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Guia para ajudar a escolher um curso superior e os conselhos de especialistas 0 que deve ser ponderado para além da vocação? Peritos em Recursos Humanos dão respostas na semana em que têm início candidaturas ao superior Portugal 10 a 12

Guia para ajudar a escolher um curso superior e conselhos ... · escolha um curso de Psicologia sem nunca ter falado com um psicólogo. "Fale com profissionais, visite em-presas,

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Guia para ajudar a escolher um cursosuperior e os conselhos de especialistas0 que deve ser ponderado para além da vocação? Peritos em Recursos Humanosdão respostas na semana em que têm início candidaturas ao superior Portugal 10 a 12

Como escolher um curso superior?Os conselhos dos especialistasNa semana em que têm início ascandidaturas ao ensino superior, falámoscom especialistas em gestão de recursoshumanos, que ajudam empresasa recrutar os melhores. Para alémda vocação, o que deve ser ponderado?

Ensino superiorAndreia Sanches

Prazo paraapresentarcandidaturasao concursonacional vaiaté 10 deAgosto

Primeiro conselho a quem vai esco-lher um curso superior nos próximosdias: que seja sensato. Não escolha

por impulso, diz Amândio Fonseca,administrador executivo do GrupoEgor. Não escolha só porque é umaárea de que gosta — "pode dar muito

prazer e nenhum emprego". Ideal,ideal é juntar um pouco de razão eum pouco de coração.

Pelo sim, pelo não, evite áreascomo ensino, engenharia civil oupsicologia, sugere Bruno Leonardo,manager da Wyser. "Áreas a investir:

gestão, finanças, engenharia infor-mática, mecânica, física, informáti-ca de gestão, matemática aplicada",acrescenta.

"Investigue as tendências do mer-cado", recomenda também Ana Te-resa Penim, coach de talentos. "Omundo vai precisar cada vez maisde profissionais que proporcionemrespostas não só nas áreas das tecno-logias, robótica, telecomunicações,engenharia, ambiente, mar, mastambém de tudo o que responde aoirreversível envelhecimento e longe-vidade da população."

Lembre-se que "muitas profissõesque existem hoje não existiam há dez

anos", afirma Miguel Pereira Lopes,coordenador da licenciatura em Ges-

tão de Recursos Humanos do Insti-tuto Superior de Ciências Sociais e

Políticas (ISCSP), da Universidade de

Lisboa, e que muitas das profissõesque existirão daqui a poucos anostambém não existem ainda. Por isso,olhar para as taxas de desempregodos actuais cursos, disponibilizadaspelaDirecção-Geral do Ensino Supe-rior (DGES), tem a sua utilidade, masnão tanta assim: fala-nos do passado,sublinha o professor, pouco diz sobreo futuro.

Bruno Leonardo defende, ainda as-

sim, que, "apesar da volatilidade domercado de trabalho, as tendências"

que essas taxas revelam "não podemser descuradas" (ver infografia comalguns dados retirados do site http://infocursos.mec.pt/, onde encontramuito mais informação).

Falámos com especialistas em ges-tão de recursos humanos, selecçãode talentos, motivação de equipas,pessoas que gerem carreiras, queajudam grandes empresas a recru-tar quadros, que dão formação. Cada

um deixa um conjunto de conselhos

a quem agora tem de escolher - noano passado foram mais de 54 milos candidatos, com uma média deidades de 19 anos.

1. Sabe mesmo o que é serpsicólogo?Conselho n.° 1: "É importante conhe-

cer bem o mercado de trabalho, sa-

ber o que são as profissões", diz Nu-no Troni, director de recrutamentoespecializado da Randstad Portugal.Há muitas pessoas que escolhem Ma-

rketing, mas não fazem ideia o que se

faz em marketing, tal como há quemescolha um curso de Psicologia semnunca ter falado com um psicólogo."Fale com profissionais, visite em-presas, porque existem muito es-

tereótipos e escolher com base emestereótipos é arriscado", diz MiguelLopes.

Este professor, que é também co-autor de um livro chamado Paixãoe Talento no Trabalho (Edições Síla-

bo), recomenda ainda aos candidatos

que estudem o plano de estudos dos

cursos e que, idealmente, visitem as

instituições de ensino que ponderamfrequentar — não é a mesma coisafazer um mesmo curso na institui-

ção A ou na B, sublinha, até porquea cultura e a vivência das instituiçõessão distintas.2. 0 nome da universidadeconta?Nuno Troni, da Randstad Portugal,garante ainda que o nome da institui-

ção de ensino que frequentar podeser importante no rumo de uma car-reira. "O nome tem um peso enormepara os empregadores." Exemplifica:"Um curso de Gestão na Universida-de Católica Portuguesa ou na Nova

de Lisboa é muitíssimo apetecívelpara o mercado de trabalho."

