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1 sechat.com.br A RELAÇÃO DA CANNABIS COM O NOSSO CORPO PÁG. 32 O ACESSO AOS MEDICAMENTOS NO BRASIL PÁG. 52 A CANNABIS E A ECONOMIA PÁG. 62 GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS Edição 1 - 2021

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

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Page 1: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

1 sechat.com.br

A RELAÇÃO DA CANNABIS COM O

NOSSO CORPO PÁG. 32

O ACESSO AOSMEDICAMENTOS

NO BRASIL PÁG. 52

A CANNABIS E A ECONOMIA

PÁG. 62

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS

DA CANNABIS

Edição 1 - 2021

Page 2: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)2 3 sechat.com.br

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Page 3: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)4 5 sechat.com.br

História da cannabis na HumanidadePág. 6

A plantaPág. 18

CARTA AO LEITOR

Em 2021 o portal Sechat com-pleta 2 anos e já temos muita his-tória para contar. A ideia de um portal dedicado ao uso medicinal e negócios relacionados à cannabis nasceu em um congresso em Isra-el em 2018, quando um grupo de médicos e empresários tomaram conhecimento que uma revolução estava acontecendo no mundo e faltava um veículo de informação no Brasil que acompanhasse essa mudança.

Assim, em 11 de março de 2019, nascia o Sechat. O nome foi um consenso desde o início, por re-presentar uma deusa egípcia, co-nhecida como a deusa da sabedo-ria e das bibliotecas, cuja imagem trazia o desenho de uma folha de cannabis acima de sua cabeça.

A Sechat era importante para aquela civilização, porque a cannabis era uma planta

medicinal, sagrada e utilizada na produção de papiros, ou seja, re-presentava exatamente nossa área de atuação, que é a comunicação. Com menos de 3 meses no ar, o Sechat apresentou uma entrevista exclusiva com o diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sa-nitária), Renato Porto, sobre a atu-al situação da cannabis no Brasil. A partir desse desse movimento governamental, outro cenário se abriu, e o Brasil finalmente saía do seu berço esplendido e mostrava sinais que, em algum momento, po-deria participar desse jogo de for-ma robusta.

De 2019 até 2021 muita coisa mudou, não só no uso e na regu-lamentação da cannabis mas no mundo: as relações entre os con-tinentes, países e as relações in-terpessoais mudaram, e, apesar de um retrocesso mundial na ecô-nomia, os negócios relacionados à cannabis cresceram.

A cannabis oferece ao mundo uma infinidade de possibilidades.Ela pode ser utilizada de forma me-dicinal, têxtil, na alimentação, para utensílios (plástico biodegradável), na papelaria, construção civil, entre outros. E para explorar esse univer-so, o portal de notícias Sechat lança seu primeiro e-book.

Nosso objetivo é oferecer a to-dos os interessados no tema uma leitura imparcial sobre a cannabis, uma planta milenar que está pre-sente na vida do homem há cerca de 12.000 anos, e teve sua primei-ra descrição para uso medicinal

SUMÁRIO

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

A relação da Cannabis com o nosso corpoPág. 32

Formas de aplicação da cannabisPág. 46

Aspectos históricos e legais da evolução do acesso do uso medicinal da cannabis no Brasil: ativismo e legislaçãoPág. 52

há cerca de 5.000 anos. Foi proibida e considerada sem propriedades medicinais, perseguida em quase todos os países do mundo, tendo encontrado asilo em um labora-tório da universidade hebraica de Jerusalém, em Israel, na última dé-cada de 60. Após 30 anos ela re-nasce como protagonista de um dos sistemas mais impressionantes no corpo humano, o sistema endo-canabinoide.

Convidamos você, amigo leitor do Sechat, a descobrir as mais di-versas utilizações dessa planta que vem ajudando muitas pessoas a melhorar sua qualidade de vida e a economia de diversos países; descobrir também sobre o pesqui-sador brasileiro que na década 80 realizou o primeiro estudo do mun-do sobre sua utilização para epilep-sia; a mãe que enfrentou o governo para garantir o direito de sua filha ao tratamento e o paraibano, que impressionado com os resultados do tratamento em sua mãe e irmão, funda uma associação que ajuda hoje mais de 15 mil pacientes.

Conheça essas e muitas outras histórias e o panorama de negócios que já movimenta bilhões de dóla-res. Deixe o Sechat te conduzir por esse impressionante mundo verde e descubra você também o que faz da cannabis ser o produto ilegal mais consumido do planeta. Boa leitura!

Dr. Pedro Antônio Pierro Neto Neurociurgião, diretor-científico e cofundador do Sechat

Expediente: Editor e jornalista responsável: Charles Vilela (MTB 9780)Curadoria e textos: Caroline Vaz e Charles Vilela Projeto gráfico e diagramação: Talyta SchartmanRevisão Técnica: Dr. Pedro Pierro Publicidade/Comercial: Camila Evangelisti ([email protected]) Contato: [email protected] / +55 (11) 2111-6588www.sechat.com.br

GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição 1 - 2021) Copyright © 2021 de Sechat Informação, Tecnologia e Eventos Ltda. Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do ebook. Primeira edição, 2021- São Paulo - SP - Brasil ISBN: 978-65-995229-0-1

Foto: Arquivo pessoal

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

GLOSSÁRIO

PARCEIROS

A Cannabis e a Economia Pág. 62

Omissão regulatória: a grande vilã que dificulta o acesso e trava o mercado gigantesco do uso medicinal e industrial da cannabis no Brasil Pág. 72

Glossário informativo Pág. 79

Parceiros do Sechat neste e-book Pág. 80

Sechat, o canal de mídia dedicado à Cannabis Medicinal - Saúde e Negócios

Page 4: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

7 sechat.com.br6 GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)

poderoso anestésico, sendo utili-zada, também, durante cirurgias.

Entretanto, com a fundação da República Popular da China, em 1949, a cannabis passou a ser estritamente ilegal, devido a crença de que aqueles que consomem a planta estariam mais propensos à possessões e insanidade. A partir daquele momento, sob o governo con-servador, aqueles que são pe-gos traficando a planta podem enfrentar pena de morte.

Após fazer parte da Conven-ção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas em 1985, a China adotou medidas ainda mais duras em relação à planta. Ainda hoje, os textos que mencionam os benefícios da planta para fins medicinais e industrial - como os citados acima - são estudados, mesmo que o uso da cannabis não seja regulamentado no país.

Egito Antigo

O uso da cannabis no Egito Antigo data próximo do uso na China (2.700 a.C), sendo incluí-da em uma série de tratamen-tos egípcios antigos para uma variedade de doenças. Alguns pergaminhos apontam a pala-vra Shemshemet - nome dado à cannabis - em referência à medi-cina.

HISTÓRIA DA CANNABIS NA HUMANIDADE

CAPÍTULO 1

Para compreendermos a po-lêmica, o preconceito e o tabu que rodeia a cannabis atual-mente, é importante observar-mos como a planta tem nos acompanhado - e evoluído - ao longo da história.

Em todas as suas formas, a cannabis tem desempenhado um papel de grande importân-cia em várias sociedades ao re-dor do mundo, por milênios. As principais civilizações antigas apontadas como grandes usu-árias da cannabis - seja para fins medicinais, comerciais, re-ligiosos ou adultos - são a chi-nesa, indiana e egípcia.

China Antiga

O primeiro registro do uso medicinal da Cannabis aconte-ceu por volta de 2.700 a.C., na

China, conforme foi anotado no livro Pen Ts’ao, considera-do a primeira farmacopeia do mundo. Portanto, os chineses foram os primeiros a propor o uso medicinal da Cannabis e documentá-lo.

Segundo apontam os pes-quisadores, o Imperador Ver-melho, Shen Nung, escreveu o Pen Ts’ao com o objetivo de servir como um catálogo de plantas que tinham benefícios terapêuticos. Uma das princi-pais plantas apresentadas no

livro era a cannabis.Além do uso medicinal da

planta, o cânhamo era matéria--prima básica para a fabricação de têxteis para aquela parte da população que não conseguia arcar com a tradicional seda chinesa.

Com a fundação da República Popular da China, em 1949, a cannabis passou a ser estritamente ilegal, devido à crença de que aqueles que

consomem a planta estariam mais propensos à possessões e insanidade

A cannabis era usada pelos egípcios antigos para tratar uma série de doenças: um

dos usos mais notáveis era para lavar os olhos de pacientes com glaucoma

Sementes de cânhamo tam-bém eram muito utilizadas como alimento, de acordo com pesquisadores. Elas foram en-contradas em túmulos com cer-ca de 2.100 anos de idade, na província de Hunan. As semen-tes de cânhamo estavam ao lado de outros tipos de grãos, como arroz e trigo, que eram consumidos principalmente pela população mais pobre. Alguns textos produzidos, como o Illustrated Classic of Materia Medica (Tu Jing Ben Cao), de aproximadamen-te 1.070 d.C, e o Heart Text of Bian Que (Bian Que Xin Shu), de 1.270 d.C, apontam o uso da cannabis para aliviar a dor intensa que inibe o movimento e como um

Um dos usos mais notáveis da cannabis era para lavar os olhos de pacientes com glau-coma. A planta era triturada com aipo um dia antes e, na manhã seguinte, era utiliza-da para a lavagem. Desde a década de 1970, há evidên-cias de que os compostos da cannabis - como o THC - real-mente podem ajudar no trata-mento desta doença, reduzin-do a pressão intraocular.

Outro uso da cannabis en-contrado em papiros é para inflamações, já que, com-provadamente, a cannabis possui propriedades anti--inflamatórias. Os papiros Ebers, Ramesseum e Chester Beatty - feitos, inclusive, de cânhamo - também contêm informações sobre o uso da planta em doenças infan-tis, cicatrização de feridas, processo de parto, doenças colorretais e febre, além de abordar aspectos da saúde da mulher. Sobretudo, os antigos

Segundo o livro Pen Ts’ao, a primeira

farmacopeia do mundo, o primeiro registro do uso

medicinal da Cannabis aconteceu na China por

volta de 2.700 a.C.

Page 5: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

9 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)8

egípcios eram líderes no mun-do médico de seu tempo, com uma série de práticas avança-das que envolviam a cannabis.

Além do uso médico, a plan-ta também era utilizada para fins religiosos. Como afirmado no estudo Extensive pulmonary haemorrhage in an Egyptian mummy, publicado em 1995, foram encontradas altas con-centrações de THC nos pul-mões de múmias que datam de 950 a.C, indicando que a cannabis pode ter sido utiliza-da em rituais espirituais ou ce-rimônias.

A deusa Seshat, que serviu de inspiração para o nome do portal Sechat (www.sechat.com.br), é uma das deusas mais antigas do Egito. Os primeiros registros de sua existência datam em torno de 2.500 a.C. Era a deusa das bibliotecas e dos escritos,

planta. Até 2021, a lei prevê puni-ções extremas para quem traficar cannabis no território, com pena de morte para os condenados.

Índia Antiga

Na Índia Antiga, a cannabis - chamada de ‘bhang’ ou ‘bhan-ga’ - também tem uma longa e rica história. As escrituras hin-dus, conhecidas como Os Ve-das, são textos sagrados que foram registrados entre 1500 e 500 a.C. Nesses documentos está o que se sabe hoje sobre o uso da cannabis nas socie-dades indianas antigas. Antes disso, acredita-se que o conte-údo dos Vedas era passado de geração para geração, mas não documentados.

Nestes textos sagrados, a cannabis é listada como uma das cinco safras sagradas, jun-to com a cevada, por exem-plo. Além disso, ela é colocada como parte da medicina da época e está relacionada ao deus Shiva, deixando clara a ligação entre a planta e o divi-no na cultura hindu antiga. Até

os dias atuais, praticantes da religião hindu na Índia e no Ne-pal fumam cannabis como for-ma de homenagear o deus Shiva.

crescente dos Estados Unidos em relação ao mundo.

No Brasil, as caravelas portu-guesas que chegaram por aqui, em 1500, eram feitas de fibra de cânhamo e, a partir disso, plantações de cânhamo fo-ram incentivadas na época da colonização. Com o passar do tempo, o consumo da cannabis foi disseminado entre os escra-vos – inclusive pelo uso já ser comum no continente africa-no– , passando a prática tam-bém para os indígenas, que até então não faziam uso da plan-ta. Mais tarde, a produção de produtos à base de cannabis também foi estimulada pela Coroa portuguesa. Ainda no final do século XIX e início do

Primeiro registro de uso da cannabis para fins medi-

cinais na China, segundo o livro Pen Ts’ao que é conside-rado a primeira farmacopeia

do mundo

O nome Cannabis Sativa foi utilizado pela primeira vez pelo biólogo sueco Carl Linnaeus, em referência à

cannabis cultivada na Europa, por meio de um estudo sobre

taxonomia de plantas

O governo americano cria o Federal Bureau of Narcotics (Departamento Federal de Nar-cóticos), que passa a reprimir

o uso de diversas drogas, inclusive a cannabis

É lançada nos Estados Unidos a campanha War on Drugs (guerra às

drogas). Na época, em que simultane-amente ocorria a guerra do Vietnã, a grande inimiga dos EUA era a União

Soviética, maior exportadora de cânhamo do mundo.

O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, foi o primeiro lugar do mundo a permitir o uso medicinal da cannabis, por meio da iniciativa

conhecida como Lei da Compaixão, pessoas com câncer, anorexia, HIV, espasmos musculares,

glaucoma, artrite, enxaquecas e outras doenças crônicas passaram a ter o direito de utilizar e

cultivar a planta para o tratamento

A denominação Cannabis Indica é usada pela primeira vez pelo francês Jean-Baptiste

Lamarck para diferenciar a variedade produzida na Índia e

no Oriente Médio

O israelense Raphael Mechou-lam, da Escola de Medicina da Universidade Hebraica de Jeru-salém, isola os canabinoides majoritários THC (Tetraidro-

canabinol) e CBD (Canabidiol) presentes na Cannabis

O professor e pesquisador brasileiro Elisaldo Carlini publica o estudo “Administração crônica

de canabidiol a voluntários saudáveis e pacientes epilépticos”,

pioneiro no mundo sobre os benefícios do CBD para controle

de crises convulsivas

As caravelas portuguesas que chegaram ao Brasil na ocasião do

Descobrimento eram feitas de fibra de cânhamo, assim as plantações

foram incentivadas, sendo o primeiro registro que tem de produção da planta no país

2700 a.C 1753 1930 1971

17851500 1963

1996

1980

Imagem: Metallic Feather

protetora dos livros e do co-nhecimento. Seshat significa “Aquela que Escreve” e guia a “Casa da Vida”, onde eram guardados os conhecimentos do Egito Antigo.

A proibição da cannabis teve início em 1764, quando as tro-pas de Napoleão invadiram o Egito e proibiram o plantio de cannabis no país por interes-ses econômicos, já que vinha de lá o cânhamo que abaste-cia a Marinha da Inglaterra na época. Além disso, a proibição dacannabis também foi im-pulsionada pela pressão da elite sunita do Egito, que de-sejava o fim do plantio e con-sumo da cannabis. Com isso, Napoleão foi responsável por promulgar a primeira lei do mundo moderno que proibiu a

para construções. Acredita-se que as propriedades naturais das fibras de cânhamo podem ter contribuído para a preser-vação das obras de arte por aproximadamente 1.500 anos.

Até 2021, a cannabis e seus derivados eram proibidos na Índia sob a Lei de Drogas Narcóticas e Substâncias Psi-cotrópicas (NDPS), de 1985. Entretanto, a Charas é men-cionada separadamente como uma substância regulamenta-da pela lei, sendo uma resina extraída da planta de cannabis para fins medicinais. O óleo de cannabis ou óleo de haxixe também é regulamentado na Índia para fins medicinais.

A demonização da cannabis e os processos de proibição mundial

Ao longo do tempo, a plan-ta que era utilizada em di-versas áreas e, até mesmo, endeusada por algumas cul-turas antigas, como as citadas anteriormente, passou a ser demonizada na maioria dos países ao redor do mundo há apenas alguns séculos. Mas, afinal, por que e como esse processo ocorreu? A respos-ta envolve interesses econô-micos, racismo, moralismo religioso e a influência então

A primeira menção da cannabis como medicamento na Índia foi rastreada até as obras de Sushruta, um cirurgião e pro-fessor de Ayurveda (terapia in-diana milenar), que acredita-se ter sido escrita entre 500-600 DC. Sushruta aponta a cannabis como benéfica para diarreia e febre. Na Ayurveda, a cannabis foi usada principalmente para tratar doenças dos tratos diges-tivo e respiratório. Em fontes posteriores, foi indicado que a cannabis também era utilizada na Índia para o tratamento de doenças como epilepsia e asma.

Assim como em outras re-giões da época, na Índia An-tiga também era utilizado o cânhamo para fins comerciais, mais especificamente para a produção de têxteis, incluindo roupas. Além disso, evidên-cias apontam que os antigos indianos podem ter sido os primeiros a usar o cânhamo

Protetora dos livros e do conhecimento, Seshat,

que serviu de inspiração para o nome do portal

Sechat, é uma das deusas mais antigas do Egito

(Imagem: Eideard)

Foto: Andrés Dallimonti

Nos textos sagrados da Índia Antiga, a cannabis é listada como uma das cinco safras sagradas,

sendo tratada como parte da medicina da época,

relacionada ao deus Shiva

Page 6: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

11 sechat.com.br10 GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)

influenciando o resto do mun-do. Como consequência, hou-ve, aos poucos, o fechamento do mercado internacional da cannabis e do cânhamo.

A volta da cannabis medicinal

Até 1996, a cannabis foi proi-bida no mundo inteiro. Por isso, por mais que as evidên-cias apontem que a cannabis medicinal tenha sido utilizada pela primeira vez em 2.700 a.C, pelos chineses, as pesquisas que envolvem seus benefícios à saú-de datam apenas de 1960, sen-do esse vácuo de evidências uma consequência da proibição da planta que ocorreu por décadas. Tal proibição perdeu força com o desenvolvimento crescente das pesquisas que envolvem o

pesquisas que envolvem o po-tencial terapêutico da canna-bis.

Na década de 1960, o pro-fessor e pesquisador Raphael Mechoulam, do Departamento de Química Medicinal e Produ-tos Naturais da Escola de Medi-cina da Universidade Hebraica de Jerusalém, foi o responsável por trazer à luz de forma pio-neira os benefícios da cannabis à saúde. Mechoulam, conheci-do como “o pai da cannabis” foi o primeiro cientista a isolar os canabinoides presentes na cannabis (THC e CBD), em 1963, pelo fato de serem os compos-tos majoritários da planta.

Sua pesquisa auxiliou para que fossem desenvolvidas opções seguras e naturais de tratamentos com cannabis para as mais diversas doenças e distúrbios, principalmente para

epilepsia e controle de dores crônicas.

século XX, a planta era usada para tratar bronquite, asma e insônia, por recomendação dos próprios médicos da épo-ca, como noticiado pelo jornal Estado de S. Paulo, no fim do século XIX.

Entretanto, no início do século XX, o governo ameri-cano criou o Federal Bureau of Narcóticos (Federal Bureau of Narcotics), tendo como res-ponsável Harry Aslinger, chefe da Divisão de Controle Estran-geiro do Comitê de Proibição. Acredita-se que a motivação de Aslinger pela guerra às drogas - com foco na cannabis - vinha de interesses econômicos, ao defender o fim da indústria do cânhamo para que fabricantes de fibras sintéticas dos Estados Unidos não tivessem que lidar com tal concorrência do exterior.

do Norte, a planta passou a ser diretamente relacionada à po-pulação negra, sendo o grupo que fazia maior uso, uma vez que possuía pouco poder aqui-sitivo e a planta tinha um baixo custo. Como consequência, sua proibição foi influenciada, tam-bém, pelo preconceito racial.

Promulgada em 1937 e redigida por Anslinger, a lei HR 6385, conhecida como The Marihuana Tax Act, estabeleceu um imposto sobre a venda de cannabis. Este ato foi revogado em 1969 pela Suprema Corte dos EUA.

Em 1971, foi lançada nos Estados Unidos a campanha War on Drugs (guerra às dro-gas), pelo então presidente Ri-chard Nixon, durante a guerra do Vietnã. Na época, a grande nação inimiga União Soviéti-ca era a maior exportadora

de cânhamo do mundo, por mais que os usos medicinal e adulto fossem proibidos.

Em 2021, no entanto, o uso industrial do cânhamo é proi-bido na Rússia, assim como os usos adulto e medicinal, vis-to que o país demonstra uma posição totalmente contrá-ria à planta. Por influência da campanha criada por Nixon, a cannabis passou a ser vis-ta como uma substância criada pelo demônio, sen-do diretamente relaciona-da também aos comunis-tas, e uma substância que ia contra o pensamento Cris-tão que regia os EUA na época. Como resultado des-sa guerra contra as dro-gas, o governo americano interrompeu a importação do cânhamo para fins indus-triais - principalmente têxteis -,

Professor e pesquisador israelense Raphael Mechoulam, conhecido como o “pai da cannabis”

Na Inglaterra, passou a ser comercializado em gôndola o primeiro medicamento

à base de cannabis, o Sativex. No Brasil o medicamento passou a ter a

comercialização autorizada a partir de 2017 sob o nome de Mevatyl - único

medicamento vendido nas farmácias do país até abril de 2021

O Canadá foi o terceiro país do mundo a regulamentar o uso medicinal da cannabis, o que

possibilitou o surgimento de uma indústria gigante de pesquisa,

produção e exportação, sendo, atualmente, uma potência mundial

no mercado da cannabis

Raphael Mechoulam, comprovou que, juntos, os canabinoides podem fornecer um efeito terapêutico ainda

mais amplo no tratamento de uma série de doenças, conhecido como

“efeito entourage” ou “efeito comitiva”

Uruguai realiza a primeira legalização federal da cannabis no mundo para uso medicinal e adulto,

permitindo, além da produção e venda pelo Estado através de farmácias, o cultivo pessoal para

para uso medicinal e adulto

1998

20011998 2013

O sistema endocanabinoide é descoberto por Raphael Mechoulam,

fazendo com que a comunidade científica se interessasse ainda mais no potencial clínico que a cannabis

pode trazer à saúde. No mesmo ano, Israel regulamenta o uso medicinal da

cannabis

1999

A Lei das Drogas (11.343/06) prevê que a União pode

autorizar o plantio e o uso de substratos para fins medicinais e científicos

Anny Fischer, à época com cinco anos de idade, foi a primeira

paciente brasileira autorizada pela Justiça a importar medicamentos

à base de cannabis para uso medicinal. Repercussão do caso

auxilia na divulgação do tema junto à população

O Conselho Federal de Medicina (CFM) lança a Resolução Nº 2.113, em que prova o uso

compassivo do canabidiol para o tratamento de epilepsias da criança e do adolescente refratárias aos tratamentos convencionais,

após profunda análise científica, na qual foram avaliados todos os fatores relacionados à

segurança e à eficácia da substância

2006 2014

2014

Cartaz da campanha The War on Drugs nos EUA

Já em 1980, o brasileiro Elisaldo Carlini publicou o estu-do “Administração crônica de canabidiol a voluntários sau-dáveis e pacientes epilépticos”, pioneiro sobre os benefícios do CBD para o controle de cri-ses convulsivas. A pesquisa do professor e pesquisador Carlini foi realizada na Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, e teve a participação de nomes como Wilson Luiz Sanvito, pro-fessor titular de Neurologia na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e da equipe da Universidade He-braica de Israel, incluindo Ra-phael Mechoulam.

