o número mínimo propos-to pelo UNICEF, conforme será detalhado mais adiante;

■ Estimular o registro das várias etapas das atividades em fotografias, vídeos, depoimentos em áudio etc. Isso será fundamental quando as equipes estiverem preparando a apresentação dos trabalhos;

■ Acompanhar o desenvolvimento dos temas nas escolas, receber os relatórios e sistematizar as informações tanto para a apresen-tação final quanto para o processo de avaliação;

■ Garantir apoio aos participantes na apresentação final das ações por ocasião do 2º Fórum Comunitário.

Como elaborar um plano de trabalho

O primeiro passo para construir o plano para desenvolver as atividades desse tema é ler e compreender todo o conteúdo deste guia. Uma boa dica seria, depois que todos tivessem lido este material, promover um encontro entre os integrantes do Grupo de Trabalho para uma troca de opini-ões e um momento para tirar eventuais dúvidas.

Um plano de trabalho é, na verdade, uma lista completa de tarefas. Com isso, o GT poderá prever os desafios e dificul-dades a serem superadas e se programar para superá-los. Para organizar melhor o plano, a equipe do Selo UNICEF sugere que fazer uma tabela para cada uma das duas atividades propostas nas páginas seguintes. As tabelas devem detalhar as seguintes informações:

■ As ações a serem realizadas; ■ Os nomes dos responsáveis pela execu-

ção de cada uma dessas ações; ■ Data para início e fim das ações ou tarefas;

■ Descrição dos recursos materiais e/ou humanos necessá-rios para a realização (por exemplo: material de escritó-rio, câmara fotográfica, meio de transporte etc.);

■ Ter clareza de quais públicos quer mobilizar e quais os materiais de comunicação mais adequados a cada um deles. Por exemplo, usar os barqueiros para divulgar as atividades com as comunidades ribeirinhas.

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Atividades propostas

As atividades do tema ‘Arte, cultura e identidade para a diversidade étnico-racial’ acon-tecem a partir das escolas, mas não apenas no ambiente escolar, pois o objetivo do Selo UNICEF é estimular alunos e alunas a interagir com os diversos atores sociais da comu-nidade e também com os espaços significativos para a cultura indígena e afro-brasileira.

As escolas engajadas no tema deverão realizar ao menos duas atividades, como exemplo poderiam desenvolver: a criação de um álbum da cultura e identidade indí-gena e/ ou afro-brasileira e a elaboração de um dicionário dos termos da cultura e da identidade indígena e afro-brasileira do município. Além destas duas atividades, outras pode ser desenvolvida e compartilhada com UNICEF, através do www.selounicef.org para assim compartilhar a experiência com outros municípios e com o país todo.

Antes do detalhamento de cada atividade, se faz necessá-rio destacar três aspectos fundamentais nesse tema:

■ O Selo UNICEF estabelece um número mínimo de escolas participan-do desse tema. Será necessário envolver uma quantidade de escolas que represente 10% do total de matrículas no ensino fundamental da rede pública municipal. É necessário ainda garantir a participação de, pelo menos, três escolas da zona urbana e duas da zona rural.

■ É preciso integrar as atividades do tema ao planejamento dos currículos esco-lares e à proposta pedagógica em curso na rede municipal de ensino. Para isso, o Selo UNICEF recomenda a formação de grupos de estudos nas escolas com a participação de alunos, professores, pais e representantes da comunidade.

■ Como já foi dito anteriormente, as atividades devem ser desenvolvi-das a partir das escolas, porém em contato com a sociedade. Artistas, religiosos, conselheiros municipais, agentes de saúde, sindicalistas, inte-grantes de ONGs, grupos de mães ou de jovens, radialistas e lideranças comunitárias devem ser procurados pelos participantes para contribuir no conteúdo e na forma dos produtos gerados pelas atividades.

Álbum da cultura e identidade indígena e afro-brasileiraOs municípios que participaram das edições anteriores do Selo UNICEF Município Aprovado já estão familiarizados com essa atividade. Mesmo assim, é necessário que todos leiam o detalhamento dessa atividade, pois algumas novidades foram incluídas na metodologia.

