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·, 1 I' "--'-' f ---.--- >--",' --.-- ,-.'£'- \ '\ " \ \ ExECU<;:Ao PENAL \ .\ Lei 7,210, de 11 de julho de 1984 o Presidente da Republica: saber que 0 Congresso Nacional decreta e. eu 'sanciono a seguinte Lei: TITULO I DO OBjETO E DAAPUCA<;:AO DA LEI DE EXECU<;:AO PENAL, Art. 1.° A execuc;ao penai l - 4 tern par objetivo efetivar as disposi<;6es de sentenc;a D.U decisao criminals e proporcionar condi-' c;6es para a harmonica integrac;ao social do condenado e do internado. 6 1. Fundamentos constitucionais: em especial, ncaIt. 5.°, da Constituic;;ao Federal, podemosmencionarosseguintespreceitos relativos a execur;ao penal: "XLVI - a lei regulani a individualizar;ao da pena ... "; "XLVlI- nao haveni penas: a) demorte,salvD em casa de guerra dec1arada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caniter perpetuo; c) de trabalhos for,ados; d) de banimento; e) crueis"; "XLVIll-a pena sera cumprida em estabelecirnentos distintos, de acordo com a natureza do deHto; a idade e 0 sexo do apenado "; "XLIX - e assegurado aos presos o respeito a integridade fisica e moral"; "L - as serao asseguradas ,condi- <;5es para que possaro pennanecer comseus filhos durante 0 periodo de amamentru;ao". Ressaltemos alguns fatores importa'ntes, decorrentes dispositivos constitu- cionais." Quante a da pena, sabe-se que ha a considerar: [i1 individua,lizac;ao legislariva: 0 priroeiro responsavel pela individualizar;ao da pena eo legislallor, afinal, ao criar um tipopenal Institui a Lei de Execw;ao Penal. incriminador inedito, cleve-se estilbelecer a -especie de pena (detenc;ao O'!l rec1usao) e a faixa na qual 0 juiz pode mover-se (ex.: 1 a 4 anos; 2 a'8 anos; 12 a 30 anos); b) na senteiu;a can- . denat6ria, dev"c 0 inagistrado fixar:a pena eonereta, ese6lhendo o valor cabivel, entre a minimo e 0 maximo, abstratamente pre- vistos pelo legislador, alero de optar pelo regime de curnprirnento da pena e pelos eventuais beneficios (penas alternativas, suspensao condicional da pena etc.); c) individualizap10 execut6ria: a terceira etapa da individualizar;ao da penase 'desenvolve no estagio da execur;ao penal.-A senten\:a c;:ondenat6ria nao e estatica, mas dinami- ca. Urn titulo executive judicial, na Grbita penal, e mutavel. Urn reu condenado ao eumprimento da pena dereclusao de doze anos, em regime inicial feehado, pode euro- pri-Ia exatamente emdozeanos, no regime fechado (basta terpessimoeomportame:nto carcerario, -recusar-se a trabalhar etc.) au eumpri-Ia em menor tempo, valendo-se de beneficios especificos (remi<;ao, comu- tar;ao, progressao de regime, livramento condicional etc.). Outro ponto a constatar e a impossibilidade de trabalhos forr;ados e penas crueis. As conseqo.encias, paia a execur;aopenaI, sao as seguintes: opreso nao pode ser punide, sofrendo sanc;oes dentro do presidio, se' nao quiser trabalhar; porern, perde direito a beneficios penais; as penas

GUILHERME DE SOUZA NUCCI - Execução penal

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ExECU<;:Ao PENAL \ .\ Lei 7,210, de 11 de julho de 1984

o Presidente da Republica: Fa~o saber que 0 Congresso Nacional decreta e. eu 'sanciono a seguinte Lei:

TITULO I

DO OBjETO E DAAPUCA<;:AO DA LEI DE EXECU<;:AO PENAL,

Art. 1.° A execuc;ao penail-4 tern par

objetivo efetivar as disposi<;6es de sentenc;a D.U decisao criminals e proporcionar condi-' c;6es para a harmonica integrac;ao social do condenado e do internado.6

1. Fundamentos constitucionais: em especial, ncaIt. 5.°, da Constituic;;ao Federal, podemosmencionarosseguintespreceitos relativos a execur;ao penal: "XLVI - a lei regulani a individualizar;ao da pena ... "; "XLVlI-nao haveni penas: a) demorte,salvD em casa de guerra dec1arada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caniter perpetuo; c) de trabalhos for,ados; d) de banimento; e) crueis"; "XLVIll-a pena sera cumprida em estabelecirnentos distintos, de acordo com a natureza do deHto; a idade e 0 sexo do apenado "; "XLIX - e assegurado aos presos o respeito a integridade fisica e moral"; "L - as p!.e~i.~iarias serao asseguradas ,condi­<;5es para que possaro pennanecer comseus filhos durante 0 periodo de amamentru;ao". Ressaltemos alguns fatores importa'ntes, decorrentes d~sses dispositivos constitu­cionais." Quante a ipdhri~~o da pena, sabe-se que ha t~spectos a considerar:

[i1 individua,lizac;ao legislariva: 0 priroeiro responsavel pela individualizar;ao da pena eo legislallor, afinal, ao criar um tipopenal

Institui a Lei de Execw;ao Penal.

incriminador inedito, cleve-se estilbelecer a -especie de pena (detenc;ao O'!l rec1usao) e a faixa na qual 0 juiz pode mover-se (ex.: 1 a 4 anos; 2 a'8 anos; 12 a 30 anos); b) individualiza~ao ju~icial: na senteiu;a can­

. denat6ria, dev"c 0 inagistrado fixar:a pena eonereta, ese6lhendo o valor cabivel, entre a minimo e 0 maximo, abstratamente pre­vistos pelo legislador, alero de optar pelo regime de curnprirnento da pena e pelos eventuais beneficios (penas alternativas, suspensao condicional da pena etc.); c) individualizap10 execut6ria: a terceira etapa da individualizar;ao da penase 'desenvolve no estagio da execur;ao penal.-A senten\:a c;:ondenat6ria nao e estatica, mas dinami­ca. Urn titulo executive judicial, na Grbita penal, e mutavel. Urn reu condenado ao eumprimento da pena dereclusao de doze anos, em regime inicial feehado, pode euro­pri-Ia exatamente emdozeanos, no regime fechado (basta terpessimoeomportame:nto carcerario, -recusar-se a trabalhar etc.) au eumpri-Ia em menor tempo, valendo-se de beneficios especificos (remi<;ao, comu­tar;ao, progressao de regime, livramento condicional etc.). Outro ponto a constatar e a impossibilidade de trabalhos forr;ados e penas crueis. As conseqo.encias, paia a execur;aopenaI, sao as seguintes: opreso nao pode ser punide, sofrendo sanc;oes dentro do presidio, se' nao quiser trabalhar; porern, perde direito a beneficios penais; as penas

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o Presidente da Republica: Fa~o saber que 0 Congresso Nacional decreta e eu sandono a seguinte Lei:

TiTULO I

DO OB)ETO E DAAPLlCA<;:AO DA LEI DE EXECI)<;:AO PENAL.

Art. 1.° A execuc;ao pimaiH t~m por objetivo efetivar as disposic;5es de sentenc;a o,u decisao criminals e proporcionar condi-' c;6es para a harmonica integrac;ao social do condenado e do internado.6

1. Fundamentosconstitucionais: em especial, no art. 5.°, da Constituic;ao Federal, podemos mencionar os seguintes preceitos relativos a execuc;ao penal: "XLVI- a lei regulara a individualizac;ao da pena ... "; "XLVll-naohaverapenas,a)demone,salvo em casa de guerra declarada, nos termos do art. 84, XlX; b) de caniter perpetuo; c) de trabalhos for~ados; d) de banimento; e) crucis"; "XLVlll-a penasera cumpridaem estabelecimentos distintos, deaeordo com a natureza do deli to, a idade e 0 sexo do apenado"; "XLIX - e assegurado aos presos o respeito a integridade fisica e moral"; "L - as presidi<irias senla asseguradas .condi-

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<;oesparaquepossampennanecercomseus tilhos durante 0 penodo de amamenta<;ao" . Ressaltemos alguns fatores importa-ntes. decorrentes d~sses dispositivos cO.nstitu­cionais."Quanto aindiVi~~oda pena, sabe-se que ha t~s"pectos a considerar:

. & individuaHzac,:"llo legislativa: 0 primeiro responsav,el pela individualiza<;ao da pena eo kgislalloT, afinal, aD criarum tipopenal

Institui a Lei de Exccw;do Penal.

incriminador inedito, deve-se es.l:.a., b a 'cspecie de pena (deten<;3.0 o~ ~~ ·e.le.cer e a faixa ua qua~ 0 juiz pode mo,": ~r ~l QSao )

1 a 4 anos; 2 a 8 anos; 12 a 3D a. se (ex" individualiza,ao judicial: n. sen.l.:", 'l:'t Os) ; b") denat6ria, deve ci inagistrado Ei ~ Q.<;;a con_ . . ~a.r" concreta,escolhendoovalorcabiv-' a pena o minimo e 0 maximo, abstrata..1:l::t e.l, entre vistas pelo legislador, alem Cl~ (J e.Ute pre­regime de cumprimento da Pe~ Plea" pelo eventuais benefidos (penas alt. a e pelos suspensao condicional da p e.ll. ~""'l:lativas individualizat;ao execut6ria: a t:.e;-r;: :te:.); c) da individualiza~ao dapena se; 'cl. E;';.l:ra etapa no estagio da execuc;ao penal .. ,,;senv,olve condenataria nao e estatica., ~ sentent;a ca. Uro titulo executivo judiC:ia.~S dinal11.i_ penal, e mutavel. Uro reu <::O'tl.d na 6rbita curnprimentodapenadere.C:lu. _enado ao anos,emregimeinicialfechado sao de doze pri-la exatamente em doze ano ~ POdecu-rn_ [echado (basta terpessimo -<:otq S > no regime carcerario, recusar-se a trabal~ortamento curopri-la em menor tempo ar etc.) Ou de beneficios espedficos <'re.~ .Valendo_se ta~ao, progressao de regilrte. l~ao> co.rnu_ condicionaletc.). Outro Pall ~ hvramento e a impossibilidade de traba~ a <:onstatar e penas crueis. As conseq~" ~ as for~ados

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Guilhenl1e de Souza Nucci

nao podemser crm~is, valendo considerar qu~·mantenr;a de urn condenado em cela superlotada, sem a menor condir;ao salubre de subsistencia, tambeme pena cruegEsta nao podeserconfundida, exc1usivamente, com base em sua aparencia, mas deve ser verificada na sua essencia. Exemplo: seria pena cruel a ar;oite de condenado em prar;a publica, logo, e pena vedada no Brasil; no entanto, e iguaimente cruel manter 0 preso sem trabalho, em ceia superlotada, desres­peitadaaLeide·Execur;aoPenaLAseparar;ao dos presos em estabelecimentos distintos, confonne·a natu~eza dos delitos, a idadedo condenado e 0 sexo e parcialmente c,umpri­da. Existem penitenchirias para h6inens e p1ulheres, mas nao ha a devida diVisao entre presos co.ndenados por crimes maisserios e outros,.menos importantes. Na pratica, pois, descumpre~se mandamento constitucional.

(P~esos sao misturados, sob 0 pretexto de l~arencia devagas. Urn condenado por furta

pode convivercom 0 sentendado porroubo e este com 0 condenado por latrocinio. a mesmo se da no tocante a idade. A maior parte dos presidios brasileiros perrnite a prorniscuidade entre condenados de 18anos e outros, com muito mais id~de. Quanto ao respeito a integridade fisiCa e moral do condenado, eobvio odesrespeito, tambem, de dispositivo constitucional. Seem varios estabelecimentospenitenchirios brasileiros nao se consegue evitar a violencia sexual, pois nao se garante 0 isolamento do preso, nero tampouco se concede aD condenado, no devido tempo, os benefidos·a que faz jus, nao ha respeito algum pelasua integri­dade fisica e moral. E fundamental mudar a mentalidade dos operadores do Direito para quese provoquea alterar;ao de compor­tamento do Poder Executivo, responsavel pela adrninistrac;ao dos presidios. Pena cruel nao e somente ac;oitar urn condenado em prar;a publica, mas tambem mante-Io em carceres insalubres e superlotados. Logo,

o despertar da magistratura para essa rea­lidade e·essencial.

2. Conceito de execu~ao penal: tra­ta-se da fase do processo penal, em que se faz valer 0 comando contido na sentenc;a condenat6ria penal, impondo-se, efeti­vamente, a pena privativa de liberdade, a pena restritiva de direitos ou a multa. Nao necessita de nova citac;ao -salvo, quanto it execur;ao da pena de muita, pois esta passa a ser cobrada como se fosse divida ativa da Fazenda Publica -, tendo em vista que a condenado ja tern ciencia da a~ao penal con­tra ele ajuizada, bern como fofintimado da sentenc;a condenatoria, quandopode exercer oseu direito ao duplo grau de jurisdi~ao. Com 0 transito em julgado da decisao, a sentenr;a toma-se titulo executivo judicial, passando-se do processo de conhecimento ao processo de execu~ao. Emboraseja este .um processo especial, com particularidades queum tipicoprocessoexecutorio naopos­sui (ex.: tern a seu inicio determinado de oficio pelo juiz, na maior parte dos casas) e a fase processual em que 0 Estado faz valer a sua pretensao punitiva desdobrada, agora, ern pretensao executoria.

3. Natureza jurfdica da execu-c;ao penal: e urn processo jUrisdicional, primor­dialmente, cuja finalidade e tOTIJar efetiva a pretensao punitiva qo Estado, envolven­do, ainda, a atividade administrativa. Nes­sa otica, esta a posir;ao de Ada Pe~legrini Grinover, para quem "a execu~ao penal e atividade complexa, que se desenvolve, entrosadamente, nos pIanos jurisdicional e administrativo. Nem se desconhece que dessa atividade participam dois Poderes estatais: 0 judiciario e 0 Executivo, por intermedio, respectivamente, dos orgaos ju­risdicionais e dos estabelecimentos penais" ("Natureza juridica da execur;ao penal", p. 7). Destacando a inviabilidade de se pensar

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

ExecUI;ao Penal

o processo de execu~ao penal distante da atua~aodo Poderjudichirio, esta, tambem,a li\=ao de SidneiAgostinho Beneti (Execu~ao penal, p. 6-7). a ponto de encontro entre as atividades judicial e administrativa ocorre por"lue 0 ]udiciario e 0 orgao encarregado de proferiros comandospertinentes a execur;ao da pena, embora a efetivo cumprimentose de em estabelecimentos administrados pelo Executivo e sob sua responsabilidade. E certa que o.juiz e 0 corregedor do presidio, masasuaatividadefiscalizatorianaosupreo aspecto de autonomia administrativa plena de que gozam os presidios no Estado, bern como os hospitais de custodia e tratamento. Par Dutro lado, e impossivel dissociar-se 0

Direito de Execuc;ao Penal do Direito Penal e do Processo Penal, pais a primeiro regula varios institutes de individualiza~ao da pena, uteis e utilizados pela execur;ao penal, enquanto 0 segundo estabelece os princi­pios e fonnas fundamentais de· se regular o procedimento da execuc;ao, impondo garantias processuais penais tipicas, como 0

contradit6rio, a ampladefesa, 0 duplo grau de jurisdir;ao, entre outros. Porisso, epreciso frisar que cabe· a Uniao, privatival1l:e·nte, a competencia para legislaremmateria de exe­cur;ao penal, quando as regras concemirem a esfera penalou processual penal (art. 22., I, CF). Soboutro aspecto, quando envolver materia pertinente a direito penitenciario, vinculada a organizac;ao e funcionamento de estabelecirilentos·prisionais. normas de assistencia ao preso ou ao egresso, orgaos auxiliares da execu~ao penal, entre Qutros temas correlatos, a competencia legislativa e da Uniao, mas concorrentemente corn as Estados e Distrito Federal (art. 24, 1, CF).

4. AutonomiadoDireitodeExecu~ao Penal: esta e a denominac;ao adotada, na Exposi<;ao de Motivos da Lei 7.210/1984 (itens 9 e 12), para 0 ramo do direito que cuida da execuc;;ao da pena aplicada, envol-

venda todos os aspectos p.ertinentesa tornar efetiva a san~ao punitiva estatal. Trata-se de ciencia autonoma, com principios pr6-prios, embora sem,j~mais, desvincular-se do Direito Penal e do Direito· Processual Penal, por razoes inerentes a sua propria existencia. A insuficiencia da denomina~ao Direito Penitenciario torna-se nitida, na medida em que a Lei de Execu~ao Penal cuida de temas muito mais abrangentes, do que a simples ex~cu~ao de perias pri­vativas de liberdade em presidios. Logo, ao regular as penas alternativas·e outros aspectos da execur;ao penal, diversos da pena privativa de liberdade, tais colllo 0

indulto; a anistia, a liberdade condicional. entre outros, enfraquece-se 0 seu caniter de direito penitenciario, fortalecendo-se, em substitui~ao, a sua voca~ao para tarnar-se urn Direito da Execw;ao Penal.

5: Sentenc;a e decisao .criminal: a senten~a condenatoria e 0 titulo principal a ser executado pelo juizo proprio (Vara da Execur;ao Penal). mas ha, tambem, decisoes criminais (interlocut6rias), proferidas du­rante a execuc;;ao da pena, que devem ser efetivadas. Portanto, iniciacla a execuC;ao, baseia-se esta na sentenQa condenatoria. Posteriormente, decisoes interlocutorias sao proferidas pelo juiz da execur;ao penal, transferindo 0 preso para·regime mais fa­voravel (ex.: passagem do regime fechado ao semi-aberto) ou concedendd qu'alquer Dutro beneficio (ex.: livramento condi­cional). Todas essas decisoes judiciais tern uma finalidade comum: a ressocializar;ao do preso au do internado (este ultimo e a pessoa sujeita a medida de seguranc;;a).

6. Finalidade da pen a: temossusten­tado que a pena tern varios fins comuns e nao excludentes: retribuir;ao e prevenr;ao. Na atica da preven~ao, sem duvida, ha 0

3specto preventivo individual positivo, que

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significa a reeducac;ao ou ressocializac;ao. Uma das irnportantes metas da execuc;ao penal e prom over a reintegrac;ao do preso iii. sociedade. E urn dos mais relevantes fa­tares para que tal objetivo seja atingido e proporcionar ao condenado a possibilidade de trabalhar e, atualmente, sob enfoque mais avanc;ado, estudar.

Art. 2.° A jurisdi~ao penal7 dos jufzes ou tribunais da justi\=a ordinaria, em todo o territorio -nacional, sera exercida, no pro­cesso de execu\=ao, na conformidade desta Lei e do Codigo de Processo Penal. 6

Paragrafo unico. Esta lei aplicar-se-a igualmente ao preso provisorio e ao coride­nado pelaJusti<;a Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito a juris­di\=ao ordimlria.9 .10

7. Jurisdi~ao ordinaria e jurisdi~ao especial: ordinaria e a jurisdic;ao comum - federal au estadual- nao concemente a nenhuma materia especffica, fixada pela Constitui~ao. Par outro lado, em relac;ao iii. chamada jurisdic;ao especial, que trata de

Gmateria especifica, constitucionalmente prevista, somente ha possibilidade de haver condena~ao criminal na]ustic;a Eleitoral ou naJustic;a MiUtar. Assim, caso 0 condenado por delito eleitoral ou por crime militar cumpra pena em estabelecimento sujeito a jurisdi~ao comum, sob corregedoria do juiz da execu~ao cri.minal estadual, no caso de presidios administrados pelo Estado, ou do juiz da execuc;ao criminal federal, se 0

presidio for administradopela Uniab, deve integrar-se as mesmas regras condutoras da execu~ao penal dos demais detentos. Nao teria sentido haver qualquer tipo de discriminac;ao entre urn e outro, se ambos esHio sob 0 abrigo do mesmo estabeleci­mento penitenciario. Alias, para evitar que houvesse a intensificac;ao de conflitos de competencia entre juizes federais e esta-

duais, 0 Superior Tribunal deJustic;a editou aSumula 192, estabelecendo que "compete ao]uizo das Execuc;6es Penais do Estadoa execw;ao das penas impostas a sentenciados pelaJustic;a Federal; Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos su­jeitos aadministrar;ao estadual". Portanto. do mesmo modo, compete ao juiz federal das execuc;6es criminais a execuc;ao de penas impostas pela ]ustic;a Estadual, se os condenados estiverem recolhidos em presfdios sujeitos a administrac;ao federal. Registre-se 0 disposto no art. 3.° da Lei 8.072190 (Lei dos Crimes Hediondos): "A Uniao mantera estabelecimentos penais, de seguranr;a maxima. destinados ao cumpri­mento depenas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanencia em presfdios estaduais ponha em risco a ordem ou a incolumidade publica". A partir de 2006, iniciou as atividades 0 primeiro pre­sidio federal, no Brasil, com tal finalidade, situado no' municipio de Catanduvas, no Estado do Parana.

8. Lei de Execu~ao Penal e C6digo de Processo Penal: a redac;ao do art. 2.° da a entenderqueosdispositivosdaLei 7.210/84 convivem harmoniosamente com os arts. 668eseguintesdo Codigo de Processo Penal, que cuidam da execuc;ao penal. Assirn nao nos parec('Joda a materia regulada por lei especial (Lei 7.210/84) prevalece sabre 0

disposto nos arts. 668 e seguintes do Codigo de Processo Pena~ao e possivel que dois diplomas legais cuidem do mesmo tema, aplicando-se a execw;ao da pena qualquer norma, a bel prazer do magistrado. 0 C6-digo de Processo Penal sera, logicamente, aplicado a execuc;ao penal, quando se tratar depreceito inexistente na Lei de Execur;ao Penal. Portanto, ilustrando, da mesma for­ma que 0 reu tern direito a ampla defesa, patrocinada par advogado {art. 261, CPP). o preso possuiidentico direito. No mais, as

403 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

dispositivos do CPP que conflitarem com a Lei de Execur;ao Penal nao mais serao aplicados, tanto porque a Lei 7.210/84 e rnais recente (criterio da sucessividade) como tambem porque e especial (criterio da especialidade).

9. Execuc;;ao provis~ria da pena; ini­ciemos a abordagemdo tema, rp.encionando asumula 716 do Supremo Tribunal Federal: "Admite-se a progressao de regime de cum­primento-da pena ou 'a aplica¢ao imediata de regime menDs severo Iiela determinada, antes- do transito em julgado da sentenr;a condenatoi'ia". 0 adven"to da- referida Su­mula decoITe da consolidada jurisprudencia fannada eminumeros tribunais p'atrios,tuja origem remorita ao inicio dos anos 90.' Nao e demais ressaltar que a lentidao da]usti­~a e evidente. Uma decisao condenatoria pode levar anos para transitar emjulgado, bastando que 0 reu se valh~ de todos os recursos permitidos pela legislac;ao proCe5-sual penal. Porisso. 0 'que'vinha ocorrenda era 0 seguinte: 0 acusado, condenado, por exemplo, a seis anos de reclusao p6r'roubo, preso preventivamente, inserido no regime fechado, apresentava apelac;ao. Ate que esta fosse julgada pelo tribunal e computando­se 0 tempo de prisao cautelar, para 0 fim de aplicar a detrac;ao (art. 42, CP), era possivel que ele atingisse mais da metade da pena no regime fechado, quando, entao, transitaria em julgado a sentem;a. Ora, a partir dai, iria requerer a progressao para 0 regime semi-aberto, em procedimento que levava outro extenso periodo para ser apreciado, Emsuma, iria para a colonia penal quando ja tivesse cumprido muito mais que metade da pena, embora, como disp6e 0 art. 112, caput, da Lei 7.210/84, ele tivesse direito a progressao ao atingir urn sexto no regime fechado. Outro preso, em igual situac;ao, se nao oferecesse apelac;ao, poderia obter a progressao de regimemuito tempo antes. A

lentidao daJusti~a transformou-se, entao, em obsmculo ao exercicio do direito de re­correr, pois, se tal se desse, a progressao seria postergada indefinidamente. Diante disso, os juizos de execuc;ao penal, apoiados pelos tribunais, adotaram medida extremamente justa. Passaram a conceder ao condenado, ainda que pendenterecurso seu contra a de­cisao condenat6ria, a progressao do regime fechado para 0 semi-aberto, se preenchidos os requisitos legais (ter_cumprido umsexto no fechado e ter merecimento). 0 Tribunal de]ustic;adeSao Paulo, em 1999, editou 0

Provimento 653/99. determinando que os juizes da condenac;ao expedissem guia de recolhimento provis6ria,encaminhadaao juizo da execuc;ao penal, para que estepu­desse deliberar sobrea progressao de regime do preso provisorio. Nao se trata de ordem do tribunal para que qualquerjuiz concedaa progressao, mas tao-somente para que seja expedida a guia provis6ria, viabilizando, quando for 0 caso, a progressao. Nenhum prejuizo advem ao reu. Se este, no futuro, tiverseu apelo provido e tenninarabsolvido, aomenos ja estara em regime mais favoravel que 0 fechado. Alguns doutrinadores obje­taram, alegando lesao ao principio consti­tucional da presunc;ao de inocencia ... Como se poderia promover de regime urn preso provis6rio, logo, considerado inocenteate o transito em julgado da decisao, sem ferir a presunc;ao estabelecida peIo art. 5. 0, LVII, da Constituic;ao Federal? Como poderia urn preso provisorio cumprir pena? Seria a mesrno·que consideni-Io condenado antes do trdnsito em julgado. Tais alegac;oes nao nos convenceram, desde 0 principio. as direitos egarantiasfundamentais (art. 5.°, CF) sao escudos protetores do individuo contra a Estado e nao podem, jaroais, ser usados contraosseus interesses. Portanto, nao se pode alegar·que, em homenagem a presunc;ao de inocencia, mantem-se 0 preso no regime fechado, porque em decorrencia

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de prisao ca~telar. quando ele poderia ir para regime mais favonlvel, sem nenhum prejufzo asua ampla possihilidade de defe­sa. Em fum,;ao da presum,;ao de inocencia, ninguem pode seI prejudicado. Logo, a consolidat:;ao da progressao-de regime do presQ provisorio e uma vitoria dos direitos humanos fundamentais conUaa lamenGivel lentidao daJusth,;a brasileira,A viabilidade. segundo entendemos,\i,omente esta pre­sente, quando a decisao, no tocante a pena, transitou em julgado para 0 Ministerio PU­bliciIpois, assim, ha urn teto maximo para a sanc;;ao penal, servindo de base ao juiz da execu~ao penal para O-calculo de umsexto. for amm laclo,'ainda que 0 OIgolO acusa-

~6riO. apresente apelo para-elevar a pena, 0

'uiz cIa execw;ao penal pode determinar a rogressao de regimeJIevando em conta 0

maximo em abstrato previsto para a delito. Se 0 condenado ja atingiu umsexto do ma­ximo, e obvio que pode progredir, mesmo que esteja pendente recurso da acusacao. Nadoutrina, asseveraJose Carlos Daumas Santos que "negar a execur;ao provis6ria ao acusado preso com sentenr;a transitada em julgado para a acusac;ao 'caracteriza constrangimentoilegalinaceitavelquefere, indiscutivelmente, 0 principia da.legali­dade" (Principio da legalidade na execw;iio penal, p. 43). Atualmente, encontra-se em vigor a Resolucao 19, de 29 de agosto de 2006, doQinselho £!ilcional duusti,a, nos segu1ntes termos: "Dispoe sobrea execw;ao penal provisoria. A Presidente do Conselho Nacional deJustic;a, no uso desuas atribui­r;oes conferidaspela Constituir;ao Federal, especialmente 0 que dispoe 0 inciso I do §

4° deseu art. I03-B, e tendo em vista 0 deci­dido na sessao do dia 15 de agosto de 2006; Considerando a necessidade de possihi­litar ao preso provisorio, a partir da con­denar;ao, 0 exercicio do direito de petit;ao sobre. direitos pertinentes a execur;ao pe­nal, sem prejuizo do direita de recorrer;

Considerandoqueparaainstaurar;aodopro_ cesso de execur;ao penal provisoria deveser expedida guia de recolhimento provis6ria; Considerando a necessidade dedisciplinaro sistema deexpedir;ao de gum derecolhimen_ to provis6ria; Considerando 0 que dispoe 0

art. 2°, da Lej 7.210, de 11 dejulho de 1984; Considerando, aincia, a proposta apresen­tada pela Comissao formada para estudos sobre a cnar;aa de base'de dados nacional sobrea popular;ao carceraria; Resolve: Art. 1° A guhi de recolhimento pro~oria sera expedida quando da prolar;ao da sentenr;a ou acordao condenatqrios, ainda sujeitos a recurso sem efeito susp~nsivo, devendo ser, prontamente remetidaao Juizo da Execur;ao Criminal. §.I °Deveraseranotada naguiad~ recolhimento expedida nestas condis:6es'a' expressao 'PROVISO RIA:, em sequencia da expressao guia de recolhimento. § 2° A ex­pedir;ao da gu.ia de recolhirnento provis6ria sera certificada nos autos do processocri~ minal. § 3° Estando 0 pro~esso em grau de recurso, e nao te~do side expedida a guia de recolhimento provis6rio, as Secretarias desses orgaos cabeni expedi-Ia eremete-Iaao juizo c.C?mpetente. Art. 2° Sobrevindo deci~ sao absolutaria, 0 respectivo argao proia tor comunicara imediatamente 0 fato ao juizo competente para a e?Cecur;ao, para anotar;ao do cancelamento da guia de recolhimento. Art. 3~ Sobrevindo condenar;ao transitada em julgado, 0 juizo de conhecimento en­caminhara as per;as complementares ao juizo competente para a execuc;ao, que se incumbira das providencias cabiveis, tambem informando as alterar;oes verifi.~ cadas a autoridade administrativa. Art. 40

Cada Corregedoria deJustir;a adaptarasuas Normas de Servir;o as disposir;5es desta Resolur;ao, no prazo de 180 dias. Art. 50 Esta Resoluc;ao entrara em vigor na data de sua publica<;ao, revogadas as disposir;-6es em contrario" .

Leis Penais e Processuats Pellais Comentadas

10. Execu<;ao provis6ria e prisao especial: em nosso C6digo deProcesso Penal comentado tecemos considerar;5esa respeito da possibilidade de progressao de regime ao preso provis6rio colocado em prisa9 especial, em fup.c;ao da edir;ao da Sumula 717 do STE Permitimo-nos reproduzir a qlle la fizem-os constar: "esta mo4alidade deprisao, como ja comentamos, e autentica regalia legal a urn", categoria privilegiada de brasileiros, quando deveria valerpal'a todos, ou seja, a separar;ao dos pr~os mereceria urn "criterio u:q.ico, sem distin~ao por g!au universitario ou outro titulo ,qu~lquer. A despeito d.isso, os reus sujeitos a pris~9 especia~ contam CQm mais urn bene~cio- e dos mais importantes- que e possibilidade de auferir a progressao de regime, quando ainda estao'confinados nessas celas priva­tivas. E 0 teordaSumula 717 do STP: 'Nao impede a progressao de regime de execur;ao da pena, fixada em sentenc;a nao transitada emjulgado, 0 fato de 0 reu se encontrar em prisao especial'. Com a devida v~nia, com isso nao podemos concordar. 0 acusado colocado em prisao especialnao (:ontacom.o mesmo tratament.o dosdemais presos prpvi­s¢Ijps. E~tes, quando almejam a progressao de regime, sao transferidos par¥! 0 sistema penitenciari,?, para quepossamseravaliados pda Comissao Tecnica de Classificar;ao (merecimento para a progressao - art. 33, §' 2.°, CP - ver nota 21 [conferir ta.mbem a nota 2I-A ao referido artigoJ, b:em.como para que possam trabalhar regul""rrnen.te (obrigar;ao de todo preso para poderpleitear a progressao de regime - arts. 31 e 39, V, da Lei 7.210/84-Lei de Execu,ao Penal). E certo que 0 art. 31, paragrafo tinieo, da Lei de Execu<;;ao Penal, abre excer;ao para a preso proviso rio, ou seja, preceitua ser facultativo 0 trabalho para essa categoria de presos (registre-se que essa norma foi elaborada quando naa se imaginava possivel a progressao de regime em plena custodia

Execuc;ao Penal

cautelar). Ocorre que, nos demais casos, quando 0 custodiado pretende a 'progres­sao, ele e levado ao sistema penitenciario justamenteparaquepossa trabalhar, como qualquer outro, na medida em que pleiteia beneficio tipieo de quemja se encontra cumprindo pena. Em verdade, permitir a progressao de regime ao preso sujeito a prisao especial representara, no Brasil, cuj 0 sistema processual e lento e repleto de recursos procrastinat6rios, praticamente 0

impedimento do cumprimento da penaem regime carcerario severo. Como exemplo: determinada autoridade, condenada -a 6 anos de reclusao, em regime fechado inicial, por ter cornetido variados delitos; encon­tra-se presa -preventivarnente, recolhida em prisao especiaL Enquanto aguarda 0

arrastado tramite processual, seu tempo de 'cumprimento de pena' encontra-se em decurso. Assim, antes mesmo de transitar em julgado a decisao condenatoria-, quase certamente ja ati~giu 0 regime aberto (cum­prido uin ana - urn ~exto - pode pedir 0

semi-aberto; depois, outro sexto cumprido, tern direito ao abeito). Sai da prisao espec~al diretamente para a liberdade (lembremos que em muitas Comarcas nao ha Casa do Albergado, como ocorre em Sao Paulo, que concentra 0 maior ntimero de condenados do pais), recolhido no sistema denomimldo de prisllo albergue domiciliar (vel' as notas 42 e 43 ao art. 36)".

Art. 3.° Ao condenado e aD interna­do serao assegurados todos as direitos nao atingidos pel a sentem;;:a ou pel a Lei. ll •12

Paragrafo unico. Nao havera qualquer distinc;ao de natureza racial, social, religiosa ou polftica. \3

11. Direitos fundamentais: puni<;ao nao significa transforrnar 0 ser humane em objeto, logo, continua 0 condenado, ao

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Guilherme de Souza Nucci

cumprir sua pena, e 0 internado, cumprindo medida deseguram;a, com todos os direitos humanos fundamentais em pleno vigor. Dispoe_o art. 5.°, XLIX, da Constituic;ao Federal que "e assegurado aos pres os 0

respeito a integridade fisica e moral". No mesmo prisma, 0 art. 38 do Codigo Penal estipula que "0 preso conserva todos os direitos nao atingidos pela perda da liber­dade, impondo-se a todas as au toridades 0

respeito a sua integridade fisica e moral". o disposto no art. 3." da Lei 7.210/84, en­tretanto, e coerente ao prever que serao

-assegurados os direitos nao atingidos pela senten,a ou pela Lej. E logico que urn dos direitos fundamentais, eventualmente atin­gido pela sentenc;a penal condenatoria, e a perda temporaria da liberdade. au a restriC;ao a algum direito, 0 que acontece quando 0 condenado esta cumprindo, por exemplo, a pena de prestac;ao de servic;os a comunidade.

12. Direitos polIticos: estao suspen-50S, conf~rme preceitua 0 art. 15, III, da ,Constituic;ao: "E vedada a cassar;a~ de di­reitos politicos, cuja perda ou su!?pensao so se dara nos c~sos de: C ... ) III - condena~ao criminal transitada em julgado, enq~anto duraremseus efeitos", Portanto, durante 0

periodo de ~umprimento da peT).a,_ sej~ qual forasua natureza, nao pode 0 sentenciado votar e servotado, ainda que nao esteja em estabelecimento fechado. ~e entende ainda vigente alei.£omplementar 42/82,

(cujos efeitos dizem respeito a inelegibilidade Le na~ ao direito de votar, embora 0 autor

reconhec;;:a que 0 preso condenado nao tern direito ao voto, para garantir urn "minima de eficacia" ao texto constitucional. Afinna, ai!!s!.a,§.ue 0 alcance da lei referida envol­ve somente determinados crime~contra a seguranc;;:a nacional e ordem publica, a administrar;ao e a fe publica, a economia popular, opatrim6nio e eleitorais (ExecU(;ao

penal, p. 41-42). Assim nao nos parece. A Canstituir;ao Federal de 1988, posterior a mencionada lei complementar, nao exige qualquer complemento para 0 seu preceito, que e impositivo. Enquanto durar 0 efeito da condenac,;ao, partanto, durante-o seu cumprimento-em qualquer tipo de regime ou de qualquermaneira - nao pode 0 conde­nado votar e ser votado. Quanto aos presos provis6rios, e ceIto que mantem os direitos de votar e ser votado, mas,_na pnitica, nao tern side possivel assegurar a eles 0 direito ao sufragio, em face da inviabilidade de instalac;ao de sessoes eleitorais no interior dos presidios. E 0 que tern decidido, por exemplo, o·Tribunal Regional Eleitoral de Sao Paulo.

13. Mem;ao desnecessaria: a proi­bic,;ao da distinc;;:ao entre seres humanos, vedando-se toda e qualquer forma de dis­criminac;ao, e materia canstitucional e ja foi abordada no art. 3.°, IV, da Constitui­{:ao Federal: "Constituemobjetivos funda­mentaisda Republica Federativa do Brasil: (, .. ) IV - promover 0 bern de todos, sem preconceitos de origem, rac,;a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri­minar;ao". a repudio ao racismo e expresso (arts. 4.", VII, e 5.", XLII, CF). Portanto, a lei ordinaria nao tern a menor necessidade de repetir 0 6bvio. Alias, ° art. 3,°, caput, tambem ja previu que ao condenado e ao internado sao assegurados todos os direitos nao atingidos pela sentenc;a au pela lei. E nao haveria a menor possibilidade, pois seria inconstitucional, de se estabelecer-em sentenc,;a ou lei a discriminac;ao a pessoas condenadas criminalmente.

Art. 4.° 0 Estado devera recorrer a cooperac;ao da comunidade nas atividades de execU(;ao da pen a e da medida de segu­ran~a.14

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

14. Coopera~ao da comunidade na execu~ao da pena: esclarecea Exposic;ao de Motivos da Lei de ExecU(;ao Penal que "muito alem da passividade ou da ausen­.cia de reac,;ao quanta as vitimas mortas ou traumatizadas, a comunidade participa ativamente do procedimento da execuc,;ao, quer atraves.de urn conselho, quer atraves das pessoas jUridicas ou naturais que assis­tern ou fiscalizam nao somente as reac,;6es penais emmeio fechado (penasprivativasda liberdade e medida deseguranc;a detentiva) como tambem em meio livre Cpena de multa e penas restritivas de direitos)". Portan­to, havendo a integrac;ao da comunidade, atraves de organismos representativos, ·no atompanhamento da execuc,;ao das penas, torna-se maior a probabilidade de recu­perac;ao do condenado, inclusive porque, quando findar a pena, possivelmente ja tera apoio garantido para a sua reinserc,;ao social, mormente no mercado de trabalho: Para tanto, sao previstos como orgaos da execuc,;ao penal 0 Patronato (arts. 78 e 79, LEP) e 0 Conselho da Comunidade (arts. 80 e 81, LEP).

TITULO \I

DO CONDENADO E DO INTERNADO

Capitulo I

DA ClASSIFICA<;:AO

Art. 5.° as con den ados serao classifi­cados,IS segundo os seus antecedentes1£' e personalidade,17 para orientar a individuali­zat;ao da execuc;ao penal.

15. Classifica~ao e individualiza~ao execut6ria da pena: classificar, emsentido amplo, significa distribuir em grupos ou classes, conforme determinados criterios. No caso da Lei de Execuc,;ao Penal, torna-se fundamentalsepararos presos, detenninan­do 0 melhor lugar para que cumpram suas

Execu<;ao Penal

penas, de modo a evitaro contato negativo entre reincidentes e primarios, pessoas ~om elevadas penas t:; outros, com penas brandas, dentre outIOS fatores .. Emsuma, nao s~ d~ve mesclar, num mesmo espac;o, condenados diferenciados. A individualizac;ao da pena e preceito constitucional (art. 5.°, XLVI, CF) e vale tanto para 0 momento em que 0

magistrado condena 0 reu, aplicando a pena concreta, quanto para a fase da execur;ao da sanc;ao. Sobre 0 tema', com maiores detalhes, consultar 0 nosso Individualiza(ao da pena. Par isso, conforme os antecedentes e a per­sonalidade de cadasentenchido, orienta-se a maneira ideal de cumprimento da pena, desde a escolha do estabelecimento penal ate 0 mais indicado pavilhao ou bloco de urn presidio para que seja inserido.

16. Antecedentes: trata-se de tudo o que ocorreu, no campo penitl, ao ageI?-te, valecliz.er, e a sua vida pregressa em materia criminal. Antes da Reforma da Parte Geral de 1984, podia-se dizer que os antecedentes abrangiam todo 0 passado do sentenciado, desdeas condena~6es porventura existentes ate 0 seu relacionamento na familia ou no trabalho. Atualmente, no entan-to, 0 ter­mo antecedentes destacou-se da expressao condutasocial- igualmente inserida no art. 59 do C6digo Penal- circunscrevendo-se a analise da folha de antecedentes criminais. Em decorrencia dessa verificac;;:ao, pode 0

dire tor do estabelecimento penitenciario evitar que reincidentes se misturem com primarios, por exemplo.

17. Personalidade: como ja analisa­mos em nosso C6digo Penal comentado, trata­se do[onjunto de caracteres exclusivos de uma pessoa, parte herdada, parte adquiridg "A personalidade tern uma estrutura muito complexa. Na verdade e urn conjunto 50-

matopsiquico (ou psicossomatico) no qual se integra urn componente morfologico,

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Guilherme de Souza Nucci

estatico, que e a confonnac;ao ffsica; urn componente dinamico-humoral OU fisiolo­gico, que e 0 temperamento; e 0 carater, que e a expressao psico16gica do temperamen­to C .. ) Na configurac;ao da persomilidade congregam-se elementos hereditarios' e sOcio-ambientais, 0 que vale diier que as experiencias da vida contribue.m para a sua evolur;ao. Esta se faz em clnco rases bern caracteri~a~as: infancia,juventu'd~, estad~ adulto,maturidadeevelhice" (ef. Guilherme

Oswaldo Arbenz, Compendio"de medicina legal). E imprescindivel, no entanto, haver uma analise do rn,ejo e das condi~oes onde o sentenciado se formou e viveu, ate chegar ao presidio, pois 0 bem-nascido, livre de agruras e privar;;oes de ordem economica ou mesmo de abandono familiar, quando tende ao crime, de've ser mais"rigorosa­

mente observado do que 0 miseiavel, que tenha praticado u~a infrar;;ao penal, para garantirsua sobrevivencia. Poroutro lado, personalidade nao e alga estatico, ~as se encontra em constante mutar;;ao. Estimulos e traumas de toda ordem agem sobre ela. Nao e demais supor que alguem, apos ter cumpridoyarios anos depena privativa de liberdade em regime fechado, tenhaalterado sobremaneirasua personalidade. Sao exem­

plos de fatorespositivos da personalidade:

tondade, calma, paciencia, amabilidade,

maturidade, responsabilidade; born-hu­

mor, coragem, sen.sibilidade, tolerancia, honestidade, simplicidade, desprendimento material, solidariedade. Sao fatores neg<!;­~: maldade, agressividade,.(hostil ou destrutiva), impaciencia, rispidez, hosti­lidade, imaturidade, irresponsabilidade, mau-humor, covardia, frieza, insensibili­dade, intolerancia (racismo, homofobia, xenofobia), desonestidade, soberba, inveja, cobir;;a, egoismo.

Art. 6.0 A classificaC;a018 sera feita por Comissao Tecnica de Classificac;ao qU'e elaborara 0 programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provis6rio.19

18. Diferenr;;a entre exame de classi­fica~ao e exame criminologico: 0 ,primei­ro e mais amplo e generico, envolvendo aspectos relacionados a personalidade do condenado, seus antecedentes, sua vida familiar e social, sua capacidade laborativa, entr:e Qutro-s fatores, aptos a evidenciar 0

modo pelo qual deve cumprir sua pena no estabelecimento penitenciario (regime fechado au semi-aberto); 0 segundo e mais especifico, abrangendo a parte psicologica e psiquiatrica do exame de classificar;;ao, pois concede maior atenr;;ao a maturidade do condenado, sua disciplina, capacidade de suportar frustrar;;6es e estabelecer lar;os afetivos com a familia au terceiros, grau de agressividade, visando a composi~ao de urn conjunto de fatores, destinados a construIT urn prognostico de periculosidade, isto e, sua tendencia a voltar a vida criminosa. Em verdade, 0 exame dec1assificar;;ao, 0 exame crimino16gico e 0 parecer da Comissao T eenica de Classificar;;ao nao diferem, na pratica, constituindo uma unica per;;a, feita, porvezes, pelos mesmos profissionais em exereicio no estabelecimento prisional. Logo, cabe ao magistrado extrair os aspec­tos interessantes a analise que fara tanto da personalidade, quanta da tendencia d? sentenciado a delinqo'encia, alem da sua disciplina e adaptabilidade ao beneficio que almeja eonquistar. Como ensina Mirabete, "as duas pericias, a criminologica e a da personalidade, colocadas em eonjuga<;ao, tendema fornecer elementos para a percep­r;;ao das causas do delito e indicadores para ~ua prevenr;;ao" (Execu<;ao penal, p. 51).

Leis Penais e Processtlais Penais Comentadas

19. Fun«;ao da Comissao Jecnica de Classifica«;ao: apos a advento da Lei 10.79212003, modificou-se areda,ao doart. 6'.0. A anterior disposir;;ao era a seguinte: ,"A eIassmca<;aosera feita por Comissao.T ecnica de Classificar;;ao que elaborara 0 programa ipdividualizador e acompanharaa ex-ec~r;ao daspenas privativasde liberdadeerestritivas de direitos, devendo prop~r, a autoridade competente, as progressoes e regressoes dos regimes, bern como as' conversocS". Buscou­se manietar a execU(;ao penal, restringindo o conhecimento do juiz e elimimindo a participa~ao da Comissao T eenica de Clas­sificar;ao rio valioso momenta de analise do merecimento para a progressao de regime. A modificar;3.o deveu-sea pressoe.s de varia's setores, especialmente de integrantt~s do Poder Executivo, quearca com os custosnao so das Comissoes existentes, mas tambem dos presidiC?s em geral, sob 0 argumento de serem os laudos das referidas Comissoes T ecnicas de Classificar;;ao "p'adronizados" , de pouea valia para a individuallza¢ao exe­cutoria. Poroutro lado, haveria excesso de subjetivismo nesses pareceres, que aea­bavam por convencer 0 juiz a segurar 0

preso no regime mais severo (fechad6' OU semi-a berto), a que terminava por gerar a superlotar;;ao das cadeia~ eestabelecimentos penitenciarios.,Entretanto, a mudan~a foi, em nosso entender, pessima para a proeesso de individualizar;ao exeeutoria da pena. E, nessa otica, inconstitucional. Nao se pode obrigar 0 magistrado, como se pretendeu coma edi,ao da Lei 10.79212003, a conceder au negar beneficios penais somente com a apresentar;;ao do fragil atestado de condu­ta earceraria (ver 0 art. 112, caput, da Lei 7.210/84). A submissao do PoderJudiciario aos 6rgaos administrativos do Executivo nao pode jamais oeorrer. Urn ,dire tor de presidio nao pode ter forr;;a sufiejen.te para determinar os rumos da execu~ao penal no Brasil. Fosse assim e transformar-se-ia em

Execu<;ao Penal

execur;;ao administrativa da pena, perdendo seu aspecto jurisdicional. Po~tanto, cabe ao juiz da execur;;ao penal determinar a realizar;;ao do exame erimi:nologico, quando entender necessaria, 0 que deve fazer no caso deautores de crimesviolentos contra a pessoa, bern 'Como a concr-etiza~ao do pareeer da Comissao Tecnica de Classifi­ear;;ao. A req uisir;;ao do exame e do pareeer fundamenta-se nao apenas no preceito constitucional de que ni!lgu6n se exime de colaborar com 0 Poder ]udiciario; mas tambem na clara norma da. Constitui~ao Federal a respeito da i~dividualizar;;ao da pena,quenaoselimitaaaplicar;aodapenana sentenr;;aeondenat6.ri::j.. Qualquertent~tiva de engessar a atividade ju~dicional ~e~e ser cOibida .. Se os par~ceres e os exames eram padronizado~ em alguns casos, nao significa quenao merer;;amaperfeic;oamento. Sua extinc;ao em nada contribuira para a riqueza "do processo de individualizac;ao da pena aO longo da exe<;ur;;ao. E mais: se os pareeeres das Comissoes Teenieas de Classificar;;ao eram tao imprestaveis para a progressao, deveriam ter a mesma avalia­r;;ao para a inicializar;ao da execw;ao penal. Ora, quem padroniza para a progressao, pode perfeitamente padronizarpara 0 inicio do cumprimento da pena. A manteur;a da Comissao para avaliar 0 condenado no eo­mer;;o da execuC;ao, mas a sua abolir;;ao para o acompanhamento do presQ, durante da execur;;ao, e umgolpe (inconstitucional) ao principio da individualizar;;ao da pena.

Art. 7.° A Comissao Tecnica de Classi­fica~ao, existente em cada estabelecimen­to, sera presidida pelo diretor e composta, no mlnimo, par do is chefes de servic;o, um psiquiatra, urn psic61ogo e um assistente so­cial, quando se tratar de condenado a pena privativa da iiberdade.20

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Guilhenne de Souza Nucci

Paragrafo linico. Nos demais casas a Co­missao atuara junto ao JUIZQ da Execu<;ao e sera integrada par fiscais do Servi<;o Social.

20. Importancia da Comissao T ec­nica de ClassificaC;ao; pela propria Com­posir;ao da equipe de avaliar;ao do presa pode-se constatar a sua relevancia. Quem pode analisar a condenado com maior pro­fundidade que os profissionais atuando no presidio? 0 diretor do estabelecimento pe­nitenchirio, os chefes deservir;o de.setores variados Ctrabalho, lazer, administrar;ao etc.), opsiquiatra, opsic6logo eo asslstente social sao as valorosos observadores dos presos, elaborando nao 'somente a parecer para 0 inicio do cumprimento da pena, mas tambemoparecerparaaprogressao deregi­me. 0 juiz da execur;ao penal, ultima voz na individualizac;ao executoria da pena, precisa ser bern inforrnado e dar a cada urn 0 que t seu por direito e justil;a. Presos ligados ao crimeorganizado, porexemplo, podemser detectados pelos profissionais da Comissao T ecnica de Classifiear;ao, que atuam no presidio, embora nunea tenham eometido falta grave, logo, podem possuir prontmi­rio "limpo", mas atividade sub-repticia no presidio, sem qualquer merecimento para a progressao.

Art. 8.° 0 condenado ao cumprimento de pen a privativa de liberdade, em regime fechado, sera submetido a exame crimi­nOlogic021 para a obten<;ao dos elementos necessarios a uma adequada classificac;ao e com vistas a individualizac;ao da execu­c;ao.

Paragrafo linico. Ao exame de que trata este artigo podera ser submetido 0 conde­nado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto. 22

21. Exame criminol6gico: sobre seu conceito e diferem;as do exame de classi-

ficac;ao, ver a nota 18 ao art. 6.°. Reitera­mos ser avaliac;ao muito importante do condenado para 0 fim de individualizar, corretamente, a execuc;ao da sua pena. Nao podemos concordar com a visao simplista de que 0 sentenciado deve ser analisado, unicamente, pelo seu prontuario, ou seja, se registra ou nao faltas graves. Ver, ainda, 0

correspondente art. 34 do C6digo Penal.

22. Exame criminol6gico e regime semi-aberto:.o panigrafo unico do art. 8.°, em contradir;;ao com 0 disposto no art. 35, caput, do Codigo Penal, demonstra ser facultativo ("podeni ser submetido") o exame criminoI6gico para aqueles que ingressam no regime semi-abeno. Nao e a melhorsolur;;ao. Deveprevaleceradisposto no an. 35, caput, do C6digo Penal, que faz remissao do art. 34, caput, do mesmo Co­digo, considerando necessaria a realizac;ao do exame criminologico tambem para 0

condenado em regime semi-aberto .. E 0

que ja defendemos em nosso C6digo Penal comentado (nota39aoart. 35). Lembremos, inclusive, que esse exame e benefico nao somenteao condenado, mas tambem a jus~ individualizac;ao da sua pena.

Art. 9.° A Comissao, no exame para a obtenc;ao de dados reveladores da persona­lidade,2l observando a etica profissional ·e tendo sempre presentes pe<;as ou infarma­c;6es do processo, podera:

I ~ entrevistar pessoas; II ~ requisitar, de repartic;6es au estabe­

lecimentos privados, dados e informar;;6es a respeito do condenado;

111- realizar outras diligencias e exames necessarios.

23. Analisedapersonalidade: temos sustentado que 0 mais relevante fator de diferenciac;ao de urn ser humano de outro e a personalidade. Pessoas, inclusive irmaos

41 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

gemeos, jamais possuem, exatamente, a me5rna maneira deser e agir. Porisso, para a ideal individualizac;ao executoria dapena, precisa 0 magistrado deter todas as infonna­C;bes possiveis acerca do preso. Para tanto, valendo-se da fundamental atividade da Comissao T ecnica de Classificac;ao, buscara conhecer melhor a pessoa que esta sob seu julgamento, para 0 fim de receber- ou nao _ beneffcios durante a execur;;ao da pena. E a obtenr;ao dos dados .necessarios para revelara personalidade depende, de fato, como preve 0 art. 9.°, de uma ampla coleta de material em todas as fontes posslveis. A entrevista depessoas, preferencialmente, da familia do condenado, bern como a conse­cuc;ao de inforrnes em geral de repartir;;oes e estabelecimentos privados (ex.: antigo emprego do sentenciado) e a realizar;ao de outras diligencias (ex.: visita a morada da familia ou de amigos) eonstituem mecanis­mos validos, dentro do sigilo profissional da equipe multidisciplinar, para atingir a conclusao sobre a personalidade do .Tee­dueando.

Capitulo II

DA ASSISTENCIA

Se~ao I

Disposic;6es gerais

Art. 10. A assistencia ao preso e ao inter­nado e deverdo Estado,·objetivando prevenir o crime e orientar 0 retorno a convivencia em sociedade.24

Paragrafo unico. A assistencia estende-se ao egresso.25

24. Preven~ao pela reeduca~ao: 0

disposto no art. 10 desta Lei eomprova ser uma das primordiais finalidades da pena a prevenr;;:ao ao crime, pormeio da reeducar;;:ao do condenado, favorecendo a sua rein-

Execuc;ao Penal

serr;;ao social. E a denominada prevencao especial positiva (outIOS detalhes .podem ser encontrados na nota 1 ao Titulo V do nosso C6digo Penal cornentado).

25. Assistenciaaoegresso:aqueleque deixa 0 carcere, especial mente se passou muitosanos preso, necessitade amparo do Estadopararetomarsuavidaemsociedade. Possuindo 0 apoio dafamilia au deamigos, melhorsera. Porem, pode naoserarealida­de, motivo pelo qual os organismos estatais precisam de aparelhamento suficiente para nao abandonar 0 rece.m-saido do presidio. Cremos ser fundamental, no minima, a busca conjunta (egresso e Estado) peIo emprego, sem contar, naturalmente, algum tempoemquesepossaproporcionarmorada e sustento a quem deixou 0 carcere, porque cumpriu a pena ou esta em livramento condicional. Sobre 0 conceito de egresso, para. os fins desta Lei, consultar 0 art. 26.

Art. 11. A assistencia Sera:26

1 ~ material; 11- a saudei 111- jurfdica; IV - educacionali V - social; VI - religiosa.

26, Modalidades de assistencia: ao preso, pareee-nos cabiveis todas as forinas indicadas nos incisos I a VI, do art. 11, desla Lei, respeitando-se, naturalmente, a sua convicc;ao intima, ao menos em materia de religiao, nao se podendo obriga-lo a freqcientar qualquer tipo de culto ou adotar qualquer crenr;a. No toeante ao egresso, nao vemos sentido em se manter ° Estado apto a prestar-Ihe assistencia religiosa, por exemplo. Asmaisimportantes sao a material e social. Eventualmente, se necessarias, a assistencia a saude e a educacional. Em

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Guilhenne de Souza Nucci 4

segundo plano, voltando-se ao condenado em livramento condicional, a assistencia jUridica.

Se~ao II

Da assistencia material

Art. 12. A assistencia material ao preso e ao internado consistira no fornecimento de alimenta~ao, vestuario e instalaC;6es higienicasP

27. Assistencia·material e- remi~ao: para 0 fomecimento de alimentac;ao, ves­tuario e instalaC;6es higienicas, pode e, em nosso pensamento, deve 0 Estado buscar associa-las ao trabalho do sentenciado, propiciando a beneficio da remic;ao (a cada tres dias trabalhados, desconta-se urn dia na pena). Nao significa-dizer que 0 preso deve trabalharpara seralimeutado, vestido ou gozar de instalaC;6es salubres. Repre­senta, isto sim, a oportunidade para que os estabelecimentos penais maritenham, emsuas instalac;6es, cozinha,lavanderia e departamento de limpeza, sem promover a camoda terceirizat;do. Dessa maneira, as condenados podem trabalhar na coziuha, na lavanderia ou no servic;o de limpeza geral do presidio, conseguindo a1can~ar o beneficia da remic;ao e cumprir urn de seus deveres, que e, justamente, executar o trabalho que Ihe for destinado (art. 39, V. LEP). Muitos estahelecimentos penais desativaram a eozinha, a lavan4eria e a setor de limpeza proprios, passando essas tarefas a empresas particulares e gerando, com 15so, a pretexto de economizardinheiro publico,afaltadepostosde trabalhoa todos os detidos. ° sustento ao cumprimento de pena e algo Oneraso para 0 Estado e nao pode ser tratado de forma superficial au simplista.Alias, tivesse 0 Estado tumprido melhor a sua func;ao, distribuindo riqueza,

forneeendo meios de garantir a educa~ao, o emprego e tantas outras necessidades it sociedade e, comcerteza, 0 crimediminuiria, evitando-se a superlota~ao de presidios. Portanto, e mais do que obvio dever 0 Es~

tado garantir a alimentac;ao, 0 vestuario e as instalaC;6es higienicas adequadas aos presos sob sua custodia, embora devesse investir na vinculac;ao dessas atividades com 0 trabalho dos sentenciados.

Art. 13. 0 estabelecimento dispora de instalaC;6es e servic;os que atendam aQs presos nas suas necessidades pessoais, aleni de locais destincidos a venda de produtos'e objetos permitidos e nao fornecidos pela Administrac;ao.28

28. Outras instala~oes: alem das in~ dispensaveis a garantia dasobrevivencia do preso,-em condic;6es dignas, 0 estabeleci­mento penal deve dispor de locais para a venda de produtos e objetos perrnitidos, que estao fora da 'obrigac;ao estatal de fomeci­mento (ex.: cantina, oude se possa: adquirir refrigerantes, guloseimas, cigarros etc.).

Se~ao III

Da assistencia a saude

Art. 14. A assistencia a saude do preSQ e do internado, de carater preventivo e cura~ tivo, compreendera atendimento medico, farmaceutico e odontol6gico.29

§ 1." (Vetado.}

§ 2.° Quando 0 estabelecimento penal nao estiver aparelhado para prover a assisten­cia medica necessaria, esta sera prestada em outro local, mediante autorizac;ao da direC;ao do estabelecimento.30

29. Assistencia a saude e remit;ao: nos mesmos moldes anteriormente ex,: postos, a manten~a de consultorio medico

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

ExecU(;ao Penal

e dentario .no presidio pode facilitar m10

somente a preven~ao e a cura de doenc;as, mas tambem constituir local adequado para que os sentenciados trabalhem, cum­prindo seu dever e garantindo 0 beneficio daremic;ao.

30, Assistenda medica fora do pre­sidio: necessitando 0 preso de um trata­mento mais reIevante do que uma simples consul~a, possivelmente, nao encontrara amparo dentro do presidio. 0 Estado deve, portanto, proporcionar-lhe acesso a hospi­tais adequados, peIo pt"riodo necessario. Lembremos que esse e urn dos fatore~ que pennitemconsiderar 0 condenado em pleno cumprimento da pena, ainda que nao eSteja presente no estabelecimento penitendario, submetido as regras gerais dos demais sen­tenciados (art. 112, II, parte final, CPl.

Se~ao IV

Da assistencia jurfdica

Art. 15. A assistencia jurfdica e destina­da aos presos e aos internados semrecursos fi-nanceiros para constituir a<;ivogado.31

Art. 16, As unidades da Federa<;ao de· verao ter servic;os de assistencia jurfdica nos estabelecimentos penais.

31, Assistendajurfdicaobrigatoria: p disposto no art. 15 desta Lei preve a con­cessao de assisten~ia juridica aos presos e intemados~m recursos parac:onstituir adv£?­gadp. Permitirno-nosdiscordaDO 9iJ:cito a liberdade e, conseqo.entemente, ~ derec:eber as beneficios cabiveis durante a execuc;:ao penal e indisp~~~yel. Se 0 preso, abo~ado financeiramenteou nao, tivernecessidadede urn advogado, 6 Estado deve proporcionar­lhe urn defensor publico, ainda que possa, ao final da assisU~ncia, cobrar pelos servic;:os prestados, conforme a simaC;ao. Garante-

se, com isso, 0 efetivo exercicio da arnpla defesa e do contraditorio em toclas as fases processuais. Lembremos que a execu~ao da pena faz parte da continuidade do pro~ cesso de conhecimento, ocasiao em que 0

Estado faz valer a sua preteusao punitiva. Imaginemos, portanto, que 0 representante do Ministerio Publico pleiteie a revogac;:ao do livramento condicional ou a regressao a regimemaissevero[Naopodeosentenciado ficar privado do direito de defesa tecniccfJ Se for pobre,oEstado Ihe daraadvogado gratuitamente[e for rico e nao quiser con­tratarum profissional, ~ Estado, ainclaassim, lhe destinara advogado, devendo, depois, a benefichirio ressareir os cofres publicos (art. 261, caput, c.c. art. 263, paragrafo unico, do CPP~ E verdade que a Constituic;ao Federal preceitua que 0 Estado prestara assistencia jurfdica integral e gratuita aos que demonstrarem insuficiencia de recuISOS (ar~. 5.°, LXXIV). Isso nao quer dizer que 0

preso em meIhoies condi~6es financeins possa ser prejudicado somente porque se recusou a contratai"uinadvogado.(e1e pode, inclusive, agir propositadamente para, no futuro, buscar anular oprocesso ou a deci­sao proferida-, por cerceamento de defesa). o Estado deve proporcionar' assistencia jurfdica a todos os presos. Sera gratuita aos pobres; sera cobrada, quando se tratar de condenado com suficiencia de recursos. Nemse argumente com a eventual obriga­c;:ao do jufz de nomear urn defensor dativo ao sentenciado abonado financeiramente, que se recusa a contra tar advogado. Essa situa~ao vern trazendo inumeros problemas na pratica forense.~e b advogado dativo; atuar, por nomeac;ao do juiz, sem interfe rencia do Executivo, ele nao conseguir receber pelos seus servic;os.: A tendenda' da Fazenda Publica e negara remunerac;ao, sob 0 pretexto de que aceitou a nomeac;ao par livre e espontanea vontade, logo, cleve arear com issiISeria urn munus publico.

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Par isso, muitos advogados terminam par recusar a nomea~ao, com a amparo da GAB. E, de fato, ninguem deve trabalhar de gra~a. Foi-se a tempo em que a advogado, com muitos clientes pagantes, podia contribuir com a Justi~a, aceitando algumas causas gratuitas. 0 excessivo mlmero de profis­sionais tomou mais dificil b sustento do causfdico pelo seu trabalho na advocacia, a que torna injusta a nomeac;ao, rnonnente quando ha varias, para 0 patrocinio gratuito. o caminho ideal e 0 Estado assumir esse onus, indicando defensor publico, mas, ao final, cobrando, pelos meios jUridicos cabiveis, pdo servi~o prestado.

Se~ao V

Da assistencia educacional

Art. 17. A assistencia educacional com­preendera a instruc;ao escolar e a formac;ao profissional do preso e do internadoY-33

32. Assistencia educacional: precei­tua 0 art. 205 da Constitui~ao Federal que "a educa<;ao, direito de todos e deverdo Estado e cia familia, sent promovida e incentivada com a colabora<;ao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para 0 exercicio da cidadania e sua qualifica<;ao para 0 trabalho". Ppr outro lado, deixa darono art. 208 oseguinte: C ... )

§ 1.0, que "0 acesso ao ensino obrigatorio e gratuito e direito publico subjetivo. § 2.0 o nao-oferecimento do ensino obrigat6rio peIo Poder Publico, ousuaoferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente". Par isso eahe ao Estado pro­mover a ensino fundamental (antigo 1.0 grau) ao sentenciado que dele necessitar. Dispoeo art. 32da Lei 9.394/96ser "0 ensino fundamental obrigat6rio, com dura<;ao de 9 (nove) anos, gratuito na escola publica, iniciando-seaos 6 (seis) anos de idade, teni

porobjetivo aforma~ao basica do cidadao, mediante: I -0 desenvolvimento da capa~i­dadedeaprender, tendo como meios basicos o pleno dominio da leitura, da eserita e do calculo; II - a compreensao do ambiente natural e social, do sistema politico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III -0 desenvol­vimento cia capacidade de aprendizagem, tendo em vistaaaquisi~ao de conhecimentos e habilidades e a fonna~ao de atitudes e va­lores; IV - 0 fortalecimento dos vineulos de familia, dos la~os de solidariedade humana e de tolerfincia reciproca em quese assenta a vida social. § 1.0 E facultado aos sistemas de ensino desdohrar 0 ensino fundamental em ciclos. § 2.° as estabelecimentos que utilizam progressao regularpor serie podem ado tar no ensino fundamental a regime de progressao continuada, sem prejuizo da avalia~ao do processo de ensino-aprendi­zagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. § 3. 0 0 ensino funda­mental regular sera ministrado em lingua portuguesa, assegurada as comunidades indigenas a utilizac;ao de sUas linguas mater­nas e processos pr6prios de aprendizagem. § 4.0 0 ensino fundamentalsera presencial, sendo a ensino a distancia utilizado como complementa~ao da aprendizagem au em situa~5es emergenciais". Quanto ao ensino profissionalizante, toma-se parte essencial para que 0 eondenado, alfabetizado, possa desenvolvero aprendizadode alguma profis­sao,se ja naopossuiruma. De todamaneira, fica a Estado obrigado a garantir-Ihe, nesta ultima hipotese, 0 aperfei~oamento de seus conhecimentos, nos termos do art. 19 da Lei 7.210/84. '01/ ~,.~~ 0

33. Estudo e remi<;ao: nao ha, por ora, previsao legal para que a estudo do preso possa significar abatimento da sua pena, embora devesse haver, devidamente

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execw;ao Penal

regrado ecom rigido controle. Cuidaremos do tema no contexto da remi~ao.

Art. 18. 0 ensino de primeiro grau34 sera obrigat6r;o, integrando-se no sistema escolar da unidade federativa.

34. Ensinodeprimeirograu:eoatual ensino fundamental. Vide a nota 32 ao art.

17.

Art. 19. 0 ensino profissional sera mi­nistrado em nfvel de iniciac;:ao ou de aper­feic;:oamento tecnico.35

Paragrafo unico. A mulher condenada tera ensino profissional adequado ·a sua condic;:ao.36

35. Ensino profissional: vide a nota

32 ao art. 17.

36. Meta constitucional: a protec;ao a mulher, em face de suas peculiaridades como ser humano, especialmente por ser fisicamente mais fraca que 0 hornem, imp5e que a "pena sera cumprida em estabeleci­mentos distintos, de aeordo com a natureza do delito, a idade e 0 sexo do apenado" (art. 5.", XLVlll, CF) e tambem que "as presidiarias serao asseguradas condi<;oes para que possam permanecer com seus filhos durante 0 periodo de amamenta~ao" (art. 5.°, L, CF). Emconsonanciaeomessa particularprote<;ao, anote-se 0 disposto no art. 9.0 da Lei 8.069/90: "0 Poder Publico, as instituic;6ese os empregadores propiciarao condiC;6esadequadasaoaleitamentomater­no inclusive aos filhos de maes submetidas a medida privativade liberdade". E rnais do quenatural,portanto, tenharnaspresidhirias direito a urn ensinoprofissional diferenciado e adequado as suas reais necessidades.

Art. 20. As atividades educacionais po­dem ser objeto de convenio com entidades publicas ou particulares, que instalem esco­las au oferec;:am cursos especializados.37

37. Escolasnas unidades penitencia­rias: a ideia central e que 0 Poder Publico ou entidades particulares possam instalar escolas ou ofereeer cursos espeCializados no interior dos presidios, inclusive porque esta seria a unica maneira de se atingir 0

condenado em regime fechado. for isso, como ja r~ssaltamos em nome anterior e ainda debateremos no capitulo da remi~ao, 0

estudo bern dirigido efiscalizado poderiaser utilizado como mecanismo dediminui~ao

gradual da pena.

Art. 21. Em atendimento as condic;:6es locais, dotar-se-a cad a estabelecimento de uma,biblioteca, para uso de todas as catego­rias de reclusos, provida.de livros instrutivos, recreativos e did§.ticos.

Se~ao VI

Da assistencia social

Art. 22. A assistencia social tem par finalidade amparar ° presQ e 0 intern ado e prepara-Ios para 0 retorno a liberdade.36

38. AssisH~ncia social: os .profissio­nais da assistenda social sao aqueles que permitem urn Harne entie·o preso e sua vida fora do earcere, abrangendo familia, trahalho, atividades eomunirnrias etc. Alem disso, participam das Comissoes T eenicasde Classifiea~ao, emitindo pareceres quanta a mais indicada forma de individualizac;ao da pena, de progressao de regime e se e cabivel o livramento condicional.

Art. 23. Incumbe ao servic;o de assis­tencia social:

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I - conhecer os resultados dos diagn6s­ticos e exames;

11- relatar, per escrito, ao diretor do esta­belecimento, as problemas e as dificuldades enfrentados pelo assistido;

111- acompanhar 0 resultadp,das permis­soes de safdas e das safdas temp,orarias;

IV - promover, nO,estabelecimento, pelos meios disponfveis, a recreac;iio;

V - promover ?- o~ienta\=aQ do assistido, na fase final do cumprimento da,pena, e ~o liberando, de modo a facilitar-o seu retorno a liberdade;

VI - providenciar a obtenc;ao de docu­mentos, dos beneffcios da previdencia social e do 'segura par acidente no trabalho;

VII - orientar e' a'mparar, quando neces­saria, a familia do preso, do internado e da vftima.

Se~ao VII

Da assistencia religiosa

Art. 24. A assistencia religiosa, com liberdade de culto, sera prestada aos pre-50S e aos internados, permitindo-se-Ihes a participa~ao nos servic;os organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instru~ao religiosa.39

§ 1.° No estabelecimento havera local apropriado para os cultos religiosos.

§ 2.° Nenhum preso ou internado po­dera ser obrigado a participar de atividade religiosa.

39. Assistencia religiosa: estabelece o art. 5.°, VI, .da Constituic;ao Federalser "invioIavei a liberdade de consciencia e de crenc;a, sendo assegurado 0 li~re exercici~ dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a protec;ao aos locais de culto e a suas.liturgias". a preso merece receber a oportunidade de participar de cultos, com ampla liberdade de crenc;a, i~dusive de nao ter nenhuma, bern como de ter consigo livros referentes a religH.i.o adotada.

Se~ao VIII

Da assistencia ao egresso

Art. 25. A assistencia ao egresso con­siste:40

1- na orienta~ao e apoio para reintegra-Ia a vida em liberdade;

11- na concessao, se necessario, de alo­jamento e alimenta~ao, emestabelecimento adeq~ado, pEi.lo prazo de 2 (dois) meses.

Paragrafo unico. 0 prazo estabelecido no i nciso II podera ser prorrogado uma unica vez, comprovado, par dec1ara~ao do assistente social, 0 empenho na obtenc;ao de emprego.

40. Assistencia ao egresso: cremos ser fundamental a ideal.ressocializac;ao do sentenciado a amparo aquele que deixa 0

carcere, em especial quando passon muitos anos det~do, para que nao se frustre e retor­ne a vida criminGs·a. LamentaveJmente, na maior parte das cidades brasileiras, onde ha presidios, esse servic;o ine~iste. A con­sequencia ~ 0 abandono ao qual e.lanc;ado o egresso, que nem mesmo para onde ir tein; apcs 0 cumprimento da pena. Se tiver familia que 0 anipare, pode-se dispensar 0

aiojamento e a alimentac;ao, valendo, so­mente; 0 empenho para a busca do e:mprego licito.

