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História do Brasil Colônia U416. 82

História Do Brasil Colônia - Unid I

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A história do Brasil colônia

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Histria do Brasil ColniaU416. 82 Autor:Prof. Ricardo Felipe di CarloColaboradores: Prof. Francisco Alves da SilvaProf. Vincius Carneiro de AlbuquerqueProf. Gabriel GrofHistria do Brasil ColniaReviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Professor conteudista: Ricardo Felipe di CarloFormado na Universidade de So Paulo (USP), em 2007, em Histria. Logo a seguir, foi para o mestrado. Defendeu sua dissertao em 2011, no programa de Histria Econmica na USP. O mestrado foi a continuidade da pesquisa feita como iniciao cientca: Exportar e abastecer: populao e comrcio em Santos, 1775-1836. Aps esse perodo, foi contratado como professor do Colgio e curso pr-vestibular Objetivo, onde continua atuando. Alm disso, prepara aulasdigitaiseorientaosalunosparaasOlimpadasdeHistria.Em2013,surgiuoconviteparaescreverparaa Universidade Paulista (UNIP), o que tem sido uma grande honra e prazer para sua atividade prossional, j que propicia a oportunidade de dialogar com aqueles que so amantes da histria e j perceberam, de algum modo, a satisfao enorme que ensinar propicia. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Universidade Paulista.Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)D545h Di Carlo, Ricardo Felipe.Histria do Brasil Colnia. / Ricardo Felipe di Carlo. So Paulo: Editora Sol, 2014.184 p., il.Nota:estevolumeestpublicadonosCadernosdeEstudose Pesquisas da UNIP, Srie Didtica, ano XIX, n. 2-077/14, ISSN 1517-9230.1. Histria.2. Brasil colnia. 3. Colonizao. I. Ttulo.CDU 981Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitorProf. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e FinanasProfa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades UniversitriasProf. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e PesquisaProfa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de GraduaoUnip Interativa EaDProfa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo SouzaProf. Dr. Luiz Felipe ScabarProf. Ivan Daliberto FrugoliMaterial Didtico EaDComisso editorial: Dra. Anglica L. Carlini (UNIP)Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT)Dra. Valria de Carvalho (UNIP)Apoio:Profa. Cludia Regina Baptista EaDProfa. Betisa Malaman Comisso de Qualicao e Avaliao de CursosProjeto grco:Prof. Alexandre PonzettoReviso:Giovanna OliveiraAmanda CasaleReviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014SumrioHistria do Brasil ColniaAPRESENTAO ......................................................................................................................................................7INTRODUO ...........................................................................................................................................................8Unidade I1 OS NDIOS DO BRASIL ................................................................................................................................... 111.1 Como os portugueses chegaram: a expanso martimo-comercial da Europa .......... 171.1.1 As transformaes econmicas ........................................................................................................ 171.1.2 As transformaes polticas ............................................................................................................... 211.1.3 As transformaes culturais ............................................................................................................... 231.1.4 As transformaes sociais ................................................................................................................... 241.1.5 As transformaes religiosas.............................................................................................................. 252 AS GRANDES NAVEGAES ....................................................................................................................... 262.1 Pioneirismo portugus ....................................................................................................................... 272.2 Ciclo Ocidental navegaes espanholas ................................................................................. 312.3 Os Tratados de Rivalidade ................................................................................................................. 332.4 Navegaes inglesas, francesas e holandesas .......................................................................... 353 A ORGANIZAO DA COLONIZAO ...................................................................................................... 403.1 A estrutura do Antigo Regime e as bases do mercantilismo colonial ............................ 403.2 Primrdios da colonizao portuguesa ....................................................................................... 483.3 O incio da colonizao ...................................................................................................................... 544 A PRODUO AUCAREIRA ........................................................................................................................ 644.1 Invases estrangeiras .......................................................................................................................... 704.1.1 Ataques ingleses ...................................................................................................................................... 704.1.2 Ataques franceses ................................................................................................................................... 704.1.3 A Unio Ibrica e os ataques holandeses ...................................................................................... 724.1.4 A conquista espiritual ........................................................................................................................... 78Unidade II5 A INTERIORIZAO DA COLONIZAO .................................................................................................. 905.1 A crise portuguesa do sculo XVII e as primeiras revoltas na colnia ........................... 985.2 O ouro .....................................................................................................................................................1066 O MUNDO ATLNTICO .................................................................................................................................113Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade III7 O ILUMINISMO E O REFORMISMO ILUSTRADO .................................................................................1347.1 O governo do Marqus de Pombal ..............................................................................................1377.2 Os tratados de limites .......................................................................................................................1418 NOVAS PERSPECTIVAS A ECONOMIA DO BRASIL NA SEGUNDA METADEDO SCULO XVIII ................................................................................................................................................1458.1 Revoltas Emancipacionistas ...........................................................................................................1518.2 A vinda da Famlia Real....................................................................................................................1587Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014APRESENTAODesenvolver um material especco de nossa histria tarefa, sem dvida, bastante instigante. Aqui tratamosdenossosprimrdios.TratamosdasrelaesestabelecidasnaAmricaportuguesaantesde qualquer perspectiva da formao do Brasil. Isso inclui os habitantes locais, pois foi a heterogeneidade indgenaquetornoupossvelachegadadosportugueseseasnovasestruturasqueforamsendo montadas ao longo dos cerca de trezentos anos de colonizao portuguesa.Para aquele que quer se tornar um educador, fundamental conhecer sua prpria histria. Entender como foi a montagem do sistema colonial e a sua crise a temtica central de uma matria denominada Histria do Brasil Colonial.Isso no desmerece, apesar do nome, a importncia da populao indgena ou mesmo do contato com outros povos na formao do Brasil particularmente, sobretudo, o negro que chegou atravs da mais nefasta migrao obrigatria: o cativeiro da escravido.Nosso esforo, nesse sentido, tentar compreender as teias de relaes proporcionadas por Portugal nesse vasto territrio e, inclusive, em torno de projetos diferenciados que foram sendo vistos.Num primeiro momento, procuramos descortinar os habitantes locais, sobretudo sua heterogeneidade e os grandes avanos que as pesquisas tm alcanado nos ltimos anos. A seguir, tratamos do porqu de a Expanso Martima ter sido um amplo processo necessrio aos europeus para o desenvolvimento do capitalismo em formao. Ao mesmo tempo, fundamental compreender como foi possvel para os europeus conseguir um amplo aparato econmico, social, poltico, religioso e cultural para tornar real o sonho de navegar pelas guas tenebrosas do Atlntico. Esse foi um momento iniciado por portugueses, mas logo acompanhado pelos espanhis e, por m, tambm pelos ingleses, franceses e holandeses.Toda essa conjuntura de enorme importncia para, adiante, tratar da organizao da colonizao. Procuramos entender quais eram as bases pelas quais a colonizao foi formada. Compreender, em sua generalidade, a poca moderna fundamental para descortinar quais eram as bases da colonizao do Novo Mundo na montagem do antigo sistema colonial. As primeiras aes portuguesas estavam muito mais voltadas para o Oriente. No toa que houve um primeiro momento pr-colonial na Amrica portuguesa.Contudo,logosurgiuanecessidadedamontagemdacolonizao.Oacarfoicentral nessa lgica, ao longo dos sculos XVI e XVII, criando uma sociedade de razes duradouras.Na sequncia dessa discusso passaremos a problematizar as relaes que geraram a interiorizao da colonizao. Quais foram as causas que zeram com que os portugueses passassem a desbravar o interior? Dentro desse processo, a descoberta do ouro criou novos contornos para a colnia. Foi a partir daquenovascondiesforamvistas.Adiversidadeeconmicaesocialeramuitomaior.Aomesmo tempo,delineou-seumverdadeiromundoatlntico.Ouseja,fundamentalcompreendercomoas relaes do Atlntico eram bastante diversicadas e teceram diversas relaes culturais, econmicas e sociais entre Amrica, Europa e frica algumas, inclusive, revelia dos interesses do sistema, j que nem tudo podia ser combatido e destrudo.8Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Por m, desenvolveremos o tema de como foi que o sistema colonial da poca moderna entrou em colapso. As novas ideias do Iluminismo europeu abalaram todas as estruturas do Antigo Regime, entre elas as do antigo sistema colonial. Contudo, um ltimo suspiro foi ainda dado por algumas metrpoles europeias com o despotismo esclarecido. Para os portugueses, foi de enorme importncia o governo do Marqus de Pombal. Suas medidas tentaram rejuvenescer a