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1 LUME Método de Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas Guia para Entrevista Semiestruturada (Etapa 1) Capacitação para Agentes de ATER Programa Pro-Semiárido (Módulo 1) Juazeiro-BA, 09 a 12 de Abril de 2019

Guia para Entrevista Semiestruturada (Etapa 1) · manejo de cada uma das produções realizadas (organização do trabalho, identificação das operações de manejo e dos membros

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LUME Método de Análise

Econômico-Ecológica de Agroecossistemas

Guia para Entrevista Semiestruturada

(Etapa 1)

Capacitação para Agentes de ATER

Programa Pro-Semiárido

(Módulo 1)

Juazeiro-BA, 09 a 12 de Abril de 2019

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Guia para Entrevista Semi-Estruturada

Orientação Inicial

A entrevista semiestruturada é uma técnica de levantamento de informações apropriada para a

compreensão de sistemas socioecológicos complexos e auto-organizados, tais como os

agroecossistemas. A entrevista semiestruturada tem as características de uma conversação aberta

(diálogo) focada em determinados assuntos. Difere-se de uma entrevista formal, baseada em um

questionário fechado. Além de limitar a interatividade entre entrevistadores(as) e

entrevistados(as), o questionário fechado restringe o foco das entrevistas em aspectos

predeterminados, além de dificultar a compreensão da dinâmica interativa entre variáveis e

componentes internos do agroecossistema (subsistemas e mediadores de fertilidade), bem como

suas múltiplas interações externas (com os suprasistemas).

A entrevista semiestruturada é conduzida com o auxílio de um guia orientador. A função do guia

é tão somente a de balizar a condução do diálogo e relembrar aspectos importantes a serem

abordados no curso da entrevista. Embora algumas questões fechadas estejam inseridas no guia,

a maior parte dos tópicos são abordados com base em questões abertas ao diálogo.

O encadeamento das questões proposto no guia abaixo está baseado em experiências anteriores

de aplicação da entrevista semiestruturada no Método Lume. Ele pode ser ajustado a situações

específicas, com a alteração da ordem das questões abordadas, sempre considerando os objetivos

de garantir a fluidez do diálogo e de levantar as informações e dados necessários e suficientes

para que os agroecossistemas sejam coerentemente analisados.

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Sequência sugerida para a condução das entrevistas semiestruturadas

1 – Dar início à entrevista com as apresentações pessoais e com a explicação sobre os

objetivos da atividade

Obs.: É essencial que a visita para a realização da entrevista seja pré-agendada com as famílias.

Além de assegurar que os diferentes membros da família reservem o tempo necessário para

participar da atividade, o pré-agendamento será uma oportunidade para que os objetivos e a

metodologia da entrevista sejam apresentados e debatidos. As entrevistas só deverão ser

realizadas após esse primeiro entendimento de agenda e o acordo das famílias em fornecer as

informações e dados.

2. Composição do NSGA (Núcleo Familiar)

É oportuno que a maior parte dessas informações sejam obtidas no primeiro momento da entrevista. Entretanto, ela pode ser complementada ao longo da entrevista, em particular no momento da reconstituição da linha do tempo.

Obs.: O agroecossistema de gestão familiar é uma unidade de produção e consumo. Portanto, o

NSGA corresponde ao grupo de pessoas que possui vínculos permanentes de trabalho no

agroecossistema e/ou que depende das rendas agrícolas nele geradas (parentes ou agregados).

Como o formato da unidade familiar pode variar, é importante que sejam identificados todos/as

os membros do NSGA. Considerar também a presença de agregados que residam e/ou trabalhem

no estabelecimento.

