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ANTROPOS – Revista de Antropologia – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007 – ISSN 1982-1050 23 Tradução de Catarine Conti Introdução: O Estabelecimento do Lugar Sagrado 1. A Habitação como uma expressão de valores sociais, 2. A Habitação como um modelo de valores opostos e complementares, 3. A Habitação como contato com o sobrenatural. Conclusão: A Habitação Sagrada. Bibliografia e 5 páginas de planos. Introdução: O Estabelecimento do Lugar Sagrado No século XX o significado de ‘função’ era usado por arquitetos para descrever a origem do tamanho e forma de uma construção. Mas, não são apenas as necessidades físicas que determinam a aparência da construção. Construções públicas devem ter usos especializados, mas, para o homem, o uso e a necessidade de uma habitação são tão complexos como o próprio homem e a cultura a qual ele pertence. Nós vamos examinar vários exemplos de habitações de diferentes partes do mundo com alguns exemplos de seus ambientes urbanos, e, incluir o território aborígene Australiano e o Maori marae (indígena da Nova Zelândia) como extensões da idéia de habitação. Nós vamos examinar as funções de uma habitação em sua cultura e seu lugar na sociedade. HABITAÇÃO SAGRADA Um estudo sobre os significados religiosos das habitações David Phillips Artigo Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007 ISSN 1982-1050

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ANTROPOS – Revista de Antropologia – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007 – ISSN 1982-1050

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Tradução de Catarine Conti

Introdução: O Estabelecimento do Lugar Sagrado

1. A Habitação como uma expressão de valores sociais,

2. A Habitação como um modelo de valores opostos e complementares,

3. A Habitação como contato com o sobrenatural.

Conclusão: A Habitação Sagrada.

Bibliografia e 5 páginas de planos.

Introdução: O Estabelecimento do Lugar Sagrado

No século XX o significado de ‘função’ era usado por arquitetos para

descrever a origem do tamanho e forma de uma construção. Mas, não são

apenas as necessidades físicas que determinam a aparência da construção.

Construções públicas devem ter usos especializados, mas, para o homem, o

uso e a necessidade de uma habitação são tão complexos como o próprio

homem e a cultura a qual ele pertence.

Nós vamos examinar vários exemplos de habitações de diferentes partes do

mundo com alguns exemplos de seus ambientes urbanos, e, incluir o território

aborígene Australiano e o Maori marae (indígena da Nova Zelândia) como

extensões da idéia de habitação. Nós vamos examinar as funções de uma

habitação em sua cultura e seu lugar na sociedade.

HABITAÇÃO SAGRADA Um estudo sobre os significados religiosos das

habitações David Phillips

Artigo Revista Antropos – Volume 1, Ano 1, Novembro de 2007

ISSN 1982-1050

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As propostas de uma habitação são geralmente analisadas como práticas e

culturais, mas esta divisão não está bem definida porque as necessidades

práticas do homem são modificadas pelo seu conceito cultural de vida e sua

visão acerca da natureza. O uso prático é essencialmente baseado no controle

ambiental, ou seja, provendo abrigo da chuva, neve ou sol e graus variados de

controle sobre a temperatura do ar e umidade. A quantidade de garantia

requerida varia consideravelmente dentro da tolerância biológica básica do

corpo humano, especialmente porque a maioria das sociedades vive em

climas temperado e tropical.

Outra necessidade prática é a segurança da vida e da propriedade. A forma

como isto é evidenciado revela a atitude da sociedade para com a

propriedade. Os costumes e tabus de uma cultura decidem a segurança, a

habitação agindo como um sistema de símbolos destes costumes e tabus,

especialmente em sua delimitação do espaço, em vez da força física de sua

estrutura. Finalmente os materiais usados e preferidos, as técnicas, a escolha

do lugar e as decisões estruturais básicas são parte do desenvolvimento

histórico e do pensamento da sociedade.

“Casa é um fato humano”, escreve Amos Raporport (1969:48). Seres humanos

combinam “a visão... de uma vida ideal” com a tecnologia e materiais de

construção disponíveis. “O homem tem que construir para controlar seu

ambiente, contudo, é mais o ambiente interno, social e religioso do que o

físico, o que ele está controlando” (ibid:60). Porém, isso não é uma questão

subjetiva. O homem precisa construir seu mundo dentro de uma harmonia

interna e externa onde uma afeta e modifica a outra. “O ser humano está

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externalizando em sua essência a partir da origem” (Berger 1967:4), e está em

necessidade de estruturas materiais e imateriais, e ambas formam uma

realidade unida. Isso é expresso pela sua habitação.

Lord Raglan (1964) escreveu que as habitações mais antigas foram os

primeiros templos. Ele coletou extensiva evidência de sacrifícios à fundação: o

fato de que a casa era o santuário da mulher e vários tabus relacionados ao

nascimento da criança, à preparação do alimento e à morte dentro da casa;

estas evidências tendiam a suportar o que ele havia escrito. Sua tese

demonstra a impossibilidade de separar os aspectos práticos e culturais. A

cultura é criada pela atividade humana onde o entendimento das habitações

experimenta alterações que cobrem o simbolismo antigo sem necessariamente

alterar as características estruturais. Algumas destas alterações foram

documentadas historicamente.

Este fato é especialmente verdade nas alterações das religiões mais

dominantes, como por exemplo, a difusão do Xintoísmo e Budismo no Japão.

O significado e o uso da habitação estão no contínuo pensamento dos

ocupantes e não apenas na pré-história. A habitação, embora talvez

primariamente uma divisão social do espaço, é também um espaço sagrado.

Isso é verdade também na visão secular onde valores humanos ou naturais

são mais valorizados do que os sobrenaturais.

Após considerar várias formas de sacralizar um lugar, examinaremos:

1. A Habitação como uma expressão de Valores Sociais,

2. A Habitação como um modelo de valores opostos e complementares,

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3. A Habitação como contato com o sobrenatural.

De acordo com Eliade (1957:63), as interpretações do homem acerca de suas

habitações contribuem para a revelação do que é sagrado. O mundo sem estas

interpretações fica sem forma identificável, tendo apenas “uma variabilidade

sem forma do espaço profano” que o homem não pode identificar com si

mesmo. O estabelecimento de um lugar sagrado oferece um ponto de

referência como um centro, onde, por outro lado, é desordenado e sem

proposta aparente para o homem. Esta orientação do espaço de acordo com a

visão cultural-religiosa também estabelece um lugar de comunicação com o

sobrenatural, sendo assim, uma ordem ideal deve ser mantida. Eliade vê isto

como uma forma de cosmogonia religiosa onde o caos volta ao cosmo num ato

de consagração, através do qual a visão do mundo é expressa e aquele espaço

se torna uma extensão disso. Sentar em um lugar é equivalente à repetição da

cosmogonia em que cada escolha do lugar constitui uma decisão religiosa que

conecta a habitação com a criação original.

A escolha do lugar depende, primeiramente, de fatores não-utilitários, diz

Raporport. Ele citou o exemplo dos Malekula, que usam a principal ilha para

agricultura e suprimento de água, mas por causa de tabus, moram em terras

áridas, fora da margem. O ideal para a casa de um Kabylie no Marroco é a

inclinação de uma montanha, para se estabelecer a divisão interna entre a área

mais alta caracterizada pela presença masculina e atividade cultural, e a área

que fica mais embaixo, associada com as mulheres, o processo natural, os

animais e o estoque de comida. O objetivo é criar uma harmonia com a

natureza integrando o homem e seu mundo com o poder que eles

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representam. Porém, os resultados não são exatamente como Raporport

apresenta. Eles podem ser arbitrários ou modernos porque sua visão da

natureza é diferente da nossa. As construções irão, por exemplo, ignorar os

contornos naturais por causa do conceito de ‘se proteger do mal’ como em

uma cadeira numa casa japonesa.

Uma nova casa Japonesa é estabelecida num dia propício determinado pelo

kitoshi (um pastor de oração) o qual deve purificar o lugar através da

conciliação com o Deus do local. A casa é feita pelo carpinteiro e dois

membros de outras famílias do mura ou da colonização. Um tripé de madeira

é colocado onde a lareira ficará no Daidokoro, ou quarto de recepção, como

uma imagem da casa. Este é removido quando o carpinteiro limpa toda a casa

e coloca uma seta de madeira escura apontando para o nordeste com panos e

leques vermelhos e brancos. A seta indica a posição do mal personalizado.

Um peixe é embrulhado em palhas e colocado no alto e depois comido pelo

carpinteiro, o qual coloca sal no local, bate palmas, e expressa uma oração pelo

bem-estar dos ocupantes. Também para estabelecer um novo poço, ele não é

meramente cavado, mas alguma água de um poço antigo deve ser derramada

no novo poço para transferir o Deus do poço antigo para o novo. Cinzas de

um aquecedor antigo devem ser colocadas num novo pelo mesmo motivo

(Embree, 1946).

Lord Raglan traçou evidências de uma extensa área de sacrifícios de fundação

para tornar a construção aceitável aos deuses locais ou para expulsar

demônios. Como por exemplo, o sacrifício humano. Na Suécia, era necessário

consultar fadas pra evitar que elas interferissem no local e em Burma um grão

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de arroz de dez sacos diferentes era deixado no local durante a noite. Se o

arroz ainda estivesse lá na próxima manhã, este era considerado um bom

lugar (1964:16). Os Árabes do noroeste matam um carneiro para obter a

permissão dos espíritos e demônios para ocupar o local. Os Maoris matavam e

enterravam escravos em poços atrás da nova casa. De acordo com Raglan, há

um padrão de evidência de sacrifício humano para habitações ordinárias

(1964: Ch.2).

Eliade considera que uma marca, ou teofania, é entendida como tomar o lugar

para estabelecer o sagrado. Um exemplo é deixar solto um animal doméstico

vagando livremente por um determinado tempo e o local escolhido é

considerado, não importa onde seja (1961:28). Na Índia, levantar um altar ao

deus do fogo, Agni, está de acordo com o mito de Brahmin, uma reprodução

em miniatura da cosmogonia.

