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HARUMI ITO COLEÇÃO DE VESTUÁRIO FEMININO – VERÃO 2011:
minimalismo, geometria e pop art
HARUMI ITO WOMEN'S CLOTHING COLLECTION – SUMMER 2011:
minimalism, geometry and pop art
Vanessa Harumi Ito1
Graziela Morelli2
Resumo
Através dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos, ocorrem mudanças que vêm acompanhadas de novas necessidades a serem supridas. Assim ocorreu com as mulheres, que com o passar do tempo, conquistaram espaço na sociedade e conseqüentemente no mercado de trabalho, e que agora procuram uma nova forma de se apresentarem. Destinado às mulheres contemporâneas que prezam por bem-estar, liberdade e conforto, o presente artigo apresenta a pesquisa realizada para o desenvolvimento de um projeto que propõe um jeito diferente de vesti-las numa coleção que proporciona, além de caimento, a valorização da feminilidade e mobilidade no seu dia-dia de intensa atividade. A partir de figuras geométricas, pouca costura e muita experimentação, a coleção para o verão 2011 da marca Harumi Ito objetiva o desenvolvimento das peças de linguagem minimalista em sua construção, adicionando detalhes e acabamentos inspirados nas obras da artista pop Yayoi Kusama. O resultado é uma gama de opções de peças amplas e delicadas, de um verão mais fluido e leve, para quem conquistou a liberdade de se diferenciar. Palavras Chave: conforto; experimentação; feminilidade
Abstract
Through social events, political and economic changes occur that are accompanied by new requirements to be met. This occurred with women, which, over time, gained ground in society and therefore the labor market, and now seek a new way of presenting themselves. Targeted at contemporary women who care for welfare, freedom and comfort, this paper presents the research conducted for the development of a project that proposes a different way to dress them in a collection which provides, in addition to trim the value of femininity and mobility in their daily life of intense activity. From geometric figures, a little sewing and much experimentation, the collection for summer 2011 brand Harumi Ito aims to develop the parts of speech in its minimalist construction, adding details and finishes inspired by the works of pop artist Yayoi Kusama. The result is a range of options for large and delicate parts of a summer more fluid and light, who won the freedom to differentiate. Keywords: comfort, experimentation; femininity.
1 Acadêmica do curso de Design de Moda da UNIVALI
2 Professora do curso de Design de Moda da UNIVALI. Professora e Coordenadora do curso de
Design de Moda da UNIFEBE. Colunista de moda.
1
1 INTRODUÇÃO
O ato de se vestir não está somente ligado à proteção física, contra o frio
ou contra o calor e também não depende apenas da influência da mídia. Além de ser
uma forma de comunicação indireta é uma necessidade do indivíduo em se
diferenciar dos demais de seu grupo social, pelos seus pensamentos, ideologias,
gostos pessoais, costumes e estilo de vida.
Segundo Marinho (apud NIDEM, 2002, p.19), em seu artigo publicado no
livro Moda, Comunicação e Cultura: um olhar acadêmico: “a moda é uma destas
manifestações que opera elementos simbólicos envolvendo aspectos como
individualismo, desejo, sedução, ao mesmo tempo em que movimenta uma estrutura
econômica poderosa e diversificada.”
Especificamente a partir da década de 1980, após inúmeros
acontecimentos como a queda do muro de Berlim e a pós-crise pela quebra da bolsa
de valores estadunidense em 1987, geraram-se motivos de transformação e
renovação. E na moda não foi diferente. Segundo Braga (2006, p.69), “nos anos
1980, além da introdução das roupas esportivas no dia-dia, a moda privilegia os
aspectos de individualidade como forma de diferenciação.” Lipovetsky (1989) cita
que é com a revolução do cotidiano, com as profundas convulsões nas aspirações e
nos modos de vida estimuladas pelo último meio século, que surge a consagração
do presente. Entende-se que com grandes acontecimentos, crises, guerras e a
necessidade do momento fazem com que haja a evolução e a mudança.
