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Capa Qual é o estilo do Cinema Brasiliense? Hashtag Persona Hashtag Cinema entrevista Alê Abreu, diretor da animação O Menino e o Mundo (2014) , filme que está entre os indicados por uma vaga no Oscar 2016 como Melhor Animação Edição 05 - Ano 03 - Novembro 2015

Hashtag Cinema Quinta Edição Novembro 2015

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Confira a quinta edição da Hashtag Cinema. Trabalho de conclusão de curso de Jornalismo. Aluno: Leonardo Resende Orietadora: Rafiza Varão

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CapaQual é o estilo do Cinema Brasiliense?

Hashtag PersonaHashtag Cinema entrevista Alê Abreu, diretor da

animação O Menino e o Mundo (2014) , filme que está

entre os indicados por uma vaga no Oscar 2016 como

Melhor Animação

Edição 05 - Ano 03 - Novembro 2015

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Harley Quinn em sua essência, no ensaio de Thiago Soares

Editor ChefeLeonardo Resende

Diretor de ArteLeonardo Resende

OrientaçãoRafiza Varão

Sub-Editora Natália Roncador

IlustradoresAugusto FerrazPaulo Moura

Diretora de RedaçãoNatália Roncador

Repórteres Felipe MoraesLeonardo ResendeEduarda Szochalewicz LopesMariana de ÁvilaRubens Ewald FilhoMichel Toronaga

FotografiaThiago SoaresReprodução Internet Priscilla Abreu

Expe

dien

te

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O cinema não tem fronteiras nem

limites. É um fluxo constante de

sonho”

Orson Welles

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Cart

a A

o L

eito

r Apesar de Robert Redford segurar o

telefone com calma e serenidade, a

cena da página anterior do filme Todos

os Homens do Presidente retrata o

desespero (disfarçado) do personagem

de Redford para conseguir o furo da

sua carreira. Não estamos desesperados

por um furo, mas estamos correndo

bastante para entregar a melhor

Hashtag Cinema já feita! Nesta edição

que finaliza o ano de 2015 separamos

pautas interessantes. Uma delas é uma

investigação sobre a existência de um

cinema candango. Será que ele existe?

Quais suas características?Além desta análise, a revista traz uma

nova novidade: a seção Cinematografia

é feita de ensaios de fotográficos, em vez

de um artigo opinativo. Nossas recomendações de lançamentos

em DVD’s e Blu-Rays estão bem

ecléticas. Vencedor de Oscar e filmes

independentes.

Leonardo Resende

Editor-Chefe

Hashtag Cinema entrega sua melhor versão! Por

favor, leia com amor.

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Somos Tão Jovens(2015). Foto: Divulgação

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Sumário Hashtag Persona

O diretor e o mundo da animaçãoHashtag Cinema entrevista o diretor Alê Abreu, da animação O Menino e o Mundo,

filme que está tentando uma vaga no Oscar 2016 de Melhor Longa-Metragem de

Animação

Página 18

Foto: Priscilla Abreu

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Saiba Cinema

Mumblecore: movimento estético ou modinha hipster?

O que come çou como piada inter na há de z anos , numa convers a de b ote co durante

o fes t iva l SX SW, hoj e s e des dobra como a pr inc ip a l marca do c inema indie nor te-

amer icanoPá g i n a 2 2

Cinematografia

Dualidade de

personalidadeEnsaio fotográfico da Hashtag Cinema

explora duas facetas

da personagem Harley

Quinn, estrela do filme

Esquadrão SuicidaPágina 26

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Capa

Qual é o estilo

do cinema brasiliense?

Com produções pequenas, o

espaço cinematográfico de Brasília tenta criar seu estilo desde década de 1960

Página 64

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As recomendações da

Hashtag Cinema p a r a o s l a n ç a m e n t o s d e

outubro e novembro

Vencedor do Oscar 2016, nova adaptação de

John Green e filmes independentes compõem a

lista de indicações da revista

Página 74

Hashtag Dvd's e Blu-Rays

Cabelos de anjo, olhos de demônioPágina 88

Crônicas

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Hashtag PersonaO diretor e o mundo da animaçãoHashtag Cinema entrevista o diretor Alê Abreu, da animação O Menino e o Mundo, filme que está tentando uma vaga no Oscar 2016 de Melhor Longa-Metragem de Animação Leonardo Resende

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HC: O que suas obras têm em comum? Existe algum tema que define seus filmes? Quais são as características?

Alê Abreu: A primeira coisa que vem na minha cabeça é a questão da viagem do personagem, da busca, e o deslocamento. Meus últimos trabalhos têm esse aspecto

em comum. No Garoto Cósmico (2007), você tem a viagem dos três meninos perdidos no espaço. Passo (2007) também apresenta isso, um animal se libertando. HC: O filme apresenta momentos dramáticos, como a lembrança do menino com os pais, um momento em que eles se reúnem

Alê Abreu: Essa cena é o coração do filme. Aquele momento para mim é onde tudo se resolve, onde as três mãos sobrepostas mostram todo o sentido do filme. O sentido cósmico e amplo que aquilo representa esteticamente. Temos ao mesmo tempo nossa insignificância e grandiosidade.

É com um rabisco simples, porém genuíno, que o diretor e animador Alê Abreu encon-trou para expressar que os filmes de anima-ção não são reféns de efeitos especiais. Com o seu segundo longa-metragem, O Meni-no e o Mundo, Alê mostra um menino am-bientado num mundo grandioso e muitas vezes confuso. Utilizando o lúdico, a trilha sonora do grupo Barbatuques e uma téc-

nica de animação talentosa, sua animação está tentando uma vaga entre os candidatos do Oscar 2016 para Melhor Animação. Em uma entrevista para a Hashtag Cinema, Alê conta sobre processo criativo de seus filmes, como foi montar, idealizar e finalizar O Me-nino e o Mundo, as questões morais da ani-mação e como tudo começou com o cinema.

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encontra diversas pessoas cantando e dançando. O resultado musical é um pássaro que luta contra outro mais forte.

