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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PSICOLOGIA HELENO FELIX TORRES A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PSICOLOGIA

HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado

para obtenção do grau de bacharel no curso de

Psicologia da Universidade do Extremo Sul

Catarinense -UNESC.

Orientador: Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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HELENO FELIX TORRES

A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, com Linha de Pesquisa em Neuro Psicologia.

Criciúma, 22 de Junho de 2009. (data da defesa)

BANCA EXAMINADORA

Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow – Mestre - (UNESC) - Orientador

Dr. Antonio Carlos Althoff – Especialista em Reumatologia

Profª. Elenice De Freitas Sais – Especialista - (UNESC)

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“Se você quiser comer hoje, cultive arroz.

Se você quiser comer amanhã, cultive árvores frutíferas.

Se você quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens”.

ConfúcioConfúcioConfúcioConfúcio

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RESUMO

Rever conceitos tão antigos e tão atuais sobre a prática hipnótica implica necessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua história. Das antigas práticas ritualísticas pagãs, do culto aos deuses, passando por Mesmer, Freud e Erickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com os ultramodernos exames de tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética do fluxo sanguíneo e seus proeminentes executores. À luz de novos achados científicos, a hipnose se renova e reforça uma posição que já conquistou na comunidade médica, a saber o expressivo relato de casos que dão conta da sua eficácia na prática clínica, indo mais pontualmente esclarecer o funcionamento do cérebro humano quando ativado pelo estado hipnótico. Especificamente na clínica psicológica, a hipnose vem sendo utilizada com grande sucesso nos casos em que trata de ansiedade, fobias, traumas, drogadição, dependência em seus vários níveis, apenas para citar algumas desordens, razão pela qual o presente trabalho se inscreve, num esforço de resgatar a história da hipnose no mundo desde a Antigüidade até os dias atuais, os caminhos e descaminhos que percorreu para que hoje pudesse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da ciência e colocar-se a serviço do homem enquanto possibilidade de reduzir sofrimentos.

Palavras-chave: Hipnose. Indução Hipnótica. Psicologia. Prática Clínica

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Divisão do Sistema Nervoso .................................................................... 36

Figura 2 – Subdivisão do córtex cerebral .................................................................. 39

Figura 3 – Áreas do cérebro e suas respectivas funções .......................................... 40

Figura 4 – Modelo utilizado nos experimentos de Kosslyn & Col. ............................. 42

Figura 5 – Variação da atividade normal de um recém-nascido................................ 43

Figura 6 – Imagem de cérebro estimulado pela Serotonina ...................................... 43

Figura 7 – Imagem do cérebro durante exame de IRMf ............................................ 44

Figura 8 - Estimulação do cérebro sob efeito de sugestões pós-hipnóticas .............. 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Aspectos da sugestão .......................................................................... 48

Tabela 02 - Fatores da relação especialista-paciente ..................................................... .... 49

Tabela 03 - Influência do meio ambiente e a relação especialista-paciente ......................... 50

Tabela 04 - Classificação das sugestões ............................................................................. 51

Tabela 05 - Tipos de temperamento .................................................................................... 53

Tabela 06 - Características do paciente hipnotizado ........................................................... 54

Tabela 07 - Alterações observáveis durante a hipnose ........................................................ 55

Tabela 08 - Características psicológicas do estado hipnótico .............................................. 56

Tabela 09 - Alterações em pacientes com ou sem sugestão hipnótica ................................ 57

Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) .......................................... 78

Tabela 11 - Características a observar no estado hipnótico ................................................. 79

Tabela 12 - Atribuições do Odontólogo ................................................................................ 84

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFP – Conselho Federal de Psicologia......................................................................32

SNA – Sistema Nervoso Autônomo...........................................................................35

SNC - Sistema Nervoso Central.................................................................................36

SNP – Sistema Nervoso Periférico.............................................................................36

SNPS – Sistema Nervoso Periférico Somático..........................................................36

SNPA – Sistema Nervoso Periférico Autônomo.........................................................36

SNAS – Sistema Nervoso Autônomo Simpático........................................................37

SNAP – Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático...............................................37

PET – Tomografia por emissão de pósitrons ............................................................37

MAT/URFGS – Matemática – Universidade Federal do Rio Grande do Su...............42

FSCr – Fluxo sanguíneo cerebral regional ................................................................44

IRMf – Ressonância Magnética Funcional.................................................................44

EEG – Eletroencefalograma.......................................................................................44

SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale.....................................................................79

SSTA - Sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento......................79

AAC – Córtex anterior cingulado................................................................................82

CFO – Conselho Federal de Odontologia..................................................................83

CFM – ConselhoFederal de Medicina........................................................................97

AMB – Associação Médica Brasileira.......................................................................100

DOU – Diário Oficial da União..................................................................................110

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10

2 HISTÓRIA DA HIPNOSE ................................................................................................. 12

2.1 As Origens .................................................................................................................. .13

2.2 Hipnose na Era Moderna ........................................................................................... .23

2.3 Hipnose no Brasil ...................................................................................................... .28

2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil ..................................................................... .30 3 HIPNOSE E CIÊNCIA ..................................................................................................... .33

3.1 Neurofisiologia da Hipnose ....................................................................................... .35

3.2 Consciência, Transe e Hipnose ................................................................................ .45

3.3 Sugestão .................................................................................................................... .47

3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose ..................................................... 58

3.5 Fenômenos Hipnóticos ............................................................................................. .66

3.6 Técnicas Hipnóticas .................................................................................................. .70

3.7 Estágios da Hipnose .................................................................................................. .77

4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA ............................................................... .80

4.1 Hipnose na Clínica Médica ........................................................................................ .80

4.2 Hipnose na Clínica Odontológica ............................................................................. .82

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica ................................................................................ .84

5 METODOLOGIA ............................................................................................................. .87

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ .88

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. .90

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. .91

ANEXOS ........................................................................................................................... .97

ANEXO I ............................................................................................................................ .97

ANEXOII...............................................................................................................................107

ANEXO III............ ........................................................................................................... ..108

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos, a hipnose foi sendo revelada por diferentes lentes,

de acordo com cada momento histórico, mas ainda hoje guarda ranços de antigas

concepções acerca de sua significação e efetiva contribuição para a prática clínica,

tanto médica quanto psicológica.

A associação com espetáculos de variedades, em que um convidado

realizava ações incomuns e surreais induzido supostamente por hipnose, faz com

que ainda nos tempos modernos ela sofra suas conseqüências.

Iniciada muito antes da existência de relatos escritos da história humana,

a hipnose já podia ser encontrada nas cerimônias religiosas e de cura de muitos

povos primitivos, os quais se utilizavam dela para induzir seus participantes ao

transe hipnótico. Sua importância não está em chamar estas cerimônias de

religiosas, curandeirismo, ou alguma outra combinação que seja, mas sim que o

estado de transe com características hipnóticas já existia, muito embora o termo

tenha sido cunhado apenas no século XIX, com James Braid.

Não é sem razão que o final do século passado e início deste também

tenha sido muito fértil quanto à discussão da dimensão social da ciência, no sentido

de que a compreensão da prática hipnótica não poderia passar distanciada dos

processos comuns a uma comunidade científica que prima pelo conhecimento como

forma de dar ao homem o melhor dos dois mundos, buscando a teoria para aplicar a

prática.

A preocupação com o bem-estar do homem num mundo cada vez mais

agitado, onde as pessoas se veem acossadas pela matéria, faz a Psicologia voltar

os olhos à humanidade como forma de buscar outros recursos que a faça conseguir

um equilíbrio entre as exigências da vida moderna e o equilíbrio emocional,

consequentemente procurando reduzir sofrimento.

Nesse sentido, a hipnose tem se mostrado uma valiosa ferramenta,

justificando o presente trabalho ao buscar responder por qual modo, como terapia

complementar, atua na mente humana mudando comportamentos e favorecendo a

remissão de patologias, físicas e ou emocionais, como insônia, enxaqueca,

alcoolismo, no alívio da dor, para citar alguns, bem como sua importância.

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Embora tenha sido apresentada sob diferentes conceitos ao longo de sua

evolução, Barber a entende como um comportamento hipnótico sugerido a partir de

atitudes positivas, motivações ou expectativas que predispõem o indivíduo a pensar

e ou imaginar de boa vontade os temas sugeridos (FERREIRA, 2006).

Na visão do próprio Ferreira, hipnose médica é “[...] essencialmente um

estado da mente no qual as sugestões são mais profundamente aceitas do que no

estado de vigília, mas também agem mais poderosamente do que seria possível

durante o estado de vigília” (2003, p. 155).

Para a Associação Americana de Psicologia, Divisão de Hipnose

Psicológica, a hipnose consiste em

[...] um procedimento durante o qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimente mudanças de sensações, percepções, pensamentos e comportamentos. O contexto hipnótico é geralmente estabelecido por um procedimento de indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maioria inclui sugestões de relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para pensar sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas em induções hipnóticas (TIBÉRIO; de MARCO & PETEAN, 2004).

Pela consciência dos inúmeros benefícios que a hipnose é capaz de

apresentar, o objetivo geral deste trabalho está em destacar a importância da

hipnose como terapia complementar em processos terapêuticos físicos e

psicológicos. Começando por uma revisão bibliográfica sobre o assunto, passa a

investigar e descrever a história da hipnose no Brasil e no mundo, além de

esclarecer seu uso eficaz na prática clínica, bem como o estado legal em que se

encontra atualmente junto aos profissionais na área das ciências da saúde e

humanas.

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2 HISTÓRIA DA HIPNOSE

Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo

Hypnos significa sono, significado esse que provocou uma ligação com o ato de

dormir e que perdura até os tempos atuais. Entretanto, é pertinente esclarecer que o

estado hipnótico é muito mais do que isso, pois libera o paciente para a indução do

transe, conduzindo-o a um estado de relaxamento semiconsciente, mas com

manutenção do contato sensorial deste com o ambiente.

Pelos conceitos desenvolvidos por Milton Erickson, um dos maiores

expoentes em hipnose no mundo, o ser humano tem como característica a

habilidade de responder às sugestões e aceitá-las. Com a utilização de técnicas de

hipnose, o terapeuta dá ao paciente a chance de escutar realmente os conceitos

mentais, de modo que este se torna receptivo aos padrões, às associações e aos

modelos de funcionamento que conduzem à solução de problemas (ERICKSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na visão dos autores, “[...] transe

é um estado psicológico determinado da consciência [...] e que ele difere do estado

comum da consciência” (p. 53).

No entanto, embora aponte para a inexistência de estudos que

comprovem a existência do transe, Ferreira (2006) considera um desserviço à

indução hipnótica não reconhecer tal estado. Segundo ele, “[...] não havendo um

estado para o paciente entrar, por que fazer o processo de indução?” (p. 54).

Segundo Stark (apud FERREIRA, 2006), a influência da hipnose se liga à

alteração do autocontrole na medida em que, ao prestar atenção a um determinado

aspecto ou senti-lo, este se configura como “estado alterado”, e o fato de se esperar

modificações a partir do que se pretenda que aconteça, produz alterações nos

pensamentos, atos e sentimentos do indivíduo.

Para William Edmonston Jr, o termo para descrever hipnose seria anesis,

uma vez que o autor considera que o relaxamento é condição essencial para que o

indivíduo responda melhor às sugestões (apud FERREIRA, 2006).

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2.1 As Origens

Embora a palavra hipnose tenha sido revelada ao homem apenas no

século XVI, desde a Antiguidade esta se achava representada através de desenhos

em cavernas, nas cerâmicas, por assírios e egípcios. Pincherle & Colaboradores

(1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontrado um

baixo-relevo num sarcófago, cujo desenho denota um sacerdote induzindo um

paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam

situações de sua vida cotidiana através de desenhos e outras simbolizações que

tinham por objetivo representar seu modo de comunicação. No Talmude se faz

alusão ao encantamento de serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o

sono hipnótico para a cura de diversos males nos chamados “templos do sono”.

O mais antigo relato de transmissão de fluidos através de passes foi

registrado entre os sacerdotes caldeus há cerca de 2400 a.C. Entre os gregos e

indianos, a hipnose apresentava-se sob a face de “milagres” operados por

sacerdotes, bruxos ou feiticeiros, os quais se designavam mensageiros de Deus

(AKSTEIN,1973, apud FERREIRA, 2006).

Entre os egípcios, há registros de curas através da hipnose nos Papiros

de Ebers (datado aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano do reinado de

Amenophis I na XVIII Dinastia e publicado em 1875, em Leipzig, pelo egiptólogo

George Ebers, segundo BAPTISTA e colaboradores, 2003, os quais dão uma idéia a

respeito da teoria e prática da medicina egípcia antes de 1552 a.C., cujas culturas,

regidas por um pensamento mágico-religioso, dão conta de que a atividade médica e

seus médicos se encontravam sob a proteção divina (GARCIA-ALBEA, 1999).

Considerado um dos precursores da hipnose, Franz Anton Mesmer,

discípulo do padre Maximiliano Hehl - professor de astronomia na Universidade de

Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas de vários

órgãos humanos, utilizando-os de acordo com o local onde se alojava a doença do

paciente.

Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas

curas tinham muito mais um cunho psicológico do que físico, pois se o poder de cura

estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, de onde se infere

que a crença em talismãs ou amuletos sempre esteve presente entre os homens.

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Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) também usava os

magnetos, cujo ritual começava por deixar seus pacientes no centro de uma sala a

sua espera, momento em que Gassner chegava até eles portando nas mãos

estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente

avisados que de quando fossem por ele tocados com o crucifixo, deveriam cair

imediatamente ao chão, numa espécie de morte, enquanto o padre expulsaria os

demônios para devolver-lhes a saúde (BRYAN, 2009). Shrout (1985) também

comenta sobre a dramaticidade que envolvia as sessões de cura de Padre Gassner,

a qual envolvia o uso de mantos esvoaçantes, expressando-se em latim e com um

crucifixo enfeitado com pedrarias. Entretanto, isso não impediu que o padre

obtivesse uma média de cura de cerca de setenta e cinco por cento dos casos que

atendeu (idem).

Se Mesmer já se encontrava fascinado com os trabalhos de Hehl, depois

de assistir várias performances do Padre Gassner, por volta de 1775, decidiu-se a

estudar o assunto. Embora mais tarde se tenha comprovado a puerilidade de seu

método, Mesmer conseguiu um sucesso considerável numa época em que sangrias

e amputações eram as práticas médicas mais usadas, cujo caso de cura mais

notável foi o de Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada de cegueira em

1777(FERREIRA, 2006).

Aprimorando esta linha de trabalho, os apontamentos de Erickson,

Hershman & Secter, (2003) referem os postulados de Mesmer, em que “[...] um certo

fluido que circulava no corpo era influenciado por forças magnéticas originadas a

partir dos corpos astrais” (p. 20). Os dados disponíveis na época davam

credibilidade científica a sua teoria, coincidindo com o descobrimento da eletricidade

e mais alguns avanços na astronomia.

Dado o sucesso do método por ele empregado, Mesmer passou a

acreditar que o poder de cura estava antes na pessoa do “magnetizador” do que no

próprio instrumento, passando então a aplicar seu tratamento a várias pessoas ao

mesmo tempo. Para tanto, idealizou uma grande tina (baquet em francês),

distribuindo dentro dela garrafas de vidro com as bocas voltadas para o centro,

cobertas com limalha de ferro e vidro moído, completando o restante do espaço com

água. A séance (reunião) tinha início então com as pessoas alinhadas ao redor

desta tina (comportava 130 pessoas de cada vez) segurando as garrafas de vidro,

onde deveriam tocar a pessoa mais próxima. Entrando de modo impactante no

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recinto, Mesmer ia de um em um aplicando passes até que eles caiam num transe

cataléptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006).

O alcance de suas curas deu-lhe uma reputação memorável, espalhando

o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em

seus colegas uma grande animosidade, fazendo com que a Academia Francesa

designasse uma comissão especial para investigá-lo, a qual foi composta por

Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros

(ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008).

Una de las comisiones de investigación - la encabezada por Benjamin Franklin- estaba formada por miembros de la Facultad de Medicina -Borie, Sallin, DArcet y Guillotin -, y de la Academia de Ciencias - Le Roy, Bailly, Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada sólo por miembros notables de la Sociedad Real de Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt, Audry y Laurent de Jussieu. Sus frutos fueron dos amplios informes (Commissaires de lAcadémiee de Sciences et la Faculté de Médecine, 1784; Commissaires de la Société Royale de Médecine, 1784), reproducidos en forma amplia en la documentada obra editada por Burdin y Dubois (1841) (TORTOSA, GONZÁLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999, p.8)

As conclusões da comissão apontaram Mesmer como uma fraude, ao

verificar que algumas pessoas eram sensíveis ao magnetismo animal e

experimentavam uma reação convulsiva quando tocadas pelos objetos, porém sem

conseguir identificar quais objetos tinham sido magnetizados, a menos que os

vissem no momento do acontecido: “A imaginação sem magnetismo provoca

convulsões, o magnetismo sem imaginação não provoca nada” (SAURET, 2008, p.

27).

Estas conclusões, seus acertos e desacertos foram brilhantemente

tratados por Chertok & Stengers (1990), no livro O coração e a razão, a hipnose de

Lavoisier à Lacan.

Pincherle & Colaboradores (1985) sustentam que desde a Antiguidade o

fenômeno mesmérico já era utilizado por sacerdotes egípcios, nos templos hindus,

por gregos, por Paracelso no século XV, Van Helmont e Valentin no século XVI,

Greatrakes no século XVII, Cagliostro no século XVIII, porém circunscritos à religião.

O que Mesmer postulava com seus achados era uma explicação científica para tais

ocorrências.

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Entretanto, a originalidade do trabalho de Mesmer e que não teve o

reconhecimento devido na época estava em que os pacientes eram capazes de

alterar comportamentos mediante a sugestão dada por ele. É por esta razão que

Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinâmica

moderna o trabalho de Mesmer e sua teoria do magnetismo animal, além de que tais

trabalhos permitiram que se aperfeiçoasse a percepção existente entre sugestão

hipnótica e psicoterapia.

Neubern (2008) aponta duas grandes consequências históricas para que

o Mesmerismo fosse desqualificado enquanto ciência como foi. Primeiramente, o

esquecimento de grandes nomes do magnetismo, não obstante “[...] suas

contribuições para a construção da psicologia (p. 444)”. Num segundo plano,

embora a hipnose “[...] fosse herdeira histórica do mesmerismo, seus promotores

buscaram concebê-la como um método legitimamente científico, desvencilhado de

noções místicas, como fluidos e imaginação, para se fundamentar nas estruturas

nervosas do cérebro” (CARROY, 1991; MÉHEUST, 1999 apud NEUBERN, 2008, p.

445).

Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur, Marquês de Puységur, foi

seu discípulo mais aplicado, descobrindo o sonambulismo artificial em 1784,

segundo Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universidade de

Tolouse, que esteve no Brasil a convite de Universidades do Rio de Janeiro em

2005.

Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puységur tratou Victor

Race, um trabalhador de sua fazenda. Abaixo a tradução em espanhol da versão

original inglesa:

Cuando Victor, quien en condiciones normales nunca se habría atrevido a confiar sus problemas personales al señor de la casa, admitió en el transcurso del sueño magnético que estaba disgustado por una pelea que había tenido con su hermana, Puységur le sugirió que hiciera algo para resolver la querella y, después de despertar, sin recordar las palabras de Puységur, Victor obró de acuerdo con la sugestión del marqués (trad. VIVES, 2009).

O sono lúcido apontado pelo Abade Faria, um sacerdote português, nada

mais era do que “[...] a vontade do paciente”, afirmando que os determinantes de

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cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotizador e a vontade de curar-se

(FERREIRA, 2006, p.11).

Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estudos de um professor

de Medicina da Universidade de Londres, o médico e professor Elliotson, o qual

publicou suas descobertas no jornal intitulado Zoist (ERICSON, HERSHMAN &

SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edição trimestral destinada a expor temas

referentes ao Mesmerismo em1855.

Os fenômenos hipnóticos foram investigados pela Associação Médica

Britânica em 1891, cujo relatório apresentado no ano seguinte pode ser assim

resumido:

� Pleno convencimento quanto ao fenômeno;

� O termo “hipnose” não é representativo do que ela seja, uma vez que o sono

fisiológico e a hipnose não são a mesma coisa;

� Eficaz no alívio das dores, embriaguez, na realização de atos cirúrgicos;

� Deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, apenas

em homens. Quando em mulheres, diante de familiares ou pessoas do

mesmo sexo;

� Condenação para fins recreativos (FERREIRA, 2006).

Simultaneamente aos estudos de Elliotson, James Braid usou o termo

“Hipnose” e mesmo depois de arrepender-se do nome, este já se encontrava de tal

modo associado à prática que não foi mais possível mudá-lo (ERICSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003). Contudo, o prefixo hypn- já havia sido grafado 20

anos antes pelo francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers (FERREIRA, 2006).

A concepção de Braid acerca da hipnose e dos mitos que já naquela

época a circundavam ficam bastante explícitas a partir da tradução de um excerto

retirado do seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep considered in

relation with animal magnetism (FERREIRA, 2006):

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Estou ciente do grande prejuízo que foi levantado contra o Mesmerismo a partir da idéia que poderia estar voltado para fins imorais. No que respeita ao estado Neuro-hipnótico, induzido pelo método explicado no presente tratado, estou certo de que tal não merece censura. Eu tenho provado por experiências, tanto em público como privado que, durante o estado de excitação, o julgamento é suficientemente ativo para os pacientes, se possível, ainda mais fastidioso no que diz respeito à sobriedade de conduta, do que na condição de vigília; [...] E, finalmente, o estado não pode ser induzido, em qualquer fase, a não ser com o conhecimento e consentimento do paciente. Isto é mais do que se pode dizer a respeito de uma grande parte dos nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca deveria ser perdido de vista, pois que existe o uso e abuso de qualquer coisa na natureza. Trata-se do uso, e apenas da utilização judiciosa do Hypnotismo, que eu defendo. (BRAID, 1843,pp.10-11 )

Shrout (1985) sustenta que a descoberta de que algumas pessoas tinham

a capacidade de entrar em transe hipnótico ao fixar o olhar em um ponto de luz fez

Braid ir mais adiante, testando sugestões para apressar o processo. Em seus

estudos, percebeu que a concentração do próprio paciente em um objetivo

determinava o processo hipnótico, sendo que em 1847 relatou fenômenos de

catalepsia, anestesia e amnésia, os quais eram possíveis mesmo sem o paciente

dormir (FERREIRA, 2006).

Embora seus estudos pouco tenham influenciado os ingleses, estes foram

retomados “[...] como técnica anestésica, pelos médicos franceses como Azam,

Broca, Cloquet, Velpeau”, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prática anestésica a partir da

hipnose se mantém até o uso do clorofórmio.