Em meio a essa situação surge o estilo new wave, com o exagero de
informações e muitas cores, trazendo diversão e alegria no modo de se comportar e
de se vestir, como uma forma de camuflar a má economia existente naquele
momento. E para tanta cor, outro lado surgiu equilibrando a unidade visual: o
minimalismo dos orientais, principalmente japoneses, como Yohji Yamamoto e Rei
Kawakubo, surgiram na moda internacional inserindo a simplicidade em suas
criações de mínimos elementos, tanto nas cores, quanto nas formas das
construções. Outro nome é citado por Pires (2008, p. 102):
No âmbito internacional, o criador Issey Miyake desenvolveu, na última década, graças à experimentação com o material, peças com a possibilidade de se metamorfosearem, que podem ser dobradas ou esticadas, gerando um efeito escultural, expandindo suas formas no campo tridimensional.
2
Segundo Souza (2005 apud PIRES, 2008, p.342): “no momento em que o
designer passa a exprimir-se por meio da moulage, e não apenas do desenho (para
expressar a criação), ele está materializando a sua idéia na forma de produto e,
portanto, visualizando a solução para a produção e otimizando o tempo.”
Percebe-se que atualmente, essa liberdade de construção e de
experimentação ainda está fortemente presente em formas de peças amplas e de
movimento nas passarelas nacionais e internacionais. Porém, não aparece no dia-
dia como uma forma consumida, talvez por terem sido apresentadas de uma
maneira muito conceitual pelo mercado, de modo que a reação do consumidor fosse
de apreciação apenas visual e não usual.
A partir dessa percepção e da experimentação sugerida pelos seguidores
do minimalismo, o presente artigo tem por objetivo apresentar o projeto de criação
de uma coleção de vestuário feminino para o verão 2011 utilizando técnicas de
modelagem plana a partir de formas geométricas, além de estudos e exercícios de
formas e volumes. E com base nessas técnicas, produzir peças de uma forma não
tradicional, que valorize a feminilidade de cada usuária. Para se alcançar tal objetivo,
há outros específicos como: pesquisar e compreender o minimalismo como base
para inovação no estilo dos produtos; experimentar formas diferenciadas de
modelagem através de exercícios criativos; pesquisar e testar os tecidos a fim de
conhecer suas características e comportamentos; inserir de forma harmoniosa a
temática das obras de Yayoi Kusama nas peças e evidenciar a feminilidade em
peças amplas, dados que foram de extrema importância para a concretização desta
coleção.
2 METODOLOGIA
Ao iniciar um projeto, uma das primeiras etapas a serem definidas é a
escolha da metodologia. Para Slack (1997 apud RECH, 2002, p. 60), é uma
ferramenta que auxilia na organização do processo de desenvolvimento de uma
coleção, responsável por traduzir um conceito em um produto final.
De fato constata-se que o designer busca uma determinada organização metodológica na qual a criação incorpora-se ao projeto idealizando a produção seriada, pensando objetivamente na utilidade do produto quando finalizado, na relação deste com o espaço e com o mercado, e no público-alvo, consumidor.
3
Podemos pensar que no âmbito do design as palavras que pressupõem a materialização do objeto, imbuído de valores contemporâneos são: ordem, pesquisa, resultado, método, produção, fabricação e industrialização (OLIVEIRA ; CASTILHO, 2008, p.126).
O motivo da escolha pela determinada metodologia se deve a
simplicidade que o autor teve em dividir as etapas de atividades de um projeto.
Slack (1997 apud RECH, 2002, p. 60) separa em cinco etapas: geração
do conceito; triagem; projeto preliminar; avaliação / melhoria do projeto e
prototipagem / projeto final. A partir dessas divisões, houve a necessidade de
algumas alterações adaptadas ao projeto, como subdividi-las de modo que
facilitasse a compreensão de cada etapa, especificando-as parte por parte para
evitar o esquecimento de algum item. Para simplificar o entendimento dessas
divisões, segue abaixo em fluxograma:
Figura 01: Fluxograma da metodologia
Fonte: Adaptada de Slack (1997) pela autora
A primeira atividade – geração do conceito – consistiu em analisar o
mercado e detectar uma oportunidade a ser explorada. Para isso, pesquisa de
campo (entrevista), pesquisas de mercado e bibliográfica foram realizadas para
detectar as tendências, visando criar um produto que suprisse a necessidade do
público-alvo.