Em 1996, o estado da Ca-lifórnia, nos Estados Unidos, foi o primeiro lugar do mun-do a permitir o uso medicinal da cannabis, quase 40 anos depois da primeira e princi-pal pesquisa documentada sobre o assunto. Através da iniciativa conhecida como Lei da Compaixão, pessoas com

Imagem: Reprodução Pulj Foto: Reprodução Cannabis Show

Por interesses econômicos, no

início do século XX o governo americano passou a reprimir a

indústria do cânhamo em todo o mundo

Em 1996, o estado da Califórnia, nos EUA, foi o primeiro lugar

do mundo a permitir o uso medicinal da

cannabis, por meio da Lei da Compaixão

A partir da década de 30, sob influência de uma das grandes potências mundiais, os EUA, o uso da cannabis também passou a ser reprimido em outras partes do mundo. No Brasil, assim como na América

Page 7: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

13 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)12

câncer, anorexia, HIV, espas-mos musculares, glaucoma, artrite, enxaquecas e outras doenças crônicas passaram a ter o direito de utilizar e culti-var a planta para o tratamento.

Na Inglaterra, em 1998, uma ação histórica: a farmacêutica GW Pharmaceuticals lançou o medicamento Sativex, que contém na sua fórmula THC e CBD, indicado para sintomas da esclerose múltipla (doença neurodegenerativa que entre seus sintomas apresenta es-pasmos dolorosos e incapa-citantes de difícil controle). O Sativex foi o primeiro medica-mento à base de cannabis a ser vendido em gôndola.

Em 1999, o sistema endo-canabinoide foi descoberto também por Mechoulam, fa-zendo com que a comuni-dade científica focasse ainda mais no potencial clínico que a cannabis pode trazer à saúde em contato com tal sistema.

O sistema endocanabinoide é um sistema de receptores e compostos conhecidos como endocanabinoides, que são produzidos em nosso corpo. Canabinoides como CBD, THC e muitos outros são capazes de interagir com esse sistema devido à semelhança na estru-tura com os endocanabinoides, resultando nos conhecidos benefícios à saúde.

No mesmo ano da descober-ta do sistema endocanabinoi-de, foi a vez de Israel permitir o uso medicinal da cannabis, tendo se transformado em um dos países que mais desenvol-ve pesquisas com a planta. Em 2001, o Canadá foi o terceiro

lugar do mundo a regula-mentar o uso medicinal da cannabis, o que possibilitou o surgimento de uma indústria gigante de pesquisa, produção e exportação, sendo, atual-mente, uma potência mundial no mercado da cannabis.

Contudo, foi na América Latina que aconteceu a pri-meira legalização federal da cannabis - para uso medicinal e adulto. Desde 2013 o Uruguai conta com produção, venda e exportação da planta para fins terapêuticos. A partir desse momento, o governo uruguaio passou a ser responsável por

A legislação que entrou em vigor em 2013 permitiu, além da produção e venda pelo Es-tado através de farmácias, o cultivo pessoal para uso adul-to e medicinal. Até 19 de abril de 2021, haviam 45.129 uru-guaios registrados como aptos para obter a planta nas farmá-cias, de acordo com dados do Instituto de Regulação e Con-trole da Cannabis (IRCCA) do

governo. O número de cidadãos registrados para cultivo do-méstico chegou em 12.386, se-gundo o mesmo levantamento.

Ainda em 2013, o documen-tário Weed (“maconha”, em inglês), lançado pelo médico americano Sanjay Gupta e pro-duzido pela CNN, gerou uma nova onda de interesse mun-dial na cannabis. No documen-tário, Gupta viaja ao redor do mundo para entrevistar líderes médicos, especialistas, pro-dutores e pacientes, além de acompanhar o longo processo que alguns pacientes enfren-tam para terem acesso ao me-dicamento à base de Cannabis - especificamente aqueles que fazem uso da planta para tra-tar epilepsia refratária.

No Brasil, o uso medicinal da planta ganhou força, prin-cipalmente, a partir de 2014, com o caso de Anny Fischer, de apenas 5 anos de idade. A história da menina passou a ser conhecida nacionalmente pelo fato da sua síndrome (CDKL5) ter sido controlada com o óleo de CBD. Anny foi a primeira paciente a conseguir por via judicial o direito à importação do óleo no Brasil. Entretan-to, a família enfrentou desa-fios para manter o tratamento da menina ativo, visto que a regulamentação e burocracia brasileiras causavam dificulda-des para importar o óleo.

É apresentado pelo deputado Fábio Mitidieri o Projeto de Lei nº 399/2015,

propondo alterar o artigo 2º da Lei nº 11.343/06 para viabilizar a

comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta cannabis sativa

em sua formulação

Aprovada a comercialização no Brasil do primeiro medicamento feito à

base de cannabis medicinal, o Mevatyl (ou Sativex), indicado para esclerose múltipla. Até abril de 2021 o Mevatyl era o único medicamento à base de

cannabis com autorização para venda nas farmácias brasileiras

Nasce a Abrace Esperança, com sede em João Pessoa-PB, a primeira associação brasileira de pacientes que fazem uso medicinal da cannabis. Em

abril de 2021 a entidade atendia cerca de 17 mil famílias.

2015

20172014A Anvisa liberou o uso controlado do Canabidiol (CBD), que deixou a lista F2, composta por substâncias psicotrópicas de uso proibido, para

integrar a lista C1, que abrange substâncias sujeitas a controle

Publicada a RDC Nº 327/19 da Anvisa, estabelecendo regras para concessão de autorização sanitária para a produção

e comercialização no Brasil de produtos derivados da cannabis, ou de registro

sanitário para produção e comercialização de medicamentos derivados da cannabis

no país

2015 2019

A Anvisa lança a RDC Nº 17 que autoriza a importação, em caráter de excepcionalidade,

de produto à base de Canabidiol em associação com outros canabinoides, por pessoa física, para uso próprio, mediante

prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde. Esta

norma foi atualizada em 2016 pela RDC Nº 66.

2015

Documentário Weed (“maconha”, em inglês), lançado pelo médico americano Sanjay Gupta (Foto: Reprodução Canna Tech)

Com o sucesso do caso de Anny, as histórias de contro-le de crises convulsivas com o CBD se multiplicaram, assim como o interesse na Cannabis para fins medicinais. Inspira-das pelo caso de Anny, mães de todo o Brasil se uniram para que o acesso à cannabis medicinal de seus filhos fosse certificado e, através das redes sociais, muitos se mobilizaram para que o óleo de cannabis não faltasse a quem realmente precisa.

Com o aumento exponen-cial do número de famílias

controlar as atividades de ex-ploração, produção, armaze-namento, comercialização e venda da cannabis.

Em 2013, o vizinho Uruguai foi o primeiro

país do mundo a legalizar os usos medicinal e adulto da cannabis

Inspirado na história da menina Anny, nasceu o docu-mentário “Ilegal”, imprescin-dível para a disceminação de informações sobre a cannabis medicinal no Brasil e, conse-quentemente, um caminho para a conscientização sobre a importância terapêutica da planta. O curta-metragem foi lançado em 2014 tendo sido pauta do Fantástico, progra-ma da Rede Globo, ganhando visibilidade nacional.

Nos Estados Unidos, a cannabis voltou à discussão

e atualmente é uma das principais pautas no

legislativo, avançando para uma legalização federal

Page 8: GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS

15 sechat.com.br14 GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)

interessadas pelos medica-mentos à base de cannabis - e como consequência, tam-bém, das limitações legais que existem no país -, associações foram criadas pelo Brasil. Se-gundo a Federação das Asso-ciações de Cannabis Terapêu-tica (FACT), até abril de 2021, existiam 36 associações de cannabis medicinal no Brasil, responsáveis por atender cer-ca de 30.000 pacientes.

Já nos Estados Unidos, a cannabis voltou à discussão de forma a ser uma das principais pautas no legislativo, como consequência, principalmente, do desenvolvimento de pes-quisas que envolvem a planta. Na grande maioria dos esta-dos americanos, a legalização da cannabis avança - seja para uso adulto ou medicinal - de modo que forma um contexto favorável à legalização em nível federal.

Assim como os EUA contribu-íram para a proibição global da cannabis no século XX, a onda de legalização da planta numa das maiores potências econô-micas e políticas mundiais vol-tou a influenciar o mundo na última década - mas, desta vez, de forma positiva.

Em 2020, o Parlamento Eu-ropeu votou a favor do aumen-to do THC permitido para o cânhamo industrial, de 0,2% para 0,3%. A proposta, que havia sido defendida pela

Associação Europeia de Cânha-mo Industrial (EIHA) há muito tempo, foi incluída na reforma da Política Agrícola Comum (PAC) e adotada pelo Parla-mento. A mudança ocorreu vis-to que variedades de sementes de cânhamo de alto rendimen-to, especialmente da Europa Oriental, não têm sido viáveis para cultivo e produção sob a restrição de 0,2% de THC.

Além disso, em ação his-tórica, também em 2020, a União Europeia decidiu que estados-membros não podem proibir a comercialização de CBD, sendo um grande incen-tivo para para esse setor na Europa. O tribunal afirmou que, a partir da decisão, são aplicáveis as disposições rela-tivas à livre circulação de mer-cadorias na União Europeia.

Em decisão também histó-rica, a Comissão das Nações Unidas sobre Entorpecentes (CND) da Organização das Na-ções Unidas (ONU) aceitou, em dezembro de 2020, uma recomendação da Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS) para remover a cannabis e a resina de cannabis do Anexo IV da Convenção Única de 1961 sobre Entorpecentes, que é a recomendação mais restritiva em relação às drogas. A vota-ção, que ocorreu em Viena, na Áustria, terá implicações para a indústria global de canna-bis medicinal, variando da

supervisão regulatória à pes-quisa científica sobre a planta e seu uso como medicamento.

As últimas duas décadas fo-ram cruciais para a cannabis medicinal decolar em todo o mundo. Com o desenvolvi-mento de novas pesquisas - impulsionadas pelas desco-bertas do Dr. Mechoulam - e com a primeira legalização do uso medicinal da planta, em 1996 na Califórnia, Estados Unidos, países de diferentes continentes passaram a dedicar mais atenção aos be-nefícios da cannabis. Além dis-so, a possibilidade crescente de comunicação proporcio-nada pela internet foi decisiva para o aumento do debate pú-blico e da visibilidade do tema.

se tornaram foco de pesqui-sadores e universidades re-nomadas por todo o mundo. Hoje, a cannabis medicinal é pauta em países como Esta-dos Unidos, Canadá, Israel e Uruguai, além de estar re-cebendo a devida atenção da União Europeia e dos estados-membros.

A cannabis medicinal no Brasil

A lei brasileira de drogas, co-nhecida como Lei das Drogas, de 23 de agosto de 2006, pre-vê que a União pode autorizar o plantio, a colheita e a explo-ração de qualquer planta, para fins medicinais ou científicos, mediante fiscalização - inclu-sive da cannabis.

Em 2014 nasceu a primei-ra associação de cannabis medicinal do país, a Abrace Esperança, com o objetivo de unir as pessoas que necessitam desse tipo de medicamento.

apresentar um relatório afirmando que o CBD não causa dependência e efeitos psicoativos. Anteriormente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o uso do CBD no tratamento de crianças com epilepsias resistentes ao trata-mento convencional.

É instalada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a Comissão

Especial sobre Medicamentos Formulados com Cannabis da Câmara para discutir

modificações no PL 399/2015. O presidente da Comissão é o deputado

Paulo Teixeira e o relator do substitutivo é o deputado Luciano Ducci.

União Europeia decidiu que estados-membros não podem proibir a

comercialização de CBD

A paranaense Prati-Donaduzzi é a pri-meira farmacêutica brasileira a receber autorização da Anvisa para produzir e comercializar em farmácias o produto Canabidiol 200mg/ml, um óleo feito à base de canabidiol isolado vendido em

frascos de 30 ml, que custa, em média, R$ 2.350 (abril/21)

Criada no Brasil Federação das Associações de

Cannabis Terapêutica (FACT) reunindo 36

associações de pacientes

O estado de Nova York, nos Estados Unidos, regulamenta

o uso adulto da cannabis

2019 2020 2020

2021

2021

Entra em vigor a RDC Nº 335/20, que permite a importação por pessoa

física de produtos e medicamentos derivados de cannabis , para uso próprio em tratamento de saúde,

mediante prescrição de profissional legalmente habilitado

2020

Comissão das Nações Unidas sobre Entorpecentes (CND) da

Organização das Nações Unidas (ONU) remove a cannabis do

Anexo IV da Convenção Única de 1961 sobre Entorpecentes, que é

a recomendação mais restritiva em relação às drogas

2020

Foto: Jeremy Bishop/Unsplash

Com o desenvolvimento de novas pesquisas impulsionadas pelas descobertas do Dr.

Mechoulam - o mundo passou a reconhecer mais os benefícios da cannabis

Portanto, as discussões sobre cannabis medicinal nunca esti-veram tão presentes em todo o mundo quanto atualmente, sejam as voltadas à pesqui-sa, à legislação, ao ativismo, entre muitos outros âmbitos, sociais e privados. Além dis-so, os benefícios da planta

Em dezembro de 2019 e ja-neiro de 2020, foram tomadas duas decisões favoráveis aos pacientes de cannabis. No fi-nal de 2019, foi publicada a RDC nº 327, que “define as condições e procedimentos para a concessão da Auto-rização Sanitária para a fabri-cação e a importação, bem como estabelece requisitos

Em 2015, por decisão da Anvisa, o CBD passou

a integrar a lista de substâncias controladas,

deixando de ser substância psicotrópica de uso proibido

Até maio de 2021, os produtos fabricados pela Abrace aten-dem cerca de 17 mil famílias.

A liminar que dá à asso-ciaçãoautorização para plan-tar, colher e manusear a can-nabis para uso medicinal foi concedida apenas em 2017 pela Justiça.

Em 14 de janeiro de 2015, em uma decisão marcante para o país, a Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária (An-visa) liberou o uso controlado do Canabidiol (CBD), composto da cannabis mais utilizado para fins terapêuticos.

Como resultado da decisão, o CBD deixou a lista F2, com-posta por substâncias psi-cotrópicas de uso proibido, para integrar a lista C1, que abrange substâncias sujeitas a controle. Dessa forma, o cana-binoide comprovadamente be-néfico à saúde passou a ter o uso liberado mediante prescri-ção médica de duas vias.

Por unanimidade, a deci-são foi tomada após a Anvisa

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17 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)16

Excelência trabalha com a aplica-ção de melhores práticas, novas pesquisas, apoio à indústria e in-ventores e programas de educa-ção e treinamento para estudan-tes e profissionais em todos os campos relacionados à cannabis: medicina, análises laboratoriais, agronomia, cânhamo industrial e comércio.

O centro de pesquisas, inaugu-rado em 2015 com apoio de or-ganizações dos EUA e do Minis-tério da Saúde do país, trabalha em parceria com empresas e uni-versidades ao redor do mundo, com o objetivo de desenvolver o conhecimento sobre as oportu-nidades terapêuticas da planta.

para a comercialização, pres-crição, a dispensação, o moni-toramento e a fiscalização de produtos de cannabis para fins medicinais de uso humano.”

Em 2020, um estudo inédito e de importância internacional foi realizado no Brasil. Com o título “Ingestão de óleo de can-nabis rico em THC em pessoas com fibromialgia: um ensaio clínico randomizado, duplo-ce-go e controlado por placebo”, a pesquisa foi realizada com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Centro de Saú-de do Monte Cristo, em Floria-nópolis-SC, e publicado na re-vista Pain Medicine.

Os pesquisadores concluí-ram que os fitocanabinoides podem ser uma terapia de bai-xo custo e bem tolerada para o alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida de quem sofre com a fibromialgia - sín-drome que causa dor crônica e generalizada no corpo, duran-te pelo menos três meses.

Também em 2020, foi cria-da a RDC nº 335, que “es-tabelece os critérios e os procedimentos para a impor-tação de produto derivado de Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, median-te prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde”.

Em 2021, foi criada a Fe-deração das Associações de Cannabis Terapêutica (FACT). A entidade nasceu da necessi-dade de organizar as associa-ções voltadas ao uso medicinal da cannabis. Além de defen-der a implantação de uma re-gulamentação do setor, a federação também atua na

área da saúde e assistência so-cial.

Para a FACT, as diferentes formas de lidar com a luta da cannabis que cada associação possui, com disponibilidades distintas e valores, fez com que uma federação unificada se tornasse ainda mais neces-sária. Além disso, a federação possui o direito de estar nas mesas de negociação de defi-nição das políticas para o setor em nível nacional.

Por mais que as pesquisas no país estejam caminhando, os estudos evoluem a passos lentos, principalmente por conta da proibição que en-volve a cannabis medicinal no Brasil. Os estudos com a plan-ta são dificultados e encon-tram barreiras e limites legais, fazendo com que o país não alcance seu potencial científico na área.

As grandes potências da cannabis medicinal

Atualmente, Canadá, Israel e Estados Unidos são países considerados referência na área da cannabis medicinal, se-jam relacionados a pesquisas, regulamentação ou negócios. No Canadá, o uso da cannabis foi legalizado para fins medi-cinais em 2001. É permitida a compra de flores, extratos e pomadas para uso medicinal de empresas licenciadas pelo governo.

Além disso, é possível que o paciente se registre para pro-duzir seu medicamento para consumo próprio. No Canadá

cultivo, produção e distribuição de produtos para fins terapêuti-cos.

Com as eleições presiden-ciais de 2020, vencidas por Joe Biden, a onda de legalização da cannabis nos EUA foi potencia-lizada, após a vice-presidente Kamala Harris defender a le-galização da planta durante as eleições e o atual presidente Joe Biden alegar a necessidade de uma melhor regulamentação e, potencialmente, uma legalização federal do uso medicinal da can-nabis.

Sob tal influência do governo americano, a valorização das em-presas - e, consequentemente,

Vista áerea EUA (Foto: Nasa/Unsplash)

está instalada a maior empresa de Cannabis de capital aberto do mundo, a Canopy Growth.

Israel está se tornando líder no segmento e vem as-sumindo um papel de grande importância no desenvolvi-mento de pesquisas e medica-mentos à base da planta, con-sequência do fato de ter sido o segundo lugar do mundo a legalizar a cannabis para fins medicinais.

de suas ações nas bolsas de valores - e a entrada de celebri-dades importantes no mercado, como Mike Tyson e Jim Belushi, só reforça o potencial que a cannabis tem de ser legalizada em todo o país nos próximos anos.

No caso da República Tche-ca, por mais que o país tenha regulamentado o uso da Canna-bis medicinal apenas em 2013 para pacientes com dor crônica a câncer, o país possui um dos centros de pesquisa em canna-bis mais avançados do mundo, o Instituto Internacional de can-nabis e Canabinóides (ICCI). Se-gundo o instituto, o Centro de

Após as eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden, a onda de legalização da cannabis nos EUA

foi potencializada

Segundo o estudo “Um pa-norama da cannabis medici-nal no Brasil”, realizado pelo gabinete da senadora Mara Gabrilli em 2020, com o aces-so cada vez mais facilitado, mais de 40 mil israelenses consomem a cannabis medi-cinal no país. Isso porque, em Israel, os produtos são ampla-mente prescritos, elevando o interesse de pesquisadores e da indústria em investir no desenvolvimento de mais es-tudos.

Nos Estados Unidos, o cami-nho para uma legalização em nível nacional coloca o país tam-bém em evidência, por mais que seus centros de pesquisa com a cannabis medicinal não sejam, ainda, referência internacional. Até abril de 2021, 38 estados passaram a permitir o uso me-dicinal da planta, contanto com

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18 19GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021) sechat.com.br

A PLANTA CAPÍTULO 2

Sativa x Indica

Em relação a morfologia das plantas, a Cannabis sativa são mais altas,com poucas ramifi-cações e folhas finas e longas, e levam mais tempo para ama-durecer (de 60 a 90 dias).

Foto: Aphiwat Chuangchoem/Pexels

Como apontado no capítulo anterior, a cannabis pode ser utilizada para o tratamento de uma grande variedade de doenças e condições, mas é importante destacar as duas principais variedades da plan-ta, cada uma com seus aspec-tos físicos, morfológicos e be-nefícios: a Cannabis sativa e Cannabis indica.

As cannabis Sativa e Indica possuem, além de tudo, ori-gens diferentes. A sativa é ori-ginária da Europa e das par-tes a oeste da Ásia. Já a Indica originou-se no subcontinente indiano, em países como Afe-ganistão, Paquistão e Índia. Por conta disso, são diferentes os cultivos das duas espécies, já que cada uma delas se adapta a climas e ambientes distintos.

