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Ana Raquel Leite Guedes Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto, 2012

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Ana Raquel Leite Guedes

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências da Saúde

Porto, 2012

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Ana Raquel Leite Guedes

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências da Saúde

Porto, 2012

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Ana Raquel Leite Guedes

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Projecto de graduação apresentado à Universidade Fernando Pessoa

como parte dos requisitos para obtenção do grau de

Mestrado em Medicina Dentária.

___________________________________________________

Universidade Fernando Pessoa

Faculdade de Ciências da Saúde

Porto, 2012

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Resumo

A saúde oral é parte integrante e essencial para a saúde geral, sendo um factor

determinante para a qualidade de vida. Assim, só existe um pleno estado de saúde,

sempre que a cavidade oral se encontra ausente de enfermidades. Os desequilíbrios

nutricionais possuem efeitos sobre o desenvolvimento dentário durante o período de

formação, e pós-erupção, condicionando assim directamente a qualidade de vida da

criança. Desta forma, o excesso de ingestão de certas substâncias podem ser factores de

risco para a saúde, de tal modo que a diversidade na alimentação é extremamente

relevante a fim de garantir a satisfação das necessidades do organismo. Os membros

familiares exercem grande influência sobre o processo de educação das crianças, no que

respeita a aquisição da bagagem social, cultural e educacional. No entanto, estudos

revelam que a figura materna revela um papel de maior destaque no cuidado à saúde dos

seus filhos, visto ser responsável pelas rotinas e higienização da criança. Ao longo deste

trabalho foi possível observar patologias orais que têm como principal influência a

ingestão de determinados alimentos ou bebidas. Contudo verificou-se que o grau de

escolaridade dos encarregados de educação tem efeito sobre a selecção de alimentos,

bem como conhecimentos e atitudes sobre a saúde geral e oral da criança.

Palavras-chave: crianças; hábitos alimentares; factores socioeconómicos; saúde oral;

cáries dentárias.

Abstract

Oral health is an integral and essential to overall health, being a key factor in the quality

of life. Therefore is only a full state of health, when the oral cavity is absent from

illness. The nutritional imbalances have effects on tooth development during the

training period, and post-eruption, thus conditioning directly the quality of life of the

child. Due to the excessive intake of certain substances can be risk to health problems,

so that diversity in the supply is extremely important to ensure meeting the needs of the

organism. Family members have a great influence on the process of educating children,

as regards the acquisition of social baggage, cultural and educational. However, studies

show that the maternal has shows a greater role in health care for their children, since it

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

is responsible for cleaning routines of the child. Throughout this work we observed that

oral diseases have as their main influence eating certain foods or drinks. However, we

found that the degree of education of the guardians has no effect on the selection of

foods, as well as knowledge and attitudes about health and oral health of children.

Keywords: children; dietary habits; socioeconomic factors; oral health; dental caries.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Dedicatória

Ao meu pai, por todo o esforço, dedicação, e por acreditar em mim ao longo de todos

estes anos de estudo.

A toda a minha família próxima, mãe, irmão, por todo o carinho, compreensão e apoio

nos momentos mais difíceis.

A uma das pessoas mais importantes da minha vida, que não está presente, mas que

estará orgulhosa de mim, a minha avó.

Ao meu namorado, pela pessoa magnífica que é, pois sempre me acompanhou e

aconselhou, tomando para comigo atitudes inesquecíveis.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

Agradecimentos

A toda a minha família que me acompanhou neste intenso percurso, pela paciência,

motivação e dedicação, essencialmente ao meu pai por tudo que sempre fez por mim,

orgulhando-me dele por ser como é para com os seus.

À minha orientadora, Profa Doutora Raquel Silva, pelo empenho, dedicação e

orientação. Um muito obrigado por me fazer compreender a verdadeira relação entre

estas duas grandes áreas da Medicina.

Ao meu namorado e à sua família, essencialmente aos seus pais por, na hora certa me

transmitirem a força, o carinho e o incentivo, que me ajudaram a chegar até aqui.

À Da Fernanda, pela pessoa e amiga que é e por ser um elemento inesquecível da

Universidade Fernando Pessoa. Ajudou-me, ouviu-me, prestou-se sempre disponível e

não poderia deixar esta Instituição sem lhe agradecer.

À minha madrinha Catarina pelo auxílio em todos os momentos, pela motivação,

carinho e todas as demais atitudes proporcionadas por esta.

A todos os Docentes de Medicina Dentária, da Universidade Fernando Pessoa, que me

acompanharam, motivaram e ensinaram tudo aquilo que sei até à data.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

i

Índice

Índice de Quadros .......................................................................................................... iii

I. Introdução ................................................................................................................ 1

II. Material e métodos .................................................................................................. 3

III. Desenvolvimento ...................................................................................................... 4

1. Hábitos Alimentares ............................................................................................ 4

1.1. Alimentação infantil ....................................................................................... 6

1.1.1. Energia .................................................................................................... 9

1.1.2. Hidratos de Carbono ............................................................................. 10

1.1.3. Substitutos dos açúcares ....................................................................... 12

1.1.4. Proteínas ................................................................................................ 13

1.1.5. Minerais ................................................................................................ 14

1.1.5.1. Cálcio ................................................................................................ 14

1.1.5.2. Zinco.................................................................................................. 15

1.1.5.3. Ferro .................................................................................................. 16

1.1.6. Vitaminas .............................................................................................. 16

1.1.6.1. Vitamina A (Retinol) ......................................................................... 16

1.1.6.2. Vitamina B2 (Riboflavina) ................................................................ 17

1.1.6.3. Vitamina C (Ácido Ascórbico) ......................................................... 17

1.1.6.4. Vitamina D (Colecalciferol, ergosterol) ............................................ 18

1.2. Cariogenicidade dos Alimentos ................................................................... 19

1.3. Propriedades físicas dos alimentos ............................................................... 20

1.4. Alimentos que podem melhorar o estado da Saúde Oral ............................. 21

1.5. Alimentos e bebidas que podem prejudicar a cavidade oral ........................ 22

2. Relação da nutrição com o desenvolvimento dentário ................................... 24

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

ii

3. Factores Socioeconómicos ................................................................................. 26

3.1. Experiência e escolaridade do Encarregado de Educação ........................ 30

4. Saúde oral ........................................................................................................... 32

4.1. Higiene Oral ................................................................................................. 36

4.2. Flúor ............................................................................................................. 39

4.3. Cárie Dentária .............................................................................................. 42

4.3.1. Hospedeiro ............................................................................................ 44

4.3.2. Dieta ...................................................................................................... 45

4.3.3. Placa bacteriana .................................................................................... 46

4.4. Cárie Precoce da Infância ............................................................................. 46

4.5. Erosão dentária ............................................................................................. 48

4.6. Patologias periodontais ................................................................................ 50

4.7. Estomatite Aftosa Recorrente....................................................................... 51

5. Recomendações .................................................................................................. 52

IV. Conclusão ............................................................................................................... 56

IV. Bibliografia ............................................................................................................ 57

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

iii

Índice de Quadros

Quadro I- Factores individuais de risco de cárie dentária (Programa Nacional de Saúde

Oral, 2005).

Quadro II - Doses recomendadas de suplementos dietéticos de flúor. A dosificação dos

suplementos de flúor varia de acordo com a concentração de F- da água ingerida, bem

como a idade da criança (American Academy of Pediatric Dentistry, 2008a)

Quadro III – Alimentos e bebidas com potencial de originar erosão dentária

(Moynihan, 2005).

Quadro IV- Alimentos e bebidas com pouco ou nenhum potencial de originar erosão

dentária (Moynihan, 2005).

Quadro V- Síntese de aconselhamento dietético preventivo (Kramer et al., 1997).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

1

I. Introdução

A saúde oral, a par dos bons hábitos alimentares das crianças são essenciais para uma

melhor qualidade de vida. Para tal, é necessário um cuidado acrescido dos respectivos

pais ou encarregados de educação (Costa et al., 2008).

Segundo Viana et al. (2008), para além da importância do ambiente familiar na

aquisição de conhecimentos, valores e práticas próprias, é de igual modo relevante o

meio escolar numa aprendizagem activa, levando à aquisição de outros conhecimentos e

comportamentos, sendo todos estes fontes de influência ao meio ambiental da criança.

A cavidade oral tem uma grande afinidade em relação à vida diária, como a ingestão de

alimentos, a fala, o contacto social, bem como a aparência. Deste modo, uma pobre

saúde oral tem um forte potencial de prejudicar a qualidade de vida das crianças. Uma

condição dentária que causa dor poderá levar a uma menor ingestão de alimentos, e

consequentemente piorar o estado nutricional (Jürgensen et al., 2009; Tinanoff et al.,

2009).

A dor e/ou desconforto causada por patologias orais ou alterações das condições

dentárias entre crianças com um baixo nível socioeconómico pode ter um efeito

negativo sobre o benefício integral de educação das crianças, tais como,

desenvolvimento da fala ou até mesmo aceitação social durante a fase da adolescência,

podendo ser prejudicial para capacidade de estabelecer relações sociais (Costa et al.,

2008; Jürgensen et al., 2009; Tinanoff et al., 2009).

A infância é um dos ciclos da vida que fornece condições ideais para a implementação

de bons hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis, que se repercutem a longo

prazo. Desta forma, os factores de risco devem ser avaliados para que possam ser

identificados para intervenção e prevenção (Mahan et al., 2010).

A colaboração dos pais, bem como dos restantes membros da família no processo de

educação das crianças, têm uma grande influência na aquisição da bagagem social,

cultural e educacional. Contudo, a figura materna revela um papel de maior destaque no

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

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cuidado à saúde dos seus filhos, visto ser responsável pelas rotinas de higienização da

criança (Campos et al., 2010).

A alimentação tem um papel fundamental na satisfação das necessidades biológicas e

energéticas inerentes para um bom funcionamento do organismo. Contudo, o acto

comer também desfruta de uma fonte de prazer, de socialização e de transmissão de

cultura. Para qualquer indivíduo, seja criança, adolescente ou até mesmo adulto, ter uma

alimentação saudável não é apenas ter acesso a bens alimentares, mas também é

necessário seleccionar os alimentos de forma e quantidade, adaptando-se às diferentes

necessidades no percurso das diversas fases da vida.

O objectivo geral do trabalho foi analisar o impacto que os hábitos alimentares podem

ter na qualidade da dieta e na saúde oral das crianças, relacionando o seu estado

socioeconómico, com a escolaridade dos responsáveis, assim como, estilos de vida dos

mesmos.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

3

II. Material e métodos

A pesquisa bibliográfica foi elaborada com base em artigos científicos publicados nos

últimos 5 anos, na PubMed, MedLine, SciELO e B-on, com as seguintes palavras-

chave: “children”, “dietary habits”, “socioeconomic factors”, “oral health”, “dental

caries”, contudo foram utilizados artigos de anos anteriores com relevância para o

projecto. Do cruzamento das respectivas palavras-chave, nos últimos 5 anos, resultaram

13 artigos, dos quais 7 foram revistos. Porém, em pesquisas científicas paralelas, foram

encontrados 43 artigos com interesse significativo para a elaboração do trabalho. Os

artigos não revistos do cruzamento das palavras-chave, deveu-se ao facto de não se

encontrarem disponíveis.

Em complementaridade foram utilizados livros da Biblioteca da Universidade Fernando

Pessoa e da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto. Foram revistos

15 livros específicos nos seguintes temas: cariologia, odontopediatria, saúde oral,

nutrição e desenvolvimento da criança.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

4

III. Desenvolvimento

1. Hábitos Alimentares

A alimentação é um factor crucial para a qualidade de vida da criança, uma vez que

afecta directamente a actividade física e social, a capacidade de aprendizagem, o

raciocínio, assim como a comunicação.

As escolhas alimentares são um conjunto complexo, dinâmico e multifacetado, com

uma grande influência por parte dos sistemas de socialização que, consequentemente, se

podem vir a manifestar a curto ou longo prazo para a saúde (Rossi et al., 2008).

Segundo Viana et al. (2008), para uma alimentação saudável e adequada, é necessário

que todos os grupos de alimentos estejam presentes. Assim, uma alimentação adequada

deve fornecer água, hidratos de carbono, proteínas, lípidos, vitaminas, fibras e minerais.

Existem factores externos e internos que influenciam directamente os hábitos

alimentares. Os factores externos são constituídos por factores socioculturais,

relacionados com tradição de cada região, o estilo de vida seleccionado por cada família

que leva a uma diversificação dos produtos alimentares, a disponibilidade económica na

aquisição de bens alimentares, bem como a publicidade alimentar, que na maior parte

das vezes persuade os indivíduos pelo aspecto sugestivo dos produtos. No entanto, os

factores internos relacionam-se com factores fisiológicos, ou seja, as necessidades de

cada indivíduo, factores sensoriais (textura, cor, cheiro e sabor) e factores psicológicos,

catalogados como os valores, crenças, hábitos, atitudes dependentes da família e do seu

estilo de vida (Carvalho, 1995 cit. in Santos, 2005).

De acordo com Facci (2004), o conteúdo e a motivação da criança são determinados

pela sociedade, uma vez que as actividades dominantes da criança reflectem-se como

elementos da cultura humana.

Os correctos hábitos alimentares contribuem para fornecer energia com o intuito de

promover o crescimento e desenvolvimento, aumentando a capacidade de resposta

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

5

imune para reduzir a susceptibilidade de doenças crónicas, beneficiar a capacidade

mental e favorecer aptidões escolares necessárias.

Actualmente, as crianças têm uma frequente ingestão de açúcares e hidratos de carbono

(sumos de fruta e bebidas ácidas) que, conjuntamente com um contacto prolongado nas

superfícies dentárias são factores de risco cruciais para o desenvolvimento da cárie

dentária (American Academy of Pediatric Dentristry, 2008b; Mobley et al., 2009).

No entanto, estudos revelam uma associação significativa entre cárie dentária nas

crianças e o consumo de bebidas doces à noite, consequência da cariogenicidade dessas

mesmas bebidas, durante o período de descanso, uma vez que o metabolismo orgânico é

diminuto. Concomitantemente, outros estudos mostraram associações significativas

entre a frequência de ingestão de bebidas doces durante as refeições e durante intervalo

destas, verificando-se elevados índices de cárie, aquando da ingestão de açúcares fora

das refeições (Lee et al., 2010). Contudo, estudos demonstram que crianças com maior

risco de cárie dentária são aquelas que entre os intervalos das principais refeições,

“petiscam” alimentos açucarados (Kramer et al., 1997;Wong et al., 2012).

