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INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – BH/MG – 2 a 6 Set 2003 1 Trabalho apresentado no Núcleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003. MUDA BRASIL: O MARKETING POLÍTICO QUE LEVOU TANCREDO NEVES À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Hebe Maria Gonçalves de Oliveira Universidade Metodista de São Paulo – São Bernardo do Campo INTRODUÇÃO Esta pesquisa enfoca a trajetória de Tancredo Neves à Presidência da República, os aspectos comunicacionais da campanha, isto é, a propaganda eleitoral, a construção da imagem do candidato, bem como sua projeção nacional como o “construtor da Nova República”. Esta é uma tentativa de identificar os elementos do marketing político que contribuíram para a projeção de TN 1 durante a campanha eleitoral para presidente da República, considerando o candidato com um político que teve sua vida pública construída ao longo de 50 anos. A pesquisa baseia-se em conceitos do campo da comunicação, da propaganda, da publicidade e do marketing político, bem como a partir de uma contextualização histórica. Além da pesquisa bibliográfica, estudo constitui-se de uma pesquisa documental junto ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que concentra material promocional da campanha e da vida pública de Tancredo Neves, e ao Memorial Tancredo Neves, em São João del Rei; e de entrevistas com políticos, publicitários, teóricos da Comunicação e jornalistas que direta ou indiretamente atuaram na campanha eleitoral de Tancredo Neves à Presidência da República. A pesquisa constitui-se também da leitura sistemática de periódicos como jornais e revistas da época, com o enfoque nos aspectos comunicacionais da campanha. 1 As iniciais TN referem-se a Tancredo Neves.

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Hebe Camargo

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  • INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao BH/MG 2 a 6 Set 2003

    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    MUDA BRASIL: O MARKETING POLTICO QUE LEVOU

    TANCREDO NEVES PRESIDNCIA DA REPBLICA

    Hebe Maria Gonalves de Oliveira

    Universidade Metodista de So Paulo So Bernardo do Campo

    INTRODUO

    Esta pesquisa enfoca a trajetria de Tancredo Neves Presidncia da Repblica, os aspectos

    comunicacionais da campanha, isto , a propaganda eleitoral, a construo da imagem do

    candidato, bem como sua projeo nacional como o construtor da Nova Repblica. Esta

    uma tentativa de identificar os elementos do marketing poltico que contriburam para a

    projeo de TN1 durante a campanha eleitoral para presidente da Repblica, considerando o

    candidato com um poltico que teve sua vida pblica construda ao longo de 50 anos. A

    pesquisa baseia-se em conceitos do campo da comunicao, da propaganda, da publicidade

    e do marketing poltico, bem como a partir de uma contextualizao histrica. Alm da

    pesquisa bibliogrfica, estudo constitui-se de uma pesquisa documental junto ao Centro de

    Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea (CPDOC) da Fundao Getlio

    Vargas, no Rio de Janeiro, que concentra material promocional da campanha e da vida

    pblica de Tancredo Neves, e ao Memorial Tancredo Neves, em So Joo del Rei; e de

    entrevistas com polticos, publicitrios, tericos da Comunicao e jornalistas que direta ou

    indiretamente atuaram na campanha eleitoral de Tancredo Neves Presidncia da Repblica.

    A pesquisa constitui-se tambm da leitura sistemtica de peridicos como jornais e revistas

    da poca, com o enfoque nos aspectos comunicacionais da campanha.

    1 As iniciais TN referem-se a Tancredo Neves.

  • INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao BH/MG 2 a 6 Set 2003

    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    As indiretas e o candidato das oposies

    Embora a vitria de Tancredo Neves tenha representado o fim do regime militar,

    instaurado no pas em 1964, o retorno democracia no se consolidou pela ruptura, mas pela

    permisso ou anuncia, por assim dizer, dos prprios militares. SKIDMORE (1994) refora

    que o retorno democracia se inclua como uma das principais metas do governo Ernesto

    Geisel. At porque j estava previsto no projeto dos militares que a Revoluo de 1964

    devia, aps um limitado perodo governamental de emergncia, conduzir a um retorno

    democracia representativa (SKIDMORE, 1994, p.321). Segundo o pesquisador, apesar das

    garantias, Geisel e sua equipe no tinham inteno de permitir que a oposio chegasse ao

    poder. Eles imaginavam uma democracia em que o partido do governo continuasse a mandar

    sem contestao. SKIDMORE (1994, p.323) cita que

    (...) aps a morte de Mdici [1985] a viva [dona Scilla Mdici, ao Jornal do Brasil,

    no dia 01.07.1986] afirmou que seu marido desejara iniciar a abertura antes do fim do

    seu mandato, mas que Geisel ameaou renunciar a sua candidatura se o presidente

    pusesse em prtica aquela iniciativa.