Art. 26. Considera-se. egr~sso para os efeitas desta lei:4H2

I - 0 liberado definitivo, pelo prazo de 1 (urn) ana a contar da safda do estabele­cimento;

II - 0 liberado condkiorial, durante· 0

perfodo de prova.

41. Conceito de egresso: em sentido amplo, quer dizer a pessoa que se afasta de uma comunidade qualquer apos urn periodo de ligac;ao mais ou menos dura­doura. 0 preso viveu em comunidade, no

Leis Pellais e Processliais Pel1ais Comentadas

estabelecimento penitenciario - regimes fechado e semi-aberto, motivo peIo qual e considerado liberado definitivo pelo pra­zo de urn ana. Durante esse·tempo, pode necessitar de orientac;ao e amparo para a perfeita reinserC;ao social. Se preciso for, o Estado cleve providenciar alojamento e alimentac;ao, em local adequado, por, pelo menos, dois meses. Nao deveria ser con­siderado egresso 0 condenado que estava inserido ein Casa do Albergado e, finda a pena, e liberado definitivamente. Afinal, ele ja ·estava, praticamente, reintegrado a sociedade, tanto que trabalhava fora da ~asa do Albergado durante todo 0 dia esomente nela comparecia para 0 repouso notumo e para passar os fins de·semana. Parece-nos que seria mais que suficiente para 0 periodo de transic;ao, de modo que, ao:terminar a pena, p"aderia seguir para-oude desejar, nao r"tecessitand6 de amparo estatal para tanto. ·Diversame~te, aquele que de-J."xa'",· abruptamente, o"regime fechado-e mesmo o regime semi-abert6 - pode erifrentar 0

choque trazido pela subita liberdade, sem saber 0 que fazer, nem mesmo para· o·nde ir. Eis ai a ingerencia do Poder Publico, prestando-Ihe assistencia e ampato. Mas a leinao faz distinc;ao, afirrnando, apenas, que econsiderado egtesso ° liberado definitivo, pelo prazo de'um ano, a contarda saida do estabelecimento (presidio, colonia peiuil ou Casa'do Albergado), Por outro lado, tambem e considerado egresso aquele que se'·encontra em livramento condicional, durante 0 periodo de prova. Neste caso, a situac;ao e mais coerente do que a enfren­tada pelo albergado. Ha presos que podem sair diretamente do regime fechado (apos cumprir, por exemplo, urn terc;o da pena, se primario, de bans antecedentes, pode requerer 0 livramento condicional) para a liberdade. Em tese, precisam mais.de assistencia do Poder Publico, justamente para conseguir trabalha licito e morada

Execur;.iio Penal

imediata (desde que nao contem ·com 0

apoio da familia),

42. Beneffcios previdel:l(;:iarios:·di~-· poe 0 Decreto 3,048/99, 'no~rt, i3, IV; 0

seguinte: "Mantemaqualidadedesegurado, independentemente de contribui~6es: (. .. ) IV - ate doze rrieses apcs.o livramento, 0

segurado detldo ou· recluso".

Art. 27. 0 servic;o de assistencia social colaborara com 0 egresso para a obten~ao de trabalho,

Capftulo III

DOTRABAlHO

Se~ao I

Disposic;;:oes gerais

Art. 28. 0 trabalho do condenado, como dever social e condi<;ao' de dignidade huma­na, tera finalidade educativa e produtiva.43

§ i.o Aplicam-se a organiia<;ao e aos metodos de trabalho as precau<;6es relativas a seguran<;a e a higiene.

§ 2.° 0 trabalho do preso nao esta sujei­to ao regime da Consolida<;ao das leis do Trabalho:44

43. Trabalho do preso: eobrigat6rio (art. 39, V; LEP) efaz parte da laborterapia inerente a execuc;ao da pena do condenado, que necessita de reeducac;ao. Por outro lado, a Constituic;ao Feder~l veda a pena de trabalhos for,ados (art. 5,', XLVII, c), 0

que significa nao poder se exigir do preso o trabalho sob pena de castigos corporais ou ou tras formas de punic;ao ativa, alem de nao se poder exigir a prestac;ao de serviyos sem qualquer beneficio ou remunerac;ao. Diz Luiz Vicente Cernicchiaro: "Extinta a escravatura, nao faz sentido 0 trabalho gratuito, ainda que imposto pelo Estado,

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Guilhenne de Souza Nucci 418

mesmo na execm;ao da sentenr;a criminal. A remunera~ao do trabalho esta definiti­vamente assentada. 0 Direito Penal virou tambem a pagina da hist6ria. -0 C6digo Criminal do Imperio estatuia ~o art .. 46: 'A pena de prisao com trabalho obriga­ra os reus a ocuparem-se diariamente no trabalho que lhes for designado dentro do recinto das prisoes, na conformidade das senten~as e dos regulamentos policiais das mesmas prisoes'. A supera~ao do trabalho gratuito caminha paralelamente a rejei­r;ao do confisco de bens" (Direito penal na Constituit;ao, p. 133). E natural que a obrigatoriedade do trabalho implica, em caso de inobservancia pdo condenado, na concretiza~ao de falta grave (art. 50, VI, LEP). Se esta se configurar, perde a preso o direito adeterminados beneficios, como, exemplificando, a progressao de regime, 0

livramento condicional, 0 indulto, os dias remidos pdo trabalha etc.

44. Diversidadedotrabalhadorlivre: quem esta solto e trabalha goza dos bene­fidas previstos na CLT (ex.: 13.° salario, ferias, horas extras etc.). 0 presa, ao exercer o trabalha como urn dos seus deveres, nao tern direito a tais proveitos. Na verdade, ao exercerqualquer atividade no presidio, tern outras vantagens, como, por exem­plo, a remi~ao (desconto na pena dos dias trabalhados, na propon;ao de tres dias de trabalho por urn dia de penal. Sera, ainda, remunerado pelo que fizer, nos termos do art. 29, caput, desta Lei.

Art. 29. 0 trabalho do preso sera remu­nerado, mediante previa tabela, nao paden­do ser inferior a 3/4 (tn2s quartos) do salario mfnimo.45

§ '.0 0 produto da remunera~ao pelo trabalho devera atender: 46

a) a indeniza~ao dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicial_ mente e nao repara.dos por outros meios;

b) a assistencia a famflia;

c) a pequenas despesas pessoais; d) aD ressarcimento ao Estado das

despesas realizadas com a manutenc;aa do con dena do, em proporc;ao a ser fixada e sem prejufzo da destina~ao prevista nas letras anteriores.

§ 2.° Ressalvadas autras aplica~oes le­gais, sera depositada a parte restante par~ constitui~ao do peculio, em cadernetas de poupan~a, que sera entregue ao condenado quando posto em liberdade.

45. Trabalho remunerado: canfarme dispoe 0 art. 38 do C6digo Penal ("0 trabalho do preso sera sempre remunerado, serido­lhe garantidos os beneficios da Previdencia So~ial"), alem da remunera~ao, 0 presQ pade gozar das beneficios previdenciarias emgeral. Nos tennosdo art. 201 da Cons­titui~ao Federal, a previdencia social sera organizada sob a forma de regime geral, de: cani ter contribu tiva e de filia~ao obrigat6ria, observados os criterios que preservem 0

equilibrio financeiro eatuarial, e atendeni, nos terrnosda lei, a: C ... ) IV -salario-familia· e auxilio-reclusao para os dependentes dos seguradas de baixa renda. Conforme dispoe 0 art. 80 da Lei8.2.J.3L9.l-; "0 auxilio-­reclusao sera devido, nas mesmas condi~oes da pensao por morte, aos dependentes do segurado recolhido a prisao, quenaa receber remunera.;ao da empresa nem estiver em gozo de auxilio-doen~a, de aposentadoria ou de abono de permanencia em servi~o. Paragrafo tinieo. 0 requerimento do au­xilio-reclusao devera ser instruido com certidao do efetivo recolhimento a prisao, sendo obrigat6ria, para a manutenr;ao do beneficio, a apresenta~ao de declara~ao de pennanencia na condit;;ao de presidia­rio". Alem disso, preceitua 0 art. 9.°, V, 0,

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

do Decreto 3.048/99, que regulamenta a Previdencia Social, ser filiado obrigat6rio, como contribuinteindividual, "0 segurado recolhido a prisao sob regime fechado ou semi-aberto, que, nesta condi~ao, preste serviC;o, dentro ou fora da unidade penal, a uma ou mais empresas, com ou sem in­termediac,;ao da organizar;;ao carceraria ou entidade afim, ou que exerce a atividade artesanal por conta propria". Nos tennos do art. 11, § 1.". IX. po de filiar-se, facuIta­tivamente, "o-presidiario que nao exerce atividaderemunerada nem esteja vinculado a qualquer regime de previdencia social". o mesmo Decreto 3.048/99 estabelece as condic,;6es paraa obten~ao do auxilio-reclu­sao pelos dependentes do preso, em parti-: cular no art. 116: "0 auxilio-recIusao sera deyido, nas mesmas condi~oes da pensao por morte, aos dependentes do segurado recolhido a prisao que nao receberremune­rac,;ao.da empresa nem estiver em gozo de aux:ilio-doenc,;a, aposentadoria ou abono de pennanencia em semc;o, desde que 0 seu ultimo salario-de-contribui~ao seja iriferior ou igual a R$ 360,00 Ctrezentos e sessenta reais). § 1.0. E devido auxilio-ieclusao aos dependentes do segurado quando nao hou­ver saIario-de-contribuic;ao na data do seu detivo recolhimento a prisao, desde que mantida a qualidade de segurado. § 2. 0. 0 pedido de auxilio-reclusao deve serinstrui­do com certidao do efetivo recolhimento do segurado a prisao, firrnada pela autoridade competente. § 3.°. Aplicam-se ao auxilio­reclusao as normas referentes a pensaopor morte, sendo necessaria, no caso de quali­fica~ao de dependentes apos a reclusao au detenc;ao do segurado, a preexistencia da dependencia econ6mica. § 4.°. A data de inicio do beneficio sera fixada na data do detivo recolhimento do segurado a prisao, se requerido ate trinta dias depois desta, ou na data do requerimento, se posterior." No art. 117: "0 auxilio-reclusao sera mantido

Execu~ao Penal

enquanto 0 segurado permanecer detento ou recluso. § 1.0. 0 beneficiario devera apresentar trimestralmente atestado de que 0 segurado continua detido ou recluso, firmado pela autoridade competente. § 2.°. No caso de fuga, 0 beneficio sera sU,spenso e, se houver recaptura do segurado, sera restabelecido a con tar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda mantida a qualidade de segurado. § 3.°. Se houyer exercicio de atividade dentro do peribdp de fuga, 0 mesmo sera considerado pan! a verifica~ao da perda ou nao da qualidade de segurado." 0 art. 118 estabe1ece que "falecendo 0 segurado detidb ou recluso, o auxilio-reclusao que estiver sendo pago sera automaticamente convertido em pensao por marte. Paragrafo unico. Nao havendo concessao de auxilio-reclusao, em razao de saIario~de-contribuic;ao superior a R$ 360,00 Ctrezentos e sessenta reais), sera devida pensao por morte aos dependentes se 0 6bito do segurado tiver ocorrido dentro do prazo previsto no inciso IV do art. 13." Finalmente, dispoe 0 art. 119 ser "vedada a concessao do auxilio-reclusao apasasoltura do segurado". 0 valor 40 auxiFo-reclus~o sera de cern por cento do valor da apo~en­tadoria que 0 segurado recebia ou daquela a que teria direito se aposentado porinvalidez na data do falecimento (art. 39, § 3.°). Em razao disso, aIem de poder contar com 0

referido beneficia doauxilio-reclusao, que, na verdade, serve aos seus dependentes, privados da renda da pessoa presa, conta tempo para a aposentadoria e, saindo do carcere, con tara com outros servic;os da previdenciasocial." Registremos, ainda"que ha outras possibilidades de concessao de auxilio-reclusao, como ocorre, por exemplo, corn os servidores ptiblicos civis da Uniao, das Autarquias e das Funda~oes P1.1blicas Federais, nos termos da Lei 8.112/90 ("art. 229. A familia do servidor ativo e devido o auxilio-reclusao, nos seguintes valores:

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Guilhenne de Souza Nucci 420

I - dais ter~os da remun~ra~ao, quando afastada pOI motivo de prisao, em flagrante au preventiva, detenninada pela autoridade

competente, enquanto perdtlIar a prisao; II - metade da remunerac;ao, durante 0

afastamento, em virtude de 'condenar;ao,

por sentenr;a definitiva, a pena que naa determine a perda de cargo. § 1.0. Nos casos previstas no inciso I deste artigo, 0 servidor

tera direitoa integrid~ar;ao cia remunera.-;,:ao, desde que abs~lvido; § 2.0. 0 pagamen~? do auxflio-reclusao cessani a partir do dia

imediato aquele em que 0 servido~forposto

em liberdade, ainda que condicional").

46. Insuficj(~ncia da remunerac;ao: se 0 valor percebido peIQ presQ cleve seI

de, pelo menDS, 3/4 <;10 salaria miniulO, a

listagem de destinar;6es do produto da re­munerar;ao e irreal. Com tal montante, ele

precisaria indenizar 0 dana causado pelo

crime, garantir assist€::ncia a sua familia,

gas tar consigo em pequenas despesas, alem de ressarcir 0 Estado pelas despesas c6msua

manuten~ao. Nao bastasse, ainda deveria

haver uma sobra para formar urn peculio,

conforme prev€:: 0 § 2.° deste·artigo. Seria o milagre da multiplicar;ao do clinheiro. .

Art •. 30. As tarefas executadas' como presta~ao de servir;;o a comunidade nao serao remuneradas. 47

47. Atividade naD remunerada: a

prestar;ao de servir;os a comunidade, par defini<;ao,e uma pena alternativaao encar­

ceramenta, cuja .finalidade e a atribuir;ao de tarefas gratuitas ao condenado (art. 46, § 1.0, CP), dando-Ihe a oportunidade de reparar, pelo seu trabalho, 0 dana social

provocado pela pr~tica do crime. 0 dispo­sitivo e, partanto, inutil.

Se~ao \I

Do trabalho interne

Art. 31.0 condenado it pen a privativa de liberdade esta obrigado ao trabalho na medida de suas aptid6es e capacidade. 48

Paragrafo linko. Para 0 preso provisorio, o trabalho nao e obrigatorio e so podeJa ser executado no interior do estabelecimenc to.49

48. Trabalhocompativelcomacapa. cita<;ao: esse e urn dos reflexos positivos da individualiza<;ao executoria da pena, fruto natural do exame de classificar;ao realizado no inicio do cumprimento da pena. Desven­da-se a aptidao e conhece-se a capacitar;ao do condenadopara 0 exercicio de atividades no estabelecimento prisional. Destina-se 0

trabalhoideal para opreso (ex.: urn medico pode trabalhar no consultorio do presidio; urn pedreiro, na refonna de urn bloco do estabelecimento penal). Outro'ponto a considerar e a curso profissionalizante que ele pode fazer (art. 19, LEP), associando: se 0 seu aproveitamento ao trabalho a ser real~ado no dia-a-dia. .

49. Trabalhofacultativo: emboraa lei preveja ser facultativo 0 trabalho ao preso proviso rio, consagrada a possibilidade de haver a execUl;ao provisorja da pena, cre~ mas que esta ele obrigado a desempenhar alguma atividade rio estabdecimento onde seencontre. Afinal, sepretendeprogredir de regime, passando, por exemplo, do fecha­do ao semi-aberto, torna-se essencial que trabalhe, a fim de ser avaliado, quanta ao merito, nas mesmas condir;oes de igualdade dosdemais condenados. 0 art. 31, panigrafo unico, desta Lei roi elaborado muito antes dese falar em execw;ao provisoria da pena, motivQ pelo qual facultou-se 0 trabalho ao preso provis6rio.

Leis Penais e Processuais penais Comentadas

Art. 32. N.a atribui~ao do trabalho de­verao ser lev~das em conta a habilitac;ao, a c~ndi<;ao pessoal e as necessidades futuras do presQ, bem como as oportl!nidades ofe­recidas pelo mercado. so

§ 1.° Devera ser limitado, tanto quanta posslvel, 0 artesanatd 'sem expressao econo­mica, salvo nas regi6es de turismo.

§ 2.° Os maiores de ~O ano~ poderao solicitar ocupac;ao adequada a sua i.dad.e. S1

§ 3.° Os doentes ou deficientes ffsicos somente exercerao atividades apropriadas ao seu estado.

50. Individualiza~ao execut6da da pe~a: novamente se constata aimportancia nao somen~e do exame de classificac;ao ini­

cial, mas do acompanhamento da Comissao

Tec~ica de Classifi.cac;aodu·rante tod~ a

exe~Uf;ao d,a pena. Somente nesses terI1los

h~yer.a possibili4ade de se garantir a in~cio daatividadelaborati~aematividade<;o.mpa­tivel ~om a habilitar;ao e condic;aQ pessoal

<10 condenado. Apos. 0 acoII1:pan~a~ento,

d"\lra~te 0 cumprimento da pena, po de proporcionar aos setores especializaqos

d~ .pn:;sfdio, tra!lsferir 0 sentenci<,\~o para

outro set.or, onde possa aprimo.r~r al~ma habilidadeou profissao, bern comosep9deni

pt;nsar nas necessidades futuras, quando

deixar 0 carcere. Em nossa visao, manter a

atividade da Comissao T ecnica de Classifi­car;ao restrita a urn exame inicial e manietar

a execur;ao, prejudicando-a se·riamente.

51. Estatuto do idoso: e natural que

o preso idoso, pessoa com mais de 60 arios,

possa requerer 0 desempenho de ativida­de compativel com sua idade, pais a Lei

10.74112003, no art. 26, preve 0 seguinte: "0 idoso tern direito ao exercicio de atividade pro fissional, respeitadas suas· condir;6es

fisicas, intelectuais e psiquicas".

Execu~ao Penal

Art. 33. A jornada normal de trabalho nao sera inferior a seis, nem superior a oito horas, com descanso nos domingos e feria­dOS. 52

Paragrafo unico. Podera ser atribuldo horario especial de trabalho aos presos de­signados para os servi«;os de conservar;;ao e manutenl,;ao do estabelecimento penal.

52 .. Jornada de trabalho:estabelece o art. 33, caput, desta Lei, nao dever ser inferior a seis, nem superior a oito hotas diarias, com descanso aos domingos e fe­riados, mas, corretamente, prev€::-se uma excer;ao nb paragrafo unico, com a fixar;ao de horarios especiais aos presos designados para servir;os de conservar;ao e manutenr;ao do presidio. Eo que se da, par exemplo, a quem exerce as suas atividades na cozinha. Nos domingos e feriados, lOdos os presos se alimentam narmalmente; razao pela qual algu~m ha de lhes preparar as refeir;6es. 0 condenado, trabalhando nesse setor, ter­mina por exercer servir;os aos domingos e feriados. Outroponto quenao e inc~mum. Para melhoraproveitamento do trabalhona cozinha, pode-se estipularuma jomad~ de dozehoras, com descanso nl?' dht seguinte. Essedia trabalhado, narealidade, valera por dois (como se cuidassemos de dois dias, com seis horas de servir;o prestado cada urn).

Art. 34. 0 trabalho podera ser geren­ciado por funda~ao, ou empresa publica, com autonomia administrativa, e tera por objetivo a formar;;ao profissional do conde­nado.S)

§ 1.° Nessa hipotese, incumbira a entida­de gerenciadora promover e supervisionar a produl,;ao, com critE!rios e metodos empresa­riais, encarregar-se de sua comercializac;;:ao, bern como suportar despesas, inclusive pa­gamento de remunerar;;ao adequada.

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Guilhenne de

§ ·2.° Os governos federal, estadual e municipal poderao celebrar convenio com a iniciativa privada, para implanta\=ao de oficinas de trabalho referentes a setores de

. apoio dos presidios.54

53. Trabalhodopresoeresponsabi­lidadedoEstado:observa-seapreocupa.;;ao da Lei de Execu.;;ao Penal em entregar ao Poder Publico a tarefa de organizar, super­visionar e coordenar 0 trabalho desenvol­vido pelos condenados (art. 34,.eaput e. §

l.0). Indica, inicialmente, uma fundar;ao ou empresa publica. Afinna a viabilidade da celebra.;;ao d~ convenios cO.rn a in.iciati: ... va privada para a implantac;ao de oficinas de trabalho nos presidios (art. 34, § 2.°). Na sequencia (art. 35), busca-se facilttar a venda dos bens ou produtos adyindos do trabalho do preso, ate mesma. ~om dispe~a de lidtar;ao, aos 6rgaos da administrar;ao direta ou indireta da UnHio, Estados, Dis­trito Federal e Municipios. Se 0 valo~pago

por particulares for mais elevado, a este comerdo da-se preferenda. As imporUin­cias ar~ecadadas voltam-se as fundar;5es ou empresas publicas, que organizaram 0

servic;o. Nafalta, ao estabelecimentopenal. Emsuma, aresponsabilidadepelo trabalho do preso e do Poder Publico, que pode ate se valer da iniciativa privada, por conve­nios, para tanto, remunerando-se 0 p:reso e arrecadando-se valores ao proprio ente estatal. Trabalho de condenado nao pode gerar lucre para empresas privadas, pois e uma distorc;ao do processo ~e execuc;ao

. da pena. 0 preso re~eberia, por exemplo, 3/4 do salario minimo e produziria hens e predutosde alto valor, em oficinas montadas e administradas pela iniciativa privada, que os venderia e fkaria com 0 lucro, sem nem mesmo conferirao condenado os beneficios da CLT (lembremos da vedar;ao estabeledda pelo art. 28, § 2.°, desta Lei). Tal situar;ao seria ilegal e absurda. 0 cumprimento da

422

pena e 0 exercicio do trabalho pelo preso nao tern por fim dar luera. E urn onus estatal a ser suportado. Se, porventura, houver lucro na organizac;ao e administra~ao da atividade laborativa do condenado, a estee ao Estado devem ser repartidos os ganhos. Por ora, e a previsao legal.

54. Privatiza~ao de presidios: se­gundo cremos, ha de se editar lei especifica para reger tal situac;ao. Antes disso, nao se pode tolerar 'que a iniciativa privada assuma a direr;ao de urn estabeledmento penal, contrate funcionarios e administre o trabalho do preso, bern como conduza as anota\,oes em seu prontuari6. As regras precisariamser bern claras e discutidas com a sociedade e com a comunidade juridica antes de' qualquer implantac;ao arrojada nesse sentido. Tern-se notfda, entre tanto, da falsa privatizac;do de presidio, que nao passa de uma terceirizac;ao de alguns servi.­c;os. 0 Estado continua a dirigir a presidio e manter os principais cargos diretivos: Contr.ata-se uma empresa p'ara fornecer a seguranC;a intema do estahe1ecimento; sem abrir mao, naturalmente, dos agentes penitenciarios estatais. Seria 0 equivalente a terceirizara alimentac;ao dos presos, 0 que ja e uma realidade em inurneros presidios brasileiros.

Art. 35. Os orgaos da administra\=ao di ... reta ou indireta da Uniao, Estados, Territorios, Distrito Federal e dos Municfpios adquirirao, com dispensa de concerrencia publica, os bens ou produtos do trabalho prisional, sem­pre que nao for passlvel ou recomendavel realizar-se a venda a particulares.

Paragrafo unico. Todas as importancias arrecadadas com as vendas reverterao em favor da fundac;ao ou empresa publica a que alude 0 artigo anterior ou, na sua falta, do estabelecimento penal.

Leis Penais e Proce55uais Penais Comentadas

Se~ao III Do trabalho externo

Art. 36. 0 trabalho externo sera ad­misslvel para os presos em regime fechado somente em servh;o ou obras publicas rea­lizadas per orgaos da administra\=ao direta ou indireta, ou entidades privadas, desdeque tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. S5•S6

§ 1.° 0 limite maximo do numero de presos sera de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra.S7

§ 2.° Cabera ao orgao da administra~ao, a entidade ou a empresa empreiteira a remu­nerac;ao desse.trabalho.s8

§ 3.° A prestac;ao de trabalho a entidade privada depende do consentimento expresso do preso. 59

55. Trabalho externo excepcional: nao deve ser a regra, mas a excecao. 0 ideal, como vimos defendendo em notas anterlo­res, e que oetado providencie, dentro dos estahelecimentos penais (regimes fechado esemi-aberto), as condir;oes e instalac;oes necessarias para 0 desempenho do traba­lho ohrigatorio dos sentenciad~ao ha sentido na inserc;ao do preso em servir;os extemos, especialmente quando se cuidar de condenados perigosos, com penas ele­vadas a cumprir, deslocando-se urn numero razoavel de agentes deseguranc;a para evitar fugas, a pretexto de nao haver local proprio dentro do presidio. Esse descaso estatal, em relac;ao a falta de estrutura dos estabeleci­mentos penitenciarios, precisa ser contor­nado, em nome da correta individualizac;ao executoria da pena. Temos acompanhado, Iamentave1mente, em algumas localidades, por todo 0 Brasil, situac;oes incompativeis como preceituado nesta Lei. Porausencia de instalac;6esapropriadas no estabeledmento fechado, mas tambem nao tendo condi.;;.oes de providenchii-:escolta, alguns magistrados H~mautorizado 0 trabalho externo do preso,

Execuc;ao Penal

sem nenhuma vigilancia. E a consagra~ao da falencia do sistema carcerario, pois tal metodo de cumprimento da penlil equivale ao regime aberta, ou seja, 0 presidio, para o regime fechado, torna-se autentica Casa doAlbergado, na pratica. 0 prejuizo, nesse caso, quem experimentanisera a ~ociedade, pois se a pessoa deve estar recolhida em re­gime Jeehado, nao pode circular livremente pe1as ruas, como se nenhuma punic;ao hou­vesse. As conseqo.encias sao imponderaveis e totalmenteimprevisiveis.

56. Trabalho externo e crime he­diondo o~ equiparado: levando-se em considerac;ao 0 que expusemos na nota anterior,. nao ha nenhumimpeclimento legal para que condenadospor crimes hediondos ou equiparados possam trabalhar fora do estahelecimento penal, desde que assegu­rada a devida escolta. Assim ja decidiu 0

Sup~riorTribunal dejusti,a: He 35.004-DF, 6."T., reI. Paulo Medina, 24.02.2005, v.u., Bol. AASP 2438).

57. Cautela em nomedaseguran~a: do total de empregados na obra (servic;o pu­blico ou privado) somente havera omaximo de 10% de presos, 0 que representa, mais uma vez, urn demonstrativo da preocupac;ao legislativa em prol dasegurimr;a, evitando-se fugas e garantindo-se a disciplina. Nao se poderia controlar, a contento, evitando-se, inclusive, rebelioes eficientes, urn contin­gente de 100 presos, porexemplo; em uma obra com outros 100 empregados. Entre­tanto, entre 1000 trabalhadores, e viavel acolher urn maximo de 100 condenados, formando nitida minoria de,ntre todos.

58. Remunera<;ao e nao explora­<;ao: segundo nos parece, colocado em trabalho externo, 0 preso cleve perceber 0

mesmo montante que outro trabalhador, desempenhando exatamente as mesmas tarefas, recebe, respeitadas,logicamente,as

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Guilhenne de Souza Nucci 424

situac,;oes peculiares, CO~O, por exemplo,

verbas e gratificac,;5es de ordem pessoal

que 0 empregado pode teT e 0 presQ nao possuinL Situac,;ao injusta -e inadrilissivel

seria pagar ao presQ 3/4 do salaria minima

(art. 29, caput, desta Lei) ,-"quando 0 Dutro

empfegado rec,ebe dois salirias mi~imos, por exemplo. Representaria pura explora­c,;ao do trabalho de quem esta cumpriI.1do pena. Somente para iluslIar, pod€;r-se-ia

chegar ao absurdo de "emprestar" traba­lhadores presos a empresas p!ivadas, que se encarregariatn de contra tar seguranc;a privada para escoltar os condenados~ des'­de que pUdessem pagar sal~~ios fnfimos aos mesmos. "0 Estaclo naa desembolsarla nada, as empresas teri~m lucre certo e .0

presQ perderia, pois desempenharia"uma

atividade sem a remunera~ao co.ndigna.

Lembremos que nao ha trabalho fon;ado

no Brasil, equivalente ao desenvolvimento

de tarefas em geral sem qualquer remune­

ra~ao e de maneira compuls6qa, sob pena

depuni~ao.

59. Con'sentimento do preso: estan"­

do a disposir;ao do Estado, e natural que

possa 0 Poder Publico deterlriiriar 0 melhor

lugar para que 0 condenado' desempenhe

atividadeslaborativas, respeitada, natural­

mente, a individualizar;ao execut6ria da

pena (suas condir;6es pessoais e aptidao).

Portanto,podeser dentm ou fora dopresi­

dio, conforme 0 caso concreto. No entanto,

para prestarservic;os a entidadeprivada, ate

pelo fato de mio haver vinculo trabalhista

algum (art. 28, § 2.°, LEP) , torna-se neces­

sario obte~ a sua a..9"uiescencia expressa, 0

que implica, pois~ na assinatura de termo

adequado.1Preso nao pode, jamais, servir \ de mao-de-obra barata para empresas pri­

vadas.

Art. 37. A prestac;ao de trabalho exter­no, a ser autorizada pela direc;ao do estabe­lecirnento, dependera de aptidao, disciplina e responsabilidade, alem tlo curnprimento minimo de 1/6 (urn sexto) da pena.60

Paragrafo linico. Revogar-se-a a auto­riza<;ao de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, qu tiver comportil­mento contra rio aos requisitos estabelecidos neste artigo.61

60. Requisitos para 0 trabalho ex· terno: deve haver autorizac;ao da direc;ao do presidio, nao havendo necessidade de deferimento pelo juiz da execuc;ao penal. Entretanto, este podeni intervir, caso pro­vocado, por exemplo, por condenado quese' sinta discriminado pela direc;ao do estabele­cimento penal onde se encontre, se outros presos, em igual situar;ao, tiverem obtido tal autorizar;ao e ele esteja sem qualquer oportunidade de atividade laborativa, nern mesmo interna. Poderia ser instaurado urn incidente denominado desvio de execu(Qo (art. 185, desta Lei). Ou, por praticidade, bastaria peticionar diretamente ao juiz da execuc;ao penal, solicitando a autorizar;ao para trabalho extemo. E para a obtenr;ao da referida autorizar;ao. leva-se em conta a aptidao do preso (no tocante ao traba-­Iho externo a ser realizado), sua discipli­na (comportamento dentro do presidio onde se encontra) e sua responsabilidade (born desempenho em atividades labora­tivas no estabelecimento onde esta), alem do cumprimento minima de urn sexto da pena. Este ultimo requisito esensato. Nao haveria nenhum sentido em se ·permitir ao condenado, recem-inserido no regime fechado. sem nem mesmo haver tempo, para avalia-Io, que pudesse pres tar trabalho externo. Afinal, 0 art. 36, caput, desta Lei, preve que se assegure a inviabilidade de fuga e condi\=6es ideais de disciplina. Aposo cumprimento de umsexto da pena, toma-se

425 Leis Pellais e Processnais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

passivel analisar 0 comportamento do pre­so,justamente para detectar a sua aptidao, disciplina e responsabilidade. Acrescente­

se, ainda, que; tambem aRcs urn se~ do cumprimento da penaG.le jii pode pleitear a progressao para 0 regime seJr:ti-aberto, outro sinal de que podeni.estar apto a dar inlcio ao trabalho exten:o, i~dep~ndentemente da decisao judicial acerca da progressaoJ Ha posic;ao jurisprudencial privilegiando os requisitos pessoais do condenado em detrimento do tempo de pena cumprida, embora, em muitos casos, quando 0 tribunal toma conhecimento do agravo interposto peIo sentenciado 0 periodo de urn sexto

ja tenha decorrido. Conferir: TJDF: "As condir;6es pessoais do d'etento sao favora­veis, de tal forma que; atento -ao principio

da individualiza\=ao da pena, bern como objetivando a sua ressocializac;ao. que e urn dos fins almejados pela lei, deve incidir a orientac;ao do criterio da razoabilidade, devendo a concessao de tal beneficio ficar adstrita ao prudente criterio da oportunida­de e conveniencia do juiz da execw;ao: (. .. ) Ha de se observar que estando 0 acusado cumprindo a pena em-regime semi-aber­

to, encontra-se obrigado a se recolher ao estabelecimentoprisional durante a noite. Assim, ja havendo a1canc;ado 0 direito de pennanecerfora dos mums da prisao ,duran:" te 0 dia, a concessao de tal beneficio traria enormes-bendicios ao detento, bern como a s'ociedade. Por fim, observo que; deacordo comoquese~edorelat6riodefls.l0/11, na data do julgamento do presente recuIso', 0

detento ja havenl curnprido mais de 1/6 (urn sexto) de sua pena, restando, pois, suprida a condir;ao objetiva exigida pelo Ministerio Publico, razao pela q'!1al julgo prejudica~o a presente recurso por perda de objeto" (Agravo 2006 01 1004838·4,2.' T., reL Romao C. Oliveira, 11.05.2006, v.u.).

61. Causas para a revoga~ao dotra­balho externo: sao tres: a) praticar Jato definido como crime. Neste caso, nao e preciso haver processo criminal e conde.­na\=ao com transito em julgado, pois a lei e clara ao mencionar Jato definido como crime e nao simplesmente'crime. Alias, se Fosse necessaria aguardar a condenar;ao ,definitiva, a medida de revogar;ao perderia completamente a eficiencia; b) cometer e ser punido por falta grave.·Nesta situar;ao, nao basta 0 cometimento da falta grave (ver _0 art. 50 desta Lei), mas e necessario haver apura\=ao e, emseguida, adevida punic;ao; c) ter comportamento inadequado no trabalho que the foi designado, agir com indisciplina au irresponsabilidade. A ultima hip6tese espelha apenas 0 ,contrario dos requisitos necessariospara aconcessao do beneficio do trabalho externo (art. 37, caput, LEP). Em qualquer hip6tese de revogac;ao arbitraria, sem causa justificada, pode 0 sentenciado provo car a instaurac;ao do incidente de desvio de execuo;ao (art. 185, LEP).

Capitulo IV

DOS DEVERES, DOS D1REITOS E DA DISCIPLINA

Se~ao I Dos deveres

Art. 38. Cumpre ao condenado, alem das obrigac;oes legais inerentes ao seu es­tado, subineter-se as normas de execuc;ao da pena. 62

62. Condenado como sujeito de direitos: compreendemos odisposto neste dispositivo como uma consequencianatural do explicitado no art. 38 do Codigo Penal ("0 preso conserva todos os direitos nao atingidos pela perda da liberdade, impon-

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Guilhenne de Souza Nucci

do-se a tadas as autoridades 0 respeito a sua integridadefisicae moral"), Na mesma esteira, nao se deve_olvidar 0 preceituado no art. S.o,XLIX, da Constituit;ao Federal: "e assegurado ao presQ 0 respeito a integri­dade fisica e moral". E certo que qualquer sentenciado sofre a natural diminuicao cia sua liberdade em geral, pois 0 Estade, detentor do poder punitivD, fani valer a sancao aplicada pela juiz. Logo, em especial no tocante ao presa, nao ha como evitar as ohrigacoes legais inerentes ao seu estado, como aceitar a privacao da liberdade de iI, vir e ficar; a estreiteza do seu direito a intimidade, em particularpelo permanente acompanhamento-e pela constante vigi­lancia; a diminuicao do seu direito de se associar, de se comunicar com terceiros, de terum domicflio comoasilo invioldvel (a cela, embora seja seu lugar de pennanencia, nao podeser considerada sua casa); a imposi.;ao de honirios para se alimentar e para donnir, dentre outros fatores. 0 condenado a pena restritiva de direitos sofre outras priva.;oes, inerentes ao Seu estado, que e diverso do preso. 0 sentenciado a pena pecunhiria sofre 0 constrangimento estatal incidindo sobreseu patrim6nio, nao deixando deser urn cerceamento'. Entretanto, ha deveres do condenado, enumerados no art. 39 desta Lei, especialmente voltados aos que estao inseridos em estabelecimentos penais. Em suma,deve-serespeitarosentenciadocomo sujeito de direitos-nao devendo ser tratado como objeto - mas sem a hipocrisia de se pretender que seja considerado no mesmo patamar de direitos e garantias em que se encontra 0 cidadao livre de qualquer condena~ao.

Art. 39. Constituem deveres do conde­nado:

I - comportamento disciplinado e Cum­primento fiel da sentenc;a;63

II - obediencia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com qt,Jem deva relacio. nar-se;64

III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;65

IV -conduta oposta aos movimentos indi­viduais ou coletivos de fuga ou de subversao a ordem ou a disciplina;66

V - execur;ao do trabalho, das tarefas e das ordens recebidasj67

VI - submissao a sanr;ao disciplinar imposta;68

VII - indenizar;ao a vftima -au aos seus sucessores;69

VIII - indenizar;ao ao Estado, quando posslvel, das despesas realizadas com a sua manutenr;ao~ mediante d.~sconto proparcio­nal da remunerac;ao do trabalho;7°

IX - higiene pessoal e asseio da cela au alojamento;71

X - conserva<;ao dos objetos de uso pessoal.72

Par<lgrafo unico. Aplica-se ao preso provis6rio, no que couber, 0 disposto neste artigo.73

63. Sujei~iio ao Estado: ter compor· tamento disciplinado somente pode ter relac;ao com 0 preso, 0 que e natural para quem esta inserido em outra fonna de vida comunitaria, como a firmada no estabele­cimento penal onde se encontra. Disciplina (submissao a ordens, regulamentos ou nor­m~s) e, como dissemos, mais propicia a se exigir do condenado preso. Os sentenciados a penas restritivas de direitos e pecunilirias tern avaliac,;ao mais branda nesse contexto. Imagine-se a condenado a pena de multa. Na atual configurac,;ao da pena pecuniaria (como divida ativa da Fazenda Publica, confonne art. 51, CP), estaria ele sendo indisciplinado ao nao paga-Ia? E evidente que nao, pois 0 proprio Estado incumbiu­se de abolir a conversao da pena de multa em prisao (Lei 9.268/96), logo, excluiu a disciplina desse cenario. Por outro lado,

Leis Penais e Processuais,Penais Comentadas

Execw;ao Penal

ha atos de indisciplina, ainda que mani­restados peIo preso, configurando faltas graves (ver 0 rol do art.. 50 desta Lei) e DUUOS, desconsiderados como .tais. Sob DutIO aspecto, estabeIecer como dever do cDndenado cumprir fielmente a sentenc;a condenat6ria e outra situac;ao que beira a utopia. Quem, em sa consciencia, quer ser privado de seus direitos mais importantes, como a liberdade? Alias, nao fosse assim e, htl muito,jase deveria ter a fuga do ca.rcere (ou ap6s proferida asentenc,;a condenat6ria -definitiva) como crime. Somente a fuga (au tentativa), praticadacom violencia au grave ameac;a a pessoa, 0 e (art .. 352, CP). No mais, fugir e uma alternativa para a preso, sem qualquer consequencia, se ele ainda nao foi inserido no sistema car­ceiario, ou considerada falta grave, se ja estiver cumprindo pena. Por isso, deve-se interpretar com parcimbnia a disposto no art. 39, J, desta Lei.

64. Obediencia e respeito: essesde-. veres devem ser, sem dllvida, cumpridos, pois nao hacondic,;ao de convivio digno em estabelecimento penal au em lugar desti­nado a cumprirpenas restritivas de direitos sem sujeic;ao a determinadas regras nem deferencia em relac;ao a outras pessoas com as quais deve existir natutal convivencia. Alias, a infrac;ao a esses deveres constitui falta grave, nos termos dos arts. 50, VI, e 51, III, desta Lei.

65. Civilidade no trato: embora 0

ambiente carcerario seja, em grande parte dassituac;6es,regidoporviolencia,dominio, imposic:;;oes de toda ordem e constituido por urn sistema proprio de regras rigidas, criad'as pelos proprios presos, a lei busca 0 ideal, que e garantir, como dever do condenado, o exercicio de civilidade, ou seja, 0 respeito mutuo entre os sentenciados. Esse dever, na essencia,ja est:i contido no inciso II, quando

se refere a lei ao "respeito a qualquerpessoa com quem deva relacionar-se".

66. Dificuldadedaexigencia:deman-dar, como dever do preso, man~er conduta opostaasatividadesdaquele'squepretendem fugir do presidio e, praticaniente, exigir 0

impossivel. Amhientes car~enirios nao sao paraisos, nem conventos, .Dnde as regras ideais sao as que prevalecem, ao co~tra­rio, como ja mencionamos anteriormente, constituem espac;os dedisputa, com nonnas peculiares e pr6prias, diversas do Direito posto. Exemplo disso e a "lei", impositiva de "pena demorte", executada porqualquer urn, aodelator. Portanto, reclamardopreso que se aponha a quem pretenda fugir e, basicamente, inaceitavel. Cuida-se de au­tentico estado denecessidade, em imimeros casos,participardafuga,sobpenademorrer, antes mesma de terconduta opostaa quem' pretenda evadir...:se. Pretendemas evidenciar co~ isto que a insen;ao, no prontuario·do preso, de faltagrave porque naSI "se opbs" as escapadelas de terc~iros soa inju?toe nao deve ser acolhido pela magistrado, se for 0

caso, como situac;ao impeditiva para 0 rece­bimento de beneffcios. No mais, p~rece-n:os razoavel 0 dever de se abster d~ participar da subversaq a ordem ou a disciplina. Nes.ta hipotese, entretanto, haa participac;aaatiya e a passiva. Cremos que 0 deverimposto pelo art. 39, IV, diz respeito a forma ativa1isto e, liderar e movimentar -se ostensiyamente para organizar motins e rebelioes. Aquele que, simplesmente, permanece calado ou, passivamente, acompanha a subversao par autrem liderada ou organizada nao deve ser considerado autor de falta grave.

67. Trabalho obrigatorio: ressalta­mas, mais uma vez, que 0 trabalho, em variados formatos, e parte importante da execuc:;;ao da pena, razao pela qual e deverdo condenado, logo, obrigatorio. 0 Estado nao

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Gui!1lenne de Souza Nucci

pode for(a-Io a -cumprir qualqueratividade, tarefaou ordem, mediantepuni~ao (como, porexemplo, a ~nsen;ao em solitaria) , mas tern 0 direito de considerar sua atitude inercial como falta grave (arts. 50, VI, 51, III, LEP). Assim ocorrendo,deixani o'pre­so, no futuro, de receber beneffcios, v.g~: a progressao para regime menos gravoso. Na situac;ao do condertado a pena restritiva de direit6s, a recusa ao trabalha liCitamente impasto pode proporcionar'a reconversao para pena privativa de -liberdade.

68. Sujei~aoasan~ao:parece-nosque tal dever nem precisaria constar do texto legal, pais e consequencia mais do que 6bvia. Se houve a imposi~ao de uma sanc;ao disciplinar justa, com base legal, torna­se mais do que logicq dever 0 condenado cumpri-Ia. Seria 0 mesmo que in~erir I}O

Codigo Penal que"havendo a condenac;~o definitiva, e dever do sentenciado cumprir apena.

69. Indenizac;ao a vltima ou suces~ sores: inserir esse deverno contexto'eLi Lei de Execu.-;ao Penal e mera"decorrencia dos varios preceitos existente5 no 'C6digo Penal, buscando priorizar a repaniC;ao do dana ao of en dido. Dentre eles; pode-se citar,' como exemplo', 0 principal, preVlsto no art. 9'1,1, do Codigo Penal: "Sao efeitos da condena.; .-;ao: I - tomar certa a obrigac;aode'indeniZar o dano causadopelo crime C ... )". A infrac;ao a tal devernao foi incluida como falta grave nesta Lei, porem, pode acarretarprejufzos ao sentenciado ao lange do cumpiimento da pena. Ilustrando, para a obtenc;ao de livramento condicional, cleve demonstrar terreparado 0 dano,salvo impossibilidade de faze-lo (art. 83, IV, CPl.

70; . Indenizac;ao ao Estado: cuida-se de clever razoave1 e logico, porem'de diff­cil concretizac;ao. Alem de muitos preso$' receberem parca remunerac;ao, quando

conseguem trabalhar no presidio onde se

encontrarri, destina-se e1a a varias outras

prioridades, como a indenizac;ao a viti rna,

a assistencia a familia Ceinbora exista 0 auxilio'-reclusao), a salisfac;ao de despesa~

pessoais, ao pagamento ~e ~ventual mu\ta

aplicada, sem olvidara formac;ao do peculio,

destinado a sua saida futura do carcere.

71. Higiene e asseio: sao termos

correlatos, cujo significado e,.na essencia,

Hmpeza. Deve 0 preso manter-se asseado,

bern como assegurar que a cela, onde habita,

assim tambem permanec;a. Quando a lei

menciona alojamento, refere-se a acomoda­

c;ao coletiva ~o sistema semi-aberto. Lem­

bremos que tal dever deveseracompanhado

daatiVidadeestataldelheproporcionarcela

individual, nos termos do art. 88 desta Lei.

Nao se pode exigir salubridade e limpeza

em urn ambientesuperlotado epromiscuo

na pratiea.

72. Conserva~ao dos objetos de uso

pessoal: quer-se ~rerligar-se este deverao

material que the e destinado peIo estabeIe­

cimento penal onde se. encontre{ como ves-,

tuario ou 0 colchao onde dorme), pois nao

se pode exigir do preso que mantenha bern

conservado aquilo que e, exclusivamente,

seu, recebido, por exemplo, da familia.

73. Deveres do preso provisorio:

parece-nos compativeis os deveres previstos

nos incisos I, primeira parte, II, III, adap­

tando-se 0 termo conde~ados a presos, IV, V

(embora facultativo 0 tra,balho, conforme

previsao do art. 31, paragrafo unieo, desta

Lei, hoje, ha interesse·para 0 preso provi­

sorio, pois existe 0 beneficio da execuc;ao

provis6ria da pena) , VI, IX e X do art. 39.

Leis Penais e Penais Comentadas

ExeCUi;ao Penal

Se~ao 1\

Dos direitos

Art. 40.lmpoe-se a todas as autoridades o respeito a integridade 'ffsica e moral dos con-denados e dos presos provisorios.14

74. Respeito ao preso: ea decprrencia do previsto no art. 5.°, XLIX, da Constitui~ao Federal, bern como do art. 38 do C6digo

Penal.

Art. 41. Constituem direitos do preso:

I - alimenta~ao suficiente e vestuario/s

II - atribui~ao de trabalho e sua remu-nera~ao/6

111:- previdencia social;77

IY.- constituic;ao de peculio/6

V - proporcionalidade na distribuic;ao do tempo para 0 trabalho, 0 descanso e a recrea~aoi79

VI - exercfcio das_ ati,:,idades profissio­nais, intelectuais, artfsticas e desportivas anteriores, desde que compatfveis com a execu~ao da pena;60

VII- assistencia material, a saude, jurfdi­ca" educacional, social e religiosa;61

VIlI- protec;ao contra qualquer forma de sensaciona! ismojJ2

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;63

X - visita do conj':1ge,.da ~pmpanhei~a, de parentes e amigos em dias determinados;64

XI- chamamento nominal;6S XII - igualdade de tratamet:lto,s?lvo

quanto as exigencias da .individualiza~ao da' pena;66 - ," "

XIII - audiencia ~special" com 0 diretor do estabelecimentojJ7

XIV - representa~ao e petic;ao a qualquer au tori dade, em defesa de dire'ito;66

XV - c~ntato com 9 mundo 'exterior por meio de correspondencia escrita, 'da leitura e de outros meios de informac;ao que nao com­prometam a moral e os bans 'costumes;69

XVI- atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judicia ria co~petente.90

Paragrafo unico. as direitos previstos nos incisos V, X e XV poderao ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do-diretor do estabelecimento.91

75. Alimentac;ao e vestuario: soa ob­via essa previsao. pois seria inconsequente e invhivel que 0 Estado mantivesse alguem encarcerado deixando-o sem alimento.s, em quantidade suficiente para manteIlc;a da sua saude, e vestimenta. A pena seria cruel e poderia levar, inclusive, a morte, o que e vedado pela Constitui~ao Federal Cart. 5.o,XLVII,aee). Porem,faremosduas ressalvas: a) quanto a alimentac;ao, temos defendido que 0 Poder" Publico deveria incentivar a instalac;ao e organizac;ao de cozinhas dentro dos presidios, como forma viavel de abririnumeros postos de trabalho aos'condenados, evitando-se a terceinza­t;aO do servic;o, sob 0 pretexto de ser mais economico. Assim, eIes seriam as respon­saveis peIo preparo· da propria altmentac;ao, auferindo, tambem,asvaritagens"rnerentes a remic;ao; b) quanto aovestu'ario, pa-rece­nos viavel que 0 preso possua unifonne, ate para ser facilmente identificado- aeIitTO do estabelecimento p'enal, desde que se opte por algo que nao 0 ridkularize.

76. Trabalho remunerado: esse, se­gundo nosparece, e urn dos principais dire-i­tos do preso. Nao somente porque a propria lei preve 0 exercicio deatividadelaborativa como deverdo cOl1denado, mas tambem por seroportunidade de obtenc;ao deredm,;ao da 'pena, pormeio da remic;ao Carts. 126 a 130, LEP). Alem,do·mais, constituia mais.impor­tante fonna de reeduca.-;ao e ressocializac;ao, buscando-se incentivaro tnibalho honesto e, 'Se possivel, proporcionar ao recluso 'ou detento a formac;ao pro fissional que nao possua. porem deseje. Lembremos, ainda,

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Guilhenne de Souza Nucci

queo trabalho, condignamenteremunerado, pode viabilizar 0 sustento da familia, das SUas necessidades pessoais, bern como tern o fim de indenizar a vitima e 0 Estado, alem de permitir a forma~ao do peculio, dentre outras necessidades.

77. Previdencia social: dispoe 0 art. 38 do Codigo Penal que 0 trabalho do preso serasempreremunerado,sendo-Ihegaran_ tidos os beneficios cIa Previdencia SociaL Remetemos 0 leitor a nota 45 ao art. 29, onde cuidamos desse tema.

78. P~culio: euma reserva emC\inhei­ro, que Ihe servira de lastro para retomar sua vida em liberdade, assim que findar 0

cumprimento da pena, for colocado em li­berdade condicional au ingressarno regime aberto. E a figura similar a "caderneta de poupanca", que muitas pessoas mantem em bancos para Ihes garantir maior conforto material no futuro au 0 atendimento de alguma necessidade emergencial.

- 79. Distribui~aodetempo:devemas autoridades administrativas encarrega4as de ordenar 0 programa do dia de cada preso atemar para a proporcionalidade natural entre trabalho, descanso e recr~acao, de modo a nao transformar, por exemplo, 0

trabalho em alga exagerado, a ponto de atingir 0 grau de penalidade cruel. Por ou­tro lado, tambem nao se pode descurar da possibilidade desereduzireventp.aljornada de recreacao em prol de uma extensao na atividade laborativa no interesse do pr6prio condenado, como faculta 0 art. 33, paragrafo unico, desla Lei. Em suma, imperando 0

bom-senso, nenhuma das partes (Admi­nistracao e preso) sai prejudicada.

-- 80. Continuidade das atividades anteriores: ingressando em recinto prisio­nal, 0 condenado pode manter as mesr:nas atividades que ja desenv,olvia antes do en-

carceramento, desde que compativeis com a execw;ao da pena. Porisso, se trabalhava em atividade artistica, par exemplo, pode efetuar a composicao de uma musica ou a redat;ao de urn livro, ainda que esteja em regime fechado, devendo a administra<;3.o do presidio assegurar-lheespacopara tanto. Por outro lado, nao e compativelcom 0 regime fechado que urn preso saia, em turne pelo Brasil, promovendo shows desuas ml1sicas. A cautela do inciso VI deste artigo e correta: o sentenciado pode-desenvolver qualquer atividade profissional, intelectual, artfstica ou desportiva anterior a prisao, desde que haja compatibilidade com 0 novo sistema vivenciado.

81. Direito a assistencia estatal: tais direitossaomerasdecorrenciasdaobrigat;ao do Estado depraver as necessidades basicas do preso e do intemado, confonne disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei.

82. Protec;ao a imagem: a Constitui­cao Federal explicita, no art. 5.0

, XLIX, ser assegurado ao preso 0 respeito a integridade fisica e moral. Essa decorre, dentre outras fatores, do direito a honra e a imagem (art. 5.0

, X, CF). Associam-se tais dispositivos aopreceituado no art. 38 do C6digo Penal, no sentido de que devem ser preservados todos os direitos do preso nao atingidospela condena~ao. Emsuma, a honra e a imagem de quem e levado ao carcere ja sofrem 0

natural desgaste imposto pela violencia da prisao, com inevitavel perda da liberdade e a consequente desmoralizat;ao no ambito social. Por isso, nao mais exposto deve 0

condenado ficar, enquanto estiversob tutela estatal. E, pois, razoavel e justo quese proteja o sentenciado contra qualquer forma de sensacionalismo (explora~ao escandalosa da imagem de alguemou de fatos).Alias, a mesma meta esta prevista no art. 198 da LEP. Deve serressalvada, no entanto, a hip6tese

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

de desejar 0 pre~o se expor a uma entrevista Oll reportagem de orgao de imprensa, de .maneira espontanea, por qualquer razao pessoal. Porern, ainda assim, se estiversob protet;ao do Estado, imp6e-se a dever-da administrat;ao do presidio de evitarsitua~6es humilhantes de qualquer nivel.

83. Direito de defesa: ao preso deve ser assegurado todo direito nao atingido pela condena~ao e pela prisao. E mais do que obvio que 0 direito a ampla defesa (art. S.o, LV, CF) jamaislheseni retirado, aindae especialmente durante 0 cumprimento da pena. Porisso, necessitaavistar-secomseu advogado sempre que for imprescindivel para asustentac;ao do referido direito a ampla defesa. Alias, sob a 6tica do defensor, disp6e o art. 7.°, III, da Lei 8.906/94, constituir direito do advogado "comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuracao, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicaveis". A en­trevista deve serpessoalmente assegurada, bern como 0 seu sigilo, sem a invasao de terceirosnessa conversat;ao. Inexistem, no entanto, em nosso ponto de vista, direitos absolutos, mesmo destatus constitucional, merecendo haver hannonia entre a prote­<;ao do direito de defesa, por exemplo, e 0 direito da coletividade a segurant;a publica. Portanto, cuidando-se de preso recolhido em regime especial (como, v.g., 0 RDD-art. 52 desta Lei), as cautelas para a entrevista serao redobradas. 0 ingresso do advogado no presidio pode ser dificultado, mas ja­mais totalmente afastado. Urn condenado integrante do crime organizado pode ter 0

acesso a seu defensor sob maior supervisao estatal, porem sem haver a supressao desse direito. Da mesma forma que nao se deve admitir 0 impedimenta absoluto da entre­vista de urn preso, por mais perigoso que

possa ser considerado, com seu defensor, tambem nao se pode tolerar que 0 mesmo condenado, ilustrando, constitua dezenas de advogados e passe a falar com cada urn deles diariamente. Abusos de parte a parte precisam ser coibidos. Garante-se 0 direi­to de entrevista pessoal e reservada, sem escuta de terceiros, com 0 advogado, mas nao se deve aceitar exageros na frequencia e na variedade dedefensores, a'fim de nao se deturpar a 'finalidade da nonna que Ihe assegura direito de defesa e nao de liderar atos ou organizat;oes fora do carcere, va­lendo-se de terceiros.

84. Direito de visita: 0 acompanha­mento da execut;a,o da pena por parentes, amigos e, em particular, pelo conjuge ou companheiro (a) e f!-.mdamental para a rs>­socializactao. Feliz do preso que consegue manter de dentro do carcere estreitos la­t;0~ com sua familia e seus amigos, que se encontram em liberdade. 0 Estado deve assegurar essecontato, estabelecendo dias e honirios deterrninados para 0 exercicio desse direito. A polemic;,.a, no entanto, per­maneceno tocante ao denominado direitade visita intima. 0 disposto no inciso X deste arugo nao atinge, por 6bvio, tal."direito". Logo, deve ser considerado urn direito se a administrac;ao do presidio - como tern ocorrido na maior parte deles - permitir tal exercicio generalizadamente. Por uma questao de aplicac;ao do principio constitu­cional da igualdade, nao e cabivel pennitir que alguns tenham contato sexual com seus parceiros ou parceiras e outros, nao. Ainda que institucionalizado pela tradi~ao - ha anos, vaiios presos ja usufruem de tal direito nos estabelecimentos penais- como forma salutar de evitar a violencia sexual e tambem para incentivar 0 cantata com a familia e com 0 mundo exterior, nao se pode consideni.-Io urn direito absoluto. Por otitro lado, cremossernecessario democratizar"":e

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Guilhenne de Souza Nucci

legaHzar-esse novo direito it visita intima, pennitindo,que 0 maior numero possivei de presos dele possa fazeruso, sem precon­ceitos, discrimina~6es de toda ordem e com regras e criterios previamente estabelecidos. o preso casado pode ser beneficiado, pais seu conjuge cadastrawsee passa a esfera de conhecimento da autoridade. E a solteiro? Como exercitar a direito it viSita intima,vale dizer, it rela~ao sexual com pessoa do sexo oposto ou mesmo com pessoa do mesmo sexo, mas que the seja prqxim.a qu com quem tenha la~os afetivos ITarecewnos que,

I havendo 0 cadastro e 0 registro da pessoa com quem a preso pretende relacionar-se, -nao deve a administra~ao vetar-Ihe 0 direito somente porque n~o se trata de'conjuge au companheiro(aj] Ora, 0 direito it visita intima nao se encontra' previsto em-lei, originandowse do costume adotado pelas dire~6es dos presidios, de modo que nao pode encontrar barreira justa mente em criterios subjetivos e, por vezes, precon­ceituosos. Se 0 casado pode manterrela<;ao sexual com sua esposa, 0 mesmo valendo para aquele que mantem uniao estavel. e preciso estender 0 beneficia ao solteiro, que pode €leger a pessoa que desejar para tal fim. Sob tutela estatal, com fiscalizar;ao e controle, 0 ganho para a ressocializac;ao -sera evidente. Naturalmente, a preso in­serido ern regime disciplinar diferenciado (RDD). com visitas limitadas (ver 0 art. 52, III, LEP), naa tern como usufruir de visita intima, em qualquer. forma que seja. Prevalece. neste ultimo caso, a seguran,<;a publica emdetrimento do direito individual. EindiscutLvelhaverpontosnega"tivos,levan­tados por parcela da doutrina: a) 0 direito a visita intima retira 0 contrale integral do Estado e~ relac;ao aos contatos entre presos e pessoas de fora do estabelecimento penal; b) permite-se, dessa forma, a ingresso de instrumentas e aparelhos celulares, pois mio se consegue fazer a revista pessoal no

visitante de maneira completa, ate por ser uma questao de invasao de privacidade; c) pode-se incentiyar a prostituic;ao, uma vez que 0 preso solteiro, pretendendo faze,r valer 0 direito, tende a servir-se desse tipo de atendimento; d) se a prisao nao deixa de ser urn castigo, a possibilidade de acesso ao relacionamento sexual periodico torna a vida no estabeIecimento prisional muito proxima do cotidiano de quem esta solto; e) 0 ambiente prisional nao e adequado, nem ha instalaC;6es proprias para tal ato de intimidade. podendo gerarpromiscuidade; f) ha presos que sao obrigados a vender suas mulheres a outros, para que prestern favores sexuais em virtude de dividas ou outrosaspectos. Como mencionamos linhas atras, nao comungamos dessas obje~5es. o direito a visita intima e, em nosso pon­to de vista, urn mal menor. Nao somente

!'incentiva a ressocializac;ao como inibe a violencia sexual entre presos, aspectos de maior relevo, a merecer a considerac;ao do le.gislador, regulamentando-o na Lei de Execw;aa Penal. Na jurisprudencia: T]SP: "A concessao de visita intima sujeita-se aos criterios da discricionariedade, da convew ni(~ncia e da oportunidade, favorecendo apenas aqueles sentenciados que possuam conjuge ou comp~nheira e que estejam em condic;5es de sallde p~ra usufrui-Ia. C .. ) .A nao autorizacao judicial a que presos aideticos mantenham contato intimo nao e fruto de discriminaC;ao e de desrespeito ao principio da isonomia. Tambem nao e exemplo de_arbitrariedade estatal, mas, ao contrario, exsurge cpmo resultado do seu dever de preservar a vi9.a e a saude publica, bens estes que, a evidencia.sobrepujam-se a quaisquer outros, individuais ou coletivos" (Ag. 266.255-3, emapensa aa MS 263.321-3-Sp, I." c., rel.]arbasMazzani,22.02.1999, v.u.). Idem: T]SP, HC 406.028-3/9-SP, 3'­C. Extraordinaria, r~l. Leme de Campos, 27.02.2003, v.u. Porderradeiro, valelembrar

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execu<;;ao Penal

que a Decreta Federal 6.04912007 ingres­sou no contexto da visita:intima e, pior (a materia deve ser tratada em leO, delegou a disciplina do assunto ao Ministerio da Justic;a. Conferir: "Art. 95. A,visita intima tern par finalidade fortalecer as relac;oes familiares do preso e sera regulamentada pelo Ministerio daJustic;a. Paragrafo unico. E proibida a visita intima nas celasde con­,viv'encia dos presos". No Brasil, oprincipio da legalidade e, de fata, rclegadaa plano secundario em muitos setores e pIanos da administrac;ao publica.

85. Chamamento nominal: cuida-se deuma das fonnas mais sutis de mantenc;a da dignidade da pessoa humana, vak dizer, ser chamado peIo seu nome e DaO por urn numero ou urn apelido qualquer. O.preso conserva todos os direitos nao atingidos pela decisao condenatoria e 0 respeito a sua honra e a sua imagem faz parte disso. Logo, inexiste sentido para "numerarn os presos, a nao ser pelo indedinavel desgaste de "despersonaliza-Io", para que se,sinta mais objeto que pessoa.

86. 19yaldade e individualiza~iio: a individualiza~ao exec~t6r~a da P9~~, pJ­rolario natural do principio_constitucional da individuaiizac;ao da pena (art. 5.0

, XLVI, primeira parte, CF), demonstra a sua im­porUincia ao, aparentemente, mitigar ate . Ip..esmo a igualdade de todos p~~ante a l~i. Em verdade, segundo 0 nosso pensamento, a individualizac;ao aproxima-se da isono­mia, ou seja, deve-se tratar desigualmente os desiguais, -fazendo com que a auten­tica forma de igualdade seja observada. Na realidade, todos os presos devem.ser tratados com igualdade, porem na fonna da lei. Esta, por sua vez, seguindo parametros identicamente constitucionais, estabelece criterios de merecimento para a obtenc;ao de diversos beneficios. 0 condenado com

born comportamento pode progredir do regime fechado ao semi-aberto; por exem­pio. 0 que ostenta -mau comportamento, por outro lado, permanece no fechado. E todos continuam iguais perante a lei. Entre­tanto, 0 preceito do inciso XII deste artigo e -correto, ao estipular como regra a igual­dade e, excepcionalmente, as exigencias da ·individualizac;ao da pena. Nao se poderia, ilustrando, c-olocarum preso de·mau COID­

portamento em uma cela insalubre e outro, de born comportamento, em tela ideal, tal como moldada pela Lei de Execucao Penal. Essa medida estatalseria inconstitu'cional. seja porqu-e ferea igualdade de todos perante a lei, seja porque nao segue os parilmetros da individualizac;ao da pena.

87. Direito de audiencia: inserj.do em urn estabelecimento penal, que passa a ser a sua comunidade, e natural ter 0 direito de se avis tar com 0 diretor do preSidio, para que possa apresentar eventual reclamac;ao. sem intermedia~ao de ou tros funcionarios au agentes de seguram;a, bern como propor alguma medida ou apresentar sugestao. 0 direito nao deve ser absolu to, mas regrado. o diretor geraInao podenegar-sesistemati:... camente a receber os presos em audiencia, mas pode impor limites e condic;5es, em nome da disciplina e da seguranc;a._'.

88. Direito de peti~iio: trata-se de reflexo do direito constitucional.depetic;ao: "sao a todos assegurados, independente­mente do pagamento de ta.xas: a) 0 direito de petic;ao aos J?oderes Public,os em de~esa dos direitos ou contra ilegalidade ou abuso de pader" (arl. 5.°, XXXIll, CF). A issa, devemos acrescer 0 direito de se socorrer do Poder ]udiciario, sempre que for con­veniente, fazendo-o, tambem por peti~ao, diretamen~e, afinal, "a lei Dao exduira da apreciac;ao do PoderJudiciario lesao ou ame­a,a a direita C .. )" (art. 5.°, XXXv, CF).

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Gui/herme de Souza Nucci

89. Contato com 0 mundo exte­rior: ha variadas formas de se manter urn preso ern cantata com a mundo -alheio o estabelecimento penitenciario: acesso

a jornais, revistas, livros e programas de radio e televisao. Nestas situa~6es, deve a dire~ao do estabelecimento privilegiar os meios de informa~ao uteis ao processo de reeducac;ao ao qual se submete a senten­ciado. Nao se trata deuma,mera censura a programas de radio e TV au a peri6dicos escritos, por capricho da direc;ao do pre­sidio, mas uma medida salutar de sele~ao dos informes ajustados a quem se encontra preso. Lembremos que ao condenado sao assegurados todos os direitos nao atingidos pela decisao condenat6ria, razao peIa qual a sua liberdade de acessar todo e qualquer programa au informac;ao e, tambem, limi­tada. Registremos a existencia da Internet na vida em sociedade, igualmente levada para as estabelecimentos penais, em face de aulas de informatica e outros beneffcios de lazer e aprendizado. Alguns sites podem ser vedados ao preso (ex.: de conteudo pornognHico au alusivo a annas, bombas, atosilicitos etc.). No mesmo prisma, pode set valida a impedimenta a urn filme vio­lento, cuja tematica e, v. g., uma rebelHi.o em urn presidio. Enfim, a lei esta carreta ao mencionar que e garantido a acesso ao mundo exterior, porem sem comprometer a moral e os bans costumes. Alem disso, em formato privado, existe a correspondencia escrita, sempre dirigida (ou recebida) em reIac;ao a alguem especifico. Nesta hip6tese, admitimos a possibilidade de abertura da correspondencia, comacompanhamento do seu teor, pais a emitente ou a destinatario esta presQ, logo, nao tern toted e completo acesso aomundo exterior. Nao fosse assim e estarfamas privilegiando urn direito abso­luto, quando todos sao relativos, merecendo harmonizac;ao com as demais. Maiores detalhes, desenvolvemos na nota 21 ao

art. 240, emnosso C6digodeProcesso Penal comentado, inclusive mencionando ac6rdao -do STF, autorizando a conhecimento do conteudo da correspondencia, para que nao se transforme em veiculo da concretizac;ao de atos ilicitos. Alias, muito alarde hoje se faz em razao do celular, que invadiu as penitenciarias par todo a Brasil. Ora, se.a correspondencia tornar-se inviolavel, em qualquer circunstancia, a preso podera interagir com 0(5) comparsa(s) do crime, que esta(ao) fora do carcere, par cartas, independentemente do uso do telefone celular.

90. Informes acercada pena: erazo­avel que a preso tenha, no minimo uma vez por ana, urn panorama da sua condenac;ao. Par isso, cabe ao juiz da execuC;ao penal, que controla a cumprimento da pena, in­formar ao preso, por atestado, a montante a cumprir, a parcela ja extima, as beneficios eventuais auferidos, aqueles que foram indeferidos, enfim, urn relata rio comple­to da execuc;ao no ultimo ana. Menciona a inciso XVI deste artigo que a atestado de pena envolve a "pena a cumprir", vale dizer, espelharia a futuro. Entretanto, para atingir, corretamente, a montante a cumprir, toma-se necessaria, em grande parte das vezes, informar 0 estagio atual e passado da execuc;ao. 0 preso pode ter mais ou menos peria a cumprir, conforme os beneficios -recebidos ou indefericlos. Parece-nos, pois, cleva 0 atestado ser completo.

91. Disciplina e cerceamento de direitos: opreso demau compartamentoe, pior, de atitudes agressivas e rebeldes, pode ficar privado do exercicio do trabalho ou da recrea.;ao (do descanso nao ha sentido, pois equivaleria a empreender 0 trabalho forc;ado), bern como pode deixar de rece­ber visitas par t;,m determinado perfodo. Finalmente, pode ser privado de acesso

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Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

ao mundo exterior, ao menos em rela~ao aque1as atividades que representam lazer (como assistirTV). Sao formasde disciplina, sob tutela do diretor do estabelecimento penal, a serem exercidas motivadamente. o formato da medida par ser total (suspen­sao) au parcial (restri~ao). porem,sempre par tempo determinado. Note-se, ainda, 0

disposto no art. 53, III, desta Lei, demons­trando que tais ar;6es da dire~ao-devem ter par base a aplicaC;ao de sanr;ao disciplinar. Lernbremos, uma vez mais, que a acesso a correspondencia do preso nao e sanr;ao. mas medida de cautela e seguranc;a.

Art. 42 .. Aplica-se ao preso provis6rio e ao submetido a medi,da de seguran~a, no que couber, ? di.sposto nesta Se~ao. 92·93

92. Direitos dos presos provis6rios: sao compativeis os previstos nos incisos I, II (0 trabalho e facultativo, maS,se exercido, deve ser remunerado), II,I, IV (0 peculia e, tipicamente, voltado ao condenado, mas 0

preso provis6rio pode levar muito tempo ate ser definitivamente julgado, motivo pelo qual, se trabalhou, pode tambem ter farmado uma res~rva em dinheiro), .v, VI Cdepende, neste caso, do Iugar onde se encontra recolhido), VII; VlII, IX, X, XI, XII (hoj~, admite-.sea execuC;aoprovis6ria da pena, de forma que tern aplic.ac;ao este inciso), XlII, XlV, Xv. 0 unico direito que nao the diz respeito e 0 atestado de pena (inciso XV!), ate pelo fato de nao haver pena definitiva a cumprir.

93. Direitos dos internos: podem ser aplicados todos as direitos dos presos provisorios, a depender do seu estado de saude. Afinal, a meta pdncipal-da medida de seguram;a e a cura e nao a reeducar;ao, motivo pelo qual e possivel que se tenha urn interne recebendo somente medica~ao,

Execuc:;ao Penal

sem a menor condir;ao de trabalhar. Assim ocorrendo, naose fala, par ex~mplo, em "atribuir;ao de trabalho e remunerar;ao". Oepende, portanto, de cada caso concre­to. 0 ideal seria que, melh.orando ·em seu quadro clinico, pudesse tanto trabalhar, como fonnar peculia, gazar de atividades de recreac;ao e ate mesmo estudar, dentre outros direitos.

Art. 43. E garantida aliberdade de contratar medico de confianc:;a p"essoal do internado au do submetido a tratamento ambulatorial, par seus familiares ou depen­dentes, a fim de orien,ar e acompanhar 0

tratamento.94

Paragrafo unico. As divergencias entre 0

medico oficial e a particular serao resolvidas pelo juiz de execu~ao.95

94. Medico particular: embora, apa­rentemente.consistanumdireitosemmaio­res consequencias, na realidade, transmu.­da-se para uma forma de discriminac;~o em face do poderaquisi~ivo do ~~te~o .. Pe~soas provenientes de familias de posses pciderao obter a assistencia e a acbmp~ilhamento de medico partiCular. muitasvezes com maior conhecimento dou titulac;aoqueo medico do Estado. permitindo que sejam liberadas de maneira mais celere. Par outro lado, uma gama imensa de internos, sem poder aquisitivo a altura desse "direito" , fica cir­cunscrita a medicos oficiais, podendo haver descuido do Estado em manter urn numero razoavel de profissionais, levando a maipr lentidao nas suas avalia~6es peri6dicas. ~ensamos que, nesse aspecto, a id~aI sena a igualdadede todosperante a lei. Emoutras palavras, a orientac;ao e acompauhamento se fazern pelo medico oficial, para ricos au pobres. Qualquer.conturbac;;ao au lentidao: durante a execuc;ao da medida deseguranc;a', necessitaria ser resolvida de igual maneira para todos os internos, inclusive com a

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Guilhemte de Souza Nucci

interferencia do juiz da execu\=ao penal.

