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Heresia

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Heresia - A ciência da felicidade

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A ciência da felicidade

HERESIA

São Paulo 2009

Saranti Sarantopoulos

Uma síntese das doutrinas espirituais.

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A ciência da felicidade

HERESIA

Editorama Editora Ltda Av. São Gabriel, 201, conjunto 1608. Tel: 11 3704-7314Cep: 01435-001 São Paulo – SP

Copyright© 2009 por Saranti Sarantopoulos

Publisher:Henrique Volpi

Editora Executiva:Mariana Volpi

Coordenadora Editorial:Ana Carolina Fialho

Projeto Gráfico e Capa: Flavia Falcão

Editoração Eletrônica: Rafael Mazzari

S245f Sarantopoulos, Saranti Heresia : a ciência da Felicidade / Saranti Sarantopoulos. - São Paulo: Editorama, 2009. 131 p. ISBN: 978-85-7885-025-8 1. Religião. 2. Espiritualidade - doutrina. 3. Heresia. I.Título CDD – 273

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

“Tudo se desenvolve pela oposição dos contrários: filosofia, arte, ciência e religião são vivas devido a esta

dialética. Então, tudo está em processo de constante devir”. Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Dialética (do grego διαλεκτική) era, na Grécia Antiga, a arte do diálogo, da contraposição e contradição de ideias

que leva a outras ideias.

Sumário

Prefácio ............................................................................................09Agradecimentos ...................................................................................14Introdução ..........................................................................................16Como a vida imita a natureza ..............................................................20Capítulo 1 - A dialética da vida ..........................................................22 O que é a dialética? Como funciona a dualidade? Por que entender como a dualidade é fundamental para atingir a felicidade? O que é felicidade? Qual a interface entre estado mental e felicidade? Qual a relação entre felicidade e oscilações do nosso estado emocional? Qual a relação entre estado de felicidade e criatividade, insight e iluminação? Uma introdução à sabedoria da felicidade. Qual é a relação entre sabedoria e estado mental? O que é o efeito síndrome e como pode afetar o mérito? Qual é a relação entre sabedoria e genialidade? Como funciona a produção quântica das emoções? O que é a iluminação? Um dos equívocos básicos da humanidade. Qual é a interface de rotinas entre as doutrinas espirituais? Reflexões sobre a mente humana Como funciona o dual em nossa mente? Como se processa a emoção e a estimulação localizadas no cérebro? O que é e como funciona a faculdade da comparação? O que são comparações temporais e atemporais? Como funciona o dual perde-ganha? O que é o “piloto automático”? Qual a relação entre nosso piloto automático e condicionamento?

Como funcionam a cooperação e a interdependência? Qual a relação entre competição e hereditariedade? O que é dialética da guerra? Qual a relação entre guerra e escassez? O que é a impermanência da vida? Qual a relação entre riqueza e felicidade? Qual a função da religião na busca da felicidade? Qual é a dialética da religião? Aonde se encontra o erro fundamental da doutrina judaico-cristã? O que é a questão do objetivo e do subjetivo? Mas o que é a realidade pura? O que é o subjetivo? O que é a realidade pura? O que é a gratidão? Qual é a função da física e da metafísica?

Capítulo 2 - Lugares-comuns de todas as doutrinas espirituais ............75 O que é ignorância e sabedoria? Onde está a fragilidade basilar da ciência? O que é o desapego? O que é o apego ao ego? O que são a paciência e a tolerância e qual sua importância para a felicidade? O que é e como funciona o mérito em nossa vida? Qual a importância da dor e do sofrimento? Qual a importância da saúde e da doença na felicidade? Qual a importância da doação para a aquisição da felicidade? O que é a compaixão (e empatia) na ciência da felicidade? Como o perdão nos tira do sofrimento e nos aproxima da felicidade? O que é a ganância e qual o seu poder de nos tirar do estado de plenitude? O que é a arrogância? O que é o egoísmo e qual a sua importância na busca da felicidade? O que é a raiva e o ódio e quais são os seus perigos para a felicidade? O que é o amor ágape? O que é a regra de ouro e como ela influencia nosso estado de felicidade? O que é a crença na vida eterna?