O álbum é uma coleção de amostras de expressões culturais e narrativas que evidenciem as diversas maneiras de incorporação das tradições indígenas e de matriz africana na vida do município e da região. Ele terá de expor dois aspectos básicos:

■ As expressões culturais indígenas e/ou afro-brasileiras presentes no município; ■ Como a escola aborda a temática e como ela faz parte do cur-

rículo escolar, de modo que crianças e adolescentes estudem traços dessas culturas em sua trajetória na escola.

As escolas que aderirem ao tema produzirão seu próprio álbum incluindo tudo o que a escola decidir que vale a pena destacar. O registro pode ser feito por meio de fotografias, vídeos em DVD, CDs, fanzines, cartazes, murais, arquivos de áudio ou outras formas de documentação. Os álbuns não devem ser enviados ao UNICEF nem a seus parceiros, ficando no município para ser incorporados ao acervo da es-cola ou mesmo da biblioteca pública para serem consultados quando necessário.

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Identidade indígena e afro-brasileira

Na atual edição do Selo UNICEF, o álbum deve incluir alguns as-pectos que não estavam presentes nas edições passadas:

■ Na abertura do álbum deve ser contada a história do município. A inclusão desse item estimula as crianças e adolescentes a conhe-cerem e sentirem orgulho de suas próprias raízes e tradições.

■ Deverão ser incluídos itens relativos à estrutura de saúde e como acon-tece o atendimento em saúde às comunidades quilombolas e aldeias indígenas existentes no município. A inclusão desse item tem o potencial de estimular prática de educação para a cidadania, pois possibilitará que crianças e adolescentes conheçam direitos, serviços e políticas públicas sob responsabilidade de outras esferas, como o Estado e a União.

■ Fazer referência aos alimentos tradicionais da região, de onde vêm, onde são plantados, quem planta, como são e eram feitos os pratos tradicionais, tais como tapioca, cuscuz, pato no tucupi, açaí com peixe frito etc. Esta referência é fundamental, como forma de resgatarmos os antigos padrões alimentares e entendermos em que medida isso está ligado a nossa história.

A produção do álbum deve acontecer seguindo as quatro etapas abaixo:

1ª etapa: Estudo do tema — O grupo de estudo promoverá encontros preparatórios com alunos e professores para discutir e debater as estraté-gias para obter o maior número possível de informações sobre as expres-sões culturais indígenas e afro-brasileiras. O capítulo deste guia intitulado ‘Arte, cultura e identidade para a diversidade étnico-racial: porque este tema?’ poderá servir como ponto de partida para iniciar as discussões.

As discussões iniciais podem e devem ser baseadas em outras obras de referência (ver sugestões nas páginas xx e xx), internet, jornais, re-vistas ou outras publicações. Esses debates a partir de diversas fon-tes de consulta ajudarão alunos e professores a realizar a busca de expressões culturais indígenas e negras no município, além de ser um passo importante para integrar a temática ao currículo escolar.

2ª etapa: Produção de roteiros — Os alunos devem ser divididos em gru-pos coordenados por professores. Esses grupos irão a campo para levantar as informações sobre as expressões culturais do município. A busca precisa incluir tanto a sede do município quanto seus distritos, vilas e povoados.

No entanto, antes de ir a campo, os grupos precisam preparar roteiros com questionários para a realização de entrevistas e coleta de depoimen-tos. Em seguida, é o momento de escolher as pessoas que serão entre-vistadas ou procuradas para fornecer materiais (fotos, vídeos etc.).

Depois de listar as expressões da cultural local mais significa-tivas, é importante identificar as lideranças, artistas, artesão, cozinheiras, religiosos ou mestres com maior disponibilidade, memória e conhecimento. As pessoas mais velhas, com muitas histórias para contar, devem estar no topo da lista.

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Álbum da Cultura e Identidade

Entrevistar alguém sem um roteiro prévio pode gerar perda de tempo e confusão. Além disso, é importante organizar o mate-rial a ser usado para gravar os depoimentos ou tirar fotos.