A permissao para 0 acompanhamento do

medico particular, pennitindo, incluSlve,

que este divirja do penta ofichll, levarido

o easo a resolw;ao do juiz, c:ria tim privile­gio, er:n nosso ent~ndi'~e~to'~ tnacj.missivel. Seria a mesma que 0 presQ de posses exigir

o acompanhamento dos trabalhos de-indi­

vidualiza~ao executoriada pena, realizado

pela Comissao Teeniea de Classircac;ao, por

profissionais particulares por ele contra~a­

dos, emitindo urn laudo divergente. Se tal

situac;ao naa e permitida, nao vemos a razao de se autorizar a intervenc;ao do medico particular no ~umprimento da medida de seguram;a. C6nferir: T]SP: "Ao direi'to ~e

punir do Estado prefere sempre seu clever

de cuidado com a saude do infra tor, ainda

que inimputavel. Par isso, na falta de vaga

eminstituh;ao hospitalar-prisional da rede

publica, e raz6avel promover-Ihe a iriter­

nar;ao ein dinica 'm'~dica particular, a fim

de q~e se submeta a tratamento'curativo

especializado (art. 98 do C6digoPenal);'

(HC4('6.508-3, 5.' C, reI. CarlosBiasotti,

02.06.2005, m.v., BoletimAASP 2494, out.

2006).

95. Divergencia, ert,t~e 0 medicQ particular e 0 ofkial: par~ce-nos qlJe,

nessa hip6tese, a.unica soluc;ao viav.el e

a aplicac;ao, par analogia, do.disposto no

art. 180 do C6digo de Processo Penal: ,"se

hOllver divergencia entre os peritos; serao

consignadas no auto do examc_as declara­c;6es e respostas de' uin e de outro, ou cada

urn redigini separadamente a seu laudo, e'

a autoridade nom,eani l!m terce~ro~ se este divergir de ambos, a autoridade podera

mandar pro ceder a novo exame por outros

peritos".

Se~ao III

Da disciplina

Subse,ad I

Disposic;6es gerais

Art. 44. A disciplina consiste na colabo-' rat;ao com a ordem, na obediencia as deter~_ mina~6es das autoridades e seus agentes e nO'desempenho do trabalho.%

Paragrafo -unico. Estao sujeitos a dis­ciplina 0 condenado a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos e 0 preso provisorio.97

96. Disciplinaeexecu~aodapena:o cumprimento as regras gerais de umestabe­lecimento penal oil de qualquer lugar onde se efetue a execuc;ao da pena e fundamental tanto para 0 condenado como para quem administ'ra 0 lotal.-Porisso, corretamente, estabelece esse artigo que 0 sentenciado deve-colaborar com a ordem, obedecer as detenninac;6es emanadas das autoridades e seus agentes,' bern conic desempenhar algum trabalho. Nota-se, maisumavez, que o trabalhb, especialmente do preso, e urn dever(art.39, V, LEP), umdireito (art. 41, V e VI, LEP) e tambem umcorolario da disci-' plina. E natural deduzir que detertninac;6es abusivas constituem desvios de execuc;ao, cabendo ao presa ·tepresentar a quem de direito, podendo ser tanto ao dire tor geral como ,ao juiz da execu~ao pen-al (art. 41, XlV, LEP).

97. Disciplinae.restri~aodedireitos ou prisao provis6ria: neste ultimo caso, e mais que natural exigir-se do preso a mes­ma disciplina que se aguarda do coudena­do definitivo, seja porque ambos podem conviver-no mesma presidio - embora se espere, ao menos, que estejam emalassepa­radas - como tambem pelo fato de 0 preso prov:is6rio coutar com a possibilidade de

Leis Penais e Processuats Penais Comentadas

execu~ao provis6ria da sua pena, 0 que lhe vai exigir prova de born comportamento carcenirio, logo, disciplina. Por outro lado, hoi penas restritivas de direitos que inse­rem 0 condenado em contato com outros trabalhadores, alem de poder ter acesso a pessoas carentes de urn modo geral, 0

que redobra 0 cuidado com a observancia as regras e normais do estabe1ecime~to. Como exemplo Irlaior, temos a pre~ta~i.io de servic;os a comunidad.e, dem3:ndando respeito aos regulamentos dos orfanatos, hospitais, crec:Qe,s, asHos etc., locaisonde 0

sentenciado deverei cumprir sua pena.

Art. 45. Nao havera falta nem sanc;ao disciplinar sem expressa e anterior previsao legal ?u regu[amentar.98

.

§ 1 ,0 As sant;6es nao podedio co[ocar em perigo a integridade ffsica e moral do condenado.99

§ 2.° t vedado 0 emprego de cela es-cura,100 .

§ 3.° Sao vedadas as san~6es co[eti­vas.101

98. Prindpio da legalidade: aexecll­c;ao penal, como nao p~deria deixar de ser, constituindo a efetiva~ao do poderpunitivo do Estado, exige 0 respeito a legalidade. Portanto, da mesma forma que inexiste crime sem lei anteriqr que 0 defina, nem pena sem lei anterior que a comine (art. 5.", XXXIX, CF; art. 1.", CP),demanda-se que nao haveni falta nem san~ao disci­plinar sem expressa e anterior·lei au regra regulamentar. Reserva-se a lei, como se pode obser"var nos arts. 49 e 50 desta -Lei, a definic;ao de faltas leves; medias e gra­ves. Estas devem estar previstas na Lei de Execuc;ao Penal. As outras duas podem fazer parte da legislac;ao estadual (art. 24, 1, CP). Denota-se que 0 legislador entende ser materia de menor importancia, tipica

ExecUl;ao Penal

do funcionamento de estabelecimentos penais, a definic;ao das faltas levese medias; tanto que inseriu no -contexto do direito peIiitendeirio, No mais, quanto as faltas graves, causadoras dos maiores prejulzos ao sentenciado, inclusive com a perda de varios beneficios, necessitam ser previa e expressamente inseridas no art. 50 desta Lei. Hei menc;ao a possibilidade de previsao de falta eJou sanr;ao em regulamen.to -"nao significando «legislac;~o local" (atividade do Estado-membro) -,'0 quenao the retira a validade. Parece-nos ser lima diSp'osic;ao geral, de carater nitidamente suplementar, de menor alcance. Assim, de.terminado diretor pode baixar uma portaria fixando o honiI:io de funcionamento da biblioteca, por exemplo, Quem infringir a norma, ul­trapassando 0 horarip de fechamento, pode ficar privaclo de retirar livros Eor algum tempo. Sao situac;6es nao q:mstitutivas de falt<!s leves oumedias" que possam influirna avalia~~o do bornou mau comporta~ento do preso para efeito de beneficios duxallte o cumprimento da pena, A -san,~ao fixada esgota-se emsi ffif?ma,se;rnudo para ill,1p,or naturaislimitesaospresos,semmaioresco_n-: sequencias, Nao fosse assim e estaria abeita a possibilidade de diretores de presidios "legislarem" em materia de execut;ao penal, com reflexos na individu.aliza~ao da pena, algo inadmissivel para 0 contexto jurisdi­cionalizado do cumprimento da pena no Brasil. Entretanto, 0 Presidente da Republica editou 0 Decreto 6.049/2007, entendendo viavel dispor acerca das faltas leves e medias (arts, 43 e 44), estabelecendo, inclusive, as sanr;6es aplicaveis (art. 46). Parece-nos que, a falta de legislac;ao estadual sob,re 0

assunto e, cuidando-se de presidio federal, deveriaser editada lei federal, disciplinando o tema. Assim nao ocorrendo, teremo~_o direito de execu~ao penal, com reflexos no cumprimento da pena (direito penal), fugindo do principioda legali,dade. Note-se

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Guilhenne de Souza Nucci

que a atestad.o de canduta carceraria fara cons tar eonduta regular e nila·boa conduta, erri casa de pratica de faltas leves ou medias (art. 79 do mencianado Decreta Federal). Ora, ficani o.preso privado de progressao. E as tais faltas nao tern respaldo legal. Cre­mas inadmissivel a sua aceita~ao para tais fins.

99. Veda~aoconstitucional:odispos­to no § LO d.o art. 4S e consectario 16gico do art. S.o,.XLIX, da Constitui~ao Federal ("e assegurado aos pres.os .0 respeito a in­tegridade fisica e m.oral").

1 00. Solitiria: a den.ominada eela es­cura, tambem conhecida cama solitana, foi ~ pelo art. 5.°, LXVII, e, da Constitui­~a.o Federal (yedacaa as penas crueis). No entanta, a Leide Execu:c;aa Penal reitera ~sa tendencia, ate pela fata de ser sida editada antes da Canstituic;aa de 1988. Registre-se que a ala escura e campletamente diversa da cela individual, prevista para a presa em regime disciplinardiferenciada (art. 52, II, LEP). Neste ultima casa~ 0 presQ deve ficar isalado de outras, mas nao se pretende fique ielegad.o a candic;6es sub-humanas. .

101; San~6escoletivaseprincipioda responsabilidade pessoal: urn das mais caras principios penais e 0 da responsabi..:; lidade pessoal ou da personalidade (art. S.o,Xv, CF), significando que a "pena naa passara da pessoa do condenado". Ora, da mesma forma e em identico prisma, deve-se buscar que a sanc;aa disciplinar nao ultra­passe a pessoa do infra tor. Lago, e vedada a aplicac;ao desanc;aa caletiva. Exempla: en­C.ontra-seum estHete em uma -cela, habitada porvarios presos, 0 que canstitui falta grave (art. 50, III, LEP). Realizada sindicancia, nao se apura a quem pertence. E justa que nao se possa punir todos as condenados ali encontradas, sob pena dese estar aplicando sanc;ao coletiva, exatamente a que e proibido

par este dispositiva, em cansonancia com a dispasta na Canstituic;aa Federal.

Art. 46. 0 candenado au denunciada, na infcio da execuc;aa da pena au da prisao, sera cientificado das normas disciplina­res. 102

102. Conhecimento previo das nor­mas de disciplina: a medida de cautela e carreta. Presume-se que todo cidadao conhec;a 0 universo das leis da seu pafs. Publicadas na Diaria Oficial, vencida a vacatio legis, entram em vigar, cam a pre­sunc;aa de que lodos delas tomaram ciencia. Parem, aa ingressar no estabelecimento penitenciario, mormentepela primeira vez, ninguem esta abrigada a conhecer as regras ali existentes, em muitos aspectos diversas das normas as quais esta a presa habituado quanda desfru tava da liberdade. Por isso, e mais que justo que as autoridades ou seus agentes deem conhecimento das nonnas disciplinares. Naa se podera, ap6s, alegar ignarancia au erra. 0 dispositivo refere-se tanto aa condenada quanta aa preso pro­vis6ria (denarninada denunciado, embora possa ser apenas indiciado, pois ha prisao cautelar antes da denuncia).

Art. 47.0 pader disciplinar, na execuc;ao da pen a privativa de liberdade, sera exercido pela autoridade administrativa canforme as dispasic;6es regulamentares.l03-104

103. Poder disciplinar: quem tern cantata direto cam a presa e a autoridade administrativa, inclusive pelo fato de ser 0

Executiva 0 Poder de Estada encarregado de arganizar, sus ten tar e fazerfuncianarum estabelecimenta penal. Portanta, torna-se natural que a apUcac,;ao dasanr;ao disciplinar se fac;a par meio do dire tar do presidio e seusagentes. Ha a regula menta, estipulanda

Leis Penais e Processtlais Penais Comentadas

regras gerais de funcianamenta da estabe­ledmento, mas tambem 0 pracedimenta pelo qual as faltas saa apuradas e coma as sanc;oes serao cumpridas, respeitadas, natural mente, as ciispasir;6es especfficas desta Lei no contextopunitivo-disciplinar (arts. 53 a 60).

104. Direito de defesa: paraagarantia da devido processo legal na execuc;aa pen~l, eIll qualquer cenario, quanda seja viavel a apllcar;ao de sanc;ao (da mais leve a ·mais grave), lOrna-se fundamental canceder aa condenada a direito dedefesa, aindaqueseja aautadefesa. Ele precisaser ouvida sempre, antes de se Ihe aplicar qualquerpenalidade. Em situac,;5es excepcianais, quanda en­tender ter sido cerceado na sua defesa au ter experimentada sanc;aa excessiva1 nada impede que a preso provaque a atuac;ao do juiz da execuc;ao penal, ciando enseja ao incidente de desvio de execuc,;aa. Nesta situar;aa, ingressanda em jUiza, parece-nas indispensavel 0 supane do advogada, vale dizer, a atuac;ao da defesa tecnica.

Art. 48. Na execw;ao das pen as res­. tritivas de direitas, a poder disdplinar sera

exercido pel a autoridade administrativa a que estiver sujeita 0 candenado.lOs

Paragrafo unico. Nas faltas graves, a autoridade representara ao juiz da execuc;ao para as fins dos arts. 118, I, 125, 127, 181, §§ 1.°, d, e 2.° desta lei.106

105. Penas -restritivas de direitos e poder disciplinar: algumas penas res­tritivas de direitos podem ser curnpridas em lugares publicos, administradas au fiscalizados por agentes da Estada. Logo·, a esses cabe a poder de apurar as faltas e aplicar as sanc;5es, sem prejuiz.o de outras medidas mais graves, dependentes da in­tervenc;aa do juiz, camo, por exempla, a reconversao da pena restritiva de direitos

Execuc;ao Penal

em privativade liberdade. Ilustrando, em uma Casa doAlbergada cumpre-se limitac;ao de fim de sernana (art. 48, CP). Par isso, desrespeitadas as regras estabelecidas para a desenvolvimento dos cursos de finais de semana, confanne a casa, cabe aalJtoridade administrativa responsavel pela 1.0 cal a punic;aa.

106. Consequenciasdas faltagraves: ap6s sindidl.ncia, ande tambem teve apar­tunidade de se defender - muito ·embora, possa te-lo feito pessaalmente (autadefesa) -, apurada a falta gqwe, determina 0 dire tar o registro na prontuario do candenada. Assim ocarrenda, deve a autoridade admi­nistrativa represeI1tar ao juiz da ~xecuc;ao penal, buscando-se atingiras canseql.lencias negativas previstas em ·lei. Pade oc()rrer: a) regressaa de regime (da aberta para a semi-aberto au deste para 0 fechado, nos ten;nos do art. 118, I); b) perda do direito de saida temporaria (art. 125); c) perda do direita aa tempa remido pelo trabalha (art. 127); d) reconversao da restritiva de direi­tos em privativa de liberdade (art. 181, §§ .

l.0, d, e 2.°). Repercutira,ainda, emautros ponlOs, como, ilustranda, no livramenta condicional, na concessao de indulta total au parcial, na progressao de regime etc.

Subsec;ao /1

Oas fa/tas disciplinares

Art. 49. As faltas disciplinares classifi­cam-se em leves, medias e graves. A legisla­~ao locaP07 especificara as leves e medias, bern assim as respectivas san~6es.

Paragrafo unico. Pune-se a tentativa com a san~ao qmespondente a falta con­sumada.108

107. Legisla«;ao local: deve-se enten- . der a leieditada pela Estada-membro, nos terrnos do art. 24, I, da Constituic;aa Fe-

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Guilherme de Souza Nucci 440

deral (direito penitencitirio). Nao se trata, naturalmente,' de regulamento'interno de presidio, editado pelQ diretor,-porata nor­mativo unilateral esem qualquer consulta a terceiros. Como ja dissemos anterionnente, tais regulamentos podem existir (art. 45, caput, LEP), mas-apenas para estahelecer regras de funcionamento do estabeleci­mento pen~l e sanc;6e~ que?c esgotem em si mesrrias, sem l:lnota~6es nC? prontuario do preso. i .

j 08. Equipara~ao entre 1.lta consu­mada e tentada: cremos haverviabilidade para tal previsao, pois existem varies tipas pena'is que equiparam a: figura "tentada a consumada,' razao peIa -qual buscou-se, no art. 49, panigrafo linico, desta Lei, 0

mesilla prop6sito,'Logo, fugir ou tenta'r fugir constitui, igualmente, falta'grave. Ha, TIl? eritanto, posic'a'o em sentido contrari.o: T]SP, Ag, 24 L802-3-Sp, 2.' C,rel. Angelo Gallucci, 02.03.1998, v.u. .

Art. 50. Comete falta grave 0 condena­do a pena privati va' de liberdade que:l09-110

1'- incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disdplina;111

II - fugir; 112

lit -possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade ffsica de outrem;113

tV - provocar acidente de trabalho;114

V - descumprir, no regime abe~to, as condic;6es impostas;llS

VI- inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 desta Lei.1I6

VII- tiver em sua posse, utilizar ou forne­cer aparelho telef6nico, de radio ou similar, que permita a comunica~ao com outros presos ou com 0 ambiente externo. 117

Paragrafo unico. a disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provi­so rio. 118

109. Falta grave e princfpio da le­galidade: o.!.2l previsto neste artigo ~_ ~. Nao e viavel a cria<:ao, por meio de Resolur;;ao"Portaria ou Decreto, de OUtras especies de faltas graves, sob pena de of ens a a legalidade, ate por que ° registro desse tipo de falta no prontmirio do condenado pode inviabilizar a progressao de regime, 0 reco­nhecimento da remir;;ao, o-indulto e ou tros beneficios-. Nesse sentido: T]SP: "As faltas leves e medias poderaoser especificadaspela legislar;;ao local, a elas se aplica a exigencia de anterior regulamento administrativo, ja quanto a criacao de hip6tese de cometi­menta de falta grave, impresciridivel seja precedida de lei, e nao de mera resolu~ao, como oeorreno easo emapre~o, mormente em razao dos graves reflexos que surtira na expiac;ao da pena corporal" (HC 476.596-3/7, l.' C, reI. Pericles Piza, 13.06.2005, v.u"JUBI 109/05). Em contnjrio: "E legi­tima a imputa<:ao de falta disciplinar de natureza grave ao preso que se encontra na posse de apatelho celular nas dependencias do estabelecimento prisional, ainda que tal modalidade de indisciplina nao esteja expressamente prevista no art. 50 ~a lei 7.210/84, poisnaose trata de normarestri­tiva, na medida em que remete 0 interprete ao art. 39 da referida Lei" (H C 888848.3/7, 5. a C, rel. Marcos Zanuzzi, 09.02.2006, v. u., RT850/591). Permitimo-nosdiscordardesta ultima posiCao. Registremosque 0 art. 50, VI, da LEP, preceitua ser falta grave ''inobservar os deveres previstos nos incisos 11 e V do art. 39 desta Lei" . Ao cheear 0 conteudo dos incisos, temos que sao deveres dos presos: "II - obediencia ao servidor e respeito a qualquerpessoa com quem deva relacionar­se"; "V - execu~ao do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas". Ora, 0 preso que nao obedece aD servidor, desrespeita pes­soa Com quem se deva relacionar ou deixa de cumprir ordens recebidas comete falta grave, desde que essas ordens sejam legais,

Leis Penais e Processuais Penais Comenradas

ista e, dentro das regras estabeleeiclas para o regime prisional em que se encontrar_ E preciso cautela ao aceitar qualquerordem, como criterio para verificar 0 cometimento defalta grave, se ela for desrespeitada, pois isso faria erescer, imensamente, a pader das autoridades administrativas dos esta­belecimentos prisionais, em detrimento do contrale eficiente a ser feito pelo juiz da execu~ao penal. Da mesma forma que uma Resolu~ao pode proibir a p-osse de celular na cela, poderia incluir, a seu ta­lante, a posse e 0 uso de livros, de objetos pessoais e de outros utensflios quaisquer, ainda que naD oferec;am perigo algum, nao clando margem ao controle jurisdicional sabre essa questao. A questao do aparelho telefonico, de radio ou similar, envolvend.o o celular, naturalmente, esta solucionada pela edic;ao da Lei 1 L 466/2007, que incluiu a inciso VII no rol taxativo do art. 50 desta Lei. Mantivemos este item por duas razoes: a) para que nosso ponto de vista em rela~ao aaplicar;;ao da legalidade estrita em materia de execu~ao penal seja mantido, ou seja, nenhuma falta grave-pode existir sem ex­pressa previsao legal; b) para que somente possa ser considerada falta grave a posse do celular (e similares), a partir do dia 29 de marc;o de 2007, data em que entrou em vigor a referida Lei 1 1.466/2007. Cuida-se de norma vinculada ao dir-eit.o de execw;ao penal, com forte conteudo material, refletin­do, diretamente, na progressao e em outros beneficios penais. Logo, nao pode retroagir para prejudicar 0 sentenciado. .

110. Apura~ao da lalta grave e am­pIa defesa: para considerar e registrar no prontuario do sentenciado uma faltagrave e indispensavel haversindicancia adminis­ttativa, assegurada ampla defesa. Quanto aos criterios para apurar se houve ampla defesa, ha duas correntesi1i) e predso garan­fir dele$a tecn~ ao sentenciado, inclusive

ExecUI;;ao Penal

com a possibilidade de produ~ao deprovas. Nessa 6tica: T]SP: "Procedimento para apurac;ao de falta grave, que e modalidade de proeesso administrativo, coberto pela clausula constitucional da ampla defesa e do contradit6rio". E preciso haver "presen~a e£etiva do'patrono do investigado durante a instruc;ao, para que possa produzir pro­va, contrapor-se, reinquirir testemunha, praticar, enfim, todos os atos inerentes a ampla defesa" (Ag. 271.800-3-SP,3,· C,rel. Walter Guilhenne, 20.04.1999, v.u.,]UBI 34/99). Recentemente, a Decreto Federal 6.04912007, disciplinando 0 funcionamento de presidios federais, nos, procedimentos administrativos de apura~ao de falta do pre­so, preve a designac;ao de defensor publico para acompanhar 0 seu tramite, se 0 detido nao tiver advogado (art. 66, § 2.")@ basta assegurar ao condenado que se defenda, com a possibilidade de ser ouvido, dando suas explicacoes e propondo ineios de prova, nao sendo necessaria a de£esa tecnica. Nesse sentido: T]SP: "Ora, 0 diteito de defe~a, em proeedimentos admiIiistrativos, deve ser condensado, justamente porque a 'apura­~ao da falta disciplinar 'deve ser urgente e rapida, sob pena de a puni~ao perder a sua eficacia. Isso nao aconteceria se fossem conferidas ao procedimento disciplinar formalidades rigidas edemoradas'" (Ag. 248.250-3/0-SP, 4," C, reI. Helio de Freitas, 18.08,1998, "u.): E a posic;ao que adotamos, A execuc;ao penal tern caraterjurisdicional, portanto esta sob constante contrale do juiz, que conduz 0 pracesso de execu~a6 garantindo ao condenado a ampla defesa e.o contradit6rio. Nao'se pode exigir que num presidio, mormente osde grandes pro­porr;;oes, conduza-se uma sindicancia para apurar falta grave como se processo fosse, poisseria infindavel, complexa e ineficiente, o que e incompativel com sua finalidade. Ouvindo-se 0 sentenciado e propiciando­lheoponunidadedeseexplicaresuficiente,

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Guilhenne de Souza Nucci

noS tennos do art. 59 da LEP ("Praticada a falta disciplinar, devera ser instaurado o procedimento para sua apuracao, con­forme regulamento, assegurado 0 direito de deJesa. Paragrafo unico. A decisao sera motivada" - grifamos), embora nada impe~a que, na avalia~ao da sindicancia, a defesa tecnica, presente no processo de execu<;ao, requeira diligencias complementares e es­clarecimentos de modo a afastar eventual considera~ao da falta grave para efeito de progressao da pena. Assim, 0 contraditorio e a ampla defesa ficarn assegurados atraves da execuc;ao penal, sem qualquer prejuizo para 0 eondenado, nem tampouco para a ceIeridade que os atos administrativos exigem.

111. Falta correspondente ao crime de motim: confonne preceitua 0 art. 354 do Codigo Penal ("amotinarem-se presos, perturbando a ordem au a disciplina da prisao "), observa-se que esta falta grave lhe esimilar. Aincitac;ao (instigacao, estimulo) ou a participac;ao ativa no movimento faz emergir,justamente, a figura criminosa do motim. Ha diferenc;as, contudo. Na infrac;ao penal, exige-se umnumero razoavel de pre­sos (temos defendido, pelo menos, quatro presos, conforme a nota 186 ao art. 354 do nosso C6digo Penal comentado) , enquanto para a configuraC;ao da Falta grave basta que urn preso cameee 0 processo de instiga~ao para que elaseconeretize. No crime, exige­se 0 dolo. Na falta grave, poueo interesse o objetivo do preso. Em suma, guardadas as proporc;oesdevidas, as figuras do crime e da falta grave se aproximam. Por isso, e importante que se-diga 0 seguinteEm caso de absolvic;ao do preso peIo mesmo fato na orbita criminal, conforme 0 fundamento utilizado pelo magistrado, nao tern cabi­menta subsistir a anotac;ao de falta grave no prontUtirio do sentenciadQ1Ver a nota 112 ao inciso II deste artigo.

112. Fuga e correspond en cia com crime: uma falta gravecometida peIo con­denado podeserigualmente figura tipica de crime, 0 que ocasionaria dupla investigac;ao eprocesso. Exemplo: se 0 condenado foge, valendo-se deviolencia contra 0 carcereiro, responded peIo deHto previsto no art.:l1l. do Codigo Penal (havera a instaura~ao de inquerito e, depois, processo), bern como sofrera processo administrativo para ins­cric;ao de falta grave em seu prontuario. Entretanto, eonforme 0 caSO,.se fOT ab­solvido no processo~crime,ja nao se pode mais anotar no prontuario a falta grave. Ainda que se possa dizer serem distintas as esferas penal e administrativa, nao se aplica essa regra neste contexto. A unica razao de existencia da falta grave e justamente a sua exata correspondencia com figura tipica incriminadora. Ora, afastada esta, nao pode subsistiraquela, menos importante. Nesse sentido: T]SP: "Tendo em vista os efeitos de natureza penal que decorrem da pnitica, por sentenciado, de falta disciplinar de natureza grave, deve a sindicancia instau­rada ser arquivada, no caso de ocorrencia de absolvi~ao em processo-crime sobre 0

mesmo fato, em face d(impossibilidade de a soluc;ao administrativa sobrepor-se a senten~a criminal, de maior forc;a e abran­gencia3CAg. 336.337-3/4-Bauru, 1." c., rel.]arbasMazzoni, 17.03.2003, v.u.,JUBl 84/03).

113. Posse indevida de instrumen­to perigoso: 0 preso, sem autorizac;ao da administra~aodo presidio, nao pode man­ter consigo qualquer tipo de instrumento capaz de ofender a integridade fisica de outra pessoa, como, por exemplo, uma faca. Ha, naturalmente, situac;6es em que tal posse e devida, como ocorre, a titulo de ilustrac;ao, para os presos que trabalham na cozinha"No mais, andar pelo presidio carregando consigo estHetes, canivetes e

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execu~ao Penal

outros instrumentos perigosos a incolumi­dade alheia constitui falta grave. Parece-nos fundamental, inclusive para se justificar 0

devido processo legal na execu~aopenal, que a autoridade administrativa, descobrindo a posse indevida, determine a lavratura de auto de apreensao fonnal, juntando-se na sindicancia. Se possivel, pode-se providen­ciar a juntada do proprio instrumento ao procedimento administriHivo, 0 -que, no futuro, podera ser utH ao juiz da execw;ao penal, caso seja questionada a legalidade ou a validade da san~ao aplicada.

114. Acidente provocado: a ttaba­lho, como se sabe, e obrigatorio durante 0

cumprimento da pena. Porisso, opreso que provoca - no sentido de facilitar, dar erisejo a que ocorra, agir de proposito - acidente de trabalho, seja para receber -algum tipo de remunerac;ao suplementar, seja para deixar de exercer atividade laborativa, co­mete faltagrave. Eomesmoque nao querer trabalhar.

115. Condi~oes do regime aberto: estao previstas no art. 115 desla Lei, sem prejulzo de ouU-as queo magistrado fixe, por julgar conv~nientes para a individualizac;ao executoria da pena.

116. Descumprimento de deveres: dentre osdeveresprevistos no art. 39, deixar de observar 0 disposto nos incisos II ("obe­diencia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva reladonar-se") e V ("execU/;ao do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas") da ensejo a configurac;ao de falta grave. Nunca e demais observar que a insistencia legislativa em fomentar o trabalho do preso e nitida e salutar. Se 0

fizer, recebe benefidos (ex.: remi~ao); se nao quiserdesempenharqualquer atividade, e sancionado e perde beneficios. A medida e positiva, pois 0 interesse estatal e a ree­ducac;ao, com 0 objetivo de ressocializar

o -preso. Ora, sem 0 desenvolvimento de trabalho honesto, fora do carcere, e natural a tendenda a reincidencia.

117. Posse,utiliza~ooufornecim.en­to de aparelho telefonico, de radio ou similar: ha muitos anos esta-se diante do problema de inser~ao do aparelho telefonico moveI (celular) nos presidios, per~itindo a camunicac;ao entre presos e entre t?tes-e pessoas do ambi~nte extemo. Muitas dessas comunicac;6es redundaram em delitos e atos de vandalismo em largas proporc;6es, comandados pelo crime organizado. Essa medida, portanto, de, ao menos~ consideiar como Jalta grave a posse, usa -ou fomeci­mento do aparelho teIef6nico, de radio ou similar era indispensavel. Resta, nO entanto, o controle efetiva, pois somente a edic;ao de uma lei nao soluciona concretamente problema algum. Checar, ainda, a nota 109 supra, que cuida da taxatividade do rol de falms graves do art. 50 e tece algumas considerac;6es quanto a posse de celulat. Conferir, tambem, 0 novo tipo penal, cuja finalidade e punir 0 funcionario publi'co que'pennitir 0 acesso do preso aO aparelha telefonica, de radio ou similar (art. 3I9-A, CPl.

118. Aplica~ao ao preso proviso rio: pode-se, igualmente, anotarno prontuario do preso provisorio qualquer falta grave por ele cometida. Em especial, devemos relembrar 0 seu direito a execw;ao provisoria da pena, motivo pelo qual ° born compor­tamento e nao somente desejado como requisito para tanto. Atualmente, cremos aplicavel ao preso provisorio - ao menos aquele que pretenda obter algum beneficia tipico de execu~ao da pena, antes do transito em julgado de senten~a condenatoria- todos os incisos do art. 51 desta Lei. E certo que o art. 31, paragrafa -unico, desta Leifaculta ao preso provisoria 0 exercicio de atividade

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Cuilheme de Souza Nucci

laborativa. Entretanto, foi 0 dispositiyo redigido quando nem mesmo se falava em execul;ao provisoria da pena. Logo, alterado o entendimento dos tribunais e sumulada a questao pelo Supremo Tribunal Federal (5umula 716), permitindo-se a referida exe­cuc;ao provisoria, e evidente que, para ohter a progressao de regime, passando do fechado para 0 semi-aberlo, aguarda-se que b preSQ provis6rio esteja trabalhando, do mesma modo que 0 condenado definitivo.

Art. 51. Cornete falta grave a condena­do a pen a restritiva.de direitos que: 119

I - descumprir, injustificadamente, a restri<;ao imposta;120

1/ - retardar, injustificadamente, 0 cum­primento da obrigac;ao imposta;12I

III - inobservar QS deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 desta Lei.122

11'. Falta grave e restri~iio de di­reito: a dispasto no art. 5~ ~esta Lei che­ga a ser tauto16gico, sob Certos aspectos, pais, pr~tendendo definir 0 que seria Jalla grave no contexto das. peqas restritivas de direitos, acaba repetindo, com outras palavras, 0 disposto no art. 181 da me$ma Lei. Exemplificando: "descumprir, injusti­ficadamente,'a restric;ao imposta" (art. 51, I, LEP) e 0 mesmo que "nao comparecer, injustificadamente, a entidade ou programa em que deva prestar servic;o" au "recusar­se, injustificadamente, a prestar 0 s.ervic;o que Ihe foi impasto" (art. 181, § 1.0, b e c, LEP). Entretanto, deve-se entender como urn principio geralo preceituado no art. 51: eJalta grave nao cumprir (ou retardar) a restric;ao de direitos imposta pela decisao condenat6ria definitiva, sem justificativa plausivel. No rnais, tambem 0 e atos de insubordinac;ao e nao executar as tarefas tal como detenninado por quem de direito. Porem, 0 mais importante nesse contexto

na~ e definir Jalta grave, mas ter a noc;ao de que 0 descumprimento injustificadoda restric;ao imposta implica em conversa.o da restric;ao de direitos em pena privativa de liberdade (art. 44, § 4.°" primeira parte, CPl.

120. Descumprimento de restri~iio imposta: qualquer condicionarnento im­posto pelo juiz, nasentenc;a condenat6ria, em substituic;ao a pena privativa de liber­dade, cleve ser cumprido pelo condenado fielmente. Do contnirto, aplica-sea conver­sao em pena de prisao, nos termos do art. 44, § 4.°, do Codigo PenaL

121. Retardamento da obriga~iid imposta: este i'ncisq cuida de uma fonna anomala de descumprimento da restric;ao estabelecida, pois retardaro adimplemento da obrigac;ao e 0 mesmo que nao curnpri-la, a tempo e a hora. A conseqllencia e a mesma ja mencionada: conversao em pena privativa de liberdade.

122. Inobservancia de deveres: esta regra geral, valida para todos os' condenados a penas restritivas de direitos, pretende evitar atos de insubordinac;ao e desatendimento as tarefas que forem impostas aos condenados. E evidente que, conforme a pena restritiva de direitos, nao tern aplicac;ao 0 disposto neste inciso. Exemplos: a) nao se pode falar em insubordina~ao pelo nao pagamento de prestac;ao pecuniaria; b) nao se pode levar em considerac;ao a nao-execuc;ao de tarefas para 0 condenado a perla de proibic;ao de frequentar lugares.

Art. 52. A pratica de fata previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasiane subversao da ordem ou disciplina internas, sujeita a preSQ pravis6rio, au con­denado, sem prejulzo da sanc;ao penal, ao regime disciplinar diferenciado,123-124 com as seguintes caracterfsticas:125.J2&

Leis Pel1ais e ProcessHais Penais Comentadas

I - durac;ao maxima de 360 (trezentos e sessenta) dias, sem prejulzQ de repetic;ao da san-<;ao por nova falta grave de mesma especie, ate 0 limite de 1/6 (um sexto) da pena aplicada;127 "

11- recolhimento em cela individuali128

HI - visitas semanai~ de duas pessoas, sem contar as criam;as, com durac;ao de 2 (duas) horasi129

IV - 0 preso tera direito a salda' da cela 130

par dU3S horas diarias para banho de sol. 131

§ 1.° 0 regime disciplinar dif~renc'iado tambem podera "abrigar presos provis6ribs ou condenados, nacionais" ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e' a seguranc;a do,estabelecimento penal ou da sociedade.132

§ 2.° Estara igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado 0 preso provisorio ou o condenado sob 0 qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participac;ao, a qualquer titulo, em organizac;6es criminosas, quadrilha ou bando. m " "

123. Regime Disciplinar Diferen­dado: introduzido pda Lei 10.792/2003, o regim~ disciplinar diferenciad<? e, em sintese, caracterizado pelo seg'!linte: a) durac;aQ ~axima de 360 dias, sem prejuizo de ~epeti!;ao da sanc;ao. por nova faltfl grave de mesma especie, at~ 0 limite de urn sexto da pena aplicada; b) recolhimento em cela individual; c) visitas semanais de duas pes­soas, sem contar,crianc;as, com dura~ao de duas horas; d) direito de saida da cela para banho de sol por duas horas diadas, con­form~ preyisto p.os incisos do art. 52 desta Lei. A esse regime serao encaminhados os presos que praticarem Jato previsto .cqmo crime doloso (note-se bern: Jato previsto como crime e nao crime, pois se esta fo.?se a previsao dever-se-ia agu~rdar 0 julgamellto definitivo do Poderjuciiciario, em razao da presum;ao de inocencia, 0 qu~ inviabiliz(3.­ria a rapidez e a seguram;a que a regime exige), considerado Jalta grave, desde que

ExecUI;ao Penal

ocasione a subversao da ordem au disci­plina internas, sem prejuizo daSan{£lO pen'al cabiveL 0 regime e validopara condenados ou presos provis6nos. Podemserincluidos no mesmo regime os presos, nacionais au estrangeiros, provis6rios ou condenados, que apresentem alto risco para a ordem e a seguranc;a do estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, § 1.°), bern como aqueles que (provis6rios ou condenados) estiverem envolvidos ou participarem -com fundadas suspeitas-, a qualquer titulo, de organiza­~5es criminosas, quadrilha OU banda (art. 52, § 2.°). Enfim, tressao as hip6tesespara a inclusao no RDD: a) quando a pr~o pro­vis6rio ou condenado praticar fato previsto como crime doloso, conturbando a ordem e a disciplina interna do presidio onde se encontre; b) quando 0 preso provis6rio ou condenado representar alto risco para a ordem e a seguranc;a do estabelecimento penal ou da sociedade; c) quando 0 preso provis6rio ou condenado estiver envolvido com organizac;ao criminosa, quadrilha ou bando, bastando fundadasuspeita_ Observa­se a severidade inconteste do mencionado regime, infelizmente criado para atender as necessidades prementes de combate ao crime organizado e aos lideres de facc;6es que, de dentro dos presidios brasileiros, continuam aatuarna conduc;ao dosnegocios criminosos fora do carcere, alem de incita­rem seus comparsas soltos a pnitica de atos delituososgravesde todos os tip os. Porisso, e preciso que 0 magistrado encarregado da execuc;ao penal tenha a sensibilidade que 0

cargo Ihe exige para avaliar a real e efetiva necessidade ddnc1usao do preso no RDD, e.specialmente do provis6rio, cuja inocencia pode ser constatada posteriormente.

124. Constitucionalidadedo (egime disciplinar diferenciado: nao se combate o crime organizado, dentro ou fora dos presidios, com 0 mesmo tratamellto desti-

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Guilherme de Souza Nu.cci

nado ao delinquente comum. Se todos os dispositivQS do C6digo Penal e da Lei de Execur;ao Penal fassem fielmente cumpri­dos, ha muitos anes, peIo Pader Executi­vo, encarregado de construir, sUstentar e administrar as estabelecimentos penais, Certamente 0 crime nao estaria, hoje, OI­ganizado, de modo que nao precisariamos de regimes como 0 estabelecido pelo art 52 desta Lei. A realidade distanciou-se da lei, clanda margema estruturac;ao do crime, em todos os niveis. Mas, pior, organizou-se a rnarginalidadedentrodo carcere, 0 que e situ­ar;ao inconcebivel, monnente sepensarmos que 0 presQ cleve estar, no regime fechado I a noite, isolado em sua eela, bern como, durante 0 dia, trabalhando ou desenvol­venda atividades de lazer au aprendizado. Dado a fato, nao se pode voltar as costas a realidade. Par isso, 0 regime disciplinar diferenciado tomou-se urn mal necessdrio, mas esta longe de representar uma pena cruel. Severa, sim; desumana, nao. Alias, proclamar a inconstitucionalidade desse regime, mas fechando os olhos aos imundos CarCeIeS aos quais estao lam;;ados muitos presos no Brasil e, com a devida venia, uma imensa contradic;ao. E, sem duvida, pior ser inserido em uma cela coletiva, reph~ta de condenados perigosos, com penas ele­vadas, muitos deles misturados aos presos provis6rios, sem qualquer regramento e cornpletamente insalubre, do quesercolo­cado em cela individual, longe da violencia de qualquer especie, com mais higiene e asseio, alem de nao se submeter a nenhum tipo de assedio de outros criminosos. Ha presidios brasileiros, onde nao existe 0

RDD, mas presos matam outros, rebelioes sao uma atividade constante, fugas ocorrem a todo 0 momento, a violencia sexual nao e contida e condenados contraem doen~as gravissimas. Pensamosseressa situa~ao mais seria e penosa do que 0 regime disciplinar diferenciado. Obviamente, poder-se-ia argu-

mentar, queum erronlio justifica outro, mas e fundainentallembrar que 0 eYro essencial provem, primordialmente, do descaso de decadas com 0 sistema penitenciario, ge­rando e possibilitando 0 crescimento do crime organizado dentro dos presidios. Ora, essa situac;ao necessita de contrale imediato, sem falsa utopia. Ademais, nao ha direito absoluto, como vimos defendendo em todos os nossos estudos, razao pela qual a harmonia entre direitos e garantias e fun­damental. Se o.presa deveria estar inserido em urn regime fechado ajustado a lei - e nao 0 possui no plano real-, a sociedade tambem tern direita a seguran~a publica. Por isso, 0 RDD tarnou-se uma alternativa viavel para contero avan~o da criminalidade incontrolada, constituindo meio adequado para 0 momento vivido pela sociedade bra­sileira. Em Iugar de combater, idealmente, o regime disciplinar diferenciado, cremos ser mais ajustado defender, por todas as formas possiveis, 0 fiel cumprimento as leis penais e de execuc;~o penal, buscando implementar, na pratica, os regimes fecha­do, semi-aberto e aberto, que, em muitos lugares, constituemmerasquimeras. Nesse sentido: ST]: "Considerando-se que ospriri­cipios fundamentais consagrados na Carta Magna na'o sao ilimitados (principio da relatividade ou convivenciadas liberdades publicas), vislumbra-se queo legislador.ao instituir 0 Regime Disciplinar Diferenciado. atendeu ao principio da proporcionalida­de. Legitima a atua~ao estatal. tendo em vista que a Lei 10.79212003, que alterou a reda~ao do art. 52 da Lei de Execu~6es Penais, busca dar efetividade a crescente necessidade de seguran~a nos estabele­cimentos penais, bern como resguardar a ordem publica, que vern sendo amea<;ada por criminosos que, mesmo encarcerados, continuam comandando ou integrando fac<;oes criminosas que atuam no interior do sistema prisional-liderando rebelioes que

447 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

nao raro culminam com fugas e mottes de" refens, agentes penitenciarios elou outros detentes -e, tambem, no meio social. ( ... ) Assirn, nao hafalar em viola~ao ao principio dadignidadeda pessoa humana (art.l.°, III, da CF), a proibi~ao da submissao a tortura, a tratamento desumano e degradante (art. 5.°, III, da CF) e ao principio da humani­dade das penas (art. 5.", XLVI!, da CF), na medida em que e certa que a inclusao no RDD agrava 0 cerceamento a liberdade de locomo~ao,ja restrita pelasproprias circuns­tandas em que se "encontra 0 custodiado, contudo nao representa, per si, a submissao do en~arcerado a padecimentos fisicos e psiquicos, impostos de modo vexatorio, o que somente restaria caracterizado" nas hip6teses em que houvesse, por exemplo, 0

isolam"ento em celas insalubres, escuras ou sem ventila~ao.Ademais, 0 sistema peniten­ciario, em nome da ordem e da disciplina, bern como da regular execu~ao das penas, ha que se valer de medidas disciplinadoras, eo regime em questao atende ao primado da proporcionalidade entre a gravidade da falta e aseveridadedasan~ao. Outrossim, a inclusao no RDD nao traz qualquermacula a coisa julgada au ao principio daseguran<;a juridica, como querfazer erer 0 impetrante, uma vezque, transitada em julgado a senten­~a condenat6ria, surge entre 0 eondenado eo Estado, na execu<;ao da pena, uma nova rela~ao juridica e, consoante consignado, 0

regime instituido pela Lei 10.79212003 visa propiciar a manutem;ao da ordem interna dos presidios, nao representando, portanto, uma quarta modalidade de regime de curn­primento de pena, em acrescimo aqueles previstos polo C6digo Penal (art. 33 do CP). Pelo mesmo fundamento, a possibilidade de inclusao do preso provis6rio no RDD nao representa qualquer of ens a ao principio da presun<;ao de inocencia, tendo em vista que, nos terrnos do que estabelece 0 par. un. do art. 44 da Lei de Execm;ao Penal,

ExecU(;:ao Penal

'estao sujeitos a disciplina 0 condenado a pena privativa de liberdade ou restritivade direitos e 0 preso provis6rio'. Registre-se, por oportuno, que esta nao e a situa~ao do ora paciente, que se eneontra encar­cerado em virtude de condenac;ao a pena de 51 (cinquenta e urn) anos de reclusao" (HC 40.300-RJ, 5.' T., reI. Arnaldo Esteves Lima 07.06.2005, v.u., DJU 22.08.2005, RT 843/548). Em contnirio, sustentando a inconstitucionalidade do RDD: T]SP: "Independentemente de se tratar de uma" politica criminol6gica voltada apenas para o castigo, e que abandona os conceitos de ressocializa~ao ou corre~ao do detento, para adotar'medidas estigmatizantes e inoeuiza­doras'pr6prias do 'Direito Penaldo Inimig6', o rderido 'regime disdplinar diferenciado' of en de inumeros preceitos cq.nstitucionais. Trata-se de uma determina~"ao desumana e degradante (art. 5.", III, da CF), cruel (arL5.", XLVII, da CF), 0 que faz ofender a dignidade humana (art. 1.", III, da CF). Porfim, note-seque 0 Estado Democratico e aquele que procura urn equilfbrio entre a seguran<;a e a liberdade individual, de maneira a privilegiar, neste balanceamento de interesses, os valores fundamentais de liberdade do homem. 0 desequilibrio em favor do excesso de seguran~a -com a con­sequente limita~ao excessiva da liberdade das pessoas implica, assim, em of ens a ao Estado Democratico. C.) Assim, par toda a inconstitucionalidadein~rente ao 'RDD', impoe-se 0 reconhecimento da ilegalidade da medida adotada contra a paciente, e a concessao do 'writ', a fim de que a"reedu­canda seja imediatamente removida do 'regime disciplinar diferenciado' a que foi transferida" (HC893.915-3/5,Sao Paulo, 1'. C, reI. Marco Nahum, 09.05.2006, v.u.).

125. Especie de regime lechado: 0

regime disciplinar diferenciado e apenas uma sub-divisao do regime fechado, mais

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Guilhenne de Souza Nucci 448

rigoroso e exigente;Nao se trata, pais, de urn quarto regiroede cumprimento de pena. Continuamos a teT somente tres: fechado, seini-aherto eaberto. Oprimeiro, entretanto, possui uma alternativa, conforme descrita no art. 52 desta Lei.

126. Requisitos: para a inclusao no regime disciplinar diferenciadq, na hipo­tese prevista no caput, demandam-se doi~ pressupostos cumulativos: a) a pnitica de fato previsto como crime dolaso + b) oca­sionar subversao da ardem ou disciplina internas. Muito embora se possa defender que a simples pnitica de fato pn:;visto como crime dolaso ja teria .0 candae de a~a~etar a desordem ou a indisciplina no interior. do presidio, cremos ser passive! a. come­timento de ul?- falta menos importante, de modo? nao. dar en~ejo a inclusao no RDD. Ex.: nao teria cabimento que uma lesao corporal dolosa simples cometida por urn preso contra outro, por mptivos tolos, pudesse levar 0 agressor ao .regime discipHnar diferenciado. Diversa situac;ao seria a.pratica de urn homi~idio.

127. Dura\ao maxima e renova\ao: estabeleceu-se ~m teto p·ara a in"dusao do preso ~o regime disciplinar diferenciado, ou seja, 360 d.ia~. Poroutro lad6, ha a pos­sibilidade de repetic;ao dasanc;ao desde que ocorra nova Jalta grave da mesma especie, respeitado 0 lil11:ite de urn sexto da pena ~plicada. Em primeiro lugar, d~ve-se criticar a fixac;ao de urn maximo a ser cUP1p~ido no RDD, pois se a finalidade e ga~antir a seguranc;a publica e dos estabelecimentos penais naosepode mensurar, exatamente, qual sera a tempo necessario para que 0

preso demonstre ~enor periculostdad~, de modo a ser transferido ao regime fechado co mum. Pensamos que 0 prazo indeter­rninado e a melhor solw;ao, sempre sob 0

crivo prudente do juiz da execw;ao penal.

Pode-se, por exemplo, fixar urn teto para o RDD com base no total da pena aplicada (ex.: nao mais que urn sexto, urn terc;o au metade), mas nao em dias, como foi feito. Porem, ainda que se estipule urn prazo maximo - mesmo que renovavel - nao nos parece 16gica a limitac;ao estabelecida quanta a renovac;ao do periodo. Para que tal medida renovat6ria se de e preciso que a condenado torne a cometer falta grave da mesma especie, vale dizer, deve voltar a praticar Jato previsto como ·crime dolosa. Os demais pres os, ainda que envolvidos em organizac;oes criminosas ou que apresen-. tern alto risco para a ordem e a seguranc;a do presidio e da sociedade (§§ 1.° e 2.° do art. 52) nao estao abrangidos pela repeti­c;ao. Essas hip6teses nao estao definidas como Jaltas graves no caput do art. 52. Eis o contra-senso. Alei foi editada justamente para atingir os lfderes do crime organizado, mas eles somente podem ser inseridos no RDD uma vez, ate 0 maximo de 360 dias; salvo se cometerem outraJalta grave, 0

que e raro de ocorrer. Os chefes do crime organizado mandam fazer, lideram apenas, mas nao "sujam" as maos, de forma que seus prontmirios podemser exemplares em materia de bomcornportamento. a Estado perrnanece parcialmente impotente diante do crime organizado infiltrado no sistema penitenciario. Quante ao limite de um sex­to da pena, ha dois angulos de analise: a) positivo: se a pena e fiuito longa, 0 teto de urn sexto e razoavel (ex.: condenado a 60 anos de reclusao; nao poderia ficarmais que 10 anos no RDD); b) negativo: se a pena e curta, 0 Estado pode ficar impotente em face de determinados sentenciados (ex.: urn condenado a 6 anos, embora perigoso e liderde crimeorganizado, aindaque cometa varias faltas graves, nao podeultrapassar 1 ano no RDD). No geral, temos 0 seguinte: imaginemos alguem, condenado a 9 anos de reclusao, inserido inicialmente no regime

Leis Penais e Processtlais Penais Comentadas

fechado. Dando causa a transferencia para o RDD, ficara por um.periodo maximo de 360 dias nesse regime. Ap6s, se novamente cameter falta grave, nos termos do caput do art. 52, naopodera retomarpar OutIOS 360 dias, pois ultrapassaria 0 limite maximo flxado, vale dizer, umsexto do total da sua pena (1 ano e 6 meses). 0 juiz da execuc;ao penal deve atentarpara isso e fixar tim peri­adomenorno RDD, quando da decreta~ao da repeti~ao.

128. Reeolhilllento em eel a imlivi­d,l,JaI:nuncae~eI9ais.ressa~tarqu~ainserc;a9 e"l;ll ceia individual e diretto de todo e qual­querpreso (art. 88, caput, LEP). E;I1tr~tanto, como a realidade desment~ a lei, ~1OvaII.1ente viu-seo legislador obIjgado a repetir 0 6bvio para quem esta em cumprimento de pena no regime fechado. Desta vez, no entanto, a Estado (PoderExecutivo) teminteressee, porvia de consequencia, fornece recursos para a construc;ao de presidios onde 0 RDD se viabiliza em celas individuais. Alias, seria 0 apice do despresUgio estatal se 0

regime disciplinar diferenciado perrnitisse o mesmo caos de convivencia desordenada entre presos, muitos deles lotando celas que deveriam conterum nurnero muito menor dedetentos. Deveria 0 Poder Publico fazer a mesmo em relac;ao a todos os demais condenados em regime fechado; Sem esse investimento, continuar-se-a criticando a pena de prisao, mas nadase faz para cumprir o que ja eSHi disposto em lei.

129. Regulamenta~iio de visitas: a limitac;ao do direito de receber visitas - nem se considere nesse regime, por total incompatibilidade com seus fins, a visita intima - diz respeito ao maior contrale es­tatalsobre 0 preso. Duas horasporsemana seriam suficientes para que duas pessoas - familiares ou amigos-pudessem conviver com 0 sentenciado inserido no RDD, rnesmo

Execuc;ao .penal

assim tamadas a~ devidas providencias para que nao tenham -contata pessoal, 0 que se faz atraves de sala pr6pria. E urn sistema rigoroso, sem duvida, mas indispensavel, mormente se voltanrtos os alhos ao· crime organizado, que busca transmitirinforrna­<;5es aos seus ·comandad,os, muitas veies situadosfora dos presidios.

130. Sa'da da eela para trabalho: nao ha essa possibilidade legal. Entretanto, legislando urn poueo, afinal, a legalidade nao e 0 principio mais respeitado no Brasil, disp5e 0 Deereto 6.049/2007. que 0 preso, em regime disciplinar diferenciado, devera trabalhar. Porem, como 0 art. 52 da Lei de: Execuc;ao Penal p~eve que ele somente saira da s"!la cela duas horas por dia, para banhos de sol; 0 art. 98, § 2.° , do men­cionado Decreto dispos: "0 trabalho aos presos em regime disciplinar diferenciado tera ~araterremunerat6rio e laborterapico, sendo desenvolvido na propria cela ou em local adequado, desde quenao haja contato com outros presos" (grifamos). Se a criatividade e aparato material forem suficientes, 0 Estado pode proporcionar trabalho ao preso em RDD no interior da sua cela, mas, desta, ele nao pode sair para dirigir-se a "outro local adequado". Foge ao disposto na Lei 7.210/84.

§Sa'da da eela para banho de sol: estabeleceo inciso IV do arLS2 a saida por duas horas diarias para banho de sol. Pensamos ser timida essa previsao. 0 presQ deve. permanecer 22 horas do dia na ceia individual. Por isso, essas duas horas de saida precisariarn ser, sempre, garantidas, hajasol ou nao. Na realidade, 0 fatormaior a ser considerado e a possihUidade de deixar a ceia por alguns momentos, sendo levado para outro ambiente,seja qual for. Havendo sol, pode irpara 0 patio. Se nao hauver, pa­rece-nos razoavel que saia da cela para ser

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Guilherme de Souza Nucci

levado a outro lugar qualquer'no interior do presidio (ex.: umasala de leitura ou urn local de lazer controlado).

132. A segunda possibilidade de inclusao no ROD: presos provisorios ou condenados, de nacionalidade brasi~eira ou estrangeiros, podem seguir para 0 regime disciplinar diferenciado se representarem alto risco para a ordem e a seguran<;a do estabelecimento penal ou da sociedade. Esta norma merece criticas, pois apresenta. preceito exageradamenteaberto. a queseria alto risco para aseguran<;a dasociedade? Se o individuo esta preso, em tese, encontra-se sob tutela estatal enenhum risco correria a sociedade. Logo,se foraplicadaaesmo dani ensejo ao abuso estatal, pais qualquerpreso poderia ser inserido no RDD, mesmo sem necessidade. a criterio e muito subjetivo e nao fomece contomos e limites para ser analisado devidamente. Em nossa visao, a llnica fonna de acolher 0 disposto no § 1.0 desteartigo e associa-lo ao § 2.°, quefaz ex­pressa remissao as organizac;oes criminosas. Portanto, presos de alta periculosidade para o presidio au para a sociedade sao aqueles que integram 0 crime organizado ou, pi~r, lideram tais agrupamentos. Essa e, na es­sencia, a autentica legitimidade do RDD: o isolamento dos lideres de organizac;oes criminosas.

133. A terceira hip6tese de inclusao no ROD: estabelece o'§ 2.° deste artigo ser viavela inclusao do preso no RDD sesobre ele recairem fundadas suspeitas (apunivel pela propria administrac;ao do presidio, por sindicancia interna, ou com base em inquerito au processo ja instaurado, neste ultimo caso, sem necessidade do transito em julgado de decisao condenatoria) de envolvimento ou participac;ao, a qualquer titulo, em organizac;oes criminosas, qua­drilha ou bando. Em nosso ponto de vista,

bastaria ter side mencionada a expressao organiza{:oes criminosas, que, poruma ques­tao 16gica,ja que nao definida em nenhuma lei, envolveria a quadrilha ou bando. 0 legislador. temendo pecarpela omissao, no entanto, fez a inclusao do crime previsto no art. 288 do C6digo Penal. Logo, mesmo que a quadrilha seja de ambito local (sem expansao regional ou nacional), limitada a quatro pessoas, de pouca periculosidade. haveria condi<;6es de ser 0 preso inserido no RDD. Nao deixa, no entanto, de ser urn abuso. Porisso, voltamos aojamencionado anteriormente. A uniao dos §§ 1.0 e 2.0 d6 art. 52 daria 0 melhor cenario para a deci­sao judicial de transferencia do preso para a regime disciplinar diferenciado. Urn au outro, isoladamente considerados, nao nos parece suficiente.

Subser;ao III

Das sanc;6es e das recompensas

Art. 53. Constitue.m san~6es discipli-nares:134

1- advertencia verbal;135

II - repreensao; \36

III - suspensao au restri<;ao de direitos (art. 41, paragrafo unico);137

IV - isolamento na propria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento coletivo, observado a disposto no art. 88 desta lei;138

V - inclusao no regime disciplinar dife­renciado.1J9

134. Sanc;oes disciplinares: sao ins­trumentos importantes para a avalia~ao do condenado, em especial no tocante ao seu merito, vale dizer, 0 progresso quevemau­ferindo duranteseu processo de reeducac;ao. Logicamente, quanta maior 0 numero de sanr;oes anotadas em seu prontuario, piot a seu comportamento. Por outro lado, urn

Leis Penais e ProcessHais Penais Comentadas

ExecUl;ao Penal

prontuario sem qualquer san<;ao registrada permite supor urn born comportamento, embora este deva ser avaliado por outros fatores tambem. Ha inllmeros lideres de facr;oes criminosas dentIO de estabeleci­mentos penais, cujo prontuario na:o registra nenhuma sanr;ao. porem sao conhecidos por suas atividades ilicitas camufladas, valendo-se de terceiros para chegarein aos seus prop6sitos. Eis a razao de serprimor­dial da Comissao Tecnica de Classifica<;ao, cujos componentes devem manter cont~to direto com os condenados e conhecer 0 que se passa no presidio, motivo pelo qual tern condic;oes de emitir urn parecer que vai alem do simples prontuario.

135. Advert€mcia verbal e repreen­sao: ambas assanc;oes constituemchamadas ou alertas formais, feitos pela autoridade administrativa do presidio ao condenado, inscrevendo~se emseu prontuario, quando praticar faltas medias ou leves. Estas devem ser descritas pela legisla<;ao estadual. Ha uma gradaC;ao entre ambas: a advertencia, segundo pensamos, deve circunscrever-se a faltas leves; a repreensao, a faltas medias au a reincidencia emfaltas leves. Logicamente, o acumulo de faltas leves elou medias po­dem dar ensejo a aplicac;ao de san<;6es m~is rigorosas, como as previ5tas nos incisos III e IV deste artigo.

136. Repreensao: ver a nota ante­rior.

13 7. Suspensao ou restri~ao de direi­t05: sao os apontados no art. 41, panigrafo (mico: a) redur;ao da recreac;ao e mantenc;a do trabalho, com a minimo de descanso (art. 41, V, LEP); b) restric;ao oususpensao das visitas, ate 0 maximo de 30 dias (art. 58, LEP). E preciso ressaltar que 0 direito a visita intima, que tenninou consagrado pelo costume, tornou-se valio5a moeda de troca entre a administrac;ao do presi-

dio e 0 condenado, pois este, quando tern possibilidade de usufruir da visita intima, obviamente, faz 0 possivel para mante-Ia. Por tal motivo, tem-se obtido, em varia­dos estabelecimentos penais, a redu<;ao da frequencia do cometimento ·de faltas pelos sentenciados; c) reduc;ao do contato com 0 mundo exterior, seja por envio e recebimento de correspondencia, seja pela restric;ao.a outros meios de comunica<;ao, como, por exemplo, a televisao. Para fal­tas graves, somente cabe a aplicac;ao desta sanc;ao (inciso III) au a prevista no'inciso IV (art. 57, panigrafo unko, LEP).

138. Isolamento na cela ou em local adequado: mencionar que 0 preso, em regime fechado, como puni<;ao, sera man­tido isolado em sua propria cela, nao fosse tragico, seria risivel. Na imensa rnaioria dos presidios brasileiros, nao hacela individual, como determina esta Lei (art. 88, caput). as presos sao mantidos em celas coletivas e. pior, em muitos locais, superlotadas. Como se pode isolar napropria cela, quem nunca teve cela individual? A cela escura e vedada (art. 45, § 2.", LEP), logo.,a unica solu,ao seria 0 presidio manter uma eela comum individual para inserir presos sancionados com base no inciso IV deste artigo. E outra soluc;ao rara,justamente pela superlotac;ao dospresidios que abrigam 0 regime fechado. Entretanto, havendo cela individual, ficara 0

preso isolado dos demais e de outraspessoas (visitas, porexemplo) duranteum periodo maximo de 30 dias. Nao trabalha enao tern lazer fora desse local. Sob outro aspecto, quando a lei menciona local adequado, nos estabelecimentos de alojamento coletivo, faz referencia ao regime semi-aberto. Nas colonias penais, as presos nao mais devem sermantidos emcelas individuais, mas em alojamentos coletivos. Porisso, para sofrer a san<;ao do isolamento, torna-se necessario assegurar-se a existencia de urn local para

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tanto. A observancia ao disposto no art. 88 desta Lei diz respeito a dever 0 local respeitar os requisitos,previstos em lei (area minima de 6 m2. salubridade etc.). Esta e outra sanc;ao dis~iplinar que se.destina, basieamente, a quem comete faltas graves (art. 57, paragrafo tinico, LEP). Nada im­pede, enlretanto, que possa ser aplicada ao reincidente em faltas leves ou medias, con forme 0 caso concreto.

139. Inclusao no regime disciplinar diferenciado: deve dar-sede acordo com 0

disposto no arlo 52, para 0 qual remeternos o leitor.

Art. 54. As san<;6es dos incisos I a IV do art. 53 serao aplicadas por ate motivado do diretar do estabelecimento e a do inciso V, par previo e furidamentado desjJacho do jUiz competente. 140

§ 1.° A autorizac;ao para a irlClusao do preso em regime disciplinar depended. de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa,141-142

§ 2.° A decisao judicial sobre inclusao de preso em regime disciplinar sera precedida de manifestac;ao do Ministerio Publico e da defesa e prolatada no prazo maximo de 15 (quinze) dias.143.144

140. Motiva~iio para a apli~a~iio de san~ao: nao poderia ser fiiferente para se assegurar 0 devido processo legal durante a execuc;ao penal. As sanc;6es de natuI:e­za adrninistrativa, aplicad~s pelo dire tor gera.l do estabelecirnento penal, devem ser fundamentadas, ate pelo fato de haver sindieancia para apurar a falta cometida e ampla defesa garantida ao preso. Logo, a conclusao merece a devida exposic;ao dos motivos que levaram a puniC;ao. Asanc;ao de naturezajurisdicional (inclusao no RDD), aplicada peIo juiz da execuc;aopenal, como

nao poderia deixar de ser, necessita de fun­damenta,ao (art. 93, IX, CF),

141. Procedimento para inclusao n~ regime discip linar diferenciado: 0 bserva~

se, desde logo., nao ser cabivel ao juiz da execuc;ao penal tomar a ine~ida de oficio. Deve haver participa~ao ativa da adminis~ trac;ac do presidio, provocando a atuac;ao judicial e demcm;trando a necessidade da aplica\=~c desse tipo desanc;ao. Nao podeiia. de fato, 0 magistradc decreta-la de Cficic, nac somente por fugir a sua posic;ao de imparcialidade. mas sobretudc por desco~ nhecer a realidade do presidio.~ Portama, ainda que 0 juiz da execuc;ao penal tome conhecimento, per algum dado que Ihe chegue as maos, acerca da atividade de urn determinade prese, conectade ao crime organizado, por exempIe, deve provocar a autoridade administrativa para que esta represente pela inclusao no regime disci­plinar diferenciado. Nos termos previstes neste paragrafo, nota-se, ainda, nao ser da atribuic;ao do membra do Ministerio Publico esta iniciativa. Lirnita-se ele a emitirparecer a respeito, quando houver a provocac;ao do dire tor do estabelecimento penal (ou outra au toridade de Executivo, como, par exern­plo, 0 Secreta rio de Estado, cuja pasta tern sob responsabilidade 0 sistema carcerario), Ternos sustentado a necessidade de uniao dos§§ l.oe2.odo art. 52desta Lei para que tenha sentido e utilidade a aplicac;ao do regime disciplinar diferenciado. 0 preso, embora condenado pela. crime dequadrilha ou bando, pode nao representar alto risco para a ordem QU seguranC;a do presidio ou da sociedade, razao pda qual nao sera inserido no RDD. Em suma, a iniciativa atribuida a autoridade administrativa cria uma forma mista de executar a pena, em que a responsabilidade pela inclusao em regime tao gravoso na~ se situa em urn dos p610s apenas (Executivo ou Judiciario).

Leis Penllis e Processuais Pellais Comentadas

Agem ambos no mesmo sentido, 0 que demonstra a real necessidade de afastar 0

preso do convivio com os demais ..

142. Requerimento ou repres~·nta­~'~o: embora a lei tenha utiltzado 0 ter:mo J:equerimento, pensamos que 0 adequaQ.1? seria representa<;iio. 0 dire tor do estabe­i~cimento penal nao e parte na exeqIc;;ao penale mlo t~m qualquerinteressepessoal no cumprimento da pena, logo. cape-lhe expor urn fato e solicitar providenc~as, 0

quee tipieo do termorepresenta<,:iio .. Assim como 0 delegado de policiarepresenta pela prisao temporaria ou preventiya (nae requer a prisao cautelax, pois nao e parte interes­sada). deveria a au.toridade administrativa representarpela inclusaono RDD, demons­trando, de modo detalhado, os fatos que Ihe servem de base.

143. Respeito ao contradit6rio e a ampla defesa: cuidand~-se de sanc;ao disciplinar de natureza mista (provocada pe1a administrac;ao, :mas, decretada pelo juiz), com reflexo nitido na execuc;ao da pena, que possui essencia jurisdicional, toma-se fundamental ouvir, previamente, as partes. Porisso,garante-seamanifestac;ao do membro do Ministerio Publico, repre­sentando 0 Estado-acusac;ao, bern comoda defesa tecniea do condenado (advo·gado constituido ou defensor publico ou dativo). Nessa situac;ao, nao ha possibilidade de haver somente a autodefesa por parte do sentenciado. Ha uma previsao legal expressa de oitiva da defesa e a medida extravasa 0

ambito de uma mera correc;ao disciplinar dentro do pr6prio presidio. Na realidade, imposto 0 regime disciplinar diferenciado, sera 0 preso transferido para estabelecirnen­to apropriado e tera urn regime carcenirio totalmente diverso daquele que vinha ex­perimentando.

ExecUt;ao Penal

144. Prazo para a decisiio judicial: menciona a lei ser de 15 dias. Entretanto, permite-se, por medida de cautela, 0 isola­mentopreventivo do ~ondenado, ordenado pela autoridade administrativa peloprazo de lOdias (art. 60, LEP). Ora,se 0 juiz levar 15 dias para dar a decisao,·semcontar 0 prazo dado ao Ministerio Publico e a defesa para suas manifestac;6es, e evidente que havera urn periodo superior aos m~ncionados 10 dias de isolamento preventivo. Decorrido este periodo, sem ter havido a deciSao judi­cial, o-que fani a autoridade administrativa? Retoma 0 preso ao convivio com osdemais? Portanto, 0 ideal seria compatibilizar 0

periedo de isolarnento preventivo com 0

prazo para 0 juiz decidir e tambem para a manifestac;ao das partes. Enquanto tal reforma nao se verifica, parece-nos deva 0

magistrado decidir em menorprazo, assim como as manifestaC;6es das partes devernser colhidas brevemente. tudo para nao ultra­passar as 10 dias de isolamento cautelar.

Art. 55. As recompensas tern em vista o bom comportamento reconhecido em favor do condenado, de .sua colabara~.ao com a disciplina e de sua dec.ljca~ao ao trabalho. 145 .

145. Recompensas:eometodonatural e usual de estimulo a qualquer·pessoa para que ·produza mais ou apresente m'elhores resultados em variados setores dayida pro­fissional, estudantil ou em outro ce.~ario. Recompensar significa prerniar, dar uma compensar;ao pelo esforc;o, ernpenho ou sofrimento demonstrado por alguem para atingirumobjetivopositivo. Eevidente·que, pretendendo-se a reeducar;ao do condena­do,o estirnulo da recompensa pode e deve surtirefeito prornissor. Estabelece 0 art. 55 desta Lei que as recompensas advirao do born comportamento, da colabora~iio com a

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disciplinaeem razao da dedica~ao ao traba­lho. Nota-se, pais, ml0 fugirdo ambito geral idea14a execur;ao da pena: comportamento, disciplina e trabalha.

Art. 56. Sao recompensas:

1- 0 elogio;146

11- a concessao de regalias.147

Panigrafo unico. A legisla~ao local e as regulamentos estabelecerao a natureza e a forma de cancessao de regalias. 148

146. Elogio: do mesmo modo que, no caso da sanr;ao, a advertencia verbal se faz da autoridade administrativa ao preso, o elogio (ato de louv~r ou de aprovac;ao) tambemdeve serverbal, embora anotado no prontmirio, como fonna de auxiliara analise futuTa do comportamento do condenado.

147. Concessao de regalias: a rega­lia e urn privilegio ou uma vantagem que alguns auferem em detrimento de outros. Quando e feita de modo discriciomirio, sem qualquer criterio, torna-se forma de expressao de abuso de autoridadee desprezo ao principio constitucional da igualdade de todos perante a lei. Porem, se uma permissao especial e concedida a determinado preso, de maneira justificada, com criterios pre­estabelecidos, de maneira transparente, em lugarde causarrevolta riDs demais, torna-se uma maneira util de se incentivar 0 born comportamento, a disciplina e 0 empenho no trabalho. E a aplicac;ao da isonomia: tratar desigualmente osdesiguais. Quem tern born comportamento tern privil~gios em rela~ao a quem ostenta mau comportamento.

148. Legalidade e regalia: nao se devepermitir que a administrac;ao invente regalias, criterios e demais formas para privilegiar determinados presos em de­trimento de outros. Exige-se respeito ao

principio dalegalidade. E fundamental que a legisla~ao estadual fornec;a 0 regramento basico, permitindoque, conformeaspecu_ liaridades de cada presidio, a direc;ao edite regulamentos internos, complementando a atividade do legislador. N a ausencia de iei estadual, observa-se, muitas vezes,a estra­nha mania do Poder Executivo de legi'ilar em materia de execuc;ao penal, impondo regras e criterios sem qualquer amparo na voz do Poder Legislativo. 0 ]udiciario se omite, em varias situac;5es, permitindo a lesao a legalidade. Registremos que 0 RDD foi cnado, originalmente, por resolw;ao de uma Secretaria de Estado, em Sao Paulo, sem passar pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa. Se 0 mais ja foi feito (criac;ao de sanc;ao grave), 0 que se pod era dizer em relac;ao ao menos (es­tabelecimento de regaliasH Porern, nao podemos olvidar que, quanto maior poder se conceder ao Executivo para esse mister, menos jurisdicionalizada e menos regrada se tomara a execUl;ao penal, 0 que, em nosso entendimento, e lamentavel.

Subse,ao IV

Da aplicar;ao das sam;6es

Art. 57. Na aplica<;ao das san<;6es disci­plinares, levar-se-ao em conta a natureza, os motivos, as circunstancias e consequencias do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisao.149

Paragrafo unico. Nas faltas graves, ap[i­cam-se as san~6es previstas nos incisos III a V do art. 53 desta Lei.

149. Individualiza~ao da san~ao disciplinar: tao importante e 0 principia constitucional da individualiza(D.o da pena que ha reflexos seus para outros cemirios, como se pode observarpelo disposto no art. 57 desta Lei. Para elegerasant:;ao disciplinar

Leis Pellais e Processuais Penais Comentadas

ExecU/;ao Penal

adequada a cada condenado faltoso, deve a dire~ao do presidio anaUsar a natureza da sua infrac;ao (leve, media ou grave), os motivos que 0 levaram a comete-Ia, 'as circunstancias e consequencias do fato e a pessoa do sentenciado (personalidade), bern como seu tempo de prisao. E uma reproduc;ao minorada do art. 59 do C6digo Penal. No entanto, merecedoradeaplauso. Alias, esta e outra razao para que a decisao dodiretorseja motivada, tanto quanta a do jUiz. 0 elemento concernente-ao tempo de prisao e caracteristica especial da execuc;ao penal, porem relevante. A personalidade de qualquer pessoa e dinaniica e mutavel, variando conforme'o ambiente onde se encontra. Se a preso esta no carcere ha muitos anos apresenta-se de urn modo; se eumrecem-chegado, deoutro. Aadminis:' trat:;ao do presidio tern perfeitanot:;ao disso e pade discemir entre 0 ainda indisciplinado recem-chegado, que leva urn tempo- para habituar-se as varias regras do presidio, e 0

condenado de longa data,ja acostumado it rotina do local. Par isso, a insubordinac;ao do recem-chegado pode nao ser tao grave quanto a mesma indisciplina demonstrada pelo condenado de varios anos.' 'Daf a va­riaC;ao da san~ao disciplinar.

