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Aula 04
História da Educação
Glória Freitas
História da Educação
Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor ANALICE OLIVEIRA FRAGOSO
Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autor GLÓRIA FREITAS
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou formada em Pedagogia,
com mestrado e doutorado na área de educação com uma experiência
técnico-profissional na área de Educação, na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental I, em Organizações Não Governamentais (ONG’s e OSCIP’s, e
no Ensino Superior de mais de 30 anos. Passei por inúmeras universidades
públicas e privadas, em São Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão.
Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela
Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen-to de uma nova competência;
DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito;
NOTA: quando forem necessários obser-vações ou comple-mentações para o seu conhecimento;
IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza-das para você;
EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado;
VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias;
SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun-damento do seu conhecimento;
REFLITA: se houver a neces-sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre;
ACESSE: se for preciso aces-sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast;
RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens;
ATIVIDADES: quando alguma ativi-dade de autoapren-dizagem for aplicada;
TESTANDO: quando o desen-volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas;
IconográficosOlá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:
SUMÁRIODescrevendo os Marcos Históricos da Educação no Brasil............12
Marcos Históricos da Educação no Brasil ...............................................12
Descrevendo o Período colonial jesuítico .............................................. 13
Descrevendo a Era Pombal ................................................................................. 18
Descrevendo a Pedagogia Realista do Século XVII .......................21
Descrevendo a Nova Didática de Comênio ........................................23
Descrevendo as Propostas de John Locke ...........................................25
Descrevendo o Século XVIII................................................................27
Descrevendo o Século XVIII: o Iluminismo e suas relações com a educação ...........................................................................................................27
Descrevendo a Enciclopédia e sua relação com a Educação30
Descrevendo a “Revolução Copernicana” na Educação ........... 31
Rousseau e o Naturalismo Pedagógico em “Emilio” ...................33
Descrevendo a Educação Nacional .............................................................37
Reconhecendo o Século XIX ..............................................................40
As Realizações Educativas e Sistematizações Pedagógicas40
Reconhecendo o Neo-Humanismo Social ...........................................42
História da Educação 7
Reconhecendo a relevância educacional dos Jardins de Infância ...................................................................................................................................43
Reconhecendo a Importância da Educação Integral ...................44
Reconhecendo a Importância da Educação no Período Joanino ..................................................................................................................................47
Reconhecendo Avanços e retrocessos da Educação na República no Brasil .....................................................................................................52
Analisando a Educação no Século XX ..........................................56
Analisando a Educação no Século XX e a Relevância do Método Montessori .................................................................................................... 56
Analisando a Educação no Século XX: Os Grandes Teóricos da Pedagogia Ativista (John Dewey e Jean Piaget) .............................. 58
Analisando a Educação no Século XX: Os Organismos internacionais .................................................................................................................. 63
Analisando a Educação no Século XX: As Perspectivas para a escola do futuro ..........................................................................................................68
Analisando a Educação no Século XX: Tendências da Educação Contemporânea ................................................................................ 70
História da Educação8
História da Educação 9
UNIDADE
04
História da Educação10
Você vai conhecer, os Marcos Históricos, da Educação Colonial
no Brasil, da contribuição Jesuítica até a Era Pombal, saber sobre
A Pedagogia Realista do Século XVII, a Nova Didática de Comênio
e as propostas de John Locke. Já com relação ao século XVIII vai ser
possível acompanhar a descrição do Iluminismo e suas relações com
a educação, a Enciclopédia e a educação, no iluminismo, dando conta
da “Revolução Copernicana” na Educação, a intensa contribuição
de Rousseau, com o Naturalismo Pedagógico e a sua obra “Emilio”,
sabendo também sobre a Educação Nacional. Vai reconhecer do Século
XIX, as realizações Educativas e as Sistematizações Pedagógicas, saber
sobre o Neo-Humanismo Social, a influência de Froebel e os Jardins
de Infância, e ainda sobre a Educação Integral, além do importante
Período Joanino, marcado pela presença da família real, até a chegada
da República, no Brasil. Analisando as contribuições do século XX, vai
tomar conhecimento do Método Montessori, dos grandes teóricos da
pedagogia Ativista (j. Dewey e j. Piaget), entendendo ainda, a importância
dos Organismos internacionais na educação, no fim do milênio passado,
refletindo sobre as Perspectivas para a Escola do Futuro e as Tendências
da Educação Contemporânea, no Século XXI. Entendeu? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
INTRODUÇÃO
História da Educação 11
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 4, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:
• Descrever os Marcos Históricos da Educação no Brasil: Período Colonial; Jesuítico; Era Pombal; A Pedagogia Realista do Século XVII; A Nova Didática (Comênio); As propostas de John Locke.;
• Descrever o século XVIII: o Iluminismo e suas relações com a educação; A Enciclopédia; A “Revolução Copernicana” na Educação; Rousseau e o Naturalismo Pedagógico “Emilio”; A Educação Nacional;
• Reconhecer o Século XIX: As realizações Educativas; Sistematizações Pedagógicas; O Neo-Humanismo Social; Os Jardins de Infância; A Educação Integral; Período Joanino; A República no Brasil;
• Analisar o século XX: o Método Montessori; os grandes teóricos da pedagogia Ativista (j. Dewey e j. Piaget); os Organismos internacionais; As Perspectivas para a Escola do Futuro; Tendências da Educação Contemporânea.
Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao
conhecimento? Ao trabalho!
OBJETIVOS
História da Educação12
Descrevendo os Marcos Históricos da Educação no Brasil.
Entre os Marcos Históricos da Educação no Brasil, a contribuição
jesuítica inaugura o processo até a Era Pombal. O mundo está em
processo de mutação, as descobertas e as ciências interferiram na
educação, assim é possível entender a Pedagogia Realista. Comênio
dará grande contribuição, assim como John Locke.
Marcos Históricos da Educação no BrasilExaminado os Marcos Históricos da Educação no Brasil, desde a
colonização portuguesa aos dias atuais, no século XXI, aconteceu uma
gigantesca resistência para a oferta e a manutenção da educação pública
no Brasil. E, ao mesmo tempo, intensas lutas do povo brasileiro, para
ter seu direito à educação respeitado. Ao examinar os fatos históricos é
possível perceber o quanto a educação brasileira precisará avançar nos
próximos tempos. Os que escreveram os marcos históricos da educação
brasileira, para que escreveram? Qual o sentido se não for para colaborar
com os seus contemporâneos a ter confiança em seu futuro e abordar
com mais recursos as dificuldades que eles encontram cotidianamente.
O historiador, por conseguinte, tem o dever de não se fechar no passado
e de refletir assiduamente sobre os problemas de seu tempo. (DUBY,
1998, p. 9)
Neste sentido, para a educação brasileira, de 1500 aos dias atuais
a melhor Constituição Federal é a e 1988, que com razão é chamada de
Constituição Cidadã. Somam mais de 500 anos de dificuldades intensas para
promover uma digna educação no Brasil, universalizada, leiga e democrática.
Muitas legislações atuais são as expressões das intensas batalhas, a partir da
redemocratização do pais, do fim da década de 1980, até hoje. É interessante
lembrar, que estas leis, devem às suas existências, e aos seus avanços
democráticos, para a educação pública brasileira, às intensas mobilizações da
sociedade brasileira organizada, fatos notáveis são a Lei de Diretrizes e Bases
(1996) e a nova Base Nacional Comum Curricular (2017), entre tantos outros
marcos legais, que expressam as lutas inúmeras, pelo direito à educação,
gratuita e de qualidade, impondo mudanças. Conhecer os fatos históricos
História da Educação 13
podem colaborar na reflexão de soluções para os problemas atuais e futuros
e para não deixar nenhum para trás.
Descrevendo o Período colonial jesuíticoNo período colonial, inicia a educação colonial no Brasil, após
a chegada dos jesuítas, engajados com as propostas educacionais
promovidas pela Companhia de Jesus, envolvendo catequese (missões)
e a criação e colégios (Educação), como resultados concretos de uma
resposta católica à Reforma Protestante, que se chamou Contrarreforma,
haviam os povos originários do Brasil para catequisar e os filhos dos
colonizadores para educar. É neste cenário, já com os jesuítas morando
e trabalhando no Brasil que surgem os Regimentos de D. João III,
um histórico conjunto de regras constituídas, com a finalidade de
regulamentar o funcionamento educacional, no Brasil Colonial, por volta
de 1548 (Século XVI).
Estes Regimentos serviram para guiar as ações educacionais
do Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza e dos padres e irmãos
jesuítas, destacando o papel de Padre Manoel de Nóbrega, neste
momento histórico. Os documentos, atualmente históricos, das tarefas
educacionais dos jesuítas, no Brasil Colonial, chegavam por cartas e
foram imortalizados por tais cartas. É uma coleção de cartas jesuíticas
retiradas de edições espanholas (1551 e 1555), são dez cartas escritas
pelos ilustres jesuítas Manoel da Nóbrega, Juan de Azpilcueta Navarro
e José de Anchieta. O criador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola,
acompanhava, de Roma e por cartas, o desenrolar do importante
trabalho educativo dos jesuítas, que estavam nas missões da Companhia
de Jesus, no Brasil. Isso vai acontecer a partir da 1.ª Missão Jesuítica ao
Brasil, com a presença de Manoel da Nóbrega, em 1549.
Dada a dificuldade de notícias, através destas cartas, eram
relatados os sucessos relativos aos objetivos dos jesuítas no Brasil, com as
fundações de colégios, com as missões, com esperadas as conversões,
para animar os que se dedicavam à catequese, no além-mar, em terras
longínquas, com as mais diversas dificuldades, convivendo com culturas
e línguas distintas das europeias. Nestas cartas, é possível perceber que
os jesuítas, que viveram no Brasil Colonial, não poupavam esforços para
História da Educação14
atender às ações demandadas pelo fundador Inácio de Loyola. Em uma
carta escrita, em agosto de 1553, o padre Inácio de Loyola afirma:
Nas cartas que se podem mostrar a outros, informar-se-á em
quantos lugares há residência da Companhia, quantas pessoas
em cada casa e em que se ocupam, tudo em vista da edificação.
Igualmente como andam vestidos, qual é o seu comer e beber,
em que camas dormem e o que gasta cada um deles. Também,
quanto à região onde moram, qual o clima e graus geográficos,
quais os vizinhos, como andam vestidos, que comem, como
são suas casas e quantas, segundo se diz, e que costumes
têm; quantos cristãos pode haver, quantos gentios ou mouros.
(Pereira 2019, p. 1)
Nestas cartas o que interessava era saber o sucesso da empreitada
difícil dos jesuítas no Brasil, se estavam conseguindo realizar o que era
esperado pela Companhia de Jesus, catequisar, ou seja “a qualidade
e permanência dos frutos produzidos pelos missionários, o que para
o padre Ignácio e seus sucessores dependia do aperfeiçoamento do
método para atuar entre infiéis”. (TORRES LONDONO, 2002, p.24).
No Brasil, os índios adultos, preservando suas certezas culturais
e religiosas (das quais nada sabiam os jesuítas e nem muito menos
queriam saber), fechavam os ouvidos para não ouvir a palavra do
missionário e resistiam a conversão cristã católica, não aceitando a
verdade única dos jesuítas, que tentavam ensinar as lições sobre um
verdadeiro culto à Deus, que era a certeza católica e a função deles
no Brasil, ao catequisar os povos originários. Por volta de 1560, Jose de
Anchieta afirma, em carta, que haviam poucos avanços para escrever e
escassíssimos brasileiros convertidos. (TORRES LONDONO, 2002).
Em uma carta escrita na Bahia, por Padre Manuel da Nóbrega,
em 1549, ele esclarecia que seu companheiro nesta jornada na América
do Sul, o Irmão Vicente Rijo ensinava a doutrina católica aos meninos,
todos os dias mantinha a eschola de ler e escrever. E o jesuíta narrador,
Padre Manuel da Nóbrega, julgava, nesta escrita que era boa maneira
de aproximar os indígenas, vistos como desejosos de aprender. A meta,
explicita na carta, é que iriam aproveitar a disponibilidade de aprender
História da Educação 15
dos indígenas, para ensinar-lhes as orações, as importantes doutrinas
da fé católica, para um posterior batismo. “Nóbrega deixou claro que
o ensinar tinha como primeira intenção a conversão ao cristianismo”.
(FARIA, 2006, p.67).
O Padre Manuel de Nóbrega (em outra carta, de agosto de
1549) declarava ainda, que estas crianças indígenas que iam sendo
convidadas a ler e escrever, e ao mesmo tempo aprender a doutrina
cristã, estavam movidas pela admiração de vê-los lendo e escrevendo,
resultando desta observação de tais meninos o perceptível desejo de
aprender. Isso levava o padre a acreditar que eles queriam ser cristãos
igualmente. Mas que os impedimentos seriam os maus costumes dos
indiozinhos, isso fadigava os padres. Assim, é nítido que o entendimento
da cultura de tal povo era nulo e só viam nas crianças um único desejo:
querer escrever e ler para ser igual ao padre jesuíta. Hábitos ligados aos
modos culturais indígenas eram vistos como maus costumes, assim
“indicam que a catequese lutou, desde o início, pela transformação dos
costumes ‘dessemelhantes’ e que esta era a sua principal empreitada.”
(FARIA, 2006, p. 67). 500 anos depois muitas pessoas ainda estão com
esta dificuldade dos jesuítas, para ler as diferenças étnico-culturais, pelo
vasto território brasileiro, e desqualificam as contribuições das matrizes
afro e indígena, na cultura brasileira. Lamentáveis fatos, ontem e hoje!
História da Educação16
Figura 1: Padre Manuel da Nóbrega
Fonte: wikipedia
Saviani narra que D. João II, rei de Portugal mandava verbas não
para construções, mas não para manter os colégios e vestir os jesuítas,
descreve o Padre Manuel da Nóbrega, em uma em carta escrita, em
agosto de 1552, eles aplicavam os recursos no colégio da Bahia e nós no
vestido remediamo-nos com o que ainda do reino trouxemos, porque a
mim ainda me serve a roupa com que embarquei... e no comer vivemos
por esmolas. (SAVIANI, 2008, p. 1)
Os jesuítas começaram suas importantes contribuições
educativas, focalizando na catequese, obedecendo os regimentos de
D. João III, rei de Portugal. Se nos dias atuais existem leis que definem
História da Educação 17
a alocação de recursos para a Educação Básica, naqueles longínquos
tempos, cabia à coroa portuguesa a manutenção do ensino, mandava
verbas não para construções, mas não para manter os colégios e vestir
os jesuítas. O rei João III
Enviava verbas para a manutenção e a vestimenta dos jesuítas;
não para construções. Então, como relata o padre Manuel da
Nóbrega em carta de agosto de 1552, eles aplicavam os recursos
no colégio da Bahia e nós no vestido remediamo-nos com o que
ainda do reino trouxemos, porque a mim ainda me serve a roupa
com que embarquei...e no comer vivemos por esmolas. (SAVIANI,
2008, p. 1)
Saviani (2008) declara que os recursos eram escassos. Em 1564,
o rei de Portugal adota um plano denominado Redizima e definiu que os
impostos arrecadados da colônia brasileira passaram a ser destinados
à manutenção dos colégios jesuíticos. A partir daí, iniciou-se uma fase
de relativa prosperidade, dadas as condições materiais que se tornaram
bem mais favoráveis (SAVIANI, 2008, p. 02)
A educação colonial brasileira foi financiada com os recursos
públicos, e estas escholas eram espécies de escolas públicas religiosas.
