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Manuais, didática, história da educação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS
CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
CAMILA MARIA CHIARI
EDUCAO, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA NO PENSAMENTO EDUCACIONAL
DE CARLOS DA SILVEIRA 1916 1923.
SO CARLOS SP 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS
CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
CAMILA MARIA CHIARI
EDUCAO, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE
CARLOS DA SILVEIRA 1916 1923.
SO CARLOS SP 2014
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Educao da
Universidade Federal de So Carlos,
como parte dos requisitos para
obteno de ttulo de Mestre em
Educao.
Orientao: Prof Dr Alessandra Arce
Hai
Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria da UFSCar
C532ep
Chiari, Camila Maria. Educao, pedagogia e psicologia no pensamento educacional de Carlos da Silveira 1916 1923 / Camila Maria Chiari. -- So Carlos : UFSCar, 2014. 117 f. Dissertao (Mestrado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2014. 1. Educao - histria. 2. Brasil - educao. 3. Silveira, Carlos da, 1883-1964. 4. Escola nova. I. Ttulo. CDD: 370.9 (20a)
queles que tanto meu apoiaram,
meus pais
AGRADECIMENTOS
Profa. Dra. Alessandra Arce Hai pela dedicao, pacincia e empenho em suas
orientaes. Por seus conselhos que proporcionaram o enriquecimento do trabalho e tambm
de minha formao.
Aos meus pais, Fernando e Ana Maria, presentes nos momentos difceis e nas maiores
alegrias, sempre me apoiando e incentivando durante os estudos. Obrigada por ajudar a realizar
sonhos e planos!
Ao Senhor Carlos Alberto da Silveira Isoldi Filho, bisneto do professor Carlos da
Silveira, meus sinceros agradecimentos por todo desprendimento de tempo, dedicao,
preocupao e apoio pesquisa. Todos os materiais que me enviou e as conversas que
proporcionou colaboraram muito para a continuao da pesquisa. Agradeo ainda a toda a sua
famlia que participou e se solidarizou. Meus agradecimentos especialmente senhora Maria
Clara, que muito me contou e ensinou por meio de suas conversas, obrigada por tamanha
simpatia.
Aos meus irmos. Fernanda, por sempre colaborar com suas experincias acadmicas
e por emprestar seu endereo residencial para que eu pudesse receber livros e cartas. Ao Luiz,
por contribuir com minha fundamental aquisio de estudo e trabalho. Renata, minha
confidente, por sempre estar presente e me apoiar em todas as decises. Ao Paulo, por me
emprestar seu espao e escrivaninha para a minha baguna de livros e textos. Amanda, por
manifestar seu apoio e incentivo com sua determinao. Meus agradecimentos por
proporcionarem os risos, conselhos e os momentos mais valiosos.
Aos meus cunhados, Thalita e Alessandro, pela pacincia e amparo nos momentos que
mais precisei. E s minhas tias que sempre apoiaram e me emprestaram o computador por
muitas e muitas vezes: ngela, Silvana e Cristina.
Aos meus queridos amigos, pelas inestimveis colaboraes. Marcela B., Marcela M.,
Marco, Camila, Juliana, Vitor, Lvia, Natlia. Obrigada pela amizade, compreenso, conselhos,
risos, companheirismo e toda dedicao e nimo que proporcionaram durante a realizao do
trabalho.
Michele, pela sua confiana, fora, determinao e amizade, por contribuies e
preocupaes e principalmente pelo seu apoio inestimvel.
Aos professores que durante as disciplinas da ps-graduao propuseram discusses,
atividades, encontros que ajudaram em minha formao no apenas profissional, mas cidad.
Ao professor Jos Carlos Rothen, por sua colaborao no desenvolvimento final e
acompanhamento da pesquisa. Minha sincera gratido por participar de um momento to
importante para mim.
Aos funcionrios da Escola Estadual lvaro Guio por toda prestao de servio e
colaborao, em especial a diretora Dona Regina, por sempre me apoiar.
Os meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que fazem parte da minha vida e
contribuem para torn-la repleta de momentos gratificantes e inesquecveis.
Agradeo a Deus por estar sempre presente em minha vida iluminando meus caminhos.
Imagem 1: Carlos da Silveira lendo jornal na cidade de Santos-SP em 1916.
Fonte: Arquivo pessoal da Famlia Silveira
O momento que ambicionveis chegasse, da entrega de
diplomas, significa a separao, a apreenso do
futuro, o incio, para vs, da luta pela vida.
(SILVEIRA, n.13, 1923, p.14)
RESUMO
A presente pesquisa realizada no mbito da Histria da Educao Nacional tem seu incio em
meio a assuntos voltados a escola normal, mais especificamente a Escola Normal de So
Carlos SP. Valoroso espao de ensino-aprendizado que possibilitou a formao de professores durante um extenso tempo em nosso pas, coberta pelo prestgio que a destaca
entre os demais institutos educacionais da regio. A compreenso desse processo de formao
de professores permite descrever ainda a elite intelectual do Estado de So Paulo, pois muitos
dos alunos formados na capital migravam para o interior no intuito de ocupar as cadeiras de
professores disponveis nas escolas normais. No diferente disto, a Escola Normal Secundria
de So Carlos foi tambm muito bem representada por esses intelectuais, como exemplo o
Professor Carlos da Silveira que ocupou importante cadeira na escola normal de So Carlos
entre os anos de 1911 a 1921. Por isso, esta dissertao tem por objetivo analisar as ideias
educacionais do educador brasileiro Carlos da Silveira procurando apreender por meio de suas
concepes de educao, pedagogia e psicologia a divulgao dos seus ideais e os ideais da
Escola Nova no Brasil no perodo de 1916 a 1923. A pesquisa surgiu em meio ao trabalho do
qual participei como bolsista treinamento no projeto As ideias Pedaggicas em movimento na Formao de Professores na Escola Estadual Dr. lvaro (1930-1969): uma anlise de seu
acervo bibliogrfico e documental. O acervo documental e bibliogrfico da Escola Normal de So Carlos possibilitou conhecer a histria da educao brasileira, e chamou a ateno em
especial para a riqueza investigativa nele encontrada. A frequente presena de Carlos da
Silveira na Revista Escola Normal de So Carlos despertou a busca por maior compreenso
sobre este grande intelectual e educador brasileiro, que apesar do seu vasto material de
publicao, no possui estudos aprofundados sobre sua vida e obras. Silveira dedicou-se
educao e a promover suas ideias educacionais publicando-as em revistas e jornais. Este fato
abre a pesquisa para uma investigao profcua, que envolve reunir seus artigos para
compreender as ideias que defendia. A relevncia desta pesquisa consiste na (re)descoberta de
registros fundamentais para a reconstituio e compreenso da Histria da Escola Pblica
Brasileira e, mais ainda, para a (re)construo da Histria da Educao Nacional.
Palavras-Chave: Histria da Educao Brasileira, Carlos da Silveira, Movimento Escola
Nova.
ABSTRATC
This research carried out in the context of the history of National Education has its beginning
in middle normal school-oriented issues, more specifically the regular school of So Carlos-
SP. Valuable teaching-learning space that allowed the formation of teachers during a long
time in our country, covered by the prestige that stands out among the other educational
institutes in the region. The understanding of this teacher training process allows you to
describe the intellectual elite of So Paulo State, because many of the graduates in the capital
migrated inland in order to occupy the chairs of teachers available in normal schools. Not
unlike this, the Secondary Normal School of San Carlos was also very well represented by
these intellectuals as an example Professor Carlos da Silveira who occupied important chair
at the Escola Normal de So Carlos from 1911 to 1921. Therefore, this dissertation aims to
analyze the educational ideas of Brazilian Carlos da Silveira educator looking to capture
through its conceptions of education, pedagogy and psychology the disclosure of its ideals
and the ideals of the new school in Brazil during the period from 1916 to 1923. The research
appeared in the midst of the work which I participated as a training in the project
"Pedagogical ideas in motion in the formation of teachers at Escola Estadual Dr. lvaro
(1930-1969): an analysis of his bibliographic collection and documentation". The
documentary and bibliographic collection of the Normal School of San Carlos made know the
history of Brazilian education, and drew attention in particular to the investigative wealth it
found. The frequent presence of Carlos da Silveira in the Normal School of San Carlos
sparked the search for greater understanding of this great Brazilian educator and
intellectual, which despite its vast publishing material, has no in-depth studies about his life
and works. Sen devoted himself to education and to promote his educational ideas by
publishing them in magazines, newspapers etc. This fact opens the search for a productive
research, that involves to gather their articles to understand the ideas he espoused. The
relevance of this research consists in the (re) discovery of records fundamental to the
reconstruction and understanding of the history of Brazilian public school and, even more,
for the (re) construction of the history of National Education.
Keywords: history of Brazilian education, Carlos da Silveira, New School Movement.
LISTA DE QUADRO
Quadro 1: Currculo e disciplinas da Escola Normal de So Paulo a partir de 1890................47
Quadro 2: Lentes e Cadeiras da Escola Normal de So Carlos em 1917............................... 69
Quadro 3: Lentes que participaram da Revista da Escola Normal de So Carlos....................73
Quadro 4: Artigos publicados por Carlos da Silveira na Revista Escola Normal.....................75
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Quantidade de alunos e cidades provenientes que foram matriculados na Escola
Normal de So Carlos em 1912................................................................................................64
Tabela 2: Quantidade de alunos e cidades provenientes que foram matriculados na Escola
Normal de So Carlos em 1913................................................................................................65
LISTA DE IMAGENS
Imagem 01: Carlos da Silveira lendo jornal na cidade de Santos-SP em 1916........................06
Imagem 02: Fachada da Escola Normal de So Paulo na dcada de 30...................................13
Imagem 03: Entrada principal da Escola Normal de So Carlos prximo a dcada de 30.......20
Imagem 04: Diploma do curso da Escola Normal de So Paulo em 1904...............................34
Imagem 05: Sede da Escola Normal da Praa em 1894............................................................37
Imagem 06: Carlos da Silveira com sua famlia: me, esposa e filhas.....................................44
Imagem 07: Carlos da Silveira na dcada de 1930...................................................................46
Imagem 08: Documento oficial da nomeao de Carlos da Silveira como secretrio da Escola
Normal de So Carlos...............................................................................................................52
Imagem 09: Documento administrativo que apresenta Carlos da Silveira como Secretrio da
Escola Normal de So Carlos....................................................................................................53
Imagem 10: Documento oficial da nomeao do Secretrio Carlos da Silveira para Lente de
Pedagogia, Psicologia e Educao Cvica.................................................................................54
Imagem 11: Livro administrativo com nome do professor e disciplina correspondente a que
leciona.......................................................................................................................................55
Imagem 12: Documento oficial de transferncia para a Escola Normal do Braz.....................56
Imagem 13: Vista area da Antiga Escola Normal de So Carlos............................................59
Imagem 14: Antigo Predito da Escola Normal de So Carlos (atualmente E.E. Eugnio
Franco)......................................................................................................................................62
Imagem 15: Vista da fachada da Escola Normal Secundria de So Carlos na dcada de
1920...........................................................................................................................................63
Imagem 16: Lentes da Escola Normal de So Carlos nos anos inicias da escola.....................66
Imagem 17: Capa do primeiro nmero da Revista da Escola Normal de So Carlos 1916...72
Imagem 18: Alguns nmeros da Revista Escola Normal de So Carlos..................................80
Imagem 19: Alunos e professores da Escola Normal de So Paulo em 1908.........................101
SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................................... 14
2. A EDUCAO NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA REPBLICA: O
ENTUSIASMO PELA EDUCAO ...................................................................................... 21
3. A ESCOLA NORMAL DE SO PAULO E O MODELO PAULISTA DE
ENSINO...................................................................................................................................35
3.1. A FORMAO DE PROFESSORES NA ESCOLA NORMAL DE SO PAULO ............................... 39
4. CARLOS DA SILVEIRA: A TRAJETRIA DE UM INTELECTUAL .................. 45
5. A ESCOLA NORMAL DE SO CARLOS .................................................................. 60
5.1. A REVISTA ESCOLA NORMAL DE SO CARLOS ................................................................. 69
5.2. CARLOS DA SILVEIRA NA REVISTA DA ESCOLA NORMAL DE SO CARLOS ....................... 75
6. EDUCAO, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA: CONCEPES DE UM LENTE
DA ESCOLA NORMAL. ....................................................................................................... 81
6.1. EDUCAO .................................................................................................................... 81
6.2. PEDAGOGIA ................................................................................................................... 89
6.3. PSICOLOGIA .................................................................................................................. 96
7. CONCLUSES ............................................................................................................. 102
REFERNCIAS....................................................................................................................108
ANEXO A PUBLICAES NA REVISTA DA ESCOLA NORMAL DE SO
CARLOS ............................................................................................................................... 112
Imagem 2: Fachada da Escola Normal de So Paulo na dcada de 30
Intensifique o professorado nosso num trabalho no
sentido indicado, fomentando esse credito social de
que elle prprio se beneficiar; procurem os mestres
tornar-se cada vez mais dignos da confiana publica,
firmando a sua reputao em actos que no em
promessas, pois no dia em que os brasileiros puderem
descansar na segurana da obra educativa da escola,
ahi ento veremos realizada a apstrophe do poeta,
quando bradava aos moos estudantes, no famoso
hymno:
Mocidade, eia avante, eia avante!
Que o Brasil vos aguarda com f!
Esse immenso colosso gigante,
Trabalhai por ergu-lo de p!
(SILVEIRA, n. 13, 1923, p.9).
14
1. INTRODUO
A pesquisa apresentada fruto do trabalho de mestrado que contou com a orientao
da professora Dra. Alessandra Arce Hai junto ao Programa de Ps-Graduao da
Universidade Federal de So Carlos (PPGE - UFSCar). O projeto, financiado pela CAPES,
produto das discusses, trabalhos e pesquisas que aconteceram ainda durante a graduao,
envolvendo assuntos sobre a histria da educao, a histria das instituies e a histria das
ideias pedaggicas, mas principalmente da minha participao no projeto de restaurao e
organizao do acervo da Escola Normal de So Carlos, em parceria com a Unidade de
Educao, Informao e Memria (UEIM) do Centro de Educao e Cincias Humanas da
UFSCar (CECH) e com a direo da Escola Estadual Dr. lvaro Guio de So Carlos,
tombada pelo patrimnio nacional. O trabalho inserido no eixo "Historiografia, acervos e
educao", teve como finalidade recuperar, conservar e organizar o acervo documental e
bibliogrfico do Museu Pedaggico da antiga Escola Normal de So Carlos, atual Escola
Estadual Doutor lvaro Guio, para possibilitar a utilizao destes materiais como fonte de
pesquisa em histria e historiografia da educao e histria das ideias pedaggicas. Intitulado
Ideias Pedaggicas em Movimento na Formao de Professores na Escola Estadual Dr.
lvaro Guio (1930-1969): Uma Anlise de seu Acervo Bibliogrfico e Documental o
trabalho foi fomentado pela FAPESP no perodo de 2009 a 2010. Tal atividade promoveu a
possibilidade de acesso a mais de 3300 livros com obras datadas do sculo XVI, XVII, XVIII,
XIX e XX, alm de documentos, colees referentes formao de professores e
aproximadamente 20 peridicos alguns com mais de 40 fascculos. Esse fato possibilitou
observar a relevncia histrica e educacional presente em seus materiais, no somente na
formao de professores como tambm na (re)construo da histria da educao nacional. O
contato com o acervo me levou a conhecer um pouco mais a respeito da histria da educao
brasileira.
A Revista da Escola Normal de So Carlos (1916 1923), peridico pertencente ao
acervo da escola, apresentou-me ao objeto desta pesquisa. Com artigos e publicaes
realizados apenas por lentes1 de Escola Normal, o peridico contou com a participao de 27
colaboradores, sendo todos eles professores ou diretores. Ao analis-lo de forma mais
aprofundada foi detectada a presena e grande relevncia dos professores Carlos da Silveira e
de Joo Augusto de Toledo. Ambos assinam seus artigos como lentes de Psicologia e
1 Nomenclatura utilizada para caracterizar e destacar professores do ensino normal.
15
Pedagogia da Escola Normal Secundria de So Carlos e participam na Revista de maneira
bem enftica.
A frequente presena de Carlos da Silveira no peridico, com textos que abordam
assuntos importantes sobre a histria da educao do pas, demonstra discusses relevantes
que s poderiam ser transmitidas, aparentemente, por um intelectual diferenciado e
preocupado com questes educacionais, em busca de promover de fato melhorias. Portanto,
analisando todas essas descobertas e impresses algumas questes surgiram em torno de tal
personalidade. Quem foi Carlos da Silveira? Quais foram suas influncias para a educao,
em especial a educao do Estado de So Paulo? Que concepes e ideias ele divulgou? Seria
ele um precursor do Movimento da Escola Nova como foi Joo Toledo ao trabalhar com as
ideias de John Dewey2?
Com a finalidade de ampliar as informaes sobre o autor e visualizar no cenrio
nacional sua real importncia, realizou-se um breve levantamento acerca de sua trajetria de
vida e atuao profissional.
Nascido em Silveiras SP em 21 de Junho de 1883, Carlos da Silveira cresceu em
Queluz SP e mudou-se para a cidade de So Paulo. Cursou e diplomou-se pela Antiga
Escola Normal da Praa e participou de preparatrios no curso Anexo; formou-se em Direito
pela Faculdade de So Paulo; foi professor de Escola Isolada, professor em misso no estado
de Sergipe, lente de Escola Normal e professor interino de Psicologia e Pedagogia; diretor de
Escola Reunida; Secretrio de Escola Normal; inspetor de Escola Normal; Catedrtico da
Histria da Civilizao. Ou seja, atuou organicamente na formao de professores nas
primeiras dcadas do sculo XX no s no Estado de So Paulo, mas colaborou tambm no
Nordeste brasileiro divulgando suas ideias e o modelo de ensino proferido em So Paulo.
Em peridicos possvel notar uma grande colaborao e participao3 em diversos
materiais que tratam de assuntos educacionais, mas tambm cooperou em demais jornais e
revistas que comportam assuntos diversificados, como por exemplo, genealogia. Dentre
grande parte destes materiais possvel acompanhar seus trabalhos em: O Incio (com
pseudnimo de Acharat); O Pas (do Rio de Janeiro); Revista da Escola Normal;
Educao; Nevoas; Estado de So Paulo, Jornal do Comercio, Dirio de S. Paulo,
Dirio da Noite, Correio Paulistano, Revista do Brasil, Revista do Ensino etc.
2 Como apresentado no trabalho de dissertao de mestrado de Varotto (2012), intitulado: As apropriaes das
ideias educacionais de John Dewey na antiga escola normal Secundria de So Carlos SP. 3 necessrio enfatizar que o Carlos da Silveira colaborou em peridicos no apenas com publicaes de
artigos, mas tambm como membro da comisso de organizao, a exemplo da Revista Educao (em 1928).
16
Como j mencionado, as participaes de Carlos da Silveira vo alm de um mestre do
ensino normal, visto que sua trajetria como grande estudioso permitiu que se tornasse
tambm: historiador, cronista, genealogista, pedagogo, ensasta, bigrafo. Suas entradas to
diversificadas no cenrio educacional o tornam um personagem importante para a
compreenso da histria e da educao brasileira.
O Professor Silveira dedicou-se, em grande parte de suas obras, a desenvolver
trabalhos e pesquisa sobre temas referentes educao, por isso possvel encontrar a maior
parte de suas ideias publicadas em revistas e jornais. Este fato abre a pesquisa para uma
investigao profcua, porm difcil, pois envolve reunir seus artigos para apreender e
compreender as ideias que defendia.
O material de anlise escolhido foi a Revista Escola Normal de So Carlos. Nela
Silveira realizou uma sequncia de trabalhos, colaborando com o peridico em todo seu
perodo de existncia (sete anos), ou seja, publicou em todos os 13 nmeros, abordando
temticas de grande relevncia, com assuntos e discusses sobre temas referentes Histria
da Educao, principalmente sobre Escolas Normais em So Paulo e sobre questes de ensino
como o ensino da lngua ptria e o papel educativo da Escola Primria, a educao cvica,
entre outros. Ao lado de autores que foram significativos para a educao brasileira, a
exemplo de Joo Toledo, destaca-se a importncia de estud-lo como um intelectual
pertencente ao conjunto de indivduos que trabalharam pela educao brasileira por meio da
divulgao de ideias pedaggicas e educacionais impressas em jornais e revistas.
Com estes sucintos exemplos da presena e influncia exercida pelo professor, esta
pesquisa objetivar trabalhar com a leitura e anlise das publicaes do autor efetuadas no
perodo de 1916 a 1923. O trabalho est centrado na hiptese de que Carlos da Silveira, assim
como Joo Toledo, teria sido um precursor na divulgao dos ideais escolanovistas no Brasil.
Por isso, sero analisados os seus textos publicados anteriormente ao Manifesto dos Pioneiros
da Educao Nova em 1932. Os estudos dos intelectuais brasileiros tm sido cada vez mais
ampliados em nosso pas. Muitos desses intelectuais que colaboraram com o Manifesto tm
ganhado espao em estudos e pesquisas sobre suas vidas, pensamentos e ideias. Compreender
o pensamento destes intelectuais e as redes de colaborao por eles estabelecidas contribui na
(re)construo da histria da educao brasileira.
O campo da Histria da Educao tem acrescido suas preocupaes com estudos por
ser compreendido como uma rea que rene um conjunto rigoroso e atento de pesquisa, como
descrito por Cury (2013). Trata-se de um campo que vem se impondo pela busca permanente
de objetos de pesquisa, pela qualidade e pela pluralidade de pontos de vista. (CURY, 2013,
17
p.9) Alm do mais, ao realizar estudos sobre a histria da educao notamos que a situao
presente da educao nacional provoca, nos pesquisadores, a busca e o reconhecimento de um
processo de cuja herana somos atores e autores. (CURY, 2013, p.9).
Por isso, a pesquisa proposta no buscar a escrita de uma biografia do autor, mas
procurar compreender as ideias pedaggicas presentes em sua trajetria de vida (formao
acadmica, trajetria profissional, as concepes etc.) e as interlocues realizadas pelo
educador e intelectual brasileiro Carlos da Silveira, com foco em sua importante e intensa
participao na educao e concomitantemente na histria da educao do pas.
Para Reis Filho (1999) estudar Histria da Educao possibilita uma viso ampla e
global ao educador, pois por meio da transmisso das heranas culturais possvel observar
e compreender como se deu a evoluo social, visto que as organizaes sociais, para garantir
continuidade no tempo e espao, necessitam de um conjunto de meios educativos.
Historicamente cada sociedade elabora o seu sistema educacional de forma particular. Por este
motivo compreende-se que a educao inseparvel do contexto sociocultural. Assim, pode-
se dizer que a ao educativa , pois, tambm poltica. No h filosofia ou procedimento
educativo neutro: ou promove e incorpora as foras do desenvolvimento social ou freia e
sustenta as foras de estagnao e retrocesso social. (REIS FILHO, 1999, p.8) Por isso, os
pesquisadores em educao devem ter cautela para obter o sentido da sntese histrica, da
evoluo das instituies educacionais e do pensamento pedaggico que realizam. Desta
maneira, os pesquisadores da histria da educao sero pesquisadores capazes de estudar os
perodos mais significativos e as personalidades mais criadoras da evoluo educacional
brasileira. (REIS FILHO, 1999, p.8).
Existe, portanto, a necessidade de conhecer a realidade educacional composta, no se
tratando apenas de um conhecimento do passado, mas de um conhecimento histrico que
possibilite refletir de maneira filosfica o contedo da realidade com vistas s diretrizes e
coordenadas da ao pedaggica. S ento, a Histria da Educao Brasileira poder adquirir
a funo pedaggica de contribuir para a formao da conscincia crtica do educador
brasileiro. (REIS FILHO, 1999, p.8). Pensando na importncia de desenvolver um estudo em
Histria da Educao, pode-se dizer que o professor Carlos da Silveira, comporta as
exigncias de uma personalidade nacional com participao na evoluo e transformao da
educao e que faz jus a uma pesquisa pautada em suas obras e pensamento educacionais.
Para Sirinelli (2003) compreender a histria dos intelectuais, assim como a exemplo
de Carlos da Silveira, interpretar e estudar um campo que no se restringe a compreenso de
si mesmo, pois carrega consigo a necessidade de interpretao de um espao aberto e que se
18
situa em um cruzamento entre as histrias poltica, cultural e social. Desta forma, ao fazer a
anlise da histria de um intelectual no se pode estud-lo apenas de forma fechada, pois para
interpretar suas ideias preciso realizar um estudo de maneira ampla, de modo a incluir as
concepes individuais abarcando as representaes coletivas. Alm do mais, acredita-se que
a histria dos intelectuais passa obrigatoriamente pela pesquisa, longa e ingrata, e pela
exegese de textos, e particularmente de textos impressos, primeiro suporte dos fatos de
opinio, em cuja gnese, circulao e transmisso os intelectuais desempenham um papel
decisivo (SIRINELLI, 2003, p.245).
Por isso, quando pensamos na leitura realizada do conjunto, ou partes, da obra de um
autor mundo a fora nos deparamos com a ideia da partilha de cdigos culturais, de acordo
com Carvalho (2001), apropriados, Catani (2000), a partir de relaes e prticas especficas.
Constroem-se por vezes significados, atribuem-se sentidos muito diversos dos inicialmente
propostos, tracejam-se rupturas, continuidades, abre-se, por vezes um hiato entre usos
prescritos e usos efetivos, (CATANI, 2000, p. 146). Por isso pensar em um trabalho de
histria que envolva analisar, compreender a obra de um determinado autor, como Carlos da
Silveira nos traz dificuldades e cuidados extras no trato com as fontes e, nas anlises a serem
realizadas. Portanto, no d para realizar a anlise a que pretendemos sem olhar as
transformaes sofridas pelas ideias, isto significa tentar apreender o movimento de
apropriao das mesmas.
A produo de Carlos da Silveira situa-se neste contexto, ao mesmo tempo de
internacionalizao e tambm de tentativa de produo de um conhecimento escolar que se
situa no mbito das produes brasileiras. Pois nas primeiras dcadas do sculo XX no Brasil
buscava-se apreender e implementar os debates internacionais e suas proposies
pedaggicas, ao mesmo tempo em que trabalhava-se pela formao do homem republicano
brasileiro.
De acordo com Depaepe (2003) a pesquisa em histria da educao exige do
pesquisador instrumentos e conceitos que viabilizem a compreenso, mas
principalmente, os pesquisadores precisam ter suporte terico slido para perscrutar
as implicaes dos paradoxos educacionais. Ademais, tais pressupostos possibilitam
ao pesquisador em histria da educao atentar-se em suas anlises para o discurso
pedaggico e o processo de apropriao e circulao das ideias pedaggicas. Tal
compreenso leva o pesquisador a observar a necessidade de aprofundamento no seu
objeto de estudo, como tambm no domnio de uma metodologia que permita uma
anlise e um tratamento dos dados capaz de suportar a prpria dinamicidade em que
o material/objeto/fonte foi produzida. Isto , o pesquisador em histria da educao
e na histria das ideias pedaggicas necessita ter um arcabouo terico e uma
instrumentalizao no processo de anlise que permita compreender o objeto dentro
do seu tempo histrico e, portanto, o distanciamento necessrio para apreender seus
elementos, como tambm, no isol-lo de uma complexidade histrica em que o
mesmo foi e constitudo. Nesse caminho, Depaepe, Hermann, Surmont, VanGorp e
19
Simon (s.d2, p. 7) argumentam da necessidade de se utilizar um modelo terico
capaz de permitir ao pesquisador captar a estrutura que marca o fenmeno a ser
estudado em conjunto com a dinamicidade de sua constituio. (BALDAN &
ARCE, 2012, p. 12-13)
Concordando com a citao acima neste trabalho de pesquisa alm de procurarmos
aprofundar a questo metodolgica, trabalharemos na tentativa de apreender, compreender e
analisar as concepes de educao, pedagogia e psicologia presentes no perodo histrico de
produo dos textos de Carlos da Silveira, bem como tambm de sua formao enquanto
educador. Como procedimento metodolgico, de acordo com Toledo (2001, p. 20), buscou-se
trabalhar a anlise dos dispositivos materiais (formato, ttulo, frontispcio e diagramao) e
dos dispositivos do aparelho crtico dos peridicos e jornais (orelhas da capa e da contracapa,
direitos autorais/ficha catalogrfica, dedicatria, prefcio, sumrio, ndices, bibliografia, notas
de rodap, notas de tradutor, indicao de errata e edio/tiragem). Entretanto, como ser
realizada a anlise do Peridico, Volume, data, nmero de pginas, Ttulo, Autor, Imagem
Frontispcia, Estrutura do artigo, Resumo geral do artigo, Categorias de Anlise. Alm disso,
ser realizada a busca por compreender como o perodo histrico em que o autor produziu
caracterizou-se do ponto de vista de suas concepes de educao, pedagogia e psicologia.
Portanto, para melhor entender a proposta da pesquisa, o trabalho foi divido em sete
sees principais: primeiramente uma configurao da educao na fase da Primeira
Repblica, data que abrange a formao e as publicaes de Carlos da Silveira; em seguida,
uma breve anlise da Escola Normal de So Paulo, instituio de formao do professor
Silveira, no empenho de vislumbrar como se deram as ideias iniciais e sua formao;
posteriormente, a escrita de sua biografia, a fim de compreender quem foi e os lugares onde
atuou enquanto educador e intelectual; depois disso, a realizao de uma explanao da
Escola Normal de So Carlos, instituio de prestgio no interior paulista, onde Silveira atuou
como secretrio e lente, alm de ser a instituio pertencente Revista; consequentemente,
realizada a anlise geral do material: a Revista Escola Normal de So Carlos, peridico
onde esto registradas participaes e ideias do professor Carlos da Silveira; e, por fim, uma
breve concluso da pesquisa.
Acredita-se que desta maneira seja possvel contemplar as interpretaes, a histria e a
importante passagem do Professor Carlos da Silveira no campo da Educao nacional.
20
Imagem 3: Entrada principal da Escola Normal de So Carlos prximo a dcada de 30.
Fonte: Pgina online So Carlos Antigo
Ide-vos diplomar portanto, numa era nova, de
rejuvenescimento geral, de salutar e nobilitante
confiana nos destinos da Ptria. Forma-se, aos
poucos, devido a factores vrios, um povo brasileiro
que, at hoje no existia seno como expresso
literria. a era de uma gerao que quer influir,
reformar, regenerar, precisar as directizes da nacionalidade (SILVEIRA, n.13, 1923, p. 13).
21
2. A EDUCAO NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA REPBLICA: O
ENTUSIASMO PELA EDUCAO
A Primeira Repblica, conhecida tambm como Repblica Velha, a fase pertencente
formao acadmica e s datas de publicaes realizadas por Carlos da Silveira no peridico
da Revista da Escola Normal de So Carlos (1916-1923), por isso, compreender os ideais
propostos e postos nesta fase tambm compreender a formao, as concepes e as
sugestes que este educador e intelectual desenvolve e defende ao escrever seus artigos.
Assim, ser realizada uma explanao das ideias pedaggicas4 e da educao no Brasil
referente ao contexto da Primeira Repblica (1889 1930) com vistas a descrever brevemente
esse momento que caracterizou a educao frente nova concepo e formao do cidado
brasileiro republicano.
Esse perodo caracterizado inicialmente por uma mudana de regime, ou seja,
demarcado pelo fim do Brasil Imperial para transformao em Repblica. Novos ideais
emergiam e, portanto, era preciso se desvencilhar das concepes passadas. Aps a
proclamao da repblica viu-se necessrio pensar em leis que se adequassem nova fase,
criando assim a Constituio Brasileira de 18915, que serviu como guia e foi a diretriz durante
toda a Primeira Repblica, perodo comandado por oligarquias latifundirias e pela economia
com bases na agricultura, principalmente na produo de caf, dominada predominantemente
pelos estados de So Paulo e Minas Gerais6. Visto a necessidade de mudanas nas leis de
base, outro passo que precisou ser (re)pensando para que a transformao se desse de forma
efetiva, foi referente instruo no pas, ou seja, a educao.
4 Segundo Saviani (2010) existe a necessidade de distinguir as ideias pedaggicas das ideias educacionais. As
ideias educacionais so referentes educao quer seja decorrente de fenmenos educativos visando explic-las,
quer seja advinda de determinada concepo de homem, mundo ou sociedade interpretada a partir do fenmeno
educativo. J as ideias pedaggicas so concebidas a partir de ideias educacionais, mas no em si mesmas, pois
so compreendidas como um movimento real da educao, como uma constituio da prpria substncia da
prtica educativa, ou seja, so compreendidas a partir da forma como se encarna o movimento real da educao
por meio da prtica educativa. 5Entre os principais elaboradores da Constituio de 1891 estavam Prudente de Morais e Rui Barbosa. A
Constituio de 1891 permitiu alguns avanos polticos. Uma das principais mudanas ocorridas foi a extino
do Poder Moderador, passando a ser composta a partir de ento por apenas trs poderes: o Executivo, o
Legislativo e o Judicirio. O antigo papel do imperador, por no ser mais adequado a este posto, foi substitudo
pelo de Presidente da Repblica e, alm disso, o voto, a partir da Constituio de 1891, tornou-se universal e
aberto. Com a Constituio de 1891 inaugurou-se tambm a orientao da Repblica no Brasil, publicada no dia
24 de fevereiro do mesmo ano e que vigorou at o ano de 1932. 6 Ao trmino do Governo Provisrio, que alcanou a durao de cinco anos e que originou a participao de dois
militares: Marechal Deodoro e Floriano Peixoto. O primeiro Presidente civil a ser eleito foi Prudente de Morais,
iniciando em 1894 a alternncia entre representantes das oligarquias rurais do sudeste brasileiro, por meio de
indicaes de lderes dos Estados, principalmente de So Paulo e Minas Gerais, que promoveram um perodo de
alternncia na presidncia, fase que pode ser caracterizada como auge da ordem oligrquica.
22
Ao tratar de assuntos sobre a educao na Repblica Velha, Fausto (2006a) recorda
um importante dado: a fase que abrange esse perodo representada por datas que
caracterizam um marco cronolgico e que no necessariamente encontram seu incio e fim
delimitados por essas aes histricas, mas que so postas para estudar e compreender o
contexto histrico, ou seja, no incio da educao da Repblica encontram-se ainda resqucios
da educao do Imprio, e em datas finais do antigo regime j despertam novas concepes.
Portanto, se entende que a educao foi um processo contnuo, por despertar no antigo regime
algumas novas intenses, mas que aos poucos gerou mudanas de ideias e concretas
transformaes.
Para Nagle (1974) a demarcao histrica destas duas datas (1889 e 1930), pouco
significou para o sistema educacional brasileiro, mas o que salta em especial a profunda e
vigorosa discusso que tem incio prximo ao fim do Imprio, com expectativas, desejos e
avanos sobre os assuntos educacionais. Nomeado como fervor ideolgico e passada essa fase
de mudanas de regime, Nagle (1974) reconhece a partir de ento o entusiasmo pela educao
e o otimismo pedaggico que caracterizam fundamentalmente a dcada de 1920 em diante
com discusses sobre ideais do escolanovismo.
No fim do Regime Imperial, os assuntos educacionais encontravam-se em uma
situao precria frente ao sistema escolar, mas tal situao possibilitava avanos pelo desejo
de formulao de uma poltica educacional nacional.
Schueller e Magald (1995) relembram que as escolas imperiais eram marcadas por um
signo de atraso, da precariedade, da sujeira, da escassez e do mofo. (SCHUELLE;
MAGALD, 1995, p.35) e que alm das condies limitadas do espao fsico, muito maior era
a precariedade das ideias e das prticas pedaggicas voltadas memorizao, tabuada
cantada, palmatria, a castigos fsicos etc. A m-formao ou a ausncia da formao
especializada, o tradicionalismo do velho mestre-escola. Casas de escolas foram identificadas
a pocilgas, pardieiros, estalagens, escolas de improvisos imprprias, pobres, incompletas,
ineficazes. (SCHUELLER; MAGALD, 1995, p.35). Assim, era incompreensvel a partir da
nova viso dos intelectuais, polticos e autoridades do regime republicano seguir com essas
mesmas ideias e aes. A proposta ento se voltou a inaugurar uma nova educao para novos
tempos.
Na fase inicial da dcada de 1890, duas reformas foram de grande destaque, tanto por
seus provedores quanto para a educao nacional. Dentre as especificaes que se encontram
pode-se dizer que tinham o carter:
23
Uma federal, representada pela Reforma Benjamin Constant (1890), na rea da
escola secundria; outra, estadual, na rea das escolas primria e normal, ocorreu em
So Paulo sob a direo de Caetano de Campos (1892) esta, fundamentada em princpios de natureza democrtico-liberal, no apresentou caractersticas sectrias
apontadas naquela reforma positivista. (FAUSTO, 2006a, p. 284)
Tratando de cada uma delas, preciso saber primeiramente que, com a implantao da
Repblica no pas, as ideias positivistas e do liberalismo se fizeram presentes e exaltavam as
concepes nacionalistas e a formao do novo homem frente s necessidades e realidade
do presente momento. Por isso, com o novo regime, a organizao escolar recebe um modelo
baseado nas ideias da filosofia positivista que se instalaram segundo as concepes de Comte.
O princpio desta nova Reforma que foi realizada no mbito federal contou com a
participao de Benjamin Constant, com uma proposta diferenciada do que se tinha
vivenciado at ento. Para Fausto (2006a), esta reforma
Representa a substituio do modelo curricular humanista por um outro de natureza cientfica. Tambm o aparecimento de uma escola primria especialmente alfabetizante representa outro exemplo, bem como sua substituio por uma escola
primria integral. O mesmo ocorre com o esforo para combinar, na escola secundria, as cincias com as letras, para implantar o sistema universitrio e
secundrio. Em todos esses exemplos, tentou-se ou realizou-se a substituio total
ou parcial de um modelo por outro. (FAUSTO, 2006a, p. 287).
Em suma, o modelo de educao implantado na Primeira Repblica apresentava
caractersticas distintas do regime anterior, pois acreditava que, por meio da educao pblica,
implantaria a construo da identidade nacional, utilizando-a como uma ferramenta de poder
civilizador nacional.
Voltando a questes estaduais, as transformaes do ensino no perodo republicano
tm incio em So Paulo com a Escola Normal de So Paulo e a criao da Escola Modelo.
Em 1890 o presidente Prudente de Morais encarregou o mdico Antnio Caetano de Campos
de promover a reforma de ensino utilizando modelos de escolas primrias que deveriam ser
seguidos em todo o estado.
Saviani (2010) reflete a respeito da iniciativa de Rangel Pestana, juntamente com o
diretor da Escola Normal, Caetano de Campos, de implantar as Escolas Modelo de 2 e 3
graus, anexas Escola Normal. Tal iniciativa foi tomada com base no decreto de 12 de maro
de 1890. A Escola Modelo era composta inicialmente por duas salas distintas, uma para
meninos e outra para meninas. A instalao da escola modelo assinala uma nova proposta
para a escola primria e para a formao de professores, promovendo a implantao de um
espao de observao das prticas escolares que deveriam ser incorporadas pelos futuros
mestres nas inmeras escolas do estado (SCHUELLE; MAGALD, 1995, p.43).
24
A Escola Modelo anexa Escola Normal da Capital se estabeleceu como referncia
pedaggica por todo estado, por meio dela aconteceram muitas ideias e modificaes que
passaram a ser implementadas nas escolas pblicas primrias, principalmente nos Grupos
Escolares.
Em 30 de dezembro de 1892 regulamentado o decreto n.144B, da reforma geral da
instruo pblica paulista. Mesmo tratando da instruo pblica em sua totalidade, tinha como
foco central a educao primria, com a criao dos grupos escolares7, para a substituio das
escolas isoladas.
Silveira (1919) analisa o perodo de 1892 a 1897 e explica que nesses anos muitos
educadores ressaltavam o trabalho fecundo que era desenvolvido; por isso, costumavam
classific-lo como perodo ureo. O aumento do nmero dos grupos escolares caracterizava
o anseio pela disseminao do ensino, o sonho e o desejo de que o Brasil desse um grande
salto educacional.
Saviani (2010) demonstra que cada grupo escolar8 era formado por um diretor e pela
quantidade de professores que o prprio grupo precisasse para se compor. Na verdade, a
juno das escolas isoladas formou o grupo escolar, onde as classes correspondiam agora a
sries anuais, assim, os alunos passavam gradativamente por todas as sries at a concluso
do ensino primrio. Os grupos escolares se espalharam por todo o estado e em 1910 chegou a
haver 101 grupos, sendo 24 na capital e 77 no interior. Assim, tendo sua origem em So Paulo
e aumentando frequentemente esse nmero, o modelo irradiou por outros estados.
A escola primria experimental paulista afirmava-se, assim, como parmetro para as
escolas pblicas republicanas, referido, num sentido amplo, organizao do
universo escolar. O modelo formulado e disseminado era o do grupo escolar, em que
assumiam grande relevo aspectos como a construo de prdios considerados
apropriados para a finalidade educativa, o trabalho escolar apoiado no princpio da
seriao e no destaque conferido aos mtodos pedaggicos, entre os quais se situava,
especialmente, o mtodo intuitivo; a diviso e hierarquizao da atuao dos
profissionais envolvidos no cotidiano da escola; a racionalizao dos tempos
escolares; o controle mais efetivo das atividades escolares, entre outros
(SCHUELLE; MAGALD, 1995, p.43)
7 Criado e instalado primeiramente em So Paulo em 1893, o Grupo Escolar tinha o intuito de reunir as escolas isoladas de uma regio comum. Seus criadores visavam a universalizao do ensino como forma de
modernizao do pas. O grupo escolar era conhecido pela composio dos discentes de acordo com o grau ou a
srie em que se situavam implicando em uma crescente forma de conhecimento. Diferentemente das Escolas
Isoladas, que comportavam, em uma nica classe, alunos de diferentes nveis e estgios com a utilizao de
apenas um professor, segundo as informaes de Saviani (2010).
25
Suas concepes de ensino expressavam no apenas uma nova arquitetura de
instituio, mas muito alm disso, tinham como intuito a elevao escolar com a criao dos
grupos escolares em 1893 e o emprego de mtodos pedaggicos renovados; dentre eles
destaque ao mtodo intuitivo.
Conhecido tambm como lies de coisas, o mtodo intuitivo, segundo Saviani
(2010), em um mbito mais geral, foi desenvolvido para fins de resolver a ineficincia do
ensino diante de adequaes sociais decorrentes da revoluo industrial, que se d entre o
fim do sculo XVIII e meados do sculo XIX. Ao mesmo tempo, essa mesma revoluo
industrial viabilizou a produo de novos materiais didticos como suporte fsico do novo
mtodo de ensino. (SAVIANI, 2010, p.138). Esses materiais, utilizados no Brasil por volta
da metade do sculo XIX, eram compostos por peas escolares como: quadros-negros
parietais; caixas para ensino de cores e formas; quadros do reino vegetal; gravuras; objetos de
madeira; cartas de cores (para uso da instruo primria); aros; mapas; linhas; diagramas;
caixas com pedras e metais; madeira, loua e vidro; iluminao e aquecimento. Saviani (2010)
explica ainda que o uso desses materiais dependia de objetivas diretrizes metodolgicas: a
chave para desencadear a pretendida renovao a adoo de um mtodo de ensino: concreto,
racional e ativo, denominado ensino pelo aspecto, lies de coisas, ou ensino intuitivo
(VALDEMARIN, 2004, p.139 apud SAVIANI, 2010). Resumindo, compreendia-se que o
mtodo intuitivo deveria partir de uma percepo sensvel, assim, o princpio da intuio
exige o oferecimento de dados sensveis a observao e percepo do aluno. (REIS
FILHO, 1995, p.68). Um dos manuais mais utilizados foi Primeiras lies de coisas, tendo
como autor o americano Norman Allison Calkins. A primeira edio de seu trabalho tem
como data 1861 e sua ampliao e reformulao possui data de 1870. A traduo do trabalho
foi realizada por Rui Barbosa em 1886.
Segundo Auras (2005) o mtodo desenvolvido por Calkins9, foi publicado pela
primeira vez no Brasil em 1886 e contou com a aprovao da Congregao da Escola Normal
e o Conselho Superior do Ensino da Bahia, pelo Conselho de Instruo do Rio de Janeiro
(capital da Repblica) e pela Provncia de So Paulo, que adquiriu um nmero significativo de
500 exemplares, que foram distribudos pelas escolas.
9 Segundo os estudos de Auras (2005), Rui Barbosa cita que Calkins tentou adaptar as ideias de Pestalozzi em
forma de um ensino prtico para implementar em sala de aula com finalidade de ajudar seus colegas professores.
Desta forma, organizou um formulrio de lies, nomeando-o como primary objectlessons for a graduated
course of development. Tendo sido realizada grande procura pelo material, Calkins em 1870 promove melhorias
e ampliaes e promove a segunda verso do manual, nomeada ento como: Primary Object Lessons.
26
Para compor o quadro da Escola Normal de So Paulo, foram contratadas professoras
que apresentavam um currculo de formao norte-americana para auxiliar e orientar os
alunos do ensino normal e o desenvolvimento de prticas do magistrio.
Nagle (1974) relata que outra viso que surgiu nesta ocasio estaria voltada crena
de algumas formulaes doutrinrias sobre a escolarizao que apontavam para o caminho de
formao do novo homem brasileiro, ou seja, os ideais escolanovistas. O destaque nessa fase
so alguns antecedentes que esboam uma breve infiltrao at datas de 1920 e, aps essa
data, uma maior discusso sobre esses pensamentos.
nesse sentido que tem determinados elementos que se encontram na Reforma de
Lencio de Carvalho, no Parecer de Rui Barbosa sobre a Reforma do ensino primrio, na fundao de escolas pelas diversas correntes do protestantismo, na
Exposio Pedaggica de 1883, na criao de o Pedagogium, na reforma da instruo pblica paulista, realizada por Caetano de Campos, na introduo do
mtodo de intuio analtica, ainda nas escolas paulistas, na primeira administrao de Oscar Thompson; a mesma interpretao deve ser dada criao
de laboratrios de psicologia e pedagogia especialmente o montado por Ugo Pizzoli na Escola Normal de Praa, em So Paulo, bem como a determinados
aspectos do contedo de obras sobre a educao por exemplo, trabalhos de Ciridio Buarque, Sampaio Dria ou o Anurio do Ensino do Estado de So Paulo, de 1917. (NAGLE, 1974, p. 239).
possvel perceber, portanto, que a primeira fase se caracteriza por discusses sobre o
movimento da escola nova, movimento ainda muito especfico e visvel em determinados
espaos, como por exemplo, em determinadas reformas de ensino e especialmente na Escola
Normal de So Paulo, um dos principais beros de formao de professores do estado de So
Paulo, com o privilgio dos laboratrios de Pedagogia e Psicologia, recursos ainda inusitados.
Essas reformas tambm foram influenciadas pelas ideias de Oscar Thompson10
e
Sampaio Dria11
que propunham a aplicao e introduo do mtodo analtico, que
correspondia, segundo relata Warde (2003), a um acmulo de experincias escolares, pautado
em descontinuidades decorrentes de disputas que foram adequando o mtodo para o ensino
dos saberes, como, por exemplo, o melhor mtodo de ensino para leitura. O mrito desse
mtodo residia, principalmente, na sua eficcia para desenvolver a capacidade de conhecer,
pelo fecundo contato da inteligncia com a natureza e pelo exerccio das faculdades
perceptivas (DRIA, 1923 apud CARVALHO, 2010, p.100). Acreditava-se, que o mtodo
de intuio analtica era totalmente conforme a psicologia da criana, compreendida, de modo
similar a ele, como passagem de viso sincrtica para sintica, mediada pelos processos
analticos (CARVALHO, 2010, p. 119). Desta forma, para bem compreender este mtodo
10
Diretor da Escola Normal de So Paulo durante o perodo de 1901 a 1911. 11
Diretor-Geral da Instruo Pblica entre os anos de 1920 a 1924.
27
segundo alguns de seus seguidores, como a exemplo de Sampaio Dria, era preciso incorporar
assuntos da psicologia, pois, como visto, esse mtodo partia de concepes e percepes
amplas e discutveis para uma ideia mais concreta elaborada, para isso era necessrio a
observao e anlise.
J a segunda fase de introduo das ideias do escolanovismo, atingiu seu auge na
dcada de 20, momento em que a verso tradicional da pedagogia liberal foi suplantada pela
verso moderna (SAVIANI, 2010, p.177). Uma verso que possui uma vertente mais
humanista e moderna da filosofia da educao e que ganha mais visibilidade com a fundao
e criao da Associao Brasileira de Educao (ABE), construda em 1924 por Heitor Lyra e
que teve como finalidade reunir e argumentar com pessoas de vrias tendncias e correntes da
educao. Em sua real finalidade a ABE reuniu em seu espao indivduos que acreditavam em
novas ideias pedaggicas e as buscavam. Surgia ento nessa dcada o incio de uma discusso
sobre a implantao e a absoro de uma nova pedagogia. Para confrontar o ensino posto at
ento, dito como tradicional, agora seriam abordados assuntos sobre um movimento que
aderisse a uma nova concepo, a escola nova.
A Escola Nova, respeitando o trinmio psquico da criana essencialmente prtica
e experimental, um mundo em miniatura, a imagem da vida. Ela desenvolve
energias, canaliza vontades, cria discernimentos, forma seres pensantes e coerentes.
Educar no apenas ensina a ler, a escrever e a contar. desenvolver e dirigir as
aptides individuais, adaptando-as s necessidades do tempo e s exigncias do
meio. (MORAES, 1922 apud MONARCHA, 2009, p.146).
De modo mais geral e universal, Nagle (1974) apresenta as ideias do escolanovismo
divididas em: 1889 a 1900 como fase de criao das primeiras escolas novas e no apenas
uma especulao sobre seus preceitos; 1900 a 1907, momento de formulao deste novo
iderio educacional, composta por diversas correntes terico-prticas, com destaque para as
concepes de Dewey; 1907 a 1918, fase que promove a criao e a publicao dos primeiros
mtodos ativos e, conjuntamente, passa a ser um perodo de maturidade dessas realizaes;
finalmente, a fase que compreende a data de 1918 at anos depois descrita como o perodo
de difuso, consolidao e oficializao das ideias e princpios do escolanovismo.
Diferentemente do contexto mais geral, no Brasil at a dcada de 20, esse movimento
foi utilizado como uma preparao dessas ideias pedaggicas como estmulo para a
escolarizao. Alm do mais, os princpios da escola nova eram associados a um modelo
reformista e renovador, pautados pela experimentao de novos meios e, portanto, seria
necessrio revisar os mtodos pedaggicos.
28
Aqui o papel da escola normal utilizado em prol de difundir e contribuir para as
alteraes curriculares.
Se a contribuio do movimento reformista da escola primria, no sentido de
penetrao do iderio escolanovista, se d pela ampliao e diversificao curricular
e, especialmente, por meio de transformao metodolgica, aquele movimento, no
caso da escola normal, vai contribuir por efeito de alteraes especificamente
curriculares. (NAGLE, 1974, p.246)
A escola normal era o ncleo de formao de professores que iram atuar no ensino
primrio. Uma vez incutido os ideias nos alunos normais, conjuntamente haveria alteraes
no ensino primrio.
Uma disciplina associada e colaborativa a esse modelo de ensino a psicologia, visto
que:
A posio da psicologia singular nesse quadro. Os estudos psicolgicos aparecem
sob a forma de psicologia geral, outras vezes com determinadas especificaes que
revelam modificaes importantes no seu contedo; por exemplo, neste caso
englobam itens sobre o estudo da criana, do desenvolvimento humano, dos
interesses e necessidades, das diferenas individuais. Alm disso, aparecem
determinadas denominaes especiais, que denotam especializaes, como o caso
da psicologia do desenvolvimento, pedologia, psicometria, psicologia educacional,
psicologia das votaes. (NAGLE, 1974, p. 247).
O estudo da psicologia era compreendido, principalmente nas escolas normais, como
um dos componentes mais importantes a serem estudados e associados com a pedagogia.
Essas cincias serviriam de complemento uma a outra e assim abrangeriam as concepes do
novo mtodo.
Com vistas iniciao para a mudana, que se caracterizou pela ideia de um novo
homem, era necessrio tambm um espao fsico com atribuies referentes ao papel social da
Instruo para esses jovens, ou seja, os prdios escolares deveriam representar o cidado
republicano. A escola republicana tinha como papel, alm da instruo do ensino, a formao
e o desenvolvimento moral e cvico, pensamentos que deveriam ser ensinados e agregados
dentro das fases escolares, discutindo e ressaltando valores referentes ao calendrio cvico e
literatura cvico-pedaggica12
.
Principalmente a partir de 1915 configurado um novo momento de realizaes
significativas. So ideias, planos e solues oferecidos. De fato, pode-se notar que o
12
Nessa fase, a questo do nacionalismo ganhava grande repercusso, principalmente no campo da educao,
sendo mais fortemente visvel em meados da dcada de vinte em meio aos livros didticos com contedos de
educao moral e cvica, acentuando de forma bastante clara o patriotismo. Fato esse que se fez mais presente
durante e aps a Primeira Guerra (1914-1918) que possibilitou desenvolver elementos para uma doutrina
nacional.
29
surgimento de interesse para com a educao despertou, de modo mais intenso, prximo ao
fim do Imprio e bem nos anos iniciais da Repblica, porm no muito pouco depois e de
forma geral minimizam-se os nimos sobre tais discusses. Nagle (1974) cita que nem todas
as aspiraes almejadas puderam ou foram alcanadas, restando a formao de uma
Repblica possvel, haja vista que o espirito republicano que formou um embate
ideolgico no fim do Imprio diminuiu gradualmente. Da o desnimo, mais que o desnimo,
as desiluses e as frustraes que dominaram a mentalidade dos homens pblicos, dos
pensadores, dos intelectuais e dos educadores que viveram durante a primeira repblica at
cerca de 1920. (NAGLE, 1974, p.101). Apenas prximo da ltima dcada, entre os anos de
1920 e 1929, que o pas voltou a presenciar um clima mais intenso de entusiasmo pela
educao, um otimismo pedaggico. Acreditava-se que por meio da difuso da educao seria
possvel incorporar grandes camadas da populao escolar, ser possvel incorporar grandes
camadas da populao na senda do progresso nacional, e colocar o Brasil no caminho das
grandes naes do mundo (NAGLE, 1974, p.99).
possvel perceber que h aqui uma parcela que se liga ao fervor ideolgico do final
do Imprio, mas, agora, este manifestado pelos prprios republicanos desiludidos com a
Repblica existente. (FAUSTO, 2006a, p.284). Trata-se de um movimento voltado
basicamente para a escola primria em busca de imprimir as ideias do cidado nacional, ou
seja, questes do nacionalismo, na formao do novo cidado republicano. As conferncias de
Olavo Bilac e a formao da Liga da Defesa Nacional em 1916 tm o intuito de promover e
disseminar essas ideias, isto , difundir as questes do ensino cvico-patritico que sero
expostas tambm pelas Ligas Nacionalistas; pela revista Brazlea; pela Propaganda Nativista
e pela Ao Social Nacionalista.
A campanha de Bilac representa a fase inicial de congregao dos espritos, que ir
provocar a formao da Liga de Defesa Nacional. (NAGLE, 1974, p. 44). O documento que
deu incio a essa fase foi a conferncia proferida por Olavo Bilac aos estudantes da Faculdade
de Direito de So Paulo. Em resumo, a partir das ideias concebidas neste documento, nota-se
a preocupao em assinalar uma identidade nacional e uma crena em aspiraes comuns para
a construo nacional, iniciando com uma crtica apatia social frente s questes polticas:
Com efeito, os polticos profissionais nada mais so do que pastores egostas do rebanho
tresmalhado; as classes populares mantidas na mais bruta ignorncia, mostram s inrcia,
apatia, superstio, absoluta privao de conscincia. (NAGLE, 1974, p.44), mas indicando
a soluo para esta questo com a defesa do cidado cvico-patritico.
30
Qual o remdio para esse estado de coisas? So muitos, mas um deles constitui
verdadeira promessa de salvao: a lei do sorteio militar (...). Que o servio
generalizado? o triunfo completo da democracia; o nivelamento das classes; a
escola da ordem, da disciplina, da coeso; o laboratrio da dignidade prpria; o
asseio obrigatrio, a higiene obrigatria, a regenerao muscular e fsica obrigatria.
Essas so as linhas-mestras do chamamento cvico-patritico do poeta, que iro
fornecer o arcabouo para a formao da Liga de Defesa Nacional, a mais ampla e
influente organizao nacionalista do perodo. (NAGLE, 1974, p. 45).
Basicamente foram estas as palavras que se disseminaram frente organizao
nacionalista. A Liga de Defesa Nacional, fundada em 7 de setembro de 1916 por iniciativa de
Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, tinha como grande intuito congregar os
sentimentos patriticos em todas as classes, respeitando as leis vigentes do pas. Dentre o
principal objetivo, alguns menores, porm no menos importantes eram visados:
Manter a ideia de coeso e integridade nacional; defender o trabalho nacional;
difundir a instruo militar nas diversas instituies; desenvolver o civismo, o culto
do herosmo, fundar associao dos escoteiros, linhas de tiro e batalhes patriticos;
avivar o estudo de Histria do Brasil e das tradies brasileiras; promover o ensino
da lngua ptria nas escolas estrangeiras existentes no Pas; propagar a educao
popular e profissional; difundir nas escolas o amor justia e o culto do patriotismo;
combater o analfabetismo. (NAGLE, 1974, p.45).
Essa inculcao nacionalista est centralizada na formao da conscincia nacional,
acreditando ser necessria a disciplina e a ordem como caractersticas para que haja ptria,
tornando a formao do cidado revestida de cultura intelectual e moral. Apresenta-se assim
uma vida na liberdade, porm sem excessos, a exemplo de respeitar as leis e as autoridades e
ausentar-se de revoltas armadas. Nagle (1974) complementa que este programa apresentado
pela Liga possua um fundo aristocrtico e com princpios voltados com um papel tutelar de
determinada elite, pois os indivduos deveriam ser capazes de sobrepor-se aos interesses
prprios, aos interesses partidrios de classe ou de campanrio (p.46) com a misso de
governar e dirigir o povo.
Mesmo em meio a vrias crticas e acusaes, como a de proteger partidos e governos
desastrados e ainda a de ter relaes com o militarismo, o ideal da Liga de Defesa Nacional
tomou propores maiores culminando em junes com instituies que tinham interesses
semelhantes, formando assim, a Liga Nacionalista Brasileira e as ligas Nacionalistas
estaduais. Foi um perodo de efervescncia com questes voltadas obrigatoriedade do ensino
da lngua nacional, de Histria e Geografia nacional, da Educao Fsica, do Escotismo, da
propaganda sobre a obrigao legal do voto, a liberdade do eleitor, a fraude e a apurao
verdadeira dos votos etc. A Liga Nacionalista, que tinha sede em So Paulo, contribuiu
tambm para inquietaes que ocorreram durante a Primeira Guerra, como a respeito de
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romper relaes com a Alemanha, mesmo que esta Liga, ao contrrio a anterior, estivesse
ligada mais a discusses polticas e menos militares, sendo esta uma das principais diferenas
entre elas.
Preocupada com a alfabetizao, a Liga Nacionalista Brasileira buscava impor-se no
combate ao analfabetismo e, sabendo que o pas era dirigido para uma minoria e por uma
minoria, um dos principais desejos da Liga era de alfabetizar a maior parte da populao para
que pudesse gozar de seus direitos polticos, uma vez que o Art. 70, 2, da Constituio
Federal determina que o analfabeto no pode manifestar vontade poltica (NAGLE, 1974, p.
48)
Acusando estas ligas de manter o programa da religio catlica, nacionalizar o
comrcio e a imprensa lusitana, a revista Brazlea e o grupo Propaganda Nativista faziam
crticas hegemonia paulista e defesa da civilizao agrria. Intrigavam-se com os
portugueses que viviam em solo brasileiro e utilizavam dos benefcios deste solo e que
mesmo assim se consideravam portugueses. Alm disso, criticavam o estado de So Paulo
que, segundo eles, no merecia ter admirao pela hegemonia poltica que tinha alcanado at
ento. Nagle (1974) descreve que o nacionalismo neste perodo no foi discutido apenas por
um grupo ou associao, mas, de modo geral, eram discusses que tratavam de valores de
grupos ou instituies que no apresentavam interesses da realidade nacional.
precisamente nesta fase que se procura enobrecer assuntos nacionais como a
utilizao e valorizao da lngua portuguesa, o direito e a obrigao ao voto, a importncia
dos estudos de Histria e Geografia nacionais, entre outros, alm de preocupaes com
alfabetizao nacional.
Tal fato pode ser observado na descrio de Reis Filho (1995):
Da, os republicanos paulistas atriburem ao Estado a funo de criar e manter
escolas de todos os nveis. Essas escolas estatais teriam o cargo para preparar o
futuro cidado para que ele pudesse desempenhar o papel poltico reservado pelo
regime republicano a todos os brasileiros. Em contrapartida, o novo regime atribui
escola a tarefa primordial de educao cvica, entendida como a compreenso
fundamental dos deveres do cidado. (p.204)
A educao passa ser, a partir de ento, o alicerce para difundir e afirmar as questes
da nacionalidade, do patriotismo por meio da educao cvica, o que pode ser notado ao
observar o quadro de disciplinas montado para a formao de um aluno de escola normal. Em
um curso com durao de quatro anos se aprendiam as seguintes lnguas: portugus, francs,
ingls e latim. As demais disciplinas eram estas:
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o quadro das disciplinas cientificas compreendia: aritmtica, lgebra, geometria e
trigonometria; mecnica, astronomia, fsica, qumica, histria natural, anatomia e
fisiologia. Os estudos sociais incluam: histria universal, histria do Brasil,
geografia geral, geografia do Brasil, economia poltica e educao cvica. Como
conhecimentos aplicados, eram contempladas a escriturao mercantil e a
agrimensura. As artes faziam-se presentes no plano de estudo por meio do desenho,
da msica e dos trabalhos manuais. A educao fsica realizava-se pelos exerccios
ginsticos apropriados a cada sexo e, ainda, para os rapazes, exerccios militares. O
rol de disciplinas da Escola Normal completava-se com economia domstica para as
moas e, para todos, a cadeira de Pedagogia e Direo de Escolas, colocada no
quarto ano do curso. facilmente verificvel a pobreza da fundamentao
pedaggica do plano de ensino: uma s disciplina com esse carter. Desse modo, o
peso da formao pedaggica ficava a cargo dos Exerccios de Ensino da Escola-
Modelo. (REIS FILHO, 1995, p. 206).
H dois pontos interessantes a serem discutidos: primeiro, h de se notar as disciplinas
que caracterizam o patriotismo, a exemplo de Histria e Geografia do Brasil, sem mencionar
o estudo de Educao cvica, que est claramente compondo a grade curricular; em segundo
lugar, Reis Filho (1995) faz a crtica formao desse aluno, que fica a desejar frente s
questes da formao pedaggica e que deixa como responsabilidade participao na Escola
Modelo.
A preocupao referente instruo social pautada em formar o novo homem, o
homem cidado, caracterstica desta fase. E para que fosse possvel exercer a cidadania
eram necessrios dois elementos: ler e escrever. Carvalho (1987) explica que existiam dois
tipos de cidado: o ativo e o simples, sendo que o primeiro possua alm dos direitos civis
os direitos polticos e o segundo apenas direitos civis. A educao concedida populao
como forma de esclarecer direitos e deveres. Era, portanto, um instrumento de ascenso social
para aqueles que se encontravam margem da sociedade, mas tambm utilizado como
ascenso do poder da burguesia. Assim o entusiasmo pela educao" apresenta a escola
tambm como uma maneira de participao poltica, pensando-a como uma funo poltica.
Porm, ainda nesse perodo, chamam a ateno o crescimento industrial de capital
suficiente para desenvolver a indstria e a facilidade de importao, o que assegura o domnio
oligrquico e o fortalecimento econmico de grupos cafeeiros. A valorizao do caf,
principal produto do pas, auxilia a elite agrria a permanecer no comando sobre o Estado.
Por isso, empecilhos foram postos frente luta pela industrializao por motivo dos ideais
ruralistas. Apenas a partir da dcada de 1920 foi possvel dar um salto de fortalecimento
industrial. Nesta fase, inquietaes sociais e perturbaes causadas principalmente pelas
campanhas eleitorais, lutas e reivindicaes do operariado contra as presses da burguesia
industrial promovem um clima de efervescncia ideolgica que encontra como proposta a
busca pelo novo.
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E, no cenrio em questo, tiveram lugar importantes debates, mas tambm, alm
destes, foram encaminhadas intervenes significativas no campo da poltica,
atravs de diversas reformas de instruo pblica implementadas em diferentes
estados brasileiros, nas dcadas de 1920 e 1930. Podem ser situadas, nesse quadro,
as reformas conduzidas por Carneiro Leo (1922-1926), Fernando de Azevedo
(1927-1930) e Ansio Teixeira (1931-1935), no Rio de Janeiro; Sampaio Dria
(1920), Loureno Filho (1930-1931), Fernando de Azevedo (1933) e Almeida Jr.
(1935-1936), em So Paulo; Francisco Campos (1927-1930), em Minas Gerais;
Loureno Filho (1922-1923), no Cear; Ansio Teixeira (1925-1927), na Bahia e
Carneiro Leo (1928-1930), em Pernambuco (SCHUELLE; MAGALD, 1995, p.49)
Assim, de forma mais geral, so reformas que apontam tendncias com caractersticas
de uma cultura escolanovista ainda com termos amplos e imprecisos, mas com vistas a uma
cientifizao progressiva e prticas educativas que se pautavam na formao de professores
inspirados pelos ideais renovadores.
Finalizando a fase entre 1920 a 1930, Schuelle; Magald, (1995) concluem que as
reformas educacionais que ocorreram criaram uma instituio que estava longe de ser uma
escola totalmente renovada, mas que tais propostas foram disseminadas pelos educadores da
poca que construram e apoiavam estes ideais com mais ou menos intensidade. Um projeto
renovador, que avistava o futuro na busca de romper o passado e construir um presente.
Tendo apresentado brevemente os principais nveis de ensino e as mais importantes
reformas que ocorreram durante a primeira Repblica, pode-se compreender que a educao
nesta fase mostra-se bastante marcada pela formao de cidados republicanos. E no por
menos, o estado de So Paulo ganha evidncia frente aos demais estados do pas; suas leis,
polticas, concepes e ideias so realadas. A Escola Normal de So Paulo, a primeira do
estado, foi participante da formao de Carlos da Silveira. Por isso, entender essa instituio
compreender o contexto do bero de professores paulistas, mas, especialmente, os conceitos
advindos da escolarizao e preparao para o magistrio como educador e para a vida como
intelectual e crtico. No apenas adepto de ideias prontas, o Professor Carlos da Silveira
demonstra incentivo aos pensamentos advindos dessa fase e tambm tem os divulga e
anuncia.
A seo a seguir busca demonstrar essa nova concepo de educao que estava sendo
discutida a partir da formao de professores em Escola Normal, mas baseada em uma das
principais instituies de ensino normal do pas, a Escola Normal de So Paulo.
34
Imagem 4: Diploma do curso da Escola Normal de So Paulo em 1904
Fonte: Pgina online Blog caetanistas organizado no site: www.iecc.com.br.
No h ensino primrio eficaz sem boas escolas
normaes, sabem-no todos quantos se preocupam com
assumptos de pedagogia. Tenhamos professores bem
preparados, aptos para cumprirem a importante
misso que a sociedade lhes confia e a tarefa da
instruco e da educao do povo ser realizada de
maneira relativamente fcil. (SILVEIRA, n.1, 1916,
p.1).
35
3. A ESCOLA NORMAL DE SO PAULO E O MODELO PAULISTA DE
ENSINO
Grande responsvel por formar professores no Brasil, principalmente nos sculos XIX
e XX, as escolas normais tiveram uma trajetria de incertezas, glrias e destaque. Destinadas
instruo pblica e ao ensino primrio, seus passos contemplam iniciativas para a formao
de futuros mestres da educao brasileira. A primeira escola normal foi criada no Rio de
Janeiro em 1835 pela Lei n 10, na Capital da Provncia, destinada ao magistrio da instruo
primria, os critrios para a seleo de candidatos para frequentar a escola limitavam-se a:
ser cidado brasileiro, ter 18 anos de idade, boa morigerao e saber ler e escrever
(MOACYR, 1939 apud TANURI, 2000, p.64.).
Aps a primeira criao da escola normal na capital da provncia, outras provncias
tambm criaram suas instituies de ensino normal a exemplo de: Minas Gerais, em 1835
(instalada em 1840); Bahia, em 1836 (instalada em 1841); So Paulo, em 1846; Pernambuco e
Piau, em 1864 (ambas instaladas em 1865); Alagoas, em 1864 (instalada em 1869); So
Pedro do Rio Grande do Sul, em 1869; Par, em 1870 (instalada em 1871); Sergipe, 1870
(instalada em 1871); Amazonas, em 1872; no Esprito Santo, em 1873; Rio Grande do Norte,
em 1873 (instalada em 1874); Maranho, em 1874 (MOACYR, 1939 apud TANURI, 2000).
Tanuri (2000) caracteriza a promulgao da criao de estabelecimento de ensino
primrio, normal e secundrio a partir de 1870 nas provncias, fato que destaca a criao de
escolas normais brasileiras como parte do sistema provincial. Ao que tudo indica, o modelo
de ensino implantado assemelhava-se ao europeu, mais especificamente ao francs, por
motivo de tradio colonial e do projeto nacional ser voltado formao cultural da elite.
Uma das primeiras escolas de ensino normal a ser criada na provncia, como j citado
anteriormente, foi em So Paulo. A criao da Escola Normal de So Paulo trilhou um
caminho de mudanas, ajustes e adequaes. A formao do aluno-mestre, em So Paulo
segue um percurso de destaque no ensino, principalmente quando se refere ao perodo da
Primeira Repblica.
No obstante a ausncia de participao federal, registram-se alguns avanos no que
diz respeito ao desenvolvimento qualitativo e quantitativo das escolas de formao
de professores, sob a liderana dos estados mais progressistas, especialmente de So
Paulo, que se convertera no principal polo econmico do pas. A atuao dos
reformadores paulistas nos anos iniciais do novo regime permitiu que se
consolidasse uma estrutura que permaneceu quase que intacta em suas linhas
essenciais nos primeiros 30 anos da Repblica e que seria apresentada como
paradigma aos demais estados, muitos dos quais reorganizaram seus sistemas a
partir do modelo paulista: Mato Grosso, Esprito Santo, Santa Catarina, Sergipe,
Alagoas, Cear, Gois e outros. (TANURI, 2000, p.68)
36
Paradigma aos demais estados, o ensino promovido por So Paulo, especialmente
pela Escola Normal de So Paulo era utilizado como exemplo aos demais, alm de ser
disseminado por meio do conhecimento adquirido por seus alunos, a exemplo de Carlos da
Silveira que frequentou a escola ainda nos primeiros anos de Repblica.
Ao migrar de Queluz SP, cidade em que vivia, para a Capital, So Paulo, Carlos da
Silveira inicia sua trajetria no campo da educao ao se matricular no curso normal. Aluno
da Escola Normal da Praa entre os anos de 1900 e 1903, Silveira diplomou-se em um curso
de renome e de referncia no ensino paulista e nacional. Porm, antes de se tornar uma
referncia nacional, a Escola Normal de So Paulo, percorreu longos caminhos e situaes at
culminar em seus anos de glria.
Fundada em 184613
e instalada na velha S da Catedral, teve de ser fechada em 1867
pela ausncia de verba e pela ausncia do comprometimento que merecia receber dos lderes
paulistas. Com a Reforma que impunha a obrigatoriedade do ensino primrio para meninos de
7 a 14 anos e de 7 a 11 anos para as meninas, a escola foi reaberta anexa Faculdade de
Direito de So Paulo, onde aconteciam as aulas para os rapazes e junto ao seminrio da
Glria, local em que lecionavam aulas para as moas14
. Em 1878, trs anos mais tarde, o novo
presidente da provncia fechou-a novamente. Em 1880, a escola reaberta, agora pela terceira
vez, graas dedicao do novo presidente, Laurindo Abelardo de Brito, conhecedor da
importncia do ensino normal e diplomado pela mesma Escola Normal, que a partir de ento
encontra suas instalaes juntamente ao Tesouro Provincial. Em 1881 foi transferida para um
sobrado colonial permanecendo l at 1894, quando recebe instalaes definitivas em um
edifcio construdo especialmente para uma escola normal, situado na Praa da Repblica,
sendo este um dos motivos de receber a denominao de Escola Normal da Praa.
No perodo entre a Monarquia e a Repblica, a escola normal construda em So Paulo
recebeu vrias nominaes: Escola Normal; Escola Normal de So Paulo; Escola Normal da
Capital; Escola Normal Secundria; Escola Normal Primria; Instituto Pedaggico; Instituto
de Educao; Escola Caetano de Campos, entre outros, mas todas se referem mesma
instituio de ensino normal.
Silveira (1919), ao relatar a ltima instalao da Escola Normal de So Paulo,
descreve que:
13
Nos primeiros anos de Escola Normal, o ensino era voltado apenas para alunos do sexo masculino, como pode
ser encontrado em MONARCHA. Escola Normal da Praa: o lado noturno das luzes. 1999. 14
Neste perodo o ensino acontecia em espaos diferenciados para os alunos do sexo feminino e masculino, por
isso a escola encontra-se reaberta em ambientes diferenciados.
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O Decreto n.91 de 13 de outubro de 1890 mandara empregar na construo de um
edifcio para Escola Normal, em So Paulo, o produto da loteria, destinado a
construo de uma igreja catedral (lei 54 de 1888). Tal produto, orando por
duzentos contos, foi uma parcela do custo total da grande casa da Praa da
Repblica (SILVEIRA, 1919, p.18).
Alm de simbolizar a importncia em custo que tal construo teve, apresentada
ainda a grandeza que se depositava na Escola Normal da Praa para a cidade de So Paulo,
para a formao de professores e para a educao. Em 2 de agosto de 1894, concludo o
edifcio da Escola Normal, mudou-se para ele a escola-modelo, ficando no mesmo prdio, n.
16 na rua do Carmo, uma segunda escola-modelo, sob a direo do Prof. Oscar Thompson.
(SILVEIRA, 1919, p. 18).
Imagem. 5: Sede da Escola Normal da Praa em 1894
Fonte: Poliantia Comemorativa - 1* Centenrio do Ensino Normal de So Paulo.
Segundo Monarcha (1999), paulatinamente a Escola Normal foi conquistando
relevncia culturalmente e intelectualmente na provncia de So Paulo, adquirindo excelncia
e respeitabilidade por suas produes tericas e iniciativas prticas, decorrentes da
organizao e formao de professores para o magistrio primrio.
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Desempenhou, assim, a funo simblica de uma Escola Normal Superior. Nela se
formou e, posteriormente, atuou parte dos intelectuais de diferentes pocas,
responsveis pela elaborao de teses sobre a realidade social, educacional e cultural
brasileira. Essas vanguardas projetaram-se no apenas no mbito da educao e da
cultura como tambm na arena poltica, onde disputaram o controle do ensino
paulista. (MONARCHA, 1999, p. 343)
Enorme representatividade histrica, poltica, cultural e educacional promoveu a
Escola Normal de So Paulo, tendo visto os alunos que nela se formaram, como: Carlos da
Silveira, Jos Scaramelli, Loureno Filho, Antonio Firmino Proena, entre outros intelectuais.
Nesse sentido, pode-se pens-la como um centro direto de produes tericas e iniciativas
prticas - constituies de saberes articulados a prticas educacionais - vistas a organizar a
formao de professores. (MONARCHA, 1999, p. 343).
A Escola Normal de So Paulo engrandecia e enobrecia o diploma de seus formandos,
dando-lhes a honra e o prestgio de ser normalista em uma instituio de formao de
professores que ganhava sempre mais destaque. Em data prxima a 1875 descrita pelo
inspetor geral da instruo pblica, Francisco Aurlio de Souza Carvalho, como uma escola
capaz de garantir a formao profissional e moral de professores da instruo primria.
(MONARCHA, 1999, p.92). Assim, promovia-se como um espao do progresso intelectual e
gerador do conhecimento.
A escola normal criar bons mestres; e estes, elevando o nvel das habilitaes de
seus discpulos, derramaro pela cidade as primeiras riquezas do esprito, slida,
estimvel e luminosa instruo. Ser, pois, um centro de luz da cincia, irradiando-
se por toda a provncia e penetrando por todas as camadas populares. A infncia bem
esclarecida levar seu saber famlia, aos companheiros futuros de profisses, de
indstrias ou de servios pblicos; e esse precioso peclio da inteligncia se
estender pela sociedade inteira. Assim se transformam as geraes, afugentando-se
das sombras da ignorncia, clareiam-se os espritos, e dominam as cincias. Todos
esses grandiosos benefcios dependem do professor distinto, de sua proficincia, da
escola que aprendeu. Com ele, a juventude gravar em sua memria o vocbulo de
maior preciso, elegncia e pompa, abandonando a vulgaridade grosseira das
expresses que, do lar domstico, transportam as escolas. O reinado conquistado
pelo erro ser substitudo pelo imprio da verdade. (MATTOS, 1875 apud
MONARCHA, 1999, p.93).
Entretanto, a Escola Normal trilhou um longo caminho at se tornar referncia de
produes tericas. Assim, essa seo busca ilustrar brevemente a trajetria percorrida pela
instituio a partir de sua reabertura permanente, ilustrando alguns aspectos de formao que
ela propunha, no se restringindo apenas a sua histria em si, mas apresentando as ideias e as
concepes que promovia no processo de formao dos futuros professores paulistas. Desta
maneira possvel compreender tambm um pouco das ideias advindas e adeptas de Carlos da
Silveira e a importncia que a Escola Normal da Praa teve em sua carreira como professor,
diretor, catedrtico, educador, intelectual, e tambm em sua formao em Direito.
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3.1. A formao de professores na Escola Normal de So Paulo
A Reabertura definitiva da Escola Normal de So Paulo em 2 agosto de 1880 coincide
com mudanas na capital paulista, e nesse perodo que os alunos se sentiram conquistados
pelas doutrinas de Comte, e a influncia do professor Godofredo Furtado podia ser comparada
a do famoso apstolo positivista, Benjamin Constant. (MONARCHA, 1999, p. 112). A
cidade de So Paulo torna-se conglomerada e cosmopolita, visto os excedentes econmicos
e a ampliao do seu centro urbano. A procura pela Escola Normal, a partir de ento, aumenta
e por conta deste fato h um nmero excessivo de matrculas. Os estudantes que buscavam a
escola em sua maioria eram indivduos pobres atrados pela promoo social. Alm do mais,
a carta de normalista possibilita aquisio de cultura e oportunidade de um emprego (ainda
que menor) na administrao pblica - olhos e braos da Monarquia - ou no comrcio local
ou, ainda, o ingresso na Faculdade de Direito. (MONARCHA, 1999, p.113). Por esse ngulo,
a grande procura pela Escola Normal determinada pela ascenso intelectual e de trabalho.
Com o passar dos anos, gradualmente a instituio toma forma e se aproxima de sua
relevncia histrica e educacional com caractersticas excepcionais.
Proclamada a Repblica em 1889, o desejo por transformaes em uma nova
sociedade se tornava cada vez mais presente. Intensificam-se as discusses no campo
pedaggico sobre a renovao de programas de ensino, o que adquire centralidade em debates
polticos, por se acreditar ser essencial uma renovao educacional para proporcionar a to
desejada transformao no pas. Reis Filho (1995) descreve dois instrumentos para alcanar a
transformao e fundar uma nova sociedade: a Constituio e Leis liberais; e a Escola
Pblica, universal e gratuita que permita formar cidados com escolhas livres e que possam se
autodirigir.
De acordo com Saviani (2010), a concepo de uma reforma escolar difundida na
poca encontra seu incio em 1890 na Escola Normal de So Paulo, abrangendo as questes
sobre mestre e mtodos. Silveira (1916) acrescenta que nessa ocasio que Rangel Pestana
lembrou a Prudente de Moraes o nome do ilustre mdico e eminente educador, Dr. Antonio
Caetano de Campos, como sendo homem capaz de realizar os intuitos da reforma de 12 de
Maro. (SILVEIRA, 1916, p.5), e relembra que o papel que coube a Caetano de Ca