Segundo Mobley et al. (2009) e Lim et al. (2008), verificaram uma elevada

disponibilidade de bebidas e alimentos cariogénicos em escolas, parques infantis ou em

qualquer lugar que assegure o acesso de crianças, desenvolvendo assim uma maior

probabilidade de patologias relacionadas com a dieta.

A baixa frequência de ingestão de frutas, derivados de leite e grupos vegetais, tem sido

preocupante, uma vez que são alimentos geralmente pobres em gorduras, ácido

ascórbico e fibras, podendo manifestar-se positivamente através do seu efeito

anticariogénico (McDonald et al., 1995).

De acordo com Lim et al. (2008), no seu estudo revelaram que as crianças que

consomem mais refrigerantes em relação ao consumo de leite e ao sumo de fruta

natural, à medida que crescem estão predispostas a um maior desenvolvimento da cárie

dentária.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

6

Concomitantemente ao aumento do risco da cárie dentária, o elevado consumo de

alimentos ricos em lípidos e açúcares tem sido associado à obesidade (Cinar et al.,

2011). Os hábitos alimentares inadequados na infância atingiram proporções epidémicas

por todo o mundo, devido ao sobrepeso e obesidade que consequentemente se tornam

factores predisponentes para doenças cardiovasculares (hipertensão,

hipercolesterolemia, dislipidemia), doenças respiratórias (apneia obstrutiva do sono e

asma), stress psicológico (depressão e baixa auto-estima), diabetes tipo 2 entre outras

patologias na criança (American Academy of Pediatric Dentistry, 2008b).

Nas crianças em idade pré-escolar, verifica-se que existe um consumo de alimentos com

alto teor de açúcar entre as refeições, principalmente um elevado consumo de chicletes

com recheios e coberturas de açúcar, refrigerantes e doces (McDonald et al., 1995).

Importante citar que este consumo entre as refeições, não deve ser totalmente eliminado.

Contudo, o seu número deve ser reduzido e, tanto quanto possível, isento de hidratos de

carbono fermentáveis (Pereira, 1993).

Durante o período da adolescência é frequente a omissão de refeições, sendo a mais

omitida o pequeno-almoço e verificando-se em maior número entre jovens do sexo

feminino. A omissão desta refeição está associada a maus resultados alimentares, tal

como menor concentração, pior desempenho escolar, e fundamentalmente ingestão

inadequada de nutrientes, particularmente cálcio e fibras (Story et al., 2002 cit. in

Mahan et al., 2010).

1.1. Alimentação infantil

Segundo Mahan et al. (2010), as crianças devem ser tratadas diferencialmente, até

mesmo em termos nutricionais, visto não serem “pequenos adultos”.

A nutrição infantil tem como principal objectivo evitar carências nutricionais,

prevenindo problemas de saúde relacionados com a alimentação não adequada. Deste

modo é fundamental um entendimento das necessidades nutricionais que constituem a

base de uma alimentação saudável (Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

7

As crianças, ao longo do seu desenvolvimento psicológico, passam por quatro etapas

fundamentais: primeiramente desde o nascimento até aos 2 anos de idade, dos 2-6 anos

de idade, correspondente à idade pré-escolar, dos 6-12 anos de idade: idade escolar e

por fim dos 12- 18 anos, etapa correspondente à adolescência. Importante citar que a

fase de transição entre a fase pré-escolar à fase seguinte está condicionada, então, pela

entrada da criança na escola e, pela primeira vez no seu desenvolvimento, sentem a

capacidade de estarem a executar verdadeiramente actividades relevantes, através do

estudo (Facci, 2004).

Segundo a Teoria de Piaget da psicologia e desenvolvimento da criança, estas vão

adquirindo características cognitivas diferentes consoante o seu desenvolvimento

psicológico e, consequentemente, relações distintas com a alimentação e a nutrição (Boj

et al., 2004).

Aquando dos dois primeiros anos de vida ocorre uma progressão de recém-nascido com

determinado conjunto de reflexos automatizados para uma interacção intencional de

uma criança para com o meio ambiente e o início do uso de simbologia. A alimentação

primeiramente tem como função a saciedade, a satisfação da fome, como meio de

explorar o ambiente que o rodeia. No período pré-operacional (2-6 anos) a utilização de

simbologia aumenta, os pensamentos tornam-se assimétricos e intuitivos, o raciocínio

apoia-se nas aparências, o mundo da criança é egocêntrico, e a classificação da criança é

funcional e assistemática. No que respeita à relação com a alimentação, o alimento é

relatado pela forma, cor e quantidade, e são classificados como “gosto” e “não gosto”

(Mahan et al., 2010).

Citando Marshall et al. (2003), este revela um aumento do consumo de refrigerantes

entre as crianças com idade pré-escolar, que consequentemente tem o potencial de risco

na prevalência da cárie na dentição decídua.

Quanto ao período entre os 6-12 anos o raciocínio torna-se mais racional e sistémico, a

criança tem a capacidade de classificar, reclassificar e generalizar, uma vez que existe

um decrescimento no egocentrismo e, consequentemente, leva a que tenha outra visão.

Quanto à relação com alimentação e a nutrição, a criança entende que os alimentos

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

8

nutritivos são fundamentais para o crescimento e a saúde. Contudo, a compreensão de

como ocorre e o porquê de acontecer é limitada. Neste período, o consumo de alimentos

é bastante influenciado pelo meio ambiente, essencialmente pelos colegas, e as horas de

refeição tornam-se um símbolo social (Mahan et al., 2010).

Por fim, no período a partir dos 12 anos de idade, os conhecimentos teóricos e

científicos aumentam. No que respeita à alimentação e à nutrição, já existe a

compreensão de quais as funcionalidades básicas dos alimentos a nível fisiológico e

bioquímico (Mahan et al., 2010).

Quanto às boas práticas alimentares, existe uma associação positiva entre o hábito do

pequeno-almoço e a saúde em geral de forma a prevenir o excesso de peso e obesidade

da criança (Piovesan et al., 2011).

A população infantil é persuadida pelo meio onde vive que, maioritariamente, é

constituído por membros familiares influenciando psicologicamente, culturalmente, e

socioeconomicamente o estilo de vida destas (Rossi et al., 2008)

A infância é o melhor período para fomentar hábitos alimentares preventivos, através

dos pais ou membros de família, com medidas e atitudes simples (Viana et al., 2008;

Campos et al., 2010; Molina et al., 2010).

A infância corresponde ao crescimento e desenvolvimento dos ossos, dentes e músculos

e, por isso, as crianças necessitam de alimentos em proporções e dimensões nutricionais

maiores que nos adultos (Mahan et al., 2010). Desta forma, a adopção de um digno

comportamento alimentar fomentará a prevenção e auxiliará no tratamento de múltiplas

patologias (Rossi et al., 2008; Cinar et al., 2011).

A Nova roda dos alimentos é constituída por sete porções, consoante as suas

semelhanças e características nutricionais, encontrando-se a água no centro. Ainda

assim, institui porções diárias recomendadas e equivalentes entre alimentos. As porções

dos grupos de alimentos que devem estar presentes numa alimentação diária de

indivíduos adultos e crianças com idade superior a 3 anos são: cereais e derivados,

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

9

tubérculos (4-11 porções) 28%; hortícolas (3-5 porções) 23%; fruta (3-5porções) 20%;

lacticínios e derivados (2-3 porções) 18%; carne, peixe e ovos (1,5-4,5 porções) 5%;

leguminosas (1-2 porções) 4%; gorduras (1-3 porções) 2% e água 1,5 a 3 litros

(Rodrigues et al., 2006).

O grupo de cereais, derivados e tubérculos devem ser consumidos em proporções de

ingestão superiores a outros grupos. Contudo, as ingestões dietéticas de referência

(DRI’s) fundamentam-se no conhecimento actual das ingestões de nutrientes para uma

óptima saúde (Institute of Medicine of the Nacional Academies, 2002).

O organismo tem necessidades nutricionais. Elas são sucumbidas através da

alimentação, onde são repostas proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas,

minerais, oligoelementos, água e energia (Rodrigues et al., 2006).

O Institute of Medicine of the National Academies criou um sistema de classificação que

especifica a quantidade de nutrientes necessários para prevenir a doença e promover a

saúde. Desta forma, introduziu as chamadas DRI´s, ou seja, ingestão dietética de

referência, que se subdivide em: quantidades dietéticas recomendadas, necessidades

médias requeridas, ingestão inadequada e nível máximo tolerado de ingestão (Touger-

Decker et al., 2004).

1.1.1. Energia

A requisição de energia é definida de forma a manter a saúde, promover um óptimo

crescimento e permitir uma saudável prática física (Giannini, 2007).

As necessidades de uma criança saudável são confinadas com base no metabolismo

basal, taxa de crescimento, assim como gasto energético. A quantidade dietética deve

ser suficiente para assegurar um correcto crescimento, de forma a poupar a utilização de

proteína para energia, mas evitando o excesso de ganho de massa corporal (Institute of

Medicine of the Nacional Academies, 2002).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

10

As proporções de energia recomendadas são distintas consoante o período da infância.

Assim sendo, entre 1 e 3 anos de idade sugere-se a ingestão de 45 a 65% de hidratos de

carbono, 30 a 40% de lípidos e 5 a 20% de proteínas, enquanto que entre os 4-18 anos

sugere-se igual proporção de hidratos de carbono, 25 a 35% de lípidos e 10 e 30% de

proteínas.

Na adolescência, as estimativas de requerimentos energéticos variam entre género,

devido a variações de crescimento, grau de actividade física e composição corporal

(Giannini, 2007).

1.1.2. Hidratos de Carbono

A principal função dos hidratos de carbono (açúcares e amidos) é fornecer energia para

as células do corpo, particularmente ao cérebro. Estes são componentes presentes na

dieta (grãos, frutas, lacticínios e açúcares) estando importantemente envolvidos em

funções fisiológicas, sensoriais, texturais e físicas (Linekback et al., 2003).

A ingestão diária recomendada é de 130 g/dia tanto para adultos como crianças, tendo

como base a quantidade média mínima de glicose utilizada pelo cérebro. Os hidratos de

carbono podem ser subdivididos em várias categorias, com base no número de unidades

de açúcares presentes, podendo ser classificados em monossacarídeos, dissacarídeos ou

polissacarídeos. Um monossacarídeo consiste apenas numa unidade de açúcar, tal como

a glicose ou a frutose, encontrados nos vegetais, frutas e mel, enquanto que um

dissacarídeo consiste em duas unidades de açúcar, como a sacarose (conhecida como

açúcar de mesa), lactose (presente no leite e seus derivados) ou maltose. Os

oligossacarídeos contêm 3 a 10 unidades de açúcar e são muitas vezes produtos de

decomposição dos polissacarídeos, que contêm mais de 10 unidades de açúcar.

Exemplos de polissacarídeos incluem amido e glicogénio, que são as formas de

armazenamento de hidratos de carbono nas plantas e animais (Institute of Medicine of

the Nacional Academies, 2005; Lineback et al., 2003; Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

11

Os diversos hidratos de carbono que podem contribuir para a constituição da dieta são: a

glicose, a frutose, a sacarose, a maltose, a lactose, assim como, o amido (Pereira, 1993;

Lineback et al., 2003).

Os açúcares podem ser introduzidos na dieta sob duas formas: directamente disponível

nos alimentos (frutas, mel e produtos lácteos) ou açúcares adicionados aos alimentos

durante o seu processamento para alteração do paladar e textura dos mesmos. Sendo

exemplo de açúcares adicionados, os refrigerantes, bolos, biscoitos, tortas, frutas,

sobremesas lácteas e doces. Os açúcares adicionados compreendem o açúcar branco, o

açúcar mascavado, o açúcar em bruto, o xarope de milho, a frutose, bem como a

dextrose (Mahan et al., 2010).

A elevada ingestão de sacarose tem sido implicada como um factor de influência para a

saúde. Localmente pode levar a uma experiência de cárie dentária, a par de

consequências sistémicas como, hiperlipidemia, hipertensão e lesões teciduais

semelhantes à diabetes (Shils et al., 2003).

Os hidratos de carbono fermentáveis são susceptíveis às acções da amilase salivar,

fornecendo substrato ideal para o metabolismo bacteriano que, consequentemente,

favorecem a produção de ácidos capazes de diminuir o pH salivar (Touger-Decker et

al., 2003; Tinanoff et al., 2009).

A sacarose constitui o substrato adequado para a produção de ácidos na placa, sendo o

único açúcar utilizado na produção de polissacarídeos extracelulares de grande

importância na colonização bacteriana das superfícies lisas dos dentes, assim como

polissacarídeos intracelulares empregados como reversa das bactérias para posterior

produção de energia. Importante referir que a sacarose é muito mais cariogénica que o

amido (Pereira, 1993; Tinanoff et al., 2009).

Actualmente, o amido é o componente mais importante da dieta, encontrando-se

presente em diversos cereais, raízes, assim como sementes. Porém, este é o hidrato de

carbono menos cariogénico, provocando duas vezes menos cáries do que dissacarídeos,

como frutose e glicose, e cinco vezes menos do que a sacarose (Pereira, 1993). O amido

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

12

encontra-se na natureza sob uma forma insolúvel e protegido por uma membrana

celulósica, que condiciona a amilase salivar por acção extremamente lenta, que

consequentemente resulta a um potencial cariogénico mínimo (Pereira, 1993; Fejerskov

et al., 2005).

O amido quando consumido isoladamente, não induz a uma descida significativa do pH

na placa bacteriana, ou seja, não é cariogenicamente significativo. Contudo, o amido

quando associado à sacarose (pão, biscoitos, bolachas, bolos), toma um potencial

cariogénico considerável, tendo sido demonstrado que a junção de dois hidratos de

carbono é determinante de um potencial cariogénico mais elevado do que aquele que é

possível observar quanto à sacarose isolada. Desta forma, parece poder concluir-se, que

o amido contém um baixo potencial cariogénico (precedentemente do processo de

refinamento), salvo quando misturado com a sacarose, através de biscoitos doces, bolos,

bolachas, assim como cereais açucarados grandemente utilizados no pequeno-almoço

das crianças (Pereira, 1993; Kramer et al., 1997; Toledo, 2005).