Uma aldeia de Tonga em Simbabwe mudará seu local porque algo

desfavorável aconteceu, como a morte de um chefe, sendo golpeado com raio,

ou talvez mais praticamente, porque a terra está exausta. O líder considera

vários possíveis locais novos e faz a seleção atirando uma pedra em ramos

colecionados de cada local. O ramo mais próximo da pedra indica o local. Este

sistema traz graus variados de chance de manipulação da escolha do local

pelo homem. O líder junta grama e um rebento para a casa e dorme naquele

mesmo lugar com a esposa principal dele. Pela manhã um nó é amarrado na

grama. Todo membro da aldeia, que são seus familiares, pisa em torno do nó,

um ritual na intenção de "amarrar" a aldeia em submissão ao seu líder. Um

tabu segue dedicado a construir as cabanas usando os telhados da aldeia

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velha. A esposa principal completa um ritual de cercar o portão ao redor da

aldeia nova protegendo, assim, do mal. Ela declara uma bênção para que os

aldeões "produzam crianças, vivam e estejam contentes, adquirindo tudo" e

desperta ciúme das outras esposas. Depois de um banquete cerimonial com

convidados de outras aldeias, são retomadas as relações matrimoniais em

ordem de parentesco para o chefe (Oliver, 1975:7f).

As estradas de ferro suburbanas e subterrâneas estenderam as redes fora de

Londres nas primeiras duas décadas do século XX. Com tarifas baratas e

excursão especial, aqueles que moravam nos subúrbios de Victorian e

Edwardian eram familiares para aquelas regiões. Aqui novas 'propriedades’

de casas com uma parede em comum – semi-geminadas - (duas casas unidas

para salvar a terra) foram construídas para a população crescente. A maioria

desses que se mudaram para as casas semi-geminadas já circulou nestas rotas

pelo prazer de sair da cidade para a zona rural; mesmo que a estação ou

estrada principal levasse a um olhar rápido para os campos como um local

que, certamente, logo serviria para construções. Londres se tornou uma série

de cidades lineares unidas ao centro, a qual normalmente era o lugar de

trabalho ou da ‘noitada’. Mas cada setor de Londres era relativamente

"estrangeiro" ao outro. (Jackson, 1973:166).

Estas "cidades" lineares eram socialmente classificadas de acordo com a

distância em relação ao centro, onde a maioria das classes estava concentrada.

Enquanto esses buscavam se mudar para as propriedades suburbanas nas

décadas de vinte e trinta, tendo aspirações sociais bem parecidas e recursos

econômicos, a "mudança" era uma decisão individualista privada, levada em

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isolamento e até mesmo em competição social com pessoas igualmente

motivadas. Cada par ou família teve o mesmo motivo ou o desejo social de

"possuir um lugar deles próprios”. A escolha do local era determinada menos

por amizades ou outras conexões, e mais por um mistério vago da localidade

geográfica com associações de estado social mais alto ou implicações rurais

saudáveis carregadas pelo nome, e era também limitado pela importância

prática da estrada de ferro conveniente ligada ao trabalho. Uma falta de

conforto para comunidade como lojas, clubes, igrejas, cinemas, etc. não os

intimidava. O local particular da casa era determinado pelo construtor-

fomentador, que explora a terra disponível com o maior número de casas, e

depois pela sugestão da recomendação do agente da propriedade de ação

disponível. A mesma palavra 'propriedade' veio dos parques que cercam as

mansões da pequena nobreza titulada, carregando um senso de classe social

mais alta.

A primeira visita para ver a casa seria feita com as estradas incompletas,

freqüentemente em um mar de lama com o trabalho de construção ainda em

andamento. A escolha era feita de acordo com um conceito mental de uma

vida melhor junto com uma tendência contemporânea para ter uma minuciosa

“casa de país" individualista em imitação às classes sociais mais altas, como

ilustrado pelos seus empregadores e profissionais com os quais tiveram

contato. As visitas de parentes e amigos “para ver a casa nova" não apenas

satisfazia a curiosidade deles, mas era uma forma de "consagração" que une o

novo com o velho, sendo uma transição ou rito de passagem quando relações

velhas eram derrubadas para, esperançosamente, serem renovadas.

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Em total contraste, o aborígine australiano toma posse mental da terra dele

sem nenhuma estrutura artificial de qualquer tamanho. Os mitos dele dão

significado a toda característica e espaço aberto porque os heróis do Dreamtime

ou pré-história mitológica que primeiro possuíram e percorreram isto, o

deram para sempre. Isto é imediatamente aceito como sagrado e a vida

consiste em manter esta relação em vez de só iniciá-la.

Estes poucos exemplos contrastantes mostram que a habitação é mais que um

abrigo utilitário. Expressa o local do homem no mundo da forma como ele vê,

e isto tem que ser estabelecido normalmente por um procedimento especial

que freqüentemente inclui um elemento de chance que não faz completamente

disto um assunto de escolha racional. A habitação expressa primeiramente a

posição da casa como uma parte de sociedade humana.

1. A Habitação como uma Expressão de Valores Sociais

Na sua forma mais simples, a casa pode ser considerada como delimitação

para distinguir uma casa da outra como unidade social básica. Isto é a única

função não-utilitária que há para o aborígine, o abrigo simples que dá abrigo à

família nuclear, mas aberto à paisagem circunvizinha. Em contraste, a casa

judia tradicional distingue o Israel do goyim circunvizinho ou nações pagãs. A

família foi considerada a maior instituição do Judaísmo, preservando a

identidade de Israel com seus costumes dentro de uma cultura

freqüentemente hostil. Especialmente o Sabbath fez a casa judia um espaço

sagrado durante vinte quatro horas onde a dona da casa acende duas velas e

cada sócio da família mais uma (Bialer, 1976:57f).

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“Para muitos a iluminação das velas na sexta-feira à noite é um evento

cultural poderoso que liga os indivíduos, e até famílias, ao modo de vida

judaico. Uma identidade judia é mantida, até mesmo se o sábado é passado

num shopping ou saindo para uma partida de futebol americano” (Bild, 1984).

Semelhantemente algumas casas de membros da religião dos Siques na

Inglaterra têm um rolo de papel da bíblia deles e quadros dos Gurus no

quarto principal. Algumas casas de siques e hindus podem ter um quarto de

hóspedes que é em parte usado como um quarto de oração que é

exteriormente idêntico à estrutura da casa suburbana. Deve haver uma

expressão externa de alguma parte da casa com sua ligação mais íntima da

visão mundial herdada, dentro de outra cultura para a qual eles só são

parcialmente assimilados.

Os aborígines australianos também têm abrigos que são aparentemente

quebra-ventos ou cabanas de dois andares sem significação simbólica. Serve

para dar privacidade a um homem, às esposas dele, filhas solteiras e filhos

incircuncisos (Raporport, 1975:41). Mas seu local em relação a outras cabanas

nos acampamentos dos clãs e outros acampamentos maiores expressa a

posição da dona da casa dentro de seu clã e do clã dentro da tribo. Cada tribo

tem regras diferentes de acordo com o clã e o estado matrimonial. Uma tribo

pode ter entre 100 e 1500 pessoas. Uniões multitribais são feitas de acordo com

a forma que cada tribo vem para formar uma miniatura de acampamento de

"geografia política." Os mitos registram as façanhas dos heróis que exploraram

e expandiram os territórios de cada tribo. Assim, a representação de mapas

simbólicos dentro dos acampamentos expressa o mundo deles.

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“O ambiente cruel é personalizado por ritual e mitos trazendo suas

características naturais à área familiar e amigável. Aborígines não apenas se

mudam por causa da paisagem, mas a área humanizada é que tem sua

significância (Raporport, 1975:45)."

Assim, com pouquíssimas estruturas eles têm uma paisagem conceituada de

locais nomeados, locais de totem, áreas de acampamento e caça ao alimento,

caminhos e cruzamentos baseados no Dreamtime mitológico. Assim o símbolo

natural é transformado por uma concepção mental transmitida de gerações

passadas através de mitos.

A casa japonesa é mais permanente que seus habitantes. Pessoas são

conhecidas como velho-homem-daquela-casa etc., as aldeias consistem em

casas em vez de indivíduos (Embree, 1948:60). O filho primogênito, ou um

filho, pela lei é o herdeiro da casa, não para qualquer herança financeira, mas

porque lá residem os tabletes memoriais antepassados - placas de madeira

com nomes póstumos dados pelo padre Budista - dentro do Butsudan. Os

mortos são considerados presentes por grande parte do tempo, especialmente

no festival de Bon e casamentos. O Japonês para a casa também quer dizer

barbatana, consagrando a continuidade da família como também sua posição

dentro da comunidade maior (Fawcett, 1980:49).

A casa do Atoni também é considerada mais permanente que os ocupantes

com seus objetos sagrados e espíritos ancestrais, e o dever do herdeiro é

principalmente manter a casa neste propósito e passar isto para gerações

futuras (Cunningham, 1964:205 ,226). A habitação também é vista como um

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contraste entre o lado de dentro e fora, com um limite marcando um nível de

privacidade no portão da rua na Índia, ou no corredor ou quarto de recepção

em uma casa inglesa.

A casa rural inglesa no início do século XX tinha um passeio para a

família e visitas e outro passeio e entrada para os criados e negociantes. No

domingo os portões estavam sempre fechados pois não se esperavam os

visitantes por razões religiosas. Chamadas sociais da classe social equivalente

eram feitas dentro de uma escala que um cavalo e auto de duas rodas

poderiam ir, aproximadamente oito milhas. Visitantes eram recebidos no

corredor ou deixavam pratos de cobre gravados como "cartões." Aquelas

visitas, para serem recebidas pela família, tinham seus pratos carregados em

uma bandeja pelo mordomo para o senhor da patroa da casa. O corredor era o

ponto de reunião com o mundo externo; convites, os cartões de visitas, vários

jornais nacionais e locais eram todos mantidos lá. Também era o lugar de

reunião da casa assim como outros quartos que tendiam estar fora de alcance

para as crianças, senhoras ou criados de acordo com o uso (Lewis, 1982:57).