Ter uma clara visão da composição do núcleo familiar, de sua capacidade de trabalho, bem como

a forma como esse trabalho é organizado no agroecossistema ou fora dele (pluriatividade) é

condição essencial para o entendimento das estratégias adotadas para a sua reprodução técnica e

econômica. O registro de informações sobre filhos e filhas que já não residem no estabelecimento

é importante para a compreensão sobre a inserção anterior dos mesmos no sistema, como para

analisar a capacidade do agroecossistema de assegurar a sucessão entre gerações. Essas variáveis

também serão exploradas na elaboração da linha do tempo do agroecossistema, particularmente

na descrição do ciclo de vida da família e suas implicações para a sua atual organização.

N° Nome Paren-tesco1

Sexo F/M

Idade

Reside na

UFP?

Sim (S) Não(N)

Tempo dedicado

ao agroecossitema3

Ocupação fora do

agroecossistema4

1 2 3 4 5 6 7 8 9

10

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1Parentesco: (a) Esposo/a; (b) Filho/a; (c) Primo/a; (d) Irmão/ã; (e) Mãe; (f) Pai; (g) Avô/ó; (h)

Tio/a; (i) Agregado/a; (j) Outros

3 Tempo dedicado ao agroecossitema: (a) Integral; (b) Parcial; (C) Não Trabalha (D) Pessoa com

limitação para trabalhar.

4 Ocupação fora do agroecossitema : (a) Pluriatividade (b) Estuda

Uma primeira leitura da divisão do trabalho entre homens e mulheres já pode ser identificada nesse momento.

Vale salientar que as atividades domésticas, de cuidados e a participação social são parte integrante do trabalho de

gestão do agroecossistema.

3 – Acesso à terra e outros espaços naturais

É importante considerar que o agroecossistema gerido por algumas famílias é composto por mais

de uma área, não necessariamente contígua ao estabelecimento de moradia. Além disso, algumas

famílias acessam terras de uso comunitário e/ou terras de terceiros para a produção por meio de

algum mecanismo contratual (arrendamento, parceria, meação, cessão etc.). Nesse sentido, o

agroecossistema não se limita ao estabelecimento de moradia da família, mas ao conjunto das

áreas e recursos utilizados pela família.

Área

Denominação da Área Forma de acesso à

terra* Município

Distância da área ao local de moradia (Km)

Dimensão (ha)

1

2

3

4

5

6 TOTAL DE ÁREA (ha)**

*Forma de acesso à terra: (1) própria, (2) posse, (3) arrendamento, (4) meação, (5)parceria , (6) cessão,

(7) comodato, (8) direito de uso, (9) uso comunitário, (10) outros

** Não contabilizar as áreas de uso comum

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4 – Travessia na Propriedade

Depois de registradas informações sobre a composição do núcleo familiar e sobre o acesso à terra,

sugere-se uma caminhada pelos diferentes espaços que compõem a propriedade. Esse momento

permite compreender a atual configuração do sistema produtivo, perceber a distribuição espacial

das atividades (composição do quintal, do roçado, da criação animal, pomar, etc..), assim como

identificar as instalações físicas, infraestruturas hídricas, equipamentos e outras benfeitorias.

Esse é também o primeiro momento para o levantamento de informações sobre as práticas de

manejo de cada uma das produções realizadas (organização do trabalho, identificação das

operações de manejo e dos membros da família que efetivamente as realizam, origem dos

insumos, destino dos produtos, etc.).

A realização de travessias em separado com homens e mulheres contribui para a qualificação do

levantamento de informações, favorecendo uma melhor compreensão acerca da divisão sexual do

trabalho e dos papeis na tomada de decisão. Nesse caso, é importante que a(s) mulher(es) que

compõem a equipe assumam o acompanhamento da(as) mulher(es) agricultora(s).

Um registro fotográfico de elementos estruturais mais significativos do agroecossistema

(residência, cobertura vegetal, estado do solo, criatórios, cultivos, infraestruturas, etc.) deverá ser

feito nesse momento. Essa será uma oportunidade também para o registro fotográfico da sede da

propriedade e da família.