Saviani (2008) reflete que se
o ensino então ministrado pelos jesuítas podia ser considerado
como público por ser mantido com recursos públicos e
pelo seu caráter de ensino coletivo, ele não preenchia os
demais critérios, já que as condições tanto materiais como
pedagógicas, isto é, os prédios assim como sua infraestrutura,
os agentes, as diretrizes pedagógicas, os componentes
curriculares, as normas disciplinares e os mecanismos de
avaliação encontravam-se sob controle da ordem dos jesuítas,
portanto, sob domínio privado. O resultado foi que, quando se
deu a expulsão dos jesuítas em 1759, a soma dos alunos de
todas as instituições jesuíticas não atingia 0,1% da população
brasileira, pois delas estavam excluídas as mulheres (50% da
população), os escravos (40%), os negros livres, os pardos,
filhos ilegítimos e crianças abandonadas. (SAVIANI 2008, p. 3)
História da Educação18
Na construção histórica da Educação no Brasil, segundo Saviani,
está D. João III criando Regimentos, estabelecendo regras para o acesso
à educação, em 1548, trazendo orientações ao Governador Geral do Brasil,
Tomé de Souza, aos jesuítas envolvidos na empreitada da educação,
incluindo o conhecido Padre Manoel de Nóbrega, que registrava em cartas
os avanços de tal educação aos nativos brasileiros, em nome de Deus e
dos desejos da Companhia de Jesus. Para converter os povos indígenas
brasileiros à fé católica, Portugal contou com a atuação da Companhia de
Jesus, fundada em 1534 por Inácio de Loyola, no contexto da Contrarreforma.
Essa ordem religiosa fundava-se em uma cega obediência à doutrina da
Igreja. (Santos, 2016, p. 6)
Descrevendo a Era PombalA ação pedagógica jesuítica foi insignificante? Em setembro de
1759, os soldados ocuparam os colégios portugueses, expulsaram os
jesuítas, que já lidavam com a educação por mais de 200 anos. Assim,
começou a Reforma Educacional de Marquês de Pombal, o 1.º ministro
do Rei português, Dom José I. Nos tempos de Marquês de Pombal (1759
a 1827), surgiram as primeiras tentativas de criar a escola pública estatal.
(Saviani,2008). Em 1759, os colégios jesuítas foram fechados, iniciaram-
se as aulas régias, que eram mantidas pela Coroa, a partir de 1772, com
recursos do subsídio literário.
Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal,
foi o primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1759. Em seu
VOCÊ SABIA?
Veja o vídeo da Univesp TV, foi a Portugal investigar o caminho feito pelos jesuítas no Brasil, logo no início da colonização. Começando a educação no Brasil. E eles indagam: Mas foi mesmo isso que eles vieram fazer aqui? Como eram os famosos colégios que os jesuítas fundaram por toda colônia? Os índios frequentavam esses colégios? Veja o vídeo no link: http://bit.ly/2nY0UDi
História da Educação 19
governo tomou várias medidas com vistas a centralizar a
administração da colônia, de forma a controlá-la de maneira
mais eficiente: suprimiu os sistemas de capitanias hereditárias,
elevou o Brasil à categoria de vice-reinado, transferiu a capital
de Salvador para o Rio de Janeiro. (PILETTI, 2012, p. 74)
Mas a notoriedade de Pombal, na história da educação, foi por
conta da expulsão dos jesuítas. Ele adentrou em um conflito com a
Companhia de Jesus, atribuindo-lhes intenções de opor-se ao controle
do governo português. Do conflito, chegou-se ao rompimento: os
jesuítas foram expulsos de Portugal e de suas colônias e, por alvará de
28 de junho de 1759, o marquês de Pombal suprimiu as escolas jesuíticas.
(PILETTI, 2012, p. 74). Assim, na Era Pombal, o foco da educação passou a
ser os interesses locais ou a formação de poucos indivíduos, sobretudo
aqueles pertencentes à elite, os quais costumavam concluir seus estudos
na Europa. (Santos, 2016, P.9). Pombal teria sido incumbido de criar uma
escola útil às finalidades do Estado, ao invés de preconizarem uma
política de difusão intensa e extensa do trabalho escolar, pretenderam
os homens de Pombal organizar a escola que, antes de servir aos
interesses da fé, servisse aos imperativos da coroa (Piletti, 2012, p. 76)
Foi instituído o cargo de Diretor-Geral, designado para realizar os
interesses portugueses, vigiando os usos de livros proibidos e dando
autorizações aos professores, para ensinar. Só que Piletti (2012) aponta,
que tal Diretoria de Estudos não teve bons frutos, no vice-reino do Brasil.
A Aula Régia constituía somente uma unidade de ensino, adequada a
uma só disciplina, com autonomia e isoladas uma das outras, inexistindo
diálogo entre elas. Nem tampouco havia um currículo composto por um
conjunto de estudos sistematizados, de forma hierárquica, muito menos
um prazo para cada aula régia acabar. Assim, cabia ao aluno escolher
as aulas régias que desejasse cursar, para começar a frequentar tais
aulas e suportar professores despreparados, que por sinal eram mal
remunerados, tais precários mestres arrumavam estas aulinhas indicados
por um bispo, ou por alguém importante, aqui, no vice-reinado. Os anos
passaram e o que mudou? O Brasil não equacionou facilmente esta
mistura danosa, de professores mal pagos e com formações que deixam
História da Educação20
a desejar, ainda hoje, mas pelo menos os concursos de admissão, aos
cargos no magistério, mudaram muito.
Antes de 1772, sabe-se com certeza da existência de algumas
aulas régias de Latim em Pernambuco. A partir deste ano,
graças à criação de um imposto para o ensino - o subsídio
literário -, foram instaladas 17 aulas de ler e de escrever, 15
aulas de Gramática latina, 6 aulas de Retórica, 3 aulas de
língua grega e 3 de Filosofia, em diferentes pontos da colônia.
(PILETTI, 2012, p. 75)
A Era Pombalina, no Brasil (1759 a 1827), discute a possibilidade de
uma escola pública estatal. Saviani comenta que
Pelo Alvará de 28 de junho de 1759, determinou-se o
fechamento dos colégios jesuítas, introduzindo-se as aulas
régias a serem mantidas pela Coroa, para o que foi instituído, em
1772, o subsídio literário. As reformas pombalinas contrapõem-
se ao predomínio dos ideais religiosos e, com base nas ideais
laicas inspiradas no Iluminismo, institui o privilégio do Estado
em matéria de instrução, surgindo, assim, a nossa versão da
educação pública estatal. A partir dessa proposta, foi baixada
a Carta de Lei, de 10 de novembro de 1772. (Saviani, 2008, p.03)
As aulas régias, dos tempos de Pombal, estavam relacionadas
com a oferta de ensino secundário, existiam as classes de latim, o
Estado pagava o salário dos professores e determinava às diretrizes
curriculares das matérias a serem ensinadas. As aulas régias de latim,
Grego e Retórica que nem de longe chegaram a substituir o eficiente
sistema de ensino organizado pela Companhia de Jesus” (Piletti, 2012, p.
74). O professor deveria prover as condições materiais do local escolhido
para as aulas, que podia ser a própria casa do professor, cuidando da
infraestrutura da sala de aula, zelando pelos recursos pedagógicos
para promover o ensino. Com tudo isso, ainda havia a insuficiência de
recursos, a Colônia Portuguesa não tinha recursos apropriados para a
garantia e a aquisição do subsídio literário e assim financiar as aulas
régias (instituída em 1772). (Saviani, 2008)
História da Educação 21
VOCÊ SABIA?
Veja o vídeo da UNIVESP sobre A Reviravolta de Pombal: Nasce a Educação Laica: http://bit.ly/2MoMBkp
Descrevendo a Pedagogia Realista do Século XVII
Dos séculos XVI até XIX foi mapeado o campo teórico capaz de
estruturar o pensamento científico. O século XVII vai preparar a grande
mudança do século XVIII, tempo em que ciência foi entrelaçada com
o progresso da humanidade, já estando os seres humanos capazes
de pensar que o progresso na história seria alcançado através da
independência e interação de fatos e valores. (STEPHANOU & BASTOS,
2004, p. 146). Uma revolução que começou no século XVI, atravessa o
século XVII, contou com a estruturação apoiada nas novidades ditas por
Copérnico, Galileu e só depois Newton, levando a humanidade para
uma cada vez maior, racionalidade científica.
A separação entre filosofia e ciência ocorreu no século XVII,
quando Galileu introduziu o método científico, baseado
na experimentação e na matematização racional. Está se
aproximou como um modelo global e, portanto, totalitário,
criou o paradigma da igualdade, que estruturou o Direito
Natural dando condições para criar uma nova categoria social,
o indivíduo, fundamento do Estado Nacional moderno. A razão
estruturou a igualdade, eliminou a diferença em nome dessa
igualdade e do progresso da humanidade. (STEPHANOU &
BASTOS, 2004, p. 146).
A idade moderna começa e já será quebrado a cosmovisão
medieval, sendo ultrapassada a visão de que o mundo é parado, estático
e hierarquizado:
A teoria heliocêntrica do movimento dos planetas de Copérnico,
as leis de Kepler sobre as órbitas dos planetas, as leis de Galileu,
História da Educação22
a grande síntese da ordem cósmica de Newton e a consciência
filosófica que lhe conferem Bacon e sobretudo Descartes,
consubstanciaram o paradigma moderno. (STEPHANOU &
BASTOS, 2004, p. 147).
Foi o racionalismo de Descartes e o empirismo de Francis Bacon
que serviram de base filosófica, para pensar em um homem capaz de
pensar sobre as verdades universais (racionalismo) e, ao mesmo tempo,
o conhecimento era visto como uma realidade em constante mudança,
a depender do tempo, do homem e do espaço (empiristas). Imagina
quais são as bases do pensamento científico aplicados, na reforma de
Marques de pombal, em 1772 (Século XVII)? Exatamente Racionalismo e
empirismo! Era necessário superar a escolástica tradicional (medieval)
e seguir o caminho do racionalismo moderno. A modernidade é aqui
pensada como um modo de civilização fundado pelos princípios
matemáticos os quais poderiam ser aplicados, tal como na óptica,
a todo problema da representação do globo numa superfície plana.
(STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 149).
Assim, foi necessário separar fé e razão, foi preciso lutar pelo
progresso, com a ajuda da razão, em prol do desenvolvimento humano. O
Estado português fez a sua reforma do ensino em geral, e na universidade. A
educação jesuítica vai perder todo o sentido, a partir das escolas de Marques
de Pombal. Os reformadores escolhidos por Pombal concebiam o campo
científico como caminho para construir o verdadeiro homem, o progresso
econômico e social, a felicidade humana, o encontro do verdadeiro Deus,
assim como para chegar ao conhecimento da verdadeira natureza”.
(STEPHANOU & BASTOS, 2004, p. 146).
A Pedagogia Realista, do século XVII, vai exigir que a educação
seja pensada e que não descuidasse da realidade (no latim res, significa
coisa), dando importância a experiência com os mundos dos objetos,
com a realidade, com fatos significativos, do tempo em que se vive.
Superando o que era mais caro à educação medieval, teórica e formal
e até a concentração dos humanistas renascentistas, nas humanidades.
História da Educação 23
Descrevendo a Nova Didática de Comênio Comênio foi importante personagem para a Educação Moderna.
Ele defendia que não se deve aprender coisa alguma exclusivamente
para a escola, mas para vida, a fim de que os alunos não tenham de
lançar ao vento nenhuma de suas aquisições ao sair da escola (PILETTI,
2012, p. 77). Ele foi visto como o mais importante pensador da educação,
no século XVII, escreveu mais de cem livros, e ficou imortalizado juntos
aos educadores com a sua obra Didática Magna, que trata de numerosos
assuntos da educação e auxiliar o homem a alcançar o seu fim último, ou
seja, a sua felicidade eterna com Deus. Mas isso não era novidade, pois
todos os educadores da época concordavam neste ponto. (Piletti, 2007,
p. 77). Então, qual seria a diferença destes educadores contemporâneos
e Comênio? Qual a novidade que ele ofereceu? Enquanto os outros
afirmavam que a educação, para alcançar seu objetivo, deveria tentar
destruir os desejos naturais, instintos e emoções, Comênio afirma que
o objetivo devia ser alcançado pelo domínio de si mesmo, o que é
assegurado pelo autoconhecimento e pelo conhecimento de todas as
coisas úteis. (PILETTI, 2012, p. 77).
Comênio foi o idealizador da ilustre Didática Magna. A didática tem
como lógica a relação com o saber, atividade que se refere às lógicas
próprias dos saberes em situação pedagógica. Comenius prometia uma
grande didática, uma arte universal de ensinar tudo a todos. (Morandi,
2008, p. 34). O clérigo Comênio defendia que só era possível aprender
a universalização dos conhecimentos, através da mensagem de Deus,
contida na Bíblia, capaz de moralizar os povos. Ensinar tudo a todos, era
a meta de Comênio.
Ele defendia que o principal foco da lógica pedagógica era a ideia
de método, como conduta racional. Comênio acreditava que a escola
era um ateliê da humanidade, devendo cumprir a arte de ensinar tudo a
todos, de forma consistente, veloz e segura, divertida, não aborrecida e
alcançando suas metas, com perfeitos êxitos.
O método estabelece o modo educativo com base na relação
original que a mente humana mantém com o mundo segundo o
princípio de uma ciência universal. Acreditando na educabilidade
do homem e na perfectibilidade das sociedades, Comenius
História da Educação24
fundou escolas, mantendo-as como instrumentos intelectuais,
como comunidades eruditas de ultrapassar os conflitos atuais da
época. Para ele, a atividade do professor diz respeito ao método
mais do que ao talento. (Morandi, 2008, p. 39)
A Didática Magna de Comênio recebeu influências dos novos
modelos mecânicos, da Idade Moderna. O sonho dele era tornar a educação
mais barata para as massas populares, aos mais empobrecidos. Um homem
religioso, sonhador e que viveu em um período de grande avanço da
tipografia, era necessário criar um método de ensino capaz de agir, bem
e racionalmente, já livre da necessidade de copistas para ter livros. Assim
era necessário ao formular seu método, Comênio considerou a eficácia na
transmissão como uma questão central (Piletti, 2007, p. 78).
Comênio avaliava que a o método de educar, do seu tempo,
era vago, não declarando e forma racional em que lugar quer levar a
criança com os seus esforços pedagógicos, para onde levar e como
levar deveria ser repensado. A opinião de Comênio implicava em
pensar o método e a ordem, de forma sistemática, fundamentada na
natureza. Foi ele que pensou na educação, com o professor como figura
central, que expõe didaticamente a matéria aos alunos, que, por sua
vez, o escutam e obedecem. Nesse caso, o problema central é como
conseguir que os alunos escutem. (Piletti, 2012, p. 78). Isso aconteceria
através da predisposição das mentes dos alunos para aprender,
afastando-os todos os obstáculos que possam impedir a aprendizagem.
Assim, no momento da história em que a educação passa a alcançar
um número maior de pessoas, na Europa, pensar em um método era
fundamental. O legado de Comênio para a educação passa por três
importantes ideias, tais ideias são basicamente: naturalidade, intuição
e autoatividade. A arte de ensinar, segundo Comênio, não exige outra
coisa senão a judiciosa disposição do tempo e das coisas. E tal disposição
deve apoiar-se na natureza como sobre uma rocha inabalável. Para
Comênio, a arte não pode ser outra coisa que a imitação da natureza.
E tudo o que é natural avança por si mesmo! (Piletti, 2012, p. 80).
História da Educação 25
Figura 2: Comenius
Fonte: wikipedia
VOCÊ SABIA?
Leia o artigo A didática de Comênio: entre o método de ensino e a viva voz do professor, no seguinte link: http://bit.ly/2Mrjmhb
Descrevendo as Propostas de John LockeEste pensador, considerado o pai do empirismo inglês, John Locke
(século XVII) desenvolveu o conceito de conhecimento, na perspectiva
empirista. Como outros empiristas, vai criar teses que apoiam nas
experimentações dos sentidos, já que o conhecimento não já vinha, ao
nascer. A folha em branco ou tabula em branco, da mente precisaria ser
preenchida. Locke esteve preocupado em negar
a existência de ideia e princípios inatos na mente ou espírito
humano (o que levou a desenvolver uma teoria sobre o
processo pelo qual se chega a conhecer) e justificação do
liberalismo enquanto filosofia política e enquanto forma de
governo, que tinha como base a noção de que a propriedade
era um direito inalienável dos homens (ANDERY, 1988, p. 222).
História da Educação26
Nesta visão do pensador empirista o que o homem conhece e as
ideias que surgem à sua mente não eram inatas, portanto, rechaçando
o Inatismo.
Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos,
pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco,
desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como
ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque,
que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela
com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos
os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo,
numa palavra, da experiência. Todo nosso conhecimento está
nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos
como nas operações internas de nossas mentes, que são por
nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre
nosso entendimento com todos os materiais do pensamento.
Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas
ideias, ou as que possivelmente teremos. (CHAUÍ, p. 1996, p. 95)
As ideias empiristas, entrando nas mentes, e percorrendo por
séculos, os ideais da educação. Locke defendia que as observações que
fazemos sobre os objetos exteriores e sensíveis ou sobre as operações
internas da nossa mente, de que nos apercebemos e sobre as quais nós
próprios refletimos, que fornecem à nossa mente a matéria de todos os
pensamentos. (LOCKE, 1999, p. 106). O conhecimento, para Locke, seria
constituído de ideias advindas dos objetos externos e das operações
internas da mente. (ANDERY, 1988). Restando uma tarefa importante:
Como é que é adquirido o conhecimento, já que não é por ideias inatas
como pensavam, teóricos da antiguidade até o período longo medieval.
Locke foi um importante precursor do iluminismo, fundou o
empirismo inglês. Sua educação realista objetiva investigar os fenômenos
naturais e a proposição de ideias que, futuramente, influenciaria o
pensamento de outros teóricos, por exemplo, Rousseau. (TERUYA ET
ALL, 2010, P.3). Empiristas, como Locke costumavam criticar ideias
metafísicas defendidas por instituições religiosas e pela monarquia que
História da Educação 27
representava o centro das decisões políticas, econômicas e jurídicas.
(TERUYA ET ALL, 2010, p. 7).
O Empirista Locke entendia que todo e qualquer conhecimento
vindo do mundo exterior era decorrente deste mundo, provocada pelo
exterior e não pela mente, surge da qualidade dos objetos e fenômenos
postos no mundo exterior e das ações dos sentidos humanos, em
atividade constante de apreender o mundo (ANDERY, 1988, p. 226).
Descrevendo o Século XVIIIO iluminismo vai trazer novas discussões para o campo da
educação, que vai desde a Revolução Copernicana, produzida pela obra
de Rousseau, a contribuição dos Enciclopedistas.
Descrevendo o Século XVIII: o Iluminismo e suas relações com a educação
A ciência ganha espaço no decorrer do século XVII e segue até o
iluminismo. Uma esperança especial surge na escolarização das futuras
gerações que poderiam ser baseadas no pensamento iluminista, trazendo
nova visão de infância e da importância da formação escolar. O movimento
iluminista valorizou o primado da razão humana, É pelo signo da educação
que se dará o engendramento dessa racionalidade matricial, diretora do
otimismo expresso em um século que se pretendia veículo e condutor
daquilo que se supunha ser a perfectibilidade do homem (Boto, 2014, p. 157).
Inspirador da reforma de Pombal, o iluminismo teve seu papel inspirador, nas
bases da proposta educacional desta época, em que as metas eram estatizar,
secularizar e uniformizar a educação. Não ocorreu aumento substancial da
oferta de escolas secundárias, mas foram ampliadas as matriculas de crianças
das camadas populares portuguesas. Tais escolas, agenciadas talvez para
redistribuir o panorama social, continham em seu cotidiano os germes da
vida civil que a ilustração portuguesa projetou desenhar. Nessa medida, com
conteúdos, métodos e códigos de conduta estritamente prescritos, a escola
do Estado passa a falar aos futuros cidadãos. (BOTO, 2014, p. 174).
História da Educação28
Para entender as relações do iluminismo com a educação,
é fácil compreender a sua dimensão pegando um exemplo muito
significativo, que é Jean Itard. Este pensador francês, levou para a
sua casa um jovem, que foi encontrado nos arredores da cidade de
Aveyron, na França do Pós Revolução Francesa, sem contato com a
sociedade, na região de Aveyron. Itard é um exemplo clássico do agir
com o espirito cientifico da época, tentando desmontar o idealismo
que já vinha desde a antiguidade, reforçada pelas práticas medievais
da Igreja, contestadas desde a Idade Moderna, nos dois séculos
anteriores. O cenário agora é o republicano francês, momento em que
estes pensadores vão tentar colocar em prática suas teorias realistas,
racionalistas e empiristas. Trabalhar os sentidos é uma meta, já que
mente évista como desprovida de ideias, ao nascer. O sensualismo
de Itard é inspirado no pensamento de Condillac, que tentou provar
que as atividades corpóreas e psíquicas possuem um
denominador comum: as impressões. Ao explicar a origem do
conhecimento, coloca a sensação como fonte: não há mais
Deus mediando a relação entre o sujeito que conhece e o
objeto do conhecimento. A relação se dá diretamente entre
homem e mundo através da sensação, da qual derivam todas
as operações intelectuais. (ANDERY, 1988, p. 335).
A pedagogia testada por Itard, com um jovem que não falava, tinha
passado os últimos doze anos de vida na floresta, sem convívio de outros
humanos, tornado um objeto de estudo para provar a inadequação de
pensar formatos teóricos não inatistas, já que para Itard as ideias vinham
dos sentidos. O Sensualista Itard, desenvolveu um trabalho entre a medicina
e a pedagogia com o garoto e escreveu um relatório, ao Governo francês,
treinando os sentidos do garoto, a toda força, deixando-o todas as manhãs
exposto ao frio, ao lado das roupas, até que aprendesse a usá-las (MALSON,
1980, p. 152) ou ainda para reforçar a aprendizagem dos efeitos de um choque
produzido por uma garrafa de Leyde e vendo a inquietação que lhe causava
tal aparelho, julguei que ia fugir e agarrei-o pela gola”. (MALSON, 1980, p. 153).
História da Educação 29
VOCÊ SABIA?
Já viu o Filme sobre a História da Pedagogia de Itard com o garoto Selvagem? Leia um artigo sobre o filme e o caso: O menino selvagem Estudo do caso de uma criança selvagem retratado no filme “O menino selvagem” de François Truffaut: http://bit.ly/2Bj2JNY
Itard, este cientista iluminista, adepto da medicina moral pós-
revolução francesa, faz parte da História da Pedagogia, no momento em
que inspirada, pelas discussões teóricas positivistas, quis ter o status de
Ciência Positiva da Educação Moderna.
É a partir de fins do século XVIII precisamente que o Saber
pedagógico, entrelaçado com a psiquiatria e a filosofia do
Iluminismo, adquire uma fisionomia tal que se torna paradigma
para gerações futuras de educadores. Saber positivista que,
convertido em ideologia dominante no terreno pedagógico,
expande-se mascarado com o véu da naturalidade.
(LAJONQUIÉRE, 1992, P.37).
E Itard criou um projeto para educar o jovem selvagem, não
sendo pai, nem professor e muito menos afeiçoado ao garoto, somente
uma cientista querendo provar suas teorias, cumprindo com suas tarefas
cinco objetivos do seu determinado tratamento moral ou a educação do
selvagem de Aveyron:
PRIMEIRO OBJETIVO: Adaptá-lo à vida social, tornando-a
mais agradável do que a que levava então e, principalmente,
mais análoga à que acabava de deixar. SEGUNDO OBJETIVO:
Despertar a sensibilidade nervosa com os estimulantes mais
enérgicos e, por vezes, com as mais vivas afeições da alma.
TERCEIRO OBJETIVO: Alargar-lhe a esfera das ideais, dando-
História da Educação30
lhe necessidades novas e multiplicando-lhe as relações com os
que o rodeiam. QUARTO OBJETIVO: Levá-lo ao uso da palavra,
determinando o exercício da imitação pela lei imperiosa da
necessidade. QUINTO OBJETIVO: Exercer durante algum
tempo sobre os objetos das suas necessidades físicas as mais
simples operações do espírito, determinando-lhe em seguida
a aplicação aos objetos de instrução. (MALSON, 1980, p. 144).
Descrevendo a Enciclopédia e sua relação com a Educação
Coube aos pensadores, conhecidos como Enciclopedistas,
organizar a Encyclopédie (Enciclopédia), entre 1751 e 1780). Entre os
diversos verbetes, havia o termo Pedagogia, relacionado a Lógica
da ciência do homem, como arte de comunicar ou transmitir os
pensamentos, tratando da escolha dos estudos e da maneira de ensinar.
E já verbete Educação, aponta que a pedagogia é o sistema representado
pelos conhecimentos humanos. (Morandi, 2008).
Enciclopedistas é o nome pelo qual se designam os homens de
ciência franceses que redigiram a Enciclopédia ou dicionário
Racionado das Ciências, das Artes e dos Ofícios. Dirigida por
D’Alembert e Diderot, a Enciclopédia tinha por objetivo tornar
conhecidos os progressos da ciência e do pensamento em
todos os campos. Os principais enciclopedistas, além dos dois
já citados, forma Voltaire, Joucourt, Montesquieu e o próprio
Rousseau. (Piletti, 2012, p. 83)
Condorcet (presidente do Comitê de Instrução Pública) e os
enciclopedistas iluministas defendiam a ideia de educação como
condição fundamental de progresso da sociedade e do indivíduo. As
ideias iluministas, não afastam utilidade pública e progresso, a instrução
pública traz o progresso dos homens, sendo assim é preciso cuidar do
acesso aos saberes e dos métodos de instrução, oportunizando-os de
forma gratuita, leiga e universal.
Métodos cada vez mais elaborados se sucedem e reúnem, em
curso espaço de tempo, todas as verdades cuja descoberta
História da Educação 31
tinha ocupado os homens durante todo o século. Em todos os
tempos, o espírito humano verá diante de si um espaço sempre
infinito, mas aquele que o separa dos tempos de sua infância
crescerá sem cessar. (Morandi, 2008, p. 40).
Descrevendo a “Revolução Copernicana” na Educação
Rousseau transformou a vida da criança e a sua educação, agindo em
uma verdadeira revolução, partindo das suas leituras não seria possível tratar
os filhos e seus educandos do mesmo jeito.
Tratai-a, pois, conforme sua idade, apesar das aparências, e
evitai esgotar suas forças exercitando-as demais. Se aquele
jovem cérebro se esquenta, se virdes que está começando a
ferver, deixai-o primeiro fermentar em liberdade, mas não o
provoqueis jamais, para que nem tudo se exale. (ROUSSEAU,
1995, p. 111).
A revolução copernicana mudou o modo de pensar da humanidade,
colocando o ser humano com uma responsabilidade impensada em
tempos anteriores a Copérnico, que fez com a sua teoria uma revolução
no modo de ver a realidade, ao pronunciar uma palavra que mudaria
o mundo, tirando das mentes humanas a ilusão geocêntrica, os seres
humanos tiveram que entender que a ciência trazia uma nova evidência,
a heliocêntrica, e que a Terra não era o centro do universo.
VOCÊ SABIA?
Veja o vídeo da UNIVESP sobre a vida de Rousseau e sobre seu livro Emilio ou da Educação. No seguinte link: http://bit.ly/2P2gNnr
Isso vai cair sobre as cabeças modernas e produzir um homem que
pensa, tal qual Rousseau, que fez de suas reflexões uma possibilidade
de que a criança deixasse de ser uma miniatura de adulto tão somente,
terão que mudar a educação e a relação do adulto com as crianças.
História da Educação32
Respeitai a infância e não vos apreceis em julgá-la, quer para
o bem, quer para o mal. Deixai as exceções se revelarem, se
provarem, se confirmarem muito tempo antes de adotar para
elas métodos particulares. Deixai a natureza agir bastante
tempo antes de resolver agir em seu lugar, temendo contrariar
suas operações (ROUSSEAU, 1995, p. 112).
Será necessário criar oportunidades inúmeras para a criança
aprender a pensar. Copérnico criou um inusitado modelo astronômico,
destituindo a terra do centro do universo, revelando que todos giravam
em torno do sol. E que Revolução Copernicana produziu Rousseau?
Trouxe a importância do contato com a natureza, o respeito às fases da
vida, fundamentos para uma educação que não descuida do corpo, uma
educação sensível, que permite que a criança seja livre, com seus jogos
e brincadeiras.
