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A hipercorreção pela sujeição social e pelas diferenças entre língua imaginária e língua fluida *Hélio Rodrigues da Silva Resumo: neste artigo proponho uma reflexão discursiva no uso da língua portuguesa e suas atribuições, como o sujeito está inserido neste contexto histórico ideológico? Qual o imaginário de língua “correta” no meio social? Como se comporta um sujeito pressionado em momentos de fala e escrita? O valor social e profissional está diretamente ligado ao uso “correto” da língua. A escola de base como aparelho coercitivo do estado atribuindo valor a uma língua em detrimento das outras. A hipercorreção na tentativa do sujeito evitar os erros e o mesmo não consegue. Dentre estes e outros fatores, observamos a importância do conhecimento linguístico. Palavras chave: Hipercorreção gramatização sujeito/língua escolarização preconceito linguístico. Introdução 1 Neste artigo estarei problematizando alguns fundamentos da língua portuguesa brasileira, mostrando a ideia imaginária que se tem do uso da língua correta e incorreta em uma sociedade marcada pelo preconceito linguístico. Pretendo dentro de uma pequena exposição explicar o fator que faz 1 *Hélio Rodrigues da Silva esta cursando letras no campus universitário de Pontes e Lacerda Universidade de Mato Grosso. Endereço eletrônico: [email protected] , fone: (65) 99292958.

Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

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Este artigo reflete o preconceito Linguístico não visto de forma específica. Assim como o preconceito racial e a intolerância religiosa o preconceito linguístico é uma forma de exclusão.

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Page 1: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

A hipercorreção pela sujeição social e pelas diferenças entre língua imaginária

e língua fluida

*Hélio Rodrigues da Silva

Resumo: neste artigo proponho uma reflexão discursiva no uso da língua

portuguesa e suas atribuições, como o sujeito está inserido neste contexto histórico

ideológico? Qual o imaginário de língua “correta” no meio social? Como se comporta

um sujeito pressionado em momentos de fala e escrita? O valor social e profissional

está diretamente ligado ao uso “correto” da língua. A escola de base como aparelho

coercitivo do estado atribuindo valor a uma língua em detrimento das outras. A

hipercorreção na tentativa do sujeito evitar os erros e o mesmo não consegue.

Dentre estes e outros fatores, observamos a importância do conhecimento

linguístico.

Palavras chave: Hipercorreção gramatização sujeito/língua escolarização

preconceito linguístico.

Introdução

1Neste artigo estarei problematizando alguns fundamentos da língua

portuguesa brasileira, mostrando a ideia imaginária que se tem do uso da língua

correta e incorreta em uma sociedade marcada pelo preconceito linguístico.

Pretendo dentro de uma pequena exposição explicar o fator que faz tantas pessoas

até mesmo os universitários têm dificuldades ao expressar no próprio idioma, já que

existe uma língua imaginária padronizada e que não se trata da língua materna dos

cidadãos brasileiros. E dentro dessa regularidade às vezes pessoas que tem

conhecimento da língua padrão e outras que não tem, mas todos têm dificuldades

na hora de falar em publico ou escrever um texto publicitário ou um trabalho

acadêmico; é lógico que quem estuda a língua padrão tem certa vantagem em

ralação aos outros que não estudam, não na transmissão do assunto pretendido,

mas na forma escrita. E é neste contexto que surgem muitas dúvidas, alguns sem

1*Hélio Rodrigues da Silva esta cursando letras no campus universitário de Pontes e Lacerda Universidade de Mato Grosso. Endereço eletrônico: [email protected], fone: (65) 99292958.

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perceber acaba tentando se “expressar corretamente” e caba errando do mesmo

jeito, caindo na “hipercorreção” transformando sua escrita/oralidade em palavras ou

concordância verbal inexistente na língua padrão ou não padrão. Existe uma única

maneira “correta”? O que os grandes estudiosos da língua portuguesa consideram?