4
Na segunda atividade – triagem – fez-se o estudo da temática que teve
ligações diretas com o consumidor. O mapa conceitual auxiliou na conceituação da
coleção e assim foram detectados os verdadeiros concorrentes da marca.
Na etapa de projeto preliminar foram desenvolvidas as gerações de
alternativas através das técnicas de criatividade juntamente com os estudos da
experimentação, trabalhando com materiais e aviamentos e posteriormente
definindo a combinação de cores.
A parte da avaliação e melhoramento do produto está ligada a etapa
anterior como forma de construí-lo e aprimorá-lo no momento do estudo da
experimentação. Os desenhos técnicos, assim como as fichas técnicas, estarão
contidos nesta etapa.
Concluindo com a quinta e última etapa denominada prototipagem e
projeto final, as peças foram testadas e ao mesmo tempo com a produção em
andamento, houve o desenvolvimento de toda a parte de divulgação do produto,
como o material gráfico, a criação do design para ponto de venda e a organização
da apresentação da coleção.
Para melhor entendimento sobre a temática e a conceituação da coleção,
o uso do mapa conceitual foi imprescindível:
Figura 02: Mapa conceitual
Fonte: Arquivo Pessoal
5
O mapa conceitual iniciou-se do termo “modelagem diferenciada” para
sua construção e, a partir disso buscou-se outras palavras-chaves adjacentes desta
para resumir a coleção.
Da palavra “modelagem” surgiu a idéia da construção de peças através
de tecidos recortados em “formas geométricas”, montados diretamente no
manequim sob experimentação e testes para criar “movimento”, “amplitude”,
“conforto” e “liberdade”, com “menos costura”, fazendo alusão ao “minimalismo”, que
por sua vez originado pelos “orientais”, criou-se uma ligação com a artista japonesa
do movimento pop art, “Yayoi Kusama”. Esta, que devido a uma doença mental,
enxerga “bolinhas” (figura geométrica) por todas as partes e que está presente em
suas obras, estará também como forma de releitura presente na coleção.
As ferramentas utilizadas no projeto foram o caderno de anotações ou
sketchbook, o cronograma e o brainwriting: a primeira é um caderno em branco onde
todas as informações pertinentes ao projeto são coletadas e adicionadas. Amostras
de tecidos, aviamentos, caimento, volumes, formas, cores, texturas, recortes de
revistas, jornais, sites, blogs, anotações e qualquer outro elemento que venha a
contribuir com a coleção foram colados aleatoriamente, sem uma ordem
preestabelecida; já a segunda é a do brainwriting, que procura manter as vantagens
e resolver os problemas das desvantagens. Segundo Grasselli (2009), no
brainwriting as pessoas escrevem sobre as idéias, e após isso se reúnem para
discutir e procuram uma idéia completamente nova. O que foi escrito é usado como
fonte de inspiração. Na utilização da técnica individual, feita de fato sozinha, não há
debate.
O cronograma, segundo o site da SEBRAE de São Paulo (2009), é a
disposição gráfica do tempo que será gasto na realização de um trabalho ou projeto
de acordo com as atividades a serem cumpridas. Serve para auxiliar no
gerenciamento e controle deste trabalho, permitindo de forma rápida a visualização
de seu andamento. A ferramenta foi utilizada em forma de calendário, para melhor
organização das atividades a serem cumpridas em determinadas datas. Assim,
ajudou a evitar atrasos e esquecimentos, contribuindo para o fluxo contínuo das
etapas a serem cumpridas.
A entrevista, como forma de coleta de dados também foi utilizada, sendo
aplicados com duas pessoas formadores de opiniões ligadas à moda, entre elas
uma professora universitária e um estudante de design de moda recém-formado. As
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perguntas foram a respeito da modelagem diferenciada e a experimentação como
forma de criação, a aceitação no mercado, as vantagens e desvantagens de
trabalhar desta forma.
Este artigo apresenta um resumo da primeira parte da pesquisa que
compreende as pesquisas e a conceituação, onde a segunda parte apresenta-se em
forma de memorial descritivo.