O nome Cannabis sativa foi utilizado pela primeira vez pelo biólogo sueco Carl Linnaeus, referente à cannabis cultivada na Europa, em 1753, através de um estudo sobre taxonomia de plantas. Já a denominação Indica foi criada pelo francês Jean-Baptiste Lamarck, alguns anos depois, em 1785, para diferenciar a variedade produzi-da na Índia e no Oriente Médio.

Com origens diferentes, as variedades Sativa e Indica

necessitam de cultivos próprios já que cada uma delas se adapta a climas

e ambientes distintos

As plantas indicas são bai-xas, com folhas largas e es-pessas, e crescem mais rápido que a outra espécie - levam de 45 a 60 dias. Popularmente, a Cannabis sativa é conhecida por produzir um efeito mais enérgico, enquanto a Indica, mais relaxante.

Entretanto, as duas possuem benefícios à saúde. O uso me-dicinal da Sativa pode tra-zer benefícios antiansiedade, antidepressivo, tratar a dor crô-nica e regular o sono, o humor e o apetite. Já a Indica pode oferecer relaxamento mus-cular, diminui a dor aguda e a náusea e aumenta a dopamina.

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)20 21 sechat.com.br

Food Chemistry, apontou os compostos saudáveis que existem no óleo de semente de cânhamo e re-velou que possui altos níveis de vitaminas A, C e E, além de ser fonte em proteínas, minerais, fibras e carboidratos.

Atualmente, o produto feito de cânhamo mais popular é o hempcrete, nome originado da mistura das palavras em inglês “hemp” e “concrete”, que sig-nificam “cânhamo” e “concreto”, respectivamente. Sobretudo, o hempcrete é um produto econômico e sustentável que, apesar de ter ganhado atenção da indústria nos últimos anos, estudos indicam que povos antigos já utilizavam o material para a cons-trução, sendo encontrado, pela primeira vez, em pontes na França no século VI.

Para produzir o hempcrete, utiliza-se a parte in-terna do caule da planta, misturando-a com cal e água. Este tipo de material pode fornecer isolamen-to natural e maior resistência, podendo durar por séculos. Outra vantagem do hempcrete é o baixo impacto ambiental que possui, se comparado com o concreto tradicional, que libera altas quantidades de carbono na atmosfera. Já o concreto de cânha-mo promove o oposto, uma vez que sua fabricação não passa por processos prejudiciais ao meio am-biente, sendo capaz de absorver carbono.

Cânhamo

Canabinoides

Existem mais de 500 ingredientes químicos ati-vos que foram identificados na cannabis, incluin-do pelo menos 146 canabinoides, como o THC e CBD. Os canabinoides, classe de compostos quí-micos ativos produzidos pela planta, agem no sis-tema endocanabinoide a fim de manter em equi-líbrio todas as funções do organismo. Um dos canabinoides encontrados em maior abundância na planta, o canabidiol (CBD), é o principal foco, há muito tempo, dos pesquisadores da área, de-vido aos seus inúmeros benefícios terapêuticos e sua eficácia comprovada no tratamento de do-enças e dores crônicas. Entretanto, de alguns anos para cá, outros canabinoides se tornaram foco dos pesquisadores. Conheça os principais deles a seguir.

Canabidiol (CBD)

O canabidiol (CBD) é um dos canabinoides ma-joritários produzido pela planta cannabis. Perten-ce à mesma família de compostos do THC – outro canabinoide majoritário, conhecido pelos seus efeitos psicoativos. Apesar dessa conexão, desco-briu-se que o THC, assim como o CBD, também traz uma infinidade de benefícios à saúde e ao bem-estar.

O CBD funciona interagindo com nosso siste-ma endocanabinoide (SEC). O SEC é um sistema de receptores e compostos conhecidos como endocanabinoides que são produzidos em nos-so corpo. Canabinoides como CBD, THC e muitos outros interagem com esses receptores e modulam o sistema endocanabinoide.

Hempcrete

Ao interagir com os receptores, os canabinoi-des podem ter um efeito sobre várias funções fisiológicas e cognitivas, como humor, ansiedade, depressão e sono. Além disso, há uma abundân-cia de evidências informais, bem como ensaios clínicos, para mostrar que o CBD também pode ajudar a melhorar os sintomas de PTSD (estres-se pós-traumático). Um medicamento à base de CBD (Epidyolex), produzido pela GW Pharma-ceuticals, foi aprovado como um medicamento anticonvulsivo eficaz no tratamento de algumas formas de epilepsia.

A pesquisa sobre o CBD tem apresentado uma tendência ascendente na última década, com uma série de descobertas promissoras sendo

registradas. Já é sabido que o canabinoide é um potente anti-inflamatório, o que leva a pesquisas adicionais sobre seu uso no tratamento de várias condições de dor.

Delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC)

O THC, ou tetrahidrocanabinol, é o composto responsável pela maioria dos efeitos psicoativos da cannabis. Os receptores canabinoides estão con-centrados em certas áreas do cérebro associadas ao pensamento, memória, prazer, coordenação e per-cepção do tempo. O THC se liga a esses receptores e os ativa, afetando os aspectos citados.

O THC estimula as células do cérebro a liberar

Cânhamo O cânhamo é uma planta pertencente à espécie

Cannabis sativa que, pelo fato de suas variedades serem diversas, tanto na aparência quanto no con-teúdo químico, podem ser conhecidas como cânha-mo. Entretanto, o cânhamo se diferencia pelo seu baixo teor de THC - sendo de, no máximo, 0,3%.

Este nível de THC é, em média, 33 vezes mais bai-xo do que o encontrado na Cannabis sativa comum. Por isso, não é possível que o usuário de produtos à base de cânhamo sintam os efeitos psicotrópicos do canabinoide.

Pelo fato do cânhamo conter pouco THC, o recen-te boom de popularidade do CBD ajudou a aumen-tar o interesse pela cultura. Países como os EUA, onde é mais fácil para os agricultores cultivarem a safra, viram um grande aumento na área plantada, potencializado também pela legalização do cânha-mo em 2018.

O cânhamo pode ser utilizado para diver-sos fins, como na fabricação de papel, tecidos, cordas, alimentos, óleos e concreto. Além dis-so, também é benéfico à saúde. O estudo Hemp (Cannabis sativa L.) Seed Oil: Analytical and Phyto-chemical Characterization of the Unsaponifiable Frac-tion, feito em 2014 na Universidade de Sevilha, na Espanha, e publicado no Journal of Agricultural and

Foto: Jeff W./Unsplash

Imagem: Reprodução Sechat

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22 23GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021) sechat.com.br

dopamina, criando euforia. Também interfere no modo como as informações são pro-cessadas no hipocampo, parte do cérebro responsável pela formação de novas memórias.

Ainda, estudos vêm mos-trando há anos evidências que, quando usado correta-mente, o THC tem muitos be-nefícios médicos adicionais. Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos EUA, ensaios clí-nicos demonstraram que tanto o dronabinol quanto o nabilo-ne - medicamentos contendo THC aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão equivalente à Anvisa no Brasil - funcionam tão bem ou melhor do que outros medicamentos para aliviar náuseas e vômitos durante a quimioterapia.

Além disso, o THC pode ser utilizado para aliviar doenças e sintomas como dor, espasti-cidade muscular, glaucoma, in-sônia, autismo, epilepsia, asma e Doenças Autoimunes.

Para o doutor em Psicofar-macologia, Fabricio Pamplona, um dos grandes problemas do composto gira em tor-no do preconceito, já que o uso do THC é visto de forma

Um desses compostos que está subindo na hierarquia é o delta-8-THC, um análogo muito menos psicoativo do THC, elo-giado por suas “propriedades atieméticas, ansiolíticas, estimu-lantes do apetite, analgésicas e neuroprotetoras”, de acordo com o Instituto Nacional do Cân-cer.

O canabinoide tornou-se po-pular graças aos seus efeitos su-avemente calmantes, bem como à sua relativa facilidade de acesso.

Este canabinoide se comporta quase exatamente como o THC “comum” na maioria dos aspec-tos, mas tem cerca de metade da afinidade para os receptores CB1 do nosso cérebro. Isso resulta numa sensação muito mais sua-ve que muitas pessoas conside-ram mais agradável e compatível com suas vidas diárias.

Ainda que o composto con-tenha benefícios comprovados, um número crescente de esta-dos dos EUA está tomando me-didas para implementar a

proibição do Delta-8 THC. Desde a introdução da Farm Bill dos Estados Unidos, em 2018, os produtos derivados do câ-nhamo são legais em todo o país - com base no fato de que a planta não é intoxicante. No entanto, a recente comercializa-ção de Delta-8-THC coloca esse questionamento em questão.

Para aqueles que traba-lham na indústria do cânhamo dos EUA, a crescente comer-cialização de Delta-8-THC é provavelmente animadora e

preocupante na mesma propor-ção. Embora o composto possa oferecer mais oportunidades para fazendeiros e proprietários de negócios que trabalham com o cânhamo, também pode levar a uma legislação restritiva em torno da indústria recém-legali-zada.

Ácido Tetrahidrocanabi-nólico (THC-A)

O THC-A, o precursor ligei-ramente psicoativo do Delta-9 THC na cannabis não descar-boxilada, tornou-se cada vez mais popular em vários esta-dos para fins medicinais. Isso se deve em parte às habilida-des percebidas de bem-estar do composto, com evidências informais mostrando que ele é eficaz no tratamento de náu-seas, espasmos musculares e convulsões. Quando aquecido, o canabinoide é convertido em delta-9-THC.

contrário de seu primo THC, que tende a aumentar o ape-tite), o THC-V – abreviação de tetrahidrocanabivarina – tam-bém pode reduzir alguns dos efeitos colaterais potenciais do THC. O canabinoide também demonstrou ter propriedades analgésicas e anti-inflamatórias.

Ele tem propriedades seme-lhantes ao THC, com duas di-ferenças principais: não deixa o consumidor com a sensação de euforia, um dos principais sintomas do uso do THC, e su-prime o apetite, de acordo a pesquisa Δ9-Tetrahydrocanna-bivarin (THCV): a commentary on potential therapeutic benefit for the management of obesity and diabetes, publicada, em 2020, no Journal of Cannabis Research. Como seu valor farmacêutico é indiscutivelmente maior do que sua contraparte inebrian-te, especialmente quando é usada para aumentar a sacie-dade e o metabolismo do pa-ciente, torna-se um “remédio útil para perda de peso e con-trole de obesidade e pacientes com diabetes tipo 2”, de acor-do com o estudo.

Canabinol (CBN)

CBN é um canabinoide emer-gente em termos de comer-cialização. Muitas empresas já estão competindo para vender suplementos de CBN aos con-sumidores, muitas vezes co-mercializados como soníferos. Essa reputação deriva em parte

Foto: Kinzy Naney/Unsplash

Delta-8-tetra-hidrocana-binol (Delta-8-THC)

Embora o delta-9-tetra-hi-drocanabinol psicoativo (tam-bém conhecido como THC) e sua contraparte não psicoativa derivada do cânhamo (CBD) possam ser as forças domi-nantes no mercado legal de cannabis, bem como o mais proeminente dentro da própria planta, outros canabinoides já entraram no centro das atenções.

Tetrahidrocanabivarina (THC-V)

Conhecido melhor como um supressor de apetite (ao

negativa e demonizada por gru-pos conservadores. Ele afirma que é preciso que se continue trabalhando para que aqueles que se opõem ao THC vejam que o uso adulto não possui relação com o uso do compos-to para fins medicinais, que visa beneficiar milhões de pacientes.

Segundo os estudos vêm mostrando há anos,

existem evidências que, se usado corretamente,

o THC tem muitos benefícios terapêuticos

Formado a partir do THC, o CBN apresenta grande potencial de

mercado, sendo oferecido comumente como

suplemento sonífero

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)24 25 sechat.com.br

tem efeitos diferentes. Atual-mente está sendo pesquisa-do como um tratamento para uma longa lista de condições, como demência, PTSD (Trans-torno do Estresse Pós-Trau-mático), TDAH (Transtorno do déficit de atenção e hiperati-vidade), doença de Parkinson, diabetes, colite e, claro, dor.

Canabicromeno (CBC)

Encontrado na cannabis, o CBC difere da maioria dos canabinoides porque tem uma baixa afinidade para os receptores canabinoides. Em vez disso, o CBC se liga aos receptores TRPV envol-vidos na detecção de mu-danças de temperatura e outras sensações em nível celular.

Pharmacology and Experimental Therapeutics publicou o estudo Antitumor Activity of Plant Can-nabinoids with Emphasis on the Effect of Cannabidiol on Human Breast Carcinoma, examinando os efeitos dos canabinoides nas células cancerosas in vi-tro. Embora o CBD tenha sido considerado o inibidor mais potente do crescimento das células cancerosas, ele foi se-guido pelo CBG e pelo CBC.O estudo Antidepressant-like effect of delta9-tetrahydrocan-nabinol and other cannabinoids isolated from Cannabis sativa L, realizado em 2010 pela Univer-sity of Mississippi, avaliou os efeitos do THC, CBD, CBC, CBG e CBN em um modelo animal de depressão. Usando uma variedade de doses, os pes-quisadores concluíram que os canabinoides exercem ações semelhantes às dos antide-pressivos.

Efeito entourage

Muito se fala sobre os dois ca-nabinoides principais provenien-tes da cannabis: o THC e o CBD. Entretanto, a planta da cannabis conta com centenas de compo-nentes benéficos à saúde, como terpenos, polifenóis, flavonoides, entre outros. Em 1998, o estudo “Um efeito de entourage: éste-res de glicerol de ácidos graxos endógenos inativos aumentam a atividade canabinoide de 2-ara-quidonoil-glicerol”, de Raphael Mechoulam, mostrou que, juntos, esses compostos podem forne-cer um efeito terapêutico ainda mais amplo no tratamento de uma série de doenças, conhecido como “efeito entourage” ou “efei-to comitiva”.

Por mais que o funcionamento

do efeito entourage ainda te-nha sido pouco estudado, a junção dos compostos tam-bém pode proporcionar uma alteração em sua atuação no corpo humano. Segundo o estudo Synergy research: appro-aching a new generation of phy-topharmaceuticals, de 2009, quando o THC e o CBD são uti-lizados de forma isolada, mos-tram uma proporção de 50% dos seus efeitos máximos, po-rém, quando juntos, podem ser até 10 vezes mais potentes no tratamento de doenças. Além disso, o CBD tem o poder de regular os efeitos psicoativos do THC, reduzindo possíveis efeitos negativos.

O efeito entourage não acontece apenas entre os canabinoides - que, ao todo, são mais de 150 presentes na planta. Ele também acon-tece entre os canabinoides e os terpenos, podendo trazer combinações e efeitos incontáveis. Como mostrado no estudo Appraising the “entou-rage effect”: Antitumor action of a pure cannabinoid versus a bo-tanical drug preparation in pre-clinical models of breast cancer, realizado em 2018 pela Univer-sidade Complutense de Madri, na Espanha, o efeito entoura-ge pode promover resultados mais positivos no tratamento do câncer de mama do que a utilização do THC isolado.

Portanto, o efeito comitiva da cannabis medicinal pode ser extremamente vantajoso para os pacientes pelo fato de proporcionar um resultado mais efetivo, já que possibilita a combinação de doses menores do medicamento full spectrum - que contém vários canabinoi-des e componentes da planta-, o que, consequentemente,

contribui para que o paciente enfrente menos efeitos colate-rais.

Os diferentes usos da cannabis Uso medicinal

A Cannabis sativa - nome científico da maconha - é uma planta que se originou na Ásia Central e possui fácil adapta-ção em relação ao clima, alti-tude e solo, mesmo que a con-versação de suas substâncias psicoativas possa variar de-pendendo de como seu cultivo é realizado.

Foto: Crystal Weed/Unsplash

de como o CBN é formado por meio da degradação do THC.

Em 2020, pesquisadores da Universidade de Utah, nos Es-tados Unidos, sem dúvida regis-traram a descoberta mais im-portante para os consumidores de CBN. Eles concluíram que a ingestão de grandes doses de CBN pode fazer com que apre-sentem resultados positivos em um teste de detecção de metabólitos do THC. Isso signifi-ca que o uso do produto ainda pode fazer com que os usuários não passem em um teste de dro-gas. Os pesquisadores concluí-ram que pode haver “a necessi-dade de testes de confirmação quando os resultados dos tes-tes de metabólitos do THC por imunoensaio são inconsis-tentes com as expectativas”.

Canabigerol (CBG)

O CBG (canabigerol) é de longe um dos canabinoides mais importantes na planta de cannabis. O canabigerol é encontrado em grande quan-tidade e, conforme a planta cresce, ele se transforma em outros canabinoides como em THC. Por isso, muitas vezes é chamado de “o pai de todos os canabinoides” e tem po-tencial como tratamento para diversas doenças, embora fal-tem estudos em humanos. As-sim como o CBD, o CBG não é considerado intoxicante e não causará efeitos psicoativos.

Muitos dos efeitos mais po-pulares e conhecidos do THC e do CBD são derivados de sua interação com o sistema endocanabinoide. O CBG, en-tretanto, atua principalmente por meio de outros mecanis-mos, o que explica porque

Raphael Mechoulam provou que, juntos, os

compostos da cannabis podem fornecer um efeito

terapêutico ainda mais amplo em tratamentos

O canabicromeno apre-senta excelente sinergia com outros canabinoides, mas, apesar de ser um com-posto importante dentro da estrutura biológica da Cannabis sativa, ainda é pro-duzido apenas em peque-nas quantidades. Por conta disso, a maioria dos estudos envolvendo o CBC também apresenta outros canabinoi-des proeminentes. A pesqui-sa independente sobre o CBC é limitada, com apenas estu-dos em animais e in vitro.

Em 2006, o Journal of

Uma das principais subs-tâncias químicas da cannabis é o THC, sendo um dos res-ponsáveis pelos efeitos psi-coativos da planta, mas que também pode trazer uma sé-rie de benefícios à saúde. Ou-tro canabinoide majoritário é o canabidiol (CBD), que não possui efeito alucinógeno, con-tando com muitos benefícios terapêuticos.

Com a evolução de pesqui-sas que envolvem a cannabis - principalmente e países em que a planta é legal, como Ca-nadá e Israel - comprovou-se que possui propriedade anal-gésica, antiespasmódica, anti--inflamatória eanticonvulsivan-te, além de apresentar ações

No Brasil, o professor e pesquisador Elisaldo Carlini e equipe

fizeram descobertas relevantes no uso da cannabis para tratar epilepsia

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)26 27 sechat.com.br

imunomodulatórias, sendo efi-caz contra doenças autoimu-nes.

A partir da década de 1960, impulsionada pelos estudos pioneiros do Dr. Mechoulam, a cannabis recebeu maior aten-ção dos estudiosos das mais diversas áreas, como químicos, botânicos, farmacologia, en-tre outros. No Brasil, Dr. Car-lini foi, junto com sua equipe, responsável por realizar na década de 1980 o primeiro estudo duplo-cego – um méto-do de ensaio clínico realizado em seres humanos onde nem o examinado nem o exami-nador sabem o que está sen-do utilizado como variável em um dado momento – e rando-mizado do mundo usando a Cannabis medicinal para trat ar epilepsia em humanos.

Diferente de muitas outras drogas, como o crack ou a cocaína, não há prova científi-ca de morte por overdose de cannabis. Quando se trata do uso medicinal da cannabis e da luta pela sua legalização, me-lhoria do acesso e mudança de pensamentos, os defensores muitas vezes podem se depa-rar com mitos, equívocos e es-tereótipos. Portanto, segundo a Dra. Melani Kane, fundadora da The International Society of Cannabis Pharmacists, é impor-tante ter de forma clara que nenhuma pessoa já morreu por conta do uso da maconha – e as pessoas a usam há mi-lhares de anos. Por isso, em quase qualquer dose ou quan-tidade imaginável, a cannabis simplesmente não tem poten-cial para excesso mortal.

No Brasil, o canabidiol (CBD), composto que é pro-duzido a partir da planta da cannabis, deixou de ser uma substância proibida em 2015

Além do PL 399/2015, outros projetos tramitam na Câmara, no Senado e nas Assembleias Legislativas. No Senado trami-ta desde 2019 o projeto de lei 5.295, proposto pela Comissão de Direitos Humanos e Legis-lação Participativa. Ainda sem relator, o projeto propõe regu-lamentação semelhante ao PL

399/2015, estabelecendo regra-mento de vigilância sanitária à produção, a distribuição, o trans-porte, a comercialização e a dis-pensação de cannabis medicinal e dos produtos e medicamentos que utilizam a planta como ma-téria-prima, além de tratar da regulamentação da produção da cannabis medicinal e do cultivo do cânhamo industrial.

A cannabis desempenha um papel fundamental como auxílio médico no tratamento e alívio de diversas doenças. Por-tanto, seu acesso mais amplo e facilitado é essencial, tendo em vista que poderá, além de pro-mover qualidade de vida à milha-res de famílias, resultar em um avanço na economia brasileira e levar o Brasil a um patamar ele-vado frente ao crescente merca-do mundial da cannabis.

É necessário que haja dis-seminação de informações, sempre baseadas em evidên-cias científicas, para que sejam claros os benefícios cada vez mais conhecidos da cannabis. Como já comprovado, o uso dos canabinoides da planta (sendo o CBD e THC os grandes focos dos pesquisadores) podem trazer uma série de benefícios à saúde, mas devem ser utilizados sem-pre com a indicação de um mé-dico qualificado para prescrever medicamentos à base da planta.

Uso adulto

O uso da cannabis passou por várias etapas e transformações ao longo do tempo. O uso medi-cinal da substância, por exemplo, vem se intensificando e remon-ta a muitos séculos. Atualmen-te, a cannabis é a droga ilegal mais produzida e consumida no mundo, com 182,5 milhões de usuários (3,8% da popula-ção mundial), segundo dados

divulgados em 2019 pela Orga-nização Mundial da Saúde, de 2019. África, América do Norte e Oceania são os continentes com maiores taxas de uso adulto da cannabis.