Art. 58. 0 isolamento, a suspensao e a restric;ao de direitos nao poderao exceder a 30 (trinta) dias, ressalvada a hip6tese do regime disciplinar diferenciado.1SO

Paragrafo unico. 0 isolamento sera sem­pre comunicado ao juiz da_execu<;ao.1S1

150. limiteparaassan~iiesmaisgra­yes: as sanc;oes previstas nos incisos III e IV do art. 53 desta Lei tern 0 limite maximo de 30 dias, 0 que nao significa devam, sempre, ser aplicadas nesse patamar. Ressalva-se o disposto no inciso V do mesmo artigo, pais 0 regime disciplinar diferenciado tern

prazo totalmente diverso, podendo atingir 360 dias (passivel de repetic;ao, conforme o caso).

151. Controle judicial do isolamento: embora 0 isolamento seja imposto peIo dire­tor do estabelecimento penal, comunica-se ao juiz da execuc;ao penal, que-e tambem o corregedor do presidio, permitindo-lhe cumprir suas funt:;6es legais de fiscalizat:;ao (art. 66, VI eVIl, LEP) ..

Subser;ao V

Do procedimento disciplinar

Art. 59. Prat(cada a falta disciplinar, devera ser instaurado 0 procedimento para sua apura~ao, conforme regulamento, asse­gurado 0 direito de defesa.152.1S4

Paragrafo unico. A dedsao sera moti­vada. 1S5

152. Apura~ao da falta disciplinar e direito de defesa: ja expusemos em nota anterior' que a ampla defesa e fundamental para a garantia de existencia do devido pro­cesso legal na execu~ao perial. Entretanto, temos sustentado ser suficiente a garantia ao preso de apresentac;ao de seus motivos para 0 -cometimento da'falta (ou para a negac;ao de ser 0 autor) pessoalmente. Nao ha necessidade de defesa tecnica, inclusive para nao burocratizar e emperrar 0 proce­dimento administrativo, que necessita ser celere para a garantia da ordem e discipli­na internas do estabelecimento penal. Se ja nao ha defensor em numero suficiente para dar amparo ao condenado no processo de execuc;ao penal, imagine-se criar urn corpo de advogados, dentro do presfdio, somente para cuidar de faltas disciplinares. Nao quer isto dizer estar 0 juiz afastado do caso e impossibilitado de anular a falta indevidamente inscrita no prontuario do preso. Como ja mencionamos, 0 preso se

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defende pessoalmente e eventual san~ao lhe pode seI aplicada. Caso exista abuso ou cerceamento de defesa. invoca-se a atua~ao do juiz corregedor do presidio. Nesse caso, ingressa a defesa tecnica e a' faha anotada pode seI revista. Ver, ainda, 'a nota 110 ao ait. 50, caput, desta Lei.

153. Recurso contra a san«;;ao disd­plinar: em nossoponto de vista, havendo silencio desta Lei, a materia deveriaser'abor­dada.por legislac;ao estadual. Inexistindo esta, parece-nos plenamente cabivel que a parte prejudicada, no caso a presc, suscite 0

incidente de excesso au desvio de execm;;ao, conforme 0 caso, com pediclo liminar de sustac;ao do ata sancionador, sepreciso, ao juiz da execuc;ao penal. N aD vemos 0 ate 'do diretor do presidio"ao isolar 0 preso, por exemplo, por30 dias, como umsimplesato administrativo, passlvel de impugnaC;ao por via do mandado de seguram;a na Vara da Fazenda Ptiplicaou, na falta desta, em Vara CiveL Cuida-sedesi'tu~c;aoinexoravelmen­te ligada a exeeuc;ao c;la penae tudo o,que eoneern~ a essa materi~ e da eompetencia do juiz da exeeuc;ao penal, responsavel pela fise~lizac;ao do presidio onde se eneontra o concienado eventualmente prejudicado pela atitude da admini~trar;ao do estabele, cimento penaL Note-se 0 disposto no art. 185 desta Lei: "Haveni exee,ss,? o.u desvio de execuc;~o sempre que algum ato for pra­ticado alem dos limites fixados na sentenc;a, em normas legais au regulamentares" (gri­famos). Ora, a descric;ao das faltas leves e medias deve ser feita, primordialmente, por legislac;ao estadual e, subsidiariamente, pelos regulamentos internos dospresidios. As faltas graves estao descritas na Lei de Execw;ao Penal, que e federal, de alcance nacional. 0 procedimento para apuni-las e as sanc;6es disciplinares estao elencadas nesta Lei. Podeni haver legislac;aoestadual suplementar. Enfim, nao se trata de uma

materia tipicamente administrativa e dis­cricionaria, sem qualquer ingerencia do juizo da exeeuc;ao penal. Registremos, no~ vamente, sera exeeuc;ao da pena, no Brasil, de natureza mista, envolvendo uma parte administrativa e outra, jurisdicional. Por­isso, todas as ocorrencias que envolverem a vida do preso no carcere concernem ap juizo proprio, urn dos orgaos da execuc;ao penal (art. 61, II, LEP). Nao ha ne,essidade de se impetrar mandado de seguranc;a ou. habeas corpus neste jUlzO; bastando suscitar­o ~ncidente cabivel (desvio ou excesso), com' pedido lim~nar, que esta dentro do poder geral de cautela de_qualquer magistrado. Exemplifieando: uma punh;ao grave-como o isolamento ou a suspensao de direitos - imposta sem sindica,ncia e sem ouvir 0

preso pode ser por esta forma question~da e ojuiz da execuc;ao penal tern eompetencia para determinar, de imediato, a suspensao da ordem adm.inistrativa ate que 0 inci-: denteseja julgado. Umasanc;ao disciplinar indevida ou injusta ~ urn patente desvio da execuc;ao. Ou, ainda, umasanc;ao diseipli­narqueultrapasse os limites impostos pela lei e urn nitido excesso de execuC;,ao. Nao se pode fical; circunscrito, em materia de desvio ou excesso de execuc;ao, a pena em si, pois 0 referido art. 185 mencionou,alem dasentenc;a condenatoria, as nonnas legais au regulamentares. Entretanto, qualquer soluC;ao que se adote, nao ha viabilidade em excluir qualquer recurso do preso contra a sanc;ao disciplinar. Se ele optar pdo man­dado de seguranc;a (medida mais acertada que 0 habeas corpus, pois se esta questio­nando a legalidade do ato administrativo), impetrado no juizo da execuc;ao penal ou cia Fazenda Publica, mereceser eonhecida e analisada a necessidade ou nao de conces­sao de liminar. Nao se pode, por ausencia de previsao legal, deixar desamparado 0

condenado injustamente sancionado no ambito administrativo-disciplinar, Para

Leis Penais e Processltais Penais CQmentadas

Execuc;ao Penal

Isso existe a a~ao constitucional para coibir abuso de poder ou ilegalidade cometida por autoridade publica (art. 5 .. °, LXIX, CPl. E vamos alem. Se, porventura, 0 preso, a falta de defensor para impetrar mandado de seguranc;a e diante da urgencia, optar pdo habeas corpus, que ele mesmo pode ajuizar, cuidando-se de materia crimi:nal, deve faz~-lo ao juiz da execuc;ao penal, mas tambem merece conhecimento e concessao ou denega~ao. Afinal. houve, na atualidade, urn alargamento consideravel na utilizac;ao do habeas corpus, que nap mais se limita a coibir violencia ou coac;ao a libeTdade, de ir, vir e fiear, porem se volta contra atos ilegais que violem indiretamentea liberda­de individuaL Em resumo: a) a primeira e melhor opc;ao seria 0 recurso administrativo previsto em lei, alem de haver tambem a previsao expressa de reeurso -aD Judicia­rio, por meio do juii da execuc;a:o penal, annal, nenhuma lesao sera-excluida da apreeiac;ao desse Pode'r; b) ausentes tanto o recurso na orbita administnHiva quanto o meio de impugnac;ao expresso n6juizo competente, optamos pela suscitac;ao do incidente de execuc;ao previsto n'o art. 185 desta Lei; c) nao sendo a eleic;ao do preso ou deseu defensor, enH~'ndemos aceitaveis tanto 0 habeas corpus (no juizo da execuc;ao penal, em razao da materia discutida; que pode ser impetrado peIo condenado, sem advogado) quanto 0 mandadude seguranc;a (preferencialmente, ao juiz da execuc;ao penal, tambem em func;ao da materia em debate, mas sem exclusao da opc;aopelo juiz da Fazenda Publica QU,'na sua falta, a Vara Civel). A unica opc;ao que reputamos ilegal (e inconstitucionaI) e n~b hav'er rec.urso (ou meio de impugnac;ao) algum a sanc;ao administrativa disdplinar aplicada.

154. legitimidade ativa para 0 in­cidente ou a.-;ao constitucional: no caso de suscitac;ao de incidente de excesso ou

desvio deexecuc;ao estao legitimacios 0 Mi­nisterio Publico, 0 Conselho Penitenciario, o sentenciado, 0 defensor e qualquer do's demais orgaos da execuc;ao penal, nos ter­mas do are 186 desta Lei (excetuando-se, obviamente, 0 juiz). Para 0 ajuizamento de habeas corpus, pode ser qualquer pessoa, inclusive 0 proprio sentenciado, bern como a Ministerio Ptiblico. Cuidando~se de man­dado de segurant;a, deve ser 0 sertten:ciado. por meio de seu defensor.

155. Decisao motivada: e 0 reflexo natural do anterior procedimento admi­nistrativo de apurat:;ao da falta, onde se colhem provas e penni,te-se ao condenado exercer 0 direito a arnpla defesa"Por isso, e mais que logico haver fundamentac;;ao para adeeisao administrativa. Do contI<irio,sepa totalmente imltil produzir preva ,e ouvir o presa, pois a imposic;ao imotivada de sanc;ao equivaleria a urn ato administrativo puramente discriciomirio, que, na essencia, nao 0 e.

Art. 60. A autoridade administrativa podera decretar 0 isol,amento preventivo do faltoso pelo prazo de ate 10 (dez) dias. A indusao do preso no regime disciplinar di­ferenciado, no interesse da disciplina e da averigua\ao do fato, dependera de despa­cho do juiz competente. 156

Panigrafo unico. 0 tempo de isolamento ou indusao preventiva no regime disciplinar diferenciado sera computado no perfodo de cumprimento da san~ao disciplinar. 157

156. Contradi~ao de prazos: a au­toridade administrativa pode decretar 0

isolamento imediato e preventivo do con­denado faitoso por ate 10 dias. Entretanto, quando houver necessidade de decisao judicial para a inclusao no regime discipli­nar diferenciado, como forma de sanc;ao, somente para dar seu veredicto 0 magistrado

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Guilherme de Souza Nucci

dispoe de 15 dias, sem contar 0 tempo gasto para ouvir as partes (MP e defesa). Logo, ha uma incoerencia nesses prazos, 0 que ja apontamos na nota 142 ao art. 54, § LO, para a qual remetemos oleitor.

157. Detrac;ao:nosmoldesestabeleci­dos peloart. 42 do C6digo Penal, nasi.tua~ao do art. 60 da Lei de Execu~ao Penal, 0 tempo de isolamento cautelar, ate a consolida~ao dasan~ao disciplinar, sera computado para todos os fins. Exemplificando: se a san~ao consistirem30 dias de isolamento, 0 conde­nado cumprirasomentemais20. Poroutro lado, se a san~ao consistir em insen;ao no regime- disciplinar diferenciado por 360 dias, cumprirasornente rnais 350. E natural que, ultrapassando-seporqualquerrazao,o prazo de 10 dias para 0 isolamento preven­tivo, 0 acrescimo tambemsera computado para fins de detrac;ao.

TITULO III

DOS ORGAOS DA EXECUC;:AO PENAL

Capitulo I DISPOSIC;:OES GERAIS

Art. 61. Sao orgaos da execuc;ao pe­nal: 158

\- 0 Conselho Nacional de Politica Cri-minal e Penitenciaria;'5'l

11- 0 Jufzo da Execuc;ao;160

111- 0 Ministerio Publico;161

IV - 0 Conselho Penitenciario;162

V - os Departamentos Pe~.itenciarios;163 Vl- 0 Patronato;1t'>4

Vll- 0 Conselho da Comunidade.165

158. 6rgaos da execu~ao penal: sao os que, de alguma forma, interferem no cumprimento da pena de todos os conde­uados, fiscalizado, orientaudo, decidindo,

propoudo modi£ica~6es, auxiliando 0 preso e a egresso, denunciando irregularidades etc. Cada qual na sua func;ao, os argaos da execuc;ao penal tutelam 0 fie! cumpri­mento da pena, de acordo com a sentenc;a condenat6ria e com os parametros legais, Parece-nos, entretanto, que, dentre esses argaos, deveria ter side incluida a defesa do condenado, parteindispensaveI no procesSo de execm;ao penal. Nessa atica, conferiras lic;6es de Ada Pellegrini Grinover (Anota­(oes sobre os aspectos processuais da Lei de Execu(Q:o Penal, p. 17) ,e de Antonio Maga­IMes Gomes Filho (A deJesa do condenado na execu(Q:o penal, p. 41).

159. Conselho Nadonal de Politica Criminal e Penitenciaria: e urn colegiado com sede em Brasilia e subordinado ao Ministerio daJustic;a, compos to por tre­ze membros designados pelo Ministro da Justi~a, dentre professores e profissionais da area do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciario e ciencias correlatas, alem de membros da comunidade e dos Ministerios da area social (arts. 62 e 63. LEP). Suas atribuic;oes estao descritas no art. 64 desta Lei. Olvidou-se os profissionais vinculados estreitamente ao ramo autonomo do Direito de Execuc;ao Penal (alias, denominac;ao dada na Exposic;ao de Motivos desta Lei), que, conforme ja expusemos na nota 4 ao art. l.0, e independente do Direito Penal, do Processo Penal e do Direito Peniten­ciario. Constitui, certamente, uma junc;ao desses ramos, mas ganha forc;a e liberdade intelectual cada vez maior.

160. Juizo da Execuc;ao: aorganizac;ao judiciaria (estadual e federal) nacional esta estruturada para a criac;ao eautonomia das Varas de ExecuC;ao Penal,jufzos especializa­dos, que, diversamente da area dvel, execu­tam as sentem;as condenatarias definitivas, provenientes das Varas Criminais e do] uri.

Leis Penais e Processuais Penais Comenradas

Ternos sustentado a necessidade de preparo igualmente especializado - e por que nao dizervocc;lcional? -dos magistradosatuantes nessas Varas. Parece-nos incompatfvel, na atualidade,admitir-seapromoc;aoeremoc;ao de juizes para qualquer Vara, sem apurar o seu grau de especializac;ao, conhecimen­to, preparo e afeic;ao ao trabalho que ira desempenhar. Se, em qualquer profissao, cresce, cada vez mais, 0 nive! de especiali­zac;ao pormenorizado de cada agente (ex.: ha medicos singularizados em cada uma das areas da sua profissao, de modo que a antiga figura do clfnico geral praticamente desapareceu nos grandes centros urbanos, remanescendo somente em regioes do in­terior), a magistratura carece do mesmo enfoque.Juizes sem paciencia em ouvir as partes, por exemplo, nao iraQ desempenhar a contento sua fun~ao em Varas de Familia. Do mesmo modo, magistrados que nao se dediquem a causa da regenerac;ao de pes­soas humanas, bern como nao tenham urn dominio minimo das materias com as quais lidara no seu dia-a-dia (Penal, Processo Penal, Execw:;ao Penal), provavelmente, serao co-participes de desarranjos no sis­tema carcerario e nao contribuirao para a ressocializa~ao do egresso, ate peIo fato de se distanciarem da comunidade. Ao COll­

trario,juizes vocacionados para a exe;cm;ao penal facilitam a comunica~ao entre 0 Poder Executivo e seus agentes, administradores dos presidios, e os presos e seus familiares, bern COmo conseguem penetrac;ao na cornu­nidade onde atuam, fazendo proliferar os Patronatos eos Conselhos da Comunidade. E tempo de repensar esse ponto.

161. Ministerio Publico: da mesma forma que a organizaC;ao judichlria, 0 Mi­nisterio Publico (estadual e federal) vern criando cada vez mais cargos exclusivos de promotores e procuradores da Republica para atuar junto a Varas especializadas de

Execuc;ao Penal

Execuc;ao Penal. As mesmas observa~6es que fizemos em relac;ao a magistratura, no tocante a exigencia de especializac;ao e aptidao paia 0 desempenho das func;6es em materia de execuc;ao penal, estendemos ao Ministerio Publico. Se 0 representante da Institui~ao trabalhar em hannonia nao somente com 0 juiz, mas tambem com ·os demais orgaos da execuc;ao penai, certa­mente, melhor e mais fume sera a fiscali­zac;ao em relac;ao ao cumprimentoda pena. N ao significa que 0 promotor ideal e a que pe~segue implacavelme,nte 0 condenado, sempre buscado mapte;-lo no carcere e po­sicionando-se contrariamente, quase com automatismo, pela concessao'de beneficios. Nem tampouco quedeveserum promotor­advogado, aquele quepretendeagircomo se defensor do condenado fosse, concordando com todos os beneficios e apressando a Ii­bertac;ao do sentenciad6, seja para esvaziar presidiOS, seja peIo fato de nao acreditarna penadeprisao. Emexecuc;aopenal,segundo cremos, tern preferencia a legalidade, em lugar da ideologia pessoal de cada pro­fissional (membro do Ministerio Publico ou juiz), excetuando-se, naturalmente, 0

advogado, que deve se.mpre pleitear em favor do condenado. Portante, 0 promotor. vocacionado fara, emsua Comarca, imensa diferenc;a, constituindo autentico fiscalda execu~ao penal, mas tambem co-autor da regenerac;ao do condenado.

162. Conselho Penitenciario:cuida-se de argao colegiado estadual, cuja finalidade e fiscalizar a execw;ao e emitirpareceres em certas materias. E composto, nos tepnos do art. 69, § 1.°, desta Lei, pormembros nome­ados pelo Governador dentre professores e profissionais da area de Direito Penal, Processual Penal, Penitenciario e ciencias correlatas, alem de representantes da co­munidade. Faltou, como ja mencionamos

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Guilhenne de Souza Nucci

na nota 157 ao art. 61, I, :supra,. menr;ao expressa ao Direito de Execur;ao Penal.

163. Departamentos Pen,iJenci;irios: subQrdinado ao Ministerio daJustir;a, nos termos do art. 71 desta.Lei, ¢ 6rgao ,exe­cutivo da Politica Penitenciaria Nacional, constituindo 0 apoio adwini~trativo e fi­nanceiro do Conselho Nacional de Polftica Criniinal e Penitenchiria: E 0 execut~r' das melas' trac,;a~as pelo 'CNPCP. Pode s'ir- de ambito nac'ional (Departamen'to Periiten­ciarlo Nacional), c~mo tambem estadual (Departamento Penitencl~:do -Estadual). Suas atribuic,;oes 'estao elencadas no art. 72 desta Lei.

164. Patronato: e 6rgao publico ou privado de assistencia ao albergado (con­denado em regime aberto) e ao egresso (aquele que deixa 0 presidio., pdo prazo de urn ano, bern como 0 que se encontra em liV1'ame~to condic~on,al), composto PQr membros da comunidade. Suas atribuic,;oes estao enumeradas no a.rt. 7,9 desta ~ei.

165. Conselho da Comunidade: .o6r­gao colegiado local,situado em-cada Corhar­ca onde haja presidio, compbsto, nos tennos do art. 80 desta Lei, porum represeritante de associac,;ao comercial ou industrial, urn advogadoindicadopelaOABeumassis'tente social, escolhido pela DelegaciaSeccional do Conse1ho Nacional de Assistentes Sociais. Podem existir outros membros (ex.,: urn psic610go, urn especialista em psiquiatria forense etc). 0 juiz da execuc,;ao penal deve cuidar de sua iIistalac,;ao'e cornposic,;ao (art. 66, IX, LEP). Como [aculta 0 art. 80, panigrafo unico;desta Lei, nao havendo, na Cornarca, os representantes elencados no caput do referido art. 80, pode 0 magistnido escolheroutrosprofissionaispaiacomp6-10: Note-seque, em varias Comarcas;por falta deinteresse do juiz da execuc,;aopenal, nao ha: Conselho da Comunidade instalado, nem

tampouco Patronatos. Eisai mais uma razao para se demandar do magistrado' aptidao para 0 exercicio da jurisdic:;ao especializada em Vara de Execuc:;ao Penal. As atribuic:;oes do Conse1ho estao enumeradas no art. 81 desta Lei.

Capitulo II

DO CONSElHO NACIONAl DE pOlfTICA CRIMINAL E

PENITENCIARIA

Art. 62. 0 Conselho Nacional de Polftica Criminal e Penitenci<iria, com sede na Capital da Republica, e subordinado ao Ministerip da Justir;a.

Art. 63. 0 Conselho Nacional de PoI{tica Criminal e Penitencii3,ria sera integrado por 13. (treze) membros designados atraves de ato do Minist~rio da Justir;a, dentre professores e profissionais da area ,do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciario' e ciencias correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos Ministerios da area social.

Paragrafo unico. a mandato. dos mem­bros do Con'selho tera durar;ao de dois anos, renovado-1/3 (urn terc;o) em cada ano.

Art. 64. Ao Conselho. Nacional de Po­I{tica Criminal e Penitenciaria, no exerdcio' de suas atividades; em ambito federal ou estadual, incumbe:166.167

1- propor diretrizes da polftica criminall68

quanta a prevenr;ao do delito, administrar;ao da justir;a criminal e execur;ao das penas e das medidas de seguranr;a;

II - contribuir na elaborar;ao de pianos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da polftica criminal e penitenciaria;

III - promover a avaliar;ao periodica do sistema criminal para a sua adequar;ao as necessidades do Pals;

IV - estimular e promover a pesquisa criminol6gica;

Leis Penais e ProcesSHais Penais Comel1tadas

v - elaborar programa r'Iacional pen i­tenciario de formar;ao e aperfeir;oamento do serv,idori

VI- estabelecer regras sobre a arquitetura e construr;ao de estabelecimentos penais e casas de albergados;'69

VII - estabelecer os criterios para a ela­borar;ao da estatfstica criminal;

VIII- inspecionar e fiscalizar os estabele­cimentospenais, bem assim informar-se, me­diante relatorio do Conselho Penitenciario, requisir;6es, visitas ou outros, meios, acerca do desenvolvimento da execur;ao penal nos Estados, Territorios e Distrito Federal, propon­do as autoridades del a incumb,das as medi­das necessarias ao seu aprimoramento;

IX - representar ao juiz da execur;ao ou a autoridade administrativa para instaurac,;ao de sindicancia ou procedimento adminis­trativo, em caso de violat;ao das normas referentes a execur;ao penal;

X - representar a autoridade competente para a interdir;ao, no todo ou em parte, de estabelecimento penal.

166. 6rgao de naturezapolitica:vin­culando-se a politica nacional, 0 Conse1ho e formado peIo Ministro daJustic:;a, razao pela qual ha urn forte conteudo polftico nessas designa~6es. Dificilmente, ve-se, nos meios de comunicac,;ao em geral, a atua¢ao critica desse Conselho em face da atividade governamental quanto a administrac;ao penitenciaria. A explica~a~ e 16gica: a sua composir;ao eamistosa. Na pratica, portan­to, 0 Conselho acaba propondo diretrizes harm6nicas com 0 Governo, seja de que partido for, deixando de exercer a importan­te func,;ao critica e a devida fiscalizac,;ao dos presidios. Em lugar de se dirigirasociedade, COmo orgao publico que e, criticando, por exemplo, a falta de Casas do Albergado em varios Estados ou asuperlotac,;,ao de inume­ras estabeIecimentos penais, termina por agir de maneira imperceptive1 aos meios de comunicac,;ao. Por isso, os criterios de

Execut;ao Penal

composic,;ao de tao iinportante Conse1ho deveriam ser alterados,; dando-Ihe maior autonomia e independerttia do Poder Exe­cutivo. A sua subordina,ao ao Ministerio dajustic,;a, como detennina 0 art. 62 desta Lei, acaba por transfonna-lo em mais urn· apendice do Governo. Para -agir de modo controlado e pacato, nao haveria necessidade de existir. Bastaria 0 Ministerio daJustir;a dispor de assess ores para tanto, recrutacios, inclusive, dentre profissionais das areas do Direito Penal, Processual-Penal, Peniten­ciano etc.

167, IncumbenciasdoCNPCP:alem das enurneradas no art. 64 desta Lei, pe1a Portarian. 277, de 10 de man;o de 2006, do Ministro daJustic;a, aprovando-se 0 Re­gimemo Interno do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciaria, estipulou­se mais 0 seguinte: "opinar sobre materia penal, processual penal e execu~ao penal submetida a sua apreciac,;ao" (art:. 1.°, XI); "responder a consultas sobre materia de sua atribuh;ao, nao conhecendo, a juizo previo do Plenario, aque1as referentes a fatosconcretos" (art. 1.°, XII); "estabe1ecer os criterios e priortdadespara aplicac;ao dos recursos do Fundo Penitenchirio Nacio.nal - FUNPEN" (art. LO, XI\l); "realizar audi­encias publicas para a discussao de temas pertinentes asatividades do Conse1ho" (art. 1.°, XIV); "exercer outras atribuic;oes, desde que compativeis com sua finalidade" (art. LO,XV).

168. Politica criminal: como ja defi­nimos em nosso Codigo Penal comentado (nota I-D ao Titulo I da Parte Geral), "e urn modo de raciocinar e estudar 0 Direito Penal, fazendo-o de modo critico, voltando ao direito posto, expondo seus defeitos, sugerindo reformas e aperfeic:;oarnentos, bern como com vistas a criac,;ao de -novos institutos juridicos que possaro satisfazer

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as finalidades primordiais de con tro Ie social desse ramo do ordenamento. A politica criminal se da tanto antes da criac,;ao da norma penal como tambem por ocasHio de sua aplicac;ao". Logicamente, neste ultimo contexto (aplicac,;ao da lei penal), encon­tra-se a execuc,;ao penal. Por isso, cabe ao Conselho Nacional de Polftica Criminal e Penitenciciria "propor diretrizes da politica criminal", vale dizer, como a Poder Publico devecombateracriminalidadeepreveni-Ia. Dentre suas atribuic,;oes, encontra-seavaliar periodicamente osistema criminal brasileiro para a sua adequac;ao as necessidades do Pais Cart. 64, III, LEP).

169. Regrassobrearquiteturaecons­tru\=ao de estabelecimentos penais: 0

dispostono inciso VI do art. 64, cuidando das incumbencias do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciaria, e, visivelmente, suplementar aos preceitos estabe1ecidos pela Lei de Execw;ao Penal. Nao tem-e nao pode ter-oreferido Con­se1ho podernonnativo acimade lei federal emanadado Congresso Nacional. Porisso, embora possa fixar regras sabre a estrutura do presidio e da casa do albergado, deve pautar-se pelos criterios legais.

Capitulo III Do juizo da execUl;ao

Art. 65. A execUI;ao penal competira ao juiz indicado na lei local de organiza­c;ao judiciaria e, na sua ausencia, ao da sentenc;a.170

170. Juizo da execu~ao penal: ja fi­zemos referencia a organizac,;ao judiciaria atual, que possui 0 prop6sito nftido de criar e instalar Varasespecializadas em execuc,;ao penal por todo 0 Brasil. Por isso, ao menos nos grandes centres urbanos, a execuc,;ao

da pena nao ficara a cargo do juiz da sen­tenc,;a, como mencionado no art. 65, parte final. Entretanto, em Comarcas menores, especialmente as de entrancia inicial, onde pode existirapenas uma Vara, enatural que o mesmo juiz que condena seja, igualmente, o responsavel pela execuc,;ao da pena.

Art. 66. Compete ao juiz da execu­c;ao:171

1- aplicar aos casos julgadoslei posterior que de qualquer modo favorecer 0 conde­nado;172.173

II - ?eclarar extinta a punibilidade; 174

111- decidir sobre:

a) soma ou unificac;ao de penas;17S

b) progressao ou regressao nos regi-mes;176

c) detrac;ao177 e remi~ao da pena;178

d) suspensao condicional da pena;179

e) livramento condicional;l80

f) incidentes da execuc;ao;181

IV - ~utorizar safdas temporarias;182

V - determinar:

a) a forma de cump~imento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execu­<;ao; 181

b) a conversao da pena restritiva de direi­tos e de multa em privativa de Iiberdade;184

c) a conversao da pena privativa de liber­dade em restritiva de direitos;185

d) a aplicac;ao da medida de seguranc;a, bem como a substituic;ao da pena por medida de seguranc;a; 186

e) a revogac;ao da medida de seguran­c;a;187.

f) a desinternac;ao e 0 restabelecimento da situac;ao anterior;188

g) 0 cumprimento de pena ou medida de seguranc;a em outra comar.ca; 189

h) a remoc;ao do condenado na hipotese prevista no § 1.° do art. 86 desta Lei;190

VI - zelar pelo correto cumprimento da pen a e da medida de seguranc;a;191

Leis Penais e Processuais Pellais Comentadas

Execuc;ao Penal

VI1 - inspecionar, mensalmente, os esta­belecimentos penais, tomando providencias para 0 adequado funcionamento e promo­vendo, quando for 0 caso, a apurac;ao de responsabilidade; 192

VI1I - interditar, no todo au em parte, estabelecimento penal que estiver funcio­nando em condi<;6es inadequadas ou com infringencia aos dispositivos desta Lei;193·

IX - compor e instalar 0 Conselho da Comunidade; 194

X - emitir anualmente atestado de pen a a cumprir.195

171. Execu~ao penal jurisdicionali­zada: como mencionado na nota 3 ao art. 1.0, a execm;ao penal, no Brasil, e, basica­mente, atividade jurisdicional. Cabe ao magistrado conduzi-Ia e fiscalizar 0 escor­reito cumprimento da pena, bern como os estabelecimentos penais. Secundariamerite, porem naomenos importante, estaaatuac;ao do Poder Executivo, encarregado de criar, sustentar, controlar e organizar a estrutura dos presidios.

172. Aplica~o da lei penal rnais favo­ravel: esta e uma das principais atividades do juiz da execuc;ao penal, que, alias,ja deu margem a muita discussao - e continua gerando - no campo academico e mesmo no ambito dos tribunais quanto a amplitu­,de da competencia de refonna de decisoes condenat6rias definitivas. Primeiramente, cabe lembrar ser preceito constitucional a retroatividade da lei penal bene fica (art. 5.°, XL, CF). No mesmosentido, dispoe 0 art. 2.°, panigrafo unieo, do C6digo Penal que "a lei posterior, quede qualquermodo favorecer 0

agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentenc,;a condenat6ria transitada em julgado". Tern 0 juiz da exe­cuc;ao penal, portanto~ competencia para modificar qualquer decisao condenat6ria definitiva, adaptando-a a nova lei'penal benigna. As criticas feitas a essa atribuic;ao

podem advir de parce1a da doutrina, incon­formada, por exemplo, com 0 fato de 0 juiz de primeire grau poder alteraruma decisao proveniente de tribunalsuperior. Pensamos seracertada a posic;ao consagrada majorita­riamente najurisprudencia e reconhecida em lei no inciso I deste artigo, bern como pela Surnula 611 do STF C"Transitada em julgado asentenc;a condenat6ria, competeao jUlzo das execu~6es a aplicac;ao de lei mais benigna"). Nao ha que seconsiderar a juiz da execuc;ao urn super-juiz.; ao contra rio, tomemos como parametro 0 interesse do condenado e a celeridade do processo, hoje preceito constitucionalmente previsto (art. 5.0

, LXXVlIl, CF). Se urn Acordao proferir decisao condenat6ria, fixando a pena ao reu, advindo lei posterior benefica, cabeao juiz da execuc,;ao penal aplica-Ia, ·revendo a pena aplicada a luzda nova legislac;ao. Nao nos esque~amos que ha possibilidade de a parte inconformada com a nova decisao recorrer a superior instancia, ate 0 limite previsto pelo sistema recursal patrio. Por­tanto, embora 0 magistradodeprimeiro grau fac;a a adaptac,;ao da pena ou dos beneficios penais a novel realidade juridica, nao estara proferindo decisao finale definitiva. Sujei­ta a reavaliac,;ao dos tribunais superiores, respeita-se a celeridade e reve-se a pena com maior facilidade. E 16gico que, nao havendo recurso nem do condenado, nem do Ministerio Publico, consolida-sea nova pena aplicada pelo juiz da execuc;ao penal, como se fosseuma autentica revisClo criminal do julgado anterior. Mas tal sistematica nao nos parece estranha, ate pelo fato de que a coisa julgada no ambito criminal e maleave1, ao menos no que toca a fase de execu~ao da pena. 0 preso inicia, par exemplo, 0

cumprimento da pena no regime fechado, pois assim determinou 0 tribunal, mas, algum tempo depois, por avaHac;3.o do juiz da execuc,;ao penal, pode passar ao semi­aberto e, na sequencia, ao aberto. Pode,

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aincia, regredir do regime semi-aberto au aberto ao fechado. Soboutro aspecto, tema possibilidade de reduiir 0 montante da pena por meio da remil;ao, ao mesmo tempo em que pode receber de volta as dias remidos caso corneta falta grave. Em suma, a pena e cumprida de modo individualizado, mI0 havendo·um titulo consolidado para seI executado. Nao tetia sentido 0 condenado se dirigir ao Supremo Tribunal Federal, solicitando a aplicar;ao da lei penal mais favortivel recem editada somente porque esta Corte canheceu reCUISO extraordimirio de uma das partes e alterou algum ponto referente a pena aplicada. Seria esta, sem duvida;'a decisao em execur;ao, mas a sua modificar;ao pela juiz de primeiro grau e somente conseqiiencia natural do siste­ma legal, nao implicando em subversao da hierarquia jurisdicionaL Nao se esta ingressando no merito da decisao do STF, proferindo outra, simplesmente porque o magistrado da execu~ao penal formou convic~ao em sentido contrario. 0 que ha, na realidade, e a muta<;ao legislativa, surgindo, pais, Jato integralmente novo, proporcionando ao juiz de primeiro grau refonnular, a luz da lei, 0 julgado em rela\iio a pena. Naturalmente, podeniinvadiraseara de avalia~ao dos fatos, quando a novaJei impuser tal medida. Exemplo: cria-se nova atenuante ou causa de diminuic,;ao da pena. o juiz da execuc,;ao penal podera aplica-la, caso entenda presente ao caso concreto. Se 0 fizer, modificani a pena imposta peIo jufzo ou tribunal. Acaso entenda imperti­nente, negara a aplicac,;ao e dara margem a recurso.Sintetizando,cremosperfeitamente adequado ao sistema criminal brasileiro 0

disposto no art. 66, I, desta Lei. Ilustrando com situa~ao recente: a Lei 11.343/2006 - nova Lei de T6xicos - eliminou; com­pletamente; a pena de prisao ao usuatio de drogas (art.. 28). Ora, e natural que os eondenados com base no antigo art. 16 da

Lei 6.368176 que estejam cumprindo pena privativa de liberdade, em qualquerregime, irao reeeber, por parte do juiz da execuc,;ao penal, a adaptac,;ao imediata aos criterios cia nova lei. Com certeza, deixarao 0 careere. Podemsersubmetidos, confonne asituac,;ao concreta, a outras medidas (advertencia, prestac,;ao de servic,;os a comunidade ou freqllencia a cursos), mas tambem podem ter sua punibilidade extinta. Imaginemos duas hip6teses: a) 0 condenado, com baseno art. 16, iria iniciar 0 cumprimento da pena de urn ana de detenc,;ao, em regime aberto. Nao mais 0 fani. 0 juiz da execu~ao penal promoveraasubstituic,;iio da pena privativa de liberdade por uma das prevista,s no an. 28 da Lei 11.343/2006. E pouco importase aquela pena de urn ana de detenc,;ao adveio de juizo de primeiro grau ou do Supremo Tribunal Federal; b) 0 condenado, ·com bas~ no art. 16, foi apenado a dois anos de detenc,;ao, em regime aberto, ja tendo cumprido urn ano. a advento da nova lei fara com que haja a irnediata extinc,;ao da pu­nibilidade, pois nenhuma das penas do art. 28 atinge 0 patamar de urn ano (a prestac,;ao de servic,;os a comunidade e a freqllencia a cursos, no maximo, atingem 10 meses) e ele ja cumpriu urn ano.

173. Momento de aplicac;ao da lei penal benetica: evi<;lentemente, se uma nova)ei penal entra em vigor durante 0

processo de conhecimento, cabe 0 juiz, por ocasHio dasentenc,;a, emcaso de condenac,;ao, aplicara norma mais benefica. Entretanto, havendo 0 transito em julgado, como ja expusemos na nota. anterior, e competen­te 0 juiz da execw;ao penal. Porem, para que 0 fac;a, torna-se imperioso 0 inicio da execuc,;ao, 0 que se faz com a expedic;ao da guia de recolhimento (art. 105, LEP) , em virtude da prisao. Conferir: ST]: "Hornicfdio qualificado-Desclassificac;ao para tOTtura em face da superveniencia de lei, em tese,

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

mais benefica - Pedido formulado em sede de habeas corpus - Inadmissibilidade, em raziio da necessidade de revolvimento do conjunto fatico-probat6rio- Decisao con­denat6ria, ademais, transitada em julgado _ QuesWes de competencia exclusiva do JUlzodas Execuc;5es Penais. Encontrando-se encerrada a discussao da mateiia na instan­cia ordinaria, com 0 transito em julgado da condenac;ao, compete exclusivamente ao Juizo das Execuc,;6es, a teor do disposto no enunciado daSumula 611 do STF, aaplica9io de lei posterior mais benefica. Nao lla como se analisaro pedido ora postulado. relativo a desdassificac,;ao do delito de homiddio qualificado para 0 de tortura, emsede de ha­beas corpus, porquanto·seria necessario para ° exame da pretens~o, a incursao nalseara probat6ria dos fatos, para que, tao-somente ap6s a apreciac;ao da prova produzida na instruc,;ao, pudess·e, se.£osse 0 caso, aplicar­sea leimais benefica" (RHC 17.737-SP, 5.' T., rela. Laurita Vai,18.08.200S, v.u., DJU 03.10.2005, RT 844/528).

174. Extinc;ao da punibilidade: tanto ojuiz do processo de conheCimento pode chegar a essa decisao (ex.: prescri~ao· q.a pretensao punitiva), como 0 magistrado da execuc,;ao penal (ex.: prescri<;ao da·pre­tem;ao execut6ria) .. Aljas, va1e ressaltar que as causas de extinc;ao da punibilidade sao variaqas (art. 107, c.P, e outras previstasna Parte Especial do C6digo Penal, bem·como em leis especiais), motivo pelQ qual ~ sua ocorrencia pode dar-se somen.te na fas~. de execuc;ao da pena ()u apenas se .consegue detecta-la nesse estagio. autro p~nto in­teressante e a aboUlia criminis. Se urpa lei posterior deixa de considerar crime deter­minada conduta, a aplicac,;ao da nova lei pelo juiz da e~ecuc,;ao penal (art. 66, inciso 1) termina por levar a .imediata extinc,;ao da punibilidade. Ex.: a Lei 11.106/2005 descriminalizou a seduc;ao (art. 217, CP).

Dessa forma, se algum condenado por tal crime, a e.poca da sua entrada em vigor, estivesse preso ou cumprindo pena em liberdade, seria imediatamente liberado, julgando-se extinta sua punibilidade (art. 107 ,m, CP).

, 17.5. Soma e unifica~ao de penas: esta e uma ativi4..~d.e pri~ordial do jl.1iz oa execm;ao penat einb~r~.o magistradQ da condenac,;ao tambem possa faze-lo. Asoma .d~s .penas de~orre do disposto no art. 69 do C6digo Penal: quando 0 agente comete varios delitos, dec;:orrenteS d~varia~as a~oes ou omissoes, deve haver a somat6ria das penas aplicadas, resultando num montan­te global a cumprir. Em ,0Ulras palavras, no sistema criminal.bra:;ileiro, 0 agente niio cumpre duas penas de cinco anos de reclusao, mas, sim, dez.anos de redusiio (resultado dasoma dasduaspenas), 0 juiz da cpndena~ao~ quando julga em conjunto os dois delitos, fani essa soma. Entretanto, se cada uma delas advier de urn juiz diferen­te, cabe ao magistrado da execuc,;ao penal providenciar a soma (na pni,tica, faz~se essa soma automaticamente, ouseja-, cada nova pena recebida na Vara de ExecU(;ao Penal e acrescida no total, pois ha procedimento informatizado para 0 caleulo, na rnaio.ria das Comarcas). A unificac,;ao dizrespeito aos artigos 70, 71 e 75. Unijicarsignifica trans­fonnarvariascbisasem umas6. Emmateria de execuc,;ao penal, deve 0 juiz transformar varios tftulos executivos (variaspenas) em ums6. Assirn procedera quando constatar ter havido concur;so formal (art. 70, CP), crime cantinuado (art. 71) ou supera(:ao do limite.de3.G .anos (art. 75, CP). a concurso fonnal e, nonnalmente, constatado pelo juiz da condenac,;ao. Dificilmente,.Gaberaaoma­gistrado da execU/;ao penal essa.avaliac,;ao. a crime continuado, no entanto,.e. muito mais comum. Ex.: 0 autor de varios furtos e condenado a 15 anos de reclusao, como

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derivac;ao de perras aplicadas' por juizos diferentes. Durante a execw;ao, constata­se que os furtes cometidos, na verdade, constituem exatamente a hipotese prevista no art. 71 do C6digo Penal. Cabe ao juiz da execuc;ao penal a unificac;ao, podendo transformar a anteriorpena de 15 anas em apenas 2 arras, por exemplo. Quanta ao art. 75, § 1.°, do Codigo Penal, a unificac;ao se faz somente para 'eJeito de impedir que 0

condenadocumpramaisde30anos,:maSuao se relaciona aas beneficios penais (maiores detalhes, vera nota"138 ao art. 75 do nosso C6digo Penal comentado).

176. Progressaoe regressao nos re­gimes: cuida-se de aspecto intimamente ligado aD principia constitutional da indi­vidualizac;ao executoria da pena. Da mesma fonna que a pena sofre alterac;:oes ao longo do seu cumprimento, podendodiminuir (ex: induIto, remir;ao), tambem pode voltar ao patamar anterior (ex.: em caso da pnitica de falta grave, as dias remidosserao desconsi­derados). Nessa etica, devemos reIembrar que 0 regime de cumprimento tambem faz parte da individualizar;ao da pena. A opr;ao peIo regime fechado, semi-aberto au aberto e, legalmente regrada (art. 33, § 2.°, CPl. Apos a escolha, cuidando-se de regime mais gravoso (fechado ou semi-aberto), tern a condenado 0 direito a progressao, apes cumprir urn sexto e desde que tenha merecimento. Maiores detalhes, des en­volvemos nas notas 16 a 22-A ao arlo 33 do nosso C6digo Penal comentado. Por outro lado, ainda que consiga atingir 0 regime mais brando (aberto), podent 0 condenado regredir, isto e, ser conduzido a regime mais severo. Tal situar;ao ocorrenise as condic;6es do regime atual nao forem corretamente cumpridas ou outra incompatibilidade ad­vier (ver 0 art. U8 desta Lei). A regressao se fani, conforme 0 prudente criterio do magistrado, para a regime imediatamente

anterior (aberto ao semi-aherto) ou por saIto (aherto ao [echado), dependendo do caso concreto.

177. Detrac;ao: e a contagem no tempo da pena privativa de liberdade e da,medida de seguranr;a (neste ultimo caso, emre1ac;ao ao prazo minimo, pois nao ha maximo) ~o perfodo em que 0 condenado ficou detido em prisao proviso ria, no Brasil au no ex­terior, bern como do tempo de prisao ad­ministrativa e 0 de intemac;ao em hospital de custodia e tratamento (art. 42,CP). 0 calculo da detrar;ao se da automaticamente. Assim que 0 processo de execuc;ao e cadas­trado peIo setor competente do cartorio, ha programas especificos de software que promovem 0 desconto na pena do tempo de prisao cautelar. Algumas questcSes mais polemicas sobredetrar;aopodemser levadas ao conhecimento do juiz, como, par exem­plo, se deve haver lig~c;ao entre a prisao provisoria e a pena aplicada (consultar a nota 61 ao arlo 12 do nosso C6digo Penal comentado).

178. Remic;ao da pena: e 0 desconto de dias de pena em func;ao do frahalho desenvolvido pelo condenado. Consultar os artigos 126 a 130 desta Lei.

179. Suspensao candidonal da pena: normalmente, cabe ao juiz da condenac;ao deliberar sobre a concessao ou nao do sur­sis. Em caso de deferimento, devem ser estabelecidas as condic;oes as quais ficara sujeito 0 condenado (nao ha mais sursis incondicionado). Excepcionalmente, entre­tanto, pode 0 juiz da exetur;ao penal cuidar da suspensao condicional da pena. UIDa dessas situar;oes esta descrita no arlo 159, § 2.°, desta Lei, quando Tribunal concede o sursis e confere ao juiz da execuc;ao penal a incumbencia de estabelecer as condi­r;6es. Outro exemplo advem da ausencia do condenado na audH~ncia admonitoria,

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

ExecUI;ao Penal

que acarrete'3 perda de efeito do sursis. l'osteriormente, verificando-se que ele nao compareceu, pois nao foi corretamente intimado, quem restabelece, a beneficio e o juiz da execuc;ao penaL E viavel, ainda, a Ulodifica.;ao das condic;6es anteriormente fixadas (art. 158, § 2.°, LEP).

180. Livramento condicional: euma roedida de politica criminal, cuja finalida­de e antecipar a libertar;ao do condenado, medi~nte 0 preenchimento de ,certos Ie.., quisitos e a cumprim.ento de determinadas condic;6es. Ver os artigos 131 a 146 desta Lei, bern como os artigos 83 a 90 ~o Codigo Penal.

181. Incidentes da execuc;ao: os no­minados par esta Lei sao .os seguintes: a) conversao da pena privativa de liherdade em restritiva de direitos (arlo 180, LEP) au a contrario (art. 181, LEP), bern 'como da pena em medida de seguranc;a (art. 183, LEP). ~ode-se, ain~a, converter 0 trata­menta arribulatorial em internac;ao (art. 184: LEP): Cremos existirem,ainda, os incidentes inominados. Como exemplos, dtamos a reconversao da medida de segu­ranc;a em pena, quandoD condenado estiver curado (cons~ltaranota 10-Aao art. 97 do nosso C6digo Penal comentado), bern c01:11o a desinternac;ao progressiva, que significa a transferencia da pessoa sujeita a medida de seguranc;a de internar;ao ao tratamento ambulatorial (ver a nota 19 ao art. 97 do noss6 C6digo Penal comentado).

182. Safda temporaria e outras sa­fdas: a saida tempordria e urn beneficio destinado aos presos em regimesemi-aberto, conforme previsao feita pelos artigos 122 a 125 desta Lei, para os quais remetemos 0

lei tor. Entretanto, embora nao tenhacons­tado no art..66, IV, da Lei de Execu~ao Pe­nal, a competencia do juiz para conceder, igualmente, a pennissdo desaida (arts. 120

e 121, LEP), e natural que tambem e de sua atribuic;ao tal medida.

183. Forma e fiscaliza~ao da pe~a restritiva de direitos: cabe ao juiz da exe­cw;ao penal alterar, quando for convenien te, nos termos do art. 148 desta Lei, a Jonna de cumprimento da pena de prestac;ao de servic;os a comunidade e da li~itar;ao de fim de semana, dependendo das condir;oes pessoais de cada sentenciado. 0 metodo de fiscalizac;ao tambem podeser, livremente, modificado.

184. Conversao em prisao: somente se admite a conversao da pena restritiva de direitos quando nao cumprida satisfatoria­mente ouse houver,o advento de fato novo (consultaro art. 181 destaLei). Amultanao m~is podeser convertida em prisao, em face da modifica<;ao do art. 51 do Codigo Penal, realizada p~la Lei 9.268/96. Passou a pena pecuniaria, quando transitada em julgado, a ser considerada divida de valor, sujeita a execuc;ao como se Fosse dividaativa daFa­zendapablica. Logo, inexiste possihilidade juridica de converte-Ia em pena privativa de liberdade, mesmo que nao seja proposita­damente paga pelo condenado. 0 maximo que 0 Estado pode fazer e providenciar-a execuc;ao forc;ada, buscando' a penhora e venda de bens em hasta publica.

185. Conversao da prisao em restri­c;ao de direitos: emboraconstituasituar;ao rara, durante a execuc;ao da pena, e auto­rizada peIo art. 180 desta Lei, para 0 qual remetemos 0 lei tor.

186. Medida de seguran~a, pen a e substitui<;ao: e natural que 0 juiz da exe­cw;ao penal seja 0 encarregado de fazer cumprira medida deseguranr;a aplicada peIo juiz do processo de conhecimento. Afina1, cuida-se de uma modalidade de sanc;ao penal da alr;ada da Justir;a Criminal. Por

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Dutro lada, cabe~lhe"tambem. providenciar,. quando foro casa, preeilchidos as requisitos legais, a substituic;ao da pena privativa de liberd~de por medida de seguranc;a. Nesse contexto, remetemos-6 leitar aoo? comenta­rios formulados ao art. 183 desta-Lei.

187. Revoga~iloda medidade segu­ran~: revogarsignifica invalidar,. tornarsem efeito._O tenno foiutilizado em relac;ao a medida deseguranc;a porse ttatar de sanc;ao penal de natureza_diversa da pena. Esta, quando cumprida, da margem a extinc;ao da punibilidade, au seja, 0 Estado ve ces­sado d'seu direlto -de pi.mir' em relac;ao ao candenado. A medida de seguranc;a, pot seu tunlo, tern finalidade predpiia de curar 0; interne ou paciente em tratamento ainbula­lorial. Co'nsegtiido 0 intento, 0 magistrado libera oindividuo, para, decorrido 0 prazo de urn ana (art. 97, § 3.°, CP), sem novas intercorrencias, revogar em definitivo a medida iinposta.

188. Desinternac;ao,e retorno: cessa­daapericulosidade,deveapessoasubmetida ao regime de interna~ao ser lib~rada q:mdi­cionalmente (art. 97, §3.o, CP,c.c. art. 178, LEP). Caso nao (;umpra,satisfatoriamente as condi~oes impostas para manter-se em_ liberdade, cabe ~o J~liz da execU/;ao penal determinar a sua recondu~ao ao hospital de cust6dia e tratamento.

189. Autorizac;ao de transferencia de preso: a lei e. clara ao preceitu,ar ser da competeucia do juiz da execur;a.o p~nal do fugar oude se encontra 0 condenado autorizar a sua transferencia para outra Comarca ou outro presidio, a fimde cumprir sua pena ou medida de seguranr;a. Muitas vezes, 0 Poder Executivo atropela desse dispositivo, transfere 0 preso, alegartdo razoes de seguran~a, comunicando ao juizo e, praticamente, pedindo a homologa(iiO do que ja se consolidou. Lembremos que

a execU/;ao da pena e urn procedimento misto, mas precipuamente jurisdicional;: logo, nao tern cabimentd que 0 ]udichirio tolere esse tipo de metodo.

1 '0. Remo~ilo do condenado con­siderado perigoso: da mesma forma, para que urn sentenciado seja transferido para urn presidio federal, distante, pois, do local da condenar;ao, e. fundamental haver de­tennina~ao judicial a respeito. Reitenimos as-obseniar;6es feitas_na nota anterior, j::i que nao sao raras as vezes em que 0 Poder Pliblico, antes de ouvir 0 juiz da execur;ao penal, transfere 0 preso para outro estabe­lecimento penal, 0 que se afigura conduta ilegal.

191. Fiscaliza~ilo daexecu~ilo perial: o juiz da execU/;;ao penal e, tambem, 0 cor­regedor do' presidio, val~ di'zer, 0 fiscal da correta execur;ao da pena e da medida de seguram;a. Ali::is,justa!Uente porisso, tema obrigar;ao de inspecionar, periodicamente, os estabelecimentOs penais- incluido nesse contexto· os hospitais de custodia e trata­mento - como vern disposto no inciso VII segui~te. Deve exercera fun~ao fiscalizadora valendo-se do seu born senso e prudente criterio, atemesmopani avaliara lotar;ao (ou superlotar;ao) 40 estabelecimento penaL Se encontrar excesso, 0 cami!lho e proinover a interdic;ao "do rderido estabelecimento, como estipulado' no inciso VIII do mesmo art. 66. Conferir: ST]: "Cumpre ao]uiz das Execu~6es, a luz da norma insculpida no art. 66, VI, da LEP, que lhe reclama zelo peIo correto cumprimento da pena, decidir sobre a questao da inexistencia de vaga ou de estabelecimento adequado, adotando providencias para ajustamentq da execu­r;ao da pena ao comando da sentenr;a. A inexistencia de estabelecimento adequado ao regime de pena prisional estabelecido no decreto condenatorio deveser levada pelo

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execw;ao Penal

sentenciado ao ]uizo de Execuc;ao Criminal, que cabe, porprimeiro, decidira questao. 0 direitosubjetivo do sentenciado ao c.umpri­mento cia pena prisional em regime inicial diverso do estabelecido no decisum conde­nat6rio, produzido pela inexistencia de vaga em estabelecimento adequado, tern como elemento de seu suporte fatico a sua prisao, sem a qual, por 6bvio, nao se constitui, ate diante da dinamica da execuc;ao das penas prisionais, na forr;a da incoincidencia das suas durar;oes. A questao de falta devaga h::i de ser sempre decidida em concreto e nao em antecipar;ao abstrata"(HC 29 .668-SF, 6. a

T .• reI. Hamilton Carvalhido, 18.08.2005, v. U., D]U 14.11.2005, RT 846/529).

192. Inspec;ao: e atribuic;ao do juiz da execuc;ao penal, com a func;ao de corre­gedoria do presidio, visitar, mensalmente -em casos excepcionais (rebeli6es, motins, [ugas, interdic;oes etc.), em periodos mais dilatados - os estabelecimentos penais da sua regiao. Verificando alguma incorre­c;ao, cabe-lhe tomar as providencias para sanar 0 erro ou defeito, oficiando, se for 0

caso, para a autoridade do Poder Execu tivo competente. 0 disposto neste incisoexpoe, ainda, a obrigar;ao de se tomar providencia para a apura{:Qo de responsabilidade. Tal medida se daria em caso de se verificar a pr::itica de crime (ex.: corrup~ao, tottura, malis-tratos etc.), quando teria competencia para requisitar a instaurar;ao de inquerito policial. Nomais,seafaltase concentrarno ambito funcional, nao cabe ao magistrado promover a apurac;ao, mas, sim, oficiar a quem de direito, na orbita do Poder Exe­cutivo, para que tal via se concretize.

193. Interdi~ilo do estabelecimento penal: nota-se ser essa uma atribuh;ao do juiz da execuc;ao penal, mormente quando for, tambem,o corregedordopresidio. Pare­ce-nos seruma medida de ordem jurisdicio-

nal enao de can iter administrativo, atepelo fato de nao ter 0 magistrado atuac;ao nesse campo. Sua atividade, como integrante do Poder ]udici::irio, e jurisdicional. Por isso; soa-nos incompreensivel que, em ceItos Estados, haja a obrigac;ao de 0 juiz,da exe­cur;ao penal, quando promovera interdic;ao de urn estabelecill1ento pe~al que estiver funcionand6 em preciriaScondiC;6es, aguar­dar a consolidac;ao dasua decisaopor orgao superior do Tribunalao qual esta Vinculado, como, porexemplo, do Cortegedor':'Geral da ] usth;a ou do Presidehte do Tribunal. Ora, determinada a interdir;ao, se -com ela nao estiver de acordo 0 Executivo ou qualquer outro interessado (Ministerio Publico au presos do local), 0 mecanisrrio carreto e 6 agravo. Este, por sua vez, deve ser julgado por Camara OU Turma do Tribunal, mas nao nos parece adequado que urn dirigente do Tribunal assuma a taIda de verificar se est::i. certo ou errado 0 magistrado. Se esta e uma decisao de cunho jlirisdicional, nao cabe a interferencia da cupula do Tribunal. E insistimos: nao se pode considera~la uma decisao meramente administrativa, pois 0

juiz nao tern, no ex:ercicio d.a sua func;ao, nenhum Harne com 0 .~xec;utiv:o, de modo a servir de fiscal do Governador para saberse as unidades pris'ionais atuam a cqntento. E o ~agistrado urn fiscal da ex~cu(QO ~a pena e defensor da lei e dos con9-enados, pOllco interessando a eventu~lc~nveni~nda''do Poder Publico em manter em funciona­mento urn lugar totalmente inapropriado aos fins aos quais se destina:

194. Compor e instalar 0 Conselho da Comunidade: 0 orgao colegiado vern descrito, como orgao da execuc;ao penal, no art. 61, VII. Sua composir;ao esuas atri­buic;oes constam nos arts. 80 e 81. Cabe ao juiz organiza-Io, -indicando seus membros, valendo-se dos criterios legais (art. 80), bern como promovendo 0 seu funcionamento.

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Nao nos parece cleva integni-lo. pais uma das atribuic;6es do Conselho e apresen­tar relatorios mensais ao juiz da execur;ao (eqllidistante, pais) sabre suas atividades. Logo, 0 magistrado apenas organizaria 0

Conselho da Comunidade, deixando-o livre para atuar.

195. Emitiratestado de pena: caoeao juiz determinarao cartorio que providencie o calculo total da pena do condenado, ao menos uma vez porana, emitindo, depois, umatestado queseni enviado ao mteressado. Este, por sua vez, manter-se-a informado acerca do cumprimento da sua pena, po­dendo, inclusive, fazer requerimentos de beneficios em geral.

Capitulo IV

DO MINISTERIO PUBLICO

Art. 67. 0 Minish~rio Publico fiscalizara a execu~ao da pena e da medida de segu­ran<;a, oficiando no processo executivo enos incidentes da execuc;ao. '96

196. MinisterioPublicocomofiscale parte na execw;ao penal: caQe, fundamen­talmente, ao representante do Ministerio Publico fiscalizar todo 0 andamento da execu~ao penal a te que seja dec1arada extinta a punibilidadedocondenado. Normalmen­te, a execw;ao inicia-se por determina~ao judicial,serri necessidade de pravoca~ao de qualquerinteressado, muito embora 0 art. 195 legitime, para esse fim, tanto 0 6rgao do Ministerio Publico quanta a condenado ou quem 0 represente (conjuge, parenteou des­cendente), alemdo Conselho Penitencitirio eda autoridadeadministrativa (entenda-se a que for responsavel pela administra~ao penitenciaria). E evidente que, se ha de fiscalizar e oficiar no pracesso executivo, alem de faze-Io nos incidentes, torna-se

dispensavel enumerar, ponto par pOnto, das suas atribui~5es, como se ve no art. 68 desta Lei.

Art. 68. lncumbe, ainda, ao Ministerio Publico: '97

I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;

11 - requerer: a) todas as providencias necessarias ao

desenvolvimento do processo executivo;

b) a instaurac;ao dos incidentes de exces-50 ou desvio de execuc;ao;

c) a aplicac;ao de medida de seguranc;a, bern como a substituic;ao da pena por medida de seguranc;a;

d) a revogac;ao da medida de seguran­c;a;

e) a conversao de pena, a progressao ou regressao nos regimes e a revogac;ao da sus­pensao condicional da pen a e do livramento condicional; . .

f) a internac;ao, a desi8ternac;ao e 0 res­tabelecimento da situac;ao anterior;

111 - interpor recursos de decis6es pro­feridas pela autoridade fudiciaria, durante a execuc;ao.

Paragrafo unico. a argao do Ministerio Publico visitara mensalmente os estabeleci­mentos penais, registrando a sua present;;a em livro proprio. '98

197. Rol deatribuic;6es: como se men­danou na nota anterior, se cabe ao Minis­terio Publico fiscalizar a exeeu~ao penal, oficiando no processo enos incidentes, e mais do que 6bvio poder requerer todas as providencias enumeradas neste artigo. Desnecessario, pois, elenea-Ias. Diga-se mais: alem das possibilidades previstas no art. 68, que eral exemplificativo,.muito mais pode eompetir ao membra da Institui~ao, como, por exemplo, requerer, em favor do condenado, a concessao de livramento condidonal, quando julgar cabiveL

471 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

198. Visita aos estabelecimentos penais: do mesmo modo que 0 juiz (art. 66, VII, LEP), incumbe ao representante do Ministerio Publico visitar , mensalmente, oS presidios dasua area de atuar;ao para que possa tomar conhecimento da situa~ao e promover as medidas apropriadas parafazer eessar eventuais abusos e irregularidades.

Capitulo V

DO CONSELHO PENITENCIARIO

Art. 69. a Conselho Penitenciario e argao consultivo e fiscalizador da execu~ao da pena.

§ 1.00 Conselho sera integrado por mem­bros nomeados pelo governador do Estado, do Oistrito Federal e dos Territorios, dentre professores e profissionais da area de Oireito Penal, Processual Penal, Penitenciario e cien­das correlatas, bern como par representantes da comunidade: A legisla\ao federal e esta­dual regulara 0 seu funcionamento. ' ''9

§ 2.0 0 mandato dos membros do Con­selho Penitenciario tera a dura\ao de quatro anos.

199., Composi~ao do Conselho Pe­nitenciario: somente para exemplificar, no Estado de Sao Paulo, compoe-se de vinte membras efetivos, designadas pdo Gover­nador do Estado: a) seis medicos psiquia­tras, indicados peIo Conselho Regional de Medicina do Estado de Sao Paulo; b) quatra Procuradores deJusti~a, indicados pelo Pracurador Geral deJusti~a do Estado; c) dois Procuradoresda Republica, indicados pelo Procurador Geral da Republica; d) quatra Advogados, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil- Sec;ao Sao Pau­lo, sendo 2 (dais) deles na qualidade de representantes da comunidade; e) dois Procuradores do Estado, da Procuradoria de Assistencia Judiciaria, indicados pelo Proeurador Geral do Estado; 0 dois Psic6-

logos, indicados pelo Conselho Regional de Psicologia do Estado de Sao Paulo (art. 71, Decreta 46.623/2002, com as altera,6es do Decreto 51.074/2006).

Art. 70. lncumbe ao Conselho Peniten­ciario:2°O

1- emitir parecer sobre indulto e comu­tac;ao de pena/Ol excetuada a hip6tese de pedido de indulto com base no estado de saude do preso;

II - inspecionar os estabelecimentos e servic;os penais;

111- apresentar, no primeiro trimestre de cada ano, ao Conselho Nacional de Poiftica Criminal e Penitenciaria, relat6rio dos traba­Ihos efetuados no exercfcio anterior;

IV - supervisionar os patronatos, bern como a assistencia aos egressos.

200. Ausendano rol dasatribui~oes: cabt ao Conselho Penitenciario emitir pare­cer nos pedidos de livramento condicional (art. 131, LEP), embora neste artiga 70 nada se mencione a esse respeito. A Lei 10.79212003 reformulou a reda,ao do incisa I, retirando aanteriorprevisao para emissao depareceracerca de livramento conditional, mas se esqueceu 0 legislador de modificar todo 0 contexto da Lei de Execu~ao Penal. Por isso, tem-se entendido, nos termos do disposto no art. 131 e seguintes desta Lei, continuaro Conselho Penitendhiovincu­lado a concessao do livramento condicional (apresentando parecer) e a sua fiscaliza~ao. Esse e mais urn exemplo de que reJonnas pontuais introduzidas em C6digos ou Leis Especiais, de modo a~odado e sem estudo aprofundado, causam perplexidade ao ope­rador do Direito no momento de aplica~ao do instituto.

201. Indulto e comuta~ao:oindulta e a perdao concedido pelo Presidente da Republica, por decreto (art. 84, XI!, CF),

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provocando a extin~ao cia punibilidade do condenado (art. 107. II, CP); a comuta<;ao (indulto parcial) e a redw;ao da pena ou sua substitui\=ao por autra, mais branda. sem acarretar a extim;ao cia punibilidade. Na re­alidade, quando 0 Conselho Pen~tenciario e chamado a opinar, 0 Presidenteda Republica ja editou 0 Decreta de Indulto, cabendo ao referida Conselho avaliar se 0 condenado pIee.TIche os seus requisitos. 0 parecer do Conselho nao vincula 0 juiz da execu\=ao penal. Pensamos, com a devida venia, seI urn entrave burocnitico desnecessario ao processo de analise do inqulto.

Capitulo VI

DOS DEPARTAMENTOS PENITENCIARIOS

Se~iio I

Do Departamento' Penitenciario Nacibnal

Art. 71. 0 Departamento Penitenciario Nacional, subordinado· ao Ministerio da Justic;a, e orgao executivo da Polftica Peniten­ciaria Nacional e de apoio administrativo e financeiro do Conselho Na~ional de Polftica Criminal e Penitenciaria.

Art. 72. Sao atribuic;6es do Departamen­to Penitenciario Nacional: 20,2

1'- acompanhar a fiel aplicac;ao das nor­mas de execuc;ao penal em todo 0 territ6rio nacional;

11- inspecionar e fiscalizar periodicamen­te os estabelecimentos e servic;os penais;

III - assistir tecnicamente as unidades federativas na implementac;ao dos princfpios e regras estabelecidos nesta lei;

IV - colaborar com as unidaQes federati­vas, mediante convenios, na implantac;ao de estabelecimentos.e servic:;os penais;

V - colaborar com as unidades federativas para a realizac:;ao de cursos de formac;ao·de

pessoal penitenciario e de ensino profissio_

nalizante do condenado e do intern ado;

VI -estabele·cer, mediante convenios com

a·s unidades federativas, 0 cadastro nacional

das vagas existentes e~ estabelecimentc;>s

locais destinadas ao cumprimento de penas

privatiyas de liberdade aplicadas pela ju~ti<;a

de outra unidade federativa, em especial para

presos sujeitos a regime disciplinar.

Paragrafo unico. Incumbem tambem ao

Departamento a coordenac;3.o e supervisao

dos estabelecimentos penais e de interna­

mento federais.

202. Incumbenciasdo Departamen­

to Penitenciario Nacional: alem do dis­

posto nos artigos 71 e 72, a Portaria n. 156,

de 6 de fevereiro de 2006, db Ministro da

]ustil;a, estabelece seremsuas atribuir;oes:

"planejar e coordenar a polftica peniten­

ciaria nacional" (art. 1.°, I); "processar,

estudar e encaminhar, na forma prevista

em lei, os pedidos de indultos individuais"

(art. 1.°, VIII); "gerir os recursos do Fundo

Penitenciario Nacional- FUNPEN" (art.

I·, IX).

Se~iio II

Do Departamento Penitenciario local

Art. 73. A legislac:;ao local podera criar

Departamento Penitenciario ou orgao similar,

com as atribuic:;6es que estabelecer.

Art. 74. 0 Departamento Penitenciario

local, ou ~rgaa similar,. tem par finalidade

supervisionar e coordenar os es.tabeleci~

mentos pem:j.is da unidade da Federac;aoa

que pertencer.

Leis Pwais £: Proc£:ssuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

Se~iio 111

Da direc;ao e do pessoal dos estabelecimentos penais

Art. 75. 0 ocupante do cargo de dire­tor de estabelecimento devera satisfazer os seguintes requisitos:203

1- ser portador de diploma de nlvel su­perior,de Direito, ou Psicologia, ou Ciencias Sociais, ou Pedagogia, ou Servic;os SOc:iais;

11 - possuir experiencia administrativa na area;

111- ter idoneidade moral e reconhecida aptidao para 0 desempenho ?a fun<;ao.

Paragrafo unieo. 0 diretor devera residir no .estabelecimento, ou nas proximidades, e dedicara tempo integral a sua func;ao.

2{)3. Forma~ao do diretor do esta­beledmento pena~: deve serportador de diploma de nfvel supe~ior em area·logi:' camente ligada aos' aspectos es,senciais· a individualiza\=ao execut6ria'da pena: Di­r.eito, PSicologia, 5ociologia, Pedagogia ou Servir;os Sociais. Lembremos, inclusive, ser ele integrante da Comissao Tecnica de Classifidl\=ao, que emite pareceres sobre a forma de cumprimento da pena e a respd~ to do merecimento do condenado (ver os arts. 7.° e 9.° desla Lei). Exige-se, porcerto, experiencia administrativa na area de esta­belecimentospenais, bemcomo idoneidade moral e aptidao para desempenhar suas funr;oes ..

Art. 76. 0 Quadro do Pessoal Peniten­ciario sera organizado em diferentes cate­gorias funcionais, segundo as necessidades do servic;o, com especificac;ao de atribui­c;6es relativas as func;6es de direc:;ao, chefia e assessoramento do estabelecimento e as demais func;6es.

Art. 77. A escolha do pessoal adminis­trativo, especializado, de instruc;ao tecnica e de vigilancia atendera a vocac;ao, prepa-

ra<;ao profissional e antecedentes pessoais do candidato.204

§ 1.° 0 ingresso do pessoal penitencia­rio, bem como a progressao au a ascensao funcional dependerao de cursos espedficos de formac;ao, proce~endo-se a reciclagem peri6dica dos servidores em exercfcio.

§ 2.° No estabelecimento para mulheres somente se pe.~mitira 0 trabalho de pessoaJ do sexo feminino, salvo quando se tratar de pessoal tecnico especializado.

204. Aspectosacercadaprivatiza~o dos presidios: muito .se fala, hoje em.dia,

conforme ja abordamos anteriormen,t~, a

respeito.da privatizar,;a() dos presidios, entre­

gando-seaini~iativaprivadaacons~\=aoeo

controledos ~tabelecimentos penais. Seria

uma economia para 0 Estadoe possibilitatia

o incremento 40 mlmero de presidios para

aten,der a crescente demanda .. Entretanto,

e preciso modificar a Lei de ExecUl;a.o Pe­

nal. Nota-se, no art. 77, caput e § 1.0, desta

Lei, haver regras para a escolha do pessoal

administrativo, de instru~ao tecnica e de

vigilancia, assim como para a progressao

e ascensao funcionais. Logo, se 0 presfdio

for vigiado e administrado por pessoas

estranhas aos quadros da Administrar;ao

Publica, toma-se imprescindivelhaver leis

especificas e expressas em relar;ao a tais

merodos.

Capitulo VII

Do Patronato

Art. 78. 0 Patronato publico ou par­ticular destina-se a prestar assistencia aos albergados e aos egressos (art. 26).205

205. Conceito de patronato: ver a

nota 162 ao art. 61, VI, supra.

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Art. 79. Incumbe tambem ao Patrona­to: 206

1 - orientar as condenados a pena restri­tiva de direitos;

II - fiscalizar 0 cumprimento das penas de presta<;ao de servic;o a comunidade e de limitac;ao de fim-de semana;

III - colaborar na fiscalizac;ao -do cum­primento das condic;6es da suspensao e do livramento condicional.

206. Incumbenciasdo patronato: tern uma fun<;ao fiscalizadora e social. Nao

Uda com presos; mas'com condenados sol­tos. Pode orientar 0 sentenciado a bern desempenhar a pena restritiva de direites que lhe foi imposta, em especial a presta~ao

de servi~os a comuniclade e a limitat;ao de £lm de semana, sobre as quais possui,

igualmente, a tarefa de fiscalizac;ao. Pode

colaborarna fiscalizar;ao do cumprimento

dascondir;oes impostas para 0 gozo desursis

(muitas vezes, e a prestar;ao de servir;os a comunidade e a limitar;ao de fim desemana)

e do livramento condicionaL Nao deixa

de ser a participar;ao ativa da sociedade no

cumprimento da pena do condenado.

Capitulo VIII

DO CONSElHO DA COMUNIDADE

Art. 80. Havera, em cada comarca, um Conselho da Comunidade, composto, no minimo, par um representante de associa~ao comercial au industrial, um advogado indi­cado pel a se~ao da ordem dos Advogados do Brasil e um assistente social escolhido pel a Oelegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais.207

Paragrafo unico. Na falta da representa­c;ao prevista neste artigo, ficara a criteria do juiz da execuc;ao a escolha dos integrantes do Conselho.

207. Conceito de Conselho da Co­munidade e consjdera~6es: ver a nota 163 ao art. 61. VII, supra.

Art. 81. Incumbe ao Conselho da Co­munidade:208

I - visitar, pelo menDs mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca;

II - entrevistar presos;

111- apresentar relat6rios mensais ao juiz da execuc;ao e ao Conselho Penitenciario;

IV - diligenciar a obtenc;ao de recursos materiais e humanos para melhor assistencia ao preso ou internado, em harmonia com a direc;ao do estabelecimento.