A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem
homens. Se quisermos perverter esta ordem, produziremos
frutos temporãos, que não estarão maduros e nem terão sabor,
e não tardarão em se corromper; teremos jovens doutores e
velhas crianças. (ROUSSEAU, 1995, p. 86)
Rousseau alterou o centro de interesse da pedagogia, sugerindo
que o professor gravite em torno do aluno, e não o contrário. Tratar
a criança conforme a fase em que realmente vive é um conselho de
Rousseau, expresso no Emílio:
Caso contrário, perdereis vosso tempo e vosso trabalho,
destruireis vossa própria obra e, depois de vos terdes
indiscretamente embriagado com todos esses vapores
inflamáveis, só vos restará um resíduo sem vigor. (ROUSSEAU,
1995, p. 111).
É para os alunos que existem os preceptores, figuras típicas dos
tempos que viveram Rousseau. Então quem ensina precisa abandonar
os modos medievais, rudes, desinteressados da pessoa do aluno.
É posteriormente, com Rousseau que a infância é concebida
em sua especificidade, quando em Emílio, o filósofo apresenta
fases maturacionais distintas nas diferentes idades. E, neste
História da Educação 33
sentido, a revolução pedagógica de Rousseau é comparada
à revolução copernicana, situando a criança no centro do
processo educacional. (Silva, 2015, p. 36)
Rousseau sustentava que os instintos e os interesses naturais
deveriam ser valorizados. A criança deveria ter papel sobre seus
saberes. Deveria conduzir mais do que ser obrigada a agir como adulto
em miniatura? O fato é que Rousseau não morrerá sem deixar frutos
na história da educação. Assim, Rousseau pode ser pensado como um
influenciador da escola nova, que vai fazer história, do século XIX até
o intenso sucesso escolanovista, na primeira metade do século XX.
Rousseau influenciou alguns de seus contemporâneos educadores,
como Pestalozzi, Herbart e Froebel.
Figura 3: Rousseau, escreveu o livro Èmile
Fonte: wikimedia commons
Rousseau e o Naturalismo Pedagógico em “Emilio”
Jean Jacques Rousseau entendia que tudo é perfeito no instante
de sair das mãos do criador da natureza, tendendo a degeneração
nas mãos humanas. O pensamento de Rousseau e outros estudiosos
influenciaram o fato político determinante do século XVIII, na França.
Dentro dos esforços deste pensador estavam algumas das preocupações
centrais da Revolução Francesa, como a liberdade e a igualdade.
História da Educação34
Rousseau desenvolveu intensa atenção, na sua obra, ao sentimento
da natureza, cabendo-lhe a denominação de naturalista. É interessante
lembrar que este autor considerava o homem como naturalmente bom,
mas que poderia ser corrompido pela sociedade e civilização.
Na educação, o movimento naturalista representou uma
revolução. É que, na última parte do século XVII e maior parte
do século XVII, o formalismo estéril e sem vida que dominou a
religião se refletiu, também, na educação. A filosofia romântica
e do sentimento reage contra esse formalismo e, em seu lugar,
propõe uma concepção da vida espontânea e sincera. Assim,
os românticos atacam a concepção racionalista do mundo e
da vida e defendem a importância do sentimento, da fantasia,
da intuição, do desejo e das forças irracionais da vida. (PILETTI,
2012, p. 82).
Rousseau é um pensador do século XVIII, defendia que a criança
nascia boa. Incentivava seus leitores a acreditar na bondade natural
humana, refletindo sobre o papel condenável da civilização, responsável
pela existência do mal. A Educação, concebida com o ideário rousseriano,
deveria priorizar o contato com a natureza. Rousseau refletiu sobre as
diferentes fases do desenvolvimento infantil, condenando a visão da
criança como miniatura de adulto. Ele defendia a pedagogia do cidadão,
para manter a cidade firme. E recomendava que fossem oferecidas às
crianças autonomia e socializações.
Rousseau, o profeta do romantismo, contrapõe-se
frontalmente às ideias predominantes na época sobre a
natureza humana. De acordo com essas ideias, a natureza
humana seria essencialmente má e caberia à educação
destruir a natureza humana seria essencialmente má e caberia
à educação destruir a natureza original e substituí-la por outra
modelada pela sociedade. Opondo-se a essa maneira de
pensar, Rousseau começa sua importante obra Emílio ou da
educação com a seguinte afirmação: Tudo é certo em saindo
das mãos do Autor das coisas, tudo degenera nas mãos do
homem. (Piletti, 2012, p.83)
História da Educação 35
No seu famoso livro Émile (Emílio) vai defender as ideias para uma
educação relacionada a natureza enquanto origem e ideal. Este famoso
livro é
um romance pedagógico em que Rousseau pretende ensinar
como se devem formar as pessoas partindo do princípio de
que o homem é naturalmente bom e de que, sando má a
educação dada pela sociedade, convém estabelecer uma
educação negativa como a melhor ou, antes, como a única
boa. Segundo ele, a educação negativa consiste em não em
não ensinar os princípios da virtude ou da verdade, mas em
proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro.
(Piletti, 2012, p. 86)
É da natureza que devem ser providos as práticas educativas.
Caberia a adulto ser capaz de respeitar as formas singulares da criança
sentir, pensar, usar livremente as faculdades naturais com liberdade. A
inteligência infantil deveria estar a serviço da educação. Este pensador
acreditava que os adultos deveriam agir em prol da educação natural,
impedindo que as crianças fossem corrompidas pela vida social
O professor tem que deixar a criança desenvolver sua natureza,
dirigi-la sem autoridade evidente, instruí-la no contato
casual das coisas. Ele deve leva-la a descobrir o que lhe é
útil perseguir, a se exercitar espontaneamente, a aprender a
bastar a si mesma; estimulá-la a não depender de livros, a ter
a própria opinião sem recorrer ao julgamento do outro. Ajudá-
la a tornar adulta gradualmente, primeiro pelo corpo, depois
pelo espírito. (Morandi, 2008, p. 40).
Este pensador oitocentista fincou os pés na educação e
influenciou muitos educadores por gerações seguintes aos tempos em
que viveu. “É preciso estudar a sociedade pelos homens, e os homens
pela sociedade: os que quiserem tratar separadamente da política e
da moral nunca entenderão nada de nenhuma das duas” (Rousseau,
1995p.524), descreve Rousseau na sua obra Emílio. Os tempos intensos
em que viveu Rousseau trouxeram a destituição da Igreja do controle da
educação que trazia já desde a Idade Medieval, na Europa, sendo levada
História da Educação36
às experiências educacionais nas colônias, como é possível perceber na
educação colonial brasileira, com índios aprendendo com padres que
julgavam que nada eles sabiam, e que aprender a fé cristã católica era
tudo o que deveria ser feito e na base do medo.
O Século XVIII, a obra de Rousseau, a Revolução Francesa
e tantas outras provocações deste rico momento histórico, com a
responsabilização do Estado, com a tarefa de tornar a educação
leiga, não confessional e dever do Estado, mudou drasticamente
como pensar a educação. Assim hoje, ainda estamos sobre a égide da
responsabilidade atual do estado, pelas políticas públicas, em muitos
países, entre eles, O do Brasil republicano. Muitas pessoas enfrentam a
realidade e se negam a admitir a laicidade da educação, considerando
que a 1.ª tarefa do dia é ensinar a rezar específicas orações, de suas
religiões, é fácil, assim, lembrar dos antigos mestres jesuítas ensinando
à sua religião aos indígenas.
Foi considerável a transformação que a obra de Rousseau operou
na concepção da criança, na Pedagogia. Vai interessar pensar na criança,
não mais centrada no saber e na transmissão para as mentes infantis, de
algo já pronto.
Centralizou sua abordagem na criança, considerada não
apenas um ser em construção, mas simplesmente uma
criança, isto é, como um ser perfeito. (Piletti, 2012, p.83). Do
pensamento pedagógico de Rousseau foi possível valorizar,
dentro do campo da educação à redescoberta da educação
dos sentidos, à valorização do jogo, do trabalho manual, do
exercício físico e da higiene. (Piletti, 2012, p. 83).
VOCÊ SABIA?
Sobre Rousseau, seu pensamento e o seu livro Emílio, veja os vídeos da UNIVESP: http://bit.ly/2Bh3s2i e ainda http://bit.ly/2BjxnqP
História da Educação 37
Descrevendo a Educação NacionalA educação nacional nasceu durante a Revolução Francesa,
progredindo nos tempos posteriores à vitória republicana francesa e de
seus ideias de fraternidade, liberdade e igualdade. Os seus teóricos vão
criar as bases de uma educação nacional, leiga, igualitária, universal,
que vai viajar por muitas partes do mundo, incluindo o Brasil.
A Instrução, nos tempos seguintes da Revolução Francesa, amparada
no pensamento de seus ideólogos, como Condorcet que se debruçou para
propiciar sua institucionalização, no nascente tempo republicano,
tornou-se, com a escola, sinônimo de vínculo político
instituído; para Condorcet, é a instrução que institui o cidadão
e é ao instituidor que se confia a tarefa de elaboração da
vida pública. Hoje, a palavra professor denota o status de um
trabalho com características intelectuais, com competências
de alto nível (relativas aos estudos superiores), bem como
uma continuidade de função (escolas de educação infantil, de
ensino fundamental, de ensino médio), por oposição ao status
de instituidor que desaparece progressivamente. (Morandi,
2008, p. 32)
A educação estatal não será a mesma na França, havendo a
necessidade de formação de cidadãos, portando de direitos, que
poderão viver nos tempos novos republicanos, que possam livremente
pensar, com civismo e patriotismo.
Entendemos que o poder público devia dizer aos cidadãos
pobres: a fortuna de vossos pais apenas pôde proporcionar-
vos os conhecimentos mais indispensáveis; mas asseguram-
se vos os meios fáceis de os conservar e ampliar. Se a natureza
vos deu talento, podeis desenvolvê-lo, a fim de que não se
perca, nem para vós nem para a pátria. Assim, a instrução deve
ser universal, isto é, estender-se a todos os cidadãos. Deve
ser repartida com toda a igualdade que permitam os limites
necessários do orçamento, a distribuição dos homens pelo
território e o tempo mais ou menos longo que as crianças
puderem consagrar-lhe. Nos seus diversos graus, ela deve
História da Educação38
abraçar o sistema completo do saber humano e assegurar
aos homens, em todas as idades, a facilidade de conservarem
os seus conhecimentos e de adquirirem outros novos. Enfim,
nenhum poder público deve ter autoridade, nem mesmo
direito, de impedir o desenvolvimento de verdades novas, ou
o ensino de teorias contrárias a uma política de partido, ou aos
seus interesses particulares. (Condorcet, 1943, p. 9-10)
E a escola precisaria ser obrigatória para as crianças, gratuita,
laica (não confessional de uma religião específica, como era no tempo
medieval). Tais anseios irão movimentar as ideias para a educação do
século XIX.
Nóvoa ajuda a entender a Educação Nacional:
O processo de estatização do ensino é antes de tudo a
substituição de um corpo docente religioso (ou sob controle
da Igreja) por um corpo laico (ou sob o controle do Estado),
sem que por isso as antigas motivações, nem as normas e os
valores que caracterizaram as origens da profissão docente,
tenham sido substancialmente modificadas: o modelo do
docente permanece muito próximo daquele do padre. (Nóvoa,
1991, p. 119)
No Brasil, a Carta de Lei, de 10 de novembro de 1772 determinava
a responsabilidade do estado com o pagamento dos salários do
professor e ditar às diretrizes curriculares das matérias que deveriam
ser ensinadas. Imagine a dificuldade de ser professor neste momento
da história: O professor tinha que prover condições materiais, lugar para
VOCÊ SABIA?
Leia mais sobre o assunto, o artigo Na revolução francesa, os princípios democráticos da escola pública, laica egratuita: o relatório de condorcet, de Carlota Boto: http://bit.ly/32kLxDM
História da Educação 39
ensinar (no geral em sua casa), infraestrutura, recursos pedagógicos para
desenvolver suas tarefas pedagógicas. Nada era fácil! Essa situação era,
ainda, agravada pela insuficiência de recursos, dado que a Colônia não
contava com uma estrutura arrecadadora capaz de garantir a obtenção
do subsídio literário para financiar as aulas régias. (Saviani, 2008, p.03)
Além das aulas régias, as ordens religiosas permaneceram
oferecendo estudos dentro dos seminários católicos, o Seminário de
Olinda, criado em 1789 e instalado em 1800 por Dom Azeredo Coutinho
tornou-se centro de difusão de ideais liberais. Dando especial ênfase
ao estudo das matemáticas e das ciências naturais. (PILETTI, 2012, p.75).
Notando que seus alunos e professores tiveram ativa participação na
Revolução Pernambucana (ou Revolução dos Padres, em 1817) e na
Confederação do Equador (1824), este último foi eventos favorável a
República. Havia curso secundário neste dito seminário de Olinda, com
classes (salas de aula), submetidos a um plano de curso estabelecido.
No fim do Império, as instituições escolares eram escassas,
poucos liceus, alguns colégios privados em cidades mais importantes,
uma quantidade ínfima de escolas normais, número pequeno de cursos
superiores, muito pouco feito e muito o que fazer nos séculos seguintes,
em um país dividido com relação ao acesso educacional, inexistindo
grandes escolas e professores leigos na zona rural até fim do século XX,
poucas décadas atrás, dos tempos contemporâneos.
História da Educação40
Reconhecendo o Século XIX
As Realizações Educativas e Sistematizações Pedagógicas
No século XIX, as realizações educativas e as sistematizações
pedagógicas buscavam um novo modelo de escola, para superar
a escola tradicional, seus métodos obsoletos, atreladas a Igreja, ou
tratavam ainda das escolas leigas que começavam a querer uma nova
modelagem. Isso demorou muito a se tornar efetivo no Brasil. Surgem
importantes teorizações de Pestalozzi, Herbart e Froebel que trarão um
papel importante à escola para as crianças e ao papel da mulher na
educação de crianças, não só no lar, mas nas escolas, sendo repensadas
as formações de professores, a luz destas novas teorias.
