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Escorço histórico do Direito
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IIES – Instituto Itapetiningano de Ensino Superior
Disciplina: História do Direito e Direitos Humanos
Curso: Direito
Período: 2º Semestre
Professor: Carlos Eduardo Viana Kortz
O HOMEM A E FORMAÇÃO DO DIREITO
A palavra "direito" vem do latim directus, a, um, "que segue regras pré-determinadas ou um
dado preceito", do particípio passado do verbo dirigere. O termo evoluiu em português da
forma "directo" (1277) a "dereyto" (1292) até chegar à grafia atual (documentada no século
XIII).
Para outros autores, a palavra faz referência à deusa romana da justiça, Justitia, que segurava
em suas mãos uma balança com fiel. Dizia-se que havia justiça quando o fiel estava
absolutamente perpendicular em relação ao solo: de rectum.
As línguas românicas compartilham a mesma origem para a palavra "direito": diritto,
em italiano, derecho, em espanhol, droit, em francês, dret, em catalão, drech,
em occitano, drept, em romeno. Os vocábulos right, em inglês, e Recht, em alemão, têm
origem germânica (riht), do indo-europeu *reg-to- "movido em linha reta". O termo indo-
europeu é a origem do latim rectus, a, um (ver acima) e do grego ὀρεκτός.
Em latim clássico, empregava-se o termo IVS (grafado também ius ou jus), que originalmente
significava "fórmula religiosa" e que por derivação de sentido veio a ser usado pelos antigos
romanos na acepção equivalente aos modernos "direito objetivo" (ius est norma agendi) e
"direito subjetivo" (ius est facultas agendi).
Segundo alguns estudiosos, o termo ius relacionar-se-ia comiussum, particípio passado do
verbo iubere, que quer dizer "mandar", "ordenar", da raiz sânscrita ju, "ligar".
Mais tarde, ainda no período romano, o termo directum passou a ser mais empregado para
referir o direito. Como já se viu, directum vem do verbo dirigere que, por sua vez, tem origem
em regere, "reger", "governar", donde os termos latinos rex, regula e outros.
O latim clássico ius, por sua vez, gerou em português os termos "justo", "justiça", "jurídico",
"juiz" e muitos outros.
A história do direito está ligada ao desenvolvimento das civilizações. O direito do antigo Egito,
que data de pelo menos 3000 a.C., incluía uma compilação de leis civis que, provavelmente
dividida em doze livros, baseava-se no conceito de Ma'at e caracterizava-se pela tradição, pela
retórica, pela igualdade social e pela imparcialidade.
Em cerca de 1760 a.C., o rei Hamurábi determinou que o direito babilônio fosse codificado e
inscrito em pedra para que o povo pudesse vê-lo no mercado: o chamado Código de
Hamurábi.
Neste caso, tal como o direito egípcio, poucas fontes sobreviveram e muito se perdeu com o
tempo. A influência destes exemplos jurídicos antigos nas civilizações posteriores foi, portanto,
pequena. O mais antigo conjunto de leis ainda relevante para os modernos sistemas do direito
é provavelmente a Torá do Velho Testamento.
Na forma de imperativos morais, como os Dez Mandamentos, contém recomendações para
uma boa sociedade.
A antiga cidade-Estado grega de Atenas foi a primeira sociedade baseada na ampla inclusão
dos seus cidadãos, com exceção das mulheres e dos escravos. Embora Atenas não tenha
desenvolvido uma ciência jurídica nem tivesse uma palavra para o conceito abstrato de
"direito", o antigo direito grego continha grandes inovações constitucionais no
desenvolvimento da democracia.
Considerado uma ponte entre as antigas experiências do direito e o mundo jurídico moderno,
o direito romano foi fortemente influenciado pelos ensinamentos gregos, mas suas regras
detalhadas e sofisticadas foram desenvolvidas por juristas profissionais.
Ao longo dos séculos transcorridos entre a ascensão e a queda do Império Romano, o direito
foi adaptado para lidar com as mudanças sociais e passou por um grande esforço de
codificação por ordem do Imperador Justiniano I, o que resultou no Corpus Iuris Civilis.
O conhecimento do direito romano perdeu-se na Europa Ocidental durante a Idade Média,
mas a disciplina foi redescoberta a partir do século XI, quando juristas medievais,
posteriormente conhecidos como "glosadores", começaram a pesquisar os textos jurídicos
romanos e a usar os seus conceitos.