As observações feitas na travessia serão essenciais para auxiliar nas reflexões subsequentes sobre

a trajetória do agroecossistema e da construção do mapa/croqui da propriedade.

5 - Trajetória do Agroecossistema (Linha do tempo)

Depois da visita de campo a sugestão é que o grupo converse sobre a formação da família,

buscando reconstituir com ela a trajetória da família e o histórico do agroecossistema.

A descrição da trajetória do agroecossistema tem por objetivo resgatar as inovações/mudanças

significativas na sua estrutura e no seu funcionamento no decorrer do tempo. O diálogo com os

membros da família é orientado por um guia de questões que busca explorar a evolução de fatores

determinantes para a atual configuração do agroecossistema.

A linha do tempo é o principal instrumento de apoio ao discernimento das estratégias técnicas,

sociais e econômicas adotadas pela família. Uma importante análise que poderá ser realizada com

o apoio da linha do tempo é a participação/contribuição diferencial entre os membros do núcleo

familiar (homens, mulheres/ jovens e adultos) na trajetória do agroecossistema. As

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inovações/mudanças ocorridas no agroecossistema estão associadas à tomada de decisão da

família e, via de regra, pode-se identificar uma participação diferencial de seus membros. Vale

salientar que surgem com frequência os episódios de conflito que explicitam relações desiguais

de gênero e geração.

Nessa primeira entrevista, é suficiente levantar informações chave que permitem o exercício de

correlação entre as variáveis para que as decisões significativas tomadas no decorrer da trajetória

da família sejam compreendidas. Não há regras gerais para a definição do nível de detalhamento

da linha do tempo. É natural (e desejável) que haja uma maior quantidade de informações nos

períodos mais recentes da trajetória. O nível de detalhamento depende das especificidades (grau

de complexidade, tempo de existência, etc..) dos agroecossistemas analisados. Uma atitude de

bom senso por parte dos entrevistadores é essencial para que o exercício seja capaz de captar o

essencial para o entendimento da atual configuração do agroecossistema, sem prejuízo das

demais questões abordadas na entrevista.

Ressalta-se que a linha do tempo tem como referência a trajetória da família e não a trajetória do

estabelecimento. Por essa razão, sugere-se que a linha do tempo se inicie com o momento de

constituição do núcleo familiar (casamento que deu origem à família gestora do agroecossistema).

Esse procedimento metodológico dá visibilidade às estratégias de acesso aos recursos produtivos

empregados no decorrer de ciclo de vida das famílias. Esses recursos (terra, infraestruturas,

equipamentos etc.) podem constituir patrimônio privado do núcleo familiar, constituírem bens

comuns geridos comunitariamente (áreas coletivas, unidades de beneficiamento comunitárias,

reservatórios hídricos etc.), ou serem acessados pela via dos mercados (aluguel, arrendamento,

parcerias, etc.).

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Serão registradas na linha do tempo os momentos(anos) cruciais de transformação do

agroecossistema em função de mudanças em variáveis internas e externas ao estabelecimento.

Essas variáveis estão elencadas abaixo para que se constitua numa referência de apoio para a

equipe no momento da entrevista:

a) Internas ao agroecossistema:

Ciclo de vida da família: casamento/união, nascimento de filhos e filhas, migrações, mortes, chegada de agregados, conflitos, mudanças de familiares, etc.;

Sistema peridoméstico (quintal) Infraestruturas (cisternas, canteiro econômico, telas, cercados, aviário, pocilga, fogão ecológico), criação de animais (aves, suínos), cultivo de vegetais (pomar, hortaliças, plantas medicinais), processamento de produtos (queijo, doces, polpas, etc.).

Produção animal: evolução na composição e dimensão do criatório (grandes e pequenos animais) e capital fixo associado à produção pecuária (pastos, currais, cercas, cochos, bebedouros, maquina forrageira)

Produção vegetal: evolução dos cultivos anuais e perenes, práticas de manejo agroecológico (biofertilizante, caldas bioprotetoras, cerca viva, compostagem, e outras).