1.1.3. Substitutos dos açúcares

A substituição total ou parcial de sacarose na dieta, através de substitutos do açúcar é

outra maneira de evitar a cárie dentária. Hoje em dia, os mais comummente utilizados

na Europa são os adoçantes calóricos, como o xilitol, sorbitol, licasin, maltitol e manitol

e os adoçantes não calóricos acesulfame-K, aspartame, ciclamato e sacarina. Vários

estudos permitem concluir que a substituição parcial ou total da sacarose por xilitol ou

adição de xilitol à dieta reduz a capacidade das bactérias se multiplicarem, reduzindo

significativamente o risco de cárie dentária (Lingström et al., 2003; Fejerskov et al.,

2005). Actualmente estão a substituir o açúcar numa vasta gama de produtos, tais como

adoçantes para café e chá, gomas, doces, pastilhas elásticas, na área da medicina, bem

como em refrigerantes (Lingström et al., 2003). Os medicamentos orais sem açúcares,

na forma líquida, são constituídos por adoçantes como o sorbitol, os xaropes de glicose

hidrogenada e a sacarina. (Fejerskov et al., 2005).

Estudos revelam que quantidades mais elevadas de xilitol não resultaram numa maior

redução na incidência de cárie, podendo por sua vez conduzir a uma diminuição do

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

13

efeito anticariogénico. Porém, pode provocar desconforto abdominal e diarreia

osmótica, situações relatadas após a ingestão excessiva de xilitol. O xilitol reduz a

formação de placa bacteriana e respectiva aderência, ou seja possui um efeito

antimicrobiano, assim como inibe a desmineralização do esmalte, isto é, reduz a

produção de ácidos, e possui um efeito inibidor sobre os Streptococcus mutans (Mobley

et al., 2009; Americam Academy of Pediatric Dentistry, 2010)

Os substitutos de açúcar, por vezes, são indicados em casos específicos, como em

pacientes com elevado risco de cárie dentária, por períodos reduzidos, ou em produtos

utilizados com uma forte frequência, que não dispensa o seu consumo, como gomas de

mascar, assim como refrigerantes (Toledo, 2005).

1.1.4. Proteínas

As proteínas constituintes do corpo humano são compostas por 20 tipos diferentes de

aminoácidos que se podem subdividir em dois grupos, tais como: aminoácidos

essenciais e não essências (Seeley et al., 2005; Mahan et al., 2010).

Nove dos aminoácidos devem ser fornecidos através da dieta, os quais são designados

por aminoácidos essenciais, uma vez que não podem ser sintetizados pelo organismo. O

organismo tem a capacidade de sintetizar os aminoácidos não essenciais a partir de

outras moléculas. No entanto, ambos os grupos de aminoácidos são necessários para o

bom estado de saúde (Seeley et al., 2005).

As principais fontes de proteínas são de origem animal ou vegetal. As proteínas de

origem animal como carnes, aves, peixes, ovos, leite, queijo e iogurte, fornecem os nove

aminoácidos essenciais, enquanto que as proteínas vegetais, como vegetais de folha

verde, cereais e as leguminosas (ervilhas e feijão) tendem a ser deficientes no que

respeita os aminoácidos essenciais, sendo designados de alimentos incompletos em

proteínas. É necessário ter uma especial atenção aos adolescentes que exercem uma

dieta “vegan”, devido ao risco de uma ingestão inadequada de proteínas. Durante a

infância as necessidades de proteínas variam com o grau de maturação física (Mahan et

al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

14

A carência de proteínas tem um impacto negativo na cavidade oral, uma vez que

provoca uma maior susceptibilidade à infecção dos tecidos moles, inadequada

cicatrização, regeneração, assim como alterações no padrão de erupção (Shils et al.,

2003).

1.1.5. Minerais

Os minerais são nutrientes inorgânicos imprescindíveis para um funcionamento

metabólico normal. Uma dieta equilibrada normalmente fornece os minerais essenciais.

Contudo podem ocorrer algumas excepções, pois estes podem ser ingeridos

isoladamente ou combinados com moléculas orgânicas, tendo origem animal ou vegetal

(Seeley et al., 2005).

1.1.5.1.Cálcio

Segundo Ross et al. (2011), o cálcio é um mineral essencial para o corpo,

fundamentalmente para formação dos ossos, dentes, actividade muscular, função

nervosa e coagulação. O corpo não é capaz produzir cálcio e, portanto, deve ser

absorvido através da alimentação (Kliegman et al., 2006). As principais fontes de cálcio

surgem de produtos lácteos, tais como iogurtes, leite e queijo; vegetais, como espinafres

e brócolos, assim como, peixes enlatados como sardinha e salmão (Ross et al,. 2011).

Porém existem outros alimentos fortificados com cálcio, tais como, leite de soja, arroz,

tofu e alguns sumos de frutos (Mahan et al., 2010).

A quantidade de Cálcio varia de acordo com as idades das crianças. Neste sentido as

DRI’s para crianças com idades compreendidas entre de 1-3 anos de idade é de

500mg/dia; entre os 4-8 anos de idade é de 800mg/dia e por fim entre os 9-12 anos é de

1300 mg/dia (Mahan et al., 2010).

Um nível adequado de cálcio é essencial durante o crescimento, especialmente na fase

de rápido crescimento ósseo e de mineralização durante a puberdade. Sendo que a

vitamina D, concomitantemente com a hormona paratiroideia e calcitonina,

desempenham um papel fundamental no que respeita à regulação da concentração do

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

15

cálcio e fosfato inorgânico no plasma e nos fluídos extracelulares, assim como na

regulação dos movimentos celulares destes iões e no controlo da mineralização dos

dentes e ossos (Pereira, 1993).

Desde 1950, que os produtos lácteos foram reconhecidos como um grupo de elementos

com eficácia na prevenção da cárie dentária. O leite é um alimento que contém factores

com propriedades anticariogénicas como cálcio, fosfato, caseína e lípidos (Aimutis,

2004; Bowen et al., 2005). Ainda assim., estudos epidemiológicos nos últimos anos

referem que as crianças e adolescentes com baixa incidência de cárie dentária, beberam

mais leite do que aquelas com uma alta prevalência de cárie (Aimutis, 2004).

Segundo o Institute of Medicine of the Nacional Academies (2002) e Touger-Decker et

al. 2003, os efeitos adversos do excesso de cálcio levam essencialmente a insuficiência

renal, Síndrome do Leite Alcalino, cálculos nos rins e hipercalcemia.

Um nível adequado de cálcio é essencial durante o crescimento, especialmente na fase

de rápido crescimento ósseo e de mineralização durante a puberdade (Touger-Decker et

al., 2003).

A carência deste nutriente poderá causar manifestações locais e/ou sistémicas, como

calcificação incompleta dos dentes, raquitismo, reabsorção óssea excessiva, fragilidade

óssea, maior tendência à hemorragia e o aumento da mobilidade dentária (Shils et al.,

2003).

1.1.5.2.Zinco

O zinco é um elemento essencial no que respeita o crescimento e maturação da criança.

Uma deficiência deste mineral pode resultar em insuficiência no crescimento, falta de

apetite, dificuldade de cicatrização e diminuição do paladar (McDonald et al., 1995;

Giannini, 2007; Mahan et al., 2010).

A fonte mais prontamente disponível é encontrada nas carnes animais, particularmente

nas carnes vermelhas e aves. Por vezes, em determinadas crianças em idade pré-escolar,

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

16

a ingestão de carnes vermelhas é frequentemente baixa, devido a questões pessoais e /ou

ambientais, como crenças religiosas. Sendo as principais fontes, carnes vermelhas,

camarão, ostras, fígado, grãos integrais, castanhas, cereais e tubérculos (Giannini,

2007).

1.1.5.3.Ferro

O ferro é um elemento nutricional de bastante relevância reconhecido há mais de um

século. Este é o componente utilizado na síntese da hemoglobina, mioglobina, e nas

enzimas com ferro (Kliegman et al., 2006).

O seu teor é regulado principalmente pela modulação da absorção de ferro, que depende

do estado de depósitos orgânicos deste mineral, assim como da forma e quantidade

deste presente nos alimentos da dieta (Kliegman et al., 2006; Mahan et al., 2010).

As fontes alimentares deste nutriente encontram-se em alimentos como, fígado, carne

gema de ovo, grãos integrais ou enriquecidos, vegetais de folhas escuras, camarão e

ostras (Giannini, 2007).

1.1.6. Vitaminas

As vitaminas são essenciais para o metabolismo normal e existem em pequenas

quantidades nos alimentos. Sendo que as vitaminas essenciais só podem ser obtidas

através da alimentação, uma vez que não podem ser produzidas pelo organismo. Visto

que não existe nenhum alimento ou grupo de nutrientes que forneça todas as vitaminas

essenciais, é necessária uma variada ingestão de alimentos, para a obtenção e

manutenção de uma dieta equilibrada (Seeley et al., 2005).

1.1.6.1.Vitamina A (Retinol)

A vitamina A é fundamental na reprodução normal, desenvolvimento das funções

ósseas, assim como do sistema imunológico (Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

17

A carência deste nutriente poderá causar manifestações locais e/ou sistémicas, como

diferenciação inadequada das células, originado dificuldades na cicatrização e

regeneração tecidular, hipertrofia gengival, diminuição da sensação de paladar e poderá

levar à hipoplasia do esmalte (Shils et al., 2003). Assim sendo, em casos extremos de

uma carência desta vitamina, pode levar à cegueira (Mahan et al., 2010).

O excesso desta vitamina poderá manifestar-se sistemicamente através de uma

densidade mineral óssea reduzida, gengivite, queilose e fadiga (Touger-Decker et al.,

2004; Mahan et al., 2010).

1.1.6.2.Vitamina B2 (Riboflavina)

As principais fontes desta vitamina são os vegetais verdes, fígado, gérmen de trigo,

leite, queijo e ovos (Shils et al., 2003; Seeley et al., 2005).

Os possíveis sinais de deficiência de riboflavina manifestam-se com condições oculares

patológicas, anemia, neuropatia, mas fundamentalmente a nível da cavidade oral, com a

sensibilidade dos lábios, boca e língua, queilose, estomatite angular, glossite, língua

púrpura, bem como atrofia das papilas linguais (Shils et al., 2003; Mahan et al., 2010).

1.1.6.3.Vitamina C (Ácido Ascórbico)

A vitamina C é essencial para a síntese de colagénio, afectando directamente a formação

dentária, uma vez que a proteína presente na dentina é o colagénio, reflectindo-se na

cicatrização e integridade dos capilares. Torna-se assim, indispensável em quantidade

adequada, de forma a garantir um crescimento satisfatório (Gianinni, 2007). Esta

vitamina é encontrada em tecidos vegetais e animais, tais como ácido ascórbico (Mahan

et al., 2010).

As melhores fontes de vitamina C são as frutas e legumes, tais como laranja, limão,

morango, manga, brócolos, repolho e espinafres (Giannini, 2007).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

18

A deficiência aguda da vitamina C em indivíduos incapazes de sintetizar a vitamina

denomina-se escorbuto, sendo que nas crianças designa-se de Síndrome de Moeller-

Barlow, porém esta também se pode desenvolver em lactantes amamentados com

suplementos pobres em vitamina C. As lesões resultantes desta deficiência afectam os

tecidos mesenquimais e resultam em edema, hemorragias, enfraquecimento dos ossos,

cartilagem, dentes e tecidos conjuntivos (Mahan et al., 2010). A deficiência desta

vitamina pode causar resposta tecidular aumentada, maior risco de infecção, aumento

dos sinais e sintomas periodontais e uma cicatrização mais retardada (Shils et al., 2003).

O excesso vitamina C poderá manifestar-se sistemicamente através de nefrolitíase,

náuseas e diarreia (Touger-Decker et al., 2004).

1.1.6.4.Vitamina D (Colecalciferol, ergosterol)

A vitamina D é essencial para o crescimento esquelético, estando envolvida na

manutenção da hemostase do cálcio e fósforo na mineralização do osso. As melhores

fontes desta vitamina são a gema de ovo, fígado, peixes gordos e manteiga (Giannini,

2007).

Este nutriente é também formado pela exposição da pele à luz solar, o que leva a que a

quantidade de vitamina D através de fontes dietéticas, seja determinada por factores não

dietéticos, como localização geográfica e tempo de exposição solar. Contudo, o leite

fortificado com vitamina D é uma óptima fonte primária deste nutriente, sendo que os

restantes produtos lácteos, como iogurtes e queijo não são normalmente providos destas

características (Mahan et al., 2010).

A carência desta vitamina poderá causar manifestações locais e/ou sistémicas, como

regeneração óssea anormal e raquitismo nas crianças (Shils et al., 2003).

Estudos visão demonstrar que são as crianças de pele escura, que foram amamentadas

pelo peito, por longos períodos de tempo, e sem exposição solar, estão sujeitos a uma

maior risco de vir a desenvolver raquitismo (Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

19

1.2. Cariogenicidade dos Alimentos

Existem vários factores como a frequência e sequência no consumo de hidratos de

carbono fermentáveis, forma do alimento (líquido, sólido e tipo de dissolução),

combinação dos alimentos, assim como duração do tempo de exposição de alimentos e

bebidas sobre as superfícies dentárias que influenciam a cariogenicidade dos alimentos

(Pereira, 1993; Kramer et al., 1997; McDonald et al., 1995; Lingström et al., 2003;

Touger-Decker et al., 2003; Lim et al., 2008; Mahan et al., 2010).

Desta forma, existe uma particular importância, no que respeita à concentração e ao

tempo da permanência de hidratos de carbono no ambiente oral, durante as refeições e

após as mesmas. No entanto, factores locais, como cavidades de cáries pré-existentes,

aparelhos ortodônticos, ou até mesmo restaurações defeituosas podem consequenciar

uma retenção prolongada dos hidratos de carbono (Pereira, 1993).

Os hidratos de carbono utilizados na dieta possuem uma extrema variedade quanto à

estrutura molecular, o que fomenta diferentes potenciais cariogénicos (Pereira, 1993).

Os alimentos com maior risco de cárie dentária podem e devem ser modificados através

da combinação de alimentos anticariogénicos, como produtos lácteos, que podem

reduzir o efeito acidogénico e consequentemente promover a remineralização (Touger-

Decker et al., 2003; Mahan et al., 2010). Desta forma, é importante diferenciar os vários

tipos de alimentos, como: alimentos cariogénicos, cariostáticos e anticariogénicos

(Mahan et al., 2010).