explorao colonial e restaurar a grandeza do Imprio. A inuncia foi bastante ntida. Surgiram as denies principais de fronteira e, mais do que isso, novas condies econmicas com o renascimento agrcola e o fortalecimento de uma diversidade de artigos de exportao, alm de um mercado de abastecimento consideravelmente mais signicativo.Noentanto,poroutrolado,essemomentoaumentouasdivergnciasentreosinteresseslocaise osmetropolitanos.Surgiram,apartirda,revoltasdecarteremancipacionista,apesardenoterem forassucientesparaalcanaraindependncia.FoisomentecomavindadaFamliaRealqueas conguraesdaAmricaportuguesatomaramfeiesparaaformaodenossaindependncia,do surgimento do nosso pas.INTRODUOTodoaquelequeparteparaumolharparaonossopasvericaalgumasrealidadesbastante interessantes. Nem todas so boas. No entanto, nas marcas do nosso passado, algumas feridas sangrando so evidentes. H algumas razes que permaneceram e se impregnaram em diversas relaes.Aohistoriadorcabedescortinarasteiasqueformaramnossahistria.Maisdoqueisso,como educadores, fazer nossos alunos pensarem acerca daquilo que foi vivido, daquilo que vivemos e do que queremos viver essencial. Claro que esse no um processo simples, mas quanto mais o exerccio feito, mais instigante ele se torna.Noentanto,essatarefaspodeserampliadamedidaquenossabasehistricasedimentada. Precisamos compreender nossos primrdios de uma maneira ampla, retirar o vis de um ou outro lado epercorrerahistrialongedeencontrarpurosculpados.necessrioproblematizao,oexerccio investigativo de todo tipo de fonte, complementando a historiograa. muito pertinente deixar claro que algumas trilhas ainda esto em curso e que muito ainda pode ser desbravado para se entenderem as complexidades de nossa formao.A nossa formao no comea com os europeus. Um amplo leque de inuncias foi gerado a partir dos nativos, de quem provieram diversos valores culturais, apesar dos intensos esforos de catequizao ou do uso como mo de obra.Apartirda,claroqueaAmricaportuguesadeveserinseridanoquadrodahistriadaEuropa moderna,mas,comosever,umamplolequeseestabeleceu.Atualmentepontopaccoparaa historiograa do Brasil a necessidade de tambm se compreender a histria da frica e suas enormes relaescomoAtlntico.Aindaqueaescravidotenhasidoomaisnefastosistemadeimigrao compulsriadahistriapormaisdetrssculos,inegvelqueoimpactoculturaldessefenmeno para nossa nao foi gigantesco.9Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014 no bojo de todo esse processo, entre as idas e vindas da Coroa portuguesa, de um grande imprio sobrevivendoaduraspenasnomdapocamoderna,quenossahistriafoitomandoforma.Dessa forma, s possvel, a rigor, falarmos em Brasil quando a Amrica portuguesa se tornou efetivamente Reino Unido a Portugal, em 1815.No entanto, pensar o perodo colonial nos faz percorrer o incio de diversas questes contemporneas de nossa formao: algumas reminiscncias, outras causas superadas que esperamos sermos capazes de descortinar ao longo das pginas que seguem.Por m, um dos elementos mais importantes desse percurso justamente tecer nossas consideraes das imbricadas relaes entre a histria, a memria e a formao de um nacionalismo. Esse processo, comum construo de cada um dos pases, gerou opes por heris, pela formao de regionalismos, quedevemsertrabalhadosparaatiaracuriosidadedosalunosqueseseguiroaosprofessoresem formao e, ao mesmo tempo, para promover maior compreenso do exerccio cientco e investigativo que o historiador deve estimular.Umapalavranaldeveserditaquantoaotrabalhodohistoriador.Comoumverdadeirodetetive dopassado,procurandoexaminartodasascoisasemdetalhes,importantequevocnodeixede atentar a tudo o que foi produzido. Veja as imagens, critique suas construes. Reita sobre o contexto histrico de cada um dos momentos estabelecidos. Aproveite os mapas. Fortalea suas informaes com as sugestes elencadas.Que a leitura possa instig-lo a ser um promotor de cidados capazes de pensar sobre o nosso pas e serem agentes de um desenvolvimento cada vez mais justo e igualitrio. Boa jornada!11Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAUnidade I1 OS NDIOS DO BRASILOs indgenas do Brasil desfrutavam de uma natureza exuberante e conseguiam obter seus alimentos, basicamente, atravs da caa e da coleta. Suas aldeias eram razoavelmente temporrias. Os povos eram preparados e acostumados a percorrer e viver em novos locais sempre que a necessidade de alimentos surgisse. Contudo, no encontravam animais que fossem facilmente domesticveis; em contrapartida, vrios grupos tinham conhecimento da agricultura de alguns produtos, como a mandioca.Adiversidadeeheterogeneidadeoutracaractersticaimportante.Aomesmotempo,apesarde sua grande habilidade para o artesanato, utilizavam, sobretudo, materiais perecveis, o que no deixou grandesamostraspreservadas.Assim,nosobraramgrandesmonumentos.Almdisso,notinham qualquersistemadeescritaounumerao.Algumasdesuaslendasetradiesforammantidaspela tradio oral.Nesse sentido, o trabalho do historiador se torna complexo, embora no impossvel. Deve-se ter em mente que, apesar dos meios tradicionais serem mais difceis, h diversas formas de encontrar fontes. Uma alternativa so as obras produzidas pelos europeus sempre mantendo em mente que no havia umapreocupaocientcacomosrelatosequeosndioscontatadosrestringiam-sepraticamente apenas aos do litoral. Mais do que isso, essas narrativas esto imbudas de seus valores, como todo relato, e necessrio descortinar as diferentes vises culturais, idealizaes, exageros e impactos desejados nos relatos pelos europeus.Um dos exemplos clssicos dessa perspectiva so as descries acerca de como algumas tribos tratavam seus prisioneiros de guerra. Em geral, os relatos descrevem a recepo com boa alimentao e at entrega deumamulhercomoesposa.Apsdeterminadoperodo,essesprisioneiroserammortoscomosinal de vingana da tribo inimiga. Para o prisioneiro, era uma honra ser morto em rituais promovidos pelos rivais, pois sabia que, posteriormente, seus amigos e irmos viriam ving-lo. Depois de um amplo ritual, a carne humana era comida por todos que estivessem ali. Eram as descries dos rituais antropofgicos. Em alguns relatos de sacerdotes cristos, essa prtica indgena era considerada abominvel, diablica. J outros, at em uma perspectiva histrica, procuraram demonstrar como essa barbrie era comum tambm a outros povos promovendo a ideia de nveis de inferioridade. H que se ter em vista, dessa maneira, que os textos escondem, omitem ou, pelo menos, no combatem atrocidades dos europeus e so ferozes na crtica aos elementos da alteridade de culturas com as quais jamais haviam tido contato. Mesmoquandoatrocidadesdeeuropeuserammencionadas,apenasondioeraconsideradobrbaro. Por m, possvel ainda encontrar determinadas idealizaes dependendo dos interesses daquele que descreveasprticasvistas.Ouseja,ohistoriadorprecisaterbemclarasquaissoascrticasaserem estabelecidas para suas fontes, sejam elas externas (relativas autoria, ao tipo de documento etc.) ou internas (relacionadas quilo que dito, do porqu dito, das ausncias e eventuais interpretaes).12Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade I Saiba maisPara saber mais sobre a viso dos europeus compare as seguintes fontes:DABBDEVILLE,C.Histriadamissodospadrescapuchinhosnailha doMaranhoeterrascircunvizinhas.BeloHorizonte:Itatiaia;SoPaulo: Edusp, 1975.GANDAVO, P. de M. Tratado sobre a terra do Brasil: histria da provncia Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edusp, 1980. p. 136-141.LRY,J.de.Decomoosamericanostratamosprisioneirosde guerra e das cerimnias observadas ao mat-los e devor-los. In: ___. ViagemterradoBrasil.BeloHorizonte:Itatiaia;SoPaulo:Edusp, 1980. p. 193-204.STADEN, H. Histria verdica e descrio de uma terra de selvagens, nus e cruis comedores de seres humanos. In: ___. Primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes. So Paulo: Terceiro Nome, 1999. p. 53-84.THEVET, A. De como esses brbaros matam e devoram seus prisioneiros de guerra. In: ___. As singularidades da Frana Antrtica. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Edusp, 1978. p. 131-133.Outro campo de estudos bastante significativo para o avano do estudo dos nativos locais soasdescobertasarqueolgicas.Naprtica,nossosestudosdessegrandecampodosaber sodedicados,emboamedida,aospovosdonossoterritrionacionalantesdachegadados europeus. H diversos stios arqueolgicos da nossa pr-histria, como o de Lagoa Santa (MG), o da Gruta dos Brejes (BA) e o mais importante, de So Raimundo Nonato, no Parque Nacional daSerradaCapivara(PI),ondeforamencontradosdiversaspinturasrupestres,utensliose vestgios que tm contribudo para aprofundar os estudos do perodo anterior expedio de Pedro lvares Cabral. Saiba maisPara observar e se aprofundar nas pesquisas e anlises da arqueologia do Brasil, visite o site:

13Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAPara um timo balano da arqueologia no Brasil, veja os textos:BARRETO,C.Aconstruodeumpassadopr-colonial:umabreve histria da arqueologia no Brasil. REVISTA USP, So Paulo, n44, dezembro/fevereirode1999-2000,pp.32-51.Disponvelem:http://www.usp.br/revistausp/44/03-cristiana.pdf, acesso em 30/01/2014.FUNDAO MUSEU DO HOMEM AMERICANO. Patrimnio cultural. Piau, 2012.Disponvelem:. Acesso em: 21 jul. 2014.H de se destacar ainda os avanos promovidos pela Antropologia, que passou a estudar a forma de vida de algumas tribos que praticamente se mantiveram isoladas pelo menos do contato com o sistema estabelecido a partir dos portugueses e, assim, revelam caractersticas signicativas do cotidiano sem a interferncia do homem europeu.Figura 1 Este um vaso funerrio tpico da cultura marajoara. Note a riqueza de detalhes14Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IFigura 2 Este um jarro tapajnico. H claramente uma grandepreocupao com o trabalho artesanal na produoA primeira tentativa de classicao dos indgenas foi produzida pelos jesutas. Baseados em relaes bsicas,agruparam,grosseiramente,osnativospelasreasocupadaseporsuacompreensodas diferentes lnguas faladas por eles. Da vem os terem dividido em dois grupos: os do litoral chamados de tupis e caracterizados por uma lngua geral e os do interior denominados de tapuias e baseados em uma lngua travada.Contudo,atualmente,adivisomaisaceitaparaosindgenasdoBrasilbaseadaporgrupo lingustico, ainda que no contemple todas as variveis existentes. Os quatro principais grupos so: tupis, js, nuaruaques e carabas. Vale destacar ainda que mesmo aquelas que menos se aproximam dessesgrupossoconsideradasporcertasemelhana.Dequalquerforma,hdiversastribos absolutamenteisoladasqueimpedemqualqueresforodeagrupamentocompleto.Ouseja,ainda que o esforo seja perscrutar relaes de semelhanas para promover certas comparaes, devem-se manteremmenteasdiversasvariveiseespecicidadesquecontinuamaexistirtraosdeuma populao bastante heterognea.15Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIARio AmazonasLinha do Tratado de TordesilhasOceano

PaccoOceano