Capital fixo:

Acesso à terra (considerando terra própria, arrendada ou de uso comum):

Moradia - Construções, ampliação e reformas;

Infraestruturas produtivas (hídricas, agroindústria familiar etc.);

Veículos e equipamentos.

b) Externas ao agroecossistema

Participação na gestão e uso de bens comuns (casa de farinha, bancos de sementes

comunitários, fundos rotativos solidários, fundo de pasto, áreas comunitárias, redes de

gestão de conhecimento, mecanismos de reciprocidade na gestão do trabalho – mutirões,

trocas de dia de trabalho etc..)

Integração a espaços político-organizativos-econômicos (sindicatos, associações,

grupos formais e informais, cooperativas etc..)

Acesso a mercados: CEASA, mercados institucionais como PAA e PNAE, feiras livres,

mercados de produtos orgânicos, feiras agroecológicas, pluriatividade, etc.

Acesso a políticas públicas: bolsa família, seguro maternidade, previdência, crédito,

garantia safra, PAA/PNAE, ATER, crédito fundiário, reforma agrária, etc.:

Outros - Perturbações climáticas (secas, tempestades, enchentes, outros), ameaças

externas (empresas mineradoras, grandes obras, agronegócio, outros).

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Dicas metodológicas:

Existem diversas formas de construir a linha do tempo

do agroecossistema. O formato “espinha de peixe” é

uma técnica simples que facilita a realização da

atividade. Para montar a linha do tempo nesse formato,

deve-se fixar uma linha de barbante ou fita no chão ou

na parede na posição vertical.

As informações relacionadas a fatores externos

ao agroecossistema familiar serão preenchidas em

tarjetas com uma cor e coladas no lado esquerdo da

linha. As informações relacionadas a eventos ocorridos

dentro do agroecossistema e com a família serão

coladas no lado direito da linha e em tarjetas com outra

cor. Além da informação sobre o evento (um evento por

tarjeta), deverá ser registrado na tarjeta o ano do

evento. Essa metodologia proporciona flexibilidade na

composição da linha do tempo nos eixos horizontal e

vertical.

A interpretação da linha do tempo se faz em dois sentidos:

1. No sentido longitudinal, no decorrer dos anos, são identificadas as mudanças ocorridas na

trajetória. Há trajetórias que sofrem mudanças abruptas (positivas ou negativas) em

momentos determinados da história do agroecossistema. Essas mudanças provocam a

reorganização do trabalho da família em função de novas oportunidades ou restrições às suas

estratégias de reprodução econômica. Elas costumam ocorrem quando a família adquire terra

(por compra ou por políticas distributivas), acessa novos mercados, dá início a uma nova

atividade econômica, perde um membro familiar (por morte ou migração), ou quando

ocorrem mudanças drásticas de natureza ambiental e/ou de mercados etc... Caso existam, é

importante que esses “pontos de inflexão” sejam identificados na análise longitudinal da linha

do tempo. É importante também atentar para evoluções mais sutis resultantes da paulatina

incorporação de inovações técnicas, econômicas e sócio-organizativas que no decorrer do

tempo alteram significativamente a forma de gestão do agroecossistema. Esse exercício

permite a identificação da dinâmica evolutiva passada do agroecossistema bem como suas

tendências tomando-se como referência as oportunidades e limitações com as quais as

famílias contam para reproduzir suas estratégias.