Estas mudanças para as novas casas semi-geminadas na Inglaterra os separou

da vida de comunidade dos subúrbios mais antigos.

"Tudo na vida centrava em torno da nova...casa...um abrigo das realidades

severas do mundo...um ambiente previsível." refletindo a ambição e

frugalidade destas pessoas (Jackson, 1973:167).

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Relações com vizinhos estavam baseadas nos problemas comuns derivados do

isolamento social imposto por eles mesmos, conscientes ainda de suas raízes,

estando em outro lugar e a competição constante para manter "aparências" na

propriedade. Estas raízes eram em parte rejeitadas como de uma ordem social

inferior. Exceto para as visitas de parentes e alguns amigos de rotina, a casa se

tornou um espaço privado para criar uma família, colecionar mobílias

modernas, e comprar máquinas que poupam trabalham. A comunidade

urbana do passado foi poupada de estar "no país" com acesso ao ar fresco e

luz solar, comparada com áreas de cidade do interior. Esta se tornou uma

obsessão do momento.

As propriedades semi-geminadas estavam baseadas em pesquisa de mercado,

terra barata e exploração comercial de construir muitas casas com menor

despesa em terra e estradas, em vez de qualquer consideração para

arquitetura, planejamento de comunidade, ou para integração com a

comunidade rural mais antiga. Havia uma atração para subir de nível social e

satisfazer o impulso para ter sua propriedade entre os trabalhadores

qualificados e pessoas de classe média inferior. Nomes elitistas, propriedades

e estradas como Ideal, Olympia, Drive, Park, Court e Crange ajudavam a dar a

impressão de ligações com a tradição da casa rural das classes sociais mais

altas. Alternativamente nomes rurais como o Glen, Meadowview, Rise e Way,

e outros, foram usados para enfatizar a distância da paisagem da cidade do

interior que os novos donos desejavam se distanciar. Mas as propriedades

tiveram pequeno contato com a zona rural comparada com as casas rurais que

criaram trabalho através de vários serviços e cultivos. As suas raízes estavam

essencialmente em atividades de cidade.

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Enquanto as casas eram "poupa-trabalho", também havia símbolos de status

de um "quarto de empregadas", uma entrada lateral para negociantes, a

disponibilidade de um "ajudante-diário", indo com uma bicicleta só para

lazer, mas, nunca para trabalhar, tendo um "passeio" - embora curto - para

completar a distância da estrada. Tudo isso ajudou a contribuir para que seus

familiares fossem apenas uma linha de demarcação entre os trabalhadores e

aspirantes para as posições e valores mais altos de sociedade. Um caminho

separado para a porta da frente, que era fixo em uma varanda curvada

flanqueada por plintos para arbustos em vaso, tudo acrescentado à imagem

social, contrastando a subúrbios Vitorianos congestionados deixados para

trás. Imitações feitas de madeiras artificiais e janelas de sacada faziam uma

distinção vital das propriedades próximas do Conselho. A casa semi-

geminada representou um desejo por uma imagem, pois derivava da casa

rural mas também era uma parte de um movimento que mudaria a hierarquia

social da Inglaterra.

A varanda do bangalô na Índia Imperial serviu como uma ponte social entre o

interior de uma nostalgia de ex-patriota, uma mobília, tecidos importados da

Inglaterra e o pó e calor da realidade Indiana. A varanda era uma zona

sobreposta onde a Inglaterra e a Índia se encontravam. Eram recebidos os

visitantes empresariais, decidiam assuntos domésticos, os negociantes

mostravam as suas mercadorias, alfaiate ou costureira poderiam trabalhar

supervisionados mas não, de fato, entrarem na casa. Aqui as mulheres da casa

tiveram muito de suas experiência de Índia sem uma aia. Também era o lugar

para relaxamento, jogos, animais de estimação e plantas em vaso. Igualmente,

era o lugar para a ‘discussão pós-janta’ para ‘pôr-o-mundo-em-ordem’. Isso

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era também como a ponte de um navio como um símbolo não oficial do

comando e status dos funcionários secundários do Império. Como tal, a

varanda se tornou freqüentemente um lugar com parapeitos de ferros

forjados, urnas ornamentais, torres e janelas góticas de colunas clássicas, tudo

somado à casa que retinha sua amura desidratada ao sol. A varanda simboliza

o limiar entre duas visões opostas do mundo, e especialmente da Índia

(Morris:197).

A casa de um Cabile representa a generosidade armazenada dada a um

homem no seu empenho pelo trabalho no mundo, e então, a posição dele na

sociedade. A divisão interna simboliza a distinção da recepção dos produtos

naturais supervisionados pela sua esposa, e a produção do tecido e cozinha

considerada como algo masculino mas feito pela esposa sendo apresentado à

comunidade pelo homem. O sucesso dele como um fazendeiro e como

mercante de bens depende da transição entre a recepção do natural e da saída

de produtos feitos pelo homem. A estrutura da casa simboliza a relação entre

o poste bifurcado (feminino) ao centro que divide os processos naturais do fim

cultural. O poste de cume (macho) representa a proteção global e autoridade

do marido, e só fazia isto apoiado pela indústria das esposas deles dentro da

casa. O interior das habitações contrasta com o exterior como uma forma de

subordinação complementar. A esposa é considerada a lâmpada e a lua, o

homem é o sol e luz do dia (Bourdieu, 1970:143). O limiar é uma divisão

mágica entre recebe-los e processá-los, e as despesas do marido com o

prestígio da casa por trás dele.

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A casa tailandesa é dividida em vários níveis de acordo com o estado civil da

pessoa e é um paralelo a um sistema de tabu relativo a animais (Tambish,

1973:132). O de fora, estrangeiro às aldeias vizinhas, normalmente é

recomendado a não passar uma jarda da cerca. As pessoas de outras aldeias e

não-familiares que são solteiras podem entrar para a plataforma elevada da

casa e serem convidadas a lavar os seus pés lá.

A própria casa é dividida em "pequena casa" de recepção com a cozinha para

um lado, uma área de "segundo limiar” entre dois "pilares essenciais" dentro

das estruturas da casa, com a área de lavagem para o lado. Finalmente, além

disto, está a "casa grande" que é o quarto de dormir dividido pela metade sem

uma parede, contudo, com duas portas. Primos secundários e outros parentes

solteiros de graus relativamente próximos podem entrar na pequena casa mas

não passar o segundo nível. Primos de primeiro grau, com quem casamento é

tabu, podem entrar no quarto de dormir ou "casa grande", mas nunca dormir

lá.

O lado direito da casa grande e sua porta são para o casal da casa e a

sua descendência. A última filha a se casar dorme com o filho pela lei no lado

esquerdo, e ele nunca entra no quarto pela porta direita, mas só pela porta da

esquerda, embora não haja nenhuma parede que divida as portas do quarto.

Quando outra filha se casa lhe permitem estabelecer uma segunda casa

idêntica dentro da jarda na qual ela tem a posição privilegiada. Uma

combinação comum teve duas casas com aproximadamente seis pessoas para

cada casa Baan Phraan Muan que Tambiah estudou (1973:132).

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A casa judia tem na entrada do umbral direito o mezuzah. Este é um rolo de

papel de preceitos básicos, inclusive uma advertência contra paganismo,

coberto e incluso em um tubo de vidro ou escultura em madeira ou trabalho

em prata. A palavra Shaddai no manuscrito hebraico é tudo aquilo pode ser

visto. O judeu entendeu isto como uma marca distintiva e como um talismã a

repelir influência maligna. O judeu piedoso vai repreender isto com a mão

direita na entrada ou deixar como uma oração e cumprimento simbólico de

Deuteronômio 11:20 "Escrevei-as nos umbrais de vossa casa e nas vossas

portas, para que se multipliquem os vossos dias e os dias dos vossos filhos na

terra". Conformidade com a interpretação rabínica da Lei de Moisés

determinava a fidelidade de ser um judeu (Bialer, 1976:57).

As tribos Aborígenas têm gamas de movimentos como reuniões, estando

constantemente em mudanças, e então, estruturas permanentes têm pequeno

lugar na vida deles. São compartilhados recursos dentro da tribo para a qual o

território pertence, mas outras tribos não entram a menos que sofressem fome,

contraindo ainda assim, uma dívida pela provisão levada. Mapas das

fronteiras estão desenhados e recordam a mitologia. Uma distinção é feita

entre áreas ritualmente importantes e áreas de ajuntamento econômico que

podem ser relativamente indeterminadas. Os mitos pertencem aos territórios e

não podem ser relacionados além dos seus limites, que são identificados

através de características naturais (Raporport, 1975:42).

Nós já referimos ao limiar da casa de um Kabyle. Também é importante por

ser o ponto de contato entre dois sistemas cosmológicos: o simbólico interior

que é uma inversão da realidade externa (Bordieu, 1970:151). Nesta inversão,

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a chegada e a saída são feitas movendo primeiro o pé direito, o que é

considerado auspicioso. Isto provê uma entrada positiva ao microcosmo dos

deveres da mulher dentro da casa e faz disto uma imagem de espelho do

mundo externo do marido em sua comunidade e atividade agrícola (ibid, 153).