É uma maneira intrigante de entender a situação do falante na sociedade já que a

sociedade exige uma falar “correto” com o pretexto de qualificar o falante pelo seu

modo de fala/escrita. O preconceito linguístico é um mal que nunca foi combatido, é

um fato ideológico dentro da nação brasileira. Criticar uma pessoa pelo seu modo

de falar ou escrever é tão natural entre a sociedade brasileira, que até aqueles que

não têm conhecimento da língua padrão/imaginária, acaba julgando a si mesmo,

afirmando que não sabem falar em sua própria língua. Embasado em alguns

teóricos da Linguística e da AD, apresento a seguir um quadro teórico, e junto

destas ideias brilhantes farei uma pesquisa que enriqueça meus conhecimentos e do

leitor interessado no assunto em pauta.

Quadro teórico

Uma pesquisa bem elaborada nunca poderia deixar as grandes mentes

ocultas, pois é através dos grandes pesquisadores que temos conhecimento do

funcionamento da língua. A importância do estudo para a compreensão da língua é

fundamental, e neste texto exporei a dificuldade do sujeito no uso da língua, no qual

ao tentar não cometer erro acontece a hipercorreção. A língua é a maior herança

que os seres humanos recebem de seus pais. É através dela que o sujeito consegue

viver em sociedade, e se constituir como cidadão pertencente aquela comunidade e

não de outra. Benveniste afirma que “é dentro da, e pela língua que o individuo e

sociedade se determinam mutuamente”. (MUSSALIM, BENTES, 2001 pg. 26). E

neste caso língua não é apenas a forma padrão escrita, mas tem tudo a ver com a

expressão e compreensão do sujeito em sociedade. A maior necessidade em

estudar a língua em seus funcionamentos é porque a língua tem sido instrumento de

classificação e qualificação do individuo em sociedade, daí surge à necessidade

dessa compreensão. A “hipercorreção” está diretamente ligada ao receio da

descriminação, este é fator principal, chamamos aqui de preconceito linguístico, mas

existem outros fatores que também são pertinentes: a gramatização da língua,

espaço escolar/censura, relação sujeito língua, posição sujeito capitalista e as ideias

linguísticas que circulam em nossa sociedade de “certo errado”, tudo isto contribuem

Page 3: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

para que o indivíduo mesmo inconsciente tente se formalizar e refinar o seu

vocabulário. Elizete em sua tese busca explicar esta compreensão.

Vale dizer que quando se pensa o ensino e a circulação da língua nacional

como um bem público, reflete-se sobre as práticas sociais ao longo da

história e os mais diferentes e efetivos processos de exclusão, de inclusão,

de valorização de sujeitos pelo modo como falam. (AZAMBUJA, pg. 44).

Segundo a autora o sujeito precisa se adaptar a norma culta regida pela imposição

do estado para ser valorizado na sociedade. Parece que a sociedade não tem

conhecimento que a normatização da língua é apenas uma tentativa de manter uma

língua homogênea nacional, para fins oficiais, documentários, trabalhos e

apresentações acadêmicas. Azambuja percorre um caminho extenso em busca de

comprovar suas afirmações. Ela faz pesquisas em alguns estados brasileiros com

pessoas de diferentes graus de escolarização e idade. Em sua pesquisa ela

confirma que somente pessoas com conhecimento linguístico é capaz de afirmar

que o brasileiro não fala errado. Todos os entrevistados exceto quem tinha

conhecimento linguístico disseram que o brasileiro fala errado. Marcos Bagno afirma

que “todo falante nativo de uma língua é um falante plenamente competente dessa

língua”. (BAGNO, 2001, pg. 66). Segundo ele ninguém comete erros ao falar a sua

língua materna, desde criança o individuo já fala corretamente a gramática de sua

língua materna. Para confirmação de sua afirmação ele deixa varias frases que seria

erros de português. Mas que nenhum falante do português faz uso desse tipo de

frase. “eu te vimos ontem na rua, aquela menino me bateu, Maria chegou semana

que vem” (BAGNO, 2001, pg. 66). O imaginário de que as pessoas não sabem falar

a sua própria língua é histórico e ideológico, repassado pelo estado através da

escola que é um instrumento a serviço do estado. Segundo Orlandi em Historias das

ideias linguísticas o Brasil falava uma língua mista chamada língua geral.

A ação do estado se faz sentir pela pratica colonizadora em geral, mas mais

precisamente pela imposição do ensino da língua portuguesa na escola. É

necessário aqui sublinhar a ação do Marques de Pombal que proibiu o

ensino das línguas indígenas nas escolas dos Jesuítas e que tornou

obrigatório o ensino do português. Neste novo espaço-tempo o português é

a uma só vez a língua do Estado e a língua dominante. (ORLANDI, 2001,

pg. 23).

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Como podemos observar as línguas existentes em nosso território foi aos poucos

sendo substituída por uma nova língua dominante e isso não para por ai, em outro

momento da historia precisamente em 1826 como cita Orlandi.

Em 1826, um deputado propôs que os diplomas dos médicos no Brasil

fossem redigidos em língua brasileira. No ano seguinte, depois de longas

discussões que se seguiram a essa proposta, uma lei estabelece que os

professores devem ensinar a ler e a escrever utilizando a gramática da

língua nacional. Assim, ao se colocar a questão da língua nacional no Brasil,

evita-se, ao mesmo tempo nomeá-la oficialmente seja como língua

portuguesa, seja como língua brasileira. (ORLANDI, 2001, pg. 23).

Desta época até os dias atuais a língua é vista como um bem nacional que é regido

pela escrita e esta por sua vez é formalizada, através da gramática normativa,

dicionário e a escola. Portanto é compreensível que haja dificuldades dos indivíduos

expressar-se na língua formal brasileira, não é pelo fato de não ter conhecimento,

mas por falar uma língua imposta pelo estado e que não é a língua materna falada

pela maioria dos brasileiros. E estas dificuldades sempre vão existir.

Perini diz que a linguística é uma ciência viva e em pleno desenvolvimento.

“hoje sabemos muito mais sobre a estrutura das línguas do que sabia em 1900, em

1950 ou em 1980. E vamos saber ainda mais em 2040. Não existe uma gramática

completa e definitiva em língua nenhuma”. (Perini, 2010 pg. 22). Portanto nenhuma

descrição gramatical pode ser completa e definitiva. Perini diz que a gramática mais

atrapalha do ajuda.

As leis têm importância em sua área, mas seu valor não se estende à

investigação científica, que segue outros princípios, ligados a coerência

lógica e a adequação aos fatos observados, assim a NGB é mais prejudicial

do que benéfica, e vivemos melhor sem ela. (PERINI, 2010, pg. 24).

Outro fator de coerção na língua é o capitalismo, as mídias de um modo geral

deixa claro que para ser um profissional reconhecido e ter oportunidade de bons

empregos o individuo tem que falar “corretamente”. Em dois recortes da revista veja,

em datas diferentes, Azambuja mostra na pagina 59 de sua tese, a opinião da

revista veja para um falante que fala “corretamente” e o que não fala. Revistas.

Page 5: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

2001 2010

Na primeira “Falar e escrever bem”, e com letras menores: “o brasileiro tem

dificuldade de se expressar corretamente. Mas está fazendo tudo para melhorar,

porque precisa disso na profissão, nos negócios e na vida social”. Logo abaixo com

uma marcação. “Um teste para avaliar o seu domínio do idioma”. Na segunda bem

destacada a frase, “Falar e escrever bem”. Dois pontos e continua “rumo à vitória” e,

em letras menores: “Expressar-se com clareza e elegância é essencial para avançar

na vida”. A boa notícia é que há mais ferramentas para o aprendizado.

Se olharmos as figuras com um olhar discursivo, na primeira tem uma foto de

um jovem com perfil de uma pessoa bem sucedida e que fala bem. Na segunda

capa, um teclado de computador é figurado com uma escada que o falante precisa

galgar para chegar ao topo, e no topo está o falante ideal. A cor amarela com um

leve tom alaranjado no fundo da capa. Vem significando, otimismo, prosperidade e a

felicidade. E ela está associada à nobreza, à inteligência e ao luxo. Tudo isso está

relacionado ao fato de o sujeito falar bem a língua.

De todos os desafios que o sujeito falante do português enfrenta o pior deles

é o preconceito linguístico. Marcos Bagno compara o preconceito linguístico à

intolerância religiosa, para a igreja tudo que era diferente da doutrina romana era

considerada heresia, que em grego significa “escolha” e os culpados pagavam com

suas vidas. Parafraseando Bagno nós não temos escolhas, e somos obrigados a

seguir a risca os preceitos da gramática normativa em pleno século XXI, isto é o

mesmo que querer que as pessoas leiam a bíblia em latim. Marcos Bagno vai buscar

na historia os fundamentos da gramática e o preconceito linguístico:

[...] há quase 2.500 anos, associaram língua culta com escrita literária. Essa

é uma tradição que começou por volta do século III A.C., entre os filósofos e

Page 6: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

filólogos gregos, quando foi criada a própria disciplina batizada de

gramática, em grego, significava, na origem, ‘a arte de escrever’. [...] ao

desprezar completamente a língua falada (considerada ‘caótica’, ‘ilógica’,

‘estropiada’), e também ao classificarem a mudança da língua ao longo do

tempo de ‘ruína’ ou ‘decadência’ [...] Foram eles e seus seguidores, de fato,

que plantaram as sementes do preconceito linguístico, que iam dar tantos e

tão amargos frutos ao longo dos séculos. (BAGNO,2003, p.46). (grifos do

autor).

Como podemos observar pela citação acima a forma preconceituosa é uma herança

de longas datas, mas nós como estudantes e futuros formadores de conhecimento

devemos observar atentamente para não incorrer no erro de classificar uma pessoa

pelo seu modo de falar e escrever, gerando nestas pessoas o sentimento de

inferioridade. Eni em um dos seus livros ao pesquisar como as línguas são

organizadas e sistematizadas da língua fluida para a língua imaginária. “Se a língua

imaginária é a que os analistas fixam na sua sistematização, a língua fluida é a que

não pode ser contida no arcabouço dos sistemas e formulas”. (ORLANDI, pg. 34).

Ela deixa claro que o sistema formal da língua, não vem original, mas modelada ao

modelo do gramático. “A língua imaginária não é inofensiva. Não deixa de ter seu

efeito sobre o real. [...] ex: um Xerente, do P. I. Xerente (tribo indígena do norte de

G) em Goiás, disse que o pastor sabia melhor sua língua do que ele mesmo”.

(ORLANDI, pg. 30). Estamos diante de um problema encontrado na língua fluida de

um falante nativo afirmando que o outro que não é nativo fala melhor que ele. Nós

falantes do português não somos diferentes. “nossa experiência é de que o

imaginário tem às vezes mais realidade que o próprio real e a de que não se criam

impunemente mascaras e fantasmas”. (ORLANDI. Pg. 40).

Como vimos no quadro teórico acima existem muitos pesquisadores linguistas

que já percorreram um longo caminho em busca de compreensão, e mesmo

tentando mudar a forma de pensamento ideológico do ser humano mais especifico

neste caso particular o brasileiro, com sua forma de expressar e os modelos

coercitivos históricos deste país. A seguir apresento um quadro de pesquisa entre

diversas pessoas com graus de escolaridades e idades diferentes, nele vamos

observar que o conceito de língua, entre falar “correto” e falar “errado” se aprende na

escola e é através da gramática e que se aprende falar “correto”.

1 - O brasileiro fala corretamente?

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Idade: Grau de Escolaridade: Respostas:11 anos Cursando o 6º ano. Não.15 anos Cursando o 1º ano

Ensino Médio.Não. acho q o brasileiro nao fala corretamente pq percebi q mt gente fala de um jeito diferente.

17 anos Cursando o 1º ano ensino Médio

O brasileiro não fala corretamente.

21 anos. Graduando de administração.

Os brasileiros não fala corretamente.

34 anos Ensino médio Completo. Não. acho que todos os brasileiros falam errado.

Aproximadamente 36 anos

Graduação em matemática.

Diante de nosso grande extensão territorial e variantes culturais, falar “corretamente” depende muito da região onde se habita. Porém levando em consideração as normas, em sua grande maioria o brasileiro não fala corretamente.

44 anos Graduação Pedagogia e especialização em Psico pedagogia.

Depende muito do que é correto, a partir do momento que há compreensão entre os falantes, pode se dizer que está correto.

49 anos Graduação em pedagogia.

Não

80 anos Não Alfabetizado. Não, devido às mudanças da língua o brasileiro não fala corretamente.

76 anos Não alfabetizada. Tem pessoas que fala melhor do queoutras. [...] Porque aqueles mais estudado fala melhor e os que não estudou é pior.

Nesta pesquisa estou expondo, dados pesquisados de pessoas com idades e grau

de escolaridades diferentes ou não escolarizados; mas quase todos compartilham

do mesmo pensamento ideológico e coercitivo. Entende-se que a escola é a

responsável pela introdução da língua, esquecendo-se, que a língua materna é a

primeira que aprendemos, e dela a qual surgem às gramáticas, dicionários e mesmo

a escola representante do estado. Esta língua materna considerada pela maioria dos

brasileiros como “errada” é também a língua mais falada, acredito, por noventa e

nove por cento dos brasileiros, mesmo os brasileiros mais cultos nunca fala o tempo

todo a língua padrão, há sempre momentos de descontração em que a língua fluida

vai ser pronunciada de forma natural. Em uma pesquisa recente de um artigo em

sociolinguística que fiz, comprovei este fato, ao transcrever uma entrevista feita em

Page 8: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

um programa de televisão de uma candidata à presidência da republica, em um

momento de descontração ela deixa escapar palavras informais com muita

naturalidade.

Minha observação é que ela omite algumas letras nos finais das

palavras, assim como a Mariana a omissão do “r” mas também a

letra “u”: eu sô muito jovem; e ai começamos a conversá ; Quero vê,

inclusive pra tê saudade da época; eu sô candidata a presidente da

republica; fiquei muito emocionada quando você me falô; purque

você me apresentô pru Brasil; um jornalista me chamô; E ele falô.

Como podemos notar nas frases acima como muitos brasileiros a ex-

senadora também fala naturalmente como qualquer brasileiro.

(RODRIGUES, 2014, pg. 07).

Existe sim uma um força para padronizar a língua, mas seria possível? A

língua é um fato social em constante mudança, em cada lugar social e geográfico as

pessoas tem tendência de modificar as palavras e mesmo os vocabulários vão se

diversificando com o passar dos anos sem falar na pronuncia, uma mesma palavra é

pronunciada de forma diferente dependendo da região. Então não podemos afirmar

que o brasileiro fala errado, mas sim diversificado, sendo compreendido pelos

falantes nativos do português brasileiro.

2 - Em sua opinião existe uma região em que falantes do português falam melhor do que em outras?

Idade: Grau de Escolaridade:

Respostas:

11 anos Cursando 6º ano. A seila mas acho que não.

15 anos Cursando o 1º ano ensino médio.

Sim, em Brasília.

17 anos Cursando o 1º ano ensino médio.

Existe sim, nas regiões metropolitanas.

21 anos Graduando de administração.

Não. Porque cada região tem sua forma de fala.

34 anos Ensino médio completo.

Acho que existem sim.

Aproximadamente 36 anos

Graduação em matemática.

Não. Falar melhor ou pior, não depende de região, já que as normas são para o brasileiro e não regional. Depende de fatores relacionado ao acesso ao conhecimento, saberes científicos...

44 anos Graduação Pedagogia e especialização em

Não, existe formas diferentes nas falas, os ditos sotaques.

Page 9: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

Psico pedagogia. 49 anos Graduação em

pedagogia.Não, porque varia muito da língua portuguesa que aprendeu (regionalismo).

80 anos Não alfabetizado. Não, cada região tem seu modo de falar.

76 anos Não alfabetizada Melhor que os outro acho que não tem ninguém melhor, não. As vez querem ser, mas não é.

3 - O que você acha, existem falantes da língua portuguesa que falam melhor, enquanto existem outros que não falam tão bem? Quem são as pessoas que falam melhor e as que não falam tão bem?

Idade: Grau de Escolaridade:

Respostas:

11 anos Cursando o 6º ano. Sim. Os professores; doutores; as pessoas q tem estudos; e quem não estuda não fala muito bem.

15 anos Cursando o 1º ano Ensino Médio

Sim, em algumas regiões que tem sotaque diferente e aí a pessoa n fala corretamente.

17 anos Cursando o 1º ano ensino Médio

Existe sim, depende das pessoas as vezes não falam o português correto por falta de caprixo.

21 anos Graduando de administração.

As pessoas que falam melhor o português são aquelas que tem habito de leitura e que busca sempre se atualizar com as normas. Enquanto que as que falam menos correta é aquelas que não possuem o habito de ler e nem se corrige em suas falas.

34 anos Ensino médio Completo.

As pessoas que falam corretamente, são aquelas que mais exercita essa função. As que não falam corretamente, são aquelas de nível mais inferior a escolaridade.

Aproximadamente 36 anos

Graduação em matemática.

Não. Falar melhor ou pior, não depende de região, já que as normas são para o brasileiro e não regional. Depende de fatores relacionado ao acesso ao conhecimento, saberes científicos...

44 anos Graduação Pedagogia e especialização em Psico pedagogia.

Não, apenas há formas diferentes de falar.

49 anos Graduação em pedagogia.

Depende muito da classe social de cada um, isso conta muito no ler, escrever e falar. Existe também uma pressão social

Page 10: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

para o falar corretamente.

80 anos Não alfabetizado. Existem sim, algumas pessoas sabem se expressar melhor que as outras porque tem estudo.

76 anos Não alfabetizada Existe Sim, sim,. Conheço. É pessoas da roça. Pessoas amalfabéticas como eu sou.

Como podemos observar nos quadros acima, as regiões centrais

economicamente ricas parecem influenciar a ideia de um falar melhor, esta ideia de

falar melhor ou pior em regiões não é tão forte quando comparamos o melhor ou pior

no falar individual; A ideia mais forte está ligada em comparação a quem estuda e

tem um grau de escolaridade mais elevado, e quem estudou menos ou não estudou;

estes com graus de escolaridade mais elevados estão, segundo a pesquisa, mais

próximos do falar “correto”.

4 - Em sua opinião existe uma língua portuguesa correta, para os brasileiros? Para você qual seria?

Idade: Grau de Escolaridade:

Respostas:

11 anos Cursando o 6º ano. Não tem, Mas não falam o português direito mesmo.

15 anos Cursando o 1º ano Ensino Médio.

Não.

17 anos Cursando o 1º ano ensino Médio

Não teria não.

21 anos Graduando de administração.

Acredito que não, porque em algumas situações temos que usar uma linguagem formal, enquanto que no dia a dia não tem essa cobrança. E outro ponto a língua portuguesa no Brasil é muito diversificada em cada região.

34 anos Ensino médio Completo.

Existem, porém ninguém consegue falar corretamente como se escreve.

Aproximadamente 36 anos

Graduação em matemática.

Sim. A que atende as normas. Sem tanto modésmo, sem tanta variantes.

44 anos Graduação Pedagogia e especialização em Psico pedagogia.

Não existe.

49 anos Graduação em pedagogia.

A língua portuguesa já tem suas regras que se diz corretas que vem tendo suas

Page 11: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

mudanças e correções.

80 anos Não alfabetizado. Há sim existe. As palavras que as crianças falam as professoras corrigem.

76 anos Não alfabetizada. Sim, a que a escola ensina.

Essa questão de língua correta pode se perceber que quem tem

conhecimento linguístico afirma que não, mas alguns optou em afirmar que não

talvez pelo fato de existir uma segunda pergunta caso a resposta fosse afirmativa, o

imaginário de língua para a maioria dos falantes é que existe sim uma língua correta

que seria a língua escrita e normatizada.

5 – conhece alguém que enfeita o jeito de falar, em alguma situação? (você se lembra de algum momento?).

Idade: Grau de Escolaridade:

Respostas:

11 anos Cursando o 6º ano. Que me lenbre não.

15 anos Cursando o 1º ano Ensino Médio.

texto e ela colocava palavras q n tava no texto.

17 anos Cursando o 1º ano ensino Médio.

Sim, quando esta querendo se mostrar.

21 anos Graduando de administração.

Sim. Quando esta no meio de amigos fala de uma forma, mas quando se encontra com alguém que tem alguma posição na sociedade fala diferente usa um vocabulário que ñ tem costume, Presenciei por varias vezes esta cena.

34 anos Ensino médio Completo.

Conheço sim.

Aproximadamente 36 anos

Graduação em matemática.

Não respondeu.

44 anos Graduação Pedagogia e especialização em Psico pedagogia.

Sim, lembro apenas das palavras: dificuldade = dificulidade guloso = goloso.

49 anos Graduação em pedagogia.

Não. Depende também a questão do regionalismo.

80 anos Não alfabetizada. Sim, minhas filhas às vezes falam tantas

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palavras que eu não entendo, mas não me lembro de um caso.