Alê Abreu: Este momento especialmente dos manifestantes, seguido do confronto, foi muito inspirado nas músicas de protestos. Bebemos muito dessa fonte, principalmente do rap para fechar o filme. Somente no final, com os créditos que temos uma canção com letras. Essa foi uma maneira que encontramos de colocar os ‘pés do filme’ no chão. Traze-lo para a realidade. O Emicida que cuidou de colocar nas letras o quesito de liberdade do filme.

HC: Qual o principal motivo da ausência de diálogos? Como foi o processo de criação deste idioma?

Alê Abreu: A ideia de trabalhar com um filme sem diálogos nasceu devido à utilização de desenhos e animações. A partir disso percebemos como não havia a necessidade do diálogo. Achamos que o filme ficaria muito mais forte com a ausência deles. Em um determinado momento tínhamos diálogos. Mas depois achamos que seria legal assumir de vez essa história sem falas e por isso criamos uma língua que mostrava uma linguagem entre mãe e pai. Usamos a inversão do português para não ficar tão incompreensível. Além disso, existia a vontade de transmitir a sensação de que não estamos na Terra, que estamos em outro planeta. Tirando a gente desse planeta, encontramos ainda mais razão para fazer o que os personagens explorassem ainda mais a liberdade do olhar de uma criança que fosse de outro mundo.

consigo explicar em poucas palavras, porque esse elemento é algo muito grande dentro da estrutura do filme. Em termos de produção, ela foi desenvolvida juntamente com o trabalho de criação das imagens. Fizemos uma espécie de diálogo com as imagens prontas. Mandamo-las para o pessoal da trilha sonora e eles as devolviam com música. A partir delas

adicionávamos no filme. Foi um trabalho de idas e vindas

com o estúdio de som. Eu já tinha trabalhado com

Gustavo Kurlat e Rubens Feffer no Garoto Cósmico

(meu primeira longa-metragem). Por isso já

damos muito bem, então nesse sentido foi muito

prazeroso a parte da trilha sonora. Que particularmente eu gosto muito, todos os meus filmes são muito musicais, conto muito com a música como elemento poético.

HC: O Menino e o Mundo utiliza a questão musical como protesto à opressão? Por que o uso desse elemento? Em um dos momentos do filme, o Menino

HC: Protagonizada pelo grupo Barbatuques, a trilha sonora também funciona como um personagem central do filme O Menino e o Mundo Alê Abreu: A trilha sonora apresenta

muitos sentidos, é algo que não

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o foco, para mim, é a mira do olhar dessa criança, ela que nos

dirigiu a realização do filme. Sobre o lúdico, o utilizamos o tempo

todo, é aquele mo-mento que ela olha a

realidade

HC: Qual o principal foco de O Menino e o Mundo? A utilização do lúdico é uma maneira de disfarçar o mundo opressor que ele vive ou apenas uma visão da criança?

Alê Abreu: O que nos orientou a realização do filme foi um olhar daquele menino. A visão do entendimento de uma criança que vive nas margens de uma sociedade. É uma história trágica da perda de um pai. Isso também tem sua simbologia que remete a um contexto da América Latina de uma criança que nasceu sem um pai pátria. Temos uma infância de um país explorado. Tudo funciona de acordo com uma simbologia que serve como poesia do filme. Mas o foco, para mim, é a mira do olhar dessa criança, ela que nos dirigiu a realização do filme. Sobre o lúdico, o utilizamos o tempo todo, é aquele momento que ela olha a realidade. É como se o menino fosse o diretor do filme, é ele lidando com a sua liberdade. A questão é trazer essa visão a serviço da história.

HC: O Menino e o Mundo foi lançado ano passado, porém a tentativa por uma vaga no Oscar é esse ano.

Alê Abreu: O filme vai ser lançado agora em novembro/dezembro, e nós vamos começar a campanha agora. Tudo está sendo preparado neste momento. Eu estou indo para lá (Estados Unidos), mas o problema é que o Oscar é um prêmio de indústria. O que vamos fazer é tentar colocar o filme entre os cinco.

HC: Quais são seus futuros projetos? Pretende transformar O Menino e o Mundo

em uma franquia?Alê Abreu: Eu estou trabalhando em dois roteiros. Eles são parcerias com a Buruti Filmes. Nós nos encontramos para o próximo filme, que chama Viajantes do Bosque Encantado. Animação que conta a história de crianças que estão perdidas numa floresta onde coisas estranhas acontecem, são crianças inimigas, de reinos inimigos e são obrigadas a se entenderem, em uma questão de sobrevivência.

HC: Como começou sua fascinação por animação? Começou a trabalhar com artes plásticas? Ou seu foco sempre foi animação?Alê Abreu: Eu comecei com os quadrinhos, e quando eu tinha 13 anos vi um anúncio de um concurso de animação no Museu da Imagem e do Som. Onde meu pai me levou neste curso. A partir disso eu fui cada vez mais me encantando pela animação, fazendo paralelamente quadrinhos e animação. Depois disso a animação nunca descolou do meu trabalho. Acho que meu trabalho é uma mistura de tudo isso, mas eu pinto diariamente. Teve um período que ilustrei muito, fiz campanhas publicitárias e livros. A publicidade foi um método de sobrevivência, sobrevivi fazendo desenhos para publicidade, mas parei e comecei a ilustrar livros. Uma necessidade de autoria mesmo, para fazer minhas coisas, de encontrar meu estilo de trabalho. Mas foi aí que o cinema de animação tomou espaço e não tinham como mais continuar ilustrando, meus filmes foram crescendo e me chamando. Até tenho uma série que está sendo pensada com uma produtora francesa. Na série vamos usar menino nesta fase, contextualizar a história que ele vive no longa.

Vai apresentar o mundo para as crianças.

HC: Você traduz algumas características suas para seus filmes? Ou melhor, levar algo pessoal para seus personagens?

Alê Abreu: Acho inevitável, tudo que é relacionado com a verdade aparece muito da gente, mas acaba também do que a gente percebe dos outros, de quem circunda que eu conheço que acaba entrando muito mais nos personagens do que eu mesmo. Vira uma mistura.

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Saiba Cinema

O que come çou

como piada inter na há de z

anos , numa convers a de

b ote co durante o fes t iva l SX SW,

hoj e s e des dobra como a pr inc ip a l

marca do c inema indie nor te-

amer icano

Mumblecore: movimento

estético ou modinha hipster?