Já no que diz respeito às áreas querepresentam maiores e menores ris-

cos em termos de empregabilidade,Paula Baptista, managing directorda Hays em Portugal, analisa assima situação: "Medicina continua, semdúvida, destacada com forte empre-gabilidade em todas as suas áreas de

formação."Prossegue: "As novas tecnologias

continuam a ser das áreas mais pro-curadas pelo mercado e uma dasmelhores apostas para conseguiremprego rapidamente; cursos comoEngenharia Informática e Tecnolo-gias de Informação são algumas dasescolhas mais seguras e [os cursosde] Gestão, sobretudo em univer-sidades de maior prestígio, como a

Universidade Nova, Universidade Ca-

tólica, ISCTE-Instituto Universitáriode Lisboa e a Porto Business School,são tendencialmente bem recebidos

pelo mercado."Amândio Fonseca acrescenta mais

uma área que considera "uma boa

porta de entrada no mercado de tra-balho": as matemáticas.

Já entre os cursos "tendencialmen-te com maior risco", prossegue Paula

Baptista, estão os de humanidades- "Seguindo a forte tendência dosúltimos anos continuam a ter muitosalunos inscritos, mas cada vez menos

oportunidades de emprego."3. Vale a pena escolhercursos "fora da caixa"?Outra ideia para ponderar: "Não va-mos escolher o que toda a gente es-

colhe", diz Miguel Lopes, do ISCSP.

"Quanto mais raro é o capital huma-no, mais valioso será. Escolher entreopções de formação menos conven-cionais, pode ser uma boa aposta. Oestranho é melhor."

Claro que convencer os pais disto

pode não ser sempre fácil, admite,

porque nesta fase "muitos pais são

um pouco avessos a riscos".Há ainda outra dúvida que se pode

colocar: cursos mais especializadosou menos? Os cursos de banda larga(mais generalistas), prossegue MiguelLopes, permitem adquirir uma for-

mação mais abrangente, com umaeventual maior capacidade de mu-dança. Mas "o mercado quer, cadavez mais, especialistas" e "no mer-

"Não vamosescolher o quetoda a genteescolhe. Quantomais raro é ocapital humano,mais valioso"

Miguel LopesProfessor do Instituto Superiorde Ciências Sociais e Políticasda Universidade de Lisboa

cado global os especialistas estão emtodo o lado". Um generalista tem difi-culdade em competir com eles.

Parece confuso? É. Se escolherum curso mais especializado, arris-ca mais, mas pode ter mais sucesso,

resume Miguel Lopes. Se escolherum de banda larga, pode sempre es-

pecializar-se mais tarde, se for preci-so, mas vai precisar de mais tempo.

Seja qual for o curso, "frequente-odesde o primeiro dia com uma atitu-de prospectiva de identificação deáreas inovadoras ou menos explo-radas dentro desse âmbito científi-co, ou das derivações possíveis paraoutras áreas", diz Ana Teresa Penim,autora de livros como A Arte da Guer-

ra na Educação e Formação (EdiçãoTop Books).

4. Gostar é mesmoimportante?"Conheça-se a si próprio! O que fazos seus olhos brilharem? Quais são os

seus territórios de excelência? Apos-te nos seus talentos e nas suas forçashumanas. Quem faz o que gosta temmais facilidade de ser excelente." Oconselho é ainda de Ana Teresa Pe-nim.

No fim, tudo ponderado, "nãoescolha o curso apenas por acharque se trata de uma profissão quedá muito dinheiro", sublinha. É que,como já aqui foi dito, o mundo está

sempre a mudar e "que o que hoje é

verdade, amanhã é mentira". Maisvale apostar naquilo que acredita queé "o seu talento".

"A vocação, o gosto, a paixão são

relevantes, até por esta razão: parase formar um talento, para que se-

jamos superiores à média são preci-sos, em regra, cerca de dez anos detrabalho", diz Miguel Lopes. "Se nãose trabalha em algo de que se gosta,nunca se chega lá, ao ponto em quejá se é muito bom, porque já se temmuita experiência, muita capacidadede inovar e de arriscar."

Amândio Fonseca, do Grupo Egor,defensor da ideia de que, muitas ve-

zes, "a escolha de cursos baseia-se

em decisões afectivas, que não sãodecisões de futuro", diz que o ide-al mesmo é conciliar aquilo que se

gosta com aquilo que resulta de umtrabalho de natureza racional (o talestudo do mercado, das necessida-des e das profissões). É que já tem

lidado com pessoas que aos 30, 40anos percebem que não gostam nadada escolha profissional que fizeram

"e, nessa altura, já pode ser difícilmudar" - desde logo, vão "ter de vol-tar atrás e competir com jovens queganham um salário" que já não é o

que estão habituadas a ganhar...Deixa uma sugestão: investir num

bom orientador vocacional, fazer tes-

tes e entrevistas até saber ao certoqual a vocação que se tem. Depois,há que conjugar tudo, incluindo "in-teresses pessoais" e "atitudes".