208. Incumbencias do Conselho da Comunidade: alem de ser uma forma de

engajarmembros da sociedadeno processo de ressocializac;ao do preso, ob~erva-se que

as atividades do Conselho diferem do Pa­trona to, porque, enquanto este orgao cuida

de condenados soltos, aquele se volta aos presos. Por isso, impoe a lei que ps mem­bros do Conselho visitem, mensalmente,

os estabelecimentos penais da sua Comar­ca, entrevistem presos - quando poderao

apurar os bons au maus tratos por eles vivenciados-,alemdeapresentarrelatorios

ao juiz da execuc;ao penal e \lO Conselho Penitenciario, demonstrando problemas, propondo solur;oes e registrando desvios

da execur;ao. Deve, ainda, diligenciarpara a obtenr;ao de recursos materiais e huma~ nos para melhor assistir ao preso, desde que 0 far;a em harmonia com a direr;ao do

presidio. Cuida-se de missao relevante, pois sao membros da comunidad.e demandando melhores condir;oes de sustentac;ao para detenninado presidio. Certamente, podem

dirigir-se aos orgaos governamentais em geral (Poderes Executivo e Legislativo).

Leis Pellais e Processuais Penais Comenradas

Titulo IV DOS ESTABElECIMENTOS PENAIS

Capitulo I DlSPOSI<;:OES GERAIS

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido a medida de seguran<;p, ao preso proviso rio e ao egresso.209

§ 1.° A mulher e 0 maior de 60 anos, separadamente, serao recolhidos a estabele­cimento proprio e adequado a sua condi<;ao pessoa l.210

§ 2.° 0 mesmo conjunto arquitet6nico podera abrigar estabelecimentos de des­tina<;ao diversa desde que devidamente isolados.211

209. Destina<;iio dos estabelecimen­tos penais: ao condenado (regimes fechado, semi-aberto e aberto), ao submetido a me­dida de seguranc;a (internado em hospital de custodia de tratamento), ao preso pro­vis6'rio (decorrenda da prisao cautelar) e ao egresso (neste caso, nos tennos do art. 26 desta Lei, seria a pessoa que foi liberada definitivamente do estabelecimento onde se encoiltrava, pelo periodo de urn ano, bern como aquele que for colocado em liberdade condicional). Quanto ao egresso, nao se pode pressupor que os estabeledmentos penais em geral a ele se destinem, pois esta -emliberdade. Entretanto, se considerarmos a periodo de assistencia de dois meses em estabelecimento adequado (art. 25, II. LEP), seria este 0 lugar mencionado no art. 82 compativel com 0 egresso.

21 O. Prote~ao a mulher e ao idoso: cumpre-se 0 dispostono art. 5.°, XLVIII, da Constituic;ao Federal: "a pena sera cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e a sexo do apenado". A separar;ao de homens e

ExecUI;ao Penal

mulheres evita a promiscuidade e as vio­lencias sexuais. Quanto ao idoso, par sua situar;ao mais fragH, no eenario fisico e psicol6gico, e justo terumestabelecimento apropriado para cumprir sua pena, seja ela no regime fechado,semi-aberto ou aberto. Alias, quando estiver em regime aberto, possuindo mais de 70 anos, esta livre da Casa do Albergado, podendo reeelher-se em sua propria resid.encia (e a prisao a lbergue domiciliar) .

211. PreSIdios unkos com nitidas separa~oes: a lei nao impoe que 0 Poder Publico mantenha urn predio isolado para mulheres e outro, em lugar totalmente dis­tinto, para idosos. E viavel que, no mesmo complexo de predios, volteado por uma so muralha, existamdiversospavilhoes ou alas, devidamente isoladas, que possaro abrigar mulheres e pessoas idosas. A tendenda, entre tanto, e a separar;ao eompleta, pois imensos presidios, como ocorreu com a Casa de Detenr;ao de Sao Paulo, que abri­gava cerca de 7.000 presos, demonstra­ram a inviabilidade no contrale e tambem quanta ao progresso para a ressocializac;ao. Tornam-se autenticas cidades, que podem fugir ao controle da administrar;ao geral. Foi completamente desativada.

Art. 83. 0 estabelecimento penal, con­forme a sua natureza, dever~ contar 'em suas dependencias com areas e servi<;os destina­dos a dar assistencia, educa<;ao, trabalho, recrea<;ao e pr<itica esportiva.212

§ 1.° Havera instala<;ao destinacla a esta­gio de estudantes universitarios.

§ 2.° Os estabelecimentos penais desti­nados a mulheres serao dotados de ber<;ario, onde as condenadas possam amamentar seus filhos.213

212. Estabelecimentopenal eservi­c;os oferecidos: presidios nao devem ser

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construidos, organizados-e administrados paradarlucro ao Estado. Infelizmente, lida­se com 0 lada cruel cia sociedade, que e a criminalidade. Se varias pessoas erraram, muitas delas pelas earen-cias impostas pela propria polftica estatal, que Ihes retirou a chance do emprego Heito e as demais beneficios em func;ao disso, tamanda-se condenadas, necessitamdereeduca~ao. Esse e urn processo caro e complexo, motivo peIo qual mi.o vemos com bons olhas nenhuma administrac;ao que se proclama economica no patrocfnio do cumprimento das perras dos presos. Surge, nesse cenaria, como ja abordamos anteriormente, 0 processo de terceirizat;ao de servic;os e ate mesma 0

pensainento de se privatizarpresidios. Na realidade,o estabelecimento penal'cleve funcionar de acordo com 0 disposto 'em lei. No regime fechado, e imperioso existirvaga de trabalho para cada urn dos ptesos, por exemplo. Nao compreendemos e nao- po­demosaceitarque a direr,;ao do presidio, em conjunto com outros organismos estatais, promova a desativar;ao de varios setores do estabelecimento (ex.: cozinha, lavanderia) com 0 fito de terceirizar 0 servir,;o, a pretexto de sairmais barato aos corres publicos. Pode ate ser verdade, mas as postos de traba­Iho desperdir,;ados sao inumeros. Muitos presos podem deixar de exercer qualquer atividadejustamenteporisso. o art. 83, ora em comento, e claro ao determinar que a e~tabelecimento, conforme sua natureza, deve can tar com servit;os de assistencia, educa~ao, trabalho, recrear,;ao e pnitica esportiva ao condenado. E inconcebivelque urn presidio desative a lavanderia,somente para Hustrar, contratando empresas parti­culares para cuidar das roupas dos presos, enquanto varios deles ficam 0 dia todo em plena ociosidade, por total falta de ocupa­cao. 0 dinheiro que 0 Estado diz poupar nessa, rase do cumprimento da pena, com certeza, vai gastar no. futuro, comprando

mais arrnas para a polida, aumentando 0

mlmero de vagas nos carceres e e1evando 0

contingente de policiais. Afinal, se 0 preso forilusoriamentereeducado,podera tornar a liberdade em situar;ao piorada e a crimina­lidadesomente experimentara incremento. Se 0 preso nao aprender a trabalhar e a gostar de viver da forr;a da sua atividade laborativa, nao tera como sobreviver, fora do carcere, de maneira honesta. Logo, retiraros servir;os descritos no art. 83, desta Lei, dos estabelecimentos penais somente merece critica. Lembremos, ainda, que a autorizar;ao para trabalho externo e excepcional e nao a regra. Se se tornar a ·regra, e possivel que o alto prer;o seja pago pela sociedade, pais condenados despreparados voltarn as ruas para continuar cometendo crimes, sob 0

pretexto de estarem trabalhando fora do presidio, pois neste nao ha oferta de labor. o circulo vicioso da economia-terceirizar;ao deservir;os-falha no processo dereed~car;ao precisa ser rompido.

213. Maes presas: 0 § 2." do art. 83 desta Lei e uma decorrencia do disposto no art. 5.°, L, da Constituir;ao Fed,eral: "as presidiarias serao asseguradas condit;oes para que possam permanecer com seus filhos durante 0 penodo de amamentar;ao". Em igualsentido, 0 art. 10 da Lei 8.069/90 preceitua que os "hospitais e demais estabe­lecimentos de atem;ao a saude de gestantes, pllblicos e particulares,sao obrigados: (. .. ) V - manter alojamento conjunto, possibi­litando ao neonato a permanencia junto a mae".

Art. 84. 0 presQ provisorio ficara sepa­rado do condenado por sentenc;a transitada em julgado.214.215

§ 1.° 0 preso primario cumprira pena em sec;ao distinta daquela reservada para os reincidentes.

Leis Penais e Processtta.is Pellais Comentadas

Execuc;ao Penal

. § 2.° 0 preso que,. ao temp,odo fato, era funcionario da administrac;ao da Justir;a cri­minal ficara em dependencia separada. 216

214. Regras de Sepa(a~aO de pre-50S: a disposto no art. 84 desta Lei e, 'nao 'somente sensate 'como' impresdndivel 'para a devida reedubir;ao -de c~da-p;reso, tornando 0 processo de individualizaC;ao execut6ria da pena uma realidade. Nao.~e pode conceber que condenados definiti­'vos compartilhem espar;os ccmjiintos com presos provis6rios. -Estes estao detidos por medida de cautela', sem apurac;ao de culpa farmada, podendo deixar 0 carcere a qual­quermomento, inclusive enidecorrenciade absolvir;ao. Se foremmantidos Juntamente comsentenciados, mormente as perigosos, tendem a absorver defeitos e Ih;6es erro­neas, passiveis de'lhes transformar a vida quando deixarem 0 carc~re. Alem disso, estiio sujeitos a violencias de toda.qrdem, tornando a prisao cautelar uma medida extremamente amarga e, ate mesmo, cruel. Sob outra 6tica, tambem nao tern 0 menor cabimento a mistura, na mesma cela, ou nas mesrnas atividades, do condenadoprimario com 0 reincidente. Este apreserita, sem duvida, maior tendencia a criminalidade, tanto que ja possui condenat;6es variadas. o outro e estreante, podendo nunca mais tomar a delinquir, desde que consiga ser convenientemente reeducado. Para isso, o Estado deve assumir a responsabilidade de nao prejudicar a seu aprendizado, nao permitindo que.conviva com delinquentes habituais, muito. mais distantes de qualquer chance de ressocializa.;ao efetiva. Se urn ou outro preso, reincidente e perigoso, e recalcitrante ao processo educacional que a pena the visa impor, nao pode contami­nar a maioria da popular;ao carceraria, que apresenta condh;6es de melhora, desde que o Estado cumpra a sua parte no metodo impostopor lei. Antes de defendermosque

a pena de prisao esta faliiia, voltemos as olhos a.sverdadeiraS condi.;6es dos carceres

. brasileiros, constatando que,. riasua imensa maioria, nao se cumpre 0 disposto ria Lei de Execur;ao Penal, nem tampouco no C6digo Pen'a!. Portanto, nao se pode teipor Jando o que nunca teve credito. A terceira et'apa

de separa<:ao tern viabilidade e nao afeta a principia da igualdade: -cleve-se' separar dos demais'presos os condenados que eram

ftincionarios daJustic;~ criminal. E evidente que ha forte probabilidade de represali,rde

presos comuns cO'ntra conqenaci'C!s, que, antes, trabalhavain co~o servidores da Justir;a (policiais, ofid~~'-de justi~a,juii:es, promotores etc.). ' "

215. Tempo de espera pela transfe­rencia: inserido em estabelecimento penal destinado a presos proyis6rios, 'pro{ravel­meIJ.te com"menor estrutura, em todos os setores (trabalho, recrear;ao, educar;ao etc.),

atingindo-se 0 transito em julgado da sen­tenr;a condenat6ria, e preciso transferir, de imediato, 0 condenado para"o local onde deve cumprir sua pena (regime .fechado, semi-aberto ou aberto). Decisao do Superior Tribunal deJustir;a, entretanto,ja chegou a fixar esse prazo 'em, no maximo, 30 dias: "0 regime impasto na sentenr;a deve informar a ?ua execu<:~o, n~o impor~ando, contu­do, em constrangimerito ilegal 0 tempo de permanencia necessaiio ~ tran~fer¢n'cia-do cot:tdenado do estabeiecimento pr6p~io da pris~o provis6ria para aqueloutr<?_~Justado aD regiIIJ.edecretado na<;ondenar;ao iIpposta.

Tal tempo de permane~ciaa e~per~ de ~aga deve subordinar-se aq principia da razoflbi-lidade, que fa.z injustificavel tra~sferencia que se ret~rde por _mais de 3D, dia~" (He 29.668-SP, 6." T., rel. Hamilton Carvalhi­do, 18.08.2005, v.u., DJU 14.U.2005,RT

846/529).

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216. Escolha do estabelecimento penal: cabe ao Estado e mio ao preSQ a eleic;ao do local mais adequado em que cleve 0 funciomirio da administrac;ao da Justic;a cumprir sua pena ou aguardar 0

julgamento. Nessa atica: T]SP:·-"Manciado deseguranc;a-Policialcondenado-Trans­ferenda do Presidio da Policia Civil a ou­tro_ estabelecimento - Hip6tese em que a impetrante esta recolhido em 'preSidio destinado a presQ que, ao .t~mpo do crime, era funciomirio da adrninistJac;ao da Justic;a Criminal- Inteligencia do a.It. 84, § 2.°, da LEP - Informa<;6es do Secretario ~e Estado da Administrac;ao Penitenchiria no sentido de que 0 novo presidio se destina a tal situac;ao e de que 0 impetrante esta recolhido em unidade especifica, sem risco asuaseguram;a-Seguran\adenegada" (MS 840800.3/8-0000-000, 5.'.C., reI. Pinheiro Franco, 06.10.2005, v.u., RT845/588).

Art. 85. a estabei'ecimento pena'! deve­ra ter lotar;ao compatlvel com a sua estrutu­ra e finalidade.2i7

Paragrafo unico: 0 Conselho Nacional de Polftica Criminal e Penitenciaria deter­mi-nar.i 0 limite maximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua natureza e peculiaridades.

217. Controle populacional dopresi­dio: nao ha duyjda de seri'deal haver estabe­lecimentos penais com lota\ao compativel com 0 numero de vagasoferecidas. Somente desse modo se pode falar em cumprimen­to satisfat6rio da pena, com urn processo de reeduca\ao minimamente eficiente. 0 contnirio, infelizmente, constitui 0 cenario da maioria dos estabeleci'rnentos nacionais. Muitos dos referidos estabelecimentos pe­nais, ate mesmo os recem-construidos, atingem a superlota\ao assim que sao inau­gurados. E pode-se observarque inumeros

presidios ja sao erguidos em desacordo com os preceitos desta Lei, quepreve isolamento notumo do preso, quando, na realidade, as celas sao moldadas para receber varios condenados. Ha, ate mesmo, decisao do Conselho Nacion~l de Polftica Cri~inal e Penitenciaria, autorizando a constru\ao em molcle incompativel Com 0 previsto nesta Lei (c~nsultar a nota 167 ao art. 64, VI, desta Lei). A principal fiscaliza\ao e de responsabilidade do juiz da execur;ao penal, que devera, inclusive, sendo 0 caso, providenciar a interdi~ao do estabelecf­mento que ultrapasse a Sua capacidade, tornando insalubre a vida dos condenados (art. 66, VI. VII e VIII. LEP). Consultar. em especial, a nota 189 ao art. 66, VI, em que se faz referenda ao prudente criterio do magistrado para analisar a situa~ao, in­clusive com cita~ao de decisao do Superior Tribunal deJustit;a.

Art. 86. As penas privativas de liberda­de aplicadas pela justi~a de uma unidade federativa podem ser executadas em outra unidade, em estabelecimento local ou da Uniao.218

§ 1.° A Uniao Federal podera construir estabelecimento penal em local distante da condenac;ao para recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da seguranc;a publica ou do proprio conde­nado.219

§ 2.° Conforme a natureza do estabele­cimento, nele poderao trabalhar os libera­dos ou egressos que se dediquem a obras publicas' ou ao aproveitamento de terras ociosas.22o

§ 3.° Cabera ao juiz competente, a reque­rimento da autoridade administrativa definir o estabelecimento prisional adequado para abrigar 0 preso provisorio ou condenado, em atenc;ao ao regime e aos requisitos es­tabelecidos.221

Leis Penais e Pl'Ocessuais Penais Comentadas

218. Mobilidadedo preso: oidealea regra e que a pena seja cumprida no lugar onde 0 crime foi cometido e 0 reu, julga­do. Afinal, uma das finalidades da pena e a legitima~ao do Direito Penal associada a intimida~ao coletiva, motivo pelo qual toma-se preciso que asociedade conher;a 0

teorda condenat;ao e acompanhe 0 cumpri­menta da pena. Mas nao e rigida essa,regra. Fundamentos calados no iilteresse publico p6demaltera-Ia.Alias, tambemcombaseno interesse-do preso,yoltando-se ° 'enfoque ao processo -<;Ie ressocializac;ao, e passivel modificar a sua base de cumprimento da pena (ex.:- 0 preso pretende cUfuprir 'pen~ proximo aos seus familiares em cidade diversa daquela em que foi condenado"; havendo vaga, a transferen'da p~de ser autorizada). as motivos mais comuns, no entanto, dizem respeito asegurant;a publica. Presidiossuperlotadosprecisamseresvazia­dos; locais onde estao acumulados lfcleres de fac~oes criminosas prec~sam de filtragem; presos amea~ados de morte ne'cessitam d~ transferencia; lugares onde houve rebeliao precisam ser reconstruidos, dentre outras causas. Atualmente, uma das principais, e a desmobiliza~ao do crime organizado, removendo-semuitas lideres para presidios de seguranr;a maxima, em regime discipli­nar diferenciado, que come~am a surgir, inclusive no plano federal. Lembremos, no entanto, que a transferencia precisa do avaljudicial (art. 66, V, g e h. LEP).

219. Presfdiofederal: hamuitosanos se aguarda que a Uniao participe ativa­mente da seguranc;a publica, ao menos no que se refere a constru~ao, manuten~ao e fiscalizac;ao de estabelecimentos penais, destinados a criminosos perigosos, que sao incapazes de conviver com outros presos em carceres comuns. Por isso, 0 ideal e que tais estabelecimentos situem-se bern distantes do lugar do crime ou do local

Execu~ao Penal

ondeopresopossuialgumainfluencia,neste caso quandovinculado ao crime organizado. Dispoeo art. 3.o da Lei 8.072190: "A Uniao mantera estabelecimentos penais desegu­ran~a maxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja perrnanenci,a elI). pre­sidios estaduais ponha em risco a ordemou incolumidade p'ublica". Naoepreciso dizer que varios anbs se passaram e esse artigo fOi'coinpletamenteignoradoporinumeros' govemos, de diversos partidos polititos. Como ja mencionamos, preso nao ik1'voto eo descaso nessa area e imenso. Em 2006, inaugurou-se 0 primeiro presidio "federal, em Catanduvas, Estado do Parana; :rIms- e preciso ressaltar que, antes disso, 0 crime se organizou, tarnou-se forte, incendiou 6nibus em cidades, depredou e metralhou estabdecimentos comerciais, matou poli­dais e agentespenitenciarios e comandou o crime de deniro para fora do carcere, promovendo lideres que se tomaram nacio­nalmente conhecidos, pois nenhum Estado da Federar;aopretendia mante-losemseus carceres. Asitua~ao era de total descalabro, o que empurrou a Uniao para urn bew sem saida, motivo pdo qual, associada a cria~ao legal do regime disciplinar diferenciado (Lei 10.79212003), com a introdu~ao do art. 86, § 1.0, nesta Lei, outra alternativa nao houve. Muitos outros presidios federais precisam surgir para atender a demanda estrangulada de criminosos perigosos a serem futuramente transferidos. Esperemos que hajaesperan~a para tanto, uma vezque foi dado 0 primeiro passo.

220. Oportunidade de trabalho: os liberados de medida de seguranr;a (art. 178 c.c. art. 132, § 1.0, a, LEP) e os egressos (art. 26, LEP) devem trabalhar licitamente. Por I

isso, buscando proporcionar-ihes oportu­nidades, pennite-se quedesenvolvam algu­rna atividade em estabelecimentos penais

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compativeis; como as calonias penais e as Casas do Albergado. Excepcionalmente, podern exercer algum labor em presidios de regime fechado, mas e. mais raro e mais complexo,justamente para evitar a mistura com os presos.

221. Defini~ao jurisdicion~1 do pre­sidio': esse dispositivo tepde a nao seT C\lID­

pri~o, pais a ~ag~~trad9 ra,~am~nte tem condh;6esdesaberemqual~tabelecimento pen1:!-l deveinserir_o pr~o, porfalta dedados e de con4.ivoes de avaFar, a segura:ru;f!, e as necessidades do momento. Termina por seguir, a orienta~~o dada pelas au toridades administrativas.

Capitulo II

DA PENITENClAli.IA

Art. 87. A Penitenciaria de"stina-se ao condenado a pena' de 'reclusao, em regime fechado.m

Paragrafo unico. A Uniao Fede'ral, as Estados, 0 Distrito Federal e oS'Territorios poderao construir Penitenciarias destinadas, exc1usivamente,- aos presos provisorios e conclenados que estejam em regime f~chado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei.223

222. Penitenciaria:eo.estabelecimento penal destinado ao eumprime~to da pena privativa de liberdade, em regime fechado, quandose tratardereclusao. Busca-se ase­guranC;a maxima, com muralhas.au gr~des deprote~ao, bern como aatuac;ao de policiais ou agentes penitenchirios em eonstante vigilancia. Olvidou-se, por completo, 0

preso condenado a pena de detenC;ao. Muito embora 0 art. 33, caput, do C6digo Penal, preceitue que os detentos serao inseridos, inicialmente, nos regimes semi-aberto ou aberto, e possivel asua transferencia para 0

fechado, por regressao. Nesse caso, e 6bvio

que haverao de cumprir a pena em lugares destinados aos reclusos, como as peni-i teneiarias, pois inexiste estabelecimento exclusivoparaapenadosadetenc;ao,quando estiverem; porventura, em regime fechadO i

Espera-se, entao, que haja a conveniente separac;ao entre os condenados porreclusaoJ

e os apenados por detem,;ao.

223. Presidios apropriados ao RDD;. a leitura do paragrafo unlco do art. 87 desta lei da a entencler que a Uniao, os Estados e~: Dis.trito Federal (nao-ha Territ6rios) pode,rao (faculdade) constrUir penitenci.arias destlTIa-; das a 'abrigat: as presos inseridos no regime disciplinardiferenc;iado .. Ora, parece-nOSUtM necessidade, logo, umaobrigac;ao. Alias, nol

tocante i Uniao, como ja foi destacado, 0 art~ 3.° da Lei 8.072190 impoe 0 dever de manter presfd.ios para presos de alta periculosidade; que, normalmente, Sao os mes~os inseridos no RDD. QuantoaosEstadosou DF, epossivel que-eles co'nstri..1am os presidios ou destinem alas especiaiS de penitenciarias ja existentes para isso (esta ultima opc;ao seria 0 carater' facultativo da 'norma). 0 fato e que todos os-Estados e 0 Distrito Federal precisam ter lugaresapropriadosparaoregime'disciplinar diferenciado.

Art. 8.8. 0 condenado sera alojad~ em cela individual que contera dormitorio, aparelho sanitario e lavatorio.224

Paragrafo unico. Sao requisitos basicos da unidade celular:

a) salubridade do ambiente pela con­correncia dos fatores de aerac;ao, inso[a<;ao e condicionamento h~rmico adequado a existencia humana;

b) area mfnima de 6 012.

224. Prisao e dignidade da pessoa humaJ;la: nao importa 0 crime e SUa gravi­dade, como tambem nao importa a pessoa do delinquente. Acima de tudo, a Estado cleve dar 0 exemplo, por se constituir em

Leis Penais e Pmcessuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

ente abstrato e perfeito, dive~so, pois, das pessoas que ocupam cargos ptiblicos e po­dem agirde maneira equivocada. Por isso, busca-se que a lei privilegie 0 respeito aos direitos e garantias fundamentais do preso, constituindo panlmetro para a reverencia a dignidade da pessoa humana. Logicamente, para urn pafspobre como 0 Brasil, ao menos em materia de justa distribui~ao de renda, prever-seo alojamento em eela individual, coni: dormit6rio, aparelho'sanitario 'e la­vatario, em ambiente salubre,' com area mfnimadeseismetrosquadrados,podesoar falacioso ou, infelizmente, ate jocoso para aquele que vive em barracos menores que isso, ainda que honestamente. No entanto, deve-se manter 0 principia de que urn eITO nao pode justificar outro, devendo 0 Estado investir na area social tanto quanto'o fara na area da seguranc;a publica; .respeitadas as condic;oes·legais. 0 que se observa;na pnitica, e a pena deprisao ser cumprida ao arrepio do disposto no art. 88 desta Lei, sem que 0 ]udiciario tome -medidas drasticas para impedir tal situa~ao, interditando, porexemplo, 0 local. Acostumado acontar com a compreensao judicial, 0 Executivo deixa de cumprir sua obriga~ao e as celas nao adquirem a forma prevista em lei. 0 vicio perpetua-se, portanto, enquanto, de autra banda, critica-se a pena privativa de liberdade, como se ela tivesse substitu­to civilizado para destinar aos autores de crimes graves. Em nosso entendimento, e pura ilusao. Qualquer outra medida, se for realmente seria, poderia implicar em crueldade, o'que a Constituic;ao Federal veda (ex.: trocar 0 carcere por castigo corporal ou banimento). Poroutro lado, ironicamente, aos presos consideradosperigoso, abrigados em presidios federais, destina-se justamente a necessaria cela individual. Confira-se 0

disposto no Decreta Federal 6.04912007: ) "Art. 6.0 0 estabelecirnentopenal federal tern asseguintes caracteristicas: I - destinac;ao a

presos provis6rios e condenados em regime fechado; Il-capacidade para ate duzentos e oito pres as; III -seguran~a extema e guaritas de responsabilidade dos Agentes Peniten­ciarios Federais; IV - seguranc;a interna que preserve os direitos do preso, a ordem e a.disciplina; V - acomoda,ao do preso em c.:ela individual; e VI - existencia de locais de tr~balho, de atividades sacio-educativas e culturais,.de esporte, de pnitica religiosa e de visitas, dentro das possibilidades do estabelecimento penal" (grifamos).

Art. 89. Ah~m dos requisitos referidos no artigo anterior, a penitenciaria de mu­Iheres poclera ser dotada de' sec;ao para gestante e parturiente e de creche com a fi­nalidade de assistir ao menor desamparado cuja i"esponsavel esteja presa.

Art. 90. A penitenciaria de homens sera construfda em local afastado do cen­tro urbano a distancia que nao restrinja a visitac;ao.225

225. Penitenciari.aafastada: em gran­de parte das Comarcas., qua~do a peniten­ciaria e nova, busca-sf7 respeitar a regra, que envolve fatores de seguranc;a. Po:rem, h~ inumeros lugares que convivem com pe­nitenciarias pra'ticamente dentro do centro urbano, se~ que haja a perspectiva breve de solU!;;ao do problema.

Capitulo III

DA COLONIA AGRiCOlA, INDUSTRIAL OU SIMILAR

Art. 91. A Colonia'Agrkola, Industrial ou similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.2~6

226. Colonia penal:cuida-sedeestabe­

lecimento penal de seguranc;a media, oUde~' ja nao existern muralhas e guardas armados, demodo quea permanencia dospresos se da,

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Guilltenne de Souza Nucci

em grande parte, por sua propria disciplina e sensa de responsabilidade. E 0 regime intennediaria, portanta, 0 mais adequado em materia de eficiencia. Enquanto oregime fechado encomra-se superlotado (em varias Comarcas) e 0 aberto esin6nimo de impu­nidade, nos lugares onde nao existe a easa do Albergado, 0 regime semi-aberto pode representarum alento, ao menDs quando a colonia efetivamente funciona dentro d05 parametros legais.

Art. 92. 0 condenado podera ser aloja­do em compartimento coletivo, observados as requisitos da letra a do paragrafo unico do art. 88 desta Lei.227

Paragrafo unico. Sao tambem requisitos basicos das dependencias coletivas:228

a) a sele\ao adequada dos presos;

b) 0 limite de capacidade maxima que atenda os objetivos de individualiza\ao da pena.

227. Alojamento coletivo: em virtude do maior preparo do preso, advindo com born comportamento do regime fechado, quando ocorre i progressao de regime, au do seu reduzido grau de pericu10sida­de, quando inicia din!tamente no regime semi-aberto, ja se pode introduzi-Io em

do em local proprio devidamente isolado (art. 53, IV, LEP). Esse alojamento coletivo deve re5peitar a salubridade do ambiente, em face dos fatores de aerar;ao, insolar;aoe condicionamento termico adequado (art 88, panjgrafo unieo, a, LEP).

228. Semi-aberto e individualiza_ c;;ao da pen a: respeita-se, como requisito basico, dentre outIOS, a seler;ao adequada dos presos, colocando cada urn proximo a outro com 0 qual nao ira manter desaven­c;;as ou trazer litigios ou disputas de outro~ presidios ou da criminalidade exterior, alem de se buscaI separar os condenados; conforme a sua aptidao para 0 trabalho, estado civil e outros pontos comuns de interesse. Naturalmente, como em todo estabelecimento penal, deve-se respeitar a capacidade maxima do local, -pois, do contrario, a individualiza<;ao executoria da pena sofrera abalos imponderaveis. A superlotar;ao de qualquer presidio ou es.., tabelecimento similar toma inocua a tarefa do Estada de buscar a reeduca.-;ao do con­denado.

Capitulo IV DA CASA DO AlBERGADO

alojamento coletivo, ondepodenipartilhar Art. 93. A Casa do Albergada destina-espa<;o comum com outros condenados. se ao cumprimento de pena privativa de Nao haved, pois, 0 isolamento noturno liberdade, em regime aberto, e da pena de previsto no regime fechado e, durante 0 limita~ao de fim de semana.229

dia, 0 trabalho sera comum, com a viabili- \ dade de 0 preso circular pela colonia sem as 'll 229. CasadoAlbergado: ilustredes~ mesmascautelas tomadasnapenitenciaria. M conhecidade muitas Comarcas, como, par Emborao artigo 92, caput, mencione queo exemplo, da cidade de Sao Paulo, onde ha condenado podera ser alojado em compar- urn mlmero elevado de presos inseridos timento coletivo, e obvio que assim deve no regime aberto, cuida-se do estabele~ ser. Do contrario, se for instalado em cela cimento adequado ao cumprimento da individual, isolado durante a noite, estara pena no mencionado regime aberto. Alem em regime fechado e nao no semi-aberta. disso, serve tambem a abrigar aqueles que Somente se for punido, podera ser co10ca- devem cumprir a pena de limita.-;ao de £lm

Leis Penais e Processuais Pel1ais Comentadas

de semana (restritiva de direitos). A sua inexistehcia levau a gravissimos fatores ligados a impunidade e ao descredito do Direito Penal. Ha decadas, muitos gover­nan tes simp lesmente ignoram a sua neces­sidade. Por iS50, 0 judiciario foi obrigado a promover a inadequada analogia, porem inafastavel, com a art. 117 desta Lei. Pas­sou-se a inserir 0 condenado em regime aberto na denominada prisao albergue do­miciliar (P.A.D.). 0 que era para se tornar uma exce.-;ao, destinada a sententiados maiores de 70 arros, pessoas acometidas de doen.-;as graves, condenadas com filhos menores ou deficientes fisicos ou mentais, bern como -a mulheres gestantes, passou a seI regra. Nem e preciso salientar que nao ha a menorchancede fiscaliza.-;ao adequada, de modo que e impossivel saber se 0 con­denado recolhe-se, emSUa casa particUlar, nos horarios determinados pelo juiz, bern como 0 que f~z-durante a seu dia inteiro. Se nao ha intereSse politico TIeSse regime, e preciso extirpa-Io da lei, substituinda-o por autra medida, possivelmente 0 regime semi-aberto, com dois estagios, mas mlo se pode convivercoma leisem implementa-Ia. Cuida-se de autentica afronta a legalidade. A maioria da jurisprudencia, no eutanto, acolhe a possibilidade de se empregar a analogia in bonam paTtern, admitindo a in­serc;;ao de qualquer condenado em regime aberto na modalidade de prisao albergue domiciliar, por nao haver outra alternativa. Nessa otica: T]RS: "E possive! a juizo da execu.-;ao penal, aD verificar a situac;ao do albergue e a do apenado, conceder a prisao domiciliar, alem das hipoteses do artigo 117 da LEP: No casa dos autos 0 albergue possu:i capacidadepara 96vagas, mas estaocupado por 225 apenados, os quais, por ausencia de celas, estao acomodados nos corredo­res, nas mesas dos refeitorios, em Iugar insalubre, sem higiene e promiscuo. Essas peculiaridades autorizam 0 deferimento da

Execuc;ao Penal

prisao domiciliar" (Ag. 70016187338, 7." C., reI. NereuJoseGiacomolli, 14.09.2006, v.u.). Emcontrario: TJAC: "Ainexistencia de estabelecimento adequado ao cumpri­mento da pena em regime a betto mio gera 0

direito do apenado a prisao domiciliar, nao estando 0 mesmo em nenhuma daquelas situa<;6es do art. 117 da Lei de Execu<;ao Penal, bern como diante da prevalencia do interesse publico na efetiva<;ao da sanc;;ao penal, em face do interesse individual do condenado" (Agravo em Execuc;aa Penal 2005.001071-4, Camara Criminal, rel. Fe­liciano Vasconcelos, 15.09.2005, ffi. v., RT 843/598).

Art. 94. 0 predio devera situar~se em centro urbano, separado dos demais estabe­lecimentos, e caracterizar-se pel a ausencia de obstaculos ffsicos contra a fuga. 230

230. Predio sem vigilancia:preceitua o art. 36, caput, do Codigo Penal, ser 0

regime aberto baseado -na "autodisciplina e senso de responsabilidade do condena­do". Por i5so, 0 estabelecimento olide se encontra nao pode ter vigilancia armada, nem grades ou obstaculos contra a fuga. Porern, nao se trata de uma pensdo, onde os sentenciados entram e saem a vontade, scm qualquer controle. Casas do Albergado como essas, muitas vezes custeadas pela Prefeitura de algumas cidades, a.-pedido do juiz da execu<;ao penal, ja tivemos a oportunidade de visitar. E urn arremedo de regime aberta, pOis os presos ficariam encarregados de "controlar" as entradas, saidas e acorrencias internas. Palestras nao existem, nern orientar;ao alguma. Ora, e sabido que preso nao comrola preso, ao menos no que se refere a dela<;ao, vale dizer, se tiver que 'nalJar ao juiz eventuais faltas cometidas par outro. Portanto, 0 minima que se espera da Casa do Albergado e haver

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Guilfterme de Souza Nucci

fiscaliza~ao e contrale de entradas e safdas, alem de urn espar;o proprio para palestras, eventos, curses elc. Alias, nada do que ja naa esta previsto expressamenteem lei (art. 95 desta Lei).

Art. 95. Em cada regiao havera, pelc men os, uma Casa de Albergado, a qual de­vera conter, alem dos aposentos para aco­madar as presos,..iocal adequado para cur-50S e palestras.231

Paragrafo unico. 0 estabelecimento tera instalac;6es para as servir;os de fiscalizar;ao e orj~nta<;ao dos condenados.

231. local para cursos e palestras: alm de aposentos, a Casa do Albergado, par

se destinara condenados a pena de limitar;ao de fim de semana, onde se ~usca ministrar palestras, promover cursas e atividades educativas (art. 48, panigrafo unico, CP), cleve ter, como ponto indispensavel, urn local apropriado para tanto, bern como urn corpo de profissionais apto,a desenvolver tais tarefas. Nao se trata de elevado inves­timento por parte do Estado, mas que, se fosse realizado, traria imenso avam;o ao cumprimento da pena no Brasil, reativando uma proposta dexegime de prisao amena, sem os traumas do regime fechado e com possibilidade de exito para criminosos de baixa periculosidade.

Capitulo V

DO CENTRO DE OBSERVA~AO

Art. 96. No Centro de Observac;ao reali­zar-se-ao os exames gerais e 0 criminol6gico, cujos resultados serao encaminhados a Co­missao Tecnica de Classificac;ao.232

Paragrafo unico. No Centro poderao ser realizadas pesquisas criminol6gicas.

Art. 97. 0 Centro de Observac;ao sera instal ado em unidade autonoma o.u_ em anexo.a estabeJecimento penal.

Art. 98. Os exames poderao ser realiza­dos pel a Comissao Tecnica de Classificac;ao, na falta do Centro de Observac;ao.

232. Centros de Observa~ao: sao importantes locais situados em predios anexos aos estabelecimentos penais, onde atuam os profissionais ligados a Comis­sao Tecnica de Classifica~ao e outros, que possam contribuirpara 0 aperfei~oament~ dos dados estatisticos e da pesq4isa crimi­no16gica. as pareceres elaborados por tais Centros, em sua grande maioria, posSl,lcm elevado nivel e permitem ao juiz conhecer, realmente, a personalidade do condenado; auxiliando-o no processo de convenci­mento para a concessao - ou nao - dos beneficios penais. Lamentavelmente, sob o argumento vetusto da falta de recursos, vario~ Estados estao abandonando esses Centros, interrompendo suas atividades e. desativando-os. A meta parece ser a cons­truc;ao de presidios em regime fechado, para que a populaC;ao veja 0 resultado da administrac;ao penitenciaria, sem qualquer substrata au fundamento em urn escorreito processo de individualizac;ao executoria da pena. Uda-se, em materia de execuc;ao penal, no Brasil, em grande parte, com a aparencia de urn cumprimento de pena, sem q~alquer apego cientffico ou mesmo produtivo e promissor. Ha peniteneiarias ocas espalhadas peIo pais, aqueIas que se limitam a segurar 0 preso em seu interior, dando-Ihe alimentac;ao e vestuario. Nao ha trabalho, nem orienta~ao psicossoeiaJ, muito menos uma atuante Comissao Tec­nica de Classifica\=ao. A oeiosidade impera e a promiscuidade entre os presos torna-se a regra. Nessa otica, defender-sequea pena de prisao esta falida e extremamente faeil; complexo e dificil e desvendar as razoes

Leis Penais e Processltais Penais Comentadas

yerdadeiras par meio das quais se chegou a esse caos no sistema carcerario brasileiro.

Capitulo VI

DO HOSPITAL DE CUSTODIA E TRATAMENTO PSIQUIATRICO

Art. 99. 0 Hospital de Cust6dia e Trata­mento PSiquiatrico destina-se aos inimputa­veis e semi-imputaveis referidos no art. 26 e seu paragrafo unico do C6digo Penal.2J3

Paragrafo unico. Aplica-se ao Hospital, no que couber, 0 disposto no paragrafo unico do art. 88 desta Lei.

233. Hospital de Custodia e Trata­ment~ PsiquiMrico: e 0 lugar adequado para recebere trataros in,dividuossujeitos ao cumprimento de medi~a de seguranc;a deinterna~ao. Naturalmente, equip~ra-se, em materia de cuidados e cau telas contra a fuga, ao regime fechado. Suas dependencias, aiem dos indispensaveis equipamentos e medicamentos,devempossuirsalaspr6prias para segurar os internos, monnente os de periculosidade elevada. Por tal motivo, estipula oparagrafo unico deste artigo que se cleve aplicar, no que couber, 0 disposto no paragrafo unico do art. 88 desta Lei, vale dizer, unidade celular com salubridade e area_minima de 6 metros quadrados.

Art. 100. 0 exame psiquiatrico e os de­mais exames necessarios ao tratamento sao obrigat6rios para todos as internados.2J 4

234. Exame psiquiMrico e demais exames:o pSiquiatricoeo examerealizado para contrale da doen\=a, visando alterna­tivas para a cura. Deve ser realizado com a periodieidade que 0 medico entender necessaria. Por outro lado, ha 0 exame de cessacao de periculosidade, envolvendo a avaliac;ao anual, exigida pela lei (art. 175

Execu\=ao Penal

e seguintes desta LeO, para transmitir ao magistrado da execw;ao penal se e vifivel q liberacao do internado ou se deve ele con­tinuar em tratamento por outro penodo.

Art. 101. 0 tratamento ambuJatorial, previsto no art. 97,segunda parte, do C6digo Penal, sera realizado no Hospital de Cust6dia e Tratamento Psiqui;]trico au em outro local com dependenda medica a~equada.135

235. Tratamento ambulatorial: equi­valente a uma pena restritiva de direitos, ha 0 inimputavel au semi-imputavel que necessita apenas de tratamento ambulato­rial,ouseja,precisafrequentardeterminado posto de saude ou hospital para entrevi~tas e acompanhamento medico, porem sem a neces·sidade de permanecer iilternado. Esse tratamento pade dar-se, como preve o ar~. 101 desta Lei, no proprio Hospital de Cust6diae Tratamento Psiquiatrico,em dependencia apropriada, ou em outro local distinto.

Capitulo VII DA CADEIA PUBLICA

Art. 102. A Cadeia Publica destina-se ao recolhimento de presos provis6rios.2l 6

Art. 103. Cada coma rca tera, pelo me­nos, uma Cadeia Publica a tim de resguar­dar a interesse da administra~ao da justi~a criminal e a permanencia do preso em local pr6ximo ao seu meio social e familiar.

Art. 104. 0 estabelecimento de que trata este Capitulo sera instalado pr6ximo de centro urbano, observando-se na constru~ao as exigencias mfnimas referidas no art. 88 e seu paragrafo unic-o desta Lei.

236. Cadeia Publica: e 0 estabeleci­mento destinado a abrigar presos provi­sorios, em sistema fechado, porem sem

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as caracteristicas do regime fechado. Em outras palavras, a cadeia, normalmente encontrada na- maioria das cidades brasi­leiras, e urn predio (muitas vezes anexo a delegacia de policia) que abriga celas - 0

ideal e que fossem individuais QU, pelo menos, sem superlotar;ao -, con tendo urn patio para banho de sol. Nao ha trabalho disponivel, neffi outras depend~ncias de lazer, cursos etc.,justamente par seT Iugar de-passagem, onde nao se cleve cumprir pena. Atualmente, esta-se mudando 0 con­ceito'de estabelecimento penal para abrlgar presos provis6rios, inclusive pelo fato de se

estar autorizado a execw;ao provisoria da pena. Ha, pOis, a constrm;llo e instalar;a~ de estabelecimentos peli.'ais bern maiores que uma cadeia publica, com estrutura de presidio, porem voltado somente aos presos provisarios, Melhor assim que abrigar 0

preso ·em infectas cdas de cadeias peque­nas superlotadas. Alias, nesses presidios maiores, po de haver a possibilidade de trabalho e outras atividades, ocupando 0

dia dos presos.

TiTULO V

DA EXECU<;:il.O DAS PENAS EM ESPECIE

Capitulo I

DAS PENAS PRIVATIVAS DE UBERDADE

Se~ao I

Disposi«;6es gerais

Art. 105. Transitando em julgado a sen­ten<;a que aplicar pena privat,iva de liberdade, se 0 feU estiver ou vier a ser preso, 0 juiz or­denara a expedi<;ao de guia de recolhimento para a execu<:;ao.217-138

237. Inicio formal da execu~ao da pena: da-se, segundo 0 teor do art. 105 desta Lei, com a expedi~ao da guia de re­colhimento. Esta, por seu tumo,sornente sera emitida quando 0 reu, apas 0 transito em julgado dasenten~a condenataria, vier a ser preso OU ja se encontrar detido. Deve 0

cartario do juizo da condena~ao providen­ciar a, expedi~aQ da guia, enviando-a, com as pe~as necessarias, ao juizo da execu~ao penaL Copias serao igualrnente remetidasa autoridadeadministrativaondeseencontra preso 0 condenado. Nesseprisma: ST]: "Nao ha como se expedir a gUia de recolhimento e, assim, iniciar-se a processo de execur;ao se, na hipate:se, esta pendente de cumpri­menta 0 mandado de prisao expedido pelo juizo sentenciante, em'razao do fato de 0

paciente se encontrar ha mais de quatorze anos foragido. A tear do disposto no art. 105da Lei 7.210/84, oprocesso deexecw;ao somente podera seT instaurado, pelo jUlZO competente, apcs 0 recolhimento do con­denado" (RHC 17.737-SP,5.'T.,reI.Laurita Vaz,lB.08.2005, V.U., DJU03.10.2005, RT 844/528).

238. Execu~ao provisoria dapena: trata-se deuma n~alidade no cenario juridic!? brasileiro, ja regulamentada pelos Tribu­nais dos Estados e tarnbem pelo Conselho Nacional daJusti<;a. Por isso, 0 juizo da condena~ao, assim que 0 reu vier a serpreso ou se ja se encontrardetido, deve determi­nar a expedi~ao da guia de recolhimento. ainda que haja recurso das partes, portanto, antes do transito emjulgado, colocando a observat;ao de se tratar de gUia de recolhi­mento provisoria. Seguem as pe~as ao juiz cia execm;ao penal, que decidira, confonne o sell convencimento, se, como e quando deve 0 preso, condenado provis6rio, obter algum beneficio, como, por exemplo, a progressao de regime.

Leis Penais e Processuais Pellais Comentadas

Art. 106. A guia de recolhimento, ex­tralda peto escrivao, que a rubricara em to­das as folhas e a assinara com 0 juiz, sera remetida a autoridade administrativa in­cumbida da execuc;ao e contera.:139

I - 0 nome do condenado;

II - a sua qualificac;ao civil eo numero do registro geral no orgao oficial de identi­fica<;ao;

III - 0 inteiro teor da den uncia e da sen­tenc;a condenat6ria, bem como certidao do transito em julgado;

IV - a informac;ao sabre os antecedentes e 0 grau de i nstru<;ao;

V - a data da terminac;ao da pen a;

VI - outras -pec;as do processo reputadas indispensaveis ao adequado tratamento penitenciario.

§ 1.° Ao Ministerio Publico se dara cien­cia da guia de recolhimento.140

§ 2.° A guia de recolhimento sera reti­ficada sempre que sobrevier modifica<;ao quanta ao infcio da execu~ao, ou ao tempo de dura~ao da pena.241

§ 3.° Se 0 condenado, ao tempo do fata, era funcionario da administra~ao da justi~a criminal, far-se-a, nJ guia, men<;ao dessa drcunstancia, para fins do disposto no § 2.° do art. 84 desta Lei.242

239. Guiade recolhimento: constitui nao somente a peti¢o inicial da execu910 penal, como a comunica~ao fonnal e deta­Ihada it autoridade administrativa, respon­savel pela prisao do-condenado, do teoraa senten~a (pena aplicada, regiIm~, beneffcios etc.). Deve conter todos osdados descritos nos incisos do art. 106, acompanhada das capias das pe~as que instrufram 0 processo principal, de ondese originou a condena~ao. as detalhes, em especial quanta as datas (fato.senten~a, acordao, transito em julgado etc.), sao uteis para 0 calculo da prescri­~ao. uma das primeiras providencias a ser tomada pelo juiz da execu~ao penal. Nao

Execu~ao Penal

ha sentido em se providenciar a execu~ao de pena prescrita.

240. CienciaaoMinisb~rio Pdblico:e fundamental, ate peIo fato de ser ele 0 fiscal da execur;ao da pena. Como 0 processo de execu~ao inicia-se.de offcio, na imensa maioria dos casos, torna-se providencia logicaabrirvistaaomembro do Ministerio Publico para quese manifeste, requerendo algo em favor ou contra 0 condenado, con­formese-q entendimento, desde logo,ja que nao foi ele 0 orgao a propor a inicializa~ao do processo executorio.

241. Modifica~aodosdadosdaguia: alem dos erros materiais que possa conter e merecem ser corrigidos, altera-se a guhi sempre que houver alguma modifica~ao provocada por DutTOS fatores, como, par exemplo, 0 provimento a urn recurso do MP (no caso de guia derecolhimento provisoria) ou'o deferimento de uma a~ao de 'revisao criminal (proposta peIo condenado, ap6s o transito emjulgado), que altere a pena.

242. Observa~ao quanto.iI fun~ao publica do condenado: para fins de se­para~ao do presQ dos demais, evitando-se retaliac;oes, nos termos do art. 84, § 2.°, desta Lei, para 0 qual remetemos oleitor, deve haver expressa men~ao de que-o sen­tenciado erafuncionario da administrar;ao da justi~a (juiz, promotor, policial etc.).

Art. 107. Ninguem sera fecolhido, para cumprimento de pen a privativa de liberda­de, sem a gUia expedida pel a autoridade judiciaria.243

§ 1.° A autoridade administrativa in cum­bida da execu<;ao passara recibo da gu'ia de recolhimento, para junta-la aos autos do processo, e dara ciencia dos seus termos ao condenado.

§ 2.° As guias de recolhimento serao re­gistradas em livro especial, segundo a ordem

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Guilhenne de Souza Nucci

cronol6gica do recebimento, e anexadas pO prontuario do condenado, aditando-se, no curso da execu~ao, 0 calculo das remj~6es e de outras retifica~6es _posteriores.

243. Cautelaeformalidadelegalpara a prisao: a norma prevista no art. 107 impoe razoavel e correta cautela para que alguem sejalevado ao carcere, impedindo-se, pois, a ausencia de controle esta tal de quem esta preso e quando deve deixar 0 estabeleci­mento penaL A autoridade administrativa responsavel pelo presidio;cadeia oli estabe­lecimento similar somente podera receber algu¢rn, concretiz_ando:,se 0 cerceamento da sua liberdade,'_ca~o' exista-documento formal para tanto, ~om lastro co~~titucio­naL Se-foss~ uma prisao preventiva, viria acompanhada do mandado de prisa<? _ex­ped~do pelo juiz. No caso presente, a guia de recQlhimez{to e 0 _documento habi.1 a espelhar que ha uma pena efe~va a cumprir, ~otivo pelo qual ,a, prisao e fo:!;,malmente legaL Se 0 preso for recepcionado serr a expedir;ao da guia, pode ser configurado o deHto de abuso de autoridade (art. 4,°, a, Lei 4.898/65). Niio havendo dolo par parte do agente receptor, desconfigura-se o crime, mas remanesce a falta funcional. A mesma precaw;;ao se da no cemirio das internar;6es em Hospitais de Custodia e Tratamento (ver art. 172, LEP).

Art. 1 08. 0 condenado a quem sobrevier doen~a mental sera intern ado em Hospital de Custodia e Tratamento Psiquiatrico.244

244. Interna~6es provis6rias e de longa dura<;ao: ha situac;6es passageiras de perturbac;ao da sallde mental, que, no entanto, precisam de tratarnento especia­lizado. N esse caso, transfere-se 0 preso do estabelecimentopenal comum para 0 Hos­pitalde Cust6diae Tratamento Psiquiatrico

peIo tempo necessario a sua recuperac;ao, tornando em seguida para 0 presidio. Nao se convene a pena em medida de seguran\'a (art. 183, LEP). A conversao, no entanto, sera a medida adequada, se houver a com­provac;ao de se tratar de doenc;a mental ou perturba\'ao da sa-ude mental de longa dutac;ao, vale dizer, cujo tratamento nao envolveni somente algumas semanas ou meses, mas,'provavelmente, anos. Assim ocorrendo, transforma-se a pena em medida de seguranc;a. As condic;6es para isso e a reversibilidade da situa\,ao sao analisadas nos comentarios ao art. 183 desta Lei.

Art. 109. Cumprida ou extinta a pena, o condenado ser,f posto em liberdade, me­diante alvara do juiz, se P9r outro motivo nao estiver preso:245

245. liberta~ao apos a extin~ao da punibilidade: cumprida a pena ou extin~ a pena, por qualquer razao (exemplos sao encontrados no art. 107 do C6digo Penal), e 16gico clever 0 Estado libertar 0 preso. A razao de ser do art. 109 e especificar que tal autoriza\,ao deve originar-se do juiz da execur;ao penal, mediante a expedi\,ao de alvara de soltura, Sempre se expede este documento {:om 0 alerta de que 0 preso somente sera libertado se nolo h~uver ou­tro motivo que 0 segure no carcere (ex.: a decr:etac;ao de uma prisao preventiva em o~tro processo). Extravasar 0 tempo de prisao, sem justa causa, pode configl,lrar o crime de <:tbuso de autoiidade (art. 4.°, i, Lei 4.898/65).

. Se~ao " Dos regimes

Art. 110. 0 juiz, na sentenc;a, estabele­cera 0 regime no qual 0 condenado iniciara o cumprimento da pena privativa de liber-

Leis Penais e Processuais Pellais Comentadas

dade, observado 0 disposto no art. 33 e seus paragrafos do C6digo Penal.246.247

, 246. Individualiza~iio judicial da pena: alem da individualizac;ao legislativa e da individualizac;ao executoria da pena (ver anota 1 ao art. 1.°) ,afasemais decisiva para qualquer condenado e a individualizac;a'o judicial, quando 0 magistrado do processo de conhecimento chega a conclusao acer­ca da culpa -do reu e decide condena~Io. Deve; entao, seguir tres fases: a) prima ria: escolhe-se 0 quantum da pena (ex.: entre 1 e 4 anos; pode-se fixar dois anos), com base nos elementos fornecidos pelo ·art. 59, caput, do Codigo Penal; b) secundaria: elege-se 0 regime, dentre os legalmente possiveis, ou seja, fechado, semi-aberto ou abe~to. Deve-se levar em consjdera~ao os limites impostos no art. 33, §§ 2.° e 3,°, do Codigo Penal; c) tercidria: 'e a rase e~_ que o julgador pondera os beneffdos c<;tbiveis ao sentenciad6, is~o e,,_se pode,substi~uir ~ pena privativa de liberdade por 'restritiva de .di.reit,<?s(ar,t. 44, CP) ou por mult~ (a~t. 60, § 2.°, CP). Nao sendo viavel a substi­tuir;ao, cabe ao magistraclo po~derar sabre a possibilidade de concessa? de ~usp'ensa'o condicional da pena, 0 disposto no ,art. 110 da Lei d~.ExeC1..i.c;ao Penal, emsintonia com? C6dig9 P~~al (a~t. 59, ill), pt:ec~itua ser, sempre, dever do julgador es~abele,cer o regime no qual 0 condenadp iniciara 0

cumprimentp da pena privativa de liberdade. Maiores detalhes podem $er enco~trados nasnotas 17 e 18ao art. 59 do ~osso C6digo Penal comentado. L.ogo, nao etarefa do j~iz da execU(;ao penal faze-Io, exceto quando houver de adaptar 0 rnontante total d,a pena a uma nova realidade, como veremos ;no disposto no art, III desta Lei.

247. Regime de cumprimento da pena e sursis: parece-nos fundamental destacar a indispensabilidade de fixac;ao

Execuc;ao Penal

do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade, ainda que se possa conceder a suspensao condicional da pena. Registremos que 0 sursis e condicionado e havera audiencia admonitoria especial­mente designada para a aceitac;ao de seus termos pelo sentenciado (art: 160, LEP). Se, feita a advertencia, desde logo 0 con­denado manifestar sua nao concordancia com as condic;oes impostas, perde efeito o beneficio e- sera ele inserido no regime inicial estabelecido na senten~a condena~ toria. Ex,: pode ter recf:bido uma pen,a de dois anos por tentativa de estupro,' fixan­do 0 magistrado 0 regime inicial fechad.o, porern, por preencher os requisitos do art. 7.7 do C6digo Penal, concede-Ihe sursis .. Caso nao seja este ,-,"ceito ou nao comparec;a o reu, devidarnente intimado, a audiencia admonit6ria, perde efeito 0 beneficio e sera preso 0 conde.nado. Sobre 0 tema, e.m maiores detalhes, inclusive com menc;~o a jurisprudencia, consultar a nota 17.ao art. 77 ~o nosso Codigo Penal comentado.

Art. 111. Quando. houver condena~ao par mais de urn crime, ~10 mesmo prci~esso ou em processos distintos, a determina~'ao do regime de cumprimento sera feita pelo resultado da soma ou uriifica~ao das penas, observada, quando for 0 caso, a detra~ao ou remi<;aQ,248-249

Paragrafo unico. Sobrevindo condena~a9 no curso da execuc;ao, somar-se-a pena ao restante da que esta _senqo cumpri~a, para determinac;ao do regime.2S

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248. Jufzo universal da execu~ao da pena: todas as penas aplicadas ao reu concentrar-se-ao em uma unica Vara de Execuc;ao Criminal, normalmente a da Comarca onde ele estiver preso ou fixar domicilio (caso seencontre emliberdade). Porisso, cabe ao juiz que controla todas as suas condenac;oes promover a necessaria

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Guilhenne de Souza Nucci

somatoria das penas e verificar a adeqmi­~ao do regime impasto, bern como dos beneffcios auferidos. Em caso de concurso material, quando as penas serae somadas, e passive! que 0 TeU tenha, exemplificando, tres penas de dais anos em regime aberto, cada uma delas, pais todas'provenientes de jufzos criminais diferentes. E natural que, concentrando-se tadas elas na Vara de Execu~ao Penal, 0 rnontante atingin'i seis anos e 0 regime aherto torna-se in­compative! (art. 33, § 2.°, b, CPl. Deve 0

magistrado adapta-Io ao semi-aberto, no minima. Por outro lado, e viavel haver a unifitac;ao de penas (consultar a nota 175 ao art. 66, III, a, desta-LeO, ocasHio em que nova adaptac;ao de regime pode seT necessaria. Ilustrando: 0 reu possui dez condena\=oes por furto simples, atingindo dez anos de reclusao, motivo pelo qual foi inserido no regime inicial fechado (art. 33, § 2,°, a, CP), Porem, em seu processo de execu\=ao da pena, constata-se ter havido crime continuado (art. 71, CP), razaO pela qual 0 juiz unifica todas elas em urn ano e seis meses de rec1usao, Deve, logicamente, afastar 0 regime fechado, concedendo 0

aberto, Determina, a.inda, 0 art. III desta Lei, que se leve em conta, para tal cileulo os beneffcios trazidos pela detra\=ao (art. 42, CP) e remi,ao (art. 126, § l.°,LEP). Parranto, paraatingira pena justa, soma-se ou unifica-se 0 rnontante geral, aplica-se a detra\=ao elou a remi\=ao, confarme 0 caso, para chegar-se ao regime ideaL

249. Adapta~ao dos beneficios pe­nais concedidos a nova realidade das penas: osmesmoscriterios expostos na nota anterior seraa utilizados no tocante ao cena­rio dos beneficios. Exemplificando: a) 0 reu recebe tres penas de tres arras, por diversos crimes dolosos, em Varas diferentes; cada magistrado, nasenten~ condenatoria, con­cede-Ihe a substitui~ao porpenas restritivas

de direitos. Quando as tres condena~6es chegarem a Vara da Execu\=ao Penal, 0 jUiz promoveni a somatoria, verificani a total de nove anos de reclusao e devera cassar 0

beneficia da pena alternativa, inserindo 0

condenado no regime fechado; b) a con­trario pode ser vilivel; ou seja, 0 acusado e condenado porvarios jUfzesdiferentesa urn montantequeatingiudozeanosderecIusao, por crimes dolosos. Ingressou no regime fechado e seu processo de execuc;ao penal tern inicio. 0 juiz observa que e possivel a unifica\=ao, em face da existencia de crime continuado, reduzindo a pena para tres anos. Poderaconceder-Ihe, preenchidasas condit;6es legais (art. 44, CP), asubstitui~ao desse novo montante por pena restritiva de direitos.

250. Pena cumprida e pena extinta: sempre que n.ova pena chegar, para cum­primento, na Vara de Execu\=ao Penal, sera ela s.omada ao restante da nena..£; nao no montante total inicial, afinal, pena cwnprida e pena extinta. Com esses novos valores, de­cidira 0 magistrado acerca do regime cabivel. Ilustrando: iniciou 0 reu 0 cumprimento da pena de doze anos de reclusao, em regime fechado; pormerecimento e cumprido mais deumsexto, passou ao semi-aberto; depois, atingiu 0 regime abeno. Faltando tresanos para·terminar a pena, recebe-se na Vara de Execuc;ao Penal mais uma condena\=ao de urn ano de reclusao. Nao sera somada esta nova pena aos doze anos iniciais, mas aos tres anos derradeiros. Logo, 0 total sera de quatro anos de reclusao e nao de treze anos. Por isso, pode 0 magistrado mante-10 no regime aberto, pOis a penaa cumprir nao ultrapassa quatro anos (art. 33, § 2.°, c, CPl.

Art. 112. A pena privativa de liberdade sera executada em forma progressiva151 com a transferencia para regime menos rigoro-

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

50,252 a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao r:nenos 1/6 (um sextO) da pena no regime anterior53

'2SS e

ostentar born comportamento carcerario, 'comprovado pelo diretor do estabeleci­mento, respeitadas as normas q'ue vedam a progressao.256.157

§ 1.° A decisao sera sempre motivada e precedida de manifestac;ao do Ministerio Publico e do defensor.258

. '

§ 2.° Identico procedimento sera adotado na concessao de livramento condicional, indulto e comutac;ao de penas, respeitados as prazos previstos nas normas vigentes.159

251. Criterios para a progressao de regime (exame crimino"l6gico e parecer da C.T.C.): a Lei 10.792/2003 trouxe alte­ra~oes substanciais a reda~ao do art. 112 da Lei de Execu~ao Penal. Buscou-se, la­mentavelmente, diminuir a esfera de atu­a~aada Comissao T ecnicade Classmca\=ao no cenario da progressao de regime. Antes da Lei 10.79212003, essa Comissao, corn­posta pelo diretor do preSidio, por, pelo menos, dois chefes deservi\=o, urn psi quia­tra, urn psic6Iogo e urn assistente social (art. 7.°, LEP), obrigatoriamente, partici­pava do processo de individualiza~ao da execu\=ao, opinanda nos pedidos de pro­gressao do regime fechado para 0 serni­aberto e deste para 0 aberto. Cabia a ela, inclusive, proporasprogressoes eregressoes de regime, bern como as conversoes. Des­tarte, dispunha 0 art. 112, panigrafo unico (hoje substituido pelos §§ 1.0 e 2.°), cui­dandoda progressaode regime: "Adecisao sera motivada e precedida de parecer da Comissao Tecnica de Classifica\=ao e do exame crirninol6gico, quando necessario~'. A nova reda\=ao estipula que a decisao de progressao sera motivada, precedida de manifesta\=ao do Ministerio Publico e da defesa (§ 1.°), com igual procedimento para a concessao de livramento condicional, indulto e comuta\=ao de penas (§ 2.°). 0

Execu~ao Penal

arL 6.oda LeideExe.cu\=ao Penal, corn,lJ.OVO texto, indica que a mencionada Comissao Tecnica de Classificar;ao deve elaborar 0

programa individualizador da pena priva­tiva de liberdade adequada ao condenado ou preso provisoria, nao rnais menc;ionan­do que devera propor a progressao ou re­gressao. Alias, a reda~ao atual do art. 112, caput, passa a preyer que a transferencia, em fonna progressiva, para regime menos rigoroso (fechado para 0 semi-aberto e deste para 0 aberto) sera determinada pelo juiz, quando 0 preso atingir urn sexto da sua pena no regime anterior e tiver bom comportamento carcerdria, comprovado peIo dire tor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressuo. Esta par­te final foi uma cautela do legislador para evitar qualquer interpreta~ao tendente a acreditar que foi revogada a norma da Lei dos CrimesHediondos, que impedia a pro­gressao, afinal, poder-se-ia falar em novel lei penal benefica, passivel deafastar a apli­cac;ao de anterior disposi\=ao prejudicial ao condenado (essa questao, em face da re­cente decisao do STF (He 82.959-SP), autorizando a progressao de regime para todos os delitos, inclusive hediondos e equiparados, entretanto, perdeu relevo). Alem disso, aedi,ao da Lei 11.464/2007, conferindo nova reda~ao ao art. 2.°, § 1 .. °, da Lei 8.072190, passou a exigir somente que 0 regime impasto aos sentenciados por tais delitos seja inicialmente fechado. Au­torizada esta a progressao, portanto. Nota­se que a preocupa\=ao do legislador em eliminar a obrigatoriedade de participa~ao da Comissao Tecnica de Classificac;ao no processo de avalia\=aQ da possibilidade de progressao de regime - igualmente no to­cante ao livramento condicional, indulto e comuta~ao-poderia merecer eIogio, num primeiro momento, desde que se entendes­se como medida desburocratizante.Assim, ao inves de, em todo equalquercaso, dever

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o magistrado submeter 0 pediclo de pro­gressao de regime a avalia<:ao previa da Comissao Tecnica de Classifica~ao, que, na realidade, naD foi extinta pela nova Lei, a partir de agora, dentro do conslitucional processo de individualizac;ao da pena, 50-

mente em situac;6es necessarias, para a formac;ao da convicc;ao do julgador, pode­niserdeterrninada a colheita de elementos junto a Comissao Oll mesma a Direc;ao do Presidio. Outra naD padeser a interpretac;ao a seI dada, uma vez que seria -[azer letra morta cia riqueza proporcionada pelo art. 5.°, XLVI, primeira parte, cia Constituic;ao Federal, consagrador do princfpio consti­tucional da individualizac;ao da pena. E lei ordinaria nao poderia faze-Ia. 0 C6digo Penal, que nao foi modificad6;continua a mencionar, no art. 33, § 2.°, que "as penas privativas de liberdade deverao ser execu­tadas em fonna progressiva, segundo 0 me­ntodocondenado ... ". Ora, como 0 juizapu­ra 0 merito? De variadas maneiras e uma delas era 0 parecer obrigatorio da Comissao Tccnica de Classifica~ao. Eliminada essa obrigatoriedade, incluindo-se emseu Iugar a indispensabilidade de atestado de boa conduta carceniria, fornecido pela direc;ao do presidio, passa-se a exigir do juiz -da execu~ao penal maior liberalidade em re­lacao ao preso comum, isto e, no tocante aquele que nao cometeu crime violento (violenciafisica ou moral) contra a pessoa, de particular gravidade. Urn au tor de furtos, por exemplo, pode progredir do regime fechado para 0 semi-aberto, bastando a atestado de boa conduta, se nao houver outros dados negativos a seu respeito. En­tretanta, a condenado par varios homici­dios, em outro exempl0, ainda que tenha born comporiamento, pode despertar no magistrado a necessidadede realizac;ao do exame criminologico ou mesmo de ouvir a Comissao Tecnica de.Classificac;ao para autorizar a progressao. Observe-se que a

art. 8.° da Lei de Execuc;ao Penal nao foi alterado e preceitua que "0 condenado ao cumprimento de pena privativa de liber­dade, em regime fechado, sera submetido a exame crimino16gico para a obtenc;ao dos elementos necessarios a uma adequada cIassificac;ao e com vistas a individualizar;ao daexecw;ao" (grifo nosso). Ora, ainda que se diga que esse exame sera realizado no inicio do cumprimento da pena, destina-se ele a garantir a correta individualizar;a.o executoria da pena, nao se podendo conduir que esta foi e esta sendo satisfatoria, mor­mente considerando-se que diretores de presidio nao possuem, necessariameme, conhecimento tecnico especializado para a visualizac;ao criminologica do condenado, se nao forelaborado outro exame crimino-16gico para fornecerum padrao de confron­toao juiz. Adoutrina, ha muito tempo, vern sustentando que a pena-padrao, 0 regime~

padrao e 0 cumprimento-padrao sao desa­tinos implementados ora peIo legislador. ora peIo magistrado, motivo peIo qual nao e momento de se cercear a atividade indi­vidualizadora do juiz, mas, ao contrano, de privilegia::la. Se a obrigatoriedade de obtenc;ao do parecerda Comissao Tecnica de Classificac;ao foi eliminada, podemos reputar a tendencia de evitar justamente a padronizac;ao, isto e, afastara realizac;ao de laudos e pareceres identicos para casos similares, por excesso de servic;o e falta de pessoal. Agora, reservando.:.se a trabalho dessa Comissao e de outros profissionais do presidio (comoo psiquiatra) para casos graves, pode-se melhor tecerpareceres para enaltecer a mcrecimento do preso, indivi­dualizando a execuc;ao de sua pena. Sem duvida que se pode voltar as olhos para a supressao, na parte final do art. 112, caput, da expressao "e seu merita indicar a pro­gressao", parecendo, entao, que mI0 ha mais avaliac;ao do merecimento para que a mu­danc;a de regime se concretize. Assim nao

Leis Pellais e Processuais Penais CO/nwtadas

nos parece, pois 0 sistema penal e de exe­cuc;ao penal devem formar urn todo har­monico, cumprindo ressaltarque a C6digo Penal continua a mencionar a necessidade de se avaliar 0 merito do condenado para a progressao, bern como 0 exame classifi­cat6rio continuara a ser feito no infcio da execuc;ao, assim como a criminologico, ainda existindo a Comissao T ecnica de Classifica~ao. Par isso, partindo-se do pres­suposto de que a individualizac;ao da pena naO se encerra com a prola~ao dasenten~a, continuando durante a execuc;ao da pena, que possui caniter eminentemente jurisdi­cional, logo, depende de atos motivados do juiz para que se desenvolva, jamais se poderia considerar extima ou afastada a possibilidade de, para formar 0 seu con­vencimento, 0 magistrado ficar entregue a urn simples atestado de boa conduta car­ceniria, fornecido pela direc;ao do presidio, para todo e qualquer caso, sabe-se Ia de que forma e com qual criterio. a PoderJudici­ario e autOnomo do Executivo, nao sendo urn atestado 0 suficiente para levar 0 ma­gistrado a abrir mao desua independencia funcional, avaliando concretamente a pro­gresso e 0 merecimento de condenados submetidos asuajurisdil;ao. Outro caminho quese tome seria coibir a individualizac;ao execlitoria da pena, 0 que, ademais, nao seria 0 ideal. Realizarum programa indivi­dualizador no come~o do cumprimento da pena (arL 6.°, LEP) e urn exame crimino-16gico (art. 8.°, LEP) , sem haversoluc;ao de continuidade, quando for indispensavel para obtenc;ao do resultado concreto do programa fixado para a preso, seria inutil. Para que 0 juiz nao se limite a requisitos puramente objetivos (urn sexto do cum­primento da pena + atestado de boa con­duta carceraria), contra as quais nao ha insurgencia via vel, privilegiando 0 aspecto subjetivo que a individualizac;ao -judicial ou execu tar"ia - sem pre exigiu, deve seguir

Execu~ao Penal

sua convicC;ao, detenninando a elaborac;ao de laude criminol6gico, quando sentir ne­cessario, fundameritando, e certo, sua de­cisao, bern como pode cobrarda Comissao Tecnica de Classifica~ao urn parecer espe­cifico, quando the for conveniente. Acres­cente-se que a redac;ao do art. 112, caput, da Lei de ExecU(;ao Penal, menciona que 0

preso deve osten tar born comportamento comprovadopelodiretordo estabelecimen­to. Essa comprava~ao pode nao se dar de modo suficiente em urn singelo atestado de boa conduta, instando 0 magistrado a demandar outras esclarecimentos, como os dados possiveis de colhimento pelos demais profissionais em exercfcio no esta­belecimento penal. a mesmo se diga no que se refere ao livramento condicionaI,ja que continua vigente 0 art. 83, paragrafo unico, do Cadigo Penal; demandando exa­me criminologico, quando· a crime envol­ver·violencia au grave ameac;a ii pessoa. Sustentando, igualmente, a necessidade de se manter a realizac;ao do exame crimino­logico para a progressao de regime, par atender ao principia constitucional da-in­dividualizac;ao da pena, afinnam Claudio Th. Leotta de Araujo e Marco AntOnio de Menezes que "por uma questao de justic;a, respeito a Democracia e com vistas a recu­perac;ao do sentenciado, a execuc;ao da pena deve ser individualizada e a Constituic;ao brasileira, conquanto tenha sido promul­gada depois da lei supracitada, cobra essa individualizac;ao, merce de seu art. 5.°, inciso XLVI. au seja, 0 legislador sabia, tinha consciencia de que, para criminosos diferentes, execuc;oes de penas tambem diferentes, e a clemento orientador dessa individualizac;ao e a exame criminol6gico, ja que nao se dispoe de outro meio. Alem disso, como dito acirna, 0 exame e a forma pela qual 0 magistrado tern como funda­mentar sua decisao acerca da antecipac;ao da liberdade do sentenciado e progressao

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regimental, antes de cumprida a pena na integra. (. .. ) Quanta a alegac;ao de que 0

exame e mal elahorado, tcnha-se em men­te dais fatos: primeiro, de que ha urn Dutro exame, tambe.m previsto na legisla«;ao, mas que nao e feito I 0 exarne de personalidade I o qual deveria sel aplicado quando da en­trada do sentenciado no sistema prisional eserviria de esteio aD exame criminologico C .. ) Mais uma vez impotente para realizar reformas profundas, que demandam VOll­

tade politica, dinheiro e tempo, a Estado lanc;a mao de paliativos simplistas" (Em defesado examecnminol6gico, p. 3). E tam­bern: "Em razao dessa interpretar;ao pabre e literal cia nova redac;ao dada ao art. 112 daLEP, poderiamos conduir que, alem do tempo minimo de cumprimento da pena, bastaria tao somente a juntada de atestado de boa conduta carceniria para 0 apenado obter 0 beneficio almejado. Porem, e evi­dente que, em boa parte dos casos, a mera analise do comportamento carcerario do preso ml0 e suficiente para a verdadeira individualizar;ao da pena durante ° proces­so de execur;ao. Assim sendo. entendemos que, mesmosobaegideda Lei 10.792/2003, o juiz da execur;ao, em busca da verdade reale em virtudedeseu livreconvencim~n­to motivado, pode afastar 0 teor do atesta­do de boa conduta carceniria e analisar os conteudos do parecer da CTC e do laudo de exame criminologico para fundamentar o indeferimento da progressao de regime ou do livramento condicional" (Carlos Alberto da Silveira Isoldi Filho, Exame cri­minol6 gico, parecer da eTC e a nova Lei 10.79212003, p. 3). Em sentido contnirio, no Estado de Sao Paulo, editou-se a Reso­lw;ao da Secretaria de Administrar;ao Pe­nitenciaria 115, de4 dedezembro de 2003, explicitando no art. 1.°, paragrafo unico, 0

seguinte: "0 parecer, 0 laudo e 0 exame eriminol6gicos sao instrumentos de clas­sificar;ao do condenado, individualizar;ao

e acompanhamento da execur;ao de SUa pena, nao podendo servir para avaliar seu mento ou comportamento (art. 6.0 da LEP)". Em primeiro lugar, cleve-se salientar que 0