Felipe Moraes

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Hoje visto (e ouvido) mais como um estado de espírito

do que um subgênero cristalizado, o termo mumblecore

pode até soar um tanto passadista. Desde que Eric Masu-

naga, editor de som do filme Funny Ha Ha (2002), cunhou

a expressão numa conversa de bar há dez anos, durante o

festival South by Southwest (SXSW), o movimento já foi

dado como morto (e vivo) diversas vezes. Os resmungos

que Masunaga ouvia em seu trabalho de depuração de

som foram ganhando outros timbres ao longo dos anos.

Amy Taubin, num longo artigo para a revista Film

Comment, em 2007, reduziu o mumblecore a uma

mera febre de festival e fabulação de blogueiros. Os

próprios tais “representantes” do movimento, sobre-

tudo Andrew Bujalski (de Funny Ha Ha), Joe Swa-

nberg (Kissing on the Mouth) e os irmãos Jay e Mark

Duplass (The Puffy Chair), já cansaram de relativizar

a importância do termo em entrevistas. Afinal, como

e por que levar tão a sério uma invenção de boteco?

Ainda assim, é notável o balaio de expressões

reunidas pelos filmes do gênero em seus primeiros

vultos, entre 2005 e 2009: estética semi-documen-

tal, diálogos improvisados (ou que se pretendem

improvisados), intimidades sexuais e sentimentais

de jovens de 20 e poucos anos, e tramas envolven-

do neuroses e angústias típicas da juventude branca

e hipster de metrópoles do leste americano, como

Atlanta e Nova York. São, de fato, filmes que res-

mungam e reclamam, sempre numa dramaturgia

bastante apegada a produtos e símbolos da épo-

ca, como eBay, iPods e câmeras digitais portáteis.

O pós-mumblecore

Esse interesse em retratar uma geração por meio

de seus próprios signos acabou iniciando um pro-

cesso cada vez mais reconhecível de estetização dos

filmes. Se os primeiros títulos rendiam comparações

óbvias a John Cassavetes, o indie-mor do ci-

nema americano, e à Geração X dos anos 90,

como Richard Linklater (Slacker) e Kevin

Smith (O Balconista), a partir da década de

2010 a mise-en-scène evoluiu em orçamen-

to, alcance e posicionamento de mercado.

O filme mais significativo desse ponto de

virada é Frances Ha (2012), curiosamente

dirigido por Noah Baumbach, um sujeito

artisticamente nascido na Gen-X. Carre-

gado por uma cativante atuação de Greta

Gerwig, o longa se infiltra nas angústias de

uma jovem dançarina entre conflitos com

amigos e sentimentos frustrados em relação à car-

reira. O drama em nada lembra o amadorismo do

mumblecore original. Pelo contrário: a fotografia em

preto e branco evidencia um mumblecore cada vez

mais próximo daquele cinema indie que costuma fre-

quentar algumas categorias do Oscar, como ator/atriz

coadjuvante e roteiro original. O happy ending foi

algo perto disso: Greta indicada ao Globo de Ouro.

Esse passo adiante dado pelo mumblecore tam-

bém esbarra na falta de inspiração tão caracterís-

tica da indústria indie -- aquela amigável ao Oscar

-- dos últimos anos, como é o caso do recente En-

quanto Somos Jovens (2014), de Baumbach. O fil-

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me funciona como uma afetada dissertação de

mestrado sobre o embate entre as gerações X e Y.

Sem Segurança Nenhuma (2012), na seara da fic-

ção científica, representa outro elo fraco na ten-

tativa de expandir as fronteiras do gênero. Ainda

assim, os sinais de um cinema pós-mumblecore

ainda caminham por vias nem sempre previsíveis.

Computer Chess (2013), por exemplo, flagra um

Bujalski dirigindo uma idiossincrática comédia

sobre a relação homem x máquina nos anos 1980,

numa convenção nerd cheia de esquisitices. É qua-

se um Kevin Smith tardio tentando refazer O Bal-

conista com geeks no lugar de maconheiros per-

dedores. Na mesma época, a esperta aproximação

com as plataformas de streaming resultou no lan-

çamento de Um Brinde à Amizade (2013) primei-

ro na internet, uma comédia etílica puxada pelos

rostos conhecidos de Anna Kendrick e Olivia Wil-

de. Angústias igualmente situadas na faixa dos 30

e poucos anos, como uma complicada relação en-

tre irmãos que seguiram caminhos distintos, levou

Swanberg a realizaro natalino Um Novo Começo

(2014), novamente com Anna no papel principal.

Ainda que os resmungos tenham recebido fô-

lego com lançamentos que repercutiram este ano

nos Estados Unidos, como Queen of Earth, de

Alex Ross Perry, e Results, de Bujalksi, o gêne-

ro que mais tem alimentado o movimento de uns

tempos para cá é o terror. O sucesso -- ao me-

nos para o padrão hipster -- de Você É o Próxi-

mo (2011), de Wingard, misturando personagens

saídos de mumblecore com tramas sangrentas,

alavancou uma série de experimentos curiosos.

V/H/S (2012), por exemplo, rendeu duas se-

quências a partir de sua estrutura de episódios de

horror, todos eles protagonizados por típicos per-

sonagens reclamões e existencialmente vazios.

Um temperamento mais misterioso, calcado em

sutilezas de roteiro, traz originalidade a The Guest

(2014), também de Wingard. Ainda que o óti-

mo A Casa do Diabo (2009), de Ti West, seja in-

diretamente ligado ao mumblecore, seu recente

O Último Sacramento (2013) inspira filiação mais

confiável: basta notar a presença da Vice na tra-

ma, grife do jornalismo independente (e gonzo)

muito identificada com a juventude hipster atual.

A estética found footage utilizada em Sacramento

é levada adiante por Patrick Brice em Creep (2014),

estrelado por Mark Duplass. A figura do reclamão,

aqui encarnada por um cinegrafista freelancer, é

projetada numa espiral de ultraviolência assim

que o videomaker começa seu próximo trabalho:

filmar as últimas horas de um sujeito com câncer

terminal, que supostamente quer deixar um lega-

do em vídeo para o futuro filho, prestes a nascer.

