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Capitulo Renasci711ento: hLonanis7110) RifOrma e Contra- RifOrma ( 0 Renoscimento foia epoco dos viogens ultramorinas que ampJioram os negacios do burguesia europeio emergente. Em 1500, os portugueses tomoram posse dos /'terros do pou-brosil"t dondo inicio a coloni:z:a~ao e a cotequese dos indios. Oetolhe de A primeiro misso r19 Brasil. Candido Portinori t 1948. A Renascenc;:a e 0 perioclo compre- endido entre os secu/os XV e XVI eleva esse nome por significar ar-etomada dos va/ores greco-romanos. Tambem; cha- Illada de Renasci mento, clesencadeou 0 movime'nto conh~cido como humanismo l . j' I I' ! IllC Icanoo a pmcum os uma Imagelll (0 ser humclllo e do cultum, em contmpo- sir;oo as concepr;oes predominantemente te%gicas do Idade Media e 00 espir-ito outorijol-io c1elos clecorrente. Embom 0 Rcnoscenc;:o nao fosse irreligiosa, como vel-emos a seguir l h6 um esforc;:o para su- pemr 0 teocentr-ismo, 00 se enfotizor-em os valores ontmpocentricos 1 pmpriamen- te humonos l mois telTenos. ~JCI primeim porte c1este capitulo exCl- minoremos 0 que foi a Renoscenr,o eum- peio e quo! 0 suo influencio nos muc!clll- r,as no campo do educoc;:oo e do reflexoo pedogogico. No segundo pode, eneon- tmmos 0 Brasil recem-descoberto pe/os portugueses. Veremos entoo os procedi- mentos pom a catequese dos i ndigenos e 0 ecJucoc;:clo cJos filhos de c%nos, sem !lOS descuidormos l porem l de examinor (1 I igoc;:clo en Ire essos otividodes e os i fl- ter-esses politicos I econom i cos e rei ig iosos do metr·opo!e.

História Da Educação - Capitulo 6

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História da Educação

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Page 1: História Da Educação - Capitulo 6

CapituloRenasci711ento:

hLonanis7110)

RifOrma eContra- RifOrma

( 0 Renoscimento foi a epocodos viogens ultramorinasque ampJioram os negaciosdo burguesia europeioemergente. Em 1500, osportugueses tomoram possedos /'terros do pou-brosil"tdondo inicio a coloni:z:a~aoe a cotequese dos indios.Oetolhe de A primeiromisso r19 Brasil. CandidoPortinorit 1948.

A Renascenc;:a e 0 perioclo compre-endido entre os secu/os XV e XVI elevaesse nome por significar a r-etomada dosva/ores greco-romanos. Tambem; cha-Illada de Renasci mento, clesencadeou 0

movime'nto conh~cido como humanismol

. j' I I' !IllC Icanoo a pmcum os uma Imagelll (0

ser humclllo e do cultum, em contmpo-sir;oo as concepr;oes predominantementete%gicas do Idade Media e 00 espir-itooutorijol-io c1elos clecorrente. Embom 0

Rcnoscenc;:o nao fosse irreligiosa, comovel-emos a seguirl h6 um esforc;:o para su-pemr 0 teocentr-ismo, 00 se enfotizor-emos valores ontmpocentricos1 pmpriamen-te humonosl mois telTenos.

~JCI primeim porte c1este capitulo exCl-

minoremos 0 que foi a Renoscenr,o eum-peio e quo! 0 suo influencio nos muc!clll-r,as no campo do educoc;:oo e do reflexoopedogogico. No segundo pode, eneon-tmmos 0 Brasil recem-descoberto pe/osportugueses. Veremos entoo os procedi-mentos pom a catequese dos indigenose 0 ecJucoc;:clo cJos filhos de c%nos, sem!lOS descuidormosl poreml de examinor(1 I igoc;:clo en Ire essos otividodes e os i fl-ter-esses politicos I econom icos e rei ig iososdo metr·opo!e.

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Renascenfa europeia

Durante 0 Renascimento prevaleceu atendencia urn 'tanto exagerada, e ate in:-justa, de considerar a Idade Media, na to-talidade, como a "idade dai trevas" ou "agrande noite de mil anos". Como vimos nocapitulo anterior, esse longo periodo nao foide total obscuridade. A oposi<.;aodos renas-centistas devia-se antes a recusa dos valoresmedievais, respondendo as aspira<.;oesdosnovos tempos.

o retorno asfontes da cultura greco-l~ti-,I, n~ serv-'a i!nerme<!ia<;aodos cQmentadQ~

medievais, foi urn procedimento que visaVa....tambem a seculariza<.;ao do sabe~desvesti-lo da parcialidade relIgios'a, paffra

lQrllii-fo mais lluman..-Q.Procurava-se comisso for~ar 6 dpirito do indiViduo cultorriundan~, "cortes" (0 que frequenta a cor- ~te), 0 gentd-homem. ' I

A' nega~ao do ascetismo medieval re-vela':se na busca de prazeres e alegrias domundo, desde 0 luxo na corte, 0 gosto pelaindumentaria cuidadosa,ate os amenos de-leites da'vida familiar.\

o '61har humano: desviava-se do ceu \para' a .terra," ocupando-se mais com asquestoes do cotidiano. A curiosidade, agJl:c<.;asiit_paraa observa<;ao direta dos fatosredobrou 0 interesse pelo corpo e pelanatU-~ezacircundante. Nos estlldosdeme- -.dicina ampliaram-se os conhecimentos~ anatomia com a pratica de disseca<;ao_de cadaveres humanos, ate entao proibi-da pela Igreja. 0 sistema heliocentrico de_C<?,pernico construiu uma nova imagemdo'mfu:1do.

_ Nas artes em geral (pintura, arq~ra, escultura e literatura) houve cria<.;ao~intensa, e a Italia se destacou como centro-- ~

_i~~£!9iadorda nova produ<.;ao cultural. Ain-_j~quando persistiam assuntos religiosos, a~lisao adguiria- urn vies humanista, p;e\rale- ~

, _~_endotemas tipicamente burgueses. -.Por fim, acentuou-se na Renascen<.;a a

busca da individualidade, caracterizadapela confian<.;ano poder da razao para esta-belecer os pr6prios caminhos. 0 espirito de Iliberdade e critica opunha-se ao principio ;lda autoridade. '~

2. Ascensao do burguesio

A maneira de pensar do humanismo as-socia-se as transforma<.;oes economicas quevinham ocorrendo desde 0 final da IdadeMedia, com 0 desenvolvimento das ativida-des artesanais e comerciais dos burgueses,os antigos servos libertos. A Revolu<.;aoCo-mercial do seculo XVI caracterizou-se pelonovo modo de produ<.;ao capitalista, acen-tuando a decadencia do feudalismo, cujariqueza era baseada na posse de terras.

Contrapondo-se aos senhores da nobre-za feudal, osburgueses fizeram alian<.;acomos reis, que desejavam fortalecer 0 podercentral contra duques G baroes. Essa undolevou a consolida<.;aodos Estados nacionaise consequentemente ao fortalecimento dasmonarquias absolutistas.

_Nao Ror acaso, 0 Renascimento e 0 pe-~~odas grandes inven<.;oese viagens ul--tramarinas decorrentes da necessidade ~~plia<;ao dos neg6cios da burguesia. Porexemplo, ao destruir as fortalezas do caste-lo, a p6lvora fragilizou ainda mais a nobre-za feudal; a imprensa e 0 papel ampliaram

Hist6ria da Educac;60 e da Pedagogia - Geral e Brasil

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adii}lsao da cuhura; a bussoJa permitiu au-.m'e~i't~ras distancias com maior seguranya:

.' .0:~ho para as Indias e a conquista da .America no seculo XV alargaram 0 hori-zonte geografico e comercial e possibilita-ram 0 enriquecimento da burguesia.

..3. Reforma e Contra-Reforma

o espirito inovador do R~nascimentomanifestou-se inclusive na re+igiao, coma critica a estrutura autoritaria da Igreja,centrada no poder papal. Interesses ~-cos nacionalistas e de natureza economica--- -sustentavam os movimentos de ruptura re-.presentados pelo luteranismo, pelo calvinis-mo e pelo anglicanismo. .,.'

Embora a Idade NIedia se caracterizas-:-se pela unidade da fe, .esse consenso esteveameac;ado inumeras vezes: no seculo XIhouve 0 Cisma Grego, que resultou na se-parac;ao entre as igrejas Romana e Ortodo-xa; no seculo XI\/, por ocasiao do GrandeCisma, foram eleitos dois papas,. urn emAvinhao, na Franc;a, e outro em Roma.Desde 0 seculo XII, as heresias se dissemi-naram por toda a Europa, quando entao foicriada a Inquisic;:ao(ou Santo Oficio), comoinstrumento de combate aos desvios da fe.

As causas desses movimentos nao eramapenas de natureza religiosa. Ventos novosde rebeldia surgiam nas cidades, que co-mecavam a se libertar dos senhores feudais~e das restric;6es economicas, como a con-denac;ao ao emprestimo a juros feita pelaIgreja, por exemplo. Alem disso, a teoria dasup'remacia da autoridade papal era rejei-tada pm-que 0 universalismo da Igreja con-trariava 0 nascente ideal do nacionalismo,expresso na fOTlnac;aodas monarquias e nofortalecimento do poder dos reis.·

A crise maior da Igreja, no entanto, deu-.se no seculo XVI, ~om a Reforma Protes-tante. Contrariando as restric;6es feitas pe-10.~c.(}tQlicosaos neg6ci~ condenac;ao ao

_fE2PrestiQ!.9~ os protestg,ntes_\Llarn.n.cL.enriquecimento urn sinal do favorecimentodivino. Lutero recebeu aade~ao dosnobres~

. interessados no confisco dos bens sio clero,e Calvino teve 0 apoio da rica burguesia:Portanto, as divergencias:naoerarrl apenasreligiosas, mas sinalizavam. as, altera<;6essociais e economicas, que:mergulharaITl·,aEuropa em sanguinolentaslutas. '..

A. expansao da crenc;a protestante, aIgreja Cat6lica desencadeou forte :reac;ao,conhecida como Contra-,RifOrma, afim de re-cuperar 0 pocier perdido. As novas diretri-zes tomadas no Con~iliocieT;ento,(1545-1563) reafirmaradt. a~upremacia p~pale' os' principios da fe, alem' de e~timular ..acriac;aode seminarios, para formar padres.A Ipquisic;ao tornou-se mai~ atuan;e, sobre-t~do em' Portugal e Espanha., ..

i.Educa~ao, \..

1. Nascimento do colegio. r .'

E impressionante ojpteTesse,pe1a: educa-c;aono Renascimento.,.;",sobretudose·com- f

parado com 0 manifestado na Idade NIedia-, principalmente pela p!,oliferac;ap de co~legios e.manuais para,alunos' eprofessores. fEducar tornava-se questao de modaeu:p1a

-~xigencia, conforme ~.,nova_con~~pc;ao~ser humano. . i

'Em 0 corte~a~, livro publicado em J528emuito. conhecido na epoca, 0 italiano Cas-tiglione fez a sintese do modelo de cortesiado cavaleiro medieval e do ideal da culturaliteraria tipicamente humanista.

Enquanto os mais ricosou da alta Dobre---- ;' f'

--E- conEEuavam a sereducados por precep-~s em. seus pr6prios. castelos,·.a·pequena

'. . .:.. . .. , .' . l~nobreza.e a. burguesla tambemquenam

educar sellSfilhos e os glcaminhavam para~ola, na esperan<;a de melhorprepad.L, 10s para a lideran<;a e·a administrac;ao ~da

._politica e dos neg6cios~Ja os interessespda .

Renascimento: humanismo, Reforma e Contra-Reforma

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IjII'iI;

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Hisi6rio do Educoc;:60 e do Pedogogio - Gerol e Brasil . r. , V

, educa~aode segn1entos' populares, em' ge-'.ral,nao eram levados em conta,: restringin-do~se a aprendizagetn deoficios.

'0 aparecirriento dos colegios, doseculoXVlate'o XVIII,;foi umfenomeno corre-lato aro surgimento da' nova'imagem da:in~'fanciae da familia.·Naldade·Media>mistu~ravam-se adultos e crianc;:asde diversas ida~des l1amesma dasse, semuma organizac;:aomaior que os separasse em graus de apien-dizagem.Foi a partir do Renascim'ento queesses c~idados' comec;:aram a ser tornados,'assumindo contornos mais'nitidos 'apenasl'lo,seculo XVII.·· ..,\ ;:

,~Y'fim' 'de:!pl~?t~'g~r.as~crian9~s~,:,~le.{~';'I!l?-s.'inftuenCia:s't/piop9'?~seuma 'hierarqlji?-'.:cli-

. , ,.,' ..•.........•.. ',c'., ." ';'.' '," -" ',lfeten'fe(s'llb'me'teiido;as' ;a::severa discipliria,irid usive\ "a.:':ca,~1jg(3.§;:,~orpoiai~.'0):~£ta~i¢aesco.la::nAo....se "restringia' .a·'·tra:nsmiss.ad~.ds::conl?-i,ciIDen!os,:ma~) forrt:Iac;:aomor~·t:::QresiII1~(~~,.estudoIs.¥~~'?e·¢·~rt&mHciO':ng8~·0~so e.:~,~t~p~o.·:\Ospr-ogramas continuavam ase bas ear' no's classicos ·trivium e quadrivium,persistindo, portanto; a educa~ao formal degtamatica eC'ret6rica, como· na. Idade Me-

o dia. Nao foi abandonadaa enfase no estudodo latim,'comfrequentedescaso pela linguamaterna. Tal sistema de e'nsino era dura-

"mente critic::ad.opelos humanistas; sobietu-dO"por Erasrri6 e :Montaigne. '. . ... ':"A.,oS·universidades;continuavam de~~ad'e\i-tes,ifl1.pexITl~ays~s::asnovi?~dies. Em 1452,ao se reestruturar':a)JiJ.iversidade de Paris,a Faculda:de,de Artes tornou-se propedeuti-ca as o~tras tres (filosofia,medicin'a :e'leis),lanc;:ando..:sedessemodo a semente do cursocolegial,' 0 que favoreceu a separac;:ao'maisnit~da'dos graus securidario e superior. .

2. Educac;:60 leiga

Embora presente em teoria, 0 ideal des'eculariza~aodo' humanismo re'nascen tistanem sempre'se cumpriaporque a implanta:'~~ao',da'maioria dos'colegios continuava pqr

(

conta das ordens I~1,ig10sCl~~~,~B~s,,~r\S¥~'79''.'h. por iniciativa de;:particul~~e·s;,:~hgo.s:/?i).p:, ie'

criadas escolas mais;bem"a'daptad~s'ao~';es! ", I, '."

piritodo humanism'O. Na Alemanha surgi~' ;..ram as Furstenschulen, escolas.para principes; ".o mesmo esforc;:ode renovac;:aonotava-se na !to:.

: Franc;:a,nos Paises Baixos e na Inglaterra. !;

.Muitas delas proliferaram na Italia,' com Ie

destaque para 0 trabalho de Vitt6rino· da f·Feltre (1373?-1446), considerado 0 primeiro r.,grande mestre de feitio humanista. Convi- Idado para ser 0 preceptor q.osfilhos de urn f:marques,em' Mantua, Itilia, ai fundouuma : .;. ;

escola, a'Casa Giocosa, cuja divisa era"Vin- ;.de, meJ!.inos,aqui se ensina, naose atormen- !,

·1 '

ta". 0 nome da escola reflete 0 novo 'espirito: .l·.1.giocosa epalavra italiana que significa "ale- f

gre" e vem do latimjocus, ou seja, "diverti- :f"

mento, gracejo", e, dill, 'Jogo"., i'

.Feltre cuidava nao s6 de recrea~ao e I, .

exercicio fisico, mas do desenvolvimento da r:,'.sociabilidade e do autodorninio. A sua es- . I.!::.:

.. cola, oferecia cursos de equita~ao, nata<;ao, 1<

esgrima, musica, canto, pintura e jogos em l:geraI.· A· forma~ao intelectual voltava-se . fpara 0 ideal renascentista da mais ampla l'

v:cultura humanistica,com' aten~ao especial ! .

ao ensino de grego e latim. Embora objeto I;de cuidado,a disciplina pretendia ser me- r:nos rude e intolerante. [

N a mesma linha de propostas culturais ":?-lternativas surgiram as academias, insti- ktui<;6es privadas com a inten~ao de suprir i.

as falhas das universidades. Ofereciam a Li;

oportunidade de acesso a cultura desinte..:. I;ressada, algumas de carater exclusivamente Iliterario, outras filos6ficas, e s6 no' stculoi;

!.XVII apareceram as primeiras academias )cientificas (epoca em que ocorreu 0 chama-do renascimento cientifico).

3. Educac;:60 religiosa reformada

. A Reforma Protestante.criticava'a: Igrejamedieval e propunhao r~~()~?oas orige~$,

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pela ..consulta cluetaao texto biblico, sqn, a' i~t~rinedia<;:ao dos padres, estabeleci'dapelatradi<;:ao cr~sta.cat6licl No plano re-ligioso surgia a caracteristica humanistade defesa da personalidade aut6noma, querepudiava a hierarquia, para restabelecer 0

vinculo direto entre Deus e 0 fiel. Ao daiiguais condi<;:oesde leitura e iiiterpreta<;:aoda Biblia a todos, a educa<;:aotornou-se im:-portante instrumento para a divulgac;:aodaReforma.

Ao .contrario da tendencia elitista pre-dominante, Lutero (1483-1546) e Melan-chthon (1497-1560) trabalharam para aimplantac;:ao da escola primaria para todos.E bem verdade que nessa proposta haviauma nitida distinc;:ao:para as camadas tra-balhadoras, uma. educa<;:ao primaria ele-mentar, enquanto para as privilegiadas erareservado 0 ensino medio e superior. Apesardisso, Lutero defendia a educa'<;:aouniversale publica, solicitando as autoridades oficiaisque assumissem essa tarefa, por ~onside.ri ..la competencia do Estado ...

Deacoid6 com. 0 espirito humanis~t,Lutero criticaya' Orecurso a castigos, byrncomo overbalismo da Escolastica.Prop6sjogos,exercicios fisicos,.music a - seus cOr~rais eram famosos -, valorizou os conteu- /dos literarios. e recomendava 0 estudo. d~hist6riae das matematicas .. f

A educa<;:aoproposta pelos protestantessofreu ainda a influencia de Calvino (1509-i564), te61ogo frances que atuou no seupais e em Genebra, Sui<;:a.

4. Rea<;:60cat6lica: 0 colegio dos iesuitas'

Para combater: a expansao do protestaq-tismo; a Igrej a Cat6lica incen tivou a criac;:;(o

'. de. ordens religiosas. IAqui daremos maioraten<;:aoao colegio dos jesuitas devido a in-fluencia que. exerceu nao s6 na concep<;:aoda escola tradicional europeia como tam-bem, na forma<;:ao do brasileiro, embora,

cOmo ver:emos, outras ordens tenha:q1 dadosuacontribui<;:ao .. :.c.;.,:...., __.;.•.. ; ••• :•. , •...• >;: ..

Inacio: de Loyola', (149.1-1556), :rrji.li@iespanhol ·basco, ao se recuperar·de: um: fe:. .

. ..' .' . . ,.

rimento em batalha,viu-~eg1Volvido '~~subitea~d or religioso. e,.reso~yeu: c,C?I()car~s~a servi<;odadefesa,da.Je,. tornando-se ver-dadeiro"soldado de Cristo~'. Fundou entao

~ .,' . . .'. . " '., """'~': .: '.' ot\'---3Gpmpa~a de JeS1,ls".dCt~,o:p(j~~/esu.E:~~ sellS,s.eguidores.,,,"',:'f .- " ' ,

; Criada em 1534' e oficialmente aprova-.da pelo papa Paulo IILero.I540,. aOrdemestava vinculada diretamente a autoridadepapal e, portanto, distanciava-s~ da, hierar-quia comum da Ig~eja. E()r,na.o,seIe~ir:ar

"'. , •......... >.:'•.:, ":" .. '... ,,' "i

em conventos,' seus: ~~eptg~~;~r~JH~;SP,a~a-dos :padres seculares,: isto:.e; :.que:,s~:.:mistV,t;am

. ..._._., " ·.•_.. _·~.;c•...·,,', •....••.. i!aos.;fi:eis,no mundo,:no).esulo,.como. se;cos.-tuma,dizer. ,- t ",' '-:.:''. :AOrdem ' ·estal:>elec,~Cl,·>1gicl.ClJ.gj~s:!pJ~namil~t~~:e;tinha:_c=oni~L~QBj~B:YQ.iriidiJ;~ipto~pag:~~'i~','missio?a~i~;s\~~f~J;aJl.1ta]:c~ntra:osinfi~i§i~ 6~'her:~~c<?s:,fara'tan to osjesllitas,se,espalharam peIo mundo, d~sde,a· Euro-pa, .assolada pelas. he.r~si~s,' ate 'a Asia, , aMricae a America. ' ...., . '. , ., . Logo descobriram que,'diante da intole-rancia dos adultos, eramaisseglira"Cl: con-quista das a1mas jovens;,~. ° instrumen~oadequado para a tare,fa seria a cria<;:aoemu1tiplica<;:aodas escolas.;D,ai 0 trac;:orriar-canteda influencia dos jesuitas, a;'a<;:aope-dag6gica que formouipumeras gera<;:oesdeestudantes, durantemais de duzentos' anos(de 15.40a 1773). :._ ;: "":" : i ':;,

. Para se ter umaideiada extensao,de'ssetrabalho,em 1579 a.Ordem possuia )44co1egios espa1hadospe10 }nu.nsio, :numero.que chegou a 669 em 1749 ..

. ; ... "

Forma<;:60 dos mestresies'ulta~, ~..'

. ,A:epciencia. da;,p~d~gbb~·:'dos;-:Jesl{itasdev~u:-s,eao cu{dado,' cOIp~,:6:~p~e;p~ro;'ngo-,rosodo mestre e·~unifor;hJ.idade:~de·:I~a~..

Renascimento: humanismo, Reforma eContra-Reforma

Page 6: História Da Educação - Capitulo 6

Em' 1550 'foi 'fu~dado 0 Colegio Romano,para formar' professores. Como unidadecentralizadora, recebia os relat6rios das ex-p~eriencias realizadas em todas as partes domundo 1. 0 Cole'gio Germanico,· tambemem Roma, especializou-se no preparo depadres para as missoes na Alemanha.. 0 resultado dasexperiencias regutar-

mente av:aliadas, codificadas e reformulad~sadquiriu forr:na. c;iefil).itivano documentoRatio Studiorum(a expressao latina Ratio,atq7jeInstitutio Studiorum significa "Organiza<;ao eplano de estudos"),ppblicado em 1599 pe'lopadre Aquaviva. Ohra cuidadosa, com ry-gra~ praticas sobre a a<;aopedag6gica, a or-ganiza<;ao a,df0inistrativae outros assuntds,destinava-?e a t9da a hierarquia, desde 0

provincial, 0 reitor e 0 prefeito dos estudosate 0 mais simples professor, sem se esque-cer do:aluno, do bedele do corretor. f

No final do seculo XVII, 0 padre Jou-vency prep(lrou o. entao mais completomanual de normas gerais e informa<;oesbibliogr,aficas necessarias ao magisterio, re-duzindb os riscos decorrentes do arbitrio eda iniciativa dosmestres mais jovens. Comogarantia da unidade de pensamento e a<;ao,farta correspondencia entre os membros daCompanhia n1antinha a comunica<;ao con-tinua.

o ideal. de. universalidade .na atua<;ao,no entanto, nao se confundia com rigidez.Sob ;vigilancia constaqte, certa fiexibilidadeaos costumes do lugar onde a Ordem se im~plantava facilitou a obra mis$ionaria,' per-mitindo maior eficiencia.

o ensino nos colegios

As praticas e conteudos que os jesuitasdesenvolveram de acordo com as regras

codificadas no Ratio Studiorum aplicavam-senos seguintes cursos:

• Studia iriferiora:- letras humanas, de grau medio, com

dura<;ao de tres anos e constituido por gra-matica, humanidades e ret6rica, formava 0

alicerce de toda a estrutura do ensino, base-ada na literatura classica greco-latina.

- filosofia e ciencias (ou curso de artes),tambem com dura<;ao de tres anos, tinhapor finalidade formar 0 fil6sofo e ofere ciaas disciplinas de 16gica, intr.odu<;ao as cien-cias, cosmologia, psicologia, fisica (aristote-lica), metafisica e filosofia moral.

• Studia superiora:- teologia e ciencias sagradas, com du-

ra<;ao de quatro anos, coroava os estudos evisava a forma<;ao do padre.

N as classes de gramitica, 0 latim eraensinado ate 0 perfeito dominio da lingua.Isso porque, mesmo que no· dia-a-dia aspessoas fizessem uso da lingua materna,ainda no Renascimento e inicio da IdadeModerna persistia 0 costume de fil6sofose: cientistas escreverem em latim, ultrapas-sando as fronteiras das divers as nacionali-clades e promovendoa universaliza<;ao dacultura. Os jesuitas tornaram obrigat6rioseu uso ate na mais trivial conversa<;ao, demodo que os alunos pudessem assimila-locom a familiaridade da lingua vernacula.Num colegio em Paris no seculo XVII, pen-sariamos estar em Roma de antes de Cristo:conversa<;ao exclusiva em latim e analise deautores latinos.

Os alunos estudavam as principais obrasgreco-latinas e aperfei<;oavam a capacidadede expressao e estilo, permanecendo muitopresos aos padroes classicos. Voltados parao melhor da forma<;ao humanistica, os je-suitas usavam textos de Cicero, Seneca,

J Note~se, como ver~mos na parte II, que os relat6rios frequentes eminuciosos dos jesuitas aos seus superioresfacilitaram a posterior consulta de rico material para a historiografia, ao contra.rio de outras ordens que nao. .deixaram igual registro.

Historio do Educoc;:60 e do Pedogogio - Gerol e Brasil

Page 7: História Da Educação - Capitulo 6

OVidio, Virgilio) Esopo, Plauto, Pindaro eoutros. Como' esses 3:utores c;ram pagaos,procuravam adequa-los aos ideais cristaos,fazendo resumos, adapta~oes e ate supri-mindo trechos considerados ':perigosospara a fe". Proibiam as obras contempo-raneas, sobretudo contos e romances, porserem "instrumentos de perversao moral edissipa<;:aoin telectual".

Esse programa atendia ao ideal de elo-quencia latina do seculo XVI, e segundoo jesuita e fil6sofo brasileiro, padre LeonelFranca, "a gramatica visa a expressao clarae correta; as humanidades, a expressao belae elegante; a ret6rica, a expressao energicae convincente"2./ Coma didatica, osjesuitas mostravam-

. se bastante exigentes, recomendando arepeti~ao dos exercicios para facilitar amemoriza<;:ao. Nessa atividade eram au-xiliados pelos melhores alunos, chamadosdecurioes3, responsaveis por nove colegas,de quem tomavam as li<;:oesde cor, reco-Ihiam os exerciclOs e marcavam em urncaderno os erros e as fal tas diversas. Aossabados as classes inferiores repetiam asli<;:oesda semana toda: vem ciai a expres-saG sabatma, usada durante mUlto tempopara indicar a avaliayao. Para as classesmais adiantadas, organizavam torneiosde erudi<;:ao.

Outra caracteristica do ensino jesuiticoera a emulacao, ou seja, 0 estimulo a com-peti<;ao entre os indiyiduos e as classes. Porexemplo, os alunos recebiam titulos de im-perador, ditador, consul, tribuno, senador, .cavaleiro, decuriao e edil. Para incentiva-los, as classes se dividiam em duas fac<;:oes:oos romanos e os cartagineses4•

Os alunos que mais se destacavam eramincentivados a emula<;:ao .com premiosconcedidos em solenidades pomposas, nasquais participavam as familias, as autori-dades eclesiasticas e civis, a fim de dar-lhesbrilho especial. Montavampe~as de teatro,com os devidos cuidados na selecao dos~textos, desde simples dialogos ate comediase tragedias classicas, sem deixar de privile-giar os dramas littlrgicos. Os melhores estu-dantes expunham sua produ<;:aointelectualnas academias.

Os jesuitas tornaram-se famosos PelOempenho em institucionalizar 0 ~cole,giocomo local por excelencia de form~9ao reli-giosa, intelectual e moral das crians:as e dosjovens. Para atingir esses objetivos, instau;.raram rigida disciplina, aplicada nos inter--natos criados para garantir prote<;:aoe vigi-lancia. Alem de controlara admissao dosaIUnos, concediam ferias bem' curtas para

. evitar que 0 contato com a familia afrou-xasse as habitos morais adquiridos.

Mesmo quando se tratava' de externato,o olhar dos mestres seguia os alunos, exi-gindo 0 afastamento da vida tnundana e re-criminando as familias que nao assumissemo encargo dessa vigilancia. 'A' obediencia,considerada virtucle nao s6 de alunos, comotambem de padres, submetia a todos a ri-gida disciplina de trabalho, sem inova<;:oespersonalistas.

Talvez devido a tao rigorosa organiza-<;:ao,as san<;:oesnao se tornassem muitoconstantes, mas aplicadas sempre que ne-cessario, cabendo ao mestre castigar ape-nas com palavras e admoesta<;:oes.Quandonao bastassem, ou a falta fosse muito gra-ve, as puni<;:oesfisicas ficavam a cargo de

2 0 metodopedagogico dosjesuitas: 0 Ratio Studiorum. Rio de Janeiro, Agir, 1952, p. 80.3 Decuriao: no exercito romano, uma decuria era urn corpo de cavalaria e infantaria composto de dez soldadose que tinha por chefe 0 decuriao. ..4- Durante 0 seculo III a.C., romanos e cartaginesesdefrontaram-se rtas tres Guerras Punicas, que termina'ramcom a destrui<;ao de Cartago (cidade do norte da Africa).

Renoscimento: humonismo, Reformo e Contro-Reformo

Page 8: História Da Educação - Capitulo 6

um "corretor", pessoa alheia aos quadrosdaCompanhia e contrata::da s6 para esseservi<;o. Para contrabalan<;ar a disciplina,os jesuitas estimulavam as atividades recre-ativas, por proporcionarem ambiente maisalegre evida mais saudavel. .

A palemica sabre a ensina jesuitica

E muito dificil encontrar analises desa-paixonadas da obra dos jesuitas,que des-per,taram tanto ardorosos defensores comocrlticos severos. Nao se pode negar sua in-fluencia na forma<;ao do honnete homme daepoca barroca. Essa expressao francesa dedificil tradu<;ao significa de modo amplo 0

gentil-homem, culto e polido, conforme asexigencias daquela sociedade aristocratica.

No seculo XVIII, ap6s mais de duzentosanos de a<;ao pedag6gica jesuitica, recru-desceram as criticas ao monop6lio do en-sino religioso. "Os jesuitas nao me ensina-ram senao latim e tolices", diz um dos en-ciclopedistas, 0 fli6sofoVoltaire. 0 escritore historiador Michelet completa com certoexagero apaixonado: "Nem um homem emtrezen tos anos!".

Em 1759, o marques de Pombal, primei-ro-ministro de Portugal, expulsou os jesui-tas do reino e de seus dominios (inclusive doBrasil). 0 mesmo aconteceu mais tarde emoutros paises,ate que finalmente em 1773o papa Clemente XIV extinguiu a Com-panhia de Jesus. Restabelecida em 1814,continuou a sofrer inumeras persegui<;i3esdurante 0 seculo XIX.

Segundo seus detratores, 0 ensino jesui-tico promoveua separa<;:ao entre escola evida, porque, no afa de retomadados classi-cos, nao transmitia aos alunos as inova<;:i3esdo seu tempo; nao dava muita impordn-cia a hist6ria e a geografia, e a matemati-ca - essa "ciencia va" - tambem sofreurestri<;:i3es,excluida do primeiro ciclo e pou-quissimo estudada nas classes mais adian-

tadas. Ocup~va"-5'e'mais corn exerociosGeerudi<;:ao e ret6rica, e a maneira de analisaros textos nao propiciava 0 desenvolvimentodo espirito critico.

Nos cursos de filosofia e ciencias, os jesui-tas mostraram-se conservadores por retor-narem a filosofia escolastica, baseando-senos textos de Santo Tomas de Aquino e deArist6teles, deixando a parte todaa contro-versia do pensamento filos6fico moderno:ignoraram Descartes - um de seus ilustresex-alunos - e recusav3;m-se a incorporaras descobertas cientificas de Galileu, Ke-pler e Newton, ocorridas no seculo XVII.

A Companhia de Jesus foi acusada dedecadente e ultrapassada. Mnal, 0 ensinouniversalista e muito formal distanciava osalunos do mundo, tornando-o ineficaz paraa vida pritica. 0 ideal do honnete homme vin-culava-se a um humanismo desencarnado,voltado para as belas-letras e 0 "saber porsaber~' de letrados e eruditos. Esses aspectosdeixavam de ter sentido em um mundo noqual a revolu<;:ao nas ciencias e nas tecnicasrequeria 'um individuo pratico, cujo sabervisava a transformar. Nao mais se justifi-cava 0 desprezo ao espirito critico, a pes-quisa e a experimenta<;:ao. Ao contrario, osjesuitas eram considerados excessivamentedogmaticos, autoritarios e por demais com-prometidos com a Inquisi<;:ao. Na paixaodo debate, a Companhia foi acusada deter enriquecido e de exercer poder politicosobre os governos, visando a suas pr6priasconveniencias.

Nos estudos mais recentes, no entanto,procura-se examinar a atua<;ao dos jesuitasdentro do contexto hist6rico da epoca em queviveram, respeitando 0 entendimento que en-tao prevalecia sobre as rela<;:i3esentre Igreja eEstado. Caso contrario, corremos 0 risco depreconceito anacr6nico, ao julga-los segundonossos valores laicos contemporaneos.

Examinemos esse outra olhar. 0 que en-contramos na Europa claquele tempo foi 0

Hist6ria da Educac;60 e da Pedagogia - Geral e Brasil

Page 9: História Da Educação - Capitulo 6

movimento da Reforma) que introduziu 0

protestantismo em diversos paises. Nao pOl'

acaso) essas nac;:6es encaminharam-se paraa economia mercantil e capitalista) dancloos primeiros passos para a atividacle manu-fatureira que iria fortalecer 0 capitalismoindustrial nascente. Enquanto isso) Portu-gal e Espanhamantiveram-se catolicos eno campo economico nao se prcpararampara a industrializac;:ao. Nao so: seus rciscram cristaos e) mais que isso) tinham aresponsabilidade de facilitar a salvac;:ao doseu povo.

Assim diz 0 professor Jose :Lv1ariade Pai-va) a respeito dessa prerrogativa do rei:"Nao s6 a prc'i.tica do culto e a conversaodo gcntio estavam sob seus cuidados) mas·<a propria administrac;:ao do religloso era dasua esfera. POl' isso) a ele cabia cobrar e ad-ministrar os dizimos) .apresentar c sustentardirctamcnte os bispos) os cabic1os) os Vig{l-rios) como tambcm organizar a politica dedistribuic;:ao dos beneficios eclesiasticos) cbsordens religiosas) das confrarias) das irman-dades) e garantir seu ordenamento juridi-co. (.. .):A Igreja estava) pois)ft.ncionalmenteincorporada ao Reino. (... ) Chamo nova-mente a atenc;:ao do leitor para que naoatribua a religiosidade da educac;:ao ao fatode serem padres seus promotores. Insisto:era toda a sociedade portuguesa que assimpercebia)5.

Alcm disso) so na contemporaneidade. os estudos de etnologia nos alertaram parao respeito as diferenc;:as que existem entrepovos e c~lturas. A partir desse conheci-mento) mudou a disposic;:ao para aceita-los)sem considera-los inferiores: hoje em dia aeducac;:ao deve atender as clemandas pluric-tnicas'~ manter-sc multicultural.

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Na mentalidaclc, quinhentista) porem)tanto reino como Igreja atuavam no scnticlode homogeneizar as diferenc;:as) nivelando atodos pdo que se considerava vcrclaclciro esuperior (a cultura crista curopCia). 0 an-trop6logo brasileiro Luiz Felipe Bacta Ne-ves) a proposito da catequese c10sincligcnas,comenta: ''A Companhia deJesus foi funda-cla para c1ifundir a Palavra especialmcntc apovos que nao A conheciam - e pOI' rnciode uma socializac;:ao prolongada. Dirigcm-se a homens que nao sao) portanto) iguaisa si - e quer transform{t-los' para incorpo- "ra-los a cristandade. Duas diferenc;:as pri-meiras: nao SaG padres e nao sao cristaos.Uma scmelhanc;:a: SaG /wmens. E esta semc-lhanc;:a somada aquelasdiferenc;:as que clio'a possibilidade e 0 sentido do planocatcqul~-tico. A catequese c) entao) um esfor,;,o paraaccntuar a semelhanc;:a c apagar as difcrcn-<;,.as))(j.Dcssc modo) osjcsuitas qucrcm tornaro outro) 0 nao-cristao -) seja indigcna) scjainfiel ou herege -) em cristao) para tornaros homens 0 mais iguais possivcl.

Pedagogic•. I •..

1 . A secu'ariz~<;:6~do pens~mento'

A produc;:ao intelectual do Renascimcnto,seja na literatura) seja na filosofia) demons-trava interesse em superar as contradic;:6csentre 0 pensamento rdigloso medieval e 0

anseio de secularizac;:ao da burgucsia .Ainda no pre-Renascimento) 0 florenti-

no Dante Alighieri (1265-1321)) autor daDiuiiia comedia) escreveu 0 seu poema nalingua italiana e nao em latim) 0 que re-prcscntava uma novidade na cpoca. Alcmdisso) no texto politico A monarquia daborou

5 "Igreja e educa<;:ao no Brasil colonial", in Maria Stephanou e IvIaria Helena Camara Bastos, (orgs.), Historias cl/lemorias da edllC(lVlo 710 Brasil. Petropolis, Vozes, 2004, v. 1: SCCl/!osXVI-XVIII, p. 79, 80 e 85 .G 0 combate dos soh/ados de Cristo na una dos j)aj](/gaios: colonia!ismo c reprcssao cultural. Rio deJanciro, ForcnscUniversitaria, 1978, p. 45 ..., ~.

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Kencscimenlo humonismo, Refmmc e COniiO-Reformo

Page 10: História Da Educação - Capitulo 6

teses natur::llistas) rcconhccendo a capacida-de humana de se guiar pela ral.3.o. DefendeLla autoridade do rei independente do poderdo papa e cia Igreja. POLlCOdepois Petrarca(1304·':'1374-) tambem poeta italiano) descre-veu 0 drama humano entremeaelo ele }X1.i-xocs e desejos. No scculo XVI) IVIaquiavel(l t[·69-1527) investigou as bases de uma novacict~cia politica descomprometida com amoral crista c) portanto) laica, secularizada.

:!\Jesse contexLo ele critica a tradi<;:aomedieval) a eeluca~ao prOCUl"aVabases na-tur'lis) nao-religiosas) afim ele se tornarinstrumento aelequaclo para a elifusao elosva]orcs burgueses. Embora defendielo comvigor' na obra de literatos) fi16sofos e peela-gogos) ncm sempre esse ideal foi alcanc;:a-elo nas escoIa\ como vimos no exemplo deilll'm1cras escolas religiosas conscrvaeloras)como ~l.sdos jesuitas.

Ainda que Fosse grande a proelu<:;:aoin-lelectual na Renascen<ya) nao havia pro-pri:~menLe uma filosofia cia educa<;ao comosistema de pensamento coerente e organi-zaclo - com excec;:ao ele Vives) como vcre-mos -) mas sin1' inl1l11eros fragmentos dereflcxJ.opecJag6gica como parte ele un1<1.produc;:ao filos6fica mais ampla. Foi 0 casode Erasmo) Rabclais e l\!lontaigne) ou ain-clao exemplo cIas utopias de Tomas Ivlorus

C·' 11p .,. 1 11' lo"\., ..,l.1.1),l.nc ,1..

jU:111 L\lis 'Vives (1Ll·92-154·0) humanistacsp~Lr;.hol)participou do convivio de Eras-

1110C Tomtls lvlorus, tendosiclo preceptor'de Catarina de AragJo. Quando eb secasou com 0 rei Henrique VIII) Vives aacompanhou a Inglaterra, onele lecionouna Universidaele de Oxford.

Se no Renascimento nao havia estudossistematicos sobre educa<yao) Vives era umaexcc~.?i.o,pOl' leI' escrito copiosa obra peda-g6gica) n00 principal trabalho C 0 Tratadodo ensino. Escreveu inclusive sobre a ec!uca-<;:aoda mulher) mesmo, consiclerando fun-damental sua presen<;:a no lai-,

Embora vinculado as ideias aristoteli-co-tomistas Vives revclou-se homem do)

seu tempo ao recomendar 0 cuiclado como corpo e a atenc;:ao com 0 aspecto psico-16gico no en.sino. Acompanhanclo as mu-clan<;as do pensamento cientifico) valoriza-va os mctodos inclutivos7 e cxpcrimentais)reconhccia a imp0rLclncia cla observa<yaodos fatos e a ac;:ao como meio de apreneli-zagem. i\lcrn disso, ao lado do latim) insis-tia na necessidade do adequado estuelo dalingua nuterna.

o holandes Erasmo de Rotterdam (1467-1536) foi um dos principais expoentes donovo pensamento renascentista) co"nsidcra-do pOl' muitos um representante do prc-llu-minismo. Cristao perlcncente clOrdcm dosAgostinianos, criticou scveramentc a Igrejacorrupta e autoritclria) e apoiou alguns pro-nunciamentos de Lutero s(111)no entanto)ac!crir a Reforma.

; t\ lIidilVTo e um lipo de argumcnla<;:J.o pcb qU;l!, :t p<ti'lir de diversos daclos singulares co!etaclos, cheganios aproposi~'ocs universais, ou seja, procedemos a uma J;CIlcmh<.ap70 induLiv(l. Ao conlr<'trio, os pensadores medievaisv:t]orizavam a deduVIG, um Lipo de argumcnta<;:;\o em que a conc!usao e infericb necessariamentc cbs proposi-<;'()CS que a :t1llcccclcJ11, podcndo ir de lima projJosi(~a() geral para 0 parLicul;lJ~ ou ao geral menos conhcciclo;isso signifiC:l Cjuc na concL.lsJ.o n3.o sc diz mais do Cjue j:'t est::'t nas prcmissas, apenas sc extrai 0 que j{t estit diLOnehs, El11bora a c!eclu(Jio scja lIm racioc:inio a que: :'CCOITCil10S com fJ·eqi.icnci;l; a indu<;:ao, :LjJesar de incerta, CIlll1;, :Cil':11a:11UilOlCcunc!;t de pcnsar, respons<1\'c! i",1:\ c!csl'obcrta e1e nossos conhccimcntos da vida cli<'tria c de.~I':1i;rk \';\1;;\ n:1S cjC:l1cias c:--:pniI11Cl1l;tis.

Hisk)iio cia Educac;:oa e da Pedogogia - Geral e Brasil

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Page 11: História Da Educação - Capitulo 6

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': Erasmo repres~ntou a corrente crudita da

(:I~c..;e~i::~:::~~~~l~::~:~~'~'~~I~~~:S;;::~~voltada sobretuclo para qucst6cs litedlriase estcticas. No seu ramoso E!ogio da !Ollc/{~ra, critica a hipocrisia e a tolice humanas

·\',,~, c todas as formas de tirania e superstic;:oes,

'IIF ~~~~~s~;:~~~;~~s:~~:~~:t:<I~~~:C~r~:~~~i:s,:····F···j: responsavel pdo amor c pelo prazer....~; Entremeando reflex6es a respeito da 50-

!i~ ~~~~;;:~~:~;:~:~~;n~~~~~1~ad~~~~~~~~:i'\. pOl' isso criticava a educac;:21.ovigente, exces-,; sivamente severa. Recomendava 0 cuidados'- . ;'.' com a graduac;:ao do ensino c 0 abandono

:... :~:\:. -

.".' cbs praticas de castigos corporais. 1\0 con-trclrio, seria bom mesmo que as crian~.asaprendessem se divertindo, scm a preocu-pac;:ao com resultados imediatos.

Franc;:ois Rabelais (c. 1494'-1553), fracke medico frances, levou uma vida cheia depercalc;:os e perseguic;:oes, devido a sua penaafiada e critica mordaz. IVIuitos 0 iclentifi-car am a um epicurista devasso, emboraou tros 0 descrevesscm como uma crist21.oque tambem n21.Odesprezava os prazeresda vida. Inicialmente esteve no conventoclos fr0-nciscanos, mas depois foi aco1hidopelos beneditinos, de sistema mais abertoe cUJas .regras eram menos severas, e nofinal cia' vida tornou-se paclr:e secular. Frc-qi.ientou diversos cursos nas universidades,aprendeu v{u·jas linguas, formou-se em

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mcdicina. Represcnta a corrente enciclo-pcdica cia Rel1asccnt;a que buscava rcsga- .tar 0 saber greco-latino) com igual cuicbc\opclos recentes estudos da cicncia que en-tao nascia. Como os demais humanistas desell tempo, criticau a tradi~J.o cscobstica,mas 0 fez de maneira ir6nica e saborQsa.Suas obras ['oram v{lrias vezes condCIl;1c!asc proibiclas na Unlvcrsidadc de Sorbonnc,o que 0 obrigou a fugir as <l!11ca<;ascla In-qUlSlc;:ao.

Rabdais n21.ocscrcvcu uma obra propria-mente pedagogica, mas nos ((ois romancessatiricos PantagrueL c GmgantliatranspareceJl1suas idCias a respcito dC\:~ducac;:ao.Trata- .se de escritos clivertidos, em que tudo cexagerado, a comc~ar pdos proprios pCJ:-sonagens, gigantes que tinham um apetitcdescomuna18.

Ao iniciar sua educac;:21.o,0 preceptor deGargantua deu-lhe de beber 0 Jiquido deuma planta chamada hdeboro "para queesquccesse de tudo 0 quanto havia aprendi-do com os seus antigos preceptores". Nessapassagem, Rabelais quer simbolizar a ne-cessidadc de expurgar toda a lcmbran~a datraclic;:ao para 0 novo ensino ser n1ais bcmaproveitado. No final da primeira partedcste capitulo, veja 0 dropes 1, em que GJ.r-gantua escreve ao filhoPantagrud sobre asexpectativas quanto c\sua formac;:ao.

Embora tivcsse uma seele insaciavcl deconhecimentos e recomenclasse uma apren-dizagem enciclopcdica, criticava 0 emino

.livresco e estimulava a educa<fao do corpo. .

e do espirito. Ao contdrio dos que 0 acu-savam de imoralidade, defendia uma cticade acordo com as exigcncias da natureza ecla vida, pOl' iS50 r1lcsmo clcvia-sc aprcllclcrcom alegria, porque "0 riso C proprio dohomemJJ

(! ;\il1c!a hoje, llsa-se a express;(o "apclilc pantagrudico", para c!esignar os que comcm e bebern Cill ckmasia,ou as que defendem ideias cpicuristas. As obras de Rabcbis tinha'm exlensos lilulos. "0 horriveis c espanlososfeitos e proezas do mui afamado Pantagruel" e ''A vida incstimavel do grande Gargantua, pai de Panlag:rue]".

Renoscimento: humonismo, Reformo e Contro-Reformo

Page 12: História Da Educação - Capitulo 6

5. Montoigne

IvIichcl de Ivlontaigne (1533-1592) pcr-tencia a uma familia francesa da burgllesiaque, enriquecida com a posse de ten"as epropriedades, conseguira um titulo de no-breza. A educac;ao do menino foi cuidado-sa: acompanhado pOl' preceptores desde 0

berc;:o, aprencleu btim antes da lingua ver-nacula.

Ivlontaigne lia com facilidade as obrasbtinas e:escreveu uma serie imensa de frag-mentos, reunidos em um genero novo, 0 en-saio, que bem representa a tendencia subje-tivista renascentista. Ao des creveI' a si pro-prio e refletir sobre suas experiencias, trac;:ao perfil da natureza humana, apresentandoum individuo que tem interrogac;:6es, duvi-das e contradic;:6es, 0 que encaminha' seupensamerito para um certo ceticism09.

Mcsmo sem produzir obra propriamen-te pedagoSr1ca, no seu alentado Ensaio 1vlon-taigne dedicou alguns capitulos especifica-mente a educac;:ao. Critica 0 ensino livrescoe 0 pedan tismo dos falsos sabios, valoriza acclucac;:io integral e elogia seu pai por tel'sabido escolher os preceptores para educa-10 com docilidade e sem castigos.

Para Ivlontaigne,a educac;:ao tem por £1-nalidade preparar um espirito agil e critico,valores importantes para a formac;:ao dogentil-homem.

6. A pedogogio do Contro-Reformo

N a resistencia as novas ideias que co-me<;:avam a se delinear no Renascimento,

, co10caram-se os cristaos cat6licos adeptoscia Contra-ReforIna., ~ara eles, a intenc;:ao

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efa cSludar, Si111,os antigos autorcs greco-roman os, mas de acordo com um olhar re-ligioso que puclcsse adapti-1os as vcrcladesctcrnas da fc. POl' isso estuclavam Platao eAristoteles sob 0 vies cristianizaclo de SantoAgostinho e Santo Tomas.

Como vimos em capitulos anteriores)' apedagogia que transparccia naqueles fi16-sofos, tanto da Antiguiclade como da IdadcI'vfedia, baseava-se em uma visao essencia-lista, segundo a qual a educac;:~o teria porobjetivo desenvolver as potencialidades doser humano.

Essa pcrspectivCl foi retomada pdos je-suitas) cuja pedagogia era aristotelico-to-mista. Nio que muitos deles ignorassem asnovidades da ciencia e da filoso£1a do seutempo, uma vez que a Companhia prepa-rava com cuidado os futuros mestres. Acha-yam importante, porem, evitar os conheci-mentos que pudessem levar a desy{os pelolivre-pensar dos humanistas.

Lembrando que essa postm-a interessavasobretudo aos reinos de Portugal e Espa-nha) diz 0 professor portugues Antonio Go-mes Ferreira: "Afinal, os poderes estavaminteressados nessa interpretac;io autoritariado saber e a escolajesuitica nao tinha patriaporque 0 latim era a sua lingua) 0 catoli-cismo a sua ideologia e a Escolastica a suacompreensao do mundoJl10

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Nem todas as orientac;:6es religiosas, noentanto) distanciaram-se tanto do huma-nismo renascentista. Uma excec;ao foi aCongregac;ao do Oratorio, que) no seculoXVII, sem renegar 0 aristotelismo, busca-va concilia-lo com as ideias da pedagogiahumanista. Outra tendencia e represen-tada pelos franciscanos, que) na Escolade

9 Ceticismo: doutrina segundo a quz;] nao se pock conhcc.cr com ccrtcza; os ccticos concluem pela sllspensao dojUlzo c pc!a duvida pcrmanente.

!U "/\ cduc<l\ao no Portugal 13arraco: scculos XVI a XVITI", in 1\'faria Stephanou e Maria Helena CamaraIhstos (orgs,), His/urias e m!:m6rias da Cdllerlf(/O no JJm.nI v. I: Shulos Xf!1-XVlll, p. 62,

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Page 13: História Da Educação - Capitulo 6

Oxford) Ing-laterra) desde a Idade Ivlcdiademostrarani' interesse pelascicncias expe-rimentais e pela atuac;:ao social. VolLaremosa eles na segunda parte deste capitulo.

Como pudemos observal~ 0 Renascimen-to foi um periodo de contraclic;:oes tipico cIasepocas de transic;:ao. A classe burguesa) en-riquecida) assumia padroes aristocraticose aspirava a uma educac;:21.oque r.iermitisseformal' 0 homem de negocios) ao mesmotempo capaz de conhecer as letras greco-latinas e de dedicar-se aos luxos e prazeresda vida. POl' outro lado) as escolas religiosasmultiplicavam-se na Europa e no resto domundo colonizado.

Essa sociedade) embora rejeitasse a au-toridade dogmatica da cultura eclesi{1.stica

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medieval) man teve-se .aincla [ortemcn tehierarquizacla: exdubdos propositos cdu-cacionais a grande massa populal~ C0111 cx-cec;:21.odos reformadores protestantes), queagiam motivados tambcm pela clivulga\aorcligiosa.

Profundas alterac;:oes estavam ocorren-do) apesar de tudo. Suchodolski refcre-sea toda pedagogia antiga como essencialis-ta) porque tinha pOI' func;:ao realizar 0 que'o ser humano deve vir a sel~ a partir e1e.'.'um modelo) segundo a concepc;:ao de umaessencia humana universal.' No Renasci-men to) embora continuasse a perspectivaessencialista) que so mudaria com Rous-'seau (seculo XVIII)) ja se tinha a percep-c;:ao mais aguda de problemas que) hoje)chamariamos de existenciais) numa rccusaa submissao aos valores eternos e aos clog-mas tradicionais.

1o' Novo Testamento ca Epistola dos g

",;..;\postoloS; depois em· hebreu 0 Velho .f1 - Quanto ~o conhecimento dosfat~;' '. Te~tamento:' '. .da i1atureza) quero que se adorne cui- (... ) Mas) porque segundo 0 sabiodadosamente deles; que nao haja mar) Salom21.o) sabedoria nao entra absolu-ribeiro ou [onte dos quais n21.Oconhec;:a tamente em alma malevola) e cienciaos peixes; todos os passaros do ar) todas sem consciencia nao e senao a ruina daas arvores arbustos e frutos das flores- alma) convem servir) amar e crer em

)

Ias) todas as ervas da terra) todos os me- Deus e n'Ele colocar seus pens~mentostaisescondidos no ventre dos abismos)e suas esperanc;:as) e pelafc):"fo,rma>ia de

:!--, ·.as pedrariasdo Oriente e do SuI) r~ada caridade, estar a Ele asso'ci~do)de sorte''it',I, "'ll1esej3.,desco~hecid(j. ,.' . . ," que jamais sejadesamparado pelo pe-·'J.;.:,::;::; · ... ',.:bep6i'~~':'·;c~idadosamente, . estude cado. (Rabelais)

~.: . J :', s2in;·ce'ss~r:-os.livros dosmedicos·gre~. . ,.... . .,>..", I,,:"go~yA.~~~es,e)~.tinos, semcondenar, tal-' ..2-.Pelo,·rh.odo· co~o a ~prendemos [a

li~/o: L: niudistas ecabalistas; e, pOI' frecp'Xentes: . cie~ciaJ.nao·'- e de estranhar que nemr,::: .. t· estudos de Anatomia, adquira perfeito a1lin05 nem mestres se torn em maist' I conhecimento do outro mundo que c capazes embora se fac;:am mais doutos.t'· 0 homem. E, durante algumas horas Em verdade, os cuidados e clespesas de

do dia, entre em contato com as san- nossos pais visam apenas encher-nos a. tas epistolas) primciramcnte em grego cabec;:a de ciencia, de bom senso e virtu-

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i': Renoscimenro: humonismo, Reformo e Coniro-ReformoG.,,·

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Page 14: História Da Educação - Capitulo 6

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de nao sefaIa. Ivlostrai 21.0 povo alguemque passa e dizei "um sabio" ea Olitroqualificai de bom; ninguem deixara de

.. atentar cori1~~espeito para 0 primeiro.'.:, Nao;'n'ei.ec·~'fi'a·essa gente que tambem

a ~1~~'lit(5~'~~"'grit~ndo: "cabe~as depote!". Indagamos sempre se 0 indivi-dL\Osabe grego e latim) se escrevc emverso ou prosa) mas perguntar se se tor-nou melhor e se seu espirito se desenvol-veu - 0 que de fato importa - nao nos'passa pcb mente. Cumpre entretanto

~~~Leitura compfementar.

.Regras do Ratio Studiorum

, Alianya das virtudes s6lidas com 0 estudo. Apli-quem-se aos estudos com seriedade e cons-tancia: e como se devem acautelar para queo fervor dos estudos nao arrefc<;:a 0 amordas virtu des s6lidas e da vida religiosa, as-sim tambem se devem persuadir que)· noscol(~gios, nao poderao fazer coisa mais agra-davel a Deus do que) com a inten<;:ao que sedisse acima) aplicar-se diligen temente aos .estuclos; e ainda que nao chegue'm nuncaa exercitar 0 que aprenderam) tenham pOl'certo que 0 trabalho de estudar) empreen-dido, como e de razao) pOI' obediencia ecaridade,' e de grande merecimento na pre-sen<;:ada divina e soberana majestade.

Evite-se a novidade de ojnmoes. Ainda emassuntos que nao apresentcm perigo algumpara a fe e a piedade) ninguem introduzaquest6es novas em materia de certa im-portancia) nem opini6es nao abonadas pOI'nenhum autor id6neo) sem consultar os su-periorcs) nem ensine coisa alguma con traos principios fundamentais dos doutores eo seni~ircomurn das escolas. SigZl.mtodos de

indagar quem sabemelhor e nao quemsabe mais.

(... ) Tuclo sc submetera 21.0 exameda crian<;:a e nada se Ihe enfiara na ca-be<;:apOl' simples autoridade c credito.Que nenhum prir1cipio) de Arist6teles,dos cstoicos ou c10s epiclJristas,sejaseuprinCipio. Apresentem-se-lhe todos em .'sua eliversielaele e que cIa escolha se pu-der. E se nao 0 puder fiqueJla dllvida,pois s6 os loucostemcertez'a absolutaem sua opiniao. (rvlontaignc)

. . . .

preferencia os mestres' aprovad~s e as dou-trinas que, pela experiencia elos an os; sao'mais ado tadas nas escobs catolicas .

Repetifoes em casa. Toclos os elias) excetoos sabados) os dias feriados e os festivos,designe uma hora de repeti<;:ao aos nossosescolasticos para que assim se ex6citem asinteligencias e melhor se esdarec;:am as elifi-culdades ocorrentes. Assim um 01.1 dois se-jam avisados com antecedencia para repetira li<;:aode memoria, mas so porum quarto

.de hora; em seguida um QU dois formulemobje<;:6ese outros tantos respondam; se ain-da sobrar tempo, proponham-se dlividas.E para que sobre) procure 0 professor con-servar rigorosamente a argumenta<;:ao emforma [silogisticaJ; e quando nada mais denovo se aduz, corte a argumenta<;ao.

Ordem nos jJatios. Nos patios e nas aulas)ainda superiores, nao se tolerem armas)ociosidade, correrias e gritos) nem tampou-co se permitam juramentos) agress6es pOl'palavras 01.1 fatos; 01.1 0 que quer que sejade desonesto ou Ieviano. Se algo acontecer,restabelec;:a logo a ordem e trate com 0 Rei-tor do que possa perturbar a tranquilidadedo patio.

Hist6rio do Educoc;::ooe do Pedogogio - Geral e Brasil

Page 15: História Da Educação - Capitulo 6

Prelefao. Na prelec;:ao s6 se expliquem os,autores antigos) de modo algum os mocler-nos. De grande proveito sera que 0 profes-sor n21.ofale sem orclem nem preparac;:21.o)mas exponha 0 que cscreveu refleticbmentcem casa e leia antes todo 0 livro ou discursoque tem entre maos. A forma geral cla pre-lec;:aoe a seguinte:

Em primeiro Iugar lcia seguidamentetodo 0 trecho) a menos que) na Retoricaou naI-Iumanidade) fosse demasiadamentelongo.'

Em segundo lugar exponha em poucaspalavras 0 argumento e) onde for mistel~ aconexao com 0 que precede.

Em terceiro Iugar leia cada periodo c)no caso de explicar em latim) esclarec;:a osmais obscuros) ligue um ao outro e expla-ne 0 pensamento) n21.Ocom metafrase pue-ril inepta) substituindo uma palavra latinapor outra palavra latina, mas declarando 0

1. De exemplos de aspectos do hum a-nismo renascentista que representamo esforc;:o de secularizac;:ao' do pensa~mento.'

2. Por que protestantes e catolicos, noseculo XVI) passaram a se int6essarpela ac;:21.opedagogica? Compare as duasorientac;:oes em suas linhas principais) in-clicanclo as coinciclcncias e as cliferenc;:as,

, 3. Analise, de que perspectiva a peda-',:gag-ia'dos jesuitas atende'as expectativas

do novo honiem renascentista e comotambem a elas se opoe.

mesmo pensamento com frases mais inte-ligiveis. Caso explique em vernaculo, con-serve quanto possivcl a ordem de coloca~aoclas palavras para que se habit\lem os ou-vidos ao ritmo. Sc 0 idioma vulgar nao 0

permitil~ primeito traduza quase tudo pa-lavra por palavra, depois) segundo a indoledo vcrnaculo.

Em quarto lugar, retomando 0 trccho deprincipio fac;:a as observac;:oes aclaptaclas acada classc) a menos que prenra inseri-lasna propria explicac;:21.o.Se jl)lgar que algu-mas devem ser apontadas - e nao con\/cmsejam muitas - poc1cra ditcl.-las ou a inter-valos durante a explicac;:ao) ou) terminacla alic;:21.o)em separado. E bom que os gram{lti-cos n21.Otom em notas sen21.Omanclaclos.

Leone1 Franca, 0 metoda pedagogiw dasjcsu[tas: 0 Ra-tio Studiarum. Rio de Janeiro, Ag-ir, 1952, p. 1'1·5, 1"1-6,175 c 186.

=>"~--~~

'4. Quaissao o~focos comuns sobre a "eclucaC;:21.odeVives, Erasmo) Rabdais e iJVlontaigne? I5. "Em verdacle 0 homem c de nature- iza muito pouco ckfinida) estranhamente Iclesigual e diverso. Di:6cilmente 0 julgari- I,

amos de maneira decidicla e uniforme.))"a), Compare essa anrmaS,21.ode lvlon-

taigne com 0 intuito'd.os;~'issionarios clccatequizar os inclios~" '::", " ' "

b) Expliqllccom;;ekse "aspecto 're-presenta uma das muitas contradic;:oesvividas no Renascimento.

6. 0 dropes 1 contcm'trechos de um li-vro de Rabclais) em que 0 pai (0 giganteGargantua) faz recomendac;:oes ao :6lho(Pantagruel). Responda as questocs:

Renoscimento: humonismo, Reformo e Contro-Reformo

Page 16: História Da Educação - Capitulo 6

~~:.::.L:I:;" >..

"\ ...

a) Identifique os elementos que indi-earn oposi<;:aoa tradi<;:aomedieval.

b) Embora a {rasemuito citada deRabelais"Ciencia sem consciencia naoe senao ruina da alma" no contexto serefira ao amor a Deus, de que forma po-deriamos aplica-la para compreender os

. problemas atuais decorrentes do desen-volvimento cientifico e tecnologico? .

7. "Nao menos que saber, duvidar meapraz" (Dante Alighieri). Ainda que 0 po-eta italiano tenha vivido no seculo XlII,de certa forma. antecipa algumas ideiasdo Renascimento: relacione a cita<;:aodelecom 0 pensamento de Montaigne e dis-

: tinga-a da proposta religiosa dos jesuitas.

Questoes sobre a leituracornplernentar

1. Compare 0 comentario de Montaig-ne (dropes 2) sobre a memoria com avaloriza<;:ao que dela fazem os jesuitas ..

2. Discuta a importancia da individuali-dade no Renascimento, baseada em Mon-taigne. Como a ela se op6em as Regras?

;

3. Como poderiamos defender a pro-posta do Ratio Studiorum como documen-to inserido em seu contexto historico?

Brasil: catequese e inicio da colonizafao

A partir desse capitulo, intercalamos nasegunda parte a historia da educa<;:ao noBrasil. No entanto, desde 0 presente ca-pitulo ate 0 oitavo, s6 veremos os t6picosContexto hist6rico e EducGfao, pOl' nao poder-mos tratar de uma pedagogia brasileirapropriamente dita, ja que estivemos todoesse tempo atrelados ao pensamento es-trangeiro. Essa situa<;:ao se atenua no finaldo seculo XIX, quando ja<e possivel exa-minar express6es mais atent'as sobre os te-mas pedag6gicos. POl' fim, no seculo XX,dado 0 grande volume de informa<;:6es,preferimos estudar 0 Brasil em capi"t\110se-parado da historia europeia. ':../

Cr@n@Rogia d~e(!h,u:a~~@no Brasil Col@nia

• Fase her6ica: de 1549 a 1570- catequese.

• Fase de consolida<;:ao: de 1570a 1759 - expansao do ensino se-cundario nos colegios.

• Reformas pombalinas: de 1749a 1808 - instru<;:aopublica.

• Periodo joanino: de 1808 a1822.

Historio do Educoc;:aoe do Pedogogio - Gerol e Brasil

Page 17: História Da Educação - Capitulo 6

·Ie.'f.i~~,:·. ~~,~~~.~.' ;;'-';"t

~:;5~:t A hist6ria do Brasil no seculo XVI nao

~~~.~~d~~:~p~~j~n~~~a~ac~~~n~~:;~~~:~7t~~r ~:r;~~~:~idean~~q~:c~~~a~~~~O;:~~~,~~r;, Comercial. As colonias valiam nao so paraf ampliac;ao do comercio, como tambem POl'1~..:'.' fornecer produt~s trlopicais e metais precio-f sos para as metropo es.

/

".., No caso do Brasil, a colonizac;ao assumiuaspectos que dependeram da forma pela

t...•.' qual Portugal e Espanha se situaram noI quadro do desenvolvimento economico ef-, cultural europeu. Como vimos na primeira

,1-.' . parte, enquanto Fran~a e Inglaterra incen-I tivaram as manufaturas, a burguesia portu-f guesa permaneceu atrelada aos interessesI do absolutismo real, que ainda refletiam aI consciencia medieval. POl' ser urn pais cato-I lico, que resistiu ao movimento protestanteI com a Contra-Reforma e a Inquisic;ao, Por- _!t tugal condenava os juros, 0 que restringiu aI acumulac;ao de capital e retardou a implan-I ta~ao do capitalismo. Por outro lado, porI manter seus privilegios, a nobreza oneravai os cofres pllblicos e dificultava a alianc;a doI rei com a burguesia. Alem disso, enquanto! a Europa renascentista se preparava para 0

livre-pensar que se consoliclaria no Ilumi-nismo do seculo XVIII, Portugal pennane-cia cioso da heranc;a cultural chlssico-me-clieval, preservando 0 btim, a filosofia e aliteratura cristas.

Por levar mais tempo para encontrarmetais no Brasil, de inicio a a~ao dos por-tugucses restringiu-se a extra~ao do' pau-brasil e a algumas expedic;oes exploratorias.A partir de 1530 tevc inicio a colonizac;ao,com 0 sistema de capitanias hereditarias e ,amonocultura da cana-de-ac;llCar.

Enquanto na Europa os ventos da mo-clcrnidade exorcizavam a tradi~ao medie-val, no Brasil implantavam-se formas de

, '

Ccnh~;dohisforicCi economia pre-capitalistfls,' (:om gra11desproprietarios de terra. A economia colonialexpandiu-se em torno do engenho de ac:;-u-car, recorrendo ao trabalho escravo, inicial-mente dos indios e, depois,dosnegros afri-canos. LatijUndio, escravatura" monocultura,eisas caracteristicas da estrutura economicacolonial que explicam 0 carMer patriarcalda sociedade, centrada no poder do senhor~e engenho.

Convem nao esquecer que 0 Brasil erauma colonia de economia agricola; cujo lu-cro ficava com os comerciantes na metropo-Ie, 0 que caracteriza uma economia de mo-delo agrario-exportador dependente. No, entanto,ainda que Portugal tivesseo monopolio daproduc;ao de ac;ucar brasileiro, as refinariasnao eram construidas naquele pais, mas naHolanda, Inglaterra e Fran~a.

Nesse contexto, a educac;ao nao C0115-tituia meta prioritaria, jaque 0 desempe-nho de func;oes na agricultura nao exigiaforma<;:ao especial. Apesar disso, as metro-poles europeias enviaram religiosos para 0

trabalho missionario e pedagogico, com afinalidade principal de converter 0 gentio eimpedir que os colon os se desviassem da fecatolica, COnfOl-r11eas orientac;oes cia Con-tra-Reforma.

A intenc;ao clos mlSSlOnanos, porem,nao se reduzia simplesmente a difundir areligiao. Numa epoca de absolutismo, aIgreja, submetida ao poder real, era ins-trumento importante para a garantia daunidade politica, ja que uniformizava afe e a consciencia. A atividade missiona-ria facilitava sobremaneira a clominac;aometropolitana e, nessas circunstancias,a educac;ao assumia papel de agentecolonizador.

No Brasil, segundo a historiografia tra-dicional, foram os jesuitas que, em maiornllmero e atua~ao efctiva, obtiveram re-sultado mais signiflcativo, pm-que se em-penharam na atividade pedagogica, para

Renoscimenlo: humonismo, Reformo e Conrro-Reformo

Page 18: História Da Educação - Capitulo 6

elc~' com:iderada primordial. No en tanto,estudos recentes tem mostrado que outrasordens religiosas foram importantes - masque nao deixaram 0 mesmo volume de do-cumenta<;ao da Companhia de Jesus -,tais como os franciscanos, os carmelitas eos beneditinos.

Educas;ao

1 . A chegada dos jesuitas

Para melhor compreender a a<;ao dos je-suitas no Brasil e conveniente rever a primei-ra parte deste capitulo, em que analisamos aCompanhia deJesus no seu contexto hist6ri-co. Vimos que, ap6s a Reforma, 0 Conciliode Trento empreendeu a Contra-Reforma,destinada a impedir a propaga<;ao da dissi-dencia religi.osa representada pela religiao

.protestante. Alem dos jesuitas, com a<;aomais in tens a, eficaz e duradoura, outl~as or-dens empenharam'-se nesse trabalho.

Quando 0 primeiro governador-geral,Tome de Sousa, chegou ao Brasil em 1549,veio acompanhado pOl' diversos jesuitas en-cabe<;:ados por 1.1anuel cia Nobrega. Ape-nas quinze dias depois, os missionarios jafaziam funcionar, na recem-fundada cidade

. de S~lvador, uma escola "de ler e escrever".Era 0 inicio do processo de cria<;:aode es-colas elementares, secundarias, seminariose missoes, espalhados pelo Brasil ate 0 anade 1759, ocasiao em que os jesuitas foramexpulsos pelo marques de Pombal.

Nessc periodo de 210 anos,: os jesuitaspromoveram maci<;:amente a catequese dosindios, a cduca<;:ao dos fil110sdos colonos, aformac;:ao de novos sacerdotes e cia elite in-

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tci~ctual, alem do conirole da fe e da moral "\li',dos habitantes da nova terra. "

Era dificil a empreitada de instalar urnsistema de educa<;:aoem terra estranha e depovo tribal. De um lado, os indigenas de 11n-.gua e costumes desconhecidos e,' de outro,os colonizadores portugueses, que para eavieram sem suas mulheres e familias, muito.rudes e aventureiros, com habitos criticaciospelos religiosos.

Embora os jesuitas recebessem formac;:aorigorosa e orienta<;:ao segura'do Ratio Stu-diorum (rever primeira parte deste capitulo),enfrentaram serios desafios para se adaptaras exigencias locais. E born lembrar quantoIhes valia, nesses casos, a sua tao conhecidaflexibilidade.

Ao se deslocar da Bahia para 0 SuI, fun-daram 0 Colegi.o de Sao Vicente, no litoral,depois transferido paraPiratininga,no pla~naIto, onde, a partir do Colegioll ,em 1554,surgiu a cidade de Sao Paulo.

Corn espirito empreendedOl~ 0 padre l'vfa-nuel da N6brega organizou as estruturas doensino, atento as condi<;:oesnovissimas aquiencontradas. 0 primeiro jesuita a aprendera lingua dos indios foi Aspilcueta Navarro,tambem pioneiro na penetra<;:ao nos sertoesem missao evangelizadora. A essas duas figu-ras veio sejuntar, em 1553,0 novigoJose deAnchieta, de apenas 19 anos, que mais tardese destacaria no trabalho apost6lico.

Fernando de Azevedo, historiador brasi-leiro da educa<;:ao, refere-se a essa "trindadeesplendida - Nobrega, 0 politico, Navarro,o pioneiro, e Anchieta, 0 santo" - comosimbolo da "atividadc extraordinaria dos je-suitas no seculo XVI, a rase mais bela e 11e-roica da hist6ria da Companhia deJesus"I:!.

II 0 cokgio instalado no planallo nao se chamava Sao Paulo, como sc coSluma dizcr, mas sim ColCgio SantoIn<'lcio; vale lembrar' que funcionava mais como uma "casa de meninos" c nao como colegio propriamcntedilO.1'2 A wi/lira brasileira: introdu<;:ao ao ('studo ela cultura no Brasil. 4. ed. rev. e amp!. Brasilia, Eel. UnB, 1963,p.505,

Historio do Educoc;ao e do Pedogogia - Gerol e Brasil

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t':fu::'2. Fase her6ica: a catequese

i,""- Diante das criticas e defesas da a<;iio;x-' catequetica dos jesuitas no Novo Mundo,~:' Dunca e demais relembrar que, embora a~i, ctnologia contemporanea tenha uma com-~, prcensao diferente sobre 0 contato de cuI-

,turas tao diversas, ,aqui vamos enfocar essa1 (l.cJi.O a 'partir do conceit"O que deb tinham~ os pr6prios missionarios.

Desse modo, retomemos o.impacto pro-<, vocado nos europeus por povos tao "rudes",i:~, "sem lei" e "sem fe". Muitos chegavam a!, pensar na iJ;l1possibilidade de conseguir al-.~

gum sucesso no processo "civilizat6rio" dosnativos: enquanto para outros, incluindo aios missionarios, os indigenas eram comofilhos menores, uma "folha em branco"em que se poderia' inculcar os valores daciviliza~ao crista europeia. Nesse sentido,convicros de que 0 cristianismo represen-tava uma vocaC;ao humana universal queimplica integraC;ao e unidade, lanc;aram-secom empenho na incorporaC;ao territorialc espiritual dessas etnias, na esperanc;adeacentuar as semelhanc;as - todos eram se-res humanos -' e apagar as diferenc;as.

Comec;am entao a tentar conquistar 0

chefe d,a tribo e a desmascarar 0 paje. Logopercebem que a aC;aoe mais eficaz sobre osfilhos dos indigenas, os curumins (tambemcolumins ou culumins), alunos prediletos,porque sobre eles ainda nao se sentia demaneira arraigada a influencia do paje.

A fase her6ica da missao jesuitica vaidos "mos de 1549 a 1570, data da morte dopadre N6brega, Nesse pericido, os padresaprencleram a lingua tupi-guar~ni e elabo-raram textos para a catcquese, fis;ando acargo de Anchieta a organizac;a6, de umagram:1tica tupi.

Inicialmcnte os curumins aprendiam aler e a escrevcr ao lado clos filhos dos colo-nos .. -\nchieta usava divcrsos recursos paraatrair a atcnc;ao das crian~,as: teatro, mllsi-

Ca, poesia, dialugos em verso.Pdo teatro edanc;a, os meninos, aos poucos, aprendiam'a moral e a religiao crista.

Logo teve inicio 0 choque entre os valo-res da cultura nativa e os do colonizador .

. O,soci610go brasileiro contemporaneo Gil-berto Freyre, na obra Casa-grande e senzala,dizqueos primeiros missionarios substitu-iam as "cantigas lascivas';, entoadas pelosindios, por hinos a Virgcm e cantos devo-tos, condenavam a poligamia, pregando aforma crista de casamento. Dessa mtl.neira 'comec;aram a abalar 0 sistema comunalprimitivo.

Tornara-se tao comum falar na "linguageral" - mistura de tupi, portugues e latim- que os padres a usavam ate no pulpito.o procedimento perduroupor algum tem-po, ate que as autoridades passassem a exi-gir exclusividade para a lingua portuguesa,temerosas de que a lingua nativa predomi-nasse.

o fato e que 0 indio se encontrava a mer-ce de tl~~Sintcresses, que ora se complemen-tavam, ora se chocavam: a metr6pole dese-java integra-lo ao processo colonizador; 0jesuita queria converte-lo ao cristianismo eaos valores europeus; e 0 colono queria usa-10 como escravo para 0 trabalho.

Ap6s urn periodo de pregayao em quepermaneciam um tempo nas tribos e reali-zavam batismos, os religiosos seguiam paraoutro local. Mas logo clescobriram que asconversoes nao se consolidavam:, alem de setratar de empreitada perigosa.

Para realizar a acao mission aria com,>

menos riscos e consolidar as conversoes,foram entao criadas as missoes, localizaclasno sertao, longe dos colonos avidos de es-cravos, As principais ficavam ao norte dol\1b.:ico, na orla da floresta Amazonica eno interior da America do SuI? em que se

Renoscirnento: hurnanismo, Reforrna e Contra-Reforrno

Page 20: História Da Educação - Capitulo 6

,. firma~am ~jesuitas portugu.e,~~" e espanh6is.Mas, alem destas, os religiOsos constituiramoutris no territ6rio brasileiro de noite a suI.Aqui, as primeiras e varias delas aparece-ram na Bahia.

Vejamos 0 que os missionariosse propu-nham mudar, para europeizar e cristianizaros nativos. Surpreenderam-se de inicio como fato de cern a duzentas pessoas viveremna mesma oca, sem divis6es que preservas,-sem a intimidade das familias nem reparti-c;:aode func;:oes e tarefas, porque ali dentrotudo se fazia.

Por isso, os jesuitas deslocaram os nativospara out,ras; areas, pnde criaram as aldeiasreur1indo varias etnias, design ad as por e1es,de modo homogeneo, como 0 "gentio". Alise construiramas casas, onde se alocavacada familia, a unidade social. Assim dizBaeta Neves: "Na aldeia cad a coisa deve terseu fugar e sua homo Ha um local para 0 tra-balho, Ol.ltropara 0 descanso, outro para 0

culto, outro para a, familia" 13. 'tViudaram aspriticas nomades, consideradas barbaras, eestabeleceram urn sistema agricola restritoa areas determinadas, onde se fazia a divi-sao de tarefas e observavam-se os "momen-tos de semear, podal~ colhel~ queimar".

Desse modo os missionarios pensavamestar prestando um servi~o civilizat6rio, aoretirar os nativos da "ociosidade", da "pre-guic;:a",da "indisciplina" e da "desorganiza-c;:ao".Introduziram regras de higiene, manei-ras de comer, condenaram a antropofagia, aembriagues, 0 adulterio. Lutaram tambemcontra a nudez, suprimindo aos poucos osadornos consiclerados "deform adores" e de-finindo uma "geografia do corpo" segundo aqual havia partes que poderiam,ser mostra-das e outras a serem cobertas. .

Por considerarem que os nativos viviama "infancia da humanidade", os jesuitas se

.' ., " ":;:\')( "

. achavamno direitode agirem'coD10 "pais", ..devendo, portanto, corrigir e proteger.Como 0 uso de sanc;:oesviolentas era habi~to europeu naqueles tempos; esse costume

.~ .-foi trazido para ca.. As penalidade variavam{ :conforme a gravidadedaculpa; usando-se .; ',:o ac;:oite,0 tronco e ate.mutilac;:oes, cuja exe~cuc;:aodeviaser publicae exemplar ..

As miss6es prosperaram de modo signifi~. cativo. Alem da atividade agricola, confor~

me 0 lugar havia criac;:ao de gado, artesa-nato, fabricac;:ao de instrumentos musicais, ::construc;:ao de templos. Tudo administradopelos jesuitas, sem intervenc;:ao externa.Porem, a segregac;:ao de 'tribos inteiras nasmissoes, esse "ambiente de estufa", fragili-zava ainda mais os indios. 0 confinamentofacilitava aos colonos capturar tribos intei-

, ras. Durante 0 seculo XVII, os bandeiran-tes realizaram diversas expedic;:oes de apre-samento e destruiram muitas povoac;:6es, in-clusive as dirigidas por jesuitas espanh6is.

Depois da expulsao dos jesuitas (seculoXVIII), desmoronou-se a estrutura cria-da pelos padres,e os indios aculturadosnao conseguiram mais subsistir ~orar' e "economicamente.

4. Periodo de consolida<;:ao: a instru<;:aoda elite

Vimos que as primeiras escolas reuniamos filhos dos indios e dos colonos, mas atendencia da educac;:aojesuitica que se con-firmou foi separar os "catequizados" e os"instruidos". A ac;:aosobre as indigenas re-sumiu-se entao em cristianizar e pacificar,tornando-os d6ceis para 0 trabalho nas al-deias. Com os filhos dos colonos, porem, aeducac;:ao podia se estender alem cla escolaelementar de ler e escrever, 0 que ocorreu apartir de 1573.

Historia do Educac;ao e da Pedogogio - Geral e Brasil

Page 21: História Da Educação - Capitulo 6

"i::. . ..

:~:t?f;:~:: Para enfrentar 0 senhor da casa-grande,,.JX~f;~as jesuitas conquistavam seus elementos::ft~~~;passi.vos: a mulhe.r e a crianc;a ..Educ~n~~ 0t;;:;<; menmo, consegmam manter vlVa a rehglO--I~;'(;sidade da familia.,~,:-- Era tradic;ao das -familias portuguesas

oriental' os fi1hos para diferentes carreiras,~ f 0 primogenito herdava 0 patrimonio do

, pai e continuava seu traba1ho no engenho;a segundo, destinado para as letras, fre-qi.ientava 0 colegio, muit?-s vezes concluin-do os estudos na Europa; 0 terceiro enca-minhava-se para a vida religiosa, Como seve, os jesuitas agiam sobre os dois ultimos.IvIesmo quando os filhos nao cram envia-clos aos colegios e ~ecebia111educac;ao napr6pria casa-grande, ficavam aos cuidadosdos capelaes e tios-padres.

Outro modo de ac;ao cumpria-se no con-fessionario. 0 padre ouvia os pecados e assimmode1ava 0 pensar dos colonos. Em casos ex-tremos, n~gar a abso1vi<;aodos pecados reve-!ados no confessionario era uma maneira depressionar a mudan<;a de algum comporta-mento considerado imoral ou impio.

No c?-mpo da educac;ao propriamentedita, des de 0 seculo XVI os jesuitas 111on-taram a estrutura dos tres cursos a seremseguidos ap6s a aprendizagem de "ler, es-crever e con tar" nos colegios: a) letras hu-man as; b) filosofia e ciencia (ou artes); c) teo-logia e ciencias sagradas. Esses tres cursoseram destin ados respectivamente a forma-<;aodo humanista,' do fil6sof9 e do te610go.

Nocurso de humanidades, 'de grau me-dio, ensinavam latim e gramatica, para osmeninos brancos e mamelucos (mesti<;osde

, branco e indio). Em alg~ns colegios, comoo de Todos os Santos, na Bahia, e 0 de'SaoSebasti?io, no Rio deJaneiro, eram ofereci-dos tambem os outros dais cursos, de artese de tco10gia, ja de grau superior.

Terminaao 0 curso de artes,' 'apresenta,..vam-se ao jovem duas alternativas:

• estudar teologia, oPc;ao que ajudava amanter viva a obra dos jesuitas no tempo,formando-se padre ou mestre;

·preparar-se para as carreiras profanasdas profissoes libetais, como direito,filo-sofia e medicina; neste caso, encaniinha-va-se para uma das diversas faculdades

, europeias - os brasileiros procuravam so- .bretudo a Universidade de Coirpbra, emPortugal.

Para esse programa, os jesuitas foramapoiados oficialmente pela Coroa, quetambem os auxi1iou com generosas doac;oesde terras. 0 governo de Portugal sabia 0quanto a educac;ao era importante C0.l1l0meio de dominio politico e, portanto, naointervinha nos pIanos dos jesuitas.

5. Outras ordens religiosas

Embora tenha sido costume enfatizar-sea ac;ao dos jesuitas na educac;ao da colonia,outras ordens aqui estiveram com 0 mesmoprop6sito, tais como franciscanos, carmeli-tas, beneditin?s. Para alguns estudiosos quese debruc;:am sobre 0 assunto nao deixa deser estranho 0 relativo silencio sobre essascontribuic;:oes.

o professor Luiz Fernando Conde San-genisl+ nos esclarece que em 1585 foi criadaa Cust6dia de Santo Antonio do Brasil, emOlinda, Pernambuco, onde, no ana seguin-te, franciscanos recem-chegados fundaramurn internato para os curumins. Ali eraensinado 0 catccismo, berb como aIel', es-crever C co11tar. Depois se estenderam peloRio Grande do Norte, Alagoas, Paraiba,Grao-Pare1- e :lvIaranhao. Na regiao SuI, fa-ziam misso'cs-volantes, nao estabelecendoresidcncia pcrmanelltc nas alcleias.

II "FrZlnciscanos na educa~ao brasilcira", in 1'.Iaria Stcphanou e IvIaria Helena Call1Zlra Bastos (orgs.), Historiase melllorias da educafiio lIO Brasil. v. 1: SeCIIlosXVI-XVIII, p. 93-107,

Page 22: História Da Educação - Capitulo 6

A 'p~uca;::l;orma<;ao que tern;.)s sobreas outras ordens deve-se a diversos mo-tivos. Lembramos que a Companhia deJesus deixou, abundante documenta<;ao,porque os padres deviam prestar eontasfrequentes aos seus superiores e suas car-tas permaneceram como registros impor-tantes, inclusive pela imprensa. Acresce 0

fato de que os jesuitas nao so atuavam nasmissocs, cOllverLcnc.!o os incligenas, mas.tambem nas cielaeles e junto aos engenhosde a~llCar, ocupando-se, portanto, com aeduca<;ao da elite. "

Enquanto isso,' as demais ordens reli-giosas nao preservaram da mesma formaa sua memoria. Entre elas, os franciscanosprocuravam "os povoaelos elependentes dacaridade elos filhosde Sao Francisco", commenor visibiliclade de sua atua<;ao. Alemelisso, privilegiavam os cursos das primeirasletras e s6 voltaram a aten<;ao ao ensino se-cunclario no seculo XVIII, apos a expulsao 'dos jesuitas.

Aeliantando um poucoo que veremos emoutros capitnlos, os franeiscanos tambem sededicaram ao ensino supcriOl~ fundando nosecnlo XVII urn convento ele altos estudosele teologia e filosofia, que antecipou a ins-titui~ao elos cursos superiores oeorriela. noseeulo seguinte.

POl' mais que tenham siclo admiraveisa coragem, 0 empenho e a boa-fe dessesmissionarios, hoje, a luz elos estudos de

2ntrq.J0lngia, e i~evitavel'adll1itir que adesintegra~ao cia eultura indigena inieioucom eles.

Lembrando os versos irreverentes de,Oswald de Andrade - em que 0 poeta la-'menta 0 fato de 0 deseobrimentodo Brasilnao tel' sido em urn dia de sol, para que os, . '].:indios despissem os portugueses -. os pa- '\dres vestiram literalmente os indios, paraque se cnvergonhassem da nudez. Tambemos "vestiram" simbolieamente de ;utros va-lores, de eultura diferente: impuseram-lhesoutra lingua, outro Deus, outra moral e ateoutra esU~tiea.

Convcm, no entanto, eonsiderar a· ad-verteneia feita na primeira parte destecapitulo, sobre a percep<;ao que os eu-ropeus tinham naquela cpoea sobre ospovos "selvagens" e 0 intuito dehomoge-neiza~ao que comandava todo processoedueaeional. Para eles, eivilizar os povosera fazer 0 possivel para iguala-los aos"melhores", pOl' isso desenvolveram um

. processo de sileneiamento das eulturas"estranhas".

Pela atua<;ao constante ate 0 seeuloXVIII, nao so entre os nativos, mas sobre-tudo na sociedaele colonial, poelemos dizerque os jesuitas imprimiram de modo mar-cante 0 ideario catolico na eoncep<;ao de.mundo dos brasileiros e eonsequentemen-te introduziram a traeli<;ao religiosa do en-sino que perdurou ate a Repllblica.

Voltaremos a analisar a influencia daCompanhia deJesus no capitulo 8, pOl' oea-siao de sua expulsao das ten'as brasileiras.

Hist6rio do Educo<;60 e do Pedagogia - Geral e Brasil

Page 23: História Da Educação - Capitulo 6

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1- A lei, que 1hes h~o-de dar, e defen-der-1hes come~ ca~~e h~mana e guer-rearsem licen<;:ado Governador; fazer-Ihes tel' uma so mulher, vestirem-se poistem muito algodao, ao menos depois decrist~LoS,tirar-1hes os fciticeiros, man-te-10s em justi<;:a entre si e para com oscristaos; faze-1os viver quietos sem semudarem para outra parte, (... ) tendoterras repartidas que 1hes bastem, ecom estes. Padres da Companhia paraos doutrinarem. (Trecho de uma cartado padre Nobrega, enviada a Lisboa em1558.)

2 - Padre Cardim, que foi rei tor doColCgio da Bahia, visitou varias missoesentre os a11,osde 1583 e 1590. Relataque, no comum das' aldeias, "ha esco-las de ler e escrevel~ aondc os padresensinam os meninos indios: e alguns,mais hibeis tambem ensinarri a con-tal~ cantar e tanger; tucIo tomam bem,e hi ji muitos que tangem flautas, vio-las, cravos e oficiam missas em cantod'orgao, coisas que os pais estimam

@ leitura complemenror_

[A maloca indigena]

No inicio do seculo XX, 0 monscnhorPedro lvIassa, missionario salcsiano quepartiCipou da catequiza<;:ao dos Tukano,clcscrcvc:

"Refiro-me <\ dcstrui~a() que, auxiliaclospOl' urn grupo de indios c de rapazes, pu-demos fazer da grande (20 x 4-0 metros) e

muito. Estes meninos falam portugues,cantam a noite a doutrina pelas ruas,e encomendam as almasdo purgato-rio". (Adaptado de Darcy Ribeiro.) .

3 - 0 colegio [dos jesuitas] estava,com efeito, situado numa socieda-.de religiosa, que se concretizava emhabitos e val ores, praticas e devo-<;:oes,institui<;:oes e organiza<;:ao. (. .. )Assim, toda a vida social era perme-ada de simbolismos cristaos, desde 0

nascimen to de uma crian<;:a, com 0

batizado, ate a morte, com 0 viatico,com confissao, un<;:ao dos enfermos,ben<;:ao do corpo na Igreja, enterroacompanhado do clero, com canti-cos e ora<;:oes, cemiterio religioso etc.As reparti<;:oes public as traziam 0 cru-cifixo ouimagens de santos. As ruasse encontravam oratorios. 0 calenda-rio era balizado pela liturgia. 0 clerotinha cIestaque em qualquer cerima.,.nia. As festas do lugar tinham a mar-ca religiosa, a procissao se fazendo 0ato de exibi<;:ao.social pOl' excelencia.o publico estavaimpregnado desagradoe a "Igreja" estava pOl' toda parte pre-sente. Uose lv1aria de Paiva)

velha maloca taracu,l (... ) Sabc V Rvma.que para 0 indio a maloca e cozinha, dor-mitc)rio, refeitorio, tcncla de trabalho, lugarde reuniao l1a csta~ao de chuvas e sala dedan<;:anas grancles solcnidades. E onde nas-ce, vive e morre 0 inclio; C 0 seu mundo ...A maloca c tambclll, como castumaV(l dizero zcloso clom Bazola, a 'casa clo cliabo', poisque ali se fazcm as orgias infcrnais, maqui-nam-sc as mais atrozcs vingan<;:ascontra osbrancos e contra outros indios: na malaca

Renoscimento: humonismo, Reformo e Contro-Reforma

Page 24: História Da Educação - Capitulo 6

-I!:'~~'i~....;·::/~:·:·;~\'::.} .I ~.;~ .'.,

\ . .": .\ ~. - ....

" 't:rar1sl1ljtem-~e ,OS V1CI0S de pais a fil~Lus..·.Ora.: bem:esse mundo do indio, essa casado diabo nao existe mais em Tarauca.: nosa desencantamos e substituimos"por umdiscret() numero de casinhas, cobertas defolhas de palmeira e com paredes de bar-roo Nao se mostraram descontentes os in-dios por causa do arrasamento da maloca:antes ficaram satisfeitos, reconhecendo agrande utilidade de cada familia ter suacasinha, seu lar, especialmente para evitaro contagio. Foi-se, pois, a maloca dos tu-canos!" .

Curt Nimuendajul5, etnologo que convi-veu com diversas tribos na mesma epoca,tambem descreve no relatorio para 0 Spp6(... ):

''As malocas sac em geral.rnuito bemconstruidas, suas cobertas oferecem inteiragarantia contra 0 mais violento aguaceiro;o chao e enxuto e limpo e de tarde reinaem sua penumbra uma frescura agradavel.As casinhas modernas, pelo contrario, saco mais das vezes quentes e mal acabadas.Quarito ao prejuizo que a convivencia dediversas familias na maloca dizem acarre-tar e 'simplesmente falso. Devido arigorosaexogamial7 nao existem relac;oes amorosasentre: os filhos de uma mesma maloca ...o principal motivo; porem, da aversao domissionario contra a habitac;ao coletiva eoutro; ve nela, e com tada razao, 0 simbo-10, 0 verdadeiro baluarte de organizaC;aoe tradic;ao primitiva, da cultura paga quetanto contraria seus planas de conversao,

~ iil~"':}jR~

·~jflde dominio -:-spiritual e sociaL A comu-'HI .nidade maloca e a unidade da primitiva:;~'organizac;ao semicomunista dessas tri- ':"bos. Levantada pelos esfon;os conjugados 1de seus habitantes, todos tern parte em~,sua posse, sujeitos, porem, a direc;ao pa-f .,triarcal do tuxauaI8.-Devido aoparentes- .~co de sangue e a estreita convivencia, o~tlac;o que une esta comunidade e muito fo1'- .\',te. A arquitetura da maloca esta inteira-,mente de acordocom 0 primitivo sistemaffamilial. e social. Ela se divide em cinco :;

"zonas (uma de cad a lade) pertencentesas divers as familias que nelas fazem seuscompartimentos, duas aos trabalhos co-muns e 0 espa~o grande do meio as ce-rim6niaspublicas religiosas e profanas.Na maloca condensa-se a cultura pro~pria do indio; tudo ali respira tradic;ao eindependencia e e por isso que elas temde cair".

Essas duas descric;oes da maloca dosTukano, nac;ao que hoje habita 0 alto dorio Dapes no Amazonas, representamduas visoes conrrarias. No entanto, essatribo praticamente ja abandonou esse tipode construc;ao, devido a reduc;ao de suapopulac;ao e a deso1'ganizaC;ao provOcadapela invasao de garimpeiros e minerado-res, principalmente a partir da decadade 70,

Katsue Hamada e Zenun e Valeria Maria AlvesAdissi, Ser indio hqje: a tensao territorial. 2. ed. SaoPaulo, Loyola, 1999, p, 70 e 71,

I:; Curt Nimuendaju (1883-1945), etnologo autodidata, nasceu na Alemanha e seu verdadeiro nome era KurtUnkcl.·Morou muito tempo entre os nativos e adotou 0 nome que em tupi-guarani signific:a "aqucle que fezseu proprio lar", " . '.. ..,. .to SPI: Servi~o de Prote~ao do Indio, orgao de defesa dos interesses iricligenas, substituido em 1967 peb F~1l1cla-</lO Nacional do Indio (Funai),Ii Exogamia - ex (fora}gamia (uniao): casamento com pessoas de forada tribo ou e11trefamilias diferentes.18 Tuxaua: ehefedefan'1ilia. .•........ .-,:-: -"'-''-~''~-~'- '-'.' ..... -.,.: .. :.-. "':'-»--; "~.'. . ....; .. ~.

...... :

Hist6rio do Educo~60 e doPedogogio - Gerol eBrosil

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1..Que interesses economicos e religio-sos da metr6pole justificam a coloniza-c;ao? Como a ac;ao catequetica dos je-suitas contribuiu para 0 alcance dessasmetas?

. 2. Por que a educac;ao nao e assuntoprioritario no Brasil colonial?

3. Por que os religiosos resolveramdesenvolver 0 tr?-balho de catequeseem missoes? Quais suas caracteristicasprincipais e os riscos da empreitada?

4. Que infiuencias os jesuitas exerce-ram sobre os colonos? E em que medi-da foram importantes para a constitui-

. "c;aoda c"ultura brasileira?

5. Com base no drop::s 3, responda asquestoes a seguir:

a) Explique qual era a relac;ao entrea Igreja e a sociedade em Portugal, noseculo XVI, e como essa ligac;ao se pro-longou ate recentemente no Brasil.

b) Discuta com seu grupo como aindahoje se colocam questoes desse tipo mes-mo nos Estados laicos: por exemplo, cru-cifixo em sala de aula de es20la publica,a polemica sobre a proibic;ao, na Franc;a,de mulheres arabes frequentarem aulascom 0 veu que cobre os cabelos etc.

6. Retome a segunda leitura comple-men tar (~erico Vespucio tinha ra-zao?" do capitulo I e responda as ques-toes a seguir:

a) Explique como a avaliac;ao deAmerico Vespucio era opiniao correntena Europa do seculo XVI.

b) Como poderiamos hoje, com osconhecimentos da etnologia contempo-dinea, contradizer 0 navegador?

7. Fac;a uma pesquisa para desenvolvera avaliac;ao critic a sobre 0 processo degenocidio e exterminio da cultura indi-gena. Sao possiveis linhas de trabalho:

• pesquisa em livros de hist6ria;• consulta de noticias recentes em

jornais e revistas sobre a politica indige-nista do governo;

• levantamento de estudos feitospor antrop6logos sobre 0 processo deacul turac;ao;

• analise de artigos de leis de prote-c;ao de povos indigenas.

Questoes sobre a Zeiturac01nplementar

1 • Compare os dois relatos, produzidosna mesma epoca, e indique suas discre-pancias.

2. Posicione-se pessoalmente sobre 0assunto.

Renascimento: humanismo, Reforma e Contra-Reforma