Os alimentos cariogénicos contêm hidratos de carbono fermentáveis que, aquando do

contacto com microrganismos da cavidade oral, podem causar a redução do pH salivar

para 5,5 ou menos, estimulando assim o processo de cárie, ou seja, o potencial

cariogénico dos alimentos encontra-se relacionado com a capacidade de produção de

ácido quando utilizado como substrato pelas bactérias cariogénicas da placa (Escott-

Stump, 2003; Pereira, 1993; Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

20

Os alimentos cariostáticos não são metabolizados por microrganismos presentes na

placa. Deste modo não causam uma redução no pH para 5,5 ou menos num período

inferior a 30 minutos. Exemplos destes tipos de alimentos são alimentos com proteínas,

como ovos, peixe, carnes, a maioria das hortaliças, e gomas de mascar sem açúcar.

Todavia, estudos efectuados revelam que os fosfatos contêm uma acção cariostática

considerável localmente na superfície dentária, assim como mecanismos múltiplos,

como, a redução da velocidade de dissolução da hidroxiapatite, diminuição da descida

de pH ao nível da placa, alterações na formação da película aderida e uma promoção da

remineralização (Pereira, 1993).

Os alimentos anticariogénicos são aqueles que impedem que a placa reconheça

alimentos acidogénicos assim que são ingeridos, como as gomas de mascar que contêm

xilitol e queijos (Mahan et al., 2010).

1.3. Propriedades físicas dos alimentos

Os alimentos fibrosos possuem um efeito de autolimpeza promovido pela mastigação

energética que proporcionam, sendo considerado de enorme relevância em relação aos

padrões de cárie verificados nas populações antigas e/ou actuais que mantém alguns

hábitos dietéticos primitivos (Pereira, 1993; Toledo, 2005).

Os alimentos moles e adesivos facilitam acumulação de placa bacteriana nos dentes,

aumentando consideravelmente o potencial cariogénico, como exemplo a sacarose,

quando utilizada sob a forma adesiva (Pereira, 1993; Marshall et al., 2003). Logo,

quanto mais adesivo for o alimento, maior o tempo que o organismo leva a eliminá-lo,

levando assim a um aumento do tempo requerido para que o pH retome a sua

neutralidade (Kramer et al., 1997).

Estudos demonstram que açúcares adesivos ingeridos, fora das principais refeições, ou

seja, nos seus intervalos, relacionam-se com valores mais elevados dos índices de cárie

(Pereira, 1993). Porém, existe uma grande discrepância na retenção dos alimentos,

observando-se particularmente elevadas taxas de retenção, em produtos, como biscoitos

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

21

doces, bolachas recheadas com creme, batata frita, assim como barras de chocolate e

caramelo entre outros mais (Fejerskov et al., 2005).

Os produtos que contêm amido devido à sua textura requerem uma mastigação mais

vigorosa, o que contribui para um aumento do fluxo salivar que, por sua vez, para além

de uma limpeza fisiológica, contribui para a neutralização dos ácidos que se vão

formando na placa bacteriana (Pereira, 1993; Fejerskov et al., 2005).

1.4. Alimentos que podem melhorar o estado da Saúde Oral

Os lacticínios contêm um potencial tampão do cálcio e fósforo e, consequentemente um

baixo potencial cariogénico. Embora, a lactose possa ser fermentada pelas bactérias da

placa bacteriana, o leite tem sido considerado como um alimento pouco cariogénico,

não apenas por uma concentração reduzida de lactose mas também porque contém

propriedades anticariogénicas (como, a caseína, o cálcio e o fosfato) (Pereira, 1993; Lim

et al., 2008). O consumo de queijos duros e o uso de chicletes sem açúcar estão

associados a um risco reduzido de desenvolvimento de cárie dentária. Desta forma, os

pacientes devem ser encorajados a realizar a ingestão deste tipo de alimentos após as

refeições, para neutralizar os efeitos acidogénicos dos açúcares da dieta. São numerosos

os estudos clínicos que demonstram que a utilização de chicletes sem açúcar protege

contra a cárie dentária (Moynihan, 2002; Mobley et al., 2009).

Os queijos e iogurtes sem adição de açúcares podem, portanto ser considerados seguros

para a prevenção da cárie (Moynihan, 2002). O queijo estimula a secreção salivar,

aumentando a concentração de cálcio na placa dentária, o que influencia fortemente o

equilíbrio entre a desmineralização e remineralização do esmalte. Todavia, mesmo os

alimentos que contêm queijo quente, também têm demonstrado um aumento na

concentração de cálcio na placa bacteriana, sendo que o seu consumo deve ser

estimulado (Fejerskov et al., 2005). No entanto, o leite de vaca contém lactose, cálcio,

fósforo e caseína. Existe alguma evidência de estudos em animais, que a adição de leite

de vaca a uma dieta cariogénica reduz a incidência de cárie (Moynihan, 2002;

Lingström et al., 2003; Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

22

O consumo de frutas com alto teor de água, como a melancia, contrariamente a outras

frutas como a banana ou frutas secas, tem uma menor capacidade cariogénica (Mahan et

al., 2010).

Estudos em animais e investigações experimentais em humanos mostram que o extracto

de chá preto aumenta a concentração de flúor na placa e, consequentemente, reduz a

cariogenicidade de uma dieta rica em açúcares (Moynihan, et al., 2004; Moynihan,

2005). Porém, segundo Fejersokv et al. (2005), relatam que o efeito protector do chá

verde pode ser devido à presença de flúor ou à acção antibacteriana dos polifenóis.

A utilização de gomas de mascar que contenham xilitol, parece ter uma influência

positiva associada ao pH salivar (McDonald et al., 1995).

Os bons hábitos dietéticos nas crianças normalmente associam-se à redução de

experiência de cáries dentárias, portanto, recomenda-se uma dieta equilibrada,

favorecendo preferencialmente a eleição de alimentos cariostáticos, tais como nozes,

alimentos proteicos, como frutos do mar, peixe, carne, ovos, manteiga, assim como

sementes (Mahan et al., 2010).

Segundo Mahan et al. (2010), a associação da ingestão de determinados alimentos pode

afectar positivamente a saúde oral. Portanto, a ingestão de alimentos viscosos ou

açucarados deve ser associada a alimentos não adoçados, uma vez que a ingestão de

alimentos sem açúcar antes, durante ou após as refeições potenciará um aumento do pH.

Assim, a associação da ingestão de alimentos mastigáveis (frutas frescas e hortaliças) a

alimentos ricos em hidratos de carbono fermentáveis, promove a produção salivar e

consequentemente potencia o efeito tampão (Kramer et al., 1997).

1.5. Alimentos e bebidas que podem prejudicar a cavidade oral

O consumo de bebidas com baixo pH e elevada capacidade de tamponamento leva a

uma diminuição acentuada do pH da cavidade oral, o que pode ocasionar perda das

funções salivares e aumento na dissolução da hidroxiapatite (Pereira, 1993).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

23

As crianças que têm por hábito um consumo diário e excessivo de bebidas e/ou

alimentos ácidos durante períodos consideráveis na cavidade oral, tendem a desenvolver

lesões de erosão dentária (Escott-Stump, 2003).

Porém, as crianças e adolescentes que consomem frutas cítricas mais que duas vezes por

dia apresentam um risco 37 vezes maior de desenvolverem lesões de erosão do que

aquelas que não consomem. Outros riscos semelhantes no desenvolvimento da erosão é

o consumo de bebidas desportivas, particularmente nos adolescentes, assim como, o

excessivo consumo de refrigerantes quando ingeridos diariamente (Sobral et al., 2000).

Segundo Sobral et al. (2000), a ingestão diária de coca-cola provocou perdas

significativas da estrutura superficial tanto de esmalte como de dentina, as quais não se

revertem pela acção salivar, sendo directamente proporcionais à sua frequência de

ingestão.

O consumo de alimentos, como bolos, gelados, biscoitos, refrigerantes, sumos de frutas,

são opções nutricionais de eleição para jovens e crianças. Contudo, todos estes

alimentos consumidos frequentemente e sem prudência podem ocasionar experiências

de lesões de cárie dentária (Knevel et al., 2008; Mahan et al., 2010).

Os alimentos que incluem ácidos, tais como, ácido cítrico, fosfórico, málico, tartárico,

acético e carbónico podem indicar um potencial erosivo (Moynihan, 2002).

As frutas secas podem ser potencialmente mais cariogénicas do que a fruta no seu

estado natural, uma vez que o processo de secagem rompe a estrutura celular do fruto,

libertando açúcares livres (Pereira, 1993; Moynihan, 2005). No entanto, estes têm

tendência para aderir às superfícies dentárias, oferecendo-lhe um tempo de retenção

prolongada na cavidade oral. Deste modo, as frutas secas, nomeadamente, figos e

passas, são altamente cariogénicas, não só pelo alto teor de açúcares (55-85%), como

também pela difícil eliminação oral (Pereira, 1993). Como o consumo de frutos secos é

baixo na população infantil não existem dados epidemiológicos que associem o

consumo frequente deste tipo de frutas à cárie dentária (Moynihan, 2002).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

24

Os adolescentes que ingerem chá ou café com adição de quantidades significativas de

açúcar podem desenvolver mais facilmente lesões a nível do esmalte como, dissolução

do esmalte (Escott-Stump, 2003).

Os alimentos que contêm hidratos de carbono fermentáveis sob a forma sólida/ aderente

são consideravelmente mais cariogénicos do que aqueles consumidos sob a forma

solúvel. São exemplos de alimentos que contêm açúcares sob a forma sólida/ aderente,

bolos de chocolate, pudins, tortas, cereais e chicletes com cobertura de açúcares, frutas

secas, como passas e tâmaras, frutas cristalizadas com açúcar, geleias, gelatinas mel.

Deste modo, é aconselhado um consumo moderado deste tipo de alimentos (McDonald

et al., 1995).

O consumo de alimentos com molhos preparados como “ketchup” e mostarda, devem

ser consumidos moderadamente, devido à sua composição com grandes quantidades de

açúcares (Toledo, 2005).

Os refrigerantes são potencialmente cariogénicos. No entanto, as crianças ainda podem

consumi-los moderadamente e de forma mais segura, se a exposição à placa dentária for

reduzida e, consequentemente removida periodicamente com a utilização de um

dentifrício fluoretado (Lim et al., 2008).

Importante será citar que a adição de açúcar aumenta a cariogenicidade dos alimentos

ricos em amido cozido, uma vez que estes parecem ser tão cariogénicos como

quantidades semelhantes de sacarose (Moynihan, 2005).

2. Relação da nutrição com o desenvolvimento dentário

A nutrição e a dieta são relevantes no desenvolvimento dentário, erupção e manutenção

do dente íntegro, podendo afectar tanto a anatomia como a função das glândulas

salivares (Touger-Decker et al., 2003). Contudo, ao longo de toda a vida afectam a

integridade e longevidade dentária, óssea, mucosa oral, bem como a resistência à

infecção.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

25

A mucosa oral é particularmente susceptível a alterações anatómicas e fisiológicas em

resultado de carências ou excessos nutricionais (Shils et al., 2003).

Segundo Batista et al. (2007), os desequilíbrios nutricionais afectam o desenvolvimento

dentário durante o período de formação e pós-erupção, portanto condicionam

directamente a futura saúde oral da criança. A dieta tem um efeito local e sistémico.

O efeito local é caracterizado quanto ao tipo, à forma e à frequência dos alimentos e

bebidas consumidas, pois contém um efeito directo no pH oral e na actividade

microbiana. Relativamente ao efeito sistémico, podem ocorrer carências vitamínicas ou

minerais, que se reflectem primeiramente através da cavidade oral por alteração dos

tecidos, assim como alterações na quantidade e qualidade da saliva (Toledo, 2005;

Mahan et al., 2010).

Importante citar que, a nutrição da mãe durante o período de gestação deve suprir as

necessidades essenciais dos nutrientes apropriados para o crescimento, o que implica

que um desequilíbrio nutricional terá consequências no desenvolvimento dentário.

De acordo com Mahan et al. (2010), durante o desenvolvimento dentário, os nutrientes

tais como a vitamina A, ácido ascórbico, iodo, ferro e flúor entre outros mais,

repercutem efeitos sobre os tecidos dentários.

A deficiência de vitamina A induz a uma redução no desenvolvimento de tecido

epitelial, redução na diferenciação dos odontoblastos, hipoplasia do esmalte,

comprometimento da integridade do dente e alterações da cronologia de erupção

dentária. Porém, a deficiência de ácido ascórbico provoca alterações a nível da polpa e

dentina anormal. A deficiência de iodo promove alterações no padrão de crescimento,

bem como na cronologia de erupção dentária e a deficiência de ferro causa um

crescimento precoce, bem como uma disfunção a nível das glândulas salivares. Por

outro lado, a presença de flúor promove a inibição do crescimento bacteriano,

estimulação da remineralização, inibição da desmineralização e fundamentalmente

proporciona uma estabilidade aos cristais de hidroxiapatite.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

26

Segundo Batista et al. (2007), a desnutrição durante os primeiros anos de vida toma

consequências a nível dentário, uma vez que leva a alterações da cronologia de erupção.

Estados de desnutrição, particularmente a falta de proteínas e as deficiências de

determinados micronutrientes, tais como vitaminas, ferro e zinco podem afectar de

forma negativa o volume, propriedades físico-químicas e as propriedades

antibacterianas da saliva (Touger-Decker et al., 2003; Moynihan, 2005). Do mesmo

modo, a má nutrição pode consequenciar o aparecimento de hipoplasia do esmalte,

anemia ferropénica, podendo levar à redução da secreção salivar, assim como do seu

efeito tampão (Ribeiro et al., 2004).

Estudos sobre hipoplasia de esmalte revelam alguma dificuldade em separar alterações

nutricionais de outros factores, como nascimentos prematuros e problemas neonatais,

porém estudos em populações desnutridas consideram representativos certos transtornos

nutricionais e não uma deficiência nutricional isolada (Boj et al., 2004).

Todavia, Batista et al. (2007) revela que a deficiência crónica de vitaminas,

nomeadamente de vitamina D, pode levar à hipoplasia de esmalte, tendo sido

encontrada em populações históricas e actuais, particularmente em populações com

baixo nível socioeconómico.

3. Factores Socioeconómicos

Factores demográficos, culturais e socioeconómicos, como o nível de escolaridade e a

percepção da necessidade de tratamentos agem como elementos diferenciadores ao

acesso à saúde, uma vez que influenciam conhecimentos e cuidados (Tinanoff et al.,

2009).