Limiares são importantes em algumas culturas porque formam parte da base

para o pensamento dualista. Na casa de um Atoni, lado direito e esquerdo são

determinados ao entrar pela porta, mas, a orientação muda do lado de fora

por aproximadamente noventa graus de acordo com o leste, de forma que o

sul é à direita e o norte é à esquerda. A mudança de direção é necessária

devido ao critério negativo que estes dois eixos não devem coincidir, isso é, o

sol não deve brilhar na porta. Os convidados entram na área exterior da

varanda, o si’u, mas não são permitidos entrar ou serem entretidos na

propriedade da casa, o nanan. Uma esposa ou marido pode entrar na casa

apenas depois de sua descendência. Se eles visitam seus parentes juntos eles

têm que dormir do lado de fora, no si'u. Só residentes, isto é, o casal e as

crianças, comem no nanan e a porta fica fechada. A porta está inclinada à

esquerda quando a família entra, dando entrada à direita, que é considerada

auspiciosa.

O grupo de descendentes que é agnado tem direito dentro da casa e um ritual

especial de recepção para as esposas e crianças. Acesso para a casa simboliza a

estrutura social, e o grupo de descendentes corresponde à unidade social

básica. Cada casa é um centro independente para agricultura e religião, de

forma que o simbolismo de entrar na casa alcança o único modo de pertencer

e ter um lugar na vida do Atoni e na adoração (Cunningham, 1964:205).

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Uma habitação pode refletir eventos ou uma fase dentro da história da

sociedade. Os Zulus eram pessoas pastorais migratórias. Concentrados em

pequena área de Natal, pelo avanço do fazendeiro branco século passado, eles

foram provocados em uma constante guerra inter-clã. Aproximadamente em

1817, o chefe supremo, Shaka, alcançou uma amalgamação dos clãs,

eliminando seus rivais e aumentando o seu exército. Isto alcançou uma base

de poder para invadir tribos vizinhas com um exército numeroso porque a

crescente área adquirida não suportaria a população crescente. A tática militar

característica era o impi, uma formação de ferradura de infantaria que buscaria

fechar o círculo ao redor de seu inimigo. Então estas táticas, garantia de gado

e a tradição migratória, contribuíram ao simbolismo básico do círculo para

esta cultura bruscamente vivida.

Gados originaram a Kraal (aldeia cercada), seus próprios status sendo de

acordo com o tamanho do rebanho deles. A cabana estaria ao lado do cerco

mais distante do portão, com as cabanas das esposas principais à direita do

portão e das esposas menores à esquerda. O chefe supremo construiu várias

aldeias circulares grandes de uma milha de diâmetro e pelo menos 1400

cabanas para o seu exército e retentores. Os gados eram mantidos em lugares

menores nos lados, enquanto a área central era para exibições. Esta geometria

deu uma coerência estética com origens utilitárias para uma nova sociedade

agressiva (Biermann, 1975:96). O Hottentots considerou o círculo como a

forma perfeita para trazer bênçãos sobrenaturais. A habitação do Swazi era

bem parecida (Denyer, 1978:111).

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Raporport considera que também há significado simbólico à circularidade da

aldeia de Masai (1958). A armação da casa de um Masai também era portátil

como a do Zulu costumava ser, e limitada em tamanho especialmente no

quarto principal para limitar a área de superfície e material usado. A forma

ovóide também economizava material. Mas a casa só era usada à noite ou

tempo chuvoso e era, em outras ocasiões, uma loja (Raporport, 1969:57).

Em torno do Sudeste da Ásia, do sul da Índia e Japão, as habitações de várias

comunidades litorais dão evidências de origem da cultura da Idade do Bronze

de Dong Son. É dita que isto se espalhou do Norte da Indochina através de

barco para, por exemplo, o que é agora a Indonésia, no primeiro e segundo

séculos AC. Sua contribuição cultural para estas outras terras foi revestida por

Índia no quarto século DC, enquanto sua pátria se tornou uma província

chinesa. As evidências arqueológicas para esta migração são os característicos

grandes tambores de bronze (Enc. Britânico. 12.178c, 973c.14,687b). As pessoas

Dong Son pareciam ter estabelecido colônias isoladas cercadas por culturas

Neolíticas e usavam a imagem dos seus barcos nas habitações para expressar a

ligação deles com a terra natal, à qual é dita que o morto retorna. O morto é

posto em caixões chamados ‘barcos’ em cabanas cerimoniais com

características de barco (Lewcock and Brans, 1975:113).

Algumas seis formas de habitação pertencem a esta tradição. Em Toraja,

Celebes, as casas de espíritos se assemelham a barcos armazenados com

telhados cobertos inclinados e altos cumes esculpidos para recordar o tronco

principal; estes são decorados com pássaros e cabeças de animal (ibid, 108).

Na Sumatra e Nova Guiné Ocidental há casas retangulares para bate-papo,

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encurvadas para cima e decoradas. Em Flores, Islândia e Indonésia

montanhosa, o sapé nas casas é côncavo do cume para o chão se

assemelhando aos chamados ‘barcos sob vela cheia’ (ibid, 110). Também há

doenças especiais e casas de espíritos com extremidades que recordam canoas

cerimoniais. As pessoas de Nage, em Flores, acrescentam um pequeno barco

de palha ao cume de suas casas.

Também há aldeias chamadas e parecidas com barcos e o líder é de fato

chamado timoneiro. Por exemplo, a determinação de Manggarai, Flores

Ocidental, é amoldada através de caminhos de pedra na forma de um barco

com uma casa de espírito na "popa" e o cemitério à beira de um "gurupé" de

pedra. Outras aldeias têm a casa de reunião na forma de um barco, ou até

mesmo quando é retangular a terminologia de barco persiste. Lewcock e

Brans citam Vroklage crendo que os santuários de Ise no Japão são

simplificações do simbolismo de barco de uma maneira similar (ibid, 115).

Na Índia, arquitetura é o método principal para expressar a ordem cósmica

especialmente pela orientação das construções. Um exemplo disto era o

planejamento de capitais provincianas para representar a legitimação do

poder secular pela ordem transcendente. Rajás locais, ou Príncipes, em Orissa,

buscaram legitimação pela adoção de uma deidade local unida à tribo.

Durante séculos, os rajás consolidaram o poder pela adoção de outras

deidades. Uma fase crucial era a construção de um palácio novo próximo ao

templo Hindu. Parece que a chegada do controle Britânico avançou isto,

ajudando a Hinduisação final da área local, especialmente pela participação

do rajá nos festivais de carro, arrastando o 'deus' a bordo ao redor das ruas. A

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fase final era um palácio novo próximo ao templo Hindu, "o Senhor do

Mundo", com o rajá próximo em importância, colocado no centro da cidade,

que era o centro do estado, e finalmente tido como o centro do cosmo. Alguns

rajás foram um passo a frente e construíram novos palácios próximos à

estação Britânica para ganhar uma nova legitimidade do Governo Imperial

Britânico (Kulke, 19--:30 f).

Estes exemplos mostram que a habitação, especialmente em seu uso, e

freqüentemente em sua forma, e às vezes nos detalhes da construção, é uma

parte integrante da articulação da estrutura da sociedade. Isto em sua volta é

amoldado pelas convicções do cosmo e suas histórias. A habitação reforça e

ajuda a prática da estrutura social que necessariamente não seria adaptável a

outro setor de valores e conceitos religiosos. Mudar as convicções é mudar a

estrutura social e então, no final das contas, a forma das habitações. Muito de

religião é praticado nas relações sociais em vez de diretamente em adoração

especializada. Para a maioria, manter a reunião social e especialmente a

ordem familiar é a essência da vida deles dentro de sua ordem cósmica

concebida. Atos rituais de adoração são recorridos para as crises ou pontos de

transição regular na vida para facilitar aquela ordem à medida que afeta a

vida material deles.

Estes exemplos mostram que a habitação é o ponto para integração dos

ocupantes na estrutura contemporânea e histórica da sociedade. Isto é feito

por uma divisão de espaço que é sagrado aos habitantes e respeitado e

entendido dentro do pensamento cultural das pessoas. São cumpridas as

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funções utilitárias da habitação de vários modos simples, mas há grande

variedade na compreensão das funções culturais.

A habitação é o espaço dedicado à exclusividade, ou em casos de esposas

múltiplas, à distinção de cada relação matrimonial e sua descendência, em

torno da qual a maioria das sociedades é construída como sua própria

habitação. Outras sociedades como o Bororo e Ashanti têm a esposa vivendo

com a mãe e visitada pelo marido, mas isto não contradiz este princípio. Esta

demarcação básica não é afetada pelo tipo de cultura, se agrícola ou urbano.

A idéia de privacidade provida e simbolizada pela habitação expressa uma

medida de profanação incorporada do resto da sociedade. Novamente, o

Bororo faz um contraste com a casa dos homens, indo prioritariamente para a

unidade dos homens para caçar e lutar, enquanto a habitação da esposa serve

como uma área distinta de privacidade que corresponde à casa que ele deixou

no lado oposto da aldeia, da mãe dele, antes que ele tivesse iniciado a

masculinidade.

Em todos os casos a habitação representa também a continuidade histórica da

sociedade, a idéia da santidade da família nuclear dentro daquela história, e

suas relações, como também a história da família particular dos ocupantes.

Isto é verdade da sociedades onde a estrutura específica é passada de geração

para geração como o Atoni e o Japonês, para outras sociedades como o

Aborígine e as casas semi-geminadas em Londres. Estas imagens históricas da

sociedade e a integração da família nuclear dentro desta sociedade são mais

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importantes que a estrutura específica e o ajuntamento de famílias específicas

a isto.

Finalmente o papel do homem dentro do cosmo está baseado na relação

matrimonial e na continuidade da sociedade em transmitir a cultura e visão

mundial às novas gerações.

2. A Habitação como um Modelo de Valores Opostos e

Complementares

A aldeia Indiana Bororo, em Mato Grosso, no Brasil, é dividida em duas

metades complementares chamadas Cera, possivelmente significando fraco, e

Tugare significando forte. Cera controla o ritual para o morto que, pensa-se

viajar ao longo de um eixo que atravessa a casa dos homens exatamente no

centro da aldeia e termina em qualquer direção na aldeia do morto. Tugare

provê o xamã que lida com o sobrenatural do décimo céu ao mundo

subterrâneo. A mulher e as crianças das duas metades vivem em um círculo

de cabanas ao redor da cabana dos homens, uma em cada lado. A aldeia como

uma unidade social é dita ser derivada do sol.