Na Índia, o Mesmerismo chegou através de James Esdaile, um cirurgião

escocês que fez inúmeras cirurgias utilizando anestesia mesmérica, inclusive com a

publicação em 1850 do livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In

Surgery and Medicine e em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a tradução

de um pequeno trecho prefaciado pelo autor e retirado do livro no original:

O que eu agora ofereço ao público é o resultado de apenas oito meses de prática do Mesmerismo em um hospital de caridade, mas foi suficiente para demonstrar a singular mais benéfica influência que o Mesmerismo exerce sobre a constituição do povo de Bengala, e que intervenção médico-cirúrgica indolor, entre outras vantagens, são um direito natural; [...]. Hooghly, Fevereiro, 1 º, 1846. (ESDAILE, 1847, p.7)

No entanto, mais detalhadamente pode se analisar sua prática pela

descrição feita a partir de alguns atendimentos que realizou:

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13 de julho – 4 homens e 1 mulher deram entrada hoje: Nº 1 – lumbago Nº 2 – ciático Nº 3 – dor ao longo do nervo crural (parte da frente da coxa nos quadríceps, tendo por origem uma agressão do nervo entre a 3ª e a 4ª vértebra lombar) Nº 4 - reumatismo sifilítico Nº 5 - ditto (sem tradução – grifo meu) Todos foram usualmente manipulados, observando-se a respiração. Depois do primeiro dia, todos foram induzidos a beber água “mesmerizada” diariamente, até o 17º dia, [...] no caso do sifilítico, os benefícios não foram os esperados; aqueles que constituíam uma doença específica continuaram em tratamento; as dores locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7)

A valiosa contribuição de James Esdaile ao estudo da hipnose faz desse

livro um importante documento científico, pois tal como os atuais pesquisadores, ele

observou “[...] que havia uma sensível diminuição do trauma cirúrgico em seus

pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela

manhã e os deixavam em estado cataléptico” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER,

2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tarde, cujos casos eram

documentados e observados por médicos e autoridades do local.

Em Nancy, na França, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a

termo os estudos sobre o tema, afirmando que os fenômenos do hipnotismo eram

subjetivos em sua origem, pois era a sugestão verbal que representava o fator

hipnotizante (SAURET, 2008). Lendo sobre os trabalhos de Braid, foi aplicando a

hipnose por mais de vinte anos de forma quase gratuita para evitar a pecha de

charlatão; porém, seu trabalho só foi reconhecido quando tratou de um caso enviado

por um colega neurologista e professor da faculdade de Medicina, Bernheim.

Em tratamento há seis anos sem lograr êxito, nas mãos de Liebeault o

paciente curou-se após algumas sessões de hipnose. Daí em diante, os dois,

Liébeault e Bernheim, trataram cerca de dez mil pacientes (ERICKSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu à Bernheim elaborar o primeiro

tratado sobre hipnose – Suggestive therapeutics em 1886, publicando também o

livro De la suggestion et de sés applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006).

Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, ficando conhecido como Escola

de Nancy e chamando a atenção de especialistas no mundo inteiro.

Sua obra, Confesiones de un medico hipnotizador, contém uma descrição

de como sua técnica evoluiu:

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Hice uso del método mas empleado para producir el sueno artificial, el de Dupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clásico, al que encontré inconvenientes, pasé a ensayar el de Braid [...] al procedimiento es conocido por los magnetizadores durante largo tiempo, añadimos la sugestión del sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir de esta reforma capital em mi manera de hipnotizar mis enfermos si durmieron tranquilamente y con mucha más rapidez.(In Lièbeault 1891, 290-293 apud TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI, 1999, p. 14)

Enquanto Liebeault só teve seu trabalho reconhecido após a associação

com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou

Hipnose, sugestão e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO,

2009) afirmava que o sono hipnótico ou provocado era uma condição fisiológica

possível de ser alcançada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e

que o estado hipnótico não era uma condição inerente à histeria.

Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein

acreditava que a capacidade “[...] do cérebro de receber ou evocar idéias e sua

tendência a realizá-las ou transformá-las em atos” era dada pela sugestão.

A repercussão dos estudos realizados sobre hipnose estimulou outro

francês, um fisiologista, a percorrer os caminhos do hipnotismo: Charles Richet, que

por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salpêtriêre, a focalizar a

hipnose, afirmando que “[...] a hipnose era apenas uma outra forma de histeria”

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava

Charcot que somente as pessoas histéricas poderiam ser hipnotizadas (SHROUT,

1985).

Segundo ele, o entendimento clínico para ocorrências de traumas

psíquicos, comportamentos hipnóides, sugestão e representação inconsciente

divergia daquelas até então aceitas pelos estudiosos da época, os quais

acreditavam que tais problemas localizavam-se no cérebro ou eram provocados por

alterações em seu funcionamento (FULGÊNCIO, 2006).

Esta oposição de idéias entre as duas escolas deu início a uma longa luta

(ANDERSSON, 2000 apud FULGÊNCIO, 2006), durando cerca de dez anos, mesmo

após a morte de Charcot.

Jean Martin Charcot ficou muito bem conhecido pelos profissionais de

medicina por tantas e variadas realizações, como o banho de Charcot, pela doença

de Charcot, pela junta de Charcot, pela síndrome de Charcot, microaneurisma de

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Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, além de seu trabalho com

a atrofia muscular neuropática progressiva, de conhecimento de todos os estudantes

de medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma

especialidade médica na segunda metade do século XIX em decorrência de seus

estudos e de seus discípulos em Salpêtrière.

Em 1878, Charcot apresentou a teoria de três estágios hipnóticos:

catalepsia – fixação do olhar do paciente num determinado objeto luminoso,

produção de um som abruptamente; letargia - paciente de olhos fechados ou cessar

o objeto luminoso; sonambulismo – pressão ou fricção no alto da cabeça

(FERREIRA, 2006).

No entanto, mesmo sua fama não o poupou de ver enfraquecida sua

reputação quando defendeu, contra as teorias da Escola de Nancy, que a hipnose

seria um estado patológico capaz de enfraquecer a mente humana, situação que

muito se agravou após sua morte quando um colaborador direto, Babinski, deu

declarações sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Além disso, Janet, seu

aluno e Dubois, aluno de Bernheim, viriam mais tarde a concordar com os preceitos

da Escola de Nancy (SAURET, 2008).

Um dos colaboradores de Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese de

doutorado sob o título “L'Automatisme psychologique” em 1889 na Sorbonne, a

primeira de uma série de tratados sobre as manifestações do inconsciente, estudos

que serviram de base para reputá-lo como o fundador da moderna psicologia

dinâmica (THEÓPHILO ROQUE, 2009).

Neste tratado, Janet reorganizou a consciência sob três aspectos:

catalepsia (consciência puramente afetiva, reduzida às sensações e às imagens), a

sugestão (consciência desprovida de controle, orientação e percepção) e o

sonambulismo, como um campo de consciência comparável ao estado vígil

(CHERTOK & STENGERS, 1990).

Muito natural então que a ampla divulgação na comunidade científica

sobre a hipnose chamasse a atenção daquele que é considerado o fundador da

psicanálise. Junto com Breuer, Freud havia usado a hipnose para ajudar pessoas

com distúrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No

entanto, como quisesse desenvolver técnicas próprias, em 1890 Freud foi para

Nancy, através de uma bolsa de estudos do governo, passar algumas semanas na

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Salpêtrière, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava

experiências com doentes mentais, principalmente a histeria, utilizando a hipnose.

Para Breuer, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam

localizados na mente da pessoa, e não necessariamente biológicos. Breuer

acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a

impediriam de lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se dos males que as

incomodavam. Freud depois descreveu esse estado como catarse.

Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda de Freud foi a

paciente cujo pseudônimo era Anna O, uma moça de 21 anos, depressiva e

hipocondríaca (quadro na época denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica

em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e

se sentia incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou

inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos de sua

infância, o que lhe causava enorme bem-estar após o transe hipnótico.

Freud (1888 apud GOMES, 2005, p. 149) refere, ao prefaciar a tradução

do livro de Bernheim, De la suggestion, que a questão a colocar seria “[...] saber se

todos fenômenos da hipnose devem passar em algum lugar através da esfera

psíquica [...] se as mudanças de excitabilidade que ocorrem na hipnose afetam

invariavelmente apenas a região do córtex cerebral”. Aqui se encontram as primeiras

indicações de uma preocupação bastante atual, que é a de investigar as bases

neurais da hipnose.

Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio científico, Freud a

descartou como técnica de cura, passando a usar a técnica desenvolvida por ele de

“associação de idéias”, convencido que estava de que ao induzir o paciente a um

estado de total relaxamento, este recordava emoções recalcadas e que eram a

causa de seus distúrbios. Esta convicção, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud

formular a teoria

[...] de que os sintomas histéricos teriam origem na energia dos processos mentais os quais, impedidos de influenciar a consciência, são desviadas [sic] para a inervação do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido à natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou convencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses. Logo passou a considerar o desejo sexual como motivação praticamente única do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essa ênfase foi a principal causa do afastamento de Breuer, e do rompimento que ocorreria no futuro com vários de seus colegas. (COBRA, 2009)

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Nos anos subsequentes, especialistas de várias partes do mundo, entre

eles Bramwell e Moll da Grã-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud

PINCHERLE & COLABORADORES, 1985), McDougall (apud ERICKSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003) dos Estados Unidos e Pavlov na Rússia

(FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso do hipnotismo, especialmente os

neurologistas, uma vez que a maior parte das doenças mentais era estudada à luz

da neurologia, os quais foram influenciados diretamente pelos trabalhos de Freud.

2.2 Hipnose na Era Moderna

Outro nome referenciado em hipnose, Pavlov (Escola de Reflexologia)

teceu suas teorias sobre o tema quando começou a trabalhar com reflexo

condicionado, as quais originaram Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão.

Suas anotações o levaram a afirmar que os reflexos condicionados respondem pela

adaptação do homem ao meio, cujos estímulos podem vir do ambiente ou do próprio

organismo.

Ferreira (2006) considera que durante a ocorrência da hipnose, segundo

a teoria de Pavlov, a partir de um estímulo inicial no córtex cerebral atuando

repetidamente (que pode ser visual, tátil, auditivo, cinestésico), este provoca uma

ação inibidora reflexa em todos os estímulos iniciais, embora o paciente continue em

estado de vigília. A seguir, assertivas quanto ao cansaço das pálpebras produz o

fechamento dos olhos. Neste exemplo, o estímulo é auditivo, uma vez que é pela

fala que o hipnotizador mantém o hipnotizado em estado hipnótico.

Em estudos conduzidos por Fernandes-Guardiola (2005), os

experimentos de Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenômenos

psíquicos ao considerar os reflexos do meio sobre o organismo humano:

? é características diferenciales hay entre estos nuevos fenômenos en comparación com l os fisiológicos? [...] la diferencia consiste em que, mientras em La forma fisiológica la sustância entra em contacto directo con el organismo, em la psíquica actúa a distancia [..]; cuantos reflejos fisiológicos desencadenan la nariz, los ojos y los oídos, reflejos que son, por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apud FERNANDES-GUARDIOLA: 2005, p. 57).

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Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o grande número de

pessoas com traumatismos, tanto físicos quanto psicológicos, o assunto voltou à

tona com o psicanalista alemão Ernst Simmel, que desenvolveu a técnica chamada

hipnoanálise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos

para induzir a hipnose através de medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN &

SECTER, 2003).

O interesse dos americanos foi despertado por Clark L. Hull, com suas

observações registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em

comentários de Horton & Crawford no Jornal Americano de Hipnose (2009) conclui

que “[...] a única coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que dá qualquer

justificativa para a prática de chamar-lhe um "estado" é a sua

hipersugestionabilidade generalizada”.

A guerra da Coréia entre os anos de 1950 a 1953 foi mais um dos

momentos em que se fez ressurgir a prática da hipnose nos Estados Unidos e na

Inglaterra, o que fez a British Medical Association e a American Medical Association

decidirem pela inclusão da hipnose nos currículos dos cursos de medicina

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), tendo em vista sua reconhecida

eficácia no tratamento de várias patologias, tanto físicas quanto psicossomáticas.

Estas aprovaram também oficialmente o uso do método hipnótico como tratamento

auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segundo os apontamentos de Horton &

Crawford (2009).

Apontado como uma das maiores autoridades em hipnoterapia e

psicoterapia breve, Milton Erickson é considerado dentro dos estudos em hipnose o

que foi Freud para a psicanálise.

A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razão de ter sido

elaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano do início

do século XX, passou a ser considerada uma divisora de águas entre a hipnoterapia

clássica, estabelecida à época da experimentação científica, e o modelo vigente na

atualidade. Coautor de cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130

artigos, a maioria deles versando sobre as aplicações da hipnose, buscando

expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma de

trabalhar os fenômenos a ela associados.

No prefácio de Hipnose Médica e Odontológica, Aplicações Práticas,

Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um modelo de tratamento em que procurou

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utilizar recursos do próprio paciente, mudando com isso o curso da hipnose, pois até

então esta era praticada a partir de sugestões dadas ao paciente pelo hipnotizador,

mas sem considerar suas motivações intrínsecas. As anotações de Erickson,

Hershman & Secter (2003, p. 9) dão conta de que “O trabalho de Erickson parte de

dentro para fora (inside out) e métodos indiretos eram utilizados para despertar

forças do paciente, ao invés da aplicação de sugestões poderosas dirigidas contra

um paciente passivo”.

Pelas palavras de Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se

depreende o quanto o trabalho de Milton Erickson influenciou a comunidade

científica, ao elaborar uma teoria que prometia desvelar os meandros da mente

humana, ajudando o indivíduo a encontrar dentro de si mesmo a resposta para os

seus males.

Zeig (2003) considera que uma razão bastante plausível para o sucesso

dos estudos de Erickson tenha sido o fato de ter usado em sua própria vida seus

ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a dor praticamente

todos os dias. Pela citação abaixo, é possível entrever uma fração de sua técnica:

Quando Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento, ele não se programava; ao invés disso, deixava seu inconsciente trabalhar a idéia de conforto e então seguia as sugestões que recebia. [...] prestava atenção na posição do polegar entre seus dedos, logo que levantava da cama. Se estivesse entre seus dedos mínimo e anular, isto significava que tinha controlado bastante a dor durante a noite. Caso estivesse entre o anular e o médio, tinha controlado menos dor; e se estivesse entre o médio e o indicador, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idéia de quanta energia disponível teria para o trabalho daquele dia e então sabia que o inconsciente pode funcionar de forma autônoma e benigna (ZEIG, 2003, p. 52)

Um outro ponto que o autor considera essencial ao sucesso de Erickson

era o seu lado humano, capaz de dedicar uma preocupação e uma generosidade

genuína a quem viesse em busca de auxílio, sem poupar tempo ou esforço.

Embora não fosse um intelectual no sentido acadêmico, sua fala era

extremamente clara e correta, com uma atenção especial à linguagem,

preocupando-se em se fazer entender de forma cristalina a quem quer que o ouvisse

(ZEIG, 2003). Não raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura e

antropologia para lidar com os pacientes.

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A comunicação de múltiplos níveis idealizada por Erickson se estabelece

a partir de conteúdos verbais e comportamentos não-verbais e as implicações

decorrentes de ambos os processos (ZEIG, 2003).

Erickson estudou profundamente a hipnose e seus fenômenos durante

toda sua vida, demonstrando-a como um fenômeno natural da mente humana, bem

como sua existência e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente todos

os problemas psicológicos, sendo autor de inúmeros artigos, livros e pesquisas

científicas na área. Dentre as diversas contribuições de Erickson para o campo da

Psicologia pode-se citar o conceito de utilização da realidade individual do paciente,

a Terapia Naturalista, as diferentes formas de comunicação indireta, a técnica de

confusão e de entremear. É considerado o maior hipnoterapeuta do século XX

devido a sua abordagem breve, estratégica e voltada para a solução de problemas

(ZEIG, 2003).

Em 1941, White expôs sua teoria do comportamento dirigido, onde o autor

teorizou que o objetivo principal é conduzir a ação do paciente a um comportamento

previamente determinado pelo hipnotizador, mas que também ele, paciente, entenda

o objetivo do trabalho (FERREIRA, 2006).

A complexidade do transe hipnótico levou Wolberg a afirmar que o transe

se refere tanto a elementos psicológicos quanto fisiológicos e por esse motivo não

pode ser explicado de uma forma excludente (FERREIRA, 2006).

Australiano, mas que estabeleceu sua prática clínica na Inglaterra,

Sydney J. Van Pelt foi outro médico a utilizar largamente a hipnose em seus

pacientes, além de difundir o conhecimento científico adquirido por meio do seu

trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt

considerava que hipnose seria uma “[...] ‘superconcentração da mente’ [...]”, uma

vez que durante o processo hipnótico, “[...] ‘as unidades de poder mental’ [...]”

convergem para um foco específico, quando então seriam afetadas pela sugestão.

A teoria da exclusão psíquica relativa da mente sustenta a premissa de

que o indivíduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e

dedutivamente e a subjetiva, que só raciocina dedutivamente. Quando a pessoa

entra em estado hipnótico, dá lugar à mente subjetiva (FERREIRA, 2006).

A entrada definitiva da hipnose nos laboratórios experimentais inicia no

período denominado Hipnose Científica, cujos fundamentos se assentam sobre os

trabalhos de três grandes laboratórios, cada um com visões particulares. O de

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Hilgard, fundado em 1957, na Universidade de Stanford, estuda as relações da

hipnose com variáveis como idade, sexo, características da personalidade, etc.

(Idem, 2006).

Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipnótico Susceptibility Scales, o

método de escala de suscetibilidade hipnótica, concebido por Hilgard e

Weitzenhoffer no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, começa com um

procedimento padronizado de indução hipnótica seguido por uma série de sugestões

para experiências imaginativas. O tema da resposta a cada uma dessas sugestões

é classificada então de acordo com um critério objetivo-comportamental.

O referencial de Barber, na Fundação Medfiels do Hospital de

Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginação,

expectativas, crenças, motivações e da emoção sobre a capacidade de

hipnotização. Segundo Chaves (2006), nos últimos anos Barber teria se empenhado

em encontrar um terreno comum entre as perspectivas teóricas da hipnose. Em seus

estudos, aponta três tipos diferentes de classificação hipnótica: um tipo seria

constituído por indivíduo com alta taxa de motivação, com atitude positiva em

relação à hipnose. Outro tipo seria o indivíduo mais propenso à fantasia. O terceiro

tipo incluiu o virtualmente propenso à sugestão hipnótica, o qual exibe várias formas

de amnésia infantil.

Por último, fundado em 1960 na Universidade de Harvard, o laboratório

de Orne, dedica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes

fenômenos hipnóticos como regressão hipnótica, produção de amnésia e

hipermnésia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a grande maioria versa

sobre técnicas de autorregulação hipnótica, de modo a reduzir estresse e fadiga

(KIHLSTRON & FRANKEL, 2000).

2.3 Hipnose no Brasil

Do mesmo modo que a hipnose foi introduzida nos círculos médicos

mundiais, no Brasil não foi diferente. Na época em que Freud e a Escola de Nancy

estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estudos receberam o nome

de método hipnótico-sugestivo, tal como preconizado por Bernheim. Um dos

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primeiros a documentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi

Francisco Fajardo (CÂMARA, 2009), onde este afirma que quem trouxe a hipnose à

corte brasileira foi o médico Érico Coelho, apresentando à Academia Imperial de

Medicina em 1887 estudos sobre a cura do beribéri. Esta foi a primeira vez a se

demonstrar o uso da hipnose como ato médico, obtendo aprovação da Academia.

A procura pelas publicações estrangeiras sobre hipnose e suas

aplicações práticas despertou um crescente interesse não apenas na classe médica,

mas também entre os intelectuais da época, além de provocar inúmeras polêmicas,

inclusive com a igreja. O médico Érico Coelho foi injuriado pelo jornal católico “O

Apóstolo”, que contestava a prática hipnótica. Em sua defesa saiu um artigo no

jornal leigo da época, “O Paiz”, ao qual Érico Coelho dirigiu uma carta de

agradecimento, citada abaixo por Câmara (2009):

Amigo Sr. Redator – Acabo de saber, lendo O Paiz, numero [sic] de hoje, que tomastes o trabalho de referir-vos aos impropérios que O Apostolo [sic] se dignou despejar ontem contra mim, a pretexto de vos contestar as virtudes da medicina sugestiva. Relevai, prezado Sr. redator, que eu vos não gabe o gosto e a paciência [...] Entretanto devo dizer que vos fico muito grato, e de mais a mais obrigado me fareis, se acaso conseguirdes indagar da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofende a moral de O Apostolo [sic], quando é certo que o próprio Padre Eterno (no tempo em que foi moço) praticou o hipnotismo; haja exemplo a célebre ablação de costela que Adão sofreu durante o sono, tudo segundo reza o versículo, [...] que, apoiado em autor de tão boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilidades de O Apostolo. [sic] Caso, porém, não possais ainda assim chama-lo [sic] à razão, o melhor será deixa-lo [sic] em liberdade. (CÂMARA, 2009)

Na atualidade, a produção científica elaborada por estudiosos do tema

aqui no Brasil vem crescendo, os quais, embora amparados em estudos por

especialistas do mundo inteiro, estão aplicando a hipnose em pacientes e criando

um referencial teórico para servir de guia a quem deseja se aprofundar no tema e

buscar subsídios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos de Moraes

Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurício Neubern, Célia Martins Cortez,

Carlos Roberto Oliveira são alguns dos pesquisadores sobre a hipnose em diversas

áreas do conhecimento.

A pesquisadora, professora, doutora e psicóloga Yedda Costa dos Reis

lançou em 2008 o livro Construindo Caminhos com a Hipnose Terapêutica:

Hipnobiodramaturgia. Segundo nota da autora no site da Universidade Federal do

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Rio de Janeiro, Hipnobiodramaturgia refere-se a uma nova abordagem

psicoterápica, cujo campo de conhecimento foi aprovado e considerado um

precursor, não apenas no Brasil como também no exterior:

A Hipnobiodramaturgia nasceu da integração ou fusão das técnicas de psicodramaturgia, técnicas da hipnose e do programa Stressless. Os benefícios imediatos trazidos pela nova técnica são uma psicoterapia ao alcance de todos que necessitam de tratamento em curto prazo (REIS, 2009 apud NOGUCHI, 2009).

Em artigo publicado no site da Associação de Hipnose do Estado de São

Paulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) considera como melhor denominação para a

hipnose hoje praticada é a que chama de Hipnose Contemporânea. Segundo ele, a

extensa variedade de teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer

mais pontualmente questões relativas à prática hipnótica fez com que a hipnose

aplicada hoje ao campo da ciência apresentasse diferenças em relação ao que ele

chama de Hipnose Clássica.