Poder Executivo limita-se a guardar os presos, proporcionando-Ihes ~s melhores condir;oes de vida possiveis no carcere, eonforme determina a lei -0 que este Poder de Estado, ainda assim, descumpre. Cabe ao judici<irio promovera execur;ao da pena, com a fiscalizar;ao do Ministerio Publico. Portanto, a edir;ao de uma Resolur;ao, de cunho administrativo, nao pode ter efeito algum nesse cenario, exceto para liberar 0

Executivo da tarefa de manter cada vez mais aparelhadasas Comissoes Tecnicas de Clas­sificac;ao e outros profissionais da sande aptos a analisar 0 comportamento dos pre-50S - 0 que nao the interessa, como regra, em face do alto custo. Diante disso, 0 refe­rido paragrafo unico do art. l.0 da Resolu­r;ao SAP 115, de Sao Paulo, nao deveservir de base para os magistrados, uma vez que e contraditoria e, alem de tudo, busca imis­cuir-se em assunto alheio. A contradir;ao concentra-se em mencionar que 0 parecer da Comissao Tecnica de Classificac;,:ao e 0 exame criminol6gico sao instrumentosde cIassmcac;,:ao (fornecedores desubsidio para o infcio do cumprimento da pena), indivi­dualiza{:c1o e acompanhamento da pena, mas nao podem servir de base para a ava­liac;:ao do merito do condenado (7 !). Eo que significa 0 merito do sentenciado senao instrumento para a individualizar;ao exe­cu toria da pena 7 0 merito serve para outra coisa senao para iss07 Basta ler 0 art. 33, §

2.°, do Codigo Penal- "aspenasprivativas de liberdade deverao ser executadas em forma progressiva, segundo 0 meritodo con­denado ... " (grifamos) - para detectar que o merito e 0 fator para a progressao e esta e inequivocamente, sob qualquer prisrna, individualizar;ao executoria da pena. 0 espfrito da lei penal esta imantado nas pa-

Leis Pellais e Processuais Penais Comentadas

lavras de Sergio Marcos de Moraes Pitom­bo, que nao deixa de ressaltar, sempre que possivel, ser a individualizar;ao da pena, inclusive na fase executoria, urn principio constitucional: "0 merito apura-se, em resumo, mediante: a) parecerda Comissao Tecnica de Classificar;ao; b) exame crimi­nologico; c) comprova~ao de comporta­mentosatisfatorio, ou ·nao, do condenado, no andar da execuc;ao; d) born, ou nao, desempenho no trabaIho, que lhe foi atri­buido; e) verificar;ao de condi~oes pessoais, compativeis ou nao com 0 novo regime: semi-aberto ou aberto" (Conceito demerito, noandamento dos regimes prisionais, p. 153). Logo, 0 pareeer da Comissao e 0 exame criminol6gico, quando necessdrios, podem edevemcontinuaraserfeitos,requisitados pelo Poder judiciario e cumpridos pelo Poder Executivo. Enfim, ainda que este Poder de Estado edite "Resolu~oes", estas nao podem ,jamais, ferir 0 C6digo Penal e muito menos a Constitui~ao Federal. Re­gistremos 0 disposto no Decreto Federal 6.049/2007, disciplinando 0 funcionamen­to dos presidios federais: "Art. 15. A exe­cur;ao administrativa da pena, respeitados os requisitos Iegais, obedeeera as seguintes fases: I - procedimentos de inclusao; e II - avalia{:ao pela Comissao T ecnica de Clas­sificat;ao para 0 desenvolvimento do proces­so da execUt;ao da pena" (grifamos). Essa tern sido, atualmente, a posi{:ao majoritaria da jurisprudencia: STF:· "Entendeu-se que o aludido art. 112 da LEP, em sua nova re­dac;ao, admite a realizar;ao facultativa do exame criminologico, desde que funda­rnentada e quando necessaria a avaliac;,:ao do condenado e de seu merito para a pro­mo(:ao a regimemais brando. Ressaltou-se, ainda, que esse exame pode ser eontestado, nos termos do § 1.° do pr6prio art. 112,0 qual preve a instaurac;:ao de contradit6rio sumario.A partir de interpretar;aosistema­tica do ordenamento (CP, art. 33, § 2.0 e

Execur;ao Penal

LEP, art. 8.0), concluiu-se. que a citada al­

terac;:ao nao objetivou asupressao do exame criminologico para fins de progressao do regime, mas, ao contrario, introduziu cri­terios norteadores a decisao do juiz para dar concrec;:ao ao principio da individuali­zac;ao da pena. Vencido 0 Min. Marco Au­relio que deferia 0 writ por considerar nao ter havido modificac;ao substancial das exigencias legais para a concessao de tal beneficio" (HC86631IPR, l.'T., rei. Ricar­do Lewandowski, 95.09.2006, m.v., 1nJor­mativo 439). STJ: "Muito embora a nova redar;ao do art. 112 da Lei de Execuc;oes Penais, dada pela Lei 10.792/2003, nao exija mais 0 examecnminol6gico, esse pode ser realizado, se 0 ]uizo das Execuc;oes, diante,das peculiaridades da causa, assim o entender, servindo de base parao deferi­mento ou indeferimento do pedido. (Pre­cedente). Writdenegado" (HC40.278-PR, 5.' T., reI. Felix Fischer; 07.04.2005,v.u., D] 20.06.2005, p. 313). T]SP: condenado a maisde 38 anosde reclusao, pela pnitica de varios homicidios qualificados, eonsu­mados e tentados, cometidos antes deserem considerados delitos hediondos, 0 senten­ciado teve seu pedido deferido peIo MM. juiz de 1.0 grau, mas 0 Tribunal deu provi­mento ao agravo em execuc;ao para mante-10 no regime fechado ate que se possa apu­rar, devidamente, os requisitossubjetivos: "Contudo, nao podemos en tender que 0

exame criminologico tenha sido abo lido para todos os casos de progressao, bastan­do apenas 0 atestado de comportamento careerario, pois 0 art. 32, § 2.°, do C6digo Penal, determina que a penaseja cumprida de forma progtessiva, de acordo com 0

merito do condenado, assim, necessario que existam elementos que indiquem ° merecimento do reeducando, elementos estes que propiciem ao julgador a certeza de queosentenciado esteja preparado para a progressao, apto para 0 convivio em so-

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dedade" (Ag. 469. 787.3/2-00,Araraquara, 2.a C. Extraordimiria, reI. Sergio Ribas, 22.09.2004, v.u.). "0 examecriminologico nuncafoi imprescindfvel a progressao, pos­ta que nao vincula 0 Magistrado, mas pode ser determinado quando as peculiaridades do caso 0 indicar. 0 sentenciado preencheu todas as requisitos ensejadores cia progres­sao" (Ag. 486.977.3/4-00, L' C, reL Peri­cles Piza, 17.10.2005, m.v., RT 846/570). "Nao caracteriza constrangimento ilegal a detenninac;ao judicial de realizac;ao de exa­me criminologico _para.a progressao de regime prisional, pais, embora tenha havi­do a supressao legal da realizar;ao com a nova reda<;ao dada pela Lei 10.792/2003 ao art. 112 da Lei de Execw;ao Penal, naG signifiea que 0 exame tenha sido proibido, cabendo ao magistrado recornendar ou nao a sua realiza<;ao" (HC 870479.3/6-0000-000,5.' C, reL Sergio Rui, 20.10.2005, v.u., RT 847/580). T)MSP: "Progressao do regi­me fechado para 0 semi-~berto. Policial militar condenado por crime de natureza sexual. Observancia ao postulado da indi­vidualizar;ao da pe_na. Necessidade de rea­lizac;aodo exame crimino16gico. Confonne preceituado pelo art. S.?-, caput, daLEp, incabivel a progressao para 0 regime semi­aberto fundamentada sornente no cumpri­mento do lapso temporal exigido e no ates­tado de born comportamento carcenirio, sem a realizac;ao do laude criminologico" (Ag. 319105, 2.' C, reL designadopl 0 oc6r­daoA vivaldi N ogueirajunior, 22.09 .2005, ffi. v., RT 846/70 1). T)PR: "Exame crimino­logico - Inexigibilidade da pericia com a nova reda<;ao do art. 112 da Lei 7.210/84 dada pela Lei 10.79212003 -Hip6tese, no entanto, que nao implica qualquervedac;ao asua utilizac;ao quando 0 juiz julgarneces­sirio. A nova redac;;ao do art.I12 cia Lei de Execuc;6es Penais conferida pela Lei 10.792/2003 deixou de exigir a realizac;ao dos exames periciais, anteriormente im-

prescindiveis, nao imporlando, no en tanto, ern qualquerveda(do it sua utiliza(iio sempre que 0 juizjulgar necessaria (ST], 5.a T., HC 37440-RS, reL Min. Gilson Dipp)" (Ag. 174.656-1, L' C, reL Bonejos Demchuk, 02.06.2005, v.u.,RT844/649,grtfosnossDs). Par derradeiro, vale ressaltar que, no jul­gamento do HC 82.959-SP, do Supremo Tribunal Federal (Plenario), que conside­rou inconstitucionala vedac;ao a progressao de regime, no caso de crimes hediondos e equiparados, varios Ministros, tanto os vencedores quanta as vencidos, declararam, expressamente, que cabe ao juiz da execu­c;ao criminal avaliar, no caso concreto, a viabilidade e a merecimento para a trans­ferencia a regime rnais brando. Nessa 6tica, em Plenario do STF, as ministros chegaram a expressar que 0 exame criminol6gico e·o parecer da Comissao Te.cnica de Classifi­cac;ao podemser exigidos para a formac;ao da convicc;ao do rnagistrado, a que confir­rna a tese que ora defendemos. Em contra­rio, dispensando a realizac;ao do exame criminol6gico: T)SP: "0 pedido de progres­sao de regime prlsional cleve ser apreciado pelo juizo da execui;ao independentemen­te da submissao do sentenciado a exame criminologico, tendo em vista a norma do art. 112 da Lei de Execouc;ao Penal, com a reda<;ao dada pela Lei 10.792/2003. (...) Sendo assim, cabe; observar que, muito embora seja temeniria a substituic;ao da exigencia do parecer da Comiss~o :r ecnica de Classificac;ao e a submissao do reu COll­

denado a exame criminol6gico, como COll­

dic;ao para se aferir seu rnerecimento com vista a eventual progressao do regime fe­chado para 0 semi-aberto, par urn simples atestado de boa conduta passado pela di­rec;ao do presidio em que recolhido 0 con­'denado, esta claro ter sido essa a intenc;ao do legislador ao editar a Lei 10.79212003, quedeve serobservada peloJuizo das Exe­cuc;6es Penais, sob pena de violac;ao ao

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

disposto no-art.·ll2 da Lei de Execuc;ao Penal, em sua nova reda~ao" (HC 870.474.3/3-00, L' C, reL Mario Devien­ne Ferraz, 31.10.2005, v.u., RT 849/557). 19ualmente: Ag. 486476.3/8-00, L' C, reL Mario Devienne Ferraz, 14.02.2006, v.u., RT850/571.

252. Pena extensa e transferencia a regi.:ne menossevero:po~ibilic14d(~, d~de q~e' 0 conden~do preencha o~ re:~uisitos legais. a fato de a sentenc;iado apresentar pena longa nao pode ser ernpecillto para a sua progressao, pois e urn elemento nao previsto em le((e:(c: condenadC! a,6Q anos de reclusao, inserido no regime fe~~ado, ap6~ 10 anos, embora faltern praticamen­te 50 anos, PQde, em te~e, seguir para 0

regime semi-aberto). Nessesentido: T]SP: "A g'ravidade do delito e a longevidade da pena nao con~~ituem 6btce ~ progressao da reprimenda ao regime semi:;~abe:rto, mor­mente se 0 condenado ja cumpriu l11ais ~e urn sexto da pena e tr:;m ~ seu favor parecer da Comissao Tecnica de Classifica~ao que, embora prescindivel para a concessao da progressao, somente deve ser despre;z:ado se 0 juiz apresentar rnotivos concretos para tahto" (Ag. 497775.3/8, 5.' C, reL Tristao Ribeiro, 27.10.2005, v.u., RT 847/560).

253. Praticadefaltagraveenovacon­tage~: se 0 condenado comete faltagrave, enquanto cumpre pena no regitne fechado (au serni-aberto~ra.efetto de progressao,

~ de:ve cornec;ara computaro perio~o de urn .tL sexto novament~Ex.: cumprindo a pena

,1..".) de doze anos, iniciada J;10 regime fechado, ~-G-. apos dQis anos - atingido urn sexto - co­J:k'- mete [alta grave. ConsequeIJ.cias; a) nao

. podera receber 0 beneficia da progress~o, porausencia demerecimento; b) cornec;ara

q a can tar novo periodo d~ urn sexto.a partir da data em que corneteu a falt.a; c) lembrar que esse novo perfodo incide sobre a re-

Execuc;;ao Penal

manescente da pena e nao sobre a total, ou seja, sabre dez anos e naO em rela~ao a doze, pois dois anos ja foram extintos. Najurisprudencia: T]DF: '~o prazo de urn sexto, previsto no arL112 da:Lei 7.210, cornec,;a novament~ a fluir do di~ da pnitica da infrac;ao disciplinar" (Agravo 2005 01 1075193-0,2.' T., reL Getulio Pinheiro, 02.03.2006, v.u.). Outra posi~ao,ad9tando como marco inicial para a recontagem do prazo para a progressao a data da regressao: TJRS: "0 prazo necessaria para_a progressao de regime e camputado a partir da data ~m que efetivada a anterior regress~o para 0

regime rnais severo, no qual se encontra 9 apenado" (Ag. 70015029515, 7.' C, reL Marcelo Bandeira Pereira; 31.08.2006, v. uJ.

254 .. lapso temporal e inquerito em andamento: a existenci<l' porsi 56, de Ulp jnquerito policial em traIllite, para apurar eventual crime co.metido pelo candenado, nao pode servir de obstaculo a concessao de progressaC? de regime O:U outro ~e"Q.eficio qualquer, desde que ele tenha preenchido o lapso temporal e os demais requisit~~ do merecimento (laudos favoraveis). Nessa linha, conferir: SIF: "Paciente condena­do as penas de 50 anos, 2 meses e 20 dias de reclusao par diversas infra~6es, tendo cumprido mais de 16 anos eITl regime fe­chado. Atendimento do requisito objetivo para progressao do regime pelo _cumpri­menta de 1/6 das penas (art. 112, caput, da LEP, Lei 7.210/84). Exame'criminologico e Farecer da Comissao Tecnica de Classi­ficac;ao favoraveis a progressao do regime prisional, restando atendidos, em parte, as requisitos subjetivos (arLl12, caput, in fine, e paragrafo unico, da LEP [redac;ao anterior a Lei 10.79212003, pOisatualmente hadois paragrafos em Iugar do p"migrafo unicoJ). Obice _suscitado pelo Ministerio Publico para a concessao da progressao, por gstar

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Guilhenne de Souza Nucci 498

o paciente respondendo a inquerito como suspeito de ser 0 mandante da morte de colega de carcere, acolhido peIo ]uiz das Execuc;oes Penais. 0 paciente naD esta su­jeita a aguardarindefinidamente as conclu­soes do procedimento administrativo para abte'r 0 beneficia da progressao do regime prisional, 0 qual, entretanto, paden! ser a qualquermomento objeto deregreSsao (art. 118, caput. LEP). A concessao do beneficia nao pode levar em conta 0 que ocorreu no passado, mas, apenas, se estaa reunidos as requisitos necessarios" (He 79.497 _Iq. 2.a T., reI. Mauricio Correa, 19.10.1999. rn. v., RTJ176/791).

255. Prazos especi~is para crimes hediondos e equiparados: estabeleceu a Lei 11.464/2007, conferindo nova reda,ao ao art. 2.°, -§ 2:°, da Lei 8.072/90, prazos mais extensos para condenados por ddi­tos hediondos e assemelhados: 2/5, para primarios;3/5, para reincidentes. Conferir nos comentarios-ao referido paragrafo na referida Lei dos Crimes Hediondos, nesta obra.

256. (!>rogressao por S~deve-se observar, ngorosamente, 0 dispostono CO­digo Penale naLei de Execw;ao Penal para prornovera execw;ao da pena, serna cria~ao de subterfugios contdrnando a finalidade da lei, que e a da reintegra~ao gradativa do condenado, especialmente daquele que se encontra em regime fe~hado, a socieda­de. Assim. e incabivel a execu~ao da pena "par saltos" • ou seja, a passagem do regime fechado para 0 aberto diretamente, sem 0

necessario estagio no regime intennediario (semi-aberto). Nesse sentido, ver artigo de Sergio Marcos de Moraes Pitombo, RT 583/312. Utilizando 0 mesmo criterio esta a jUrisprudencia majoritaria. Conferir: STF, HC76.965-MG, 1.'T.,rel. Sydney Sanches, 15.12.1998, v.u., DJ 14.05.1999, p. 2.

257. Veda~ao a reformatio in pejus: denomina-se refonnatio in pejus a reforma de decisao anterior, nonnalmenterealizadapor tribunal superior, em recurso exclusivo da defesa. Essa situa~ao e vedada em processo penal e, consequentemente, na execu~ao penal. Nao pode 0 condenado apresentar recurso contra determinada decisao que o prejudicou e 0 tribunal, ao conhecer do referido recurso, dar-Ihe provimento para piorar ainda mais sua situa~ao. Se a medi­da fosse admissivel, of en de ria ° principio constitucional da ampla defesa, pOis Dao teria a menorsentido assegurar ao acusado a possibilidadedoduplo graudejurisdit;ao caso, na pratica, enfrentasseuma verdadeira loteria, vale dizer, 0 recurso tanto poderiaser providopara bern ou para mal. Nessa atka: STJ: "Concedidos a progressao de regime e 0 beneficio de saidas temporarias, nao pode 0 E. Tribunal desconstituir, de oficio", a r. decisao, se tal ponto nao foi objeto do recurso interposto pelo Ministerio Publico, sob pena de of ens a ao principio da veda~ao a yeformatio in pejus" (HC 39.074-Rs, 5.' T.,re!. Felix Fischer, 21.06.2005, v.u.,DjU 1.°.08.2005, RT843/542).

253. Devido processo legal na exe­cus:ao penal: exemplo de que a exe~u~ao da penasegue os mesrnos parametros COTIS­

titucionais que 0 processo de conhecimento e a previsao feita no § 1.° deste artigo, au seja, todas as decisoes do Judiciario de­vern ser motivadas (art. 93, IX, CF) e nao se prescinde do contraditario e da ampla defesa (art. 5.°, LV, CF), oUvindo-se, antes, o Ministerio Publico e a defesa tecnica. Na jurisprudencia: TJDF: "Enulaa decisaoque concede a progressao do regime prisionalao sentenciadosem oportunizar ao Ministerio Publico oficiarpreviamente sobre 0 pedido do beneficio, eis que obrigat6ria sua inter­ven,ao". (Agravo2005.01.1.099551-8, l' T., reI. Alfeu Machado, 27.04.2006, v.u.).

Leis Penais e Processuais Pellais Comentadas

259. Procedimentoparaolivramento c~ndicional, indulto e comutas:ao de pe~ nas: yer os cpmentarios feitos na nota 249 a9 caput deste artigo. Em outras palavras, nao basta atingir 0 requisito temporal de cumprimento de pena, necessitando-se a ava1ia~iio do rnerecimento. Esta se da tanto pelo atestado de boa conduta carceraria como, tambem, se necessario a forma~iio do convencimep.to do magistrado, exame criminologico e parecerda Comissao Tec­nica de ClassUicar;ao. Privilegia-se,- desse modo, a principio constitucional da indi­vidualiza~ao executoria da pena.

Art. 113. 0 ingresso do condenado em regime aberto sup6e a aceitac;ao de seu programa e das condi/;6es impostas pelo juiz.260

260. Regimeabertoesuaspremissas: preceitua 0 art. 36 do C6digo Penal que 0

regime aberto "baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do preso do condenado" .. Por tal razao, e preciso que ele se submeta as condi~6es impostas peIo magistrado de espontanea vontade.

Art. 114. Somente podera ingressar no regime aberto 0 condenado que:261

I - estiver trabalhando au compro·var a possibilidade de faze-Io imediatanien~e;

II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indfcios de que ira ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.

Paragrafo unico. Poderao ser dispensadas do trabal ho as pessoas referidas no art. 117 desta Lei.262

261. Requisitos basicos de ingresso no regime aberto: deve a albergado tra­balhar, demonstrando ao juiz da execu~ao

Execuc;ao Penal

penal ja exercer alguma atividade (po.de estarsolto eingressarno regimeaberto) ou comprovar a viabHidade de faze-lo (ainda que desempregado, tern empenho em re­colocar-se). Apresentar mereci111ento. Ob­serve-se a insistencia do legislador·com a individualizaCao executaria da pena,_o que e correto, ao mencionarque, em face dese1Js antecedentes ou conforme 0 resultado dos exames a que se submeteu (perante a Co­missao Tecnica de Classifica~ao, seadvem do regime semi-aberto), devera ajustar-se as regras liberais do novo regime.

262. Albergadosdispensadosdotra, balho: as condenados-que estiverem nas condi~6es do arLl17 desta Lei (vide nota abaixo), nao pre~isam trabalhar, embora possamfaze-lo. Trata-sede uma faculdade, confarme cada caso concreto. Vma pessoa idosa pode estarem perreita fonna-e erngozo de saude ideal, logo, pode desempenhar algtimaatividade laborativa. Por outro lado, a pessoa gravemente enfermadificilmente conseguira desenvolver qualquer tarefa.

Art. 115. 0 ju.iz podera estabelecer condiQ5es especiais para a concessao de regime aberto, sein prejufzo das seguintes condic;oes gerais e obrigatorias;261-264

1- permanecer no local que for designa­do, durante 0 repouso enos dias de folga;

II - sair para 0 trabalho e retornar, nos horarios fixados;

III - nao se ausentar da cidade onde reside, sem autorizac;ao judicial;

IV - comparecer a jufzo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.

263. Condi~6es do regime aberto: alem de condi~6es especificas, conforme as necessidades de individualizac;ao executaria cia pena de cada condenado, a magistrado deve estabelecer as previstas no~ incisos do

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art. 115 aD albergado. Sao as seguintes: a) permanecer na easa doAlbergado quando nao estiver trahalhando (durante otepouso e nos"dias de folga); b) respeitar os'honlrios estabelecidos pelo juiz para sair e volta a Casa do Albergado (depender' do tipo de trabalha 'que conseguiu);.c)-nao sair da cidade onde se situa a easa do Alhergado, sem previa autofizac;~o do juizda execuc;ao penal; d) comparecer a jufzo sempre que for charnaclo a infonnar 0 que venifazendo ejustificar suas atividades.

264. Condi~6es legal mente ine~is­tentes: sao vedadas', e'm homenagem aD

principio da legalidade. Conferir: TJPR: "Tendo a decisao afastado a possibilidade de substituic;ao da pena privativa de liber­dade por restritiva de direitos, na~ pode, via transversa, impor aD apelante a pena altemativa de presta~ao deservit;:os a comu­nidade, pena de vulnera~ao ao principio da legalidade e da nulla poena sindege. EmboJa possa 0 juiz fixar condi~oes especiais para a concessao do regime aberto, na esteira do disposto no artigo 115 da Lei de Execu~ao Penal, nao pode, por certo, impor ao con­denado pena que a lei nao comina ao delito praticado" (Ap. 264.042-6, Imbituva, 5.' c., reI. Rosana Andriguetto de Carvalho, 21.09.2006, v.u.)

Art. 116. 0 juiz padera modificar as condit;5es estabelecidas, de offcio, a reque­rimento do Ministerio Publico, da autoridade administrativa au do condenado, desde que as circunsUjncias assim 0 recomendem.265

265. Modifica~ao das condi~6es do regime aberto: e perfeitamentevhivel que as condiyoes possam ser alteradas para se adaptar ao cenario amal de vida do conde­nado. Imagine-se que ele passe de urn tra­balho diurno para uma atividade laborativa notuma. Nesse caso, havera 0 magistrado

de adaptar seus horarios de safda e che­gada a Casa do' Albergado, para que possa cumprirsatisfatoriamenteasregrasfixadas: Outro exemplo: Sf! arrumar urn emprego de vendedor, que exija constantes viagens para 'outras cidades. Necessitara de, uma au tarizac;ao duradoura do juiz para deixar a cidade' onde se situa a Casa do Alberga_ do, informado quando e onde podeni ser encontrado. Ha, pois, maleabilidade na execuc;ao da pena, 0 que se confonna a'o espirito da individualizar;ao.

Art. 117. Somente se admitira 0 reco­Ihimento do beneficiario de regime aberto em residencia particular quando se tratar de:266

I - condenado maior de 70 anos;

1I - condenado acometido de doenc;a grave;

III - condenada com filho menor au deficiente ffsico au mental;

IV -' con den ada gestante.

266; Prisao albergue domiciliar: a conhecida PAD foi hip6tese 'idealizada para presos inseridos no regime aberto em condiyoes pessoais particularizadas. Seria muito mais complicado e, porvezes, inutil aos prop6sitos ressocializadores da pena, manter na Casa do Alberg~do as pessoas descritas nos incisos do art. 117 desta Lei. Os condenados·maiores de 70 anos sao idosos e podem padecer de dificuldade.s naturais ffsicas ou mentais. as sentenciados enfermos merecem cuidados permanentes. A condenada, com filho menor ou deficiente FIsico au mental, devedestinar grande parte doseu tempo a seu descendente, nao poden­do se instalar,junto com a famfli"a, na Casa do Albergado. Par derradeiro, a condenada gestante, conforme 0 caso, pode estarprestes a dar a luz, 0 que justifica maior observar;ao e cautela. Em suma, todossao condenados

Leis Penais e Processuais Penais Com'entadas

ExecUl;ao Penal

com particularidades especfficas, de menor periculosidadeasociedade, motivo pelo qual podem serinseridos em prisao domiciliar. o que, na pnitica; houve, lamentavelmente, em decorrencia do descaso do Poder Exe­cutivo de varios Estados brasileiros, foi a prolifera~ao dessa modalidade de prisao a todos os sentenciados em regime aberto, por tatal ausencia de Casas do Albergado. Cuida-se de nitida forma de impunidade, ate peIo fata de nao haver fiscaliza~a6 para atestaro cumprimento das condi~5esfixadas pelo juiz,ja que es.Hlo recolhidos, em tese, em suas proprias casas, cada qual situada em Iugar diverso da cidade.

Art. 118. A execw;;ao da pena privativa de liberdade Hcara sujeita a forma regressL­va, com a transferencia para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando 0 condena­do:267.268

I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;269

II - sofrer condenac;ao, por crime ante­rior, cuja pen a, ~omada ao restante da pena em execuc;ao, torne in·cabfvel 0 regime {art. 111 ).270 .

§ 1.° 0 condenado sera' transferido do regime aberto se, alem das hipoteses referi­das nos ihcisos anteriores, frustrar as fins da execuc;ao au nao pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.2l1

§ 2.° Nas hip6teses do inciso [ e do paragrafo anterior, devera ser ouvido, pre­viamente, a condenado.172

267. Regressao de regime: conforme ja afirmamos anterionnente, a execw;ao da pena e flexivel e respeita a individualidade de cada condenado. Havendo merecimento, a tendenda e a finaliza~ao da pena no regime mais brando, que e 0 aberto. Se faltas forem cometidas, demonstrando a inadaptac;ao do condenado ao regime no qual esta inseri­do, podera haver a regressao. Nao existe

a obrigatorie:dade de retornar: ao regime anterior, vale dizer, se estava no aberto', deveseguiraosemi-aberto. Eventualmeme, conforme preceitua a art. 118, caput; pode ser 0 condenado transferido para qual qua dos regimes mais rigorosos, sendo v-hivel a salta do aberta para 0 fechado. Depende, pais, do caso concreto.

268. Veda~ao it reformatio in pejus: ver a nota 254ao art. 112.

269. Pratica de fato definido como crime doloso ou raltagrave: a re1a~ftodas faltas graves cansta do art. 50 de~ta LeL Por outro lado, 'co'meter urn fato (note-se· que se fala em Jato e nac' em crime,'de modo que nao ha necessidade'de se aguatdar 0

transita em julgado de eventual senien~a coridenat6ria) definido em lei como crime dolosb (despreza-se 0 delito culposopara tal finalidade), conforme a gravidade concreta auferida peIo juiz, pode lev~ro condemiclo do aberto ~o semi-aberto 'ou desde para 0

fechado, b~m como do aberto diretamente para 0 fecha!io. Exemp~o: estando no aberto, comete uma extorsao mediante sequest:r;o, peIa qual e preso em flagra~te. Ora, cabe regressao ~o regime fechado, em razaO da gravidade do fata praticado.

270. Advento de nova condena~ao: em cumprimento da pena, 0 sentenciado pode sofrernovas condenac;oes. Se 0 mon­tante delas tornar a regime incompativel com 0 preceituado em lei, precisa a juiz adapta-Io a nova realidade, podendo im­plicar em regressao. Ver os conientarios feitos ao art. III supra.

271. Frustrac;aodosfins da execu~ao e nao pagamento da multa: a objetivo principal da execuc;ao e a reeducar;ao do preso; com vistas a sua ressocializar;ao. Portanto, atitudes hostis a tal proposito comprometem 0 escopo da execuc;ao penal,

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Guilhenne de Souza Nucci

autorizando a transferenciado condenado do regime abeJto a Dutro, mais severo. Em especial, para isso, verifica-seo descumpri­mento as condil;aes impostaspelo juiz (art. 115, LEP). Outro ponto e 0 nao pagamento da multa cumulativamente imposta. Em nosso entendimento. 0 fato de teI a multa side transformada em divida de valor (art. 51, CP), nao implicando rnais em prisao, por conversao dos dias-multa em dias de prisao, caso deixe de seI paga, nao afeta 0 previsto neste artigo. Estamos situados em outro cemirio: 0 da autodisciplina e do sensa de responsabilidade do condenac.lo (art. 36, CP). Ora, se est. trabalhando, ganha o suficiente. par que nao pagaria a multa que the roi imposta? Por que haveria de deixar 0 Estado gastartempo edinheiro para executar a pena pecuniaria? Nao se trata, naturalmente, de atitude responsavel. Por isso, pens amos que 0 albergado deve pagar, podendo,amultaimpostacumulativamente a sua pena privativa de liberdade. Nao 0

fazendo, e motivo para regressao. .

272. Ampla defesa: quando praticar fato definido como crime doloso ou quando deixar de cumprir as condic,;5es impostas pelojuiz, bemcomodeixardepagaramuIta, antes de haver a regressao, 0 condenado precisa serouvido pelo magistrado. Cremos que 0 exercicio daampladefesa e fundamen­tal, tanto da autodefesa quanta da defesa tecnica. Pode ele apresentar justificativa razoavel para 0 evento. E, se 0 fizer, 0 juiz pode mante-Io no regime aberto, embora advertido a nao repetir 0 equlvoco. Nao se ouve 0 condenado no caso doinciso II do art. 118, tendo em vistaquese trata desituac;ao objetiva e incontornavel. Nesse sentido: STJ; "Configura constrangimento ilegal a decisao quedetermina a regressao de regime prisional fundada em procedimento regular instaurado para a apurac;ao da pr<1tica de falta disciplinar, nao obstante a inexistencia

de oitiva doreu pelo jUlzO das execuC;:5es. E de rigor a regra do art. 118, § 2.°, da Lei de Execuc;oes Penais, no sentido de se enten_ der imprescindivel a audiencia pessoal do condenado, pelo juiz, antes de imposic;ao da regressao. In casu, sendo a decisao de regressao definitiva a determinar a medida mais gravosa, imprescindivel a previa oitiva do feU que, em tese, cometeu falta grave, propiciando-se, assim, a oportunidade da ampladefesadocondenado" (RHC 17.924, PR, 6.' T., reI. Paulo Medina, 18.08.2005, v.u, DJU 12.09.2005, RT843/536).

Art. 119. A legisla<;ao local podera estabelecer normas complementares para 0

cumprimento da pen a privativa de liberdade em regime aberto (art. 36, § 1.°, do C6digo Penal).273

273. Normas complementares: a legislac;ao estadual pode criar mais regras para aprirnorar 0 cumprimento da pena em regime aberto, como, por exemplo, criar e dar 0 contorno a cursos e outras atividades para preencher 0 tempo do albergado nas horas vagas, como, par exemplo, durante os finais de semana. Infelizmente, se nem mesmo Casa do Alberto existe em muitas Comarcas, 0 que se did de normas em complementac;ao a isso?

Se~ao III

Das autoriza~6es de safda

5ubser;ao I

Da permissao de safda

Art. 120. as condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e as presos provisorios poderao obter per­missao274 para sair do estabelecimento,

Leis Penais e Processuais Penais Comenfadas

mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:

1- falecimento au doenc;a grave do con­juge, companheira, ascendente, descendente aU irmao;

II - necessidade de tratamento medico (paragrafo unico do art. 14).275

Paragrafo unico. A permissao de safda sera concedida pelo diretor do estabeleci­mento onde se encontra 0 preso.27£'

274. Permissao de safda: os presos, condenados ou provisorios, podemdeixar o estabelecimento penal, sob escolta de policiais ou agentes penitencilirias, que assegurem nao haver fuga, para situac;6es de necessidade: a) participar de cerimonia funeraria em decorrencia de falecimento do conjuge, companheiro(a), ascendente, descendente au irmao; b) visitar as mes­mas pessoas fetro ,mencionadas quando padecerem de doenc,;a grave; c) necessi­dade de submissao a tratamento medico nao disponivel no presidio ou em hospital penitenciario anexo. A permissao de saida somentese aplica aos inseridos nos regimes fechadoesemi-aberto, tendoem~taqueos albergados (regime aberto) ja estao soltos. Entretanto, em casos excepcionais, porque eles tern horarios ceItos para entIar e sair da Casa do Albergado podem necessita_r de autorizac,;ao do juiz da execuc;ao penal para, sem escolta, ficar ,em local diverso (ex.: passar a noite no velorio de urn pa­rente). Naose trata, nessa ultima hipotese, de permissao de saida, porem nao deixara de·ser a caso de se buscar uma autorizac;ao do magistrado ou, pelo menos, comunicar ao juizo, assim que possivel, a nao cuinpri­menta das condit;oes estabelecidas em face de situac;ao excepcional.

275. Referenda equivocada: trata-se do art. 14, § 2.° e nao do paragrafo linico. Preceitua 0 referido § 2.°: "quando 0 esta-

Execuc;ao Penal

belecimento penal nao estiver aparelhado para prover a assistencia medica necessaria, esta sera prestada em outro local, mediante autorizac;ao da direc,;ao do presidio".

276. Autoriza~iio daautoridadead­ministrativa: nao se trata de medida de ordem juris~icional, a ponto de influenciaro cumprimento da pena, emqualquerprisma. Cuida-se de situac,;ao emergencial da 6rbita puramente administrativa.

Art. 121. A perr:nanencia do preso fora do estabelecimento tera durac;ao necessaria a finalidade da safda.277

277. Permissao nao e salda tempo­niria: diversamentedo instituto tratadono art. 122 eseguintesdesta Lei, a pennissao e medida excepcional e deve ter, realmente, a mera func;ao de corrigir urn problema (tratamento de saude) ou atender a uma razao de natureza humanitaria (visita a urn doente ou participac,;ao em cerim6nia funebre). Porisso, tern curta durac;ao.

5ubser;Jo /I

Da safda temporaria

Art. 122. Oscondenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderao obter autorizac;ao para sa fda temporaria278 do estabelecimento, sem vigilancia direta, nos seguintes casos:279

1 - visita a familia;

II - frequencia a curso supletivo profis­sionalizante, bem como de instrut;ao do segundo grau ou superior, na coma rca do Jufzo da Execuc;ao;

111- participac;ao em atividades que con­corram para 0 retorno ao convfvio social.

278. Safda temporaria: cuida-se de beneficia de execuc,;ao penal destinado aos

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!."

Guilhenne de Souza Nucci

presosquecurnprem pena em regimesemi­aberto, como forma de viabilizar, cada vez mais, a reeducac;;ao, desenvolvendo-Ihes 0

sense de responsabilidade, para,'no futuro, ingressarno regimeaberto, bern como para dar inido ao processo de ·ressocializac;;ao. Porisso, e concedida p'elo juiz da execuc;;ao penal, respeitados os requisitos deScritosno art. 123 infra, com as finalidades previstas nos incisos do art. 122 desta Ld. Nao ha, por decorrencia logica dos objetivos que pre.:. tende alcanc;;ar, vigilanda direta de agentes policiaisou penitenciarios. Lembremosque inexistesaida temporaria voltada aospresos em regime fechado, alga qu~, infelizmente, algunsmagistrados, a pretexto decontomar problemas rel~tivos a superl~~c;;.ao do presi­dio, comec;;arama conceder, muito embora assumindo postura contraria ,a lei.

279. Metasdasafda tem·poraria:pro­porcionarao preso de born cofnportamento uma maiorproximidadecom a familia; alem de the garantir a possibilidade de estudar, uma vez que, mi. colonia penal onde se encontra, apesar de dever existiratividade laborativa, dificilmente se encontrara for­rnac;;ao profissionalizante e de segundo grau, sendo quase impossivel urn CUrso superior, e alternativa positiva. A participac;;ao em atividades propiciadoras de convivio social tambem se incIuem no mesmo contexto de ressoci~lizaC;;ao.·

Art. 123. A autorizac;;ao sera concedi­da por ate motivadd80 do juiz da execLJ(;ao, ouvidos 0 Ministerio Publico e a adminis­trac;ao penitenciaria, e dependera da satis­fac;ao dos seguintes requisitos:281

I - comportamento adequado; II - cumprimento mlnimo de 1/6 (um

sexto) da pena, se 0 condenado for prirnario, e 1/4 (um quarto), se reincidente;

III - compatibilidade do benefkio com os objetivos da pena.

280. Ato motivado do juiz: nemseJn. pre se da desse modo. Ha muitos presos inseridos no regime semi-aberto e. ao se aproximar urn feriado qualquer. espe.; cialmente os de importancia as familias (ex.: Natal, Dias dos Pais, Dia das Maes), nao ha viabilidade pratica, nem tempo, para 0 magistrado analisar uma a uma das execuc;;oes penais existentes na Comarca; autorizando, igualmente, urn a urn dos presos a deixar a co Ionia penal em saida temporaria. Edita-se, entao, uma portaria geral, promovendo nesta pec;;a os requisi­tos exigidos e, praticamente, delegando ao diretor do estabelecimento penal que se!ecidne aqueles que podem sair e os que nao serao beneficiados. Logicamente, assim ocorrendo, cabe impugnac;;ao tanto do Mi­nisterio Publico, em relac;;ao a detenninados presos. feita diretamente ao juiz, para que nao saiam, quanta dopreso que nao obteve 0

beneficio, tambem dirigidaao magistrado da execuc;;ao penal. Este, entao, podera decidir o caso concreto, motivadamente. Qualquer decisao tomada comporta agravo, massem efeito suspensivo. Logo; em casas terato-16gicos, autorizando OU negando a saida temporaria, pode serimpetrado mandado de.seguram;a ou ate mesmo habeas corpus, conforme 0 caso e dependendo da parte interessada (ex.:. 0 MP, para evitar a saida temporaria de algurn preso, cleve valer-se do mandado de'seguranc;;a; 0 preso, para conseguir alcanc;;ar a saida, pode impetrar habeas corpus).

281. Requisitos para a safda tem­poraria: e preci~o preencher os seguintes: a) cornportamento adequado, 0 que nao significa, necessariamente, ser otimo. Por vezes, 0 preso pode ser sancionado por falta leve, exemplificando, 0 que nao lhe retiraria a possibilidade de obter 0 benefi­cio; b) cumprimento de, pelo menos, urn sexto da pena, se primario, e urn quarto,

Leis Pellais e Processuais Penais Comentadas

se reincidente. Caso ingresse diretamente noregimeaberto, para cumprir, porexem­plo, seis anos de recIusao, somente podera pleitear a saida temporaria apos urn ano. porero, se ingressa no regime semi-abeno, porprogressao, advindo do regime fechado; ja tendo cumprido neste ultimo urn sexto do total da pena, pode obter, de irnediato, a saida temporaria. E 0 teor da Sumula 40 do STJ: "Para obtenc;;ao dos beneficios de saida temporaria e trabalho externo, considera-se 0 tempo de cumprimento 4a pena no regime fechado" ... Esta correta ~sa dispo~ir;.ao, pois 0 .condenado ja tev~ tempo suficiente para d,emol1strar seu born ~omportam.ento e adequac;;ao a d~sciplina exigida pelo estabeIecirnento penal mais severo (regime fechado), tanto que conse­guiu a transferencia ao semi':'abeito: Assim que viavel, pode ser beneficiado pela saida temporaria; c) compatibilidade do beneficio com os objetivos da pep-a, no caso, funda­mentalrnente', os "aspectos da reeducar;.ao e da ressocializaC;;ao. PQr isso, 0 dtsposto no inciso III do art. 123 volta-se~'~asica~en­te; a associac;;~o com 0 preceituado peIo art. 122, III ("participac;;a,? em atividades que cbri.corra'm para 0 retomq ao 'convivio social").' .

Art. 124. A autorizac;ao sera concedida por prazo nao superior a 7 .(sete) di.as, po­dendo ser renovada par mais quatr9 vezes durante 0 ano.282

Paragrafo unico. Quando se tratar de frequencia a curs~ profissionalif:ante, de instruc;ao de segundo grau ou superior, 0

tempo de safda sera 0 necessaria para 0

cumprimento das atividades discentes. 281

282. Perfodo maximo: a saida tem­ponlria pode atingir 0 total de 28 dias por ano, subdividida ern quatro vezes de atesete dias, nao significando, necessariamente, dever 0 juiz conceder 0 maximo possive! a

Execut;ao Penal

todos os presos. Depende do caso concreto e, fundamentalmente, de merecirnento. Ex.: aquele que .chegou atrasado na saida temporaria anterior pode tanto ser priva­do da seguinte quanta ter os seus dias de ausencia da colonia diminuidos.

l~!PJ Safda diferendada: e natllhd que, n'ao'se tratando·de visita'a farriilia, quando 0 presQ pbder·a gozar'de ate 7 dias de liberdadesem vigilanda, quatro vezesao ano, a frequencia a curso impoe urn ritmo diferendado. Eledevesairda colonia tados os dias da semana, em que houver aula, pennanecendo ausente durante.o tempo necessario para as atividades estudant~s.

Art.'125. 0 benefk'io sera,automatica­mente revogado quando 0 con'denado pra­ticar fato definido como crime doloso,·'for punido por falta grave, desatender ·as con­dir;.6es impostas na autorizac;ao ou rev~I~H baixo grau de aproveitamentQ' do.curso:284

Paragrafo unico. A recuperac;ao'do direito a safda temporaria .dependera da absofvi<;~o no processo penal, do cancelamerito da puni<;ao disciplinar ou da demonstra<;ao do merecimento do condenado.285

284. Revoga~aodasafdatemporaria: deve-se entender sob duplo aspecto'o dis­posta no art. 125, caput, desta.Lei. 0 preso que, por,e):{ernplo, pratique fato definido como crime tanto pode teI a sua saidatern­poraria revogada (durante os sete dias de ausencia da colonia, ao cometer 0 rderido fate, 0 juiz cassa 0 beneficio, detenninan­do 0 sell retorno a colonia, sem prejuizo de eventual avaliac;;ao para a regressao ao fechado), como pode nao obte-Ia no futuro, nos tennos expostos no panigrafo tinieo do mesmo artigo. Assim tambem nos outros casos (desatendirnento das condi<;6es im­postas, punic;;ao por falta grave Oll baixo aproveitamento em curs~).

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285. Recupera~ao do dire ito: de­. pendendo da situa~ao, eXige-se uma das 'seguintes medidas: a) quem cometer fato definido como crime doloso, transforman­do-se a caso em processo criminal contra 0 condenado inserido no regimesemi-aberto, e preciso aguardarasuaabsolvit;ao (enten­demos nao haver necessidade de decisao com transito em julgado, pois a lei assim nao explicita); b) a preso que cometer [al­ta grave e-por eIa forpunido, somente se reabilitani casO consiga reverter a san.:;ao, cancelando-a. Talsitua.:;ao podera advir de recurso administrativo, quando previsto na legisla.:;ao local, au por meio do juiz da execu.:;ao penal, em face de irregularidade no processo administrativo. Sustentamos, ainda, a viabilidade de ser superada a fal­ta grave, readquirindo a preso 0 direito a saida temponiria, desde que cumpra mais urn sexto da pena, certamente se naD con­seguir a progressao para a regime aberto; c) 0 desatendimento das condic,;6es da au­toriza~ao de saida ou 0 baixo desempenho estudantil podem ser revertidos em face do merecimento do condenado, vale dizer, deve ele, na colonia, passar a demonstrar seu empenho efetivo em reverter a situa~ao de indisciplina evidenciada, seja elevando o numero de horas dedicadas ao trabalho, seja colaborando com as atividades inter­nas, ate auferir novamente elogios em seu prontwirio, que sejam contrapontos as irresponsabilidades demonstradas.

Se~ao IV

Da renii<;ao286

Art. 126. 0 condenad0 287 que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto288

podera remir, pelo trabalho, parte do tempo de execw;ao da pena. 289

§ 1.° A contagem do tempo para 0 fim deste artigo sera feita a razao de urn dia de pena por tres de trabalho.290

§ 2.° 0 preso impossibilitado de prosse­guir no trabalho, par acidente, continuara a beneficiar-se com a remic;ao.291-291

§ 3.° A remic;ao sera declarada pelo juiz da execuc;ao, ouvido a Ministerio Publi­CO.293-294

286. Conceitoderemi<;ao:eoresgate da pena peIo trabalho, proporcionando ao condenado a possibilidade dediminui~ao da pena, confonne exerc;a uma tarefa atribuida pela dire.:;ao do presidio. Trara-se de urn beneficio, decorrente da obrigatoriedade do trabalho (art. 31, LEP), imposta como urn dos deveres do preso (art. 39. V, LEP). Alem de ab(l.ter parte da pena, 0 trabalho deve ser rernunerado.

287. Condenado e presQ provis6rio: embora 0 art. 126 fac;a referencia somente ao condenado e tenha 0 art. 31, panigrafo tinieo, desta Lei, previsto ser ° trabalho do preso provis6rio facultativo, atualmente, em face da consagra~ao do direito a execuc;ao provis6ria da pena, cremos que 0 preso provisorio, se almejar tal beneficio, como a progressao a regime menos gravoso, deve trabalharcomo outro condenado qualquer. Por isso, a ele tambem deve serreconhecido o beneficia da remic;ao.

288. Exclusividade dos regimes le­chado e semi-aberto: e natural queassim seja, pois nesses regimes 0 sentenciado esta preso, logo, deve trabalhar, preferencial­mente, no proprio estabelecimento penal em que se encontrar. Quando seguir para o regime abeno, as regras sao outras. Ele deve trabalhar fora da Casa do Albergado, apenasse valendo desta para donnir e passar os finais de semana.

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

289. Requisitos para a remi~ao: a) tres dias de trabalho por urn dia de pena (lembrar que cada dia de trabalho equivale a uma jomada de, no minimo, seis horas; 0

que ultrapassar esse montante, sera com­putadopara formaroutro dia de trabalho); b) apresentar merecimento, auferido pela inexistencia de registro de faltas graves no seu prontuario; c) cumprir 0 minimo de seis horas diarias (maximo de oito), com descanso aos domingos e [eriados. E viavel a concessao de horario especial de trabalho, quando 0 preso for designado paraservic;os de conservac;ao e manutenc;ao do presidio (art. 33, paragrafo tinico, da Lei de Execu~ao Penal); d) apresentar atestado de trabalho fornecido peIopresidio, com presunc;ao de veracidade; e) exercicio de trabalho reco­nhecido pela dire.:;ao do estabelecimento prisional.

290. Remi~ao pelo estudo: nao ha pre­visao legal, embora devesse existir. Sabemos que 0 estudo pode servir it laborterapia ·com o fito de ressocializa.:;ao do condenado, pro­piciando-lhe, inclusive, no futuro, melhores e mais adequadas condic;oes de disputa no mercado de trabalho apos 0 cumprimento da pena. Ocorre que, atualmente, nao se tern qualquer tipo de regra a reger essa mo­dalidade dererni.:;ao, podendo haverabuso e total falta de sincronia entre situa.:;oes pratieamente identieas. Quantas horas de estudo seriam necessarias para completar urn dia de trabaIho? Que tipo de estudo? Computar-se-iasomentea aulaou tambem as atividades extra-dasse, como feitura de lic;oes e exercicios? 0 estudo individual teria validade? Seria necessario atingirum minima de nota ou aprova~ao? Enfim, nao se tendo para metro, cada juiz poderia"im­plementar 0 seu sistema, proporcionando condi.:;oes dispares aossentenciados. Pen­samos ser ideal a regulamenta.:;ao legal, mas, antes disso, somente em condi.:;oes

Execu~ao Penal

excepcionais se poderia aceitar, buscando o maximo de equipara.:;ao com 0 trabalho (minimo de seis horas diarias, todos os dias da semana, exceto domingos e feriados, com fiscaliza~ao e aproveitamento, 0 que seria equivalente a trabalho ~atisfatorio). Na jurisprudencia, ha divisao, sernse poder apontar corrente majoritaria: em posi(tio contrariaa remi(aopeloestudo: T]SP: "Con­forme expressamente disposto no art. 126 da LEP, 0 tempo dedicado peIo sentenciado a frequencia em curso de formac;a? esco­lar nao pode ser considerado para fins de remi~ao da pena, uma vez que 0 conceito de trabalho abrange apenas a produ.:;ao de alguem no campo materhll ou inteleetual, mas nao no que se refere a sua fonna.:;ao intelectual" (Ag. 481.171-3/0, 5." C, reI. Gomes de Amorim. 20.10.2005. m.v., RT 849/542); "A unica fonna, expressamente autorizada pelo art. 126 da Lei 7.210/84, para a remic;ao depena e atrave.s do trabalho, sendo inviavel a concessao do beneficio por meio do estudo, que guarda notoria despropon;ao em vinude da carga hora­ria e do esfor~o que sao bern men ores em rela~ao ao trabalho" (Ag. em ExecuC;ao 898.357.3/4.5." C, reI. Marcos Zanuzzi. 11.05.2006. m.v.).; em posi,ao favoravel a remi(Qo pelo estudo: T]SP: "0 estudo, as­siro como 0 trabalho desempenhado pelo preso, visa a sua reintegra<;ao na sociedade e no mercado de trabalho, merecendo seT remidos os dias a ele dedicados no decorrer do cumprimento da pena privativa de liber­dade·' (Ag. 369.714-3/1-5ao Vicente, 3." C, reI. 5egurado Braz. 23.09.2003. v.u.,JUBI 88/03). "A luz da 16gica e por principia de justi.:;a, a escorreita exegese do art. 126 da LEP devecompreendertambem, no conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua transcendental irnportancia como fator de promoc;ao humana e poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte, comprovando que frequentou

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Guilhenne de Souza Nucci 508

aulas em cursa patrocinado peIQ sistema penitencicirio, tern jus 0 condenado a remi­c;ao de penas, na propon;ao de urn dia para cada 12 hOTas de efetiva atividade escolar. 0

argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar, no ambito careenirio, 56

o tTabalha Fisico ,emdetrimentoda atividade intelectuaI) errcerra CTasso equivoca, pais justamente abate 0 que devera exaltar: 0

labor intelectual, notabilissirno instrumeri to de promoc;ao humana. Se "0 estudo e a luz da vida" , como, peIo comum, entendem e proclamam as pedagogos, como pretender, seID injuria da razao, que '0 trabalha inte­lectual represente urn minus em respeito do trabalha fisko?! Falou avisad~mente qU.em disse: 'Abrirescolas e fecharprisoes'; daqui se mostra bern a suma importancia que 0 convivio escolar tern rra forma\=ao do caniter do individuo" (Voto vencido no Ag. 481.171-3/0,5.' c., reI. do voto vencido Carlos Biasotti, 20.10.2005, m.v., RT 849/542); TJRS: "Estudare trabalhar - fonnasofistieada de criar;ao, de produr;ao, da aprimoramento- 0 estudo-assim como trabalho ou qui\=a em grau superior - tern o condao de instigar 0 cidadao-apenado e aufere perspectiva de uma vida digna pos­presidio" (Ag. 70016246522,5.' c., reL Amilton Bueno de Carvalho, 06.09.2006, v.u.).

291. Motivodefor~amaior:casosofra urn acidente, inclusive em decorrencia do trabalho exercido, cuida-se de motivo de for\=a maior, inevitavel, portanto. Deve­se continuar a computar cada dia em que estiver 0 preso em recupera\=ao como urn dia trabalhado, para 0 £lm de remi\=ao.

292. lnexislencia de lrabalho no presidio: nao da direito a remi\=ao, por ausencia de amparo legal. 0 descaso do Estado, nesse contexto, deve seranalisado

sob outra otiea, como, por exemplo, um desvio de execu\=ao.

293. Decisao declaratoria: a remic,;ao decorre de lei, razao pela qual Iimita-se 0

magistrado da execu\=ao penal, ouvido q Ministerio Publico, a declararremidos "x" dias da pena, em face do atestado de traba­lho apresentado pela direc;ao do presidio. Cremos que, se 0 atestado nao espelhar a verdade, caberia a interposi\=ao de urn in­cidente especifico de desvio de execuc;ao'.

294. Periodicidade da declara~ao da remi~ao: deveria a lei ter estabelecido o periodo em que 0 juiz avalia a possibili­dade de declarar remido urn detenninadd mlmero de dias da pena. Nao 0 fez. Alguns magistrados 0 fazem mensalmente; ou tms, mais sobrecarregados de trabalho, termi­nam por proferir a declara\=ao de remic,;ao em periodos diversos (a cada tres meses; a cada seis meses). E importan'te verificar o total geral da pena para nao prejudicar o sentenciado. Se a pena e longa, nada im­pede 0 reconhecimento da remi\=3.o a cada seis meses, por exemplo. Entretanto, se t curta, torna-secauteloso fazera verifica(:ao mensa1, pennitindo a liberac;ao no menor tempo possivel.

Art. 127: 0 condenado que for punido por falta grave perdera. 0 direito ao tempo remido, come<;ando 0 novo perfodo a partir da data da infra<;ao disciplinar.29s.297

295. Perda dos dias remidos: trata-se de jurisprudencia amplamente.majoritaria que 0 condenado, ao pratiear falta grave, perde os dias remidos, iniciando-se novo computo a partir da data da falta. Embora alguns sustentem haver, nesse caso, direito adquirido, ou seja, uma vez reconheC;:ida a remir;ao de parte da pena, cometida a falta grave, nao se poderia perder 0 que ja foi

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

~onquistado, deve-se aplicar exatamente o disposto no art. 127 desta Lei, afinal, nao ha previsao para 0 reconhecimento de direito adquirido, nem tampouco de gera­C;ao de coisa julgada material em rela(:ao ao . .reconhecimento do beneficio. Tanto assim que, recebendo regime prisiop.al mais favoravel, nao tern 0 condenado din;ito ad­quirido de nele permanecer. C~so Corneta [alta grave, pode seT regredido. ,0 unico caso que afasta a possibilidade de pe:;rda dos dias remidos e o·tennino da pena antes do reconhecimento da referida perda ser de­cretada pelo juiz e desd~ que a extin\=ao da pena ja tenha side proferida. Ensina oJuiz Ricardo Dip: "Outrossim, determina a lei deregencia que, em virtudedepuni<;aopor falta grave, 0 condenado perdera 0 'direito ao tempo remido'. Eo direito que se perde, todo ele, desde que anterior a falta. Nao e urn segmento do tempo remido. Nao cabe distinguir uma varia(:ao conj~ctural par meio de engenhoso confranto com outra norma - a relativa a individualizac;ao da perra ,na senten(:a condenatoria penal-que a regra de regencia especifica nao autoriza invocar de modo analogico. A relm;lto e urn predicamento de acidente que tanto pode ter fundamento na realidade, quanto nao tomar arealidade (inclusa a normativa) por funda­men to: dessa maneira, sempreseracogitavel uma relaciona(:ao entre norrnas; capital, porem, sera' escora-Ia em fundamento de normatividadevigente. Ao entenderquea condutacontinuamenteintegraepressuposto do direito a remi,lto, 0 legislador afastou bern porisso 0 motivo de quantificar aquilo que ataca, 0 propriq suposto- '0 direito ao tempo remido' - de sanr;ao premial. Nao cabe invocar a analogia para, a pretexto de manter a igualdade de situac;6es, igualar o que 0 legislador e a lei tratam de modo apropositado como situar;6es desiguais. Com essa desigualdade esta infirmada a propria razao de invocar-se possivelmente a

Execu<;ao Penal

analogia, procedimento logico que recla~a similaridade nos supostos" (TACRIMlSP, hoje incorporado ao Tribunal deJqstic;a, Ag.1.l46.935-3,21.06.1999, v:u.,contendo varios precedentesno mesmo prisma). Cite­se tambem: STF: "Perde.o direito ao tempo remido 0 condenado que cometerfaltagrave, conformeprevisto no a~t. SO da LEP. ° STF tern decidido que a remi<;ao nao constitui direito adquirido d.o condenado e que a perda dos dias remidos, peio cometimento de falta grave (LEP,art.50 c.cart.127) ,nao afronta a coisa julgada. Precedentes do STF" (HC 78.784-SP, 2.' T., ~el. Carlos Velloso, ill.V., vencido Marco Aurelio, 2.2.03.1999, DJ 25.06.1999,p. 4); ST]: "0 condenado, que esta cl,lmprindo pena privativa de li­berdade, perde, ex vi art. 127 da LEP, a direito a remic;ao ~o periodo de trabalho ao cometer falta grave" (RHC 8.353-SP, 5.' T, reI. Felix Fischer, 13.04.1999,v.u., DJ 31.05.1999, p. 157); "A dic~ao doart. 127 da Lei 7.210/84 e clara ao estabelecer que 0 condenado que cometer falta grave (agressao contra companheirQ de presidio), durante a execuc,;ao da pena .. perd~r~ os dias remidos, motivo pelo qual nao ha falar em coisajulgadae direito adquirido, dado que a decisao reconhecedora da remi.;ao nao faz coisa julgada material" (RH C S.3S2-SP, 6.' T, rel. Fernando Gon~alves, 20.04.1999, v:u.,DJ 14.06.1999, p. 22S); RHC8.895·Sp, 5.' T, reI. Felix Fischer, 24.08.1999, v:u., DJ 04.10.1999, p. 63; RHC B.384-Sp, 6.' T, reI. Vicente Leal, 27.04.1999, v.u., DJ 07.06.1999, p. 22S; RHC 8.394-Sp, 6.' T., reI. Fernando GOTI\=alves, 20.04.1999, m. v., DJ 14.06.1999, p. 228; HC 7.911-SP, 6.' T.,rel. Fernando Gon,alves, 29.10.1998, m.v.,DJ29.11.1999, p. 200;RHC8.41S-SP, 6.a T., reI. Vicente Leal, 27.04.1999, m.v., DJ 14.06.1999, p. 228; RHC 8.326-Sp, 6.' T, reI. Vicente Leal, 15.04.1999, m.v., DJ 09.0S.1999, p. 174; RHC 8.394-Sp, 6.' T, reI. Fernando Gon<;alves, 20 .04 .1999, m. v.,

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Guilhenne de SOllza Nucd 510

D] 09.08,1999, p. 174. TJDF: "A pratica de falta grave, durante a execU!;ao penal, acarreta a perda dos dias remidos pelo condenado, bern como a interrupr;ao da contagem do prazo de urn sexto exigido para 0 deferimento de progressao. Por se tratar de mera expectativa de direito do apenado, nao ha que se falar em of ens a it coisa julgada' ou ao direito adquirido" (Ag. 200501 1 075193-0,2'. T., reI. Getulio Pinheiro, 02.03.2006, vu.). TJRS: "Tendo a 5. aT. do E. STj, porunanimidade, decidido que a perda integral dos dias reinidos, ante o cometimento de falta grave, nao of en de 0

direito adquirido ou a"coisa julgada, pOis a decisao que a concede nao faz coisa julgada material, deve seT acolhida a orienta~ao da Corte Superior, mantendo-se 'a decisao que declarou a perda integral dos dias remi­dos" (Ag. 70011986411, 8.' c., reI. Marco Antonio Ribeiro de Oliveira, 03.08.2005, vU., RT845/656). "A fuga, havidaem meio ao cumprimento de penas, reconhecida como falta grave, da qual, ainda, resultou regressao de regime, implica a perda de dias remidos. Hip6tese em que mesmo a 'consi­derar;ao desses dias remidos nao justificaria a extinr;ao de uma das condena~oes na data em que se afirmou 0 seu cumprimento" (Ag. 70015029515, 7.' C., reI. Marcelo Bandeira Pereira, 31.08.2006, v.u.). TJSP: "0 instituto da remi~ao sujeita-se a clausula rebus sic stantibus enquanto nio extinta a punibilidade peIo cumprimento da pena, nao constituindo direito adquirido ou in­condicional em favor do reeducando, nem a decisao concessiva transita em julgado, pois podera ocorrer a perda do tempo remido se sobrevier punic;ao pela falta grave" (Ag. 292.679-3,4. a c., reI. Bittencourt Rodrigues, 12.12.2000, v.u.,]UBI 60/01); "Remi~ao - Faltagrave superveniente-Percla do bene­ficio - Artigo 127 da Lei de Execw;ao Penal - Inexistencia de afronta a mandamento constitucional-Aplicar;ao da clausula rebus

sic stantibus - Agravo nao provido. A perda dos dias remidos e decorrencia legal justifi_ cada pela clausula rebus sic stantibus, ouseja, enquanto 0 reeducando nao cornete [alta grave, subsiste a remir;ao; quando a cornete, extinta sera a remh;ao" (Ag. 258.492-2-Sp, 3." c., reI. Walter Guilherme, 20.10.1998, vu.);Ag. 249 .271-3-SP, 5.' c., reI. Geraldo Xavier, 07.05.1998, v.u. Em sentido contrd­rio,considerandodireitoadquirido:STj: "0 tempo remido peIo trabalho do preso deve ser consider ado como pena efetivamente cumprida. Interpretar;ao da LEP, art. 126" (REsp 200. 712-RS,5.' T., reI. Edson Vidigal, v.u., 20.04.1999, D] 24.05.1999, Se~ilo 1, p.195).

296. Momenta para a decreta~ao da perda dos dias remidos: deve ocorrer apcs sindicancia no presidio, garantin­do-se ao preso a ampla defesa. Conferir: T]SP: "Fuga do sentenciado - Perda dos dias remidos a pedido do Ministerio Publico - Indeferimento-Penalidade cuja aplica\ao depende de apurar;ao da falta grave atraves de sindica.ncia '-- Impossibilidade, estando o sentenciado ainda foragido - Inteligencia do art. 127 da Lei de Execur;ao Penal-De­cisao mantida - Recurso nao provido" (Ag. 446.115-3/9,5.' c., reI. GomesdeAmorim, 23.09.2004, v.u.,]UBI 101/05).

297. Fuga e tentativa de fuga para efeito de remic;;ao: enquanto a fuga e consi~ derada faltagrave e acarreta a perda dos dias remidos (TJSP, Ag. 246.213-3-Presidente Prudente, 2.' C.,reI.SilvaPinto, 16.03.1998, v.u.), a tentativa de fuga nao faz perder a remi\ao conseguida, pela inaplicac;ao do disposto no art. 49, paragrafo unico, da LEP ("pune-se a tentativa com a sanr;ao correspondente a falta consumada"), pois nilo e falta grave (TJSP, Ag. 241.802-3-Sp, 2' c., reI. Angelo Gallucci, 02.03.1998, v.u.).

51 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

ExecUI;ao Penal

Art. 128. 0 tempo remido sera com­putado para a concessao de livramento condicional e indulto.298

29B. Computo para todos os fins: na realidade, as dias remidos sao computados para todos os fins e nao someute para a concessao de livramento condicional ou indulto. Conforme ha 0 abatimento da pena pelos dias trabalhados, 0 condenado pode atingir regime mais brando de forma celere, afinal, para ir do fechado ao semi­aberto necessita cumprir umsexto da pena. Se esta decresce, por couta da remir;ao, e natural que atinja esse patamar mais cedo. Najurisprudencia: T]MSP: "0 beneficio da remi\ao deve ser compreendido na mesma linha da detrar;ao penal. Os dias remidos devem ser somados a pena carceniria ja executada e considerados como terripo de efetiva execuc;ao da pena restritiva de liberdade" (Agravo em Execu~ao 303/05, 2.' c., reI. Lourival Costa Ramos, 23.06.2005, v.u., RT844/711).

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhara mensalmente ao Jufzo da Exe­cu~ao copia do registro de todas os conde· nados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de cada um deles.299

Paragrafo unico. Ao condenado dar-se-a relar;ao de seus dias remidos.3OO

299. Encaminhamento mensal do atestado de trabalho: embora essa remessa a Vara de Execur;ao Penal deva ocorrer lodos os meses, como ja explicitamos em nota anterior, pode ser inviavel aO juiz analisar a remir;ao mensalmente, em especial quando esta sobrecarregado de servic;o e a pena do condenado e longa. Porisso, nada impede, a depender do caso concreto, que 0 juiz avalie a remir;ao a cada dois, tres, quatro, cinco ou seis meses, desde que nao prejudique

qualquer direito do sentenciado de obter algum outro beneficio.

300. Comunicac;ao e contrale: 0 con­denado tera nor;ao dos dias remidos, para ter ~lcance do total de sua pena, bern como para, querendo, requerer a concessao de beneficios (ex.: progressa..o de regime).

Art. 130. Constitui 0 crime do art. 299 do C6digo Penal declarar ou atestar falsamente presta~ao de serVi<;o para fim de instruir pedido de remic;ao.301

301. Presum;aodeveracidade:oates­tado de trabalho, e~itido pelo presidio, goza de piesunc;ao de vqacidadc, n~o devendo haver a juntada de outras provas, dando conta do trabalbo ~o preso. Se 0 funcio­narip encarregado da sua emissao falsear a verdade, deve responder peIo deHto de fals.idade ideol6gica (art. 299, CPl.

Se~ao V

Do livramento condicionaP02-304

Art. 131.0 livramento condicional po­dera305 ser cpncedido pelo juiz da execuc;ao, presentes os requisitos do art. 83, incisos e paragrafo unico, do C6digo Penal,lOG.308 ouvidos 0 Ministerio Publico e o'_Conselho Penitenciario.309

302. Conceitodelivramentocondi­donal: trata-s~ de urn institute de politica criminal, destinado a permitir a redur;ao do tempo de prisao coma concessao antecipada e provisoria da liberdade do concienado, quando e cumprida pena privativa de li­berdade, mediante 0 preenchimento de determinados requisitos e a aceitar;ao de certas condi\oes.

303. Natureza jurfdica do Iivramento condicional: e medida penal restritiva da

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GuiJhenne de Souza Nucci 512

liberdade de locomo~ao. que se constitui num beneficia ao condenado e, portanto, faz parte de seu direito subjetivo, integran­do urn estagio do :currtprimento cia pena. Nao se trata de urn incidente" da execuc;ao, p'orque a propria Lei 'de' Execuc;ao Penal naG oconsiderou como tal (vide Tftulo VII - Dos Incidentes de:Execil~ao: Das con­versoes, Do excesso ou desvio, Da anistia e do indulto).

304. Dura~ao do livra'mento: eo tem­po restante da pena privatjva,de lil?erdade a ser cumprida. Exemplo: condenado a 10 arros de reel usao, 0 sentenciado. ob tern livramento condicional ao atin~~ 5 an~s de cumprimento cia p~na. 0 tempodo beneficia sera de 5 arros. '

305. Faculdade do juiz oudireito subjetivo do condenado: 'a utilizac;ao do termo ~poderd fomece a impressao de que se trata de mera faculdade do juiz a s'ua con­cessao ao sentenciado. Porem, pensamos que se cuida de uma situac;ao mista. Se 0

condenado preencher todos os requisitos estabelecidos no art. 83 do C6digo Penal, deve 0 magistrado conceder 0 beneficio. Entretanto, e preciso ressaltar que alguns dos referidos requisitos sao de natureza subjetiva, isto e, de livre valorac;ao do juiz, motivo pelo qual nao se pode exigir analise favoravel ao condenado. Nesse casa, 0 ma­gistrado pode entender que nao e cabivel a beneficio.

306. Requisitos objetivos: a) a pena aplicada deve ser·igual ou superior a2 anos; b) 0 tempo para 0 cu'mprimento da pena varia entre um ten;o (pnmdrio combons anteceden­tes), metade (reincidentes emcrimes dolosos)_e dois ter~os (condenados por delitos hediondos e equiparados). 0 condenado primario (em crime doloso) e com bons antecedentes faz jus ao livramento condicional, ap6s cumprir 113 da pena. Houve uma lacuna

lamentavel no tocante ao primario, que possua maus antecedentes. Nao se pode inclui-lo com perfeita adequaC;ao nem neste dispositivo, nemno pr6ximo, que cuidado reincidente. Surgiram duas posi~oes: a) na jaltadeexpressaprevisao, deveseradotadaa posi~aomajs javoravel ao condenado, ou seja, o primario, com maus antecedentes, pode receber 0 livramento quando completar 1/3 da pena. Sao as posic;6es de RealeJftnior; Silva Franco e -Damasio. Nesse sentido:, STJ: "Ao condenado primario, com maus antecedentes, incide 0 inciso I do art. 83 do C6digo Penal, razao pe1a qualsobressai a w­reito do paciente ao ~ivramento condicional simples, exigindo-se, alem dos requisitos objebvos e subjetivos, 0 cumprimento rle 113 da pena. A Iiberdade do cidadao deve vir sempre expressa em lei, nao se podendo darinterpretac;ao ampla as regras res~ritivas de direitos em detrimenta do reu" (He 23.300-RJ, reI. Gilson Oipp, 16.10.2003; OJ 24.11.2003, p. 333). Vlde.ainda: 5T], HC 39. 741-RJ, 5.' T, reI. Arnaldo Esteves Lima, 21.06.2005, v.u .• DJ 22.08.2005, p. 310; TJPR. RT 7101322; b) deve-se fazer a adequa(iioporexclusao. Nao se encaixando no primeiro dispositivo, que, expressamen­te, exige os bonsantecedentes, somente lhe resta 0 segundo. Assim, 0 primario com maus antecedentesdeve cumprirmetadeda pena para pleitear 0 livramento condicio­nal. Nesse sentido: "Beneficio pretendido - Acusado portador de maus antecedentes - Prazo minimo para 0 cumprimenta da pena igualao estabelecido para 0 reincidente - Art. 83. 1, in fine, e Il, do Codigo Penal'· UTJ 135/481. grifarnos).ldern: 5TJ, 6.' T.. RST] 14/224. E a posi,ao que adotarnos, pois 0 art. 83, I, exige "duplo requisito" e e expresso acerca da impossibilidade de concessao do livramento com l/3 da pena a quem possua maus antecedentes. E quanta ao reincidente em crime hediondo ou equi­parado, nao havera a concessao de livra-

513 Leis Penais e Processuais Pellais Comelltadas

menta condicional; c) repara(dododano. E preciso que 0 sentenciado tenha reparado a prejuizo causado a vitima, salvo a efetiva demonstrac;ao de que naO pode faze-Io, em face de sua precaria situac;ao economica. Ha muitos condenados que, pelo proprio examerealizado pela Comissao Tecnica de Classificac;ao e por serem defendidos pela defensoria publica, sao evidentemente pes­soas pobres, de modo que ficadispensada a prova de reparac;ao do dano. Leva-se, taru­bern. em conta 0 desaparecimento da vitima Ou seu desinteresse peIo ressarcimento, 0

que sigriifica a possibilidade de concessao do livramento condicional, sem ter havido areparac;ao do dano.