O direito romano - e o sistema jurídico nele baseado - afetou o desenvolvimento do direito em
todo o mundo. É o fundamento dos códigos da maior parte dos países da Europa e
desempenhou um importante papel no surgimento da ideia de uma cultura europeia comum.
Na Inglaterra medieval, os juízes reais começaram a desenvolver um conjunto de precedentes
que viria a tornar-se a Common Law.
Aos poucos, formou-se na Europa medieval a Lex Mercatoria, que permitia aos mercadores
comerciar com base em práticas padronizadas. A Lex Mercatoria, precursora do direito
comercial moderno, enfatizava a liberdade de contratar e a alienabilidade da propriedade.
Quando o nacionalismo aumentou nos séculos XVIII e XIX, a Lex Mercatoria foi incorporada ao
direito interno dos diversos países do continente em seus respectivos códigos civis. O Código
Napoleônico e o Código Civil Alemão tornaram-se as leis civis mais conhecidas e influentes.
A Índia e a China antigas possuíam tradições distintas em matéria de direito, com escolas
jurídicas historicamente independentes. O Arthashastra, datado de cerca de 400 a.C., e
o Manusmriti, de 100, constituíam tratados influentes na Índia e que eram consultados em
questões jurídicas.
A filosofia central de Manu, tolerância e pluralismo, era citada de um lado ao outro do sudeste
da Ásia. Esta tradição hinduísta, juntamente com o direito muçulmano, foi suplantada
pelo Common Law quando a Índia se tornou parte do Império Britânico.
A Malásia, Brunei, Singapura e Hong Kong também o adotaram. A tradição jurídica do leste da
Ásia reflete uma mistura singular entre o religioso e o secular.
O Japão foi o primeiro país da área a modernizar o seu sistema jurídico conforme o exemplo
ocidental, ao importar partes dos códigos civis francês e alemão.
Do mesmo modo, o direito chinês tradicional foi modernizado segundo o padrão ocidental nos
anos finais da dinastia Qing, na forma de seis códigos de direito privado baseados no modelo
japonês do direito alemão.
O direito da República Popular da China sofreu forte influência do direito socialista soviético,
que basicamente hipertrofia o direito administrativo às expensas do direito privado. Hoje,
entretanto, a China tem promovido reformas na sua ordem jurídica, ao menos no que se
refere aos direitos econômicos, como no caso do novo código de contratos de 1999.
GRÉCIA ANTIGA ou MUNDO GREGO
Grécia Antiga é o termo geralmente usado para descrever o mundo grego e áreas próximas
(tais como Chipre, Anatólia, sul da Itália, da França e costa do mar Egeu, além de
assentamentos gregos no litoral de outros países, como o Egito).
Tradicionalmente, a Grécia Antiga abrange desde 1 100 a.C. (período posterior à invasão
dórica) até à dominação romana em 146 a.C., contudo deve-se lembrar que a história da
Grécia inicia-se desde o período paleolítico, perpassando a Idade do Bronze com as
civilizações cicládica (3000-2 000 a.C.), minoica (3000-1 400 a.C.) e micênica (1600-1 200 a.C.);
alguns autores utilizam de outro período, o período pré-homérico (2000-1 200 a.C.), para
incorporar mais um trecho histórico a Grécia Antiga.
Os antigos gregos autodenominavam-se “helenos”, e a seu país chamavam Hélade, nunca
tendo chamado a si mesmos de gregos nem à sua civilização Grécia, pois ambas essas palavras
são latinas, tendo sido-lhes atribuídas pelos romanos. O país homônimo hoje existente
(República Helênica) descende diretamente desta, muito embora, como já dito acima, o
termo Grécia Antiga abrange demais locais.
Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas,
no início do milênio II a.C.: aqueus, jônicos, eólicos e dóricos As populações invasoras são em
geral conhecidas como "helênicas", pois sua organização de clãs fundamentava-se, na crença
de que descendiam do herói Heleno, filho de Deucalião e Pirra.