    O prprio presidente Joo Figueiredo estava destinado a fechar o ciclo dos governos

    militares, prevendo a entrega do poder para o PDS (partido governista). Para impedir que este

    casse sob os domnios de Paulo Salim Maluf visto como poltico corrupto, o rei das

    mutretas, indesejado pelos governistas e com baixo ndice de popularidade o prprio

    governo articulou a candidatura de Tancredo Neves, ento governador eleito de Minas

    Gerais (PMDB), em 1982.

    Diversas vezes no decorrer de 1983 e 1984, Figueiredo manifestou sua indisposio,

    no publicamente, a Paulo Maluf em ocupar a Presidncia da Repblica. O turco no sentar

    no meu lugar de maneira nenhuma, disse Figueiredo (DIMENSTEIN et al. 1985, p. 15). O

    termo turco referia-se ao deputado paulista de origem libanesa que, segundo

    DIMENSTEIN, o presidente considerava arrogante, prepotente, despreparado para exercer o

    poder e despojado de escrpulos. Quando a indicao de Maluf como candidato a presidente

    da Repblica j estava prestes a passar na conveno do PDS, Figueiredo (DIMENSTEIN et

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    al. 1985, p. 22) confessou ao deputado Joo Paganella, do PDS de Santa Catarina: Tancredo

    um nome confivel e aceitvel para a conciliao. Mas publicamente Figueiredo afirmava

    prestar apoio a Maluf. Conciliao naquele momento significava ter a confiana de

    Figueiredo, portanto, das Foras Armadas e o prestgio junto opinio pblica.

    O ano de 1984 terminou com o ex-presidente Ernesto Geisel levando o candidato da

    oposio [Tancredo Neves] portaria do seu edifcio, em Ipanema, no Rio de Janeiro,

    para que a imprensa pudesse fotograf-lo num abrao de despedida. O ex-presidente

    Geisel no d abraos por descuido e muito menos por mera formalidade (VEJA,

    16.01.1985, p. 23).

    Do PMDB, partido de maior sustentao do movimento Diretas J , Tancredo

    indicado como candidato oposicionista, aglutinando a Aliana Democrtica frente composta

    pelo prprio PMDB, PFL e partidos de oposio candidatura Maluf, mais o apoio da Frente

    Liberal (dissidentes do PDS). Sou o candidato da conciliao nacional, apresentava-se

    Tancredo em campanha (VEJA, 14.11.94, p.24). Tancredo, aos 74 anos, foi eleito com 480

    votos contra 180 dados a Maluf; e 26 abstenes. O poltico mineiro tornava-se o primeiro

    civil a ocupar a Presidncia da Repblica aps 21 anos de regime militar. Na noite anterior

    posse do presidente eleito, prevista para o dia 14 de maro, Tancredo adoece durante a

    solenidade oficial religiosa. O presidente enfrenta uma sucesso de sete cirurgias em 38 dias

    internado no Hospital de Base, em Braslia, e depois no Instituto do Corao do Hospital das

    Clnicas da Universidade de So Paulo. A populao foi comoo.

    Segundo BRITTO (1985), Tancredo, em 16 de abril, j no emitia uma nica palavra nos

    ltimos 12 dias, desde que recebeu a sonda orotraqueal. Estava sedado havia quatro dias, tinha

    emagrecido e inchado devido ao acmulo de lquidos no organismo e com manchas no rosto.

    No dia 12 de abril, o chefe da equipe mdica, Henrique Walter Pinotti, contou a Britto que

    vinha recebendo telefonemas de empresrios e polticos que o advertiam: O pas est parado,

    as aes na Bolsa esto caindo. Vocs tm que fazer alguma coisa para resolver esta

    situao! (BRITTO; CUNHA, 1985, p.161).

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    A posse oficial de Sarney como presidente da Repblica ocorreu mesmo em 21 de abril de

    1985, aps ser declarada pela equipe mdica a morte de Tancredo Neves, na ento

    embrionria Nova Repblica.

