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O épico e o trágico na história do Haiti JACOB GORENDER Aristides = 1994, primeiro governante haitiano a exercer o poder após conquistá-lo pela via eleitoral. Fora obrigado a abandonar o cargo durante seu segundo mandato devido a acusações de violência, corrupção... Como explicar a trajetória seguida pelo país desde sua independência 1804, tornando-se o país mais pobre do continente ao invés de uma progressividade. Produzia-se o açúcar como principal elemento, usufruindo de uma mão-de-obra escrava estimada em meio milhão, grande maioria africanos. A ilha de Santo Domingo se divide entre o domínio francês (que só mais tarde se chamaria Haiti) e o domínio espanhol. Terra descoberta por Colombo, logo em sua primeira viagem, foi denominada de Hispaniola, e sua população nativa fora completamente dizimada no processo de civilização européia. O meio milhão de negros escravizados na região era dominado por cerca de trinta mil brancos. Além desses grupos, existia outro segmento formado por poucos milhares de mulatos, já livres, mais submetidos a extorsões e agressões dos brancos escravocratas. Além das precárias condições do trabalho, os negros eram submetidos a alimentação escassa, a moradia sórdida e inexistência de assistência médica. Suas desumanas jornadas diárias se processavam sob acionamento freqüente do açoite dos feitores. A convenção promulgada logo após a Revolução de 1789 proclamou o fim da escravidão nas colônias francesas. Essa notícia ao se propagar em Santo Domingo foi o estopim para rebeliões negras que começaram a surgir em 1791. Abandonaram as plantações, destruíram engenhos, agridem os brancos. Sem um líder definido a rebelião tomou proporções caóticas na ilha, surgindo apenas em 1794 Toussaint L’Ouverture como líder da rebelião e o primeiro comandando Negro das Forças Armadas.

Haiti - Jacobinos Negros

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O épico e o trágico na história do Haiti

JACOB GORENDER

Aristides = 1994, primeiro governante haitiano a exercer o poder após conquistá-lo pela via eleitoral. Fora obrigado a abandonar o cargo durante seu segundo mandato devido a acusações de violência, corrupção...

Como explicar a trajetória seguida pelo país desde sua independência 1804, tornando-se o país mais pobre do continente ao invés de uma progressividade.

Produzia-se o açúcar como principal elemento, usufruindo de uma mão-de-obra escrava estimada em meio milhão, grande maioria africanos.

A ilha de Santo Domingo se divide entre o domínio francês (que só mais tarde se chamaria Haiti) e o domínio espanhol. Terra descoberta por Colombo, logo em sua primeira viagem, foi denominada de Hispaniola, e sua população nativa fora completamente dizimada no processo de civilização européia.

O meio milhão de negros escravizados na região era dominado por cerca de trinta mil brancos. Além desses grupos, existia outro segmento formado por poucos milhares de mulatos, já livres, mais submetidos a extorsões e agressões dos brancos escravocratas.

Além das precárias condições do trabalho, os negros eram submetidos a alimentação escassa, a moradia sórdida e inexistência de assistência médica. Suas desumanas jornadas diárias se processavam sob acionamento freqüente do açoite dos feitores.

A convenção promulgada logo após a Revolução de 1789 proclamou o fim da escravidão nas colônias francesas. Essa notícia ao se propagar em Santo Domingo foi o estopim para rebeliões negras que começaram a surgir em 1791. Abandonaram as plantações, destruíram engenhos, agridem os brancos. Sem um líder definido a rebelião tomou proporções caóticas na ilha, surgindo apenas em 1794 Toussaint L’Ouverture como líder da rebelião e o primeiro comandando Negro das Forças Armadas.

Antes da liderança de Toussanit, houve a participação de Mackandal, um negro que tentara acabar com o domínio negro, envenenou a água utilizada nas casas dos brancos. Fora preso e queimado vivo.

Toussaint como toda a sua bagagem cultural e filosófica se sobressaia entre os outros negros o que lhe proporcionou fácil ascensão entre a matilha, se colocando como líder e tendo sobre controle uma tropa de exército negro organizada e disciplinada, conseguindo derrotar o exército Frances, espanhol e inglês que tentará tomar o território Francês, ou preocupados com o exemplo que essa revolta negra proporcionaria as outras colônias das Antilhas.

Outros companheiros de Toussaint se destacaram na luta, como Dessalines, Henri Cristophe, Maurepas, Pétion, Moïse.

Já vitorioso Toussanit seguiu duas linhas de ação que mudara por completo o rumo da historia e seu destino pessoal.

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Primeiro lugar procurou incessantemente em ganhar a confiança de Bonaparte, naquela altura primeiro cônsul do governo Parisiense. O tal diálogo com o governo francesa era regido por promessas de fidelidade a França e na concretização de uma aliança entre Revolução das Antilhas e Revolução Francesa. Porém Bonaparte não se comoveu com tais propósitos de Toussaint, estava mais preocupado com a dominação da Europa além de ter planos contrários aos ex-escravos das Antilhas.

