Henrique Carneiro_ No Brasil, Só Há Esquerda Fora Do Governo - Le Monde Diplomatique Brasil

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    12 de Abril de 2016

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    Sociedade dividida

    Silvio Caccia Bava

    ARTIGO

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    COMO ORGANIZAR A RESISTÊNCIA

    No Brasil, só há esquerda fora do governo

     Até quando os movimentos sociais vão poupar o governo Dilma de um questionamento direto? A

    expressão de massas de um polo de luta independente é a única saída que pode abafar os atos de

    massa de direita. Esse polo só pode lutar seguindo um programa unificador: derrotar as medidas

    do governo

     por Henrique Carneiro

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    O signo do século XXI vem sendo bastante desalentador. Vivemos uma época de perdade direitos sociais e retrocessos políticos democráticos em escala mundial. No Brasil, emparticular, onde houve uma experiência inédita de um operário presidente com apoio deum partido e de uma central sindical de trabalhadores, vive-se uma enorme frustraçãocom o que esse projeto se tornou.

     As gigantescas esperanças depositadas na eleição de Lula, em 2002, vieram sefrustrando de forma paulatina. As expectativas de ao menos um Estado de bem-estar social foram substituídas pelos ajustes fiscais que reduzem aposentadorias, verbas

    sociais e políticas de inclusão e tornaram rotina o alto número de desempregados e asperdas do poder salarial.

     A reestruturação produtiva atingiu a própria forma da exploração do trabalho, que foiprecarizado, terceirizado, flexibilizado e desregulamentado, corroendo as garantiassociais e t rabalhistas.

     A Previdência Social, a saúde e educação públicas, o seguro-desemprego e aestabilidade empregatícia vêm sendo desmontados mundialmente por programas deajuste fiscal que, em especial após a crise de 2008, se intensificaram, inclusive no Brasil.

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    Em contraposição aos mecanismos de proteção social e diminuição das desigualdades,aumentam enormemente o estado penal e os meios de vigilância e coerção quebanalizaram o que antes era considerada a exceção. Encarceramento em massa, torturasistemática e execuções policiais e parapoliciais no Brasil parecem evidenciar umaespécie de ditadura de baixa intensidade que se arraigou em especial nos sistemas desegurança dos estados. A aprovação de uma nova lei supostamente “antiterrorista” comapoio do governo federal é mais um elemento de normalização da exceção.

    Os agentes políticos da expropriação de direitos e do cerceamento de liberdades e,sobretudo, de destruição de esperanças são, no entanto, os próprios membros do blocopolítico governante. São eles a aliança PT-PMDB-PDT-PP-PSD-PC do B e outras muitaslegendas de aluguel, como o PTB, ontem de Roberto Jefferson, hoje de Fernando Collor.

    O modelo adotado há catorze anos no Brasil combinou a concessão inicial de pequenaampliação da renda de camadas mais pobres, com programas sociais e aumento dosalário mínimo, mas sem alteração na concentração de renda entre o capital e o trabalho. Ao contrário, a expansão de setores tradicionais no ramo da grande construção, damineração e do agronegócio, com apoio governamental, e, especialmente, a expansão darenda do capital financeiro levaram a um apoio temporário de quase toda a burguesia aosgovernos Lula. Mesmo a crise do Mensalão, em 2005, não conseguiu abalar a boa

    relação estabelecida pelo “modo petista de governar” com quase todas as oligarquias, osbarões da mídia e a grande burguesia.

    Mesmo agora, na atual crise desse modelo, a presidenta Dilma parece estar disposta asacrificar tudo, menos sua tentativa de agradar ao grande capital. Como já perdeu apopularidade, vai tentar se sustentar aplicando o remédio amargo diante de uma crisecujo tamanho pode ser recorde. O que ela promete como legado, portanto, é o aumentona idade de aposentadoria.

     As concessões sociais do lulismo vão se dissolvendo com o agravamento da situaçãosocial. O poder aquisitivo desaba diante da inflação e, ao mesmo tempo, o governocontrai ainda mais o crédito, mantendo juros altos e agravando a recessão, que aumenta

    o desemprego.O Brasil continua refém de um modelo exportador de gêneros primários, cuja queda dospreços internacionais está levando ao esgotamento. A natureza predatória da mineração,por exemplo, para tentar compensar perda de lucros, foi diretamente responsável peloaumento de vazão de detritos na barragem de Mariana. A soja e outras monoculturasexpandem as queimadas, o uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas.

    Sem um real projeto nacional de desenvolvimento, o PT vive a serviço dos megaprojetosde construção hidrelétrica em área de floresta ou de megaeventos esportivos, em que o

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    vexame da Copa e da corrupção teve como emblema a prisão posterior dos cartolas daFifa e da CBF.

    O movimento indígena continua sendo espezinhado em seus direitos em razão do modelode expansão predatória da produção energética para novas fronteiras do agronegócio.

    Diante desse quadro, surge, de um ex-aliado do PMDB, Eduardo Cunha, a proposta deimpeachment. Escudo de defesa contra suas próprias denúncias de contas na Suíça, elaé uma manobra ilegítima, pois não cabe ao Congresso presidido por um corrupto

    comprovado acusar de corrupção e, sem uma acusação de crime de responsabilidade,usá-lo como pretexto para um afastamento presidencial.

    O PSDB, com Eduardo Azeredo condenado, o roubo da merenda em SP se somando aosescândalos do metrô, para não falar do helicóptero com cocaína, tem um enorme telhadode vidro em sua hipocrisia acusatória.

    O que de fato se evidencia é uma rede sistêmica de corrupção entre quase todos osfinanciadores de campanhas e os políticos que eles elegem.

    É imensamente positivo haver a revelação de parte desses esquemas. A desconfiança dopovo com quase todos esses partidos é geral tanto no governo federal como nos

    estaduais.

     A seletividade, existente e criticável, não pode ser o argumento de defesa, pois dizer queoutros fizeram não é isenção da própria responsabilidade. As ocultações dos escândalospaulistas de Alckmin, com que Haddad pela segunda vez se alia para subir tarifas detransporte, não devem nos eximir de reconhecer que é inédito o grau de investigação desetores do grande empresariado, especialmente das maiores construtoras.

    Ex-presidentes são passíveis de investigação, trate-se de Collor ou de Lula, ainda maisquando ambos estão aliados. Para um ex-presidente, ex-operário que não é ex-esquerda,dado que declarou que de esquerda nunca foi, é imoral receber milhões declarados parapromover essas empresas em ditaduras africanas, mesmo que não seja ilegal.

    Diante desse quadro, em que o governo aplica uma política de direita na forma e noconteúdo, mas ainda tenta ocupar um imaginário de esquerda, há uma rota de colisãodesenhada. De um lado, o governo que causa o aprofundamento da crise e aplica o ajustefiscal e, de outro, o crescimento das greves, das lutas e da resistência social vão entrar em choque.

     A natureza desse choque é imprevisível. Pode ser uma onda de greves, talvez até umagreve geral. Pode ser uma nova onda de revoltas populares, como ocorreu em junho de2013. Pode ser uma completa derrota eleitoral dos part idos governantes. Pode ser 

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    também uma enorme abstenção e um ceticismo completo. Pode haver novas saídaspolíticas que venham a emergir. Uma vertente que pode se fortalecer é a da extremadireita, combinada em sua quimera maligna como um animal híbrido entre o militarismo, oracismo, o evangelicalismo mercenário e o conservadorismo moral, intolerante, machista ehomofóbico.

    A grande incógnita é se haverá esquerda depois do PT.

    Os movimentos sociais e os partidos de esquerda socialista estão divididos e hesitantes.

    Um setor, mesmo sendo crítico ao governo, se alia aos governistas e aos seus aparatossindicais e estudantis, como CUT e UNE, para fazer atos anti-impeachment e pró-Lula. Agem tendo como eixo, aparentemente, o projeto de tábua de salvação do petismo, que éo retorno do messias pela terceira vez.

    Outro setor prefere não defender o governo e chamar a uma greve geral contra o ajustefiscal. É o caso da CSP-Conlutas, da Anel, do PSTU e de setores do Psol. Enquanto isso,crescem as greves contra demissões em montadoras e uma fábrica é ocupada na regiãode Campinas. E se, em vez de duzentas escolas ocupadas, surgirem duzentas fábricasocupadas?

    O campo da esquerda combativa buscou construir alguns espaços de unidade de ação,

    mas sempre de forma efêmera.

    Numa dimensão muito maior do que a esquerda partidária, sindical ou estudantil, vêmocorrendo movimentos de expressões espontâneas de insatisfação que, em junho de2013, tomaram dimensões de revolta popular.

    O polo eleitoral de uma unidade entre Psol/PSTU/PCB é o mínimo que se espera dessespartidos. Mas a necessidade maior é saber por onde pode passar uma forma deauto-organização popular mais ampla e orgânica.

    Os últimos atos do MPL, especialmente em São Paulo, demonstraram que, se o impulsode junho prossegue numa ampla vanguarda juvenil que nasceu para a luta no pós-petismo,

    ainda se carece de redes mais sólidas e democráticas de debate e deliberação.

    O espaço virtual que trouxe inúmeros recursos de auto-organização e autoproteção(basta lembrar quanto as gravações de vídeo em celulares ajudaram a denunciar asatrocidades e arbitrariedades policiais), sem uma ampla rede real de pessoas que seconheçam e criem laços de confiança e de colaboração, não poderá se articular em umforte polo político alternativo.

    O colapso do governo petista é apenas parte da superação maior do ciclo de domíniomajoritário dessa corrente sobre a consciência de toda uma geração da esquerda, que viu

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    no PT uma superação positiva do varguismo populista e autoritário e do pecebismostalinista e burocrático. O monstro em que o PT se transformou, esse híbrido já chamadode ornitorrinco, continua tentando levar na lapela sua antiga estrela vermelha, mesmo quedisfarçada, ainda exibida em certos dias de festa.

    Se não houver uma completa dissociação do espírito de luta popular, de resistênciacontra a exploração e as opressões, que é o que caracteriza a esquerda como conceitohistórico, daquilo em que o PT e seu governo se tornaram, não haverá como tecer umanova esperança, um novo campo de luta objetiva que consiga criar-se como sujeitopolítico alternativo ao da atual gestão capitalista da catástrofe social e socioambiental.

    Não há esquerda no PT que não seja a ilusão desesperada de uns poucos puros eingênuos que ainda existem ou a usurpação deliberada de um passado como coberturapara o presente.

    Se surgirá alguma nova esquerda, há que se ver quais serão os critérios e as disposiçõesde unidade. O campo em disputa vai dos dissidentes da Rede que se aliam a umadeputada do PSB, partido do vice de Alckmin em São Paulo, aos setores maisantifrentistas dentro do PSTU.

    O eixo dessa articulação passa pelo Psol, que sofre oscilações e vive sob o comando de

    algumas figuras públicas parlamentares que fazem o que lhes passa pela cabeça. DeHeloísa Helena a Randolfe, passando por Daciolo, o Psol, como dizia alguém, “é de lua”.

    Já o PSTU, embora tenha “unificado” no nome, não está unificando muito em torno de si.O PCB, que é o menor, vive de um passado ligado à herança do stalinismo, que não foirompida na atualidade, haja vista seus apoios a Al-Assad ou Putin. Já o PCO não passade uma minúscula ala extremada de defesa do governismo e do petismo.

    Movimentos sociais como o MST se dão bem até com Alckmin, a quem visitam tirando oboné e a camisa vermelha, bem em seguida à brutal repressão aos atos contra oaumento da tarifa.

    O MTST, que se mantém como uma das forças mais ativas na mobilização política demassas e nas lutas por moradia, tem assumido um rumo cada vez menos antigovernista,aceitando reunir-se aos abraços com a presidenta bem no meio da execução do ajustefiscal. Nesse momento, o representante do Bradesco, o ministro Levy, já saiu, mas apolítica econômica continua a mesma.

     Até quando os movimentos sociais vão poupar o governo Dilma de um questionamentodireto?

     A expressão de massas de um polo de luta independente é a única saída que pode

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    abafar os atos de massa de direita, com um viés em parte de defesa do intervencionismomilitar.

    Esse polo só pode lutar seguindo um programa unificador: derrotar as medidas dogoverno. Para bloquear os ataques à Previdência, evitar a entrega do pré-sal, os cortescrescentes nas áreas da saúde e educação, o aumento da legislação antimanifestaçõespopulares, a militarização repressiva de todo o encontro social (não precisa ser político,pois as PMs jogam bombas indiscriminadamente em blocos de carnaval, torcidas, showsde rap, grevistas, manifestantes e população em geral).

    Para um programa que acima de tudo denuncie o pacto do governo com o setor financeiropor meio de juros altíssimos que remuneram os próprios credores dos títulos da dívidapública, levando nisso praticamente metade do orçamento, é preciso uma esquerdaantigovernista. A luta social é o único terreno em que ela pode surgir, mas na luta políticaé que deverá alcançar a forma de um programa de unificação.

    Henrique Carneiro

    Henrique Carneiro é historiador 

    Ilustração: Romerito Pontes/cc

    01 de Março de 2016

    Palavras chave: resistência, política, brasil, esquerda, direitos, rua, movimento, democracia, PT, governo,impeachment, movimentos sociais

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