Capítulo 3 - Os meios necessários para atingir a felicidade ..................113 Como funciona o aprendizado? Qual o poder da tomada de consciência? O que é o entusiasmo e como o seu poder funciona na busca da felicidade? Como conseguir a determinação? O que é a persistência? O que é e qual a importância da paciência na busca da felicidade? Qual é o poder do hábito e do condicionamento?

Capítulo 4 - Práticas e exercícios diários de uma pessoa feliz ...............121 Qual é a importância da atividade na busca da felicidade? Como explicamos a hipertrofia de estados emocionais? Qual a diferença entre atividade remunerada e não remunerada para a felicidade? O que é meditação e qual é a sua origem. Qual a diferença entre oração e meditação? O que é mantra e qual sua relação com a oração? A minha experiência na meditação. O que é o primeiro estágio? O que é a entrada no estado alfa? O que é o estado zen?

Zeitgeist é um documentário estadunidense sem fins lucrativos produzido por Peter Joseph em 2007. Ele se dedica a minuciosa pes-quisa historiográfica que trata de avaliar criticamente o cristianismo com base em fatos históricos e astrológicos. Veiculado através da in-ternet, o filme é visto por milhões de pessoas ao redor do planeta.

Ao remontar às mais remotas civilizações existentes na terra, o fil-me começa falando sobre a importância do sol e das estrelas. Mostra a Cruz do Zodíaco, uma das mais antigas imagens conceituais que demonstra o trajeto do sol: as 12 maiores constelações no decorrer de um ano, as quatro estações, os soltícios e equinócios. As primeiras civilizações seguiam o sol e as estrelas, e as personificavam através de mitos, entre eles o do próprio sol que, por todos os seus poderes, era percebido como um criador invisível ou Deus, tratado por Filho de Deus, Luz do Mundo ou Salvador da Humanidade.

É então que Hórus, o Deus do Sol do Egito de 3000 a.c., é apre-sentado como o sol antropormorfizado, um mito alegórico dos mo-vimentos do sol no céu. Hórus nasce da virgem Isis-Meri a 25 de dezembro, e tem seu nascimento acompanhado por uma estrela do leste, que é seguida por três reis em busca do salvador recém-nascido. Hórus era professor aos 12 anos, foi batizado aos 30, tinha 12 dis-cípulos, fez milagres como curar enfermos e andar sobre a água. No fim, foi traído, crucificado, enterrado e ressucitou três dias depois.

E eis que tal estrutura mitológica se aplica a inúmeros deuses so-lares nos mais diversos períodos da história e em todos os cantos do mundo: Attis na Grécia, Krishna na Índia, Dionísio na Grécia, Mi-thra na Pérsia, Beddru no Japão, entre muitos outros.

A análise das características desta estrutura mitológica é feita a partir da vida de um dos mais cultuados deuses solares: Jesus Cristo.

Prefácio

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E a sequência de seu nascimento é completamente astrológica. O fato dele nascer de uma virgem em Belém se aplica à constelação Virgo, “a Virgem” em latim, também referida por “Casa do Pão”, e sua representação é uma virgem segurando um ramo de espigas de trigo. Por sua vez, Bethlehem (Belém) é a tradução hebraica à letra de “A Casa do Pão”, além de ser referência à constelação de Virgem, “um lugar no céu, não na terra”, segundo o filme. A estrela do leste no caso é Sírio, a estrela mais brilhante no céu, que, em 24 de dezem-bro se alinha com as três estrelas mais brilhantes na cintura de Orion: The Three Kings ou os Três Reis, conhecidos em português como as Três Marias. E é no dia 25 de dezembro que “os Três Reis” estão com-pletamente alinhados com a estrela do leste, Sírio, e apontam para o nascer do sol. Assim, os três reis “seguem” a estrela do leste para o nascimento de Cristo.