Apresentada no IV Seminário São Paulo - Rio de Janeiro de Hipnose e

Medicina Psicossomática, que se realizou em novembro de 1990 na cidade de São

Paulo, o tema Hipnose Contemporânea foi debatido em mesa redonda pelos Drs.

Álvaro Badra, Antonio Rezende de Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e

José Monteiro. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos de Moraes

Passos.

Uma outra abordagem em hipnose é praticada sob a denominação de

Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, defende que esta não se

trata de uma junção de outras técnicas, mas sim uma nova elaboração, em que o

paciente é passivamente tratado através da hipnose clínica, para tanto se utilizando

de um mecanismo de ordens e comandos diretos à mente humana. Nesta nova

proposta, não existe a escuta terapêutica, mas apenas a voz do hipnólogo

(CROZERA, 2009).

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2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil

Conforme estudos apontados por Fernando Portela Câmara (2009), a

hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno fértil onde aplicar tais estudos.

Abaixo, um resumo cronológico:

1823 – O médico pernambucano João Lopes Cardoso Machado publica Dicionário

Médico-Prático – Para Uso dos que Tratam da Saúde pública, Onde Não Há

Professores de Medicina.

1853 – Tradução portuguesa do livro de Du Potet, Prática Elementar do

Magnetismo.

1857 – O Dr. José Maurício Nunes Garcia, professor da Faculdade de Medicina do

Rio de Janeiro, edita Estudos Sobre a Fotografia Fisiológica.

1861 – Fundada a Sociedade Propaganda do Magnetismo e o Júri Magnético do Rio

de Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal.

1876 – Publicação do trabalho "Memória Sobre o Fluido Universal ou Éter", onde,

entre outras coisas, prefigura a idéia de bioeletrogênese, de autoria de Melo Moraes.

Dias da Cruz. Ferreira de Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o

magnetismo animal e o seu potencial terapêutico, ainda desconhecendo os

trabalhos de Braid sobre hipnotismo.

1887 – O Dr. Érico Coelho apresenta um caso de cura de beribéri pela hipnoterapia

sugestiva à Academia Imperial de Medicina. Ainda segundo o autor, é a primeira

apresentação da psicoterapia à medicina brasileira.

1888 – Francisco de Paula Fajardo Júnior é doutorado em medicina com a

dissertação "Hipnotismo" (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Cunha Cruz

com a tese "Hipnotismo e Sugestão – Sua Aplicação à Tocologia", e Peixoto de

Moura, com a dissertação “Fisiologia Patológica dos Fenômenos Hipnóticos". Na

Bahia, Affonso Alves é doutorado com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento

das Moléstias Psíquicas".

1889 – Publicação do livro de Fajardo baseado na sua tese de doutoramento. Neste

mesmo ano é apresentado, juntamente com Alfredo Barcellos, Aureliano Portugal e

Érico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterápica no II Congresso Brasileiro de

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Medicina e Cirurgia, além de também representarem o Brasil os doutores Joaquim

Correia de Figueiredo e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional de Hipnose

Clínica e Terapêutica (8-12 de outubro) em Paris, presidido por Charcot.

1891 – Doutorado Alfredo F. de Magalhães pela Faculdade de Medicina da Bahia

com a dissertação "O Hipnotismo e a Sugestão – Aplicações Clínicas".

1892 – José Alves Pereira é doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da

Bahia com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas".

1895 – Apresentação da dissertação do Dr. José Alcântara Machado sobre

hipnotismo ("Ensino Médico-Legal") para a vaga de lente substituto na cadeira de

Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo.

1896 – Publicação em segunda edição do livro de Fajardo, ampliado e atualizado

com o título Tratado de Hipnotismo. A excelência da obra é digna de nota de

especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef,

Brouardel, Féré, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros.

1916 – A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro premia Carlos de Negreiros

Guimarães com a dissertação "Do Conceito Moderno do Hipnotismo em Medicina".

1919 – Medeiros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefaciado

pelos eminentes médicos Miguel Couto e Juliano Moreira.

1957 - Fundada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica.

Das informações relacionadas a seguir, algumas foram obtidas de artigos

científicos e estão relacionadas nas referências. As demais foram obtidas a partir do

site da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria (2009), o qual também se

encontra devidamente referenciado ao final deste trabalho.

1961 – I Congresso Brasileiro de Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE

HIPNOLOGIA e a II Reunião da Sociedade Internacional de Hipnose Clínica

Experimental, no Rio de Janeiro, na Faculdade Nacional de Medicina (ALAKIJA,

1992). Regulamentação da hipnose através do decreto presidencial nº 51.009 de

22/07/1961, proibindo seu uso em espetáculos, clubes, auditórios, palcos, ou

estúdios de rádio ou tevê.

1964 – Regulamentação da profissão de Psicólogo e permissão para uso da hipnose

através do decreto 53.464, de 21/10/1964.

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1966 – Regulamentação da hipnose em Odontologia pela lei nº 5.081 de 24/08/1966.

Conselho Federal de Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Código de Ética

Médica" no capítulo VI, art. 62, 63 e 64.

1971 – II Congresso Brasileiro de Hipnologia em João Pessoa, PB.

1991 - Fernando Collor revoga o uso terapêutico da hipnose através do decreto º 11

de 19/01/1991.

1999 - Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo obtém parecer de aprovação do

Conselho Federal de Medicina quanto ao uso do termo Hipniatria.

2000 – CFP (Conselho Federal de Psicologia) aprova e regulamenta o uso da

Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo através da resolução nº

013/00 em 20 de dezembro.

2004 – 1º Congresso Brasileiro de Psicoterapia Breve e Hipnoterapia é realizado em

São Paulo.

2008 – XI Congresso Brasileiro de Hipnologia no Rio de Janeiro. 27º Congresso

Internacional de Odontologia de São Paulo discute práticas complementares e

integrativas; entre elas a hipnose.*

Através destes esclarecimentos, em que não se teve a pretensão de

nomear todos os eventos relacionados à hipnose, buscou-se delinear como esta

chegou até o Brasil e os caminhos que seguiu até a atualidade.

* Esta última informação retirada da página da internet do CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo.

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3 HIPNOSE E CIÊNCIA

Muito embora o termo hipnose já venha sendo grandemente utilizado na

época atual, ainda há quem não consiga traduzir em palavras o que ela realmente

significa, seu significado variando conforme seus idealizadores.

Para Sofia Bauer (2002), a hipnose é um estado de consciência diferente

do estado de vigília e pode ocorrer no dia-a-dia, quando se está acordado, diferindo,

no entanto, de estar simplesmente em vigília, haja vista que nesse processo o foco

de atenção se volta para a realidade interna criada pela pessoa.

Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) considera que a

hipnose nada mais é do que uma superconcentração da mente.

Já para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotizado

representa um papel, em que este tão-somente obedece às ordens do

hipnoterapeuta.

Embora se apresentem diferentes posições quanto à hipnose, Ferreira

(2006) pontua que este estado que alguns autores reportam como alterado é de

difícil precisão, uma vez que a percepção humana varia de pessoa para pessoa.

Então, a definição preferida pelo autor para o que seja estado alterado de

consciência é aquele onde há “[...] uma modificação temporária no padrão total da

experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é

distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de

consciência de vigília” (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por

FERREIRA, 2006, p.55).

Sobre este estado de atenção concentrada, Vale (2006) argumenta que é

precisamente este fato que permite à pessoa a reação ao trabalho do

hipnoterapeuta ou à auto-hipnose, defendendo, entretanto, a idéia de que

O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação e explicação dos mecanismos através dos quais a hipnose produz seus efeitos. Ao contrário do que parece, durante a sessão hipnótica o encéfalo está em plena atividade. (VALE, 2006, p. 539)

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O estado de vigília, por sua vez, é o oposto do sono, em que a atividade

de despertar corresponde à propagação cortical da excitação. Para Pavlov, é pela

palavra que os estímulos dos reflexos condicionados são criados, sendo que estas

apresentam dois conjuntos de estímulos diferentes: um sonoro, que é o primeiro

sistema de sinalização, e um outro conjunto de idéias e imagens, que é o segundo

sistema de sinalização, conforme refere Ferreira (2006).

Considerando a evolução da hipnose até os dias atuais, Tortosa, Miguel-

Tobal & González-Ordi (1999) referem a existência de uma dicotomia entre os

teóricos, embora apontem que os caminhos seguem em direção a um consenso. De

um lado os teóricos del estado e os teóricos del no estado, e de outro, a hipnose

clínica e a hipnose experimental. Na visão dos autores, a divergência entre as

escolas provoca a incongruência e a não-uniformidade entre os dados apresentados

pelos diferentes aportes, não obstante a produção científica recente venha aparando

arestas rumo a uma convergência entre estas teorias, referindo que a sugestão

direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenômenos hipnóticos.

Parece existir una tendencia hacia la superación de la clásica controversia entre teóricos del estado y teóricos del no estado, aproximando estas posturas bajo la concepción de La hipnosis como un conjunto de procedimientos que potencian certas capacidades preexistentes em los indivíduos (TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI,1999, p. 20).

De expressão pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense

tem sido utilizada para resgatar memórias adormecidas, de modo a intervir na

solução de casos legais. Com esta prática, o hipnoterapeuta acessa a mente

inconsciente do indivíduo com vistas a recuperar informações importantes acerca de

crimes ou criminosos (TIBÉRIO, de MARCO & PETEAN, 2004).

Seguindo por esse viés, cumpre destacar o trabalho elaborado por Sousa

(2000) em sua dissertação de mestrado sobre a persuasão, em que o autor não

menciona a factibilidade do processo hipnótico. Nele, Sousa dispõe sobre os

caminhos que a mente humana elabora para tomar decisões, a certo ponto

relacionando a arte da persuasão com a hipnose. Toma ele por base a definição de

hipnose aceita pela Comissão da British Medical Association, que em 1959

estabeleceu hipnose como sendo

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[...] um estado passageiro de atenção modificada no sujeito, estado que pode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenômenos podem aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou outros. Estes fenómenos [sic] compreendem uma modificação da consciência e da memória, uma susceptibilidade acrescida à sugestão e o aparecimento no sujeito de respostas e ideias que não lhe são familiares no seu estado de espírito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p. 140).

Partindo desta premissa, Sousa (2000) pontua a grande semelhança que

existe entre os dois processos, pois à exemplo da hipnose, a persuasão também

trata de modificar pensamentos e atitudes de outra pessoa a partir de um conteúdo

verbalizado, variando em intensidade quanto aos contextos, tipos de relação

estabelecida e os efeitos que se deseja produzir. Frisa o autor:

A relação orador/auditório não pode pois [sic] deixar de ser igualmente compreendida à luz da modificação do estado de consciência que nela e por ela se opera, ainda que sem a profundidade que caracteriza a relação hipnotizador/hipnotizado (SOUSA: 2000, p. 141).

No tópico que se segue, contudo, o que se pretende discutir é a hipnose

sob o ponto de vista de seus mecanismos fisiológicos, cuja eficácia pode ser

explicada a partir de algumas reações físicas observáveis no corpo, quando

metabolismos complexos são ativados através do Sistema Nervoso Simpático e

Parassimpático (FERREIRA, 2009).

3.1 Neurofisiologia da Hipnose

O corpo humano é um complexo sistema interligado que detém o perfeito

controle de suas funções, mantendo o delicado equilíbrio entre todas as suas partes

e o meio ambiente. A esse equilíbrio, denominado homeostasia, o fisiologista Walter

Cannon chamou de a “sabedoria do corpo” (LENT, 2005), o qual assim permanece

por meio do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA), um conjunto de

neurônios localizados na medula e no tronco encefálico, cuja comunicação com o

restante dos órgãos e tecidos acontece por meio dos axônios. Segundo o autor, o

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SNA não é um órgão totalmente autônomo, pois suas ações são orientadas através

de regiões superiores do SNC - Sistema Nervoso Central.

Ferreira (2006) sustenta que o SNA é o órgão responsável em regular o

metabolismo, a temperatura do corpo, os sistemas circulatório, respiratório,

endócrino, urinário, genital, cujas funções “[...] não são necessariamente

conscientes” (p. 264).

Numa explicação mais resumida e simplificada, Esperidião-Antônio et al

(2007) propõem:

Diferentes estímulos (aferências) – térmicos, táteis, visuais, auditivos, olfatórios e de natureza visceral (como alterações da pressão arterial) – chegam a diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendo receptores e nervos periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses mesmos estímulos são programadas em determinadas áreas corticais, as quais incluem desde circuitos simples – envolvendo poucos segmentos – até complexos, exigindo refinamento funcional por parte de cada uma. (ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2007, p.64)

Bastante pertinente, portanto, a analogia de Lent (2006) ao comparar o

SNA ao maestro dos órgãos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos,

precisam de um regente que lhes dêem “[...] o ritmo certo, a afinação adequada, a

sincronia de pausas e entradas, a emoção” (p. 475).

Na figura abaixo está representado o modo pelo qual o sistema nervoso

se divide:

Fig. 1 Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp

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Classicamente, o Sistema Nervoso Autônomo divide-se em Sistema

Nervoso Simpático (SNAS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNAP), os quais

agem de modo antagônico. Em situações de luta ou fuga, o SNS é ativado e gera

um aumento do hormônio adrenalina no organismo. Esta substância é um

neurotransmissor excitatório que aumenta a frequência cardíaca pelo aumento do

fluxo sanguíneo muscular. Assim, estimulando-se a cauda do hipotálamo, aumenta-

se a atividade simpática, que por sua vez produz aumento do neurotransmissor

adrenalina, que atua sobre órgãos como coração, pulmões, vasos sanguíneos,

órgãos genitais, etc. A adrenalina é liberada como fator responsivo ao stress físico

ou mental, ligando-se um grupo especial de proteínas - os receptores adrenérgicos

(QMCWEB, 2009).

A estimulação do Sistema Parassimpático, por sua vez, que se dá através

da estimulação da parte anterior do hipotálamo, tem como consequência

[...] a diminuição da pressão arterial, da freqüência [sic] cardíaca, do metabolismo basal, da secreção de adrenalina, do volume respiratório, dilatação dos vasos sangüíneos [sic], sudorese, salivação, contração da bexiga, contração das pupilas (miose) (FERREIRA, 2006, p. 265).

Tanto Machado (1993) quanto Serratrice et al (1995 apud ARAÚJO, 1997)

consideram que os dois centros suprassegmentares mais importantes para o

controle do SNA são o hipotálamo e o sistema límbico, ambos com extensas

projeções para a formação reticular.

Ferreira (2006) aponta estudos de Szechtman et al (1998), em que

pessoas altamente suscetíveis à hipnose e à alucinação ativam durante estes

processos uma região na área chamada Broadman (parte anterior do giro do

cíngulo), a qual foi detectada por exame de PET (tomografia por emissão de

pósitrons). Este exame permite mapear a atividade cerebral determinando o fluxo

sanguíneo. Os pacientes submetidos a este exame recebem uma injeção com

substância radioativa que vão ajudar a produzir as imagens cerebrais, marcando as

áreas ativadas em vermelho.

Situando especialmente as vias de estimulação visual, Ferreira (2006)

sustenta que primeiramente o indivíduo percebe o objeto, sua forma, movimento e

cor através do córtex primário visual (área de Broadman), informação que segue até

o córtex parietal posterior. A integração entre a representação do objeto com as

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informações gravadas na memória faz o autor afirmar, sobre a conexão existente

entre estes dois processos, que “[...] envolve uma complexa rede relacionando o

córtex peririnal, entorinal e o hipocampo” (p. 190). Segundo ele, os componentes

emocionais decorrentes do estímulo são avaliados pela amígdala.

Em outro estudo realizado por Machado (1993), o autor sustenta que a

estimulação elétrica em determinadas áreas do hipotálamo é responsável por

respostas típicas dos sistemas simpático e/ou parassimpático, sendo que o

hipotálamo anterior é o responsável pelo controle principalmente do sistema

parassimpático, e o hipotálamo posterior coordena principalmente o sistema

simpático.

A neurobiologia da motivação, desde os mais incipientes estudos,

apontou o hipotálamo como um centro integrador fundamental, sendo este também

o receptor das informações vindas do sistema límbico, definido por Lent (2006) como

“[...] o conjunto de regiões neurais dedicadas a interpretar e responder aos estímulos

externos e internos de caráter emocional” (p. 491).

Sabe-se que o corpo humano tem diferentes necessidades e age por

diferentes motivações ou estados motivacionais, e seus comportamentos motivados

(LENT, 2005) estão dispostos em três classes. Na primeira, estão aqueles exigidos

por forças fisiológicas definidas, como a fome, a regulação corporal, entre outros.

Uma segunda classe é aquela que tem como guia um fisiologismo não tão bem

definido como o primeiro, e cujo melhor exemplo o autor aponta o sexo, pois a

procura pela satisfação sexual não se dá unicamente pelo desejo de perpetuação da

espécie, mas também pelo puro prazer. No terceiro grupo e mais complexo, e que

interessa especificamente ao presente trabalho, estão aqueles realizados sem uma

decisão biológica clara, motivados pela subjetividade inerente ao ser humano.

Para a consecução dos comportamentos motivados, Lent (Idem) sustenta

que duas forças fundamentais agem, que são a homeostasia e a busca do prazer,

sendo o hipotálamo o centro que integra fundamentalmente estes estudos, uma vez

que se comunica com inúmeras regiões do SNC e com diversos órgãos periféricos

por meio do SNA e sistema endócrino, além de receber informações de todos os

demais órgãos por ele controlados, inclusive o sistema imunológico, embora

indiretamente.

Segundo o autor, estas informações provêm também do sistema límbico,

conjunto de regiões neurais localizadas nas regiões corticais e subcorticais do

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cérebro (Ibidem). Este sistema é em grande parte o responsável pelas emoções,

que embora sejam muitas e de difícil classificação, Lent (Ibidem) considera que três

aspectos são constantes: um sentimento (positivo ou negativo), um comportamento

(atos motores específicos das emoções) e ajustes fisiológicos de acordo com o

sentimento e o comportamento.

Para o autor, uma das estruturas que apresenta extrema importância no

tocante às experiências emocionais é a amígdala, a que ele refere como “[...] botão

de disparo [...]” (LENT, 2006, p.659) das situações que envolvem a emoção,

recebendo estímulos através do tálamo, e outras mais complexas por meio do

córtex.

O córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro humano, além de ser

também o órgão responsável pelos pensamentos, percepção, produção e

compreensão da linguagem, entre outras, cada uma de suas partes respondendo

por funções específicas. O córtex se subdivide em lobo frontal, parietal, temporal e

occipital (VILELA, 2009).

Fig. 2 Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp

Sobre a complexidade que permeia as emoções do ser humano, observe-

se que no início do século XX, William James e Karl Lange (BARRA et al, 2008;

LENT, 2005, LEDOUX, 1999), já propunham que “Ficamos tristes porque choramos,

zangados porque agredimos, e com medo porque trememos, e não choramos,

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agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com medo, conforme

o caso (LEDOUX, 1999, p.40)."

Na atualidade, o termo sistema límbico designa o “[...] circuito neuronal

que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais” (LENT, 2005,

p. 657). Em suas experiências, o autor foi levado a crer que só após o córtex ser

informado de que o organismo produziu alterações fisiológicas é que se dá a

experiência consciente da emoção.

Contudo, foi com o anatomista americano James Papez que a

neurociência mudou novamente os modelos aceitos até então. Foi ele a apresentar

a teoria de que havia na verdade um “circuito” ou sistema de regiões que juntas

disparavam o sentimento, as reações e por consequência o retorno à situação de

equilíbrio. Esta rede neural ficou conhecida depois como Circuito de Papez e só

mais tarde é que o conceito Sistema límbico, criado pelo fisiologista francês Paul

Broca, passou a ser utilizado (idem, 2005).

Sobre Broca, este descobriu que a incapacidade para a fala não exclui a

compreensão da linguagem, fato que o fez anunciar em 1864 que o ser humano fala

através do hemisfério esquerdo e razão pela qual há no cérebro humano uma

porção denominada área de Broca (KANDEL, 1985, trad. MARIA CAROLINA

DORETTO).

Na figura abaixo, é possível visualizar as áreas do cérebro e as

respectivas funções referentes à linguagem.

Fig.3 Fonte: Postner and Raichle, Scientific American 1994

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Embora haja um claro entendimento por parte da comunidade científica

acerca do que seja a hipnose, a trajetória realizada por este fenômeno no cérebro

ainda é pouco conhecida. Estudos feitos por Câmara (apud RODRIGUES, 1998)

apontam para a formação de uma rede chamada formação reticular, a qual

funcionaria como elemento aglutinador entre a voz do hipnoterapeuta e o cérebro.

Segundo o autor, “[...] A formação reticular controla a vigília e o sono e ainda

seleciona em que informações devemos nos concentrar” (p.43).

Especialmente quanto à estimulação sonora, Ferreira (2006) coloca que

existe um sistema que ativa e desativa o córtex, permitindo dessa forma o sono ou a

vigília. Assim, quando as palavras, via ordenamento verbal, “[...] são enviadas do

córtex cerebral, via sistema desativador descendente, até a formação reticular com

função de desativá-la [...]” (p. 189), há em consequência uma redução do estado de

alerta do córtex, o qual libera no sistema límbico os comandos pertinentes à

expressão emocional respectiva.

Ferreira (2006) considera que a formação reticular é condição sine qua

non para a vida, além de que é constantemente suprida por estímulos, regulando as

informações que recebe conforme seu interesse. Segundo o autor, a formação

reticular “[...] recebe as informações do meio ambiente, as filtra e permite que o

indivíduo focalize a atenção num objeto que seja do seu interesse” (p.287).

Com base nisso, Ferreira (Idem) aponta para estudos feitos por Terman et

al (1984), Teixeira (1995) e Pimenta et al (1997), em que os autores referem, por

exemplo, que existem componentes emocionais, culturais e religiosos que podem

produzir diferentes sensações quanto à modulação da dor nos indivíduos, capazes

de sensibilizar ou diminuir a dor.

Experimentos conduzidos na Universidade de Harvard por Kosslyn &

Colaboradores (2000), analisaram oito indivíduos selecionados como altamente

hipnotizáveis, que se submeteram a um exame de PET. Cada indivíduo submeteu-

se a quatro tarefas sem indução hipnótica e depois a mais quatro com indução.

Primeiramente, os sujeitos deveriam indicar a cor que verdadeiramente estavam

enxergando; num segundo momento, foi pedido aos indivíduos que vissem o objeto,

mas em escalas de cinza. Por último, à vista do objeto em escala de cinza, os

sujeitos deveriam adicionar cor ao objeto. Os estudos concluíram que quando

induzidos a perceber a cor, os sujeitos tinham maior alteração no fluxo sanguíneo do

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hemisfério direito do cérebro. A figura abaixo mostra o modelo usado no trabalho em

questão.