A segunda metade do século XIX agitou a economia, a política,
a cultura e a sociedade. Na Europa ocorreu grande desenvolvimento
da indústria, revolucionando as forças produtivas, o mercado mundial,
surgindo crises na sociedade capitalista, apontando o dedo na ferida das
contradições da sociedade capitalista. O Brasil, daqui do novo mundo,
mas não isolado da ordem mundial e de seus modos de produção,
teve que remodelar os modos locais de produção, forçado pelas novas
exigências da ordem mundial capitalista, mas ficada nos imperialismos
e monopólios. Modernizar as formas de produção era a palavra-chave,
à época, juntamente com mudanças que precisavam ser orquestradas
na sociedade civil, finda a monarquia, com todas as providências
para separar Igreja e Estado, surgindo o casamento civil, impondo
a secularização dos cemitérios, com reforma eleitoral, incentivando
à imigração e industrialização. Mudanças muitíssimas lentas que
impacientavam os dissidentes. No contexto de disputas, destaca-se, nas
duas últimas décadas do Império, a emergência de debates em trono da
necessidade de criação da escola para as classes populares sob a tutela
do Estado”. (MACHADO, 2014, p. 91).
História da Educação 41
Figura 4: O Ato Adicional de 1834
Fonte: wikimedia commons
Este tempo é marcado por a discussão de uma escola para
o povo. São pensados vários projetos de reforma da educação, na
Câmara dos deputados, e a intenção era a criação do ensino primário
no Município da Corte, o Rio de Janeiro, assim influenciando as demais
províncias. O Ato Adicional de 1834 descentralizou o ensino e designou
como responsabilidade do governo geral a manutenção da instrução
primária e secundária apenas no município da Corte e o ensino superior
em todo o Império. (MACHADO, 2014, p. 92). Este período ainda contou
com Projetos de lei em 1870, 1873, 1874, o Decreto de Leôncio de
Carvalho (1879) e os Pareceres de Rui Barbosa (1882-1883), e ainda
os projetos de 1882 e 1886. Todos estes projetos, nos tempos finais
do Império, no Brasil, comprovam a importância que tais políticos
preponentes atribuíam à educação, entendendo-a como fundamental
para a sociedade nacional. Foram propostos sete projetos de reforma
em menos de duas décadas sem que houvesse divergência no que se
refere à urgência de implementação. (MACHADO, 2014, p. 92). E nenhum
foi implementado!
Triste tempos imperiais no Brasil! Não eram sem razão as
mobilizações populares! Tais projetos revelavam a dificuldade de
definição de um modelo de escola a ser implantado. Estes projetos se
inspiravam nas experiências dos países capitalistas mais avançados,
buscando atender as especificidades nacionais ((MACHADO, 2014, p. 99).
História da Educação42
Nem Leôncio de Carvalho e nem Rui Barbosa conseguiram avanços nos
seus intentos. A existência de projetos não efetivados naquele período
mostra o quanto foi difícil a construção da escola existente hoje e a origem
de suas mazelas. Embora os discursos destacassem a importância da
escola para a modernização da sociedade. (MACHADO, 2014, p. 100). O
discurso era da necessidade da escola para alcançar a modernização
da sociedade. Já práticas não faziam eco. Demorando muito a ser uma
conquista no Brasil, somente lá pela 2.ª metade do século XX.
Reconhecendo o Neo-Humanismo SocialSurgiu o Neo-humanismo como uma promessa de nova missão,
em um novo milênio, trazendo reflexões para pensar os seres humanos,
inseridos na natureza, que precisava ser protegida, como todo o
universo. O Neo-humanismo quer entender os mistérios da vida, do
universo, apresentando-se como uma filosofia do espírito capaz de
superar as dificuldades e trazer uma vida melhor para a humanidade,
com amabilidade, amando os semelhantes, no que estes possuem do
divino, já que todos os seres humanos possuem o divino dentro dos seus
corações. No século XIX, é possível aprender me manuais a importância
da educação infantil, produzindo bases filosóficas capazes de explicar as
necessárias políticas públicas em prol da educação novecentista. A Igreja
ainda é importante para as práticas de educação, no século XIX, mas os
liberais (sejam pensadores ou gestores da educação junto aos governos,
lutam por educação leiga. Muitas reformas educacionais são produzidas,
mas as forças conservadoras, aliadas à Igreja, impuseram obstáculos
aos anseios burgueses, em prol de um ensino laico, com um Estado
fortemente montado com compromissos democráticos e progressistas.
VOCÊ SABIA?
História da educação no Brasil imperial, saiba sobre a Fundação da Escola Normal e do 1.º Jardim de Infância estadual. http://bit.ly/2MOsZ8j
História da Educação 43
Serão importantes as contribuições as teorizações de Pestalozzi,
Herbart e Froebel transformando os modos de ver, pensar e agir a
educação, intervindo com estas novas visões nos métodos, nas formas
de ensino e nas mentes dos professores, em prol da escola moderna. Era
necessário pensar na formação de uma nova professora para as crianças
que iriam à escola primária, lá nos centros dedicados a formação, as
escolas normais.
Tinha chegado a hora de tratar afetuosamente as crianças, saberes
pedagógicos e psicológicos já existiam para fazer isso de forma salutar e
com bases científicas. Então as conhecidas no Brasil como normalistas,
as mulheres que escolhiam ser professoras de crianças precisariam
aprender novas metodologias, baseadas em uma racionalidade
científica, com o carinho necessário e merecido pelas crianças. Surge
campo de trabalho para as mulheres, nas escolas, baseadas nas teorias
de Pestalozzi (Mulher é uma mãe-educadora) e de Froebel (que pensou
suas teorias sobre jardins de Infância, conduzidos pelas jardineiras, as
professoras de crianças bem pequenas).
Este conjunto de ideias progressistas de Pestalozzi, Herbart
e Froebel aparecem no Brasil, através das publicações da Revista
Pedagógica, com escrita de Rui Barbosa, um batalhador em prol da
educação, com os seus Pareceres de Rui Barbosa (1882-1883), na
Câmara dos Deputados.
Reconhecendo a relevância educacional dos Jardins de Infância
Grande contribuição para as escolas de crianças bem pequenas,
foi dada por Froebel, são os chamados Jardins da Infância, despertou a
importância das brincadeiras para o desenvolvimento infantil. No século
XIX, Froebel compreende o jogo como objeto e ação de brincar, marcado
pela liberdade e espontaneidade. Propõe o brincar, orientado por um
professor, com materiais como bolas e cilindros, montar e desmontar
cubos, facilitador de aquisições matemáticas, de conhecimentos de
Física e da Estética. Ressaltava o jogo livre como importante para o
desenvolvimento infantil, mesmo assim introduz a ideia de materiais
História da Educação44
educativos, os dons, como recursos auxiliares necessários à aquisição
de conhecimento, como meio de instrução (KISHIMOTO, 1993, p. 16)
Para Froebel, os brinquedos são atividades imitativas livres, e os
jogos, atividades livres com o emprego dos dons. (Kishimoto, 2008, P.64).
O jogo funciona como uma espécie de eixo da pedagogia froebeliana.
Froebel defendia o princípio da espontaneidade na educação física,
mental ou moral. Ler Froebel estimula educadores a desenvolver
interesse em auto atividade da criança, liberdade de brincar e expressar
tendências internas e pelo jogo como fator de desenvolvimento integral
da criança. (KISHIMOTO, 1993, p.71). Froebel vê a brincadeira como uma
ação metafórica, livre e espontânea infantil. Defende que está presente
ao brincar características como atividade representativa, prazer,
autodeterminação, valorização do processo de brincar, seriedade do
brincar, expressão de necessidades e tendências internas. (KISHIMOTO,
1998, p.68).
Reconhecendo a Importância da Educação Integral
A Inovação educacional no século XIX, passou pela construção
do currículo da escola primária no Brasil, em um momento de intensa
renovação dos programas da escola primária (1870), os pareceres de
Rui Barbosa relativos a Reforma do ensino primário e várias instituições
complementares da instrução pública (1883), apresentou uma discussão
sobre métodos e o programa escolar. Além de repensar os métodos,
era imperiosa a reorganização do programa escolar. A esse respeito, Rui
segue mais uma vez as ideais pedagógicas predominantes na época,
isto é, a ampliação do programa escolar justificada pelo princípio da
educação integral: educação física, intelectual e moral. (SOUZA, 2000,
p. 13). O Corpo e o espírito são indissociáveis. O princípio da Educação
Integral entendia que a educação deverias seguir as leis da natureza e a
disciplina moral (inspirada em Spencer).
Rui Barbosa vai desenvolver esta ideia em um dos seus pareceres,
de 1883, recomendando o que seria essencial pensar na educação integral,
para substituir práticas ultrapassadas, que seu projeto de lei queria mudar:
História da Educação 45
o que, portanto, cumpre, é repudiar absolutamente o que existe,
e reorganizar inteiramente de novo o programa escolar, tendo
por norma esta lei suprema: conformá-lo com as exigências da
evolução, observar a ordem natural, que os atuais programas
invertem (...). Demonstra-se a perfeita racionalidade desse critério,
aplicado à educação científica do homem, pela identidade exata
entre a progressão que seguem as faculdades humanas no
desenvolvimento natural, biológico, espontâneo do indivíduo e
da espécie. (Barbosa, 1883, p. 58).
A ideia de Educação integral passou a ser o primeiro fundamento
pedagógico sistemático para a seleção dos conteúdos para a escola
primária. A definição de uma nova cultura escolar para o povo encontrou
justificações filosóficas e pedagógicas para amparar um projeto de
fundo político e social. (SOUZA, 2000, p. 6). Rui Barbosa ouviu muitos
pensadores, educadores e profissionais que concordavam que era
necessário oferecer um novo formato de educação para as crianças.
Rui Barbosa criou um texto vibrante, engajado, com ideias que melhor
atendiam às finalidades de modernização do país e de formação das
camadas populares; conteúdos que correspondessem ao princípio da
educação integral e fossem atestados pelos países mais civilizados.
(SOUZA, 2000, p. 8)Figura 5: Rui Barbosa
Fonte: wikimedia commons
História da Educação46
Rui Barbosa defendia que a educação integral significava a
ampliação da formação do aluno no decorrer do ensino primário,
através de uma completa recapitulação do progresso vivenciado pela
humanidade, através dos tempos, não deixando de trabalhar, de forma
ampla e harmônica, as faculdades físicas e intelectuais, não desprezando
as disciplinas das ciências físicas e naturais, a língua materna,
a matemática, a história e a geografia, mais a educação física,
a música, o desenho, o canto, os rudimentos de economia
política, cultura moral, cultura cívica ou seja, todas as que,
após a alentada reflexão inicial, o autor vai analisar, ao longo
do já citado tomo II e que constituem as habilidades físicas,
cognitivas e estéticas que completam, no sujeito, o seu SER
humano. (BONATO et alli, p.9, 2011)
Lourenço Filho examinaria as propostas de Rui Barbosa e iria
notar que ali não se estava propondo apenas a estimulação no racional
e no lógico das crianças,
mas no poder criador do espírito como entidade livre. Por
isso a metodologia a que deveria tender seria integral, como
integral é a sua pedagogia. Nesse sentido, o seu pensamento
se sintetiza nestas poucas palavras: Toda reforma sincera,
em matéria escolar, depende de três modificações cardeais
no organismo do ensino, desde o primeiro momento de sua
função educadora: a introdução na escola da cultura física,
da cultura cientifica e da cultura artística. (LOURENÇO FILHO,
2001, p.53).
O ilustre Rui Barbosa, em 1882, organizou uma reforma do
ensino primário, no apagar das luzes dos tempos imperiais. Assim,
ocorre a promulgação, em 1884, do Ato Adicional à Constituição do
Império, incumbindo que o ensino primário seria da competência das
desprovidas províncias. O Estado não mais teria obrigações a enfrentar,
em tempos tão urgentes de educação, da população brasileira, ainda
hoje encontramos adultos que só tiveram estes 4 anos iniciais, como
toda as suas escolaridades. Evidente que tal Ato Adicional fracassou,
levando ao entendimento que as províncias não estavam equipadas
História da Educação 47
nem financeira e nem tecnicamente para promover a difusão do ensino,
o resultado foi que atravessamos o século XIX sem que a educação
pública fosse incrementada. (Saviani, 2008, p; 03). Educação Imperial
era muito excludente! Os ideais republicanos seriam esperanças de
mudanças! Ao chegar lá, na República, carregou-se os resultados de
uma educação para poucos e voltada às elites.
Reconhecendo a Importância da Educação no Período Joanino
O período joanino corresponde a uma fase da história do Brasil
que ocorreu entre os anos de 1808 e 1821. Recebe esse nome em
referência ao rei D. João VI que transferiu seu governo para o Brasil. A
educação escolar do Brasil Colônia, longo tempo que vai de 1500 até
a independência do Brasil, em 1822, pode ser dividida em três fases: 1)
Educação jesuítica, 2) Reformas de Pombal (1759) e 3) O Período Joanino,
marcado pela vinda e permanência (entre 1808 a 1821) de D. João VI,
ficando o Brasil, nesta presença forçada do rei, como sede do Império
Português. E, este período, colaborou para alterações profundas no
ensino no Brasil, Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão e, por
conseguinte, a Corte portuguesa se deslocou para o Brasil sob escolta
e proteção dos ingleses. O Brasil. Com D, João VI no Rio de Janeiro,
passou a ser a sede do reino português. Com isso, inúmeros cursos,
tantos profissionalizantes em nível médio quanto em nível superior,
bem como militares, foram criados para fazer do local algo realmente
parecido com uma corte. Deu-se a abertura dos portos, aconteceu o
nascimento da Imprensa Régia e a criação do Jardim Botânico do Rio
VOCÊ SABIA?
Para saber mais sobre a Educação integral, Ensino Integral e Tempo no Pensamento de Rui Barbosa. Leia o artigo de Bonato et all. Disponível em: http://bit.ly/31mL4zC
História da Educação48
de Janeiro. Em 1808, surgiram o Curso de Cirurgia na Bahia e o Curso
de Cirurgia e Anatomia no Rio de Janeiro. (Ghiraldelli Júnior, 2009, p. 5)
Figura 6: Chegada da Familiar Real.
Fonte: wikimedia commons
Após a Independência do Brasil e a instalação do 1.º Império,
governados por D. Pedro I, surgiu em 1827, a lei das escolas de primeiras
letras e difundiu-se a promessa de que nas cidades e vilas mais
populosas haveriam as escolas de primeiras letras. Não aconteceu. Foi
uma daquelas leis brasileiras que não surtiu efeito ao que se propunha.
E o que se seguiu foi a promulgação, em 1884, de um Ato Adicional à
Constituição do Império que determinou que o ensino primário fosse
destinado a jurisdição das províncias. Assim, lamentavelmente, o Estado
Nacional ficou livre de obrigações com este nível de ensino levando
em conta que as províncias não estavam equipadas nem financeira
e nem tecnicamente para promover a difusão do ensino, o resultado
foi que atravessamos o século XIX sem que a educação pública fosse
incrementada. (Saviani, 2008, p; 03).