Períodos da Grécia Antiga
Pré-Homérico (2000-1 100 a.C.) — período caracterizado pela penetração de povos indo-
europeus na Grécia: aqueus (2000-1 200 a.C.), eólios (1 700 a.C.) e Jônios (1 700
a.C.); civilização minoica continua a prosperar (3000 - 1 400 a.C.) e a civilização micênica é
formada (1600-1 200 a.C.); dóricos invadem a Hélade no final do período (1 200 a.C.)
Homérico ou Idade Média Grega (1100-800 a.C.) — período marcado pela ruralização,
ausência de escrita e formação dos genos; período da criação das obras de Homero, Ilíada e
Odisseia.
Arcaico (800-500 a.C.) — Há a formação da pólis, a colonização grega, o aparecimento do
alfabeto fonético além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho, do
comércio e da indústria.
Clássico ou Século de Péricles (500-338 a.C.) — período marcado pelo divisão bipolar da
Grécia sob a égide de duas potências: Esparta (com a Liga do Peloponeso) e Atenas (com a Liga
de Delos. Além disso ocorreram nesse período as famosas Guerras Médicas e a Guerra do
Peloponeso que decidiram os rumos políticos da Grécia. No final do período Tebas assume o
controle político da Grécia, no entanto, este poder logo lhe é tomado pela expansão
macedônica que termina com a anexação grega em 338 a.C. sob Filipe II da Macedónia.
Helenístico (338 - 146 a.C.) — fase marcada pela crise da pólis, conquista do Império
Aquemênida e expansão cultural helenística.
IDADE DAS TREVAS
Dá-se o nome de Idade das Trevas ao período que se seguiu ao fim da civilização micênica e
que se situa entre 1100 e 800 a.C.
Durante este período perdeu-se o conhecimento da escrita, que só seria readquirido no
século VIII a.C..
Os objetos de luxo produzidos durante na era micênica não são mais fabricados neste período.
A designação atribuída ao período encontra-se relacionada não apenas com a decadência
civilizacional, mas também com as escassas fontes para o conhecimento da época.
Outro dos fenômenos que se verificou durante este período foi o da diminuição populacional,
não sendo conhecidas as razões exatas que o possam explicar. Para, além disso, as populações
também se movimentam, abandonando antigos povoados para se fixarem em locais que
ofereciam melhores condições de segurança.
GUERRAS MÉDICAS
O Período Clássico estende-se entre 500 e 338 a.C. e é dominado por Esparta e Atenas. Cada
um destas Pólis desenvolveu o seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a
democracia aristocrata em Atenas).
Ao nível externo verifica-se a ascensão do Império Aquemênida quando Ciro II conquista o
reino dos medos.
O Império Aquemênida prossegue uma política expansionista e conquista as cidades gregas da
costa da Ásia Menor. Atenas e Erétria apoiam a revolta das cidades gregas contra o domínio
persa, mas este apoio revela-se insuficiente já que os jónios são derrotados: Mileto é tomada e
arrasada e muitos jónios decidem fugir para as colónias do Ocidente. O comportamento de
Atenas iria gerar uma reação persa e esteve na origem das Guerras Médicas (490-479 a.C.).
Em 490 a.C. a Ática é invadida pelas forças persas de Dario I, que já tinham passado
por Erétria, destruindo esta cidade. O encontro entre atenienses e persas ocorre em
Maratona, saldando-se na vitória dos atenienses, apesar de estarem em desvantagem
numérica.
Dario prepara a desforra, mas falece em 485 a.C., deixando a tarefa ao seu filho Xerxes I que
invadiu a Grécia em 480 a.C. Perante a invasão, os gregos decidem esquecer as diferenças
entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades, entre as quais Atenas e Esparta,
tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra e pelo mar. As
forças espartanas lideradas pelo rei Leónidas I conseguem temporariamente bloquear os
persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática.
O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e sob a
direcção desta figura Atenas consegue uma vitória sobre os Persas em Salamina. Em 479
a.C. os gregos confirmam a sua vitória desta feita na Batalha de Platéias. A frota persa foge
para o mar Egeu, onde em 478 a.C. é vencida em Mícale.
ASCENÇÃO DA MACEDÔNIA
O reino da Macedônia, situado a norte da Grécia, emerge em meados do século IV a.C. como
nova potência. Os macedônios que não falavam o grego e não adaptaram o modelo político
dos gregos, eram vistos por estes como bárbaros. Apesar disso, muitos nobres macedônios
aderiram à cultura grega, tendo a Macedônia sido responsável pela difusão da cultura grega
em novos territórios.