Fig. 4 Fonte: Kossly & Colaboradores, 2000

Pouco tempo depois, em estudos conduzidos com um grupo de dez

indivíduos, proposto por Rainville et al (2002), estes sustentam, com base em exame

de PET (tomografia por emissão de pósitrons), que a indução hipnótica provoca

alterações significativas na experiência subjetiva, cujos resultados indicaram que a

hipnose gera modificações nas estruturas essenciais à regulação dos estados de

consciência, autorregulação e autocontrole, como também foi relatada uma

diminuição quanto à capacidade avaliativa, acompanhamento e censura, além de

interromper a orientação temporal, de localização e da consciência de si mesmo no

grupo estudado.

Sobre o PET, julga-se pertinente alguns esclarecimentos adicionais a

respeito de como se processa este exame. A imagem cerebral por meio do PET tem

início a partir de uma injeção contendo alguns átomos radioativos com a tendência a

fixarem-se no cérebro. Com a emissão de pósitrons, estes átomos decompõem-se

em mais ou menos vinte minutos, e ao estimularem o cérebro durante o exame, as

zonas cerebrais mais estimuladas produzem mais raios gama, tendendo a

concentrarem-se em áreas específicas, de acordo com a estimulação dada. Estes

dados, por sua vez, recebem um sofisticado tratamento matemático e estatístico,

permitindo assim a produção de imagens semelhantes a “fatias planas” do cérebro

do paciente (MAT.URFGS, 2009).

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51

A figura abaixo mostra a atividade cerebral de um recém-nascido em seus

primeiros meses de vida, cujas partes em vermelho apontam as áreas mais

estimuladas.

Fig. 5 – Fonte: http://www.mat.ufrgs.br

Exames mais acurados como o PET possibilitam estudar mais

detalhadamente as alterações produzidas no cérebro sob efeitos controlados em

laboratório ou mesmo para diagnósticos mais precisos. A figura abaixo mostra a

ação do receptor serotonina através das áreas coloridas.

Fig.6 - Fonte: http://images.google.com.br

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52

Os dados obtidos nestes experimentos são consistentes com a

verificação de que as atividades relacionadas com o tronco cerebral, o giro do

cíngulo anterior, com o giro frontal inferior direito e o lóbulo parietal inferior direito

desempenham um papel decisivo na produção dos estados hipnóticos.

Ressalte-se também o aspecto destacado por Ferreira (2006) de que

durante o processo hipnótico se observa uma redução do fluxo sanguíneo cerebral

regional (FSCr) no córtex parietal, assim como há também um acréscimo do FSCr

“[...] na parte caudal anterior do giro do cíngulo direito e no córtex frontal de ambos

os lados” (p. 216). Este exame se obtém com a ressonância magnética funcional

(IRMf), a qual detecta minúsculas variações do fluxo sanguíneo. O exame é feito

medindo-se o nível de oxigenação no sangue nas áreas mais ativas, gerando

imagens de alta resolução, muito mais nítidas e precisas do que o PET.

A figura abaixo mostra, nas áreas em vermelho, as áreas do cérebro

estimuladas durante o exame de ressonância magnética funcional.

Fig. 7 – Fonte: http://www.mat.ufrgs.br

Estudos realizados com eletroencefalograma (EEG) dão indicativo de que

estando com a atenção focalizada no processo hipnótico, ao ouvir sugestões de

“pálpebras pesadas, cansadas”, por exemplo, há nos indivíduos suscetíveis uma

baixa de atividade em alguns circuitos cerebrais nos lobos frontais responsáveis pelo

planejamento e comportamento (idem).

Pincherle & Colaboradores (1985) referem estudos de Kupper em

veteranos de guerra, os quais apresentaram alterações verificáveis nos padrões de

EEG quando em regressão hipnótica. Em estudos conduzidos pelos próprios

autores, estes sustentam uma redução no número de crises e ausências em

paciente com histórico de epilepsia quando submetido a tratamento pela hipnose.

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53

Não é infundada, portanto, a comparação que Caprio & Berger (1999)

fazem entre o inconsciente e um computador. No livro Curando-se com a auto-

hipnose, os autores fazem uma analogia entre a mente humana e um

servomecanismo, salientando que tal como este, que pode ser programado e

reprogramado, o subconsciente também pode ser alterado a partir de novas

sugestões.

Um servomecanismo é uma máquina construída de maneira a ‘se orientar’ automaticamente para uma meta, um alvo ou uma solução. A mente subconsciente não tem emoção nem opinião. Ela só responde a partir das informações que tem armazenadas em sua memória, retirando-as dali de maneira semelhante a que se retira uma carta de um arquivo (CAPRIO & BERGER, 1999, p.60).

Com estes esclarecimentos, pretendeu-se dar suporte à explicação de

como a hipnose está vinculada ao sistema límbico e ao hipotálamo (centros

cerebrais que regulam as emoções básicas e a memória), interagindo com todas as

funções do organismo através do sistema simpático e parassimpático.

Conclui-se assim que a crescente e mais recente produção científica

sobre a hipnose vem despertando na comunidade científica um vivo interesse nas

questões que dizem respeito ao funcionamento cerebral e ao modo pelo qual a

hipnose atua no cérebro humano.

No tópico a seguir, serão apresentados os conceitos de consciência,

transe e hipnose, suas aproximações e diferenças.

3.2 Consciência, Transe e Hipnose

As questões referentes à consciência apresentam diferentes opiniões,

uma vez que a representação de mundo varia de pessoa para pessoa,

diversificando-se também a depender da abordagem psicológica a ser trabalhada.

Assim, ela pode ser considerada a partir de várias esferas do conhecimento.

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Davitz e Cook (1976 apud FERREIRA, 2006) argumentam que “[...]

consciência é a conseqüência [sic] da interação entre o acontecimento em si e a

forma pela qual ele é vivenciado pelo ser humano” (p.55).

A nível neurológico há a dicotomia entre consciência de si (relacionado

aos hemisférios cerebrais) e do ambiente (relativo à vigília e às estruturas do tronco

cerebral (PLUM e POSNER, 1977, apud FERREIRA, 2006).

Grinder e Bandler (1984, apud FERREIRA, 2006, p. 54) consideram que

“[...] transe é apenas pegar uma experiência consciente e alterá-la em alguma outra

coisa”, enquanto muitos psicólogos reportam transe como “[...] um estado de limitada

consciência (awareness), e uma pessoa estaria em transe quando sua atenção está

limitada e há uma certa repetição de pensamentos” (FERREIRA, 2006, p. 54).

Na concepção do autor (Idem), são exemplos de transe no dia-a-dia a

capacidade da pessoa em se abstrair totalmente do que a cerca, focalizando a

atenção apenas em determinado objetivo ou tarefa. Cita ainda como exemplos o de

um tenista em concentração para uma jogada numa partida ou um internauta

aficcionado em internet.

Já o estado alterado de consciência, em que o autor concorda com a

visão de Ludwig (1996) e Farthing (2000), transe pode ser definido “[...] como uma

modificação temporária no padrão total da experiência subjetiva, tal que o indivíduo

acredita que o seu funcionamento mental é distintamente diferente de certas normas

gerais do seu normal estado de consciência de vigília” (FERREIRA, 2006, p.55).

Chertok (1989, apud SOUSA, 2000) coloca hipnose como sendo o “[...]

quarto estado do organismo, actualmente [sic] não objectivável [sic] (ao inverso de

três outros: a vigília, o sono, o sonho): uma espécie de potencialidade natural, de

dispositivo inato [...]” (p. 140).

Já Zeig (apud ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) aponta

hipnose como um tipo de focalização da consciência através do uso da palavra, na

qual a hipnose “[...] busca prender a atenção do paciente para maximizar sua

colaboração construtiva com o paciente” (p. 12).

Spiegel (apud FERREIRA, 2008, p. 5) considera “[...] o transe hipnótico

como um desvio da atenção”.

Com Jorge Abia encontra-se uma definição um pouco mais extensa:

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Definimos transe como um estado de consciência em que permanecemos em contato mais intensamente conosco que com o meio externo. Ou seja, a atenção se volta para o que imaginamos e sentimos mais do que ao que objetivamente pensamos, sem que se perca o controle da relação com o exterior (ABIA, 2001, apud FERREIRA, 2008, P. 5).

Percebe-se assim, pelo aporte de diferentes correntes científicas e

autores, que os termos consciência, transe e hipnose encontram-se por vezes muito

próximos um do outro, sendo difícil distingui-los. Isso não invalida, no entanto, a

eficácia do trabalho terapêutico, ainda que sob diferentes nomenclaturas. Neste

tópico, o que se propôs foi mais uma vez demonstrar a falta de um consenso entre

os termos usados para definir a hipnose.

3.3 Sugestão

O termo sugestão remete necessariamente a uma interpretação quanto

ao seu sentido etimológico e psicológico. A levar-se em conta apenas o significado

comum, sugestão pode ser definida como estímulo, inspiração (PRIBERAM, 2009).

Para Ferreira (2006), sugestão é um processo comunicativo e de

aceitação geral quanto a uma idéia apresentada e que ocasiona uma modificação na

concentração total da mente do sujeito. Em termos psiquiátricos, pontua ele,

sugestão “[...] se usa para indicar una idea que se ofrece al enfermo y que éste há

de aceptar sin crítica” (LERNER, 1964 apud FERREIRA, 2006, p. 65).

É interessante observar que alguns aspectos estabelecidos por Coué

(1915) no início do século passado ainda permanecem, tanto em Shrout (1985),

quanto em estudos mais recentes, como este de Ferreira (2006). Nele, o autor

identifica cinco aspectos referidos por Coué quanto à sugestão (estes também se

encontram descritos no livro de Shrout - Hipnose Moderna Científica, pela editora

Pensamento, em 1995, embora não em cinco tópicos como o de Ferreira):

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ASPECTOS DA SUGESTÃO

1. A realização de uma idéia a partir da atenção concentrada;

2. Vontade e imaginação antagônicas fazem vencer sempre a imaginação;

3. Aliança entre sugestão e emoção supera qualquer outra;

4. A determinação do não-fazer produz efeito contrário;

5. A imaginação pode ser dirigida.

Tabela 1 Fonte: Ferreira, 2006

Uma importante distinção entre sugestionabilidade e hipnotizabilidade

referida por Ferreira (2006) dá a dimensão exata entre estes dois termos. Enquanto

sugestionabilidade se revela como o grau de mobilidade do indivíduo em direção a

uma idéia, momento em que não faz uso do senso crítico, a suscetibilidade hipnótica

(o autor cita ainda hipnotizabilidade, habilidade hipnótica ou receptividade quanto à

hipnose como termos correlatos) por sua vez está ligada à extensão da capacidade

do sujeito em experimentar a hipnose.

Tanto um como a outro apresentam diferenças de pessoa para pessoa.

No primeiro caso, as diferenças também podem surgir conforme as sugestões sejam

apresentadas de forma direta ou indireta, de acordo com as expectativas do

paciente naquele momento, com o rapport entre hipnoterapeuta e paciente, para

citar algumas situações específicas.

Relativamente à capacidade hipnótica, os estudos não são conclusivos,

sem um consenso quanto ao prazo em que esta habilidade se desenvolve ou quanto

tempo dura. Ferreira (2006) aponta os estudos de Aldrich (1987), Shore & Orne

(1962), os quais sustentam que existem horários do dia que produzem maior

suscetibilidade à hipnose, sendo o maior por volta do meio-dia e o menor entre 17 e

18 horas.

Estudos apresentados no 5º Congresso Mundial de Ciências Médicas no

Canadá em 1998 dão conta de que durante a atividade hipnótica se comprovou

maior atividade teta em exames de eletroencefalograma (EEG) de sujeitos

extremamente suscetíveis (FERREIRA, 2006).

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Embora alguns autores considerem diferenças entre os indivíduos quanto

à suscetibilidade hipnótica, Ferreira argumenta que existe na atualidade uma

corrente a defender a teoria de que todas as pessoas podem ser hipnotizadas,

bastando para isso a habilidade do especialista, inclusive, frisa o autor, nos

pacientes psicóticos.

Sobre este assunto, Izquierdo de Santiago coloca que “La esquizofrenia

es una enfermedad compleja que puede ser tratada mediante la utilización de

medicación y/o terapias psicológicas” (2008, p. 10). Frisa, contudo que esta técnica

deve ser utilizada junto com outros tratamentos.

Em pessoas com Alzheimer, Ferreira (2006) faz uma ressalva quanto a se

utilizar a hipnose em pacientes cujos estágios da doença estejam mais avançados,

considerando que os neurônios nessa situação já não funcionam adequadamente.

Como fatores capazes de influenciar os pacientes, Ferreira (2006)

enumera algumas condições:

FATORES DA RELAÇÃO ESPECIALISTA-PACIENTE

Comunicação adequada com o paciente

Observar cuidadosamente desde os primeiros contatos com o paciente a apresentação, o aperto de mãos, a anamnese, a linguagem, as frases, utilizando frases afirmativas, claras

Aparência adequada do profissional

A aparência pessoal começa ao vestir-se e continua nos cuidados com unhas, cabelos, barba, maquiagem, etc.

Relação afetiva Desenvolver confiança mútua Expectativa Passar a idéia de sucesso no desfecho do tratamento, pois essa

expectativa representa um determinante quanto à capacidade hipnótica

Prestígio Na maioria dos casos, o reconhecimento quanto ao prestígio do profissional em seu meio facilita o trabalho

Repetição de sugestões Durante o processo hipnótico se obtém melhores resultados pela repetição das sugestões

Tabela 2 – Fonte: Ferreira, 2006

Entre as qualidades necessárias ao especialista e que são citadas acima,

Ferreira (2008) argumenta ainda que a convicção, a confiança, o conhecimento, a

competência, o comprometimento, o comportamento, a criatividade, a disposição do

paciente, a concentração e a comunicação são também condições imprescindíveis

ao bom andamento da terapia.

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Do mesmo modo que os itens quanto à relação entre especialista e

paciente, Ferreira (2006) cita a influência do ambiente externo em que se

desenvolve a ação terapêutica para melhor conduzir a terapia:

INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE E A RELAÇÃO SUGESTÃO – PACIENTE

Luminosidade

Temperatura Sons, vozes, música e ruídos

Manter desligado campainhas, telefones, etc. Quanto aos ruídos advindos do próprio lugar onde se localiza o consultório, é interessante incorporá-los à indução hipnótica, caso não seja possível reduzi-los. O ambiente tanto pode estar em completo silêncio quanto se podem usar CDs com gravações.

Perfumes agradáveis É preciso cuidado com perfumes, uma vez que os pacientes em expectativa de trabalho mental tornam-se mais sensíveis aos cheiros.

Posição confortável Pode-se usar uma cadeira, divã ou maca, desde que seja confortável. Evitar chaves, moedas, carteiras no bolso que possam produzir ruídos, assim como descartar chicle, balas, óculos, lentes, adornos, etc.

Decoração do ambiente Agradável, com poucos objetos.

Tabela 3 – Fonte: Ferreira, 2006

Como complemento às condições acima descritas, Ferreira (2008) inclui

também as condições climáticas e a hora, a conduta do recepcionista, prestígio do

profissional, acontecimentos que se deram antes do horário do paciente, assim

como a expectativa de algum evento posterior à consulta são fatores que podem

influenciar as respostas hipnóticas.

Segundo o autor, à disposição no mercado se encontram CDs gravados

especialmente com o fim de produzir uma variedade de ondas para facilitar a

indução hipnótica, como as ondas teta, que facilitam a imaginação, as ondas delta

que possibilitam o adormecimento, e outras ainda que reduzem a atividade das

ondas beta e que aumentam o percentual do ritmo alfa. Ferreira (2006) aponta

inclusive estudos feitos por Keyon (1998), em que se obtém relaxamento muscular a

partir de estimulação de ritmo alfa próximo de 8Hz.

Sobre a classificação das sugestões, Ferreira (2006) sustenta que

dificilmente o paciente se encontra sob o efeito de uma única sugestão.

No quadro abaixo estão relacionadas, conforme o autor, alguns tipos de

sugestão e suas principais características, exceção feita no caso da sugestão

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sensorial cinestésica, cujos autores estão indicados especificamente (entendeu-se

necessário ampliar a explicação para melhor compreensão do termo):

CLASSIFICAÇÃO DAS SUGESTÕES

Sensorial Direta: o paciente age respondendo a afirmações objetivas: “Seus olhos estão se fechando”; Indireta: introduzidas sutilmente, procura não relacionar experiência do paciente com a sugestão: “As pessoas obtém melhor concentração com os olhos fechados” (FERREIRA, 2006, p. 73-75);

Sensorial sonora

Extraverbal: habilidade em transmitir pelas palavras conteúdos não verbalizados, apenas inferidos a partir de frases, palavras, gestos; Fonação extraverbal: utiliza mais os sons do que as palavras: ritmo da respiração, sorriso, bocejo; Não-verbal: apito, tique-taque, instrumento musical, som de árvores, chuva; Visual: imagem ou vibração através da visão – luz de velas, disco giratório, brilho de anel, alfinete, olhar, etc.; Olfativa: odores de perfumes, álcool, etc. Gustativa: influência com sabores doce, amargo, salgado, etc.

Tátil Toque dos dedos no paciente. Térmica Calor e frio. Dolorosa Pressão sobre uma vértebra do paciente. Palestésica Sensibilidade aos estímulos vibratórios (diapasão aplicado sobre a superfície

óssea). Batiestésica Consciência exata da posição das partes do corpo e suas relações – sentimentos

de pressão sobre o corpo (movimentos passivos de uma articulação em diferentes direções).

Cinestésica Propriocepção corporal - discrimina a posição e o movimento articular, incluindo direção, amplitude e velocidade, bem como a tensão relativa dentro dos tendões (Smith et al ,1997).

Sugestões combinadas

Associação simultânea de mais um tipo de sugestão.

Sugestão pela atitude

Consiste no conjunto de crenças pessoais do especialista, capazes de transmitir ao paciente sua habilidade em tratá-lo adequadamente.

Sugestão psíquica

Pouco considerada entre os teóricos, é mais reconhecida na parapsicologia. Consiste em provocar ação em pessoas ou objetos pelo poder mental.

Sugestão ambiental

Influência do ambiente do consultório, fases da lua, calor, frio, chuva, sol, campo magnético, enfim fatores que induzem ao relaxamento hipnótico, sintonizando o paciente com as metas do tratamento, específicas ou não.

Sugestão ideomotora

Relacionadas a movimentos dos membros: mexer o dedo, levantar o braço, etc.;

Sugestão Desafio

Consiste em apresentar ao pacientes situações para mudar sua percepção. Com o braço estendido, sugerir a impossibilidade de flexioná-lo, ou vice-versa.

Tabela 4 – Fonte: Ferreira, 2006

Na tentativa de esclarecer mais pontualmente a diferença entre alguns

vocábulos presentes na literatura inglesa, Ferreira (2006) distingue o que seja

awareness (alerta) e consciousness (consciência). Para o autor, awareness é a

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percepção das coisas e dos sentidos na sua forma mais simples, enquanto que

consciousness é a identificação precisa dessas coisas e sentimentos, de modo mais

exato.

Essa explicação se justifica para responder por que muitas vezes o

processo hipnótico é conduzido com mais sucesso ou as sugestões são mais

prontamente recebidas do que em outras, o que faz Ferreira (2006) responder,

utilizando os conceitos de Hartland (1973), que enquanto ocorre o transe hipnótico,

há uma supressão parcial ou total do poder crítico do indivíduo. Isso acontece

porque existe uma mente inconsciente em permanente processo de ingerência

sobre os pensamentos, sentimentos e comportamentos humanos, o qual se dá

geralmente sem que o indivíduo perceba (FERREIRA, 2006). Isso é que faz Hartland

(1973 apud FERREIRA, 2006) dar tanta importância ao poder crítico do indivíduo,

pois com este restrito à mente consciente, as sugestões tanto podem ser aceitas

quanto rejeitadas. Frisa também que as respostas durante o processo hipnótico

podem ser nulas caso não sejam da vontade consciente do paciente. Isso significa

dizer que um paciente hipnotizado não executa ações que representem uma

contraposição ao seu conjunto de crenças pessoais conscientes.

Ferreira (2006, p.55-56; 2008) considera então que quando algumas

condições são preenchidas, as sugestões agem mais rapidamente e com mais forte

poder de sugestionabilidade:

� Suscetibilidade hipnótica da pessoa aos testes;

� Propensão à fantasia;

� Propensão à amnésia e à dissociação – redução de tônus muscular, escrita

automática, sugestões pós-hipnóticas, de amnésias pós-hipnóticas,

dificuldade para falar;

� Imaginação absorvente – pode ser dirigida para uma fantasia interna ou para

uma sensação corpórea, ou detalhar o meio ambiente;

� Capacidade imaginativa do hipnotizado caminha junto com as sugestões do

hipnotizador. Nestas pessoas, o potencial hipnótico varia com as motivações,

atitudes e expectativas pessoais; grau de rapport que o hipnotizador possui;

características das sugestões e ainda de acordo com cada situação.

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As dificuldades em estabelecer as ações de uma pessoa sob o efeito da

hipnose e fora dela fazem com que as posições dos autores se mostrem

controversas. Outro ponto a ser considerado é que as pessoas, mesmo expostas a

estímulos iguais, têm respostas diferentes.

A posição de Stark (1999 apud FERREIRA, 2006, p. 48) é a de que “[...]

hipnose é realmente uma convenção cultural, uma situação onde nós fazemos

particularmente efetivo uso da imaginação pela manipulação de expectativas” (trad.

do autor). Segundo ele, conforme as expectativas do indivíduo, a imaginação

provoca alterações naquilo que se percebe, se sente e nos próprios atos do sujeito.

Nos quadros abaixo, serão citados os estados especiais representativos

da hipnose, das pessoas sob o estado hipnótico, bem como as características

psicológicas do indivíduo sob efeito hipnótico.

No entanto, cumpre notar, seguindo especificações de Shrout (1995), que

Bernheim foi o primeiro a apontar as variantes existentes de sujeito para sujeito, não

apenas quanto ao estágio de transe, mas também quanto a sua capacidade de

sugestionabilidade diante da hipnose, fato continuamente observado por Ferreira

(2008; 2006).

A classificação de Pavlov (apud SHROUT, 1995) para os temperamentos

eram de dois tipos: reações de excitação e reações de inibição, apresentando cada

uma delas uma nova subdivisão:

TIPOS DE TEMPERAMENTO

Reações de excitação Fortemente excitável

Vivamente excitável Reações de inibição Calmo, imperturbável

Ligeiramente inibível Tabela 5 – Fonte: Shrout, 1995

Hilgard (1968 apud FERREIRA, 2006), aponta as características da

pessoa sob os efeitos da hipnose, como se descreve no quadro abaixo:

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CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE HIPNOTIZADO

1. Abrandamento da função de planificação

Perda da iniciativa e do desejo de fazer planos. Habilidade para a ação e para a fala, mas pouca vontade para tal.

A explicação em termos neurofisiológicos destas três características está em que, durante o processo hipnótico, a ação de focalizar a atenção ocupa as funções do lobo frontal, de tal modo que se torna inibido, o que provoca as características apontadas nos itens 1, 2 e 3.

2. Redistribuição da atenção

Atenção e desatenção seletiva além do normal.

3. Redução nos testes de realidade e tolerância

Alteração na percepção da própria personalidade, de tempo, lugar, sobre o outro, distorções da realidade, nomina objetos e pessoas inapropriadamente.

4. Disponibilidade para memórias visuais do passado e aumentada habilidade para a fantasia

Facilitação da recuperação de memórias, que pode ser tanto produtiva quanto reprodutiva, embora questionáveis quanto à veracidade.

5. Aumento da sugestionabilidade

Em consequência do estado da pessoa, devendo ser estudada independentemente de como esta se processa. Isso acontece pela vontade do paciente em seguir as sugestões recebidas.

6. Comportamento de desempenhar papel

Personificação do papel sugerido e execução de atividades complexas correspondentes.

7. Amnésia para o que se divulgou durante o estado hipnótico

Embora não seja essencial, a amnésia ou a recordação pode ser sugerida durante o trabalho.

8. Respostas às sugestões de modo literal, primitivo, usualmente demorando um pouco

Cuidado ao elaborar as proposições ao paciente, que pode tomá-las ao pé da letra, além de certa demora em responder. Nessa situação é importante dar tempo ao paciente para a resposta.

É pertinente ressaltar que estas posições não constituem unanimidade. Lynn et al (apud FERREIRA 2006) consideram que a capacidade de dar respostas literais se prende ao fato de ser um comportamento esperado e por estar numa situação passiva.

Tabela 6 – Fonte: Ferreira, 2006

Relativamente às características físicas da pessoa hipnotizada, Ferreira

(2006) atenta para a impossibilidade de se detectar exatamente o ponto onde o

indivíduo ultrapassa as fronteiras da consciência, diferenciando-se especificamente

pela intensidade com que se apresenta.

Para tanto, recomenda-se um comparativo entre as alterações físicas e

fisiológicas possivelmente observáveis entre os sujeitos antes e durante o processo

hipnótico. No quadro a seguir, apresenta-se uma descrição resumida dos fenômenos

a observar:

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ALTERAÇÕES OBSERVÁVEIS DURANTE A HIPNOSE

Relaxamento muscular: face, mandíbula, pescoço, musculatura em geral

Mudanças na cor da pele (palidez), cor dos olhos (avermelhados – possível relaxamento da musculatura da órbita, que facilita maior fluxo sanguíneo) Parte branca do olho se sobressai, pupila sobe. Com os olhos fechados, ruga na pálpebra superior Alteração de movimentos da respiração, frequência do pulso (geralmente mais lento) Fechamento dos olhos e tremor das pálpebras Motricidade voluntária diminuída Expressões da face e do corpo de acordo com as sugestões dadas Movimentos inesperados e involuntários de um ou mais dedos Acenos com a cabeça, sacudidas nas mãos Lacrimejamento (possível relaxamento dos músculos) Alterações no diâmetro da pupila Alterações na quantidade de suor Alterações na temperatura corporal independentemente de sugestão Possível secura na boca, dependendo da técnica utilizada Sensação de formigamento e coceira nas extremidades, mesmo sem sugestão Respostas lentas às solicitações do hipnotizador e em movimentos espaçados Lentidão no movimento dos olhos não é conclusivo de estado hipnótico, tendo em vista que estes também foram registrados em estados do sono, conforme apontam estudos de Dunwoody e Edmonston em 1974 e citados pelo autor.

Autores como Clasilnec, Hall e Handbook (apud FERREIRA, 2006) sustentam que a hipnose é considerada de moderada a boa conforme os pacientes relatem tremor das pálpebras e fechamento espontâneo, relaxamento dos músculos da face, profundo relaxamento muscular, respiração lenta e profunda, alteração na deglutição. Tabela 7 – Fonte: Ferreira, 2006

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Quanto às características psicológicas do estado hipnótico, estas podem

ser assim comentadas:

CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS DO ESTADO HIPNÓTICO

Atenção seletiva Foco da atenção apenas numa parte da experiência

Dissociação Mente consciente ocupa-se com o processo hipnótico e a mente subconsciente de associações, significações simbólicas, respostas

Resposta aumentada às sugestões

Receptividade aumentada em decorrência das sugestões em pessoas mais suscetíveis (é possível esta ocorrência também em pessoas sem hipnose, apenas pela expectativa, atitudes e motivações

Interpretação subjetiva Resposta às sugestões conforme suas referências pessoais Transe lógico Inexistência de avaliação crítica, onde a experiência pode ser ou

não racional/real Relaxamento Embora considere esta possibilidade, o autor refere também a

possibilidade de inexistir relaxamento físico, apenas mental, ou o contrário. Segundo ele, o relaxamento pode ser somático (corpo), cognitivo (mental) ou dos dois. Em estudos feitos por Edmonston Jr (1981 apud FERREIRA, 2006), o relaxamento é o alicerce das demais características que aparecem após o processo hipnótico, embora a maior parte das pessoas associe hipnose com relaxamento. Contudo, alterações na percepção do corpo, tais como alteração de tamanho, desaparecimento de partes do corpo, alterações de equilíbrio, de temperatura, de percepção do real, de voz, são índices convergentes de diferentes variáveis relacionadas entre si: Manter longo tempo os olhos fechados, ficar esperando algo ocorrer, esperar alterações nas sensações corpóreas, sugestões de relaxamento, relaxamento profundo, sono e hipnose

Tabela 8 – Fonte: Ferreira, 2006

À parte todas as características descritas nos quadros acima, é preciso

esclarecer que algumas alterações são verificáveis tanto em pacientes sob hipnose

quanto em pacientes não hipnotizados (FERREIRA, 2008; 2006). Para o autor

(2006), a própria vivência diária, através de imagens ou palavras, pode provocar

modificações na percepção sensorial e motora do indivíduo, sendo, entretanto, muito

difícil definir características específicas que se possam aplicar a todas as pessoas

durante o processo hipnótico. O autor acredita que por ser um processo individual,

as manifestações do comportamento também são únicas, e as situações cotidianas

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que se apresentam como fatores hipnóticos acontecem verdadeiramente,

independentes de uma orientação prévia. Além disso, Ferreira (apud Rossi, 1989)

comenta que existem pessoas que aceitam as idéias sugeridas, mas não ativam

modificações na fisiologia; em outras, apesar de aceitarem as sugestões muito

lentamente, resistem a elas.

ALTERAÇÕES PRODUZIDAS EM PACIENTES COM OU SEM SUGESTÃO HIPNÓTICA

Modificações da motricidade voluntária

• Relaxamento, hipotonia, paralisia, rigidez • Movimentos involuntários • Facilitação de performance

Modificações do controle normalmente não-voluntário

• Coração • Vasos sanguíneos • Aparelho respiratório • Sistema digestório • Bradicardia, taquicardia, alterações da pressão arterial • Vasoconstrição e vasodilatação • Apnéia, hipopnéia, hiperpnéia • Modificação nas secreções, do peritaltismo

Modificações metabólicas • Glicemia, número de leucócitos,... Modificações endócrinas • Secreção salivar, transpiração, hormônios,... Modificações na resposta da pele

Percepção alterada pelos sentidos

• Visão, audição, tato, olfato, gustação • Alteração e ou distorção da sensibilidade térmica, dolorosa,

tátil, epicrítica, barestésica, palestésica Alterações imunológicas Alterações nas funções mentais

• Sensoriais, percepção (ilusão, alucinação), atenção, memória

Alterações de respostas • Quanto à ansiedade, assimilação, retenção, recordação, alteração, memória da dor crônica

• Mudança de hábitos: eliminar cigarro, bebida alcoólica, emagrecer

• Poder de dessensibilizar fobias, desenvolver capacidade criativa

Tabela 9 – Fonte: Ferreira, 2006

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3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose

Na literatura sobre hipnose, cujas publicações científicas são mais

restritas, encontra-se na atualidade um referencial teórico elaborado por Ferreira

(2006), cujos estudos recentes têm procurado não só revisitar o percurso da hipnose

na história humana, mas também destacar seu relevante papel na cura de várias

enfermidades de ordem psíquica e física. Por esse motivo, neste trabalho optou-se

por fazer uma breve descrição das técnicas de Psicoterapia pela hipnose que o

autor aborda, entremeando com algumas técnicas desenvolvidas por Milton

Erickson, cujas publicações em extensos trabalhos também em muito contribuíram

para elevar a hipnose ao patamar em que hoje se encontra.

Entretanto, cabe salientar que existem divergências quanto ao uso da

palavra método e técnica, sendo às vezes utilizada como sinônimos. Outro ponto a

destacar está em que, das técnicas/métodos aqui explanados, existem variações

conforme seus autores, muitas vezes com uma nomenclatura diferente, porém

bastante próximas quanto ao modo de condução dos trabalhos.

Nos estudos reportados por Erickson, Hershman e Secter (2003),

encontram-se registrados entre os fenômenos hipnóticos alguns que também foram

observados por Ferreira (2006) como técnicas de Hipnoterapia. Entretanto, apenas

alguns dos fenômenos apontados pelos autores serão registrados no decorrer do

trabalho com os indicativos da respectiva autoria.

Por último, entendeu-se relevante observar a existência de outras

técnicas/métodos não mencionadas aqui e que podem variar conforme a formação

daquele que a utiliza. Abaixo, são descritas as práticas técnicas de hipnoterapia

elaboradas por Ferreira, interpondo-se a visão de outros autores ao tema tratado.

� Dissociação

Através desta técnica, o paciente é induzido à dissociação, que consiste

em separar o funcionamento da mente consciente do funcionamento da mente

inconsciente, podendo ser aplicada durante as técnicas de Psicoterapia.

Normalmente, o primeiro passo está em

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[...] dissociar o “Eu” observador, do “Eu” que está experienciando alguma coisa, (b) separar o “Eu”, das partes do corpo para expressar os conteúdos subconscientes, como ocorre na hipnografia, hipnoplastia e na escrita automática e (c) dissociar vários estados do “Eu”, processos e funções, para auxiliar o paciente e reintegrá-los de um modo mais saudável. (FERREIRA, 2006, p. 703)

� Hipnografia

Pela pintura, o individuo revela as dificuldades que possui, pois

normalmente estas pessoas possuem limitações quanto ao uso da linguagem como

forma de comunicação. O segundo passo nesta técnica é tornar mais fácil ao

paciente a capacidade de expressar pela voz o que expressou primeiro pela pintura

(FERREIRA, 2006).

Quando Meares (apud GONSALVES, 1989) desenvolveu esta técnica,

percebeu que a atenção dos pacientes se obtinha com um simples lápis preto. No

entanto, o avanço do trabalho permitiu ver que a pintura preta provou ser mais eficaz

do que o lápis.

� Hipnoplastia

Técnica revelada por Raginsky em que o paciente usa a arte plástica para

expressar suas dificuldades. Por este procedimento, em estado hipnótico, o paciente

é levado a modelar aquilo que seja de sua preferência, usando massa, argila,

plasticina ou material similar (FERREIRA, 2006). Watkhins e Barabasz (2007)

relatam que Raginsky estimulava uma regressão circunscrita à área de conflito. Para

isso, utilizava massas coloridas com a intenção de promover uma regressão

específica à área do conflito ou ao nível de desenvolvimento.

� Indução de Sonhos

Através do sonho sugerido ao paciente após o conhecimento detalhado

de seu histórico clínico. Uma possibilidade é a sugestão pós-hipnótica, em que o

paciente é induzido indiretamente a sonhar na noite seguinte e depois relatar o

sonho na sessão terapêutica. Por este método, Ferreira (2006) acredita que haja

uma redução na possibilidade de ansiedade. Uma outra possibilidade é a utilização

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de auto-hipnose, em que se induz o paciente a sonhar, lembrar os sonhos e

compreendê-los, utilizando-se de uma fraseologia adequada. Também se pode optar

por sugerir um assunto para o sonho no próprio processo hipnótico. O autor

esclarece, entretanto, sobre a habilidade necessária ao hipnoterapeuta quanto à

manipulação dos conteúdos dos sonhos, pois nestes existe a possibilidade de

mecanismos diversos, como deslocamento (fatos que mudam de lugar),

dramatização (encenação), condensação (mistura de fatos), simbolismo (simbolismo

conforme o desejo do paciente).

� Escrita automática

Usada em indivíduos com dificuldade para falar, esta técnica usa a escrita

para ir à busca de “[...] conflitos ocultos, descobrir talentos latentes, evocar

pensamentos primitivos formados na infância e auxiliar o indivíduo a organizar sua

personalidade mais eficientemente” (MUHL, 1958, apud FERREIRA, 2006, p. 707).

Ainda citando Muhl, Ferreira refere também a utilidade desta técnica para descobrir

nomes de pessoas, endereços, acontecimentos, cidades, placas de carro.

Na visão de Pincherle & Colaboradores (1985, p.71-72) escrita automática

se coloca como

[...] uma dissociação da personalidade que pode também ser observada em vigília, por exemplos nos rabiscos, desenhos e letras que muitas pessoas escrevem, de forma às vezes inconsciente, em papéis ao lado de um telefone, enquanto conversam e recebem recados.

Entre as características apontadas no estudo de Muhl (1958 apud

PINCHERLE & Col, 1985) está a de que na regressão de idade se verificam

mudanças também na caligrafia, onde esta apresenta traços conforme a idade do

indivíduo no momento da regressão.

Já a visão de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre a escrita

automática aponta para a facilitação de o paciente vir a externar conflitos, medos,

ansiedades, que o ajudarão na terapia.

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� Associação de Idéias

Inicia-se o processo hipnótico pedindo ao paciente que vá falando à

medida que as palavras lhe venham, sem critério. O passo seguinte está em o

hipnoterapeuta escolher uma série de palavras, cuidando quanto à velocidade,

entonação, intensidade e altura da voz, palavras estas que devem ter significação

para o paciente. À medida que vai falando cada palavra, dá um tempo para que ele

diga logo a seguir o que lhe parece sobre a palavra. Outra variação desta técnica

está em associar livremente as palavras-teste com o paciente em vigília e depois

fazê-lo repetir sob o efeito da hipnose (FERREIRA, 2006).

� Hipnoterapia analítica

Na hipnoterapia analítica, também chamada de psicoanalítica ou

dinâmica, o pensamento retorna à fase pré-verbal, caracterizado como aquele

encontrado nas crianças pequenas, tais como pensamento não-lógico, não

sequencial, uma volta ao faz-de-conta. Nash (1987 apud FERREIRA, 2006, p. 708)

refere uma regressão que se caracteriza por:

a) aumento da disponibilidade de material do processo primitivo do pensamento; b) sensações não usuais do corpo; c) emoções mais espontâneas e intensas; d) tendência a deslocar atributos centrais importantes de outras pessoas para o hipnólogo; e) estar receptivo para as experiências internas e externas.

Segundo o autor, o que acontece então é a concentração num aspecto

determinado, em que a consciência do se passa ao redor fica diminuída,

considerando-se dois níveis de funcionamento do "Eu”: o participante, que deixa

para o hipnoterapeuta as questões referentes à análise e crítica, ou ainda, sob efeito

de auto-hipnose libera o controle para o “Eu”. O outro é o “Eu” observador, que

apenas observa criticamente o envolvimento do “Eu” participante.

Ferreira (2006) reporta também neste caso a existência da transferência

entre paciente e especialista. Esta se refere a um estado já vivido numa fase anterior

pelo paciente. Presentemente, ele os revive na relação com o hipnoterapeuta.

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Existem relatos de sentimentos como medo ou vergonha do paciente, relativos ao

sentimento de querer ignorar impulsos inconscientes ou situações que se encontram

reprimidas ou então resistências provocadas pela transferência, que tanto pode ser

positiva quanto negativa no que concerne ao especialista.

� Conflito experimental

Utilizando frases adequadamente construídas com o propósito de induzir

angústia no paciente, Ferreira (2006) alerta para a necessidade de o profissional

usar de extrema habilidade, tanto com a hipnose quanto com a psicoterapia. Este

alerta se impõe pelo fato de o hipnoterapeuta trabalhar com material reprimido,

exigindo desse modo um perfeito conhecimento do problema relatado pelo paciente.

� Relembrança e Revivificação

Denominada também de terapia de vidas passadas ou vivências

passadas, este recurso se origina a partir do desejo do paciente, tendo em vista a

inexistência de provas científicas sobre este método (FERREIRA, 2003, 2006).

Entretanto, o autor refere esta técnica como um dos modos de se acessar

experiências, pensamentos ou sentimentos reprimidos inconscientemente.

Aqui, a regressão tem como objetivo liberar emoções (catarse), recuperar

memórias, realçar lembranças conscientes, tornar conscientes outros eventos,

agradáveis ou não.

Ferreira (2006) coloca dois modos pelos quais as lembranças podem ser

acessadas: relembrança ou revivificação, pontuando que aquilo que se faz sob efeito

hipnótico também é possível sem hipnose. Para o autor, estes acessos podem

ocorrer naturalmente, como passar por algum lugar que já conhecia, por exemplo.

Assim, ele explica como relembrança quando os acontecimentos dão ao

paciente a impressão de se passarem com outra pessoa, frisando que embora não

se possa modificar o passado, pode-se, contudo modificar as recordações e as

reações do paciente frente a estas lembranças. Morris (apud FERREIRA, 2006, p.

315) diz que “[...] a lembrança de um acontecimento passado é [sic] na verdade, um

ato criativo”.

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Nesse procedimento, Ferreira coloca que ao terminar lentamente o

processo hipnótico, o especialista não dá ao paciente nenhum tipo de sugestão para

que ele volte à idade atual.

A revivificação, por outro lado, consiste em o paciente experimentar e

reviver outra vez acontecimentos em um tempo passado, observando inclusive o

modo de falar, de escrever, característico da época revivida. É uma volta ao

passado. Na condução deste processo, a sensibilidade do especialista está em usar

habilmente as palavras.

O autor coloca que nesta forma de regressão pode haver uma volta às

condutas anteriores, sem que o paciente consiga recordar os fatos acontecidos

naquela idade. Outras situações relatadas dão conta de que o paciente: (a) deixa de

considerar o hipnólogo na situação regredida; (b) manifesta revivescência de uma

idade na qual não entende a linguagem falada; (c) manifesta revivescência de uma

idade na qual ele só entendia uma língua estrangeira. Nesta situação, Ferreira

(2006) aconselha o estabelecimento de um sinal para a volta do paciente.

Os estudos de Erickson, Hershman & Secter (2003) sobre revivificação

indicam que por este caminho o paciente revive experiências do passado, em que

ele se habilita ao processo de ver, entender e sentir estas emoções. Entretanto,

passa a reconhecê-las enquanto acontecimentos do passado.

� Terapia Cognitivo-comportamental

A hipnose se apresenta como forma de reforço nesta modalidade

terapêutica, cujos seguidores entendem que as desordens de origem psicológica

são resultado “[...] de respostas aprendidas e mal adaptadas, sustentadas por

cognições disfuncionais” (FERREIRA, 2006, p. 710), pois entendem que não existe

comprovação a respeito do estado de transe hipnótico. Para eles, a capacidade de

imaginação da mente dos pacientes pode ser alcançada sem hipnose. A teoria

desenvolvida por Amigó (apud FERREIRA, 2006), a terapia de autorregulação, tem

por objetivo expandir a responsividade do paciente ao tratamento. Na hipnoterapia

cognitiva do desenvolvimento, estudiosos como Beck e Ellis (Idem) acreditam na

alteração de pensamentos distorcidos, crenças desarrazoadas e negativas, partindo-

se da busca dessa estrutura de pensamentos para substituí-las por sentimentos

positivos durante a sessão hipnótica (FERREIRA, 2006).

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A interpretação do autor neste tipo de terapia é que a intervenção do

especialista deve buscar o problema que se encontra no inconsciente do paciente e

assim utilizar a hipnose para dar solução ao caso. Sua indicação de uso está em

casos como a vergonha de falar novas línguas, medo de chegar a uma nova escola,

desempenho num novo trabalho, incapacidade de gestão empresarial, dificuldades

de relacionamento, para tomada de decisões, descuido com aparência pessoal,

vergonha de exigir direitos.

� Técnica Fracionada, "Dentro e Fora” (“In and out”)

Esta técnica começa com a indução hipnótica, colocando-se duas

sugestões pós-hipnóticas para acessar rapidamente o estado hipnótico nas

consultas subsequentes: uma ao entrar e outra para sair. Isso acontece várias vezes

ao longo da mesma consulta, cujo foco central está em avaliar as discussões no

estado de vigília (Idem).

� Hipnossíntese

Técnica criada por Cohn (apud FERREIRA, 2006), em que o paciente

deve crer na própria capacidade para resolver seus conflitos, mesmo sem orientação

do especialista. O procedimento se faz induzindo hipnoticamente o paciente,

dizendo que a ele é permitido desfrutar do processo como melhor lhe aprouver, em

silêncio ou falando, momento em que o hipnoterapeuta fala ao indivíduo que este é

capaz de encontrar em seu próprio inconsciente a solução para os seus problemas

(Idem). Alakija (1992) também nomeia esta técnica como modalidade que faz uso da

palavra.

� Hipnoterapias com outras designações

A hipnoterapia curativa desenvolvida por Cheek e Lecron (apud

FERREIRA, 2006) consiste em usar a hipnose em diversas situações com o uso de

metáforas, regressão parcial, sugestões diretas e indiretas, etc. Sua importância

aponta para a necessidade de se localizar a fonte das desordens acumuladas no

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inconsciente humano, uma vez que acreditam serem estas que criam os sintomas

(FERREIRA, 2006).

Muito embora o autor mencione este tipo de prática hipnótica, afirma

desconhecer estudos que confirmem sua eficácia, colocando ainda que a

sistematização adotada neste processo é bastante semelhante à sequência utilizada

nos processos hipnóticos.

A seguir, serão descritas algumas técnicas mencionadas por Erickson,

Hershman e Secter (2003) nos trabalhos com hipnose, adaptadas a partir dos

seminários ministrados por Milton Erickson nos Estados Unidos a médicos,

odontólogos e psicólogos. No prefácio, Zeig menciona como uma das características

principais da obra a eficiência da comunicação na prática hipnótica.

� Transe Hipnótico Profundo

Com esta técnica, mantém-se o paciente em transe profundo durante

horas ou dias, sendo utilizada em alguns tipos de neurose, azias e gastrites de fundo

nervoso, e em alguns casos de tiques de fundo emocional (ERICKSON,

HERSHMAN & SECTER, 2003).

� Sugestão Indireta Permitida

Por este método, os autores consideram mais efetiva a prática de

hipnose, uma vez que motivam o paciente a participar do processo, despertando

uma condição interna no individuo, ao invés de dar ordens diretas. A sugestão

indireta diminui a possibilidade de defesa do organismo, em que o hipnoterapeuta

vai modulando a voz, operando sugestões de forma a “convidar” o paciente a

participar do processo (Idem).

� Sugestão Hipnótica Direta

Também chamada de Hipnoterapia Diretiva por Kline, não é considerada

tão eficaz na condução da melhora do paciente, além de provocar resistência

principalmente em pacientes com problemas mais acentuados. Os estudos indicam

que há a necessidade de se aprofundar o transe hipnótico nesse tipo de trabalho e

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tornar claro ao paciente a relação existente entre a finalidade para a qual se está

fazendo a hipnose e os seus problemas (Ibidem).

� Estado Hipnótico Catártico

Terapia com orientação psiquiátrica que consiste em diminuir as inibições

e repressões do paciente de modo a desbloquear conteúdo emocional (Ibidem).

� Hipnoanálise

Neste tipo de intervenção, juntamente com a hipnose são utilizadas

técnicas analíticas e são geralmente empregadas em casos psiquiátricos (Ibidem). A

contribuição da Psicanálise baseia-se na utilização dos fundamentos teóricos da

terapia analítica, em que caberia à hipnose o alívio mais rápido da patologia

apresentada (GONSALVES, 1989). Esta modalidade se encontra também

referenciada em trabalhos de George Alakija (1992).

3.5 Fenômenos Hipnóticos

� Atividade ideomotora e ideossensora

A atividade ideossensora relaciona-se à capacidade de contemplação

intensa a uma cena ou objeto que produz uma sensação e esta é reproduzida a

cada vez que a imagem é evocada.

Em contrapartida, a atividade ideomotora liga-se à capacidade do

organismo humano reagir com ações concretas frente a uma situação que ou está

presenciando vivamente ou a sentimentos que o impelem, sem sua consciência

plena. Os autores colocam como exemplo de atividade ideomotora a escrita

automática (Ibidem).

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� Alterações sensoriais

Há uma extensa variedade de alterações dos sentidos que podem

produzir alucinações visuais, olfativas, gustativas, auditivas ou anestésicas, tanto

positiva quanto negativamente (Ibidem).

� Catalepsia

Entende-se por catalepsia a permanência em uma posição fixa por tempo

indeterminado quando o indivíduo está sob transe hipnótico profundo, mas podendo

se manifestar também em transes leves, médios ou de estupor (Ibidem).

� Rapport

Rapport é a interação que se estabelece entre operador e paciente. Este,

uma vez estabelecido, faz com que o paciente busque a se isolar dos

acontecimentos e dos estímulos externos, prendendo-se somente ao hipnoterapeuta

(Ibidem).

� Amnésia, amnésia seletiva, hipermnésia

A amnésia consiste na orientação hipnoticamente induzida para que o

paciente esqueça alguma coisa, fato ou situação. Já a amnésia seletiva refere-se ao

esquecimento de determinadas experiências, atitudes ou aprendizados.

Na hipermnésia, que é o aumento da capacidade de lembrar-se das

coisas, pode-se conseguir que o paciente recupere memórias em detalhes (Ibidem).

Ferreira (2006) pontua que a amnésia pode ser visual, auditiva, olfativa,

gustativa, tátil ou verbal. Segundo o autor, ela pode se referir também à perda da

memória de fixação (paciente não fixa os estímulos no reservatório da memória) ou

da memória de conservação (perda das informações já fixadas). Este último caso

geralmente liga-se a “[...] traumatismos cranianos, mal de Alzheimer ou múltiplos

infartos, em intoxicações graves” (p. 271).

Também quanto a esse ponto existem controvérsias entre os autores,

referindo que tanto a amnésia quanto a hipermnésia podem facilitar o acesso a fatos

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esquecidos. Ferreira (2006) cita a revisão de McConkey e Sheehan (1995), os quais

referem a falta de evidência de que estas técnicas realcem a memória efetivamente.

� Supressão e repressão

A supressão consiste no ato de manter afastados do pensamento

sentimentos ruins, negativos (dentro do possível). Entretanto, estes conteúdos, uma

vez reprimidos no inconsciente, podem ser resgatados com o uso de recursos como

“[...] visualizações, alucinações auditivas, alucinações táteis, bem como outros

recursos adequados para esse fim e desenvolvidos pelo próprio paciente”

(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p.68).

� Dissociação

Durante o transe hipnótico, sugere-se ao paciente que veja a si mesmo

como se estivesse em outro lugar (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003).

� Despersonalização

Os autores referem despersonalização como a perda momentânea da

capacidade de identificar a si próprio durante o transe hipnótico (Idem).

� Sonambulismo

Estágio bastante profundo de hipnose em que o paciente dá a impressão

de estar plenamente acordado (Ibidem). O dicionário de Psicologia (1977) trata

sonambulismo como uma ação e reação na consciência primitiva, apontando esta

característica mais em crianças e problemas ligados à neurose. Janet (1889 apud

CHERTOK & STENGERS, 1990) descreveu sonambulismo como “[...] aparecimento

de um campo de consciência comparável ao que caracteriza o estado de vigília, mas

acompanhado de uma modificação da personalidade” (p. 259).

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� Subjetividade e Objetividade

Depois de hipnotizado, o paciente é solicitado a sentir as mesmas

angústias de uma outra pessoa, de quem ele nada sabe. Isto possibilitaria ao

paciente avaliar o sofrimento do outro de forma subjetiva.

No segundo caso, pode-se hipnotizar o paciente induzindo-o a deslocar

os seus problemas para uma terceira pessoa, que o hipnoterapeuta diz ter o mesmo

nome e os mesmos problemas. Desta forma, o paciente discute de forma inequívoca

as suas angústias como se fossem a do outro (Ibidem).

� Distorção do tempo

Existem duas situações: uma em que o tempo real é bem maior do que

aquele sonhado ou imaginado, e a outra, em que o tempo real, apesar de muito

curto, dá a sensação de ter durado muito mais do que na verdade durou (idem).

Comparando-se os dois aportes teóricos, é possível tecer algumas

considerações sobre um e outro, sendo em alguns casos bastante próximos nas

explicações. Em outros, diferenciam-se bastante.

Nos dois casos apontados abaixo, muito embora a nomenclatura utilizada

por um e outro seja diferente, pôde-se observar que elas na verdade são práticas

muito similares.

Por exemplo, Ferreira (2006) coloca dissociação (técnica hipnoterápica)

como o ato de separar três “Eus”: um observador, um experienciador e um terceiro

fragmentado em vários processos e funções. Numa outra explicação, o autor coloca

dissociação como a separação entre diferentes processos mentais, ou seja,

enquanto uma parte da mente se ocupa de algum sentimento (por exemplo, dor), a

outra parte, consciente, recebe sugestão para a supressão ou eliminação do foco

doloroso.

Para Erickson, Hershman & Secter (2003), dissociar significa permitir ao

paciente, sob efeito hipnótico, que esteja em dois lugares ao mesmo tempo: um

seria o observador e outro o experienciador, como apontado por Ferreira (sendo que

a dissociação para estes teóricos refere-se a um fenômeno e não técnica).

Outro item coincidente entre os teóricos está no Estado Hipnótico

Catártico referido por Erickson, Hershman & Secter e no Conflito Experimental de

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Ferreira. Nos dois aportes, há uma catarse do conteúdo emocional reprimido que

deve ser trabalhado sob hipnose para liberar o paciente de suas angústias. Todos os

autores referem-se a este item como técnica de hipnose.

As conclusões destas duas comparações não tiveram outro intuito senão

o de enfatizar o que já havia sido explanado anteriormente pelas referências teóricas

apontadas, ou seja, as evidentes contradições existentes no que se refere a uma

unicidade científica em torno da hipnose, condição é claro que não é prerrogativa

das teorias hipnóticas.

3.6 Técnicas Hipnóticas

• Técnica com relaxamento muscular

Consiste em convidar o paciente, depois de assegurar-se que ele esteja

confortável e reclinado numa poltrona, a fechar os olhos, mantendo os pés juntos e

os braços ao longo do corpo. Nesse momento é importante explicar as distinções

entre sonolência, sono, sono profundo e relaxamento (FERREIRA, 2006).

• Técnica Método da Estrela

Com o paciente instalado confortavelmente, pedir que este feche os olhos e

relaxe, evitando associação com as palavras estrela e respiração profunda. Durante

a sessão, perguntar se ele gosta de respirar profundamente e de estrelas, e ir

aprofundando a indução hipnótica com uma fraseologia específica, como ‘visualizar

uma estrela solitária’, dando prosseguimento com sugestões de relaxamento.

Durante o procedimento, ir paulatinamente aproximando e depois afastando a

estrela conforme o desenrolar do trabalho (FERREIRA, 2006).

Esta técnica se encontra também descrita no trabalho de Pincherle e

colaboradores (1985).

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• Técnica de Indução com visualização

Indicada para quem tem capacidade imaginativa, pede-se ao paciente

que recrie um lugar de sua preferência, descrevendo-o em detalhes. Observar se o

paciente consegue reproduzir, atentando para quesitos como rapidez, habilidade em

imaginar e intensidade. Aprofundar a indução hipnótica dando sugestões de bem-

estar, sentimentos positivos e depois continuar com as sugestões específicas do

tratamento (FERREIRA, 2006).

Pincherle e Colaboradores (1985) colocam esta técnica como

visualização cênica, aplicada em estado sonambúlico, em que o paciente é induzido

a criar alterações de sentido: “Imagine agora que você está na praia, olhando para o

mar. Está passando um barco com a vela ao vento... Você está vendo o barco? Olhe

fixamente para ele” (1985, p. 49).

• Técnica da Fixação do olhar

Bernheim foi quem desenvolveu esta técnica, sendo mais tarde

aperfeiçoada por Moss (FERREIRA, 2006). Comodamente sentado e relaxado, o

paciente fixa o olhar num objeto brilhante ou no dedo do especialista a uma distância

aproximada de 35 a 45 centímetros. A partir daí, vão sendo dadas sugestões verbais

de relaxamento, aprofundamento da respiração, sensação de peso nas pernas, no

corpo inteiro, até induzi-lo a um sono agradável e profundo, momento em que se

inicia a terapêutica especificamente. Pincherle e colaboradores (1985) mencionam

que Berheim costumava gesticular quando o paciente resistia à sugestão.

• Técnica da contagem associada aos movimentos oculares

Paciente reclinado de modo confortável, braços sobre as coxas. Como

nas anteriores, explicar o significado das palavras e o exercício a ser feito. O

especialista vai contando a partir do 1, dando tempo ao paciente para abrir e fechar

os olhos até o número 30. Instruí-lo de que com o número 1 ele deve fechar os olhos

e ao dizer o número 2, ele deve abrir, suavemente. Durante o processo, aplicar

sugestões de peso nas pálpebras de modo crescente, assim como sensação de

formigamento, calor, até seu fechamento completo. Estender as sugestões ao corpo

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inteiro, parte por parte. A volta ao estado normal de vigília se dá com a contagem ao

inverso, até o completo despertar.

Uma variação desta técnica é apontada em Psicoterapias e estados de

transe, de Pincherle e Colaboradores (1985). Nela, os autores descrevem a

sequência inicial, a começar pela contagem do 1 em diante, devendo o paciente

fechar e abrir os olhos a cada número dito, sem esperar pelo número seguinte.

Simultaneamente, o hipnoterapeuta vai aplicando as sugestões diretivas.

• Abordagem Ericksoniana

A variedade de técnicas de Erickson dá ao paciente liberdade de

“escolher” qual delas melhor se coloca para o sucesso de seus problemas,

favorecendo que ele mesmo desenvolva novas atitudes e crenças. Por esse

procedimento, Erickson obteve considerável sucesso, dado que o paciente age de

modo a suspender em parte as limitações que atuam sobre o consciente e permite

que um novo conjunto de atitudes promova a mudança.

Esta técnica consiste em reduzir o foco atencional do paciente, facilitando

alterações nas condutas normais de direção e controle. Desse modo, ele recebe

melhor as sugestões e coloca em curso o conjunto de respostas adequadas ao seu

caso.

Ferreira (2006) indica o uso de uma fraseologia indireta, vaga, de

analogias e metáforas (características distintivas do trabalho de Erickson),

permitindo ao paciente sentir ou não, dar a ele poder para realizar ou não uma ação.

Esta aparente liberdade é que direciona o trabalho terapêutico. Outro recurso é

apresentar idéias antagônicas quando o paciente responde com ação invertida. No

entanto, o autor sugere que a observação é sempre importante, pois permite que se

incorpore à indução movimentos feitos pelo paciente.

Sobre esta especial habilidade de Erickson, Pincherle e colaboradores

(1985) sustentam que o renomado hipnoterapeuta se permitia dizer que seus

pacientes praticamente não ofereciam resistência ao trabalho hipnótico, haja vista o

bem elaborado rapport que Erickson estabelecia com o paciente.

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• Técnica do Levantamento de mão

Outra técnica criada por Erickson e que requer habilidade específica do

hipnólogo, esta vai mudando de momento a momento a fraseologia, baseada na

observação imediata das reações do paciente, em especial as não-verbais. Mais

demorada, esta técnica proporciona a participação ativa do paciente e é indicada a

quem sofre com processos ansiosos com reflexo muscular (FERREIRA, 2006).

Erickson, Hershman & Secter (2003) reportam esta procedimento como técnica

indireta permissiva.

Com as mãos sobre as coxas, induzir o relaxamento, concentrando a

atenção nas mãos, nas sensações e nos movimentos. A cada movimento feito, ir

modificando as frases de modo a ressaltar para o paciente o que ele fez. Ferreira

(2006) menciona a sugestão de Kirsch (1990) nas situações em que o paciente não

executa as sugestões conforme as especificações do hipnoterapeuta. Diante de

situações como essa, deve-se sugerir peso nos braços, ou indicar se braço

esquerdo ou direito. Pode-se também sugerir que o paciente está carregando algo

pesado e por isso não consegue mover o braço. Depois de executados todos os

passos, dar início à sequência terapêutica normalmente.

• Técnica dinâmica

Inicia com a sessão de relaxamento, pedindo ao paciente que se ajuste

confortavelmente à poltrona e feche os olhos. Pode ser feita também com a

sugestão de preferência do especialista para depois entrar com a técnica dinâmica.

Esta consiste em expor uma sequência de fatos como se ocorridos

verdadeiramente, tomando por base as respostas do paciente, sempre atento às

defesas que ele pode apresentar, até sua cessação definitiva. Ferreira (2006)

antecipa que se trata de uma técnica bastante complexa, uma vez que não se

podem prever antecipadamente as reações do paciente, exigindo, portanto grande

habilidade do hipnólogo.

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• Indução por movimentos alternados repetidos

Indicado para uso com pacientes ansiosos e inquietos (geralmente

pessoas negativistas), nesta técnica Ferreira (2006) aconselha a utilização de

movimentos de extensão e flexão nos braços, embora possam ser usados tanto nos

membros inferiores quanto superiores (observar anteriormente se há limitações por

parte do paciente quanto à mobilidade dos órgãos). A técnica começa por explicar

detalhadamente as partes do corpo, ao mesmo tempo em que fala exatamente o

nome de cada uma, uma vez que é objetivo da técnica dirigir o foco de atenção. As

sugestões são dadas com o consequente movimento do especialista em direção ao

órgão apontado, situação que Ferreira detalha: “Agora eu seguro o seu braço direito

[...] tocando aqui com o martelinho de pesquisar reflexos do neurologista”

(FERREIRA, 2006, p.237). A certo tempo, dar indicação de contagem para que ele

realize algum tipo de movimento até percebê-lo totalmente relaxado e pronto a

seguir com as sugestões terapêuticas.

Esta técnica é também apresentada sob o nome de Fenômenos

Corporais por Pincherle e Colaboradores (1985).

• Técnica de confusão mental

Técnicas especiais para superar o crivo crítico, em que a consciência do

paciente é orientada para a confusão, Ferreira (2006) aponta que elas são pouco

utilizadas. Ela começa com a orientação ao paciente para que abra e feche os olhos

a partir de sugestões numéricas: números pares abrem os olhos e números impares

fecham. Na sequência do trabalho, começa em ordem decrescente de numeração,

com indicação de abrir e fechar os olhos. Quando percebe que o paciente está

respondendo positivamente, dar sugestões quanto ao aprofundamento do estado

hipnótico, ao mesmo tempo em que o induz ao esquecimento de números pares e

impares. Estas informações visam confundir o inconsciente enquanto a mente se

ocupa da contagem, provocando o que Ferreira (idem) chama de sobrecarga

sensorial.

Já para Erickson, Hershman e Secter (2003), esta técnica é bem indicada

nos casos em que há “[...] uma resistência inconsciente confusa da parte do

indivíduo que conscientemente quer ser hipnotizado” (p. 145). Tal como Ferreira, os

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autores referem o alto grau de habilidade e experiência por parte do hipnoterapeuta

como condição chave para o sucesso desta técnica.

• Procedimento de Indução Hipnótica ativa-alerta

Com o uso de uma bicicleta ergométrica fixa, o paciente é orientado a

permanecer de olhos abertos, pedalando, ao mesmo tempo em que recebe

instruções de destacar o estado de alerta, cuja velocidade das pedaladas vai

aumentando e diminuindo respectivamente. Nesta técnica, sugestões que provocam

o relaxamento ou sonolência não são utilizadas. No entanto, Ferreira (idem) refere

que estudos conduzidos por Bányai em estados hipnóticos de ativa-alerta em

Psicoterapia apontam que há um incremento responsivo das sugestões, “[...]

sensação de abandono da planificação do ego, sensação de que a atenção está

altamente focalizada, desvio lateral que facilita o processamento pelo hemisfério

cerebral direito” (FERREIRA, 2006, p. 239). O autor argumenta que em pacientes

com histórico de dispnéia, problemas cardíacos, muito idosos ou com dificuldade de

articulação nos joelhos esta técnica não deve ser utilizada.

• Técnicas Rápidas

Com o uso de frases curtas e simples, o paciente é levado ao

relaxamento, técnica que Furst (1994) denomina de Técnicas de pouca conversa. O

autor considera que longas conversas e descrições minuciosas do que é e como se

percebe o estado hipnótico é contraproducente. Para ele, é mais válido que o

hipnoterapeuta procure estabelecer desde o início um bom entrosamento com o

paciente. Em seu livro Hipnotismo e auto-hipnotismo de indução rápida, Furst revela

mais de vinte técnicas de indução rápida, utilizando-se de vários mecanismos e

para as mais variadas idades. Contudo, reforça que enquanto algumas são mais

indicadas numa faixa etária, outras são mais precisas quando utilizadas em outra

faixa de idade. A técnica Mancha de Tinta apresentada aqui é indicada para

crianças com idade entre três a seis anos, utilizada anteriormente por Kashiwa

(FURST, 1994) em casos de acidentes com crianças que exigiram pontos.

Com a criança sentada, a mão direita no colo, palmas viradas para baixo,

coloca-se um pingo de tinta nas costas da mão direita, ao mesmo tempo em que o

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especialista diz para a criança olhar atentamente, pois a mancha de tinta vai subir

devagarinho, até ficar cada vez mais próxima da testa. A sugestão continua com o

hipnoterapeuta dizendo à criança que por mais força que ela faça para deixar a mão

suja de tinta longe da testa, mais rápido ela se aproxima, e à medida que vai se

aproximando, a cabeça vai ficando pesada e os olhos vão se fechando. O autor

comenta que em raras situações a sessão terapêutica não se reproduziu deste

modo, e cujo ponto de checagem ele descreve como “[...] esperar até ver a mão da

criança começar a subir” (FURST, 1994, p. 24).

• Procedimentos a partir de respostas naturais

Considerada como um fenômeno comum nas tarefas diárias, a hipnose é

facilmente verificável quando a pessoa treinada se depara com a situação na clínica.

Ferreira (2006) assinala como respostas espontâneas mais comuns a modificação

da respiração, do relaxamento muscular (em especial da face), dos músculos das

mãos e braços, o olhar desfocado, movimentos automáticos na cabeça, face,

pálpebras, narinas, extremidades (dedos), tremor nas pálpebras, alterações na

pupila e na cor da pele.

• Procedimento a partir da conversa de um cenário

Consiste em oferecer ao paciente uma variedade de cenários em que ele

gostaria de estar e que lhe causa bem-estar, descrevendo de forma visual estes

cenários. Numa segunda etapa, descreve-se o cenário usando-se representações

visuais e cinestésicas, sempre observando as reações do paciente, adaptando a

narrativa sob todos os aspectos ao conjunto de respostas observadas. É importante

que o especialista ajuste seu padrão de atividade ao do paciente e quando o

especialista muda, observar se o paciente também muda, um sinal de que o rapport

está estabelecido (Idem).

• Técnica Subliminar sonora

Mensagem subliminar é uma informação enviada sub-repticiamente ao

inconsciente humano. A técnica subliminar sonora se obtém com o uso de música,

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palavras, frases, sons ambientais, que articulados, são usados para reprogramar o

subconsciente. Ferreira (2006) salienta que numa gravação criada com a própria

voz, somada a um fundo musical ou ambiental, na qual se associa uma

programação subliminar, esta alcança o inconsciente diversas vezes no decorrer da

audição.

O autor frisa, contudo, a falta de evidências de que as fitas de áudio e

vídeo comercializadas com sugestões subliminares produzam resultados

unicamente pelo teor das palavras ali contidas. Refere ainda que há indícios de que

a expectativa pessoal quanto aos resultados seja responsável por resultados

positivos com seu uso.

3.7 Estágios da hipnose

Os estudos feitos por Ferreira (2006) apontam para uma tendência a não

se determinar o grau de profundidade do estágio hipnótico do paciente por escalas,

tendo em vista a grande variedade de respostas postas em relação a um grande

número de sujeitos. Para ele, tem mais valor chegar à anamnese do paciente e

começar a indução hipnótica a partir disso, treinando-o desde a primeira sessão

para as respostas desejadas no futuro. Ilustra esta questão com um paciente que

queira, por exemplo, deixar de fumar: “[...] iremos sugerir que quando um cigarro

tocar em seus dedos, seus dedos se abrem [sic] e se estendem [sic] e o cigarro cai

[sic] no chão, então já iniciamos com sugestões de rigidez nos dedos de uma ou de

ambas as mãos” (FERREIRA, 2006, p.164).

Como justificativas para este procedimento, o autor coloca, além das

diferenças personalíssimas entre os pacientes, variações também conforme a

natureza da consulta, o tipo de sugestões oferecidas e como estas são

disponibilizadas ao paciente, o modo pelo qual este percebe as sugestões e as

associações que faz a partir delas.

Precisamente por estas diferenças é que Ferreira (2006) prefere avaliar a

profundidade hipnótica a partir da subjetividade do paciente. Assim, é possível

acrescentar informações extras específicas e relacionadas com as experiências da

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pessoa, bem como apresentar situações contrastantes, orientando o paciente a

perceber que emoções ele associa a cada situação em especial.

Abaixo está representado o quadro de aprofundamento do transe

hipnótico segundo a escala de Torres Norry, modificada por Moraes Passos e

Pincherle & Colaboradores (PINCHERLE & COL., 1985, p. 44).

ESCALA DE TORRES NORRY (mod. Por Moraes Passos)

Fase Hipnoidal

� Manifestar fenômenos oculares e corporais Relativamente aos fenômenos de catalepsia ocular e analgesia, podem ser propostos desafio e apagamento

Hipnose

Leve

• Manifestar catalepsia palpebral (os fenômenos catalepsia braquial, catalepsia geral e relaxamento geral estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)

Hipnose Média

• Analgesia • Surdez eletiva • Signo-sinal • Aceitar sugestão hipnótica simples (Movimento automático, sono e amnésia superficial estão presentes apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)

1º sugestão pós-hipnótica

Hipnose Profunda

• Manter uma conversação estando em estado hipnótico • Abrir os olhos mantendo o estado hipnótico • Amnésia superficial (Aceitar sugestões de representações alucinatórias está presente apenas na escala de Torres Norry (NATALY, 1999, p.90)

Fase Sonambúlica

• Visualização cênica • Alucinação • Anestesia profunda • Regressão de idade • Amnésia profunda • Sugestões pós-hipnóticas

Natural ou induzida

Tabela 10 – Fonte: Pincherle & Col., 1985

Os autores atentam para a existência de diferentes escalas, não sendo

condição essencial, portanto, a reprodução exata desta sequência, tendo em vista

que as situações variam de acordo com o sujeito/paciente.

O fato de Ferreira (2006) preferir a não-utilização de escalas para medir a

intensidade da indução hipnótica não invalida sua prática por outros profissionais.

É nesse sentido que comenta sobre as escalas desenvolvidas por Morgan

e Hilgard em 1978 – 1979, uma para ser usada em adultos e outra em crianças. Pela

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Stanford Hypnotic Clinical Scale (SHCL), é possível avaliar, segundo seus criadores,

as habilidades do paciente em mover as mãos juntas, alucinações a partir de

sugestão, regressão de idade, execução de atividades pós-hipnóticas simples e

amnésia parcial ou completa (FERREIRA, 2006).

O autor comenta também sobre as SSTA (sugestões para sintonização,

treinamento e aproveitamento), onde o aspecto subjetivo das experiências é

realçado de modo a se atingir um resultado positivo (Idem).

Os estudos feitos por Erickson, Hershman e Secter (2003) apontam para

as características a serem observadas durante o estado hipnótico, porém

distribuindo-as por estágio de transe: leve, médio, profundo ou pleno (estupor), as

quais se encontram relacionadas no quadro abaixo:

CARACTERÍSTICAS A OBSERVAR NO ESTADO HIPNÓTICO

Transe leve • Relaxamento • Catalepsia das pálpebras • Fechamento dos olhos • Início catalepsia em algum membro • Respiração lenta e profunda • Imobilização dos músculos faciais • Começando catalepsia dos membros • Sensação de peso em várias partes do corpo • Hipnoanestesia glove anesthesia • Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples

Transe médio • Amnésia parcial (alguns indivíduos) • Atividade muscular lenta definida • Aptidão para ilusões e alucinações simples • Aumento da sensação de ‘desprendimento’ • Marcante catalepsia dos membros • Aptidão ao desempenho de sugestões pós-hipnóticas simples

Transe profundo • Aptidão para manter o transe com olhos abertos • Amnésia total (maioria dos indivíduos) • Aptidão no controle de algumas funções orgânicas (pulso, pressão) • Anestesia cirúrgica • Regressão de idade e revivificação • Alucinações auditivas e visuais positivas e negativas • Aptidão para ‘sonhar’ material significativo • Aptidão para desempenhar tudo ou quase tudo do que está acima do

estado pró-hipnótico Transe pleno ou estupor

• Acentuada lentidão das respostas orgânicas e quase completa inibição de atividade espontânea (os autores colocam que diferenças podem ser apresentadas de indivíduo para indivíduo em quaisquer dos estágios de transe)

Tabela 11 – Fonte: Erickson, Hersman & Secter, 2003

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4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA

A hipnose ganhou respeito na medicina principalmente pelos efeitos na

analgesia, cuja abordagem tem sido usada por milênios para tratar problemas

médicos e dermatológicos. Desordens dermatológicas podem ser melhoradas ou

curadas com o uso da hipnose como uma terapia complementar ou alternativa

(SHENEFELT, 2003).

Além disso, recentemente muitos experimentos clínicos controlados

usando a hipnose para regular a dor vêm sendo referidos por Stam (1984), assim

como os de Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) sobre a enurese, como também

estudos de Raz, Fan e Posner (2005) e a utilização de imagens para captar

atividades cerebrais durante o processo hipnótico.

4.1 Hipnose na Clínica Médica

Após a referendação pelo Conselho Federal de Medicina, o uso da

hipnose vem ganhando espaço em todas as áreas da clínica médica, em que

inúmeros estudos têm sido produzidos tanto no exterior como aqui no Brasil dando

conta dos efeitos positivos que a hipnose tem alcançado no sentido de dar alívio a

diversas enfermidades de cunho somático e orgânico.

Estudos conduzidos por Shenefelt (2003) na clínica dermatológica têm

demonstrado que sob efeito de indução hipnótica, a maioria dos pacientes

submetidos a procedimentos dolorosos, como tratamento a laser de lesões

vasculares, excisão de pele, microdermoabrasão forte, incisão e drenagem de

abscessos, biópias, lipoaspiração, entre outros, respondem positivamente ao alívio

doloroso, independentemente do tipo de dor referido.

O autor comenta sobre um outro estudo randomizado feito por

Montgomery, Weltz, Seltz e Bovbjerg (2002 apud SHENEFELT, 2003) em um grupo

de 20 mulheres assistidas em cuidados pré-operatórios com indução hipnótica para

biópsia de mama. Neste trabalho, os autores declararam que foram necessários 10

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89

minutos de hipnose breve para atingir a redução da dor e angústia relatadas pelas

pacientes, não só antes da cirurgia como também depois dela.

A prática de Shenefelt (2003) evidencia que a liberdade de escolha do

paciente ao autodirigir as imagens parece alcançar um maior estado de relaxamento

nos pacientes durante os procedimentos.

Estudos recentes referidos por Vale (2006) apontam para diversos

fenômenos que podem ser removidos ou produzidos com o paciente sob efeito

hipnótico. Segundo o autor, anestesia, analgesia, paralisia, rigidez de músculos e

alterações vasomotoras estão entre as alterações que se podem induzir. A sugestão

produz alterações na consciência e na memória, aumentando o poder de

sugestionabilidade, cujas reações provocam a produção de neurotransmissores

neurais na base de tais fenômenos.

A curto prazo, o autor indica o tratamento da lombalgia associado à

hipnose e a um relaxamento muscular, sendo que após passada a fase da dor, é

aconselhável um tratamento paralelo com outras técnicas, como quiropraxia,

alertando para o fato de que se deve, contudo, preservar a individualidade do

paciente.

Em pacientes esquizofrênicos, a terapêutica recomenda como o melhor

tratamento aquele prescrito com antipsicóticos. Entretanto, mais estudos vêm sendo

conduzidos no sentido de melhora nos quadros destes pacientes com o uso da

prática hipnótica, pois mesmo com o uso de medicamentos, como bem aponta

Johnstone (1998 apud Izquierdo de Santiago, 2008), “[...] entre el 5% y el 15% de las

personas siguen presentando síntomas a pesar del tratamiento con medicación”

(1998, p.2).

Nesta revisão, Izquierdo (2008) observa que existe por parte do governo

um crescente reconhecimento que beneficia as terapias alternativas na Medicina,

pois entende que os tratamentos à base de medicação nem sempre têm sucesso

com a esquizofrenia, indicando que a hipnose merece um estudo mais profundo. Por

esse motivo, segundo ele, é que “Los usuarios, cuidadores y médicos consideran

cada vez más las terapias alternativas para aliviar los sintomas y mejorar la calidad

de vida en la esquizofrenia” (Idem, p. 10).

Estudos feitos com neuroimagens e a utilização concomitante de

sugestões pós-hipnóticas deram conta de maior efetividade em comportamentos

durante a vigília.

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90

Nestes estudos, Raz, Fan e Posner (2005) identificaram o dorso do córtex

cingulado anterior como um elemento-chave para acompanhar conflitos dentro de

uma rede neural. Os autores sustentam que sob efeito da sugestão hipnótica é

possível moderar conflitos, tendo em vista que esta os diminui sensivelmente, tanto

pela modulação precoce do córtex occipital, quanto pela posterior ativação do córtex

anterior cingulado (AAC).

Seus experimentos em um grupo de dezesseis sujeitos fizeram-nos

concluir, mediante exames com neuroimagens aplicados tanto a pacientes

hipnotizados quanto em não-hipnotizados, que a sugestão pós-hipnótica afetou o

processamento visual, embora estas alterações não se reportassem às palavras

visuais mostradas (Idem, p. 9981).

O mérito maior deste trabalho, conclui-se, está na possibilidade de

analisar o cérebro humano sob a influência da hipnose, demonstrando assim o

sensível interesse e as pertinentes contribuições que esta prática vem resgatando

na atualidade.

A figura abaixo demonstra os achados relatados pelos autores:

Fig. 8- Visão das imagens após estimulação do cérebro Fonte: Raz, Fan e Posner, 2005

4.2 Hipnose na Clínica Odontológica

Prática referendada pelo Conselho de Odontologia no Brasil, a hipnose

tem como mérito maior o de proporcionar um aumento na eficácia terapêutica em

diversas enfermidades físicas e ou somáticas.

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91

Fazendo uso da linguagem, a palavra se torna uma poderosa ferramenta

nas mãos do profissional habilitado, capaz de conduzir o paciente a um estado

especial de consciência que o permite utilizar seus recursos internos em seu próprio

benefício.

Condição fundamental para a eficácia de tal procedimento, a relação de

confiança entre paciente e profissional define desde os primeiros contatos a

possibilidade de sucesso do trabalho, uma vez que é com o sistema

representacional do indivíduo que o profissional se depara.

Amparada pela Lei 5081, publicada a 24 de agosto de 1966, em seu

artigo 6, inciso VI, diz que entre as competências do cirurgião-dentista está a de

empregar a analgesia e a hipnose, desde que habilitado e quando constituir

reconhecida eficácia ao tratamento (vide anexo III).

Diversos são os benefícios que a hipnose traz ao paciente em

Odontologia. A possibilidade de tratar o paciente no próprio consultório,

paralelamente ao tratamento e nas diversas especialidades odontológicas, faz com

que o profissional habilitado possa muitas vezes dispensar o uso de medicamentos.

Sua prática proporciona também a capacitação em ouvir o paciente e suas queixas,

o que faz com que o paciente colabore melhor com o tratamento, reduzindo o nível

de estresse de ambos. Entre as competências exigidas para um bom desempenho

em hipnose, pode-se colocar também o discernimento para empregar a técnica

quando realmente ela for indicada.

Neste trabalho, a visão do processo saúde-doença permite interpretar os

aspectos físicos e emocionais do paciente, os quais estão diretamente ligados à

cura (CFO, 2009, Práticas Integrativas).

Em Odontologia, diversos estudos têm sido relatados utilizando a

hipnose. Stam, McGrath e Brooke (1984), em estudos publicados no Journal of

BioBehavioral Medicine, sugerem os efeitos da hipnose como inibidores no

tratamento da dor temporo-mandibular, nos quais os pacientes relataram expressiva

significação no decréscimo na dor e limitações da mobilidade do maxilar.

No quadro abaixo, as atribuições do profissional odontólogo em hipnose:

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ATRIBUIÇÕES DO ODONTÓLOGO

Tratamento ou controle da ansiedade, medo ou fobia relacionados aos procedimentos odontológicos e/ou condições psicossomáticas

• Condicionamento do paciente para mudar hábitos de higiene, adaptação ao tratamento, ao uso de medicamentos, à reeducação alimentar... • Tratamento e controle de distúrbios neuromusculares e intervenção sobre reflexos autonômicos; • Preparação de pacientes para cirurgias • Preparação de pacientes para serem atendidos por outros profissionais. • Atuação na adaptação e motivação direcionada ao tratamento odontológico. • Utilização de anestesia hipnótica em casos pertinentes;

Utilização de hipnose em outros processos / situações relacionados ao campo de atuação do cirurgião-dentista.

Tabela 12 – Fonte: Conselho Federal de Odontologia

A Odontologia considera como termos correlatos à hipnose o de

hipnólogo, hipnólogo terapeuta odontológico, hipnólogo clínico, hipnodontista e

hipniatra.

4.3 Hipnose na Clínica Psicológica

Mais antiga do que a neuroanatomia, a fisiologia e a farmacologia

bioquímica, a Psicologia se coloca como a quarta disciplina mais importante para dar

conta da profunda imbricação entre cérebro e comportamento. Contudo, apenas a

partir do século XIX é que os estudos do comportamento foram abordados sob a

forma experimental com os estudos de Charles Darwin, distanciando-se então da

Filosofia (KANDEL, trad. MARIA CAROLINA DORETTO, 2009).

Regulamentada no Brasil como profissão desde julho de 1974, a

Psicologia tem como premissa básica estudar o comportamento humano enquanto

participante de um grupo social, tanto de forma individual quanto coletiva.

Em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da

Resolução 013/00, reconheceu e recomendou o uso da hipnose pelos seus

profissionais (vide anexo II).

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Uma das condições considerada indispensável ao profissional em

psicologia ao trabalhar com hipnose diz respeito à postura que este deve ter quanto

ao papel que desempenha e às possibilidades reais que a hipnose pode

proporcionar, haja vista que para o sucesso desta prática é fundamental a confiança

e a colaboração do paciente.

Entre as indicações da hipnose estão os casos de ansiedade, depressão,

tabagismo, alcoolismo, drogadição, traumas, fobias, medos, compulsão alimentar,

obesidade, distúrbios do sono, estresse, insônia, enxaqueca, etc., os quais podem

ser bastante atenuados ou até mesmo vir à remissão completa dos sintomas, pois é

preciso ter em mente que cada indivíduo possui características específicas e nem

todos respondem ao tratamento por igual.

Problemas relativos a distúrbios do sono com indicação de uso da

hipnose têm sido reportados por Hurwitz et al (1991 apud BENG-YEONG NG e TIH-

SHIH LEE, 2008). Segundo eles, após indução do transe hipnótico, com posterior

relaxamento e sugestões pós-hipnóticas com o fim de incluir sensação de segurança

e redução da ansiedade para obter um sono reparador, 74 % dos indivíduos

relataram sensível melhora no quadro.

Beng-Yegong e Tih-Shih Lee (2008) referenciam a enurese noturna como

um distúrbio de graves consequências para as crianças, incluindo uma baixa na

autoestima e estresse familiar, sendo que a hipnoterapia tem sido empregada

eficazmente para tratar crianças e adolescentes vítimas de enurese noturna

primária, associada à medicação. Contudo, os autores ressaltam que algumas

estratégias de sugestão hipnótica respondem melhor ao tratamento do que a

imipramina em crianças entre cinco e sete anos de idade (idem).

Hammond (1990 apud CABAN, 2004) demonstrou o uso da hipnose com

reconhecida eficácia para tratamento da depressão, do sofrimento, desordens

relacionadas ao apetite, do abuso de substâncias, baixa da autoestima, fobias.

Estudos conduzidos por Caban (2004) em sua tese de mestrado

procuraram demonstrar a eficiência da hipnose para melhorar o desempenho

acadêmico dos alunos do primeiro ano de graduação. Muito embora suas

conclusões tenham apontado a necessidade de novos estudos em razão de

variáveis distintas que não puderam ser adequadamente mensuradas, a autora

considera, diante do relato de vários participantes do estudo, que a hipnose produziu

efeitos positivos numa parcela expressiva da população amostrada.

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Muito embora as referências aqui tenham sido feitas a estudos recentes

sobre a hipnose, é pertinente ressaltar que estudos citados por Pincherle e

Colaboradores (1985) com datas variando entre 1973 e 1976, foram publicados no

Brasil reportando os vários usos da hipnose, tanto na clínica médica quanto

psicológica.

Assim, o que estas breves descrições de estudos realizados por

diferentes pesquisados em áreas distintas pretendem demonstrar é que a hipnose

pode e vem sendo empregada em todo o mundo como uma importante ferramenta

de apoio terapêutico nas mais diversas especialidades e doenças, não apenas de

ordem física, mas também e com bastante sucesso na área psíquica.

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5 METODOLOGIA

Entendendo-se pesquisa exploratória como a definida por Gil (2007), em

que sua principal finalidade está em “[...] desenvolver, esclarecer e modificar

conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou

hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (p.43), entende-se por extensão

que estas envolvem pesquisa bibliográfica e documental. Entre os objetivos que o

autor pontua está o de proporcionar visão geral sobre um determinado fato, “[...]

especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre

ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis “(Idem).

Assim, o presente trabalho pautou-se por uma pesquisa bibliográfica

exploratória, revisitando o histórico da Hipnose desde a Antiguidade até os tempos

atuais, procurando destacar a crescente importância que a Hipnose apresenta como

coadjuvante na terapêutica, bem como o expressivo volume de trabalhos científicos

produzidos nos últimos tempos.

A revisão de literatura abordou primeiramente o histórico da Hipnose até

os dias atuais, mostrando sua evolução no tempo. Num segundo momento, buscou

esclarecer mais pontualmente o funcionamento do cérebro e como este responde às

sugestões hipnóticas, bem como apontar os métodos de trabalho pertinentes ao

tema, em quais situações ela pode ser usada e sua aplicação nas práticas

medicinais, odontológicas e na psicologia clínica. O presente estudo apresentou

ainda as bases legais que fundamentam esta prática aqui no Brasil e sua evolução

até o momento atual. A presente revisão de literatura visou fornecer elementos

teóricos necessários à compreensão dos objetivos deste trabalho.

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6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

À luz de todas as leituras selecionadas, amparadas em evidências

consistentes quanto aos benefícios da prática hipnótica na redução e ou eliminação

de diversas patologias de ordem física e ou somática, percebe-se o quanto a

hipnose avançou nas últimas décadas

Em que pese revisões recentes da literatura de que o que aconteceu na

verdade com os estudos freudianos foi uma interpretação errônea quanto aos ditos

do pai da psicanálise, isto não invalida o fato de que por muitos anos a hipnose foi

largada ao ostracismo em favor de práticas mais aceitas pela classe médica.

Ao relacionar os dados empíricos com aqueles resultantes da prática

diária na clínica, percebem-se mais claramente as dificuldades de se chegar a um

consenso entre os teóricos, visto que a pesquisa em laboratório está circunscrita a

um espaço, a variáveis previamente definidas, em que a tendência do pesquisador é

a de generalizar dados. Na clínica acontece o oposto, pois o cliente já chega

individualizado, com motivações intrínsecas que lhe são próprias.

Também cumpre notar que ao contrário dos estudos iniciais da hipnose,

em que se buscavam mais as explicações sobre o estado hipnótico do que as

alterações produzidas no cérebro humano, percebe-se hoje um aumento no nível de

exigência das pesquisas relativas à hipnose, em que estas têm procurado explicar

mais pontualmente os aspectos que envolvem a ativação do cérebro humano pela

indução hipnótica, os receptores, os circuitos neurais, os neurotransmissores. Isto é

uma grata surpresa para todo aquele que já a conhece pelos referenciais de

Mesmer, Freud, Charcot e Erickson, isso citando apenas os mais notáveis quanto à

prática hipnótica.

No entanto, não obstante os inúmeros estudos experimentais feitos em

laboratório, aliado aos incontáveis estudos de caso produzidos por cientistas

interessados em desvelar a mente humana e assim explicar o funcionamento do

cérebro sob o efeito da hipnose, há ainda um longo caminho a percorrer.

É preciso, ainda, considerar que mais do que a sintomatologia específica

que o paciente apresenta quando vem ao especialista, a atenção deve

obrigatoriamente se voltar para os conceitos que envolvem sofrimento e dor. Isso se

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revela especialmente pela escuta atenta do terapeuta quando o paciente chega,

uma vez que nem sempre o que ele relata é essencialmente real. Entretanto, esta

realidade é inegável do ponto de vista que ele sofre (grifo meu).

Especialmente nos casos de dor há sempre um aspecto subjetivo que

envolve este conceito e por essa razão Costa (1992 apud BRANT & MYNAIO, 2004)

reputa sofrimento como uma consequência da prática linguística, pois

Somos aquilo que a linguagem nos permite ser, acreditamos naquilo que ela permite acreditar, só ela pode fazer-nos acreditar em algo do outro como familiar, natural ou, pelo contrário, repudiá-lo como estranho, antinatural e ameaçador (COSTA, 1992, apud BRANT & MINAYO, 2004, p. 215).

Por esta linha de raciocínio, é possível supor então que o intelecto seja

capaz de produzir sintomas, e indo um pouco mais além, estes tanto podem se

verificar de forma positiva quanto negativa, ficando a cargo do crivo crítico do

indivíduo decidir para que lado penderá. Se bem equilibrado sob os aspectos que o

compõem na sua natureza humana, é possível predizer que positivamente.

Entretanto, quando desordens de qualquer espécie estiverem se processando na

mente do indivíduo, sejam estas de natureza física ou somática, a mente humana

certamente operará negativamente.

Assim, ao analisar esta capacidade de acreditar naquilo que deseja, é

possível aproximá-la do que a hipnose se propõe enquanto prática terapêutica: ou

seja, pela palavra, pelo som ou pelo gesto, produzir alterações na percepção do

sujeito, levando-o a modificar comportamentos que se traduzem em sofrimento e

assim devolver-lhe uma qualidade de vida plena, objetivo maior do humano

enquanto ser.

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7 CONCLUSÃO

Tão antiga quanto a própria humanidade, a hipnose está presente na vida

do homem desde o início dos tempos, como atestam diversos estudos aqui

apresentados. No começo, mesmo com uma técnica sem base científica, conquistou

a adesão de leigos e cientistas em cada época, dada a eficácia que demonstrou na

cura e ou melhora de diversos casos de enfermidades do corpo e da mente.

Estudos esses que percorreram o mundo, pois em cada canto dele se

acham vestígios de sua aplicação, longos tratados sobre a prática hipnótica que

serviram de inspiração às gerações que os sucederam.

Não obstante as inúmeras contribuições de Charcot ao campo médico, é

indiscutível a estreita relação que marcou a hipnose com as histéricas de

Salpêtrière, em que estes casos transformaram a prática hipnótica num espetáculo

de variedades. Junte-se a isso a marcada influência que a igreja exercia nos

regimes governamentais da época, nada restou à hipnose senão o esquecimento.