Fica sempre uma sensação, vasculhando a história que os direitos
foram negligenciados. Assim como até hoje percebemos, basta visitar
escolas pelos bairros afastados das grandes cidades ou pequenas
História da Educação 49
cidades no interior do país. O autor citado comenta que foram 49 anos,
1840 a 1888, com gastos beirando
a média anual dos recursos financeiros investidos em educação
foi de 1,80% do orçamento do governo imperial, destinando-se,
para a instrução primária e secundária, a média de 0,47%. O ano
de menor investimento foi o de 1844, com 1,23% para o conjunto
da educação e 0,11% para a instrução primária; e o ano de maior
investimento foi o de 1888, com 2,55% para a educação e 0,73%
para a instrução primária e secundária. (Saviani, 2018, p. 4)
Após a Independência do Brasil, em 1827 foi promulgada a lei
das escolas de primeiras letras, obrigando a criação, nas cidades e
vilas mais populosas, de escolas de primeiras letras, em uma defesa
da educação como dever do Estado, a partir da criação de escolas de
primeiras letras, por todo o território brasileiro e a instituição da escola
primária também para as mulheres, com o ensino das prendas e da
economia domésticas, bem como das quatro operações, (Alves, 2012,
p.25). Porém poucos avanços foram percebidos, os professores estavam
despreparados para tão grandiosas obras educativas e os recursos eram
escassos, tanto quanto em tempos anteriores, a independência do Brasil
de Portugal. Ontem, pós independência do Brasil, como ainda hoje a
educação básica recebia menos que os cursos superiores.
VOCÊ SABIA?
Veja sobre o Período Joanino, o vídeo da UNIVESP: D. João VI: Ensino Superior e Profissional, no seguinte link: http://bit.ly/2MP6uQJ
História da Educação50
Somente no final do século XIX serão libertos os africanos e filhos
dos africanos que viviam no Brasil, não escolarizados na sua quase toda
imensa população. Luís Gama nasceu na Bahia, 1830 e morreu em São Paulo,
1882, um dos poucos intelectuais negros brasileiros, autodidata, aprendeu
a ler, escrever e entender a realidade social excludente brasileira imperial,
no século XIX, sozinho. Nascido num Brasil havia pouco independente, era
filho, segundo ele, de uma africana e de um pai de origem portuguesa que
o venderia, ainda criança, como escravo. Foi nesta condição que chegou à
capital paulista, onde viveu por quarenta e dois anos. (Ferreira, 2008, p. 301),
celebrizando-se como um de seus mais dignos cidadãos. Caso raro neste
momento histórico, levando em conta que não era pequena a população de
africanos e afro-brasileiros que viviam no Brasil e seguiram vivendo depois
da abolição e com a chegada dos tempos republicanos. Para perceber a
raridade de pessoas letradas como Luís Gama, é interessante perceber
que em 1889, ano marcado pela Programação da República), a fatia da
população em idade escolar frequentando escolas alcançou a marca de
12%. No mesmo período. Em São Paulo, havia 274 letrados para cada 1000
habitantes. (Santos, 2016, P. 17). Luís de Gama lançou livro em 1859, assim
um negro ousara denunciar os paradoxos políticos, éticos e morais (Ferreira,
2008, p.301). Foi jornalista, lutando por um Brasil sem reis e sem escravos, da
sociedade imperial.Figura 7: Luís de Gama
Fonte: wikimedia commons
História da Educação 51
Quando chegou aos 50 anos, Luiz Gama já era forte liderança
abolicionista e republicana, em São Paulo. Por volta de 1860, era
palestrante de inúmeras conferências públicas, escrevia artigos críticos
nos jornais paulistanos, e alforriamento de escravos, em aliança com
a maior Loja maçónica, sendo um dos membros fundadores. Era, sem
ter passado pelas escolas imperiais, ilustre autoridade no tema de
escravização ilegal e de alforriamento de escravos. Gama falava sobre
ele mesmo: eu como simples aprendiz-compositor, de onde saí para o
foro e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os meus, que
são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escravos, que,
em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime. (Ferreira,
2008, p. 305).
O caminho ainda será longo até chegar nos tempos republicanos.
O imperador Pedro II (1859) instituiu uma reforma ampla no ensino básico,
em uma nova oportunidade histórica de priorizar os primeiros anos
escolares. Pedro II determinou mudanças na estrutura e nos conteúdos
pedagógicos, que passaram a ser chamados de ensino primário,
deveriam acontecer em 4 anos, divididos em nível elementar (instrução
moral e religiosa, leitura, escrita, gramática, aritmética, pesos e medidas)
e nível superior, alcançando até dez disciplinas. Leôncio de Carvalho,
o ministro e secretário de Estado dos Negócios do Império, em 1879,
no decreto n. 7.247, propôs mudanças no ensino superior imperial, no
ensino primário, secundário e a novidade da criação de cursos normais
no Brasil (Santos, 2016),
VOCÊ SABIA?
Veja o vídeo sobre a Educação no Império no Brasil. No Império chega o Ensino Secundário, no seguinte link: http://bit.ly/2Mm8pNC
História da Educação52
estimulava-se se a criação de Escolas Normais em todas as
províncias, acenando-se inclusive com auxílio econômico
do governo central. A partir daí, as múltiplas experiências de
estabelecimento de Escolas Normais nas províncias, iniciadas
já em 1835 com a fundação de uma Escola em Niterói,
passam a tomar por referência as diretrizes emanadas do Rio
de Janeiro, especialmente depois da criação de uma Escola
Normal nessa cidade, em 1880, como resultado também
daquela reforma. (Kulesza, 1998, P.63)
Reconhecendo Avanços e retrocessos da Educação na República no Brasil
Os tempos republicanos repetem os ínfimos resultados, relativos a
educação no Brasil, para a grande maioria da população. A 1.ª República
ainda engatinhava na defesa de direitos à educação. E a segunda metade
do século XX, no período militar, foi marcado por exclusões à vinculação
orçamentária, ou seja, os gastos com educação pioraram. O orçamento
da União para a educação reduziu de 9, 6% em 1965, para 4,31% em 1975.
Somente a Constituição de 1988 vai começar a alterar os tristes quadros
relativos a Educação nacional, do fim da década de 1980 até o fim da
1.ª década do século XXI, leis relacionadas à Educação (como a LDB
de 1996 e outras que seguiram os avanços garantidos na Constituição
Cidadã), trazendo a vinculação e fixando em 18% para a União e 25%
para estados e municípios, considerados como percentuais mínimos,
relacionados as receitas, resultantes de impostos arrecadados no Brasil.
(Saviani, 2008). Isso fez a diferença, até anos iniciais da 2.ª década do
século XXI, momento em que a instabilidade econômica, social e política
abalou a geração de renda, mergulhando o país em tempos difíceis e
que colocaram pressões nas arrecadações, desemprego, movimentos
populares, impeachment e incertezas, por volta de 2016.
Nos tempos iniciais da República (1889), a 1.ª República ou
República Velha, a estagnação imperial foi conservada, o número de
analfabetos mantidos. Situação semelhante ainda serão mantidas por
História da Educação 53
longo tempo, até a 2.ª metade do século XX, paralização de avanços
apoiadas na constituição do regime militar, de 1967 e na emenda de
1969, com reduzidos gastos previstos para a educação nacional, como
visto acima. (Saviani, 2008).
O período da segunda república é marcado pela reforma
de Francisco Campos (Entre 1930 a 1937). Getúlio Vargas assume o
poder, promulga a constituição de 1934, dando um golpe de estado e
permanecendo como ditador de 1937 a 1945, no chamado Estado Novo.
Vargas criou um Ministério da Educação e Saúde Pública, que na sua
Gestão, na Segunda República, será comandada por Francisco Campos,
criando o Conselho Nacional de Educação (1931), criando o ensino
superior, organizando a Universidade do Rio de Janeiro, então capital
do Brasil. Cuidou do ensino comercial e regulamentou a profissão de
contador, regulamentou o ensino secundário (em Decreto, também de
1931). (Ghiraldelli Júnior, 2009)
Voltando os olhos, ao século XX, causa encantamento o manifesto
de 1932, revelado por um grupo de 26 educadores, com maioria masculina
e três mulheres, idealistas pela renovação da Educação Nacional.
Recorriam por educação obrigatória, gratuita e pública, como dever do
Estado, laica, apresentando métodos novos, reconhecidos no Brasil,
intitulado de Escola Nova, que muitas influências sofreram de teóricos
como John Dewey (Estados Unidos) e Jean Piaget (Suíça).(Santos, 2016).
O manifesto dos Pioneiros é importante documento político do debate
educacional, refletindo o que se pensava na década de 1930, trazia a
vontade de inovação, da necessidade de repensar a educação, criar
novas propostas educativas, criticas inúmeras ao que se fazia como
política educacional, no âmbito do denominado Ministério da Educação
e Saúde. Tal manifesto de 1932, ficou imortalizado por uma carta de
princípios pedagógicos, e pelo vigor da luta dos pioneiros, ousados
e destemidos na luta por uma escola renovada, responsabilizando
o Estado Nacional com a educação pública Brasileira. (Vidal, 2013).
História da Educação54
Figura 8: Manifesto dos Pioneiros
Fonte: wikimedia commons
O movimento dos Pioneiros surgiu quando chegamos ao fim
da 1.ª República ou chamada ainda de República Velha, período da
nossa história, relacionado aos tempos corridos entre a proclamação
da República (1889), até o acontecimento da Revolução de 1930 e a
deposição do 13º e último presidente da República Velha, Presidente
Washington Luís. O país ganhou um novo nome, passando a ser chamado
de Estados Unidos do Brasil, o mesmo nome da constituição de 1891,
também promulgada neste momento histórico.
No Estado Novo (1937 a 1945), ainda sob o comando de
Getúlio Vargas, os sopros progressistas dos pioneiros da educação
ficaram abalados com um fato lamentável, o governo abriu mão de
sua responsabilidade para com a educação pública por meio de sua
legislação máxima, assumindo apenas um papel subsidiário em relação
ao ensino (Ghiraldelli Júnior, 2009, p. 64). Assim, não restou dúvida
de que o Estado estava desobrigado, de manter e expandir, o ensino
público brasileiro. Como também a gratuidade foi mexida, explicitado na
possibilidade, de que os que podiam pagar uma matrícula e ainda uma
contribuição modesta e todos os meses para a caixa escolar (Ghiraldelli
Júnior, 2009). Retrocessos assim, a história da educação está repleta, em
todos os tempos, do Brasil Colonial aos dias atuais.
História da Educação 55
A chamada Quarta República (de 1945 a 1964) viu surgir um projeto
de Lei de Diretrizes e Bases Nacional (a comissão foi instalada em 1947),
abortado em 1949, pelos esforços de Gustavo Capanema. Retomada
depois (já na década de 1950), ficou sendo elaborada por anos, até que
em 1957 recebeu uma proposta substitutiva, feita por Carlos Lacerda,
bastante alinhado com os estabelecimentos particulares de ensino.
Logo tempo de disputas seguirem, e somente em 1961 o projeto da nova
LDBN foi aprovado, desagradando mais uma vez as forças progressistas
que lutavam por educação gratuita. (Piletti, 2012). O que se seguiu entre
1965 a 1985 foram os anos da Ditadura Militar, do Golpe Militar de 1964,
com diversos governos conduzidos por generais, e após 1964, no campo
da educação, foi uma drástica redução do orçamento da União para a
educação de 9, 6% em 1965, para 4,31% em 1975. Foram duros tempos
pautados em termos de educacionais pela repressão, privatização do
ensino, exclusão de boa parcela dos setores mais pobres do ensino
elementar de boa qualidade. (Ghiraldelli Júnior,2009 , p. 99).
Na última década do século XX, movidos pela constituição de
1988, a educação começava a ser vista como uma política pública. Os
sindicatos de trabalhadores da educação, associações de docentes do
ensino superior e pensadores da educação estavam esperançosos com
mudanças e lutavam pela educação básica e o ensino fundamental. Os
anos de paralisação da educação brasileira, nos tempos de ditadura
militar, precisavam ser superados em uma perspectiva de pensar a
educação e a cidadania conjuntamente (é bom lembrar que a recém
promulgada constituição é camada de cidadã). Guiomar Namo de Mello
reflete, em documento da época, sobre o cenário dos difíceis primeiros
tempos da Redemocratização, com as
políticas de ajuste econômico de curto prazo que dificultam
consensos em torno de objetivos de longo alcance, como
são os da educação; instabilidade e fragilidade da experiência
democrática, em função de longos períodos de governos
autoritários, que prejudicam a articulação entre as instituições
políticas e os atores sociais; crescimento desigual, que faz
conviver setores avançados tecnicamente com outros de
mão-de-obra intensiva e ainda necessários à integração
História da Educação56
de grandes contingentes marginalizados da produção e do
consumo; grandes desigualdades na distribuição de renda, e
ineficiência e desigualdade na oferta de serviços educacionais.
(Mello, 1991, p.04)
Analisando a Educação no Século XXAnalisando a Educação no Século XX e a Relevância do Método Montessori
Maria Montessori nasceu na Itália em 1870 e morreu em 1952,
dedicou sua vida na reflexão de novas formas de educar as crianças.
De médica aos estudos de Pedagogia e Psicologia infantil, tornou-
se inspetora-geral das escolas da Itália. Deixou a Itália, em 1934, com
a ascensão do fascismo. Trabalhou em outros países como Espanha,
Srilanka, Índia e na Holanda, onde faleceu. Defendia maior papel à
autoeducação da criança do que a oferecida pelas professoras. Era a
criança quem conquistava a educação, não o adulto. Para auto educar-
se a criança precisava ser respeitada em sua interioridade, na sua própria
atividade e na liberdade do aluno. Educar é muito mais do que encher
a cabeça das crianças de informações, e o principal objetivo da escola
é dar aos alunos uma formação integral que lhes sirva para a vida. Para
isso, o melhor método de ensino é aquele que procura desenvolver
neles, desde a primeira infância, o potencial criativo. (Piletti, 2012, p. 121).
Montessori representa, com suas ideias, as calorosas discussões da
transição entre o século XIX e XX, por renovações.
Sua teoria foi bastante relacionada a educação infantil (os anos
iniciais da educação, anteriores aos sete anos). Seu método parte
VOCÊ SABIA?
Veja o vídeo da UNIVESP sobre a Educação na República, História da Educação - A República, Alfabetizar ou Alfabetizar, no seguinte link: http://bit.ly/35EfkcR
História da Educação 57
de evidências científicas, à sua época, sobre o desenvolvimento
infantil. Já se sabia que a evolução mental da criança acompanha o
crescimento biológico, através de fases distintas, que devem fornecer
elementos para a escolha de conteúdos de aprendizagem. O respeito
às necessidades e interesses de cada criança, de acordo com os
estágios de desenvolvimento correspondentes às faixas etárias, é de
fundamental importância. (Piletti, 2012, p. 121). Ela defendia estimular,
prevendo as fases.