3ª etapa: Realização de entrevistas — Com certeza, pessoas diferentes, de personalidades distintas serão abordados. Cada uma tem seu próprio jei-to de ser e de viver. E isso precisa ser respeitado. Por isso, é importante ser educado e criar um clima cordial e agradável desde o início da conversa.

É importante os alunos se apresentarem, explicarem o motivo da entrevista e como pretendem usar as histórias contadas. Vale preparar antecipadamente um termo de consentimento para que o entrevistado autorize o uso de suas falas e da sua imagem.

Quando não der para usar gravador, vale anotar as falas para registrar as con-versas, procurando sempre preservar o modo de falar de cada um.

De volta à escola, os grupos devem conversar sobre o que escutaram, re-latar trechos e detalhes das conversas. Também é muito útil manter ano-tações por escrito ao fim de cada dia de trabalho. A troca de impressões ajudará a selecionar aquilo que merecerá destaque no álbum.

4º etapa: Montagem — O álbum da cultura e identidade indígena e afro-brasileira que cada escola envolvida montar deve refletir cada mo-mento do trabalho realizado. Para isso, é importante ir selecionando ma-terial ao longo da jornada, evitando assim deixar tudo para o final.

O mais importante é a escola definir a forma como o material será apresentado no 2º Fórum Comunitário. Essa decisão, a ser tomada logo no início do processo, é funda-mental para prever os materiais a serem usados, o modo como as informações serão documentadas e evitar desperdício. Afinal, não tem sentido gravar o áudio de deze-nas de entrevistas, se a escola decidir apresentar um mural de fotos, por exemplo.

A seleção de material para o álbum deve levar em conta os seguintes aspectos: ■ Demonstrar como as escolas envolvidas, por meio de gestores e

professores, atuam na promoção de ações contínuas relacionadas à obrigatoriedade da inclusão das culturas afro-brasileira, africana e in-dígena no currículo das escolas (leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08);

■ Ressaltar e valorizar as contribuições civilizatórias de uma ou das duas culturas na formação da identidade do município;

■ Expressar as formas como esses povos resisti-ram e ainda resistem à invisibilidade;

■ Demonstrar como o município contribui para a formação de profes-sores e para a produção de material didático sobre esse tema.

Ao contrário, devem ser descartados e não utilizados no álbum os registros referentes a eventos ou experiências que indiquem folclorização, estereótipo e ao preconceito. Portanto, devem ficar de fora elementos com as seguintes características, tais como:

■ Animalização da figura de representantes das culturas indíge-nas e afro-brasileiras, mostrados de forma pejorativa ou asso-ciados a valores negativos como preguiça, degeneração moral, violência, marginalidade, sem dignidade nem caráter;

■ Associação da mulher indígena ou negra a traba-lhos desvalorizados pela comunidade;

■ Representação do que é ser indígena ou negro limitado à escravidão, sem demonstrar a resistência desses povos e dos seus descendentes;

■ Associação de indígenas a selvagens e à ideia de seres primitivos; ■ Valorização do colonizador como modelo único de referência cultural.

Dicionário dos termos da cultura e da identidade indígena e afro-brasileira

O dicionário dos termos indígenas e afro-brasileiros que fazem parte da fala ou estão presentes na vida do município é outra atividade a ser desenvolvida simultaneamente à produção do álbum.

O processo de elaboração do dicionário é semelhante ao do álbum e deverá envolver grupos de alunos diferentes – podem ser das mesmas escolas ou de escolas distintas - daqueles que participam da elaboração do álbum.

O dicionário deve incluir: ■ Palavras, expressões, nomes de acidentes geográficos, de vilas, bairros, de

alimentos ou qualquer termo de origem indígena ou afro-brasileira presente na vida do município (muitas vezes, o próprio nome do município);

■ O significado dessas palavras e expressões, sempre que possível acom-panhadas de uma fala, depoimento ou explicação de pessoas da co-munidade confirmando o significado do termo e/ou relatando histórias relativas à palavra. Assim, as crianças e adolescentes terão a oportunidade de ter acesso ao conhecimento que não está presente nas bibliotecas ou na internet, mas está vivo na memória das gerações anteriores.

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As etapas de trabalho são semelhantes aquelas detalhadas na elaboração do álbum, contudo o dicionário deverá ser apre-sentado em forma de caderno, apostila ou livreto.