AtlnticoTupi-guaraniJ ou TapuiaNuaruaqueCarabaOutras naesFigura 3 Os grupos indgenas do BrasilAs caractersticas razoavelmente comuns a todos esses grupos so caa, pesca, coleta, agricultura rudimentaredivisodetarefasporsexo.Acredita-setambmquemuitosestivessemcomeandoa desenvolver a cermica (apesar de outros j dominarem essa tcnica).Ostupis,predominantesnolitoral,constantementemigravameeramcaracterizadosporuma economiabaseadanacaa,pescaeemumaagriculturarudimentarqueprivilegiavaamandioca,o milhoeabatata.Osindgenaspertencentesaessegrupopodiamseorganizaremconfederao,no casodeguerra,ouemalianastemporrias.Erampolitestas,produziamgrandesrituaisfunerrios, praticavam rituais antropofgicos e a recepo lacrimosa. Investiam com habilidade na pintura do corpo e da cermica, alm da arte plumria.Os js tinham caractersticas bastante semelhantes s dos tupis. A diferena central era a preparao mais elaborada dos alimentos ao utilizarem o fogo para as carnes e o uso da moenda para a produo de farinha. Por m, utilizavam a pajelana como forma de ajudar os mortos e impedir qualquer avano dos espritos maus.Os nuaruaques eram o grupo mais extenso da Amrica, pois estavam presentes desde a Amrica do Norte, Mesoamrica e Amrica do Sul at o Paraguai. Sua marca mais central por aqui era a produo de uma cermica de enorme qualidade.16Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IPor m, os carabas eram bastante semelhantes aos tupis e provavelmente foram o primeiro grupo a ter contato com os europeus, quando da chegada de Colombo.Figura 4 Vaso de cermica tpico indgenaFigura 5 Estatueta antropomorfa decermica encontrada em Santarm (PA)Figura 6 Uma coroa da tribo Kaxinawa17Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIA ObservaoVale destacar que os grupos indgenas se adaptaram geograa e s questes naturais com as quais depararam de acordo com suas necessidades eformastpicasderelacionamento.Issonolevainferioridade,apenas revela que h maneiras diferentes de vida.1.1 Como os portugueses chegaram: a expanso martimo-comercial da EuropaInserirahistriadaAmricanocontextoeuropeutarefafundamentalparaohistoriador problematizarcomosedeuaformaodoselementosqueestruturamadominao,que cristalizaramumaestruturaeconmicavoltadaaosinteressesdereisdoalm-mar.Aomesmo tempo,asrelaesdeimposioculturalemtornodocristianismosugeremforasque precisamserproblematizadasparaacompreensodoimpactogigantescodaalteridadedo olhar do outro. Algo inteiramente novo e de propores inimaginveis se iniciava com a chegada do europeu no continente americano, algo que seria irreversvel e de expectativas inteiramente profundas.OspovosdaAmricanoforamcapazesderesistirinvestidaviolentaedestruidoradobranco. Muitos simplesmente desapareceram nessa conquista. Outros foram subjugados. Outros ainda foram se amoldando aos novos padres, hbitos e crenas, se miscigenando e criando realidades signicativamente distintas dos padres europeus. Ou seja, houve a formao de algo inteiramente novo, ainda que com traos predominantes, em geral, do europeu conquistador.1.1.1 As transformaes econmicasDuranteaBaixaIdadeMdia,dossculosXIIaoXV,aEuropaviveuacrisedosistemafeudale, concomitantemente, o incio do capitalismo, ainda que em uma fase bastante incipiente. As Cruzadas, ao reabrir o comrcio do Mediterrneo para os cristos, geraram grande reativao das trocas de produtos, dasatividadesmonetriaseaindadasprpriascondiesparaavidaurbana.Novasrotasenovos produtos alcanavam a Europa crist, ento em contato com rabes.18Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IO comrcio Ocidente-Oriente (do sculo IX ao XIII), monoplio de venezianos e genovesesOceanoAtlnticoBalearesCrsegaSardenhaRotas comerciais venezianasRotas comerciais genovesasTnisMarselhaGnovaVenezaPisaAmalCrimeiaConstantinoplaTessalnicaCorfuCefalniaZamaEubeiaEsmirraRodesCretaChipreAntiquiaAlexandriaTiroS. Joo dAcreJafaSicliaEuropaMar MediterrneoRio DravaRio TejoRio EbroRio DanbioRio NiloMar NegroFigura 7 O comrcio do Mediterrneo propiciou grande impulso das atividadesmercantis para a Europa, com o monoplio das cidades italianas de Veneza e GnovaOmercadodosprodutosconsideradosespeciariascrescianaEuropa.Comercializavam-se fundamentalmente temperos como cravo, canela, pimenta e ervas, ainda que tambm fossem negociados tecidos, cermicas ou ervas aromticas e teraputicas. O mercado se interessava pelos produtos bastante novos e por aqueles que estavam relacionados conserva de alimentos:DetodasasespeciariasexistentesnoOrienteecobiadaspeloseuropeus, nenhumaeramaisimportanteemaisvaliosadoqueapimenta.Hoje considerada mero condimento, a pimenta, nos sculos XVI e XVII, era artigo defundamentalimportncianaeconomiaeuropeia.Comonohavia condiesdesealimentarogadoduranteorigorosoinvernodaEuropa setentrional, a quase totalidade dos rebanhos era abatida por volta do ms de novembro. O sal era usado para preservar a carne por vrios meses, mas a pimenta e, em menor escala, o cravo, eram considerados imprescindveis para tornar o sabor das conservas menos repulsivo. Na Europa, o preo da pimenta era altssimo e na ndia os hindus s aceitavam troc-la por ouro (BUENO, 1998, p. 26).ArotacentralqueseestabeleceuparaasespeciariaseraprovenientedoMediterrneo:as cidades italianas de Veneza e Gnova chegavam aos atravessadores do litoral asitico e traziam oscobiadosprodutosparaaEuropa.Nointeriordocontinenteasitico,haviagruposde mercadores pelo deserto que eram os intermedirios entre os europeus e as regies produtoras propriamente.Como nos explica Hilrio Franco Jnior, Veneza e Gnova dominaram esse mercado por causa das Cruzadas:19Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAAs duas apoiaram a Primeira Cruzada em troca de privilgios comerciais nasregiesdominadas.AlinoOrienteMdio,obtinhamosprocurados produtos de luxo orientais, que trocavam por mercadorias do Ocidente. Interessada em ampliar seus negcios, Veneza, graas a vrias manobras polticas,conseguiudesviaraQuartaCruzadaparaaconquistado ImprioBizantino.Estetemporariamentedesapareceu(12041261) eosvenezianosseapossaramdeterritriosimportantes.Neles conseguiam,almdeprodutosvindosdoExtremoOriente(especiarias, seda,perfumes),algumasmatrias-primasbsicasparaaindstria txtilquesedesenvolvianaEuropa.Descontentescomosucessode suarival,genovesesapoiaramosbizantinoscontraVenezaeemtroca consolidaram seu imprio colonial no mar Egeu e no mar Negro (FRANCO JNIOR, 1988, p. 53).Na prtica a dinamizao tambm se dava pelo trato mercantil em outras rotas, sobretudo noNorteeuropeu,comocontrolenrdicocomasrotasdecomrciodoMardoNorte (Hansa Teutnica), mas tambm com a famosa rota da regio de Champagne. Feiras e trocas, monetrias ou no, se propagavam gerando um impulso comercial bastante consistente, alm de atividade bancria:Noporacasotambm,aatividadebancrianasceunaItlia.Era interessedeseuscomerciantesenfrentaradiversidadedemoedas, facilitandosuauniformizaoe,portanto,osnegciosentrepessoas de diferentes regies. Assim, alguns mercadores passaram a se dedicar aocmbio(cambiare=trocar),ficandoconhecidosporbanqueiros, pois as diversas moedas a serem trocadas ficavam expostas em bancas, comooutramercadoriaqualquer.Apenasnumsegundomomento, possivelmentenosculoXIIemGnova,osbanqueirosampliaram seulequedeatuao,aceitandodepsitosreembolsveisaqualquer momento,fazendoemprstimos,transferindovaloresdeclientesde umacidadeparaoutra.Paraseatraircapitais,pagava-sejurossobre os depsitos. Para evitar aos clientes os inconvenientes de transporte devaloresatimportantespraascomerciais,desenvolveram-se instrumentosdecrdito,prottiposdaletradecmbioedanota promissria (FRANCO JNIOR, 1988, p. 57).20Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IFigura 8 As variadas rotas de comrcio reativadas e desenvolvidas em torno da Baixa Idade MdiaContudo,jnosculoXIV,osistemafeudaleuropeuenfrentavasignicativosproblemas.O crescimentodemogrcovistoduranteaBaixaIdadeMdianoeraumasituaopossvel,jquea produo era esttica, autossuciente e introvertida. Sendo assim, as Cruzadas eram uma alternativa paraumaperspectivadesobrevivnciaeexpanso.Noentanto,emcertamedida,contriburampara desarticular o sistema, na medida em que senhores foram morrendo em terras longnquas e muitos dos servos criavam rebelies esse processo cou evidente nesse sculo. As revoltas mais famosas foram as rebelies camponesas na Frana, denominadas Jacqueries. A trilogia formada pela Guerra dos Cem Anos (13371453), pela Peste Negra e pela fome generalizada acarretou uma queda populacional e do sistema produtivo de propores enormes.AGuerradosCemAnosenvolveuquestespolticaseeconmicas.OreiinglsEduardoIII entendia ser o herdeiro do trono francs, por ser neto, por parte da me, do rei Felipe, o Belo, da Frana. No entanto, nesse pas, pela lei slica, era proibida a sucesso do trono para mulheres ou para descendentes provenientes de sua linhagem. Ao mesmo tempo, havia grande interesse, para ambos os pases, na regio de Flandres (na atual rea dos Pases Baixos), para a produo de tecidos. A guerra se tornou extremamente dispendiosa e demorada, com vrias incurses ao longo de mais de cem anos.A Peste Negra, por sua vez, revelava as pssimas condies higinicas nas quais a populao europeia vivia, sobretudo a total despreocupao com essa rea. bem razovel que a praga que se estabeleceu tenhachegadodoOrienteesedisseminadorapidamenteaoencontrarambientepropcio.Apeste bubnicamatoumilharesemilharesquesimplesmentedesconheciamquaiseramascausasdesua doena e quais as maneiras de se precaver contra ela.21Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIANesse sentido, h diversos testemunhos de pessoas morrendo s centenas, de dia e de noite, em um climaabsolutamentedesolador.Famliasenterrandolhos,paisemespessoasdesaparecendoem uma velocidade impressionante. E o pior: no havia a mnima ideia cientca das razes que faziam a epidemia se propagar. Por isso, os contemporneos da peste entendiam que se tratava do m do mundo, de um momento em que Deus estava castigando a humanidade por seus pecados. E, como se j no bastassem as mortes, o trauma religioso foi bastante marcante.Figura 9 A gravura ilustra a viso desoladora e aterrorizante da PestePorm,masnomenosimportante,apropagaodafomeeracomumporqualquerproblema climticoepelasdiculdadesimpostaspelasadversidadesprovenientesdasguerras,rebelieseda peste, fatores que, unidos, desarticulavam o sistema produtivo agrcola, ainda razoavelmente esttico e introvertido. dessa maneira que a Expanso Martima europeia, em seus aspectos econmicos, tem como grande vis a superao desse quadro crtico europeu, o que foi agravado pela queda de Constantinopla (1453), que comprometeu o comrcio existente no Mediterrneo e gerou o declnio do vigor econmico das cidades italianas. No toa que boa parte dos experimentados navegadores dessa regio se dispor a oferecer seus servios s coroas ibricas.A perspectiva era encontrar novas formas de se atingir o lucrativo comrcio do Oriente, sobretudo sematravessadores,almdeangariarmetaispreciososparacontinuaramonetarizaraeconomiae, assim, promover o desenvolvimento comercial.1.1.2 As transformaes polticasNo sistema feudal, a caracterstica central a descentralizao poltica. Apesar de o rei manter um sentido de poder de direito, na prtica, as necessidades que se impuseram pelas invases brbaras eacrisedoImprioRomano,sobretudoapsoreinodosfrancos,gerouumsistemadepoder essencialmente local.22Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade INoentanto,asnovasperspectivasvistascomoreorescimentodocomrciogeraramnovas necessidadespolticasparaaburguesiamercantil.Promoverocontroledoreiemtodooterritrio