Maria Montessori acreditava que o método não deveria contrariar
a natureza da criança. Era um método em que as crianças conduziam
o seu próprio aprendizado, e o professor ficava atento para detectar
a maneira particular de cada criança manifestar seu potencial. (Piletti,
2012, p. 121). É interessante pontuar, que está lógica apontada por
Montessori, vai deslocar profundamente o foco da educação, com a sua
contribuição, já que a educação e os professores tradicionais, desde
a Idade Média, focavam na autoridade do professor, nos saberes que
deviam ser ensinados, sem reflexões, por memorização e com silêncio.
Assim, o método montessoriano e suas práticas pedagógicas, nas
ditas escolas montessorianas, que seguem as bases deixadas pela autora,
inverte o foco da sala de aula tradicional, centrada no professor.
Em suas escolas, o centro é a criança, que ela não considera
um pretenso adulto ou ser incompleto. A criança desde o seu
nascimento, já é um ser humano integral. Assim, não é por acaso
que as escolas que ela fundou se chamavam Casa dei Bambini
(Casa das Crianças). E foi nessas casas que ela colocou em
prática suas ideias fundamentais: a educação pelos sentidos e
a educação pelo movimento. (Piletti, 2102, p. 122).
O espaço da escola montessoriana deverá permitir que as
crianças façam seus movimentos livres, com independência. Atividades
sensoriais (uso dos sentidos) e motoras são pensadas para oportunizar
ações livres de tocar e manipular objetos, que é tão próprio nas ações
das crianças pequenas. Montessori lembrava que, em determinados
estágios do desenvolvimento, a aprendizagem passa pelas mãos. Por
isso, é necessário criar atividades de movimentos e toques para as
crianças reconhecerem o mundo que vivem, através dos sentidos. Isso
História da Educação58
já esclarece o fato do método Montessoriano partir do concreto para o
abstrato. A idealizadora do método, Montessori criou objetos simples,
pensados para provocar o raciocínio. Foram projetados para auxiliar
em todo tipo de aprendizagem, do sistema decimal à estrutura da
linguagem. Tal a importância desse material que, segundo Montessori, a
professora tem de ver-se substituída pelo material didático que corrige
por si mesmo os erros (Piletti, 2012, p. 122). Isso permitia a autoeducação
da criança, sentada em mesinhas ou até no chão, fazendo exercícios
físicos e rítmicos, exercícios da vida prática, aprendendo a cuidar de si
mesmo e do ambiente, sendo sempre elogiadas por seus esforços, em
um clima de confiança entre a professora e a criança.
Analisando a Educação no Século XX: Os Grandes Teóricos da Pedagogia Ativista (John Dewey e Jean Piaget)
John Dewey (1859 - 1952) teve considerável importância na difusão
de uma educação nova. Este importante pensador norte-americano,
trouxe importantes contribuições ao pensamento educacional, na
transição entre os séculos XIX e XX, e para a chamada Escola Nova.
Preocupado em conciliar o conhecimento e a prática, com liberdade
para experimentar, a experiência era vista como o principal meio, para
o desenvolvimento da capacidade prática, na educação. (Piletti, 2012).
Dewey defendia que ensinar bem é ensinar apelando para as
capacidades que o aluno já possui, dando-lhe, do mesmo passo, tanto
material novo quanto seja necessário para que ele reconstrua aquelas
capacidades em nova direção, reconstrução que exige pensamento, isto é,
esforço inteligente. (Piletti, 2012, p. 125).
Já no século XX, o atualíssimo Dewey, previu que a pedagogia
envolve reconstrução contínua que vai da experiência sempre mutável
da criança ás verdades organizadas que formam o que chamamos
de estudos. É também uma interrogação constante entre convicções
e concepções, elementos fundadores e elementos instrumentais.
(Morandi, 2008, p.10)
História da Educação 59
Dewey esteve preocupado com temas como educação,
democracia e racionalidade. Assim, ele pensava, que a vida moderna
significa democracia, democracia significa a libertação da inteligência
para a eficiência independente (FERNANDES, 2018, p. 07), decorrendo
da inteligência um método perfeito e moderno: a humanidade já possui
um novo método: o método da ciência cooperativa e experimental, a
expressão metodológica da inteligência. (FERNANDES. 2018, p. 11)
O desenvolvimento da inteligência permite o desenvolvi-mento
das potencialidades humanas, entendia Dewey. A educação pode servir
à tal desenvolvimento das potencialidades.
Mas será qualquer projeto de educação? Dewey responderia que tudo
dependerá da qualidade das experiências que se tenha (FERNANDES, 2018,
p. 11). Dewey entendeu que o problema não resolvido da democracia é a
construção de uma educação que desenvolva aquele tipo de individualidade
que é inteligentemente sensível à vida comum e sentimentalmente leal à sua
manutenção comum (FERNANDES, 2018, p. 16).
A ideia de Dewey era favorecer, com a educação, a criação e
hábitos de aprendizagem inteligente, relacionados aos problemas
cotidianos reais, criando um ambiente de resoluções de problemas. Isso
continua despertando grandes interesses na educação contemporânea,
na criação de métodos que associam momentos de estudo sozinho
do aluno e momentos de presença física em sala de aula. Atualmente,
Dewey é citado nas teorizações sobre Métodos híbridos, que juntam
momentos presenciais e online, semipresenciais, educação a distância,
todos em plena procura, nas duas primeiras décadas do século XXI, de
plena digitalização.
Dewey associava que uma vez que a democracia representa,
em princípio, um livre intercâmbio, uma continuidade social necessita
desenvolver uma teoria do conhecimento que veja no conhecimento o
método pelo qual uma experiência se torna disponível para dar direção
e significado a uma outra, (FERNANDES, 2018, p.17). O professor deve
pensar nas melhores maneiras de criar experiências enriquecedoras, já
que Dewey pensava que o problema central de uma educação baseada
na experiência é selecionar o tipo de experiências reais que vivam
criativa e potencialmente em experiências subsequentes (FERNANDES,
História da Educação60
2018, p. 18). Para isso acontecer de forma muito favorável aos alunos,
Dewey determinava, sobre a sua proposta pedagógica, de interesse no
seu tempo e nos dias atuais que o estádio inicial desse desenvolvimento
experiencial a que chamamos pensar é a experiência (FERNANDES,
2018, p. 18). Conduzindo a base de sua teoria educacional na concepção
de experiência, compartilhada entre alunos e professores, vendo a
educação vinculada ao processo de desenvolvimento humano, ou seja,
em um lugar essencial e que exigia forte e livre atividade do aluno. Assim
como nos atuais modelos em que o aluno pesquisa sozinho, em casa.
Pensar na contribuição que Dewey poderá oferecer, nos
tempos digitais contemporâneos, implica em lembrar que ele sugeriu
a necessidade de humanizar a ciência e a tecnologia, repercutindo
em uma associação perfeita para os seres digitais, sempre atentos a
aprender com os objetos que trazem conhecimentos, via internet, como
nossos notebooks e smartphones, e concordando com Dewey que a
ciência, a educação e a causa democrática encontram-se reunidas
(FERNANDES, 2018, p.18).
Jean Piaget foi um grande pensador que nasceu no século XIX
e revolucionou os modos de pensar a inteligência até a sua morte em
1980. Biólogo de formação, dedicou a vida aos estudos da epistemologia,
interessado em pesquisar os estágios da inteligência humana e o intenso
trabalho da criança em prol de sua própria aquisição de conhecimento em
um processo muito construtivo, escreveu muito sobre a Psicologia Evolutiva.
A grande maioria dos indivíduos situa-se dentro de uma faixa
intelectual média: as diferenças (como Piaget mostrou) correm
por conta do ambiente em que o indivíduo se desenvolve,
principalmente por conta da alimentação, saúde e clima cultural.
VOCÊ SABIA?
Quer saber mais sobre Metodologias ativas e modelos híbridos na educação, leia o artigo de José Moran, no seguinte link: http://bit.ly/2IVN1MX
História da Educação 61
Se queremos dar oportunidade iguais para todos...temos que
começar antes da gestação alfabetizando os pais e criando
condições de desenvolvimento homogêneas para todos. Os
exames de seleção são o mais poderoso fator de manutenção
das estrati-ficações sociais. A inteligência é um fenômeno social
(LIMA, 1973, p. 637).
Piaget deixou uma grande contribuição à educação, a quem
queira usar estes saberes para pensar os cenários educacionais, com
a gigantesca obra que deixou, fruto de intensos trabalhos de pesquisa,
junto às crianças, com observações apuradas. Lendo tais obras é possível
entender, no campo da educação, a inadequação dos princípios inatistas
e empiristas que sobrevivem na Educação. É importante notar que “ao
que se sabe, ele [Piaget] nunca participou diretamente nem coordenou
uma pesquisa com objetivos pedagógicos”. (COLL, 1992, p. 172). Seus
trabalhos eram sobre psicologia do desenvolvimento e epistemologia.
As escolas públicas brasileiras, no decorrer do século XX,
utilizando metodologias inspiradas no copiar e memorizar (vindos de
ideias empiristas), com crenças inatistas (professores afirmavam, em
um exame rápido que as crianças que não iriam aprender, e eram
vitimadas por sucessivas repetições, decididas sem cientificidade). A
extraordinária contribuição de Piaget, na psicologia evolutiva da criança,
chegou à educação no Brasil, em experiências inovadoras, em escolas
experimentais privadas, que revolucionaram os modelos vigentes.
Em vez da memorização de fatos, nomes e datas, a abordagem
crítica do comportamento do homem construtor de civilizações,
do homem que se democratiza, do homem que substitui a força
pela relação jurídica, do homem que renuncia às castas e aos
privilégios e destrói todas as espécies de tirania e despotismo.
É a disciplina da humanização do homem (LIMA, 1967, p. 14)
Uma delas, a extraordinária Escola Experimental Chave do
Tamanho, criada pelo pensador piagetianos brasileiro, Lauro de Oliveira
Lima, foi pioneira na tentativa de inspirar a educação com os saberes
piagetianos. E genial, pioneiro e ousado Lauro deixou o seu pensamento
em suas publicações, inspiradas em Jean Piaget, e nas publicações que
História da Educação62
relatam as experiências de sua escola, no Rio de Janeiro, a partir da
década de 1960 até a sua morte em 2013:
Temos que imaginar métodos novos e novas técnicas
de trabalho que compensem a carência de recursos,
restabeleçam o equilíbrio quebrado ao longo de nossa
formação histórica. Temos que substituir o impacto da riqueza
de material didático e recursos técnicos à disposição do
professorado sulista por técnicas pedagógicas que superem
nossas deficiências materiais. Temos que descobrir formas
didáticas que permitam atingir maior número de adolescentes
com menos professores. Temos de fazer cada professor um
especialista capaz de obter rendimento nas mais deploráveis
condições de exercício de magistério. Temos que aliviar
com processos científicos a sobrecarga do professorado,
empenhado em dez ou doze horas de trabalho diário. Que um
professor com poucos alunos e muitos recursos consegue ser
eficiente, todos o sabem. O que precisamos provar e conseguir
é que com poucos recursos e muitos alunos também
conseguiremos ser eficientes. O que precisamos inventar é
um processo adequado e produtivo que permita multiplicar
a ação do professor sem reduzi-lo a um trapo humano dentro
de uma dezena de anos (LIMA, 1961, p. 4).
A memorização, as cópias de conteúdos, os autoritarismos de
professores despreparados poderiam ser superados, com conhecimentos
sólidos da construção da inteligência, nas diversas fases do desenvolvimento
cognitivo, deixadas por Jean Piaget.
A escola, pois, dever ser repensada, abdicando de seu papel
predominantemente informativo para ater-se aos processos
de formação lógica, criação de espírito crítico e estimulação
da capacidade de reflexão e de julgamento e avaliação, na
certeza de que os alunos obterão fora das escolas quase
todas as informações que, tradicionalmente, cabia a escola
transmitir. (LIMA, 1967, p. 210).
A formação dos professores para criar atividades em grupo, não
somente para descansar as cordas vocais, assim todo trabalho de equipe
História da Educação 63
deveria ser precedido ou seguido de trabalho individual. As técnicas
de ativação não devem ser usadas de maneira anárquica ao sabor das
circunstâncias ou ao talante do professor. O planejamento deverá prever
todas as técnicas que serão usadas no correr do ano letivo. (LIMA, 1967,
p. 109). Nos anos finais da década de 1990, a obra de Piaget começará a
ser estudada nos espaços universitários, pesquisas são feitas, as políticas
educacionais começam a conhecer o importante legado piagetianos e,
finalmente, surgem críticas ao obsoleto modo de pensar os espaços,
os métodos, as ações interativas das crianças, baseadas nas teorias
piagetianas, no âmbito da educação pública brasileira.
Analisando a Educação no Século XX: Os Organismos internacionais
Percorrendo a história das políticas educacionais brasileiras,
em uma busca pelos fundamentos que agiram como sustentáculos às
nossas políticas educacionais, que teriam sido, no decorrer da história da
educação brasileira, as mais significativas colaborações, dos organismos
e agências internacionais, no direcionamento das políticas públicas,
específicas da educação, direta ou indiretamente? O que poderia ser
esperado da atuação, da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)? É interessante lembrar que
a UNESCO, escolheu agir com funções de um laboratório de ideias,
como uma instituição que fixa padrões, trabalha para tecer consensos
universais, constituindo-se em um fórum central disseminador, para a
região latino-americana e caribenha, de princípios e orientações gerais
para a educação. (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 01).
A UNESCO, criada no pós-segunda guerra (1945), está acoplado
VOCÊ SABIA?
Veja uma entrevista com o Lauro de Oliveira Lima e o Método Psicogenético, que criou, no seguinte link: http://bit.ly/31pHPaJ
História da Educação64
ao Conselho de Administração Fiduciária das Nações Unidas (ONU),
como Organismo Particularizado, do qual fazem parte do Grupo o
Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Estes últimos
muito atrelados às nossas lembranças dos anos de recessão e intensas
dificuldades econômicas brasileiras, nos anos posteriores a Ditadura
Militar. A UNESCO está vinculada às ações setoriais, através de quatro
Institutos Internacionais de Educação: o Escritório Internacional de
Educação (OIE), em Genebra; bem como o Instituto Internacional
de Planejamento da Educação (IIPE), em Paris; e ainda, o Instituto da
UNESCO para a Educação, em Hamburgo.
O reconhecido PPE (Projeto Principal de educação para a América
latina e Caribe) foi proposto para acontecer entre os anos 1980 até 2000.