As metades são matrilineares e divididas em clãs. Um homem se casa com

uma mulher do clã correspondente na metade. A casa dos homens tem duas

portas e cada homem usa a porta que dá para a metade do círculo da esposa

dele e longe do seu. O funeral de um Índio sempre é a responsabilidade da

metade oposta. Tugare também representa natureza e guerra, cultura Cera e

organização social. Os Bororos do Brasil são, então, um exemplo de uma série

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integrada de dualismo complementar e contrastante, e isto é expresso no

plano da aldeia deles (Levi Strauss, 1970 & 1976).

O Dogon mora na região do planalto central de Mali, sul do Rio Níger, perto

de Bandiagara. Eles decoram suas casas com um padrão de ziguezague que

alude à mitologia do cosmo. Estes, na volta, produziram dualidades de direita

e esquerda, alto e baixo, e macho e fêmea. Aldeias também estão organizadas

em pares, aldeias superiores e inferiores que representam os dois demiurgos,

ou céu e a terra, como nos mitos, unidos (Griaule e Dieterlen, 1954:96).

As aldeias Masai na Tanzânia são divididas entre: uma para as pessoas idosas

e os homens casados e as suas famílias, que são pastoralistas; e outra aldeia

dos guerreiros e homens solteiros com as suas mães e irmãs, que invadem os

rebanhos de outros povos. A diferença estrutural são os arbustos de espinho

no centro da aldeia das pessoas mais velhas.

Na África do Sul o marido zulu dorme à direita enquanto a esposa e família à

esquerda. No Yurt da Ásia Central e Mongólia, os homens e os visitantes

ficam à direita do altar, de frente para a porta, enquanto armas e selas também

à direita, mais perto da porta. As mulheres e as crianças ficam à esquerda com

os utensílios da cozinha e comida. Os hóspedes importantes são colocados à

esquerda imediatamente antes do altar budista como o lugar de honra ao lado

do chefe da família.

Na aldeia Maltesa de Hal Farrug a autoridade doméstica é dividida entre a

autoridade formal do marido, que representa a casa legalmente e provê o

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suprimento, e a autoridade prática da esposa que tem responsabilidade pelo

interior, limpeza, cozinha e crianças. Na prática, ela muitas vezes controla a

despesa do que o marido deve prover (Boissevain, 1969:17).

Para os Índios Blackfoot, em Montana e Alberta, a tenda indígena era

construída pela esposa e, considerou-se que era a sua propriedade, da mesma

forma como a habitação está para o Masai e o zulu (Raglan, 1964). Contudo,

para um esquimó Netsilik, em volta da Baía Hudson no Canadá, deixar uma

mulher construir o iglu ofenderia os espíritos. É construído pelo homem

dentro do círculo traçado, do qual ele corta os blocos da neve pesada,

construindo em um espiral ao redor dele até ficar completamente cercado. A

tarefa da mulher é alisar a forma com neve suave e lançar os seus pertences no

interior quando o homem corta um buraco temporário com esta finalidade.

Ele então constrói o pórtico numa posição abaixo do vento. Lá pode ser

acrescentado trenó especial e o banheiro (Balikci, 1970:59f).

A mulher é considerada suja, precisando de um iglu separado de

confinamentos onde ela tem o seu bebê sozinha. Quando uma foca é

recentemente morta, nunca é posta na neve do chão do iglu mas, na neve

fresca trazida para o propósito. Isto é porque a alma poderia ser ofendida

estando onde uma mulher andava repetidamente, assim não poderia

reencarnar-se em uma nova geração de focas e serem caçadas e pegadas

novamente. O trabalho de nenhuma mulher pode ser feito na casa enquanto a

foca está lá.

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A visão de mundo do Navaho contém um dualismo básico entre macho e

fêmea que é dinâmico. O céu é masculino e a terra é feminina e quando eles

acasalarem será o fim deste quarto mundo. Os hogans cônicos mais antigos são

masculinos e o tipo confinado redondo é feminino. As estrelas são tanto

macho como fêmea, como também o clima. O universo não existe como

estático, mas é uma série contínua de eventos separados que podem estar sob

o efeito de ações humanas. Cada mundo pulsa a uma conclusão quando é

imediatamente substituído pelo outro. Este dualismo essencial do mundo é

refletido no simbolismo do Hogan, como descreveremos.

Cunningham acredita que a ordem aceita da construção da casa Atoni em

Flores, Indonésia, também exprime um sistema de classificação que implica

contrastes e complementos. Os pares de Atoni, um macho e fêmea, esquerda e

direita, contrastam com múltiplas conotações no simbolismo da construção.

Direita é sul, o lado tradicional da porta, vermelho e bondade. Esquerda é

norte, amarelo e associado com a maldade, com bruxas e “o olho amarelo”. As

atividades masculinas associam-se com a mão direita e as femininas com a

esquerda.

Os Kabyle são um povo Berber que habita nas montanhas de Kabylia, no

nordeste da Argélia. A sua casa tradicional simboliza um número de pares

opostos. O universo é dividido entre o mundo da natureza e o mundo dos

homens, o último entre os campos cultivados e a aldeia, e esta por sua vez,

entre o ar aberto e a casa. Na porta está a divisão complementar entre a

responsabilidade masculina e feminina. Dentro da casa é novamente dividido

entre homem ou cultura, dois terços superiores e terço mais inferior da

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natureza, os animais domésticos, parto, comida e outros procedimentos. Neste

ponto, o processo da divisão começa a inverter-se na medida em que a mulher

usa produtos naturais na porção superior da casa em atividades culturais ou

cozinhar e tecer, e então a posição do marido na sociedade é julgada por estes.

A porta fica de frente para o Leste porque esta é considerada a direção do alto,

o brilhante, o bom e próspero, e Meca. Arar, ceifar e oferecer os sacrifícios

começa de frente para o Leste (Bourdieu, 1970:150).

O marae, a terra de reunião ancestral, e a casa dos Maoris, na Nova Zelândia,

não são habitações pelo centro simbólico de um clã. O sistema dualístico do

tapu estende-se em todas as partes do seu universo para que o marae possa ser

parte de um sistema que inclui também as suas habitações. O Tapu e o seu

complemento noa, profano, são estados relativos da subdivisão crescente. O

par complementar básico é Te Tang ou Céu, o lugar de Deus (agora

Cristianizado). A Noite do Pobre é governada pela Grande Senhora da Noite,

que pranteia o morto mas, também fora da morte traz a vida através da

concepção e nascimento. Estes reinos são imanentes com “o mundo dos

homens” que também complementa Te Rang e Te Po como noa comparado a

sua união com tapu.

A terra fora do composto é noa em comparação com todo o interior. As poucas

construções no interior são noa em comparação com o próprio marae, que é a

terra aberta onde a tribo se reúne. Do mesmo modo esta terra é dividida entre

a maior parte dela e a área imediatamente antes da casa que se encontra, onde

as pessoas idosas se sentam, fazem discursos, e conduzem vigílias. Dão as

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boas-vindas a visitantes progressivamente por discursos rituais de boas-

vindas do lado de fora da porta e por etapas mais e mais perto a esta área. A

própria casa que se encontra é mais tapu do que esta área. Embora

estruturalmente qualquer sala represente o antepassado. Dentro do lado

direito da porta é tapu em comparação com o lado esquerdo. Uma vez bem

vindos, os visitantes são tapu e são permitidos a dormir naquele lado. O

dualismo continua no constante debate dialético, que é a característica das

reuniões do clã no marae, quando as alternativas hipotéticas ao clã proposto,

sendo discutidas e derrotadas com um encerramento progressivo da diferença

de opinião até a unanimidade, são alcançadas. A unidade e o universo são a

harmonia criada pela integração de oposições complementares.

Na Inglaterra do século XX, a casa semi-geminada foi construída como o

relicário da família nuclear, "o mínimo" do matrimônio "Cristão" ideal em

uma era pós-cristã que rapidamente se aproximava. Um dualismo produziu

uma neurose suburbana de esposas isoladas com pouco contato social durante

o dia, em comparação com a vida nos mais antigos subúrbios. O desenho foi

praticamente inflexível para qualquer outra unidade social. A família fica

quase autônoma por causa do balanço interno social nas propriedades, e sem

o modelo desenvolvido de amizades nos subúrbios mais antigos.

Encontramos muitos exemplos nos sistemas mitológicos em que a realidade é

definida contrastando pares complementares de conceitos como macho e

fêmea, direita e esquerda, sagrado e profano. Alguns são absolutos e alguns

relativos, como por exemplo, o maori tapu. Dar o reconhecimento devido a

este aspecto da realidade é possuir aquela realidade em um dos seus trabalhos

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essenciais. Os sistemas de dualismos não são necessariamente interpretações

arbitrais, mas fazem explícito o significado da realidade em uma forma que os

indivíduos possam respondê-la.

3. A Habitação como Contato com o Sobrenatural

A hipótese de que todas as habitações originalmente construídas foram

santuários é suportada pelo fato de que na maioria das culturas o simbolismo

da habitação não só expressa algo da concepção do mundo mas, é o lugar do

contato com o lugar extra-mundano. Isto é realizado pela integração correta

da estrutura nos aspectos sobrenaturais invisíveis do mundo natural. Também

o divino, ou outro no contato com o sobrenatural como os antepassados, estão

presentes e reconhecidos pelos procedimentos corretos, e os poderes malignos

são desviados ou apaziguados.

