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XIII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – Foz do Iguaçu – 2011 1 RECONSTRUÇÃO CURRICULAR: ESPAÇO PARA A FORMAÇÃO PERMANENTE DE PROFESSORES DE FÍSICA CURRICULUM RECONSTRUCTION: SPACE FOR PERMANENT FORMATION OF PHYSICS TEACHERS Karine Raquiel Halmenschlager 1 1 Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica /[email protected] Justificativa e objetivos É significativa a discussão, no contexto do ensino de Física, em torno de questões referentes à formação de professores. Considerando a importância da ampliação das discussões em torno da formação docente articulada à implementação de temáticas na educação básica, o presente estudo enfoca a proposta de reconfiguração curricular denominada a Situação de Estudo (SE) (MALDANER, 2007). A SE propõe a organização do currículo de Ciências a partir de temas, configurando uma proposta curricular que prioriza uma abordagem contextualizada e interdisciplinar dos conteúdos de Ciências/Física. A referida proposta tem como referencial teórico a abordagem histórico-cultural e foi proposta pelo Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação em Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (GIPEC-UNIJUÍ). A seleção e organização dos conteúdos a serem estudados estão relacionadas a um tema que de, alguma forma, se faz presente no contexto dos estudantes, a exemplo da temática “Ar atmosférico” (MALDANER et al, 2001), implementada no primeiro ano do ensino médio. A (re)construção do currículo do ensino médio geralmente abrange os componentes curriculares de Física, Química e Biologia, e pode ser entendida como um projeto de estudo com tempo limitado, na maioria das vezes, a um trimestre. Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo identificar, junto aos professores de Física que participaram da elaboração e desenvolvimento de SE, aspectos que indicam as contribuições desta participação para sua formação docente. Pretende-se responder a seguinte questão: Quais os aspectos presentes no processo de reconstrução curricular que podem contribuir para a formação docente, em uma perspectiva permanente? Marco Teórico Estudos que discutem o processo de formação docente no contexto da escola, considerando a prática educativa desenvolvida, podem contribuir para a análise que se pretende fazer neste estudo. Nesse sentido, Gil-Pérez (1996) defende que a transformação da prática do professor decorre da ampliação de sua consciência crítica sobre a mesma. O autor investiga o uso das concepções prévias dos professores sobre sua prática como ponto de partida para a sua reflexão crítica e entende que “[...] a estratégia de formação continuada potencialmente mais produtiva consiste em inserir os professores na pesquisa dos problemas de ensino-aprendizagem de Ciências em que se baseia sua atividade docente” (GIL-PÉREZ, 1996, p.77). Essa concepção explicita a necessidade do professor em (re)pensar e refletir sobre a prática visando a transformação das práticas pedagógicas na sala de aula. Krasilchik (1987) discute algumas condições que devem ser garantidas para que a escola se configure como um espaço de formação docente, entre elas, destaca-se: a

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XIII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – Foz do Iguaçu – 2011 1

RECONSTRUÇÃO CURRICULAR: ESPAÇO PARA A FORMAÇÃO PERMANENTE DE PROFESSORES DE FÍSICA

CURRICULUM RECONSTRUCTION: SPACE FOR PERMANENT FORMATION OF PHYSICS TEACHERS

Karine Raquiel Halmenschlager1

1Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica /[email protected]

Justificativa e objetivos

É significativa a discussão, no contexto do ensino de Física, em torno de questões referentes à formação de professores. Considerando a importância da ampliação das discussões em torno da formação docente articulada à implementação de temáticas na educação básica, o presente estudo enfoca a proposta de reconfiguração curricular denominada a Situação de Estudo (SE) (MALDANER, 2007). A SE propõe a organização do currículo de Ciências a partir de temas, configurando uma proposta curricular que prioriza uma abordagem contextualizada e interdisciplinar dos conteúdos de Ciências/Física. A referida proposta tem como referencial teórico a abordagem histórico-cultural e foi proposta pelo Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação em Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (GIPEC-UNIJUÍ).