Durante o reinado de Filipe II da Macedônia o exército macedônio adota técnicas militares
superiores, que aliadas à diplomacia e à corrupção, vão permitir-lhe a dominar as cidades da
Grécia.
Nestas formam-se partidos favoráveis a Filipe, mas igualmente partidos que se opõem aos
Macedônios. Em 338 a.C. Filipe e o seu filho, Alexandre, o Grande, derrotam uma coligação
grega em Queroneia, desta forma colocando a Grécia continental sob domínio macedônio.
Filipe organiza então a Grécia em uma confederação, a Assembleia de Corinto, procurando
unir os gregos com um objetivo comum: conquistar o Império Persa como forma de vingar pela
invasão de 480 a.C. Contudo, Filipe viria a ser assassinado por um nobre macedônio em Julho
de 336 a.C., tendo sido sucedido pelo seu filho Alexandre
PERÍODO mais importante da Grécia Antiga— (450-300 α. C.)
CARÁTER GERAL Ε DIVISÃO — Neste período atinge a filosofia grega o apogeu do
desenvolvimento.
Surgem os seus maiores pensadores, que, vindicando os direitos da razão contra o ceticismo
geral, constroem sobre bases mais sólidas uma síntese grandiosa do saber e elaboram, nos
vários domínios da filosofia, um núcleo considerável de teses, que ficarão definitivamente
incorporadas no patrimônio intelectual do gênero humano.
Apesar de serem as questões morais as que inauguram o período, a sua feição característica é
metafísica.
Como em todos os tempos de grande esplendor filosófico as escolas desaparecem na
penumbra e avultam grandes individualidades.
Sócrates, Platão e Aristóteles cifram a glória deste período, escrevendo seus nomes entre os
dos mais profundos pensadores da humanidade.
SÓCRATES
BIOGRAFIA DE SÓCRATES — Filho de Sofrônico, escritor, e de Fenarete, parteira, nasceu
Sócrates em Atenas, no ano 469 a. C. Na sua mocidade seguiu a profissão do pai, entregando-
se mais tarde exclusivamente ao estudo da sabedoria.
Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão.
Combateu em Potidéia, onde salvou a vida de Alcibíades e em Delium, onde carregou aos
ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Proclamado o mais sábio dos homens pelo oráculo de
Delfos e dizendo–se inspirado do céu (O gênio ou demônio de Sócrates, variamente
interpretado pelos críticos) empreendeu a reforma dos costumes na cidade corrupta de
Péricles.
A liberdade de seus discursos e a feição austera de seu caráter, a par de admiradores
entusiastas, atraíram-lhe também caluniadores e inimigos sem consciência. Acusado em idade
avançada de corromper a juventude e de introduzir divindades novas recusou defender-se e
foi condenado a morte.
Sócrates nada deixou escrito. Suas doutrinas expunha-as em ensino oral nas praças e nos
mercados, nos pórticos e nas oficinas, aos mais variados auditórios. O que dele sabemos foi-
nos transmitido pelos seus discípulos Xenofonte e Platão.
Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem brilho nem profundidade, nas
suas"Memorabilia", legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre.
Platão, sublime e cintilante," desenvolve nos seus numerosos diálogos, o sistema de Sócrates
em toda a sua amplidão. Nem sempre, porém, é fácil discernir o fundo socrático das
especulações acrescentadas pelo genial discípulo.
Nas doutrinas de Sócrates podemos distinguir a parte polêmica, em que combate os sofistas, e
a parte dogmática, em que expõe suas ideias sobre as diferentes partes da filosofia.
MÉTODO DE SÓCRATES —
a) É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das
impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam,
concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-
lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa, é o inteligível, o
conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou ideia geral obtém-se por um processo
dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma
espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o
elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa.
Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo
lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo
à noção universal.
b) Praticamente, na exposição polêmica e didática destas" ideias”, Sócrates adotava sempre o
diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confortar ou
de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem
aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente
contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática.
No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário
vencido) multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter por indução dos
casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este
processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava elemeutica ou
engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das ideias.
DOUTRINAS FILOSÓFICAS — "Conhece-te a ti mesmo" é o lema em que Sócrates cifra toda a
sua vida de sábio.