No Brasil, onde o uso adulto é totalmente proibido, a cannabis é a substância ilícita com o maior número de usuários, conforme o Levantamento Nacional de Álco-ol e Drogas, realizado pelo INPAD (Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Dro-gas), da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), em 2019. Do total da população adulta, 7% alega já ter experimentado ma-conha, correspondendo a 8 mi-lhões de brasileiros.

vêm legalizando o uso adulto da planta, já que cada um deles possui uma legislação própria. Até abril de 2021, 17 dos 50 estados (mais Washington DC) optaram pela legalização do uso adulto da cannabis.

Um marco histórico para o segmento da cannabis de

uso adulto nos EUA aconteceu em março de 2021, em Nova Iorque. Após três anos discu-

tindo a legalização da planta, os legisladores aprovaram um mercado de uso adulto que deve se tornar um dos maio-res do país, com receitas proje-tadas de quase 2,5 bilhões de dólares até o quarto ano após a legalização, segundo levanta-mento do Marijuana Business Daily.

Com a onda de legalização do uso adulto da cannabis

Local destinado ao uso adulto da cannabis

e, hoje, sua comercialização é controlada pela Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda que, no geral, o uso da cannabis não seja legalizado, muitos pacientes recorrem à Justiça para terem seus medicamentos custeados ou para que tenham o direi-to de plantar a cannabis em casa, para que possam produ-zir seu próprio medicamento.

No início de junho de 2021, o principal projeto de lei que tramitava na Câmara dos Depu-tados sobre o tema cannabis, o PL 399/2015, foi aprovado. O objetivo do PL é regulamentar o cultivo, processamento, pes-quisa, produção e comerciali-zação de produtos à base de cannabis para fins medicinais, industriais e de pesquisa, apre-sentado originalmente pelo deputado Fábio Mitidieri (PSD--SE). Caso o projeto seja apro-vado no Senado e vire lei, o cultivo de cannabis por pessoa física continua proibido, sendo permitido, por exemplo, para universidades, associações de pacientes e indústria.

Foto: Martijn Baudoin/Unsplash

Segundo o INPAD, 7% da população adulta do país

alega já ter experimentado maconha, o que

corresponde a cerca de 8 milhões de pessoas

Em alguns países onde a cannabis medicinal é legalizada, boa parte da população defen-de, também, o consumo adulto, argumentando que, caso fosse um produto legal e controlado pelo estado, a qualidade con-sequentemente aumentaria - a planta seria mais limpa e pura - e os malefícios seriam reduzidos. Na Europa, por exemplo, há pa-íses onde a lei é bastante libe-ral em relação ao uso adulto da cannabis. A cidade de Amsterdã, na Holanda, é conhecida mun-dialmente pelas lojas - chamadas coffee shops - que vendem cannabis como qualquer outro produto, incluindo comestíveis e bebidas.

Já nos Estados Unidos, um número crescente de estados

Mesmo tendo sido aprovado no início

de junho de 2021 em Comissão da Câmara, o PL 399/2015 terá que vencer muitas etapas até virar lei

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)28 29 sechat.com.br

nos EUA, pesquisas sobre os efeitos na criminalidade dos estados com cannabis le-gal passaram a ser ainda mais desenvolvidas. Segundo o es-tudo Does Legalizing Marijuana Reduce Crime?, publicado pela Reason Foundation em 2018, a legalização da planta para uso adulto tende a aliviar a carga colocada sobre tribunais, au-toridades policiais e prisões, permitindo maior enfoque no crime violento não relacionado à cannabis. Além disso, a pes-quisa também aponta que a legalização diminuiu o uso de cannabis entre indivíduos me-nores de 18 anos, estimulou a economia e aumentou a recei-ta tributária dos estados com cannabis legal.

Uso veterinário

À medida que mais pessoas têm acesso à cannabis legal, com o uso medicinal sendo re-gulamentado em uma série de países, a questão de adotá-la no tratamento de animais de estimação se tornou um assun-to cada vez mais falado.

Perception Regarding the Use of Cannabidiol for Canine Medical Conditions, realizado pela Colorado State University, em conjunto com a North Ca-rolina State University e a Vete-rinary Information Network, da Califórnia, publicado em 2018 na Frontiers in Veterinary Scien-ce, vários veterinários compar-tilharam suas opiniões sobre o CBD. Quando questionados sobre quais doenças eles po-tencialmente tratariam com produtos de CBD, as respos-tas mais comuns foram para o controle da dor, alívio da ansiedade e das convulsões. E quando os veterinários fo-ram questionados sobre os benefícios potenciais do CBD para o tratamento de vários problemas de saúde, eles re-lataram testemunhar, em pri-meira mão ou por meio de relatórios do tutor do animal de estimação, que o CBD era o mais útil para o tratamento da dor crônica e aguda, ansieda-de e redução da frequência de convulsões gravidade.

Em relação aos efeitos co-laterais que a cannabis medi-cinal pode apresentar no uso veterinário, é necessário des-tacar a importância de a pres-crição acontecer através de profissional qualificado. Nor-malmente, quando o efeito colateral acontece, ele se dá a partir de alguma hipersensibi-lidade do animal, ou quando a dosagem e/ou concentração não estão de acordo com a adaptação do animal.

Em fevereiro de 2021 foi protocolada na Câmara dos Deputados uma proposta de projeto de lei, o PL 369/2021. Ele prevê a regulamentação do uso medicinal da cannabis

para tratamentos veterinários. De autoria do deputado João Carlos Bacelar (Pode-BA), a proposta cita uma série de be-nefícios comprovados do prin-cipal canabinoide da planta, o CBD (Canabidiol), como ação anti-inflamatória, anticonvulsi-vante, antidepressiva, e outros.

Entretanto, sem a devida regulamentação, veteriná-rios pelo Brasil têm orienta-do tutores de animais a usa-rem medicamentos à base de Cannabis em casos de pato-logias como epilepsia, câncer, inflamações, artrite, dores crôni-cas e também em fase terminal. Porém, a indicação é feita sem uma lei que proíba, que autori-ze ou que regulamente o uso da cannabis medicinal nesses casos.

Já estão acontecendo no Brasil cursos voltados aos médi-cos veterinários que visam en-sinar e informar sobre o uso da cannabis medicinal em animais.

No início de 2021, foi lançado o primeiro curso de canabino-logia na Medicina Veterinária do Brasil, através da empresa Dr. PetCannabis, com o objeti-vo de formar médicos veteriná-rios prescritores de cannabis medicinal.

Uso religioso

Os usos de cannabis para finalidades religiosas são prá-ticas muito antigas, datadas de vários séculos. Desde tempos remotos, o homem passou a incorporar substâncias alu-cinógenas em rituais, tendo como objetivo alcançar a co-nexão com o divino, com a na-tureza e com forças sobrena-turais. Dentre os enteógenos mais usados por povos anti-gos, está a Cannabis sativa L.

O uso mais antigo da cannabis para rituais reli-giosos foi localizado na pro-víncia chinesa de Xinjiang, como afirma um estudo pu-blicado na revista Science Ad-vances em 2019. Segundo a pesquisa, foi encontrada em túmulos antigos e pedras a substância CBN (canabinol), que provém do THC, princi-pal propriedade psicoativa da cannabis, quando enve-lhecido ou em contato com o ar. Além daChina, o Japão e a Índia também fazem usos mi-lenares da cannabis em rituais religiosos.

Portanto, desde os assí-rios aos astecas, diferentes povos e religiões fizeram - e ainda fazem - o uso sagrado

da cannabis para se conecta-rem com o divino. Além disso, na África, o cachimbo feito de cânhamo simbolizava a paz, tendo o mesmo significado para os índios americanos, ainda que do outro lado do oceano.

Construção civil

O setor da construção é um dos maiores responsáveis pe-los impactos ambientais. Por isso, torna-se necessário que mudanças nas práticas sejam feitas a fim de tornar tal setor mais favorável ao meio am-biente.

A partir dessa necessidade de transformação, mais empre-sas estão investindo no cânha-mo, variação da Cannabis sativa com nenhum - ou quase ne-nhum - teor de THC. Conforme sugerem as evidências, as fi-bras do cânhamo são capazes de criar um concreto tão efeti-vo quanto tradicional, com es-tudos apontando que ele pode ser ainda mais resistente.

O material feito de cânhamo pode proporcionar isolamento

Marcha da Maconha. (Foto: Lucas Tavares)Foto: Ralu Gal/Unsplash

Como consequência, muitas pesquisas focadas em animais foram desenvolvidas recente-mente. Publicações da Colora-do State University (CSU) e da Cornell University, nos Esta-dos Unidos, documentaram a farmacocinética do CBD em cães. O estudo relatou que o CBD administrado por via oral é absorvido de forma mais eficaz e é mais tolerável do que o CBD administrado por via transdérmica (aplicado na superfície da pele). O estudo também descobriu que o CBD administrado por via oral foi bem tolerado, sugerindo su-porte do perfil de segurança.

Em um outro estudo duplo--cego publicado em 2018 e conduzido pela neurologista Stephanie McGrath da CSU, o objetivo era determinar a ca-pacidade do CBD de ajudar a tratar convulsões e epilepsia em cães. Como resultado, 89% dos cães do estudo que rece-beram CBD experimentaram uma redução na frequência de convulsões.

No estudo US Veterinarians’ Knowledge, Experience, and

Dos assírios aos astecas, diferentes povos e

religiões fizeram - e ainda fazem - o uso sagrado da cannabis para se

conectarem com o divino

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)30 31 sechat.com.br

Para cumprir com esta missão, a

1Pure CBD, marca pioneira de

canabidiol no mundo e presente

no Brasil desde 2016, oferece

produtos com o mais elevado

grau de pureza e qualidade,

proporcionando melhora na

qualidade de vida de milhares de

pacientes.

Acreditamos que todas as pessoastêm direito a mais qualidade de vida!

de aço e concreto armado de 26,5 metros de altura. O complexo em Puglia foi pensa-do como modelo para edifícios de alto desempenho e baixo consumo de energia.

Indústria têxtilO cânhamo pode ser utiliza-

do nos mais diversos setores, como na fabricação de papéis, plástico biodegradável, cons-truções civis, e muitos outros, sendo uma opção mais sus-tentável e menos prejudicial ao meio ambiente, assunto que vem sendo tratado na maioria das grandes empresas e na sociedade em geral. Um se-tor que atualmente está se beneficiando do cânhamo é a indústria têxtil.

Em comparação com ou-tros tecidos utilizados nesta indústria, como o algodão, o cânhamo pode reduzir os cus-tos da fabricação dos produ-tos, pelo fato da plantação de cânhamo exigir pouco ou ne-nhum uso de inseticida, ne-cessitar de um terço da água que o plantio do algodão ne-cessita e, além disso, um acre de cânhamo pode produzir duas a três vezes mais fibra do que um acre de algodão, segun-do a plataforma Fashion Network. O uso do cânhamo nas roupas pode aumentar a resistência e durabilidade do produto.

Em meio a nova onda do câ-nhamo, marcas globais passa-ram a experimentar esse tipo de produção, como Nike e Le-vi’s, além da marca iraelense SLOW e, até mesmo, a marca brasileira Ginger, da atriz Ma-rina Ruy Barbosa, que usa o cânhamo em suas camisetas, bodies e regatas.

térmico e impermeável, ao mesmo tempo que é respirá-vel. Além disso, demanda pou-ca água, não exigindo, assim, irrigação artificial, sendo ainda mais positivo ao meio ambien-te.

Após colhidas as plantas, elas são secas por alguns dias. A partir daí, as fibras podem servir para a produção dos mais diversos materiais, como tecidos, papel, embalagens biodegradáveis e, neste caso, materiais de construção. Os materiais podem ser utilizados nas mais diversas construções, como em paredes de casas ou, até mesmo em edifícios.

Misturando calcário em pó e água ao cânhamo, obtém-se uma pasta que, através de re-ações químicas entre os com-ponentes, endurece e trans-forma-se em um bloco muito resistente. Além disso, ele é moldado em estruturas de ma-deira de forma semelhante ao concreto e oferece isolamento térmico e um bom acabamen-to final.

O uso do cânhamo para construção civil também re-monta a séculos. Pesquisado-res descobriram uma arga-massa feita de cânhamo em pilares de pontes construídas

Nike Air Zoom Type ‘Hemp. (Foto: Reprodução Sechat)

no século VI, onde atualmente é a França. Além disso, estudos indicam que os romanos utili-zavam fibras de cânhamo para reforçar suas construções.

Em 2020, as casas de cânha-mo tomaram espaço na indús-tria do cânhamo. Elas foram construídas no condado rural de Longford, Irlanda, na cidade de Haifa, em Israel e Cambrid-geshire, na Inglaterra.

Em Puglia, no sul da Itália, o cânhamo para construções mais ecologicamente corretas também é utilizado. O pro-jeto “Casas no Verde” conta com um edifício de 24 unida-des em construção e nasceu de um consórcio de empre-sas com interesse nesse seg-mento do cânhamo - entre elas a empresa de engenharia italiana Pedone Working srl.

Os materiais de cânhamo são suportados pela estrutura

O cânhamo está sendo cada vez mais utilizado

na indústria têxtil, podendo reduzir custos de produção além de ser

mais sustentável

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32 33GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021) sechat.com.br

A RELAÇÃO DA CANNABIS COM O NOSSO CORPO

CAPÍTULO 3

Raphael Mechoulam, conhe-cido como “o pai da cannabis”, foi o responsável por estudar a existência do sistema endoca-nabinoide (SEC) no corpo hu-mano desde 1960, sendo elu-cidado na década de 90.

O sistema endocanabinoi-de consiste em uma organiza-ção complexa responsável por manter em equilíbrio todos os outros sistemas do corpo - como o digestivo e o imuno-lógico - e que conversa direta-mente com os canabinoides da planta, por isso seu nome em homenagem à cannabis.

Basicamente, esse sistema ajuda a regular e harmonizar uma série de funções básicas do corpo (processo chamado de homeostase), como percep-ção da dor, ansiedade, memória, aprendizado, apetite, tempera-tura corporal, função reproduti-va e até mesmo frequência car-díaca e pressão arterial.

O sistema endocanabinoi-de está presente em órgãos, membranas celulares, glândulas e células do sistema imunológi-co, sempre com o objetivo de manter o equilíbrio do corpo e o funcionamento e regulação dascélulas de forma adequada.

Enquanto nosso corpo cria seus próprios “canabinoides” que interagem e ativam o sis-tema endocanabinoide, o mes-mo acontece com a planta da cannabis. O sistema endocana-binoide é, sobretudo, a razão pela qual a cannabis é capaz de tratar tantos sintomas e do-enças, já que a fisiologia huma-na já tem a infraestrutura e o conhecimento de como fazer a cannabis funcionar.

Foto: Fakurian Design/Unsplash

O sistema endocanabinoide mantém o equilíbrio do

corpo e o funcionamento e a regulação das células,

permitindo que a cannabis atue

Existem dois receptores principais do SEC - não são os únicos, mas os primeiros a serem descobertos e os mais estudados - conhecidos como CB1 e CB2, responsáveis por transmitir informações, avisando as células sobre as mudanças de condições, para que haja uma resposta celular apropriada.

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)34 35 sechat.com.br

O CB1 funciona como o ca-nal pelo qual o THC chega às células, sendo, assim, respon-sável pela maior parte dos efei-tos psicotrópicos, além de ser o receptor encontrado em maior abundância no Sistema Nervo-so Central. Já os receptores CB2 estão mais associados à res-posta imune, além de estarem presentes na micróglia (tipo de célula do sistema nervoso central que tem função similar à dos glóbulos brancos). Ainda assim, os receptores CB2 estão presentes majoritariamente no sistema imunológico.

Ainda no início da década de 1990, Mechoulam desco-briu dois agonistas endógenos (substância capaz de se ligar a um receptor celular e ativá-lo para provocar uma resposta biológica) dos receptores cana-binoides, denominados endo-canabinoides: a N-araquidonoil etanolamina (Anandamida) e a 2-araquidonoilglicero (2-AG), que são, basicamente, peque-nas moléculas responsáveis por ativar o CB1 e o CB2.

O 2-AG apresenta alta sele-tividade e desempenha ação agonista total para os recepto-res CB1 e CB2. Já a anandamida é apenas agonista parcial para

deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.

A doença instala-se quando certas proteínas do sistema nervoso central param de ser processadas devidamente, sur-gindo, então, fragmentos de pro-teínas mal cortadas, tóxicas, den-tro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles.

Como consequência dessa toxicidade, ocorre perda pro-gressiva de neurônios em cer-tas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o raciocínio, memória, reconhe-cimento de estímulos senso-riais e pensamento abstrato.

Em 2016, pesquisadores do Salk Institute, na Califórnia (EUA), encontraram evidências preliminares de que o tetrahi-drocanabinol (THC) e outros fitocanabinoides encontrados na cannabis têm potencial para remover a beta-amiloide, proteína que forma as “pla-cas” no cérebro responsáveis pelo Mal de Alzheimer. Os testes foram conduzidos em

motores; Deficits de Autonomia; Deficits de Comunicação e In-teração Social; Deficits cog-nitivos; Distúrbios do Sono e Convulsões, com efeitos ad-versos muito raros e leves.

Câncer

Segundo o Instituto Nacio-nal do Câncer (Inca), o câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos.

Médicas da Santa Casa de São Paulo (Case Report: Clinical Out-come and Image Response of Two Patients With Secondary High-Gra-de Glioma Treated With Chemora-diation, PCV, and Cannabidiol), pu-blicado no periódico Frontiers in Oncology, mostrou que o uso de substâncias que provêm da can-nabis podem ajudar em alguns sintomas do câncer.

O estudo foi realizado em dois pacientes que sofriam os efeitos dos tratamentos convencionais de radio e quimioterapia e pos-suíam tumores malignos de difí-cil controle.

Um dos pacientes teve re-missão quase completa, isto é, quando quase não há sinais de atividade da doença. Já o outro paciente apresentou uma pseu-doprogressão, o que indica o bom funcionamento do trata-mento.

Dor crônica

Aproximadamente 30% da população mundial sente do-res de forma crônica, segundo estimativas da Associação In-ternacional para o Estudo da Dor (IASP em inglês).

A dor aguda é aquela que surge repentinamente e tem duração limitada. Geralmen-te, alerta o indivíduo sobre alguma lesão ou disfunção no organismo, como contusões, cólicas intestinais e queima-duras na pele. Já a dor crônica passa a ser danosa e é reco-nhecida como sintoma crôni-co após três meses de sofri-mento, mesmo que as causas já tenham sido removidas ou tratadas.

Em julho de 2019, um grupo de cientistas da Universida-de de Guelph (Canadá) reali-zou um estudo para identifi-car as moléculas da cannabis que pudessem ajudar a com-bater a dor.

CérebroPulmões

Sistema VascularMúsculos

Trato gastrointestinalSistema imunológico

FígadoMedula óssea

Pâncreas

BaçoOssosPeleSistema ImunológicoFígado

neurônios cultivados em labo-ratório, mas fornecem pistas para o desenvolvimento de no-vas terapias contra a doença.

No ano seguinte, em 2017, a Anvisa autorizou pela primeira vez a prescrição de óleo enri-quecido com CBD para o tra-tamento de um paciente que sofre da doença de Alzheimer. Esta foi a primeira vez que o medicamento RSHO, produ-zido pela HempsMed, foi utili-zado para o tratamento do Al-zheimer no país.

Autismo

O Transtorno do Espectro Autista, também conhecido como autismo, ainda não tem sua etiologia conhecida. De acordo com o último Manu-al Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5, um guia de classificação diag-nóstica produzido pela Ame-rican Psychiatric Association, diversas condições foram fun-didas e passaram a receber um único diagnóstico como Trans-tornos do Espectro Autista, são elas: transtorno autista; trans-torno desintegrativo da infân-cia; transtorno generalizado do desenvolvimento não-especifi-cado (PDD-NOS); Síndrome de Asperger.

Segundo o estudo brasi-leiro Effects of CBD-Enriched Cannabis sativa Extract on Au-tism Spectrum Disorder Symp-toms: An Observational Study of 18 Participants Undergoing Compassionate Use, publicado em 2019 na Frontiers in Neurology, após 9 meses de tra-tamento, a maioria dos pacien-tes, incluindo epilépticos, mos-traram algum nível de melhora em mais de uma das oito cate-gorias de sintomas avaliadas: Transtorno de Deficit de Aten-ção/Hiperatividade; Transtor-nos Comportamentais; Deficits

Sistema Endocanabinoide (Imagem: Reprodução Sechat)

Há, também, as enzimas metabólicas, que possuem a função de “destruir” os en-docanabinoides após serem usados, garantindo que eles fi-quem em ação apenas duran-te o tempo necessário. Os en-docanabinoides, os receptores e as enzimas metabólicas - ou catalisadoras - constituem o sistema endocanabinoide.

Doenças e condições que podem ser tratadas com o uso da cannabis medicinal

Alzheimer

A Doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neuro-degenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela

Multiplicando-se rapidamen-te, estas células tendem a ser muito agressivas e incontrolá-veis, gerando a formação de tumores, que podem espalha-rem-se para outras regiões do corpo. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados car-cinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas.

Estudos realizados tanto com THC como CBD mostram que a principal função do uso do can-nabis na conduta terapêutica do paciente oncológico é para ajudar no manejo da dor, no controle de efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômitos, e para ajudar com a ansiedade e depressão que po-dem ser ocasionadas pelo trata-mento.

Em 2019, um estudo brasileiro conduzido pelo Hospital Sírio Li-banês e a Faculdade de Ciências

O câncer causa o crescimento

desordenado de células, que invadem tecidos e

órgãos e multiplicam-se rapidamente, podendo

atingir todo o corpoOs receptores CB2

estão mais associados à resposta imune, estando presentes

majoritariamente no sistema imunológico

tais receptores, apresentando baixa seletividade.