    A campanha TN e o marketing poltico

    A mobilizao da populao em torno da candidatura Tancredo e o nacionalismo

    cultuado junto aos anseios de mudana possivelmente no teriam sido consagrados sem as

    aes do marketing. Os resultados da campanha podem ser sintetizados nas palavras de

    BRICKMANN (1998, p.53): Tancredo Neves, que encarnou a reao civil ditadura militar,

    teria sido canonizado se a deciso dependesse dos brasileiros.

    A campanha TN foi at hoje, sem dvida, o maior movimento de marketing poltico

    eleitoral e propaganda poltica que este pas j assistiu. A declarao de MANHANELLI

    (entrevista, 2002), ainda que venha provocar discrdias, reveladora, porque refora a

    expressividade e simbologia do movimento, alm de avanar o que vem sendo pontuado

    sobre o marketing poltico eleitoral no Brasil.

    QUEIROZ (1998, p.113) afirma que a campanha TN do ponto de vista da

    propaganda poltica (...) foi o movimento mais expressivo, nos anos 80. BARROS (2000,

    p.32) ressalta que, no Brasil e na Amrica Latina, o marketing poltico, na concepo que se

    tem hoje, acontece bem depois da dcada de 80, devido ao longo perodo ditatorial vivido

    na maioria dos pases sul-americanos. Nesse raciocnio, QUEIROZ (1998, p.113-114),

    embora retroceda a data, refora que s a partir do movimento Diretas-J (...) que o

    conceito de marketing poltico evoluiu, ganhou as ruas e passou a ser usado com freqncia.

    A FOLHA DE S.PAULO, edio de 5/02/84 (apud BOLETIM INTERCOM,

    jan./fev.1984, p.11-14), publica que a campanha pelas diretas para presidente da Repblica,

    em termos de estratgia de divulgao, trouxe um novo elemento cena poltica do Brasil

    moderno: a assessoria de marketing especializada, um desdobramento, na verdade, do que foi

    esboado nas campanhas pelos governos estaduais em 1982. PASSADOR (1998) aponta

    para o pioneirismo da atividade no Brasil j em meados dos anos 50.A primeira tentativa de marketing poltico no Brasil ocorreu quando, em 1954, odeputado Magalhes Pinto chamou o publicitrio Joo Moacir de Medeiros paraauxiliar na campanha de Celso Azevedo para a prefeitura de Belo Horizonte,

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    tornando-se o primeiro caso registrado da utilizao de tcnicas de marketing eleitoralno Brasil.

    Ainda retomando QUEIROZ ( 1998, p.113-114):

    Fernando Collor enfrentou as primeiras eleies sob um movimento culturaldiferenciado da propaganda poltica. Foi a primeira eleio que teve todos os requintesda moderna comunicao de massa, envolvendo simultaneamente jornais, rdios,televises, out-doors, revistas e mdias promocionais e alternativas distribudasfartamente

    MANHANELLI (entrevista, 2002) afirma que a verdadeira consolidao do

    marketing poltico no Brasil se deu na campanha TN, visto que campanhas anteriores

    (prefeitos e governadores) j utilizavam das tcnicas do marketing poltico. A campanha de

    TN ao governo de Minas Gerais, em 1982, foi coordenada pela agncia Setembro e

    Propaganda, do publicitrio Almir Sales. Alm da prpria vitria do candidato, a campanha

    tambm foi premiada, com destaque no Prmio Colunistas Regional, Nacional e ainda

    Marketing Eleitoral (ROSSINI, Propaganda & Marketing, 20.01.1985), pela melhor

    propaganda poltica de 1982. SKIDMORE (1994, p.453) refora a premissa em relao s

    eleies em 1982. Segundo o historiador,

    (...) pela primeira vez desde 1965 os governadores seriam eleitos diretamente. Comoas eleies tinham sido adiadas de 1980 para 1982, o eleitor deveria votar emcandidatos para todos os nveis exceto presidencial. Tanto o PDS quanto o PMDB seorganizaram para uma propaganda sofisticada [grifo nosso] pelos meios decomunicao.