3 AS REFERÊNCIAS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO: ANOS 80,
MINIMALISMO E YAYOI KUSAMA
Nesta etapa são apresentadas as influências dos acontecimentos
políticos, econômicos e sociais refletidas nos indivíduos, no comportamento e na
moda. Também são fundamentados conceitos sobre o minimalismo e suas
características, as mega tendências utilizadas para a coleção, o conceito, estado do
design e um resumo sobre a temática de inspiração do projeto: a artista pop Yayoi
Kusama.
3.1 Contexto Histórico
Durante a Primeira Guerra Mundial, com o conflito bélico e a necessidade
de trabalhar, a mulher se libertou das amarras de cadarços e ilhoses.
Acompanhando o rastro dessa inovação, as saias começaram a subir pela
praticidade exigida pela situação. Com o término da guerra, a mulher não
abandonou o trabalho e conseguiu uma emancipação com a independência
financeira (BRAGA, 2006).
Nem sempre funcionalidade e praticidade estiveram de mãos dadas nas roupas femininas ao longo do processo histórico; muito pelo contrário. Os excessos associados à falta de conforto sempre caracterizaram a realidade da moda feminina. Longos vestidos, às vezes com cauda; cinturas marcadas; roupas pesadas; armações exageradas; enormes adornos na cabeça; calçados nada anatômicos [...] entre outras características fizeram da indumentária e da moda, especialmente a feminina, uma realidade anti-funcional e sem praticidade alguma. É lógico que todas essas características representavam (e ainda representam) uma verdadeira diferenciação social. Podemos até mesmo gostar da aparência, da visualidade dessas roupas, mas é também verdadeiro que, de modo geral, esse tipo de indumentária e/ou moda não é funcional nem tão pouco prática (BRAGA, 2006, p. 31).
7
Após a mulher ter conquistado o mercado de trabalho, suas atividades
cresceram de forma significativa, exigindo maior responsabilidade na economia,
mais tempo de serviço e menos tempo para cuidar de si. Aumentou também a
necessidade de ser mais prática e ter maior mobilidade. Isso provocou mudanças na
forma de se vestir e portar e por conseqüência, seu guarda-roupa teve alterações
significativas.
Braga (2006, p.39) explica que a cultura sempre se desenvolve mediante
estruturas econômicas, sociais, políticas, etc. e isso certamente explica as
mudanças ocorridas na década de 1980, documentado em seu livro:
A queda do muro de Berlim, em 1989, enquanto marco, simboliza o fim de uma época de ideologia, obviamente marca o início de outras. Na moda, pode-se dizer que representa o fim de determinadas barreiras e preconceitos no vestir e o aparecimento de uma grande liberdade de se expressar visualmente (BRAGA, 2006, p. 47).
Com a febre das academias de ginástica, a criação do slogan da década
“geração saúde”, a mulher dominando o espaço de trabalho e até mesmo a quebra
da bolsa de valores dos EUA em 1987, algumas mudanças puderam ser percebidas
em suas vestimentas. Os ombros bem marcados, comparando-se ao homem, que
demonstravam a força; as roupas de moletom, versáteis e coloridas devido à
praticidade e o conforto, e também a criatividade sem limites originada pela
liberdade e individualismo foram algumas das características marcantes da época.
Com a consolidação dos orientais, veio a simplicidade do minimalismo, o
movimento que levantava a bandeira para o slogan “less is more”, (menos é mais)
do arquiteto Mies van der Rohe, para brigar com o exagero gritante da new wave.
Percebe-se que, na atualidade, o minimalismo influencia de todas as formas como
também no estilo de vida.
Através de uma análise do perfil consumidor contemporâneo (adeptos a alimentação saudável, sob o conceito slow food, [...] não é difícil notar que os hábitos, os costumes e a estética ocidental nunca estiveram tão influenciados pelos valores orientais, que podem ser vistos representados na gastronomia, na arquitetura ou na moda conceitual do século XXI. Minimalistas por excelência, os “neojaponistas” são mestres em usar a espacialidade como um dos mais importantes eixos para as suas representações artísticas, como o arquiteto Tadao Ando e o designer de moda Issey Miyake (MELLO apud PIRES, 2008, p. 89).
8
Analisando as mudanças comportamentais, de individualismo e aceitação
do novo, pode-se afirmar que a moda no século XXI está mais liberal do que nunca.