O chefe zulu colocou a sua cabana circular, auspiciosamente, no lado do curral

onde a luz do sol crescente cruzaria o círculo do curral. Com respeito à tenda

indígena tipi um índio do Black Elk disse:

“Tudo que o Poder do mundo faz é feito em um círculo. O céu é redondo e

ouvi que a terra é redonda como uma bola, e assim são todas as estrelas … As

nossas tendas indígenas foram redondas como os ninhos de pássaros e eles

sempre eram estabelecidos em um círculo, a roda nacional, um ninho de

muitos ninhos, onde o Grande Espírito nos fez incubar as nossas crianças. Mas

os Waischws (os homens brancos) puseram-nos nessas caixas quadradas. O

nosso poder se foi e estamos morrendo …” (Faegre, 1979:152).

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A habitação do aborígine Australiano é o território tribal dado para eles pelos

heróis míticos, que o formaram da massa primitiva. Onde se diz que os heróis

seguiram a pista e acamparam, são agora áreas sagradas. O mito e o ritual

asseguram a integração do super mundo Dreamtime mundano com o

território da tribo. As tribos são divididas em clãs de totem, com locais de

totem especiais que contêm seus churingas, um objeto natural como um

pedaço de madeira ou pedra que pertence a cada indivíduo e escondido em

uma árvore oca ou pedra. Estes locais são tabus a todos, exceto aos membros

do clã. O território é considerado como uma parte integrante subordinada do

Sonhador, uma conexão que é mantida pela repetição ritual das viagens

míticas dos heróis. Os emblemas temporários, como postes sagrados e cruzes

são erigidos ou transportados pela tribo. Os locais sagrados são traçados por

apenas algumas características estruturais como clarear e polir as pedras de

uma área. A tribo de Arunta, chamada Achilpa, transportou um poste sagrado

e, a cada posição, tomava a direção de acordo com as suas vontades. Quando

o poste quebrou, a tribo pranteava e parecia perder a vontade para viver

(Eliade, 1959:33).

A casa masculina está num diâmetro que percorre a aldeia do Bororo do Brasil

e liga o homem e a sua cultura às aldeias do morto como distinção à natureza

em redor. Quando um índio morre, ele é considerado ter sido tomado pela

natureza. Por isso, um animal, idealmente um jaguar, deve ser morto pela sua

pele, garras e colmilhos para compensar a cultura. Pensa-se que o morto perde

a sua identidade pessoal para um estado coletivo de ser, que se divide entre as

duas aldeias do morto, supervisado por dois heróis com instrumentos

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musicais. A casa masculina representa o sacerdote do morto, enquanto as

mulheres e o seu círculo de cabanas representam a vida.

A casa de reunião do Maori marae é considerada o corpo do antepassado, a

ponta sendo a espinha dorsal, a janela é o olho, a porta é a boca, e as tábuas de

empena são os braços (Metze, 1976:230). Aqui, o antepassado dá a proteção e

recebe o morto nas vigílias ou tangihanga. A morte ameaça à vida em uma

escala cósmica e o ritual assegura a transição à morte como o complemento

necessário da vida. Aqui também, nas reuniões chamadas hui, a vida tem “um

lugar permanente para os pés” e um sentido renovado da identidade.

Entre os Ashanti da Ghana central, cada casa tem no pátio, de um metro de

altura, a "árvore de Deus”, um pau com três garfos que apóiam um cabaço de

oferecimentos de vinho ou comida. Isto é para a deidade Suprema, que de

alguma maneira também se manifesta em muitas deidades locais com

santuários construídos como casas de pátio. O Supremo deixou de estar perto

do homem e portanto ele deve ser aproximado pelos deuses menores e os seus

santuários. Um homem é também um produto de sangue de sua mãe, e

espírito do seu pai. A habitação, por isso, é um lugar da adoração não só do

ser Supremo, mas dos antepassados levarem embora o espírito do homem

(Busia, 1954:191f). A forma do pátio é, em parte, influenciada pela necessidade

de reunir a água da chuva que cai nos telhados circundantes. Isto não explica

a origem da forma, mas, possivelmente, há influência romana (Denyer,

1978:164).

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Em muitas culturas, a lareira é sagrada como um modelo do mundo como no

yurt, ou como a presença do Deus. As famílias Brâmanes Indianas reúnem

para orar por fogo como representação de Agni. No Japão, por causa do

antepassado supremo, Kamy Sunchi se manifesta no fogo e nada deve chegar

perto. Deixar o fogo sair é um significado para divórcio. Para o Ashanti, o

fogo é sagrado como a residência dos antepassados. Quando uma morte

acontece, nenhum fogo deve ser aceso até o fim do funeral, quando uma voz

anuncia “o fogo” (Raglan, 1964:78).

Em Hebrides, Escócia ocidental, havia um costume que ilustra uma adaptação

cristã desta idéia. Três blocos de turfa são postos no morto à noite em nome da

Trindade (ibid:75).

O contato com o sobrenatural, combinado com fatores sociais e econômicos,

determina a organização de cidades. Na aldeia Maltesa a igreja da paróquia e

a casa do sacerdote formam o centro, o orgulho e a competição com aldeias

circundantes em festivais e imagens do santo patrono. O melhor quarteirão

residencial está em volta da quadra de frente pra igreja, com famílias cuja

influência derivava da autoridade sacerdotal. Toda a organização, inclusive

um clube de futebol, tem conexões com a igreja, não sendo nenhuma

sociedade realmente mundana, exceto o ramo do Partido de Trabalho, que

significativamente não tem nenhuma propriedade própria. As ruas perto da

quadra têm as casas daqueles suficientemente devotos na assistência regular

na Missa a serem aceitos como bons Católicos. Nos arredores tendem a viver

os menos ativos ou quem rejeita a autoridade da Igreja. A lealdade é mostrada

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abrindo a casa à visita de parentes e pela cor que lava as paredes e expõe nova

mobília ou aparelhos na sala dianteira (Boisserain, 1969:67f).

Uma cidade do Amazonas denuncia um layout semelhante centrado em torno

da igreja na terra mais alta perto do cais, acesso que é tradicionalmente feito

somente pelo rio. Como o sacerdote só visita, sendo um estrangeiro, a

liderança recai nas associações santas locais e a mestra da escola. A principal

quadra é exposta com um modelo geométrico de caminhos e padrões de

lâmpadas ornamentais no salão de baile da igreja para festivais santos. As

casas em volta da quadra e na terra à margem da água são “da alta sociedade”

que são da linhagem colonial Portuguesa. A maior parte dessas famílias,

também chamadas “a primeira classe” ou “os brancos”, mudaram no início do

século XX. A seguinte classe social é de gente da linhagem do mulato

misturada com outras raças, cujas casas são de qualidade inferior. A seguinte

linhagem social é de dar golpes e queimar agricultores perto da cidade. "Os

mais baixos" são “os rústicos da borda da água” (caboclos da beira), coletores de

borracha, madeira e nozes, que vivem em cabanas de folhas em grupos

isolados ao longo da região. A coesão social é mantida, em parte, por toda a

visita dos festivais da igreja da cidade, onde as pessoas vão de canoa.

Mas também cada casa ou cabana terá o seu santuário: alguns grandes

espaços decorados como uma igreja com portas, ou somente uma prateleira de

esquina. Aqui são colocadas imagens de santos, tanto Católicos como os

outros da origem Afro-Americana. A devoção é principalmente por conta das

mulheres, que conduzem a reza à Virgem e os mais educados assistem ao

catecismo. A cidade e a sua região são estruturadas em torno da igreja, mas a

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devoção ortodoxa é estratificada em paralelo com a posição econômica

(Wagley, 1953).

Em Tamil, ao sul da Índia, a cidade de Srirangam demonstra como o Hindu

realmente não tem uma área profana em um ambiente urbano. Há oito

festivais anuais e quase duzentas celebrações locais e procissões. “A esfera

sagrada não é separada do verdadeiro mundo, mas constitui a sua natureza

intrínseca. Os festivais urbanos, por isso, não são uma glorificação da forma

de força sobrenatural de outro mundo, mas uma confissão eufórica ou

sociedade urbana… uma expressão da alegria comum de viver” (Pieper,

1981:121).

A procissão principal é de uma pequena versão portátil de carros romanos

pesados carregando o deus-ídolo em torno do padrão retangular das ruas.

“Os cursos das procissões são a chave da compreensão da arquitetura e

espaço urbano, tão essencial que as qualidades centrais como configuração da

rota, desenvolvimento das casas, orientação e valor das construções são

subordinadas à necessidade técnica dos festivais” (ibid). Assim, o modelo

retangular das ruas, a sua largura, e, quem vive nelas e as aléias de corda nas

curvas – para puxar os carros romanos – são determinados pelos festivais. Isto

é feito embora a mesma tecnologia fosse capaz de um método menos

laborioso. “Portanto periodicamente os festivais ocasionam as conexões

verdadeiras e imaginárias do sistema espacial, social urbano, os conceitos dos

valores e ordem, assim fazendo-os fisicamente perceptível” (Pieper, 1981:126).

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O caso da cidade Hindu ilustrou que o alinhamento geográfico é importante

para a habitação ser um ponto de contato com o extra-mundano. A casa

Tailandesa normalmente tinha a sua porta e a plataforma no lado do sul, e o

quarto de dormir, “a grande casa”, na extremidade norte. O Oeste é a direção

menos auspiciosa e a cozinha e o lavabo estão naquele lado, mas nunca a área

de dormir. O lado oriental é o mais auspicioso; O Buda é guardado em uma

prateleira na parede do Leste, e os familiares dormem no lado Oeste. O Norte

é também favorável então o homem da casa dorme na esquina ao nordeste.

Abaixo “da grande casa” é guardado o Búfalo, o único animal “com a essência

espiritual” e considera-se que ele é um da família, descansando nos Sabbaths e

é morto só em festivais. Guardá-lo em qualquer lugar, embaixo “da grande

casa” com os instrumentos de cultura humana é considerado má sorte

(Tambiah, 1973).