favoreceriaumanecessidadefundamental:apadronizaodepesos,medidasemoedas.Duranteo perodo medieval, a cada feudo, uma unidade diferente, alm de impostos variados, eram encontrados pelo burgus. Era necessrio garantir o m de cobranas variadas e dispndios com transies de valores que poderiam gerar perdas entre um territrio e outro.Nesse sentido, fortalecer a gura do rei, nico capaz de promover a padronizao de todo um amplo territrio, se tornava tarefa bsica. A burguesia passou, ento, a nanciar o rei em sua empreitada. Pelos recursos provenientes de impostos, mecanismos de centralizao passavam a ser colocados em prtica: desde o uso da diplomacia, com alianas (tais como o casamento), at eventualmente o uso da guerra. Assim, a nobreza, aos poucos, deixou de ser uma nobreza guerreira e se tornou cortes, sustentada e mantida pela Coroa.Nosedevedeixardeperceberquetambmerafundamentalparaodesenvolvimentocomercial oreiseronicocapazdedirecionarosrecursosdeumaamplaregioparaosdispndiosenormes que empreitadas como as das Grandes Navegaes geravam. Ainda mais porque no havia nenhuma certeza do retorno desses investimentos. Assim, tratava-se de ser capaz de mobilizar valores que seriam investidos na vastido do Atlntico sem a cobrana de um retorno imediato.Figura 10 Os Estados nacionais passaram a se desenvolver no incio da poca moderna.Tinham grandes relaes com o desenvolvimento comercial e dinamizam a vida.Na imagem, repare a representao de diversos grupos em torno do aglomerado urbanoAinda que em processos variados, foi nesse momento que a Europa passou a viver a transio para a formao das monarquias nacionais desenvolvimento central para as Grandes Navegaes. E aqui se coloca um fator central para o pioneirismo ibrico: foram justamente Portugal e Espanha os pases capazes de angariar condies de controle do rei para todo o territrio e, assim, fomentar as expedies rumo a novas rotas para o lucrativo comrcio das ndias.23Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIANo entanto, deve-se ter claro quais so os limites desse desenvolvimento nacional. Como aponta Jos Mattoso ao pensar acerca da nacionalidade portuguesa:A delimitao poltica e econmica um elemento objetivo que distingue de todas as outras a comunidade humana nela inserida. Para esta comunidade constituirumaNaoaindaprecisoqueosseusmembrosadquirama conscincia de formar uma coletividade tal que da resultem direitos e deveres iguaisparatodos,ecujoscaractereselesassumamcomoexpressodasua prpria identidade. Essa conscincia forma-se por um processo lento, que no envolve simultaneamente todos os sujeitos. Comea por eclodir em minorias capazes de conceber intelectualmente em que consiste propriamente a Nao; depois esta ideia vai se propagando lentamente a outros grupos, at atingir a maioria dos habitantes do Pas [...] As guerras com Castela e a Revoluo de1383-1385,aotrazeremastropasestrangeirasaPortugal,evidenciam adiferenaentreosportugueseseosoutros,isto,aquelesquefalavam outralngua,tinhamoutroscostumesesecomportavamcomoinimigos. Cemanosdepois,aexpansoultramarinacolocamuitosportuguesesem face de gente ainda mais estranha perante a qual eles se apresentam como irmanados pela vassalagem a um mesmo rei, sejam minhotos, alentejanos ou beires. A sujeio Espanha, no sculo seguinte, faz reetir sobre o que ser portugus e o que estar sujeito a uma administrao no portuguesa, pela mesma poca em que se pode ler nos Os Lusadas a epopeia miticada de um povo capaz de chegar aos conns do mundo. E assim sucessivamente, at s exaltadas manifestaes populares contra a Inglaterra por ocasio do Ultimatum de 1890, s comemoraes nacionais dos vrios centenrios que fazemreetirnosfeitoshericosdeoutrora,srevoluescujavitriase atribui participao popular, propaganda ideolgica nacionalista dos anos 1930 a 1960. Tudo isso vai consolidando e difundindo o conceito de Nao. precisonoesquecer,porm,quesoscidadoscapazesdelerpodiam conhecer Os Lusadas, e que s os que tinham feito o ensino primrio podiam compreenderoqueeraahistriaptriaesaberosdireitosdoscidados. Ora a populao analfabeta s em pleno sculo XX deixa de constituir mais dametadedopovoportugus.preciso,portanto,esperaratumapoca bem recente para poder admitir uma efetiva difuso da conscincia nacional em todas as camadas da populao e em todos os pontos do seu territrio (MATTOSO, 2001, p. 40).1.1.3 As transformaes culturaisOs contatos com o Oriente e os valores do Renascimento promoviam uma articulao de estudos extremamente importantes e signicativos. A valorizao do homem e do conhecimento racional era promovidacomachegadadosaberclssicoqueestavaempossedosrabesebizantinoseque veiotonacomasCruzadas.Nessesentido,novosestudossoestabelecidos,comoaAstronomia,a Cartograa e a Matemtica:24Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IPorvoltade1330,comousodanumeraorabe,comeaemPortugal umalentarevoluo,chamadadearitmetizaodoreal,queviriaater importantes reexos no desenvolvimento das mentalidades protomodernas. Tratando-se de estruturas mentais marcadamente analticas que assumiram, desde o incio, um protagonismo que no deixou pedra sobre pedra quanto ao que restava das heranas medievais; esses saberes passaram do estado de pouco ou mais ou menos, a uma outra situao de saber, conhecida como sendo a da preciso, como lembrava Lucien Febvre (ALMEIDA, 2001, p. 110).Assim,instrumentoscomtecnologiabastantesignicativaeramproduzidos:bssolas,astrolbios, caravelas, naus e velas latinas. Esse aparato tecnolgico era fundamental para a aventura do alm-mar. Enfrentaraenormidadedemaresnuncaantesnavegados,amentalidadedemonstrosetemores deadversidadesssetornariaplausvelcomomnimodecapacidadespossveisparaanavegao prolongada e sua localizao bsica. Nesse sentido, o conhecimento que se adquiriu era absolutamente indispensvel.Figura 11 Representao tpica do desenvolvimento dos estudos martimosrelacionados instrumentalizao e astronomia1.1.4 As transformaes sociaisApesar de a sociedade feudal ser bastante enrijecida com seus valores estamentais e de ordens, o desenvolvimento do comrcio permite um novo estilo de vida que baseado no lucro e na usura: a vida urbana da burguesia mercantil.Esse grupo promovido em torno das novas condies e necessidades que se estabelecem entre a crise feudal e o incio da modernidade. A perspectiva dos novos hbitos, com as especiarias, criava uma demanda que deixava os negcios com razovel espao na Europa crist.Nessesentido,umavanoimportantepoderiaserdadotambmparaaquelescomesprito aventureiro acreditar na possibilidade de outra forma de se viver e auferir lucros seria possvel para marginalizados e desesperanados pela estrutura feudal.25Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAFigura 12 O quadro a representao feita pelo pintor alemo Quentin Massys,de um banqueiro e sua mulher. Repare que, alm da preocupao com a moeda propriamente,h uma signicativa perspectiva: a mulher o acompanha fazendo leituraO avano do comrcio e as novas condies polticas abrem as cortinas das possibilidades inteiramente novasdeempreendimentosparaaburguesia,quevisaaolucrodasespeciarias,paraaquelescom atividades bancrias, e para os menos favorecidos, mas esperanosos de encontrar uma nova forma de viver atravs das Grandes Navegaes, o que no seria possvel na estrutura feudal.1.1.5 As transformaes religiosasApesar de tradicionalmente as Cruzadas serem vistas como um movimento cristo que visava apenas reconquistadaTerraSanta(Jerusalm),elaszerampartedeumdesenvolvimentomuitomaior.A perspectivadaexpansoerafundamentaletinhacomograndeobjetivoocombatemilitardoinel, quer fosse o muulmano, quer fosse qualquer outro distante dos ideais promovidos pela Igreja (como os albigeneses na Frana).Dessamaneira,oespritocruzadistapermeouasaestambmdaReconquistanaPennsula Ibricadeumamaneiramuitoimportanteparacomearoprocessodeumconceitodenao, conformevimosanteriormente.nessesentidoqueesseidealpermaneceuduranteasGrandes Navegaes,inclusivequandodocontatocomoutrasregies,comoosmuulmanosdoNorteda frica,eprocuroujusticartodooesforodecolonizaoeuropeianaAmrica:eraumdeverao europeu promover a catequese dos amerndios.26Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IDe qualquer maneira, havia ainda uma mstica do imaginrio medieval que fortalecia o esprito aventureiro misturado ao religioso. Como atesta Charles Boxer, a procura por um rei cristo chamado Preste Joo sempre estava presente nos relatos do perodo:Era um potentado mtico, em sua origem vagamente imaginado pelos europeus como soberano de um poderoso reino nas ndias termo elstico e ambguo quemuitasvezesenglobavaaEtipiaeafricaOriental,bemcomooque se conhecia como sia. [...] As verses mais extravagantes da lenda de Preste Joo,como,porexemplo,aarmaodequecomiamsuamesa,feitade esmeraldas,maisde30milpessoas,entreasquaisdozearcebisposquese sentavam sua direita e vinte bispos, esquerda, parecem no ter circulado tanto em Portugal como em outros pases europeus. Porm em Portugal, como em outros lugares, acreditava-se, com efeito, que esse misterioso rei-sacerdote, quandodenitivamentelocalizado,seriaumaliadoinestimvelcontraos muulmanos,fossemelesturcos,egpcios,rabesoumouros.Quantoaos portugueses, esperavam encontrar Preste Joo numa regio africana, onde ele poderia ajud-los a lutar contra os mouros (BOXER, 2002, pp.35-36).A luta religiosa justicava ambies econmicas e sociais em torno de um imaginrio que carregava perspectivas medievais com outras de desenvolvimento tecnolgico e valores renascentistas baseados na razo. Vale destacar que a grande obra de circulao e, quase que nica, acerca do mundo do Oriente era a obra de Marco Polo. no bojo dessa viso, repleta de contradies e limites feitos por todo homem em qualquer que seja seu perodo histrico, que preciso compreender as caractersticas das aes das Grandes Navegaes e a adoo de um sistema de colonizao capaz de se estabelecer, com razovel manuteno, por trs sculos. LembreteO amplo conjunto de relaes econmicas, sociais, polticas, religiosas eculturaistornarampossvelumexercciosistemticodeexpansopelo OceanoAtlntico.Nessesentido,aExpansoMartimaeuropeiaeraum processo pioneiro.2 AS GRANDES NAVEGAESApartirdascondiesgeradaspelacrisedosistemafeudalepelasnecessidadeseconmicas queseestabeleciampeloinciodocapitalismo,aindaquesemserosistemapredominante,masna montagem da estrutura mercantilista, a gura do rei, capaz de unicar politicamente e direcionar os recursos de uma ampla gama de territrios, une-se aos interesses mercantis da burguesia em ascenso epropiciaasviagensdelongadistnciaembuscadenovasrotasparaasespeciariasenovasfontes de metais preciosos. Ao mesmo tempo, os avanos culturais propiciam os meios tecnolgicos capazes desemelhantesousadiasedesaos.Porm,oespritocruzadistajusticaaao,encabeadopela continuidade da propagao do cristianismo catlico e pelo combate ao inel.27Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIA2.1 Pioneirismo portugusA primeira questo que se estabelece uma vez esclarecidas as razes que motivaram os europeus ao Atlntico compreender como os portugueses acabaram por reunir todas as condies necessrias para se tornarem os pioneiros nas Grandes Navegaes.fundamental,inicialmente,fazermenoasuaposiogeogrficaprivilegiada.Estar diretamenteligadoaooceanofacilitavaaopasalogsticadetodaaempreitadae,aomesmo tempo,impediaproblemasdiretoscomoutrospasesparaqualquerdeslocamentonoAtlntico. Almdisso,Portugaltraziaumatradionaval-mercantilbastanteimportante,comoatesta Vitorino Magalhes Godinho:LogoquePortugalsetornouumreinoindependente,josportugueses aparecemnasfeirasdeTessalnica,eaindaantesdonaldosculo mercadoresportuguesesfrequentamMarselhaeMontpellier.Aolongodo sculo XIV, navios portugueses carregam trigo nos celeiros mediterrneos seis deles so sequestrados em Barcelona em 1333 , barcas de Lisboa, Setbal eAveirotransportamsardinhaeoutropescadoparaoLevantehispnico, provavelmente em troca de dobras de ouro. Mas talvez com Maghrebe que as relaes comerciais so mais intensas e o sistema monetrio portugus alinha-sepelosistemamonetrionorte-africano.