2. No sentido transversal, a análise está orientada para identificar os fatores que condicionam

as mudanças no agroecossistema. Por meio dessa análise será possível correlacionar as

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variáveis da linha do tempo para compreender as decisões estratégicas adotadas pelas

famílias no decorrer do seu ciclo de vida. Nesse caso, é importante tanto compreender como

as famílias valorizam os recursos internos ao agroecossistema na tomada de suas decisões

estratégicas, ao mesmo tempo em que respondem a mudanças no entorno em que o

agroecossistema opera. Dois elementos chave podem ser analisados nesse exercício: a) as

relações sociais estabelecidas entre o núcleo familiar e a comunidade na organização do

trabalho para a produção, beneficiamento e comercialização, no acesso a novos

conhecimentos, no acesso a bens da natureza de gestão coletiva, na mobilização de poupanças

comunitárias por meio da reciprocidade etc..; b) a incidência das políticas públicas na

estrutura e no funcionamento dos agroecossistemas. Nesse caso, é importante ressaltar que o

agroecossistema é condicionado tanto pelas políticas especificamente dirigidas à agricultura

(financiamento, fomento, Ater, seguro etc.) quanto por políticas sociais (previdência, bolsa

família, infraestruturas, saúde, educação etc.).

Ao final da elaboração da linha do tempo com a família, a mesma deverá ser fotografada para

registro na base de dados. Os dados deverão ser sistematizados posteriormente na plataforma

Lume.

6 – Mapa (croqui) do agroecossistema e identificação dos fluxos

De posse das informações já colhidas na travessia, assim como no momento do resgate da

trajetória do agroecossistema, sugere-se que se elabore um croqui/mapa da propriedade em

conjunto com a família. O mapa/croqui constitui uma primeira representação gráfica da estrutura

e funcionamento do agroecossistema. Ele permite visualizar a distribuição espacial das diferentes

atividades realizadas no agroecossistema, bem como a dinâmica interativa estabelecida entre

essas atividades por meio de setas que identifiquem a circulação de insumos e produtos dentro e

fora do agroecossistema.

É importante que todos os membros da família participem da construção do croqui e que sejam

estimulados a caracterizar os espaços do quintal, da horta etc., comumente sob responsabilidade

das mulheres e jovens.

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a) O mapa - Antes da família desenhar o mapa sugere-se dobrar as quatro bordas do papel

(numa espessura de aproximadamente 2,5 cm). Nessas bordas serão identificados, acima

o nome da família e nos lados a abaixo aos espaços externos ao agroecossistema

(Comunidade, Mercado e Estado). Esse procedimento será útil para que, na sequência, se

possa identificar os fluxos de insumos e produtos.

b) Identificação dos fluxos de insumos e produtos.

A partir da visualização no mapa/croqui da distribuição espacial das atividades produtivas

(subsistemas) e das infraestruturas disponíveis deve-se identificar os fluxos internos (entre

subsistemas/mediadores) e externos (relações com a comunidade, com o mercado e com o Estado).

Para evitar que a as setas de representação dos fluxos não comprometam a visualização do conjunto,

sugere-se o uso de canetas de escrita fina, sendo de cor preta para fluxo de insumos e vermelha para

fluxo de produtos.

Ordenamento de perguntas para auxiliar a construção dos fluxos com a família:

Fluxo de Produtos:

1. O que é produzido na propriedade e é consumido pela família?

2. O que é produzido na propriedade e é doado?

3. O que é produzido na propriedade e é vendido?

Insumos:

1. O que é produzido na propriedade e é utilizado como insumo no agroecossistema?

2. O que é recebido e é utilizado como insumo no agroecossistema?

3. O que é comprado e é utilizado como insumo no agroecossistema?

Ao final da elaboração do mapa/croqui, ele deverá ser fotografado para registro na base de dados.

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7. Divisão do trabalho no agroecossistema segundo gênero e geração

A identificação da divisão do trabalho entre os diferentes membros e as diferenças de cargas de

trabalho entre homens e mulheres e entre adultos e jovens é um elemento central para a

compreensão da dinâmica de funcionamento do agroecossistema. A intenção é colocar em

evidência o trabalho que desempenha cada membro e permitir a compreensão da dinâmica das

relações de gênero e geração, o apoio mútuo, e os conflitos.