O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o
centro para o qual convergem todas as partes da sua filosofia. A psicologia serve-lhe de
preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
a) Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas
ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando
a vontade com a inteligência.
b) Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando
claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma
inteligência (Memorab., I, 4: IV, 8); b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente:
se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o
argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a
promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo
com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas
elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele
aspira reformar.
c) Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver.
O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a
prática da virtude. A virtude adquire-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta
doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência natural do erro
psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e
penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o
que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".
Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural
— independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo,
expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a
utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral
do sistema.
IMPORTÂNCIA Ε INFLUÊNCIA DE SÓCRATES — A reforma socrática atingiu os alicerces da
filosofia. A doutrina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a
indução dialética reforma o método filosófico ; a ética une pela primeira vez e com laços
indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa.
Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela austera grandeza moral de sua vida,
tenha, pela novidade de suas ideias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência.
Entre os seus numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes,
além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadeiros
filósofos que se formaram com os seus ensinamentos.
Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do
mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto.
São os fundadores das escolas socrâticas menores, das quais as mais conhecidas são:
A. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova
ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão.
Β. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445) que, exagerando a doutrina socrática do
desapego ‘das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro desprezo das
conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de Diogenes.
C. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo (n. c. 425) que desenvolveu o
utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer.
Estas escolas, que, durante o segundo período dominado pelas altas especulações de Platão e
Aristóteles, verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais
tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dos mega ricos
brotaram os céticos e pirrônicos, dos cínicos saíram os estóicos, dos hedonistas originaram-se
os epicureus.
Dentre os discípulos de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas ideias, o seu mais ilustre
continuador foi o sublime Platão.
PLATÃO
Foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos
filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação
superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles,
Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental.
Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles; Platão era um apelido que,
provavelmente, fazia referência à sua característica física, tal como o porte atlético ou os
ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas,
entre eles a ética, a política, a metafísica e a teoria do conhecimento.
A sofisticação de Platão como escritor é especialmente evidente em seus diálogos socráticos;
trinta e cinco diálogos e treze cartas são creditadas tradicionalmente a ele, embora os
estudiosos modernos tenham colocado em dúvida a autenticidade de pelo menos algumas
destas obras.
Estas obras também foram publicadas em diversas épocas, e das mais variadas maneiras, o
que levou a diferentes convenções no que diz respeito à nomenclatura e referenciação dos
textos.
Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente
com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a realidade imutável, igual a
si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades
dependentes, mutáveis e são imagens da realidade inteligível.
Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas. Foi
desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir a
possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos.
Para Platão, uma determinada caneta, por exemplo, terá determinados atributos (cor,
formato, tamanho etc). Outra caneta terá outros atributos, sendo ela também uma caneta,
tanto quanto a outra. Aquilo que faz com que as duas sejam canetas é, para Platão, a Ideia de
Caneta, perfeita, que esgota todas as possibilidades de ser caneta. A ontologia de Platão diz,
então, que algo é na medida em que participa da Ideia desse objeto. No caso da caneta é
irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou a justiça, por
exemplo.
O problema que Platão propõe-se a resolver é a tensão entre Heraclito e Parmênides: para o
primeiro, o ser é a mudança, tudo está em constante movimento e é uma ilusão a estaticidade,
ou a permanência de qualquer coisa; para o segundo, o movimento é que é uma ilusão, pois
algo que é não pode deixar de ser e algo que não é, não pode passar a ser; assim, não há
mudança.
Por exemplo, o que faz com que determinada árvore seja ela mesma desde o estágio de
semente até morrer, e o que faz com que ela seja tão árvore quanto outra de outra espécie,
com características tão diferentes? Há aqui uma mudança, tanto da árvore em relação a si
mesma (com o passar do tempo ela cresce) quanto da árvore em relação a outra. Para
Heraclito, a árvore está sempre mudando e nunca é a mesma, e para Parmênides, ela nunca
muda, é sempre a mesma e sua mudança é uma ilusão.
Platão resolve esse problema com sua Teoria das Ideias. O que há de permanente em um
objeto é a Ideia; mais precisamente, a participação desse objeto na sua Ideia correspondente.
E a mudança ocorre porque esse objeto não é uma Ideia, mas uma incompleta representação
da Ideia desse objeto.