[...]Osprincipaisvetores da presena portuguesa nas guas do Estreito at Tunes e Gnova so, no entanto, o corso e a angariao de fretes (GODINHO, 1990, p. 192).Nessaperspectiva,torna-seinteressantepercebercomovaiseampliandoaforadaburguesia empreendedora, capaz de gerar a aliana com o monarca existente precocemente desde a Revoluo de Avis (1383-1385), cuja gura detentora do poder D. Joo I. A gura do rei foi absolutamente central paraasGrandesNavegaes,poisscomsuaatuaofoipossvelgarantirocontroleeasegurana contra os corsrios, atravs da formao de uma marinha de guerra, alm de permitir direcionar recursos dediversasregiesparaomesmofoco.Mesmocomoapoiodealgunsfortesburgueses,deve-seter claro que foram os reis os grandes promotores do nanciamento central das expedies.Ao mesmo tempo, os estudos nuticos ganham fora. O contato comercial constante incrementou as tcnicas utilizadas e fomentou o avano, inclusive pela facilidade de contato com os rabes em seu territrio (antes do m do processo de expulso em Portugal, no sculo XIII) ou nos reinos vizinhos (que formaro a Espanha). por isso que se tornaram tarefa signicativa os estudos para a traduo dessas importantes fontes e estudos de obras clssicas.Acaravelaumdosexemplosmaissignicativosdessedesenvolvimento.Erarpida,deboa capacidadedecargaoque,inclusive,foiaumentandoempoucotempoeaindaeracapazde se manter numa boa batalha. Tinha um espao maior para carga, era mais alta para enfrentar as ondasaltas,eavelalatina(outriangular)eracapazdepermitiranavegaocontraovento.Fora ela, vrias outras embarcaes foram sendo promovidas ao longo das atividades navais dos sculos XIV ao XVI dentre elas, se destacava a nau (navio de carga armado). No foi toa, portanto, que os 28Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade Iportugueses tornaram-se excelentes pescadores em mares abertos praticantes de uma ativa marinha comercial.SeubacalhaueosaldeSetubal,aospoucos,setornavamimportantesprodutosparao mundo conhecido.Figura 13 A representao da Caravela a embarcao mais importante das Grandes NavegaesHdesedestacarquenoforamosportugueses,ouseusrivaisespanhisosgrandesenicos aventureiros rumo aos grandes oceanos. Mas a grande questo que se estabelece que os ibricos se tornaram os responsveis por alterar completamente a histria mundial com seus empreendimentos e com a implementao de um sistema de explorao capaz de promover integrao e contatos nunca antes vistos ou mantidos. o que atesta Charles Boxer:Os portugueses e os espanhis tiveram precursores (mais ou menos isolados) naconquistadosoceanosAtlnticoePacco,masosesforosdesses aventureiros notveis no alteraram o curso da histria do mundo. Foram encontradas moedas cartaginesas do sculo IV a.C. nos Aores, bem como moedasromanasdedatasposterioresnaVenezuela,emcircunstncias quesugeremapossibilidadedeteremsidolevadasporbarcosarrastados por tempestades na era clssica; porm, se assim foi, no h nada que nos garanta que esses barcos um dia regressaram Europa com as notcias. Os vikings viajaram da Noruega e da Islndia para a Amrica do Norte algumas vezesnaBaixaIdadeMdia,massuasltimascolnias,abandonadasna Groelndia,sucumbiramaosrigoresdoclimaeaosataquesdosesquims antesdonaldosculoXV.Algumasgaleriasitalianasecatalsdo Mediterrneoaventuraram-secomousadiaemviagensdedescobrimento noAtlntico,nossculosXIIIeXIV.Contudo,emborasejaprovvelque tivessemavistadoalgumasdasilhasdoAoresedaMadeira,eporcerto 29Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAredescobertoasCanrias(asilhasAfortunadasdosgegrafosromanos), tais viagens no tiveram prosseguimento sistemtico. Permaneceu apenas a vaga lembrana dos irmos Vivaldi, genoveses que partiram em 1291 com a rme inteno de contornar o sul da frica e alcanar a ndia por mar, mas desapareceram depois de passar o cabo No, na costa marroquina. De igual modo,aindaquejuncoschinesesoujaponeseslevadosportempestades ocasionais possam ter involuntariamente alcanado a Amrica, e apesar de os argonautas do Pacco, polinsios do Hava, terem colonizado ilhas to longnquascomoaNovaZelndia,taisfeitosnoalteraramoisolamento bsico em que a Amrica e a Austrlia continuaram em relao aos outros continentes (BOXER, 2002, pp.3132).OgrandemarcoinicialdoavanoportugusfoiatomadadeCeutaem1415.Acidadeeraum ponto fundamental para o controle do estreito de Gibraltar e as relaes entre o Mediterrneo e o Atlntico. Muitas caravanas convergiam para esse local, o que promoveria lucros constantes para essa primeiraconquista.Eraumdosportosdocomrciotransaariano,comouroemp,marm,escravos para a Europa e especiarias. Contudo, apesar da vitria, da manuteno da presena portuguesa e da obtenodeinformaesdoterritrioadesbravar,asquesteseconmicassetornaraminfrutferas nessa cidade, j que os rabes conseguiram realocar o comrcio para outro polo. De qualquer maneira, ideologicamente, a conquista era signicativa. Fazia parte do territrio que era dos romanos, ou seja, da cristandade. Da o apoio e incentivo da Igreja para sua retomada tratava-se do esprito cruzadista, sustentculo ideolgico do processo.De qualquer maneira, a partir da, os portugueses decidem pela perspectiva da expanso a partir do chamado Priplo Africano, ou seja, o contorno do litoral desse continente, ainda que desconhecessem absolutamente a extenso da rota.Amrica do NorteS. SalvadorEspanhaCalicuteLisboaAmrica do SulAustrliaOceano AtlnticoOceano ndicoEuropasiafrica(1)(4)(5)(3)(2)(6)(9)(7)(8)(10)(1) Ceuta (1415)(2) Arquiplago da Madeira (1419)(3) Arquiplago dos Aores (1431)(4) Cabo Bojador (1434)(5) Cabo Branco (1445)(6) Arquiplago de Cabo Verde (1445)(7) Cabo da Boa Esperana (1488)(8) Calicute (1498)(9) Baa Cabrlia (1500)(10) Japo (1517)Figura 14 A extenso das grandes navegaes portuguesas, atingindo o Japo em 151730Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IA partir de Ceuta, os portugueses mantiveram a navegao por cabotagem (atravs do litoral), o que garantia a segurana e um fcil avano. Um importante marco desse avano foi a chegada s chamadas IlhasAtlnticas(Madeira/Aores),quepropiciaramaprimeirainvestidanatentativadeumsistema decolonizaocapazdegerarlucroparaaCoroa:aliforamimplantadascapitaniashereditriasea produo de cana de acar.Outro marco signicativo foi atravessar o Cabo Bojador (1434), que era repleto de histrias de medo e da mstica medieval, j que muitas expedies haviam fracassado ali. Da as palavras famosas do poeta Fernando Pessoa, ao gloricar o passado portugus:Mar Portugus mar salgado, quanto do teu salSo lgrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mes choraram,Quantos lhos em vo rezaram!Quantas noivas caram por casarPara que fosses nosso, mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma no pequena.Quem quer passar alm do BojadorTem que passar alm da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele que espelhou o cu.Fonte: Pessoa (1934).Os portugueses, ento, marcaram sua presena em diversas regies como o Golfo da Guin (1452) e o sul da frica (1482). Nesse momento, j estavam atuando com certo comrcio e, especialmente, comotrconegreiro.Ocontatojerabastanteacentuadocomdiversosgruposdocontinente. Aformabsicademanutenodapresenaportuguesaeramasfeitoriasverdadeirosfortesno litoral que garantiam defesa e tambm a busca pelo contato comercial ainda em torno das rotas do comrcio transaariano.No entanto, uma grande dificuldade se estabelece: contornar o Cabo das Tormentas ltimo grandepontodolitoralatlntico.Anavegaodecabotagemjnoerapossvelpelosventos e corrente de gua contrrios que se estabeleciam (hoje sabemos que essa situao na regio ocasionada pela corrente de Benguela). Dessa maneira, a viagem de Bartolomeu Dias, em 1488, foi um marco extremamente importante a deciso de ir para o interior do Atlntico e s depois retornar,naesperanadequeasguasmaradentrofossemmenosagitadas.esseoponto emqueosportuguesesprecisamconfiarabsolutamenteemseusinstrumentosetcnicasde navegao.31Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIANa verdade, Bartolomeu Dias acreditava no mesmo fenmeno que se via na parte Norte do Atlntico, na regio portuguesa, como explica Lus Ado da Fonseca:Oqueestaquiemcausaahiptesedeque,noAtlnticomeridional, acontea o mesmo que na costa portuguesa, onde o vento norte, que sopra comforaaolongodacosta,enfraquecenointeriordooceano.Ouseja, ao admitir que, em matria de regime de ventos, o Atlntico sul funciona como o do norte, mas ao contrrio, Bartolomeu Dias revela que perspectiva o oceano como um espao unitrio, de norte a sul, com um funcionamento de tipo mecnico. a ruptura total com a viso tradicional. Ou seja, abre-se a porta para a delimitao futura da rota do ndico (FONSECA, 2001, p. 16).A partir da, o contorno do litoral africano do Pacco muito mais rpido: bastam dez anos para a expedio de Vasco da Gama (1498) alcanar as ndias. Finalmente, os portugueses conseguem obter uma nova rota para os cobiados produtos do Oriente. H de se destacar, mais uma vez, que os dispndios para cada uma dessas viagens eram gigantescos. A empreitada de Vasco da Gama demorou mais de dois anos para ir e retornar embora seu pioneirismo no tenha deixado de gerar lucros enormes para a Coroa.Em1500,PedrolvaresCabralparteparaasndiascomaordemdegarantiroempreendimento portugusnoOrienteestabelecendooImprioPortugus.Nessaviagem,temosorelatoocialda descoberta do Brasil. Ainda que a documentao seja pouco esclarecedora da questo, h que se ter emvistaqueumadasjusticativasquenosparecemaisplausvelarespeitodacertezadapresena deterrasnooutroladodoAtlnticofoiatravessiaalcanarlguasalmdoCaboVerdeeadisputa diplomticaportuguesapeloTratadodeTordesilhas(1494),comosever.Entendemosquegarantir umaporodeterranesselocalseriabastanteimportanteparaamanutenodocontroledarota recm-alcanada ainda que estejamos apenas defendendo uma hiptese.Naprtica,apenasporvoltade1515,comD.AfonsodeAlbuquerque,queosportugueses conseguemvriasvitriasmilitaresnasndias,capazesdeasseguraraformaodoImprioLusodo Oriente, alm do apoio obtido pela diplomacia e ao dos missionrios.Aseguir,osempreendimentosportuguesesalcanamatmesmooextremoOriente.Marco signicativo desse avano foi o contato com os japoneses em 1517.No entanto, ainda que os planos portugueses pudessem ser diferentes, a presena de outros europeus no territrio recm-encontrado das ndias ser uma realidade em poucos anos fato que acaba com o monoplio portugus. Isso far com que o imprio luso j no tenha a mesma fora em torno de 1530 e perca seus territrios ao longo dos sculos XVI-XVII.2.2 Ciclo Ocidental navegaes espanholasA Espanha no conseguiu acompanhar, de imediato, os seus vizinhos. Dois problemas signicativos, resqucios de seu passado, permaneciam dispendiosos e de difcil soluo: as batalhas de reconquista contra os muulmanos e os diferentes reinos existentes no territrio.32Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IFigura 15 Alm do combate aos muulmanos, a unicaoespanhola s seria possvel atravs da unio dos reinos cristosUma mudana signicativa surgiu em 1469, quando, por um acordo, os reis catlicos Fernando, do reino de Arago e Isabel, do reino de Castela, se casaram. A partir da, grande parte do territrio se uniu e um grande impulso foi dado contra os invasores. Sucessivas vitrias foram sendo vistas at que em 2 de janeiro de 1492, os espanhis tomaram Granada, ltimo reduto de resistncia dos muulmanos.Estava,apartirdeento,abertaaperspectivadoavanocomercialespanholemboracertas atividades j fossem promovidas, sobretudo no Mediterrneo. nesse sentido que, em 3 de agosto, os preparativoscaramprontosparaumainvestidaapoiadapelosreiscatlicos:aviagemdeCristovo Colombo partindo para o Oeste rumo s ndias por acreditar na esfericidade da Terra.Na verdade, Colombo chegou a oferecer seus servios para a Coroa portuguesa. Contudo, o navegador genovs no foi apoiado, pois os lusos j estavam em considervel avano no Priplo Africano. No valia a pena comear a gastar os escassos recursos disponveis em uma nova perspectiva de trajeto.Ofatoque,emapenaspoucomaisdetrsmeses,nodia12deoutubro,Colomboatingiriaum territriodesconhecidoaoseuropeus,aIlhadeGuanahan(SoSalvador).Apesardeterpromovido mais trs viagens ao Novo Mundo, Colombo no foi capaz de perceber que no se tratava das ndias. 33Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAContudo, o marco foi extremamente importante para a Coroa hispnica, j que, a partir da, a certeza da terra empreendeu a mobilizao, ao limite, dos meios de sustentao das demais viagens e outros navegadores.Amrica do NorteAmrica do SulfricaEuropasiaAustrliaColombo Guaanani (1492)VicenteYaez Pinzon (1499)Vasco Nues Balboa (1513)Circum-navegao da Terra (1519-22)Oceano ndicoOceano AtlnticoOceano PaccoFigura 16 As viagens de expanso martima espanholas da poca moderna acabaram por contornar o mundoJ em 1499, o navegador Vicente Pinzon, parceiro de Colombo, alcanou o Rio Amazonas. A partir da, uma srie de locais foram relatados, como Porto Rico, Jamaica e Cuba. de se destacar que foi o navegador Amrico Vespcio o grande propagador da ideia de que as terras recm-alcanadas eram um novo continente: da a designao em sua homenagem, Amrica.Por m, duas outras grandes aes dos espanhis foram a descoberta do oceano Pacco, promovida porVascoNnezBalboaem1513,eacircum-navegaodaTerra,iniciadaem1519pelonavegador portugus a servio da Coroa espanhola Ferno de Magalhes e concluda apenas em 1522 por Juan Sebastio Elcano, aps mais de 1124 dias. Estava comprovada a esfericidade da Terra e o ciclo Ocidental se mostrou absolutamente completo.2.3 Os Tratados de RivalidadeApartirdoavanodaexpansomartimadospasesibricos,arivalidadeeaperspectivade garantir o domnio de terras se tornavam cada vez mais fortes, ao mesmo tempo em que a Igreja garantiaosustentculoideolgico.Issojerabastanteevidentenabulapapalde1452Dum Diversas que autorizava os portugueses a lutar, aprisionar e saquear os infiis. A seguir, em 1455, abulaRomanusPontifexcontinuavaapermitirodireitodePortugalcontrolartodaacostada fricaetambmarotadoAtlntico.JoacordodeAlcavasToledo,promovidoem1480,foi oprimeiroarelacionarinteressesportugueseseespanhis.Semquenenhumdospasestivesse alcanado grande avano, foi decidido que Portugal entregaria Espanha a posse das Ilhas Canrias e receberia em troca o direito de usufruir o monoplio de comrcio e navegao no litoral africano abaixo da linha do Equador.34Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IOceano PaccoOceano AtlnticoOceanondicoNovoMundoEuropaCautaGuinsiafricaBrasilEspanhaPortugalCabo VerdeAngola MoambiqueOrmuzDiuDamoMalinqueMombaaGoaCalicuteCeiloCantoMacaoCabo da Boa EsperanaSafalaSumatraMalacaJavaFilipinasMolucasMadagascarPortugal e seu imprio colonial at 1580Espanha e seu imprio colonial at 1580Parte espanholaParte portuguesaBornuNova GuinAntilhasAustrliaTratado de tordesilhas (1494)Tratado de saragoa (1529)Bula Inter Coetera (1493)Figura 17 Os empreendimentos portugueses e espanhis estabeleceram enormes reas deconquista e transaes comerciais dos mais diversos gnerosApsaexpediodeColombo,arivalidadeaumentou.Erapreciso,aosolhosespanhis,garantir imediatamente a conquista do Oriente (ainda que no houvesse certeza de que se tratava das sonhadas ndias). O arbitrariamento da questo foi conduzido pelo papa Alexandre VI, que era nascido na Espanha. A deciso foi a criao da Bula Inter Coetera: um meridiano que passaria 100 lguas a oeste de Cabo VerdeequegarantiriaEspanhaapossedolocalrecmdescobertoooestedalinhaimaginria. Portugal no aceitou car apenas com o leste e ameaou aes de guerra.Foi em torno dessa no aceitao portuguesa que, em 1494, foi criado o Tratado de Tordesilhas: o meridiano seria colocado 370 lguas a oeste de Cabo Verde. Essa deciso agradou Portugal e, para os espanhis, garantiu as terras que Colombo alcanara. razoavelmente escura, pela ausncia de fontes, aexplicaodoporqudePortugalterpleiteadoesseaumento.Ahiptesedefendidaporalguns que, como j mencionamos, talvez por vestgios de terra no oceano, os portugueses desconassem da possibilidade de terras no Atlntico Sul.De qualquer forma, ainda que as questes relativas s terras recm-descobertas estivessem satisfeitas, a diviso no contemplava as terras no conhecidas das ndias e, quando casse claro que o mundo era redondo, ver-se-ia que mais uma repartio era necessria. Foi isso o que ocorreu com o Tratado de Saragoa, em 1529: um novo meridiano era estabelecido, com o oeste portugus (fechando seu trecho com leste de Tordesilhas) e o leste espanhol (concluindo a rea a partir do oeste de Tordesilhas).Essa diviso solucionou o problema da rivalidade ibrica, contudo no foi aceita imediatamente pelosdemaispasesqueseformavamnaEuropa,aindaquemaistardiamente.Sobretudo, franceses, ingleses e holandeses acabaram por promover invases ao territrio recm-descoberto 35Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAoucontaramcomcorsriosprincipalmenteosinglesesparaalcanarpartedariqueza proveniente do Novo Mundo. J nesse momento, o capitalismo mercantil estava razoavelmente estabelecidoecriavacondiesparaamontagemdeumsistemadecolonizaocentralizado nafiguradeummonarcacomtendnciascadavezmaisabsolutistas,tendocomoobjetivoo acmulo primitivo de capital.O eixo econmico europeu claramente deixava de ser o Mediterrneo e se congurava nas relaes do Atlntico com o ndico, promovendo a ascenso de Portugal e Espanha e consolidando a decadncia dascidadesitalianasjcomrotasinterrompidasapsaconquistadeConstantinoplapelosturcos otomanos em 1453.2.4 Navegaes inglesas, francesas e holandesasTanto a Inglaterra como a Frana tiveram problemas significativos para finalmente participar daexploraodoNovoMundo.AquestoinicialcomumfoiaGuerradosCemAnos(13371453). O conflito, lento e demasiadamente custoso, impedia o direcionamento de recursos para as aventuras alm-mar, assim como gerava uma perda constante de homens em um contexto depopulaodiminutaparapromoverexpediesquenosesaberiaaondechegariamese conseguiriam voltar.Apartirda,osproblemassetornammaisparticularesparaosdoispases.Nocasoingls,logo aseguir,surgiuumaviolentaguerracivilpelocontroledopoder,conhecidacomoGuerradasDuas Rosas (14551485). O conito colocou em questo, de um lado, a famlia York, a rosa branca, e, de outro lado, a famlia Lancaster, a rosa vermelha. Ambos os grupos acabavam por se enfraquecer nesse custoso e demorado conito. Essa perspectiva permitiu que a famlia Tudor, na gura de Henrique VII, assumisse o poder criando a rosa branca com vermelho. Foi nessa dinastia que a Inglaterra viveu o auge do absolutismo. Henrique VIII rompeu com a Igreja catlica e, pelo Ato de Supremacia de 1534, garantiu ao monarca tambm o poder religioso. Suas lhas, a seguir, assumiram o poder. Maria I, apesar do curto perodo no poder, desestabilizou as relaes da Reforma, procurando retornar ao catolicismo e perseguir os seguidores do novo grupo cristo. Por sua vez, Elizabeth I, alm de retomar a Reforma, gerou grande impulso ao processo de desenvolvimento ingls criando as bases para o processo que anos depois iria gerar a Revoluo Industrial.Comoarainhanodeixouherdeiros,aInglaterrapassouasercontroladapelaDinastia Stuart,comumperodotumultuadobaseadoemconstantesconflitosdoParlamentocomoRei. Basicamente,osStuartpretendiampromover,comtodoovigor,asideiasdecentralizaodo poder e da economia, enquanto o Parlamento, defensor dos burgueses, procurava, a todo custo, se defender de semelhante fora.Dequalquermaneira,jnoreinadodeHenriqueVIIhouveaprimeiraexpediooficial inglesachefiadapelonavegadoritalianoJohnCabot,em1497.Aoprocurarumaalternativa para a chegada s ndias, ele acabou abordando o Labrador, no Canad. Morreu em sua segunda tentativa, logo no ano a seguir. Seu filho, Sebastian, procurou continuar sua empreitada e chegou Bacia de Hudson. Essas campanhas foram significativas e, ainda que estejam longe de produzir 36Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade Ium processo sistemtico de expedies ou colonizao, permitiram aos ingleses pleitear a posse de reas americanas.Alm do programa de incentivou e apoio ao ataque de corsrios, no reinado de Elizabeth I, Walter Raleigh fundou, em meados da dcada de 1580, a colnia da Virgnia, homenagem Elizabeth I a RainhaVirgemacolnia,entretanto,nodurouatomdessadcada.Ascausasprincipaisdo fracasso foram a falta de recursos e os ataques dos nativos em busca de recuperar seu territrio. Foi signicativo, contudo, que nesse mesmo perodo os ingleses patrocinam Francis Drake, que conseguiu promover a segunda viagem de circum-navegao.Oceano PaccoHudson 1610Cabot 1498Gilbert 1583Cabot 1497Raleigh 1584Drake 1578Oceano AtlnticoFigura 18 O mapa revela o processo de explorao promovido pelos inglesesFoi,contudo,apartirdaDinastiaStuartqueosinglesespassaramaprocurarumprocessode colonizao mais efetivo na Amrica do Norte. Companhias de comrcio foram criadas para, atravs de patrocnio particular, promover a empreitada. Foi assim que a Plymouth Company explorou o norte da regio e a denominou de Nova Inglaterra. Esse territrio passou a ser um importante polo de colonos com os puritanos, refugiados religiosos que chegaram em meados do sculo XVII.Nesse contexto, ainda durante o sculo XVII, foram estabelecidas, aos poucos, diversas regies que constituiriam as chamadas Treze Colnias Inglesas.37Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIA6813121110975412131 Massachusetts2 New Hampshire3 Rhode Island4 Connecticut5 Nova York6 New Jersey7 Pensilvnia8 Delaware9 Maryland10 Virgnia11 Carolina do Norte12 Carolina do Sul13 GergiaColnias de povoamentoColnias de exploraoFigura 19 As Treze Colnias foram o principalfoco de colonizao inglesa na AmricaNo caso francs, aps a dispendiosa e terrvel Guerra dos Cem Anos, os franceses comearam suasempreitadastambmpelasaesdecorsrios.Contudo,aindanosculoXVI,passarama promover expedies para o Norte da Amrica a fim de encontrar, de alguma