As mulheres trabalham, e nem por isso precisam utilizar enormes ombreiras como
forma de expressar sua importância na sociedade, a individualidade não significa ser
egoísta, mas sim, ser livre nas suas escolhas e decisões, e um estilo pode ter vários
outros misturados a esse, pois na moda pós-moderna, quase tudo é permitido.
No site Moda Mundi, Dudu Bertholini (2009) comenta:
Chegamos então aos anos 2000. Por muito tempo acreditamos que nessa mística data estaríamos usando trajes espaciais e habitando colônias interplanetárias. Qual nossa surpresa, no entanto, ao perceber que nos anos 2000 as pessoas misturam passado e presente, revivendo o melhor do que já foi criado até hoje. A informação se espalha com uma velocidade impressionante. As pessoas têm acesso a tudo com tanta rapidez, que as faz se cansarem facilmente de tudo e estarem sempre ansiosas em busca de novidades. A moda, mais uma vez, acompanha essa transformação. [...] Não há mais certo e errado. Até as regras mais antigas, como “não pode usar fuseau com salto”, “não pode misturar jóia com bijoux”, caem por terra. Existe sim a harmonia da pessoa e seu contexto de vida. Se por um lado parece “difícil acertar”, por outro a moda nunca foi tão livre e aberta às diferenças. Estilos pessoais nunca foram tão valorizados.
A proposta do projeto da coleção segue esta linha de pensamento,
oferecendo às mulheres do pós-modernismo uma nova forma de se vestir, com
opções de conforto, feminilidade e amplitude em uma modelagem não tradicional.
3.2 O minimalismo e sua forma de construção
O minimalismo é um movimento artístico e cultural que surgiu na década
de 1960 nos Estados Unidos. As principais características, segundo o site
Suapesquisa (2009), são a elaboração de obras com a utilização mínima de
recursos; a utilização de poucas cores nas pinturas; as formas geométricas com
repetições simétricas nas artes plásticas e a utilização de poucas notas musicais,
valorizando a repetição no caso da música.
Na década de 1980, surgiram no circuito internacional da moda os “neo
japonistas” como Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Issey Miyake que trouxeram a
limpeza das formas em suas coleções. Este último explica a sua forma de criação:
“Eu me concentro exclusivamente sobre o tema do prazer e da experimentação.
Meu trabalho consiste em criar, em explorar, em abrir novos territórios e
naturalmente em vender.” (MIYAKE apud OLIVEIRA ; CASTILHO, 2008, p.130)
9
O minimalismo influenciou a moda e, conseqüentemente, trouxe
características fortes do estilo como as modelagens amplas, retas e geométricas e
formas de construções únicas. Apesar de parecer empobrecido de elementos, as
experimentações e a utilização da técnica de moulage permitem que as roupas
ganhem caimentos diversos, um design contemporâneo e uma modelagem fora do
padrão.
A roupa não veste um suporte vazio, o corpo. Ao contrário, sendo carregado de sentido na sua malha de orientações, este interage com as direções, formas, cores, cinetismo e materialidades da roupa e atua de variados modos nas suas configurações, tomadas de posições e de movimentação (OLIVEIRA ; CASTILHO, 2008, p. 93).
E mais: “com seu cromatismo, materialidade, corporeidade e forma, a
roupa no corpo tem amplitude, espessura, consistência, textura.” (OLIVEIRA ;
CASTILHO, 2008, p. 99)
A modelagem é a técnica utilizada para construir peças de roupas
levando em consideração as medidas do corpo humano. Saltzman (2004) define a
modelagem como a técnica responsável pelo desenvolvimento das formas das
roupas, transformando tecidos em produtos do vestuário.
A modelagem, adequando o tecido ao corpo, tem uma grande importância neste novo conceito de forma. A vestimenta precisa ter bom caimento e embelezar a figura humana sem que para isso se recorra a ornamentos e adereços. [...] É preciso que a pessoa vista uma roupa com um bom caimento e que fique inteira mesmo num dia movimentado. Não se trata mais de roupas complicadas, mas de formas simples que combinem e ressaltem a qualidade do tecido e a beleza do corpo (NASCIMENTO apud NIDEM, 2002, p.43).
Através da experimentação de modelagem criou-se peças simples na sua
forma de construção que através dos estudos de formas e volumes adicionou
movimentos e caimentos inusitados à coleção.