Com tantos filmes, rostos e vozes distintos, res-

ponder à questão proposta no título do texto (movi-

mento estético ou modinha hipster?) torna-se uma

“profunda” teoria de boteco. O mumblecore ora se

traduz como modinha disfarçada de movimento,

ora se vende como movimento tão superficial quan-

to uma modinha. O mais interessante disso tudo é

tentar identificar o mumblecore como mais um capí-

tulo na caótica e rica história do cinema indie norte-

-americano, que começa em Cassavetes, atravessa os

anos 70 e 80 como contraponto artístico à produção

de Hollywood, ganha dimensão comercial nos anos

90 e, finalmente, repousa num confuso, mas benéfi-

co limbo a partir da década de 2000. Haja resmungo.

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Dualidade de

personalidadeEnsaio fotográfico da Hashtag

CInema explora duas facetas da

personagem Harley Quinn, estrela

do filme Esquadrão Suicida (2016)

Leonardo Resende e Thiago Soares

Cinematografia

Na década de 1990, Bruce Timm - criador

do seriado Batman: A Série Animada -

sentiu a necessidade de incorporar às

histórias uma personagem que completasse

o vilão Coringa. Por isso, a Dr. Harleen

Quinzel apareceu no episódio Amor

Louco. A personagem começou como a

psiquiatra do palhaço, quando o vilão

nota a fragilidade e insegurança de

Harleen, jogos psicológicos entre paciente

e médico intensificam até que a psiquiatra

cede às manipulações e surta. Seu acesso

nervoso a transforma em Harley Quinn,

personagem baseado na Comédia D’ll Arte.

Ao longo dos anos, Harley ganhou muito

espaço nas histórias em quadrinhos, video-

games e agora no cinema, no vindouro

Esquadrão Suicida. Interpretado por

Margot Robbie, a Hashtag Cinema criou um

ensaio mostrando nossa Harley Quinn se

transformando em uma palhaça do crime

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Cinematografia Modelo: Leandra Calandrini. Produção: Eduarda Szochalewicz Lopes. Fotos: Thiago Soares

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A p s i q u i at ra

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Eu concordo com os

métodos dele (Coringa). Ele só está sendo mal

interpretado pela sociedade. Aliás, ele é uma

vítima dela

”Dra. Harleen Quinzel

O s u r to

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Eu não sei. Não estava esperando

isso. Depende muito do que

você está fazendo com o personagem.

Neste momento,

estão fazendo algo realmente diferente com

ela. O que é ótimo!

”Bruce Timm, criador da Harley Quinn, sobre

seu novo visual em Esquadrão Suicida

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Com produções pequenas, o espaço cinematográfico de

Brasília tenta criar seu estilo desde década de 1960

Leonardo Resende

Qual é o estilo do Cinema

Brasiliense?

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No ano de 1960, Cacá Diegues, com uma câmera 16

mm, lançou um dos primeiros filmes que registrava a

construção da capital, o documentário Brasília (1960).

Seria esse filme o consolidador de um estilo próprio de

cinema da capital? Ainda não. Apesar de o diretor ter

sido um dos fundadores do Cinema Novo, seu curta-

metragem tinha a intenção de registrar o contraste

do cerrado com a fundação dos prédios. A película

de Diegues é importante devido ao seu pioneirismo

em retratar a capital em suas bases, mas não tinha

quaisquer intenções de iniciar algum movimento

de vanguarda, como fez com o Cinema Novo.

A partir dos anos 1960 (confira linha do tempo),

o cinema da capital mostrava documentários.

Por ser uma cidade nova, existia a curiosidade na

demonstração de depoimentos de urbanistas como,

por exemplo, o filme de Fernando Coni Campos,

Brasília – Um Planejamento Urbano (1964). Os

cineastas estavam preocupados com a demanda

de mercado. O que era Brasília? Como as pessoas

viviam lá? Esses dois tipos de indagações que

levavam diretores a rodar um roteiro. A intensidade

em filmes institucionais para promover a capital era

alta. Essa angústia não priorizou produções fictícias,

deixando as realizações restritas aos documentários.

Outro fator que deixou a produção do cinema

brasiliense de lado, foi o auge do Cinema Novo no

Brasil, movimento que começou por influência do

neorrealismo italiano e aparece no Rio de Janeiro.

Diante dessa nova vanguarda, a mídia questionou:

existe o planejamento de transportar o cinema

hollywoodiano para o Brasil? Brasília ficou de fora

ainda por demonstrar interesse em documentários.

“A preocupação era promover Brasília, era

como se a capital tivesse a necessidade de ser

lançada ao Brasil ou até mesmo ao mundo.

O limbo cinematográfico era composto por

documentários” enfatiza Fauston Silva, cineasta.

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M u d a n ç a d e f o c o

Alterando o parâmetro dos filmes em Brasília, Nelson

Pereira Santos lança em 1966, o filme Fala Brasília

Mesmo sendo um documentário, mostra a cultura dos

estudantes de cinema da Universidade de Brasília. O

destaque do filme é o clima de manifestação dos estudantes.

Cineastas de movimentos mais atuais como Cássio Oliveira

e Faustón apontam diferentes opiniões sobre o cinema de

Brasília. Cássio declara que o cinema brasiliense sofre de uma

pasteurização de produção e não cria um estilo próprio e pelo

contrário, não faz jus ao que Afonso Brazza fez ao satirizar

uma capital. Já Faustón acredita que a produção brasiliense

é diversificada e mostra uma população de classe média em

ascensão. “Existe, sim, uma parte das produções brasilienses que

retratam a força do proletariado em crescimento, mas também

existe uma parte de Brasília que quer ambientar os acontecimentos

dos jovens. Infelizmente, ninguém está tentando criar algo

pipoca como José Eduardo Belmonte”, acrescenta Faustón.

Para os cineastas, o cinema brasiliense foca em estudantes de

cinema que fazem um autorretrato social. A junção de casais

de universitários, bebidas, algumas drogas e a ambientação da

Super Quadra Sul está no imaginário dos cineastas brasilienses.