1ª etapa: Estudo do tema — O grupo de estudo promoverá encontros pre-paratórios com alunos e professores para discutir e debater as estratégias para obter o maior número possível de informações sobre as palavras e termos indí-genas e afro-brasileiras. As discussões iniciais podem e devem ser baseadas nas obras de referência (ver sugestões nas páginas xx e xx), internet, jornais, revistas ou outras publicações. Esses debates a partir de diversas fontes de consulta aju-darão alunos e professores a identificar as palavras a serem pesquisadas, além de ser um passo importante para integrar a temática ao currículo escolar.

2ª etapa: Pesquisa e entrevistas — A partir das palavras identificadas, os alunos são dividi-dos em grupos para pesquisar as origens de cada termo. O próximo passo será localizar e identifi-car entre as pessoas mais velhas da comunidade, quais poderão ser entrevistados para falar sobre os usos das palavras que farão parte do dicioná-rio, bem como contar histórias relativas a elas.

As entrevistas podem ser gravadas – seguindo-se as mesmas recomendações das entrevistas para o álbum – para facilitar a tarefa de selecionar os trechos que serão utilizados para referenciar os verbetes. Cada en-trevistado pode falar sobre várias palavras caso tenha disponibilidade para isso.

Da mesma forma que na atividade detalhada anteriormente, de volta à escola, os gru-pos devem conversar sobre o que escutaram, relatar trechos e detalhes das conversas.

3ª etapa: Apresentação — Como no álbum, é importante realizar a montagem e redação a medida que o trabalho avança, sem deixar tudo para a última hora. O produto final que deve ser impresso e encadernado, mas para apresentá-lo no 2º Fórum Comunitário, as escolas podem recorrer a outros recursos, como por exem-plo jogral, apresentação em power point ou apresentação teatral, por exemplo.

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Estudo do tema

Pesquisa e entrevistasApresentação

Ao estimular a realização de ativida-des relacionadas ao tema deste Guia, o UNICEF reafirma a importância que tem a cultura para todas as pessoas, mas espe-cialmente para crianças e adolescentes. A cultura possibilita a que cada indivíduo entenda quem é, de onde veio e como construir o caminho do que será, ou seja, sua identidade. Mais do que isso, é fun-damental conhecer sua própria história e a de todos que vivem dentro do muni-cípio, pois só assim poderemos vencer as imensas barreiras impostas pelo racismo, preconceito e outras formas de exclusão tão presentes em nossa sociedade.

Esta exclusão está refletida nas políticas públicas na medida em que crianças e adolescentes negros e indígenas são os que mais morrem ao nascer, são tam-bém os que detêm os piores indicadores educacionais, entre outros. Ao propor a mobilização, a reflexão e ações sobre o tema, esperamos conseguir avançar visando desatar os nós produzidos em nossa teia social que impedem ou difi-cultam que algumas crianças e adoles-centes tenham seus direitos garantidos.

Bom trabalho!

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Endereços dos Escritórios do UNICEF

UNICEF – Brasília – Escritório do Representante do UNICEF no Brasil SEPN 510, Bloco A / 2º andar Caixa Postal: 08584Brasília, DF. CEP 70750-521Telefone: (61) 3035-1900/ Fax (61) 3349-0606E-mail: [email protected] Representante do UNICEF no Brasil: Gary Stahl

Escritórios que atuam na Amazônia Legal Brasileira

UNICEF em Belém Trav. Dom Romualdo Coelho, nº 500.Bairro Umarizal.Belém, PA. CEP 66055-190 Telefone: (91) 3073-5700 / FAX 3073-5709E-mail: [email protected]

UNICEF em Manaus Av. Darcy Vargas, nº 77.Secretária de Assistência Social do Estado do Amazonas, Bairro Chapada. Manaus, AM. CEP 69050- 020 Telefone: (92) 3642-8016E-mail: [email protected]

UNICEF em São LuísRua Santo Antônio, nº 246. Bairro Centro.São Luís, MA. CEP 65010-590Telefone: (98) 4009-5700Fax: (98) 4009-5708 E-mail: [email protected]

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