    Uma campanha atpica para uma eleio atpica

    Para o pool de agncias de publicidade formado em torno da candidatura TN

    inicialmente composto por 10 empresas, entre as mais importantes do Pas como as de So

    Paulo: Denison, Salles/Interamericana, CPB, DPZ, AD/AG e CBBA/PROPEG; Rio de

    Janeiro: MPM e SGB; Curitiba, Exclan; e Belo Horizonte, Setembro Propaganda; alm da

    participao de jornalistas como Mauro Santayana e tambm do cartunista Ziraldo Alves

    trabalhar a campanha era uma experincia nica em todos os sentidos, principalmente com as

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    amarras da legislao eleitoral que impedia a propaganda poltica em jornais, rdio e

    televiso. Noticiou o JORNAL DO BRASIL (12.09.1984):

    Elas [as agncias de publicidade] concordaram primeiro que jamais enfrentaram tarefaparecida: atingir uma platia de 686 pessoas os delegados no Colgio Eleitoral semusar os meios de comunicao tradicionais, pois rdio, jornal e televiso estoproibidos de veicularem propaganda poltica. Para uma eleio atpica, uma campanhapublicitria atpica.

    Ao Comit Nacional de Publicitrios coube definir as bases comuns da campanha: a

    padronizao das cores verde e amarelo; o gesto dos braos levantados, em forma de V; e

    mos dadas em um longa corrente, representando a solidariedade. Os slogans Muda Brasil.

    Tancredo Presidente ou Muda Brasil. Tancredo J foram padronizados em cartazes com as

    duas faixas verde e amarelo e a palavra Tancredo em azul. Nos cartazes em que eram

    utilizados a frase Muda Brasil. Tancredo J, a proposta era estampar a imagem do candidato

    bastante sorridente.

    As cores verde e amarelo como smbolos da campanha, de acordo com o ento

    governador de So Paulo Franco Montoro (FOLHA DA TARDE, 30.08.1984), tiveram a

    seguinte significao: a primeira por representar a esperana de mudana e a segunda para

    mostrar que a luta pelas diretas continua. As duas cores reunidas simbolizam a unio nacional

    que se constitui em torno de Tancredo Neves.

    Uma outra pea proposta pelos publicitrios foi o desenho de um sorriso, isto , um

    crculo em azul, com olhos em formato de estrelas ao lado do slogan Volte a sorrir meu

    Brasil. Nessas peas, o fundo seria em amarelo, com o nome Tancredo em azul e a frase

    escrita em verde. Alm desse material, foram criadas peas suportes usando as variaes em

    camisetas, bons, leques, braadeira, guarda-chuva/sol. Tambm foi criada uma decorao

    padronizada para os ambientes de comits, palanques, muros e residncias, compostas por

    faixas e estandartes.

    A estratgia de TN e de seus assessores era construir uma campanha que abarcasse o

    esprito de uma eleio direta, como expressou tambm o deputado pernambucano Fernando

    Lyra (JORNAL DA TARDE, 09.07.1984): como se diretas fosse, com a realizao de

    grandes comcios nas principais capitais do Pas, buscando comprometer o candidato com as

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    aspiraes populares, mobilizar o povo e lev-lo a pressionar os que tm voto no Colgio

    Eleitoral.

    No decorrer da campanha, somavam-se 31 agncias em diversas cidades do Pas.

    Toda a concentrao do Comit dos Publicitrios ficou em So Paulo, mas para racionalizar

    o trabalho de comunicao, algumas agncias passaram a atender a rea de So Paulo e outras

    somaram os seus esforos nacionalmente em funo de suas estruturas, escreve ROSSINI

    (PROPAGANDA & MARKETING, 20.01.1984, p.30).

    A primeira deciso do pool de agncias do candidato foi a estimular a produo dispersa de

    material em todo pas, sem dispndios financeiros. Essa no uma campanha publicitria,

    mas um esforo de comunicao., disse Roberto Duailibi, da DPZ (apud JORNAL DO

    BRASIL, 04.11.1984). Um dos princpios assinados no acordo entre as agncias especificava:

    No h uma conta publicitria. O que existe uma causa. Outro tpico determinava: A

    funo da nossa propaganda no lapidar a imagem do candidato. No h nada a lapidar em

    Tancredo Neves. Ele autntico e assim que dever ser apresentado opinio pblica. Da

    a mxima do Manual da Campanha produzido pelas agncias: Tancredo no um produto.

    uma criatura humana.

    ROSSINI (PROPAGANDA & MARKETING, 20.01.1984, p.35) cita que Caio

    Domingues atribuiu a eficcia da campanha ao prprio personagem em que foi centralizada,

    se configurando numa situao ideal (...) o que, em publicits, poderia ser denominado como

    um bom produto que se vende sozinho.