“É basicamente a mesma coisa, jovens brasilienses de classe

média alta que procuram um significado para suas crises

existenciais causadas pelos mimos paternos. É uma espécie

de releitura de um cinema de arte. Diferente do cinema

de periferia lançado para o exterior, o cinema brasiliense

ainda está na sua fase de experimentação” diz Cássio.

Mais recente, Iberê Carvalho, diretor do O Último Cine Drive-In

(2015), colocou a metalinguagem de narrativa utilizando Drive-In

como local determinante da trama. O espaço que é o último de sua

espécie e o maior da América Latina, sintetiza a persona brasiliense.

Page 40: Hashtag Cinema Quinta Edição Novembro 2015

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Em análise, Brasília é aquilo que a mídia abraçou:

cidade de pessoas de classe média em ascensão

e que vivem ou participam de corrupção, e por

levar essa imagem à mídia – fator que Fernando

Meirelles reforçou com Felizes Para Sempre (2014)

– os estudantes de cinema abusam deste estereótipo

pedante e continuam fazendo aquilo que Cacá

Diegues fazia, construindo Brasília, mas não de

maneira física, mas sim de maneira idealista.

Uma construção de identidade que se apropria

intensamente de cinema de gente grande, mas que

ainda está engatinhando como um bebê.

O que é Brasília no cinema?

Adirley Queirós, realizador de Branco Saí, Preto Fica (2014),

levou ao público brasiliense uma Brasília caótica e refém

de uma sociedade repressiva, em que o diretor utiliza

a viagem no tempo para mostrar o contraste entre um

individuo da capital ‘velha’ e outro sujeito da cidade ‘nova’.

Em sua essência, Branco Saí, Preto Fica, não é um retrato e

nem uma sátira da personalidade brasiliense, a película de

Queirós se adentra no funcionamento do sistema democrático,

não utilizando Brasília como agente causador, mas como

ambiente de sobrevivência e interação dos personagens. Ao

comparar com outras produções, Branco Saí, Preto Fica, é a

ovelha negra (no bom sentido) de outras produções brasilienses.

A visão destorcida do futuro

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Cacá Diegues iniciou o parâmetro do cinema

de Brasília com o curta-metragem Brasília, com

indagações sobre como seria a nova capital do

Brasil. O diretor lançou a película aos 18 anos,

filme é realizado com uma câmera de 16mm e

mostra o contraste da poeira vermelha e placas

que sinalizavam os futuros prédios de Brasília.

1960

Para falar do planejamento urbano da capital, Fernando Coni Campos lançou Brasília, Planejamento Urbano, curta-metragem realizado com elementos topográficos e que teve Lúcio Costa como consultor. No mesmo ano foi lançado o filme O Homem do Rio, dirigido pelo francês Philippe de Broca.

1964

Maurício Gomes Leite, famoso por ser discípulo de Goddard e Glauber Rocha, estreia na direção de longas com uma crônica desencantada, o longa-metragem A Vida Provisória. Na trama, um jornalista mineiro faz uma viagem trágica à capital. Paulo José, Dina Sfat e Joana Fomm estão no elenco.

1968

Nasce, em Brasília, Afonso Brazza. Futuro ator e diretor de cinema “boca de lixo”, Brazza começou suas produções em sua cidade natal. Mais tarde, o diretor ficou famoso pelo apelido de Rambo do Cerrado.

1969

Page 42: Hashtag Cinema Quinta Edição Novembro 2015

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Brasília Ano 10, filme de Geraldo Sobral Rocha, curta-me-tragem produzido pelo Departamento de Turismo de Bra-sília (inicialmente pensado como um filme comemorativo) é lançado em tons sóbrios, ganhando destaque nas pro-duções cinemato-gráficas da cidade. No mesmo ano, foi lançado o curta-me-tragem Vestibular 70, um retrato preto e branco concebido pelo curso de cinema

1970Vladimir Carvalho lança o curta-metragem Brasília segundo Feldman, que mostra a cidade comentada pelo designer norte-americano Eugene Feldman. O filme investe no nebuloso massacre de operários pela Guarda Especial de Brasília (GEA), além de mostrar as precárias condições de trabalhadores.

1979 O Sonho Não Acabou, longa-metragem de Sérgio Rezende, mostrou a personagem de Lucélia Santos como uma hippie que vê até um disco voador no Lago Norte, enquanto se multiplicam na tela locações como uma mansão do Lago Sul, a agitada 109 Sul, a Torre de TV, e até o Vale do Amanhecer.

1982Glauber Rocha lançou o longa-metragem Idade da Pedra, que retrata a figura do próprio diretor com discurso engajado, para subverter a ordem social e mostrar uma transe visual, nas sequências mais polêmicas. Maurício do Valle anda pela capital com provocações sem fim, tendo fachada o Conjunto Nacional e o Teatro Nacional em obras.

1980

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1993 Afonso Brazza protagoniza, juntamente com Claudete Joubert, o filme Inferno no Gama. Com poucos recursos, o cineasta filmava com negativos quase vencidos.

André Luiz Oliveira lançou o longa-metragem Louco Por Cinema. Com humor leve, o diretor saiu do Festival Brasília com seis Candangos, entre eles, melhor filme e direção.

1994

O filme Brasília: Um Dia de Fevereiro ganhou destaque por ser um documentário sem entrevistas, mas visto pela percepção

de um vendedor ambulante da capital,

uma representante da alta sociedade e uma estudante universitária. A

direção é de Maria Augusta Ramos.

1996

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Sérgio Moriconi fez sucesso com o filme Athos, que mostra o depoimento do artista plástico Athos Bulcão. Mas o que deixou o curta-metragem famoso foi a edição do crítico de cinema ao intercalar fatos reais com ficção.

1998

2000 Vladimir Carvalho utilizou seu longa-metragem Barra 68: Sem Perder a Ternura para mostrar a invasão das tropas militares na Universidade de Brasília (UnB).

Elvis Kleber e Ítalo Cajueiro lançaram o curta-metragem O Lobisomem e o Coronel, filme vencedor do AnimaMundi.

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Elvis Kleber e Ítalo Cajueiro lançaram o curta-metragem O Lobisomem e o Coronel, filme vencedor do AnimaMundi.