Contudo, as relações sociais podem agir como determinantes da saúde, uma vez que a

interacção com as pessoas em redor pode favorecer os comportamentos e actividades

pessoais, promovendo uma melhoria da qualidade de vida (Davoglio et al., 2009).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

27

As condições socioeconómicas das famílias interferem de uma forma activa na

qualidade da dieta da criança (Cinar et al., 2011). A alimentação de uma família é

influenciada por diversas variáveis, como factores económicos, custo dos alimentos,

acesso a serviços essenciais, qualidade e insegurança alimentar e, fundamentalmente, os

efeitos de persuasão do marketing (Mobley et al., 2009).

Existe uma grande evidência de que a cárie dentária aumentou progressivamente à

medida que os hábitos dietéticos deixaram de ser constituídos por alimentos naturais,

duros e fibrosos, passando a uma alimentação cada vez mais elaborada, rica em hidratos

de carbono fermentáveis, designadamente a sacarose (Pereira, 1993; Toledo, 2005).

A família tem um papel fulcral no desenvolvimento da criança, visto que existe uma

transmissão de valores, crenças, bem como conhecimentos e práticas de saúde (Tinanoff

et al., 2009; Campos et al., 2010). Porém, a teoria de auto-eficácia postulada de que, a

crença ou capacidade de um indivíduo realizar determinadas acções ou atitudes

influencia directamente os comportamentos de saúde das famílias e respectivas crianças

(Tinanoff et al., 2009).

Desta forma, os membros da família devem ser cooperantes, motivando a atitudes e

conhecimentos que promovam uma menor incidência das doenças orais que mais

comummente afectam as crianças (Wigen et al., 2010).

A transmissão de cuidados básicos por meio familiar exerce um papel fundamental na

promoção e manutenção da saúde geral, devido à grande influência que esta exerce

sobre as crianças por mimetizarem as atitudes dos membros adultos (Figueira et al.,

2008; Cinar et al., 2011).

O hábito de escovagem e consumo frequente de açúcares por parte dos pais foram

associadas com um aumento da prevalência de cárie das crianças, uma vez que

mimetizam as atitudes e comportamentos dos mesmos (Wigen et al., 2010).

O papel dos pais é de grande influência nos primeiros anos de vida da criança, onde se

assinala um período de rápido desenvolvimento, como a transição da dieta, ao qual estes

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

28

têm toda a capacidade para determinar a quantidade e qualidade da dieta (Mobley et al.,

2009).

Verifica-se que um consumo elevado de lípidos e padrões nutricionais não adequados

são observados maioritariamente em crianças oriundas de grupos populacionais com

menores possibilidades económicas e etnicamente diversificados (Bronner, 1996 cit. in

Mahan et al., 2010).

Os grupos com menores condições económicas são aqueles onde se verificam um

menor consumo de frutas e produtos hortícolas (Robinson-O’Brein et al., 2009). Assim

sendo, é possível afirmar que o tipo de dieta consumido é de natureza complexa,

dependendo de variáveis socioeconómicas, psicológicas, crenças religiosas, educação,

costumes familiares, assim como culturais (Kramer et al, 1997; Robinson-O’Brein et

al., 2009).

Segundo Davoglio et al. (2009), os estilos de vida adoptados pelas crianças,

principalmente durante o período da adolescência, tais como os hábitos alimentares, o

consumo de tabaco, e a selecção de bebidas alcoólicas e drogas têm impactos de risco

na saúde oral, que se podem repercutir a longo prazo.

Viana et al. (2008) revela que existe uma particular sensibilidade por parte das crianças,

aos anúncios que focam alimentos com alta densidade calórica e ricos em açúcar. A

publicidade dirigida às crianças repercute maioritariamente efeitos negativos no

conhecimento, comportamento e atitudes destas, que por sua vez estimulam a um maior

consumo de alimentos ricos em glicose e pobres sobre o ponto de vista nutricional.

Os factores socioeconómicos, como escolaridade materna, ausência materna e paterna

no lar, o facto de a criança não efectuar as refeições à mesa, aumentam o risco de

consumo de uma dieta de má qualidade, sendo estes factores cada vez mais associados à

forma moderna da vida urbana, e fundamentalmente à estrutura familiar (Piovesan et

al., 2011).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

29

Estudos demonstram que quanto maior o padrão socioeconómico, melhores são os

cuidados com a saúde oral das crianças, maiores conhecimentos e motivação para uma

melhoria da qualidade de vida (Knevel et al., 2008).

Deste modo, Davoglio et al. (2009) e Cinar et al., (2011) referem que é possível afirmar

que a condição socioeconómica é um dos factores determinantes na aquisição de

competências para a promoção da saúde.

Os hábitos alimentares dos filhos traduzem os hábitos dos pais. Contudo, também a

escola deve constituir um exemplo do que é correcto, uma vez que metade das crianças

comem doces a meio da manhã e/ou a meio da tarde (Costa et al., 2008; Mahan et al.,

2010).

O padrão alimentar tem sido alterado ao longo dos anos, tanto entre as crianças como

nos adultos o padrão tradicional de realizar as refeições em casa e em família tem vindo

a sofrer alterações. O fast- food tem sido o tipo de alimentação de eleição, quer com o

consumo de alimentos pré-preparados, enlatados e/ou congelados, quer como as

refeições fora de casa. O baixo custo deste tipo de alimentação torna-a ainda uma

atracção não só para as famílias de baixo nível socioeconómico, bem como para todas

as famílias independentemente do seu estado social (Lob-Cozilius et al., 2007).

A frequência elevada do consumo de doces e bebidas açucaradas implica

significativamente um maior risco de desenvolvimento de cárie dentária, aquando da

associação de pobres práticas de higiene oral e estado socioeconómico (Moynihan,

2005).

Os pais e respectivas crianças pertencentes a grupos minoritários são mais propensos a

relatar como de pior qualidade o seu estado geral de saúde, em relação aos pais de um

grupo socioeconómico mais elevado (Talekar et al., 2005).

Nas últimas décadas, os países de baixa renda experimentaram uma tendência de

aumento de cáries dentárias entre crianças, particularmente com idades compreendidas

entre os 12 anos (Jürgensen et al., 2009).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

30

3.1. Experiência e escolaridade do Encarregado de Educação

O papel dos pais começa mesmo antes de a criança nascer, isto é a grávida deve cuidar

da sua saúde oral, como forma de promoção da saúde oral do próprio filho (Pereira et

al., 2010; Wong et al., 2012).

De acordo com Rossi et al. (2008), os pais que ignoram sinais de saciedade, comem

muito rapidamente e em grandes quantidades dão um pobre exemplo aos seus filhos,

porém aqueles que promovem a eleição de selecções alimentares nutricionais levam a

aquisição de uma alimentação saudável e equilibrada. Este ainda defende que os

responsáveis que acompanham a refeição dos filhos, criam uma atmosfera positiva, uma

vez que estes servem de modelo comportamental para as crianças e deste modo, tendem

a melhorar qualidade alimentar quando estes incutem uma alimentação saudável.

Molina et al. (2010) diz-nos no seu estudo que o baixo grau de escolaridade da mãe

aumenta a probabilidade de a dieta da criança ser de baixa qualidade, uma vez que o

nível de educação influencia a capacidade de compra, por falta de informação adequada

na aquisição dos produtos alimentares.

A relação entre a educação dos pais e o comportamento e atitudes de saúde oral das

crianças reflectem-se na escolaridade e conhecimentos dos mesmos sendo que, os pais

com escolaridade superior e as respectivas crianças manifestam comportamentos

favoráveis no que respeita a sua saúde oral (Wigen et al., 2010).

Os factores maternos, como nível de escolaridade, condições de higiene oral e

socioeconómicos, tem vindo a ser considerados como indicadores de risco relevantes

para a identificação da susceptibilidade da cárie dentária dos educandos (Retnakumari et

al., 2012).

Os pais que incentivam a escovagem antes dos 12 meses de idade reflectem uma maior

consciencialização sobre a importância da saúde oral para com a saúde em geral (Wong

et al., 2012).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

31

De acordo com Tinanoff et al. (2009), as mães com aconselhamentos dietéticos

mínimos tendem a reduzir a utilização do biberão durante o período de sono da criança,

levando a uma menor prevalência de cárie dentária.

No que respeita a cárie dentária, entre os filhos de médicos dentistas verifica-se uma

baixa experiência desta doença, não só pela restrita ingestão de açúcares implementados

na dieta, como os cuidados preventivos, que é provável que sejam superiores nestas

crianças (Pereira, 1993; Moynihan, 2005).

Contudo, Viana et al. (2008) defende que em famílias com desequilíbrios alimentares,

as crianças têm preferência pelo consumo de alimentos mais energéticos devido à

observação do padrão alimentar dos pais, em particular da figura materna.

A figura materna revela um papel de destaque na educação da criança, assim é relevante

que possuam conhecimentos adequados de forma actuar positivamente na saúde da

criança (Campos et al., 2010).

O conhecimento dos pais sobre os factores etiológicos da cárie dentária não constitui

um estímulo suficiente para a adopção dos correctos cuidados da saúde oral das

crianças. Contudo, outros factores como a renda mensal e a escolaridade dos

encarregados influenciam directamente a procura de assistência dentária, assim como a

realização de uma correcta higiene oral (Figueira et al., 2008).

Segundo Weinstein et al. (2004) e Tinanoff et al. (2009), as crianças provenientes de

países subdesenvolvidos estão normalmente associadas a populações de baixos

rendimentos. Porém, os pais destas crianças com alto-risco de cárie, associam esta

patologia a um “buraco” no dente.

Muitos pais esperam que a cárie atinja um estado avançado na dentição decídua, já com

sintomatologia para recorrer ao médico dentista, o que leva a que o tratamento seja mais

invasivo. Esta situação tende a que estes evitem tratamentos seguintes até às

necessidades extremas das crianças (Weinstein et al., 2004).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

32

Os pais das crianças devem estar cientes dos perigos da cárie precoce da infância, sendo

que as mães devem ser aconselhadas a não adicionar qualquer tipo de alimento ou

bebida ao biberão de leite em pó, de leite materno, de leite de vaca ou água. (Moynihan,

2002).

A avaliação dos conhecimentos dos pais fornece indicações sobre as necessidade das

crianças, podendo em parte auxiliar na compreensão e percepção das questões pelas

quais as crianças não recebem tratamento preventivo e/ou curativo sempre que

necessitem (Talekar et al., 2005; Wigen et al., 2010).

4. Saúde oral

Knevel et al. (2008) refere que a Organização Mundial da Saúde, defende que a saúde

oral é parte integrante e essencial para a saúde geral, sendo uma factor determinante

para a qualidade de vida, contribuindo, eficazmente, no desenvolvimento da criança.

A American Academy of Pediatric Dentistry (2007) relata que a cárie dentária é a

doença infecciosa que mais comummente afecta as crianças. Esta, quando atinge a

dentição decídua, pode potenciar dores significativas, infecções graves e,

consequentemente, diminuírem a qualidade de vida destas. Esta patologia, embora tenha

sofrido um decréscimo nos últimos anos, continua a ser uma das questões mais

problemáticas da saúde a nível mundial, relacionando-se directamente com factores

facilmente preventivos como o consumo de hidratos de carbono fermentáveis,

especialmente a sacarose (Lima et al., 2007).

Diversos estudos epidemiológicos sobre as atitudes e comportamentos da saúde oral em

crianças e adolescentes foram reportados universalmente, sendo que a generalidade

indica que estes comportamentos são melhores nas raparigas do que nos rapazes

(Kawamura et al., 2008).

Os cuidados de saúde oral em crianças pequenas são normalmente negligenciados, pois

uma opinião generalista por parte da sociedade defende que os dentes decíduos não

necessitam de tratamento visto sofrerem uma mudança de dentição (Pereira, 2001).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

33

Assim, é o pensamento de múltiplos responsáveis provenientes de um baixo nível

socioeconómico, em que as crianças até aos 3 anos de idade não recebem qualquer tipo

de tratamento dentário, o que, por esta altura, cerca de 30% das crianças já apresenta

lesões de cárie dentária (Retnakumari et al., 2012).

A dor associada à cárie dentária poderá resultar em diminuição do apetite, abstinência

escolar, afectar a linguagem, crescimento e desenvolvimento da criança (Costa et al.,

2008; Knevel et al., 2008; Tinanoff et al., 2009).

De acordo com Tinanoff et al. (2009), nos Estados Unidos, as crianças com idades

compreendidas entre os 5 e os 7 anos de idade já haverão perdido mais de 7 milhões de

horas escolares, por sintomatologia dentária, ou consultas no médico dentista já

consequência da evolução da cárie dentária.

Esta patologia é considerada um problema de saúde pública que afecta todos os grupos

etários, mas mais comummente as crianças com idades compreendidas entre os 5 e os

12 anos, resultante de uma interacção complexa entre factores ambientais e o

hospedeiro. Esta ocorre com uma prevalência de cinco vezes mais do que a asma e sete

vezes mais que a febre dos fenos (Touger- Decker et al., 2003).

Verificou-se que as crianças que escovam os dentes duas ou mais vezes ao dia

apresentavam menos cáries. Importa fundamentalmente reforçar a vigilância por parte

dos pais para garantir correctos hábitos de higiene oral (Costa et al., 2008).

De acordo com Wong et al. (2012), existe uma forte associação entre o risco de

desenvolvimento de cárie dentária e os comportamentos de saúde oral das crianças. Este

visa um maior risco de desenvolvimento da doença aquando da existência

comportamentos morosos, tais como, início da escovagem após os 12 meses de idade.

Segundo Costa et al. (2008), através do seu estudo, revelaram que numa amostra de 248

crianças, 5 % com dentes definitivos já haviam sofrido de cárie dentária, em pelo menos

um dos quatro primeiros molares, sendo este o primeiro dente definitivo a erupcionar

por volta do seis anos de idade e antes da perda de qualquer dente.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

34

A cárie dentária e a gengivite são patologias prevalentes, apesar do seu modo de

prevenção relativamente simples. (Campos et al., 2010). O Programa Nacional de

Promoção de Saúde Oral (2005) refere que o número de dentes cariados, perdidos e

obturados por criança (CPOD) aos 12 anos de idade é de 2,95 enquanto que, a

percentagem de crianças livres de cárie dentária aos 6 anos é de 33%. No entanto, este

mesmo programa identifica a meta a atingir definida pela OMS, ou seja no ano 2020,

pelo menos 80% das crianças com 6 anos estejam livres de cárie e, aos 12 anos, o

CPOD não deve ultrapasse o valor de 1,5, através de estratégias como a promoção de

saúde oral através do contexto familiar e escolar (Pereira et al, 2010).