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No estudo publicado na re-vista Phytochemistry, os pesqui-sadores explicam como usaram uma combinação de genômica e bioquímica para descobrir como a planta produz can-flavina A e canflavina B, duas moléculas que são 30 vezes melhores para combater uma inflamação do que a aspirina.

Segundo o estudo brasileiro “Uso de canabinoides na dor crônica e em cuidados paliati-vos”, realizado por pesquisa-dores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pu-blicado na Revista Brasileira de Anestesiologia em 2008, o THC puro e seus análogos apre-sentam aplicabilidade clínica, demonstrando benefícios. O desenvolvimento das substân-cias sintéticas puras, buscando a atenuação de efeitos psicoa-tivos indesejáveis aponta para perspectivas favoráveis à sua utilização no futuro.

Em 2018, a pesquisa Canna-bis for Chronic Pain: Challenges and Considerations, publica-da no Journal of the American College of Clinical Pharmacy, concluiu que a cannabis é eficaz no tratamento da dor crônica e tem potencial para reduzir o consumo de opioides.

Além disso, o estudo apontou que os pacientes analisados encontraram alívio da dor atra-vés da inalação predominante de THC.

Entretanto, por mais que seja comprovado que os canabinoi-des tratam a dor, o maior efei-to é o aumento da qualidade de vida, uma vez que eles pro-vocam dissociação entre dor e sofrimento. Por isso, mesmo quando não são encontradas reduções acentuadas nos ní-veis de dor, encontra-se uma melhora expressiva na qualida-de de vida.

Epilepsias ecrises convulsivas

A crise convulsiva é uma al-teração do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Duran-te alguns segundos ou minutos do estado epilético, parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a de-terminado local ou se espalhar. Se ficarem restritos, a crise será chamada de parcial. Contudo, será considerada generalizada se envolver os dois hemisférios cerebrais.

Existem diversas evidências a respeito do potencial terapêutico dos dois compostos majoritá-rios presentes nas plantas do gênero Cannabis – CBD e THC – especialmente em relação à sua relevância clínica no trata-mento da epilepsia. Entretanto, o THC pode ser epileptogênico (isto é, gerar crises) dependen-do da dose utilizada e, por isso, não é indicado em todas as cri-ses, diferente do CBD.

Extratos padronizados com alto teor de canabidiol têm se mostrado eficazes na redução da frequência e da gravidade das convulsões, particularmen-te em crianças com tipos raros de epilepsia que são refratárias (sem resposta) aos fármacos convencionais. Essas evidên-cias têm motivado a regula-mentação do uso clínico de ex-tratos padronizados contendo canabidiol para tratamento de casos graves de epilepsia no Brasil.

Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica, crônica e autoimune, sendo a maior causa não traumática de invalidez motora em jovens.

Significa que as células de de-fesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso cen-tral, provocando lesões cere-brais e medulares.

muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora, dores articulares e disfunção intesti-nal e da bexiga. A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem) estimou, em 2021, que existem 40.000 pessoas aco-metidas com a Esclerose Múl-tipla no Brasil e 2,6 milhões em todo o mundo.

Estudos mostram que o uso de derivados da Cannabis sa-tiva, tais como o CBD e o THC podem ser aliados no trata-mento da EM, tendo em vista seus efeitos sobre o sistema nervoso dos pacientes avalia-dos: decréscimo da liberação de citocinas inflamatórias, di-minuição da apoptose celular, da espasticidade muscular e da dor neuropática.

Fibromialgia

Fibromialgia é uma síndrome de causas ainda desconheci-das e que provoca dores for-tes por todo o corpo durante muito tempo ou sensibilidade nas articulações, nos múscu-los e nos tendões. Isso acon-tece devido uma alteração da interpretação dos estímu-los recebidos pelo cérebro e também pelos receptores

Foto: Jeremy Bishop/Unsplash

Existem diversas evidências sobre o

potencial terapêutico do CBD e do THC,

compostos presentes majoritariamente na

cannabisSuspeita-se que as causas da Esclerose Múltipla sejam os

fatores genéticos ou, até mesmo, a infecção por determinado vírus

Em crises de ausência - um tipo de crise generalizada - a pessoa aparenta estar “des-ligada” por alguns instantes, podendo retomar o que es-tava fazendo em seguida. Já em crises parciais simples, o paciente experimenta sensa-ções estranhas, como distor-ções de percepção ou movi-mentos descontrolados de uma parte do corpo. Também pode ocasionar sintomas não motores, como um sentimen-to de medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira di-ferente. Se, após esses fato-res, a pessoa perder a cons-ciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória.

A causa específica da doen-ça ainda é desconhecida - em-bora suspeita-se que fatores genéticos e, até mesmo, a in-fecção de um vírus possam de-senvolver a doença - mas, ain-da assim, a EM tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que têm possibilitado uma constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes. Os pacientes são geralmente jovens, em especial mulheres de 20 a 40 anos.

A Esclerose Múltipla não tem cura e pode se manifes-tar por diversos sintomas, como por exemplo: fadiga in-tensa, depressão, fraqueza

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Foto: Freestock/Unsplash

cutâneos. Os principais sinto-mas são: dores generalizadas, espalhadas pelo corpo e arti-culações, fadiga e cansaço, in-sônia e problemas cognitivos e alteração da memória.

Pesquisadores israelenses associaram o uso da cannabis com redução nas dores cor-porais e em maiores intervalos em que estas se apresentam. A análise foi realizada com dados de dois centros médicos de Israel especializados no trata-mento da fibromialgia. Os re-sultados foram publicados em agosto de 2018 no Journal of Clinical Rheumatology.

A pesquisa contou com 26 pacientes de idade média 37,8 anos diagnosticados com fibro-mialgia há pelo menos 2 anos. Destes, 73% eram mulheres. O grupo respondeu a questio-nários sobre a doença antes e depois do tratamento com Cannabis medicinal, que durou por volta de 11 meses. Cada paciente consumiu uma dose média de 8.3 g por mês.

Ao final da pesquisa, 100% dos pacientes relataram melhora nos sintomas da fibromialgia em to-dos os quesitos que constavam no questionário, principalmen-te no que se referia à dor. Pelo

membros superiores e geral-mente predominantes em um lado do corpo quando compa-rado com o outro e, finalmen-te, o desequilíbrio. Entretanto, antes dos sintomas motores, ocorrem os sintomas não-mo-tores, como a diminuição do olfato e alterações intestinais e do sono, por exemplo.

menos 50% dos participantes reportaram ter parado de to-mar a medicação tradicional após o consumo da cannabis. Em relação aos efeitos adver-sos, 30% sentiu leves efeitos colaterais como dores de ca-beça, náuseas, boca seca, so-nolência e fome excessiva.

Parkinson

O Mal de Parkinson é uma doença degenerativa do sis-tema nervoso central, crônica e progressiva, sendo causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, um neurotransmissor que ajuda na comunicação de mensa-gens entre as células nervosas.

Ao longo do envelhecimen-to, os indivíduos classificados como saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopa-mina. Por outro lado, algumas pessoas perdem essas células num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença que são: lentidão motora, rigidez entre as articulações do pu-nho, cotovelo, ombro, coxa e tornozelo, os tremores de repouso notadamente nos

Entre os sintomas de Parkinson estão lentidão

motora, rigidez entre as articulações e os

tremores pelo corpo

No geral, 54% dos autorrelatados usuários de cannabis medicinal declararam um benefício clíni-co resultado do uso da planta. Isso foi, em média, maior em usuários mais frequentes (79%) do que em usuários ocasionais (67%), ou naqueles que utiliza-ram a cannabis apenas uma vez (25%).

Além disso, mais da metade dos que usaram cannabis rela-taram que ela era mais eficaz do que a Levodopa (medicamento para Parkinson) e os agonistas da dopamina na melhora dos sintomas associados à doen-ça. Outros 23% consideraram a cannabis medicinal tão eficaz quanto os tratamentos tradicio-nais.

Doenças autoimunes

Doenças autoimunes são doenças que atacam o sistema imunológico, fazendo com que passe a produzir anticorpos contra componentes do pró-prio organismo. A partir daí, o corpo confunde suas próprias proteínas com agentes invaso-res, passando a atacá-las.

A gravidade das doenças autoimunes depende do ór-gão que está sendo atacado.

Quando o sistema imunológi-co age contra órgãos nobres e vitais, como coração, pulmão, sistema nervoso central e va-sos sanguíneos, os efeitos da doença podem ser devastadores.

De acordo com os pesqui-sadores do estudo Immune Responses Regulated by Can-nabidiol, de 2020, realizado na Mississippi State University (EUA), “considerando todos os estudos realizados sobre as respostas imunológicas e infla-mação, os dados demonstram de forma esmagadora que o CBD é imunossupressor e an-ti-inflamatório.”

Portanto, como um poten-cial imunomodulatório, o CBD pode reduzir as respostas infla-matórias do sistema imunológi-co, promover apoptose (morte celular) e prevenir o rápido cres-cimento das células, podendo ajudar o corpo a lidar com sis-temas imunológicos hiperativos que atacam a si próprios.

Depressão

Depressão é uma doença psiquiátrica crônica que pro-duz uma alteração do humor caracterizada por uma tris-teza profunda, associada a

sentimentos de dor, baixa au-toestima, medo, culpa, poden-do afetar, até mesmo, o sono e/ou o apetite do indivíduo que possui a doença.

Foto: Kristina Tripkovic/Unsplash

Depressão pode alterar o humor e causar tristeza

profunda, associada a sentimentos de dor,

baixa autoestima, medo e culpa

A depressão pode ser com-preendida em três níveis: leve, moderado e grave, sendo, em todos os casos, necessário um diagnóstico clínico e, principal-mente, tratamento adequado com um profissional, podendo ser feito simultaneamente ao uso de medicamentos.

Pesquisadores da Univer-sidade McGill, em Montreal, no Canadá, descobriram em 2007, através de um estudo publicado no Journal of Neu-roscience, que o THC em bai-xas doses pode servir como antidepressivo e produzir serotonina. No entanto, em doses mais altas, o efeito se reverte e pode realmente

Um estudo de janeiro de 2021, publicado na Journal of Parkinson’s Disease, mostrou que os pacientes pesquisados relataram a cannabis como um método eficaz para controlar os sintomas da doença. O estudo é considerado a maior pesquisa a analisar as opiniões dos pacien-tes sobre a terapia com canna-bis para a doença de Parkinson. Os participantes foram recruta-dos em toda a Alemanha usan-do o cadastro de membros da Associação Alemã de Parkinson.

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piorar a depressão e outras condições psiquiátricas, como psicose. Já o CBD, mesmo em doses altas, não causa tais efei-tos negativos. Sabe-se que os canabinoides THC e CBD exer-cem efeitos sedativos, antide-pressivos e antipsicóticos nos consumidores.

Em 2013, a University Medi-cal Center Utrecht, na Holanda, divulgou através do European Neuropsychopharmacology Journal que a cannabis medi-cinal pode ser a cura para a depressão e outras doenças mentais. A conclusão veio após a realização de estudo que descobriu que o THC pode al-terar a resposta a imagens ou emoções negativas, ativando o sistema endocanabinoide no cérebro. Outro estudo vincu-lou o uso da cannabis à melho-ria da função cognitiva em pes-soas que sofrem de transtorno bipolar.

O estudo brasileiro “Uso terapêutico dos canabinoi-des em psiquiatria”, de José Alexandre S. Crippa, Anto-nio Waldo Zuardi e Jaime E. C. Hallak, publicado em 2010 na Revista Brasileira de

Psiquiatria, concluiu que o ca-nabidiol apresenta potencial terapêutico como antipsicóti-co, ansiolítico e antidepressivo.

Já o O THC e seus análogos demonstraram efeitos ansiolíti-cos, apesar da necessidade de mais estudos.

Doenças de pele

As doenças de pele ocorrem quando há algum dano no tecido da derme ou em camadas mais profundas. Tais danos podem causar dores, irritações, ardên-cia e, principalmente, mudanças no aspecto físico da pele. Alguns exemplos mais populares de doenças de pele são: dermatite, acne, urticária, psoríase e trans-tornos inflamatórios comuns.

Uma parceria entre a Universi-dade de Córdoba e a Universi-dade de Dundee mostrou pela primeira vez que o CBD induz a produção de heme oxigenase 1 – uma enzima antioxidante e anti-inflamatória – em células da camada superior da pele, co-nhecidas como queratinócitos, suprimindo a proteína BACH1 - gene humano pertencente a classe dos genes supressores

de tumor. Os pesquisadores ainda precisam entender como o CBD atua sobre as diferentes células da pele para ter efeitos antioxidantes benéficos.

Os pesquisadores afirmam que o mecanismo de ação é interessante para tratamentos de doenças de pele, como der-matite atópica e a doença rara epidermólise bolhosa. A equi-pe agora continuará modifican-do as moléculas para melhorar suas propriedades e realizar estudos em animais para en-tender seu potencial terapêuti-co para doenças de pele e ou-tras doenças inflamatórias.

Insônia

A insônia é um distúrbio que prejudica a capacidade do indivíduo de adormecer ou, até mesmo, de dormir o número mínimo necessário de horas.

Com isso, a qualidade de vida da pessoa, em geral, aca-ba ficando comprometida, uma vez que ela não conse-gue permanecer ativa e atenta para realizar as tarefas do dia a dia. Além disso, a insônia pode causar problemas de humor e

(Foto: Vladislav Muslakov/Unsplash)

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43 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)42

Como resultado, dados ini-ciais do estudo sugerem que 13 extratos de cannabis com alto teor de CBD anti-infla-matório podem modular a expressão de ACE2 em teci-dos-alvo da Covid-19, enzima receptora expressa no tecido pulmonar e na mucosa oral e nasal que o vírus usa para entrar em um hospedeiro humano. Além disso, podem regular negativamente a en-zima TMPRSS2, que também auxilia a entrada do vírus no corpo.

Em combinação com ou-tros canabinoides e terpenos, bem como com a intervenção clínica necessária, o CBD tem potencial para tratar os sin-tomas de um vírus como o coronavírus. Extratos de cannabis de plantas inteiras também mostraram reduzir a coagulação do sangue em modelos animais. Sabe-se que muitos dos efeitos sis-têmicos negativos da Covid parecem estar relacionados à alteração da coagulação do sangue, portanto, a canna-bis possa ser útil no manejo dessas sequelas.

baixo desempenho no traba-lho ou nos estudos.

Um estudo de 2020, rea-lizado pela Universidade da Austrália Ocidental, descobriu que a cannabis poderia forne-cer um tratamento eficaz para aqueles que sofrem de insônia aguda, mais especificamen-te quando o tipo de cannabis consumida é composta de uma mistura de THC e CBD. Os pa-cientes tratados com esse tipo de cannabis relataram dormir por mais horas, adormecer mais rapidamente e voltar a dormir com mais facilidade de-pois de acordar no meio da noite.

realizado para avaliar o poten-cial terapêutico da Cannabis medicinal para tratar os sinto-mas da insônia crônica”, disse o pesquisador Peter Eastwood em comunicado. “O fato de o tratamento com ZLT-101 ter alcançado melhorias estatis-ticamente significativas e res-ponsivas à dose em uma ampla gama de índices importantes de insônia é impressionante, principalmente devido à rela-tivamente curta janela de ad-ministração de duas semanas”.

Covid-19

Os coronavírus são uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais. Em dezembro de 2019, houve a transmissão de um novo coronavírus (SARS--CoV-2), o qual foi identificado em Wuhan, na China, sendo em seguida disseminado e transmitido de pessoa a pes-soa em todo o mundo. A Co-vid-19 é o nome da doença causada pelo SARS-CoV-2, que

apresenta um espectro clínico que varia de infecções assinto-máticas a quadros graves.

Cientistas do Dental College of Georgia (DCG) e do Medical College of Georgia, demons-traram no início de 2021 que o CBD tem a capacidade de melhorar os níveis de oxigê-nio e reduzir a inflamação e os danos físicos aos pulmões relacionados à síndrome do desconforto respiratório agu-do (SDRA).

Este estudo mostrou os me-canismos por trás desses resul-tados, evidenciando que o CBD normaliza os níveis de um pep-tídeo chamado apelina, que é conhecido por reduzir a infla-mação. Os níveis deste peptí-deo são baixos durante uma infecção por covid. Além dis-so, a cannabis medicinal pode ter efeitos positivos em alguns sintomas da doença, como dor de cabeça, problemas respiratórios e gástricos.

Em um outro estudo, a Universidade de Lethbridge, localizada na província de

Alberta, no Canadá, em parce-ria com as empresas Pathway RX e a Swysh, focadas em pes-quisa com cannabis para fins medicinais, descobriu que ex-tratos específicos da planta são uma promessa como um trata-mento adicional para Covid-19.

Vírus da Covid-19.

Imagem: Fusion Medical Animation/Unsplash

(Foto: Volodymyr/Unsplash)

Mais estudos precisam ser realizados, mas o CBD parece ter potencial para tratar os sintomas de um vírus como o coronavírus

A insônia prejudica a capacidade de o

indivíduo adormecer, podendo causar

problemas de humor e baixo desempenho no

trabalho ou nos estudos

“Este estudo representa o ensaio clínico mais rigoroso já

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46 47GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021) sechat.com.br

FORMAS DE APLICAÇÃO DA CANNABIS

CAPÍTULO 4

Pelo fato da cannabis ser uma planta extremamente ver-sátil, diferentes tipos de usos foram desenvolvidos ao longo da história. Ainda assim, vale ressaltar que eles não são to-dos legalizados ao redor do mundo. Há países que crimina-lizam alguns tipos de usos, mas permitem outros. Desde óleos à comestíveis, a cannabis pode ser usada de diversas manei-ras, todas elas com suas vanta-gens e desvantagens.

Óleos

Nos últimos anos, os produ-tos à base de cannabis para fins medicinais tornaram-se cada vez mais diversos e aces-síveis. Os óleos de cannabis são a opção de uso mais popular entre os pacientes que fazem uso da planta, uma vez que os fitocanabinoides são lipossolú-veis - isto é, se diluem em óleo -, além do óleo possuir um va-lor mais acessível e um prazo de validade longo.

A dosagem do óleo de

cannabis deve ser prescrita de forma específica a cada pa-ciente. Por exemplo, enquanto algumas pessoas desfrutam dos benefícios do THC, outras não conseguem desfrutar de forma positiva do composto psicoativo da planta. Portan-to, não há uma dosagem ou combinação única e univer-sal que funcione para todos.

recomendado um produto com um teor mais alto de THC - ou com teor igual ao CBD, na com-posição 1:1.

Na hora de tomar o óleo à base de cannabis, é importan-te considerar alguns fatores para concluir qual a melhor dosagem e concentração para o paciente, como o uso de me-dicamentos convencionais, a doença a ser tratada, idade, peso e estilo de vida. Por isso, é imprescindível que o indivíduo faça uso desse tipo de medica-mento apenas se for prescrito por um médico.

Para maior eficácia na absor-ção do óleo, é indicado que as gotas sejam colocadas debaixo da língua, sendo a forma de uso mais prescrita entre os médicos. Além disso, outra dica importan-te é se atentar aos ingredientes listados no rótulo do produto, sendo sempre melhor optar por óleos com ingredientes naturais e orgânicos, ou, caso tenha algum ingrediente extra que potencialize os benefícios do produto.

Óleo de CBD ( Foto: Enecta/Unsplash)

Para algumas doenças, como depressão, ansiedade ou distúrbios do sono, é reco-mendado, na maioria das ve-zes, um produto com alto teor de CBD e baixo teor de THC. Já para diminuição de dores crônicas ou neuropáticas, sín-dromes raras, entre outros, é

Os óleos de cannabis são os preferidos entre os consumidores, devido ao efeito terapêutico, valor mais acessível e

maior prazo de validade

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Vaporização

Outra forma de consumir a cannabis para fins medicinais é através da vaporização. A va-porização significa transformar a cannabis em vapor, inalando assim seus ingredientes ativos. Assim como as outras formas de administração da planta, a vaporização também pode tra-zer diversos benefícios à saúde e ao bem-estar de quem a uti-liza.

Um dos maiores benefícios da vaporização está em forne-cer o nível mais alto de biodis-ponibilidade, que se refere à proporção de fitocanabinoides que realmente entra no siste-ma de circulação do seu corpo. Mais especificamente, a vapo-rização de canabinoides pode oferecer uma taxa de absorção de até 56%, levando de 10 a 20 minutos para ter algum efeito. Esse tempo de absorção é me-nor se comparado com outros métodos de consumo, incluin-do óleos, tinturas e comestí-veis.

Além do menor tempo de absorção e uma taxa maior de biodisponibilidade, o processo de dosagem da vaporização é

Cápsulas

Outra alternativa de uso da cannabis medicinal é através das cápsulas. Dife-rente dos métodos citados anteriormente, as cápsulas possuem menor biodisponi-bilidade, ou seja, levam um pouco mais de tempo para fazer efeito, já que precisam passar pelo trato digestivo. Por esse motivo, uma parte da quantidade de canabinoides na pílula não atingirá a corren-te sanguínea de quem a utiliza.

Vaporizador (Foto: Vaporesso/Unsplash)

Comestíveis

Produtos alimentícios à base de cannabis estão cada vez mais populares e são apre-sentados em muitas formas diferentes. Esses alimentos podem conter um ou mais in-gredientes ativos da planta de cannabis, ou, no caso dos produtos full spectrum, podem conter todos eles. Semelhante a comprimidos e cápsulas, os comestíveis são consumidos por via oral. Gomas são uma das escolhas mais populares e têm uma dose padrão de 5 mg por goma.

Gomas à base de CBD (Foto: Kindel Media/Pexels)

Cápsulas Gelatinosas de CDB (Foto: Elsa Olfsson/Unsplash)

simples, já que, na maioria das vezes, os vaporizadores podem ser recarregados com uma quantidade específica do pro-duto com infusão de cannabis, fazendo com que o indivíduo tenha mais certeza do quanto está consumindo diariamente.

exemplo. No geral, os efeitos podem permanecer de 30 a 60 minutos, dependendo da quantidade e do tipo de cana-binoide, sendo que o impacto no organismo poderá durar entre 6 e 8 horas.