    O candidato da conciliao nacional

    VEJA (19.11.84, p. 24-29) cita que, segundo Mauro Salles, Tancredo Neves ouve

    muito, fala pouco, mas s age de acordo com a prpria cabea. Considerado um dos mais

    astutos polticos da Repblica (VEJA, 16.01.85, p.22), TN comandou o tempo todo a

    prpria campanha. Ele houve todo mundo e faz o que quer, disse VEJA o ento

    governador de Minas Gerais, Hlio Garcia, empossado aps Tancredo deixar o cargo na

    segunda quinzena de agosto. ACIO NEVES (entrevista, 2002) refora a posio do poltico

    mineiro:

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    Tancredo estava permanentemente atento a toda a campanha, que era orientada edirigida pessoalmente por ele, e no titubeava em determinar, por intermdio docoordenador, Mauro Salles, a mudana de orientao, quando se fazia necessrio. Eleouvia os seus consultores polticos, que eram poucos, mas no aceitava sugestes doshomens de marketing quanto ao que devia dizer ou no.

    EISENLOHR (entrevista, 2002) confirma que TN comandou o tempo todo a sua

    campanha. Ele se debruava cuidadosamente e demoradamente sobre cada pea publicitria

    importante. Revisava tudo, com a preocupao quase obsessiva de no dar nenhum

    pretexto para reao dos militares ou de qualquer correligionrio de importncia no processo.

    Segundo VEJA (16.01.1985, p.51), no incio da campanha Tancredo quis substituir o slogan

    Muda Brasil Tancredo j, criado como uma tentativa de resgatar o esprito das Diretas J.

    A primeira sugesto de Mauro Salles foi Tancredo Neles. O candidato no gostou.

    Argumentou que a idia era muito agressiva, poderia provocar revanche. Salles sugeriu um

    novo slogan: No chore Brasil Tancredo para Presidente. Tancredo gostou, mas foi a vez

    do candidato a vice-presidente, Jos Sarney, horrorizar com a proposta. Estavam plagiando o

    Dont Cry for me Argentina e alm do mais bom saber que no se comea slogan de

    campanha poltica com a palavra no. s o pessoal do Maluf borrar o no e a frase vira

    Chore Brasil Trancredo para Presidente. Conta VEJA que Salles elaborou uma nova idia

    Tancredo para Presidente, Vamos Voltar a Sorrir que tambm foi rejeitada numa

    reunio pelos prprios publicitrios. Salles acabou por enervar-se e chorar na reunio, tendo

    de ser confortado com um copo de gua oferecido pelo publicitrio Roberto Duailibi.

    Tancredo, ento, resolveu desistir e a campanha ficou com o mesmo slogan que tinha no

    comeo (VEJA, 16.01.985, p.51).

    Outro ao de Tancredo. Almir Sales apresentou como smbolos da campanha duas

    manchas verde e amarelo na forma de exploses. As exploses verde-amarelo representam

    as cores da Bandeira Nacional e partem de uma mensagem de esperana para o Brasil, a ser

    levada de maneira uniforme", disse Salles (JORNAL DO BRASIL, 29.07.1984). Tancredo

    no gostou. As exploses foram substitudas pelas ento manchas em forma de faixas. Contou

    ACIO NEVES (entrevista, 2002):

    A marca de campanha, sugerida pela Setembro num primeiro momento, era a dascores nacionais misturadas, como ocorre nas palhetas dos pintores. Tancredo vetou-a,de pronto, lembrando que as cores assim misturadas davam m impresso. (...) As

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    cores nacionais fossem apresentadas em traos grossos, irregulares e inclinados, comoterminou sendo desenvolvido pela agncia. Essa marca foi depois usadaindevidamente por Collor.

    Os comcios: como se diretas fossem

    A estratgia para a realizao dos grandes comcios nas principais capitais foi

    legitimar a eleio direta, buscar o apoio popular. Segundo MANHANELLI (entrevista,

    2002), tnhamos duas campanhas a serem efetuadas. A primeira para que a populao

    pressionasse o Colgio Eleitoral e a segunda no prprio Colgio Eleitoral. O jornal O

    GLOBO (13.08.1984) tambm enfatiza as duas frentes da campanha: a ampla mobilizao

    popular, com comcios em praas pblicas em todo Pas, para debater o programa mnimo do

    Governo, e o esforo para atrair votos, nos Estados, dos delegados do PDS no Colgio

    Eleitoral. ROSSINI (PROPAGANDA & MAKETING, 20.01.1985) escreve:

    Os comcios foram trabalhados inteligentemente. Num verdadeiro plano estratgicode marketing, os discursos eram aproveitados em praas pblicas. Mensagens eramveiculadas, a linguagem abordada para expor os grandes temas de interesse nacional,as pessoas envolvidas (jornalistas, apresentadores, artistas) criavam a ambientaonecessria para promover a verdadeira integrao nacional.