76 anos Não alfabetizada. Conheço. Ah, eu não sei não. Pra se exibir.

Esta ultima questão sobre a maneira de falar parece explicar o que estamos

tentando mostrar nesta pesquisa, os pesquisados entende que quando uma pessoa

fala diferente diante de um publico institucional, acadêmico e religioso, ou mesmo

entre pessoas influentes, para a maioria, estas pessoas estão tentando se aparecer,

ou melhor tentando superar sua própria imagem. Diante do imaginário de que quem

fala “corretamente” é valorizado ao passo que quem fala “incorretamente” é

desvalorizado. Até os falantes que não estudam, defendem a ideia de que a língua

é aquela que a escola ensina.

A hipercorreção na língua portuguesa brasileira é um fato observável, e é a

mais pura prova da opressão ideológica sobre os falantes. Para os falantes do

português falar em público é uma ação muito difícil para a maioria, por que não dizer

impossível para alguns, a universidade é o melhor caminho que um falante pode

percorrer até perder o medo ou pelo menos adquirir coragem suficiente para se

expressar em público. Mas mesmo os mais peritos oradores ficam inseguros em

muitos momentos. Em uma reunião de lideres, (com mais de duzentas pessoas

presentes), observei o orador da noite, em alguns momentos usar a palavra prejuízo

usando o “i” no lugar de “e” (prijuizo). Ao mesmo tempo que usou a palavra

“privilegio” supondo que uma é correta usando “I” a outra acaba sendo confundida e

também sendo pronunciada com o “i”. Durante a palestra está palavra foi dita varias

vezes alternando em “e” e “i”. Outro motivo para trocar do “e” pelo “i” está no duplo

sentido “pré-juízo e prejuízo”. Quando o locutor está pronunciando ele pode imaginar

que pré-juízo, que significa julgamento sem conhecimento real da causa ou pessoa

é descrito ou pronunciado com “e” e prejuízo que se trata de algo perdido em

consequência de descuido pessoal, poderia ser tal escrita ou falada com o “i”. Tal

imaginação pode leva-lo a mudança da vogal e isso pode acontecer

inconscientemente o que é muito natural entre os falantes da língua portuguesa.

A seguir estarei expondo alguns exemplos de comentários copiados da mídia

e rede sociais inclusive de grupos de compras e vendas de Pontes e Lacerda: “Pior

é não fazer nada. Quando a imprensa noticiar que uma pessoa de 16 anos foi presa

Page 13: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

e condenada a 30 anos de prisão por estuprar e matar uma moça, os DIMENOR vão

pensar 2 ou 3 vezes antes de cometer um crime, entenderam ou quer que desenhe”.

Neste recorte sobre o discurso da redução da maioridade penal. Observei que a

pessoa responsável pelo comentário tem um cuidado com a escrita, mas no

momento de nomear o sujeito do discurso ela escreve destacando com letras

maiúsculas para tentar mostrar a quem estava se referindo; ao se deparar com uma

palavra muito comentada, mas pouco escrita ela sente a dificuldade e não consegue

manter a mesma sequencia corretamente, mas inconscientemente continua sua

opinião, e escreve “os dimenor” ao invés de “os menores infratores” neste enunciado

ela não é objetiva no sentido semântico ao deixar todos menores incluídos por não

especificar quem é os menores que ela está se referindo, e perde a sequencia de

concordância verbal ao colocar o artigo no plural e o referente no singular, tudo isso

porque apareceu uma palavra no meio do enunciado que causou um desequilíbrio

linguístico diferente do natural; portanto ao tentar se expressar corretamente ela caiu

na hipercorreção. Como vemos na sequencia ela volta a sua normalidade. Outro

exemplo a ser analisado: “Quem não é vitima desses "de menores" nas ruas?

esperar mais o que, referendo? tenha santa paciência!”. Neste enunciado

deparamos com a hipercorreção muito parecida com a anterior, o enunciador está

tentando referir aos indivíduos que não podem ser julgados pelo código penal

brasileiro, que se trata dos menores de 18 anos. Podemos observar que ela destaca

o termo com aspas, ela está referindo aos individuos, então seria “menores de

idade” com a preposição “de” à frente, mais a palavra idade, este caso não houve

troca de vogal, mas a inversão de concordância nominal. Existe uma expressão

muito parecida que é “juizado de menores” a qual se refere que o juizado é

especifico para os menores de idade; por esse motivo qualquer enunciador poderá

trocar letras posições das palavras ao escrever e ao falar em publico e poderá cair

na hipercorreção. “Adotei meu timão histo e que e copo valeu kkkkkkkkkkk. Eles

estavam tão felizes tiveram uma filha recentemente, por isso peço que horem”.