No exemplo da árvore, o que faz com que ela seja ela mesma e seja uma árvore (e não outra
coisa), a despeito de sua diferença daquilo que era quando mais jovem e de outras árvores de
outras espécies (e mesmo das árvores da mesma espécie) é a sua participação na Ideia de
Árvore; e sua mudança deve-se ao fato de ser uma pálida representação da Ideia de Árvore.
Platão também elaborou uma teoria gnosiológica, ou seja, uma teoria que explica como se
pode conhecer as coisas, ou ainda, uma teoria do conhecimento. Segundo ele, ao ver um
objeto repetidas vezes, uma pessoa se lembra, aos poucos, da Ideia daquele objeto que viu no
mundo das Ideias. Para explicar como se dá isso, Platão recorre a um mito (ou uma metáfora)
segundo a qual, antes de nascer, a alma de cada pessoa vivia em uma estrela, onde se
localizam as Ideias. Quando uma pessoa nasce, sua alma é "jogada" para a Terra, e o impacto
que ocorre faz com que esqueça o que viu na estrela. Mas, ao ver um objeto aparecer de
diferentes formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma se recorda da Ideia
daquele objeto que foi visto na estrela. Tal recordação, em Platão, chama-se anamnesis.
Platão e a Política
"Os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos
chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça, ponham-se a
filosofar verdadeiramente." (Platão, Carta Sétima, 326b).
Esta afirmação de Platão deve ser compreendida com base na teoria do conhecimento, e
lembrando que o conhecimento para Platão tem fins morais.
Todo o projeto político platônico foi traçado a partir da convicção de que a Cidade-Estado ideal
deveria ser obrigatoriamente governada por alguém dotado de uma rigorosa formação
filosófica.
Platão acreditava que existiam três espécies de virtudes baseadas na alma, que
corresponderiam aos testamentos da pólis:
A primeira virtude era a da sabedoria, deveria ser a cabeça do Estado, ou seja, o governante,
pois possui caráter de ouro e utiliza a razão.
A segunda virtude é a coragem, deveria ser o peito do Estado, isto é, os soldados ou guardiões
da pólis, pois sua alma de prata é imbuída de vontade. E, por fim,
A terceira virtude, a temperança, que deveria ser o baixo-ventre do Estado, ou os
trabalhadores, pois sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.
Linha do tempo - Platão
432 a.C. - Início da guerra do Peloponeso.
428/27 a.C. - Nascimento de Platão.
411 a.C. - Revolução oligárquica aristocrata tira os democratas do poder em Atenas e impõe
o Conselho dos Quatrocentos.
404 a.C. - Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, derrota a Liga da Hélade, liderada por
Atenas, e tem início o governo dos Trinta Tiranos.
399 a.C. - Condenação de Sócrates à morte pela Assembleia popular de Atenas.
387 a.C. - Platão funda, em Atenas, a Academia.
384 a.C. - Nascimento de Aristóteles, em Estagira, na Calcídica.
347 a.C. - Morte de Platão, em Atenas. A Academia passa a ser dirigida por Espeusipo.
338 a.C. - Filipe da Macedônia vence a batalha de Queronéia e conquista a Grécia.
ARISTÓTELES
Foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos
abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a
música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia.
Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos
fundadores da filosofia ocidental.
Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedônia, na época com 13 anos de idade, que
será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e
Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu (lyceum) em 335 a.C..
A tradição representa um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo
sentido, Aristóteles via o próprio pensamento como o ponto culminante do processo
desencadeado por Tales de Mileto. A filosofia pretendia não apenas rever como também
corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao mesmo tempo, trilhou novos
caminhos para fundamentar as críticas, revisões e novas proposições.
Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da sua filosofia. Platão
concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo
concreto -, em constante mutação; e outro mundo - abstrato -, o das ideias, acessível somente
pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. Aristóteles, ao
contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além
de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.
Lógica para Aristóteles
Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o
conhecimento e baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe
certas premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo
é dedutivo, parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular
para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente,
também será.
Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade,
compõem a unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa com a
felicidade coletiva da pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as
formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado.
Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era
preceptor de Alexandre, o Grande.
Direito para Aristóteles
Para Aristóteles, assim como a política, o direito também é um desdobramento da ética. O
direito para Aristóteles é uma ciência dialética, por ser fruto de teses ou hipóteses, não
necessariamente verdadeiras, validadas principalmente pela aprovação da maioria.