Os consumidores que fazem uso de comestíveis de canna-bis, no entanto, devem ficar atentos, pois pode acontecer de tomarem quantidades adi-cionais enquanto esperam pelo efeito total, que pode demorar um pouco mais. Isso poderá resultar em efeitos colaterais prejudiciais.

Além disso, a desatenção às dosagens indicadas na em-balagem podem gerar efeitos negativos. Muitos indivíduos relatam que a cannabis comes-tível é uma experiência mais intensa que a inalação. Pesqui-sadores do estudo Tasty THC: Promises and Challenges of Can-nabis Edibless, publicado em 2017 no site National Center for Biotechnology Information, acreditam que isso ocorre por-que, quando o THC é consumi-do, a substância é convertida em 11-hidroxi-THC - principal metabólito ativo do tetrahi-drocanabinol, que é formado

Disponíveis em formato de comprimidos ou

cápsulas, os comestíveis são consumidos por

via oral

Na vaporização a cannabis é transformada em vapor, possibilitando

a inalação de seus ingredientes ativos

A experiência geral com ali-mentos é diferente: seu efeito pode levar horas para ser no-tado, mas pode ser mais in-tenso e durar mais tempo do que vaporizar cannabis, por

Entretanto, em 2019, uma onda de doenças pulmonares nos Estados Unidos, causada pelos cigarros eletrônicos, co-nhecidos como “vapes” ou “ca-netas”, alertou as autoridades do país. Foi comprovado que um aditivo chamado acetato de vitamina E, frequentemente encontrado em produtos não regulamentados que contém THC, pode gerar tais proble-mas pulmonares e pneumo-nias. Por isso, é importante que esse tipo de consumo da cannabis seja feito através da indicação de um médico.

As cápsulas demoram, em média, 60 minutos para fazerem efeito - e tais efei-tos podem durar horas. Elas possuem a vantagem de fornecer uma dosagem precisa, já que a composição de cada comprimido é fixa. O fato de ser um produto sem gosto é outra vantagem, já que alguns pacientes podem se sentir incomodados com o gosto amadeirado do óleo.

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)50 51 sechat.com.br

tal, pode ajudar a auxiliar as formulações antienvelhecimento. A cannabis para fins medici-nais em forma de uso tópico também chamou a atenção de atletas nos últimos anos. À medida que mais pesqui-sas são feitas acerca dos be-nefícios do CBD, mais atletas decidem aderir a esse tipo de tratamento alternativo. O CBD pode ser eficaz ao tratar aspectos como dores, recupe-ração e crescimento muscular e aumento da resistência do esportista. Como resultado de tais evidências, a Olimpíada de Tóquio de 2021 permitiu o uso do CBD entre os atle-tas. Contudo, o THC continua proibido pela Agência Mundial Antidopagem (AMA).

vitaleep

Creme à base de CBD (Foto: Pachamama/Unsplash)

no corpo após o consumo da cannabis descarboxilada -, que é particularmente eficaz em atravessar a barreira hemato-encefálica, resultando em um efeito mais intenso. Para al-guns, o 11-hidroxi-THC ofere-ce o benefício de aumentar os efeitos da cannabis sem a ne-cessidade de consumir mais. Para outros, os efeitos podem ser muito intensos e indesejá-veis.

Uso tópico

O uso tópico da cannabis pode oferecer um efeito lo-calizado quando aplicado na superfície da pele. O bálsamo, que contém canabinoides, pode ser usado para tratar do-res musculares e nas articula-ções. Já as propriedades anti--inflamatórias e antioxidantes de alguns canabinoides, como o CBD e o CBN, são úteis tam-bém no tratamento de algumas doenças da pele, como acne e problemas devido à psoríase e eczema. Deve-se lembrar que esses produtos apenas ajudam a aliviar os sintomas, não tendo efeito curativo.

Conforme as substâncias presentes na cannabis são apontadas como benéficas à saúde da pele, mais empresas estão focando em produzir produtos de uso tópico, como cremes e bálsamos.

Em um estudo de 2020, a Universidade de Córdoba, na Argentina, em parceria com a Universidade de Dundee, na Escócia, mostrou pela primei-ra vez que o CBD induz a pro-dução de heme oxigenase 1 – uma enzima antioxidante e anti-inflamatória – em células da camada superior da pele,

conhecidas como queratinó-citos.

As propriedades anti-infla-matórias dos fitocanabinoides também podem ajudar a tra-tar doenças como a derma-tite atópica. Os especialistas em saúde e beleza acreditam que os compostos da canna-bis também podem ajudar a reduzir a inflamação no local e diminuir o tempo de cica-trização. Além disso, as pro-priedades antioxidantes dos canabinoides são importantes porque podem ajudar a pro-teger contra os danos dos ra-dicais livres que podem fazer com que a pele pareça mais ressecada e com mais linhas finas e rugas.

O CBD, especificamente, é um canabinoide rico em

vitaminas A, C e E. A vitamina A é conhecida por estimular as células responsáveis pela

produção do tecido que man-tém a pele saudável e firme. Já a vitamina C estimula a pro-dução de colágeno, sendo um nutriente essencial para auxi-liar no processo de cicatriza-ção da pele. A vitamina E é um antioxidante que bloqueia os radicais livres do corpo. Como

Os compostos da cannabis ajudam a

reduzir a inflamação local e diminuir o tempo

de cicatrização, além de terem propriedades

antioxidantes

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53 sechat.com.br52 GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)

ASPECTOS HISTÓRICOS E LEGAIS DA EVOLUÇÃO DO ACESSO DO USO MEDICINAL DA CANNABIS NO BRASIL: ATIVISMO E LEGISLAÇÃO

CAPÍTULO 5

Por conta das restrições da legislação brasileira para o uso medicinal da cannabis, os pacientes dispõem de alterna-tivas escassas no acesso aos produtos e medicamentos, que são produzidos em gran-de parte à base de Canabidiol (CBD) - o composto da canna-bis mais utilizado na área da saúde.

Foto: Margo Amala/Unsplash

Foto: Zach Vessels/Unsplash

ceituário tipo B. Ainda de acordo com a norma, os produtos de cannabis poderão conter teor de THC acima de 0,2%, desde que sejam destinados a cuidados paliativos exclusivamente para pacientes sem outras alternati-vas terapêuticas e em situações clínicas irreversíveis ou terminais, devendo, nesse caso, ser utiliza-do o receituário tipo A.

cadastrados a todos que ne-cessitarem. São mais de uma centena de profissionais espa-lhados pelo Brasil.

A lista com os nomes dos médicos cadastrados de todo o país e os dados para contato estão disponí-veis no endereço eletrônico www.sechat.com.br na ca-tegoria “Para Você”. Logo de-pois, basta clicar em “Lista de médicos”. Os profissionais podem ser selecionados pelo estado em que atuam, cons-tando nome, telefone, e-mail, endereço, CRM e especialidade.

O custo mensal de um tratamento à base de cannabis

Para ter acesso a um produ-to ou medicamento à base de cannabis, além da receita de um médico prescritor de cannabis medicinal e da autorização da Anvisa, o paciente terá que estar disposto ou ter condições finan-ceiras para arcar com um custo relativamente alto.

Segundo o Dr. Pedro Pierro, o investimento mensal em um tratamento com medicamen-to ou produto à base de can-nabis poderá variar de acordo com o tipo de doença, idade e peso do paciente. Também são variáveis o tipo de óleo:

Sechat oferece gratuitamente serviço com lista nacional de médicos prescritores

Entre os inúmeros obstácu-los que os pacientes que se tratam com produtos à base de cannabis medicinal ou desejam experimentá-los enfrentam está a dificuldade em conhecer ou ter acesso a um profissional médico prescritor. Para auxiliar nessa necessidade, o Sechat disponibiliza gratuitamente no portal uma lista de médicos

No Brasil, as formas mais comum de acesso são por importação, via

associações, compra em farmácias ou pela

produção caseira do óleo

O custo e as formas de acesso regulamentadas ou com alguma autorização no Brasil

Tudo começa na consulta médica

O primeiro passo para quem deseja fazer o uso medicinal da cannabis é encontrar um médico prescritor para obter os documentos necessários para realizar posteriormente a compra do produto ou medica-mento. O número de médicos prescritores de cannabis para fins terapêuticos no Brasil, se-gundo dados da Anvisa, era de aproximadamente 2.100 pro-fissionais até o final de 2020.

O médico é responsável por indicar a composição - quais canabinoides e a concentra-ção - do óleo que será utilizado pelo paciente. Esse profissional da saúde será responsável por emitir uma receita do trata-mento indicado e um relatório que ateste que outras moda-lidades consagradas de trata-mento não tiveram o resultado esperado, ou que efeitos cola-terais indesejados impediam a continuidade da terapia con-vencional.

Se a forma de aquisição do medicamento for por meio de importação, o médico pode-rá receitar dois tipos de óleo: aqueles com até 0,2% de THC, ou os produtos com mais de 0,2% de THC em sua composi-ção. O que difere na parte bu-rocrática no encaminhamento de solicitação à Anvisa é o tipo da receita que será emitida.

Segundo a RDC Nº 327/19, no caso dos medicamentos com concentração de THC in-ferior a 0,2%, o produto deverá ser prescrito por meio de re-

São quatro as formas mais comuns de acesso aos produ-tos e medicamentos de can-nabis medicinal no Brasil: im-portação, acesso por meio de associações de pacientes, aqui-sição em farmácias, ou, ainda, pela produção caseira do óleo por meio do autocultivo de cannabis. Contudo, até abril de 2021, apenas os modos de importação e de aquisição em drogarias eram regulamenta-dos pela legislação.

Segundo a Anvisa, até o final de 2020, o Brasil

tinha cerca 2100 médicos prescritores de cannabis

para fins terapêuticos

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Fonte: Anvisa

quanto mais THC e/ou CBD isolado houver no produto, a tendência é que o mesmo seja mais caro. Já os produtos à base de CBD full spectrum acabam sendo mais baratos por não necessitarem de pro-cessos de purificação, como é o caso do CBD isolado.

Outro elemento que irá gerar variação no custo mensal do tratamento é o tipo de acesso ao medicamento: se será feito via importação, aquisição em drogarias ou por intermédio de associação de pacientes.

Assim, via de regra, o va-lor mínimo de um tratamento com produtos ou medicamen-tos à base de cannabis se inicia em R$ 300 por mês, podendo chegar, dependendo do caso, a um gasto mensal de cerca de R$ 2.500.

Contudo, podem haver tra-tamentos com valor mínimo menor e com valor máximo maior, dependendo das variá-veis do caso, conforme comen-tadas anteriormente.

Importação de produtos

A importação dos produtos à base de cannabis passou a ser permitida no Brasil com a publicação da RDC Nº 335 da Anvisa, em 27 de janeiro de 2020.

A norma autoriza a com-pra no exterior de produto industrializado contendo de-rivados de cannabis, desti-nado à finalidade medicinal. O processo de aquisição do produto, que na maioria das vezes vem dos Estados Uni-dos, demora cerca de 30 dias em condições normais dependendo de prazos indi-viduais dos operadores inde-pendentes envolvidos - que não têm relação direta entre si -, como Anvisa, empresa vendedora ou importadora, alfândega e transporte.

Em 2020, a Anvisa recebeu mais de 15.800 solicitações de importação de medicamentos e produtos feitos à base CBD. O número é 86,13% maior do que o registrado em 2019. Se compa-rado com o total de solicitações realizadas em 2015 (850), o au-mento foi de 1.766%. Em 2016, os pedidos totalizaram 872; em 2017, 2.101; em 2018, 3.517; em 2019, 8.522, e, em 2020, o nú-mero chegou a 15.862.

Anvisa. Normalmente, a agên-cia pode demorar até 20 dias para emitir a autorização. Con-tudo, o que se observa na prá-tica é que esse prazo normal-mente fica em dez dias, em média.

Tendo a Anvisa autorizado a importação do produto ou me-dicamento, o paciente deverá realizar a compra diretamente no site da empresa que comer-cializa o item receitado.

A compra poderá ser feita em empresas sediadas no exterior ou realizada por intermédio de uma importadora instalada no Brasil. Este processo é o mais comum, sendo o preferido pe-los pacientes por se tratar de empresas especializadas nesse tipo de trâmite, o que, de certo modo, pode facilitar o encami-nhamento.

Depois de o pagamento ter sido realizado, o produto de-mora geralmente entre 4 e 5 dias para chegar ao Brasil. Antes de ser encaminhado ao endereço do paciente, o item adquirido é fiscalizado pela An-visa na chegada ao aeroporto de destino. Esse procedimen-to poderá levar em períodos normais de trabalho entre 4 e 6 dias podendo, então, o produto liberado seguir por meio dos Correios ou de trans-portadora até a casa do pa-ciente.

2015

850 872 2.101 3.517

8.522

15.862

2016 2017 2018 2019 2020

Evolução das solicitações de importação de medicamentos e produtos à base de cannabis na Anvisa entre 2015 e 2020

Nem sempre a Anvisa libera a quantidade de produto soli-citada pelos médicos. De acor-do com o Dr. Pedro Pierro, não há uma resposta consolidada sobre esse limitante na quanti-dade de produtos autorizados pela agência. Portanto, caso o óleo acabe antes do período indicado pelo médico, será ne-cessário refazer o pedido de autorização de importação.

Principal vantagem

Como os produtos são im-portados, adquiridos majori-tariamente de empresas nos EUA, pode-se ter um relativo grau de confiabilidade na qua-lidade do item que está sendo adquirido. Isso porque em 38 dos 50 estados do país o uso medicinal da cannabis está re-gulamentado (dados de abril de 2021) e há uma indústria atuando . Assim, as empresas que operam nesses estados, via de regra, seguem padrões rígidos de produção, além de serem fiscalizadas pelos ór-gãos sanitários.

Principal desvantagem

O envolvimento com buro-cracia antes de o produto ser autorizado pela Anvisa. Além do que, entre a saída do pro-duto da empresa fornecedora nos EUA até a casa do pacien-te, há um percurso que poderá levar mais tempo do que o pre-visto devido a condições ope-racionais dos diversos agentes externos independentes envol-vidos (transportadores, alfân-dega, entre outros).

Preenchimento do formulário da Anvisa

O formulário para impor-tação está disponível no site da Anvisa. Nessa página há um vídeo que explica todas as

Foto: Karolina Grabowska/Pexels

Resumidamente, o processo de importação se inicia com a prescrição médica, que é o do-cumento que comprova que o paciente necessita de determi-nado medicamento à base de cannabis para tratamento de saúde. De posse da receita mé-dica, que deve ser emitida por um médico prescritor - com conhecimento técnico na área da terapêutica da cannabis medicinal -, o paciente deverá realizar o pedido de autoriza-ção para importação junto à

O Sechat oferece serviço gratuito para médicos e pacientes,

com prescritores de todo o Brasil

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fases do processo. Assim que a Anvisa autorizar a importação, o paciente ou responsável irá receber um documento por e-mail com a quantidade de óleo que poderá ser importada no prazo de até dois anos.

Aquisição em farmácias

Até abril de 2021, apenas duas marcas à base de cana-bidiol – sendo uma de medi-camento e outra de produto – podiam ser comercializadas no Brasil. Mas a situação delas é diferente perante à Anvisa. O Mevatyl recebeu o registro sa-nitário da Anvisa em janeiro de 2017, cerca de três anos da pu-blicação da RDC Nº 335/2020. No início de 2018, pouco mais de um ano após obter o regis-tro, o medicamento chegou às farmácias do país.

Diferentemente do Mevatyl, o CBD da Prati-Donaduzzi é considerado pela Anvisa um produto, e não um medica-mento - que é o caso do Me-vatyl. Isso porque o produto da Prati-Donaduzzi foi autorizado por meio da RDC Nº 327/2020, regramento que não exige tes-tes clínicos para a comerciali-zação categorizando os itens enquadrados na norma como produtos.

Em abril de 2021 a Anvisa concedeu autorização sanitária à Nunature, que tem sede no estado do Colorado, nos Esta-dos Unidos, para a produção e comercialização de dois no-vos produtos de CBD no Brasil, com concentrações de 17,18 mg/ml e 34,36 mg/ml. Segundo divulgou a empresa em maio de 2021, os produtos devem chegar ao mercado nacional no início do segundo semestre de 2021 custando cerca de R$ 520 e R$ 840, respectivamente.

Principal vantagem

Acesso rápido ao produto para aquisição, sendo necessá-rio apenas a receita médica.

Principal desvantagem

Mesmo sendo comercializa-dos em farmácias, o preço dos produto é proibitivo. Além do que são apenas duas varieda-des disponíveis atualmente no mercado (abril de 2021), o que limita o seu uso para aplica-ções muito específicas.

Acesso por meio das associações

Até maio de 2021, apenas a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), situada em João Pessoa-PB, é autorizada liminarmente pela justiça a cultivar e produzir o

óleo para seus associados. Caso o médico receite al-

gum tipo de óleo fornecido pela associação, o paciente deverá entrar no site da enti-dade e fazer o cadastro, solici-tando a compra. Para preen-cher a ficha de solicitação são necessários os dados pessoais do paciente ou responsável e anexar a receita médica. Além disso, é preciso preencher e anexar junto com à documen-tação um Termo de Ajuiza-mento, disponível para down-load no site da entidade para que o paciente concorde em fazer parte da liminar judicial - concedida no final de 2017 - que permite a produção e o fornecimento do produto aos associados. Em abril de 2021, a Abrace cobrava uma taxa anual dos associados no valor de R$ 350.

Conheça algumasassociações

Abrace

Até maio de 2021, apenas a Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), situada em João Pessoa-PB, é autorizada liminarmente pela justiça a cultivar e produzir o óleo aos seus associados.

Fundada em 2014, a Abrace possui laboratórios farmacêu-ticos para a produção do óleo à base de canabidiol, além de promover workshops periódi-cos sobre as documentações necessárias para o paciente e para o médico terem acesso ao medicamento.

Em 25 fevereiro de 2021, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), que tem sede em Recife-PE, acatou o pedi-do da Anvisa para suspender a liminar que fora concedida à Abrace em primeira instância em 2017 assegurando à as-sociação o direito de cultivar cannabis para fins medicinais e produzir os óleos terapêuticos.

Contudo, dias depois houve a suspensão dos efeitos da de-cisão anterior, que havia acata-do o pedido Anvisa e poderia, pelo menos temporariamente, inviabilizar o trabalho da enti-dade que tem mais de 17 mil associados. Na oportunidade, a Justiça estabeleceu prazo de até quatro meses para a Abra-ce providenciar as adequações que já haviam sido exigidas pela Anvisa anteriormente.

Em março de 2021, a An-visa reforçou a necessidade da associação cumprir as exi-gências para a fabricação e distribuição de produtos de cannabis. Segundo a agência, até aquela ocasião, a Abrace não havia instruído os proces-sos necessários junto ao órgão para receber a Autorização de

doses diárias necessárias para cada paciente, que podem va-riar entre uma a 12.

Em abril de 2020, a parana-ense Prati-Donaduzzi foi a pri-meira farmacêutica brasileira a receber autorização da Anvisa para produzir e comercializar em farmácias o produto Ca-nabidiol 200mg/ml, um óleo feito à base de canabidiol iso-lado vendido em frascos de 30 ml, que custa, em média, R$ 2.350 (abril/21). Em fevereiro de 2021, a farmacêutica rece-beu uma nova autorização da Anvisa para comercializar duas outras concentrações do pro-duto: de 20 mg/ml e 50 mg/ml, ambas disponibilizadas em frascos de 30ml, que em abril de 2021 eram comercializados por R$ 277 e R$ 688, em mé-dia, respectivamente.

boas práticas da Anvisa. Outra vantagem, é que o produto é adquirido no Brasil, o que faci-lita o transporte, encurtando o caminho até a casa do pacien-te. Além disso, os produtos ge-ralmente são disponibilizados por um valor menor se compa-rados aos importados. Outro ponto positivo é a diversidade da linha dos produtos ofere-cidos, embora não seja feita a manipulação.

Principal desvantagem

Ter que desembolsar uma taxa fixa anual, referente ao custo de associação, para ter acesso ao produto.

Foto: Freepik

Foto: Freepik

Após preencher a solicita-ção, a associação retorna em alguns dias com a confirmação do pedido ou a solicitação de informações sobre pendên-cias, caso necessário. Se não houver pendência no cadastro, a Abrace enviará os dados de acesso para que o paciente ou responsável acesse a Área de As-sociados para efetuar o pedido.

Principal vantagem

Por ter seu funcionamento autorizado pela Justiça, embo-ra por decisão liminar (situação até maio de 2021), a instituição segue as recomendações de

O Mevatyl foi o primeiro me-dicamento - e o único até abril de 2021 - a receber o registro sanitário da Anvisa. Sua indi-cação é para o tratamento de adultos que tenham espasmos relacionados à esclerose múl-tipla. O medicamento, que é comercializado internacional-mente com o nome de Sativex e produzido pela britânica GW Pharma, tem composição mis-ta, contendo 27 mg/ml de THC e 25 mg/ml CBD.

Em abril de 2021 o Mevatyl com três frascos de 10 ml era vendido pelo valor médio de R$ 2.500. O tempo de duração do medicamento depende das

Até abril de 2021, apenas dois produtos à base de cannabis podiam

ser comercializadas em farmácias: Mevatyl e Canabibiol 200mg/ml

A Abrace é a maior associação de pacientes

do Brasil, atendendo mais de 17 mil pacientes, e a única com liminar em

vigor para operar

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Apepi

Criada no Rio de Janeiro, a Apepi (Apoio à Pesquisa e Pa-cientes de Cannabis Medici-nal) começou a se estruturar em 2013, tendo sido fundada em 2016. A entidade trabalha para divulgar as pesquisas e estudos para pacientes que precisam do tratamento com o canabidiol. Por meio de pa-lestras, cursos de cultivo da planta, mobilização social e eventos, a associação busca garantir o direito dos pacientes ao acesso aos medicamentos.

“pesquisar, plantar, colher, cultivar, manipular, transpor-tar, extrair óleo, acondicionar, embalar e distribuir aos asso-ciados o extrato de canabidiol, oriundo da cannabis”, foram suspensos.