As características de sua morte também são explicadas pelo fil-me com base astrológica. Um fenômeno que ocorre em dezembro é o solstício de inverno. Para quem está no hemisfério norte, do solstício de verão para o solstício de inverno, os dias ficam mais frios e curtos, é o fim das colheitas. Assim, o solstício de inverno simbolizava a morte para as antigas civilizações. Era a morte do sol. Quando chega o dia 22 de dezembro, o sol está na região da Cons-telação do Cruzeiro do Sul, Crux ou Alpha Crucis, e deixa de se movimentar para o sul durante três dias. Neste período de pausa, se dizia que o sol morreu na cruz, ou seja, na Constelação de Crux. No dia 25 de dezembro, o sol move-se um grau a norte, perspectivando dias mais longos, a chegada da primavera. Assim, constata-se que o sol esteve morto por três dias para ressuscitar ou nascer mais uma vez. Assim se explica porque Cristo e todos os outros deuses solares partilham a idéia da crucificação, morte de três dias e o conceito de ressurreição. Trata-se do período de transição do sol antes de mudar para a direção contrária no hemisfério norte, que traz a primavera, e assim, a salvação. No entanto, a ressurreição do sol não era cele-brada até o equinócio da primavera, também conhecido por Páscoa, pois é neste período que o sol domina oficialmente as trevas e o período diurno se torna maior que o noturno. E a vida é revitalizada pela primavera.

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Outra característica astrologicamente estabelecida do cristianis-mo são os 12 discípulos. Eles seriam as 12 constelações do Zodíaco, com que Jesus, sendo o sol, viaja. De fato, o número 12 está sempre presente na Bíblia: 12 tribos de Israel, 12 filhos de Jacó, 12 juízes de Israel, entre outros.

Na sequência, o filme retorna à cruz do zodíaco. Para recordar, a cruz do zodíaco é o símbolo do sol, ou seja, um círculo com raios e uma cruz no meio, rodeada de constelações. Ela não era apenas uma representação artística ou uma ferramenta para seguir os movimentos do sol, mas também um símbolo espiritual Pagão, em que se tiravam as constelações e os raios, deixando apenas o círculo e a cruz ao meio. Ou seja, este não é um símbolo cristão. Eis a razão pela qual Jesus Cristo era sempre mostrado com sua cabeça na cruz em suas primeiras representações:

Jesus é o sol, filho de Deus, a luz do mundo, o Salvador a erguer-se, que “renascerá”, assim como o faz todas as manhãs. Ele é a glória de Deus que nos defende contra as forças das trevas, ou seja, a noite, assim como renasce a cada manhã. Ele pode ser “visto através das nuvens, lá em cima no céu, com a sua coroa de espinhos”, ou raios de sol.

Outra citação importante na Bíblia desvendada astrologicamente diz respeito às Eras. Uma Era possui cerca de 2150 anos. De 4300 a.c. a 2150 a.c. foi a Era de Taurus, o touro. De 2150 a.c. a 1 d.c. foi a Era de Áries, o carneiro. De 1 d.c. a 2150 é a Era de Peixes, a era em que ainda estamos. Por volta de 2150 estaremos na nova Era, a Era de Aquário. A bíblia se refere simbolicamente ao movimento destas três Eras: no velho testamento, quando Moisés desce o Monte Sinai com os Dez Mandamentos ele fica furioso ao ver seus seguidores adorando ordena a todos que se matem uns aos outros para purgarem o mal e se purificarem. Isso porque o bezerro faz parte da Era de Touro, e Moi-sés representa a Nova Era de Carneiro. Eis porque os judeus até hoje sopram o chifre do carneiro. Jesus simboliza a Era de Peixes, ou dos Dois Peixes, e o simbolismo é abundante no Novo testamento: “Jesus alimenta cinco mil pessoas com pão e dois peixes”, entre outros. To-dos nós já vimos os adesivos em forma de peixe escrito “Jesus” dentro.