Após longo período de estabilidade econômica mundial (pós-segunda
guerra mundial/1945 até a década de 1970), surge intensa crise política e
econômica. Guiomar Namo de Mello comenta que, simultaneamente, no
Brasil, estávamos saindo daquilo que os governos militares chamavam
de fase de ouro do modelo desenvolvimentista brasileiro, entre 1968 a
1973, período marcado por elevação na taxa de crescimento econômico
sob a batuta do regime militar. Ao mesmo tempo em que o período foi
considerado o auge do milagre econômico brasileiro, as contradições
desse crescimento econômico tornaram-se mais evidentes. (NOMA,
2011 p.109).
A História da Educação no Brasil e de suas Políticas Públicas
Educacionais é uma história repleta de vácuos, de exclusões e de
privilégios de poucos, desde a chegada dos colonizadores portugueses
na costa brasileira. Os períodos pós-redemocratização, movimentados
pela constituição cidadã de 1988 avançaram em muitos pontos. Trinta
anos depois dos resultados da mobilização nacional por uma constituição
com direitos sólidos, sabemos que muito teremos que percorrer
Noma (2011) interpreta que muitos países da América latina, na
segunda metade do século XX, na difícil década de 1980, encaravam
árduas crise econômicas, com retrações nas produções industriais
e pesada desaceleração econômica, em muitos desses países, ainda
que os efeitos das ditaduras latinas americanas, começaram a cessar
e eleições diretas voltaram a ser defendidas, em países como o Brasil.
História da Educação 65
Estes são tempos do Projeto Principal de Educação para a América
Latina e Caribe (PPE), coordenado pela Oficina Regional de Educação
para a América Latina e o Caribe (Orealc), subordinada à UNESCO.
A história do Projeto Principal de Educação (PPE), passa pela sua
elaboração, em reunião convocada pela Unesco com os ministros de
educação, e do planejamento econômico dos daqueles países membros,
com a cooperação da Comissão Econômica para América Latina e Caribe
(CEPAL) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), no México,
em 1979. Reunidos, nesta Conferência, com o objetivo de identificação
dos gigantescos problemas educativos da América Latina e Caribe,
elaboraram um projeto regional de educação, com fins de superação dos
problemas educacionais mais evidenciados nesta região,
avaliou-se que a pobreza era evidente em vastos setores da
população, o que contribuiu para uma baixa taxa de escolaridade,
altas taxas de abandono das escolas, conteúdos inadequados,
escassas articulações entre as relações da educação e o
trabalho, organizações administrativas inadequadas marcadas
por uma forte centralização. A partir dessa Conferência o PPE
foi elaborado, tendo sido apresentado e aprovado em 1981, na
Reunião de Quito, planejado para ser desenvolvido durante
vinte anos (1980-2000). (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 5)
Este projeto envolvia a intenção de marcar as práticas educacionais
da América Latina e Caribe, com o início do desenvolvimento
educacional, nas duas últimas décadas do século XX, na década de
1980. Era desafiante a promoção da educação aos grupos socialmente
mais vulneráveis, vivendo em situação de extrema pobreza, estes eram
os indígenas, os analfabetos com mais de 15 anos, crianças e jovens
que viviam meio rural, crianças menores de 6 anos empobrecidas e as
crianças com necessidades especiais de aprendizagem.
Coincidentemente, as legislações brasileiras nas décadas
seguintes, a partir da constituição de 1988, no século XX e do século
XXI vão aprimorar os direitos à educação de indígenas, de crianças com
deficiência e nas garantias às crianças na educação básica (envolvendo
a Educação infantil, políticas para promoção da alfabetização na idade
certa e de avaliações dos processos). Isso iria amenizar os efeitos das
História da Educação66
pobrezas das grandes cidades brasileiras e no campo e de políticas
educacionais que mantiveram estas populações excluídas.
Eram três os objetivos específicos do PPE:
1. garantir a escolarização das crianças em idade escolar antes
de 1999, ofertando uma educação mínima de 08 a 10 anos.
2. extinguir o analfabetismo antes do final do século XX,
ampliando a oferta de Educação para Jovens e Adultos.
3. oferecer a melhoria na qualidade e na eficiência dos sistemas
educacionais, concretizando as reformas que se fizerem necessárias para
cumprir os três objetivos. (NOMA e SUZUKI, 2006).
E qual era o cenário da região latina américa e Caribenha, no
período de vigor do PPE?
O período de vigência do PPE, final do século XX, foi marcado
por transformações intensas que decorreram da resposta
do capitalismo mundial às crises de rentabilidade e de
valorização que se tornaram mais evidentes a partir da década
de 1970. A superação da crise mundial ocorreu com uma
nova configuração e uma nova dinâmica da produção e da
acumulação do capital. Houve um processo de reorganização
do capital e do correspondente sistema ideológico e político
de dominação cujos contornos mais evidentes foram o
advento do neoliberalismo e de suas políticas econômicas e
sociais. (NOMA, 2011 p.109)
VOCÊ SABIA?
Veja a palestra sobre os Quatros Pilares da Educação para o Século 21, preconizada pela UNESCO, com José Pacheco no seguinte link: http://bit.ly/32z6wmF
O PPE concebeu momentos de esperança aos países latino
americanos e do Caribe, com graves índices preocupantes com relação
aos direitos à educação, tão gritantes aos gestos democratizantes e
História da Educação 67
inclusivas políticas educacionais, com amplo acesso à educação, para
todos, principalmente os mais empobrecidos povos desta região, para
muitos países da região assolados, por grande dívida externa, com
problemas para obter novos créditos do Fundo Monetário Internacional
(FMI) e até de pagar os antigos empréstimos, aliados as necessidades
de superar modelos de produção inadequados às exigências, à época,
da ordem econômica mundial e das relações de trabalho. Com o
término do PPE, os 34 países da região, reunidos em Havana, Cuba, em
novembro de 2002, aprovaram o Projeto Regional de Educação para
América Latina e o Caribe (PRELAC), com vigência para o período 2002-
2017, e seu Modelo de Acompanhamento”. (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 6)
A última década do século XX, viu surgir acordos internacionais e
uma visão da educação como campo fecundo de investimentos. Assim,
foi possível a construção de uma intensa agenda internacional com
fortes propósitos para a educação materializada em diferentes eventos,
tais como: a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990), a
Conferência de Nova Delhi (1993), o Fórum Mundial Educação de Dakar e
as reuniões do Projeto Principal de Educação na América Latina e Caribe.
(NOMA e SUZUKI, 2006, p. 14). E foram substanciosas as pautas debatidas,
com a presença dos ministros de educação dos países, ocorrendo as
assinaturas em declarações de intenções e acordadas recomendações,
os países signatários dos diferentes acordos firmados comprometeram-
se a cumpri-los, tornando-se, portanto, sócios da agenda definida em
tais fóruns. (NOMA e SUZUKI, 2006, p. 14).
Isso representou um compromisso dos governos da região
da América Latina e Caribe, com a promoção de educação de seus
povos mais marginalizados. A presença de tais ministros da educação
destes países, suas assinaturas nos acordos foram atitudes afirmativas
das futuras políticas educacionais mundiais, acertadas pelos países
membros da Organização das Nações Unidas. É visível, examinando esta
história da educação, que as políticas públicas educacionais Brasileiras,
nas suas lutas, reflexões, criações e implementações e sucessos,
ganharam muito com a participação das delegações do Brasil e da
assinatura dos acordos, das políticas para educação dos países latino-
americanos, sendo salutar naquele momento histórico e continuando
História da Educação68
a ser importante a articulação entre as diferentes esferas internacional,
regional e nacional. (NOMA e SUZUKI, 2006). Apesar de que muito ainda
será necessário realizar, principalmente nas esferas da Educação Básica
(Educação Infantil e Ensino Fundamental).
Analisando a Educação no Século XX: As Perspectivas para a escola do futuro
As perspectivas para a escola do futuro associam a busca de
uma cultura da paz, da tolerância e empatia com as diferenças étnico-
culturais, religiosas, independente da origem das diferentes pessoas,
engajados em um processo de cuidar da nossa casa, o planeta Terra,
procurando preservar as vidas, consciente e refletindo contra as causas
das mudanças climáticas. E, já o incrível arsenal digital e tecnológico
coloca aos nossos alcances modos de ensinar e de aprender impensáveis
aos modos de ir à escola no passado, dentro e fora da sala de aula.
Uma modalidade de ensino que é potente para a escola do futuro é o
ensino híbrido, que é um programa de educação formal, possível para
qualquer sistema de educação que optar por esta inovação no qual
um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino online,
com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, lugar,
modo e/ou ritmo do estudo, e pelo menos em parte em uma localidade
física supervisionada, fora de sua residência. (CHRISTENSEN, HORN &
STAKER, 2013, p.7).
Moran convence que a tecnologia em rede e móvel em aliança
com as capacidades digitais são essências componentes para uma
educação plena. E cada vez mais possível usar as ferramentas digitais
fora e dentro da sala de aula, presencial, semipresencial ou online.
Um aluno não conectado e sem o domínio digital perde importantes
chances de informar-se, de acessar materiais muito ricos disponíveis,
de comunicar-se, de tornar-se visível para os demais, de publicar suas
ideias e de aumentar sua empregabilidade futura. (Moran, 2015, p. 02).
Viver neste mundo de convergência digital vem levando a escola
a repensar suas dimensões, tais como infraestrutura, formação docente,
projeto pedagógico e possibilidades de mobilidade. As tecnologias
História da Educação 69
digitais cabem dentro das mochilas dos alunos, incomodando aos
educadores que ainda não os usam como ferramentas potentes que são.
Quanto mais tecnologias móveis, maior é a necessidade de
que o professor planeje quais atividades fazem sentido para
a classe, para cada grupo e para cada aluno. As atividades
exigem o apoio de materiais bem elaborados. Os conteúdos
educacionais - atualizados e atraentes - podem ser muito úteis
para que os professores possam selecionar materiais textuais,
audiovisuais - impressos e/ou digitais - que sirvam para
momentos diferentes do processo educativo: para motivar,
para ilustrar, para contar histórias, para orientar atividades,
organizar roteiros de aprendizagem, para a avaliação formativa.
(MORAN, 2015 p. 3)
E devem ser pensadas, nas imensas oportunidades que podem
trazer. São fáceis de usar e cada vez mais pessoas aprendem a usar,
possibilitando a diversas colaborações entre pessoas que estão no
mesmo ambiente ou em diferentes, distantes ou próximas, ampliaram a
noção de espaço escolar, integrando os alunos e professores de países,
línguas e culturas diferentes. E todos, além da aprendizagem formal,
têm a oportunidade de se engajar, aprender e desenvolver relações
duradouras para suas vidas. (MORAN, 2015, p. 2)
Possibilitam a produção de materiais, com uma interatividade
não possível em livros usados pelas gerações passadas, já que não se
usam somente materiais impressos, mas também os digitais. Uso de
interessantes atividades, histórias, games/jogos ampliam formatos de
aprender sozinho ou em grupo, usando inovadoras tecnologias pensadas
para que aprendam em salas de aula e também sozinhos. O papel
do professor é ajudar os alunos a ir além de onde conseguiriam fazê-
lo sozinhos. Até alguns anos atrás, ainda fazia sentido que o professor
explicasse tudo e o aluno anotasse, pesquisasse e mostrasse o quanto
aprendeu. (MORAN, 2015, 2015 p. 2)
História da Educação70
VOCÊ SABIA?
Leia o artigo de José Moran, Mudando a educação com metodologias ativas. Disponível em: http://bit.ly/2MT0tCN. E Veja também o vídeo Novas metodologias para aprendizagem com tecnologias móveis - José Manuel Moran, no link: http://bit.ly/35Hkc0x
Analisando a Educação no Século XX: Tendências da Educação Contemporânea
O século XXI começa na América Latina com o aparecimento de
governos oriundos das lutas sociais em embate contra o neoliberalismo,
foram os anos de governos socialdemocratas, democrático-populares,
progressistas, pós ou neoliberais. Apontaram neste momento
experiências distintas, mas semelhantes na preocupação em garantir
e ampliar os direitos e tentativas de melhorar a qualidade de vida das
populações mais empobrecidos da América Latina. Tais políticas sociais
e educacionais foram frutos de muitos investimentos, nos anos 2000.
O que se apontou para o futuro da educação brasileira foi superar
sua péssima pontuação, já que de acordo com a UNESCO (2008), com
relação ao Índice de Desenvolvimento de Educação para Todos (IDE), O
Brasil ficou no grupo de 53 países em situações intermediária com relação
ao alcance de metas (GHRALDELLI JUNIOR, 2009, p. 283), significando
que o gigante Brasil estaria longe de satisfazer o IDE, apresentado como
uma média aritmética dos valores de quatro indicadores: educação
primária universal, alfabetização de adultos, igualdade de gêneros e
qualidade de educação (GHRALDELLI JUNIOR, 2009, p. 283). Então,
ainda teremos que equacionar todos os vácuos, transformando em
políticas públicas em educação, dos 4 indicadores apontados aqui. E,
não deixar ninguém para trás, com eficazes programas de Educação
para Todos!
Os últimos anos da 1.ª década do século XXI e o decorrer da
2.ª década vem sendo uma correria para conseguir avanços. E tais
História da Educação 71
investimentos, na América Latina, trouxeram melhorias na aplicação de
recursos em políticas públicas, sonhos antigos relativos aos direitos à
educação, configurada de uma dívida histórica imensa do excludente
Estado Nacional. É deste momento (2008) a Declaração final do Congresso
Regional de Educação Superior, em Cartagena, reconhecendo que a
Educação Superior é um bem público social, direito humano e universal
e um dever do Estado.
Alguns países ampliaram os anos de obrigatoriedade, ampliação
de escolas e universidades públicas e a inclusão de setores populares
historicamente excluídos, um caso particular brasileiro são as cotas para
afro-brasileiros e indígenas, com a criação e implementação de políticas
de acesso e permanência dos descendentes dos africanos (uma grande
população afrodescendente excluída, através dos tempos) e das mais
diversos etnias, dos Povos Indígenas do Brasil (falantes de mais de 200
línguas distintas da língua do colonizador e que já eram faladas antes
da chegada do português), através do acesso ao ensino superior, via
ENEM e os financiamentos, via SISU. E, ainda, formando professores
para comunidades quilombolas e escolas indígenas bilíngues (com
a aprendizagem simultânea do português e das línguas faladas pelos
distintos povos indígenas).
Para o futuro, o que se deve esperar é não deixar ninguém para
trás, com eficazes programas de Educação para Todos! Expandindo e
melhorando a Educação Infantil, acesso para todas as crianças no Ensino
Fundamental gratuito e de qualidade, ampliar oportunidades para
jovens e adultos, alfabetização os que ainda não foram alfabetizados
e são adultos, eliminar as diferenças entre gêneros na educação,
melhorando em todos os aspectos a educação (educação de qualidade).
(GHRALDELLI JUNIOR, 2009)
História da Educação72
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