forma, uma passagem rpidaparaasndiaspelonoroestedoNovoMundooquelogosemostrouinfrutferopelas condies naturais da regio. De qualquer forma, Jacques Cartier chegou a fundar a Nova Frana na regio do Rio So Loureno.H de se ter em vista que, nesse contexto, os franceses passaram a conviver com sangrentas guerras de religio em torno da formao de seu poder monrquico absolutista. Assim, eram esparsos os recursos para o alm-mar.Mesmocomaslimitaes,outrasexpediesalcanaramreasdaAmricaportuguesa: comonocasodacriao,noRiodeJaneiro,daFranaAntrtica,de15551567;oumesmo, maisadiante,daFranaEquinocial,noMaranho,de16121615.Erasignificativo,contudo, odesenvolvimentodoNorteem1608foifundadaacidadedeQubec,noCanad.Tambm nessa centria os franceses atingiram a foz do Mississipi, o que propiciou a posse de um amplo territriobatizadodeLouisiania,emhomenagemaoreiLusXIV.Almdessareacentral,os francesestambmprocuraramocuparcertasreasdasPequenasAntilhasesemanternoSul com a Guiana Francesa.38Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade ICanadLouisianaOceano AtlnticoIlha So BartolomeuGuiana FrancesaIlha So MarinhoIlha Sta. CruzIlha Sta. LciaIlha GranadaIlha So CristvoIlha GuadalupeIlha MartinicaFigura 20 As reas ocupadas pelos franceses eram de amplaextenso e de tima localizao para o contato litorneoA maneira central de tentar criar um sistema colonial foi a ao de particulares, ou mesmo a fundaodecompanhias.Contudo,ograndeinteresseestabelecidofoiocomrciodepelesnas reas do Norte.Por m, a Holanda promoveu um grande desenvolvimento mercantil em seu territrio, ainda que seu poder poltico estivesse dominado pelos espanhis. Com isso, no sculo XVI, a nao passou a promover sualutadeindependncia.Dessamaneira,nohouvesignicativasexpediesholandesasaoNovo Mundo.As aes expressivas dos holandeses foram promovidas em torno de suas companhias de comrcio. UmpontointeressantefoiafundaodeNovaAmsterd,em1626,noNortedaAmricadoNorte, quedepoispassouaodomnioinglsrecebendoonomedeNovaIorque.Almdisso,umadesuas companhias promoveu aes contra os espanhis, invadindo possesses em diversas partes do globo, com especial destaque para o Nordeste brasileiro de 16241654.39Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAA m r i c aAoresMadeiraCanriasCabo VerdeAscensoSta. HelenaS. Jorge das MinasfricaEuropasiarea sob controle de Portugalrea sob controle da Espanharea sob controle da Franarea sob controle da Inglaterrarea sob controle da HolandaFigura 21 O mundo dividido entre as potncias europeias na poca ModernaOimpactodasGrandesNavegaesnaformaodocapitalismorecongurandorelaessociais epolticastornouessemomentoumimpactoprofundoemtodaaEuropaeemgrandepartedo hemisfrio, sobretudo, na Amrica rea central do processo de sistematizao de colonizao voltada ao enriquecimento metropolitano. Saiba maisOs lmes a seguir podem fazer um contraponto interessante da leitura do processo das expedies ultramarinas:40Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade I1492:aconquistadoparaso.Dir.RidleyScott.Frana;Espanha: Gaumont/LgendeEntreprises/France3Cinma/DueWest/Cyrklms/Ministre de la Culture/Spanish Ministry of Culture, 1992. 155 minutos.ELIZABETH: a Era de Ouro. Dir. Shekhar Kapur. Reino Unido; Frana, USA; Alemanha: Universal Pictures/StudioCanal/Working Title Films, 2007. 114 minutos.3 A ORGANIZAO DA COLONIZAO3.1 A estrutura do Antigo Regime e as bases do mercantilismo colonialA modernidade, estabelecida como marco temporal existente entre a queda de Constantinopla (1453)eoinciodaRevoluoFrancesa(1789),produziuumsistemachamadodeAntigo Regime. A gestao desse aparelho de poder ocorreu, na Europa, em paralelo com as Grandes Navegaes.O poder poltico era denido a partir de monarquias nacionais nas quais o rei conseguia determinar as diretrizes polticas, muitas vezes, sozinho era o chamado absolutismo. Esse poder, que existia no direito na Idade Mdia, inclusive de forma hereditria, na prtica no conseguia se estabelecer por causa da descentralizao dos feudos. A estruturao do domnio real foi dada, na Era Moderna, a partir do equilbrio do monarcacom a nobreza, que durante o perodo medieval era guerreira e, no processo de centralizao, em boa medida, foi conduzida pelo rei condio de cortes, ou seja, sustentada e amparada pelo Estado,e com a burguesia, que, em vistas da ampliao dos seus negcios, apoiaria o monarca capaz de gerar o controle econmico nacional e privilgios (como a prtica de monoplios).A nobreza, mesmo com suas rendas provenientes da posse da terra, no era capaz de cobrir suas grandes despesas com ostentaes. Muitas vezes, na corte, os nobres buscavam cargos para seus lhos nas reas administrativas o que era possvel por favores do rei.41Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAFigura 22 As relaes econmicas entre o rei e a burguesiaeram fundamentais na poca modernaEssasituaodeequilbrioesustentaofoivista,compequenasvariveis,emgrandeparteda Europa Ocidental. As excees mais claras foram as cidades italianas que procuravam, a todo custo, mantersualiberdadeeumidealrepublicano(oquenemsempreconseguiram),eoSacroImprio Romano Germnico que estava dividido em diversas estruturas de poder local.Figura 23 O Palcio de Versalhes foi o maior smbolo da domesticao danobreza e gerava uma enorme ostentao de riqueza e luxoO Absolutismo foi sustentado por uma produo intelectual que trazia fundamentao a partir de diversasbases.OlivrodeNicolauMaquiavel,OPrncipe,foiutilizadocomobasedaracionalidadeno 42Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade Isistemadegoverno,capazdelegitimaraesmaisprofundase,porvezes,cruisembuscadapaze da tranquilidade entre os sditos. Nesse sentido, a moral no deveria reger as aes promovidas pelo Estado, j que, no fundo, estavam em jogo questes muito mais importantes. J Thomas Hobbes, em OLeviat,defendeuqueopoderabsolutodoreieranecessrioparagarantirapazeaestabilidade social. O homem, sem o poder do Estado, seria um ser capaz de promover grandes atrocidades contra osdemais,dapermitirumcontratosocialquelhepossibilitasseviveremsociedadeeserprotegido pelo rei. O mais emblemtico autor e defensor do absolutismo, contudo, foi Jacques Bossuet, na obra A Poltica Extrada da Sagrada Escritura, que promovia o direito divino do soberano. Bossuet entendia que a Bblia demonstrava que o poder do rei era diretamente dado por Deus. Assim, cabia aos homens obedec-losemrestries,pois,aoquestion-looucombat-lo,estavamdiretamenteafrontandoa ordenao divina.Figura 24 Lus XIV foi o maior smbolo do Absolutismo dapoca moderna. Sua clebre frase o Estado sou eu sintetiza as relaespolticas do perodo. O quadro atesta sua posio e luxoA Reforma Protestante, por sua vez, contribuiu para o fortalecimento do poder absoluto do monarca ao fazer declinar o poder universal do papado. Mesmo nos pases de relaes mais imbricadas com a Igreja,asmonarquiasibricas,ainunciapapalfoisendoatenuadae,paulatinamente,retiradado poder temporal (poltico).Agrandeforarealsednaconstruodeuminteressecoletivocapazdeangariarumexrcito real (por muitas vezes sustentado pelo auxlio da burguesia). Da a nobreza, ainda que contrria, acabar sendo subjugada e lanada ao domnio real nas Cortes. At mesmo nas relaes da Igreja, o poder real poder intervir no caso extremo, ingls, o conito com o papado faz com que Henrique VIII assuma tambm o controle do poder religioso em seu pas.43Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAEssarelaotumultuadaentreopodertemporaleoreligiosoacabouporestabelecer,emgrande medida,duranteaIdadeModerna,umaenormeintolernciareligiosa.Gruposdissidenteseram perseguidos, julgados, condenados e mortos (como no desenvolvimento da Inquisio). Na prtica, ao gerar uma forada unidade religiosa, isso garantia a manuteno da integrao poltica.Outra transformao signicativa se deu no campo cultural. Apesar da ainda signicativa participao daIgrejanasrelaesenasdeterminaes(comonateorizaododireitodivino),afjnoerao nico elemento do saber e de justicao. As crticas promovidas pelos humanistas do Renascimento geravam o uso da razo como forma explicativa e capaz de gerar avanos. H de se ter em vista que, dequalquerforma,aEraModernaaindafoidominadapeloclericalismo.Quandooracionalismose tornou a principal base de saber, com o Iluminismo do sculo XVIII, o Antigo Regime, mesmo aps tentar promover reformas, desmoronou com as chamadas revolues burguesas.Asociedademodernaestavaemcertatransio,bastantelenta,poisaindasemantinha profundamentearraigadaaosvaloresprovenientesdaIdadeMdiasuajusticao,porexemplo, aindasebaseavaemquestesteolgicas.Naprtica,aestruturaestamentalsesustentava,emboa medida,apesardoesforoburgusdeencontrarsuadistinosocialpeloavanoeconmicoepelo desenvolvimento do capitalismo. Alguns burgueses, nesse sentido, acabaram at comprando posies de nobreza, ou sonhavam com a merc rgia de nomeao. Era mais uma forma real de se garantirem o poder e sustentao do monarca. ObservaoAsociedadeestamental,doperodomedieval,eraestabelecidapelo nascimento e justicada por suas ordens (funes). Primeiro, vinha o Clero, queconduziaoshomensaDeus.Segundo,anobreza,queguerreava. Terceiro, os demais, que trabalhavam.As perspectivas de avano do comrcio e do incio do capitalismo na crise do feudalismo tiveram que enfrentar os entraves da retrao causada pela crise do sculo XIV. Contudo, a partir de ento, uma ampla dinmica de inditas rotas e terras para os europeus, inclusive em guas nunca antes navegadas, passaram a trazer diversos novos produtos, que agitaram as feiras e mercados. Foi nesse contexto que surgiu a chamada Revoluo Comercial. As relaes com o Novo Mundo propiciaram o deslocamento do eixo econmico europeu do Mediterrneo para o Atlntico, iniciando uma acelerao de acumulao capitalista e de relaes que acabaram solidicando o capitalismo comercial na Europa. Como o prprio nome identica, as relaes de enriquecimento eram promovidas pelas trocas vantajosas para as naes. Ouseja,olucroeradadopelanfasecomercialemumcontextonoqualasrelaesmonetrias jestavambemestabelecidas.Dessamaneira,nohaviatantaatenoparaasdemaisatividades produtivas, como a agricultura e a manufatura (at, ao menos, meados do sculo XVII).Apolticaeconmicaqueorientouasrelaesdocapitalismocomercialdapocamodernafoio mercantilismo. Suas bases eram diretamente o aumento do poder do rei, fortalecendo suas intervenes egarantindorecursosqueenriquecessemopaseotornasse,cadavezmais,poderoso;almdisso, 44Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade Iaprosperidadedaburguesiacapazde,emsuasprticas,criarcondiesparaumaumentoainda maissignicativodocomrcio.Noera,contudo,claroaoscontemporneosque,casoaburguesia enriquecesse sobremaneira (que o que se estava oferecendo), estes poderiam desejar dominar a poltica (que aconteceu a partir das chamadas revolues burguesas do sculo XVIII).a bFigura 25 Os portos europeus ganharam enorme importncia na poca moderna.As representaes retratam, na sequncia, Lisboa e AmsterdA interveno do Estado na economia deveria garantir o acmulo de ouro e prata. Essa era a forma dedemonstrarariquezadopaseraochamadometalismo.Agrandeformadesegarantiresse desenvolvimentoeraumabalanadecomrciofavorvel.Aideiaerasimples:acreditava-seemuma riqueza nita. Portanto, tudo o que precisava ser feito era exportar o mximo (aumentando as receitas) e importar o mnimo (diminuindo os gastos). Nesse sentido, um pas iria ser mais prspero e outro mais pobre. A pergunta era: como garantir essa perspectiva na prtica?As primeiras respostas estavam relacionadas ao controle da importao. O rei adotava uma prtica deprotecionismo,quepropiciavaforainternaecontroledosdemaispases.Dessamaneira,as tarifas alfandegrias eram constantemente aumentadas sobretudo, se o produto estrangeiro tivesse competidores no prprio pas. Alm disso, matrias-primas eram cuidadosamente monopolizadas. Outros produtos de suma importncia no poderiam ser exportados. Claro que essa defesa no valeria nada se a Coroa no estimulasse a produo interna de tudo o que fosse necessrio para a sobrevivncia. Em caso contrrio, seria inevitvel o gasto com as importaes.Haviaaindaafundamentalpolticademonoplios.Eraessencialprivilegiardeterminadosgrupos burgueses para rapidamente se enriquecer e gerar a manuteno do poder do monarca. Mas o preo no era simples: era preciso proteger as rotas e procurar impedir, ao mximo, qualquer forma de furto oquemuitasvezesocorreuatravsdospiratasecorsrios.Ouseja,grandesinvestimentoseram necessrios na composio de uma frota de comrcio e outra de defesa.Se todos os pases protegiam seus mercados, como garantir exportaes? A resposta mais importante foi a montagem do Sistema Colonial. Na prtica, as colnias se tornaram a pea central do mecanismo de desenvolvimento da poca moderna.45Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAAs colnias eram estabelecidas com total domnio e submisso Metrpole, pelo menos at a sua crise na segunda metade do sculo XVIII. Para no ser confundido com o neocolonialismo do sculos XIX e XX, o sistema da poca moderna chamado de Antigo Sistema Colonial. ObservaoO neocolonialismo foi resultado direto da Segunda Revoluo Industrial, quando as potncias europeias e o Japo passaram a disputar mercados na sia e na frica, garantindo mercado consumidor e matria-prima.AsmetrpoleseuropeiasPortugal,Espanha,Inglaterra,FranaeHolandaeramocentrodo sistema.Delasprovinhamtodasasdiretrizesesustentaododomnioproduzidonascolnias.Eram estas ltimas, portanto, a periferia do sistema. A Amrica, nesse mbito, foi o continente central, apesar da grande importncia da frica e de alguns contatos com a sia.Nas palavras de Fernando Antnio Novais:Ochamadomonopliocolonial,oumaiscorretamenteeusandoum termo da poca, o regime do exclusivo metropolitano constitua-se pois nomecanismoporexcelnciadosistema,atravsdoqualseprocessava o ajustamento da expanso colonizadora aos processos da economia e da sociedadeeuropiasemtransioparaocapitalismointegral(NOVAIS, 2006, p. 72).Assim,aMetrpoleforavaacolniaavenderprodutosporpreosbaixoseacompraros manufaturados por valores bastante elevados. A taxa de lucro era bastante elevada. Cabia s colnias a produo complementar para a Metrpole. Procurava-se desenvolver relaes capazes de gerar lucro para os pases europeus. Da o sistema no ser apenas uma estrutura de povoamento do Novo Mundo muito pelo contrrio. A lgica empregada era a de fazer com que houvesse uma explorao sistemtica de grande lucro. Era este, por exemplo, o grande sentido da colonizao do Brasil:Sevamosessnciadanossaformao,veremosquenarealidadenos constitumosparaforneceracar,tabaco,algunsoutrosgneros;mais tarde ouro e diamantes; depois, algodo, e em seguida caf, para o comrcio europeu (PRADO JNIOR, 2006, p. 3132).Os produtos tropicais nunca antes vistos na Europa, eram a garantia de um amplo mercado, mesmo que houvesse medidas protecionistas de outros pases. A produo era essencialmente extrovertida. A perspectiva, portanto, era que tais gneros gerassem alta lucratividade e complementassem a tradicional estrutura produtiva da Europa.46Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade IReiBurguesiaColonizaoEstadoMetropolitanoC o l n i a seF e i t o r i a sMetrpolesPeriferiaCentroEuropaAmrica frica siaFigura 26 O Antigo Sistema Colonial era baseado nas relaes do Estado absolutista com a burguesia.O sistema colonial era baseado na subordinao e na dominao promovidaspelas metrpoles europeias s reas perifricas (Amrica, frica e sia)Ao mesmo tempo em que toda essa estrutura econmica passou a ser o objetivo central no Novo Mundo,logonasprimeirasdcadasdosculoXVI,apsaconquistapromovidapelosespanhisea chegada de outros pases nas especiarias (que por pouco tempo foram monoplio portugus), a ocupao e a defesa do territrio seria imprescindvel.Por m, o sistema central de uso da mo de obra atendia aos interesses metropolitanos. A utilizao deformasdetrabalhocompulsrio,tantonascolniasespanholas(comousodosnativosem formadetributoe,emmenorintensidade,oescravoafricano),comonaportuguesa(comagrande preponderncia da escravido dos negros), como ainda nas inglesas (com a escravido negra no sul e a servido temporria no norte chamada de indentured servants), atendia diretamente expectativa de lucro para as metrpoles. Na prtica, isso geraria o mximo de lucro possvel e ainda impediria um grande desenvolvimento dedicado apenas s colnias. Ainda que certa produo pudesse abastecer o mercado interno perifrico, a lgica do sistema seria mais uma vez demonstrada.daquiqueseapreendeaimportnciadotrconegreiroparaousodamodeobraescrava africana na Amrica:Otrconegreiro,isto,oabastecimentodascolniascomescravos, abriaumnovoeimportantesetordocomrciocolonial,enquantoo apresamentodosindgenaseraumnegciointernodacolnia.Assim,os ganhos comerciais resultantes da preao dos aborgenes mantinham-se na colnia, com os colonos empenhados nesse gnero de vida; a acumulao geradanocomrciodeafricanos,entretanto,uaparaaMetrpole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessamercadoria.Essetalvezsejaosegredodamelhoradaptaodo negrolavoura[...]escravista.Paradoxalmente,apartirdotrco negreiroquesepodeentenderaescravidoafricanacolonial,enoo contrrio (NOVAIS, 2006, p. 105).47Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAApesar de essa ser a tnica central, o mercantilismo se manifestou de maneira variada nos pases europeus.OprimeiroefeitoprticodosprodutosdoNovoMundofoiumaenxurradademetais preciososprovenientesdasconquistasespanholas.Algumasestimativasacreditamque,nosculo XVI, os espanhis levaram para a Europa de 16 a 25 mil toneladas de prata e 200 toneladas de ouro. O impacto seria impressionante. Na Espanha, diversos projetos poderiam ser imediatamente levados a cabo. Milhares viram o quanto seria proveitoso ir para o Novo Mundo e logo se alistaram. Muitos com recursos pretendiam ser patrocinadores e angariar lucros. E, por m, claro, as demais potncias estavam enraivecidas. Mas toda essa prata custou um alto preo literalmente. O metal era utilizado para cunhar moedas e logo produziu uma enorme quantidade de meio circulante no mercado. Assim, surgiuachamadaRevoluodosPreos.Algunsclculoschegamamensuraroaumentodopreo em 400%.Figura 27 O trabalho indgena na explorao das minas gerouum enriquecimento enorme e rpido para os espanhisAssim, o mercantilismo espanhol conhecido por ser bulionista (ou seja, baseado em uma acumulao purademetaispreciosos)epornoprecisarnecessariamentepromovertodasasmedidasrestritivas para as importaes.Portugalnoteveamesmaperspectivainicial.Joprimeirodocumentoocial,acartadePero Vaz de Caminha, mencionava que no haviam encontrado ouro ou outro metal. Seu mercantilismo foi razoavelmente varivel: iniciou-se comercial, com a venda de produtos tropicais, como o pau-brasil e o acar, mas depois encontrou ouro, se tornando bulionista, e, na sua decadncia, tentou criar atividades manufatureiras para ter algum lucro vendendo para as colnias, o que no durou muito tempo.Os ingleses, por sua vez, procuraram defender, ao mximo, suas produes locais. Ao mesmo tempo, desde o reinado de Henrique VIII e, sobretudo, no reinado de Elizabeth I, criaram uma grande marinha, tantomercantecomodeguerra,capazdecomprardiversosprodutosbaratosevendercomrazovel margem de lucro pelos fretes acessveis. Por vezes, utilizaram at mesmo corsrios. Tudo para conseguir grande acmulo primitivo de capital condio que se mostrou fundamental para a Revoluo Industrial 48Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014Unidade Ida segunda metade do sculo XVIII. Assim, seu mercantilismo pode ser caracterizado como comercial, e, com o posterior desenvolvimento de suas manufaturas txteis, industrial. ObservaoOspiratasatacavamesaqueavamporcontaprpriaecavamcom todo o eventual lucro. J os corsrios, apesar de promoverem as mesmas atividades, eram patrocinados por sua Coroa e dividiam o ganho.Os franceses no conseguiram ter a mesma marinha e tambm no detinham reas coloniais capazes de promover lucros substanciais. Todavia, no reinado de Lus XIV, a poltica mercantilista foi dirigida pelo ministroColbert.ElefoipeafundamentalparaaeconomiadaFrana.Suasaessebaseavamna produo de artigos de luxo capazes de serem altamente especializados e atrair mercados em todo o mundo conhecido. Essa diferenciao, inclusive, gerava at mesmo propostas para artesos de outros pases trabalhem na Frana. O resultado dessa poltica foi impressionante. Colbert conseguiu garantir renda para um Estado endividado e profundamente decitrio com os gastos da Corte. por isso que o mercantilismo francs, de incentivo industrial, chamado de colbertismo.Por m, os holandeses se empenharam nas atividades comerciais. Na prtica, os burgueses calvinistas locaisforamsomadosaosjudeusquefugiramdaperseguioreligiosaimpostapelaInquisiono ltimo quartel do sculo XVI. Eles traziam considerao condio econmica e, assim, possibilitaram a ampliao das transaes mercantis na regio. Criaram companhias de navegao promovendo uma estrutura de investimento particular nas aes coloniais, somadas com o banco de Amsterd e o prprio governo. A partir da, dominaram boa parte das transaes comerciais por toda a Europa. Ao mesmo tempo, procuravam tambm ampliar suas atividades manufatureiras. Dessa maneira, seu mercantilismo foi misto: comercial e depois industrial.notrio,portanto,queaexpectativadeenriqueceroEstadoeraacondiobsicadosistema colonial. Essa estrutura cou bem constituda at o desenvolvimento industrial ingls. A partir dali, a lgica se situou na produo industrial e no liberalismo econmico. A poltica econmica deveria ser capaz de permitir o livre comrcio, j que as relaes deveriam favorecer muito mais a burguesia do que o poder do rei absolutista que sofreria severos ataques das revolues burguesas. Na verdade, todo o Antigo Regime cou em xeque. Tratava-se do brotar da histria contempornea.3.2 Primrdios da colonizao portuguesaAinda que Pedro lvares Cabral tenha chegado ao Novo Mundo em 1500, como j comentamos, o primeiro documento ocial das terras recm-descobertas, a carta de Pero Vaz de Caminha, demonstrava que no havia sido encontrado ouro ou qualquer outro metal. Assim, nesse primeiro momento, a frica e as ndias ofereciam atrativos muito maiores. Na prtica, as terras do Novo Mundo eram o ponto de parada para os navios chegarem s terras das especiarias. H de se ter em vista que o Priplo Africano se mostrou bastante produtivo a partir de Vasco da Gama para alguns historiadores, o lucro dessa viagem inicial atingiu mais de 6000%.49Reviso: Giovanna - Diagramao: Mrcio - 19/08/2014HISTRIA DO BRASIL COLNIAA Carta de Pero Vaz de CaminhaSenhor,posto que o Ca