Naquele momento, a Anvisa recorreu da liminar que havia sido deferida pela 4ª Vara Fe-deral do Rio de Janeiro, em 15 de julho de 2020, garantindo o funcionamento da entidade. A Apepi recorreu para reverter a decisão e manter os efeitos da liminar, mas até abril de 2021 o recurso não havia sido julgado.

Ama+me

Por iniciativa de familiares e pacientes, a Ama+me (Asso-ciação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal), criada em 2015 em Belo Horizonte, trabalha para expandir o co-nhecimento sobre os benefí-cios do uso de canabidiol em pacientes que sofrem de diver-sas doenças e que precisam de tratamento alternativo. Sua fundação foi formalizada em 6 de abril de 2016. Para facilitar o acesso dos pacientes ao me-dicamento, a Ama+me oferece orientação sobre a regulamen-tação e a parte burocrática.

Santa Cannabis

A Santa Cannabis nasceu em 2019, por meio da mobilização de um neto para tratar a avó portadora de Mal de Parkinson com medicamentos à base de cannabis. Primeira associação de cannabis medicinal do esta-do de Santa Catarina, sua sede fica na capital, Florianópolis, tendo atuação também em São Paulo, com o início do trabalho pela região da zona leste.

Além disso, a Santa Can-nabis está em fase inicial de um projeto de expansão para

Foto: Jcomp/Pexels

Foto: Cheynne Rafaela/Unsplash

Funcionamento de Empresa (AFE) e o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF), entre outros documentos re-gulatórios.

Cultive

Outra entidade reconheci-da nacionalmente é a Culti-ve (Associação de Cannabis e Saúde), que tem sede em São Paulo, e foi formalmente fundada em 3 de dezembro de 2016. Contudo, na práti-ca, o embrião da entidade começou a se formar ainda em 2013 sob a liderança de Cida Carvalho.

O surgimento da Cultive se deu inspirado no caso da filha de Cidinha, Clarian, que sofre com Síndrome de Dra-vet e obteve melhora com o uso medicinal da cannabis. Em contato com outras mães de crianças que sofrem com a mesma síndrome que Cla-rian, Cida decidiu fundar a entidade com o propósito de buscar cura e alívio a es-tas famílias.

Em 5 de março de 2021 a Cultive obteve na Justiça uma decisão inédita no Brasil: o primeiro habeas corpus co-letivo para o cultivo de Can-nabis para fins medicinais. A decisão foi a primeira no país a oferecer salvo-condu-to coletivo para o plantio.

Além de garantir seguran-ça aos 21 pacientes associa-dos que cultivam cannabis para uso medicinal, a Cultive poderá ampliar esse núme-ro por meio do acréscimo do plantio. A decisão de primei-ro grau foi definitiva, cabível de recurso. A Cultive pode-rá fornecer mudas para os seus pacientes que tenham receita, sendo que eles po-derão realizar o cultivo em casa.

Em novembro de 2020, os efeitos da liminar que asse-gurava à Apepi o direito de

A Apepi, com sede no Rio de Janeiro, é uma das associações mais conhecidas no país,

tendo começado a se estruturar em 2013

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Portugal, com o início da mon-tagem de uma equipe mista for-mada por profissionais portu-gueses e brasileiros que deverá estar atuando a partir de 2022.

Produção caseira do óleo

Outra forma de acesso ao óleo de cannabis para uso me-dicinal é por meio da produção caseira. Nesse caso, o paciente terá que ter uma expertise míni-ma para realizar o processo de plantio, cultivo, extração do óleo e beneficiamento. Além disso, se não quiser correr o risco de ter complicações legais - o cul-tivo e o autocultivo de cannabis, mesmo para fins medicinais, são proibidos no Brasil - o pa-ciente terá de obter um Habeas Corpus (HC) judicial, como for-ma de evitar prisão em caso de diligências policiais.

Principal vantagem

O investimento envolvido na produção seria baixo, sendo necessário somente arcar com os custos de plantio e benefi-ciamento da planta para a ex-tração do óleo medicinal.

Principal desvantagem

Os riscos em relação à qua-lidade e efetividade do óleo extraído são grandes. Isso sem falar na possibilidade de en-frentar dissabores com órgãos de segurança pública, no caso de o autocultivo ser realiza-do de modo autônomo sem a anterior expedição de HC pela Justiça.

O ativismo social pelo direito ao uso medicinal da cannabis

O autocultivo individual para

a produção artesanal de óleos de derivados de Cannabis foi impulsionado a partir da dé-cada de 2010 pelo movimento de mães de pais de pacientes, liderado principalmente pelas famílias de crianças portadoras de doenças raras, crônicas e in-capacitantes.

Como já tratado no início deste e-book, a primeira bra-sileira a receber autorização para a importação de um me-dicamento produzido com derivados de cannabis foi Anny Fischer. À época, em 2014, a

menina tinha apenas cinco anos de idade. Anny nasceu com a síndrome CDKL5, um distúrbio neurológico raro que desenca-deia um tipo grave e incurável de epilepsia que gerava crises frequentes de convulsões, que, no caso da menina, chegavam a mais de 80 por semana.

Essa autorização se deu em caráter especial e individual, tendo em vista que à época não havia qualquer regramento da Anvisa que permitisse esse tipo de aquisição - a RDC Nº 335, que estabeleceu a possibilida-de de importação de derivados da cannabis para tratamento de saúde, entrou em vigor mais de 5 anos depois, em 2020.

Família Fischer

Foto: Reprodução/Sechat

passou a reunir além das famí-lias médicos, profissionais da saúde, advogados, entre outros profissionais. Como um caminho natural, surgiu a necessidade de uma maior organização e cone-xão dessas mães e grupos ativis-tas do uso medicinal da cannabis que estavam espalhados pelo Brasil. Assim, buscando melhor organizar a luta pela causa da ampliação do acesso aos medi-camentos feitos com derivados da Cannabis começaram a surgir as associações de pacientes.

Documentário “Ilegal” foi espécie de divisor de águas

Fundamental para a populari-zação do tema do uso medicinal da cannabis no Brasil, o curta--metragem “Ilegal” (2014 - Dra-ma/Infantil - 1h30), lançado em março de 2014, trouxe o caso da menina Anny como linha condutora para contar histórias de famílias desesperadas por não poderem acessar o único medicamento capaz de dar uma esperança de vida a seus entes queridos.

O filme transformou-se numa espécie de vitrine da causa dos pacientes e suas famílias, transformando o tema, antes restrito a grupos que reivindica-vam o acesso aos medicamen-tos, em uma causa nacional. Com a repercussão do caso de

Anny, e de pacientes cujas his-tórias foram contadas pelo do-cumentário, os relatos de casos de controle de crises convulsivas com o CBD, entre outros teste-munhos de cura ou melhoria sig-nificativa nas condições de vida, se multiplicaram na mesma pro-porção do interesse do interes-se público em torno do tema da Cannabis para fins medicinais.

A partir desse momento, mães de todo o Brasil passaram a se unir para buscar o acesso à can-nabis medicinal. Redes sociais como grupos do Facebook e Whatsapp foram fundamentais para que a mobilização em tor-no do tema ganhasse cada vez mais força. O próximo resultado desse movimento crescente seria o surgimento de associações de pacientes.

Atualmente estão em operação no Brasil mais de 40 associações de pacientes. O tamanho das en-tidades, número de associados e objetivos variam, agrupando uma ou mais atividades como asses-soria jurídica e social, plantio de Cannabis, extração de óleo, pro-dução de medicamentos, ações de caráter informativo e de for-mação para o ativismo na causa.

A maior parte das entidades vive de contribuições de seus associados. Geralmente a taxa mensal de contribuição indivi-dual parte de R$ 20, em média. Fundada em março de 2021, a Federação das Associações de Cannabis Terapêutica (FACT) é

formada por 36 entidades que reúnem milhares de pacientes. Deste total, cerca 25% dessas entidades atuam com o plantio de Cannabis e a extração do óleo terapêutico. Segundo a FACT, em abril de 2021 estavam em estru-turação - formatação de estatuto e/ou encaminhamento de regis-tro - pelo menos outras cinco en-tidades em diferentes estados do país.

A evolução da legislação brasileira para o acesso a produtos medicinais derivados de cannabis

Em 2015, por meio da RDC Nº 3, publicada em 26 de janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso controlado CBD. A decisão foi tomada por unanimidade após a Anvisa apresentar um relatório afirmando que o CBD não causa dependência, nem tem efeitos psicoativos.

Como resultado, o canabidiol deixou a lista F2 - de substâncias psicotrópicas de uso proibido - e passou a integrar a lista C1 - que abrange substâncias sujeitas a controle.

Dessa forma, o canabidiol pas-sou a ter o uso liberado mediante prescrição médica. Contudo, no ano anterior (2014), o Conselho Federal de Medicina (CFM) já ha-via autorizado o uso do CBD no tratamento de crianças com epi-lepsias resistentes ao tratamento convencional por meio da Reso-lução CFM 2.113/2014.

Cerca de 9 anos antes da libe-ração do uso do CBD pela Anvisa, entrou em vigor a Lei nº 11.343 de 2006, a chamada Lei de Dro-gas, que prevê a possibilidade de autorização do cultivo de plantas para uso em fins medicinais ou de pesquisa.

Capa do documentário Ilegal (Imagem: Reprodução Superinteressante)

É neste momento, a par-tir da década de 2020, que o movimento das mães e pais consolida a força conquistada na década anterior, quando

Movimento de pais de pacientes de cannabis ganhou corpo a partir

de 2010 passando a aglutinar outros segmentos sociais

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)62 63 sechat.com.br

A CANNABIS E A ECONOMIA

CAPÍTULO 6

A conjuntura e as previsões para omercado global legal de cannabis

A cannabis legal é um dos mercados mais promis-sores do mundo na atuali-dade. Isso ocorre devido à versatilidade da planta, que pode ser usada tanto para terapias medicinais, como na indústria - com diversas finalidades como alimen-tação, produção de têxteis, construção civil, bem-estar pessoal e para o consumo adulto.

Por conta das limitações regulatórias, embora pos-suindo uma forte vocação agrícola - que facilitaria o fornecimento de matéria--prima de cannabis -, são os produtos à base de CBD que garantem a participa-ção da América Latina e Caribe no consumo global da cannabis legal. De acor-do com a Prohibition Part-ners, o total movimentado pelo mercado na região em 2020 foi de 168 milhões de dólares.

As projeções de cresci-mento desse segmento são atualizadas com muita

velocidade, e a cada novo estudo os dados se tornam mais animadores. A Prohi-bition Partners estima um mercado global de cannabis legal de 103,9 bilhões de dó-lares até 2024. Na análise, a América Latina aparece em quarto lugar no ranking de maiores mercados mun-diais potenciais, com uma participação de 8,76%.

A participação dos ter-ritórios é projetada da se-guinte forma: Europa, com 39,1 bilhões de dólares; América do Norte e Cana-dá, com 37,9 bilhões de dólares; Ásia, com 12,5 bi-lhões de dólares; América Latina, com 9,1 bilhões de dólares; Oceania, com 2,7 bilhões de dólares, e África, com 2,6 bilhões de dólares. Ainda na mesma projeção global, agora em termos de percentual de aplicação por segmento, o mercado me-dicinal ficaria com a maior fatia de participação, com 60,35% das vendas, o que representaria 62,7 bilhões de dólares.

O segmento de uso adul-to da cannabis ficaria com 39,65% do mercado, o que representaria 41,2 bilhões de dólares.

Foto: Mikhail Nilov /Pexels

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)64 65 sechat.com.brFoto: Kindel Media/Pexels

Pedidos e concessão de autorização para produção e venda de produtos à base de cannabis aumentam no Brasil

Até abril de 2021, haviam nove pedidos para concessão de autorização sanitária junto à Anvisa para produção e comer-cialização de produtos de uso medicinal à base de cannabis no Brasil. Se a agência acatar os pedidos, ou parte deles, sig-nificará a largada do país para este mercado industrial, abrin-do alguma competitividade in-ternamente.

Na prática, quem faz uso des-ses produtos deverá encontrá--los por preços mais acessíveis. A New Frontier estima que até 2023 o mercado de cannabis medicinal no Brasil atinja o va-lor de R$ 4,7 bilhões.

Em abril de 2021, a Anvisa forneceu três novas autoriza-ções, sendo uma para as novas concentrações do produto Ca-nabidiol 200mg/ml da empresa Prati-Donaduzzi - primeiro pro-duto autorizado pela Anvisa em abril de 2020 para ser pro-duzido no Brasil e comercia-

lizado em drogarias -, que re-cebeu aval para disponibilizar também as concentrações do produto em 20mg/ml e 50mg/ml.

Estados Unidos lideram mercado mundial

Atualmente, os Estados Uni-dos são líderes absolutos no faturamento no mercado glo-bal legal da cannabis. Segun-do a consultoria especializada BDSA, em 2020, o país norte-a-mericano ficou com 82,16% do volume mundial do faturamen-to, atingindo vendas de 17,5 bilhões de dólares. Os estados do Oregon e do Colorado li-deram o ranking interno com crescimentos de 39% e 26%, respectivamente.

Em todo o país, são 38 mi-lhões de usuários de cannabis declarados. Projeções indicam que o setor emprega cerca de 340 mil pessoas que se dedi-cam à produção, transporte e comercialização. Somente em impostos, o governo arrecadou cerca de 5 bilhões de dólares em 2019.

O Canadá, ainda segundo a BDSA, que apresentou cres-cimento de 61% no mercado legal de cannabis em 2020, fi-cou com 12,2% do faturamen-to global, registrando 2,6 bi-lhões de dólares em vendas. O restante do mundo ficou com apenas 5,16% de participação, vendendo apenas 1,1 bilhão de dólares. Em cinco anos, essa participação pode chegar a 8,8 bilhões de dólares. Informação sobre os benefícios medicinais da cannabis constrói um novo cenário mundial

Alguns fatores tiveram pa-pel decisivo nesse crescimento na expectativa mundial de ne-gócios para a cannabis, entre eles, e um dos principais moti-vos, está o aumento do conhe-cimento do público sobre as potencialidades medicinais da planta.

Já a Nunature Distribuição do Brasil Ltda recebeu duas autorizações para produção e comercialização do seu cana-bidiol, que chegará ao merca-do nas concentrações 17,18 mg/ml e 34,36 mg/ml. Em maio de 2021, a Anvisa con cedeu autorização sanitária para a Fundação Oswaldo Cruz que poderá distribuir o produ-to fabricado pela empresa Pra-ti-Donaduzzi.

Sete pedidos para conces-são de autorização sanitária para produção e comercializa-ção de produtos de uso medi-cinal à base de cannabis trami-tavam na Anvisa em maio de 2021, sendo das empresas:

Empresa Medicamento Concentração de THC

Medstar Importação e Exportação Eireli fitoterápico até 0,2%

Zion Medpharma Importação e Exportação, Comércio e Serviços Ltda

fitoterápico até 0,2%

Verdemed Farmacêutica Ltda fitofármaco + de 0,2%

Verdemed Farmacêutica Ltda fitofármaco até 0,2%

Promediol do Brasil Ltda fitoterápico até 0,2%

Silvestre Labs Química e Farmacêutica Ltda fitofármaco até 0,2%

Nunesfarma Distribuidora de Produtos Farmacêuticos Ltda

fitoterápico até 0,2%

Se parte dos pedidos de registro de produtos que aguardam parecer da Anvisa for aprovada, mercado nacional terá mais competitividade

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)66 67 sechat.com.br

Além disso, a regulamenta-ção que avança mundo afora - puxada principalmente pelos Estados Unidos, que têm regu-lamentado o tema com muita velocidade - tem contribuí-do para promover o tema no campo dos negócios e atrair a simpatia de investidores ou curiosos que até bem pouco tempo não arriscariam pensar em cannabis como uma possi-bilidade de investimento.

Até abril de 2021, 38 estados norte-americanos, além de Wa-shington, D.C., de um total de 50, permitiam o uso medicinal da cannabis. Isso significa que 76% das jurisdições estaduais já regulamentaram a cannabis para fins medicinais. Já o uso adulto é regulamentado em 16 estados e em Washington, D.C..

milhões de residentes. Final-mente, há mais de 120 milhões de habitantes nos 16 estados e territórios dos quais todos legalizaram o uso adulto da maconha e também têm status de uso medicinal coexistente. Uma pesquisa do instituto Gal-lup, divulgada em novembro de 2020, apontou que quase sete em cada dez americanos apoiavam a legalização da can-nabis em todo o país.

O estudo revelou que 68% dos entrevistados disseram ser favoráveis à legalização da cannabis para uso adulto. O número é o mais elevado des-de que a empresa começou a fazer pesquisas sobre o assun-to. Em 1969, apenas 12% dos americanos eram a favor da le-galização.

A lei Farm Bill, de 2018, apro-vou o uso do CBD e o cultivo do cânhamo em nível federal nos Estados Unidos. Contudo, o uso adulto de cannabis, ou qualquer produto com con-centração de THC acima de 0,3% depende de legislações estaduais.

O THC, que ao lado do CBD é um dos canabinoides mais conhecidos da cannabis, é con-siderado desde a década de 1970 uma substância sem valor terapêutico para o FDA (Food And Drug Administration), ór-gão do governo americano responsável pela regulação do setor de medicamentos.

No dia 31 de março de 2021, o estado de Nova Iorque regu-lamentou o uso adulto de can-nabis. De acordo com a lei, as vendas devem começar entre 12 a 18 meses. Segundo esti-mativas do mercado, deverão ser movimentados 2,3 bilhões de dólares por ano a partir do quarto ano de vigência da le-gislação.

Devido a sua importância eco-nômica como principal centro

financeiro do mundo - o esta-do de Nova Iorque é o maior centro financeiro e comercial dos Estados Unidos, e ocupa o quarto lugar no ranking indus-trial do país - e também por sua capital de mesmo nome ser reconhecida como “capi-tal do mundo” -, a abertura do mercado deverá despertar o interesse dos investidores em empresas de private equity, fundos mútuos e outras insti-tuições da bolsa de Wall Street relacionadas à cannabis.

Em outra questão que a des-criminalização realizada por Nova Iorque terá forte impac-to será em aspectos sociais, já que 86% dos presos por porte de drogas no estado são negros ou hispânicos. Segundo a insti-tuição Drug Policy Alliance, nas últimas décadas, em torno de um milhão de pessoas foram encarceradas por portarem pe-quenas quantidades de canna-bis no estado. Com a nova lei entrando em vigor, a polícia não poderá prender quem carregar até o limite permitido de canna-bis, e cerca de 160 mil pessoas

Foto: Tim Mossholder/Unsplash Foto: Quintin Gellar/Unsplash

Menos de 7 milhões do total de 335 milhões de habitantes dos Estados Unidos, ou pou-co mais de 2% da população, vivem em lugares sem algum grau de legalização da canna-bis. Há apenas três estados onde a cannabis é totalmen-te ilegal, sendo proibida para uso em qualquer forma: Idaho, Kansas e Nebraska.

Em 11 estados existem pro-gramas de acesso severamen-te limitado (SLA) cobrindo uma população de 90 milhões de pessoas. Outros 20 estados e dois territórios (Porto Rico e as Ilhas Virgens dos EUA), que têm regimes exclusivamente de uso médico, abrangem uma população total de quase 118

Nos EUA, a regulamentação

avança rapidamente: até abril de 2021, 38 estados, de um total

de 50, permitem o uso medicinal da cannabis

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69 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)68Foto: Energy Piccomr/Pexels

condenadas em primeiro grau terão seus nomes ex-cluídos dos registros poli-ciais.

Segundo a organização de pesquisa e defesa de po-líticas públicas Center for American Progress, que tem sede em Washington, DC., 1 trilhão de dólares foi o cus-to da guerra às drogas ao governo dos Estados Uni-dos desde 1971. Somente em 2015, o governo fede-ral destinou 9,2 milhões de

dólares por dia (3,3 bilhões de dólares ao ano) para prender pessoas acusadas de crimes relacionados a drogas. Além disso, a regulamentação do uso adulto da cannabis deve-rá auxiliar para uma reforma abrangente da legislação da cannabis em nível federal e pressionar por reformas re-gulatórias como o Safe Banking.

A medida tiraria da clan-destinidade as transações financeiras da indústria da cannabis oferecendo flexibi-

lização bancária para com-panhias do setor, permitindo acesso a crédito, custódia e serviços normais de institui-ções financeiras.

*Valores em dólares americanos (USD)(Cotação de mercado em 31/5/21

Fonte: Yahoo Finance)

Vaughan (Canadá)

$88,11 milhões Medicinal

Marysville (EUA)

$12,11 bilhões Suprimentos para cultivo

Ontário (Canadá)

$9,96 bilhõesMedicinal/Adulto

Chicago (EUA)

$199,75 bilhõesMedicinal

Edmonton (Canadá)

$6,51 bilhõesMedicinal/Adulto

Flórida (EUA)

$6,72 bilhõesMedicinal

Ontário (Canadá)

$6,8 bilhõesMedicinal/Adulto

Toronto (Canadá)

$7,44 bilhõesMedicinal/Adulto

Chicago (EUA)

$2,7 bilhõesMedicinal/Adulto

San Diego (USA)

$4,3 bilhõesVenda e arrendamento de terras para cultivo

Ontário (Canadá)

$4,13 bilhõesMedicinal/Adulto

Toronto (Canadá)

$3,06 bilhõesMedicinal/Adulto

Ottawa (Canadá)

$914,7 milhõesMedicinal/Adulto

Moncton (Canadá)

$948,7 milhõesMedicinal/Adulto

Tempe (EUA)

$1,7 bilhõesMedicinal/Adulto

Alberta (Canadá)

$1,9 bilhãoMedicinal/Adulto

Conheça algumas das maiores empresas que atuam no segmento da cannabis no mundo:

Desde 1971, o governo norte-americano já gastou 1 trilhão

de dólares na guerra às drogas

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)70 71 sechat.com.br

Legislação sobre a cannabis no mundo

Autorizado os usos Medicinal e Adulto

Autorizado somente o uso Medicinal

Proibidos os usos Medicinal e Adulto

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72 73GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021) sechat.com.br

Congresso Nacional (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

OMISSÃO REGULATÓRIA: A GRANDE VILÃ QUE DIFICULTA O ACESSO E TRAVA O MERCADO GIGANTESCO DO USO MEDICINAL EINDUSTRIAL DA CANNABIS NO BRASIL

CAPÍTULO 7

A consciência sobre o uso medicinal da cannabis avan-ça rapidamente pelo mun-do. E, comprovadamente, progride mais em países mais desenvolvidos social e economicamente como Es-tados Unidos, Canadá, Ale-manha e Israel. Em alguns deles, a discussão sobre o uso medicinal já está con-solidada e, agora, estende--se para o consumo adulto. A experiência da regulamen-tação mundial da cannabis mostra que há uma espécie de rito de passagem entre a

regulamentação do uso medi-cinal e a descriminalização do uso adulto.