5. E escolher o cursosupostamente certo chega?E não, não chega só tirar o curso su-

postamente certo. "Procure traba-lhar ao mesmo tempo que estuda. É

o que os estudantes fazem no estran-

geiro, e todos podem fazê-lo tambémem Portugal. Arranje um part-time,seja no que for, ou um estágio, ain-da que não remunerado. Trabalharpermitir-lhe-á conhecer a realidadee desenvolver competências funda-mentais", diz Ana Teresa Penim.

Bruno Leonardo, da Wyser, tam-bém sublinha a importância de "ga-rantir experiência profissional ououtro tipo de experiências práticas(Erasmus, voluntariado) antes do tér-mino da licenciatura". E enumera as

razões: "Ter um conhecimento domercado de trabalho, da sua exigên-cia e da responsabilidade inerente;pôr em prática os conhecimentos te-óricos garantidos na universidade;entender na prática o que se gostade fazer e o que mais se adequa aoseu perfil, bem como colocar de par-te funções ou áreas que não sejammotivantes."

Mais: para quem está a recru- ->

tar e tem dez currículos em cima da

mesa, logo numa primeira análisedos mesmos há factores que podemdistinguir um candidato entre os res-

tantes, sublinha ainda Bruno Leonar-

do, como ter a tal experiência pro-fissional, ou de outro tipo, adquiridaenquanto se frequentou a universi-dade. Ou até o facto de o candidatomencionar que "costumava ter tra-balhos de Verão durante as férias",nem que fosse a apanhar cerejas,acrescenta Amândio Fonseca.

Este tipo de vivências podem in-diciar competências de relaciona-mento interpessoal, dinamismo,

proactividade, sentido de responsa-bilidade, capacidade de organização,de trabalhar em equipa. São "as cha-madas 'soft skills', que são cada vezmais valorizadas pelas empresas",diz Amândio Fonseca.

As actividades de voluntariado,por exemplo, também "são óptimaspara adquirir experiência e compe-tências, permitem demonstrar ca-

pacidade de trabalhar em projectose com pessoas, bem como generosi-dade, disponibilidade e disciplina",sublinha, por seu lado, Paula Baptis-ta, da Hays.

"Quanto mais tecnológico estiver o

mundo, mais importantes são as re-

lações humanas", afirma Ana TeresaPenim. "Desenvolva soft skills ou com-petências comportamentais seja qualfor o curso escolhido. Comunicar,trabalhar em equipa, tomar decisões,ter iniciativa, ter capacidade de criare de fazer acontecer é fundamental!"

6. Quanto vale viajar e fazerdesporto?Experiências como o envolvimen-to em organizações académicas ouestudantis, bem como a prática de

desporto, quer seja individual querseja colectiva, são outros exemplosque promovem o desenvolvimentopessoal e profissional, diz Bruno Le-onardo da Wyser. Os desportos de

equipa são nalguns meios particular-mente valorizados pelos empregado-res, afirma Nuno Troni, da Randstad- porque são verdadeiras escolas detrabalho em equipa.

Viajar também é bastante valo-rizado - "Viajar e ter mundo é tãoimportante como estudar na univer-sidade", sublinha Ana Teresa Penim.E acrescenta outra dica: "Lembre-se

que um curso politécnico proporcio-nar-lhe-á competências práticas di-ferenciadoras de um curso na uni-versidade. Não hesite em escolhê-lo!O mundo profissional valoriza essas

competências."Enriqueça o leque de línguas es-

trangeiras que domina - é outra su-

gestão recorrente. O inglês, claro, o

francês, o castelhano são fundamen-tais. Amândio Fonseca acrescentamais uma: o alemão. Lembra que hámuitas empresas alemãs em Portugalcom dificuldade em encontrar pes-soas que falem a língua.

7. E as notas com que seacaba quanto valem?"As consultoras de topo, como aMcKinsey, por exemplo, só recru-tam pessoas que tenham mais do

que uma determinada classificaçãofinal", diz Nuno Troni. Mas tirandoesses casos, há muitas outras coisas,como já se viu, que são valorizadaspelos empregadores.

0 tempo que se leva a fazer o cursotambém não é indiferente. "Uma coi-sa é parar um ano, antes do I.° anoda licenciatura, por exemplo, quese usa para fazer voluntariado. Issoé valorizado", prossegue o directorde recrutamento especializado daRandstad Portugal.