3.3 Megatendências
As megatendências da Use Fashion, coletadas no site Oficinadamoda
(2009), dita temas para tendências baseada em pesquisas e comportamentos
atuais.
10
Como foi citado no começo do artigo, acontecimentos do dia-dia
modificam comportamentos e estilo de vida. As mudanças ocorrem trazendo novas
formas de se comportar num mundo pós-moderno, com informações que correm
diariamente através dos mais tecnológicos meios de comunicação. Entre as
megatendências citadas, serão utilizados os temas “Bem estar” e “Tecnologia e
emoção”.
Figura 03: Megatendências
Fonte: http://www.oficinadamoda.com.br/moda/m-moda_verao/tendencias+para+o+verao+2011/5125
“Bem estar” é nome do tema que significa um alívio pós-crise, que busca
o conforto após um período de preocupações, de má economia e de incertezas.
Assim como na década de 80, depois da quebra da bolsa de valores dos EUA,
houve a necessidade da renovação e equilíbrio entre corpo e mente, a busca pela
segurança e pelo bem estar neste período será maior. Este tema influencia o
conceito da coleção que busca peças mais amplas, fluidas e confortáveis permitindo
que a usuária obtenha melhor qualidade de vida sentindo-se num período de
renovação.
O tema intitulado “Tecnologia e Emoção” fala sobre a evolução das
máquinas, que agora interagem com o ser humano de forma emocional. Novos
materiais, novas fórmulas, novas tecnologias, sempre em busca do bem estar do
homem. A tecnologia estará fortemente ligada ao ser humano como forma de
11
oferecer maiores benefícios pessoais. Tecidos tecnológicos, tratamentos,
amaciamentos e a junção de materiais sintéticos com as naturais contribuirão para a
praticidade e conforto das pessoas de acordo com a necessidade. Este tema está
relacionado à proposta deste projeto, que visa o conforto das peças pelas formas,
volumes e também pela qualidade da matéria-prima.
3.4 Estado do Design
O estado do design deste projeto apresenta artistas, objetos e imagens
que simbolizam alguns conceitos deste projeto. São informações que auxiliaram no
desenvolvimento das alternativas e na inovação das peças.
Figura 04: Estado do design
Fonte: Compilação de dados elaborada pela autora
Entre as imagens e objetos que compõem o estado do design estão: a
cadeira contemporânea de dois lugares do designer Karim Rashid que facilita a
interação entre os usuários construído a partir de linhas simples que mostra uma
tendência minimalista e moderna; vestidos da marca Lanvin, que apesar das formas
simples, são femininas e delicadas; as criações da estilista Nanni Strada, inventora
da máquina que cria roupas inteiras sem costura e das peças geométricas,
influenciada pelo minimalismo da década de 1980 e imagens encontradas em blogs
de moda que fazem relação com o conceito deste projeto como a roupa
12
arquitetônica de formas geométricas, a peça de recortes em tecido leve e fluido e
fotos de desfiles nacionais como as de Juliana Jabour, Osklen e 2nd floor.
O conjunto de imagens de diversos sites formou um painel que auxiliou no
desenvolvimento da coleção no sentido de criar peças com a mesma linguagem
visual e estética, mas evitando cair no comum, valorizando a inovação.
3.5 Conceito
A coleção projetada que está sendo apresentada neste artigo teve por
objetivo, além de criar uma coleção experimental focado na individualidade da
mulher pós-moderna, inserir importantes conceitos que descrevessem as peças. A
imagem abaixo pode resumir os principais conceitos da coleção.
Figura 05: Conceito
Fonte: www.cherryblossomgirl.com
As palavras “geométrico”, “leve”, “construtivismo” e “feminino” puderam
ser representadas através dos balões ao céu aberto ensolarado, numa coloração
alegre e ao mesmo tempo delicada. E é exatamente o que a coleção representará
para a consumidora da marca. Peças leves, com movimento ao andar, construídas a
partir de tecidos em formas geométricas, que valorize a feminilidade da mulher.