Vejamos estes enunciados, o pronome “isto” se referindo ao copo, e o verbo “orem”

pedindo que intercedam por alguém que estava feliz e sofreu um acidente, vem de

forma curiosa, ao observarmos o termo parece ser apenas um erro de digitação,

mas se observarmos em qualquer teclado de dispositivos digitais podemos notar que

as teclas “i e h” “o e H” não estão juntas, então o “h” foi digitado consciente. Mas

então por quê? Pressupondo que como o “h” é usado em muitas palavras sem

Page 14: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

alterar a pronuncia, e parece não alterar o sentido semântico das palavras, pode

mesmo implantar duvidas em muitos momentos, e provocar a hipercorreção. “vendo

um carrinho de vender espetinho os enteressados me ligam, enteressa num

terreno”. Estes são outros exemplos de confusão no uso da língua, quem é que

nunca ficou indeciso no momento de usar “i” ou “e”? “ESTOU QUERENDO

COMPRAR UMA BIZ 125 a partida... BEM CONSERVADO DE ATE 4 mil”. Neste

enunciado o sujeito troca o gênero da palavra “conservada” já que o substantivo está

se referindo a moto pela “conservado”. “Este vendedor eu índico!!!” Neste caso o

enunciador coloca um acento na palavra “indico”. Todos esses exemplos de

hipercorreção são muito comuns no funcionamento da língua portuguesa e qualquer

língua.

Considerações finais

Finalizando este trabalho, compreendo que o funcionamento da

“hipercorreção”, não é um fato linguístico, mas uma tentativa inconsciente de

escapar dos preconceitos linguísticos a que todos estão expostos, digamos que é a

pior maneira de conceber os valores de uma pessoa pela sua escrita ou fala. Assim

a minha pesquisa não direciona um olhar apenas linguístico como a sociolinguística,

mas como o sujeito é identificado no valor discursivo da língua, e este sujeito está

sempre julgado no imaginário tradicional de língua. Para entender melhor o valor

discursivo na língua, temos que entender que a língua imaginária está atrelada ao

social de forma antagônica, atribui-se um valor absoluto a língua padrão, portanto a

língua materna acaba sendo destituída de valor e naturalmente o sujeito falante da

mesma. Segundo Azambuja há uma relação tensa e contraditória entre as línguas

de um mesmo espaço físico cultural. É nesse contexto histórico ideológico que o

sujeito está inserido.

Referencias:

1. AZAMBUJA, Elizete Beatriz. O Funcionamento Ideológico na Produção da

“Hipercorreção”. Campinas, Unicamp. 2012.

2. BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. São Paulo SP. Edições

Loyola. 2ª Ed. Novembro de 2001.

Page 15: Hipercorreção língua fluida X língua imaginaria

3. _______. Português ou Brasileiro? Um Convite à Pesquisa. São Paulo, SP.

Parábola Editorial, 2ª Ed. Outubro de 2001.

4. _______. A norma oculta. Língua e Poder na Sociedade Brasileira. São Paulo

SP. Parábola Editorial, 2003.

5. RODRIGUES, Hélio. A variação linguística no português brasileiro com

pessoas influentes do Brasil.

6. MUSSALIM, Fernanda, BENTES, Ana Cristina. Introdução à Linguística,

domínios e fronteiras. São Paulo SP. Cortez Editora. 2001.

7. ORLANDI, Eni Puccinelli. Histórias das Ideias Linguísticas. Cáceres,

UNEMAT Editora, 2001.

8. _______. Eni Puccinelli, Política linguística na América Latina. Campinas, SP.

Pontes 1988.

9. PERINI, Mário Alberto. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo SP.

Parábola Editorial, 2010.

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amarela/ > acessado em 16/04/15.