A seleção e organização dos conteúdos a serem estudados estão relacionadas a um tema que de, alguma forma, se faz presente no contexto dos estudantes, a exemplo da temática “Ar atmosférico” (MALDANER et al, 2001), implementada no primeiro ano do ensino médio. A (re)construção do currículo do ensino médio geralmente abrange os componentes curriculares de Física, Química e Biologia, e pode ser entendida como um projeto de estudo com tempo limitado, na maioria das vezes, a um trimestre. Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo identificar, junto aos professores de Física que participaram da elaboração e desenvolvimento de SE, aspectos que indicam as contribuições desta participação para sua formação docente. Pretende-se responder a seguinte questão: Quais os aspectos presentes no processo de reconstrução curricular que podem contribuir para a formação docente, em uma perspectiva permanente?

Marco Teórico

Estudos que discutem o processo de formação docente no contexto da escola, considerando a prática educativa desenvolvida, podem contribuir para a análise que se pretende fazer neste estudo. Nesse sentido, Gil-Pérez (1996) defende que a transformação da prática do professor decorre da ampliação de sua consciência crítica sobre a mesma. O autor investiga o uso das concepções prévias dos professores sobre sua prática como ponto de partida para a sua reflexão crítica e entende que “[...] a estratégia de formação continuada potencialmente mais produtiva consiste em inserir os professores na pesquisa dos problemas de ensino-aprendizagem de Ciências em que se baseia sua atividade docente” (GIL-PÉREZ, 1996, p.77). Essa concepção explicita a necessidade do professor em (re)pensar e refletir sobre a prática visando a transformação das práticas pedagógicas na sala de aula.

Krasilchik (1987) discute algumas condições que devem ser garantidas para que a escola se configure como um espaço de formação docente, entre elas, destaca-se: a

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participação voluntária, a coerência e a integração conteúdo-metodologia, a organização de grupos de professores de uma mesma escola, o atendimento reiterado e atividades dos participantes. A autora chama a atenção para o papel dos cursos analítico-participativos, em que há um trabalho coletivo de produção em resposta à demanda dos docentes e uma ênfase na análise da postura do professor em classe com o objetivo de provocar mudanças em suas atitudes e concepção de educação. Além disso, para a autora supracitada “[...] a formação de grupos de trabalho que elaboram conjuntamente projetos curriculares e que tem como objetivo, tanto a produção de materiais de ensino como o processo de reflexão e análise coletiva” (KRASILCHIK, 1987, p. 73), também representa um importante espaço para a formação dos professores atuantes no ensino básico.

Metodologia e Análise de pesquisa

Como instrumento de pesquisa, elaborou-se um questionário em que professores responderam a seguinte questão: A participação na reconstrução do currículo, por meio de SE, contribuiu para sua formação? Em caso afirmativo, elenque algumas contribuições e, se possível, justifique-as. O questionário foi respondido por dois professores de Física do Centro de Educação Básica Francisco de Assis (EFA)1, identificados como P1 e P2. As informações obtidas foram analisadas por meio da Análise Textual Discursiva (MORAES e GALIAZZI, 2007).

Para os professores, a participação no processo de reconstrução curricular implicou na mudança de concepção de educação e no rompimento com práticas educativas ditas tradicionais, conforme explicita P1:

Viemos de uma linha de formação de memorização, transmissão recepção e com uma forte influência do conteúdo. Hoje percebo que não é o conteúdo em si que propicia a aprendizagem, mas a forma como desenvolvemos o processo em sala de aula e quais os conceitos fundamentais que estruturam o conhecimento de Física [...]. (P1)

A abordagem de temas nas aulas de Física provocou alterações na organização dos conteúdos e, até mesmo, a exclusão de conteúdos tradicionalmente trabalhados. Tornou-se necessário a identificação dos conceitos físicos fundamentais a serem ensinados para o entendimento da situação abordada, o que pode contribuir para uma maior significação dos conteúdos escolares.

Outro aspecto levantado pelos professores diz respeito à necessidade de estudar mais para dar conta da abordagem das temáticas em sala de aula. Assim trabalhar a partir de SE exigiu:

[...] estudar muito e sempre. Não há como trabalhar dessa forma sem querer estudar mais, dispor de tempo para sentar com os demais colegas e buscar as melhores interações entre os diferentes saberes. (P2)

Para a elaboração das SE as escolas têm disponibilizado período semanal ou mensal para as reuniões dos professores. Essas reuniões se constituem como momentos de estudo para a elaboração e desenvolvimento do programa escolar, de discussão e de socialização das atividades desenvolvidas em sala de aula, e também como momentos de novos encaminhamentos para a abordagem dos temas. Nesse processo, os professores

1 A EFA é uma escola de educação básica vinculada à UNIJUÍ, em que os professores de

Física, Química e Biologia, com a assessoria do GIPEC-UNIJUÍ, organizaram o currículo do primeiro e segundo ano do ensino médio a partir de SE.

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contam com a participação do GIPEC-UNIJUÍ. Essa organização contempla algumas das condições defendidas por Krasilchik (1987).

Além desses, outros dois aspectos foram destacados pelos professores: I) a elaboração e o desenvolvimento de SE possibilitou aos docentes relacionar teoria e prática, o que atribui maior significado ao trabalho pedagógico desenvolvido; e II) a importância dos momentos de discussão sobre o desenvolvimento dos temas em sala de aula, para a reconstrução constante do programa escolar e melhoria do processo de ensino e aprendizagem de Física. Esse último aspecto está em sintonia com a concepção de Gil-Perez (1996), que defende a reflexão crítica da prática educativa para a transformação da mesma.

Portando, a organização do processo formativo vinculado à reconstrução do currículo pode possibilitar aos professores uma maior compreensão da proposta a ser implementada, ao mesmo tempo em que apresenta avanços no que se refere à superação da formação voltada exclusivamente ao estudo de conteúdos e metodologias. Além disso, essa perspectiva permite que os professores se envolvam na pesquisa dos problemas de ensino e aprendizagem, conforme defendido por Gil-Pérez (1996). No âmbito da SE os professores da educação básica contam com o apoio do GIPEC-UNIJUÍ para a realização de pesquisas sobre a prática implementada.

Conclusões

Apesar de este estudo ser restrito apenas à compreensão de dois professores, entende-se que os aspectos evidenciados pelos docentes participantes do questionário estão em sintonia com uma perspectiva de formação permanente. Dessa forma, processos formativos vinculados à reconstrução do programa escolar a partir de temáticas podem contribuir para a formação permanente dos professores de Física, ao agregar elementos que permitem a resignificação e a superação da prática educativa.

Entretanto, para que a implementação de temas se torne uma proposta viável, é importante que as escolas busquem uma organização que permita estabelecer momentos periódicos de reflexão e para a reconstrução do currículo, considerando as dificuldades percebidas pelos professores na implementação das temáticas em sala de aula. Contudo, sinaliza-se para a necessidade de outros estudos para melhor entender como os professores se apropriam das concepções teóricas e práticas no momento de reconstrução do currículo.

Referências GIL-PÉREZ, D. Orientações Didáticas para a Formação Continuada de Professores de Ciências. In.: Menezes, L. C. (org.) Formação continuada de professores de Ciências- no contexto ibero-americano. Campinas. São Paulo: Autores Associados. 1996. KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo: Edusp, 1987. MALDANER, O. A. A Situação de Estudo no Ensino Médio: nova compreensão de educação básica. In: NARDI, R. (org). Pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. Escrituras. São Paulo, p.237-253, 2007. MALDANER, et al. Situação de Estudo como possibilidade concreta de ações coletivas interdisciplinares no ensino médio – Ar Atmosférico. In: Atas do III Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Atibaia, 2001. MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Unijuí, 2007.