Afonzo Brazza lançou seu penúltimo filme, chamado Tortura Selvagem, que ficou famoso por ter custado 240 mil reais. Nesse ano, é lançado o curta-metragem O Jardineiro do Tempo, em que Mauro Giuntini (foto) fala sobre um dos estetas que interveio na elaboração da cidade: o paisagista Roberto Burle Marx. Para contextualizar, mostra os jardins da 308 sul, as praças da Cidade e do Setor Militar Urbano e também o Palácio do Itamaraty

2001

2002

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Hashtag Dvd's e Blu-RaysPa ra S e m p re A l i -

F i lt hC i d a d e s d e Pa p e l ( fo to )

E x - M a c h i n a

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Já se temia o pior, quando ficamos sabendo dos boatos depois

confirmados que o diretor deste filme, o jovem Josh Trank,

havia sido despedido de seu próximo projeto, um dos longas da

série Star Wars, por causa da má repercussão de seu trabalho

neste filme, um conflito direto com o produtor Simon Kinberg

e um comportamento “erratic”(traduzido como irregular

ou instável). Na verdade, quando o estúdio se deu conta da

besteira que o sujeito fez já era tarde demais para mudar, ao

menos tentaram salvar o próximo projeto. (Trank tinha dirigido

um filmeco meio amador chamado Poder sem Limites (2013).

Afinal este é o pior filme da atual produção Marvel,

inferior mesmo ao irregular Homem-Formiga (2015), a tal

ponto que no final do filme não teve nem um cameo de Stan

Lee fazendo gracinhas. Muito pior também que os dois

filmes anteriores pela Fox, que eram ao menos divertidos e

despretensiosos (na verdade, assim em retrospecto melhoram

muito). O homônimo Quarteto Fantástico (2005) e o Quarteto

fantástico e o Surfista Prateado (2007), ambos de Tim Story.

Na verdade, tenho dificuldade de encontrar alguma coisa que

preste neste equivoco total. Os efeitos especiais são ridículos, por

vezes usando miniaturas, lembrando fitinhas dos anos 1950. Na

verdade, desde o começo do filme fiquei com a impressão de que

parecia um desses telefilmes de orçamento reduzido onde tudo

tem um enquadramento banal e poucos recursos. Na verdade,

este aqui pretende ser o que chamam de “ Origins”

(como fizeram com o Wolverine), mostrando como eles

surgiram e se tornaram os heróis que já conhecemos:

O Coisa, Johnny Storm, Sue Storm e o Sr Fantástico.

São dois garotos amigos, um deles Reed é um brilhante

inventor e acaba sendo descoberto por um órgão do

governo para quem ele cria uma forma de visitar um

planeta desconhecido – teletransportar ele diz - em busca

de novas energias. E voltam de lá transformados, sendo

um deles o vilão Dr.Doom (este vivido por um ator que

não conhecia, Toby Kibbel, mais um britânico que esteve

antes sem chamar a atenção em Príncipe da Pérsia (2010),

Fúria de Titãs 2 (2012), Rock n´Rolla (2008), Planetas

dos Macacos - O Confronto (2014), Control (2007), Cheri

(2009) e faz Messala no próximo remake de Ben Hur.

O governo é retratado de forma caricata (o chefe

deles fica mascando um chiclete!). Mesmo os atores

quando comprovadamente bons como Milles Teller,

estão mal dirigidos e conduzidos, ou neutros, vide Kate

Mara, (que na vida real é irmã de Rooney Mara). Mas

é a incompetente direção que é a responsável por esta

decepção. Mal dizendo, quem é culpado é o incompetente

que o contratou e deixou livre para cometer esta bobagem.

O fiasco chamado Quarteto Fantástico

Ilustração: Paulo Moura

Rubens Ewald Filho

Diretor do found-footage Poder Sem Limites (2012), não consegue achar o tom certo da adaptação da Marvel e lança um dos piores filmes do ano

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Quantos de vocês esperam por um

milagre? Quantos precisam de Margos para

começar a fazer coisas pela primeira vez?

Em Cidades de Papel, dirigido por Jake

Schreier (Frank e o Robô) o jovem Quentin

“Q”Jacobsen (Nat Wolff) acreditava

que, em algum momento, esse milagre

aconteceria. Ganhar na loteria, se casar

com uma rainha ou fazer uma cesta nos

últimos segundos de um campeonato da

NBA. Mas, a dádiva de Quentin veio em

um carro e se mudou para a casa da frente

enquanto ele ainda era um garotinho.

O nome dela era Margo Roth

Spielgelman. Mistério era uma das palavras

que mais combinava com aquela garota de

olhos claros e que era um mito para todos. Margo,

interpretada pela modelo Cara Delavingne, era dona

de um espírito livre, fugia sempre que fosse necessário

e deixava pistas apenas para dizer "Eu estou bem".

Para ela, era preciso se perder para poder se encontrar.

Um estilo de vida que correspondia ao perfil de uma

garota de papel e que aDoRaVa eScReVER aSsIm.

O longa-metragem é uma adaptação do livro

homônimo, escrito pelo autor John Green (A Culpa

é das Estrelas), que mais uma vez, surpreende o

espectador com a importância de sair da zona de

conforto e fazer coisas que deixem o coração batendo

acelerado, trazendo à tona a tão desejada felicidade.

Diante de uma geração que muito idealiza e pouco

realiza, Cidades de Papel serve como um gatilho

ou como um empurrãozinho para quem assiste.

Procurando a mister iosa menina dos olhos c laros

Primeira atuação da

modelo Cara Delavigne

em Hollywood mostra

geração idealista em

Cidades de Papel

Eduarda Szochalewicz Lopes

O s 3 0 a n o s d e D e Vo l t a P a r a o Fu t u r o

Antes de ganhar o Oscar de Melhor Direção por

Forrest Gump(1994), Robert Zemeckis abraçou o estilo

de aventura de Indiana Jones e começou sua franquia

icônica De Volta Para o Futuro. O primeiro filme é

emendado ao segundo, ou seja, os acontecimentos do

primeiro filme são vistos novamente na sequência. A

diferença é o ponto de vista e o desenrolar. Michael

J. Fox - atualmente com uma doença degeneragtiva

- interpreta o Marty McFly, garoto que volta ao

passado para fazer sua mãe apaixonar por seu pai.