Não percebeu Toussaint que na Convenção de 1789, o consulado bonapartista infletiu para a direita mudando as características do regime político no país, além do posicionamento quanto à relação dos escravos nas colônias.

Segunda decisão que influiu no destino de Toussaint foi de manter a colônia como grande produtora de açúcar, pensando na prosperidade da região, porém obrigou com que os ex-escravos voltassem a seu trabalho compulsório nas fazendas. A par disso, manteve os brancos como proprietários a fins de orientar na produção.

Aproveitando a confusão da conjuntura os mulatos seguiam nas tentativas de alcançar o poder, fazendo com que Toussanit precisasse de um acréscimo na vigilância.

Trabalho compulsório, confinamento nas fazendas, leniência para com os proprietários brancos miravam um revolta principalmente da ala esquerda quanto a Toussaint. Foi então, que seu sobrinho Moïse, revolucionário radical, organizou e chefiou uma revolta contra liderança. Logo, aprisionado, fora mandado a morte pelo seu próprio tio, o que dificultou mais ainda as relações entre Toussaint e os negros.

Bonaparte em 1801, tinha planos de acabar com o levante dos negros além de reinstalar a escravidão, plano que fora mantido em segredo. Enviou então tropas sob o comando do próprio cunhado, general Leclerc, que viajou acompanhado de sua esposa Pauline, e de muito glamour.

Nesse segundo confronto quem ganhou destaque foi Dessalines, um ex-escravo analfabeto porém revelou maestria e ferocidade de grande chefe militar. Devidos aos conflitos e massacres comandando pelos dois representantes, o país passou por um momento de tremenda devastação, reduzindo tudo a cinzas pelos incêndios ateados pelos comandantes.

Em 1802, Leclerc que iniciou sua trajetória com êxitos, capturou Toussanit e o mandou a França. Veio a falecer em 1803, pelo frio do cárceres francês. Apesar do afastamento de Toussaint, Lecler não veio a ser o vitorioso. Além de perdas em combates, seu exército sofria baixas numerosas decorrentes a doenças tropicais, e principalmente a febre amarela. A metrópole francesa se viu obrigada a enviar 34 mil soldados e mesmo assim perdeu a colônia. O próprio Leclerc morreu em 1802 de febre amarela.

Jacobinos negros como eram chamados, no ideal de igualdade e liberdade a todos os homens, continuavam a defender seus ideais, diferente do que esta acontecendo na França, onde a guilhotina comia solta a cabeça de muitos jacobinos.

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Em 29 de novembro de 1803, os revolucionários negros divulgaram uma declaração preliminar de Independência. Em 31 de dezembro foi lida a Declaração definitiva e o Novo Estado recebeu o nome indígena de Haiti.

Dessalines se tornou o primeiro chefe do Estado haitiano, sendo coroado como imperador em outubro de 1804. Os ex-escravos se viam definitivamente livres do trabalho escravo compulsório nas plantações de cana e nos engenhos de açucar. Sob as presidências de Pétion e Boyer, passaram a se dedicar à tradição africana, agricultura de subsistência.

O Haiti saiu da possibilidade de progredir em direção a um nível econômico superior quando abandonaram a produção cafeeira. De colônia mais produtiva da América passou a país independente pauperizado e fora de intercâmbio favorável na economia internacional.

Compendiou aí a história do Haiti posterior à conquista da Independência. História conturbada, que inclui, em 1913, a invasão por fuzileiros navais americanos e a ditadura (1957- 1971) de François Duvalier, cujos esquadrões da morte instauraram um regime de terror e assassinatos no País. Apelidado de Papa Doc, François Duvalier foi sucedido no Governo pelo filho, Claude Duvalier, o Baby Doc, forçado a sair do País em 1986.

Sobre Fidel Castro, a posição de James é evasivas, expressas em afirmações breves, frias e pouco definidas. As dificuldades do Haiti não se deveram, com o passar do tempo, somente ao domínio da agricultura de subsistência e à ausência de perspectivas econômicas mais elevadas. Deveram-se também, e não menos, à quarentena, que lhe impuseram até mesmo as nações latino-americanas recém-emancipadas. Quando exilado, Simon Bolivar encontrou abrigo no Haiti, onde recebeu de Pétion proteção, ajuda financeira, dinheiro, armas e até uma prensa tipográfica. No entanto, Simon Bolivar excluiu o Haiti dos países latino-americanos convidados à Conferência do Panamá, em 1826. O isolamento internacional acentuou o atraso e agravou as dificuldades históricas, após uma das mais heróicas lutas emancipadoras do hemisfério ocidental.

C. L. R. James expressa a opinião de que as Índias Ocidentais alcançaram um desenvolvimento econômico e cultural notável e que sua população possui qualificação e identidade suficientes para que seja sugerido, como ele o faz, a criação de um Estado unificador de todas elas.