13
3.6 Temática
Segundo o site oficial da artista, Yayoi Kusama nasceu no Japão em 1929, na
província de Nagano, com duas doenças mentais, TOC (Transtorno Obsessivo
Compulsivo) e histeria. Esses transtornos mentais causam alucinações visuais,
criando redes, pontos e esculturas fálicas. A partir dos 10 anos começou a pintar em
tela, ilustrando tudo o que os outros não enxergavam.
Em 1957, foi banida no circuito artístico do Japão por ser classificada como
louca, e teve como refúgio os EUA. Em 1973, voltou para o seu país natal a fim de
se internar num hospital psiquiátrico, onde mora até os dias de hoje. Mantém um
ateliê onde continua a sua atividade artística.
Figura 06: Obras de Yayoi Kusama
Fonte: Compilação de dados elaborada pela autora
Bolas, pontos, esculturas de pontos luminosos, espelhadas, cores ou
preto e branco além de muita criatividade traduzem de maneira positiva o que mais
lhe incomoda. “As bolas ou pois como as estampas com um motivo que se repete
em todas as direções, geram os efeitos de ritmo e movimento, que remetem à noção
de alegria, mesmo em preto e branco.” (OLIVEIRA, 2007, p. 94)
Ficou recentemente popular quando apareceu num documentário sobre o
estilista Marc Jacobs, quando este a convidou para criar uma bolsa para a marca
14
Louis Vuitton. A história vira sucesso e exemplo de vida quando escolheu a arte
como terapia.
A escolha da artista como temática da coleção se deve às obras lúdicas,
coloridas e inovadoras, criadas a partir de uma doença que lhe dá a visão de um
único elemento, o círculo. Este se repete dezenas e centenas de vezes, em muitas
formas, em vários movimentos, o que torna a arte rica e única. Com inspirações nas
obras de Kusama, incluiu-se na coleção além da arte nipônica, a idéia de que formas
simples podem se tornar grandes imagens.
3.7 Público
Observando os conceitos da coleção pode-se definir um público-alvo,
refletindo as características mais marcantes das peças. Assim como seu
comportamento, seus gostos e escolhas levam essa mulher a consumir os produtos
da coleção, na busca pelo conforto gerado pelo diferente sutil e pela feminilidade.
Figura 07: Público-alvo
Fonte: Compilação de dados elaborada pela autora
15
O público deste projeto caracterizado por um público feminino jovem e
maduro, com idade aproximada entre 20 e 50 anos, tem personalidade única e não
depende da opinião de terceiros. Dá preferência ao conforto, sem cair no desleixo.
Recusa saltos, peças que incomodam, apertam ou machucam. É vaidosa sutilmente,
cuidando da pele, da saúde e da auto-estima. Gosta de se diferenciar dos outros
pelas formas e volumes inusitados, mas nunca pelo extravagante. A feminilidade e a
delicadeza são vistas pelos pequenos detalhes, em alguma jóia, aviamento e
também, pelo comportamento.
3.8 Concorrentes
Na pesquisa do projeto foram detectados alguns concorrentes de forma a
enquadrar o conceito do projeto no mercado atual. Os concorrentes a serem
apresentados foram detectados e analisados comparando o estilo das marcas,
segmento e o público consumidor. Duas marcas foram definidas como concorrentes
diretos: Maria Garcia e Maria Bonita Extra.
MARIA GARCIA
Figura 08: Maria Garcia – verão 2010
Fonte: http://ego.globo.com/Gente/foto/0,,14937714-EXH,00.jpg
A grife Maria Garcia é considerada a marca-filha da Huis Clos. Segundo o
site oficial Maria Garcia (2009), surgiu em 2001, destinada às mulheres jovens, de
aparência delicada e sofisticada. A estilista da marca é a Camila Cutolo. A marca
possui 5 lojas próprias espalhadas pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e
16
Brasília além de 37 lojas multimarcas pelo Brasil e pontos de venda nos Estados
Unidos e Kwait.