O problema é que, sua futura mãe se apaixona por

Marty. Além dos paradigmas do tempo, que ainda

despertam certa discussão, mas ver o adolescente

tocando Johnny B. Goode na guitarra enquanto torce

pelo seu futuro e todas suas tentativas de impedir de

um futuro sombrio faz desta trilogia uma experiência

única e leve de presenciar. Depois de 30 anos, De

Volta Para o Futuro só melhora com o tempo.

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Ex-Machina mostra densa relação entre humano e inteligência artif icial

Dirigido por Alex Garland, o filme Ex-Machina

começa quando Caleb (Domhall Glesson), um

jovem programador da companhia Blue Book,

retcebe a notícia de que foi sorteado para passar

uma semana na mansão de Nathan (Oscar

Isaac), fundador da empresa e criador de um

dos maiores motores de busca na internet.

O chefe de Caleb vive em um local isolado,

cercado por montanhas, árvores e cachoeiras. Ao

se encontrar com Nathan, o programador fica

sabendo que, na verdade, está ali para participar de

um experimento secreto com objetivo de testar as

capacidades humanas em Ava (Alicia Vikander),

uma inteligência artificial (A.I.) criada por Nathan.

Após assinar um contrato de confidencialidade,

Caleb inicia as sessões para testar a humanoide.

Embora as conversas dos dois aconteçam sempre

separadas por uma parede de vidro, o que marca o

momento de interação é o clima envolvente, os olhares

e o tom de voz. Sem desmerecer o esforço de Domhall

Glesson, o destaque fica por conta de Alice Vikander,

que incorpora todo o ar misterioso da sua personagem.

Ao contrário de filmes de

ficção científica marcados por

explosões e perseguições, Ex-

Machina é lento e deixa espaço

para momentos mais reflexivos.

A excelente trilha sonora e o

ambiente claustrofóbico da

mansão de Nathan, rodeada

por exuberante natureza,

contribuem ainda mais para o

caráter contemplativo do longa.

Mariana de Ávila

Trabalhando com a dualidade Homem Vs Máquina, o filme dirigido por Alex Garland apresenta Alicia Vikander como androíde

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Doente ou saudável,

sempre AliceFilme que rendeu a Julianne Moore seu primeiro Oscar, traduz a sensibilidade e dificuldade do indivíduo portador do Mal de Alzheimer.

Mariana de Ávila

“A vida se transforma rapidamente. A vida muda

num instante. Você se senta para jantar, e aquela

vida que você conhecia acaba de repente.” Estas

foram as primeiras palavras que a jornalista Joan

Didion escreveu após perder o marido e enfrentar

a longa e dolorosa doença da filha, como conta

no livro O Ano do Pensamento Mágico (2008).

A história retratada no longa-metragem Para

sempre Alice, sob o comando da dupla de diretores

Richard Glatzer e Wash Westmoreland, lembra o

sentido efêmero da vida escrito por Didion. No filme,

Alice Howland, interpretada por Julianne Moore,

é uma professora universitária e referência na área

de estudo voltada para comunicação, linguagem

e linguística. Já escreveu livros, é convidada

para palestras e citada por outros pesquisadores.

Ao apresentar um seminário, Alice se perde e esquece

uma palavra. Nada muito grave nem preocupante,

por enquanto. Afinal, isso é comum acontecer com

várias pessoas em diversas situações. Além da

dedicação ao trabalho e à família, a pesquisadora

também é corredora. Em uma das tradicionais

corridas pelo campus onde lecionava, Alice se perde.

É um dos instantes, que junto a outros, culminam no

diagnóstico de um tipo de mal de Alzheimer precoce.

Ao longo do filme, o espectador acompanha a doença

se tornando cada vez mais grave. Além dos esquecimentos

das palavras, que ficam cada vez mais frequentes, Alice

começa a se perder dentro de casa, como quando

não se recorda da localização do banheiro dentro de

casa. Consequência disso: urina na própria roupa.

A família, dentro das próprias possibilidades, tenta

seguir com a vida e lidar com uma pessoa com Alzheimer

em casa. Apesar de todo carinho que demonstram, em

alguns momentos, o marido e os filhos conversam sobre

Alice como se ela não estivesse ali. Mas ela está, e, mesmo

que às vezes não tenha consciência disso e lute contra

todos os sintomas da doença, continua sendo Alice. Still

Alice, como diz o próprio nome do filme, baseado em

livro homônimo escrito pela neurocientista Lisa Genova.

O filme não tem trilha sonora marcante nem fotografia

deslumbrante. E não precisaria nada disso para emocionar.

O Alzheimer, por si só, já é algo doloroso, difícil de lidar e

triste. A dedicada interpretação sob a pele de Alice garantiu,

merecidamente, o Oscar de melhor atriz para Julianne Moore.

Desde o instante em que se perdeu na corrida pelo

campus, a vida de Alice mudou. É uma morte silenciosa que

se esfacela e se arrasta ao longo do tempo. Ainda que Alice

não se lembre da própria família e, às vezes, se perca em

fragmentos da memória fragilizada, ela continua sendo Alice.

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O ano era 1996. Nesta data, Danny Boyle lançou

a adaptação pirotécnica Transporting, fruto do livro

de Irvine Welsh. Essa releitura cinematográfica

resgata o âmbito deixado por Stanley Kubrick em

Laranja Mecânica, jovens rebeldes que abusam do

poder e drogas. Depois de 17 anos, mais outra obra

é adaptada para as telonas: Filth(2014), dirigido

por Jon S. Baird e estrelado por James McAvoy.

Bruce Robertson (McAvoy) é um bipolar viciado em

sexo e drogas que investiga um caso brutal de assassinato.

Ele é um policial corrupto que prefere utilizar a

manipulação a uma arma ao trabalhar em um caso.

Recentemente, James McAvoy tem mostrado

uma competência acima do regular como ator,

principalmente no que diz respeito a filmes com o viés

de personagens psicóticos (vide Em Transe (2013). Mas

o interessante de Filth não é sua montagem burlesque

e nem suas irregularidades diante da doença mental

de Bruce, mas sim suas referências a Stanley Kubrick.