307. Requisitos sub jetivos: a) apre­sen tar comportamento satisjat6rio ,durante a execu~do da pena. Significaria 0 nao co­metimento de faltas graves ao longo do cumprimento da pena, embora se uma ou outra ocorresse, nao ida prejudicar 0

condenado, pois se falava em comporta­mento satisjat6no, leia-se, regular. Com 0

advento da Lei 10. 792/2003. que rnodificou o art. 112 da LEP, passa-se a mencionar bam comportamento,ja nao' se admitin'do qualquer falta anotada no prontuario; b) apresentar bom desempenho no trabalho. Sa­heroos que 0 trabalho eobrigat6rio durante a exeCUC;ao da pena. Para 0 recebimento do livramento condicional, portanto, nao basta trabalhar, mas e preciso faze-Io com eficiencia e dedicac;ao, algo que somente pode ser atestado pefa Comissao Tecnica de Classificac;ao; c) demonstrar aptidao para trabalho honesto, Esse requisito mereceria ser revisto e revogado, pois extremamente aherto. Entretanto, uma das situac;5es em que se pode perceber a inaptidao para 0

trabalho honesto, fora do carcere, tambem e pela avaliat;ao da Comissao Tecnica de ClassificaC;ao, em especial, pelo parecer da assistencia social; d) estar demonstrada a

Execw;;ao Penal

preSUn({1O de quenao voltara a delinqiHr. E urn requisito voltado aos condenados por crimes com violencia ou grave ilmear;a a pessoa, exigindo-se 0 exame criminol6gico. Assim, faz-se umautentico prognostico do que 0 condenado podera fazer se cqlo~ado em liberdade. E a parte do psic61ogo e 40 pSiquiatra.

308. Examecriminol6gico e parecer da Comissao Tecnica de Classificar;;:ao: continuam viaveis e-exigiveis,-desde que presentes as circunstancias descritas no panigrafo unico do art. 83. 0 condenado par crime doloso, cometido com violencia ou grave ameac;a a pessoa, para auferir 0

beneficio do livramento condicional, deve ser submetido a avaliac;ao pSicol6gica, de­monstrando, entiio, condic;6es pessoais que fac;am presumirque nao tamara a delinqitir. Houve a introduC;ao do § 2.0 ao art. 112 da Lei ~e Execu,ao Penal(Lei 7.210/84), nos seguintes termos: "Identlco procedimento sera adotado na concessao de livramento c~ndicional, indulto e comut,ac;ao de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes". Ora, 0 art. 112, caput, menciona que a progressao de regime se dara quando ° condenado tivercumpri'do aD menos urn sexto cia pena e osten tar bom coinportamento carcerdrio, comprovado pelo diretor do estabelecirnento prisional. Poderia, n urn pri­meiro momento, 0 disposto no niencionado § 2. o doart,l12daraentenderquebastaria, para a concessao do livramento condicio­nal, 0 atestado de boa conduta carceraria, emboraseja interpretac;ao crronea. Note-se que a Lei 10.79212003, que trouxea altera­C;ao ao art. 112, nao modificou 0 disposto no paragrafo unieo do art. 83, que exige 0

exame criminologico para quem pretenda conseguir livramento condicional, desde que autor de crime doloso violento, bern como nao alterou 0 disposto no art. 131 da Lei de Execu,ao Penal (Lei 7.210/84).

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Guilhenne de Souza Nucci

prevendo ser a concessao do livramento submetida as conciic;6es do art. 83 e para­grafounico, com parecerprevio do MP e do Conselho Penitenchirio. Assim, quanta a alterac;ao legislativa, deve-se entender que a nova lei (Lei 10.79212003) trouxe apenas uma rnodificac;;ao aD art. 83: falava-se, no inciso Ill, que era necessaria demonstrar comportamento salisfatono durante a exe­cu<;ao da pena (0 que e demons~rado pelo atestado de conduta carceniria da_direc;ao do presidio); passa-se agora a exigir bom comportamento carcerdrio, voltando-se a redac;ao anterior a reforma de 1984. Logo, trata-sede lei penal prejudicial, quesomente pode seT aplicada aas crimes cometidos apos 0 dia 2 de dezembro de 2003, data em que passou a vigorar a Lei 10.79212003.0 condenado, parranto, que possuir compor­tamento satisfatorio, ou seja, regular, por crime cometido apos essa data, nao mais pode obter livramento condicional. Este beneficia passa a seI utilizado pelos que possuirem born comportamento. Confenr: T]SP: "AD conmirio do que estao entenden­do as nobres impetrantes, a aboli~ao do exame criminologico pela Lei 10.'792/2003, que alterou 0 art. 112 da Lei de ExecU(;ao Penal, ml0 exonerou 0 juiz do exame desse requisito. Cuida-se de requisito de grande importancia para a concessa.o do livramento condicional, porque esta relacionado com a ausencia ou cessa~ao cia periculosidadedo condenado. 0 juiz nao pode correr 0 risco de colocar em liberdade sentenciado que ainda denota propensao para 0 crimee que ira colo car em perigo a ordem publica. a magistrado podera formara sua conviq;ao com base nos elementos de prova trazidos para a instrw;ao do pedido de livramento eondicional au com os dados do proprio processo de execu,iio" (HC 464. 483-3/9,4.' c., reI Helio de Freitas, 30.11.2004, v.u.).

309. Parecer do Conselho Peniten-, cia rio: segundo 0 art. 131 da Lei de Exe_ cuc;ao Penal, e indispensavel 0 pareeer do Conselho Penitenciario. Assim tambem: T]SP: "Muito embora a Lei 10.792/2003 tenha alterado a art. 70, I, da Lei de Exe­euc;ao Penal, e abalida a ineumbencia do Canselho Penitenciario de emitir parecer sabre livramento condicional, 0 fato e que 0

art. 131 do segundo diploma legalmencio­nado nao foi modifieado, e ele exige a oitiva daquele Egregio Conselho na coneessaa do aludido beneficia:' (HC 464.483-3/9, 4.' c., reI. Helio de Freitas,30.11.2004, v.u.). Entretanto, 0 juiz nao fica, em tese, vincu­lade nemao referido pareeer, nem a opiniao do Ministerio Publico, podendo decidir de acordo camseu livreconvencimento. 0 mais impartante, nesse contexta, e a avaliacao da Comissao Tecnica de Classificac;ao (au exame criminologico), porque se trata da visualizac;ao real do comportamento do condenado durante a execw;;ao da pena.

Art. 132. Deferido 0 pedida, 0 juiz es­pecificara as condic;6es a que fica subordi­nado 0 Jivramento.

§ 1.° Serao sempre impostas ao liberado condiciona! as obrigac;6es seguintes:110

a) obter ocupa~ao !lcita, dentro de prazo razoave! se for apto para 0 traba!ho;

b) comunicar periodicamente ao juiz sua ocupac;ao;

c) nao mudar do territ6rio da comarca do JUIZO da ExecuC;ao, sem previa autorizac;ao deste.

§ 2.° Poderao ainda ser impostas ao libe­rado condicional, entre outras obrigac;6es, as seguintes:311

a) nao mudar de residencia sem comuni­caC;ao ao juiz e a autoridade incumbida da observac;ao caute!ar e de prote~ao;

b) recolher-se a habitac;ao em hora fixada;

c) nao freqiientar determinados lugares.

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

31 O. Condi~oes obrigatorias: a) obter o'c«pa~ito lidta, dentro de prazo ~azoavel, se for apto ao trabalho. E mais'do que na­tural deva a Estado agir com cautela. Em primeito lugar, buscando dar ao egresso assistencia para proc~rarum emprego licito. Em segundo lugar, da parte do magistrado, compreender as limitac;6es existen'tes a todos os trabalhadores, em rela~ao a falta de 'postos de trabalhp, moti,vo peIo qual e fundamental interpretar com ca"!1tela 0

"prazo razoavel"; b) comunica.raocttpat;lio. Periodicamente, a criteria do jui4, a liberado vai ao forum para informar onde e COlJlO

esta trabalhando. -Logicamente, cuida-se de uma consequencia natural d,o anterior requisito (arrumar urn. emprego)~ c) nlio mudar da Comarca sem previa autoriza,lio. E urn modo de e,xercer controle sabre 0

liberado. Caso. ele precise mudar, a juiz pode enviar os autos da execw;ao penal a outra Comarca, para que a fiscalizac;ao continue.

311. Condi~oesfacultativas:normal­mente, os juizes as imp6em tambem, asso­ciadas as obrigat6rias: Sao as seguintes: a) nlio mudar deresidtncia. Esta situac;ao difere da prevista no § 1.°, c, pois a mudan<;a nao e de Comarca; mas ~ao-somente de endere<;o residencial. E valida, pais 0 magistrado e a fiscaliza<;ao do livramento, quando existen­te, devem saber onde encontrar 0 condena­do, sempreque fornecessario; b) recolher-se a habita~lio em horario predetenninado. 0 juiz pode fixar, conforme 0 emprego do condenado, a hora em que ele deve seguir para sua casa, nao mais pennanecendo na via publica. A situa~ao pode ser salutar, mas e de fiscaliza<;ao quase impossivel; c) nao Jrequentar determinados lugares. Esta e uma das condic;6es mais tolas, pois nunca se sabe ao certa 0 que proibir. Por outro lado, nao bastasse jaserumacondic;ao facultativa quase inocua do livramento condicional,

Execuc;ao Penal

o legislador ainda -a elegeu como pena al­ternativa aut6noma, valida parasubstituir pena privativa deliberdade, 0 quenosparece hipotese absurd, (an. 47, IV, CP).

Art. 133. Se for permitid9 ao liberado residir fora da comarca do JUIZO da Execu~~o, remeter-se-a copia da sentenc;ado livral11ento ao jufz6 do !ugar para bnde e!e se h6Llver transferido e a autoridade incumbida da observac;ao caute!ar e de protec;ao. 312

312. Fiscalizat;ao a distancia: caso o juiz.da execu~ao penal permita que a liberada resida em Comarca diversa, deve eomunicar ao magistrado dessa regiao, para que possa fiscalizar 0 cumprimento das condic;6es impostas.

Art. 134. 0 liberado sera advert[do da obrigac;ao de apresentar-se imediatamente as autoridades refeddas no artigo anterior.31~

313. Apresenta~aoimediataquando convocado: 0 liberada eum condenado em gozo de liberdade condicional. concedida antedpadamente, vale dizer, esta em liber­dade como medida de politica erimin~l, visando a sua ressocializa<;ao, porem ainda cumpre pena e tern vinculo com 0 Estado, devendo, pois, apresentar-se, imediatamen­te, quando intimado, para pres tar qualquer esdarecimento. Lembremos que ele possui varias obrigac;6es a desenvolver enquanto esta em liberdade, motivo peIo qual tanto o juiz quanta a autoridade administrativa designada para acompanha~lo podem ouvi­loa respeito, a qualquer tempo. a nao com­parecimento pode dar ensejo a revogac;ao do beneficia, se mlo houver justo motivo.

Art. 135. Reformada a sentenc;a de­negatoria do livramento, os autos baixarao

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Guilhenne de Souza Nucci

ao JUIZO da Execuc;ao, para as providencias cabrveis.314

314. Concessao pelo tribunal: se 0

juiz negou 0 beneficia ao livramento con­dicional,cabeagravo (art.197,LEP). Dado provimento aD agravo, as autos baixam para que 0 magistrado fixe as condil;oes cabiveiS e providencie a cerim6nia de fonnalizac;ao do beneficia.

Art. 136. Concedido 0 beneffcio, sera expedida a carta de IivramentoJ15 com a c6pia integral da sentenc;a em duas vias, re­metendo-se uma a autoridade administrat~va incumbida da execuc;ao e Dutra ao Conselho Penitenciario. 316

315. Carta de Iivramento: eo docu­mento quecontema concessao do beneficia, bern como tadas as conciir;;6es as quais ficou submetido 0 condenado. 0 seu conteudo sera transposto para caderneta do liberado (art. 138, caput, LEP). Assim, caso seja interpe1ado~ porexemplo, pela policia, em qualquer situac;ao, cleve exibi-Ia:Se estiver, por exemplo, fora de casa em honhio ina­dequado, pode estar infringi!ldo as regras do livramento e 0 juizo sent' comunicado disso.

316. Remessade copiaao Conselho Penitenciario: busca-se, comissQ, garantir a sua fiscalizac;ao em reIac;ao ao livramento condicional, cumprindo sua'precipua fun­c;ao, nos termos do art. 69, caput, da Leide Execuc;ao Penal.

Art. 137. A cerimonia do [ivramento condicional sera realizada solenemente no dia marcado pelo -presidente do Conselho Penitenciario, no estabelecimento onde esta sendo cumprida a pena, observando-se o seguinte: 317

r ~ a sentent;a sera !ida ao liberando, na presenr;a dos demais condenados,'pelo presi­dente do Conselho' Penitellciario ou membra por ele design?do, ou, na falta, pelo juiz; ' ..

11- a autoridade admlnistrativa chamara a atenr;ao do liber~lndo para as condic;6es impostas na'sentenr;a de livramerito; ';

III - 0 liberand~ declarar~ se aceita aJ condic;6es.

§ 1.0 De tudo, em livro proprio; ser~ lavrado termo'subscrlto par quem presidir a' cerimonia e pelo liberando, au alguem aseu rogo, se nao souber ou nao puder' escrever:

§ 2.° Copia desse termo devera ser reme­tida ao juiz da execur;ao.

317. Cerimonia oficial: optou-sepela formalizar;ao do ato de concessao do li­vramento condicional, como metoda de incentive" aos demais presos para a busca do mesmo beneficio. Portalmotivo, realiza-se em ato solene, acompanhado par outros condenados. Lembremos, entretanto, que, infelizmente, a livramento condicianal vern rareap.do. Nao ha rnais interesse nasua obtenc;ao. Muitos presos tern preferido.os regimessemi-aberto e aberto. Osemi-aberto, em yarias Comarcas, tornou-se urn arre-: medo de Casa do Albergado (0 condenad~ sai durante 0 clia para trabalhar e retoma no infcio da noite para dormir na colonia penal); 0 aberto tornou-se uma aberrac;ao, implicando em albergue domiciliar, vale dizer, 0 sentenciado fica reco~hido em sua propria casa, sem nenhurna fiscaliza~ao eficiente. Para que livramento condicional? Tornou-se, em muitos casas, desnecessa­rio.

Art. 138. Ao sair 0 liberado do estabe­lecimento penal, ser-Ihe-a entregue, alem do saldo de seu peculio e do que Ihe per­tencer, uma caderneta, que exibira a allto­ridade judiciaria ou administrativa sempre que Ihe for exigida. 316

7 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

§ 1.° A caderneta contera:

a) a identificac;ao do liberado;

b) 0 texto impresso ~o presente 'Capf­Wlo;

c) as condic;6es impostas.

§ 2.° N~ Falta de caderneta, sera entregue aD liberado urn salvo-conduto, em que cons­tern as condi~oes do livramento, podendo substituir-se a ficha de identificac;ao ou b seu retrato pela descri~ao dos sinais que possam identifica-Io.

§ 3.° Na'caderneta e no salvo-condu"to devera haver espac;o para consignar-se 0

cumprimento das condic;6es referidas no art. 132 desta Lei.

318. IdentifiCa~ao do fiberado e condi<=6es do livramento: tr'atando-se

de sentenciado em pleno cumprimento de pena, e mais que natural tenha ele urn documento de identificac;ao especffico, contendo as condh;oes do seu beneficio. Dessa forma,. as autoridades em' geral, es­pecialmente, a polfcia, caso 0 encontre em lugarinapropriado ou desenvolvendo ativi­clades que the estao vetaclas, poderao tomar as medidas cabfveis para encarninha-Io ao juiz da execw;ao penal .. Este, conforme 0

caso, pod~ revogar 0 beneficio.

Art. 139 .. A observa<;ao cautelar e a prote<;ao realizadas par servic;o social peni­tenciado, Patronato au Conselho da Comu­nidade terao a finalidade de:

1- fazer observar 0 cumprimento das con­dic;6es especificadas na senten'<;a concessiva do beneffcio;

11- proteger'o beneficiario,'orientanao-o na execur;ao de suas obriga<;6es e auxilian­do-o na obtenc;ao de atividade laborativa.

Par<igrafo unico. A eritidade encarregada da observa<;ao cautelar e da prote<;ao do liberado apresentara -relatorio ao Conselho Penitenciario, para efeito da representar;ao prevista nos arts. 143 e 144 desta Lei.319

Execw,;ao Penal

Art. 140. A revoga-;;ao do livramento condicional dar-se-a nas hip0tes.es previstas nos arts. 86320 e 87321 do Codigo .Penal.

Paragrafo unico. Mantido.o livrC!-mento condicional, na h ipotese 9a. ,revogac;ao fa­cultativa, a juiz devera advertir 0 libe.rado au agravar as condi~6es., . .

319. Atua~ao do Conseihop,e,niten­ciario: como ja m~:ndonamos n~ rl9ta 1'98 ao art. 70, 0 Conselho Penitenciario cleve nao sorneI)te .emitir paJ;e~er a '~espeito da concessao ou nao do livramento condi­donal como preCis~ acompanhar 0 seu

cumprimento. Se ente:qdernecess:irio, pode represent~rpel,a revogac;ao 40 benefIcio ou pela modifica~ao clas condi~oes .(arts. 143 e144,LEP).

320. Revoga~ao obrigatoria: a) se o liberado for condenado a pena privati­va ~e liberc,lade, em sentenc;a irrecorrfvel,. par crime cometido durante a vigencia do beneficia; b) se a liberado for condenado a pena privativa de liberdade, emsentenc;a irrecornvel, por crime anterior, mas cujo montante de pena somado nao autorize a continuidade do beneficio, nos moldes do art. 84 do CPO

321. Revoga~ao facultativa: a) se 0

liberado deixar, de cumprir qualquer das obrigac.;6es impostas na.decisao de con­cessao do beneficio; b) se 0 liberado for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenc.;ao, a penaque naoseja privativa de Iiberdade.

Art. 141. 5e a revogaC;ao for motivada por infrar;ao penal anterior a vigen cia do livramento, computar-se-a como tempo de cumprimento da pena 0 perfodo de prova, sendo permitida, para a concessao de novo livramento, a soma do tempo das duas penas. 322

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Guilhenne de Souza Nucci 518

322. Renova~aodapossibilidadede Iivramento: caso a tevoga~ao tenha POt fundamento a disposto rio art. 86, II, do Codigo Penal, e possivel receber novo'be­neficio, assimque preenchidos as requisitos legais. Exemplificando: 0 condenado <tA", com 1 0 anos de pena, obteve livramento ao atingir 4 anos; depois de 2 anos, recebeu conderia~ao de 20 an~s: Sua situar;ao nao permitia pennanecer ehl i'ivramento: Vol­ta ao carcere, porem, 0 tempo de 2 a'~os, que ficou em liberdade condidonal, sent computado como cumprimento da pena. Teremos, enta~, urn total de30anbs, menos os6 anos ja cumpridos. Oresultado e'de 24 anos. Logo, confonne a situar;ao individual, ele podera rec'eber 0 beneficio apos cumprir 1/3 (primario, de bonsantecederites) de24 au 112 (reincidente), conforme 0 caso.

Art. 142. No' caso de revoga~ao par outro motivo, nao se computara na pena o tempo em que esteve solto 0 liberado, e tampouco se concedera, em relac;ao it mesma pena, novo livramento.321

323. Outras hip6teses de revoga­~ao: tetirando-se a situar;ao do art. 86, II, do C6digo Penal, havendo a revogar;ao do livramento condicional, deve-se desprezar 0' tempo em que 0 liberado permaneceu soIto, nao podendo ele recebernovamente o beneficio, em rehir;ao a mesma pena.

Art. 143. A revogac;ao sera decreta­da a requerimento do Ministerio Publico, mediante representa~ao do Conselho Peni­tenciario, ou de oHcio, pelo juiz, ouvido a liberado.324

Art. 144. 0 juiz, de oficio, a requeri­mento do Minjsh~rio Publico, Oll mediante representac;ao do Conselho Penitenciario, e ouvido 0 liberado, podera modificar as con­dic;6es especificadas na sentenc;a, devendo 0

respectivo ato decis6rio ser lido ao liberado por uma das autaridades au funcionarios indicados no inciso I do art. 137 desta Lei, observado 0 disposto nos incisos I[ e III e §§ 1.° e 2.° do mesmo artigo.

324. Ampla defesa: como temos 5US­

tentado em varias oportunidades, tern 0

condenado direitoaampla defesa, da mesma forma que os demais reus. Logo, seja rico ou pobre, deve 0 Estado garantir-lheacesso ao advogado, para pron:lOver a sua defesa tecnica.

Art. 145. Praticada pelo liberado outra infrac;ao penal, 0 jU!Z podera ordenar a sua prisao,325 ouvidos 0 Conselho Penitenciario e o Ministerio Publico, suspendendo326 0 curso do livramento condicional, cuja revogac;ao, entretanto, ficara dependendo da decisao final. 327

325. Recolhimento cautelar ere­voga.-;ao posterior: a pnitica de infrac;:ao penal, mormente grave, par parte do libe­rado impoe ao juiz que tome uma medida celere, determinando 0 seu retorno a pri­sao. Ttata-se de urn recolhimel1to cautelar, independente de outra medida igualmente de ordem cautelar que teuha sido tomada (lavratura de auto de prisao em flagrante ou decretar;ao de prisao preventiva por outro jufzo). Aguarda-se, entao, 0 tennino do pro­cesso-crime instaurado para apurar 0 caso. Se for definitivamente condenado, revoga­se 0 livramento condicional eo tempo em que permaneceu solto sera ignorado como cumprimento de pena. Caso seja absolvido, sera novamente posto em liberdade condi­cional e 0 tempo em que esteve solto, bern como 0 periodo do recolhimento cautelar, serao computados como cumprimento de pena. E natural que, demorando 0 proces­so-crime para terum fim, torna-se hipotese viavel que 0 condenado, em recolhimento

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

cautelar, tennine a sua pena. Se nao hou­ver prisao cautelar decretada, deve ser, de qualquer modo, colocado em liberdade. Note-se que 0 magistrado podera ordenar 0

seu recolhimento cautelar. Afinal, confonne a infrac;:ao penal cometida, de natureza leve, porexemplo, sem possibilidade deacarretar prisa.o (ilustrando. hoje e 0 que ocorre com oart. 28 da Lei 11.343/2006, em rela,ao ao usuario de drogas, que recebeni, sempre, penas alternativas it privativa de liberdade), eventualmente, 0 juiz pode mante-Io em liberdade, mas adverti-Io, novamente, bern como aplicar-Iheoutrasobrigac;:oes (art. 140, paragrafounico, LEP). Na jurisprudencia: T]SP: "Nos tennosdos arts. 86 do CPe 145 da Lei 7.210/84, a pnltiea dedelitos ap6s a concessao de livramento condicional naO implica aautomatica revogac;:ao do beneficio, monnente se as condenaC;:6es relativas aos crimes supervenientes nao transitaram em julgado. Em tais hipoteses, devesersuspensa a benesse ate que sobrevenhamassentenc;:as condenatorias transitas emjulgado e, por­tanto, irrecomveis" (HC498.689-3/2-00, 1.' C, reI. Mario Devienne Ferraz, 27.06.2005 i v. u., RT 844/584).

326. Suspensao do livramento condi­donal e presun.-;ao de inod~ncia: nenhum prejuizo ocorre ao principio constitucional da presunr;ao de inocencia a suspensao do livramento condicional, pois se trata de medida cautelar, como, alias, no processo penal, acontececom frequencia (ex.: decre­ta~ao de prisao temporaria ou preventiva). Nesse prisma: T]RS: "A pratka de nova in­frac;:ao durante 0 perfodo de prova autoriza a suspensao do livramento conditional, consoante disposi~ao do artigo 145 da Lei de Execur;ao Penal, ate que sobrevenha julgamentodefinitivo acerca do novo delito cometido. A lei nao exige a condenar;ao do infra tor e decisao transitada em julgado, para a imposic;ao deste onus de execUl;ao

da pena. Inexiste violac;:ao ao principio da presun~ao da inocencia. Nao se trata de revoga,ao" (Ag. 70016344764,3.' c., reI. Elba Aparecida NicolliBastos, 14.09.2006, v.u.).

327. Prorroga~ao automatic.: lem­bremos que a pratica de nova infrac;:i:io penal, durante 0 periodo do livram~nto condicional, autoriza 0 juiz a ordenar a prisao do sep.tenciado, 0 que,. por logica, acarreta a suspensao,do curso do beneficio (nao ha como estar preso e solto ao mes­mo tempo). Isso nao significa que, findo 0

prazo do livramento condicional, mesIpo que 0 magistrado nao determine a prisao do Iiberado, a pena esta extinta. Aplica-se ao caso 0 disposto no art. 89 do Codigo Penal: "0 juiz nao podent declarar extinta a pena, enquanto nao passar em julgado a sentenr;a em processo a que responde 0

liberado, por crime cometido na vigencia do livramento". Nesseprisma: T]SP: "Uvra­mento condicional-Decisao que decretou a extinc;:iio da pena privativa de liberdade apos o decurso do perioclo de prova - Hip6tese, porem, em que a extinc;:ao somente podera serdecretadaapos 0 transito em julgado da sentenc;:a pertinente a deHto praticado no curso do beneficio - Inteligencia dos arts. 89 do CP e 145 da Lei de Exeeu,ao Penal. C.') Verifica-se, portanto, que a suspensao ou revogac;:ao do beneficio somentenao foi deliberada antes do tennino da pena, para que 0 paciente pudesse exercer 0 direito de defesa,justificando-se. Mas 0 despacho foi proferido, siro, em sede cautelar. E nesta sede, sobreveio, apos a fala da defesa, a decisao de suspensao, atacada nesta via. o argumento -central esta direcionado no sentido de que a extinr;ao da pena, ultra­passado 0 prazo do livramento, e automa­tica. Tenho para mim, contudo, que essa nao e a melher interpretar;ao da previsao legal, respeitados, sempre, os ponderaveis

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Guilhenne de Souza Nucci 520

argumentos pastes em contni.rio. A Lei de Execw;ao Penal, emseu arL14S, estabelece o seguinte: praticada pelo liberado ,Dutra infra~ao penal, 0 juiz podent ordenar sua prisao, ouvidoso Conselho Penitenciario e o Ministerio Publico, suspendendo 0 cursa do liVramento coildicional, 'cuja revogar;ao, entre tanto, ficani. dependendo da decisab final. a Pret6ria Excelso temdlspensado a previaaudiencia do Conselho Penitenci~hio. 1550 significa, nao se tern dlivida, que olegi's­lador teve pornorte a insen,;:ao de ohstaculo a extinr;ao da pena'em face de sentenciado que, no cursa do beneficia,'nao pautou sua conduta consoante as obrigac;6es assurnidas pot ele. Nao Fosse esse 0 cspfiito cia lei, por certo nanse justificaria, no C6digo Penal, a previsao no sentido deque 0 juiz nan podeni declarar extintaa pena, enquanto nao passar em julgado a sentew;a em piocesso a que responde 0 liberado, por crime cornetido na vigencia do livramento (art. 89). Ese a nova a\=ao penal, no caso concreto, nao foi definitivamente julgada _. e nada h~fnos autos indicando que fOi-, nao se ve como a extin\=ao da pena possa ser decretada, desde logo, sem of ens a frontal a 'norma de direito penal material. A prorroga\=ao do prazo do livramento, assim, e automatica; sem 0 que 0 preceito encerraria palaVras imiteis. E e regra de hermeneutica que a lei nao traz palavras imlteis. Prorrogado 0

prazo, indiscutivel a legalidade da decisao de suspensao do livramento, com ordem de cust6dia, porque 0 padente, condenado par trafico de entorpecentes, foi preso em flagrante por-delito da mesma natureza,lem­brando-se que se trata de crime equiparado a hediondo._ Melhor seria se 0 legislador tivesse previsto, expressamente, por exem~ plo, que a extin~ao da pena decorreria do vencimento do prazo sem causa anterior de suspensao ou revogac;ao. -!sso espancaria, de vez, qualquerdiscussao a respeito. Mas a nao explicitac;ao clara de seu intuito, pe\=o

venia para afirmar, nao tern 0 condao de criarvantagem que colide diretamente com o espirito do Instituto. E preciso.ficarclaro que somente fani jus a extin\=ao da pena 0

cidadao liberado condicionalmente que nao torne a delinqiiir. Trata-se de premia real conferido ao cidadao que, pela conduta posterior, demonstrou ter havido, de SUa parte, envolvimento isolado em fata tipico penal ou plena assimilac;ao dos efeitos da sanc;ao. Nao ha campo para a extinc;ao d" pena (ao menos ate 0 transito em juIgado da sentew;a proferida na nova ac;ao penal) dosentenciado que, no curso do beneficio; sabendo dasserias implicac;oes decorrentes do livramento, torna a delinqiiir. Asoluc;ao maisrazoavel para 0 tema, penSo, sera aquela que admitir a prorrogac;ao automatica do prazo do livramento, merce do disposto no art. 89 do Cp, e sua suspensao, mesmo ap6s 0 encerramento do curso do favor legal, mormente quando 0 atraso - como na hip6tese - tenha decorrido da conces­sao de prazo para 0 exercicio do direito de defesa, ainda que nafasedeexecut;ao" (HC 848761.3/7, 5,' C, reI, designado Pinheiro Franco, ]7,11.2005, m,v., RT 847/569).

Art. 146. 0 juiz, de oifcio, a requerimen--' to do interessado,_do Ministerio Publico au mediante representat;ao do Conselho Peni­tenci.:irio, julgara extinta a pena privativa de liberdade, se expirar 0 prazo do livramento sem revoga<;ao.326

328. Extin~ao da punibilidade: findo o prazo do livramento conciicional,sem ter havido qualquer hipotese de proITogac;ao, nem mesmo revogat;ao, considera-se, por lei, extinta a pena privativa de liberdade (art. 90, CP). Porisso, a decisaosera meramente declarat6ria e nao constitutiva. 0 ideal e haver urn contrale eficiente disso, a ponto de 0 juiz da execm;ao penal faze-Io de off-

Leis Pellais e Processuais Pelulis Comentadas

cio, ouvido, antes, ao menos, 0 Ministerio publico. Porern, cabe a provoca<;ao do MP e do Conselho Penitenciario para que tal decisao se concretize.

Capitulo /I

DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

Se~ao I

Disposic;6es gerais

Art. 147. Transitada em julgado a sentent;a que apJicou a pena restritiva de direitas, 0 juiz de execu<;ao, de, oHeio ou a requerimento do Ministerio Publico, pro­movera a execu<;ao, podendo, para tanto, requisitar, quando necessaria, a colabora­<;ao de entidades publicas ou solicita-Ia 'a particulares.129

329. Execw;ao das penas restritivas de direitos: como se da com a privativa de liberdade, inida-se a execu\=ao, como regra, de oficio, sem necessidade de provocat;ao do Minhterio Publico ou mesmo do con­denado'.· P~rem, ha de se fazer u~ ~e~;i~tro importante. 'Embora 0 art 147 mencione 'poder 0 inagistrado req~isitcn: (exigir legal­mep:te) a colabora\=ao de entidades publicas ou solie. itd-1a (pedir, pleitear) a en·tid~des . . particulares, essa ,referenda se ·aplica, .. pa­sicamente, a pena de prestat;aa de servit;os a comunidade. As demais, tambem como regrager~l, prescinde~ da par~icipat;ao de crites publicos ou de pa!ticuJareS. E mesmo em relat;ao a prestat;ao deservi\=os a ~omu­nidade t<?rna-se essencial haver estrutura, organizat;ao e boa vontade. De nada adianta o juiz da execU(;ao penal requisitar auxilio de organismos publicos des'prepa.rados o:u solicitar a particulares: q~e passam atuar a contragosto. 0 engajamento do Esta­do e da comunidade no cumprimento da

ExecUl;ao Penal

pena e muito importante para consagrar a meta de ressocializat;ao do condenado. Atualrnente, em varios Estados, existem centrais especificas para 0 cumprimento das penas alternativas, especialmente a prestat;ao de servit;os a comunidade. Por isso, facilitoli-se 0 acesso dd 'condenado ao seu cumpriment.o.

Art. 148. Emqualquerfasedaexecu<;ao, podera 0 juiz, motiva~amente,-alterar a forma de cumprimento330 das penas de presta<;,ao de servh;os a comunidade e de'limita-<;ao de tim de semana, ajustando-as as' condic;6es pessoais do condenado. e as caracterfsticas doestabelecimento,· da entidade ou do pro-grama comunita-rio_ou estatal. 331

. .

330. Altera~ao da forma de cum­primento: imposta a'pena alternativa na sentent;a condenat6ria, a aIterac;ao men­cionada no art: 148.diz respeito a Janna de [umprimento, mas nao a modifica\=ao da pen~ em si, _~~ocando uma por op.tr~, pois tal medida seiia of ens iva a coisa jtilgada material, sem que haja -autorizac;acr'legal a tanto. Portanto, se 0 juiz da condenat;ao impos limitac;ao de fimdesemana, naopode o juiz da execU(;ao penal alterar, a pena, su-bstituindo-a para prestat;ao de servir;os acomunidade (ou.outra qualquer). 0 que lhe e dado fazer e modificar a estrutura do cumprimento da pena. Assim, exemplifican­do, em lugar de perrnanecerpor cinco horas di<irias, aossabados e domingos, em casa do albergado (art. 48, CP), Como detenninou ojuiz da condenac;ao, na impossibilidade, e possivel - embora improvavel- que 0

juiz da ~xecur;ao determine 0 compareci­menta em o,utro 6rgao publico (ilustrando, a Prefeitura Municipal da Comarca) para que participe de algum curso, nbs fins de semana, ocupando-sedurante'as cinco horas diarias. No caso de pena de prestac;ao de servic;os a comunidade, e possive! ao juiz da

Page 64: GUILHERME DE SOUZA NUCCI - Execução penal

Guilherme de Souza Nucci

execu~ao alterar a forma de cumprimento,

ou seja, em lugar de uma hora-tarefa por

dia de condena{:ao, pode detenninar que

o condenado, respettado 0 seU interesse,

preste sete horas deservi{:os, num limco dia,

em detenninad~ entidade aSsistencial.

331. Presta<;iiopecuniariaepresta,iio de outra natureza: quando foi editada a Lei

deExecu{:ao Penal em 1984, nao existiamas

penas de perda de bens e valores e de pres­

tar;ao pecunioiria, criar;6es da Lei 9.714/98.

Porem, valendo-se do disposto no art. 45, §

2.° ,do Codigo Penal, eperfeitamentevhiveI

a alterar;ao da pena de prestar;ao pecuniiiria

ao longo da execU(;ao. Assim, imposta uma

pena de presta~o pecunhiria consistente

no pagamento de 100 salarios minimos a

vftima (art.4s, § l.0, LEP),nomomento de

executar, verifica-se que 0 condenado mio

tern condic;6es de arcar com tal montante.

Acolhendo pleito do proprio sentenciado,

contando-se coma aceitac;ao do benefichirio,

o juiz converte a pagamento em pecunia

em presta{:i'iode outra natureza, como, pOI

exemplo, a prestac;ao de servir;os a vitima

(ex.: par ser mecanico, pode empreendera

revisao au algum reparo de funilaria em urn

veiculo do of en dido). Ternos sustentando

em nosso C6digo Penal come'n'tado (notas

89 e 90 ao art. 45, § 2.°) nao ser alternativa

legal mente viavel a concessao, de pronto,

na sentenc;a condenat6ria, de prestafao de

Dutra natureza. Essa e uma modificac;ao a

ser, quando for 0 caso, implernentada peIo

juizo da execuc;ao penal, nos mesmos moI­

des ern que, expressamente, garantiu 0 art.

148 nos cemirios das penas de prestac;ao de

servi{:os a comunidade e limitar;ao de firn

de sernana.

Se,iio II Da presta.-;ao de servic;;os a

comunidade

Art. 149. Cabera ao juiz da execu­c;ao: 332

I - designar a entidade ou program a comunitario ou estatal, devidamente cre­denciado ou convencionado, junto ao qual o condenado devera trabalhar gratuitamente, de acordo com as suas aptid6es;

II - determinar a intimac;ao do conde­nado, cientiFicando-o da entidade, dias e horario em que devera cumprir a pena;

III - alterar a forma de execu\=ao, a fim de ajusta-Ia as modificaC;6es ocorridas na jornada de trabalho.

§ 1.° 0 trabalho tera a durac;ao de oito horas semanais e sera realizado aos sabados, domingos e feriados, ou em dias uteis, de modo a nao prejudicar a jornada normal de trabalho, nos horarios estabelecidos pelo juiz.m

§ 2.° A execuc;ao tera infcio a partir da data do primeiro comparecimento. 334

332. Mecanismosde cumprimento da presta~ao de servi~os a comunidade: modemiza-se, atualmente, essa incurnben­cia do juiz da execw;ao penal. Como ja men­cionarnos, em muitas Comarcas, hacentrais de penas alternativas - 0 que representa 0

metoda ideal -, organizadas pelo Poder Executivo, para encaminhar a varios orgaos estatais os condenados sujeitos a prestac;ao de servi{:os a comunidade. Assim, basta ao juiz encaminharosentenciado a essa central e, depois, receber os reIat6rios mensais (art. 150, lEP), a respeito do seu desempenho no servir;o. Apenas a alterar;ao quanta a Jonna de execuc;ao necessita da autoriza~ao judicial, mas pode ser interrnediada pe1a central que recepcionou 0 sentericiado.

333. Derroga,iio do art. 149, § 1.°: a Lei 9.714/98 altereu a redac;ao do art.

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execuc;ao Penal

46, § 3.°, do Codigo Penal, estabelecendo, diversarnente do contido no art. 149, § 1.°, da Lei de Execuc;ao Penal, que a presta{:ao de servic;os a comunidade devera ser cum­prida a razao de uma hora de tarefa por dia de condena{:ao, 0 que implica emjomada semanal de sete horas e nao de oito, como anteriormente constava tanto nesta Lei como no C6digo PenaL Par sernorma mais recente, afasta-se 0 disposto no art. 149, §

1.°, da Lei de Execur;ao Penal, no tocante a dura{:ao de oito hams semanais. Contiriua­se, entretanto, a permitir que a atividade seja desenvolvida aos sabados, domingos, feriados au ern dias llteis, como for mais conveniente aos interesses do condenado, de fonna a nao the prejudicar a jornada nor­mal de trabalho. 0 juiz da execu{:ao pe'nal tern autonomia para acertar a jornada da melhor maneira (ex.: 0 sentenciado pode comparecer a entidade assistencial que Ihe foi designada urna hora por dia, todos os dias da semana, bern como pode trabalhar sete horas nosabado ou domingo). Lembre­mos, ainda, de outra novidade, introduzida tambem pela Lei 9. 714/98: a possibilidade de antecipar;ao do cumprimento dessa mo­dalidade de pena (art. 46, § 4.°, CPl. Para tanto, sera necessaria fazer· 0 ca1culo em horas do total da pena, pennitindo-se que a antecipac;ao se de, no maximo, ate a metade do totalfixado. Maioresdetalhes, consultar a nota 102 ao art. 46, § 4.° ,donosso C6digo Penal comentado.

334. Transcurso da prescri~ao: con­formedispoe a art.ll? V, do C6digo Penal, interrompe-se 0 curso da prescrir;ao -neste caso, em relac;ao a pretensao execu t6ria da pena -quando se iniciaro cumprimento. No caso da prestac;<'io deservic;os a comunidade, tern inicio, interrompendo-se a prescric;ao, no primeiro comparecimento do sentencia­do a entidade que lhe foi designada. Logo, nao e por ocasiao de sua ida ao f6rum ou a

central depenasaltemativas, a fim de tomar conhecimento de como sera desenvolvido seu trabalho, para efeito de interrupr;ao do curso da prescricao.

Art. 150. A entidade beneficiada com a presta\=ao de servic;os encaminhara men­sal mente, ao juiz da execuc;ao, relat6rio cir­cunstanciado das atividades do condenado, bem como, a qualquer tempo, comunica~ao sobre-ausencia au falta disciplinar.335

•316

335. Relat6rio mensal: destina-se ao acompanhamento do cumprimento da pena de presta{:ao de servic;os a-comuni­dade. Exige-se do condenadb assicluidade, pontualidade e obediencia. Consulte-se 0

disposto no art. 51 desta Lei, a respeito das faltas graves em rela~ao a penas restritivas de ~ireitos, dando margem, Sf foro caso, a sua conversao em privativa de liberdade. Ver, ainda, 0 disposto no art. 181, § LO,

desta lei.

336. Inexistencia "de local para a presta~ao de- servi~os a comunidade: ernbora atualmente tal situar;ao seja rara de ocorrer, nao e impossive-I. E assim sendo, ha, em nosso ponto de vista, somente duas soluC;6es viaveis: a) aguardar a prescric;ao, enquanto 0 Estado nao oferece condi{:6es concretas para 0 cumprimento da pena, 0

que e 0 correto, ja que 0 mesmo se daria se estivesse foragido; b) da-se a pena por cumprida, caso 0 tempo transcorra, estando o condenado a disposic;ao do Estado para tanto. Esta nao e a melhoralternativa, poi~, parale1amente,somente para ilustrar,sabe­se que muitos mandados de prisao deixam de ser cumpridos por [alta de vagas ern presidios e nern por isso as penas "fingem­se" executadas.

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Guilherme de Souza Nucci 524

Se~ao III Oa limita{'ao de fim de semana

Art. 151. Cabera ao juiz da execu.;ao determinar a intimac;ao do condenado, cien­tificando-o do local, dias e horario em que dever.§. cumprir a pena.-337

Paragraf9 unico. A execuc;ao tera infcio a partir da data do primeiro comparecimen­to.338

337. Necessidade da casado alber­gada: 0 lugarideal para 0 cumprimento cia pena de limita~ao de-fim des~mana ea ~asa do aJbergado (art. 48, CP). E certo que existe a possihilidade de haverum localaltemativo ("ou Dutro estabeleci~ento a~equado"), mas, na imensa maio ria dos casos, nao ha. G que existe, infelizmente,sao arremedos de cumprimento de pena. Ex.: ~a quem d"eiermine ao reu a permariencia em ~ua propria casa (prisao albergue domiciliar), nos fins de semana, durante cinco haras no sabado eno domingo. Quem vai fiscalizar? Qualseta 0 horatio? Havera palestra e curso educativo? Certamente, nada disso tera fun<;ao utH. A pena se torna na realidade uma pai6dia do cenario'previsto em lei.

338. Transcurso da prescri«;ao: ver a nota 330 ao art. 149, § 2.".

Art. 152. Podedio ser ininistrados' ao condenado, durante 0 tempo de permanen­cia, cursos e palestras, ou atribufdas ativida­des educativas.3J9

Paragrafo unico. Nos casos de violencia domestica contra a mulher, 0 juiz podera determinar 0 comparecimento obrigat6rio do agressor a programas de recupera~ao e reeduca~ao.HO '

339. Fatuldade ou obriga~ao estatal: pensamos seT obriga~ao, pOis nao teria 0

menor sentido determinar a alguem que

passe cinco horas no sabado e au tras cinco no domingo sem fazerabsolu tamente nada na easa do albergado. Se forparase oeupar, sozinho, da leitura de urn livro au para assistir televisao, que fique em easa e nao cumpra pena .. 0 Estado, pais, tern 0 clever de the proporcionaratividades educativas; em hannonia com a finalidade da pena: a reeduca.:;ao do eondenado ..

340. limita~ao de fim de seman. e violencia domestica: urn dos principais prop6sitos, em materia de aplica~ao de penas, da lei 11.340/2006, que cuidou dos ca.sos de violenci~ domestica e familiar,foi evitar a substituic;;ao de penas priva tivasde liberdade em pecunia, por qualquer forma (presta.:;aopecunhiria, multa oua tal "doac;;ao de cestas basicas", conforme disp6e 0 art. 17 da referida Lei 11.340/2006). Nao se impedeasubstituic;aodepenasprivativasde liberdadeporrestritivas de direitos, como, exemplificando, a presta<;ao de servic;os a comunidade ou a limita~ao de fim de semana. Neste 'ultimo caso, acrescentou­se o'paragrafo unico ao art. 152 desta Lei, com a objetivo d~ proporcionarao agressor curSos especfflcos a sua situar;ao, vale dizer, de reeupera~ao e reeduea~ao no contexto de respeito a mulher e a familia.

Art. 153. 0 estabelecimento designa­do encaminhara, mensalmente, ao juiz da execuc;;ao, relat6rio, bem assim comunicara, a qualquer tempo, a ausencia ou falta disci­plinar do condenado.341

341. Relat6rio mensal: destina-se ao acompanhamento do cumprimento da pena de fim de semana.-Exigc-se do condenado assiduidade, pontualidade e obediencia. Consulte-se 0 disposto no art. 51 desta Lei, a respeito das faltas graves em rela~ao a pe­nas restritivas de direitos, dando margem, se for 0 caso, a sua conversao em privativa

Leis Pellais e Frocessuais -Pellais Comentadas

Execuc;ao Penal

de liberdade. Ver, ainda, 0 disposto no art. 181, § 2.", desta lei.

Se~ao IV Oa interdi~ao temporaria de direitos

Art. 154. Cabera ao juiz da execuc;ao comunicar it autoridade competente a pena ap'licada, determinada a intima~ao do con­dimado.m .]44·

,§ 1.° Na hip6tese de pena de interdic;ao do art. 47, I, do C6digo Penal, a autoridade devera, em 24 (vinte e quatro) horas, conta­das do recebimento do offcio, baixar ato, a p~rtjr do_qual ~ execuc;ao tera SyU infcjo.J4S

, § 2.° Nas hip6teses do art. -47, II elll, do C6digo Penal, 0 Jufzo da Execuc;ao determi­nara a apreensao dos docum~ntos, que auto­rizam 0 -exercfcio do direito interditado.346

342. Da inviabilidade dapena de interdi«;'ao temponiria de direitos: 'as modalidades de penas prevista's no art. 47 do C6digo Penal Cproibi<;ao do exercicio de cargo, funr;ao oli atividade publica, bern como de -mandato eletivo; proibic;ao do exercicio de profissao, ativiaade ou oficio que dependam de habilita~ao especial, de licenr;a 00. autorizat;ao do poder publico; suspensao de-autoridade ou de habilitac;ao para dirigirveieulo; proibi~ao de frequentar lugares) sao totalmente- dissociadas dos prop6sitos regeneradores da pena. Qual a utilidade de se proibir 0 condenado de exereer uma profissao ou atividade lfcita? Nenhuma. Se ele errou no exercicio fun­cional, certamente, deve pagar pelo que fez"masjamais com a imposi<;ao estatal de nao se poder auta-sllstentar. Caso,o etto seja muito gr~ve, deve d~ixar 0 cargo, a fun~ao, a atividade, 0 mandato, a oficio ou a profissao em definitivo. A proibic;ao temporaria e mais severa, pois implica em desorientac;ao e desativaC;ao da vida profis­sional, seja ela qual for, porum determinado

periodo, vale dizer, nao separte para outro foco de atividade de uma vez por todas, porem, nao se sabe se havera condic;6es de reternar ao antigo posta com dignidade. Imagine-se 0 medico que seja obrigado a permanecer urn ano sem exercer sua pro­fissao. Ele fechao cOI).sult6rio, dispensa os pacientes e faz 0 que da sua viqa? Sustenta a si e a sua familia de que modo? Nao se tern noticia ,de su,cesso nessa jogada do. Estado para punir crimes cometidos no exercicio profissionaL Por outro lado, p,assado urn ano, como esse medico ten1 condi~oes de reabrir 0 consult6~io _e reativar sua antiga clientela? E humanamente impossivel tal proeza, monnente em c,idades do interior, onde todos conhecem 0 quese-passa e torna­se inviavel oculiar 0 cumprimento da pena. Se ele for obrigado a mudar de cidade para retomar sua vida, reeria-se a pena de bani­mento indireto ou mesmo de ostradsmo, 0

que e truel. Somos contnirios a proibi~ao de exercicio pro fissional de qualquer especie. Insistimos: se 0 eno formuito grave, nao ha mais condic;oes de se permitir 0 exerc-icio da profissao, merecendo, pois, como efeito da condena.:;ao, a eessa~ao'permanente da autoriza<;ao para tal. Entretanto, 0 art. 92, 1, do C6digo Penal, cuidadisso de maneira limitada e voltadasomente aos funcionarios publicos.

343. Derroga~ao do ~rt. 47,]11, do C6digo Penal: 0 C6digo de Jransito Bra­sileira, (Lei 9.503/97) regulou,.por inteiro, a pena restritiva de direitos consistente em suspensao da pennissao ou habilitac;ao para dirigir vefculos, ra.zao pela qual afas.tou 0

d~sposto no inciso III do arL47 em :relac;ao a habilitac;aopara dirigir. Remanesce a figura daautorizac;ao para dirigir, que, na realidade, destina-se, apenas, aos ciclomotores. .

344, Cria~ao de nova especie de interdic;ao temporaria de direitos: nao

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Guilllenne de Souza Nucci

bastasse a proibir;ito de Jrequentar lugares ser inocua, especialmente em materia de fiscalizac,;ao, como mera condh;ao do sur­sis (art. 78, § 2.°, a, CP) e do livramento condicional (art. 132, § 2.", c, LEP), a Lei 9.714/98 fez 0 desfavor de traze-la para 0

universe das penas restritivas de direitos, inserindo-a no art. 47, IV, do Codigo Penal. Por tal razao, nao se encontra regulada-nesta Sec,;ao da Lei de Execuc,;ao Penal, datada de 1984. E urria especie de pena que riao teve repercussao e os magistrados, coni razao, evitam aplica-Ia, pais, como ja frisamos, e inutil. Comose poderia pensar em substi­tuiruma pena privativa de liberdade de ate quatro anos de redusao, porcrimedoloso, pela proibi~ao de Jrequentar determinados lugares? Quais seriam esses locais? Teria a eficiencia de causar aflic,;ao ao c'onde­nado, a ponto, indusive, de reedu~a-Io? E evidente que nao. Alem disso, nem e preciso ressalvar a completa desestrutura do Estado em fiscalizar tal penalidade. Se nem mesmo a prisao em regiAIe aberto conta com a fiscalizac,;ao adequada, e mais que natural estar essa pretensa punic,;ao (proibic,;ao de frequentar lugares) fadada a permanecerno esquecimento, oque euma resposta necessaria do judiciario a infeliz criatividade legislativa.

345. Proibir;ao do exercfcio de cargo, fun~ao ou atividade publica e mandato eJetivo: para 0 cumprimento dessa pena restritiva de direitos; deve 0 magistrado oficiar ao superior do funcionario publico condenado, comunicando-Ihe a vedac,;ao eo perfodo de durac;ao. A partir dai, a au­toridade competente baixara ato para i~­pedir que 0 seryidor tenha acesso ao- seu local costumeiro de trabalho. Eo inicio do cumprimento da pena, com interrupc,;ao da prescri~iio (art. 117, IV, CPl.

346. Proibi~ao do exercfcio de pro­fissilol atividade ou offdo e autoriza~ao para dirigir: para 0 cumprimento dessas restric,;5es, deve 0 juiz da execuc,;ao penal determinara intima<;ao do condenado para que apresente seu documento funcional (ex.: cuidando-se do advogado, entregaria a carteira de identificac,;ao expedida pela OAB). Em tese, apreendido 0 referido do­cumento pelo tempo de durac,;ao da pena, o pro fissional estaria impedido de exercer a profissao, atividade ou oficio, pois depen­dentes de licenc,;a ou autorizac,;ao do poder publico. Va ilusao. A imensa maioria dos profissionais exerce as suas atividades la­borativas normalmente, sem ter que exibir, nos seus locais de trabalho, a carteira de identifica<;ao. Nem mesmo em audiencia, tornando ao exemplo do advogado, exige 0

juiz asua identifica<;ao, especialmente quan­do ha procurac;ao n<?s autos e 0 profissional ja esteve na Vara antes. 0 mesmo se pode dizerdas demais profissoes. Os medicos, em outra ilustra<;ao, nao praticam a medicina em seus consult6rios exibindo a carteira de identifica<;ao aos pacientes. Em suma, a apreensao e in6cua. A par dessa medida, deve 0 juiz oficiar ao orgao de dasse, que tomaria a providencia de publicar nota a respeito (ex.: comunica<;ao no jornal-do sindicato ou do 6rgao declasse), bern como assumiria 0 compromisso de fiscalizar 0

condenado atraves demecanismos proprios (ex.: 0 Conselho Regional de Medicina pode ter acesso aos lugares comuns onde determinado medico exerce sua profissao, tais como consult6rio, hospitais, dinicas etc., devendo colaborar com 0 juizo para evitar 0 exercicio da atividade).

Art. 155. A autoridade devera comu­nicar imediatamente ao juiz da exeCUC;ao 0

descumprimento da pena.347

Leis Penais e Processuais Penais Comwradas

Paragrafo unico. A comunicaC;ao prevista neste artigo podera ser feita por qualquer prejudicado. 348

347. Comunica~ao do descumpri­mento: tanto a autoridade, cuidando-se de funcionario publico, como os orgaos de classe ao qualse Vincularem os profissionais impedidos de trabalhar, devem cornunicar ao juizo da execuc,;ao penal se tomarem conhecimento acerca da infringencia da interdic,;ao. Vero art. 51 Cfaltagrave) e oart. 181, § 3.° (conversao em prisao), ambos desta Lei.

348. Comunicar;ao exte~sfvel a ter­ceiros: se urn funcionario publico ou urn pro fissional qualquer estiver impedido de exercer sua atividade, natural mente, 0

que fizer devera ser desconsiderado (ex. a audiencia realizada com a presenc,;a de ad­vogado interditado do exercfcio profissional sera anulada e refeita). Tal medida podeni prejudicar terceiros. Estes tambem estao legitimados a levar ao conhecimento do juiz da execw;ao penal 0 ocorrido, para que as providencias legai:;.sejam concretizadas, especialmentenoquetocaapossibilidadede conversao da interdic,;ao em pena privativa de liberdade.

Capitulo III

DA SUSPENSAo CONDICIONAl "',-",

Art. 156. 0 juiz podera suspender, pelo perfodo de do is a quatro anos, a execu~ao da pen a privativa de liberdade, nao superior a dois anos, na forma prevista nos arts. 77 a 82 do C6digo Penal.

349. Conceito de suspensao condi­donal da pena: trata-se deum instituto de polftica criminal, tendo por tim a suspensao da execUI;ao da pena privativa de liberdade,

Execuc;ao Penal

evitando 0 recolhimento ao carcere do con­denado naO reincidente em crime doloso, cuja pena nao e superior a dois anos (OU

quatro, se septuagenario OU enferrno), sob determinadas condi<;5es, fixadas pelo juiz, bern como dentro de urn perfodo de prova pre-definido.

350. Natureza juridica: e medida de polftica criminal para evitar a aplicac,;ao da pena privativa de liberdade, cons~bstan­dada numa outra forma de cumprimento de pena, logo, cuida-se de urn beneficio.

351. Dura~ao do beneficio: como regra, de doisa quatro anos. Tratando-se de condenado maior de 70 anos ou enfenno, 0

perfodo de suspensao sera de quatro a seis arros, caso a pena seja superior a dois, mas nao ultrapasse quatro anos. No cencirio das contravenc;5es penais, asuspensao sera de urn a tres anos.

Art. 157.0 juiz ou tribunal, na senten­c;a que aplicar pena privativa de liberdade, na situac;ao determinada no artigo anterior, devera pronunciar-s€, motivadamente, sobre a suspensao condicional, quer a conceda, quer a denegue. ]52

352. Obrigatoriedadedeabordagem na sentenc;a: sempre que a pena nao ultra­passar dois anos, deve 0 magistrado fazer expressa referencia ao 5ursis, seja para con­cede-lo, seja para denega-Io. E,como todas as decis5es dojudiciario, motivadamente. Se a pena nao for superior a quatro anos, tratando-se de condenado maiorde 70 anos ou enfermo, da-se 0 mesmo. Atualmente, em virtude da reforma provocada pela Lei 9.714/98, as penas privativas de liberdade de ate quatro anos podem ser substitufdas porrestritivasde direitos. Porisso,seo juiz optarporessa penalidade, considerada mais benefica que 0 sllrsis, confonne disp5e 0 art.

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Cui/heme de Souza Nucci

59, rv, do Codigo Penal, nao ha necessidade de se pronunciar a respeito da suspensao condicionaldapena.Odispostonoart.157 da Lei de Execuc;ao Penal foi editado antes da edi<;ao da Lei 9.714/98. Ate esta data, as penas restritivas de direhos poderiam ser concedidas em substituic;ao a.penas privativas de liberdade de menos de urn ana. Portanto,penassuperioresa umeque nao ultrapassem dais anos comportavam apenas 0 beneficia dasuspensao condicional da pena, motivo pelo qual a julgadordevia se pronunciar a respeito disso.

Art 158. Concedida a' suspensao, a juiz especific'ara as condi.-;6es a que fica sujeito 0 condenado, pelo prazo fixado, co­me~ando este a correr da audiencia previs­ta no art. 160 desta lei. 35J

§ 1.° As condi~6es serao adequadas ao fato e it situac;ao pessoal do condenado, devendo ser inclufda entre as mesmas a de prestarservic;os it comunidade, au limitac;ao de fim de semana, salvo hip6tese do art. 78, § 2.°, do C6digo Penal.

§ 2.° 0 juiz podera, a qualquer tempo, de ofi'cio, a requerimento do Ministerio Publico ou mediante proposta do Cons.elho Penitenciario, modificar as condic;6es e regras estabelecidas na sentenc;a, ouvido 0

condenado. 354

§ 3.° A fis!=alizac;ao do cumprimento das condil;6es, regulada nos Estados, Territ6rios e Distrito Federal par normas supletivas, sera atribufda a servic;o social penitenciario, Patronato, Conselho da Comunidade ou instituic;ao beneficiada com a prestac;ao de servic;os, inspecionados pelo Conselho Peni­tenciario, pelo Ministerio Publico, ou ambos, devendo a juiz da execuc;ao suprir, P.or ato, a falta das normas supletivas. 3S5

§ 4.° a benefi~iario, ao comparecer pe­riodicamente it eritidade fiscalizadoni, para comprovar a observancia das 'condiC;6es a que esta sujeito, comunicara, tambem, 'a sua ocupa.-;ao e os salarios ou proventos de que vive. 356

§ 5,° A entidade fiscalizadora devera comunicar imediatamente ao orgao de inspec;ao, para as fins legais, qualquer fato capaz de acarretar a revogac;ao do beneflcio, 'it prorrogac;ao do prazo ou a modificac;ao das condiC;6es. 357

§ 6.0' Se for permitido ao beneficia'rio

mudar-se, sera feita comunicac;ao aD juiz e it entidade fiscalizadora do local da nova residencia, aos qu'ais 0 primeiro devera apresentar-se imediatamente. 358

353. Sursis condicionado: concedido o beneficio, e imprescindivel que 0 jUiz opte entre 0 denominado sursis Simples, fixando as condic;oes previstas no ~rt. 78, § 1.°, (prestac;ao de servic;os a comunidade ou limitac;ao de fim de semana), e 0 sur­sis especial, estabelecendo as 'condi~oes previstas no art. 78., § 2. ° (proibi~ao de frequentardetenninados lugares, proibic;ao de ausentar-se da comarca onde resict"~, sem autoriza~ao do jUlz e comparecimento pessoal e obrigatorio a juf;~o, mensalmente, para info~mar e justificar as atividades), do Codigo Penal. 'Nao hoi suspensao' condi­cional da pena scm a fixac;i'o de condic;o~ adequadas ao caso concreto. Sobrea esc'olha entre as variadas possibilidades de condi­c;6es, consultar as notasao art. 78 do nosso Codigo Penal comentado. Lembrem~s, ainda, que, alem das condic;oes previstas pelo art. 78, ha tambem as genericas, indicadas peIo art. 79 do C6digo Penal.

354. Altera~aodascondi~iiesdo5ur­sis: verificando qualquer inviabilidade de cumprimento, 0 juiz da execu~ao penal pode, de oficio, ou porprovocac;ao do Minis­terio Publico e do Conselho Penitencioirio, modificar as condic;oes, substituindo as que nao surtirem efeitos por outras. Ex.: 0

magistrado do processo de conhecimento estabelece na sentenc;a condenatoria, como condic;ao, a limitac;ao de fim de semana. Vislumbrando nao haver casa do albergado

529 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

na comarca, nem local adequado para a refenda pena ser cumprida a contento, po­deria altera-Ia para, a prestar;ao deservic;o.s a comunidade. A modificar;ao naO of en de ria a coisa julgada,ja que esta expressamente autorizada em lei e a f;xe<;w;ao penal, por natureza, e flexivel, respeit_ada a individu­alizac;ao executoria da pena.

355. Fiscalizac;aodosursis: e'atrihui~ c;ao de variados orgaos, ate pai~ qU'e seja mais·eficiente. Em primeiro lugar,_deve'..:se destacar a intenc;~o da Lei de Execu~ao Penal de delegar aos Est'ados e Distrito Federal (nao 'ha Territ6rios, atualine'rite, nO Brasil) a possibilidade de legislar riesse cen'ario; editando regras de fiscalizac;ao da suspensao condicidnal da pena, conforme as peculiaridades locais ou regionais. Por iSSo, chega a mencionar que, a falta de t~tis nonnas supletivas, pode 0 proprio juiz da execw;ao penal supn-Ias por ato seu'. 'Uma portaria, porexemplo, tema possibilidade de credenciar algum orgao da comunidade afiscalizar 0 cumprimento do sursis. Alem disso, ha 0 servic;o social atuante,em estabe­lecimentospenais, 0 Patronato, 0 ConseIho da Comunidade e a entidade beneficiada pela prestac;ao deservic;os a comunidade. argaos naturais de fiscalizac;ao de todas as fases da execuc;ao e de quaisquer penas tambem devem observarasuspensao condicional da pena, tais como 0 Conselho Penitenciario eo Ministerio Publico. Estes dois ultbnos, entretanto,atuamcomoorgaosdeinspec;ao, vale dizer, devem supervisionar a atuac;ao dos fiscais.

356. Comparecimento peri6dico do condenado: primordialmente; ,esse comparecimento diz respeito a condic;ao prevista no art. 78, § 2.°, c, do Codigo Penal, clestinando-se a informar ao jvizo as ~tivi­clades que vern desenvolvendo mes ames. Nada impede que, alem disso, 0 magistrado

Execuc;ao Penal

da execuc;ao penal determine 0 compare­cimento a sede da entidade fiscalizadora credenciada ou indicada em lei para haver uma atua<:ao com maiorminticia, checando os informes prestados.

357. Conseqliencia da liscaliza~ao: por obvio, deve a entidade fiscalizadora co­municarao juiz daexecuc;ao penal qualquer percalr;o no cumprimento das condic;oes do sursis, possibilitando a tomada de me­didas de ordeni jurisdicional, como, por exernplo, arevogar;ao do beneficio. Sobrea prorrogac;ao do prazo e quanto as hip6teses de revogac;ao, consultar as notas ao artigo 81 do nosso C6digoPenai comentado.

358. Altera~ilo de residencia: au.to­rizadopelo juiz da execuc;ao penal, pode 0

condenado mudar-se para outra comarca. Neste caso, nos mesmos moldes previstos pelo~arts.133 e 134 desta Lei, em'relac;ao ao livramento condicional, 0 condenado sera acompanhado pelas entidades fiscalizadoras do Iugar ande se estabeleceu.

Art. 159. Quando a suspensao condi­cional da pena. for concedida por trib.unal, a este cabera estabelecer as condi~6e.s do beneflclo. 359'

§ 1.° De i8.ual mod~ proceder-se-a quando 0 tribunal mod[ficar as condic;6es estabelecidas na sentenc;a recorrida. 360

§'i.oo trib'unal, aoc~nc~der a susp~nsao condicional da pena, podera, todavia, con­ferir ao JUIZO da Execuc;ao a incumbencia de estabelecer as condic;6es do beneflcio, e, em qualquer caso, a de realizar a' audiencia admonit6ria. 361

359. Condi~iies lixadas pelo tribu­nal: e possivel que 0 magistrado, na sen­tenc;a condenatoria, de acordo com seu livre convencimento motivado, negue 0

beneficio do sursis. Apelando 0 reu e sendo

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Guilhenne de Souza Nucci

dado provimento ao recurso, 0 tribunal concede a suspensao condicional da pena, cabendo-Ihe, pois, estabelecer as condic;6es apropriadas, confonne previsao feita pelos arts. 78 e 79 do Codigo Penal.

360. Modifica¢odascondi~ijespelo tribunal: possivelmente, as condh;5es esta­belecidas peIo juiz da condenac;ao podem nao agradar ao reu ou ao orgao aeusatorio. Havendo apelac;ao deum ou ~Utro, devida­mente provida, cabe ao tribunal alteni-Ias, atendendo aos interesses da parte que re­eorreu. Por isso, podeagravaras eondic;6es ou atenua-Ias.

361. Delega~aodotribur,.l: embora seja hipotese mais rara, pois,provido 0

recurso da parte, 0 mais indicado e que 0

tribunal estabelec;a, desde logo, quais sao as eondic;6es ideais para 0 eondenado, nao se trata desituac;ao legalmente impossivel. Imaginemos que 0 magistrado, na sentem;a condenatoria, coneeda 0 SUTsis incondicio­nado. Havendo apelo do Ministerio Pliblico, como nenhuma condic;ao foi fixada, nero 0

orgao acusatorio sugeriu alguma especifica, pode 0 tribunal delegarao juiz da execw;ao penal que 0 fac;a. Aaudiencia admonit6ria, comoregra, e realizada, realmente, em pri­meiro grau: a) na Vara da Execw;ao Penal, quando couber a esta a fixac;ao das condi­c;6es; b) no juizo cia condenac;ao, quando 0

proprio tribunal ja estipulou as condic;6es da suspensao condicional cia pena.

Art. 160. Transitada em Julgado a sentenc;a condenat6ria, 0 juiz a lera ao condenado, em audiencia, advertindo-o das consequencias de nova infrac;ao penal e do descumprimento das condiC;6es im­postas. 362

362. Aceitac;ao do beneficia: como ja vimos, ao tratarmos da natureza juridica

do sursis, cuida-se de urn beneficio, sob condic;6es. Estas precisam ser entendidas e aceitas pelo condenado. Nao e. possivel obriga-Io, a forc,;a, a cumprir, por exemplo, uma prestac;ao de servic;os a comunidade. Por tal motivo, 0 juiz, na audiencia ad­monit6ria, lera a decisao ao sentenciado, incluidas as condic,;6es as quais ficarasub.:. metido, alertando-o para as consequencias do nao cumprimento e da pratica de Dutra infraC;ao _penal, que sera a revogac;ao do beneficio, mas, obviamente, colhendo oseu ciente e a sua aceitac;ao. A lei nao mencion~ expressamente essa concordancia, que se dara, por uma questao logica, ao final da audiencia, comaassinaturado tenno. Recu~ sando-se, eventualmente, ao cumprimento das regras do sursis, perdera este 0 efeito e sent 0 condenado en~aminhado para 0

regime fixado na senten~a (aberto, semi­aberto ou fechado). Entendemos nao ser 0

caso de haver revo gafGO, pois nem mesmo aceitaC;ao houve.

Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, o reu nao comparecer injustificadamente a audiencia admonit6ria, a suspensao ficara sem efeito e sera executada imediatamente a pena.363

363. AusEmciadaaudienciaadmoni~ t6ria: assim ocorrendo, nao se colhera a sua concordancia, nem haveni a possibilidade de se ter por iniciado 0 cumprimento do beneficia. Por isso, como bern esc1arecido no texto doart.161,ficarasemeJeitoosursis. Nao e caso de revogat;;ao, pois nem mesmo foi aceito.

Art. 162. A revogac;ao da sus pen sao condicional da pena e a prorrogac;ao do perfodo de prova dar-se-ao na forma do

531 Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

<Irt. 81 e respectivos paragrafos do C6digo PenaP64

364. Revoga~ao e prorroga~ao do sursis: consultar as notas 25 a 35 ao art. 81 do nosso Codigo Penal comentado.

Art. 163. A sentenc;a condenat6ria sera registrada, com a nota de suspensao, em li­vro especial do jUlzo a que couber a execu­~ao da:-pena.365

§ 1.° Revogada a suspensao ou extinta a pena, sera a fato averbado a margem do registro.

§ 2.° 0 registro e a averbac;ao serao sigilo-50S, salvo para efeito de infomiac;6es ~equisi­tadas por 6rgao judiciario ou pelo Ministerio Publico, para instruir processo penal.

365. livro de registro da senteri~a condenatoria: serve para 0 controle do cumprimento da pena pelo juizo da execu­t;;ao penal. Por isso, havera nota especifita mencionando 0 gozo de suspensao condi­donal da pena peIo condenado.

Capitulo IV

DA PENA DE MULTA

Art. 164. Extrafda certidao da senten­c;a condenat6ria com transite em julgado, que valera como titulo executivo judicial, o Ministerio Publico requerera, em autos apartados, a ci.tac;ao do condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar 0 valor da multa ou nomear bens a penhora?66

§ 1.° Decorrido 0 prazo sem 0 pagamen­to da multa, au 0 deposito da respectiva importancia, proceder-se-a a penhora de tantos bens quantos bastem para garantir a execuc;ao.

§ 2.° A ilomeagio de bens a penhora e a posterior execuc;ao seguirao 0 que dispuser a lei processual civil.

Execuc;ao Penal

366. Multa como divida de valor: a Lei 9.268/96 modificou a reda~ao do art. 51 do Codigo Penal, passando a constar 0

seguinte: "Transitada em julgado a sentent,;a condenat6ria, a multa sera considerada dfvida de valor, aplicando-se-Ihe asnormas da legislac;ao relativa a divida ativa da Fa­zenda Pliblica, inclusive no que concerne as causas interruptivas e suspensivas da prescric;ao". A meta pretendida era evitar a conversao da multa em prisao, 0 que.an:­teriormente era possive}. Nao se deveria, com isso,.imaginar que a pena de multa transfigurou-:se a ponto de perder a sua identidade, ou seja, passaria a constituir, na essencia, uma Sall!;aO civil. Tanto assim que, havendo morte·do agente, nao se pode estender a sua cobranc;a aos herdeiros do condenado, respeitando-se 0 disposto na Constituic;ao Federal de que "nenhuma pena passarada pessoado condenado" (art. 5.°, XLV). Segundo 0 que vimos defendendo, deveria ela' ser executada pela Ministerio Publico, na Vara das ExecUl;6es Penais, embora seguindo 0 rito procedimental da Lei 6.830/80, naquilo que for aplicavel. Assim,. 0 executado deve ser cHado (pelo correio, pessoalmente ou por edital) para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dfvi­da atualizada pela correc;ao monet<iria. 0 devedor, entao, po de efetuar 0 deposito, oferecer fiant;;a bancaria, nomear bens a penhora ou indicar a penhora bens of ere­cidos por terceiros e devidamente aceitos. Se nao 0 fizer, devemser penhorados bens suficien tes para garantir a execuc;ao. Apos, realizar-se-a leilao publico. A materia, no entanto, permanece controversa, existindo quem sustente sera multa, como divida de valor que e, passivel de, execuc;ao peIa Fazenda Publica, na Vara das Execuc;5es Fiscais. A jurisprudencia, por ora, firmou posic;ao majoritaria no sentido de ser esta ultima a tendendaideal. No Estado deSao Paulo, atualmente, a pena pecuniaria vern

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.. I

Guilherme de SOItza Nucci 532

senda exec-utada pela Procuradoria Fiscal na Vara das Execuc;oes Fiscais: Ha varios inconvenientespara tanto, podendo-sedes­taear, dentIe as principais, as seguintes: a) a multa penal cleve seI cobrada com-todo 0

empenho possivel, ainda que de baixo valor, para nao gerar 0 indevido sentimento de impunidade, afinal, trata-se de condenac;ao na esfera criminal, muitas vezessubstitutiva da pena privativa deliberdade; b) 0 excesso de execuc;oes' fiscais e as valores baixDs das multas estabelecidas desestimulam as procuradores edemais agentes da Execw:;ao Fiscal a promover 'a efetiva cobranc;a; c) a certidao de divida ativa naQ contem dad-os do processo criminal que a originou, de modo que, quando 0 executado morre, nao se s~be a quem remeter 0 feito para queseja julgada extinta a punibilidade. Na pnitica-, teru-se arquivado a execur;ao, per..: manecendo em aberto a questao penaLPor isso, mesIilo quese considere a multa como sanr;ao penal, na essencia, embora cobrada como se Josse dtvida de valor, respeita-se'o pracedimento da Lei 6 .830/80, nao mais se utilizando os artigos '164, 165 e 166da Lei de Execur;ao Penal. Os demais artigos nao conflitamcomasnonnasde'execuc;aofiscal, merecendo aplicar;ao, quando possivel. Em sentidocontrdrio, sustentando, c'orno cremos correta, a legitimidade ativa do Ministerio Publico para pramover a execuc;ao da pena demulta: T]SP: "Pena demulta-Execur;ao - Legitimidadedo Ministerio Publicq-Art. 51 do CP com nova redac;ao dada pela Lei 9.268/96-Divida de valor que Dao desnatura a natureza penal- Irhpossibilidade, diante das repercuss6es do inadimplemento na execuc;ao da pena privativade liberdade, de se admitir que a execur;ao seja civ:il- Entra­yes do processo decobranr;a executiva que impediriam a eficacia das disposir;oes dos arts. 118, § LO, da Lei de Execuc;ao Perial e 81, II, do CPO Aplicac;aoda regta de exegese sobre DaO poder a lei pretender 0 absurdo"

(Ag. 396060.319,11' c., reI. Aben-Athar, 1.°.02.2006, v.u.,RTS50/564).