    Em trs meses foram realizados 11 grandes comcios. O primeiro deles aconteceu em

    Goinia, em 14 de setembro de 1984, por reivindicao do ento governador de Gois, ris

    Resende; e o ltimo, em Recife, Pernambuco, em 16 de dezembro do mesmo ano. Na

    primeira grande manifestao, cerca de 500 mil pessoas, anunciada pelo governador ris

    Resende (FOLHA DE S.PAULO, 15.09.1984), lotaram a Praa Cvica da capital de Gois.

    Jornalistas chegaram a estimar cerca de 400 mil pessoas. O nmero de pessoas no evento

    poltico foi comemorado, lembrando que o evento pelas diretas tinha atrado

    aproximadamente 250 mil pessoas ao mesmo local. s 21h21, o inusitado em toda histria

    poltica brasileira: discursando em palanque, Tancredo era transmitido ao vivo no Jornal

    Nacional da Rede Globo para todo o Pas.

    O mais esperado de todos os comcios da campanha TN, o da Praa da S em So

    Paulo, no dia 7 de dezembro, no teve resultado compatvel superestrutura montada para o

    evento, conforme apontou a imprensa. A FOLHA DE S.PAULO (08.12.1984) noticia

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    Comcio da S decepciona. A proposta era atingir os nmeros do comcio das Diretas J, que

    reuniu no mesmo local cerca de 300 mil pessoas no dia 25 de janeiro de 1984 e um milho e

    700 mil pessoas no dia 16 de abril de 1984 at ento a maior manifestao j realizada em

    So Paulo, desde a Marcha da Famlia com Deus pela Liberdade, em 1964, segundo a

    FOLHA DE S.PAULO. Para os organizadores da campanha, que tinham a expectativa de

    atrair cerca de um milho de pessoas, o evento reuniu 70 mil, segundo fontes citadas pela

    FOLHA DE S.PAULO, e 80 mil, de acordo com a GAZETA MERCANTIL. A FOLHA

    tambm noticia que o locutor Osmar Santos chegou a anunciar no palanque 500 mil pessoas,

    s 19h20, momento em que a Polcia Militar estimou um pblico de 50 mil.

    Uma campanha franciscana

    Como nas Diretas J a participao das agncias de publicidade e propaganda se deu

    de forma gratuita, na campanha de Tancredo Presidncia da Repblica tambm no foi

    diferente. A atuao dos publicitrios Roberto Duailibi e Mauro Salles foi um trabalho

    voluntrio. Recebamos constantemente contribuies de vrias agncias de publicidade.

    Nada era pago, disse RIBEIRO (entrevista 2001), ento assessor de imprensa da campanha

    TN. Segundo DUAILIBI (entrevista, 2002), os publicitrios apresentaram-se

    voluntariamente, sem a preocupao de obter recursos. A causa da democratizao era

    superior ao desejo de se remunerar. Antnio de Freitas, diretor da agncia Exclam, em

    Curitiba, disse que a contribuio campanha seria totalmente gratuita, assim como no

    movimento Diretas J. ACIO NEVES (entrevista 2002) confirmou a postura dos

    publicitrios:

    Uma campanha poltica tem, naturalmente, as suas despesas. O que houve foi adeciso dos donos das agncias de reduzirem ao mximo essas despesas e de no obterlucros com o seu trabalho. Prevaleceu a constatao de Duailibi, consensual entre asagncias que se reuniram no pool, de que se tratava de uma causa, e no de umaconta.

    Conforme revela VEJA (16.01.1985, p. 51), as contas reais da campanha de Tancredo

    (...) permanecem ocultas em completo mistrio, mas sabido que contribuies demonta foram feitas aos cofres de Tancredo, administrados pelo presidente do Bancodo Estado de Minas Gerais, Jos Hugo Castelo Branco, com a ajuda de diversos

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    coordenadores regionais. Tais contribuies no deixaram rastro na contabilidade dosdoadores por causa do mecanismo utilizado em seu encaminhamento.