"Outra coisa é levar oito anos a fa-

zer a licenciatura. Ai, a nao ser queseja muitíssimo bem justificado, será

um problema enorme", mesmo se foi

numa boa instituição de ensino.

8. E se no fim se percebeque foi engano?

No fim da sua longa lista de conselhos

e sugestões, Miguel Lopes acrescentaeste: "Acho que também devíamosdesdramatizar a escolha do curso."Garante que "não é o fim do mundoquando se descobre que afinal nãoera bem aquilo".

Desde logo, "as pessoas são capa-zes de moldar o trabalho que fazemum função dos seus gostos e interes-ses". Ele próprio, quando se candi-datou ao ensino superior, escolheuo curso de Psicologia, mas tambémgostava de Economia. Decidiu a certaaltura seguir Psicologia das Organi-zações e hoje coordena uma licen-ciatura de Gestão de Recursos Hu-manos. Como se a área da economiao chamasse.

"Há momentos e escolhas que fa-

zemos que podem modelar de forma

significativa o resto das nossas vidas.Escolher um curso superior pode serum deles! No entanto, a vida profis-sional dos jovens que agora entramno ensino superior vai ser marcada

por uma dinâmica de mudança per-manente", diz AnaPenim. "Mudançade emprego, de funções, de país e

até de área de actividade profissio-nal. Isso é, e deve ser encarado como

positivo e natural. Por esse motivo,a escolha do curso é importante,mas já não determina uma mesmaárea de actividade ao longo de todaávida."

O prazo para a apresentação dascandidaturas ao concurso nacionalde acesso às universidades e politéc-nicos públicos começa na quinta-fei-ra e vai até 10 de Agosto - são essas

as datas "provisórias", definidas peloMinistério da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior (ao longo da sema-na passada quem consultou o calen-dário no site da DGES viu a data de

arranque mudar de 20 de Julho para25 e, numa última versão, para 21).Até ao fecho desta edição, o execu-tivo não confirmou se a data de 21

se mantém, mas garante que serádurante esta semana.

Acesso a universidades e politécnicoscom novas regras no próximo ano

oconcurso0

concurso nacional deacesso ao ensino superiorque começa esta semanadeverá ser o último feito

nos actuais moldes. O Governodecidiu rever o modo como sãofixadas anualmente as vagas,bem como a forma como as

instituições seleccionam osseus alunos, que actualmente é

baseada quase exclusivamentenas notas do ensino secundárioe dos exames nacionais. Até aofinal deste mês será conhecidaa primeira proposta para essareforma, que no ano passadofoi reclamada pelos institutos

politécnicos.A intenção de "avaliar o

regime de acesso ao ensinosuperior e promover umdebate público, visando a sua

modernização e adequação aosnovos contextos" constava do

programa do Governo.Em Maio, o ministro do

Ensino Superior, Manuel Heitor,nomeou um grupo de trabalho

para fazer esta revisão, do qualfazem parte o presidente daComissão Nacional de Acessoao Ensino Superior, JoãoGuerreiro, o director-geral doEnsino Superior, João Queiroz,bem como dois representantesdas universidades públicas, dois

representantes dos institutospolitécnicos públicos, umrepresentante das instituiçõesde ensino superior privadas edois membros do gabinete doministro. A tutela pediu quefossem avaliados quer o sistemade fixação de vagas, quer a

forma como as universidadese politécnicos seleccionam os

estudantes. Neste momento,a grande maioria dos alunos écolocada através do concursode acesso, um sistema únicode âmbito nacional em que oscandidatos são seriados tendoem conta as notas do ensinosecundário e dos examesnacionais.

O grupo de trabalhorealiza ao longo deste mês

audições com associações deescolas, associações de pais,associações de estudantese associações académicas.O assunto vai também serdiscutido esta semana como Conselho Nacional deEducação.

A previsão é que, até aofinal do mês, seja entregue orelatório final ao ministro, comas conclusões e as propostas dealteração, bem como um planode acção a curto e médio prazo.Depois haverá um período dediscussão pública, até ao finaldo ano civil.

Ao longo do ano passado.

a discussão sobre o acessoao ensino superior foi acesa.Actualmente, as classificaçõesdas provas finais do secundáriotêm um peso de 50% na notade ingresso no ensino superior.Os politécnicos pretendiam queessas provas passassem a servir

apenas para a conclusão dociclo de ensino, mas não para oacesso. Samuel Silva

"Muitas vezes, aescolha de cursosbaseia-se em decisõesafectivas, não sãodecisões de futuro"

(

Amândio FonsecaAdministrador doGrupo Egor

Não é só o curso.Viajar, fazervoluntariado,trabalhar nasférias do Verão,ter experiênciasde envolvimentoem organizaçõesestudantis euma actividadedesportiva(sobretudode equipa)são aspectosvalorizados pelosempregadores