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um resumo sobre a Psiquiatria
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Breve história da Psiquiatria
No Brasil a assistência aos doentes mentais era muito precária. A maioria era tratada por
curandeiros de todos as matizes inclusive os padres jesuítas. Eram poucos os médicos formados e os
cirurgiões barbeiros, e para encontrá-los somente nos grandes centros e para os que possuíam
muitas posses. Não havia especialistas em psiquiatria, mas os hospitais da Irmandade da Santa Casa
abrigavam, mais que tratavam, os enfermos mais necessitados. Sem casa e sem recursos, os mais
pobres de todos não tinham onde cair mortos, ou seja, não tinham um túmulo em uma igreja onde
pudessem ser sepultados para fugir à vala comum. Os enterros "decentes" só começaram a ser feitos
fora das igrejas no século XIX. Os hospitais, até o século XVIII, confundiam-se com albergues para
pessoas doentes que não tivessem quem cuidasse delas. Os hospitais das Irmandades das Santas
Casas de Misericórdia acolhiam e albergavam esses doentes juntamente com indigentes, crianças
abandonadas e prisioneiros. É nesse espaço que se encontram os loucos, quano não vagam pelas
ruas ou – no caso dos ricos – são contidos pelas famílias. E no hospital ele está como em uma
prisão: trancado e até mesmo preso a um tronco de escravos. Não é considerado um doente; não
recebe tratamento; não tem médico ou enfermeiro específico; vive sem condições higiênicas. Pode
ser louco, mas ainda não é doente mental. O objetivo desses hospitais era retirar os loucos do
convívio social e a igreja influenciada pelos princípios de caridade pregados por Jesus acolhia essas
pessoas. Nesses asilos as pessoas com funções eclesiásticas detiam mais poder decisório que os
profissionais médicos.
Foi entre o fim do século XVIII e início do XIX, com o avanço do conhecimento científico e
da consciência social, que a medicina começou a tomar a forma atual. A Revolução Francesa, no
plano político, e os avanços científicos relacionados com a Revolução Industrial, no plano
econômico, foram as influências mais significativas desse processo. Foi quando a assistência aos
doentes mentais se tornou médica. Surgiu na França, com a reforma patrocinada por Pinel e
instituída por Esquirol, e que serviu de modelo para as transformações na assistência psiquiátrica de
todo o mundo ocidental. Foi quando a assistência aos doentes mentais se transformou em
responsabilidade médica e estatal. No Brasil, também foi aí que nasceu a assistência psiquiátrica
pública, já reformada segundo os valores da época.
O Brasil sofrera grandes transformações socioeconômicas e políticas. A corte portuguesa se
mudara apressadamente para o Rio de Janeiro, tangida pela invasão das tropas napoleônicas; o país
deixara de ser colônia e fora transformado em reino unido com Portugal e Algarve, o que
representou uma enorme promoção em seu status político. A abertura dos portos, o fim da proibição
de atividades econômicas e educacionais que havia caracterizado o regime colonial dera origem a
uma nova situação econômica, cultural e política. A Independência, a superação da monarquia
absoluta e a adesão ao liberalismo econômico marcaram esse momento e se refletiram em todos os
aspectos da vida nacional - inclusive na assistência psiquiátrica.
O início da urbanização, premissa e conseqüência dessa transformação, mudou a fisionomia
do Rio de Janeiro, de Ouro Preto e Salvador (únicas cidades brasileiras dignas de serem
consideradas "urbanizadas") e, por outro lado, criou, ampliou e expôs novos problemas sanitários.
Um deles dizia respeito aos enfermos psiquiátricos, que, se eram inoperantes nas pequenas
comunidades rurais, tornavam-se visíveis e perturbadores no meio urbano. Cuidar deles se
transformou em um ônus difícil de ser suportado até pelas famílias, tanto no plano objetivo como no
subjetivo.
Essa política orientou, em 1841, a criação, no Rio de Janeiro, do primeiro hospital
psiquiátrico brasileiro. Resultado de uma crítica higiênica e disciplinar às instituições de reclusão, o
Hospício de Pedro II significou a possibilidade de inserir, como doente mental, uma população que
começa-se a perceber como desviante nos dispositivos da medicina social nascente. De que forma?
Realizando os seguintes objetivos: isolar o louco da sociedade; organizar o espaço interno da
instituição, possibilitando uma distribuição regular e ordenada dos doentes; vigiá-los em todos os
momentos e em todos os lugares, através de uma “pirâmide de olhares” composta por médicos,
enfermeiros, serventes...; distribuir seu tempo, submetendo-os ao trabalho como principal norma
terapêutica. Terrível máquina de curar, que levou Esquirol a afirmar: no hospício o que cura é o
próprio hospício. Por sua estrutura e funcionamento, deve ser um operador de transformação dos
indivíduos. Em suma, é uma nova máquina de poder, resultado de uma luta médica e política que
impõe, cada vez com mais peso, a presença normalizadora da medicina como uma das
características essenciais da sociedade capitalista.
Mas o hospital psiquiátrico não está isento de críticas. Essas críticas, hoje ainda mais
virulenta, são importantíssimas para fazer pensar não só no fracasso real da psiquiatria como
instância terapêutica, mas, principalmente, na utilização da medicalização como principal forma de
tratamento. E também deve se lembrar de um problema comum que a hospitalização gerava: so se
entra em um hospício para não sair ou, na melhor das hipóteses, para logo depois voltar.
No plano da assistência pública direta, a tônica do enfrentamento desse problema residiu na
tentativa de ambulatorização do tratamento, a fim de diminuir a hospitalização. E atualmente as
tentativas são máximas para diminuir a medicalização (por meio de outros tipos de tratamento que
possuem uma visão mais subjetiva do ser) e favorecer a inclusão social de forma efetiva.
Referências bibliográficas:
● Miranda-Sá Jr., Luiz Salvador de Breve histórico da psiquiatria no Brasil: do período
colonial à atualidade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 2007, vol.29, n. 2, ISSN
0101-8108.
● Ministério da Saúde: Memória da Loucura. Caderno Centro Cultural da Saúde, Brasília:
2003.