    Pesquisas: contas na ponta do lpis

    Foi a partir das pesquisas que a campanha TN teve seu tema central definido, isto ,

    apresentou Tancredo como um instrumento de mudana das oposies. As pesquisas

    mostram que o povo quer o fim do desemprego e da corrupo, inflao e custo de vida

    menores e votar para presidente. Tancredo, atravs de sua eleio pelo Colgio Eleitoral, seria

    instrumento de mudana, disse o diretor da Agncia Exclam, Antnio de Freitas (FOLHA

    DE S.PAULO, 13.07.1984).

    Conforme noticiado, a populao queria, segundo as pesquisas, um presidente que

    tivesse honorabilidade e credibilidade. Foi tambm a partir das pesquisas que os

    publicitrios perceberam a idia de relacionar a proposta da campanha com as das eleies

    diretas. Da o uso das cores verde e amarelo. Para os publicitrios, continuava sendo forte a

    aspirao dos brasileiros de votar para presidente. Por isso, segundo o publicitrio Antnio

    de Freitas (FOLHA DE S.PAULO, 13.07.1984), a proposta de apresentar Tancredo como a

    nica opo para acabar com o continusmo que dura 20 anos. Surge, ento, a criao de

    slogans como Mudana urgente. Tancredo para presidente. Honestamente. Tancredo para

    presidente. Devolvam o Brasil pra gente. Tancredo presidente.

    De olho no s na opinio pblica, mas principalmente no Colgio Eleitoral, a

    contagem sobre a inteno de votos era feita na ponta do lpis. Relatrios da Companhia

    Brasileira de Publicidade (CPB) para a campanha TN indicam a importncia dada pelos

    coordenadores da campanha s pesquisas tambm junto aos parlamentares. A FOLHA DE

    S.PAULO (26.08.1984) noticiou: Nunca, no meio poltico, houve tanta dedicao

    aritmtica como agora. Contas e mais contas so feitas todos os dias para apurar as tendncias

    dos privilegiados eleitores do Colgio Eleitoral.

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    O discurso de Tancredo

    Embora dono de uma oratria eloqente, Tancredo foi visto como um poltico de

    poucos discursos e, ao mesmo tempo, de grande importncia. O trao marcante dos

    pronunciamentos de Tancredo reside no fato de haver sempre debatido idias, sem atingir,

    pessoalmente, de modo injurioso, quem quer que fosse. (...) Uma caracterstica constante nos

    bons polticos mineiros, noticiou a FOLHA DE S.PAULO (24.03.1984). No primeiro

    pronunciamento aps a vitria no Colgio Eleitoral, Tancredo, por 30 minutos, falou aos

    parlamentares ainda presentes no plenrio do Congresso Nacional. Esta foi a ltima eleio

    indireta do Pas. Venho para realizar urgentes e corajosas mudanas polticas, sociais e

    econmicas no Brasil indispensveis ao bem estar do povo. Entrego-me hoje a servio da

    nao. No foi fcil chegar aqui.

    Ora em discursos, ora em conversas, Tancredo no perdia a oportunidade de fazer

    referncias com certa freqncia aos presidentes Getlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O

    primeiro, via-o como excepcional; o segundo, um notvel (JORNAL DO BRASIL,

    27.12.1984). Tinha-os, portanto, como presidentes modelos.

    O grande discurso feito por Tancredo Neves durante a campanha Presidncia foi

    quando anunciou pela primeira vez a expresso Nova Repblica. Durante dias, o candidato

    se preparou para o 15 de Novembro aniversrio da Proclamao da Repblica , isto ,

    propor a construo de uma Nova Repblica, termo criado pelo prprio candidato e uma

    frmula elegante de anunciar o fim do regime militar (VEJA, 21.11.1984, p.36-37). O

    anncio foi feito durante o Encontro Anual da Unio Parlamentar Interestadual (UPI),

    realizado no Hotel Senac, em Vitria, no Esprito Santo: imperioso criar uma Nova

    Repblica, forte e soberana, para que nossas Foras Armadas no sejam nunca desviadas de

    sua destinao constitucional. (...) Vamos com a graa de Deus, presidir o momento

    histrico.