Com o passar dos anos, entretanto, o véu da invisibilidade que se havia

jogado sobre a hipnose foi sendo levantado e novos nomes surgiram no cenário

mundial, produzindo evidências concretas acerca de seus benefícios em favor de

múltiplas enfermidades.

Neste resgate, chega-se ao século XXI com estudos cada vez mais

conclusivos a respeito de sua eficácia, ao mesmo tempo em que o homem também

percebe quanto ainda há por desvendar sobre os mistérios do inconsciente humano.

Cumpre ressaltar, portanto, que em se tratando de ciência, a verdade não

pode ser considerada nem absoluta e muito menos acabada, tendo em vista a

dinamicidade das situações e fenômenos a que a humanidade está sujeita, num

permanente devir.

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ANEXOS

ANEXO I

Parecer CFM nº 42/99

PROCESSO-CONSULTA CFM Nº 2.172/97 PC/CFM/Nº42/1999

ASSUNTO: Hipnose médica

INTERESSADO: Plenário do Conselho Federal de Medicina

RELATOR: Cons. Paulo Eduardo Behrens Cons. Nei Moreira da Silva

EMENTA: A hipnose é reconhecida como valiosa prática médica, subsidiária de

diagnóstico ou de tratamento, devendo ser exercida por profissionais devidamente

qualificados e sob rigorosos critérios éticos. O termo genérico adotado por este

Conselho é o de hipniatria.

PARTE EXPOSITIVA

Ao analisarmos consulta feita a este Plenário sobre a utilização de termos

como hipniatria ou hipnoanálise, impressos em receituários médicos, fizemos

considerações acerca da prática da hipnose como valioso elemento auxiliar em

diversos tratamentos. A decisão deste Plenário foi a de apresentar um novo parecer

que pudesse subsidiar os conselheiros na análise da pertinência desta prática, no rol

das atividades médicas. Desta forma, foi constituída uma comissão para estudar o

assunto, composta pelos conselheiros Nei Moreira da Silva e Paulo Eduardo

Behrens, que, após diversas reuniões com médicos praticantes e interessados na

hipnose e juntada de farto material, passam a apresentar, à apreciação do Plenário,

o presente parecer.

PARECER

A hipnose

- Histórico (extraído de trabalho do dr. Mozart Smyth Junior) Com uma grande

variedade de nomes, a hipnose é utilizada por milênios como uma forma de atuar no

comportamento humano. Os antigos egípcios (2.000 a.C.) já utilizavam

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empiricamente encantamentos, amuletos, imposição das mãos, sem se darem conta

da imaginação e sugestão envolvidas nesses procedimentos.

Anton Mesmer (1734-1815) desenvolveu a tese do "magnetismo animal" e de que o

realinhamento das forças gravitacionais poderia restaurar a saúde. Seus discípulos

entenderam que o processo essencial envolvido era a "sugestão", algo desenvolvido

pelo próprio indivíduo.

James Braid (1784-1860) criou o termo hipnose, derivado do grego (hypnos = sono)

James Esdaile (1808-1899) realizou várias intervenções cirúrgicas usando somente

a hipnose para produzir efeito anestésico.

Jean Martin Charcot (1825-1893) notabilizou-se pelas curas hipnóticas da histeria, o

que levou ao início do estudo científico da hipnose.

Em 1885, Josef Breuer publicou, juntamente com Freud, o famoso caso Anna O.

como "Estudo sobre a histeria". A partir daí, Freud iniciou a prática da hipnose,

sendo, à época, largamente utilizada na Europa.

O interesse pela hipnose teve seu recrudescimento durante a Primeira e Segunda

Guerras Mundiais como forma de tratamento das neuroses traumáticas de guerra.

A Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo, na expectativa de homogeneizar a

terminologia adotada pelas diversas correntes, definiu a seguinte nomenclatura:

HIPNOSE - Estado de estreitamento de consciência provocado artificialmente,

parecido com o sono, mas que dele se distingue fisiologicamente pelo aparecimento

de uma série de fenômenos espontâneos ou decorrentes de estímulos verbais ou de

outra natureza.

HIPNOLOGIA - Estudo da natureza da hipnose e investigação científica de seus

fenômenos e repercussões

HIPNOTERAPIA - Terapia feita através da hipnose

HIPNOTISTA - Profissional que pratica a hipnose

HIPNIATRIA - Procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose como parte

predominante do conjunto terapêutico

DEHIPNOTIZAR - Ato de retirar o paciente do transe hipnótico.

A referida Sociedade observa que o termo mais adequado para o tratamento

médico feito através da hipnose pura ou combinada com fármacos é a hipniatria,

solicitando, deste Conselho, a sua oficialização.

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Este termo foi criado em 1968 pelos professores Miguel Calille Junior e Antônio

Carlos de Moraes Passos, sendo unanimemente considerado por todas as escolas

de hipnose no Brasil.

Esta nomenclatura deveu-se à demanda do Departamento de Hipnologia, numa

analogia com algumas especialidades médicas (Pediatria, Psiquiatria, Foniatria,

Fisiatria, etc.), onde o sufixo latino "iatria", significa cura.

- A Hipnose no mundo

Atualmente, existem várias sociedades, em todo o mundo, que atuam na prática da

hipnose:

Society for Clinical and Experimental Hypnosis

The American Society of Clinical Hypnosis

International Society of Hypnosis

The Australian Society of Hypnosis

Sociedade Brasileira de Hipnose

Associazione Medica Italiana per lo Studio dell'a Ipnosi

The British Society of Medical and Dental Hypnosis e várias outras.

Há profissionais médicos trabalhando com hipnose em várias universidades:

Cambridge Hospital - Harvard University of Chicago

University of Kansas Regional Burn Center - Dallas Benemerita

Universidad Autonoma de Puebla - México

Alguns Conselhos diplomam e titulam profissionais em hipnose:

American Board of Medical Hypnosis

American Board of Psychological Hypnosis

American Board of Hypnosis in Dentistry

American Hypnosis Board for Clinical Social Work

Algumas instituições internacionais já se posicionaram sobre a Hipnose Médica,

reconhecendo-a como auxiliar terapêutico útil na Medicina:

Associação Médica Americana - 18 de setembro de 1958

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"A Hipnose é um auxiliar terapêutico valioso e os que a empregam,

devem conhecer os seus fenômenos complexos, seus ensinamentos são privativos

de médicos e do odontólogo. Quem a emprega deve conhecer suas indicações e

limitações. Não se deve aprender apenas a técnica."

Associação Médica Britânica - 23 de abril de 1955

"A Hipnose é útil e pode, em certos casos, ser o tratamento de escolha

dos distúrbios psicossomáticos e das neuroses."

Associação Psiquiátrica Americana - 15 de fevereiro de 1961

"Reconhece-se o valor da Hipnose como auxílio na pesquisa, diagnóstico

e terapêuticas tanto em Psiquiatria, como em outras áreas da prática médica."

Organização Mundial da Saúde - outubro de 1974

"A Hipnose moderna é hoje o maior avanço da Psiquiatria. Atua no campo

terapêutico, enquanto os estudos da bioquímica o são no estudo das etiologias."

Revista Brasileira de Medicina - julho de 1998

"Menosprezar a importância de Hipnose, hoje em dia, representa, além de

opor-se aos diversos relatórios elaborados por comissões especializadas no mundo

inteiro, fechar os olhos aos recursos por ela oferecidos. Se existem (ou existiram)

hipnólogos ou hipniatras mal preparados, também existem profissionais de baixa

qualidade em quaisquer outras especialidades. É a partir da grande parte dos bens

qualificados, porém, que as técnicas ganham cada vez mais adeptos."

- A hipnose no Brasil

No Brasil, além da Sociedade Brasileira de Hipnose (sociedade científica

vinculada à AMB) existe o Departamento de Hipniatria da Associação Médica de

Minas Gerais e a Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo.

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Em 1961, o então presidente da República, Jânio Quadros, assinou o

Decreto n.º 51.009, ainda em vigor:

"Proíbe espetáculos ou números isolados de hipnotismo e letargia, de

qualquer tipo ou forma, em clubes, auditórios, palcos ou estúdios de rádio ou de

televisão, e dá outras providências.

Art. 1º - Ficam proibidas, em todo o território nacional, as exibições

comerciais...

Art. 2º - Ficam excluídas da proibição de que trata o presente Decreto, as

demonstrações de caráter puramente científico, sem fito de lucro, direto ou indireto,

executadas por médicos com curso especializado na matéria.

Parágrafo único - As demonstrações a que alude este artigo dependerão

sempre, de aprovação prévia da autoridade competente de cada Estado da

Federação, Distrito Federal e Território onde forem promovidas, salvo quando

realizadas em estabelecimento de ensino e para fins didáticos".

• Aspectos científicos

Um breve sumário da utilização da Hipnose Médica, pode ser apresentado

nos seguintes grupos:

a. Como uma técnica que promove saúde e exercícios profiláticos em indivíduos

sujeitos a estresse;

b. Como um método através do qual o indivíduo pode controlar funções autonômicas

e, deste modo, superar sintomas desagradáveis ou perturbações autônomas;

c. Como um tratamento para uma ampla variedade de condições psicossomáticas;

d. Como um subsidiário na psicoterapia, liberando memória reprimida e sensações,

especialmente produzindo catarse em pacientes que sofrem de sintomas histéricos;

e. Como um método que alivia dor e induz anestesia.

Um outro agrupamento das aplicações da hipnose foi sugerido pelo Dr.

Antônio Carlos de Moraes Passos, da Escola Paulista de Medicina e fundador da

Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo:

A hipnose tem sido usada:

a. Para o alívio da dor, produzindo anestesia ou analgesia;

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b. Nos diferentes setores da clínica e cirurgia, notadamente em obstetrícia;

c. Como tranqüilização [sic] para o alívio dos estados de ansiedade a apreensão,

qualquer que seja a sua causa;

d. Em qualquer condição na qual a psicoterapia possa ser útil;

e. No controle de alguns hábitos (ex.: tabagismo);

f. Experimentalmente em qualquer pesquisa, no campo psicológico e/ou

neurofisiológico, e outros.

Paralelamente, o mesmo autor indica onde a hipnose não deve ser usada:

a. Na remoção de sintomas, sem primeiro se saber a que finalidade servem [sic];

b. Em qualquer condição onde o estado emocional do paciente não foi determinado;

c. Sem objetivo definido, apenas para satisfazer insistentes pedidos do paciente;

d. Para abolir determinadas sensações, a fadiga [sic] por exemplo, o que pode levar

o paciente a ir além dos limites de sua capacidade física;

e. Em psicóticos, a hipnose só pode ser usada por um psiquiatra experiente, tendo

em conta que não constitui uma boa indicação e pode até ser contra-indicada como

na esquizofrenia, em que pesem opiniões contrárias, como Wolberg, Gordon,

Worpell, entre outros.

Praticada essencialmente por médicos, odontólogos e psicólogos a hipnose

tem suas principais indicações em:

Distúrbios

- Da ansiedade

- - ansiedade em suas diversas formas

- - estresse

- - fobias

- - síndromes pós-traumáticas

- Depressão

- Alimentares

- do sono

- Sexuais

- Do relacionamento conjugal e familiar

- Da personalidade

Drogadição

Doenças psicossomáticas

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Síndromes dolorosas agudas e crônicas

- Analgesia

- Anestesia

Preparo para exames invasivos e durante sua realização

Preparo pré-operatório, no per e pós-operatório

Na abordagem de patologias diversas, em conjunto com as diversas especialidades

médicas

Diversas publicações científicas, nas mais diversas áreas, corroboram tais

indicações e a eficácia da hipnose como método auxiliar de tratamento:

Disfunções sexuais

1 . A impotência sexual e seu tratamento/ The sexual impotence and its treatment, in

Inf. Psiquiátrico; 14 (3), julho-set. 1995.

2. Influência social. As estratégias Ericksonianas e o fenômeno hipnótico no

tratamento das disfunções sexuais. Stricherz-ME in American Journal of Clinical

Hypnosis. Jan. 1982

Câncer

1 . Impressões sobre o tratamento do câncer pela hipnose. Strosberg-IM in J. Am.

Soc. Psychosom-Dent-Med. 1982.

2 . Controlando os efeitos colaterais da quimioterapia. Redd-WH; Rosenberger-PH;

Hendler-CS in Am. J. Clin Hypn .1982.

3. Dessensibilização hipnótica no tratamento preventivo dos vômitos por

quimioterapia. Hoffman-ML in Am J Hypn. 1982.

Cardiologia

1. A hipnose nos distúrbios cardiovasculares com ênfase na correção da

hiperventilação crônica. Thomas-HM in Act Nerv Super Praha. 1982.

2 . O efeito da hipnose no intervalo RR e na variação da pressão sangüínea. Emdin-

M; Santarcangelo-EL; Picano-E; Raciti-M; Pola-S; Macerata-A; Michelassi-C;

L'Abbate-A from CNR Institute of Clinical Physiology, Pisa, Italy in Clin Sci Colch.

1996.

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Gastrenterologia [sic]

1. Tratamento hipnoterápico para disfagia. Kopel-KF; Quinn-M from Baylor College

of Medicine, Houston, Texas, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996.

2. O uso da hipnoterapia nos distúrbios gastrointestinais. Francis-CY; Houghton-LA

from Department of Medicine, University Hospital of South Manchester, UK in Eur J

Gastroenterol Hepatol. 1996.

Dependência de drogas

1. O uso de técnicas de sugestão com adolescentes no tratamento da inalação de

cola de sapateiros e abuso de solventes. O'Connor-D in Hum Toxicolo. 1982.

2. Determinantes da sugestão para o tratamento do alcoolismo. Room-R; Bondy-S;

Ferris-J from Research and Development Division, Addiction Research Foundation,

Toronto, Ontario, Canada in Addiction. 1996.

Outras aplicações

1. Auto-relaxamento hipnótico durante procedimentos radiológicos invasivos. Lang-

EV; Joyce-JS; Spigel-D; Hamilton-D; Lee-KK from Department of Veterans Affairs

Medical Center (DVAMC), Palo Alto, Califórnia, USA in Int J Clin Exp Hypn. 1996.

2. Hipnoterapia e verrugas plantares. Relato de casos. Rowe-WS in Aut N Z J

Psychiatry. 1982.

3. Hipnose no tratamento de pacientes com queimaduras severas. Patterson-DR;

Goldberg-ML; Ehde-DM from Department of Rehabilitation Medicine, University of

Washington School of Medicine, USA in Am J Clin Hypn. 1996

4. Hipnoterapia no controle da dor aguda. Hutt-G in Br J Theatre Nurs. 1996.

5. Redução da reação cutânea à histamina após procedimento hipnótico. Laidlaw-

TM; Booth_RJ; Large-RG from Department of Psychiatry and Behavioral Science,

School of Medicine, University of Auckland, New Zeland in Psychosom Med. 1996.

6. Emprego da hipnoterapia em crianças e adolescentes. Chipkevitch, Eugênio in J.

pediatr. Rio de Janeiro. 1992.

7. Hipnoterapia em um caso severo de bruxismo e dor facial. Relato de caso. Vossz,

Ricardo in Odontol. chil. 1986.

8. Considerações sobre técnica de hipnose utilizada em dois casos de amnésia

retrógrada in RBM psiquiatr. 1984.

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9. Hipnoanalgesia em gineco-obstetrícia. Acosta Bendek, Eduardo in Unimetro.

1985.

10. Hipnoanestesia em cirurgias ambulatoriais. McCoy-LR in Aana-J. 1982.

CONCLUSÃO

A hipnose é, então, uma forma de diagnose e terapia que deve ser

executada tão somente por profissionais devidamente qualificados. Como terapia,

pode ser executada por médicos, odontólogos e psicólogos, em suas estritas áreas

de atuação. A hipnose praticada pelo médico, com fins clínicos, deve cercar-se de

todos os aspectos legais e éticos da profissão. É, por isso, essencial que haja a

especificação dos objetivos a serem perseguidos, através da informação aos

pacientes, familiares ou responsável legal [sic]. Portanto, sendo reservada a estes

profissionais, e até por encerrar complicações e conter contra-indicações, sua

utilização por pessoas leigas configura-se como curandeirismo, ilícito jurídico

definido no Código Penal, em seu artigo 282, in verbis.

"Exercer curandeirismo:

I - Prescrevendo, ministrando ou aplicando habitualmente qualquer substância;

II - Usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III - Fazendo diagnósticos.

Pena: detenção de seis meses a dois anos"

Ainda segundo Moraes Passos: "A divulgação da hipnose, principalmente

a chamada hipnose de palco, destituída de uma metodologia científica e executada

por pessoas sem as qualificações técnicas e sem a necessária responsabilidade

profissional, torna mais perigosa ainda sua aplicação, como tem sido feito

ultimamente nos nossos teatros e estações de televisão.

Nas demonstrações hipnóticas pela TV, foram constatados, de maneira

inequívoca, fenômenos de despersonalização, isto é, sugestão de que o paciente

tinha outra identidade, Hitler, por exemplo, fenômenos este totalmente contra-

indicado do ponto de vista psiquiátrico, e além do mais, sem o devido apagamento

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ou volta do estado normal. Correu assim, o paciente, o perigo de continuar crendo

em uma identidade falsa, ou angustiado com uma idéia obsessiva nesse sentido.

Foram comprovados por psiquiatras, hipnose de espectadores de TV em

suas próprias residências, à simples assistência dos referidos espetáculos."

Concluindo este parecer, entendemos que a Hipnose Médica deve ser

considerada prática médica auxiliar ao diagnóstico e à terapêutica, rigorosamente

dentro de critérios éticos.

Entendemos, também, que este Conselho Federal deve recomendar a

todos os Regionais especial atenção ao exercício desta prática por profissionais

não-médicos, principalmente em exibições públicas, tomando as medidas policiais e

judiciais cabíveis.

É nosso entendimento, ainda, que, em suas respectivas áreas de

atuação, a hipnose é uma prática que pode ser utilizada por odontólogos e

psicólogos.

Sugiro que este Conselho atenda à demanda da Sociedade de Hipnose

Médica de São Paulo, adotando, como oficial, o termo hipniatria para definir o

procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose no conjunto terapêutico.

É o parecer, S. M. J. Brasília, 18 de agosto de 1999. Paulo Eduardo Behrens Nei Moreira da Silva Aprovado em Sessão Plenária

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ANEXO II

RESOLUÇÃO CFP N° 013/00 DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000

Aprova e regulamenta o uso da Hipnose como recurso auxiliar de trabalho

do Psicólogo.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições

legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei n° 5.766, de 20/12/1971 e;

CONSIDERANDO o valor histórico da utilização da Hipnose como técnica de recurso

auxiliar no trabalho do psicólogo e;

CONSIDERANDO as possibilidades técnicas do ponto de vista terapêutico como

recurso coadjuvante e;

CONSIDERANDO o avanço da Hipnose, a exemplo da Escola Ericksoniana no

campo psicológico, de aplicação prática e de valor científico e;

CONSIDERANDO que a Hipnose é reconhecida na área de saúde, como um

recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e

psicológicos e;

CONSIDERANDO ser a Hipnose reconhecida pela Comunidade Científica

Internacional e Nacional como campo de formação e prática de psicólogos,

RESOLVE:

Art. 1º — O uso da Hipnose inclui-se como recurso auxiliar de trabalho do psicólogo,

quando se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a segurança e o

bem estar da pessoa atendida;

Art. 2º — O psicólogo poderá recorrer a Hipnose, dentro do seu campo de atuação,

desde que possa comprovar capacitação adequada, de acordo com o disposto na

alínea "a" do artigo 1 o do Código de Ética Profissional do Psicólogo.

Art. 3º — É vedado ao psicólogo a utilização da Hipnose como instrumento de mera

demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações

constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.

Art. 6º — Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7º — Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000.

ANA MERCÊS BAHIA BOCK

Conselheira-Presidente

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ANEXO III

LEI 5.081 DE 24/08/1966

Regula o Exercício da Odontologia.

ART.1 - O exercício da Odontologia no território nacional é regido pelo disposto na

presente Lei.

ART.2 - O exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgião-

dentista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida, após o registro do

diploma na Diretoria do Ensino Superior, no Serviço Nacional de Fiscalização da

Odontologia, sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade.

Parágrafo único. (Vetado).

ART.3 - Poderão exercer a Odontologia no território nacional os habilitados por

escolas estrangeiras, após a revalidação do diploma e satisfeitas as demais

exigências do artigo anterior.

ART.4 - É assegurado o direito ao exercício da Odontologia, com as restrições

legais, ao diplomado nas condições mencionadas no Decreto-Lei n.º 7.718 de 9 de

julho de 1945, que regularmente se tenha habilitado para o exercício profissional,

somente nos limites territoriais do Estado onde funcionou a escola ou faculdade que

o diplomou.

ART.5 - É nula qualquer autorização administrativa a quem não for legalmente

habilitado para o exercício da Odontologia.

ART.6 - Compete ao cirurgião-dentista:

I - praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorrentes de conhecimentos

adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação;

II - prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo,

indicadas em Odontologia;

III - atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros,

inclusive, para justificação de faltas ao emprego;

* Inciso III com redação dada pela Lei n.º 6.215 de 30/06/1975.

IV - proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede

administrativa;

V - aplicar anestesia local e truncular;

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VI - empregar a analgesia e hipnose, desde que comprovadamente habilitado,

quando constituírem meios eficazes para o tratamento.

VII - manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação

adequadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos

específicos de sua especialidade, bem como aparelhos de Raios X, para

diagnóstico, e aparelhagem de fisioterapia;

VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que

comprometam a vida e a saúde do paciente;

IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as

vias de acesso do pescoço e da cabeça.

ART.7 - É vedado ao cirurgião-dentista:

a) expor em público trabalhos odontológicos e usar de artifícios de propaganda para

granjear clientela;

b) anunciar cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento

eficaz;

c) exercício de mais de duas especialidades;

d) consultas mediante correspondência, rádio, televisão, ou meios semelhantes;

e) prestação de serviço gratuito em consultórios particulares;

f) divulgar benefícios recebidos de clientes;

g) anunciar preços de serviços, modalidades de pagamento e outras formas de

comercialização da clínica que signifiquem competição desleal.

ART.8 - (Vetado).

I - (Vetado).

II - (Vetado).

ART.9 - (Vetado).

a) (Vetado);

b) (Vetado);

c) (Vetado);

d) (Vetado);

e) (Vetado).

ART.10 - (Vetado).

Parágrafo único. (Vetado).

ART.11 - (Vetado).

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ART.12 - O Poder Executivo baixará Decreto, dentro de 90 (noventa) dias,

regulamentando a presente Lei.

ART.13 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogados o Decreto-

Lei n.º 7.718, de 9 de julho de 1945, a Lei n.º 1.314 de 17 de janeiro de 1951, e

demais disposições em contrário.

(*) Publicado no D.O.U. (Diário Oficial da União) em 26/08/1966.