A localização da casa Japonesa é importante para a proteção. Junto com a

importação do Taoísmo Shin antes no século XII veio o sistema Hogaka da

astrologia, que situa a habitação segundo “o Portão do Vento”, sudeste, e “o

Portão do Céu”, noroeste. Em Housku, o depósito de valores da família está

na esquina noroeste do local. Em Suye Mrra, a pedra ou pequena casa do deus

local está situada lá. Considera-se errado construir "em cima", que é ao norte

da casa, a qual é colocada com as suas costas ao noroeste, que é a direção da

“Porta do diabo”. Pensa-se que a influência do mal flui através do local à “Má

Porta do Espírito”. Em alguns distritos as pessoas pensam que um poder

espiritual não cooperativo pode flanquear esses planos.

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Por isso, as casas são de frente para o sul e todas as outras construções são

guardadas ao sul independente da direção do vento. Em Housku muitas

vezes os animais estão situados na direção da posição dos animais do zodíaco.

Lá a casa deve ser considerada como “um campo cerimonial” e os conjuntos

das janelas e as telas são vendidos com bússolas e diagramas da melhor

localização no Japão moderno (Fawcett, 1980:54).

O japonês diz que “a casa de um homem é cheia da gente mesmo quando este

está só” (Embree, 1946:183). Considera-se que os antepassados e vários deuses

da casa ficam juntos na habitação vazia. Por exemplo, a cozinha tem dois

deuses representados por ídolos com flores frescas. Na entrada do banheiro

há uma apologia para não perturbar os deuses, e bonecas são deixadas para os

deuses brincarem. O centro da devoção é o Butsudan Budista, um guarda-

relíquias: o Tokonoma Shintoísta e o Kamidama em um poste acima dele. Em

Suye, o culto da Amida dominante tem uma imagem doméstica, orações que

são oferecidas antes dela. Os oferecimentos diários de duas xícaras do arroz e

uma de chá são feitos antes de ambos os relicários religiosos. Pensa-se que os

antepassados habitam o Butsudan e as portas ficam abertas para eles

participarem de eventos especiais de família. O mestre e a ama da casa

dormem no chão atrás deles.

De mesmo modo, na Índia, o composto do Brâmane é dividido segundo os

quadrantes da bússola. A casa deve estar no nordeste ou para o sudoeste. O

Oeste da casa é para dormir, o norte para cozinhar e os outros dois lados para

visitantes. Os estábulos estão situados ao sudeste (Raporport, 1969:58). Na

Índia central, um astrólogo encontra a direção do Shesh Nag, a serpente

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mundial, e põe o primeiro tijolo como uma defesa contra terremotos (Raglin,

1964:20).

Os Atonis vivem na região montanhosa do Timor Leste. A sua concepção de

mundo considera o número quatro representando uma unidade que é

repetida de várias formas na estrutura da casa, relacionada aos pontos

cardeais da bússola. “De uma forma, a casa do Atoni é um modelo do cosmo”.

Contudo, é mais do que simplesmente um análogo do universo, ela está

integrada dentro dele. (Cunningham, 19654:220). Ele faz isto protegendo-se do

sol e do céu oferecendo uma mediação harmoniosa do homem aos poderes

existentes.

A tradicional casa Judaica costumava ser orientada a Jerusalém pela placa

Shiviti no lado oriental do quarto principal. Ele compõe-se de uma oração em

Hebraico e armações de cobre. Outras paredes são levantadas com quadros de

paisagem Palestina ou vida selvagem, Jerusalém, Rabinos famosos ou líderes

Bíblicos. A cozinha ortodoxa tem duas áreas de preparação alimentar, para

produtos de carne e leite (Êxodo 23:19). O ensinamento das leis alimentares

Kashrut às filhas é parte do ritual do lar (Bialer:57). A casa judaica não era

apenas orientada à Palestina, mas a proteção do espírito maligno foi

necessária porque ele foi a instituição-chave para levantar filhos a Abraão. As

famílias influentes podem ter o Rolo de Papel da Lei trazido e orações

especiais eram feitas no momento do parto. Colar de papéis com Salmos 121 e

20 ou os nomes de demônios principais nas paredes, ou amuletos com orações

em hebraico e votos para dar esmola, e dava proteção (Bialer, 62).

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Raglan cita o estudo de Braun ‘a História da Casa Inglesa’ onde a maior parte

das características das casas foi copiada de palácios mais antigos. O ocupante

da casa semi-geminada nunca era da camada independente da sociedade e, a

sua relação com o transcendente foi através de instituições “do

estabelecimento”, da Igreja da Inglaterra ainda dominante, "ciência" com seus

aplausos populares no sem fios, e a retidão essencial do Império Britânico. A

participação pessoal foi pelo consentimento com leitura de jornal e o

envolvimento temporário com Exército ou Igreja, etc. O espaço sagrado foi a

ilha da Grã-Bretanha com a sua hierarquia social singular. Dentro deste

espaço sagrado nacional esperou-se que todo mundo fizesse o seu dever de

manter o exemplo do líder local como um relicário às virtudes e valores da

família nuclear, dando às crianças “um bom início de vida”, e realização da

ética do trabalho Protestante.

Na terra do Nepal, o colonialismo Indiano do Kathmandu, Bhaktapur e Patan,

no século XII, deixou exemplos das capitais Hindus planejadas. O resultado é

uma sociedade estratificada com distintas, ou até hostis, comunidades em

partes segregadas da cidade. Esta divisão do espaço da cidade restringiu a

revolta no passado e força a atual idéia proscrita de "intocabilidade", e os

festivais Hindus consomem os bens excedentes de todos, principalmente da

gente mais rica (Pieper, 1975:68).

O pensamento Hindu traz o sagrado ao profano para ajudar a eliminação

individual do Karma e proteger da maldade. O mundo é dividido em anéis

concêntricos. O anel externo é o desconhecido com a expansão do universo,

interno é o anel da área natural com uma medida de ordem artificial na

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agricultura. Então, além disso, em volta da cidade são os terraplenos, uma

defesa contra maus espíritos bem como inimigos, onde, inclusive, o morto é

cremado. Em volta de Bhaktapur há oito relicários à deusa mãe, Makrikas,

escondidos em bosques. O centro final da ordem do mundo é o ambiente

artificial da cidade e por isso uma ordem metafísica imposta na natureza.

Dentro do centro dessas três cidades há também a proteção do modelo

geométrico de acordo com o Mandala. Os cânones para esta aplicação ao

planejamento da cidade são estabelecidos no Vastu Sastras do qual o Manasara

concerne três cidades Nepalesas (ibid, 55). Viver em uma cidade planejada,

conseqüentemente, é considerado vantajoso ao Hindu, quanto o uso do

Mandala na meditação. O Mandala para Bhaktapur compõe-se de quatro

triângulos que apontam para baixo representando as fases do universo da

manifestação e cinco pontas para cima indicando o regresso à unidade. O

triângulo central é representado pelos três templos dos deuses Ganesh e a área

de Brâmane circundante. Outras castas são organizadas em volta disto

segundo a hierarquia Hindu. O modelo ideal tem quatro portas nos pontos

cardeais da bússola com uma cruz das estradas principais alinhadas pelas

estrelas. O Kathmandy foi reorganizado em torno de 1570 com uma grade

regular, com uma via comercial diagonal que o cruza. Nas intersecções há

templos e pagodes (Pieper, 1975:55).

Patan, a terceira cidade, tem um modelo de uma estrela de seis pontas dentro

de um círculo, com uma cruz de rotas principais que liga NNE-SSW e WNW-

ESE e templos fora da cidade como os seus pontos de dado e um quinto no

centro. Para o Hindu, a cidade deve ser um microcosmo bem como o contraste

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metafísico artificial para a natureza a estar integrada ao universo e, assegurar

a proteção do mal (Pieper, 1975).

A casa Kabyle, anteriormente descrita, simboliza a sociedade de matrimônio.

Os oferecimentos são feitos ao pólo de espinhaço e em volta dele é enrolado "o

guardião" da casa, uma cobra (Bourdieu, 1986:139).

A cultura Dogon do Mali implica planos antropomorfos a aldeias e casas.

Segundo o mito, o cosmo foi criado de algo infinitamente pequeno, então a

habitação, ou a aldeia, é idealmente ovóide. A área de reunião na parte do

norte do oval representa o céu primitivo. O ovo cósmico sofreu sete vibrações

que produziram a figura humana, a primeira e a sexta produziram as pernas

etc. Esta figura produzida foi o filho do Deus, prefigurando o ser humano em

torno do que toda a criação seria organizada. Portanto o homem não é tanto a

imagem de Deus como a imagem do universo. Portanto a cabana de reunião

no fim do norte da aldeia é "a cabeça". As casas de família são o peito, e duas

alterações no centro os genitais. Além disso, alterações na extremidade do Sul

são "os pés". As cabanas das mulheres a Leste e Oeste são "as mãos" (Griaule e

Dieterlen, 1954:96).

A casa Dogon também tem múltiplas significações. É oval com a cozinha ao

norte. A forma geral representa a placenta primitiva ou alternativamente a

cabeça e os pés do filho do Deus. As pedras da lareira são "os olhos", a sala

principal "a barriga", o lavabo os seus “quadreis” e as despensas de lado os

seus "braços".

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A aldeia de Pawnee em Oklahoma é colocada para representar constelações

de estrelas e o alojamento terrestre simboliza o homem como terrestre, as

paredes os limites do mundo conhecido, o telhado o céu com o buraco de

fumaça como a habitação do Grande Poder invisível (Raglan, 1964:138).

Em Madagascar, a casa é dividida em doze, segundo os doze meses, com usos

diferentes. A porta é de frente para o Oeste, já que esta é a direção principal e

as pessoas se consideram como “aqueles que estão de frente para o Oeste”. A

esquina do Nordeste é a mais sagrada onde os visitantes são entretidos, o

relicário do antepassado fica na ponta norte. As camas estão no distrito

oriental de Nova York, mas com as suas cabeças ao norte (Raporport, 1969:55).