    O termo Nova Repblica, absorvido de imediato pela imprensa, entrou para os livros

    de histria. Segundo EISENLOHR (entrevista, 2002), a expresso foi criada pelo jornalista

    Mauro Santayana, assessor do candidato e responsvel pelos discursos. Disse SANTAYANA

    (entrevista, 2002): Como amigo pessoal e companheiro de idias, coube-me a tarefa (isso, de

    resto, de conhecimento pblico) da parte doutrinria e ideolgica de seu discurso. certo

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    que essa parte doutrinria, exposta nos pronunciamentos de Tancredo, serviu de base para os

    anncios. EISENLOHR (entrevsita, 2002) refora: A expresso foi criada numa reunio da

    qual participei e realizada no escritrio paulista da campanha, onde se buscava uma sntese

    conceitual do novo governo. Claro, a expresso foi atribuda a Tancredo. ACIO NEVES

    (entrevista, 2002) aponta para uma segunda verso:

    Tancredo havia recebido algumas sugestes para o discurso, redigidas porAffonso Arinos de Mello Franco, em que se falava na importncia damudana nos rumos do Pas, e a comparava que houvera com a ruptura de1930. Como se sabe, entre os articuladores da Revoluo de 30 se encontravaum irmo de Affonso Arinos, Virglio de Mello Franco. Tancredo achouinteressante a idia e cunhou a expresso Nova Repblica.

    Durante a campanha, Tancredo se dedicou tambm ao corpo-a-corpo velha prtica

    na poltica brasileira para buscar apoio popular. Visitou o Memorial JK, em Braslia, na

    passagem do oitavo aniversrio de morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, outro

    mineiro. Deslocou-se at So Borja, no Rio Grande do Sul, em visita ao tmulo de Getlio

    Vargas, em homenagem aos 30 anos de morte do ex-presidente. Tancredo depositou flores

    nos tmulos de Getlio e do tambm ex-presidente Joo Goulart, enfrentando uma

    temperatura de seis graus positivos (VEJA, 3.10.84, p.22).

    O corpo-a-corpo junto aos reais eleitores membros do Colgio Eleitoral tambm

    foi cumprido com visitas do candidato s casas dos parlamentares. A proposta era que TN

    permanecesse em Braslia de segunda a sexta-feira , mantendo contados com polticos em

    seus escritrios e no Congresso. Aos sbados e domingos, percorreria os Estados para

    participao em comcios e visitas aos delegados indicados para a eleio indireta (JORNAL

    DO BRASIL, 24.08.1984).

    O esprito popular da campanha foi amparado nas adeses de vrios segmentos da

    sociedade. Um deles foi o Movimento Nacional Feminino Tancredo Neves, lanado em

    Braslia, em outubro de 1984. De carter suprapartidrio, o movimento tinha a proposta de

    congregar mulheres da Frente Liberal, PMDB, PDT, PT e ainda as sem filiao partidria. Em

    julho de 1984, foi inaugurado o Comit Cultural Pr-Tancredo, no Rio de Janeiro. Conforme

    definido no Manual de Campanha apresentado pelo Comit Nacional de Publicitrios (O

    ESTADO DE S.PAULO, 02.07.1984),

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    (...) os artistas devero fazer uma campanha paralela, liderada pela cantora Fafde Belm e com a participao de Milton Nascimento, Joo Bosco,Gonzaguinha, Raul Cortez e o conjunto Blitz.

    Como levar Tancredo a todos os rinces deste pas? Sem sombra de dvida, s mesmo

    com uma grande ao de comunicao e marketing. Vale lembrar que o objetivo maior de

    uma campanha publicitria fazer com que o candidato seja lembrado, isto , que no caia no

    esquecimento, e, portanto, eleito. Tancredo hoje, sem dvida, um dos polticos da histria

    brasileira mais lembrados. Assim como Getlio Vargas se consagrou como o pai dos

    pobres; Juscelino Kubsticheck, o desenvolvimentista; Tancredo simbolizou a esperana

    para o Brasil.

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Publicidade, Propaganda e Marketing, XXVI Congresso Anual emCincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    MANHANELLI, Carlos Augusto. Estratgias eleitorais: marketing poltico. So Paulo:

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    (Mestrado em Administrao Pblica) Escola de Administrao de Empresas de So

    Paulo/Fundao Getlio Vargas, So Paulo

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    SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Castelo a Trancredo. 1964 1965. 5reimp. Rio de Janeiro:

    Paz e Terra, 1994.

    ENTREVISTAS

    NEVES, Acio. BRITTO, Antnio. DUAILIBI, Roberto. EISENLOHOR, Glaudiston.

    MANHANELLI, Carlos. SALES, Almir. SANTAYANA, Mauro. Entrevistas concedidas a

    Hebe Gonalves via e-mail em fevereiro a junho de 2002.

    RIBEIRO, Jos Augusto. Entrevista concedida a Hebe Gonalves por telefone. jun.2001/

    mai.2002.