Na América Latina, o vi-zinho Uruguai tornou-se exemplo global com uma abrangente lei de regula-mentação da cannabis. Em 2013, o país realizou a pri-meira legalização federal do mundo da cannabis para os usos medicinal e adulto. Desde então, está autoriza da a produção, venda e ex-portação da planta para fins terapêuticos.

Contudo, o severo controle

estatal sobre a produção tem freado o desenvolvimen-to do setor, fazendo com que empresas deixem de incluir o país em seus investimentos.

Outros países da região como Colômbia, Paraguai e México seguem discutindo suas regulamentações.

Segundo projeções da Prohibition Partners, a Amé-rica Latina responderá até 2024 por 8,76% do mercado mundial de cannabis legal, representando uma movi-mentação de cerca de 9,1 bi-lhões de dólares.

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)74 75 sechat.com.br

Em novembro de 2020, o go-verno da Argentina autorizou em nível nacional o autocultivo controlado de cannabis para fins medicinais, além do acesso aos óleos e derivados em far-mácias autorizadas. Embora a decisão dependa de regulamen-tações específicas em diversos aspectos, os argentinos deram um passo ousado e decisivo em sua política local regulatória que, ao certo, terá forte impacto nos demais países da América Latina.

No Brasil, o ritmo da regula-mentação avança mais lenta-mente do que a fase em que es-tão diversas nações do mundo e até mesmo as latino-america-nas. Isso não significa, necessa-riamente, que não esteja acon-tecendo alguma evolução nesse sentido no país. Por aqui, ocorre uma espécie de regulamentação fragmentada e silenciosa, que poderia ser comparada a um quebra-cabeça em que boaparte das peças ainda não se encaixam.

Isso porque, por omissão do Executivo e do Legislativo, outras instâncias que no re-gramento legal seriam secun-dárias na tomada de decisão nesse assunto acabam por de-finir os rumos de questões que não são debatidas, votadas ou regulamentadas pelo gover-no federal e pelo Congresso Nacional no tempo correto e na profundidade que exigem. Muito embora boa parte des-sas decisões sejam precárias e cercadas de insegurança ju-rídica.

Assim, a possibilidade rea-lizar um tratamento com pro-dutos importados à base de cannabis está disponível no Brasil apenas para uma elite econômica, permanecendo inacessível à maioria absolu-ta dos que necessitam desses medicamentos.

Localiza-se numa zona cin-zenta, causada pelo vazio entre a omissão dos poderes Legis-lativo e Executivo na regula-mentação do uso medicinal da cannabis e o alcance limitado da atuação da Anvisa, o espaço que o Poder Judiciário passou a ser a principal, e muitas vezes, a última alternativa a milhares de famílias.

Nos últimos anos, principal-mente a partir de 2015, a Justiça passou a ser demandada tanto em ações coletivas - movidas por associações de pacientes -, quanto nas individuais - ajuiza-das por pessoas que fazem uso medicinal da cannabis. Uma dessas decisões, proferidas em caráter liminar em primeira instância no ano de 2017 - por-tanto uma decisão precária e temporária -, é o que mantém na legalidade, mesmo com al-guns sobressaltos, a operação da Abrace Esperança, que tem sede em João Pessoa, na Para-íba, e atende cerca de 17 mil famílias (abril de 2021).

Em 2020, a Anvisa recebeu mais de 15.800 solicitações de importação de medicamen-tos e produtos feitos à base CBD, número 86,13% maior do que o registrado em 2019. Se comparado com o total de solicitações realizadas em 2015 (850), o aumento foi de 1.766%. O custo da omissão do governo em não regulamentar o tema é altíssimo, e esse ônus financeiro é dividido com toda a sociedade. Mas o custo social é imensurável.

Casa Rosada, a sede do governo da Argentina

Foto: Vinicius Garcia/Pexels

Embora não se tenha conso-lidado os dados sobre o núme-ro de ações em que os três en-tes da federação são obrigados a fornecer medicamentos à base de cannabis, os números de São Paulo, o maior e mais rico estado do país, dão uma ideia da gravidade e do tama-nho do problema.

Em 2015, houve apenas um pedido via judicial para o governo paulista custear medi-camentos à base de cannabis. Cinco anos depois, em 2020, esse número chegou a 198 ações judiciais, que consumi-ram cerca de R$ 63 milhões dos recursos estaduais.

Em 2021, somente até o mês de abril, o gasto para o atendi-mento de 58 ações judiciais que São Paulo foi obrigado a custear o tratamento à base de cannabis atingiu R$ 20,6 mi-lhões.

Por não haver uma legis-lação clara nesse sentido, a Justiça, assim como a Anvi-sa, opera num ambiente jurí-dico formado por incertezas e

governamentais de canabidiol encomendado pela empresa VerdeMed, os entes públicos gastaram pelo menos R$ 19,8 milhões em dois anos, entre 2018 e 2019, nesse tipo de compra demandada por conta da judicialização. Os estados foram os entes que desembol-saram mais recursos (82,3% do total), sendo seguidos por mu-nicípios (13,13%) e pelo gover-no federal (4,4%).

A movimentação do gover-no, mesmo que lenta e tími-da frente ao grave problema, acontece, basicamente, por dois motivos: o primeiro deles é pela crescente mobilização social em torno do tema. Esse apoio da sociedade é visto em vários segmentos e camadas sociais, identificado inclusive em alguns momentos, embora de modo discreto, em apoiado-res do governo e de sua base parlamentar no Congresso Na-cional. O segundo motivo serve para, de certo modo, mesmo que seja temporariamente, efraquecer o debate em torno

Supremo Tribunal Federal (Brasília-DF)

Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF

Quem dispõe de recursos financeiros acessa os medi-camentos via importação ou por intermédio de associações de pacientes - que, via de re-gra, praticam preços menores e facilitam a aquisição. Já os que dispõem de poucos re-cursos ou nenhuma condição econômica recorrem ao Judi-ciário para que o SUS custeie seus tratamentos.

Segundo um relatório de mercado sobre compras

Nesse sentido, a inter-venção regulatória do Judi-ciário e da Anvisa, tem sido a única alternativa viável para amenizar de algum modo a dificuldade de acesso aos medicamentos à base de cannabis medicinal no Brasil. No caso da Anvisa, mesmo com a evolução das normati-vas a partir do ano de 2015, o custo proibitivo dos produtos importados - e até mesmo dos dois produtos em que a venda em farmácias é autorizada - é o maior empecilho à ampliação do acesso.

O alto custo e a baixa ofer-ta de produtos não sinaliza-ram melhoria nem mesmo a partir da publicação da RDC Nº 327/19 da Anvisa, que per-mite a produção e a venda de produtos derivados da canna-bis em território nacional, des-de que a matéria-prima utiliza-da na produção seja importada.

A intervenção do Judiciário e da Anvisa

tem sido a única alternativa para

amenizar falta de acesso aos medicamentos

de cannabis

Falta de regulamentação dificulta o acesso dos mais pobres

aos medicamentos e retira milhões em

recursos do SUS

ambiguidades. Os maiores pre-judicados são, sem dúvida, os pacientes que precisam dos medicamentos - e necessitam com brevidade porque a doen-ça não espera.

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GUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)76 77 sechat.com.br

Sede da Anvisa (Brasilia-DF)

do PL 399/2015 e sua tramita-ção.

Com um discurso conser-vador em que a pauta de cos-tumes é destaque, o atual go-verno vê na possibilidade do cultivo de cannabis para fins medicinais e industriais uma forte ameaça, sendo comum parlamentares mais ligados ao Palácio do Planalto propaga-rem a informação falsa de que o PL 399/2015 irá “liberar o consumo de maconha no Bra-sil”.

Esse grupo de autoridades contrárias ao projeto, articu-ladas com o governo federal,

passou a defender a partir do segundo semestre de 2020 o fornecimento do Canabidiol (CBD) pelo SUS. Numa ação coordenada, os contrários ao projeto passaram de um lado a articular junto ao Ministério da Saúde a tomada de medi-das para o fornecimento do medicamento pelo SUS, e do outro a defenderque a aprovação do PL 399/2015 não seria necessária porque o fornecimento do CBD seria rea-lizado pelo governo.

Em outra frente, o governo federal celebrou em novembro de 2020, por meio da Fundação

Oswaldo Cruz (Fiocruz), acordo para transferência de tecnolo-gia e fornecimento do produto Canabidiol 200mg/ml da Prati- Donaduzzi. Além disso, o go-verno solicitou autorização jun-to à Anvisa para que a Fiocruz pudesse produzir o produto. O pedido foi atendido no início de maio de 2021.

Em 2019, foi formada uma Comissão Especial na Câma-ra com o objetivo de oferecer nova redação ao PL proposto pelo deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE), ampliando a abran-gência do projeto permitindo o plantio e o uso industrial da

O presidente Jair Bolsonaro, cumprimenta o vice-presidente da República, Hamilton Mourão

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

cannabis. Depois de uma ex-tensa e diversificada agenda de discussão, a redação do substitutivo ao PL 399/2015 foi apresentada, em 20 de abril de 2021, pelo seu relator, o depu-tado Luciano Ducci (PSB-PR), tendo a proposta sido aprova-da pela comissão em 8 de ju-nho de 2021.

A onda conservadora que foivitoriosa nas eleições de 2018, catapultada por partidos de direita e segmentos como o dos evangélicos e dos ruralis-tas, elegeu, além do presiden-te da República Jair Bolsonaro, boa parte do Congresso.

Com essa guinada das urnas à direita mais conservadora, que tem na pauta de costumes uma de suas bandeiras mais fortes, o avanço da discussão do tema do uso medicinal da cannabis - que por si só já é cercado de polêmica, em qual-quer lugar do mundo - enfrenta no Brasil da atualidade uma di-ficuldade a mais.

Mesmo que a discussão do PL 399/2015 tendo ficado para-da na Câmara por praticamen-te um ano, a partir de março de 2020 por conta da pandemia do novo coronavírus, a movi-mentação em torno do proje-to serviu, de certo modo para aglutinar forças de apoio e, também, para dar visibilidade ao tema na opinião pública.

Embora existam críticos ao PL em segmentos do próprio movimento ativista que defen-de o uso medicinal da cannabis, entre eles algumas associações que consideram que a propos-ta não lhes garantiria autono-mia para produção e que os pacientes continuariam ‘reféns’ da indústria farmacêutica. Mer-cado precisa estar atento ao modo que a regulamentação irá ocorrer.

Prédio do Ministério da Sáude, em Brasília-DF

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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79 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)78

ANVISA – Agência nacional de vigilância sanitária.

Cannabis – Gênero vegetal formado por 3 variedades dife-rentes: cannabis sativa, canna-bis indica e cannabis ruderalis. Nativas do centro e do sul da Ásia, são utilizadas na fabricação de fibras (cânhamo), medica-mentos, na indústria da constru-ção, área nutricional incluindo rações para animais, recreação, religiosidade entre outros.

CBD (Canabidiol) – Fitocana-binoide encontrado na planta da cannabis, não apresenta efeitos psicoativos. Tem efei-tos medicinais, como: anticon-vulsivante, anti-inflamatórios, analgésicos entre outros.

CBG (Canabigerol) – Fitocana-binoide com ação antibacteria-na e antifúngica, entre outros.

CBN (Canabinol) – Fitocanabi-noide oxidante (forma reduzi-da) do THC. Foi utilizado como base para a maioria dos cana-binoides sintéticos. Tem efeito medicinal principalmente no sistema imunológico.

Canabinoide – Termo gené-rico para descrever substân-cias naturais ou artificiais que apresentam ação nos recepto-res canabinoides.

Canabinoides sintéticos – Substâncias produzidas em la-boratórios que têm ação sobre os receptores canabinoides.

Delta-8-tetra-hidrocanabi-nol – Fitocanabinoide isômero do THC que apresenta menor efeito psicoativo.

GLOSSÁRIOEncéfalo – Conjunto formado pelo: tronco cerebral, cerebe-lo e cérebro, formando a parte superior do sistema nervoso central.

Endocanabinoides - Com-postos produzidos pelo or-ganismo, através da cascata do ácido araquidônico e que apresentam ação nos recep-tores canabinoides.

Farmacologia – Área da me-dicina que estuda as pro-priedades químicas dos me-dicamentos e respectivas classificações.

Fitocanabinoides – Compos-tos encontrados na planta can-nabis que apresentam ação nos receptores canabinoides. Existem mais 100 compostos já descritos.

Gota – Doença caracterizada pela elevação do ácido úrico no sangue, o que leva a um depósito de cristais nas arti-culações. Apresentam edema articular, principalmente nos pés, com vermelhidão, calor e muita dor.

Ópio - Mistura de elementos químicos extraídos da papou-la. Tem ação analgésica, nar-cótica e hipnótica. Utilizado na produção de: morfina, codeí-na, heroína entre outros.

Psicoativa – Substância quí-mica que age principalmente no sistema nervoso central (SNC), onde altera a função cerebral e temporariamen-te muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência.

Receptores canabinoides – Classe de receptores acopla-dos à proteína G que sofrem interação com canabinoides.

Síndrome de Dravet – Co-nhecida como epilepsia ge-nética da infância, é uma doença rara, progressiva e incapacitante que se mani-festa no primeiro ano de vida. Caracterizada por convulsões resistentes a fármacos e dete-rioração progressiva da cogni-ção e da parte motora.

SNC – Sistema nervoso cen-tral, formado pelo encéfalo e a medula espinhal.

SNP – Sistema nervoso perifé-rico. Parte do sistema nervoso que se encontra fora do siste-ma nervoso central. Formado por fibras (nervos), gânglios nervosos e órgãos terminais. Sua função é conectar o sis-tema nervoso central com ou-tras partes do corpo.

Terpenos – Compostos natu-rais de origem vegetal, alguns tem propriedades medicinais enquanto outros, podem ser usados inclusive como inseti-cidas e são responsáveis pelo odor ou fragrância das plan-tas.

THC (Delta-9-tetra-hidro-canabinol) – Fitocanabinoi-de responsável pelos efeitos psicoativos da cannabis. Tem efeitos medicinais, como: analgésico, ansiolítico, função imunitária entre outros.

risco evidente de que pontos relevantes como produção, es-trutura, mercado, impostos, entre outros, sejam definidos de modo inadequado e fiquem à margem de um planejamen-to exequível que possibilite um ambiente de negócios saudável, sustentável e viável economica-mente.

Para isso, há que se ir muito além do CDB ou do THC. Ir além das doenças, e ver o mar de oportunidades que podem ser abraçadas pela versatilidade da cannabis.

Enxergar bem mais longe do que o uso medicinal ou o uso adulto da planta. Será neces-sário, isso sim, compreender o potencial de um mercado novo, praticamente inexplorado no Brasil e que pode ser uma re-volução na economia do país. Ao certo há condições de infra-estrutura e expertise nacionais para isso. Fica a dúvida: enquan-to sociedade, teremos maturi-dade para avançar nesse pro-cesso?

Mesmo com os entraves da legislação brasileira,

o mercado segue fazendo seus planos,

ancorando numa espécie de realidade paralela

Mercado precisa estar atento ao modo que a regulamentação irá ocorrer

Mesmo com os entraves da legislação brasileira, que pouco conseguiu evoluir até mesmo na questão básica, que seria no aspecto da ampliação do aces-so aos medicamentos, o merca-do segue fazendo seus planos, ancorado numa espécie de re-alidade paralela que se espelha muito mais na movimentação internacional - principalmente com o que vem ocorrendo mais recentemente nos Estados Uni-dos, a partir das eleições gerais de 2020, e na regulamentação europeia - do que mesmo com o cenário brasileiro.

majoritária da Câmara e do Se-nado -, há condições políticas bastante favoráveis.

Nesse sentido, podem ser notadas diversas iniciativas no Brasil - de empresas locais e internacionais -, que realizam investimentos em novos negó-cios e desenvolvem pesquisas. O desafio que se mostra claro é como aproximar esse mercado vivo - que tem conhecimento e está disposto a investir no país - dos que têm condições legais para decidir como esse mercado será regulamentado, no caso os agentes governamentais e políticos.

Deste modo, é fundamen-tal que a regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil e o seu mercado sejam construídos conjuntamen-te por representantes do go-verno, do Legislativo, e por pessoas e segmentos que tenham expertise em ciência e no ambiente de negócios.

Se a regulamentação da can-nabis medicinal no Brasil não caminhar desta forma, há um

Apoiados na onda de regu-lamentação norte-americana, que ganhou novo impulso a partir de 2021, analistas acredi-tam que o momento é de uma virada mundial no tema da re-gulamentação da cannabis me-dicinal, sendo esse momento o melhor da história para realizar investimentos. Embora o avanço regulatório dos Estados Unidos não seja algo novo - isso já vinha ocorrendo há alguns anos nas jurisdições estaduais do país -, com Joe Biden assumindo a presidência e devido à ascen-são dos congressistas do Par-tido Democrata - mesma agre-miação de Biden - como força

Foto: David Cabric/Unsplash

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81 sechat.com.brGUIA SECHAT: SAÚDE E NEGÓCIOS DA CANNABIS (Edição nº 1 - 2021)80

Empresa brasileira que acredita no po-tencial terapêutico do canabidiol. Tem como grande parceiro a Hammer Enter-prises, empresa americana que é uma das maiores produtoras de óleo de CBD do mundo.

Os produtos Natyva CBD são 100% or-gânicos, fabricados com o que há de mais moderno no mercado e sob um rigoroso controle de qualidade, pureza e potên-cia. Tem como missão proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas com doenças de difícil tratamento para terem uma vida mais feliz.

PARCEIROS DO SECHAT NESTE PROJETO

1Pure®️ CBD é uma marca pioneira de canabidiol no mundo e está presente no Brasil desde 2016. Fabricados pelo labo-ratório Endopure Life Sciences, na Califór-nia, nossos produtos têm sido utilizados em diversos países devido ao elevado grau de pureza e qualidade, proporcio-nando melhora na qualidade de vida dos pacientes.

A Endopure está expandindo a sua produção para a Europa (Portugal).

Fundada em 2015, a Vitaleep conta com a experiência de profissionais competen-tes e qualificados com o devido conheci-mento da extensa gama de medicamen-tos importados, sendo, também, uma das pioneiras na importação do Canabidiol.

A Vitaleep atende órgãos públicos, pla-nos de saúde, pessoas físicas, clínicas e hospitais. Tem como missão proporcionar aos pacientes um tratamento único, eficaz e inovador trazendo uma qualidade de vida melhor a quem necessita.

A Terra Cannabis é uma plataforma fa-cilitadora de acesso a produtos de canna-bis medicinal, onde pacientes autorizados pela Anvisa podem localizar e acessar os produtos receitados. Nossos parceiros oferecem produtos orgânicos, não geneti-camente modificados, livres de pesticidas, herbicidas, fertilizantes químicos, glifosa-to, metais pesados e outras substâncias tóxicas.

Os produtos passam por criteriosos processos de certificação e cada lote é submetido, individualmente, a extensos testes em laboratórios independentes para garantir sua qualidade e certificação de origem.

A FarmaUSA é uma empresa farmacêu-tica fundada em 2005 nos EUA e atua no Brasil desde 2013, tornando-se a primei-ra em Cannabis Medicinal, tendo como propósito proporcionar de forma huma-nizada o acesso à tratamentos exclusivos para milhares de pacientes, com medica-mentos inovadores e conceituados, como Purodiol, Isodiolex e Nabix.

A FarmaUSA promove, com abordagem ética, informações relevantes a milhares de médicos em todo o Brasil e possui forte compromisso com todas as famílias.

Alma Lab Cannabis Company é uma empresa com missão e propósito de me-lhorar aqualidade de vida das pessoas, proporcionando saúde e bem-estar, atra-vés de elementos orgânicos e suplemen-tos naturais que promovam um estilo de vida sustentável, trazendo equilíbrio na mente, corpo e ALMA.

Tem o propósito de entregar experiên-cias positivas às pessoas, trazendo acesso a produtos de altíssima qualidade, desen-volvidos dentro dos mais rigorosos pa-drões de segurança e qualidade.

Os produtos Alma Lab são 100%orgâ-nicos, cultivados em solo americano (Co-lorado e Oregon – EUA), toda linha Alma Labpassa pelo processo de Extração em Dióxido de Carbono (CO²) em estado su-percrítico, o que mantém o produto livre de metais pesados, pesticidas e outras im-purezas.

Em 2012, um grupo de apaixonados pela causa reuniu-se para formar um dis-pensário. Sem confiarem na qualidade dos produtos disponíveis no mercado, eles fundaram a Revivid, marca que hoje é uma das principais produtoras de me-dicamentos à base de cannabis dos EUA. Em 2014 Keila Santos fundou a Revivid Brasil, para oferecer produtos exclusivos com dosagens pioneiras aos pacientes brasileiros.

A genética de suas plantas é patentea-da, garantindo um alto teor de Canabidiol. Seus métodos de extração, diretrizes rígi-das de controle de qualidade e padrões éticos, garantem que a Revivid fornece produtos com a melhor e mais alta quali-dade do mercado.

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FONTES CONSULTADAS

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