Segundo Sgan-Cohen et al., (2009), salientam que crianças mais pobres sofrem duas

vezes mais de cárie dentária e que, maioritariamente, não receberam qualquer tipo de

tratamento. Este autor e seus colaboradores defendem que a tendência à cárie dentária

está fortemente associada à pobreza e desenvolvimento económico portanto, em países

subdesenvolvidos, é possível observar o consumo de uma dieta rica em açúcares,

acompanhada de uma inadequada exposição a medidas preventivas.

A falta de acessos a cuidados dentários é um problema para as crianças provenientes de

famílias de baixo rendimento, o que leva a que os programas de saúde pública estejam

sobrecarregados com problemas de cárie precoce da infância e outros problemas

associados (Weinstein et al., 2004).

As medidas preventivas e terapêuticas, como a introdução de veículos de fluoreto entre

outras, têm vindo a diminuir a taxa de prevalência da cárie dentária entre as crianças

(Dye et al., 2004).

As estratégias do Programa Nacional de Saúde Oral (2005) complementam-se com

conjugação de factores individuais de risco da cárie dentária, como a história clínica da

criança, a evidência clínica da doença, a análise dos hábitos alimentares, o controlo da

placa e o estado socioeconómico. No quadro I é possível observar uma breve associação

entre os factores individuais de risco para o desenvolvimento da doença.

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

35

Quadro I- Factores individuais de risco de cárie dentária (Programa Nacional de Saúde

Oral, 2005).

Factores de risco Baixo risco Alto risco

História clínica da

criança

Ausência de patologias;

Ausência de medicação

crónica.

Portador de deficiências

físicas ou mentais;

Portador de alguma doença

crónica;

Ingestão prolongada de

medicamentos

cariogénicos.

Evidência clínica da

doença

Sem lesões de cárie;

Nenhum dente perdido por

cárie;

Restaurações praticamente

não existentes.

Lesões activas de cárie;

Dentes perdidos por cárie;

Duas ou mais restaurações;

Portador de aparelho

ortodôntico.

Hábitos Alimentares Restrição ou ingestão

pouco frequente de

alimentos ricos em hidratos

de carbono fermentáveis;

Ingestão frequente de

alimentos ricos em hidratos

de carbono fermentáveis,

particularmente entre as

refeições;

Nível socioeconómico Médio / Alto. Baixo.

Controlo da placa

bacteriana

Escovagem duas ou mais

vezes por dia.

Escovagem pouco eficaz;

Ausência de escovagem.

Globalmente, o tratamento e a prevenção das doenças orais são dispendiosas e, como

tal, estão geralmente, aquém das possibilidades de indivíduos numa situação

socioeconómica mais baixa, correndo o risco de desenvolver mais facilmente doenças

sistémicas associadas a patologias orais (Sgan-Cohen et al., 2009).

Porém, estudos indicam que pais de crianças pertencentes a grupos socioeconómicos

mais elevados procuram serviços de saúde oral, como forma preventiva e não somente

pelo tratamento curativo (Davaglio et al., 2009).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

36

4.1. Higiene Oral

A familiarização da higiene oral nos lactantes (ainda sem dentes) deve ser promovida

após a amamentação colocando uma dedeira de borracha ou até mesmo uma gaze

embebida em água tépida, de forma a manter a gengiva higienizada, promovendo assim

um menor risco de doenças, como candidíase oral (Areias et al., 2010).

A higiene deve iniciar-se logo após a erupção do primeiro dente, com uma escova

macia ou com uma gaze (Toledo, 2005; Areias et al., 2008; Areias et al., 2010). Visto

que o início precoce da eliminação da placa bacteriana ajuda a estabelecer um hábito e

comportamento que permanece para o resto da vida (Boj et al., 2004; Toledo, 2005;

Costa et al., 2008).

A placa bacteriana tem vindo a ser considerada como um dos factores etiológicos da

patologia que, mais comummente, afecta a cavidade oral durante a infância, a cárie

dentária. Desta forma, para prevenção e tratamento é fundamental um controlo eficaz da

placa bacteriana, podendo realizar-se através de métodos mecânicos e/ou químicos

(McDonald et al., 1995; Kramer et al., 1997; Toledo, 2005).

A escovagem e a utilização do fio dentário têm como principal objectivo a eliminação

e/ou desorganização da placa bacteriana que se forma constantemente na superfície

dentária. Desta forma, esta deve ser feita sistematicamente após cada refeição, de

preferência nos próximos trinta minutos, período de tempo essencial para que os

germens comecem a elaborar as suas secreções ácidas (Areias et al., 2010).

O controlo mecânico é considerado o método mais valioso, utilizado na prevenção e

remoção da placa bacteriana. Descrito por uma técnica simples composta por vários

dispositivos de limpeza, como escovas dentárias, fio dentário, rapadores linguais entre

outros (Boj et al., 2004).

Porém, durante a infância aconselha-se uma escova com uma cabeça pequena, cabo

longo, multitufos, cerdas macias e arredondadas, devidamente adaptados às

necessidades das crianças. Equitativamente, os métodos de escovagem também variam

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

37

consoante o desenvolvimento psicomotor da criança, assim, durante a idade pré-escolar,

recomenda-se a utilização da técnica horizontal, uma técnica relativamente simples, a

escova deve ser colocada perpendicularmente às superfícies dentárias, com movimentos

de trás para a frente. Posteriormente, crianças em idade escolar, quando adquirem

alguma destreza manual e efectividade na eliminação da placa, realizar-se a substituição

da técnica horizontal, para a técnica de Bass ou Stillman modificada, a fim de assegurar

uma eficiente higienização de toda a superfície dentária, assim como ao nível sulco

gengival (Boj et al., 2004; Toledo, 2005).

No entanto, crianças até aos seis anos de idade devem ter uma higiene oral

supervisionada pelos pais. Posterior e gradualmente, estas deverão ser responsabilizadas

pela sua própria higiene oral, de acordo com o seu desenvolvimento psicomotor, uma

vez que é importante que estas sejam estimuladas a assumir a parte de responsabilidade

do controlo da placa (Kramer et al., 1997; Toledo, 2005).

A utilização do fio dentário só deve ser implementada, quando houver pontos de

contacto entre os dentes, assim como habilidade e destreza manual para o seu uso

efectivo (Toledo, 2005).

No controlo químico da placa são utilizados métodos auxiliares potenciados para

pacientes diagnosticados de elevado risco, sendo a clorohexidina o composto mais

utilizado para remoção dos Streptococcus mutans (Boj et al., 2004). No entanto, as

substâncias antimicrobianas utilizadas no controlo químico da placa têm como

principais acções: a inibição da adesão e consequente colonização bacteriana, inibição

do crescimento e do metabolismo bacteriano, assim como desorganização da placa

madura (Toledo, 2005).

A escovagem diária após as refeições, assim como ao deitar, quando associada ao uso

de dentífrico fluoretado (1000-1500 ppm) é considerado actualmente o principal método

preventivo primário de cárie dentária (Programa Nacional de Saúde Oral, 2005; Areias

et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

38

A escovagem mais pormenorizada deve ser realizada antes de deitar, uma vez que se

conseguem concentrações mais elevadas de flúor na cavidade oral, que irão actuar

topicamente durante mais tempo. Pois, durante o período de sono, a produção de saliva

é diminuta e os movimentos de autolimpeza por parte da língua são escassos, o que

consequentemente proporciona condições de desenvolvimento da placa bacteriana.

Porém, quando associado o hábito de ventilação bucal torna-se ainda mais importante o

seu controlo durante o período de descanso (Melo et al., 2008; Areias et al., 2010).

Segundo Retnakumari et al. (2012), no seu estudo foram examinadas 350 crianças, das

quais, 319 tinham o hábito de escovar os dentes. Desta amostra, cerca de 40,8% das

crianças incutiu o hábito de escovagem antes do primeiro ano de vida, 58,3% entre 1 e 2

anos de idade e 0,9% para aquelas que só iniciaram este hábito após os 2 anos de idade

o que foi possível observar que existe uma maior severidade de cárie entre as crianças

que iniciaram a escovagem após o primeiro ano de idade. Assim, é possível afirmar que

a idade em que são implementadas medidas de higiene oral são de extrema importância

para o estabelecimento e manutenção da saúde oral das crianças.

Outros estudos demonstram que crianças pertencentes a classes socioeconómicas mais

elevadas possuem uma melhor higiene oral, uma vez que a escovagem com pasta

dentífrica, o uso de colutórios e fio dentário é mais frequente neste grupo, quando

comparada com classes económicas mais baixas (Davaglio et al., 2009).

Segundo o Programa Nacional de Saúde Oral (2005) e Tinanoff et al. 2009, a

escovagem dentária deve ser efectuada com uma escova de tamanho adequado à boca

da criança. Os filamentos que constituem escova devem ser de nylon com extremidades

arredondadas e textura macia e, aquando deformados, deverá ser feita a substituição da

escova. Existem dois tipos de escovas as manuais e as eléctricas, as quais requerem os

mesmos cuidados. Porém as escovas eléctricas auxiliam na higiene oral das pessoas

com pouca destreza manual. Estas quando utilizadas duas vezes por dia têm uma

duração aproximada de cerca de três a quatro meses.

Os dentífricos devem possuir uma dosagem de fluoreto compreendida entre 1000-1500

ppm. Estes, quando contêm sabores muito atractivos não devem ser recomendados, uma

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

39

vez que podem levar a que as crianças ingiram deliberadamente. Após os 6 anos de

idade a criança deverá começar a ter alguma autonomia no que respeita a sua

higienização, em particular no uso de dentífrico, pois até lá este doseamento deverá ser

feito conscientemente por um adulto (Programa Nacional de Saúde Oral, 2005).

Hoje em dia, a combinação do desgaste e stress diário dos pais com o cansaço das

crianças ao final do dia, pode favorecer uma experiência positiva para o

desenvolvimento de cárie. Assim sendo, deve ser desenvolvida uma interacção entre

pais-crianças, através de jogos e músicas, durante o período de escovagem (Boj et al.,

2004).

4.2. Flúor

O flúor pode ser administrado via sistémica ou tópica, sistemicamente através do

abastecimento das águas públicas, alimentos (leite, sal e açúcares fluoretados) e

medicamentos compostos por fluoretos (sob a forma de comprimidos ou gotas),

enquanto por via tópica é proporcionado através dos dentífricos, colutórios e vernizes

(Boj et al., 2004; Toledo, 2005).

Segundo o Programa Nacional de Saúde Oral (2005), o flúor tem uma importância

comprovada na redução da prevalência da cárie dentária. Visto que, interfere no

processo de remineralização e desmineralização para além da interferência que tem no

crescimento e metabolismo bacteriano (Toledo, 2005). Actualmente, a sua acção

preventiva e terapêutica é tópica e pós-eruptiva, podendo o dentífrico fluoretado ser

uma opção consensual. Contudo, por si só a escovagem com um dentífrico fluoretado

não reduz o desenvolvimento da cárie dentária (Tinanoff et al., 2009).

Porém, o flúor administrado via sistémica tem um efeito preventivo, actuando

particularmente no período pré-eruptivo, através da incorporação deste na circulação

sanguínea para o esmalte em desenvolvimento. A sua ingestão sistémica pode ter

consequentemente um efeito tópico, uma vez que após a absorção do flúor, este passa

em certa quantidade para a saliva, local onde pode exercer uma acção tópica (Boj et al.,

2004; Toledo 2005).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

40

O mecanismo de acção do flúor por via sistémica ocorre durante o período de maturação

do esmalte, uma vez que é incorporado na estrutura de esmalte, conduzindo à formação

de fluorapatite e fluorhidroxiapatite que, consequentemente, tornam o esmalte mais

resistente ao processo de desmineralização. Comummente, o flúor por acção tópica tem

como principais mecanismos a diminuição do potencial cariogénico da placa bacteriana,

promoção do processo de remineralização e a inibição da desmineralização (Boj et al.,

2004; Moynihan, 2005).

Quando administrado sistemicamente este é absorvido ao nível do tracto gastrointestinal

e é distribuído por todo o organismo através da corrente sanguínea. Cerca de 96% do

flúor deposita-se nos ossos e dentes (Boj et al., 2004). Contudo, esta via de

administração pode conduzir a efeitos tóxicos, particularmente antes dos 6 anos de

idade, tendo consequências de ordem estética (Programa Nacional de Saúde Oral,

2005).

Os principais alimentos que contêm flúor são peixes do mar, chá, mas

fundamentalmente a água. Relativamente à fluoretação das águas de abastecimento

público, a Organização Mundial de Saúde considera que a concentração de fluoretos

deve ser compreendida entre 0,5 e 1,5 ppm de Flúor (Programa Nacional de Saúde Oral,

2005). Esta concentração é variável, dependendo do valor da temperatura média do

local, visto condicionar a ingestão de água. Em regiões com climas mais frios a

concentração pode estar mais próxima do limite superior e, nas regiões mais quentes, a

sua concentração pode estar próxima do limite inferior, pressupondo-se que ingerem

uma maior quantidade de água. Em Portugal continental, a água de rede pública contém

uma concentração de flúor menor a 0,3 ppm (mg/l), com excepção Aveiro e Santarém

(Costa et al., 2008). Deste modo, no nosso país, a dose profiláctica óptima,

considerando o somatório de todas as fontes de flúor é de 0,05 mg/kg/dia (Programa

Nacional de Saúde Oral, 2005; Toledo, 2005).

Quando não existe um consumo adequado de flúor, por via sistémica está indicada a

administração de suplementos de flúor, através de comprimidos ou gotas de flúor

(American Academy of Pediatric, 2008a; Tinanoff et al., 2009). No quadro II é possível

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

41

observar como a dosificação dos suplementos de flúor varia de acordo com a idade e

concentração já ingerida.

Quadro II - Doses recomendadas de suplementos dietéticos de flúor. A dosificação dos

suplementos de flúor varia de acordo com a concentração de F- da água ingerida, bem

como a idade da criança (American Academy of Pediatric Dentistry, 2008a).

As formas de aplicação tópica podem classificar-se em dois grupos distintos, aplicação

por parte do médico dentista, usando altas concentrações de flúor, em baixas

frequências de utilização ou, então, por parte do paciente (auto-aplicação), empregando

uma maior frequência de aplicação com menores concentrações (Boj et al., 2004).

De acordo com a American Academy of Pediatric Dentistry (2008a), o uso tópico de

flúor através de dentífricos deve ser utilizado pelo menos duas vezes por dia, como um

procedimento preventivo primário, visto ter maiores benefícios comparativamente com

apenas uma aplicação.