Filth é aquele tipo de filme que remete a vários

questionamentos sobre a sociedade. Exalta James

McAvoy como um excelente ator e faz um diretor

da Escócia (locação na qual filme se passa) trabalhar

com a atmosfera de Réquiem para um Sonho mixado

a Transporting. Ao satirizar a geração Rivotril, Filth

tenta utilizar o melhor do demônio inglês deixado

por Kubrick em Laranja Mecânica, e cria um filme

intenso, perturbador e digno de prêmios. A junção de

todas essas características faz de Filth um ótimo filme.

O retorno do demônio britânico

James McAvoy como o policial desi-quilibrado Bruce

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Especialista quando o assunto é

terror infanto-juvenil, o animador e cineasta

paulista Victor-Hugo Borges (foto) é um

exemplo de sucesso no gênero. Seu primeiro

curta, Historietas Assombradas (Para Crianças

Malcriadas), deu tanto certo que acabou

virando uma série para a televisão - exibida

atualmente no canal pago Cartoon Network.

O filme, realizado em stop-motion, é sobre os

causos que uma avó conta para sua netinha. A

narrativa foi livremente inspirada na riqeuza

do folclore brasileiro.

Mas será que o horror é algo que combina

com criança? Ele acredita que sim. A fórmula

aparece também em outros trabalhos,

como as animações Icarus e O Menino que

Plantava Invernos. "Sou formado em artes

plásticas. Minha identificação com o cinema

veio por acaso: comecei a desenvolver meu

traço inspirado no expressionismo alemão,

misturando com cartoon. Assisti nos tempos

de faculdade aos clássicos cinematográficos

do expressionismo e fiquei fascinado. Daí

comecei a moldar meu traço e adaptá-lo à

narrativa audiovisual", conta.

"De certa forma, o que me interessa no horror

é a capacidade que o gênero tem de te fazer

rir mais do que te assustar", encerra Victor-

Hugo. A coluna também concorda que nem

sempre o terror serve para assustar.

Coluna do

Bicho-PapãoPor Michel Toronaga

Cria

nças

hor

roriz

adas

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Coluna do

Bicho-PapãoM u i ta s h o m e n a g e n sA dupla Sam Fell e Chris Butler é responsável por ParaNorman (2012), divertida produção que pega carona em elementos sobrenaturais. Fala de um garoto que consegue ver e falar com os mortos. Ele vai usar suas habilidades para salvar a cidade uma perigosa profecia. Repleto de referências de famosos filmes de zumbi e fantasmas, o longa-metragem tem um visual bonito e trata de temas como bullying e intolerância.

Também realizado com a técnica stop-motion, Coraline e o Mundo Secreto (2009), dirigido por Henry Selick, é um filme que parece ser casa mal assombrada. Mas vai além disso. Inspirado na obra do autor britânico Neil Gaiman, o longa fala de uma menina que se muda com a família para um casarão. Lá, ela descobre uma porta que a leva para uma outra (bizarra) dimensão. O destaque vai para a belíssima trilha sonora de Bruno Coulais.

O u t ra re a l i d a d e

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Saindo um pouco das animações, uma boa dica é A Família Addams (1991). Com um tom sombrio e gótico, o filme de Barry Sonnenfeld faz rir pela estranheza dos costumes de uma família muito sinistra. É impossível não se divertir com os personagens que têm um senso de humor pra lá de diferente. Com um elenco repleto de estrelas, a comédia de 1991 ganhou uma continuação em 1993.

E s t ra n h a fa m í l i a

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Nem pude desafiá-la a ponto da mesma

contar uma mentira. Mas depois parei

para pensar, eu vou mesmo desafiar uma

criança psicótica? “Vamos brincar de

outra coisa?”. Ouço um grito estridente

vindo do jardim. Era a mãe da capetinha.

Ela só repetia. “O jardineiro está morto!

O jardineiro está morto!” Rhoda foi até

a janela e respondeu: “Ele não queria

devolver minha boneca e ficou ameçando

contar tudo para você! Matei mesmo”.

Minha presença se tornou uma

testemunha ou um cumplíce, voltei para

casa correndo e escrevi este relato, espero

que quando alguém ler, eu não esteja

atrás das grades ou dentro de um caixão.

Estava passando pela rua ontem e ouvi o

padeiro gritando: “A pequena Rhoda tacou

fogo da casa do cachorro de novo”. Quem

é Rhoda? (pensei). O adjetivo pequena

veio acompanhado com o nome da -

suponho - criança. Não consegui dormir

imaginando uma criança ateando fogo

na casa de um cachorro, por isso levantei

nesta manhã de sexta-feira, fui até a

padaria e questionei: Quem é essa pessoa?.

O padeiro somente disse que era filha de

alguma pessoa pela qual não me recordo.

A única informação que captei foi o endereço

do indíviduo. Cheguei na casa de Rhoda, a

mãe atendeu em tons de desespero, como

se esperasse minha chegada, ou implorasse

pela mesma. Rhoda está? “Lá em cima,

brincando, eu espero”. Subi, é claro. Abri a porta e vi

com os meus próprios olhos: uma menina loira com

duas tranças e um vestido juvial. Sua postura ensaiada

e doce conseguem me enganar por pouco. “Olá, eu

sou Rhoda! Quem é você?” “Eu sou um jornalista,

me diz, por que tacou fogo da casa do seu cachorro?”

Eu realmente não saiba o que esperar de reação desta

menina que, segundo o senso psiquiatrico, apresenta

traços de psicopatia. Ela ignorou e perguntou se

queria que eu brincasse com ela. Eu sugeri brincar

de verdade ou consequência. Ela topou. Na hora. “É

verdade que você manipula seus amigos da escola?”

Essa informação eu não consegui e nem sabia, mas

me embasei em estudos sobre psicopatia, e neles o

comportamento manipulador é algo determinante.

Fiquei olhando para o pequeno dêmonio ele

respondeu friamente: “sou sim, algum problema?”

Cabelos de anjo, olhos de demônio Leonardo Resende

Crônica

Crônica baseada no filme A Tara Maldita (1956), primeiro filme sobre “crianças malvadas”

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