A casa Hogan poligonal tem só aproximadamente cem anos mas ela ajusta o

simbolismo do Índio Navaho melhor do que a versão cônica mais adiantada.

A terra e o céu são considerados o macho e a fêmea com as suas cabeças ao

Leste, as mãos e pés tocando as montanhas que definem o território Navaho.

A visão do Navaho de espaço é dinâmica para que as relações, e não a

estrutura, sejam importantes. A lareira no centro representa o buraco na terra

da qual os homens se originaram. O buraco no telhado é o zênite. O homem

tem o impacto na natureza pelos seus pensamentos e ações tão corretos dentro

do Hogan, como mover apenas no sentido dos ponteiros do relógio em volta

da lareira para seguir o curso do sol é essencial. Os homens sentam-se no sul,

de frente para o norte e as mulheres no norte de frente ao sul. As cerimônias

de cura implicam um desenho de areia na lareira representando o mundo, o

paciente posto nele é dito confrontar o mundo (Prixten, V. Dooren e Harvey,

1983:9-76).

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O Yurt é usado do Cáspio à Mongólia em várias formas. Ele é uma estrutura

de madeira redonda coberta com lona; Na Mongólia, o buraco de fumaça no

centro do telhado formado "por uma coroa" de madeira estrutural é “o olho

do céu”, e o telhado inclinado de oito camadas dos sentidos representa o céu.

Um Mandala é formado do círculo do tripé de fogo, o quadrado das pedras da

lareira, e o círculo das paredes. Considera-se que esses representam um

quadrado “das quatro esquinas da terra” e um círculo do universo

circundante. Portanto o Yurt é o centro do mundo da Mongólia e até o seu

pote de cozinha está integrado ao universo. A lareira é um microcosmo de

cinco elementos básicos. O chão é "a terra", a armação em volta "da madeira",

o “fogo” como si mesmo, o tripé representa “metal” e "água" na caldeira

(Faegre, 1979:93).

Vimos nos exemplos citados de que a habitação pode ser o lugar do encontro

com o transcendente. Isto se dá integrando-o no mundo como ele é entendido

para estar em termos mitológicos. Isto é muitas vezes mais basicamente

usando fatos naturais como os pontos cardeais e a direção do nascer do sol

mas, entendido segundo o mito. Acrescentadas são direções especiais e

contraste do ambiente artificial com o natural. Especialmente em muitos

sistemas está o recriar de um microcosmo da habitação usando a estrutura

funcional como analogia à cosmologia ou pela modificação seletiva especial

da estrutura para representar parcialmente elementos do mito. O homem

sente a necessidade de fazer o centro da sua vida uma parte da imagem

mental do mundo que ele tem, imitando-o, estendendo o mundo para dentro

e na miniatura ou pela representação simbólica da significação invisível do

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mundo. A sociedade está integrada na compreensão metafísica e instruída

nela.

A sociedade não é só a parte do mundo com os seus poderes ocultados

controlados ou feitos favoráveis, mas também é feita para participar no mito

contínuo, não só vivendo dentro da sua representação, mas por ritos

especializados que mantêm o sistema, e a habitação como o centro do mundo

mitologizado.

Conclusão: A Habitação Sagrada

Esta variedade de aproximadamente trinta exemplos desconexos de diversas

partes do mundo demonstra que a habitação, com os seus arredores artificiais,

é essencial à expressão da auto-identidade de uma sociedade. Embora esses

exemplos não representam a maioria das habitações humanas, eles são

suficientes para estabelecer pelo menos uma tendência que é universal, de que

a habitação não é considerada apenas em termos utilitários mas também como

um mecanismo cultural para relacionar os seus habitantes socialmente e

metafisicamente ao mundo.

Outras construções, onde elas existem dentro de uma cultura, especializam-se

na expressão de um ou vários aspectos da visão da sociedade e do mundo.

Mas a habitação, como o foco da vida da família nuclear ou estendida,

relaciona todos os aspectos da vida em conjunto – nascimento, educação,

trabalho, matrimônio, alimento, descanso, recreação e morte – como uma

participação no cosmo material e imaterial.

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A habitação é a forma normal da socialização do indivíduo e também a

contribuição do indivíduo para a manutenção dos valores e as visões da sua

sociedade. Isto pode ser feito pelo contraste, como no caso do Judeu, por

exemplo, com a cultura circundante. Isto foi provavelmente verdadeiro na

cultura Dong Son separada da sua terra de origem. Os Índios de Iroquês e

Navaho também fizeram um contraste não só entre eles com o hogan e

longhouse respectivamente, mas também com outras tribos tipi. A sua visão da

história étnica e identidade associa-se com a habitação.

Uma função importante da habitação na socialização é a inculcação de

relações de afinidade pela diferenciação do espaço. A habitação quase em

todo lugar é o relicário do processo de procriação entre um homem e uma

mulher, até em sociedades polígamas. As relações derivadas são do mesmo

modo articuladas por graus de privacidade e limiares. A habitação integra a

família na sociedade e a sua concepção do mundo prevalecente.

O ser humano é relativamente “inacabado", em comparação com outros

animais em sua natureza biológica que não o equipou na hora do nascimento

com um modelo de comportamento instintivo. O homem tem de produzir um

mundo governado por ele. “Só em tal mundo produzido por ele é que pode

localizar-se e realizar a sua vida” (Berger, 1967:6). Assim, a habitação como

sendo a casa da criança é todo instrumento de envolvimento "do acabamento"

da socialização do indivíduo. Isto é igualmente verdadeiro em crenças

religiosas especialmente se isso representar uma subcultura dentro de uma

cultura cada vez mais secular ou pluralista.

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A integração tanto com a natureza como os seus poderes com o sobrenatural é

realizada pela habitação porque se considera que estes são acessíveis pela

habitação e a vida dentro dela preenche as obrigações da pessoa. O contato

primário pode ser por causa da família e sua lealdade ou por causa de alguma

característica da estrutura, como a lareira. Na maior parte das culturas, a

habitação acaba sendo o ponto de mediação do cidadão com o transcendente,

e não as construções religiosas especializadas.

Contudo, também encontramos que aquela integração espacial com o

sobrenatural é necessária, mais do que observar somente o ritual etc. dentro

da casa. As casas judaicas, muçulmanas e Dong Son têm a sua orientação a

determinadas posições por razões históricas. As cidades Hindus e as casas

Japonesas são orientadas segundo as atitudes mais propícias. As casas

Tailandesas e Atoni e a aldeia Bororo são determinadas em relação ao sol.

A atividade humana em relação ao sobrenatural é muitas vezes definida em

termos dualísticos explicitamente ou implicitamente representados na

diferenciação do espaço pela habitação, separação das relações ou funções de

diferentes salas ou lados da lareira. Também no contraste do interior e

exterior, tornando a entrada e a saída da habitação atos de afirmação de

valores sociais e também muitas vezes religiosos. O Kabyle, Atoni e o Maori

fazem esses contrastes explícitos, e, parte do ritual da vida.

Onde há uma cosmologia mitológica desenvolvida, esta muitas vezes é

refletida na consideração da habitação como um microcosmo do universo.

Viver corretamente é fazer da vida dentro da habitação uma miniatura do

papel da humanidade dentro do mito e manter a boa ordem do cosmo. O

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sobre-humano é trazido à escala humana para que possa haver resposta

humana correta para ele. A habitação, em sua função utilitária, é construída à

escala humana, e por isto o mundo também se torna a habitação do homem.

A casa como um símbolo e um sistema de símbolos é um produto da

externalização da visão da sociedade no mundo e se torna o significado chave

à sua internalização nas mentes e comportamento dos membros da sociedade

(Berger, 1967:15). O objetivo é a harmonia entre o pensamento e a vida do

homem com o mundo que o confronta. A habitação é a ponte entre os mundos

mental e empírico. Esta relação pode ser de idealmente simbiótica (Raporport,

1969:75).

O estudo mostrou que a função primária da habitação não é facilmente

decidida entre a prática e o cultural. A forma como as necessidades práticas

são preenchidas é decidida por considerações culturais. A quantidade de

cobertura e abrigo não é determinada completamente por circunstâncias

climáticas.

Do mesmo modo, a ingenuidade humana pode produzir estruturas muito

diferentes de materiais semelhantes. A justaposição de casas redondas e

retangulares no Zaire, por exemplo, significa que uma tradição pode

continuar sem justificação utilitária. Os materiais do Kabyle e casas Atoni

podem produzir habitações redondas. O simbolismo e a orientação aos pontos

cardeais confirmam a forma retangular. Igualmente, os carros romanos de

festivais Hindus têm de ser virados através de um ângulo certo embora uma

curva fosse possível. Raporport definiu um fator de criticalidade entre as

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exigências ambientais e a variedade de escolhas de desenhos que são de fato

feitas segundo os fatores sócio-culturais. Mas até à maior parte das estruturas

utilitárias ainda pode ser dado um significado cultural e simbólico. Muitas

características sofreram uma modificação da interpretação com a alteração

política e social.

Uma habitação fornece um grau definido de controle ambiental que faz uma

diferenciação do espaço dedicado à menor unidade social para participar da

ordem social e cósmica da sua sociedade. A programação cultural é muito

importante para o homem (Geertzl, 1966:7), um sistema de símbolos torna a

vida com sentido, trazendo coisas de significado universal a estarem

integradas no particular e privado.

Isto resulta nos imperativos da conduta humana estando embutida no

indicativo das coisas, como a habitação. O "dever" é encontrado no "ser". O

resultado é que a habitação se torna um modelo dedicado ou sagrado, não

apenas da realidade cósmica, mas também se torna um modelo para a

realidade cósmica (Geertzl, 1966:8). O homem não apenas constrói a casa,

mas também a habitação constrói o mundo do homem.

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