A toxicidade aguda pela ingestão de uma grande quantidade de flúor poderá manifestar-

se através de queixas digestivas, como, dor abdominal, vómitos, hematemeses e

melenas; neurológicas, como, tremores, convulsões, tetania, delírio e lentificação da

voz; renais; metabólicas, como, hipocalcemia e hipomagnesiémia; cardiovasculares,

como, arritmias, hipotensão e por fim queixas respiratórias, como depressão respiratória

e apneias. No entanto, a toxidade crónica pela ingestão de flúor manifesta-se através da

fluorose dentária, uma alteração de esmalte, que se caracteriza pela hipomineralização

associada a uma maior porosidade da sub-superfície e superfície do esmalte, podendo

Suplementação dietética de flúor

Idade <0,3 ppm F- 0,3-0,6 ppm F

- >0,6 ppm F

-

Nascimento – 6 meses 0 0 0

6 meses – 3 anos 0,25mg/dia 0 0

3 anos – 6 anos 0,50mg/dia 0,25mg/dia 0

6 anos – 16 anos 1,00mg/dia 0,50mg/ dia 0

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

42

em condições mais graves atingir a união amelo-dentinária (Pereira, 2001; Boj et al.,

2004).

As crianças com idades iguais ou inferiores a 6 anos, que nomeadamente cumprem as

exigências habituais de higiene oral, isto é, escovagem com dentífrico fluoretado,

quando associada a administração de comprimidos ou gotas têm um maior risco de

fluorose dentária (Programa Nacional de Saúde Oral, 2005).

Os suplementos dietéticos ou fórmulas contendo flúor utilizados excessivamente entre

os 2-8 anos de idade podem causar hipomineralização permanente e fluorose (Costa et

al., 2008). De igual modo, a ingestão deste em excesso durante o período de formação

do esmalte pode levar à fluorose dentária, sendo que esta condição é observada

especialmente em países que têm altos níveis de flúor no abastecimento de água.

Relatórios indicam que a fluorose dentária e a fluorose esquelética são encontradas em

grandes áreas da Índia, Tailândia, no Vale do Rift da África Oriental e em muitos

Estados árabes (Moynihan, 2005).

4.3. Cárie Dentária

A cárie dentária é uma doença multifactorial, infecciosa e transmissível que mais

frequentemente afecta o ser humano. Nos últimos anos foram descritos múltiplos

factores que influenciam a evolução da doença, nomeadamente a complexa interacção

entre factores ambientais, como dieta, placa bacteriana e o hospedeiro, reflectindo-se

como um sério problema de saúde pública que atinge todo o mundo (Pereira, 1993;

Touger-Decker et al., 2003; Aimutis, 2004; Costa et al., 2008; Pereira et al., 2010;

Retnakumari et al., 2012).

A perda de peças dentárias é uma das principais consequências da ausência de

tratamento desta patologia. Porém, quando ocorre na dentição decídua, pode

proporcionar consequências durante o desenvolvimento e crescimento, alterações na

cronologia de erupção, oclusão, bem como na função mastigatória, podendo afectar

psicologicamente a criança (Moynihan et al., 2004; Losso et al., 2009).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

43

Esta patologia é caracterizada pelo amolecimento da estrutura dura do dente, evoluindo

posteriormente para a formação de uma cavidade, ou seja, a cárie dentária ocorre devido

à desmineralização do esmalte e dentina através de ácidos orgânicos produzidos por

bactérias presentes na placa bacteriana devido ao metabolismo anaeróbico dos açúcares

derivados da dieta (Areias et al., 2008). Após a ingestão de açúcares ou outros hidratos

de carbono fermentáveis surge uma queda do pH, que consequentemente aumenta a

solubilidade de hidroxiapatite de cálcio nos tecidos duros dentários e a desmineralização

ocorre. O pH ao qual ocorre a desmineralização é muitas vezes referido como o pH

crítico aproximadamente de 5,5 (Aimutis, 2004; Moynihan, 2005).

Segundo Touger-Decker et al. (2003), esta é uma das doenças mais comuns na infância

nos Estados Unidos, com uma ocorrência 5 vezes maior que a asma e 7 vezes mais

comum que a febre dos fenos, sendo que a sua prevalência aumenta com a idade durante

a vida adulta.

A etiologia da cárie dentária é desencadeada por três factores primários individuais

(hospedeiro, dieta e a placa bacteriana) que, quando da sua interacção num determinado

período de tempo, conduzem a um desequilíbrio no processo de desmineralização e

remineralização entre a placa bacteriana adjacente e a superfície dentária (Ribeiro et al.,

2004; Mahan et al., 2010).

Os principais microrganismos responsáveis por esta patologia são os Streptococcus

mutans e Streptococcus sobrinus, pois têm a capacidade de colonização da superfície

dentária e consequente produção de ácidos a uma velocidade superior à capacidade de

neutralização do biofilme abaixo do pH crítico (Costa et al, 2008). Porém, outros

microrganismos como os lactobacilos encontram-se associados à progressão da lesão

quando já instalada (Ribeiro et al., 2004; Fejerskov et al., 2005; Mahan et al., 2010).

Estudos demonstram que após a ingestão de açúcar, o pH da placa bacteriana demora

aproximadamente dez minutos para atingir o seu valor mais baixo, recuperando

vagarosamente após 40-60 minutos, repetindo-se consecutivamente após cada ingestão

de hidratos de carbono. O pH da placa em descanso é neutro, aproximadamente 7, com

saturação de cálcio e fosfato. Porém, um consumo consequente de hidratos de carbono

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

44

durante o dia proporciona uma descida acentuada do pH da placa, que resulta no

processo de desmineralização da estrutura dentária, diversas vezes ao dia. A cada ataque

ácido o pH desce abaixo do pH crítico (5,5), causando uma subsaturação de cálcio e

fosfato na placa dentária e, consequentemente, uma saída destes iões da estrutura

mineralizada do dente durante o período em que o pH permanece diminuído. Desta

forma, se o ataque ácido for sucessivo e durante um período maior que a

remineralização, irá consequenciar a formação de lesões de cárie (Toledo, 2005;

Fejerskov et al., 2005).

De acordo com Jürgensen et al. (2009), a cárie dentária tem diminuído em muitos países

industrializados, contrariamente a muitos países com baixas rendas, onde

comportamentos de saúde, como aquisição de dentífricos e escovagem regular é

escassa. Isto deve-se a múltiplos factores, sendo um deles a adopção de hábitos

alimentares ricos em hidratos de carbono fermentáveis.

A imunossupressão, a par de necessidades terapêuticas oncológicas ou reumatológicas

aumentam a susceptibilidade de desenvolvimento da cárie dentária. Contudo, parece

existir uma susceptibilidade à cárie em crianças portadoras de doenças crónicas que

efectuam o uso contínuo de medicamentos por via oral, contendo sacarose, que devido a

administrações repetidas e durante o período de sono podem apresentar risco de

desenvolver a doença, aquando da ausência de higienização após a administração dos

mesmos (Losso et al., 2009).

Segundo o Programa Nacional de Saúde Oral (2005), deve ser implementada uma ou

mais medidas de protecção para crianças com alto risco de cárie, nomeadamente, a

aplicação de selantes de fissuras, suplementos de flúor (comprimido diário de 0,25 mg),

assim como vernizes de flúor ou clorohexidina.

4.3.1. Hospedeiro

Estudos demonstram que os dentes em erupção são mais susceptíveis ao

desenvolvimento de lesões de cárie, devido a condições favoráveis de acumulação de

placa bacteriana. Quando estes ainda se encontram em infra-oclusão, não existindo o

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

45

efeito mecânico do uso funcional do dente na remoção da placa, o processo de

higienização também se torna mais difícil (Pereira, 1993; Toledo, 2005).

As fissuras são os locais propícios para o desenvolvimento das lesões de cárie, uma vez

que existe uma forte correlação entre os níveis de Streptococcus mutans e as lesões de

cárie nesses mesmos locais (Fejerskov et al., 2005).

A saliva representa um papel importante na protecção das superfícies dentárias, devido

à sua acção de limpeza, assim como a sua composição com agentes antimicrobianos.

Desta forma, uma alta taxa de secreção associada à mastigação é fundamental na

eliminação de açúcares e partículas de alimentos da cavidade oral (Fejerskov et al.,

2005).

4.3.2. Dieta

A dieta rica em hidratos de carbono fermentáveis torna-se susceptível à amilase salivar,

sendo comummente o substrato ideal para o metabolismo bacteriano (Kramer et al.,

1997; Lingström et al., 2003). A relação causal entre a doença cárie e a sacarose tem

vindo a ser estabelecida, visto inúmeras formas dietéticas de açúcar conterem potencial

cariogénico, sendo utilizados pelas bactérias para produzir ácidos orgânicos (Lingström

et al., 2003; Ferjerskov et al., 2005; Lim et al., 2008; Tinanoff et al., 2009; Mahan et

al., 2010).

Os pacientes que fazem uso de suplementos energéticos, por exemplo, crianças com

dificuldades de crescimento, podem apresentar um elevado risco de cárie, visto que os

suplementos energéticos são altamente concentrados em sacarose, outros açúcares e

polímeros de glicose (Fejerskov et al., 2005).

Os hidratos de carbono, para além de constituírem a principal fonte energética para as

bactérias, são ainda utilizados na síntese de polissacarídeos, que tanto podem constituir

um material para o metabolismo bacteriano, como podem auxiliar na aderência das

bactérias entre si e às superfícies dentárias. Desta forma, ocorre uma maior permanência

da placa nas superfícies dentárias lisas o que, de outro modo, tenderia a ser eliminada

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

46

pela acção de múltiplos factores inibitórios, como o fluxo salivar, a mastigação e a

deglutição (Pereira, 1993; Kramer et al., 1997). Este processo ocorre uma vez que a

sacarose favorece o processo de colonização por microrganismos orais, aumentando a

viscosidade da placa, que consequentemente implica uma forte aderência às superfícies

dos dentes, que leva a um aumento da concentração de ácido na interface placa-dente

(Kramer et al., 1997).

4.3.3. Placa bacteriana

A placa bacteriana é um ecossistema de maior importância no desenvolvimento de duas

das mais prevalentes doenças orais, como a cárie dentária e a gengivite. Esta é definida

como um agregado bacteriano heterogéneo, fortemente aderente às superfícies dentárias

(Pereira, 1993). Sendo constituída por uma diversidade de microrganismos que

colonizam a superfície dentária e, consequentemente se encontram envolvidas por uma

matriz de polímeros de origem bacteriana, assim como do próprio hospedeiro (Pereira,

1993; Toledo, 2005).

Contudo, existem factores individuais, como quantidade e composição da saliva, taxa de

secreção e capacidade tampão da saliva e o tempo de permanência do substrato na

cavidade oral, que influenciam o pH da placa e, sucessivamente, a incidência da cárie

dentária (Pereira, 1993).

As bactérias cariogénicas, tais como, Streptococcus mutans possuem características

peculiares, como a capacidade de manter o metabolismo do açúcar sob condições

ambientais extremas, em pH baixo. Estas não só permanecem em pHs baixos, como

crescem e metabolizam os seus produtos isto é, são acidogénicas e acidúricos (Pereira,

1993; Fejerskov et al., 2005).

4.4. Cárie Precoce da Infância

A cárie quando afecta a dentição decídua de crianças em idade pré-escolar denomina-se

cárie precoce da infância, que se reflecte num processo de destruição mais agressivo e

rápido da superfície da estrutura dentária. Os factores etiológicos estão directamente

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

47

relacionados com a transmissão de bactérias patogénicas por parte da mãe (transmissão

vertical), hábito de adormecer com o biberão ou chupeta com açúcar, mel ou qualquer

outro hidrato de carbono altamente cariogénico, assim como a susceptibilidade da

estrutura dentária (Fejerskov et al., 2005; Melo et al., 2008; Tinanoff et al., 2009).

Esta patologia afecta, principalmente, as crianças com idades compreendidas entre os 0-

71 meses de idade (6 anos) e é definida com a existência de um dente cariado (lesão

com ou sem cavitação), ausência de um dente (perdido por cárie) ou presença de uma

obturação de um dente decíduo (Areias et al., 2010).

O primeiro sinal desta patologia é a desmineralização, caracterizada por uma mancha

branca, ou em alguns casos até mesmo uma cavidade nos incisivos maxilares decíduos,

envolvendo preferencialmente as superfícies linguais e labiais (Pereira, 2001; Weinstein

et al., 2004).

Se após a progressão da doença, o ambiente oral suportar condições favoráveis para o

contínuo desenvolvimento do processo cariogénico, irá envolver outros dentes decíduos

para além dos incisivos maxilares, como os molares maxilares e, posteriormente os

molares mandibulares. Raramente ocorre ao nível dos incisivos inferiores, uma vez que

o conteúdo alimentar (biberão e/ou leite materno) imerge todos os dentes erupcionados,

com exclusão dos incisivos inferiores que se deparam protegidos pelas secreções

salivares, mamilo, língua ou do biberão, dependentemente do seu tipo de alimentação

(Pereira, 2001).

Assim sendo, a introdução precoce da sacarose pode ser nociva, pela influência que

exerce sobre o paladar do bebé, determinando preferências futuras, que se não

implementadas futuras atitudes preventivas desencadearão possíveis experiências de

cáries dentárias (Kramer et al., 1997; Bowen et al., 2005).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

48

4.5. Erosão dentária

A erosão dentária é uma patologia que se caracteriza por uma perda progressiva de

tecido duro, em consequência de um processo químico que não envolve acção

bacteriana (Branco et al., 2008). Actualmente, verifica-se um aumento acentuado desta

patologia, associada a ácidos alimentares, maioritariamente induzidos pelo aumento do

consumo de refrigerantes por parte crianças e adolescentes (Moynihan et al., 2004).

Esta doença difere da cárie dentária. Porém, vários factores contribuem para este

processo, podendo estes serem de origem extrínseca (derivada da alimentação) ou

intrínseca (gastro-esofágica) (Davis et al., 2009).

Os factores extrínsecos são a dieta (frutas e bebidas ácidas), medicamentos (Vitamina C,

ácido acetilsalicílico) e factores relacionados com o meio ambiente (como indústrias

químicas e piscinas). Os factores intrínsecos caracterizam-se por patologias sistémicas

que podem consequenciar regurgitação do suco gástrico ou diminuição do fluxo salivar

(Sobral et al., 2000; Branco et al., 2008).