Art. 165. Se a penhora recair em. bern imovel, os autos apartados serao remetidqs ao jufzo dvel para prosseguimento. .

Art. 166. Recaindo a penhora em outros bens, dar-se-a prosseguimento nos termos do § 2.° do art. 164 desta Lei.

Art. 167. A execuc;ao da pena de multa sera suspensa quando sobrevier ao con­denado doenc;a mental (art. 52 do C6digo Penal).367

367. Suspensaodaexecw;ao:erazo­avel que, nao tendo condi~6es de entender o carater compuls6rio da execuC;ao, qu~ implica em penhora de bens etc., fique suspensa a exec:uc;ao ate que 0 condenado se recobre de eventual doenr;a mental. Nao sesusperide 0 curso da prescrit;;ao porfa~ta de previsao legal.

Art. 168. 0 juiz podera determinar que a cobranc;a da multa se efetue mediante desconto no vencimento ou salario do con­denado, nas hip6teses do art. 50, § 1.0, do C6digo Penal, observando-se 0 seguinte:368

1- 0 limite maximo do desconto mensal sera 0 da quarta parte da remunerac;ao e 0

minimo 0 de um decimo;

11-0 desconio sera feito mediante ordem do juiz a quem de direito;

III - 0 responsa.vel pelo desconto sera intimado a recolher mensalmente, ate 0

dia fixado pelo juiz, a importancia deter­minada.

368. Descontonovencimento:cobra­da a multa na Vara da Execut;;ao Penal ou em Vara Civel, nada impede que seja aplicado 0

disposto no art. 168 desta Lei. 0 desconto no vencimento ou saIario do sentenciado

Leis Penais e Processilais Pellais Comentadas

e fanna mais branda de execuc;ao, pais nao Ihe toma bens de maneira-abrupta.

Art. 169. ,Ate 0 termino do pr~zo a que se refere 0 art. 164 desta Lei, podera 0

eondenado requ.erer ao juiz 0 pagamento da multa em prestac;6es mensais, iguais e sueessivas.369

§ 1.° 0 juiz, antes de decidii, podera determinar diligencias para verificar a real situac;ao eeanomica do condenado e, ou­vido 0 Ministerio Publico, fixara 0 numero de prestac;6e,s.

§ 2.0.Se 0 condenado for impontualou se melhorar de situac;ao economica, 0 juiz, de aHeia ou a requerimento do Ministerio Publico, revogara 0 beneficio executando-se a multai na forma prevista neste Capitulo, ou prosseguindo-se na execuc;ao ja iniciada.

369. Divisaodamultaem·prestac;oes: do mesruo modo ja defendido na nota ante­rior, nada impede que 0 juiz possa parcelar a multa, para -que se evite a penhora de bens e se possa garantir 0 adimplemento da obriga~ao. Registre~os, sempre, que se trata, na essericia, de pena, r~zao pe'}a q~al precisa ser cu'mptida, evitando-se a impu­nid"ade. Quando mais s'e fizet para- atingir esse objetivo, melhar para a finalidade da sanc;ao penaL

Art. 170. Quando a pena de multa for aplicada cumulativamente· com pen a pri­vatiVa da liberdade, enquanto esta estiver sendo executada, podera aquela ser cobra­da mediante desconto na remunerac;ao do condenado (art. _168).310 ,

§ 1.° Se 0, condenado cumprir a pen a privativa de liberdade ou obtiver livramento c'ondicional, sem haver resgatado a multa, far-se-a a cobranc;a nos termos deste -Ca­pitulo.

§ 2.° Aplicar-se~a 0 disposto no paragrafo anterior aos casos em que for concedida a suspensao condicional da pena.

Execuc;;ao Penal

370. Cobranc;a da multa cumulada com pena privativa de liberdade: nao se faz a cobranc;a compuls6ria, vale dizer, penhorando-se bens e vendendo-os em hasta publica. Pode-se descontar do seu salario, percebido na prisao, mas e preciso aguarc;lar a sua coloca~ao em liberdade para h~ver execuc;ao forc;ada.

TITULO VI

DA EXECUC;:AO DAS MEDIDAS DE SEGURANC;:A

Capitulo I

DISPOSIC;:OES GERAIS

Art. 171. Transitada em julgado a sen­ten~a que aplicar medida de seguran\=a, sera ordenada a expedi<;ao de guia para a execuc;ao.371

371. Guia de execUf;ao: trata-se, na realidade, da guia de internamento. 0 seu conteudo vern disciplinado no art. 173 infra.

Art. 172. Ninguem sera internado em Hospital de Custodia e Tratamento Psiquicitri­co, ou submetido a tratamento ambulatorial, para cumprimento de medida de seguranc;a, sem a guia expedida pela autoridade judi­ciaria.172

372. Cautela e formalidade para a interna..,;ao: para que nao se perc'a 0 con­trale sobre quem esta intemado, por quanta tempo e sob ordem de que autoridade, e fundamental a emissao de guia de interna­mentopelaautoridadejudiciariacompeten­teo Remetemoso leitorparaas observat;;6es feitas na nota 241 ao art. 107, caput, desta Lei. Lernbremos, no entanto,_que outros documentospodemexistir, fomecendo base legal para a internacao em Hospital de Cus-

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Cui/heme de Souza Nucci

t6dia e Tratamento. Atualmente, nao mais existe a denominada medida de seguran~a proYis6ria, eliminada ap6s a Reforma Penal de 1984. Temos defendido, portanto, que, em caso de decretac;ao da prisao preventiva de pessoas aclisadas da pnitica de crimes~ embora inimputaveis, sejam elas intemadas para-tratamento desde logo, antes mesmo da finalizac;ao do processo (ver a nota 13 ao art. 150 em nosso C6digo deProcesso Penal comentado). a documento valida para a recep~ao do preso no hospital e 0 mandado de prisao preventiva. Lembremos que esse hospital nao e comum, mas umestabeleci­mentopenal (antigo manicomio judiciario), quesomenterecebepessoasdoentesmentais autoras de fatos criminosos.

Art. 173. A guia de internamento ou de tratamento ambulatorial, extra fda pelo escrivao, que a rubricara em-todas as folhas e a subscrevera com 0 juiz, sera remetida a autoridade administrativa incumbida da execuc;ao e contera:H3

1- a qualificac;ao do agente e a numero do registro geral do 6rgao oficial de identi­ficac;ao;

II - 0 inteiro tear da denuncia .e da sentenc;a que tiver aplicado a medida de seguranc;a, bem como a certidao do transito em julgado;

III - a data em que terminara 0 prazo mlnimo de internac;ao, ou do tratamento ambulatorial;

IV - outras pec;as do processo reputadas indispensclveis ao adequado tratamento au internamento.

§ 1.° Ao Ministerio Publico .sera dada ciencia da guia de recolhimento e de sujei­c;ao a tratamento.374

§ 2.° A guia sera retificada sempre que sobrevier modificac;ao quanto ao prazo de execUC;aO.37S

373, Conteuda daguiade interna~iia ou tratamento ambulatorial: constitui nao somente a peti";iio inicial da execm;ao penal, como a comunica~ao formal e detalhada a autoridadeadministrativa, responsavel pela interna~ao e tratamento do agente, acerca do teor da senten~a (medida de seguranc;a aplicada, dura~ao minima, especie etc.). Deve conter todos os dados descritos nos incisos do art. 173, acompanhada das c6~ pias das pec;as que instruiram a processo principal, de onde se originou a absolvic;ao impr6pria, com imposi~ao da medida. Os detalhes, em especial quanta asdatas (fato, senten~a, ac6rdao, transito em julgadd etc.), sao liteis para 0 ca.Iculo da prescri­\=ao, uma das primeiras providencias a se~ tomada peIo juiz da execu\=ao penal. Nao ha sentido em se providenciar a execu~ao de medida de seguran~a prescrita. Sobre a possibilidade de prescric;ao dessa especie de sanr;ao penal, consultar a nota 33 ao art. 109 do nosso C6digo Penal comentado.

374. Ciencia ao Ministerio Publico: e parte essencial da execu~ao, pOis e a princi~ pal6rgao de fiscalizar;ao do cumprimerito ~ medida de seguran~a. A partirdai, cabeni ao promotor acompanhar os prazos minimos para a realiza~ao do exame de cessac;ao da periculosidade, que sera analisado no proximo capitulo.

375, Madifica~iiadasdadasdaguia: alem dos erros materiais que possa canter e merecerem ser corrigidos, altera-se a guia sempre que houver alguma rnodificac;ao provocada par outros fatores, como, por exemplo, 0 provimento a urn recurso do MP (no caso de guia de internac;ao provi­soria) ou 0 deferimento de uma a~ao de revisao criminal (pro posta pelo agente, apos 0 transito em julgado), que altere a medida de seguranr;a em qualquer dosseus aspectos.

~h

Art. 174. Aplicar-se-a, na execuc;ao da medida de seguranc;a, naquilo que cDuber, 0

disposto nos arts. 8.° e 9.° desta Lei.376

376. Exame criminologico: aoagente sujeito a medida de seguranc;a torna-se importante realizar 0 exame criminologico para avaliar 0 seu grau de periculosida:de (art. 8.0

, LEP), auxilianda, pois, os medicos a realizar, no futuro, 0 exame de cessa­t;ao da periculosidade. Se possivel, havera a interferencia da Comissao Tecnica de Classificac;ao, colhendb outros dados a seu respeito (art. 9.", LEP).

Capitulo II

DA CESSA<;:AO DA PERICULOSIDADE

Art. 175. A cessac;ao da periculosida­de377sera averiguada no fim do prazo mInima de durac;ao da medida de seguranc;a,378 pelo exame da~ condic;oes pessc;>ais do agente, observando-se a seguinte:

1- a autoridade administrativa, ate 1 (urn) mes antes de expirar a prazo de durac;aa mi­nima da medida, remetera ao juiz minuciaso relat6rio que 0 habilite a resolver sabre a revagac;ao ou permanencia da medida;379

II - a relat6ria sera instrufdo com 0 laude psiqu iatrica;380.381

III - junt!1do aos autos a relat6rio au realizadas as diligencias, serao ouvidos, sucessivamente, 0 Ministeria Publico e a curador au defensor, no prazo de 3 (tres) dias para cada um;382

IV - 0 juiz nomeara curador ou defensor para 0 agente que nao 0 tiver;383

V - 0 juiz, de oUcio ou a requerimento de qualquer das partes, podera determinar novas diligencias, ainda que expirado a prazo de durac;ao mInima da medida de seguranc;a;384

VI - ouvidas as partes ou realizadas as diligencias a que se refere a inciso anterior, a juiz proferira a sua decisao, no prazo de 5 (cinco) dias.

Execuc;ao

377, Periculasidade e culpabilidade: o inimputavel nao sofre juizo de culpabi­lidade, embora com relac;ao a ele se possa falar em periculosidade (urn estado du­radouro de anti-sociabilidade de origem subjetiva). Quanto mais fatos criminosos 0

inimputavel cometa, mais demonstra asua anti-sociabilidade. A periculosidade pode ser real au presumida. E real quando ha de ser reconhecida pelo juiz, como acontece nos casas deserni-imputabilidade (art. 26, paragrafo unico, CP). Para aplicar uma medida deseguranc;a a6 semi-impu:tavel a magistrado precisa verificar, no caso con­creto, a existencia de periculosidade. E presumida quando a propria lei a afirma, como ocorre nos casas de inimputabilidade (art. 26, caput, CP). Nesse caso, 0 juiznao necessitademonstra-Ia, bastando conduir que a inimputavel praticou urn injusto (fato tipico e antijuridico) p~ra aplicar-Ihe a medida deseguranc;a. Poroutro lado, em comparac;ao, 0 imputavel sofre jUlzO de reprova:~ao (culpabilidade), merecendo receber em contraposic;ao ao crime prati­cado a sanc;ao penal denomtnada pena. A essencial diferen~a entreas duassitua\=oes e que 0 imputavel tern consciencia, ao menos potencial, da ilicitude, enquanto a inimpu­tavel nao consegue vislumbrar a diferenc;a entre 0 licito e a iucito, pautando-se apenas por atos voluntarios e conscientes, porem impossiveis de sofrer umjuizo de censu­ra.

378. Prazo minima da medida de seguranc;a: segundo dispoe o art. 97,§ 1.°, parte final, do C6digo Penal, 0 juiz deve determinar a intemac;ao ou 0 tratamento ambulatorial pelo prazo minima de urn a tres anos. A avaliac;ao e a opc;ao peIo prazo observarao os criterios de periculosidade do agente, baseados no fato cometido e na enfermidade mental au perturbac;ao apre­sentada. Porranto, umhomicidio cometido

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Guilhenne de Souza Nucci

de maneira cruel, pbrdoentementaI, pode Ievar 0 magistrado a impor 0 minimo de tres anos de internac;ao. Entretanto, urn homi­cidio culposo, praticado por quem padece de enfermidade considerada controIavel, pode serposto em tratamento ambuiatoriaI, pelo prazo minimo de urn ano.

379. Relat6rio e laudo: ummes antes de expirar 0 prazo min:imo de durac;a~ da medida deseguranc;a, a autoriqade <.td~inis­trativa (diretor do hospital de custodia e o:a­tamento) deve remeter ao juiz da execuc;ao penal urn relatorio detalhado_ do paciente, fornecendo urn historico completo da sua situac;ao, desdeque ingr~ssou no nosoc6:mio ate aquele momento.junta~ente ~gm E:?se relatorio, e preciso anexar 0 hiudo psiquia­trico, onde efetivamente constani a a.nalise medica, sugerindo a mante:q.c;a da periCu­losidade- ou a' afirmando a sua cessaC;ao. E com base~ essencialinente, ness~ pa~~cer medico que o. magistrado deci~ira ac~rca da liberac;ao do iitter!J.ado ou da. pes'soa submetida a tratarriento ambulatoriaL

380. Lauda pericial: deveserassinado por dois peritos oficiais, nos termos do art. 159, caput, do Codigo de Processo PenaL No caso de internac;ao e tratamento ambu­latorial, nao vemos c-omo aplicar o·disposto no art. 159, § 1.°, do CPP, em relac;ao 3. no­meac;ao depessoas Ieigas e idoneas, embora com diploma em cursosupenor. Devemser medicos os peritos, no minimo, em func;ao da especi~cidade do exame reallzado.

381. Assistencia de medico parti~ cular: pode haver, nos tennos'do art. 43 desta Lei. Embora critiquemos essa postma autorizada pelo legislador (ver a nota 94 ao art. 43), ha viabilidade legal para que urn medico particular influa na avaliac;ao psiquiatrica do interno ou submetido a tratamento ambulatoriaI, tanto assim que o art. 43, paragrafo unico, ciesta Lei, preve

a possibilidadede resoluc;ao da divergencia peIo juiz.

382. Contradit6rio e ampla deles.: na avaUac;ao da cessaC;ao da periculosidade outros interessados devemser, necessaria~ mente, ouvidqs. 0 Jy1inisterio Publico, como orgao £lscalizador principal da execUC;a~ penal, tent ¥is.ta dq$ autos. Apos, ouve-$~ a defesa teenica do agente internado on submeti40 a tratamento. Aleimenciona,~l_ temativamente, a oitiva do curador, porque, quando do incidente para apurar a inim~ putabilidade ou serni-imputabilidade (ar.t .. 149, § 2.°, CPP), 0 juiz deve ter nomeado ao reu urn curador. Porem, na pratica, 0

curador nome ado e sempre 0 advogado que ja 0 defende (constituido ou dativo). Assim tambem ocorrera na execu<;ao penal, vale dizer, nao ha necessidade de se ouvir o curador, pais este faria as fum;6es de de­fensor do reu, agora submetido a medida de seguram,;a. Basta, portanto, a manifestac;ao do defensor.

383. Indispensabilidade da delesa tecnica: se 0 interno ou submetido a trata~ mento nao possu_ir defensor (ou curador), o juiz lhegarantira anomeac;ao de urn. Nor­rnalmente, estruturam-se os Estados para manter defensores publicos vinculados as Varas de Execuc;ao Penal para suprir essas deficiencias.

384. Poder geral de cautela do juiz: a durac;ao minima da medida de seguranc;a nao equivale a penaaplicada ao imputavel. Esta, quando £lndar, nao admite qualquer tipo deprorrogac;ao, devendo sercolocado o condenadoimediatamente em liberdade. Entretanto, tendo em vista que a medida de seguranc;a nao tern prazo determinado, ultrapassado 0 minimo imposto pdo juiz, nada impede que outras diligencias, alem do relalorio e do laude psiquiatrico, possam ser realizadas. Lembremos, ainda; que,

Leis Penais e Processuais Penais Comel1tadas

confinnadaa mantenc;ada periculosidade, a medida de seguranc;a sera prorrogada in­definidamente, muito emborase promova, anualmente, urn exame para a reavaUac;ao do caso.

Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mfnimo de_durac;ao da medida de seguranc;a, poder~ b juiz da execU!;;ao, diante'de requerimento funda­mentado do Ministt~rio Publico ou db inte­ressado, seu procurador ou· defensor, ordenar o exame para que se verifique a cessa<;ao da periculosidade,. procedendo-se nos termos do artigo ant~rior.365

385. Antecipa~iio do exame de ces­sa«;ao de periculosidade: oprazo minimo fixado pelo juiz nao e estanque, de modo queseja compulsoripmente observado. Na verdade, cuida-se de uma referencia para o tratamento reaUzar-se. Em- casos rnais serios, aguarda-se pelo menos tres anos para avaliaro paciente. Em outrassituac;6es, pode-se fazer 0 rnesmo em urn ou dois anos. Porern, advindo subita melhora - porvezes, em razao da apUcac;ao de novas drogas -, e possivel antecipar a realizac;ao do exame de cessac;ao de periculosidade, desde,que alguem provoque 0 juizo da Execuc;ao Penal (MP, internado ou submetido a tratamen­to, seu procurador ou seu defensor). Ha, tambem, a possibilidadede 0 administrador do hospital ou do medico do paciente em­preender essa provocac;ao. 0 importante e ter em vista que a medida de seguranc;a tern por finalidade a cura do agente e nao a sua punic;ao, motivo peIo qual a sua libera~ao eventual antes do prazo minimo nao des­toa da finalidade dessa especie de sanc;ao penal.

Art. 177. Nos exames sucessivo5 para verificar-se a cessa<;ao da periculosidade,

Execuc;ao Penal

observar-se-a, no que IDes for aplicavel, 0 disposto no artigo.anterior.3B6

386. Exames sucessivos: realizado 0

primeiro exame de cessac;ao depericulosi­dade e constatada a sua mantetic;a, 0 interno ou aquele que estiver em ttatarriento con­tinuara submetido a medida de seguranc;a. Anualmente, far-se-ao exainessucessivbs, observando-se o disposto no art. 175 desta Lei".

Art. 178. Nas hip6teses de desinterna­<;3.0 ou de liberac;;ao (art. 97, § 3?, qo C6digo Penal), aplicar-se-a 0 disposto nos arts .. 132 e 133 desta Lei.3B7-388 -

387. Desinterna~iio e libera~ao: constatada, porpericia medica, a cessac;ao de periculosidade, apos 0 prazo minimo fixad,o pelo juiz ou depqis do tempo que for necessario para a e£lcacia do tratameu­to, ocorreni a desinternac;ao (para os que estiverem em medida detentiva) ou a Ube­rac;ao (para os que estiverem em tratamento ambulatorial). E preciso destacarque tanto a desinternac;ao, como a Uberac;ao, scrao sempre condicionais. Durante urn ana £lcara o agente sob prova; caso pratique algumato indicativo de sua periculosidade - que nao precisa ser urn fata ttpico e antijuridico-, podera voltar a situac;ao anterior. Normal­mente, faz-se 0 controle mediante analise da folha de antecedentes do Uberado, pOis nao ha outra forma de acompanhamento mais eficaz. E, havendo a desinternac;ao ou a liberac;ao do tratamento ambulatorial, fica 0 agente em observac;ao por urn ano, sujeitando-se, como determina 0 art. 178 da Lei de Execuc;ao Penal, as condic;oes do livramento condidonal (arts. 132_e 133, LEP): a) obrigatorias: ob~erocupac;ao lfcita; comunicar ao juizsua ocupac;ao, periodica­mente; nao mudar do tenitorio da comarca;

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Guilhenne de Souza Nucci

b) facultativas: nao mudar de residencia, sem previa comunica.:;;:ao; recolher-se a ha­bita.:;;:ao no horario fixado; nao freqiientar determinados lugares.

388, Desinterna~ao progressiva: pre­ve a lei penal que 0 tratamento ambulatorial pode ser canvertido em interna.:;;:ao, caso essa providencia seja necessaria para fins curativos. Nada fala, no entanto" quanto a conversao da interna.:;;:ao em tratamento ambulatorial, a que se nos-afigura perfei­tamente possivel. Muitas vezes, ° agente pode nao revelarpericulosidade suficiente para ser mantido internado; mas ainda ne­cessitar de urn tratamento acompanhado. Assim, valendo-se, por analogia, da hip6tese prevista no art. 97, § 4.°, do Codigo Penal, pode 0 magistrado determinar a desinter­na.:;;:ao do agente para 0 fim de se subme:'" ter a tratamento ambulatorial, que seria a conversdo da internac;ao em tratamento ambulatorial. Leia-se, umaautentica desin­tegrafaoprogressiva. Naoe, pois, o metoda de desintema~ao previsto no art. 97, § 3.°, do C6digo Penal, porque cessada a pericu­losidade, porem se destina a continuidade dos cUidados medicos, soboutra forma. Essa medida torna-se particularmente impor­tante, porquanto existem varios casos em que os medicos sugerem a desintema.:;;:ao, para 0 bern do proprio doente, embora sem que haja a desvinculac;ao do tratamento medico obrigat6rio. Ora, 0 art. 17S da Lei de Execu.:;;:ao Penal e claro ao detenninar que, havendo desinterna~ao ou liberac;ao, devemserimpostas ao apenado as condic;5es obrigat6rias e facultativas do livramento condicional Carts.132e 133, LEP). Ocorre que, nenhuma delas preve a possibilidade de se fixar, como condic;ao, a obriga.:;;:ao de continuar 0 tratamento ambulatorial, apos ter side desinternado. Dessa forma, 0

melhora fazer c converter a interna.:;;:ao em tratamento ambulatorial, pelo tempo que

for necessario a recuperac;ao, ate que seja possivel, verificando-se a cessac;ao daperi_ culosidade, haver a liberac;ao condicionab Essa metodologia terrninou porpredominar em muitas Varas de Execuc;ao Penal, -em experiencia pioneira implantada na de Sao Paulo. Ilustrando: a decisao do magistrado Jose Antonio Colombo, no processo n. 35S.442, de urn sentenciado internadci ha quase 7 anos, na Casa de Cust6dia e Tratamento de Taubate, que, submetido a exame de cessac;ao de periculosidade, teve sugerida a desinternar;ao com aplicac;ao de tratamento ambulatorial pelos petitos; N esse prisma, por entender contraditoria a decisao que declarasse cessada a periculo­sidade, mas, ao mesmo tempo, impusesse tratamento ambulatorial, deliberou 0 juiz converter a medida de internar;ao na mais branda, consistente em tratamento am­bulatorial; Ademais, em reuniao realizada no dia 26 de abril de2001, no Hospital de Cust6dia e Tratamento PSiquiatrico "Prof. Andre Teixeira Lima n, de Franco da Rocha, com a participac;ao de autoridades da area (juiz, promotor, procurador do Estado e diretores tccnicos), foi deliberado que, para a progressao do tegime de interna~ao para 0 tratamento ambulatorial, devem os peritos, que examinarem 0 internado, conduit pela cessa<;ao da periculosidade, embora seja recomendavel 0 prossegui­menta do acompanhamento com equipe tecnica de saude mental. Assim, os juizes das execuc;oes penais poderiam viabilizar a colocar;ao do internado em tratamento ambulatorial.

Art. 179. Transitada em julgado a sen­ten~a, 0 juiz expedira ordem para a des in­terna<;ao au a liberaC;;ao.l89

389. Efeito suspensivo: contra a de­cisao de desinterna.:;;:ao ou liberac;ao do

Leis Penais e Processiiais Penais Comentadas

paciente, cabe agravoporpartedo Ministerio publico, com efeito suspensivo, de modo que a efetiva desintemac;ao ou liberar;ao somente ocorrera como transito em julgado. Par outro lado, nao e demais lembrar que indeferida a desinternac;ao ou libera.:;;:ao tambem cabe agravo, agora por parte da defesa (emesmo do MP, emfavordo agente), mas sem efeito suspensivo.

TiTULO VII

DOS INCIDENTES DE EXECU<;:AO'"

Capitulo I

DAS CONVERSOES'"

Art. 180. A pena privativa de liberda­de, nao superior a 2 (dais) anos, podera ser convertida em restritiva de direitos, desde que:392.394

I - 0 condenado a esteja cumprindo em regime aberto;

110:- tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;

111 - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversao recomendavel.

390. Incidentes de execuc;ao: os in­cidentes processuais sao-as quest5es e os procedimentos secundarios, que incidem sobre 0 procedimento principal, merecen­do solU(;;ao antes da decisao da causa ser proferida, quando tratamos do processo penal de conhecimento. Na execu.:;;:ao, nao ha de ser diferente. Ha questoes _e proce­dimentos secundarios a execur;ao da pena principal, merecedores desolw;,ao antes que esta termine. Sao os incidentes de execufuo. Podem ser nominadas au inominados. as constantes dos capitulos I (conversoes), II (excesso ou desvio) e III (anistia e indulto) do Titulo VII desta Lei sao os nominados. Haoutros que podem ocorrer, emborasem

Execuc;ao Penal

expressa men~ao da Lei de Execu~ao Penal como tais (ex.: 0 incidente de unifica~ao depenas).

391. Conversoes positiva e negati w

va: a possibilidade de se' transformar uma pena privativa de liberdade em restritiva de direitos e dada pelQ art. ISO desta Lei, constituindo a forma positiva de conversao de penas, durante a fase de execuc;ao. por outro lado, preve oart. lSI a forma negativa deconversao, autorizandoa tra~fo~.;a.o da pena restritivade direitos em privativa de liberdade. ~lem do'preceituado no referido art. lSI, respeita-se o·disposto no art. 44, §§ 4. 0 e 5. 0

, do C6digo Penal. .

392. Conversao positiva: a previsao feita no art. 180 desta Lei e, para muitas situa~5es, inu til. Em primeiro lugar, quem foi condenado a pena privativa de liberda­de nao superior a dois anos, como regra, ja ot)t~ve beneficios penais na senten<;;a condenatoria (ex.: substituic;ao por pena restritiva de direitos au sursis). Imaginando­se nao tef conseguido nenhum beneficio, nessa ocasiao, ainda poderia aufenr alguma vantagemdurante 0 cumpriPlento da pena. Mas, surge osegundo obstaculo: 0. condena­do precisa estarinserido no regime aberto. Ora, se considerarrnos 0 cumprimento da pena em prisao albergue domiciliar, sem qualquer fiscalizat;ao efetiva, como oco~re na maiorparte dascomarcas brasilei!as, nao ha vantagem nenhuma nessa conversao. a sentenciado deixaria 0 conforto da sua vida rotineira (lembremos que sua prisao e domiciliar, em periodo noturno ou de folga do trabalho e sem supervisao estatal) para passar, por exemplo, a urna ptestac;aoCde servic;os a comunidade, 0 que the tomana peIo menossete horassemanais de exercicio de tarefas gratuitasa entidadessociais. Por uma questao de 16gica, prefere 0 condenado permanecerno tranqflilo regimeaberto sem

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Guilhenne de Souza Nucci

se empenhar, em nada .de proveitoso para a comunidade. Entretanto, onde houver casa do albergado, pode ser vantajosa a. conversao em pena restritiva de direitos. Dep'ende, p'ois, 'd~ c~so co~creto ..

393. Requisitos objetivos: a) pena privativa de liberdade nCio'superior a dois anos (art. 180, caput). Nao deixa claro a texto legal se a peria de dois ~mos precisa ser fixada na senten~a condenatoria ou, simplesmente; ser 0 m'ontante atual em cumprhnento pdo condenado. In dubio pro reo. Assim, parec-e-n'os que qualquer que seja a montante da ,pena aplicada ll<i

decisao condenat6ria, tio logoatinja os dois anos, pennite-se, associando-se aos demais requisitos, a conversao proposta neste arti­go. Ex.: condenado a seisanos dereclusao, iniciando no regime fechado, passando peIo semi-aberto, quando atingir a marca dos dois anos de pena faltante, -estando no regiine aberto; onde ja cumpriu, peIo menos urn quarto, pode pleitear-a: conversao para pena restritiva de direitos; b) cumprimento em regime aberto (art. ISO, 1). 0 condenado precisa estar insendo no mais brandiJ dos regimes, 0 que signifid, na pnHica,ja gozar de liberdade, ao menos durante boa parte do seu dia; c) cumprimento de, no minimo, umquartodapena(art.180, II). Parece-nos razoaveI associar esse requisito ao anterior, vale dizer, torna-se necess,irio que 0 sen­tenciado curnpra, ao menDs, urn quarto da pena no regime aberto .. Ainda que ele ja tenha cumprido dois terr;os do total da pena em outros regimes (fechado e semi­aberto) ,soa-nos indispensavel, para testar ~ua autodisciplina e senso de responsabi­lidade, que cumpra urn quarto no regime aberto. Ap6s, pode-se converter a privativa de liberdade em restritiva de direitos, peIo tempo remanescente da pena.

, 394. Requisitossubjetivos:a)anali-se dos antecedentes. Deve 0 juiz verificar o~ antecedentes criminais do condenado. Se forem muitos, advindos de delitos dolosos e graves, pode negar-Ihe a conversao; b) analise da personalidade. Sentenciado$ d~ boa indole - 0 que pode ser-atestado peJa Comissao T ecnica de, Classifica~ao, nas pe., ri6di~as avaliar;oes fei.tas- merecem maior chance de afastamento de qualquer fonna de prisao, ainda que aberta.

Art. 181. A pena restritiva de direitos sera convertida em privativa de liberdade nas hip6teses e na forma do art. 45 e seus incisos do C6digo Penal. 395

§ 1.° A pen a de prestac;ao de servic;os a comunidade sera convertida quando 0

condenado:

a) nao for encontrado por estar em lugar incerto e nao sabido, ou desatender a inti­mac;ao par editali 39b

b) nao comparecer, injustificadamente, a entidade ou programa em que deva prestar servic;0;397

c) recusar-se, injustificadamente, a pres~ tar 0 servic;o que Ihe foi impostoi398

d) praticar falta grave;399

e) sofrer condenac;ao por outro crime a pena privativa de liberdade, cuja execuc;ao nao tenba sido suspensa._4OO

§ 2.° Apena de limitac;ao de fim desema~ na sera convertida quando 0 condenado nao comparecer ao estabelecimento designado para 0 cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo juiz ou se ocorrer qualquer das hip6teses das letras a, dee do paragrafo anterior.401

§ 3.° A pena de interdic;ao temporaria de direitos sera conver'tida quando 0 condenado exercer, injustificadamente, 0 direito interdi­tado ou se ocorrer qualquer das hip6tesesdas letras a e e do § 1.° deste artigo.402

395. Conversao negativa: a substi­tui~ao da pena privativa de liberdade por

Leis Penais e Penais Comentadas

restritiva de direitos ja foi lJ.m beneficia conseguido peIo agente na senten~a conde­nat6ria. Nao ecabiveldecepcionaro Estaqo, que confio.u na sua condir;ao morl3.1 e na sua responsabilidade para cumpri-Ia, sem necessidade da utilizac,;ao de qualquer me­canismo de coerr;ao. Assim nao ocorrendo, a (mica alternativa viavel e a conversao,em privativa de liberdade novamente. Faz-se da forma estabeIecida no art. 44,,§ 4.°, do C6digo Penal (a menc,;ao ao art. 45 feita no caput do art. 181 dizia respeito a momento anterior a edi<;ao da lei 9. 714/98, quealterou sua reda~ao). Portanto, no calculo da pena privativa de liberdade, fruto da conversao, deduz-se 0 tempo 'de pena restritiv~, de direitos ja cumprido, respeitando~se urn saldo minimo de 30 dias de deten~ao ou reclusao, confonne 0 caso.

396. Nao atendimento ao cum­primento .da p~esta~ao de servi~os a comunidade: transitando em julgado a sentensa condenat6ria, e medida conse­quencial 0 chamamento e,lo reu para dar inicio ao cumprimento da pena restritiva de direitos imposta (art. 149, II, LEP). A intimar;ao podera ser provil:lenciada peIo juiz da condenar;ao ou_da execu~ao penal, confonne a orga~iz~r;ao judiciaria locaL En­tretanto, naosendo encontrado no enderer;o constante dos autos, porque 0 a~terou serna necessaria comunica~ao, sera intimado por edital, de maneira ficta. 0 nao atendimento equivah~ ao descumpriment~,justificando a cO'flversao em pena privativa de lib~rdade, com expedir;ao do mandado de prisao. E evidente que, encontrado posteriormente, ainda que em decorr:encia de pl,'isao, dis­pondo-se, de imediato, a cumprir a pena restritiva de direitos, soa-nos razoaveI 0

restabelecimento do beneficio, afinal, nao houve falta grave au cometimento de ou tro crime, obstaculos mais que justificaveis para a sua cassar;ao.

Execuc;;ao Penal

397. Nao comparecimento a e,nti­da~e ou programa: inti~ado a prestar 0

servi~o no lugar que lh~ for des.igJ;1_a.do,:o n.ao comparel;::irn,cnto, sem motivo justo, implica, igualmente, c;m des:c.urDprimento da pena alternativa, (lando margepI.3., co~­versao. Efunqamental, n,essahipptese, ouvir o condenado antes da efetiva~ao da prisao. Afinal, podeele oferecerummotivo razoavel para nao.ter comparecido, dispondo-s_e a faz_e-Io prontamente.

·398. Rec'usa em prestar 0 servi~o: mais uma vez, 0 textolegal mencionou 0

termo injustijicadamente, 6 que e correto. Atividades humilhantes ou que impllquem esfor~·0'excessiv6, configurando auterl­tico trabalho j6r{ad'o' OU cruel estao com­pletamente fora do parametro das'penas restritivas de direit6s. Por-isso', a iecusa do condenado pade apI'esentar motiva<;ao razoavel. Ouvindo-o, previamente, tera 0 juiz condi~t5es de deddir, com prudencia, acerca da necessidade de conversao, au optar pela atribui~ao de outra tarda, pos­sivelmente em lugar div'erso.

399. Pratica de falta grave: as faltas estao descritas no art. 51 desta lei, €mbo­ra as previstas nos incisos I e II sejarp, na essencia, reiterar;6es do disposto na alinea c do art. 181, § l.0, ora em comento.

400. Sofrer condena~ao a penapri­vativa de liberdade: se 0 condenado, a cumprirpenarestritivadedireitos, terminar recebendo pena privativa de liberdade cu ja execur;aonaofoisuspensa,porexemplopela concessao desursis, enaturalque, em regime carcerario, nao possa exercitar a contento a presta<;ao de servir;os 3. comunidade. En­tretanto, em alguns casos excepcionais, tal possibilidade se daria. Imagine-se alguem condenado a pena privativa de liberdade e inserido no regime aberto. Poderia encon­trar algum perrodo do seu dia ou do fim de

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Guilhenne de Souza Nucci

semana, au torizado pelo juiz da execuc;;ao penal, a cumprir a referida'prestac;;ao deser­vic;;os a comunidade. A conversao pode nao atenderaos reclamos da politica criininal de reeducac;;ao, buscada pelo Estado', durante o cumprimento da pena,' evitand"o-se 0

encarceramento, quando inutil.

401. Conversao da pen a de limita­c;ao de fim de semana: adaptando-se 0

disposto no panigrafo anterior, que c'uidou da prestat;ao de servic;os a comunidade, ao qu~l remetemos 0 leitor, 0 § ~. 0 ape­na~ acr~centou ~igumas pe·culi~rjdades. Estabe,leceu ser callsa de conve~s~o ~ na<;> comparecimento a casa do albergado ou Iugar alternativo, del)~gnado pelo juiz da execuc;;ao p€;nal (logicamente, sem motivo justo), bern como a recusa aO, exercfcio de atividade nesse recinto (igualmente, sem razao justifica.vel). Vale, sempre, ~)Uvir 0

condenado antes de Se determinar, a con­versao ..

402. Conversao da penade interdi­c;ao temporaria de direitos: valendo-se, ainda, do disposto no § 1.0

; ao qual reme­temos-o leitor, acresceu-se no § 3. 0 as.par­ticularidades dessa especie de pena. E mais do que obvio que 0 exercicio de atividade da qual esta impedido, sem motivo justo, implica em descumprimento da medida Cexemplo de motivo razoavel: 0 medico, impedido de clinicar, atende urn paciente em emergencia).

Art 182. IRevogado pela Lei 9.26811996.)

Art. 183. Quando, no curso da execuc;ao da pena privativa de liberdade, sobrevier doenc;a mental ou perturbac;ao da saude mental, 0 juiz, de offcio, a requerimento do Ministerio Publico au da autaridade adminis­trativa, padera determinar a substituic;ao da pena par medida de seguranc;a.40H04

403. Conversao da pena em medida de seguran~a: nesse contexto, e preciso distinguirduashipoteses: a) se 0 condenado sofrer de doent;a mental, nolo se tratando de enfennidadeduradoura,deveseraplicadoo disposto no art. 41 dO'Codigo Penal, ouseja; transfere-se 0 sentenciado para 0 hospital de custodia e tratamentopsiquiatricopelo tempo suficiente a sua cura (consideran_ do-se 0 periodo em que estiver afastado do presidio como cumprimento de pena); Nao se trata de conversao da pena em medida de seguranc;a, mas tao-somente de providencia provis6ria para cuidar da doenc;a do con­denado. Estandomelhor, voltara a cumprir sua pena no presidio de onde saiu; b) caso a doenc;a mental tenha carater duradouro, a transferencia do condenado nolo deve ser feita comoprovidencia transit6ria, mas,sim, definitiva_ Porisso, cabe ao juizconvertera pena em medida deseguranc;a, aplicando-se o disposto no' art. 183 da Lei de Execw;;ao Penal. A discussao que se estabelece, no en tanto, da-se no tocante a durac;ao da medida de seguranc;a. Ha quatro correntes a respeito: a) tern duraC;ao indefinida, nos termos do disposto no art. 97, § 1.0

, do C6digo Penal; b) tern a mesma durac;ao da pena privativa de liberdade aplicada. a sentenciado cumpre, ihternado, 0 restante da pena aplicada; c) tern adurac;ao maxima de 30 atlas, limite fixado para a pena pri­vativa de liberdade (art. 75, CP); d) tern a durac;ao do maximo em abstrato previsto como pena para 0 dehto que deu origem a medida de seguranc;a. Parece-nos que 0

legislador deveria ter disciplinado melhoro disposto no referido art. 183 desta, deixando bem claro 0 limite para 0 seu cumprimento, ap6s a conversao. Afinal, nao mais sendo adotado 0 sistema do duplo binario (pena + medida de seguranc;a), cabe a verificac;ao de impu tabilidade no momento do crime, e nao depois. Caso fosse considerado inimputa­vel a epoca do crime, receberia par tal fato

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

medida de seguranc;a, podendo cumpri-la indefinidamente. A situac;ao ora aventada, portanto, e diferente: nUID primeiro caso,ja que corneteu urn crime no estado de imputa­bilidade, recebeu pena. Este e opagamento a sociedade pelo mal praticado, embora com 0 objetivo comum de reeduca.-;;ao. Fi­cando doente, merece tratamento, mas nolo por tempo indefinido. Numsegundo caso, uma vez que praticou 0 delito no estado de inimputabilidade, recebeu medida de seguranc;a. Pode ficar detido ate quese cure. a injusto cometid6 tern ligac;ao direta com a medida de seguran.-;;a aplicada,justifican­do-se, pois, a indeterminat;ao do terminG da sanC;ao penal. Melhor seria exigir-se a clareza da lei. Nao existindo tal nitidez, parece-nos mais logico nao interpretar a lei penal em desfavor do reu. Assim, tendo em vista que, mi. epoca da infr"ac;ao penal, o reu foi considerado imp~tavel, tecebeu do Estado, por consequencia disso, uma pena, fixada em montante certo. Caso tenha havido conversao, e justa que a medida de seguranc;a aplicada respeite 0 limite estabe­lecido pela condenac;ao, ou seja, cumprira a medida de seguran.-;;a pelo prazo maximo da pena. Terminado esse prazo, continuando doente, toma-seumcaso desaude publica, merecendo ser interditado, como aconte­ceria com qualquer pessoa que sofresse de enfermidade mental, mesmo sem praticar crime_ Nao ha contradic;ao com a defesa da tese de ser conslitucional ter a medida de seguranC;a durac;;ao indefinida. 0 que se busca e analisar a situat;ao do criminoso no momento em que pratica 0 delilo, para evitar o malfadado duplo binario. Se era inimputa­vel, pode receber medida de segurant;a por tempo indefinido,ja que essa e a sanc;ao me­recida peIo que praticou. Sendo impurnveI, cabe-Ihe a aplicac;ao de uma pena, quenao deve ser alterada no meio da execw;ao par uma medida indeterrninada. Afinal, de uma pena com limite pre-fixado, com transito

Execuc;ao Penal

em julgado, passaria 0 condenado a uma sanc;;ao sem limite, nao nos parecendo iSl)o correto. Assima jurisprudencia: ST]: "Mister se faz ressaltar a diferenc;a enlre a medida de segurant;a prevista no C6digo Penal aos inimputaveis e a medida de seguranc;a substitutiva, trazid.a pelo art. 183 da Lei de Execut;ao Penal. Para os inimputaveis a lei preve que a medida de seguranc;;a te[a tempo indeterminado, durando enquanto perdurar a periculosidade do reu .. Ao passo que a medida de seguranc;a slIbstitutiva e aplicada a quemfoijulgado como imputa­vel e no decorrer da execut;ao da pena foi acometido por doenc;a mental, eS.tando, portanto, adstrita ao restante do tempo de cumprimento da pena" (HC 12.957 -SP, 5.' T., reI. Felix Fischer, OB.OB.2000, V.U.,

D] 04.09.2000). Idem: "A substitui~iio da pena privativa de liberdade pela medida de seguran.-;;a, prevista no art. 183 da LEP, nolo pode ter durac;ao superior ao tempo restante da pena" (HC 16.752-Sp, 5.' T., reI. Jose Arnalda da Fonseca, 03.09.2001, v.u.,D]03.09.2001, p. 234); HC 12.957 -Sp, 5.' T., reI. Felix Fischer, OB.OB.2000, V.U.,

DJ 04.09.2000, p. 175; HC 7.220-SP, 5.' T., reI. Edson Vidigal, 12.05.199B, v.u., DJ OB.06.199B, p. 14B). E tambem: T]SP: "A medida de seguranc;a imposta emsubstitui­t;ao a pena privativa de liberdade, em face da superveniencia de doenc;a mental no curso da execuc;ao, nao guarda relac;ao com o crime praticado, razao pela qual nolo pode perdurar alem do limite temporal previsto nasentenc;a penal condenatoria transitada em julgado, sobpena de of ens a a coisajul­gada" (Ag. em Execu~iio 453.792.3/3, 5.' e., reI. Tristiio Ribeiro, IB.05,2006, v.u.); "Aplicac;aoacondenadosemi-imputavelem substituic;;ao da pena privativa de liberdade que vinha cumprindo-Durac;ao da medida substitutiva restrita ao tempo restante da pena - Prolongamento por tempo inde­terminado inadmissivel- Coat;ao ilegal

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caracterizada - Ordem -de habeas corpus eoncedicia,_ sem prejuizo de} em senda"O caso, colocar-se a ex-interno' a disposic;ao de uma das Varas da Familia e Sucessoes - Intdigencia dos artigos 682, § 2.0 ',"do Cpp e 183 da LEP" (HC 279.362-3/3-SP, 4.' c., reI. Haroldo Luz, 25.05.1999, V.U., Bole' tim IBCCRlM 84/401). No mesmo prisma, encontramos 0 disposto no C6digd Penal portugues (artS:104e105), determinando que a pena seja convertida em medida de seguranc;a, se tal mio se_dell a epoca da sentenc;a, quando ocorrera constatac;ao de doenc;a mental e 0 agente se encontiar em estabelecimentoprisibnalcomum, pelores­tanteda pena aplicada. Diz Carlota Pizarro de Almeida que, nessa hip6tese, 0 que est;l em jogo nao e a pedculosidade do 'agente, mas a sua inadaptac;ao para perr?anecer no meio prisionaL'Por isso, ~i."intemac;ao sera determinada pdo restante da pena, como se Fosse 0 cumprirriento da pena em estabelecimento destinado a inimputaveis (ModeleJS de inimputabilidade: da teona a prdtica, p. 12l). . ,

404. Reconversaodamedidadesegu­ran~a em pena: evitando-se qualquertipo de subterfugio, caso 0 condenado melhore,. apos a conversao de sua pena em medida de seguranc;a, deve tornar.a cumprir a pena privativa deliberdade, havendo, portanta, a reCOnversao. Outrasolm;;ao implicariaem abuso. Se a pena fosse convertida em medida deseguranc;a indefinida, ultrapassando ate mesmo 0 teta originalmente fixado Como sanc;ao penal pelo Estado, estariamos diante de situac;ao prejudicial ao sentenciado, uma vez que a imputabilidade deve ser analisada no momento do crime, como analisado na nota anterior. Se a pena Fosse conver­tida em medida de seguranc;a, mas, pouco tempo depois, Fosse constatada a melhora do condenado, caso pudesse conseguir a sua liberdade, muitas seriam as situac;oes

injustas. Ilustrando: seum cqndenado a 20. anos de reclusao por latrocinio adoecesse: 5· anos apos; convertida sua pena em me:.: dida de seguranc;a e melhorando ele ap6~ 2 anos, 0 rnais logico e voltar a cumprir ~ pena faltante, ou seja, 13 anos. Liberdade imediata eo que nao the cabe. 0 direito espanhol disdplinou tal situac;ao expressa­mente, prevendo a possibilidade de haver a reconversao (art. 60, Codigo Penal).

Art. 184 .. 0 tratamento ambulatori;ll podera ser convertido em interna~ao se .~ agente revelar incompatibilidade com ~ medida.40s '

Paragrafo linico. Nesta hipotese, 0 prazQ minima de internac;ao sera de 1 (urn) ana.

'405, Conyersaodotratamentoam: bulatorial em internac;ao: e a que esta igualrnente previsto no art. 97, § 4.°, dQ Codigo Penal, uma vez que se busca a cura. do paciente, pouco importandose intema­do ou em liberdade. Faz-se 0 melhorpara alcanc;a-Ia. Nao havendo compatibilidade en'tre 0 tratamento ambulatorial e 0 fim da me'dId'a de seguram;a, deve 0 magistrado' determinar a conversao.

Capitulo II

DO EXCESSO OU DESVIO

Art. 185. Havera 'excesso ou desvio de execuc;aal°6 sempre que algum ate for pra­ticado alem dos limites fixados na sentenc;a, em normas legais ou regulamentares.

406. Excesso ou desvio de execu.-;ao: instaura-se urn incidente proprio, que cor­rera em apenso ao processo de execuc;ao, quando houver desvio (destinac;ao diversa da finalidade da pena) ou excesso (aplica­c;ao abusiva do previsto em lei) em relac;ao ao cumprimento da pena, seja ela de que

Leis Pellais e Processuais Penais Comentadas

especie for. Exemplos: a) 0 condenado e privado do trabalho, embora deseje par­ticipar das atividades, porque se encontra em cela isolada, apenas para garantir a sua incolumidade ffsica, vez que se encontra ameac;ado por outros pres os. 0 Estado deve buscar formas alternativas de protec;ao a integrtdade dos presos, mas nao po~e priva­los do trabalho, que, alem de urn dever, e urn direito do condenado. Trata-se de urn desvio da execur;ao penal; b) 0 condenado, par ter cometido 'alguma falta 'disciplinar, passa mais de trinta dias em isolamento, infringindo 0 disposto no art. 58 desta Lei. Ha nftido excesso de execuc;ao; c) pode-se aventar uma hipotese mista, em que se vislumbra desvio e excesso. Imagine-se 0

preso inserido no regime disciplinar dife­rendado par ter desrespeitado {, diretor do presidio (falta grave), porem fato que n~o se coaduna com 0 previsto nas hipoteses do art. 52 des~ Lei. A punic;ao e desviada do preceituado em lei e, tambem, excessiva, pais a punh;ao vaJ alt~m do necessario.

Art. 186. Podem sus'dtar 0 incidente de excesso ou desvio de execur;ao:407

1- 0 Ministerio Publico;

11- a Conselho Penitenciario;

111- 0 sentenciado;

IV - qualquer dos demais 6rgaos da execuc;aa penal.

407. Partes legitimadas parasuscitar o incidente de desvio ou excesso: segundo o disposto no art. 186, 0 Ministerio Publico, o Conselho Penitenciario, osentenciado eos demais 6rgaos da execm,;aopenal (Conselho Nacional de Politica Criminal e Peniten­ciaria, 0 proprio juiz, agindo de oficio; os Departamentos Penitenciarios, 0 Patronato eo Conselho da Comunidade). Acrescemos a lista, por decorrencia natural e logica da consagrac;ao do principio da ampla defesa

Execu<;ao Penal

na execuc,;ao penal, 0 defensor, constituido ou dativo.

Capitulo III

DA ANISTIA E DO INDUlTO'"

Art. 187. Concedida a anistia,409 0 juiz, de offcio, a requerimento da interessado ou do Ministerio Publico, por proposta da autoridade administrativa au do Conselho Penitenciiirio, declarara extinta a punibili­dade.410

408. Veda~ao a crimes hediondos e equiparaclos: esses beneficios sao vedados aos autores de crimes hediondos e equi­parados (art. 5.·, XLUI, CF; art. 2.·, I, Lei 8.072/90). Maiores detalhes sobre 0 tema podem ser encontrados nas notas 26 a 28 ao art. 4.° da Lei 8.072/90 do nosso Leis penais e processuais penais comentadas.

409. Anistia: e a declarac;ao feita pelo p'oder Publico, atraves de lei, editada pelo Congresso Nacional, de que determinado fato,anteriormenteconsideradocriminoso, se tomou impunivel pormotivo deutilidade social. Volta-se, primordialmente, a crimes politicos, mas nada impede asua aplica<;;ao a outrasinfrac,;5espenais. Maiores detalhes podem ser encontrados na nota 12 ao art. 107 do nosso C6digo Penal comentado.

410. Consequencia.da anist.ia: se­gundo 0 dispos~o no art. 107, II, do Codigo Penal, deve 0 magistrado declarar extinta a punibilidade do condenado. Caso esteja preso, sera imediatamente libertado. Se ja estiver cumprindo a pena em liberdade, de qualquer modo, tera extinta asua punibi­lidade. E, caso ja tenha cumprido a pena, o antecedente criminal por ela deix!ldo na folha d~.antecedentes sera apagado. A natureza juridica da anisHa e de au tentica extinc;ao da tipicipade, paiS o.Legislativo

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Guilhenne de Souza Nucci

declara, por lei, inexistente 0 fato que foi anteriormente objeto de tipificac;ao em lei penal incriminadora.

Art. 188.0 indulto individual411 podera ser provocado por p~o do conden!!dGr­por inieiativa do Ministerio Publico, do Conselho Penitenciario, ou da autoridade administrativa.

411. Indulto individual: tambem co· nhecido por grar;a, e a clemencia concedida pelo Presidente da Republica, por rneio de decreto, a urn condenado especifico, levando-se em conta, em tese, seu merito incomum no curnprimento da pena (ex.: ate de bravura ou heroismo), mas tambem por questoes humanitarias (ex.: estagravemente enfenno, ~ beira da morte). Como preceitua o art. 188 desta Lei, pode ser provocado pelo proprio sentenciado, pelo Ministerio Publico, pelo Conselho Peniten~hirio e pela autoridade administrativa (diretor do presidio, por exemplo).

Art. 189. A petic;ao do indulto, acompa­nhada dos documentos que a instrurrem, sera entregue ao Conselho Penitenciario, para a elaborac;ao de parecer e posterior encam!­nhamento ao Ministerio da Justit;a.412

412. Procedimento regular: quando parte do sentenciado, do Ministerio Publico, da autoridade administrativa ou de outro orgao da execuc;ao penal, ouve-se 0 Conse­lho Penitenchirio e segue 0 expediente ao Ministerio daJustir;a. Ha casos concretos em que 0 condenado encaminhou carta diretamente ~ Presidencia da Republica e, por motivos variados, teve seu pedido conhecido e aprovado, auferindo 0 bene­ficio do indulto individual. Tais situac;oes demonstram, nitidarnente, ser a decisao discriciomiria do Presidente da Republi-

ca, que pode, inclusive, ignorar 0 parecer fonnulado pelo Conselho Penitenciario.,~

Art. 190. 0 Conselho Penitenciario, a vista dos autos do processo e do prontuario, promovera as diligencias que entender ne­cessarias e fara, em relat6rio, a narrac;ao do ilrdto penal e dos fundamentos da sentenc;a condenat6ria, a exposic;ao dos anteceden_ tes do condenado e do procedimento des­te depois da prisaa, emitindo seu parecer sabre 0 merito do pedido e esclarecendo qualquer formalidade au circunstancias omitidas na petic;ao.413

Art. 191. Processada no Ministerio da Justic;a com documentos e a relat6rio do Con­selho Penitenciario, a petit;ao sera submetida a despacho do Presidente da Republica, ~ quem serao presentes as autos do processo ou a certidao de qualquer de suas pec;as, se ele 0 determinar.

413. Parecer do Conselho Peniten' ciario: como ja mencionamos na nota ante:' rior, nao vincula 0 Presidente da Republica, servindo, apenas, de base de clados para a formac;ao do convencimento do Chefe do Poder Executivo.

Art. 192. Concedido 0 indulto e anexada aos autos copia do decreto, 0 juiz declarara extinta a pena au ajustara a execuc;aa aos ter­mas do decreto, no caso de comutac;ao.414

414. Con seq lien cia do indulto: cabe ao juiz, tornando conhecimento da publi­ca~ao do decreta de indulto individual no Dhirio Oficial. declarar extinta a punibili­dade do condenado (art. 107, II, CP). Nesse caso, apesar de dever ser 0 beneHciario colocado em liberdade, se preso estiver, ou cessar qualquer outra restri~ao, se em liberdade, nao se apagara da sua folha de antecedentes a condenar;ao. Esta, inclusive, pode gerar reincidencia e ser considerada

Leis Jienais e Processuais Penais Comentadas

como antecedente crimin<:\l para todos os efeitos.

Art. 193. Se 0 sentenciado for beneficia­do por indulto coletivo,415 0 juiz, de offcio, a requerimento do interessado, do Ministerio Publico, au par iniciativa do Conselho Pe­nitenciario ou da autaridade adminlstrativa, providenciara de acordo com 0 disposto no artigo anterior.

415. Indulto coletivo: e a demencia cancedida pelo Presidente da Republica, por decreto, a candenados em geral, desde que preenchamdeterrninadas condic;oes objeti­vas elou subjetivas. Cuida-se, tambem, de ato discricionario do Chefe do Poder Execu­tivo,sem qualquervincula~ao a parecerde 6rgao da execur;ao penal. Anualmente; no rn.fnimo urn decreto e editado (como regra, a denominado indulto de nataD, podendo perdoar integralmente a pena, gerando a extinr;aoda punibilidade,masrnan.tendo-se a registro da condenar;ao na folha deantece­de~tes do beneficiario, para fins de reinci­dencia e analise de antecedentes criminais, como pode perdoar parcialmenie a pena, operando-se urn desconto (comutar;ao), sem provocar a extin~ao da punibilidade.

TITULO VIII

DO PROCEDIMENTO JUDICIAL

Art. 194. 0 procedimento correspon­dente as situac;6es previstas nesta Lei sera judicial, desenvolvendo-se perante 0 Jurzo da ExecuC;ao. 416

416. Carater jurisdicional da exe­cuc;ao penal: ha nftida predomimlncia do eaniter jurisdicional da execur;ao penal no Brasil, consagrado por esta Lei. Portanto, o procedimento desenvolvido para a indi­vidualizar;ao execut6ria da pena e, basica-

Execuc;ao Penal

mente, da al~ada do juiz, poueo restando a autoridade administrativa (ex.: provo car o juizo para a inserr;ao do preso em regime disciplinar diferenciado).

Ar~. 195. 0 procedimento judicial iniciar-se-a de ofkio, a requerimento do Ministerio Publico, do interessado, de quem o represente, de seu conjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conse­Iho Penitenciario, ou, ainda, da autoridade administrativa. 417

417. Inlcio da execu~ao penal:ja tive­mos oportunidade de expor quea execuc;ao da pena, comoregra, inicia-se, de oEido, peIo Judiciario, sem neeessidade da provoca~ao de qualquer parte interessada. Transitada em julgado asentenc;a conden~t6ria, preso 0

condenado, 0 juiz da condena~ao expede a guia de recolhimento (ou de internamento, quando se tratar de medida de seguranc;a), encaminhando-a,juntamente com outras pec;as do processo, ao jUlzo da execur;ao penal. Tern inicio 0 procediment.o, con­tando, a partir dai, com a intervenc;ao dos interessados: 0 Ministerio Public.o, c.omo fiscal da lei, bern como 0 condenado, como maiorinteressado no tennino breveda pena. Alem deles, os demais orgaos da execuc;ao penal podem oficiar a.o juiz, solicitando providencias.

Art. 196. A portaria au petlc;ao sera autuada ouvindo-se, em tres dias, 0 conde­nado e 0 Ministerio P~blico, quando nao figurem como requerentes da medida.416

§ 1.0 Sen do desnecessaria a prodw;ao de prova, 0 juiz decidira de plano, em igual prazo.

§ 2.0 Entendendo indispensavel a reali­zat;ao de prova pericial ou oral, 0 juiz a or­denara, decidindo apos a produc;ao daquela ou na audiencia design ada.

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Guilhenne de Souza Nucci

418. Medidas em favor ou desfavor do condenad~a progressao ou regres­ito-d:~ a concessao de livramento

condicional,o desconto de dias de pena em virtude da remir;ao, a soma ou unificar;ao de

i penas etc.fpodem ser medid_as re~ i pelo MinisTerio Publico ou@~ondena-i I(fo~u por intt~hnedio deseu (defensor). Instaura-se 0 apenso pr6prio e \ pode-seproduzirprova, quando necessario I (ex.: exame criminoI6gico). Condufda a j instru<;ao, ha 0 julgamento pelo juiz.

Art. 197. Das decis6es proferidas pelo juiz cabera recurso de agravo, sem efeito suspensivo.419

419.' Agravo: o unicorecursoprevisto nesta Lei e 0 denominado agravo em execu­<=ao. Afinal, as decisoes sao, na sua imensa maioria, interlocut6rias. 0 recurso nao tern efeito suspensiv~, exceto no caso de desin­ternar;ao ou liberar;ao de pessoa sujeita a rnedida de seguranr;a. 0 rito do agravo em execu<;ao e 0 mesmo do recurse" emsentido estrito (arts. 582a 592 do C6digo de Processo Penal). Atualmente, e a posir;ao pacifica da jurisprudencia brasileira. Maiores detalhes sobre a origem eprocessamento do recurso de agravo, consultar as notas 10 a 13 do Capitulo II. Titulo II. Livro III. do nosso C6digo de Processo Penal comentado.

TITULO IX

DAS DISPOSI<;:OES FINAlS E TRANSIT6RIAS

Art. 198. E defesa ao integrante dos 6rgaos da execu<;ao penal, e ao servidor a divulga~ao de ocorrencia que perturbe a se­guran<;ae a disciplina dos estabelecimentos, bem como exponha 0 preso a inconveniente notoriedade, durante 0 cumprimento da pena.420

420. Yeda¢oapublicidadepernicio, sa: a execu<;ao penallida com a seguran.;;a publicae comadignidade dapessoa buma­na, por si so emsituar;ao rebaixada por estar cumprindo pena, com direitosfundamentais cerceados.Assim,deve-sepreservarosigild das informac;.oes concernentes a seguran.;;·~ e a disciplina dos presidios, bern como ~ fundamental evitar a exposir;ao do pre.s~ a mfdia e a popular;ao em geral. Cumpri~ menta de pena nao eshow, nem tampouco divertimento'para tereeiros.

Art. 199. 0 emprego de algemas sei-:a disciplinado por decreto federal. 421

421. Emprego de algemas: aguarda: se, ate hoje, 0 decreto federal disciplinand~ esse usa generalizado. Pareee nao haver vontade polftica para tanto. Alias, para TIaO dizer que nada foi feita, ha menci!o sobre o assunto no Decreta Federal 6.04912007 , que disdplina 0 funcionamento dos presi­dios federais: "Art. 58. 0 cumprimento do regime disciplinar diferenciado "em estabe­lecimento penal federal, alem das caracte~ risticas elencadas nos incisos I a VI do art. c).Q., observara 0 que segue: (. .. )"111 - uso de algemas nas movimentac;.oes internas e externas, dispensadas apenas nas areas de visita, banho desaI, atendimento assistencial e, quando houver, nas areas de trabalho e estudo". Cuida-se, par certo, de questao delicada, a exigir meditar;ao e ze10 para ser regulada. Por isso, inumeros governantes, desde 1984, tern simplesmente ignorado 0

disposto nesteartigo. Ve-se,'com isso,crescer o abusona utilizar;aodasalgemas, tomando vexatorias detenninadas prisoes de pessoas sem maior periculosidade, como t.ambem se assiste a fugas risfveis pela falta de uso do instrumento. Por enquanto, aguarda-se dos orgaos policiais a utilizar;ao do born senso para a utilizar;ao das algemas de modo geral.

g~-

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas

Execur;ao Penal

A Lei8.653/93. que cuida do transporte de presos, tambem nao regulamentou 0 uso de algemas. Preve somente oseguinte: "Art. 1.0 E proibido 0 transporte de presos em eompartimentd de proporr;oes reduzidas, com ventilac;.ao deficiente ou ausencia de luminosidade" .Na jurisprudencia: STF: ",No tocante a necessidade au nao do uso de algemas, aduziu-se que esta materia nao e tratada, especifica e expressamente, nos c6digos Penal e de Processo Penal vigen­tes. Entretanto, saHentou-se que a Lei de Execur;ao Penal (art. 199) determina que 0

emprego de algemaseja regulamentado por decreto federal, a que ainda nao ocorreu. Afirmou-se que; nao obstante a omissao legislativa, a utilizar;ao de algemas nao pode serarbitraria, uma vez que a forma juridica­mente valida do seu usa pode ser inferida a partir da interpretac;.ao dos principios jUri­dicos vigentes, espedalmente 0 principia da proporcionalidade e a da razoabilidade. Citaram-se, ainda, algumas rtormas que sinalizam hipoteses em que aquela 'podera serusada (Cpf~ arts. 284 e 292; CF, art. 5.°. III, parte final e X; as regras jurfdicas 'que trat~m de prlsioneiros adotadas pela O~U, N. 33; 0 Pacto de San Jose da Costa Rica, art 5.°,2). Entendeu-se, pais, que a prisao nao e espetaculo e que 0 uso legfiimo de algemas nao e arbitnlrio, sendo de natureza excepcionalequedeveseradotadonoscasos e com as finalidadesseguintes: a) para impe­dir, prevenir ou dificultar a fuga ou rear;ao indevida do preso, desde que haja fundada suspeita au justificado receio de que tanto venha a ocorrer; b) para evitar agressao do preso contra as pr6prios policiais, contra terceiros ou contra si mesmo. Concluiu-se que, no caso, nao haveria motivo para a utilizar;ao de algemas,ja que a paciente nao demonstrara reac;.ao violenta au inaceitar;ao das providenciaspoliciais. Ordemconcedida para detenninar as au toridades tidas par coatoras que se abstenham de fazer uso de

algemas no paciente, a nao ser em caso de rear;ao violenta que venha a serpor ele ado­tada e que coloque em risco asuaseguran~a ou a de terceiros, e que, em qualquer situa­r;ao, devera ser imediata e motivadamente comunicado ao STP" (HC 89.429IRO. reI. Carmen Lucia. 22.08.2006. Infonnativo 437). Sabre a possibilidade de ocorrencia de abuso de autoridade no emprego imide­quado das algemas, consultar a nota 54 'ao art. 4.0 da Lei 4 .898/65 do nosso Leis penais eprocessuais penais comentadas.

Art. 200. 0 condenado par crime poli­tico nao esta obrigado ao 'trabalho. 422

422. Facultatividade do trabalho: 0

preso politico tern, de fato, status diferencia­do, pais nao se trata de criminoso comum. Volta-s.e ele contra 0 Estado, razao pela qual seus atos sao preyistos na Lei de Seguranr;a Nacional. Assim, a atividade· Jaborativa obrigatoria, monnente a manual, pode nao serutil no seu processo de reeducar;ao, ate pelo fato de, muitas vezes, preferir atuar em ocupar;oes intelectuais.

Art. 201. Na falta de estabelecimento adequado, 0 cumprimento da prisao civi~ e da prisao administrativa se efetivara em se~ao especial da Cadeia publica.423

423. Separa~ao de presos diferen­ciados: a prisao civil (ex.: do devedor de alimentos) e a prisao administrativa (ex.: do estrangeiro que aguarda a expulsao) tern natureza diversa da prisao decorrente da pratica de crime, razao pela qual nao se pode, de fato, misturarpresos delinquentes e presos c.ivis au administrativos. Seria urn abuso, com resultados imponderaveis.

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Guilhenne de Souza Nucci 550

Art. 202. Cumprida au extinta a pena, nao constarao da folha carrida, atestados au certid6es fornecidas par autoridade policjal au par auxiliares da Justi<;a, qualquer notfcia ou referencia a condenac;ao, salvo para ins­truir processo pela pr<itica de nova infrac;ao penal au outros casas expressos em lei.424

424. Cancelamento dos registros criminais para ef~itos civis: extinta a puni­bilidade do condenado, pelo cumprime~to da pena au par outro motivo, mio mais se forneceni certidao, a qualquer do povo, sobre a condenaC;ao. Preserva-se 0 processo de reintegraC;ao do egresso a sociedade, permitindo-Ihe conseguir emprego e resta­belecer-se. Porem, para fins criminais epara concursos publicos, continuam a constar lais registros, 0 que e justo, pais a objetivo e completamente distinto:'Um juiz criminal, para aplicar corretamente uma pena, precisa conhecer a vida pregressa do reu, a que incluinl todos os antecedenteS registrados em sua folha. Lemb'remos que a disposto neste artigo terminou por esvaziar a func;ao da reabilita~ao (art. 93, caput, CP), pois 0

ex -condenado nao mais precisa disso para apagar os registros criminais existentes em sua folha, ao menos para fins civis.

Art. 203. No prazo de 6 (seis) meses, a contar da publica<;ao desta Lei, serao edita­das as normas complementares au regula­menta res, necessarias a eficacia dos dispo­sitivos nao auto-aplicaveis.

§ 1.° Dentro do mesmo prazo deverao as unidades federativas, em convenio com o Ministerio da Justic;a, projetar a adaptac;ao, construc;ao e equipamento de estabeleci­mentos e servic;os penais previstos nesta Lei. 425

§ 2.° Tambem, no mesmo prazo, devera ser providenciada a aquisic;ao ou desapro-

priac;ao de predios para instalac;ao de casas de albergados. 426

§ 3.° 0 prazo a que se refere a caput deste artigo podera ser ampliado, par ato do Conselho Nacional de Polltica Criminale Pe~ nitenciaria, mediante justificada solicitac;ao~ instrufda com os projetos de reforma ou de construc;ao de estabelecimentos.

§ 4.° a descumprimento injustificado dos deveres estabelecidos para as unidades federativas implicara na suspensao de qual­quer ajuda financeira a elas destinada pela Uniao, para atender as qespesas de execuc,:ao das penas e medidas de seguranc;a.

425. PresIdios ideais: aguarda-se h~ decadas ° cumprimento do disposto no art. 203, § 1.°, desta Lei. Infelizmente, atehoje, cuida-se de letra morta na imensa maioria dos estabelecimentos penais brasileiros.

426. Casas de albergados: imjmeros governantes desconhecem ou fingem ig­norar 0 disposto em lei. 0 maior exemplQ pode ser extrafdo do art. 203, § 2.°, desta Lei, indagando-se onde esUi.o as cas~s de albergados em varias comarcas brasileiras: a come~ar da maior delas, que e a Capital do Estado de Sao Paulo. Torna-se dificil convencero brasileiro comuma cumpriras leis'doseu Pais, quando osadministradores as desprezam sem 0 menor pudor.

Art. 204. Esta Lei entra em vigor con­comitantemente com a lei de reforma 'da Parte Ceral do C6digo Penal, revogadas as disposic;6es em contrario, especial mente a Lei 3.274, de 2 de outubro de 1957.

Brasilia, em 11 de julho de 1984; 163.° da Independencia e 96.° da Republica.

10ao Figueiredo

(OOU 13.07.1984)

FAt..~NClA LEI 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005

o Presidente da Republica: Fa~o saber que 0 Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Capitulo I DISPOSI<;:OES PRELIMINARES

Art. 1.° Esta Le'l disciplina a recupera­c,:aa judicial, a recuperac;ao extrajudicial e a falencia do empresario e da sociedade empresaria, daravante referidos simples­mente como devedor.

Art. 2.° Esta Lei nao se aplica a:

\- empresa publica e sociedade de eco­nomia mista;

1\ - instituic;ao financeira publica au privada, cooperativa de credito, cons6rcio, entidade de previdencia complementar, so­ciedade operadora de plano de assistencia a saude, sociedade seguradora, sociedade de capitalizac;ao e outras entidades legal mente equiparadas as anteriores.

Art. 3.° E competente para hamal agar 0

plano de recupera<;ao extrajudicial, deferir a recuperac;ao judicial OLi decretar a falencia 0

jufzo do local do principal estabelecimento do devedorou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

Art. 4.° (Vetado.) 1 ... 1

Capitulo VII DISPOSI<;:OES PENAIS

Se~iio I Dos crimes em especie1

Fraude a credores

Art. 168. Praticar,2-4 antes ou depois da sentenc;a que decretar a falencia,5 conceder

Regula a recupera(do judicial, a extrajudicial e-a falencia do empresdrio e da sociedade em~ presdria.

a recuperac;ao judicial6 au homologar a recuperac;ao extrajudicial,7 ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejufz08

aos credores/ c-om 0 fim de obter au asse­gurar vantagem indevida10 para si au para outrem:11-13 •

Pena - reciusao, de 3 (tres) a 6 (seis) anos, e multa.14

Aumento da pena § 1.° A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto)

a 1/3 (urn terc;o), se 0 agente:15-16

I - elabora' escriturac;ao contabil ou ba­lanc;o com dados inexatos;17

II - bmite, na escriturac;ao contabil ou no balanc;o, lan~amento que deles deveria constar, ou altera escriturac;,:ao au balanc;o verdadeiros;18

III - destr6i, apaga au corrompe dados contabeis ou negociais armazenados em computador ou sistema infarmatizado;19

IV - simula a composic;,:ao do capital social;20

V - destr6i, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escriturac;ao contabilobrigatorios.21

Contabifidade paralela

§ 2.° A pena e aumentada de 1/3 (urn ter­c;o) ate metade se a devedor manteve ou mo­vimentou recursos au valares paralelamente a contabilidade exigida pel a legislac;ao.22

Concurso de pessoas

§ 3.° Nas mesmas penas incidem as contadores, tecnicos contabeis, auditores e