Como já assinalado, ao logo da entrevista, já será possível obter uma primeira aproximação da

leitura sobre a forma com que se manifestam as relações de gênero e geração na organização e

divisão do trabalho da família. Para aprofundar e precisar melhor sugere-se que se utilize o mapa

da propriedade e, com base nele, se identifique em que atividades homens mulheres e jovens estão

envolvidos, o tempo relativo dedicado e as responsabilidades e domínio de cada membro na

tomada de decisão. Com o auxílio de figuras que simbolizam os diferentes membros das famílias,

representa-se a presença de seus membros nas diferentes esferas de trabalho e nos distintos

subsistemas integrantes do agroecossistema.

Para a realização desse exercício propõe-se uma sequência de perguntas correspondentes a cada

uma das atividades relacionadas à gestão do agroecossistema. Essas perguntas são enunciadas em

relação à gestão dos subsistemas. Sugere-se que se inicie pelos subsistemas cuja gestão

frequentemente é controlada pelos homens, ou seja, roçado, criação de grandes animais, etc. Na

sequência, são abordados aqueles frequentemente geridos pelas mulheres (criação de aves,

porcos, horta/quintal, etc). Em seguida, os trabalhos domésticos e de cuidados são abordados e,

por fim a participação social a pluriatividade.

Sugere-se a seguinte ordem de questionamentos para que as informações sejam levantadas e

organizadas:

1. Quais são as pessoas da família trabalham nesse espaço/atividade?

Ob.: Identificar com as figuras os membros da família responsáveis pelo trabalho,

procurando entender quais os tipos específicos de trabalho cada uma das pessoas executa

– homens, mulheres, jovens)

2. Quem decide sobre o que, como e o que fazer nesse espaço/atividade?

3. Quem vende o que é produzido nesse espaço/atividade?

4. Quem fica com o dinheiro recebido da produção desse espaço/atividade?

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É importante observar as distintas esferas de trabalho

Trabalho doméstico e de cuidados - atividades de administração da casa e de cuidados com a

saúde, proteção, educação de bebês, crianças, jovens e idosos (pegar lenha, pegar água, cuidar das

crianças, se responsabiliza pela comida, limpar a casa, lavar e passar roupa, etc)

Trabalho mercantil e de autoconsumo - monetizado e não monetizado (criação de animais,

roçado, hortaliças, fruteiras, extrativismo, beneficiamento, artesanato, trabalho formal, informal

(vendas avulsas tipo: roupa, Natura, Avon, Tupperware, Hermes etc. )

Participação Social - Tempo que gastamos para o crescimento pessoal (atividades de grupos,

participação das mulheres, envolvimento em associações, sindicatos, cooperativa, atividades

religiosas, estudo e outros).

Essas categorias serão, posteriormente, organizadas em um quadro, conforme a seguir, que

apresentará uma estimativa da divisão do trabalho a partir do dimensionamento em cada uma

das tarefas alinhadas na coluna 1 de acordo com as categorias propostas.

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Tempo dedicado¹

Domínio/Responsabilidade pela gestão/decisão²

(X) ou (=)

Trabalho associado à produção

Mulher Homem Jovem

Mulher

Jovem

Homes Mulher Homem

Jovem

Mulher

Jovem

Homens

Cuidado com pequenos animais

Cuidado com animais de grande porte

Roçado/roça

Horta

Quintal

Extrativismo

Colheita

Artesanato

Beneficiamento

Comercialização

Outras atividades

Trabalho doméstico e cuidados

Pegar água e lenha

Cuidar das crianças

Fazer comida

Limpar a casa, lavar e passar roupa

Participação Social

Pluriatividade

Outras atividades

¹ Tempo dedicado: +1 Pouco tempo; +2 Tempo médio; +3 Muito tempo; X não dedica tempo para a atividade.

² Domínio/Responsabilidade pela gestão/decisão – Marcar com (X) para um dos membros ou = para

decisões compartilhadas.