A filosofia aristotélica é um sistema, ou seja, a relação e conexão entre as várias áreas
pensadas pelo filósofo. Seus escritos versam sobre praticamente todos os ramos do
conhecimento de sua época (menos as matemáticas).
A filosofia primeira, seguem-se as obras de filosofia prática, que versam sobre Ética e Política.
Estas reflexões têm lugar em quatro textos:
Ética a Nicômaco;
Ética a Eudemo (atualmente considerada como uma primeira versão da Ética a Nicômaco);
Grande Moral ou Magna Moralia (resumo das concepções éticas de Aristóteles);
Política (a política, para Aristóteles, é o desdobramento natural da ética)
Linha do tempo - Aristóteles:
384 a.C. – Aristóteles nasce em Estagira, Macedônia situada hoje no nordeste da Grécia. O pai
era um médico reconhecido - ou seja, um cientista. Se chamava Nicômaco e era amigo do rei
da Macedônia Amintas III, pai de Filipe II .
367 a.C. – Aos 17 anos, Aristóteles se muda para Atenas com intuito de estudar na Academia
de Platão, onde foi um brilhante estudante. Platão estava com 61 anos de idade.
356 a.C. – Nasce Alexandre o Grande, filho de Felipe II.
347 a.C. – Morre Platão e Espeusipus se torna o novo diretor da academia. Aristóteles deixa
Atenas e se muda com outros colegas da Academia para Assos (hoje situada no litoral
da Turquia). Neste período Aristóteles se casa com Pithias, filha de Hermeias, rei de Assos e
que também frequentou a Academia de Platão. Aristóteles tem uma filha que assim como a
mãe também é chamada Pithias.
344 a.C. – Hermeias é deposto. Aristóteles se muda para Mytilene na ilha de Lesbos. Se associa
com Teofrastos, um nativo desta cidade e também formado pela academia de Platão e faz
importantes estudos em biologia.
343 a.C. – Felipe II, rei da Macedônia, convida Aristóteles para morar em sua residência e ser o
tutor de seu filho Alexandre (mais tarde, O Grande) que tem 13 anos de idade.
335 a.C. – Felipe II morre. Alexandre sobe ao trono. Aristóteles volta para Atenas e funda a sua
própria escola, o Liceu. Neste mesmo ano, de volta a Atenas, fundou o Lykeion, (termo que
deu origem a palavra Liceu) cujos alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que
passeiam), nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob
as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as
ciências naturais. Alexandre mesmo enviava ao mestre exemplares da fauna e flora das regiões
conquistadas. O trabalho cobria os campos do conhecimento clássico de então: filosofia,
metafísica, lógica, ética, política, retórica, poesia, biologia, zoologia, medicina e não só
estabeleceu as bases de tais disciplinas quanto a metodologia científica. Durante este período
Pythias morre e Aristóteles se casa com Herpyllis que também era nativa de Estagira. Com ela
Aristóteles tem um filho chamado Nicômaco.
323 a.C. – Após estender suas conquistas ao Egito, à Síria, Pérsia e Índia, Alexandre o Grande
morre (na Índia). Por causa do sentimento antimacedônico, Aristóteles se vê obrigado a sair de
Atenas pela última vez.
322 a.C. – Aristóteles morre em Cálsis, na Eubéia.
Ética de Tomás de Aquino (1255-1274)
Foi um padre dominicano, filósofo, teólogo, distinto expoente daescolástica, proclamado santo
e Doutor da Igreja cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica.
Segundo Tomás de Aquino, a ética consiste em agir de acordo com a natureza racional. Todo o
homem é dotado de livre-arbítrio, orientado pela consciência e tem uma capacidade inata de
captar, intuitivamente, os ditames da ordem moral. O primeiro postulado da ordem moral
é: faz o bem e evita o mal.
Há uma Lei Divina, revelada por Deus aos homens, que consiste nos Dez Mandamentos.
Há uma Lei Eterna, que é o plano racional de Deus que ordena todo o universo e uma Lei
Natural, que é conceituada como a participação da Lei Eterna na criatura racional, ou seja,
aquilo que o homem é levado a fazer pela sua natureza racional.