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Trata-se de um simbolismo astrológico pagão para o Reinado do Sol durante a Era de Peixes. Após esta Era, será a vez de Aquário, o que está explícito na Bíblia, em Lucas 22:10 quando Jesus é questionado qual será a próxima passagem depois de sua partida, ele diz: “Eis que quando entrardes na cidade, encontrareis um homem levando um cântaro de água, segui-o até a casa onde ele entrar.”, o símbolo de Aquário é sempre um homem com um cântaro a despejar água. Tudo que Jesus afirma é que depois da Era de Peixes chegará a Era de Aquá-rio. Assim, a ideia de fim de mundo é também justificada no filme. A espinha dorsal dessa idéia surge em Mateus 28:20, em que Jesus diz: “Eu estarei convosco até o fim dos séculos”. Em séculos, lê-se em inglês “world”, ou seja, mundo. O fim do mundo. A palavra original mal traduzida, entre outras várias más traduções seria “Aeon”. E Aeon significa Era. O que Jesus diz é “Eu estarei convosco até o fim da Era”, o que no fundo é verdade, pois Jesus, como a personificação solar de peixes irá acabar quando chegar a Era de Aquário. Ou seja, as milhões de pessoas que temem o fim do mundo poderiam estar livres se sou-bessem que este conceito é apenas uma profunda má interpretação desta alegoria astrológica.

A religião cristã é uma paródia ao idolatrismo do sol, em que puseram um homem chamado Cristo no lugar do sol, e lhe devotam a adoração originalmente devotada ao sol.

(Thomas Faine – 1800)

Como é dito ao final, “Nós não queremos ser educados, mas deve-mos ser factuais. Não queremos magoar os sentimentos de ninguém, mas queremos ser academicamente corretos.”, e o filme se dedica bravamente a buscar provas historiográficas do que estão expondo. Segundo Zeitgeist, o cristianismo foi uma história romana, desen-volvida politicamente para controlar as sociedades. Jesus teria sido a divindade solar gnosticista cristão, ou seja, uma figura mítica como outros deuses pagãos. Por 325 d.c., o Imperador Constantino reuniu o Concílio Ecumênico de Nicéia e ali se estabeleceram doutrinas po-líticas com motivação cristã. Para concluir a primeira parte do filme antes de começar a falar do mito do 11 de setembro, Zeitgeist diz:

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E assim começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude espiritual. E nos 1600 anos que se seguiram, o Vaticano dominou politicamente e com mão de ferro toda a Europa, conduzindo-a a agradáveis períodos tais como a Idade das trevas, Cruzadas e Santa Inquisição. O cristianismo, bem como todas as crenças teístas, são a fraude desta Era. Serviu para afastar os seres humanos do seu meio natural e da mesma maneira, uns dos outros. Sustenta a submissão cega do ser humano à autoridade. Reduz a responsabilidade humana sob a premissa de que Deus controla tudo, e o mais importante, dá o poder àqueles que sabem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades. O mito religioso é o mais poderoso dispositivo jamais criado, e serve como base psicológica para que outros mitos floresçam.

Para quem estuda astrologia, isso que aprendemos em Zeitgeist não é grande novidade. Na prática, o filme inspira a lidar com a vida de maneira responsável diante aos próprios atos e não culpar ou de-sejar ou esperar mudanças em nome de um deus imaginário e lon-gínquo, enquanto os dias passam. Para tanto, O filme começa com a fala de Chogyam Trungpa Rinpoche (1939-1987), estudioso, poeta, artista e professor budista que aderiu ao Nyingma, movimento que abraça o ensinamento de várias religiões na busca de harmonia não sectarizada. “Espiritualidade é um termo específico que significa li-dar com a intuição”, diz Rinpoche, e a partir disto explica que, sem misticismo nenhum, a vida se baseia no aqui e agora. No entanto, nos sentimos ameaçados por este “agora” tão poderoso e tendemos a “emprestar do passado e convidar o futuro a todo momento, e talvez seja por isso que procuramos a religião”, conclui Chogyam Trungpa. E nesta linha de pensamento se encaixa este livro que está, como a sua própria felicidade, em suas mãos.