O mecanismo de desenvolvimento é influenciado pela frequência de consumo, tempo de

exposição e pH. Desta forma, quando da ingestão de uma bebida ou alimento, existe um

contacto imediato deste com as superfícies dentárias que, em condições normais, são

recobertas por uma película constituída por iões e proteínas salivares, com funções de

manter o pH. Por outro lado, ao consumir bebidas e/ou alimentos com baixo nível de pH

e uma elevada capacidade de tamponamento, ocorrerá uma diminuição acentuada do pH

na cavidade oral, podendo ocasionar perda das funções salivares e aumento na

dissolução do esmalte (Lima et al., 2007).

Esta perda de estrutura dentária é facilmente caracterizada por cavitações lisas,

normalmente em forma de disco nas superfícies vestibulares dos dentes anteriores (Sapp

et al., 1997). Os ácidos derivados da dieta são as causas mais citadas da erosão dentária.

Estudos revelam evidências de que determinados alimentos estão fortemente associados

à erosão dentária, como os refrigerantes e sumos de fruta. Porém existe uma menor

associação ao consumo de fruta fresca (Moynihan, 2002).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

49

Como é possível observar no quadro III e IV, determinados alimentos possuem um

grande potencial para o desenvolvimento erosão dentária, contrariamente a outros que

não detêm qualquer potencial nocivo para a implementação da doença.

Quadro III – Alimentos e bebidas com potencial de originar erosão dentária

(Moynihan, 2005).

Quadro IV- Alimentos e bebidas com pouco ou nenhum potencial de originar erosão

dentária (Moynihan, 2005).

Alimentos e bebidas com potencial erosivo

Refrigerantes (bebidas gaseificadas, bebidas energéticas)

Sumos de frutas frescas; bebidas de sumo de frutas

Bebidas alcoólicas

Vinagre, molhos e pickles

Alguns tipos de chá

Frutas frescas, como frutos cítricos e maçãs

Aspirina (mastigável); comprimidos de vitamina C (em grandes

quantidades).

Alimentos e bebidas com pouco/nenhum potencial erosivo

Pão (por exemplo, sanduíches e torradas)

Alimentos básicos (arroz, massas)

Alimentos fibrosos (verduras cruas)

Queijo e leite

Amendoins

Água

Chá e café sem açúcar

Cereais com baixo teor de açúcar

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

50

Segundo Davis et al. (2009), revelaram que uma solução que contenha na sua

composição cálcio, fósforo e flúor potencia a regressão e até mesmo limitação da

erosão.

O sumo de laranja, assim como o sumo de groselha negra que contêm um pH de

aproximadamente 3,8, quando adicionado cálcio, resulta numa redução da erosão in

vitro. Estudos revelam que as bebidas light e “zero açúcar” apresentaram pH

extremamente baixo, assegurando valores que podem potenciar a erosão dentária (Lima

et al., 2007).

A erosão tem sido um objecto de pouca atenção nos Estados Unidos. Porém verifica-se

um aumento no consumo de sumos 100% naturais, assim como sumos de frutas que

aumentam o potencial erosivo. Estes sumos têm sido enriquecidos com concentrações

variáveis de cálcio, com o objectivo de aumentar a ingestão de cálcio na dieta para

enriquecimento ósseo, prevenção da osteoporose e diminuição do potencial de erosão

(Davis et al., 2009). Assim sendo, o poder erosivo de uma bebida ou alimento pode ser

minimizado caso exista na sua composição flúor e outros minerais (Lima et al., 2007).

Outros relatos defendem que a erosão extensiva tem sido associada a alimentos e

bebidas que contenham na sua composição grandes concentrações de vitamina C,

sucção de fatias de limão, consumo de coca-cola e/ou outros refrigerantes gaseificados

(Bowen et al., 2005; Moynihan, 2005).

4.6. Patologias periodontais

As deficiências nutricionais, nomeadamente de cálcio, folato, zinco e vitamina C,

aumentam a permeabilidade da barreira no sulco gengival, desenvolvendo uma maior

susceptibilidade para as doenças periodontais. A dieta equilibrada desempenha um

papel positivo, contudo não é suficiente para o tratamento da patologia, mas quando

combinada com uma boa higiene oral tem um valor significativo (Touger-Decker et al.,

2003; Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

51

Na sua maioria, as lesões orais ocorrem em crianças saudáveis, pelo que em

determinados casos podem surgir sinais de doenças sistémicas, cuja primeira

manifestação ocorre no complexo orofacial. Durante a exploração oral deve-se observar

atentamente a mucosa e o periodonto do paciente odontopediátrico, visto a sua

importância, que quanto mais rápido for o diagnóstico, melhor será o seu prognóstico

(Boj et al., 2004).

A gengivite e periodontite ulceronecrosante são raras, manifestando-se clinicamente por

necrose gengival, sangramento e ulceração gengival aguda. O principal factor etiológico

destas patologias é a imunossupressão por stress emocional e ansiedade, má nutrição,

infecções virais, assim como uma deficiência de higiene oral (Boj et al., 2004).

A gengivite escorbútica é uma patologia clinicamente grave e rara, associada a uma

deficiência de vitamina C. Todavia, pode ocorrer em crianças alérgicas a sumos de fruta

e com falta de suplementação dietética adequada da vitamina. A criança normalmente

refere dor intensa podendo associar-se a uma hemorragia espontânea (McDonald et al.,

1995).

Segundo Touger-Decker et al. (2003), revela que não existem estudos que possam

suportar uma relação entre o consumo de açúcares da dieta e o risco de progressão da

doença periodontal.

4.7. Estomatite Aftosa Recorrente

A estomatite aftosa recorrente denominada também de aftose oral recidivante e mais

comummente conhecida por afta é uma patologia inflamatória crónica muito frequente

na cavidade oral. Normalmente afecta crianças saudáveis, sem queixas de saúde,

podendo associar-se a um possível desequilíbrio imunológico e/ou predisposição

genética (Sapp et al., 1999).

A sua etiologia ainda permanece desconhecida, porém tem sido associada a factores

infecciosos, genéticos, imunológicos, e de igual modo coligados a factores

predisponentes como uso de determinados fármacos, deficiências vitamínicas (B2, B4,

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

52

B12 e C) e minerais (ferro), hipersensibilidade alimentar e stress (Boj et al., 2004).

Sendo que muitos pacientes referem uma vigorosa associação entre os episódios

ulcerativos e a ingestão de certos alimentos, nomeadamente os que contêm glúten, leite,

café, chocolate, nozes, amendoins, alimentos crocantes e morango.

Clinicamente podem ocorrer de três formas distintas: aftas minor, aftas major e úlceras

herpetiformes (Sapp et al., 1999).

As aftas minor são as mais frequentes, manifestando-se com sintomas de hiperalgesia e

sensação de queimadura da mucosa. Episodicamente ocorre em zonas não

queratinizadas da mucosa oral, como mucosa jugal, fundo do vestíbulo, ponta e bordos

laterais da língua e mucosa labial (Boj et al., 2004).

5. Recomendações

Os cuidados preventivos da cárie dentária passam pela implementação de uma dieta

equilibrada associada à integração de práticas de higiene oral (Pereira, 2001; Programa

Nacional de Saúde Oral, 2005).

A eliminação oral de hidratos de carbono pode ser executada através de estímulos

mecânicos e gustativos, que proporcionam um aumento do fluxo salivar. Deste modo, é

aconselhável a ingestão de vegetais crus, assim como frutas secas e não cristalizadas

(Pereira, 1993).

Logo após as refeições (30 minutos), inclusive lanches, deve-se monitorizar atitudes de

higienização, como escovagem (2-3minutos). Quando não houver possibilidade de

escovagem, enxaguar com água (efeito útil, mas limitado) ou mascar gomas de xilitol

durante cerca de 15 a 20 minutos. A utilização de pastilhas elásticas sem açúcar melhora

a taxa de eliminação de hidratos de carbono, ao estimular o aumento do fluxo salivar,

que consequentemente contribui para a neutralização da acidez da placa (Pereira, 1993;

Mahan et al., 2010).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

53

A American Academy of Pediatric Dentistry (2008b), recomenda a todas as crianças e

adolescentes o estabelecimento de uma dieta variada e equilibrada rica em legumes,

frutas, cereais integrais e baixa em gordura e colesterol, um balanceamento do consumo

de alimentos com actividade física (em forma de manter o índice de massa corporal),

manutenção de uma ingestão calórica adequada para oferecer suporte a um crescimento

e desenvolvimento saudáveis, assim como, utilização moderada do consumo de açúcar e

sal.

Segundo Marshall et al. (2010), relatam que os indivíduos deveriam atender a

recomendações alimentares como parte do padrão da saúde, tal como, o consumo de

uma variedade de vegetais, frutas, assim como, feijões e ervilhas; ingestão de pelo

menos uma metade de todos os grãos, como grãos integrais, substituindo grãos

refinados por grãos integrais; aumento da ingestão de produtos livres de gordura ou de

baixo teor de gordura, como leite, iogurte, queijo ou bebidas de soja fortificados;

selecção de uma variedade de alimentos ricos em proteínas, como carne magra, aves,

frutos do mar, ovos, ervilhas, produtos de soja, frutos secos sem sal, sementes e escolha

de alimentos que forneçam mais potássio, fibra alimentar, cálcio e vitamina D, que

incluem vegetais, frutas, cereais integrais, leite e seus derivados.

A actuação precoce nos hábitos dietéticos das crianças deve passar, por uma redução da

ingestão do consumo de bebidas carbonatadas durante longos períodos de tempo, doces,

lanches frequentes, bem como, chicletes com coberturas e recheios de açúcar. Porém, a

suplementação vitamínica em demasia também deve ser evitada, fundamentalmente

vitamina C mastigável, que pode induzir o desenvolvimento de lesões, como a erosão

dentária (Touger-Decker et al., 2004).

No final do consumo hidratos de carbono fermentáveis como biscoitos, bolos, batatas

fritas, para além de se aconselhar a ingestão próximo das refeições diárias, aconselha-se

ainda o consumo de uma fatia de queijo, ou goma de xilitol com o intuito de reduzir a

cariogenicidade dos alimentos consumidos (Mahan et al., 2010).

A ingestão de medicamentos infantis, como xaropes, vitaminas e gotas, deve ser

preferencialmente efectuada após as refeições, caso não haja qualquer contra-indicação

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

54

médica, uma vez que possuem uma forte composição de açúcares, de forma a serem

bem tolerados pelas crianças (Toledo, 2005).

Importante citar que, durante o sono, ocorre uma diminuição do fluxo salivar, que

consequentemente provoca uma drástica redução da capacidade de remineralização, o

que significa que a ingestão de alimentos e/ou bebidas açucaradas ao deitar são

altamente prejudiciais para a saúde dentária. Deste modo o consumo de bebidas e

alimentos devem ser evitados antes e durante o período de descanso, uma vez que existe

uma diminuição do reflexo de deglutição, movimentos musculares, assim como uma

diminuição do fluxo salivar (Pereira, 1993; Kramer et al., 1997; Fejerskov et al., 2005).

Desta forma, é necessário ter em atenção a frequência de ingestão de alimentos

cariogénicos, a cariogenicidade dos mesmos, assim como o horário de consumo (entre

as refeições, após as mesmas, antes de dormir, ou durante o sono) (Kramer et al., 1997).

O quadro V dispõe, de forma sintetizada, de recomendações dietéticas preventivas no

que respeita a educação infantil.

Quadro V- Síntese de aconselhamento dietético preventivo (Kramer et al., 1997).

Síntese de aconselhamento dietético preventivo

Introdução da sacarose na dieta, o mais tarde possível, uma vez que este dissacarídeo

na dieta do bebé, simplifica a implantação de uma microbiota cariogénica,

nomeadamente Streptococcus mutans;

Número máximo de 5 a 6 refeições diárias, uma vez que a “ frequência de ingestão

alimentar” é um aspecto fundamentalmente crítico na relação dieta-cárie;

Quando do consumo de sacarose, este deve ser efectuado junto ou logo após as

principais refeições diárias, como por exemplo, em forma de sobremesa.

Porém, o controlo da dieta como medida de prevenção da cárie dentária é bastante

difícil colocar em prática, na medida que exige um esforço reforçado e perseverança por

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

55

parte da criança. Dependendo da sua motivação para a alteração de hábitos que, muitas

das vezes, já se encontram estreitamente dependentes de múltiplos factores familiares e

sociais (Pereira, 1993; Fejerskov et al., 2005).

Hábitos Alimentares e Saúde Oral das Crianças

56

IV. Conclusão

Hoje em dia, existem cada vez mais crianças e respectivos responsáveis com estilos de

vida pouco saudáveis, particularmente, no que diz respeito à saúde oral, que a prévio ou

a longo prazo trarão consequências nefastas para o seu bem-estar físico e psicológico.

Comportamentos e atitudes, possivelmente tomados de forma inconsciente por parte dos

pais fazem com que as crianças fiquem mais propensas a riscos acrescidos de

experiência de cárie dentária, entre outras patologias do foro sistémico, como o caso da

obesidade.

A dieta desempenha um papel relevante na prevenção de doenças orais, como por

exemplo, a cárie dentária, erosão dentária, defeitos de desenvolvimento, patologias da

mucosa e, em menor extensão, a doença periodontal. Desta forma, a medicina dentária e

a nutrição são duas grandes áreas da ciência, que se relacionam intimamente, uma vez

que a carência ou excesso de determinados componentes nutricionais se manifestam

localmente e vice-versa.

O conhecimento sobre a alimentação em geral influencia activamente os hábitos

alimentares, que de forma directa ou indirecta, afectam o nosso bem-estar. Assim a

educação alimentar, deveria ser reconhecida no curriculum escolar, englobando uma

responsabilidade acrescida, a todos os profissionais de saúde, de forma a diminuir o

número de enfermidades. Deste modo, as crianças, bem como os respectivos

encarregados de educação, devem ter acesso a programas de alimentação que garantam

uma adequada e segura disponibilidade de alimentos para um crescimento físico,

cognitivo, ambiental e social ideal.

Desta forma, os médicos dentistas, os nutricionistas, juntamente com os responsáveis

das crianças e até mesmo as próprias crianças deviam trabalhar esses conhecimentos,

através da transmissão e aquisição de informação, comportamentos, atitudes e medidas

para melhorarem a qualidade e esperança de vida das crianças. Estas devem ser

aconselhadas a aumentar o consumo de produtos hortícolas e frutas em substituição de

alimentos açucarados e beber mais leite e água em detrimento dos doces e refrigerantes,

de forma a inibir factores etiológicos que levam ao aparecimento de doenças que

afectam a cavidade oral.

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