A Lei Positiva é a lei feita pelo homem, de modo a possibilitar uma vida em sociedade. Esta
subordina-se à Lei Natural, não podendo contrariá-la sob pena de se tornar uma lei injusta;
não há a obrigação de obedecer à lei injusta (este é o fundamento objetivo e racional da
verdadeira objeção de consciência).
A Justiça consiste na disposição constante da vontade em dar a cada um o que é seu - suum
cuique tribuere - e classifica-se como comutativa, distributiva e legal, conforme se faça entre
iguais, do soberano para os súbditos e destes para com aquele, respectivamente.
Thomas Hobbes (1588-1679)
Foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês
De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros
devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa
assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma
assembleia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia),
deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no
essencial as ideias de suas duas obras anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que
tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).
Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se
concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o
Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de
interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a
livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o
monarca. Sua filosofia política foi analisada pelo cientista político Richard Tuck como uma
resposta para os problemas que o método cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes
argumenta que só podemos conhecer algo do mundo exterior a partir das impressões
sensoriais que temos dele ("Só existe o que meus sentidos percebem"). Esta filosofia é vista
como uma tentativa para embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no
fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para
o homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir toda sua filosofia política a
partir desse imperativo.
Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778)
Foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. É
considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo
Para Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por ações tomadas pelo indivíduo com o
objetivo de satisfazer seus instintos, isto é, com o objetivo de satisfazer suas necessidades. O
homem neste estado de natureza desconsidera as consequências de suas ações para com os
demais, ou seja, não tem a vontade e nem a obrigação de manter o vínculo das relações
sociais. Outra característica é a sua total liberdade, desde que tenha forças para colocá-la em
prática, obtendo as satisfações de suas necessidades, moldando a natureza. “O homem
realmente livre faz tudo que lhe agrada e convém, basta apenas deter os meios e adquirir
força suficiente para realizar os seus desejos.”(SAHD,2005, p. 101)
Ao perder uma disputa com outros indivíduos o sujeito não consegue exercer a sua liberdade,
uma vez que a liberdade nesse estágio se estabelece a partir da correlação de forças entre os
indivíduos. Não há regras, instituições ou costumes que se sobrepõem às vontades individuais
para a manutenção do “bem coletivo”. Contudo, na concepção de Rousseau, o homem
selvagem viveria isolado e por isso, não faz sentido pensar em um bem coletivo. Também não
haveria tendência ao conflito entre os indivíduos isolados quando se encontrassem, pois seus
simples desejos (necessidades) seriam satisfeitas com pouco esforço, devido à relação de
comunhão com a natureza. O isolamento entre os indivíduos só era quebrado para fins de
reprodução, pois sendo auto-suficientes não tinham outra necessidade para viverem em
agrupamentos humanos. Foi a partir do isolamento que o homem adquiriu qualidades como
amor de si mesmo e a piedade.
A obra Do Contrato Social, publicada em 1762, propõe que todos os homens façam um novo
contrato social onde se defenda a liberdade do homem baseado na experiência política das
antigas civilizações onde predomina o consenso, garantindo os direitos de todos os cidadãos, e
se desdobra em quatro livros.
No primeiro livro “Onde se indaga como passa o homem do estado natural ao civil e quais são
as condições essenciais desse pacto”, composto de nove capítulos. Primeiramente se aborda a
liberdade natural, nata, do ser humano, como ele a havia perdido, e como ele haveria de a
recuperar. Dessa forma, já no quarto capítulo, Rousseau condena a escravidão, como algo
paradoxal ao direito. A conclusão é que, se recuperando a liberdade, o povo é quem escolhe
seus representantes e a melhor forma de governo se faz por meio de uma convenção.
Essa convenção é formada pelos homens como uma forma de defesa contra aqueles que
fazem o mal. É a ocorrência do pacto social. Feito o pacto, pode-se discutir o papel do
“soberano”, e como este deveria agir para que a soberania verdadeira, que pertence ao povo,
não seja prejudicada. Além de uma forma de defesa, na verdade o principal motivo que leva à
passagem do estado natural para o civil é a necessidade de uma liberdade moral, que garante
o sentimento de autonomia do homem.
Bibliografia
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos . 7ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
WOLKMER, Antonio Carlos. História do direito no Brasil . Rio de Janeiro: Forense, 1998/2007.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal