Historia Das Comissoes de Etica_LN_2013

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  • Luclia Nunes | Conferncia de abertura, Reunio Nacional de Comisses de tica, Hospital da

    Luz | March 22, 2013

    Histria das Comisses de tica

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    Quando comea uma histria? Quando a ideia se esboa, quando os factos

    se realizam? Quando a planta desenhada ou quando a primeira pedra inicia

    um edifcio? Na verdade, as aes humanas, enquanto acontecem, parecem

    manifestaes desordenadas da vontade, muitas vezes sem regra aparente ou sem

    fio condutor. Contar uma histria requer que se encontre uma linha para a

    narrativa, ainda que essa possa ser uma linha cronolgica - pelo menos, pode

    conferir alguma ordenao e apresentar a sequncia temporal e, o que mais

    importante, as mudanas que foram ocorrendo e que permitem realmente tecer

    uma histria. E, no princpio, formular claramente o que se define.

    Tome-se como Comisso de tica uma estrutura - com vrias modalidades,

    de administrativa a ad hoc1 -, em que um grupo de pessoas, baseadas na

    multidisciplinariedade e no pluralismo, discute aspetos ticos em relao a

    assuntos concretos. Em 2005 e 2007, a UNESCO, publicou guias destinados s

    comisses de tica, e pergunta o que um "bioethics comitee?, os autores

    escrevem

    A bioethics committee is a committee that systematically and continually addresses

    the ethical dimensions of (a) the health sciences, (b) the life sciences and (c)

    innovative health policies. A bioethics committee is typically composed of a range of

    experts, is usually multidisciplinary and its members employ a variety of

    approaches to work toward the resolution of bioethical issues and problems,

    especially moral or bioethical dilemmas. Moreover, the members of these committees

    not only become more sensitive to ethical dilemmas but also, in time, develop the

    knowledge and skills required to deal more effectively with them, frequently finding

    ways to resolve what may at first appear to be intractable dilemmas2.

    De acordo com a atual tradio, tipicamente encontramos comisses de

    carcter nacional e em instncias locais (hospital, universidade, associao).

    1 exemplo a Comisso Warnock, UK, 1982-1984, que redigiu um relatrio sobre os problemas

    ticos das novas tecnologias de procriao humana, ou a National Comission for the Protection of Human Subjects and Behavioral Research, nos EUA, que produziu, entre 74 e 78, o Relatrio Belmont.

    2 Establishing Bioethics Committees, UNESCO 2005.

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    Em muitas realidades, encontramos duas vertentes ou duas formas: a

    comisso de tica da investigao, encarregada de avaliar protocolos cientficos, e a

    comisso de tica clnica, que tem como objeto a consulta, a elaborao de polticas

    ou a formao. Destes dois tipos, as de tica clnica so mais recentes. Associam-se

    igualmente nossa histria as figuras de comisso nacional, de estrutura

    permanente, tendo sido a Frana3 o primeiro pas a criar o CCNE - Comit

    Consultatif National d'Ethique (1983) - que em Portugal o CNECV, bem como a

    figura da comisso nacional de investigao clnica.

    Assim, houve um tempo em que no havia comisses de tica. At meados

    do sculo XX, em termos concretos - ainda que tivessem existido algumas

    iniciativas nacionais, como na Prssia4 e na Alemanha5, relativas a regras restritivas

    de investigao em seres humanos mas que, a ajuizar pela histria, foram

    realmente ignoradas. O Processo de Nuremberg, em 1947, marca - diria,

    brutalmente - a conscincia que era necessrio criar normas ticas a nvel

    internacional.

    O Cdigo de Nuremberg determinou dez principios e marcou a afirmao

    do referencial tico da autonomia, tornando obrigatria a obteno do

    consentimento do sujeito da pesquisa, considerado "absolutamente essencial".

    Mais, desde ento se afirma que a investigao deve ser vantajosa para a sociedade

    e realizada se no puderem encontrar-se resultados de outra forma; mais se afirma

    3 Cf. HOTTOIS, Gilbert PARIZEAU, Marie-Helne - Dicionrio de Biotica. Instituto Piaget, 1998

    4 Em 1901, devido ao impacto duma experincia conduzida por um microbiologista que injetava soro de doentes sifilticos em prostitutas no contaminadas, visando descobrir uma vacina contra a sfilis, o Ministrio para Assuntos Religiosos, Educacionais e Mdicos da Prssia divulgou um documento contendo regras restritivas em pesquisas envolvendo humanos. A maior restrio era a proibio de realizar experincias sem a devida informao ou autorizao expressa das pessoas ou (no caso dos menores e doentes mentais) dos representantes legais.

    5 Em 1931 foi divulgado pelo Ministrio do Interior da Alemanha um conjunto de orientaes chamado Novas Teraputicas e Pesquisas em Seres humanos - alm de ratificar as exigncias anteriores, fez a distino entre procedimentos teraputicos (como a modalidade utilizada no processo de cura) e no teraputicos (definido como experincias clnicas sem fins teraputicos); reforou a necessidade de respeitar a manifestao da vontade dos sujeitos de pesquisa.

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    o princpio do mnimo sofrimento, a necessidade de qualificao para os que

    conduzem investigao e a liberdade de retirada dos sujeitos do estudo.

    Em 1948, foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU a Declarao Universal

    dos Direitos Humanos e, em

    1964, pela Associao Mdica

    Mundial (AMM) a Declarao

    de Helsinquia, especialmente

    centrada na investigao

    biomdica e os deveres dos

    mdicos na investigao.

    Esta foi j designada

    como a poca do primado da

    auto-regulao na

    investigao clnica. Reconheceu-se a necessidade de definir padres ticos,

    muito no rescaldo de uma conscincia ps-Nuremberg. E parecia entender-se que

    documentos como o Cdigo de Nuremberg (1947) ou a Declarao de Helsnquia

    (1964) seriam o bastante. Alis, esta Declarao j teve, at hoje, seis revises6,

    sendo atualizada periodicamente - nela se afirmaram os fundamentos ticos da

    liberdade do ser humano, do respeito pela pessoa com a salvaguarda da sua

    integridade fsica e psquica, da justia, da procura do bem e a eliminao de

    riscos desnecessrios na procura da melhor soluo para o sofrimento bem como

    as Comisses de tica e sua constituio.

    Verificar-se- que at hoje nenhum normativo se mostrou suficientemente

    poderoso ou capaz para garantir plenamente a proteo dos participantes em

    estudos de investigao. Isto porque com alguma periodicidade foram surgindo

    relatos de violaes dos padres ticos - cite-se, por exemplo, a famosa polmica

    6 Assembleia da Associao Mdica Mundial, revises da Declarao de Helsnquia em 1975, em 1983, em 1989, em 1996, em 2000 e em 2008.

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    sobre os ensaios clnicos da Talidomida, nos anos 60; o artigo de Henry Beecher no

    The New England Journal of Medicine que apresentou a compilao de 50 ensaios

    clnicos, dos quais 22 eram consideradas eticamente questionveis7 ou o famoso

    estudo de Tuskegee8, "descoberto" em 1972 quando o New York Times o publicou.

    "Estes factos demonstraram, inequivocamente, que a cincia, os cientistas,

    os investigadores, as instituies que financiavam e promoviam a

    investigao (muitas delas, instituies governamentais), a deontologia

    profissional e as normas ticas internacionais, no foram suficientes para

    acautelar e garantir a proteco dos direitos dos cidados, enquanto

    participantes na investigao. Tornava-se evidente a necessidade de se

    dispor de organismos independentes que assegurassem a apreciao dos

    protocolos e a monitorizao independente da investigao clnica com

    seres humanos." 9

    na sequncia da publicao do estudo Tuskegee, que o governo americano

    nomeou uma comisso nacional destinada a definir orientaes relativas aos

    preceitos ticos a que deveria obedecer a investigao clnica. E uma das decises

    foi exatamente a obrigao dos projectos de investigao clnica serem objecto de

    aprovao prvia por uma Comisso de tica10.

    Em 1979, a National Comission for the Protection of Human Subjects and

    Behavioral Research publicou um conjunto de recomendaes que ficaram 7 uma vez que envolviam pessoas em condies de vulnerabilidade como idosos, crianas, doentes psiquitricos e outras pessoas incapazes de manifestar o seu consentimento

    8 Um extenso relato de um estudo sobre a histria da sfilis, desenvolvido na populao negra de Tuskegee, uma aldeia do estado de Alabama; iniciado em 1932 pelo servio de sade pblica dos Estados Unidos da Amrica, e que decorreu durante quarenta anos. Durante todo esse tempo, os doentes no foram informados dos objectivos do estudo e foram deliberadamente enganados, tendo-lhes sido dito que estariam a ser sujeitos a tratamentos para a sfilis, quando na realidade no o foram, nem nunca os investigadores se propuseram administrar-lhes tratamento adequado, mesmo depois de ter sido demonstrada a eficcia da penicilina no tratamento.

    9 "Redes de Comisses de tica para a Investigao Clnica". Texto Base e Coordenao Antnio Faria Vaz. Co-autoria Maria Alexandra Ribeiro, Nuno Miranda, Regina Corado, Rosalvo Almeida, Conceio Martins, Nlia Gouveia. In I Jornadas Comisso de tica para a Investigao Clnica, 2010. p. 15. http://www.ceic.pt

    10 A partir deste momento j no se considera suficiente a avaliao do promotor/investigador como critrio de apreciao da bondade tica e cientfica da investigao, mas antes, pelo contrrio as Comisses de tica passam a ter a responsabilidade de avaliarem: 1) o bem-estar e os direitos dos participantes; 2) a pertinncia e a forma de obteno do consentimento informado; 3) a relao risco/benefcio.

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    conhecidas como Relatrio Belmont e que serviram de base reviso do

    enquadramento legal e normativo da investigao clnica, nos Estados Unidos.

    Pelo final da dcada de

    70, o Conselho das

    Organizaes

    Internacionais das

    Cincias Mdicas

    (CIOMS) decidiu

    elaborar um

    documento sobre

    investigao biomdica

    - em 1982, o CIOMS

    publicou as Propostas

    de Normas/Directivas

    ticas Internacionais Biomdicas em seres humanos, destinada a

    "indicar o modo como os princpios ticos que deveriam orientar a conduta

    da investigao mdica com seres humanos, estabelecidos pela declarao

    de Helsnquia, podiam ser aplicados de forma efectiva, em especial nos

    pases em vias de desenvolvimento, atentos s suas circunstncias

    socioeconmicas, s suas leis e normas, assim como s suas disposies

    executivas e administrativas11.

    As Normas CIOMS12, quer as publicadas em 1982, quer a sua posterior

    reviso de 1993 e de 2002, dedicam dois captulos reviso tica da investigao

    clnica e ao papel das Comisses de tica da Investigao.

    11 Redes de Comisses de tica para a Investigao Clnica, ob cit., p. 17.

    12 "A Norma n 2, relativa apreciao tica dos protocolos de investigao, refere a necessidade de todos os estudos de investigao que envolvam seres humanos deverem ser submetidos apreciao de uma ou mais comisses de avaliao cientfica e de avaliao tica no sentido de apreciar o seu mrito cientfico e a sua aceitabilidade tica. Refere ainda que tais comisses devem ser independentes da equipa de investigao e que o resultado da sua avaliao no pode estar dependente de qualquer benefcio directo, financeiro ou material que possa ser obtido com essa investigao. Afirma-se ainda que a Comisso de tica deve monitorizar adequadamente o

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    Ao referir estas normas, Laureano dos Santos afirma que "constituem o

    conjunto de regras basilares do consentimento informado no mbito da

    investigao biomdica"13.

    Data da dcada de 60, ainda, a primeira recomendao, de que todos os

    protocolos de investigao clnica sejam sujeitos a uma prvia aprovao por uma

    Comisso de tica o que veio a originar as comisses de reviso institucionais

    (Institutional Review Boards) nos Estados Unidos. E, afirmam alguns autores,

    tambm as Comisses de tica para a Sade ou as Comisses de tica da

    Investigao Clnica na Europa, e noutros Pases. Estvamos claramente na poca

    da reviso tica independente.

    A Conveno de Oviedo, designao breve para Conveno para a

    Proteco dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano Relativa s

    Aplicaes da Biologia e da Medicina ou ainda Conveno dos Direitos do Homem

    e da Biomedicina, constitui o conjunto de regras nucleares da boa prtica clnica

    na atualidade. Foi adoptada pelo Comit de Ministros do Conselho da Europa em

    19 de Novembro de 1996 e assinada em Oviedo a 1 de Abril de 1997,

    "Tem cinco textos complementares: ao texto bsico foram acrescentados um

    protocolo adicional sobre a clonagem humana e outro sobre o embrio e o

    progresso dessa investigao e sempre que necessrio realizar avaliaes complementares. No comentrio a esta Norma so explicitados os componentes e os critrios dessa avaliao. A apreciao cientfica, a apreciao tica, o consentimento em situaes de emergncia, a apreciao por comisses nacionais ou locais, a composio e as regras de funcionamento das comisses de tica, os ensaios multicntricos e o regime sancionatrio, so alguns dos componentes que merecem desenvolvimento e explicitao. Quanto Norma n 3 diz respeito avaliao tica da investigao, patrocinada/promovida externamente. Neste caso preconiza-se que os investigadores e os promotores submetam o protocolo apreciao tica do pas promotor. Os padres ticos no devero ser menos exigentes que os desse pas. As autoridades de Sade do pas anfitrio e a Comisso de tica nacional, ou local, devem garantir que a investigao proposta corresponde s necessidades e prioridades de sade do pas anfitrio, e que cumpra os critrios ticos necessrios." Idem, p.17.

    13 Laureano dos Santos, Alexandre - A Importncia da tica na Investigao. Rev Port Cardiol 2004; 23 (4) : 627-644. In http://www.spc.pt/DL/RPC/artigos/300.pdf

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    feto humanos. Viro acrescentar-se outros protocolos especiais sobre

    gentica, as transplantaes e a pesquisa biomdica."14

    tem como princpios fundamentais o primado da dignidade do ser humano, o interesse

    pelo desenvolvimento do conhecimento e da cincia.~

    Alis, nela se afirma o primado do ser humano, ou seja, que "o interesse e o bem-

    estar do ser humano devem prevalecer sobre o interesse nico da sociedade ou da cincia"

    (Artigo 2); que "qualquer interveno na rea da sade, incluindo a investigao, deve ser

    efectuada na observncia das normas e obrigaes profissionais, bem como das regras de

    conduta aplicveis ao caso concreto" (Artigo 4). no texto da Conveno de Oviedo,

    ratificado por Portugal em 2001, que se encontra firmemente estabelecida a regra geral,

    que

    "qualquer interveno no domnio da sade s pode ser efectuada aps ter sido

    prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e esclarecido. Esta

    pessoa deve receber previamente a informao adequada quanto ao objectivo e

    natureza da interveno, bem como s suas consequncias e riscos.A pessoa em

    questo pode, em qualquer momento, revogar livremente o seu consentimento."

    E existem artigos de proteco das pessoas que caream de capacidade para prestar

    o seu consentimento, de proteco das pessoas que sofram de perturbao mental, de

    situaes de urgncia e da vontade anteriormente manifestada. Existe um conjunto de

    artigos dedicados investigao cientfica e da proteco das pessoas que se prestam a

    uma investigao bem como das que caream de capacidade para consentir numa

    investigao.

    Em 2005, a UNESCO aprovou a Declarao Universal sobre Biotica e

    Direitos Humanos, dois anos depois da resoluo da 32 sesso da Conferncia

    Geral - que considerou

    "oportuno e desejvel fixar padres universais no campo da biotica no que

    diz respeito dignidade, aos direitos e s liberdades humanas, no esprito do

    pluralismo cultural inerente biotica, e convidava o diretor-geral da

    14

    Laureano dos Santos, ob cit, p. 634.

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    Unesco a preparar uma declarao de normas universais em biotica a ser

    submetida apreciao na 33 sesso"15.

    A Declarao sobre

    Biotica e Direitos

    Humanos tem um

    artigo dedicado s

    Comisses/Comits de

    tica, artigo 19:

    Devem ser

    criados, encorajados e

    adequadamente

    apoiados comits de

    tica independentes, multidisciplinares e pluralistas, com vista a:

    (a) avaliar os problemas ticos, jurdicos, cientficos e sociais relevantes no

    que se refere aos projectos de investigao envolvendo seres humanos;

    (b) dar pareceres sobre os problemas ticos que se levantam em contextos

    clnicos;

    (c) avaliar os progressos cientficos e tecnolgicos, formular recomendaes

    e contribuir para a elaborao de princpios normativos sobre as questes

    do mbito da presente Declarao;

    (d) promover o debate, a educao e bem assim a sensibilizao e a

    mobilizao do pblico em matria de biotica.

    Consideremos que o sentido de proteco dos direitos humanos comeou por

    ser geral, amplo - no que viria a ser designado com a 1 gerao dos direitos,

    direcionada s liberdade pblicas e direitos polticos - marco inicial a Declarao

    dos Direitos do Homem e do Cidado (1789, Frana).

    15

    Cruz, Mrcio Rojas; Oliveira, Solange de Lima Torres; Portillo, Jorge Alberto Cordn - A Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos contribuies ao Estado brasileiro. In Revista Biotica 2010; 18 (1): 93 - 107. (citao p. 97) Disponvel em http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/538/524

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    Depois, na 2 gerao, os

    direitos sociais, econmicos e

    culturais. Na 3 gerao, os

    direitos tambm conhecidos por

    direitos de fraternidade (como

    afirmou Karel Vasak) ou de

    solidariedade (como preferiu

    Etiene MBaya) de grupos

    especficos considerados mais

    vulnerveis. Estes incluem os direitos das crianas, dos moribundos, dos doentes

    mentais, das mulheres. Releva-se o mais recente documento da UNESCO; de

    Janeiro de 2013, referente ao Princpio da Vulnerabilidade Humana e Integridade

    Pessoal16.

    olhemos agora para a nossa realidade de Comisses de tica...

    Water Osswald afirmou, que

    "importa lembrar o facto das CE no terem nascido do

    voluntarismo do legislador nem de resolues tomadas por academias ou

    outras sbias instituies: as CE nasceram de iniciativas pontuais e

    espontneas, como resposta a vrios problemas"

    que o autor resume como sendo:

    1. a perda da inocncia do investigador clnico;

    2. a elaborao de cdigos internacionais relativos experimentao no homem",

    16

    Report of the international bioethics committee of UNESCO on the principle of respect for human vulnerability and personal integrity. http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002194/219494e.pdf

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    3. "os notveis avanos verificados nas cincias biolgicas" que obrigam a uma

    reflexo aprofundada das questes ticas, ultrapassando a capacidade de um

    indivduo, e exige a concentrao de inteligncias e esforos17.

    Dada a espontaneidade da formao das CE, no admirar que algumas j

    existissem quando os documentos legais (em cada pas) foram publicados. o caso

    de Portugal, onde as primeiras comisses de tica surgiram na dcada de 90 do

    sculo passado18 e o decreto-lei de criao data de 1995.

    Todavia, noutra perspetiva, a gnese das CES pode tambm dever-se, como

    M Cu Patro Neves menciona, presso da indstria farmacutica que exige que

    os protocolos a assinar tenham o parecer da Comisso de tica. Afirmando, ainda,

    esta autora, que foi precisamente este tipo de exigncia que determinou a criao

    da grande maioria das Comisses de tica em Portugal19, ou seja, as CES surgiram

    no tanto por uma necessidade sentida no interior da unidade de cuidados de

    sade, mas por presso vinda do exterior; no tanto por uma urgncia tica, mas

    por uma necessidade legal.

    reconhecido que

    a importncia das Comisses de tica, nomeadamente nos hospitais centrais

    universitrios, onde se realiza intensa investigao cientfica, ficou a dever-se

    tambm ao impulso dado pela indstria farmacutica. Na ptica empresarial, a

    existncia de pareceres de natureza tica em particular, a verificao

    sistemtica da obteno de consentimento informado, livre e esclarecido, na

    forma escrita observada como uma proteco adicional face problemtica

    emergente da responsabilidade civil por danos20

    17

    Osswald W. Comisses de tica: uma reflexo sobre a sua justificao.In : Neves MC, coord. Comisses de tica: das bases tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta Delgada: Centros de Estudos de Biotica / Plo dos Aores. 2002: p. 125.

    18 Correia Jnior. MEMR. Comisso de tica do Hospital de Santa Cruz em Comisses de tica, II seminrio do Conselho Nacional de tica para as Cincias da Vida, Coleco Biotica, Lisboa, 1996, pg:129-133.

    19 Neves MCP. As Comisses de tica Hospitalares e a Institucionalizao da Biotica em Portugal. Revista de Biotica. Vol 3 (1) , p.3.

    20 Neves MCP. As Comisses de tica Hospitalares e a Institucionalizao da Biotica em Portugal. Revista de Biotica. Vol 3 (1) pg, em Nunes R, Romozinho I, Rego G. e outros. Inqurito nacional

  • PAGE 11

    Segundo Maria de Belm Roseira,

    em Portugal as Comisses de tica para a Sade (CES) surgiram mais por

    imperativo do respeito por regras e normas impostas do exterior refiro-me

    expressamente a protocolos relativos a ensaios teraputicos do que como

    emanao das organizaes prestadoras de cuidados, enquanto entidades onde se

    sentisse a necessidade de questionar o modo e a forma como estes cuidados so

    prestados21

    Esta realidade teve alis reflexo a nvel jurdico, como afirma Maria do Cu

    Patro Neves, ao

    salientar que o que

    determinou o

    estabelecimento

    obrigatrio de uma

    CES em todas as

    instituies de sade

    foi a publicao do

    Decreto-Lei n97/94,

    de 9 Abril, sobre

    ensaios clnicos que

    determinava o cumprimento imperativo desse quesito.

    A primeira Comisso de tica hospitalar teria sido a dos Hospitais da

    Universidade de Coimbra em julho de 1986, a que se seguiriam as do Hospital de

    Santa Cruz, Hospital Santa Maria, do Hospital de So Joo e o Instituto Portugus

    de Oncologia em Lisboa. Todas estas instituies hospitalares constituem grandes

    s comisses de tica para a sade.In : Neves MC, coord. Comisses de tica: das bases tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta Delgada: Centros de Estudos de Biotica / Plo dos Aores. 2002: p. 180-206.

    21 Roseira, MB. Perspectiva de um gestor hospitalar. In : Comisses de tica II Seminrio da CNECV. Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1996:145-148 citado em Osswald W. Avaliao tica de ensaios clnicos. In : Neves MC, coord. Comisses de tica: das bases tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta Delgada: Centros de Estudos de Biotica / Plo dos Aores. 2002: p. 166.

  • PAGE 12

    centros hospitalares com intensa actividade clnica assistencial, actividade de

    investigao e, no menos importante, actividade acadmica.

    Como

    afirma Maria do

    Cu Patro

    Neves,

    "absolutamente

    necessria e

    indispensvel a

    criao de

    espaos de

    discusso de

    dimenso

    comunitria em

    que se atenda

    peculiaridade que os problemas assumem nessa unidade social e que privilegiem e

    preservem os valores dessa mesma comunidade. Deve-se, por isso, progredir no

    sentido da institucionalizao da reflexo tica".

    Esta institucionalizao tem, na sua histria, um desenvolvimento prximo

    entre Centros de reflexo e Comisses de tica.

    "Em Portugal, o Centro de Estudos de Biotica foi a primeira instituio

    dedicada reflexo Biotica. Criado em 1988, em Coimbra", faz parte da Unio

    Europia dos Centros de Biotica, desde 1991.

    Em janeiro de 1989, na revista Gesto Hospitalar, Daniel Serro lanava o

    alerta para a necessidade de comisses de tica. Curiosamente, o mesmo autor,

    voltou ao assunto com "Comisses de tica - o desafio metodolgico"22, em 2008.

    22

    Comisses de tica o Desafio Metodolgico. In Nascer e Crescer 2008; revista do hospital de crianas maria pia ano 2008, vol XVII, n. 4. 17(4): 249-252

  • PAGE 13

    Tendo constitudo e coordenado a CES do Hospital de S. Joo, em 1990,

    considerava que as "Comisses de tica Assistencial", na linha de desenvolvimento

    dos "Institutional Ethics Committees" que surgiram inicialmente nos Estados

    Unidos com o intuito primordial de procurar resolver os conflitos ticos oferecidos

    pela assistncia hospitalar. Em Portugal no existiam "Comisses ticas de

    Investigao Clnica", ou correspondentes aos denominados "Institutional Review

    Boards" norte-americanos dedicados principalmente proteo das pessoas

    envolvidas em fases de experimentao de um projeto de pesquisa". As designadas

    Comisses de

    tica Assistencial

    acumulam ambas

    as funes, em

    Portugal, at

    instalao da

    CEIC, em 2005.

    Em 1990 foi

    criado o

    Conselho

    Nacional de

    tica para as Cincias da Vida23, como rgo independente funcionando junto

    Presidncia do Conselho de Ministros. De entre os Seminrios que o CNECV

    realizou, releva-se o de maro de 1994, dedicado s Comisses de tica

    Hospitalares.

    23

    composto por sete personalidades de reconhecido mrito da rea das cincias humanas e sociais que tenham demonstrado especial interesse pelos problemas ticos; sete personalidades de reconhecido mrito em reas da medicina ou da biologia com implicaes de ordem tica; seis personalidades de reconhecida qualidade tcnica e idoneidade moral, tendo em conta as principais correntes ticas e religiosas, designadas pelo Primeiro Ministro, diversos Ministrios, Assemblia da Repblica, Ordem dos Mdicos e Ordem dos Advogados, Instituies de Cincia e Cultura.

  • PAGE 14

    A legislao relativa s Comisses de tica s veio a ser regulamentada um

    ano depois, atravs do Decreto-Lei n. 97/95, de 10 de Maio. E, como sabido,

    considerou apenas os hospitais, deixando de fora a realidade dos Cuidados de

    Sade Primrios, Centros de Sade e ARS. A constituio das CES, a designao

    dos seus elementos, as suas funes e objectivos foram fixados neste decreto-lei e

    todas as comisses adoptaram um modelo misto de constituio ao combinarem

    competncias assistenciais e de investigao. No domnio da investigao e, em

    particular no que respeitava aos ensaios clnicos (com medicamentos e dispositivos

    mdicos), os pareceres eram vinculativos e obrigatrios. Os outros pareceres, de

    investigao ou assistenciais, eram e so consultivos.

    At

    criao,

    implementao

    e entrada em

    pleno

    funcionamento

    da Comisso de

    tica para a

    Investigao

    Clnica (CEIC)

    em 2005 a

    actividade das

    CES estava particularmente centrada na avaliao da investigao clnica e, em

    particular, na emisso de pareceres relativos a protocolos de ensaios clnicos.

    A concretizao24 e a transposio25 da Diretiva n. 2001/20/CE, do

    Parlamento Europeu e do Conselho, relativa aproximao das disposies

    24

    "O processo legislativo europeu para a concretizao da directiva europeia de boas prticas clnicas foi, segundo especialistas da rea, um processo relativamente prolongado que se iniciou em 1997 com a proposta da Comisso Europeia ao Conselho relativa s boas prticas clnicas. Esta,

  • PAGE 15

    legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados Membros respeitantes

    aplicao das boas prticas clnicas na conduo dos ensaios clnicos de

    medicamentos de uso humano, aconteceu com a Lei n. 46/2004, de 19 de Agosto e

    alterou o cenrio nacional. A Comisso de tica para a Investigao Clnica (CEIC)

    uma emanao desta lei, e assumiu os atributos definidos pela Directiva para

    uma Comisso de tica, isto ,

    um organismo independente, dotado de independncia tcnica e

    cientfica, constitudo por profissionais de sade, e outros, incumbido de

    assegurar a proteco dos direitos, da segurana, do bem-estar dos

    participantes nos ensaios clnicos, e de garantir a mesma junto do pblico, a

    quem compete, em regra, emitir o parecer nico.

    Importa ter em conta, quanto reflexo, produo e enquadramento jurdico

    nacional que no existe um referencial nacional mas vrios documentos, mais

    ou menos dispersos, que se referem proteco das pessoas, nomeadamente em

    contexto de sade e de investigao (Cf. Apndice 1 - Tbua cronolgica e

    documental).

    procurava conciliar os termos de realizao e conduo dos ensaiosclnicos com medicamento de uso humano, como referido na Directiva n.65/65/CEE, garantir o mesmo nvel de proteco dos doentes, harmonizar os padres cientficos e racionalizar os procedimentos documentais e administrativos relativos aos ensaios multicntricos de acordo com a Directiva n.75/318/CEE. O Comit Econmico e Social emitiu o seu Parecer em 30 de Maro de 1998 relativo proposta de Directiva, justificando, na sua introduo, a necessidade de se proceder sua publicao, na procura de se ordenar os procedimentos relativos ao incio do ensaio, pela aplicao das normas de orientao da conferncia internacional de harmonizao, de se uniformizar a sua aplicao a nvel europeu, de se reduzir a carga burocrtica. A Directiva n. 2001/20, de 4 de Abril teve um processo longo de gestao e aprovao. J agora, uma pequena nota: o processo de discusso e aprovao no seio do grupo de trabalho do Conselho foi concludo no momento em que Portugal detinha a Presidncia da Unio Europeia. A Directiva foi publicada no dia 4 de Abril de 2001, foi publicada no Jornal Oficial das Comunidades Europeias no dia 1 de Maio de 2001." Redes de Comisses de tica para a Investigao Clnica. In I Jornadas Comisso de tica para a Investigao Clnica, 2010. p. 15. http://www.ceic.pt

    25 "O processo de transposio da Directiva foi complexo e moroso, na medida em que inicialmente se previa a sua transposio atravs de um Decreto-Lei do Governo. Todavia, e dado o facto do diploma em questo conter matria de direitos, liberdades e garantias, a Directiva foi objecto de transposio de Lei da Assembleia da Repblica, a Lei n. 46/2004, de 19 de Agosto. De salientar que a Lei foi aprovada por unanimidade no Plenrio da Assembleia da Repblica." Idem

  • PAGE 16

    E, mais delicado, uma Comisso tem a designao de Investigao Clnica

    quando deveria ser mais claro que a sua esfera de intervemo so os ensaios

    clnicos.

    Que dados temos, por estudos realizados, sobre as nossas Comisses

    de tica para a Sade?

    A literatura apresenta, data, 4 fontes de dados, merc dos inquritos sobre

    as Comisses de tica:

    (1) Dados apresentados no Seminrio sobre Comisses de tica (maro,

    1994), pela equipa de Queirz e Melo- poca, confirmadas 47 CES;

    (2) Inqurito nacional, Rui Nunes, 2001, publicado no livro das Comisses de

    tica - 99 inquritos, 70 responderam - pelo menos 70,7% dos hospitais

    portugueses pertencentes ao SNS;

    (3) Tese de Mestrado em Biotica, Aida Pardal, 2006 - 93 questionrios a

    todos os Hospitais do SNS (dados fornecidos pela Direco Geral da Sade) - 51

    retornaram - 49 preenchidos + 1 sem CES e outro com CES a constituir-se;

    (4) Inqurito nacional s Comisses de tica Hospitalar, pela DGS, 2008 -

    identificadas 68 CES em

    funcionamento (98,5%

    do total inquirido) sendo

    que quatro estavam em

    reestruturao ou

    inoperacionais.

    Comparando os

    dados, na sua evoluo,

    escolhemos apresentar

    os da tese de Aida

    Pardal, 2006, ainda que os dados antes e depois possam ser de comparao.

  • PAGE 17

    Em 2006, a maioria das CES composta por sete membros (79,6%), com mdia de

    49 anos de idade, predomina ligeiramente o sexo feminino (53,3%), nas atividades

    profisisonais, a distribuio apresenta mdicos (36,6%), enfermeiros (16,8%) e

    farmacuticos (12,4%) nas primeiras trs posies; a CES rene regularmente e

    concentra a maior parte da atividade na investigao. Dos membros, a maioria

    (69,2%) no tem formao especfica em biotica.

    dados apresentados no Seminrio sobre Comisses de

    tica (maro, 1994), Queirz e Melo

    Tese Mestrado em Biotica Aida Pardal,

    200626

    inqurito nacional s Comisses de tica Hospitalar, pela DGS, 2008

    as 47 Comisses de tica uma mdia de 7 membros cada, num mximo de 11 e num mnimo de trs

    79,6%, composta por sete 10,2%, por seis membros 4,1%, com cinco e oito e 2% uma CES com nove total de membros de 338 dos quais 53,3% (n=180) do sexo feminino

    mdia das idades entre os 40-60 anos

    2,34% dos indivduos com idade inferior a trinta anos mdia 49 anos

    77% mdicos 10%nfermeiras 8%os religiosos 5% profissionais de formao jurdica 5% assistentes sociais

    36,69% mdicos, 16,86% enfermeiros, 12,43% farmacuticos, 10,95% juristas, 7,99% telogos, 3,85% psiclogos, 2,66% socilogos 5,9% assistentes sociais 2,6% outras profisses de reas das cincias sociais e humanas

    proporo de tempo dedicada investigao clnica, em 48 das 68 CES envolvidas no estudo de 90,6%

    89% realizam reunies

    32% reune com regularidade

    82,8% reune

    regularmente

    71,7% reune mensalmente

    78% das Comisses concentra atividade na redao de pareceres; 33% desenvolvem outras atividades

    dos 338 membros, 104 (30,8%) tem formao especfica na rea (3.55 % grau de mestrado; 6,2% ps-graduao; 15,4% cursos de formao) e 69,2%, no tem formao em Biotica

    31,2 % das CES tm pelo menos 1 membro com formao em biotica e 68,8% dos membros das CES no tm formao em biotica

    27% dos pareceres emitidos pelas CES so de sua iniciativa

    26

    http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1044/1/3676_comissoes.pdf

  • PAGE 18

    A histria das CES de apoio prtica clnica, e, medida em que o seu

    desempenho se torne mais diversificado, essa necessidade tender a aumentar.

    Especialmente em Portugal, depois da criao da CEIC, pois que a este competem

    os ensaios clnicos e toda a outra investigao clnica (observacionais, com

    dispositivos, acadmica) se encontra na competncia das CES.

    Redes de Comisses de tica - Redtica

    Foram dados, em 2012, os primeiros passos para a constituio de uma rede

    de CES, de nvel nacional, iniciada por reunies e trocas de mensagens de correio

    electrnico, entre as comisses de tica hospitalares, das ARS e das instituies de

    ensino superior. Muitos pontos comuns se identificam e caminha-se para uma

    perspetiva de colocar sob a mesma designao as Comisses de tica, sejam em

    contexto hospitalar, de cuidados de sade primrios, nas instituies de ensino

    superior.

  • PAGE 19

    As Comisses de tica constituem-se como espaos de reflexo individual e

    coletiva que pretendem iluminar as vertentes ticas das questes que lhes sejam

    postas, dos problemas que lhes sejam submetidos ou dos que considerem abordar.

    A pluralidade da sua composio assegura que a reflexo e o debate ticos

    no sero afunilados numa s direco. Pela sua independncia em relao a todos

    os poderes o da gesto hospitalar, o poder dos profissionais, o poder poltico em

    geral e as influncias sociais e religiosas uma Comisso de tica pode

    efetivamente desenvolver a sua atividade de forma livre.

    Na histria das Comisses de tica convivem a necessidade e a exigncia

    formal, um espao plural de procura coletiva pelas melhores solues, respeitando

    a dignidade e a integridade das pessoas e procurando suportar as decises dos

    profissionais ou a instituio, em matrias ticas, potenciando-se atualmente a

    mediao tica.

  • PAGE 20

    Apndice 1

    Tbua cronolgica geral

    ano Assunto/Entidade Documento

    1947 Necessidade de definir um padro tico - conscincia

    ps Nuremberg

    Cdigo de Nuremberg

    1948 Assembleia Geral da ONU Declarao Universal dos Direitos

    Humanos

    1964 Associao Mdica Mundial (criada em 1947) -

    Comisso de tica da AMM: presidida por Hugg Clegg

    Declarao de Helsnquia - "a

    norma de referncia tica na

    investigao Clnica"

    Artigo de Henry Beecher sobre a compilao de 50

    ensaios clnicos

    The New England Journal of

    Medicine

    1972 Estudo de Tuskegee Jornal - New York Times

    1979 National Commission for the Protection of Human

    Subjects and Behavioral Research

    Relatrio Belmont

    1982 Conselho das Organizaes Internacionais das Cincias

    Mdicas (CIOMS) divulga a Propostas de Normas/

    Directivas ticas Internacionais Biomdicas em seres

    humanos

    Normas CIOMS

    publicadas em 1982

    reviso 1993 e 2002

    1986 Primeira Comisso de tica em Portugal, Universidade

    de Coimbra

    1989 Alterao da estrutura e a misso das comisses de

    tica27

    3 reviso da Declarao de

    Helsnquia ( frica do Sul)

    1990 Criao do Conselho Nacional de tica para as

    Cincias da Vida (CNECV)

    Lei n. 14/90 de 9 de Junho

    1995 Criao e regulamentao das Comisses de tica

    para a Sade, em Portugal

    Decreto - Lei n. 97/95, de 10 de

    Maio

    1996 Conferncia Internacional de Harmonizao28

    Normas de Boas Prticas Clnicas

    1998/

    2001

    Conveno dos Direitos do Homem e da Biomedicina

    Conveno de Oviedo - Ratificao por Portugal (2001)

    Decreto do Presidente da

    Repblica n. 1/2001, de 3 de

    Janeiro

    1998 Proteco das pessoas singulares no que diz respeito ao

    tratamento de dados pessoais e livre circulao desses

    dados. Cria a Comisso Nacional de Proteco de Dados

    (CNPD)

    Lei 67/98 de 26 de Outubro

    2000 Alteraes29

    das funes e atribuies das CE reviso da Declarao de

    27

    As Comisses de tica devem ser independentes do promotor e do investigador, tendo como dever respeitar as leis e as normas aplicveis investigao, em cada pas.

    28 Uma iniciativa conjunta das autoridades reguladoras e da indstria farmacutica para o desenvolvimento de regras tcnicas e cientficas sobre os procedimentos necessrios para a garantia da se-gurana, eficcia e qualidade dos medicamentos. As NBPC representam acordo sobre norma internacional de qualidade cientfica e tica dirigida ao desenho, realizao, registo e redaco dos relatrios em ensaios clnicos que implicam a participao de seres humanos

  • PAGE 21

    Helsnquia (Edimburgo)

    2004 Transposio para o direito interno da Directiva

    2001/20/CE relativa aos ensaios clnicos com

    medicamentos de uso humano. Criao da Comisso

    de tica para a Investigao Clnica (CEIC)

    Lei 46/2004 de 19 de Agosto

    2005 Aprovada a composio, funcionamento e

    financiamento da CEIC

    Portaria n. 57/2005, de 20 de

    Janeiro

    2005 Legislao relativa informao gentica e informao

    pessoal bem como as regras para a colheita e

    conservao de produtos biolgicos para efeitos de

    testes genticos ou de investigao

    Lei 12/2005 de 26 Janeiro

    2007 os princpios e directrizes de boas prticas clnicas no

    que respeita aos medicamentos experimentais para uso

    humano, bem como os requisitos especiais aplicveis s

    autorizaes de fabrico ou importao desses produtos

    Decreto-Lei n. 12/2007, de 2 de

    Abril

    2007 Deliberao da CNPD sobre tratamentos de dados

    pessoais no mbito de estudos de investigao cientfica

    na rea da sade

    CNPD - Deliberao N 227 /2007

    Deliberao sobre a proteco de dados pessoais nos

    ensaios clnicos com medicamentos de uso humano

    CNPD - Deliberao N 333 /2007

    2008 Reforo do papel30

    das Comisses de tica reviso da Declarao de

    Helsnquia

    2009 Disciplina da investigao clnica de dispositivos

    mdicos de acordo com as alteraes introduzidas pela

    Directiva n. 2007/47/CE, do Parlamento Europeu e do

    Conselho, de 5 de Setembro

    Decreto -Lei n. 145/2009, de 17 de

    Junho

    2009 Princpios aplicveis aos tratamentos de dados pessoais

    no mbito do Sistema Nacional de Farmacovigilncia de

    Medicamentos para Uso Humano

    CNPD - Deliberao N 219 /2009

    2009 Novo Regime Jurdico do Conselho Nacional de tica

    para as Cincias da Vida

    Lei n. 24/2009, de 29 de Maio

    29

    Reafirma-se a independncia das Comisses de tica face ao investigador e ao promotor, acentuando a sua autonomia que no dever estar sujeita a qualquer influncia indevida. Foi reconhecido o direito de monitorizar a conduo dos ensaios e afirma-se a obrigao do investigador de prover informao e, em especial, a relativa aos acontecimentos adversos graves. Impe ao investigador o dever de submeter Comisso toda a informao relativa a financiamentos, promotores, filiaes institucionais ou outros potenciais conflitos de interesse ou incentivos aos participantes nos ensaios.

    30 O protocolo de investigao clnica tem de explicitar os considerandos ticos que foram tidos em conta e a forma como foram considerados os princpios da Declarao. As Comissses de tica devem ter o poder de aprovar ou reprovar os protocolos de investigao clnica, sendo-lhes conferida a avaliao da conformidade dos protocolos de investigao, com as leis e normas dos pases que acolhem a investigao clnica.

  • PAGE 22

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    UNESCO - Establishing Bioethics Committees, 2005.

    Hottois, Gilbert; Parizeau, Marie-Helne - Dicionrio de Biotica. Instituto Piaget, 1998

    Associao Mdica Mundial, Declarao de Helsnquia - 1964, 1975, 1983, 1989, 1996, 2000 e 2008.

    I Jornadas Comisso de tica para a Investigao Clnica - Redes de Comisses de tica para a

    Investigao Clnica. Texto Base e Coordenao Antnio Faria Vaz. Co-autoria Maria Alexandra

    Ribeiro, Nuno Miranda, Regina Corado, Rosalvo Almeida, Conceio Martins, Nlia Gouveia. In,

    2010. p. 15. http://www.ceic.pt

    Laureano dos Santos, Alexandre - A Importncia da tica na Investigao. Rev Port Cardiol 2004;

    23 (4) : 627-644. In http://www.spc.pt/DL/RPC/artigos/300.pdf

    Cruz, Mrcio Rojas; Oliveira, Solange de Lima Torres; Portillo, Jorge Alberto Cordn - A

    Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos contribuies ao Estado brasileiro.

    In Revista Biotica 2010; 18 (1): 93 - 107. (citao p. 97) Disponvel em

    http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/538/524

    UNESCO - Report of the international bioethics committee of UNESCO on the principle of respect

    for human vulnerability and personal integrity.

    http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002194/219494e.pdf

    Osswald W. Comisses de tica: uma reflexo sobre a sua justificao.In: Neves MC, coord.

    Comisses de tica: das bases tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta Delgada:

    Centros de Estudos de Biotica / Plo dos Aores. 2002: p. 125.

    Correia Jnior. MEMR. Comisso de tica do Hospital de Santa Cruz em Comisses de tica, II

    seminrio do Conselho Nacional de tica para as Cincias da Vida, Coleco Biotica, Lisboa,

    1996, pg:129-133.

    Neves MCP. As Comisses de tica Hospitalares e a Institucionalizao da Biotica em Portugal.

    Revista de Biotica. Vol 3 (1) , p.3.

    Neves MCP. coord. Comisses de tica: das bases tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta

    Delgada: Centros de Estudos de Biotica / Plo dos Aores. 2002: p. 180-206.

    Roseira, MB. Perspectiva de um gestor hospitalar. In : Comisses de tica II Seminrio da CNECV.

    Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1996:145-148

    Osswald W. Avaliao tica de ensaios clnicos. In : Neves MC, coord. Comisses de tica: das bases

    tericas actividade quotidiana. 2 ed. rev. Ponta Delgada: Centros de Estudos de Biotica / Plo

    dos Aores. 2002: p. 166.

    Comisses de tica o Desafio Metodolgico. In Nascer e Crescer 2008; revista do hospital de

    crianas maria pia ano 2008, vol XVII, n. 4. 17(4): 249-252