MARIA BONITA EXTRA
Figura 09: Maria Bonita Extra – verão 2010
Fonte: http://img2.imageshack.us/img2/8072/mariabonita1.jpg
A marca jovem da Maria Bonita, Maria Bonita Extra, se classifica como
feminina, romântica e independente. Surgiu em 1990, segundo o site da marca
(2009), no Rio de Janeiro e possui 24 lojas próprias nas principais cidades e 180
pontos de venda. Também possui lojas nos EUA, Oriente Médio, África, Ásia e
América do Sul. A estilista Ana Magalhães assina as coleções da grife desde o
inverno de 2008.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA
O presente projeto teve como objetivo planejar uma coleção de peças
femininas e delicadas a partir da construção com tecidos em formas geométricas e
nas inspirações das obras de Yayoi Kusama. Para tal resultado houve, além das
pesquisas bibliográficas, a pesquisa de campo em forma de entrevista, realizada
com duas pessoas ligadas à área de moda, com quatro perguntas abertas
relacionadas à modelagem diferenciada no mercado, e sobre as opiniões desses
profissionais sobre o assunto.
Pela análise das entrevistas constatou-se que a modelagem diferenciada
junto com a experimentação tem despertado mais interesse como uma nova forma
17
de fazer moda e o slow fashion, que corre o oposto das grandes magazines,
apostando em peças mais elaboradas e exclusivas.
O minimalismo e o exercício de experimentação de modelagem podem
trazer resultados bastante interessantes no vestuário. Entre os pontos positivos de
se trabalhar dessa forma são as possibilidades que o tempo de experimentação
permite em termos de criatividade, conforto e atendimento a clientela que valoriza a
diferenciação. E os pontos negativos seriam o tempo gasto e conseqüentemente o
custo exigido por esse tempo de experimentação.
A coleção da marca Harumi Ito para o verão 2011 é composta por 20
looks entre vestidos, camisetas, calças e saias. As formas são amplas, com ou sem
ajuste na cintura, de volumes e franzidos criados a partir do corte em godê, semi-
godê e também pelos cordões ajustáveis. A cartela de cores foi retirada do painel da
temática e adaptadas ao conceito da coleção, sendo elas mais opacas, leves e
delicadas. Na cartela de aviamentos foram adicionadas peças em formas de esferas
como nos botões, strass e chatouns. A cartela de tecidos foi definida a partir dos
conceitos da coleção além de destacar o quesito volume, conforto e leveza.
Abaixo, dois croquis da coleção exemplificam a forma da construção
planificada e o volume criado pelo corte geométrico de pouca costura.
Figura 09: croqui 1 Figura 10: croqui 2
Fonte: arquivo pessoal Fonte: arquivo pessoal
18
O projeto em si não se conclui neste artigo, estando organizado num
memorial descritivo que apresenta a coleção completa, com detalhamentos técnicos.
5 CONCLUSÃO
Através das pesquisas bibliográficas, pesquisa de campo e de observação
pode-se aprofundar sobre o tema da modelagem diferenciada e detectar uma
oportunidade de mercado.
O projeto da coleção iniciou-se com a pesquisa bibliográfica baseada
especificamente na década de 1980, nos acontecimentos históricos e nas mudanças
comportamentais ocorridas nesta época, além da introdução do minimalismo
japonês e sua forma de construção no âmbito internacional da moda e a biografia da
artista plástica do movimento pop art Yayoi Kusama. A partir daí ingressou-se na
pesquisa de campo, onde ocorreu a coleta de dados referentes a mega tendências,
à visão dos profissionais da área de moda sobre modelagem, sobre o que já existia
no mercado e o que poderia ser feito.
O objetivo geral do projeto foi de criar uma coleção de vestuário feminino
para o verão 2011, utilizando técnicas de modelagem plana a partir de formas
geométricas, além de estudos e exercícios de formas e volumes. E com base
nessas técnicas, produzir peças de uma construção única e diferenciada. Pode-se
concluir que o objetivo foi alcançado, porém houve adaptações nas modelagens de
algumas peças. O tempo de experimentação foi menor que o esperado, portanto,
nem todos os looks puderam ser confeccionados como planejado. Algumas peças
surgiram através da representação em desenho, não havendo o estudo de formas e
volumes, porém, os looks puderam ser adaptados evitando a necessidade de
descarte. Apesar do inesperado, a coleção de 20 looks teve um resultado positivo e
satisfatório, de uma estética agradável e delicada, além de carregar o diferencial de
uma construção única.
A coleção da marca Harumi Ito proporcionará uma gama de peças
femininas, fluidas e alegres, para o dia-dia de quem tem a liberdade como escolha.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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